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9 Curso Básico de Gestão Ambiental MÓDULO 1 IV) poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental; e V) recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superciais e subter- râneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfe- ra, a fauna e a ora. Já a Constituição Federal diz, em seu artigo 225, “Todos têm direito ao meio am- biente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qua- lidade de vida, impondo-se ao poder públi- co e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras ge- rações”. Portanto, com base nas denições acima, pode-se entender tanto a complexidade quanto a importância do meio ambiente para a sobrevivência das espécies, inclu- sive do homem, e do papel que temos na sua preservação. É nesse sentido que consideramos a rele- vância do conceito de Desenvolvimento Sus- tentável e a signicância da implantação de sistemas de gestão em geral e, em especí- co, o Sistema de Gestão Ambiental (SGA). Considera-se um sistema o conjunto de elementos interdependentes, interrelaciona- dos e interatuantes, coordenados entre si, e que funcionam como um todo complexo, uma estrutura organizada. Por isso, nada impede que se implante um sistema de gestão am- biental mesmo que já existam outros siste- mas implantados, seja ele nanceiro, de qua- 1.1 O Meio Ambiente De acordo com a denição contida na norma NBR ISO 14001:1996, item 3.2, meio ambiente é a circunvizinhança em que uma organização opera, incluindo ar, água, solo, recursos naturais, ora, fauna, seres huma- nos e suas inter-relações. Na Política Nacional de Meio Ambiente, Lei nº 6.938/1981, em seu artigo 3°, “Para os ns previstos nesta Lei, entende-se por: I) meio ambiente, o conjunto de condições, leis, inuências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; II) degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente III) poluição, a degradação da qualidade am- biental resultante de atividades que dire- ta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às ativida- des sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sa- nitárias do meio ambiente e) lancem matérias ou energia em desa- cordo com os padrões ambientais es- tabelecidos;

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9Curso Básico de Gestão Ambiental

MÓDULO 1

IV) poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental; e

V) recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superfi ciais e subter-râneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfe-ra, a fauna e a fl ora.

Já a Constituição Federal diz, em seu artigo 225, “Todos têm direito ao meio am-biente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qua-lidade de vida, impondo-se ao poder públi-co e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras ge-rações”.

Portanto, com base nas defi nições acima, pode-se entender tanto a complexidade quanto a importância do meio ambiente para a sobrevivência das espécies, inclu-sive do homem, e do papel que temos na sua preservação.

É nesse sentido que consideramos a rele-vância do conceito de Desenvolvimento Sus-tentável e a signifi cância da implantação de sistemas de gestão em geral e, em específi -co, o Sistema de Gestão Ambiental (SGA).

Considera-se um sistema o conjunto de elementos interdependentes, interrelaciona-dos e interatuantes, coordenados entre si, e que funcionam como um todo complexo, uma estrutura organizada. Por isso, nada impede que se implante um sistema de gestão am-biental mesmo que já existam outros siste-mas implantados, seja ele fi nanceiro, de qua-

1.1 O Meio Ambiente

De acordo com a defi nição contida na norma NBR ISO 14001:1996, item 3.2, meio ambiente é a circunvizinhança em que uma organização opera, incluindo ar, água, solo, recursos naturais, fl ora, fauna, seres huma-nos e suas inter-relações.

Na Política Nacional de Meio Ambiente, Lei nº 6.938/1981, em seu artigo 3°, “Para os fi ns previstos nesta Lei, entende-se por:

I) meio ambiente, o conjunto de condições, leis, infl uências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas;

II) degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente

III) poluição, a degradação da qualidade am-biental resultante de atividades que dire-ta ou indiretamente:

a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

b) criem condições adversas às ativida-des sociais e econômicas;

c) afetem desfavoravelmente a biota;

d) afetem as condições estéticas ou sa-nitárias do meio ambiente

e) lancem matérias ou energia em desa-cordo com os padrões ambientais es-tabelecidos;

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lidade, saúde e segurança, responsabilidade social ou outro.

Um bom sistema agrega valor aos existen-tes e pode ainda ser integrado aos demais.

1.2 Evolução Histórica da Gestão Ambiental no Mundo

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EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAGESTÃO AMBIENTAL NO MUNDO

1972: Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente Humano - Estocolmo1984: Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento: Nosso Futuro Comum (1987)1984: Programa de Atuação Responsável da Indústria Química1991: A ISO discute o desenvolvimento de padrões ambientais1991: 16 Princípios da Carta Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável1992: Rio 92 - Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento1992: 27 Princípios da Carta da Terra1994: Normas e esquemas: BS 7750, EMAS, ISO1996: Norma ISO 140012002: Rio Mais 10

da ONU

Desenvolvimento Sustentável

“Desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem

comprometer a capacidade de as futuras gerações atenderem suas

próprias necessidades.”

1.2.1 Desenvolvimentos Internacionais desde os anos 70

Na Europa Ocidental e nos Estados Uni-dos, e crescendo no mundo todo, a aborda-gem de controlar ou infl uenciar os impactos das atividades industriais na saúde humana e no meio ambiente sofreu uma transição sig-nifi cante. Inicialmente, nos anos 70 e começo dos anos 80 na Europa, os esforços concen-traram-se no desenvolvimento das estruturas legislativas e regulamentares, reforçados por uma estrutura de licenciamento ambiental. A resposta da indústria foi amplamente re-acionária. A indústria investiu em soluções tecnológicas superfi ciais para assegurar que estava de acordo com as regulamentações, sempre mais restritivas, e com as licenças de operação relacionadas a condicionantes ambientais, na busca de atender ao coman-do-controle da legislação ambiental cada vez mais rigorosa.

A combinação de negócios com aspec-tos ambientais em âmbito internacional co-meçou depois da Conferência das Nações Unidas de 1972 (Conferência de Estocol-mo), quando uma comissão independente

foi criada: a Comissão Mundial de Desen-volvimento e Meio Ambiente (Brundtland Comission). Esta Comissão encarregou-se da tarefa de reavaliar o meio ambiente no contexto do desenvolvimento e publicou seu relatório Nosso Futuro em Comum em 1987, que hoje é considerado um marco. Esse re-latório introduziu o termo Desenvolvimento Sustentável e incitou as indústrias a de-senvolverem sistemas de gestão ambiental efi cientes. O relatório foi assinado por mais de 50 líderes mundiais, que agendaram uma conferência geral para discutir a necessida-de do estabelecimento de ações a serem implementadas.

A ONU, conseqüentemente, decidiu orga-nizar a Conferência de Desenvolvimento e Meio Ambiente das Nações Unidas (Unced), também conhecida como ECO 92, realizada no Rio de Janeiro em junho de 1992. Líde-res de governos, próceres comerciais, repre-sentantes de mais de cinco mil organizações não-governamentais, jornalistas internacio-nais e grupos privados de várias partes do globo se reuniram para discutir como o mun-do poderia mudar em direção ao desenvolvi-mento sustentável.

O resultado da ECO 92 foi a Agenda 21, um “consenso global e compromisso político do mais alto nível”, mostrando como os go-vernos, as empresas, as organizações não-governamentais e todos os setores da ação humana podem cooperar para resolver os problemas ambientais cruciais que ameaçam a vida no planeta.

O Secretário-Geral da Unced queria asse-gurar-se de que as corporações comerciais participariam no processo da discussão e da decisão fi nal. Ele, então, pediu a um líder in-dustrial suíço para ser seu conselheiro nas questões comerciais. Esse industrial fez seu papel, estabelecendo o Conselho Empresa-rial de Desenvolvimento Sustentável (CE-BDS). Este Conselho publicou um relatório importante intitulado Mudança de Rumo, mas também decidiu aproximar-se da ISO para discutir o desenvolvimento de padrões am-bientais.

11Curso Básico de Gestão Ambiental

Paralelamente a esses acontecimentos, a Câmara do Comércio Internacional (ICC) de-senvolveu a Carta Empresarial de Desenvol-vimento Sustentável em 1990, que foi lança-do no ano seguinte na Segunda Conferência Mundial de Gestão Ambiental das Indústrias (Wicem). A Carta Empresarial da ICC contém 16 princípios de gestão ambiental. Esta carta encontra-se nos anexos deste curso.

Em outra iniciativa, a indústria química, preocupada com sua imagem pública dete-riorada, lançou seu Programa de Atuação Responsável, começando no Canadá em 1984, cujos critérios condicionam à participa-ção como membro na Associação das Indús-trias Químicas. Sua abordagem é fi rmemente baseada nos princípios de controle ambiental e de qualidade total, incluindo avaliação da saúde potencial e real, segurança e impactos ambientais das atividades e produtos, e do fornecimento de informações para as partes interessadas.

Desde a metade dos anos 80, e mais re-centemente nas economias emergentes e dinâmicas do Oriente e do Ocidente, o seg-mento empresarial está tomando uma atitude mais proativa e reconhecendo que a gestão ambiental, como iniciativa voluntária, pode intensifi car a imagem de corporação, aumen-tar os lucros e a competitividade, reduzir os custos e prevenir a necessidade de proposi-ção de emendas legislativas a serem toma-das pelas autoridades.

Uma evidência disso é vista na mudança para “produtos verdes”, com o aumento da “avaliação do ciclo de vida” – identifi car os impactos ambientais de um produto do “ber-ço ao berço”. Também têm sido produzidas inúmeras ferramentas de gestão ambiental, tais como auditoria ambiental e sistemas de gestão ambiental. Essas ferramentas, em sua maioria, começaram como iniciativas vo-luntárias dentro das companhias, mas agora afetam as políticas e regulamentações gover-namentais na União Européia, e põem em risco as políticas administrativas nacionais e internacionais de bancos e companhias de seguro.

A implementação de sistemas de gestão ambiental em empresas permanece voluntá-ria. No entanto, organizações em todo o mun-do estão estimando cuidadosamente não só os benefícios fi nanceiros (identifi cação e re-dução de desperdícios, melhora na efi ciência da produção, novo potencial de marketing etc.) que podem surgir de tais atividades, mas também os riscos de não empregar soluções organizacionais e técnicas para problemas ambientais (acidentes, incapacidade de obter crédito bancário e investimento privado, per-da de mercado e da clientela).

Uma das atividades mais importantes nos últimos anos talvez seja o desenvolvimento de padrões no campo ambiental, principal-mente daqueles estabelecidos pela ISO. Es-sas atividades são essenciais se um SGA (e ações relacionadas) tem que ser aplicado no contexto de “campo de atuação nivelado”, como exigido por acordos internacionais de exportação e importação, incluindo a União Européia e a Mundial. Padrões desenvolvidos em nível nacional e europeu também afetam indústrias no mundo todo, sendo mais reco-nhecidos a BS 7750, da Grã-Bretanha desde outubro de 1996, substituída pela ISO 14001, e o EMAS (Environmental Management and Auditing Scheme), da União Européia. Dados de dezembro de 2003 estimam em 61.287 empresas certifi cadas pela ISO 14001 no mundo todo.2

1.3 Desenvolvimento Sustentável

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Mudança de paradigma Diminuir pressão sobre os recursos naturais Gerar menos impactos nas atividades econômicas Apostar na continuidade das atividades Assegurar a qualidade de vida para as gerações futuras

MARKETING PROJETO EDESENVOLVIMENTO

MATÉRIA-PRIMA

PROCESSOPRODUTIVO

EMBALAGEM

TRANSPORTE

CONSUMO

O CICLO DE VIDADO PRODUTO

COLETA EDESTINAÇÃO

T2M1

2 ISO World (Reinhard Peglau). E-mail [email protected]

12 Curso Básico de Gestão Ambiental

Neste início do século 21, o homem pas-sa a assumir a mea culpa pelo passado de uso predatório dos recursos naturais. Fala de desenvolvimento sustentável, como forma de redimir-se dos danos causados ao meio am-biente em que vive.

Passar do discurso do desenvolvimento sustentável para a prática das ações ambien-tais diárias é um caminho que envolve mu-danças de comportamento, de procedimen-tos; demora tempo e custa dinheiro, que nem sempre está disponível para essa fi nalidade.

Falar de desenvolvimento sustentável é fa-lar de coisas novas, é rever conceitos. É falar de biotecnologia, de tecnologias limpas, de mudanças de padrões de produção e consu-mo, de reciclagem, de reuso, de reaproveita-mento e de outras formas de diminuir a pres-são sobre matérias-primas, e ao mesmo tempo reduzir os impactos causados pelos descartes de substâncias e objetos no meio ambiente.

É importante ressaltar que cada cidadão tem o dever de exercitar procedimentos de gestão ambiental onde quer que exerça suas atividades: no lar, no trabalho, nas institui-ções de ensino, nos ambientes de lazer e, também, nas ruas por onde passa. Dê sua contribuição de forma coerente e envide es-forços para que as crianças sigam rumo cer-to no caminho da sustentabilidade ambiental, como condição para a sobrevivência da pró-pria espécie humana no planeta Terra.

Conceito de Desenvolvimento Sustentável

“É o desenvolvimento que satisfaz as ne-cessidades do presente sem comprometer a capacidade de as futuras gerações satisfaze-rem suas próprias necessidades” (Relatório Brundtland – Nosso Futuro Comum, da Co-missão Mundial de Meio Ambiente e Desen-volvimento – ONU).

1.4 Agenda 21 (Global)

A humanidade se encontra em momento de defi nição histórica. Defrontamo-nos com a

perpetuação das disparidades existentes en-tre as nações e no bojo delas, o agravamento da pobreza, da fome, das doenças e do anal-fabetismo, e com a deterioração contínua dos ecossistemas de que depende nosso bem-estar. Não obstante, caso se integrem as preocupações relativas a meio ambiente e desenvolvimento e a elas se dedique mais atenção, será possível satisfazer às neces-sidades básicas, elevar o nível da vida de todos, obter ecossistemas mais bem protegi-dos e gerenciados e construir um futuro mais próspero e seguro. São metas que nação al-guma pode atingir sozinha; juntos, porém, podemos – numa associação mundial em prol do desenvolvimento sustentável.3

1.4.1 Objetivos da Agenda 21 brasileira4

A Agenda Global, assinada em 1992 por 179 chefes de Estado e de Governo, repre-sentou um caminho universal a ser seguido. A Agenda 21 Brasileira, demonstrando gran-de visão de futuro, é produto da participação de cerca de 40 mil pessoas, representantes dos mais diversos segmentos da comunida-de brasileira. Essa Agenda lança o destino do Brasil no cenário internacional, como líder da conservação ambiental no planeta. Traça, para os próximos dez anos, 21 objetivos que, se implementados, colocarão a Nação na li-derança mundial do desenvolvimento susten-tável.

• Objetivo 1 – Produção e consumo susten-táveis contra a cultura do desperdício.

• Objetivo 2 – Ecoefi ciência e responsabili-dade social das empresas.

• Objetivo 3 – Retomada do planejamento estratégico, infra-estrutura e integração regional.

• Objetivo 4 – A energia renovável e a bio-massa.

3 Agenda 21, Capítulo 1, Preâmbulo, item 1.14 A Questão Ambiental no Distrito Federal, edição Sebrae

DF, Brasília, 2004

13Curso Básico de Gestão Ambiental

• Objetivo 5 – Informação e conhecimento para o desenvolvimento sustentável.

• Objetivo 6 – Educação permanente para o trabalho e a vida.

• Objetivo 7 – Promover a saúde e evitar a doença, democratizando o SUS.

• Objetivo 8 – Inclusão social e distribuição de renda.

• Objetivo 9 – Universalizar o saneamento ambiental protegendo o ambiente e a saú-de.

• Objetivo 10 – A gestão do espaço urbano e a autoridade metropolitana

• Objetivo 11 – Desenvolvimento sustentá-vel do Brasil rural.

• Objetivo 12 – Promoção da agricultura sustentável.

• Objetivo 13 – Promover a Agenda 21 Lo-cal e o desenvolvimento integrado e sus-tentável.

• Objetivo 14 – Implantar o transporte de massa e a mobilidade sustentável.

• Objetivo 15 – Preservar a quantidade e melhorar a qualidade da água nas bacias hidrográfi cas.

• Objetivo 16 – Política fl orestal, controle do desmatamento e corredores de biodi-versidade.

• Objetivo 17 – Descentralização e pacto federativo: parcerias, consórcios e o poder local.

• Objetivo 18 – Modernização do Estado: gestão ambiental e instrumentos econômi-cos.

• Objetivo 19 – Relações internacionais e governança global para o desenvolvimen-to sustentável.

• Objetivo 20 – Cultura cívica e novas iden-tidades na sociedade da comunicação.

• Objetivo 21 – Pedagogia da sustentabili-dade: ética e solidariedade.

1.5 Carta da Terra5

O Sebrae acredita que o destino do planeta Terra é responsabilidade de todos: dos em-presários, dos seus colaboradores internos e externos, dos fornecedores, dos clientes e dos que, direta ou indiretamente, estão envolvidos com o sistema produtivo. Divulgar a Carta da Terra, portanto, é um dever.

“A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, reuni-da no Rio de Janeiro, de 3 a 14 de junho de 1992, reafi rmando a Declaração da Confe-rência das Nações Unidas sobre o Meio Am-biente Humano, adotada em Estocolmo em 16 de junho de 1972, e buscando avançar a partir dela, com o objetivo de estabelecer uma nova e justa parceria global por meio da estipulação de novos níveis de cooperação entre os Estados, os setores-chave da socie-dade e os indivíduos, trabalhando com vistas à conclusão de acordos internacionais que respeitem os interesses de todos e protejam a integridade do sistema global do meio am-biente e desenvolvimento, reconhecendo a natureza interdependente e integral da Terra, nosso lar, proclama, em seus 27 princípios, em linhas gerais e, resumidamente:

• Que para haver desenvolvimento susten-tável e atendermos as necessidades das gerações presentes e futuras, temos que estar em harmonia com a natureza;

• Que os Estados têm o direito soberano de explorar seus próprios recursos;

• Que devemos lutar para erradicar a pobre-za e reduzir as disparidades;

5 A Questão Ambiental no Distrito Federal, edição Sebrae DF, Brasília, 2004

14 Curso Básico de Gestão Ambiental

• Que os Estados devem cooperar para a conservação, proteção e restauração da saúde e da integridade do ecossistema terrestre;

• Que os países em desenvolvimento e aqueles ambientalmente mais vulneráveis devem receber atenção especial;

• Que os países desenvolvidos reconhecem a responsabilidade que têm em vista das pressões exercidas por suas sociedades sobre o meio ambiente;

• A adoção de legislação ambiental efi caz, assim como da avaliação de impacto am-biental para atividades que possam vir a ter impacto negativo no meio ambiente;

• A adoção do princípio da precaução para proteger o meio ambiente;

• Que as populações indígenas têm um pa-pel fundamental na gestão do meio am-biente em virtude de seus conhecimentos e práticas tradicionais e,

• Que a guerra é, por defi nição, contrária ao desenvolvimento sustentável.

IMPACTOS AMBIENTAIS GLOBAIS QUE AFETAM A VIDA DE TODOS NO PLANETA

A destruição da camada de ozônio O efeito estufa A perda da biodiversidade Crescimento populacional

T3M1

1.6 Questões Ambientais Globais

Os grandes problemas ambientais ultra-passam as fronteiras nacionais e são trata-dos de forma global, pois afetam a vida de todos no planeta. Isto explica, em parte, por que os países mais desenvolvidos colocam

barreiras à importação de produtos resultan-tes de processos prejudiciais ao meio am-biente.

A atividade industrial, principalmente, é responsável por expressiva parcela dos pro-blemas globais incidentes no meio ambiente.

Você vai conhecer, a seguir, quais são as ameaças com que a humanidade se defron-ta.

Entenda melhor, também, o esforço das nações e da sociedade em geral para rever-ter o processo acelerado de degradação dos recursos naturais no mundo, que também tem como causas a explosão demográfi ca e as precárias condições de vida de grande parte da população, especialmente as do ter-ceiro mundo.

Existem questões ambientais de suma importância para a Humanidade, que se ca-racterizam como impactos ambientais negati-vos. Algumas dessas questões são descritas a seguir:

• o aumento da temperatura da Terra;

• a diminuição das quantidades de espécies vivas (conhecida como perda da biodiver-sidade);

• a destruição da camada de ozônio;

• a contaminação ou exploração excessiva dos recursos dos oceanos;

• a escassez, mau uso e poluição das águas;

• a superpopulação mundial;

• a utilização/desperdício dos recursos na-turais não renováveis (petróleo, carvão mi-neral, minérios);

• o uso e a ocupação inadequados e a de-gradação dos solos agricultáveis;

• a destinação fi nal dos resíduos (lixo);

15Curso Básico de Gestão Ambiental

• a gravidade do aumento das doenças am-bientais, produzidas pelo desequilíbrio da estabilidade planetária; e

• a busca de novos paradigmas de produ-ção e consumo.

1.6.1 A Destruição da Camada de Ozônio

CAMADA DE OZÔNIO

Estratosfera (15 - 50 Km) O + O = OAbsorve parte da radiaçãoCFCs: (fabricação de espumas e isopor, refrigeração, solventes para limpeza e aerossóis.)Destruição do O pelo cloro a 25 km da superfícieLegislação:– instrumentos legais; e– protocolos internacionais

2 3

3

T4M1

Na atmosfera terrestre, entre 15 e 50km acima da superfície (estratosfera), a energia na forma de luz solar promove a dissociação do oxigênio molecular (O2) em oxigênio atô-mico (O).

O oxigênio atômico, na presença da luz solar e de substâncias químicas, combina-se com o oxigênio molecular (O2) formando o ozônio (O3). O ozônio seletivamente absor-ve parte da radiação solar, impedindo a inci-dência da maior parte dos raios ultravioleta e da radiação gama provenientes do Sol, que poderiam, ao atingir a superfície do planeta, provocar graves doenças nos seres vivos, em geral.

Os clorofl uorcarbonetos (CFCs) são com-postos químicos estáveis, com vida média de 139 anos, são muito usado pelas indústrias na fabricação de espumas, isopor, nas máquinas de refrigeração, nos aparelhos de ar-condicio-nado, como propelentes em aerossóis, como isolantes em transformadores elétricos e como solventes para a limpeza de placas de circui-tos elétricos. Por se tratar de produtos voláteis de baixa densidade, com o tempo os CFCs chegam à estratosfera, onde são degradados

pela ação da energia solar, liberando átomos de cloro. Estes átomos reagem quimicamente com o ozônio, destruindo a molécula e dimi-nuindo sua concentração.

O mais grave é que esta reação química ocorre em cadeia, ou seja, cada átomo de cloro pode provocar a destruição de milhares de moléculas de ozônio, provocando danos irreversíveis à camada de ozônio, provocan-do o que se convencionou chamar de “buraco na Camada de Ozônio”.

Chama-se a atenção para o fato de que, embora o ozônio encontrado na atmosfera seja de extrema importância para a preserva-ção da vida no planeta, esse mesmo ozônio, se presente próximo à superfície, age como um poluente prejudicial aos seres vivos.

O Brasil tem participado ativamente dos foros internacionais, sendo signatário do Pro-tocolo de Montreal (1987) e do Protocolo de Quioto (1997). Tem assumido postura coe-rente com estes Protocolos, estabelecendo instrumentos legais apropriados para dar sua contribuição à manutenção e à melhoria da qualidade ambiental do planeta.

1.6.2 Efeito Estufa

EFEITO ESTUFA

Isolamento térmico naturalGases estufa naturais– Dióxido de arbono – CO

Vapor d´águaAumento acelerado da temperatura média da Terra.Até ano 2100 aumento entre 0,06ºC e 0,8ºC por décadaAumento no nível dos oceanos.

c–

o ,

2

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O efeito estufa, em condições naturais, é um fenômeno climático de extrema importân-cia para a vida dos seres existentes, hoje, no planeta.

A temperatura da Terra manteve-se rela-tivamente constante por centenas de anos,

16 Curso Básico de Gestão Ambiental

graças a um efeito de isolamento térmico natural (efeito estufa) que ocorre por meio do seguinte fenômeno: durante o dia ocorre elevação da temperatura, com a chegada da energia solar, e à noite uma diminuição, devi-da à irradiação de parte da energia absorvida durante o dia, para o espaço. Nesse balanço térmico, gases e vapores, como o dióxido de carbono e o vapor d’água, têm importância fundamental, pois permitem a passagem de parte das ondas de calor provenientes do Sol e retêm parte da energia irradiada pela Terra em direção ao espaço.

Não fosse esse processo, a temperatura da Terra teria uma variação aproximada de +2.000ºC durante o dia e – 200ºC durante a noite. Desta forma, o acréscimo excessivo na quantidade de dióxido de carbono e de ou-tros poluentes da atmosfera poderia provocar maior retenção do calor, que seria irradiado para o espaço, causando um aquecimento gradual e progressivo da atmosfera terrestre, ocasionando um agravamento do efeito estu-fa. Este fenômeno pode provocar um aumen-to da temperatura na superfície da Terra.

O incremento acelerado da temperatura média da Terra vem ocorrendo desde a Re-volução Industrial, devido à maior concentra-ção de gases na atmosfera (principalmente o CO2 – dióxido de carbono), decorrente das seguintes atividades:

• combustão de petróleo, gás, carvão mine-ral e vegetal;

• emissão de gases pelas indústrias;

• desmatamento e queimada da cobertura vegetal; e

• fermentação de produtos agrícolas.

Existem estudos que demonstram a ele-vação do nível dos mares em decorrência do aumento da temperatura global do planeta. Estima-se que as temperaturas possam va-riar entre 0,06ºC e 0,8ºC por década até o ano 2100 e que, em decorrência desse aque-cimento, o nível dos mares possa aumentar

de 1cm a 24cm por década no mesmo pe-ríodo.

Um aumento dos níveis dos oceanos, por menor e gradual que seja, provoca prejuízos incalculáveis em todo o mundo, visto que grande parte da população humana vive ao longo da linha litorânea. No Brasil, de acordo com dados do IBGE de 20006, o equivalente a 23,93% da população vive na zona costei-ra.

1.6.3 A Perda da Biodiversidade

BIODIVERSIDADE

Extinção da flora e fauna 5 a 10 milhões de espécies (1,7 milhões identificadas) 74% a 86% vivem em florestas tropicais úmidas 20% a 50% podem ser extintas em um século Ameaças à reprodução natural.

Brasil 524 (131) b 1.622 (>191) 468 (172) 517 (294) 3.131 (788) >3.000África do Sul 247 (27) 774 (7) 299 (76) 95 (36) 1.415 (146) 153Austrália 282 (210) 751 (355) 755 (616) 196 (169) 1.984 (1.350) 183China 499 (77) 1.244 (99) 387 (133) 274 (175) 2.404 (484) 1010Colômbia 456 (28) 1.815 (>142) 520 (97) 583 (367) 3.374 (634) >1.500Equador 271 (21) 1.559 (37) 374 (114) 402 (138) 2.606 (310) >44Estados Unidos 428 (101) 768 (71) 261 (90) 194 (126) 1.651 (388) 790Filipinas 201 (116) 556 (183) 193 (131) 63 (44) 1.013 (474) 330Índia 350 (44) 1.258 (52) 408 (187) 206 (110) 2.222 (393) 750Indonésia 515 (201) 1.531 (397) 511 (150) 270 (100) 2.827 (848) 1.400Madagascar 105 (77) 253 (103) 300 (274) 178 (176) 836 (630) 75Malásia 286 (27) 738 (11) 268 (68) 158 (57) 1.450 (163) 600México 450 (140) 1.050 (125) 717 (368) 284 (169) 2.501 (802) 468Papua N. Guiné 242 (57) 762 (85) 305 (79) 200 (134) 1.509 (355) 282Peru 344 (46) 1.703 (109) 298 (98) 241 (>89) 2.586 (342) 855Rep. Dem. do Congo 415 (28) 1.094 (23) 268 (33) 80 (53) 1.857 (137) 962Venezuela 288 (11) 1.360 (45) 293 (57) 204 (76) 2.145 (189) 1.250

País Vertebrados, excetoos peixes

Peixes de água doce

Mamíferos Répteis Aves Anfíbios

T6M1

A perda da biodiversidade é um fato incon-testável e que se agrava dia-a-dia. A destrui-ção de ecossistemas e a conseqüente extin-ção de espécies da fl ora e da fauna constitui-se em grave e irreversível problema global. Segundo estimativas conservadoras, existem entre 5 a 10 milhões de espécies de organis-mos no mundo; mas há quem calcule até 30 milhões. Destas, somente 1,7 milhões foram identifi cadas pelo homem.

Estima-se que 74% a 86% das espécies identifi cadas vivem em fl orestas tropicais úmidas, como a Floresta Amazônica. Alguns autores acreditam que entre 20% a 50% das espécies estarão extintas até o fi nal do sé-culo 21, vítimas da destruição dos ecossis-temas fl orestais e dos santuários ecológicos situados nas ilhas.

6 Fontes: Contagem da população 1996. Rio de Janeiro: IBGE, 1997. 2 v.; Censo demográfico 2000. Característi-cas da população e dos domicílios: resultados do univer-so. Rio de Janeiro: IBGE, 2001

17Curso Básico de Gestão Ambiental

Vale chamar a atenção para o fato de que a diminuição de populações, abaixo de um mínimo reprodutivo, para cada espécie, é um fator impeditivo à perpetuação da espécie. Nesses casos, cabe ao homem utilizar-se da biotecnologia e ajudar essas espécies a ultra-passarem a barreira do impedimento repro-dutivo e a recuperarem seu potencial biótico natural.

A proteção da diversidade biológica com-preende a proteção da variabilidade em di-versos níveis, como os ecossistemas e ha-bitats, espécies e comunidades, genomas e genes. A Convenção sobre Diversidade Biológica, ratifi cada pelo Brasil através do Decreto Legislativo de fevereiro de 1994, de-termina várias responsabilidades, entre as quais a identifi cação e o monitoramento de ecossistemas e habitats, espécies e comuni-dades que estejam ameaçadas, genomas e genes de importância social e econômica. O Brasil está incluído entre os países dotados da chamada megadiversidade, doze nações que abrigam 70% da biodiversidade total do planeta. À importância, de âmbito global, da conservação da biodiversidade no Brasil, soma-se sua relevância para a economia do país (http://www.ibge.gov.br/home/geografi a/ambientais/ids/ids.pdf – p.101) – (Lista de es-pécies em extinção, ver Fontes: Ibama. Fau-na: lista ofi cial de fauna ameaçada de extin-ção. Disponível em: <http://www2.ibama.gov.br/fauna/extincao.htm>)

A extinção de ecossistemas e suas espé-cies constituintes provoca desequilíbrio na natureza, além de impedir o aproveitamento dos recursos naturais em benefício do ho-mem, na forma de matéria-prima, de alimento e de fármacos para a cura de suas doenças.

O desenvolvimento sustentável implica a preservação do meio ambiente em condições de equilíbrio, que depende, por sua vez, da conservação dos ecossistemas brasileiros7. Ao lado de estratégias de proteção, tais como o controle do impacto das ações humanas, o

estabelecimento de áreas protegidas visa a vários objetivos, entre os quais se destaca a proteção à biodiversidade. São objetivos do Sistema Nacional de Unidades de Conserva-ção contribuir para a manutenção da diversi-dade biológica e dos recursos genéticos no Território Nacional e nas águas jurisdicionais; proteger as espécies ameaçadas de extin-ção no âmbito regional e nacional; contribuir para a preservação e a restauração da diver-sidade de ecossistemas naturais; promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais; promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da na-tureza no processo de desenvolvimento; pro-teger paisagens naturais e pouco alteradas, de notável beleza cênica; proteger as carac-terísticas relevantes de natureza geológica, geomorfológica, espeleológica, arqueológica, paleontológica e cultural; proteger e recupe-rar recursos hídricos e edáfi cos; recuperar ou restaurar ecossistemas degradados; pro-porcionar meios e incentivos a atividades de pesquisa científi ca, estudos e monitoramento ambiental; valorizar econômica e socialmen-te a diversidade biológica; favorecer condi-ções e promover a educação e interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico; proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações tradicionais, respeitando e va-lorizando seu conhecimento e sua cultura e promovendo-as social e economicamente.

De acordo com o Ministério de Meio Am-biente (MMA)8, “o Brasil dispõe, hoje, de um quadro de unidades de conservação (UC) ex-tenso, sendo 2,61% constituídas de unidades de proteção integral (de uso indireto) e 5,52% de unidades de uso sustentável (de uso dire-to), totalizando 8,13% do território nacional. Importantes esforços têm sido empreendidos com a fi nalidade de ampliar as áreas prote-gidas. O Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC, abre a possibilidade de criação de um sistema de unidades de conservação que integre, sob um só marco legal, as unidades de conservação das três

7 http://www.ibge.gov.br/home/geografia/ambientais/ids/ids.pdf (pg. 104) 8 http://www.mma.gov.br/port/sbf/dap/apconser.html

18 Curso Básico de Gestão Ambiental

esferas de governo (federal, estadual e mu-nicipal).

Pela primeira vez no Brasil, o meio am-biente é visto não como uma restrição ao desenvolvimento, mas como um mosaico de oportunidades de negócios sustentáveis que harmonizam o crescimento econômico, a ge-ração de emprego e renda, e a proteção de nossos recursos naturais.”

A Floresta Amazônica é um dos princi-pais biomas predominantemente fl orestais do território brasileiro9. Em termos mundiais, é a maior fl oresta tropical existente, corres-pondendo a 1/3 das reservas de fl orestas tropicais úmidas. Abriga grande número de espécies vegetais e animais, muitas delas endêmicas. Estima-se que detém a mais ele-vada biodiversidade e o maior banco genéti-co do mundo, 1/5 da disponibilidade mundial de água potável e patrimônio mineral ainda em parte desconhecido. Quatro milhões de km2 da Amazônia brasileira estão associados a uma cobertura com fi sionomia fl orestal pri-mária. A área total desfl orestada na Amazô-nia é da ordem de 15% da superfície total. O processo de desfl orestamento acentuou-se nas últimas quatro décadas, concentrado nas bordas sul e leste da Amazônia Legal (Arco do Desfl orestamento). Algumas formações vegetais características desta região já estão sob risco de desaparecimento. O desfl oresta-mento é realizado, majoritariamente, para a formação de pastos e áreas agrícolas, decor-rendo também da extração predatória de ma-deira. Este indicador é útil para a avaliação do avanço das atividades agrossilvo-pastoris, e da ocupação antrópica em geral, nas áreas recobertas por fl orestas no norte do Brasil.

Já a Mata Atlântica corresponde ao segun-do maior conjunto de fl orestas tropicais úmi-das do Brasil, menor apenas que a Floresta Amazônica. Originalmente, este bioma se estendia do litoral nordestino ao Rio Grande Sul, adentrando pelo interior no Centro-Sul do país. Ao longo de sua área de ocorrên-

cia, a Mata Atlântica apresenta grande va-riabilidade fi sionômica e fl orística, possuindo elevada biodiversidade, com grande número de espécies endêmicas. A Mata Atlântica foi quase totalmente derrubada e substituída por áreas agrícolas, pastoris e urbanas. De sua área original (mais de 1 milhão de km2), restam hoje menos de 10% recobertos com fl orestas nativas, boa parte delas formações secundárias, de pequena extensão e restritas aos locais de relevo mais íngreme. Por conta disto, a Mata Atlântica é considerada como um dos biomas mais ameaçados de desa-parecimento no mundo. Assim como a Mata Atlântica, por sua localização, as formações vegetais costeiras (restingas e manguezais) foram muito alteradas desde a chegada dos colonizadores portugueses ao Brasil. Além de abrigarem muitas espécies exclusivas, ajudam a fi xar os solos das áreas costeiras e fornecem abrigo e alimentação à fauna estu-arina (manguezais).

Outros fatores importantes são aqueles de que os seres humanos necessitam para sobreviver dignamente na superfície do pla-neta, quais sejam água, saneamento básico, solo para cultivo, moradia, saúde, educação e lazer.

Mais de um bilhão dos habitantes da Terra não têm acesso a habitação segura e servi-ços básicos, embora todo ser humano tenha direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia com a natureza. Essas pessoas desprovidas de quase tudo vivem, particu-larmente, em países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil.

A falta de saneamento básico, de abaste-cimento d’água e de coleta do lixo, além de signifi carem altos riscos para a saúde huma-na, são fatores de degradação do meio am-biente. Isto ocorre especialmente nos cintu-rões de miséria das grandes cidades, onde se aglomeram multidões de pessoas em es-paços mínimos, de precária higiene.

Estudos do Banco Mundial (1993) esti-mam que o ambiente doméstico inadequado é responsável por quase 30% da ocorrência

9 http://www.ibge.gov.br/home/geografia/ambientais/ids/ids.pdf

19Curso Básico de Gestão Ambiental

de doenças nos países em desenvolvimento. O Quadro 1 a seguir ilustra a situação.

Visto que apenas 0,6% de água no mundo são água doce disponível naturalmente, sua escassez – devido à distribuição geográfi ca que favorece algumas regiões e não favore-ce outras, seu mau uso e a poluição, caso não sejam combatidos, podem inviabilizar sociedades e mesmo nações inteiras. A água em quantidade e qualidade é fator de saúde pública, capaz de prevenir 80% das doenças humanas.

O solo agricultável é essencial para as-segurar o sustento da população mundial. É preciso conservá-lo e manejar melhor os insumos (adubos, pesticidas, água de irriga-ção), de modo a garantir a produção de ali-mentos no futuro.

A produção agrícola deve ser melhorada com a intensifi cação do uso das terras já cul-tivadas, evitando-se sua expansão para as terras marginais e a invasão de ecossistemas frágeis. Para isso, é preciso substituir as téc-nicas atuais de manejo, que têm provocado a degradação pela acidifi cação, erosão e salini-zação dos solos, por práticas não agressivas.

É preciso ter em mente que um centímetro de solo agrícola demora mais de 500 anos para se formar; se manejado inadequada-mente, pode acabar em um mês. Estima-se uma perda mundial de 30 bilhões de tone-ladas de solos agrícolas, por ano. Somente em Santa Catarina, a perda anual calcula-

Quadro 1. Causas principais de algumas doenças

Doenças Causas

Diarréias Falta de saneamento, de abastecimento d’água, de higiene

Doenças tropicais Falta de saneamento, má disposição do lixo, foco de vetores de doenças nas redondezas

Verminoses Falta de saneamento, de abastecimento d’água, de higiene

Infecções respiratórias Poluição do ar em recinto fechado, superlotação

Doenças respiratórias crônicas Poluição do ar em recinto fechado

Câncer do aparelho respiratório Poluição do ar em recinto fechado

da é da ordem de 12 milhões de toneladas anuais.

1.6.4 Crescimento Populacional

Há muito tempo que os pesquisadores vêm demonstrando preocupação com o aumen-to da população no planeta, principalmente pelo comprometimento de sua estabilidade ambiental e pela exaustão dos seus recursos naturais. A Tabela 1 mostra uma projeção do aumento populacional no mundo, em bilhões de pessoas.

Tabela 1. Aumento populacional no mundo

População Tempo necessário

Ano em que atingiu ou atingirá

(projeção)

Primeiro bilhão

2.000.000 de anos

1830

Segundo bilhão

100 anos 1930

Terceiro bilhão

30 anos 1960

Quarto bilhão

15 anos 1975

Quinto bilhão

11 anos 1986

Sexto bilhão

9 anos 1995

Fonte: Nações Unidas, por Brown, Lester (1980)

É importante observar que essa projeção, feita há 24 anos, teve um nível de acerto bas-tante signifi cativo. A ONU confi rmou para o

20 Curso Básico de Gestão Ambiental

mês de outubro de 1999 o nascimento do sex-to bilionésimo ser humano no planeta Terra.

Entretanto, desde a publicação do relatório Limites de Crescimento pelo Clube de Roma em 1972, a comunidade internacional enten-deu ser necessário diminuir as taxas de cres-cimento populacional. Note-se a variação do crescimento populacional estimado em 1992, para o período 1965 – 2025, Tabela 2.

DEMONSTRAÇÃO GRÁFICA REAL E PROJETADA DO AUMENTO DA POPULAÇÃO MUNDIAL

0

2

4

6

8

10

1930 1960 1975 1999 2025 2040

Anos

Bilh

ões

dePe

ssoa

s

T7M1

De acordo com as projeções, seguindo o padrão histórico do crescimento demográfi -co, a população mundial poderá passar dos 9 bilhões de habitantes em 2040. Grandes investimentos são necessários para aumen-tar a produção agrícola e para compensar a exaustão dos recursos não-renováveis, como os combustíveis fósseis (petróleo, gás natu-ral, carvão).

1.7 Questões Ambientais Nacionais

QUESTÕES AMBIENTAIS NACIONAIS

O Brasil apresenta características própriasAbriga 60% da Floresta Amazônica

PRINCIPAIS PREOCUPAÇÕES AMBIENTAIS

A destruição da camada de ozônioAs alterações climáticasOs riscos à biodiversidade e à extinção de espéciesA poluição dos mares e ecossistemasRedução da mata atlântica, cerrado e caatinga

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O Brasil é um país que apresenta caracte-rísticas próprias por ter dimensões continen-tais, grandes variações em latitude e longi-tude, um mosaico de classes de solo, relevo diversifi cado, climas variando de úmido a semi-árido, grandes ecossistemas distintos e um sem-número de formas de uso e ocupa-ção do espaço, vinculadas à heterogeneida-de cultural do seu povo.

Nosso país tem ocupado posição de des-taque nas preocupações ambientais do mun-do inteiro, principalmente por abrigar 60% (sessenta por cento) da Amazônia Interna-cional, a grande reserva da biodiversidade no planeta.

Podemos destacar as seguintes preo-cupações nacionais:

Tabela 2. Variação do crescimento populacional estimado em 1992, para o período 1965 – 2025

Ano População total estimada Período Taxa de

crescimento (%)

Tempo aproximado para dobrar a

população (anos)*

1965 3.336 1965-70 2,06 34

1975 4.079 1975-80 1,73 40

1985 4.851 1985-90 1,74 40

1990 5.292 1990-95 1,73 40

1995 5.770 1995-2000 1,63 43

2000 6.261 2000-05 1,47 48

2025 8.504 2020-25 0,99 71

Fonte: El-Badry (1992), acrescentado*

21Curso Básico de Gestão Ambiental

• a destruição da camada de ozônio;

• as alterações climáticas;

• os riscos à biodiversidade e a extinção das espécies;

• a poluição dos mares e ecossistemas con-tíguos à costa brasileira;

• redução da Mata Atlântica, além de outros dois grandes biomas, o Cerrado e a Caa-tinga.

Como em qualquer outro país do mundo, o Brasil também sofre as conseqüências do chamado efeito estufa, que provoca o aumen-to da temperatura terrestre. As causas, como vimos, estão relacionadas ao lançamento de gases na atmosfera, principalmente o dióxido de carbono, o metano, os óxidos de nitrogê-nio e os hidrocarbonetos halogenados.

Nesse tópico, o Brasil deve direcionar suas preocupações para as seguintes questões:

• Como as mudanças da cobertura vegetal na Amazônia, em particular o desmata-mento, podem alterar o equilíbrio climático na região e em outras áreas?

• Em que intensidade as emissões de fuma-ça e gases provocadas pelas queimadas, pelas indústrias, pelos meios de transpor-te e produção de energia no Brasil, con-tribuem para as alterações climáticas glo-bais?

• Como estas mudanças afetariam os ecos-sistemas naturais e os de produção agro-pecuária no território brasileiro?

• Que efeitos permaneceriam no ambiente, mesmo que as emissões de gases e o des-matamento no Brasil fossem controlados?

Não existem ainda respostas defi nitivas para tais questões. Sabe-se que a Floresta Amazônica tem importância para o clima no mundo, mas não em que proporção. É preci-so que o País acompanhe os estudos em an-

damento e utilize a Amazônia em seu bene-fício, com a consciência da importância que tem a região em escala mundial.

Os fenômenos El Niño e La Niña, que ocor-rem devido ao aquecimento e ao resfriamen-to, respectivamente, das águas do Oceano Pacífi co, também infl uenciam nosso clima.

A biodiversidade ou diversidade biológi-ca pode ser compreendida como o conjunto formado pelos ecossistemas, as populações com suas espécies componentes e o patri-mônio genético que as caracterizam, portan-to, engloba todas as plantas, animais e mi-croorganismos, bem como os ecossistemas do qual fazem parte.

Recentes estudos conduzem à previsão de que o mundo perderá entre 2% e 7% das es-pécies nos próximos 25 anos, corresponden-tes à extinção de 8 mil a 28 mil espécies por ano, ou seja, de 20 a 75 espécies por dia.

As Américas do Sul e Central abrigam 51% das plantas tropicais existentes no mundo, enquanto a África e Madagascar respondem por 23%, e a Ásia, 26%.

Como exemplo cita-se a região de Cubatão, que apresentava, na época de seu ritmo mais intenso de industrialização (1950 a 1960), to-dos os atrativos para a implantação do pólo industrial em termos de proximidade do cen-tro consumidor, de porto marítimo de grande porte, de malha viária, de disponibilidade de mão-de-obra, água e energia elétrica.

Os aspectos ambientais foram pratica-mente ignorados nos processos de análises e nas decisões sobre a instalação de ativida-des industriais no município, o que provocou intensa degradação ambiental.

Além disso, os ataques à vegetação da Serra do Mar, provocados pelas atividades humanas e, particularmente, pelos efeitos fi totóxicos das emissões industriais (chuvas ácidas), tornaram suas encostas instáveis, criando riscos de deslizamentos sobre o com-plexo industrial.

22 Curso Básico de Gestão Ambiental

A partir de 1983, foi desencadeado o Pro-grama para a Recuperação da Qualidade Ambiental de Cubatão, como resposta às pressões sociais em curso. Em 1984, o Pro-grama aprovou vários planos individuais para controle ambiental nas indústrias.

Cubatão transformou-se, pela gravidade dos níveis de poluição e riscos para a popula-ção, em caso emblemático que atraiu intensa reação. Em 1986, o Ministério Público do Es-tado de São Paulo e uma entidade ambiental não-governamental ajuizaram ações civis pú-blicas contra 24 empresas poluidoras pelos danos causados à Serra do Mar.

Hoje, os resultados da aplicação do citado Programa mostram signifi cativa redução nos níveis de emissão de poluentes, diminuindo o número de ocorrências de alerta e emergên-cia na região, cuja incidência chegava ante-riormente a 17 vezes por ano.

O caso de Cubatão serve de exemplo de planejamentos feitos sem considerar as impli-cações dos aspectos e dos impactos ambien-tais de um empreendimento dessa natureza. Outros problemas ambientais que preocupam as autoridades e toda a população brasileira estão distribuídos ao longo de todo o território nacional, a saber:

• saneamento básico inadequado ou inexis-tente;

• crescimento populacional;

• pobreza;

• urbanização descontrolada;

• consumo e desperdício de energia;

• perda de solo agricultável;

• desertifi cação no Semi-Árido brasileiro;

• práticas agrícolas inadequadas;

• substâncias tóxicas perigosas;

• inefi ciente gestão dos recursos hídricos;

• mineração e garimpos predatórios;

• processos industriais poluentes;

• poluição do ar em áreas metropolitanas; e

• alteração da Mata Atlântica, da Caatinga e do Cerrado, queimadas na Amazônia, ocupação e destruição de mangues em toda a costa, principalmente próximo aos limites urbanos.

1.8 Os Grandes Acidentes Ambientais

DESASTRES AMBIENTAIS

Impactos na flora e faunaPerdas sociais e econômicas

Petroleiro Exxon Valdez

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Os grandes acidentes ambientais que vêm ocorrendo em todo o mundo, além de provocar o extermínio local de grandes po-pulações de animais e plantas, têm atingido diretamente as populações humanas, tanto pela perda de vidas como pelas grandes per-das sociais e econômicas. Basta relembrar as tragédias de Minamata, Bhopal, Three Mile Island, Chernobyl, Exxon Valdez, o der-rame de 1.290m3 de óleo combustível na Baia de Guanabara feito por um oleoduto da Refi naria Duque de Caxias, o afundamento do navio petroleiro Prestige, em novembro de 2002, com 70 mil toneladas de óleo, na costa da Espanha. Essa quantidade de óleo é duas vezes maior que a contida no Exxon Valdez.

O acidente de Bhopal, ocorrido em Mady-ma Pradejh, na Índia, provocado pelo vaza-mento de trinta toneladas de metil isocianato de uma fábrica da Union Carbide, morreram,

23Curso Básico de Gestão Ambiental

num primeiro momento, 3.323 pessoas e cerca de 35 mil tiveram o funcionamento de seus pulmões afetado em diversos níveis. Em decorrência desse acidente, a empresa teve que ressarcir, pelos danos causados às pessoas e ao meio ambiente, uma soma da ordem de dez bilhões de dólares.

Há acidentes que ocorrem no dia-a-dia, como o do césio, em Goiânia. A tragédia de Caruaru, com a contaminação de pacientes de hemodiálise, é também um acidente am-biental como tantos outros.

1.8.1 A Poluição dos Mares

A POLUIÇÃO DOS MARES

Águas poluídas escoam para o marDeclínio das zonas pesqueiras500.000t/ano de óleo no marEntre 1967 e 1983 foram lançados90.000t de resíduos radioativos14 bilhõeskg de lixo por ano

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A poluição do mar causada pelos des-pejos de rejeitos domésticos e industriais e materiais assemelhados e o escoamento de águas poluídas por insumos agrícolas, entre outros, vem aumentando de forma progres-siva, no mundo inteiro. Tudo isso, aliado ao excesso de pesca, está levando ao declínio diversas zonas pesqueiras regionais.

Calcula-se em 500 mil toneladas anuais o derrame de petróleo nos oceanos. Entre 1967 e 1983 foram lançadas 90 mil tonela-das de resíduos radioativos no mar pelos pa-íses industrializados, o que, ofi cialmente, não ocorre mais.

Quase 80% dos poluentes lançados nos mares concentram-se nas regiões costeiras que, além de ser altamente habitado, é um habitat marinho vulnerável10. De acordo com a Academia Nacional de Ciências dos EUA, estima-se que 14 bilhões de quilos de lixo são jogados (sem querer ou intencionalmen-te) nos oceanos todos os anos.

Outra questão importante que vem sen-do objeto de preocupação em todo o mundo é a água de lastro. Estima-se que, somente na costa brasileira, são despejadas, anu-almente 40 milhões de toneladas de água de lastro, proveniente de diversas partes do mundo.

Responsáveis pelo transporte de mais de 80% dos materiais comercializados em todo o mundo, os navios translocam, anualmente, mais de 10 bilhões de toneladas de água de um local para outro, levando nesse volume cerca de três mil espécies de organismos vivos. Esses organismos, dispersos por dife-rentes pontos do bioma marinho e também fl uvial, causam problemas incomensuráveis em função de suas características adaptati-vas.

As autoridades buscam estabelecer me-didas internacionais de controle, para evi-tar que espécies exóticas de grande poder de adaptação se instalem em ecossistemas frágeis e provoquem desequilíbrios em seu funcionamento. Além de alterações nos ecos-sistemas, em geral essas espécies causam grandes prejuízos econômicos em todo o mundo.

Exercício 1

Para a fi xação do conteúdo abordado no Módulo 1, propõe-se a realização do exercí-cio apresentado na página 77.

10 http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base =./agua/salgada/index.html&conteudo=./agua/salgada/ artigos/poluicaomar.html