cultura(s), cidadania e desenvolvimento · conclusão ... acumulativa da mente humana” ......

30
Danilo Garcia Cultura(s), Cidadania e Desenvolvimento Coimbra, 2013

Upload: ngomien

Post on 15-Nov-2018

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Danilo Garcia

Cultura(s), Cidadania e

Desenvolvimento

Coimbra, 2013

Título: 

Cultura(s), Cidadania e Desenvolvimento 

Autor: 

Danilo Garcia 

Imagem da capa:  

Steve Snodgrass, Wikimedia Commons (2009) 

 

Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra Coimbra, 2013  

Trabalho realizado no âmbito da unidade curricular de Fontes de Informação 

Sociológica sob orientação de Paula Abreu e Paulo Peixoto (ano letivo 2013‐2014) 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ÍNDICE 

 

1. Introdução .................................................................................................................... 1 

2.Estado das Artes ............................................................................................................ 2 

2.1.Cultura..................................................................................................................... 2 

2.1.1.Conceitos gerais de cultura .............................................................................. 2 

2.1.2.Cultura dominante e cultura dominada ........................................................... 5 

2.1.3.Cultura de classes: A cultura operária e a cultura burguesa ........................... 6 

2.2.Cidadania ................................................................................................................ 7 

2.2.1.Conceito geral de cidadania ............................................................................. 7 

2.2.2.Cidadania Cultural ............................................................................................ 8 

2.3. Desenvolvimento da Cultura e da Cidadania ....................................................... 10 

3. Descrição Detalhada da Pesquisa ............................................................................... 11 

4. Ficha de Leitura........................................................................................................... 12 

5. Avaliação da Página da Internet ................................................................................. 21 

6. Conclusão .................................................................................................................... 23 

7. Referências Bibliográficas ........................................................................................... 24 

 

 

 

ANEXO A 

Página da Internet Avaliada 

ANEXO B 

Texto de suporte da ficha de leitura

Cultura(s), Cidadania e Desenvolvimento  

 

 Página1�

1. Introdução   

No âmbito do regime da avaliação contínua da unidade curricular de Fontes de 

Informação  Sociológica,  lecionada  pelo  Professor  Doutor  Paulo  Peixoto  e  pela 

Professora Doutora Paula Abreu, foram propostos por estes vários temas para serem 

desenvolvidos pelos alunos para o trabalho da referida cadeira. 

A  minha  escolha  recaiu  sobre  o  terceiro  tema:  “Cultura  (s),  Cidadania  e 

Desenvolvimento” pois é um assunto bastante atual e preocupante.   

Neste  trabalho  irei  fazer várias abordagens ao conceito de cultura, cidadania, 

cidadania cultural e por fim do desenvolvimento das mesmas. Visando abrir o debate 

relativamente a estas questões,  já que estão  fortemente  relacionados com questões 

económicas e políticas, não podendo, ser debatidos da mesma forma.   

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Cultura(s), Cidadania e Desenvolvimento  

 

 Página2�

 

2.Estado das Artes  

2.1.Cultura 

2.1.1.Conceitos gerais de cultura O conceito de Cultura apareceu em 1871 com a união de dois conceitos: Kultur 

‐ termo que traduzia os aspetos espirituais de uma comunidade; e Civilization – termo 

que se refere às ações materiais de um povo.  

Este foi definido por vários pensadores das ciências sociais, ou seja, tem várias 

definições.  

A mais  comum das definições de  cultura  foi  a definição dada por  Edward B. 

Tylor:  “um  todo  complexo  que  inclui  conhecimentos,  crenças,  arte,  moral,  leis, 

costumes  ou  qualquer  outra  capacidade  ou  hábitos  adquiridos  pelo  homem  como 

membro de uma sociedade” (Tylor apud Laraia:1986).  

Tylor defendia que entre a população pobre e a população civilizada não havia 

uma  diferença  de  natureza, mas  sim  na  proximidade  do  caminho  da  cultura.  Tylor 

defendia  também  a  hipótese  difusionista,  esta  dizia  “que  a  partir  de  um  povo 

determinada  invenção  se  expandia  aos  outros  através  do  contacto  cultural”  (Tylor 

apud Laraia:1986) como explicação da semelhança entre os  traços culturais dos dois 

polos da sociedade, dizendo que, na capacidade de difusão, as mesmas não estariam 

na mesma dimensão da evolução. 

A reação ao evolucionismo de Tylor veio através de Franz Boas, que defendia a 

autonomia  das  Culturas  (relativismo  cultural)  e  que  cada  cultura  tem  uma 

singularidade cultural, algo que é único.  

Boas  procurava  leis  evolutivas  das  culturas  e  leis  de  funcionamento  das 

sociedades através de um processo indutivo (ver, ouvir, falar, escrever) e intensivo de 

campo. Boas concluiu que a cultura se manifesta pelos costumes. 

Também Alfred Kroeber contradiz Tylor afirmando que a cultura atua sobre o 

homem.  Este  também  se  preocupou  com  a  controvérsia  de  uma  série  de  pontos 

discutidos, pois suas teorias opõem‐se a um conjunto de crenças populares. 

Cultura(s), Cidadania e Desenvolvimento  

 

 Página3�

Alfred Kroeber afirma que  se o homem  superar o  fundamental,  liberta‐se da 

natureza.  Isto permitiu a expansão da espécie por  todo o planeta, pois não há outra 

espécie que tenha como habitat a Terra toda:  

 

“De fato, o que faz o habitante humano de latitudes inclementes, não é desenvolver um sistema digestivo peculiar, nem tampouco adquirir pelo. Ele muda o seu ambiente e pode assim conservar  inalterado o seu corpo original. Constrói uma casa fechada, que protege contra o vento e lhe permite conservar o calor do corpo. Faz uma fogueira ou acende uma lâmpada. Esfola uma foca extraindo‐lhe a pele com que a seleção natural, ou  outros  processos  de  evolução  orgânica,  dotou  esses  animais;  sua mulher  faz‐lhe uma  camisa e  calças,  sapatos e  luvas, ou duas peças de cada um; ele as usa, e dentro de alguns anos, ou dias, está provido de proteção que o urso polar e  a  lebre  ártica, a  zibenila e o  tetraz,  levam longos períodos a adquirir. Demais, o seu filho e o filho do seu filho, e seu centésimo descendente nascerão  tão nus e  fisicamente  tão desarmados como ele e o seu centésimo ancestral.” (Kroeber apud Laraia:1986).  

Podemos então concluir que Kroeber expande o conceito de cultura, dizendo 

que: a cultura condiciona o comportamento do homem e justifica as suas ações; a ação 

do homem está de acordo com os seus padrões culturais e que os seus instintos foram 

revogados pelo processo evolutivo que sofre; o homem ao adquirir cultura passou a 

depender  muito  mais  do  saber  do  que  atuar  através  de  atitudes  geneticamente 

estabelecidas;  e  que  a  cultura  é  uma  experiência  histórica  resultante  das  gerações 

antepassadas, este facto condiciona/estimula a ação do individuo. 

Também Bronislaw Malinowski estuda esta problemática da cultura. Segundo 

ele, a cultura é um instrumento criado para satisfazer as carências do homem, de uma 

forma que vai muito além de uma apropriação direta ao meio ambiente. 

Segundo Malinowski, a cultura aumenta o grau de eficácia individual e o poder 

de ação, propiciando a um maior pensamento e uma  largueza de visão verosímil em 

qualquer  espécie  animal.  A  fonte  de  isto,  tudo  está  no  caráter  cumulativo  do 

melhoramento individual e na aptidão de fazer uso de uma ação coletiva.  

Segundo Malinowski,  também  a  cultura  transforma  os  indivíduos  em  grupos 

organizados, dando‐lhes um seguimento indefinido. A organização do coletivo e o seu 

Cultura(s), Cidadania e Desenvolvimento  

 

 Página4�

comportamento são resultado da continuidade cultural, assumindo assim uma  forma 

diferente em cada cultura. 

Apesar da cultura  ter origem para satisfazer as necessidades biológicas, a sua 

verdadeira natureza é a transformação do homem em algo intelectual e não num mero 

organismo animal.   

Também Clifford Geertz, no seu livro “A Interpretação das Culturas”, contradiz 

o conceito dado por Edward Tylor, alegando que este mais confunde do que esclarece.  

Geertz  diz  que  o  seu  conceito  de  cultura  é  “…essencialmente  semiótico. 

Acreditando,  como Max Weber,  que  o  homem  é  um  animal  amarrado  às  teias  de 

significado  que  ele mesmo  teceu,  assumo  a  cultura  como  sendo  estas  teias  e  sua 

análise, portanto, não  como uma  ciência experimental em busca de  leis, mas  como 

uma ciência interpretativa, à procura do significado” (Geertz: 1989). 

Para Geertz o comportamento humano é uma ação simbólica e a cultura é uma 

ação pública e dinâmica porque o seu sentido o é. Também diz que a cultura não é um 

poder, sim um contexto onde os eventos sociais, os comportamentos, os processos e 

as instituições podem ser relatados com densidade.  

Neste sentido, Geertz diz que o etnólogo escreve o discurso social, e ao faze‐lo 

está  a  converter  o  acontecimento  passado  num  relato,  que  pode  ser  observado 

novamente. É neste sentido que a cultura pode ser encarada como um texto. 

Portanto podemos  concluir que  a  cultura  escrita não  é o momento de  falar, 

mas sim, o que foi dito, ou seja a cultura é uma interpretação.  

A  interpretação  baseia‐se  na  salvação  do  que  foi  dito,  fazendo  uso  de  um 

documento escrito, para que possa ser lido e assim não se esqueça o discurso.   

Já Leslie White diz que as “culturas são sistemas de padrões de comportamento 

que  servem  para  adaptar  as  comunidades  humanas  aos  seus  embasamentos 

biológicos.”  (White  apud  Laraia:1986).  Referindo  ainda  que  as  Teorias  Idealistas  de 

Cultura  se  subdividem  em  três  abordagens  diferentes:  1)  cultura  com  um  sistema 

cognitivo. Neste campo, diz‐nos que a cultura segundo Goodenough “é um sistema de 

conhecimento; consiste em tudo aquilo que alguém tem de conhecer ou acreditar para 

operar  de  maneira  aceitável  dentro  de  sua  sociedade”  (Goodenough  apud 

Laraia:1986); 2) cultura como sistemas estruturais. Nesta abordagem, segundo Claude 

Cultura(s), Cidadania e Desenvolvimento  

 

 Página5�

Lévi‐Strauss  define  cultura  como  “um  sistema  simbólico  que  é  uma  criação 

acumulativa  da  mente  humana”  (apud  Laraia:1986);  3)  cultura  como  sistemas 

simbólicos. Esta é a abordagem sustentada por Geertz e Schneider, onde a “ cultura 

deve  ser  considerada  não  um  complexo  de  comportamentos  concretos  mas  um 

conjunto  de  mecanismos  de  controle(...)  para  governar  o  comportamento.  Geertz 

afirma  ainda,  que  “todos  os  homens  são  geneticamente  aptos  para  receber  um 

programa, e este programa é o que chamamos de cultura.” (Geertz apud Laraia:1986) 

Ainda Ralph Linton, diz‐nos que “como termo geral, cultura significa a herança 

social  e  total  da  Humanidade;  como  termo  específico,  uma  cultura  significa 

determinada variante da herança social. Assim, cultura, como um todo, compõe‐se de 

grande número de culturas, cada uma das quais é característica de um certo grupo de 

indivíduos.” (Linton:1976).  

Para  concluir,  como  podemos  ver  nas  várias  definições  de  cultura,  os 

fundamentos  apesa  de  se  difereciarem,  não  se  opôem.  Pois,  como  diz Murdock  os 

cientístas  sociais  “…sabem de  fato  o que  é  a  cultura, mas divergem  na maneira de 

exteriorizar este conhecimento.” (Murdock apud Laraia:1986).  

 

2.1.2.Cultura dominante e cultura dominada   

Denys  Cuche  no  capítulo  “Hierarquias  sociais  e  hierarquias  culturais”  do  seu 

livro “A noção de cultura nas ciências sociais”, aborda a problemática das relações que 

se  estabelecem  entre  os  diferentes  grupos  sociais  e  culturais,  questiona  os 

mecanismos que estão por detrás destas relações e propõe uma nova abordagem ao 

entendimento destes. 

O autor pretende que não se aborde este tema com  fórmulas redutoras, mas 

que se compreenda a complexidade da realidade e das interações socias e culturais.  

Desta maneira, Cuche aborda o  termo da cultura e divide‐o em duas classes: 

Cultura dominante e Cultura dominada.  

Neste sentido, Cuche diz que num espaço social específico existe sempre uma 

hierarquia cultural, que compreende a cultura da classe dominante e a classe da cltura 

dominada. Apesar da primeira não se impor à segunda. 

Cultura(s), Cidadania e Desenvolvimento  

 

 Página6�

Para  Marx  e  Weber,  “a  cultura  da  classe  dominante  é  sempre  a  cultura 

dominante”  (Marx  e Weber apud Cuche: 1999). No  entanto,  ao dizer  isto,  eles não 

pretendem  afirmar  que  a  cultura  dominante  seja  superior,  e  que  esta  dominasse 

“naturalmente” as outras culturas. Mas na realidade, o que existe são grupos sociais 

que estão numa relação de dominação ou de subordinação uns co os outros. 

Sendo  assim,  “uma  cultura  dominada  não  é  forçosamente  uma  cultura 

alienada, totalmente dependente” (Cuche: 1999). O que acontece, é que ela não pode 

desconsiderar  a  cultura  dominante  ao  longo  da  sua  evolução  –  sendo  a  recíproca 

verdadeira, ainda que em menor grau.  

Sendo assim podemos concluir que uma cultura dominante não se pode impor 

a uma  cultura dominada  como um  grupo pode  fazê‐lo em  relação  a um  grupo mas 

fraco socialmente.   

 

2.1.3.Cultura de classes: A cultura operária e a cultura burguesa  

Denys Cuche diz que se realizaram numerosos estudos e que estes revelam que 

“ os sistemas de valores, os modelos de comportamento e os princípios de educação 

variam sensivelmente de uma classe para outra.” (Cuche: 1999).  

Estas  diferenças  culturais  podem  observar‐se  nas  práticas  quotidianas  mais 

comuns  como  por  exemplo:  os  estilos  de  alimentação  que  se  revelam  conforme  as 

classes sociais. Uma simples  ida ao supermercado, que até pode dar a  impressão de 

alguma homogeneização nos hábitos de consumo, esconde escolhas contrastantes. 

As  práticas  alimentares  estão  ligadas  a  gostos  enraizados  na  infância.  As 

condições  sociais  vão  manifestar‐se  na  escolha  dos  alimentos  e  na  pertensa  da 

qualidade  destes.  O  autor  dá‐nos  diversos  exemplos,  sendo  o  da  carne  o  mais 

marcante.  Pois  “Há  carnes  «burguesas»,  como  o  carneiro  e  a  vitela,  e  canes 

«populares», como o porco, o coelho e as salsichas frescas…”. (Cuche: 1999). 

As  necessidades  que  norteiam  os  hábitos  culturais  dos  indivíduos  são 

estabelecidas pelas  relações  de produção.  Estas  estabelecem  “ uma  ligação  entre  a 

natureza do trabalho operário e as formas do consumo operário” (Cuche: 1999). 

Cultura(s), Cidadania e Desenvolvimento  

 

 Página7�

O sentimento frequente de vinculação a uma comunidade de vida e de destino 

provoca  uma  bipartição  fundamental  do  mundo  social  entre  “eles”  e  “nós”.  Esta 

bipartição traduz‐se por um grande conformismo cultural. (Cuche: 1999). 

Segundo  Jean‐Pierre,  o  crescimento  cultural  que  assistem  a  entrada  dos 

operários  no  que  ele  chama  de  «era  da  abundância»  (Cuche:  1999),  é  mais  uma 

adaptação das antigas normas do que a adoção de novas normas tomadas do exterior.  

Cuche diz ainda que os membros que constituem a cultura burguesa não têm 

orgulho na sua cultura e nem a reivindicam, por isso ser difícil estudá‐la. 

Béatrix  Le  Wita  faz  uma  das  primeiras  abordagens  da  cultura  burguesa,  a 

autora detêm: 

 

“três  elementos  fundamentais:  a  atenção  concedida  aos pormenores;  sobretudo  da  ordem  do  trajo,  «pequenos  nadas»  que modificam  tudo  e  fazem  a «distinção»; o  controlo de  si, que  revela do ascetismo  e  Max  Weber  considera  já  uma  propriedade  essencial  da burguesia  capitalista;  por  fim,  a  ritualização  das  práticas  da  vida quotidiana, entre as quais maneiras de mesa assumiram uma importância notável:  a  refeição  é,  com  efeito  conscientemente  vivida  como  um momento privilegiado de socialização em torno do qual se concentra e se transmite o conjunto dos sinais distintos do grupo  familiar burguês”  (Le Wita apud Cuche: 1999).   

Na  cultura  burguesa  é  evidenciado  a  “função  primordial  de  socialização  das 

instituições privadas, as mais das vezes católicas”.  

 

2.2.Cidadania 

2.2.1.Conceito geral de cidadania   

O  conceito  de  cidadania  pode  se  definir  como  o  lugar  ocupado  político‐

juridicamente  por  um  individuo  na  sociedade,  pelo  qual  o  individuo  obtém  direitos 

políticos,  civis  e  sociais,  e  deveres  (votar,  cumprimento  de  leis,  impostos,  …) 

relativamente à sua participação numa sociedade política, bem como  intervir na vida 

política da mesma. Como diz  Luiz  Flávio Borges D´Urso  “Esta possibilidade  surge do 

princípio democrático da soberania popular.” (Borges D’Urso: 2005). 

Cultura(s), Cidadania e Desenvolvimento  

 

 Página8�

Este conceito  já vem desde a Civilização Grega, onde tinha como significado a 

presença na vida ativa na pólis.  

O conceito de cidadania esteve ligado, durante bastante tempo , aos privilégios 

dos  cidadãos,  pois  estes  eram  reservados  só  a  alguns  grupos  sociais.  Foi  na  Idade 

Média que o conceito de cidadania se aproximou mais dos dias de hoje, acrecestando 

a ele os principios de liberdade e igualdade. Mesmo assim ainda era reservado às elites 

sociais das nações.  

Na atualidade o conceito de cidadania foi alargado, constituindo assim “um dos 

princípios  fundamentais  do  Estado  Democrático  de  Direito”  (Borges  D’Urso:  2005), 

pois hoje‐em‐dia ser cidadão, traduz‐se na aplicação do “direito à vida, à liberdade, ao 

trabalho,  à  moradia,  à  educação,  à  saúde,  à  cobrança  de  ética  por  parte  dos 

governantes. ” (Borges D’Urso: 2005). 

Já Thomas Humphrey Marshall na sua crítica “Cidadania, Classe Social e Status”, 

diz‐nos que “há uma espécie de igualdade humana básica associada com o conceito de 

participação integral na comunidade, o qual não é inconsistente com as desigualdades 

que  diferenciam  os  vários  níveis  econômicos  na  sociedade.  Em  outras  palavras,  a 

desigualdade do sistema de classes sociais pode ser aceitável desde que a igualdade de 

cidadania seja reconhecida”  (Marshall, 1967: 62), ao que podemos acrescentar que a 

cidadania  é  a  igualdade  de  direitos  e  de  oportunidades  e  não  igualdade  de  bens 

materiais.  

Estes direitos e oportunidades só estarão na prática quando a moralidade e a 

educação forem proporcionadas igualmente a toda a população de um país.  

A definição de cidadania de Marshall pode ser vista como o desenvolvimento 

da cidadania e por consequente dos seus elementos – direitos civis, sociais e políticos.  

 

2.2.2.Cidadania Cultural   

O conceito de cidadania cultural tem vindo a desenvolver no prolongamento de 

outros  dois  conceitos:  cidadania  política  e  cidadania  económica.  Cidadania  cultural 

como  direito  à  representação  cultural,  à  expressão,  à  comunicação,  como  direito  à 

democracia. 

Cultura(s), Cidadania e Desenvolvimento  

 

 Página9�

Miller no seu texto “Cidadania Cultural” refere que o conceito de cidadania está 

sempre ligado ao conceito de cultura. Desta maneira, o conceito de cidadania cultural 

é  o  resultado  das  adaptações  às  transfigurações  económicas  e  políticas  (desde  a 

Revolução Francesa), do liberalismo, pós‐colonialismos e respetivas consequências. 

Segundo o  autor,  a  globalização  é  apontada  como um  fator decisório para  a 

discussão da cidadania cultural, visto que o desenvolvimento dos diversos países e os 

seus conceitos de cidadania são  fortemente marcados pela  transnacionalização, pela 

divisão internacional do trabalho e pelo aumento da mobilidade. 

Miller divide em sete grupos aqueles que são, para si, os principais teorizadores 

do  conceito  de  cidadania  cultural,  “  (…)  todos  eles  contando  com  a  esfera  pública 

como elemento essencial do seu argumento” (Miller: 2011). 

O  primeiro  teorizador  é  Tony  Bennett,  que  defende  um  equilíbrio  entre 

autonomia  e  responsabilidade  social,  entre  difusão  cultural  e  respeito  pelo 

conhecimento popular.  

O segundo é Renato Rosaldo, que está ligado à luta pelos direitos das minorias, 

defendendo  a manutenção  simultânea  de  um  património  comum  e  de  identidades 

culturais distintas.  

O terceiro é Kymlicka, que aspira uma aproximação entre maiorias e minorias, 

que não deixe de considerar os interesses de ambas. 

 O quarto autor mencionado é Rorty, que apresenta uma visão neoliberal, na 

qual o desenvolvimento da cultura aconteceria simplesmente pela abertura do acesso 

à educação ao nível universal.  

O quinto  é Parekh, que  fala  sobre a multiplicidade étnica na Grã‐Bretanha  e 

com a presença do racismo nas suas instituições.  

A  sexta  autora  é Amy Chua, que  investiga  as  consequências das  reações das 

maiorias populares contra o poder económico das minorias. 

Por  fim,  são  citados  Bernard  Lewis  e  Samuel  Huntington,  estes  abordam  os 

conflitos supranacionais dos EUA e “hegemonia” cultural do ocidente. (Miller: 2011). 

Miller  propõe‐nos  ainda  uma  interligação  da  cultura  com  a  economia  e  a 

política. Acrescenta dizendo que, para diminuir as desigualdades, é preciso rejeitar “o 

Cultura(s), Cidadania e Desenvolvimento  

 

 Página10�

tecnicismo,  o  utopismo,  o  liberalismo,  o  nacionalismo  e  o  neoliberalismo”  (Miller: 

2011). 

 

2.3. Desenvolvimento da Cultura e da Cidadania  

Não  podemos  dizer  que  há  uma  relação  de  precisão  entre  os  conceitos  de 

cultura,  de  cidadania  e  desenvolvimento, mas  há  realmente  uma  interdependência 

entre eles, pois tanto a cultura, como a cidadania necessitam ser desenvolvidas. 

Este  desenvolvimento,  diversas  vezes  analisado  e  debatidos  por  pensadores 

sociais, é escasso e dizem eles que a cultura não é priorizada pelo pode económico, 

pois as políticas estatais põem de parte a cultura, e muitas vezes os governos, chegam 

ao cumulo de perguntar “o que fazer com a cultura?”.  

Tudo  isto,  porque  a  administração  pública  e/ou  empresarial  criaram, 

tardiamente, um plano cultural, pois nas convenções dos partidos políticos a cultura é 

secundária.  

Tudo isto não faz sentido porque, como diz Renato Ortiz, o homem é um animal 

e a sua linguagem é que define sua humanidade. Logo, a sociedade e a linguagem são 

interdependentes, da mesma forma que não é possível existir sociedade sem cultura.  

Esta  ligação  entre  cultura  e  sociedade  é muitas  vezes  esquecida  do  debate 

intelectual,  o  que  leva  a  compreender  de  forma  errada  os  conceitos  de  cidadania 

cultural e de políticas culturais.  

Uma  frase típica usada, em resposta às políticas culturais  falhadas dadas pelo 

governo é que “  foi planeado mas não deu certo”.(Ortiz: 2007)  Isto é explicado pelo 

domínio problemático da cultura não ser simultâneo com o da esfera da sua ação.  

Mas a culpa não parte só dos governos estatais, pois a mudança é muitas vezes 

mal vista por parte das populações, porque estas enaltecem a  tradição e a memória 

coletiva em detrimento das transformações.  

É,  portanto,  urgente  a  criação  e  implementação  de  medidas  de 

desenvolvimento da cultura, pois só desta forma é possível que a população evolua e 

assim podermos dizer que somos uma população dotados de cidadania cultura.  

 

Cultura(s), Cidadania e Desenvolvimento  

 

 Página11�

3. Descrição Detalhada da Pesquisa Para a realização deste trabalho recorri a livros, à internet, à Revista Crítica de 

Ciências Sociais, e retirei também algumas informações importantes do texto de 

suporte à ficha de leitura.  

Comecei por procurar na Internet alguns pensadores e autores das ciências 

sociais e depois iniciei a minha pesquisa nas obras desses autores. 

Utilizei diversas obras literárias de onde extraí as principais ideias e 

fundamentos sobre o conceito de Cultura e de Cidadania e a influência destas no 

desenvolvimento da sociedade. 

Da Internet retirei um artigo da Ordem dos Advogados do Brasil onde retirei 

ideias base sobre a Cidadania e onde percebi a sua evolução na história da 

humanidade.  

Na minha pesquisa também usei os textos recomendados pelos docentes para 

a realização das fichas de leitura sobre o meu tema. 

Após ter recolhido o material necessário fiz uma leitura atenta aos documentos 

e retirei deles as informações que me eram úteis e de seguida fiz um tratamento 

cuidado, da informação recolhida. 

Inicialmente tinha uma estrutura mais ou menos pensada para o trabalho mas, 

à medida que o fui realizando, a estrutura que eu tinha pensado foi‐se alterando por 

uma questão de lógica e relação entre os subtemas. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Cultura(s), Cidadania e Desenvolvimento  

 

 Página12�

4. Ficha de Leitura Título: Políticas para a sociedade da informação em Portugal: da concepção à 

implementação 

Autor: Lurdes Macedo 

Local:  http://www.lasics.uminho.pt/ojs/index.php/comsoc/article/view/1210 

vbg 

Data da publicação: 2005 

Número de páginas: 67‐89 

Data da Leitura: Outubro de 2013 

Assunto: Políticas para a sociedade da informação em Portugal 

Palavras‐chave:  “Sociedade  da  Informação”,  “TIC  (Tecnologias  de 

Informação  e  de  Comunicação)  ”,  “POSI  (Programa  Operacional  Sociedade  de 

Informação)”, “Políticas” 

 

 

Resumo 

 

Neste  texto,  a  autora  analisa  o  conceito  de  “Sociedade  de  Informação”, 

partindo  de  diversas  prespectivas  teóricas,  identificando  nelas  os  desafios  que  o 

“novo” modelo de organização informacional da sociedade coloca a Portugal (um país 

“semi‐periférico”  e  “desfavorecido”).  Propõe  também  a  análise  do  progresso  dos 

políticos governamentais do Estado Português para o desenvolvimento da “Sociedade 

da  Informação”  utilizando  o  instrumento  financeiro,  o  POSI  (Programa  Operacional 

Sociedade de  Informação) que visa  concentrar e viabilizar a  sua execução. A análise 

não passa  só pelo modelo de desenvolvimento do POSI e pela  sua coerência  com a 

atualidade  da  “Sociedade  da  Informação”,  como  também  pela  implementação  da 

mesma e pela resposta concreta aos desafios colocados pelo modelo informacional de 

desenvolvimento social. Este texto procura ainda trabalhar sobre a probabilidade de as 

políticas  para  a  “Sociedade  de  Informação”  não  estarem  a  corresponder  às 

espectativas do objectivo pretendido: a promoção de uma sociedade verdadeiramente 

Cultura(s), Cidadania e Desenvolvimento  

 

 Página13�

“informacionalizada”;  pois  Portugal  regista  uma  forte  inclusão  das  tecnologias  da 

informação  e  da  comunicação  e  simultaneamente  apesenta  indiciadores  de 

subdesenvolvimento social.  

 

Introdução/Apresentação 

 

Neste trabalho Lurdes Macedo (licenciada em Psicologia e mestre em Ciências 

da Comunicação‐Ramo de Especialização em Comunicação, Cidadania e Educação pela 

Universidade do Minho. Atualmente a preparar a sua dissertação de Doutoramento na 

Universidade  do  Minho.  Desempenha  funções  como  docente  na  Universidade 

Lusófona Porto e na Escola Superior de Educação do  Instituto Politécnico de Viseu.) 

analisa  o  conceito  de  “Sociedade  de  Informação”  fazendo  recurso  a  diversos 

pensadores. 

 

Desenvolvimento 

 

O advento de uma “Sociedade da Informação”  

 

A crescente transformação de actividades tradicionais (o correio, o comércio, o 

ensino, a publicidade) em acções virtuais provem da enorme evolução das Tecnologias 

de  Informação e de Comunicação  (TIC), da World Wide Web  (WWW) e da aplicação 

das mesmas nas diversas actividades. Com o uso de aplicações informáticas (e‐mail, e‐

commerce, e‐business, etc.), as  sociedades  tecnologicamente mais avançadas detêm 

de uma qualidade mais rápida e eficaz na transmissão de informação reduzindo assim 

as distancias espaciais que até então eram um constrangimento.  

Contudo, os cidadãos não ficaram alheios à desconfiança quando à eficácia da 

tecnologia, bem como às implicações na alteração dos seus hábitos. 

Foi em boa hora que se  tem vindo a realizar debates e conferências sobre os 

progressos  de  criação  e  reformulação  de  modelos  teóricos,  que  segundo  Lurdes 

Macedo, nos permite analisar e compreender o “ “novo” mundo que se edifica perante 

nós” (2005: 72).  

Cultura(s), Cidadania e Desenvolvimento  

 

 Página14�

Vulgarizaram‐se assim uma série de novos conceitos, sem serem questionados 

ou  entendidos  pela  sociedade.  Destacando‐se  um  que  abrange  todos  os  outros,  a 

“Sociedade da  Informação”. Este  também denomina algumas  teorias  sobre a “nova” 

realidade de organização social, proveniente das TIC na vida humana.  

 

Perspectivas conceptuais e teóricas sobre a “Sociedade da Informação” 

É  importante  aclarar  o  conceito  de  “Sociedade  da  Informação”  através  da 

análise de diferentes propostas de diversos autores, bem como analisa‐las para assim 

compreender o aparecimento deste “novo” modelo de organização social.  

Um  destes  pensadores  foi  Webster,  que  admite  “ser  prematuro  falar  em 

“Sociedade da Informação” enquanto esta se revelar de difícil  leitura” (Webster apud 

Macedo: 2005: 73), pois trata‐se, ainda, de um conceito impreciso.  

Segundo  a  autora, Webster  ao  analisar  Theories  of  the  Information  Society 

(1995) deixa‐nos uma grande proposta de compreensão da “Sociedade da Informação” 

que  se  baseia  na  distinção  de  cinco  dimensões  analíticas  definidoras  dos  vários 

posicionamentos  da  matéria:  a  definição  tecnológica,  a  definição  económica,  a 

definição  ocupacional,  a  definição  espacial  e  a  definição  cultural  (Webster  apud 

Macedo: 2005: 74). 

A definição  tecnológica  salienta a  relação da  redução dos preços do material 

informático  e  o  aumento  da  acessibilidade  a  meios  de  gestão  informaticos  da 

informação. 

Na  definição  económica, Webster,  realça  as  dificuldades  que  se  colocam  à 

objectivação das  categorias propostas para  as  “indústrias da  informação”,  visto que 

estas visam homogeneizar as actividades de diferentes conteúdos.   

Na  definição  ocupacional,  encara‐se  que  uma  sociedade  só  é  considerada 

“Sociedade  da  Informação”  quando  o  número  de  trabalhadores  com  ocupações 

relacionadas à produção e à manipulação de  informação e com  ligações  ligadas à sua 

infra‐estruturas tecnológica, for superior ao número de trabalhadores ligados à secção 

produtiva.  

Na  definição  espacial,  evidencia  a  importância  das  redes  que  permitem 

estabelecer  comunicação  em  tempo  real,  lugares  geograficamente  distantes, 

Cultura(s), Cidadania e Desenvolvimento  

 

 Página15�

concluindo que com a redução virtual da distancia espacial, a economia torna‐se cada 

vez mais mundial. 

Por fim, analisando a definição cultural que é a mais referida sendo ainda a de 

mais  difícil  compreensão.  Parte  da  verificação  de  que  em  nenhum  outro  tempo  da 

Historia  houve  tanta  informação  a  circular  como  na  atualidade,  isto  deve‐se  à 

diversificação dos media que  tornaram mas  alcançável  todo o  tipo de  informação  à 

maioria dos cidadãos.  

Webster conclui que ainda há dificuldades na afirmação de qualquer uma das 

definições e que há também questões por resolver e que uma das mais evidentes é: 

“se mais  informação  resulta  em  pessoas mais  informadas”  (Webster  apud Macedo: 

2005: 75). 

No entanto, existe outros pensadores que expõem também sobre a “Sociedade 

da Informação”, tais como: Daniel Bell e Manuel Castells,  

Segundo a autora, Bell afirma que a “sociedade pós‐industrial” impulsiona mais 

os cidadãos pela educação e conhecimento do que pela origem e riqueza e que só com 

este modelo de organização  social é permitido  aniquilar o problema da  carência de 

bens  materiais,  todavia,  aparecerá  outro  tipo  de  escassez  que  é  a  de  falta  da 

informação e de tempo.  

Segundo  Lurdes Macedo,  Castells  defende  a  centralidade  da  informação  na 

sociedade contemporânea, que se  rege pelos seguintes princípios: 1‐ a  informação é 

trabalhada como matéria‐prima; 2‐ a veloz expansão das TIC, dos seus efeitos e da sua 

aplicação  em  todos  os  campos  da  experiência  humana,  só  é  possível  porque  o  seu 

custo é cada vez menor e os seus desempenhos são cada vez melhores; 3‐ o princípio 

da  lógica de  rede em  todos os sistemas, devido ao  recurso das TIC; 4‐ a elasticidade 

para a  reconfiguração do próprio padrão,  já que este caracteriza uma  sociedade em 

constante mudança; 5‐ convergência de  tecnologias  independentes para um  sistema 

bastante totalizado. 

Podemos  concluir,  então,  que  um  Estado  que  não  acompanhe  o  contínuo 

desenvolvimento tecnológico, tornar‐se‐á, rapidamente, num Estado fraco (2005: 77), 

que poucos serão assimilados na “Sociedade da  Informação” e que muitos  irão  fazer 

parte do “exército dos excluídos” (Castells apud Macedo: 2005: 77). 

Cultura(s), Cidadania e Desenvolvimento  

 

 Página16�

Casttels ao passar recentemente pelo nosso país chamou à tenção para um que 

é  cada  vez mais  diferenciado  pelo  acesso  a  um  conhecimento  partilhado  e  frisou 

também  que  o  essencial  para  o  desenvolvimento  “  são  o  trabalho  flexível  e  as 

universidades”.  

Também merece a nossa atenção a preocupação de alguns pensadores sobre a 

problemática da previsão de uma nova ordem social regida em torno de mecanismos  

de inclusão e exclusão. 

Como  por  exemplo,  Philippe Quéau,  responsável  pela  área  da  sociedade  da 

informação  da UNESCO, diz que  apesar da  vasta  informação disponível na  Internet, 

poucos  são os conteúdos uteis para os países em desenvolvimento, especificamente 

conteúdos locais.  

 

Para  o  desenvolvimento  de  uma  “sociedade  da  informação”:  desafios  e 

perspetivas 

 

Para  que  uma  sociedade  se  torne  mais  democrática  e  igualitária  tem  de 

ultrapassar um conjunto de desafios. 

O  primeiro  desafio  é  do  combate  à  “info‐exclusão”  divulgada  por  Castells 

“como  uma  nova  forma  de  agudização  da  exclusão  das  franjas  das  sociedades 

desenvolvidas,  bem  como  do  colectivo  das  sociedades menos  avançadas”  (Castells 

apud Macedo: 2005: 78).   Assim  é  possível  dizer  que  o mundo  está  divido  entre 

“info‐ricos”  e  os  “info‐pobres”.  Desta  maneira  conclui‐se  que  o  combate  à  “info‐

exclusão” não passa só pela questão económica mas também pela questão educativa e 

cultural. 

O segundo desafio é o da alfabetização “informacional”, visto que as pessoas 

informadas não correspondem, obrigatoriamente, às bem formadas.  

Tanto Casttels como Bell salientam a forte aposta na educação e da formação 

dos  cidadãos  para  o  aperfeiçoamento  de  uma  “Sociedade  da  Informação” 

meritocrática. 

Cultura(s), Cidadania e Desenvolvimento  

 

 Página17�

Neste  sentido,  o  desafio  da  alfabetização  abrange  dois  domínios  de 

competência: a literacia tecnológica e a literacia para a interpretação, processamento 

e produção de informação. 

O terceiro desafio está muito relacionado com o segundo, pois é o desafio da 

profissionalização  para  a  “sociedade  da  informação”,  este  tem  como  objectivo  a 

qualificação de profissionais nas diferentes áreas de trabalho.  

Mas muitos mais desafios foram analisados mas terão sido eliminados, pois foi 

intenção identificar apenas os desafios a vencer para a edificação de uma ““Sociedade 

da Informação” democrática, justa e igualitária, tal como alguns autores a profetizam” 

(Casttels apud Macedo: 2005: 79). 

 

Que percurso para Portugal em direcção à “Sociedade da Infomação”? 

Das políticas europeias às políticas nacionais.  

 

Convém  reflectir  a  posição  geográfica  de  Portugal,  país  vulgarmente 

caracterizado  com  “semi‐periférico”  e  “desfavorecido”,  face  aos  desafios  colocados 

pela “Sociedade da Informação”.  

Segundo  a  autora,  Cádima  faz  uma  detalhada  análise  das  características  de 

Portugal no contexto da sua integração na União Europeia (EU). 

Nesta sua análise detalhada, realizada nos meados dos anos 90, Cádima conclui 

que: 1‐ diversos estudos revelam que a grande maioria da população portuguesa entre 

os  15  e  os  64  anos  apresenta  baixos  níveis  de  literacia  funcional;  2‐  o  nosso  país 

apresenta,  a  par  com  a Grécia,  a mais  baixa percentagem  de  investimento  em  I&D 

(investigação e desenvolvimento); 3‐ os níveis de consumo em Portugal estão também, 

claramente, na cauda da Europa, nomeadamente os níveis de consumo no plano da 

cultura, da educação e do lazer; 4‐ Portugal regista os mais elevados custos da UE nos 

domínios  das  tarifas  telefónicas  e  do  consumo  de  energia.  (Cádima  apud Macedo: 

2005: 80) 

Devido  a  estas  circunstâncias,  seria  de  antever  que  um  conjunto  de 

condicionantes  que  ditariam  o  atraso  estrutural  do  nosso  país  no  que  se  refere  à 

implementação das TIC na mudança para uma “Sociedade da Informação”. 

Cultura(s), Cidadania e Desenvolvimento  

 

 Página18�

Na  sua  análise,  Cádima  mostra‐nos  também  alguns  indicadores  de  origem 

quantitativa que revelam precisamente o oposto: 1‐ no final dos anos 80, Portugal é o 

segundo país da UE com a mais alta taxa de penetração e recepção de TV por satélite; 

2‐ em 1996, a TV Cabo apresenta um crescimento 20% acima do previsto; 3‐ no mesmo 

ano,  Portugal  tem  um  parque  de  seiscentos  mil  computadores,  prevendo‐se  um 

crescimento de 300% (até ao ano 2000; 4‐ ainda em 1996, a subscrição de serviços de 

ligação à  Internet crescia a um ritmo muito superior ao previsto pelos operadores; 5‐ 

em 1998, a taxa de penetração dos serviços de telecomunicações móveis em Portugal 

andava na ordem dos 19 telemóveis por cada 100 habitantes, taxa esta superior à da 

grande maioria dos países desenvolvidos da EU (Cádima apud Macedo: 2005: 80). 

Segundo  Lurdes Macedo,  Cádima  ainda  questiona  se  os  nossos Governantes 

têm promovido o desenvolvimento da “Sociedade da Informação” de maneira a evitar 

a marginalidade  que  nos  caracteriza  e  ainda quais  as medidas  criadas  em  Portugal, 

para responder aos desafios da “Sociedade da Informação”. 

Em 1996, nasceu a Missão Sociedade da  Informação,  criada pelo Ministro da 

Ciência e da Tecnologia, cujo principal objectivo foi a elaboração do “Livro Verde para 

a Sociedade da Informação”, este reconhece o papel fundamental do Estado em todo 

o  processo.  Desta  maneira,  “escrutina  os  sectores  considerados  hábeis  para  o 

desenvolvimento  da  sociedade  da  informação  e  propõe  medidas  consistentes  de 

operação  para  estes  sectores  que  passam  por:  1‐  garantia  de  democraticidade  no 

acesso à sociedade da  informação; 2‐ abertura do Estado à  implementação de  redes 

digitais  para  maior  transparência  e  facilidade  na  prestação  de  serviços;  3‐ 

disponibilização do conhecimento e do saber nas redes globais; 4‐  implementação de 

todas as escolas ao acessos à  Internet; 5‐ envolvimento das empresas na “Sociedade 

da  informação”,  para  o  aumento  da  competitividade  da  economia  nacional;  6‐ 

preparação  para  as  mudanças  na  estrutura  do  emprego;  7‐  modernização  de  um 

mercado  interno  de  conteúdos  e  de  serviços  de  informação;  8‐  reforço  da  rede 

científica  nacional  para  potenciar  a  investigação  e  desenvolvimento  (I&D);  9‐ 

investimento  numa  infra‐estrutura  nacional  de  informação  (Cádima  apud Macedo: 

2005:82). 

Cultura(s), Cidadania e Desenvolvimento  

 

 Página19�

Desta maneira, na Cimeira de Lisboa, foi aprovado pela EU o tão sonhado Plano 

de Acção “e‐Europe 2002: Uma Sociedade da  Informação para Todos” que tem como 

propósito final, tornar a Europa na “economia mais competitiva do mundo, baseada na 

inovação  e  no  conhecimento,  capaz  de  garantir  um  crescimento  económico 

sustentável,  com mais  e melhores  empregos,  e  com maior  coesão  social”  (Macedo: 

2005:82).  

Neste  contexto,  foi  criado  em  Portugal  um  programa  exclusivo  para  o 

desenvolvimento do sector: o Programa Operacional Sociedade da Informação (POSI). 

Foi prevista a sua utilização para um ciclo de seis anos (2000‐2006). 

Segundo a autora, cabe‐nos agora  julgar este programa,  se está a cumprir as 

finalidades para que foi criado, bem como se está a responder aos desafios que uma 

“sociedade da  informação” democrática,  justa e  igualitária coloca a Portugal, um país 

desfavorecido na UE. 

 

Contributo  do  programa  operacional  sociedade  da  informação  para  o 

desenvolvimento “informacional” da sociedade portuguesa.  

 

A autora diz que analisando o texto do POSI na integra deparamo‐nos com uma 

complexa rede de objectivos, mas para leitura e analise POSI, este foi categorizado em 

cinco  grupos  respectivos  a  cinco  diferentes  campos  de  intervenção  para  o 

desenvolvimento  da  “Sociedade  da  Informação”.  Sendo  assim,  temos  a  seguinte 

divisão: 1º– Democratização dos acessos (objectivos 1, 2, 3, 4, 5 e 13); 2º– Colocação 

de  conteúdos  portugueses  na  Internet  (objectivo  6);  3º–  Desenvolvimento  de 

competências  (objectivos  7  e  8);  4º–  Modernização  da  Administração  Pública 

(objectivos 9, 10, 11 e 12); 5º– Promoção de actividades de  I&D  (objectivos 14 e 15) 

(Macedo: 2005:84). 

Diz‐nos  também, Que o POSI  se estrutura em  três  “Eixos Prioritários” que  se 

dividem em uma ou mais medidas individualizadas. 

Desenvolver  Competências  é  o  Eixo  Prioritário  1,  este  tem  como  propósitos: 

enriquecer todos os cidadãos com qualificações básicas em TIC, garantir qualidade de 

vida melhor,  garantir  a  ampliação  da  competitividade  das  empresas  e  aumentar  a 

Cultura(s), Cidadania e Desenvolvimento  

 

 Página20�

qualidade da Administração Pública.  (2005‐85) Ainda neste  sector  são definidas  três 

medidas: 1.1‐ “Competências básicas”, 1.2‐ “Formação Avançada”, 1.3‐ “Investigação e 

Desenvolvimento” (Macedo: 2005: 85). 

O Eixo Prioritário 2 é  “Portugal Digital” que apresenta ambiciosos objectivos, 

tais  como:  a  melhoria  da  qualidade  de  vida  dos  cidadãos;  o  acréscimo  da 

competitividade do tecido empresarial português através da sua inclusão na economia 

global.  Este  sector  divide‐se  em:  2.1‐  “Acessibilidades”,  2.2‐  “Conteúdos”,  2.3‐ 

“Projectos Integrados: Das Cidades Digitais ao Portugal Digital” (Macedo: 2005: 86). 

O  último  Eixo  Prioritário,  denomina‐se  de  “Estado  Aberto  –  Modernizar  a 

Administração Pública”. Neste  texto os objectivos não estão enunciados claramente, 

contudo podemos extrair deste texto a intenção de utilizar as novas TIC no sistema de 

modernização administrativa,  tanto dos procedimentos,  como dos  comportamentos, 

de maneira a flexibilizar o acesso à Administração Pública por parte dos utilizadores e 

obter ganhos da eficácia, através, da racionalização do seu exercício interno (2005: 87). 

As dificuldades sentidas na implementação do POSI não são as únicas causas da 

sua execução tardia, mas também a pesada máquina burocrática instituída à sua volta, 

o  atraso  na  aceitação  de  projectos  submetidos  à  candidatura  e  os  atrasos  do 

pagamento dos financiamentos aprovados, estes devessem à política de contenção do 

Orçamento de Estado. 

Também, a dimensão de profissionais ligados às novas TIC é bastante reduzida, 

é de 0,7%, ficando muito aquém da média europeia, que é de 1,4%.  

A  taxa  de  subscrição  de  usos  de  ligação  à  Internet  é  ainda  inferior  ao  das 

médias Europeia e da OCDE apesar dos lares portugueses possuírem computador com 

ligação  à  Internet,  entretanto  75%  das  empresas  portuguesas  com  dez  ou  mais 

trabalhadores  possuem  ligação  à  Internet  (Macedo:  2005:  89),  havendo  uma  forte 

tendência para este valor aumentar. 

 

Conclusão  

 

Cultura(s), Cidadania e Desenvolvimento  

 

 Página21�

Podemos  então  concluir  que  o  conceito  de  “Sociedade  da  Informação”  em 

Portugal  parece  depender mais  do  investimento  nos  cidadãos  que  nas  tecnologias, 

pois os desafios que a autora identifica no texto levam nos a tirar essa conclusão. 

 

 

 

5. Avaliação da Página da Internet  

Para a avaliação da página da internet escolhi o site da Universidad Autónoma 

del  Estado  de México,  Sistema  de  Información  Científica  Redalyc.  A minha  escolha 

deveu‐se sobretudo ao facto de o ter utilizado como referência no meu trabalho uma 

vez que contém informação bastante importante e pertinente sobre o meu tema. 

Este site  fornece‐nos  informações acerca de variadíssimos temas, em  formato 

de  teses,  de  revistas  científicas,  de  artigos  científicos,  de  dossiers,  actas  de 

conferências  e  reuniões,  estudos,  relatórios,  etc.  Esta  página  aparece  dividida  em 

secções, o que facilita imenso a procura por parte do utilizador. 

O site em avaliação pode ser consultado em quatro  línguas: português,  inglês, 

alemão  e  espanhol.  O  que  penso  ser  uma  mais  valia,  pois  o  inglês  é  uma  língua 

universal que muitos países utilizam como segunda  língua para contactar com outros 

países que não conheçam a sua língua materna.   

Relativamente  ao  meu  tema,  este  site  é  bastante  amplo,  pois  faz  uma 

abordagem do tema a várias dimensões.  

Posso afirmar, pelo que  li, que este  site apresenta uma  tratamento bastante 

profundo do tema que tratei no meu trabalho mas também de outros temas, como já 

referi. 

No que diz  respeito á  fiabilidade, parece ser uma página bastante  fiável, pois 

tem  autor  institucional,  Universidad  Autónoma  del  Estado  de México,  Sistema  de 

Información Científica Redalyc. É uma página esteticamente apelativa que aposta nos 

vermelhos, no branco  e no  cinzento  cromado  e é um  site que não  implica nenhum 

Cultura(s), Cidadania e Desenvolvimento  

 

 Página22�

custo  monetário  e  que  não  necessita  que  o  utilizador  adquira  qualquer  tipo  de 

software específico para ter acesso a ele. 

Esta página disponibiliza instrumentos de pesquisa e de navegação com motor 

de pesquisa  interna, dividido em  seis  secções: Artigos, Autores, Revistas, Disciplinas, 

Instituições, Países.  

Esta página não contem publicidade e dispõe de dois serviços tecnológicos, são 

estes a aplicação Android, e a aplicação Iphone/Ipad.  

Esta página está disponível no endereço:  

<http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=143018637004> 

Concluindo, este site para além de estar bastante bem organizado e ser de fácil 

acesso,  contem  informação  de  bastante  interesse,  tendo‐me  ajudado  a  perceber 

alguns pontos na realização deste trabalho.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Cultura(s), Cidadania e Desenvolvimento  

 

 Página23�

 

 

 

 

 

 

6. Conclusão  

A  realização  deste  trabalho  permitiu‐me  adquirir  novos  e  importantíssimos 

conhecimentos  acerca  da  cultura,  da  cidadania,  do  desenvolvimento  das mesmas  e 

principalmente da forte influência destas na sociedade.  

Muitas vezes pensamos que a cultura e a cidadania não estão interligadas e que 

não são  importantes na sociedade, o que é mentira, pois o ser humano é um animal 

dotado  de  capacidades  próprias  que  o  distingue  dos  outros  animais.  A  essas 

capacidades podemos‐lhe chamar de cidadania e por sua vez, também cultura.  

Uma  outra  conclusão  que  pude  retirar  da  realização  deste  trabalho  foi  a 

importância da  influência da cultura na vida dos Homens, pois estes podem  ter uma 

qualidade de vida melhor se viverem de forma mais presente a cultura. 

Por  outro  lado,  também  podemos  observar  na  realização  deste  trabalho  a 

necessidade de desenvolvimento da  cultura e da  cidadania, pois estas  ficam aquém 

das necessidades dos Homens. Esta escassez não é só culpa das classes governadoras 

mas também, como referido acima, dos cidadãos que rejeitam muitas vezes a evolução 

e o modernismo evocando a tradição e a memoria colectiva.  

 

 

 

 

 

 

 

Cultura(s), Cidadania e Desenvolvimento  

 

 Página24�

 

 

 

 

 

 

 

 

7. Referências Bibliográficas  

• Cuche,  Denys  (1999),  “Hierarquias    socias  e  hierarquias  culturais”,  in  Denys 

Cuche, A noção de cultura nas ciências sociais. Lisboa: Fim de Século Edição, pp. 

103‐121. 

• D’Urso, Luiz Flávio Borges (2005), “A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA “. Acedido em 

27 de Novembro de 2013, disponível em:  

<http://www.oabsp.org.br/palavra_presidente/2005/88/>. 

• Geertz, Clifford (1989), A interpelação das culturas. Rio de Janeiro: LTC  

• Laraia, Roque Barros (1986), Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: 

Zahar 

• Linton,  Ralph  (1976),  O  Homem:  uma  introdução  à  antropologia.  São  Paulo: 

Martins Fontes 

• Macedo, Lurdes (2005), “Políticas para a sociedade da informação em Portugal”: 

da concepção à implementação. Comunicação & Sociedade, 7, 67‐89. 

• MARSHALL, Thomas Humphrey  (1967), Cidadania, classe  social e  status. Rio de 

Janeiro: Zahar. 

• Miller, Toby (2011), “Cidadania cultural”, MATRIZes, 2 (4), 57‐74. 

• Ortiz, Renato (2007), “Cultura e Desenvolvimento”. Acedido em 28 de Novembro 

de 2013, disponível em:  

< http://www.redculturalmercosur.org/docs/Ortiz_port.pdf>. 

Cultura(s), Cidadania e Desenvolvimento  

 

 Página25�

• Universidad Autónoma del Estado de México, Sistema de  Información Científica 

Redalyc, (2013). Red de Revistas Científicas de América Latina y el Caribe, España 

y Portugal. Acedido em 24 de Novembro de 2013, disponível em: 

<http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=143018637004>. 

 

 

 

Cultura(s), Cidadania e Desenvolvimento  

 

 

Anexo A 

Página da Internet Avaliada 

 

 

                          

Cultura(s), Cidadania e Desenvolvimento  

 

 

 

Anexo B 

Texto de suporte à Ficha de Leitura 

 

Macedo,  Lurdes  (2005),  “Políticas  para  a  sociedade  da  informação  em Portugal”: da concepção à implementação. Comunicação & Sociedade, 7, 67‐89.