cultura de paz - caderno

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    Caderno da Cultura de Paz

    A Paz o CaminhoUma Rede da Cultura de Paz

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    Caderno da Cultura de Paz

    Acolhendo

    Esta apostila surgiu da necessidade de oferecer subsdios s reflexes e atividades desenvolvidas com o

    Juru - Ncleo de Sustentao da Bandeira da Paz no Parque da gua Branca e parte do programa de

    ao cultural que a Abaa Cultura e Arte ali mantm.

    So jovens e adolescentes que esto se iniciando no exerccio da Cultura de Paz, e que, com seus

    exemplos, vm se transformando em multiplicadores de uma nova forma de convivncia entre os seres

    humanos.Visa tambm dar uma contribuio, modesta e apoiada numa abordagem transdisciplinar e complexa,

    para a construo deste conceito ainda um tanto voltil, inspirando-se nas experincias e

    contribuies de tantos que, preocupados com o assunto, e por acreditarem que algo precisa, pode e

    deve ser feito, dedicaram e dedicam presentemente partes preciosas de suas vidas e de suas energias

    para ajudar na construo de um mundo mais solidrio, mais justo, melhor, apoiado, essencialmente, no

    reconhecimento do outro como um outro, no respeito mtuo em harmonia com o meio que nos

    possibilita. Convivncia respeitosa fundada no amor incondicional.

    Que possa ento, alm de ser til aos meus jurus e abaas, somar-se a tantas iniciativas que tenhamcomo foco a Cultura de Paz.

    Toninho Macedo

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    Caderno da Cultura de Paz

    Emerson Pantaleo Caparelli

    [email protected] / [email protected]

    55 + (11) 9-8983-5461

    Abaa Cultura e Arte 55 + (11) 3312-2907

    ndice

    1 Conceito

    Rede A Paz o Caminho........................................................................................................................4

    Bandeira da Paz........................................................................................................................................6

    Guardies da Bandeira.............................................................................................................................8

    Manifesto 2000........................................................................................................................................10

    Ncleos de Sustentao...........................................................................................................................11

    2 Aplicao

    8 passos para a Aplicao da Cultura de Paz no Municpio......................................................................14

    E a Paz como se faz?.................................................................................................................................15

    Declarao sobre uma Cultura de Paz Unesco-Associao Palas Athena.............................................17

    Programa de Ao....................................................................................................................................20

    Paz na Terra pelos homens de boa vontade............................................................................................25

    tica Planetria........................................................................................................................................26

    Educao e Cultura da Paz.......................................................................................................................28

    3 Movimentos

    gua: vida ou mercadoria? Leonardo Boff............................................................................................36

    O Manifesto de Sevilha sobre a Violncia................................................................................................38

    Deus maior que nossos coraes..........................................................................................................41

    Manifesto do Crculo de Cooperao Inter Religioso de So Paulo.........................................................46

    4 Reflexes

    Atleta de ouro Homem de Paz...............................................................................................................47Buto Felicidade Nacional Bruta............................................................................................................49

    Oraes, Poemas, Contos e Histrias.......................................................................................................51

    5 Fale Conosco

    Abaa........................................................................................................................................................62

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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    Caderno da Cultura de Paz

    1 - Conceito

    A Paz o caminhoRede da Bandeira da Paz

    (A paz est em nossas mos!)

    A Paz pede parceiros!

    Ns devemos ser a mudana que desejamos ver no mundo.

    Mahatma Gandhi

    A Rede

    Conceito

    A Paz o Caminho Rede da Bandeira da Paz atua sob o conceito de rede. As caractersticas de rede

    so: quantidade, disperso geogrfica e interligao. uma forma de organizao caracterizada

    fundamentalmente pela sua horizontalidade, isto , pelo modo de inter-relacionar os elementos semhierarquia. Tendo como outras caractersticas: o poder criador de ordens novas e seu carter libertador;

    sua natureza democrtica, aberta e emancipatria; e como grande qualidade vibrante produtora de

    uma multiplicidade de aes e opes prprias da conectividade.

    O conceito de rede transformou-se, nas ltimas duas dcadas, em uma alternativa prtica de

    organizao, possibilitando processos capazes de responder s demandas de flexibilidade, conectividade

    e descentralizao das esferas contemporneas de atuao e articulao social.

    A sociedade civil se organiza em redes para a troca de informaes, a articulao institucional e polticae para a implementao de projetos comuns.

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    Caderno da Cultura de Paz

    Redes so sistemas organizacionais capazes de reunir indivduos e instituies, de forma democrtica e

    participativa, em torno de objetivos e/ou temticas comuns.

    Estruturas flexveis e cadenciadas, as redes se estabelecem por relaes horizontais, interconexas e em

    dinmicas que supem o trabalho colaborativo e participativo. As redes se sustentam pela vontade e

    afinidade de seus integrantes, caracterizando-se como um significativo recurso organizacional, tantopara as relaes pessoais quanto para a estruturao social.

    Caractersticas

    Os compromissos de funcionamento da Cultura de Paz so gerenciados como uma grande rede de

    relacionamento entre os ns da rede. H alguns parmetros que norteiam a interao e devem ser

    considerados por quem queira trabalhar colaborativamente; uma espcie de cdigo de conduta para a

    atuao em rede:

    Pactos e Padres de Rede: A comunicao e a interatividade se desenvolvem a partir dos pactos e dospadres estabelecidos em comunidade. Uma rede uma comunidade e, como tal, pressupe

    identidades e padres a serem acordados pelo coletivo responsvel. a prpria rede que vai gerar os

    padres a partir dos quais os envolvidos devero conviver. a histria da comunidade e seus contratos

    sociais.

    Valores e objetivos compartilhados: O que une os diferentes membros de uma rede o conjunto de

    valores e objetivos que eles estabelecem como comuns, interconectando aes e projetos.

    Participao: A participao dos integrantes de uma rede que a faz funcionar. Uma rede s existequando em movimento. Sem participao, deixa de existir. Ningum obrigado a entrar ou permanecer

    numa rede. O alicerce da rede a vontade de seus integrantes.

    Colaborao: a colaborao entre os integrantes deve ser uma premissa do trabalho. A participao

    deve ser colaborativa!

    Multiliderana e horizontalidade: Uma rede no possui hierarquia nem chefe. A liderana provm de

    muitas fontes. As decises tambm so compartilhadas.

    Conectividade: Uma rede uma costura dinmica de muitos pontos. S quando esto ligados uns aos

    outros e interagindo que indivduos e organizaes mantm uma rede.

    Realimentao e Informao: Numa rede, a informao circula livremente, emitida de pontos diversos,

    sendo encaminhada de maneira no linear a uma infinidade de outros pontos, que tambm so

    emissores de informao. O importante nesses fluxos a realimentao do sistema: retorno, feedback,

    considerao e legitimidade das fontes so essenciais para a participao colaborativa e at mesmo

    para avaliao de resultados e pesquisas.

    Descentralizao e Capilarizao: Uma rede no tem centro. Ou melhor, cada ponto da rede umcentro em potencial. Uma rede pode se desdobrar em mltiplos nveis ou segmentos autnomos -

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    Caderno da Cultura de Paz

    "filhotes" da rede -, sendo capazes de operar independentemente do restante da rede, de forma

    temporria ou permanente, conforme a demanda ou a circunstncia. As micro-redes tm o mesmo

    "valor de rede" que a estrutura maior qual se vinculam.

    Dinamismo: Uma rede uma estrutura plstica, dinmica, cujo movimento ultrapassa fronteiras fsicas

    ou geogrficas. As redes so multifacetadas. Cada retrato da rede, tirado em momentos diferentes,revelar uma face nova.

    Bandeira da Paz

    O movimento da Bandeira da Paz, no Parque da gua Branca, nasceu no aniversrio da Cidade de So

    Paulo, 25 de Janeiro de 2000, durante a realizao, pelo segundo ano consecutivo, do movimento Upa,

    So Paulo! De sua gestao, fazem parte os vrios encontros mantidos, no final de 1999, com

    segmentos comprometidos com os ideais de inter-religiosidade ,que tiveram incio na Casa da

    Reconciliao e desaguaram na Associao Palas Athena e no estreitamento de relaes com a URI.

    O momento mostrou que era possvel, como prev o lema da URI, e a Abaa Cultura e Arte fez o

    chamamento. Em parceria com a Associao Palas Atena, a URI e com a cumplicidade na vspera, foi

    organizada uma Viglia Cvico, Ecumnica e Cultural pela Paz, com atividades programadas para a noite

    at madrugada (apresentaes artsticas, alternadas com reflexes, exibies de vdeos, atividades

    integrativas, descansos), seguido, ao amanhecer do dia 25, de alvorada e o plantio da 1 Bandeira de

    Paz permanentemente desfraldada, e um grande abrao simblico em So Paulo.

    O movimento da Bandeira da Paz encampou os ideais do Movimento Upa, So Paulo!, seu antecedente,

    visando envolver o maior nmero possvel de segmentos da sociedade, organizaes sociais e setorespblicos em um grande caudal, otimizando-se as aes isoladas afim de que, em seu conjunto:

    Alimentem uma mobilizao permanente pela vida; Estimulem o exerccio quotidiano da cidadania; Propiciem, no dia a dia, o incentivo dos valores de solidariedade, companheirismo e

    tolerncia, humanizando-se, assim, pouco a pouco, nossa cidade;

    Contribuam para colocar em evidncia as vrias aes de cidadania que permeiam odia a dia do paulistano, em especial aquelas da sociedade civil organizada que resultam emaes consolidadas, propiciando o fortalecimento e a difuso das mesmas;

    Sirvam de estmulo a que, paralelamente ao reconhecimento dos problemas denossa cidade, cada cidado se disponha a fazer a sua parte, ainda que modesta (a exemplo

    daquele passarinho da fbula que, cumprindo sua parte, buscava apagar o incndio na

    floresta em que morava, mergulhando no riacho e aspergindo o fogo com a gua que retinha

    em suas asas), o despertar do cidado e o exerccio da cidadania em seu sentido essencial;

    Incentivem a que se descubram e sejam colocados em evidncia valores prprios denossa cidade. So Paulo no tem praias, no tem morros. Mas sem dvida a 3. maior cidadedo mundo deve ter seus encantos. Que sejam estimuladas outras leituras que possibilitem a

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    Caderno da Cultura de Paz

    identificao de pontos mais positivos da mesma contribuindo-se para demolir a peja de

    cidade mais cinza do Brasil;

    Contribuam para aumentar a auto estima dos cidados paulistanos e o apreo dosmesmos para com sua cidade. (S se ama aquilo que se conhece);

    Estimulem, por vrias estratgias, que cada cidado e o maior nmero possvel deorganizaes sociais, adotem e se apropriem do Movimento Upa, So Paulo!, materializando-

    o em aes e atitudes que se multipliquem no dia a dia.

    A Bandeira da Paz permanentemente desfraldada no Parque da gua Branca, foi a primeira plantada no

    Brasil, passando a ser o epicentro do movimento da Bandeira da Paz, visando envolver o maior nmero

    possvel de segmentos da sociedade, com a cumplicidade de artistas, representantes de segmentos da

    sociedade organizada, os cidados comuns e setores pblicos em um grande caudal, buscando-se

    otimizar as aes isoladas .

    Para ser plantada preciso que no local pretendido haja um ncleo de sustentao integrado porpessoas de qualquer faixa etria (Que passaro a ser chamados de guardies), que devero

    diuturnamente estar mobilizados, articulados, atravs do estudo e da promoo de atividades que

    ajudem, na sua continuidade programtica, a construir a paz.

    Guardies da Bandeira da Paz

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    Caderno da Cultura de Paz

    A Bandeira da Paz tem como Guardies:

    Abaa Cultura e Arte Juru (Um programa de Ao Cultural) Ablirc - Associao Brasileira de Liberdade Religiosa e Cidadania Associao Caboverdeana do Brasil Associao Cultural Folclrica Bolvia Brasil Associao Gastronmica Cultural Folclrica Boliviana Padre Bento Associao Palas Athena Programa A Paz pede parceiros Associao Umbandista e Espiritualista do Estado de So Paulo Blog Zona Norte Budismo Tibetano Casa das Minas Thoya Jarina Casa Shiva Comit Paulista para a Dcada de Cultura de Paz - Um programa da UNESCO Colgio Tradio de Magia Divina Colgio Magno de Umbanda Comunidade Bahai Comunidade Cigana Comunidade Evanglica Makadesh Comunidade Filhos do Cacique Congregao Suzano Mandir Conselho de Participao e Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado de So

    Paulo/Comisso Afro Entidade Espiritualista Unisoes Federao Para a Paz Universal Folclore e Etnografia Regio Autnoma da Madeira- Casa Ilha da Madeira de So Paulo Fundao Cultural Cassiano Ricardo Grupo Umbandista Cristo Yonuaru Igreja Adventista de 7 dia Igreja Catlica Liberal Igreja Presbiteriana Independente Informativo Tambor Instituto Nokhooja Intecab - Instituto Nacional da Tradio e Cultura Afro-Brasileira Irmandade de So Benedito de Lauzane Paulista Irmandade do Divino da Freguesia do Irmandade do Rosrio dos Homens Pretos Iskcon Sociedade Internacional para a Conscincia de Krishna Legio da Boa Vontade Missionrios Xaverianos Mosteiro de So Bento de So Paulo

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    Caderno da Cultura de Paz

    Ordem Sufi Halveti Al Jerrahi (Islmicos) Organizao Brahma Kumaris Souesp - Superior rgo de Umbanda do Estado de So Paulo Ramakrishna Vedanta Recanto Quiguiri Reinado de Congo Revista Dilogo / Paulinas Revista Sem Fronteiras Subprefeitura de Vila Maria/Vila Guilherme Tradies Indgenas Etnia Fulni-, Pankarar, Patax, Tupi-Guarani e Wassu Cocal Unio de Tendas de Umbanda e Candombl do Brasil URI - Iniciativa das Religies Unidas Xamanismo

    Zen Budismo

    O movimento da Bandeira da Paz, no Parque da gua Branca, teve incio no aniversrio da Cidade

    de So Paulo, 25 de Janeiro de 1998, quando a Abaa Cultura e Arte lanou, em parceria com a

    cumplicidade de vrios artistas e representantes de segmentos religiosos, o movimento Upa, So

    Paulo! O Movimento Upa, So Paulo! Uma mobilizao permanente pela Vida, que visa

    envolver o maior nmero possvel de segmentos da sociedade, organizaes sociais e setores

    pblicos em um grande caudal, otimizando-se as aes isoladas.

    A partir da ao inicial no Parque da gua Branca, e renovada durante Cerimnia na zona norte,na Festa de So Joo, no Aiu de Vila Maria/Vila Guilherme, outras esto, e estaro sempre,

    desdobrando- se/multiplicando-se em rede, inicialmente na Cidade de So Paulo, dando origem a

    outros ncleos difusores com outros guardies. Mas, a ideia, realmente que seja uma teia

    integrada de aes que marquem e identifiquem o real valor da Cultura de Paz. Para esta rede ir

    se expandindo cada vez mais, a fim de reverberar a nvel planetrio. Pois, adaptando a sbia frase

    de So Paulo: O que nos une muito mais forte do que o que tenta nos separar.

    A Cooperao para que a Beleza se manifeste algo anmico de cada ser. Basta despert-lo.

    Metas e propostasPara uma dcada de Paz - Mobilizao permanente pela vida - a paz est em nossas mos!

    Algumas prticas a serem estimuladas: Plantio da bandeira da paz, em carter permanente, ao lado das bandeiras do Brasil e de So Paulo,

    nos mastaris de cada escola e de outras organizaes e instituies; Buscar promover atividades informativas e de conscientizao (encontros, palestras, ginkanas, bate

    papos, campeonatos, ...) que levem as pessoas a se organizar, interagir, aprimorando-se no exerccioda cidadania;

    Estimular cada escola a realizar nos bairros, com as comunidades, durante a Semana da Ptria,desfiles cvicos de cidadania, levando para as ruas o branco da paz de permeio com o verde/amarelo;

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    Caderno da Cultura de Paz

    Manifesto 2000

    O Manifesto 2000 por uma Cultura de Paz e No-Violncia foi esboado por um grupo de laureados do

    prmio Nobel da Paz. Milhes de pessoas em todo o mundo assinaram esse manifesto e se

    comprometeram a cumprir os seis pontos descritos abaixo, agindo no esprito da Cultura de Paz a nvelindividual, familiar, social e planetrio. Tornaram-se, assim, mensageiros da tolerncia, da solidariedade

    e do dilogo. A Assembleia Geral das Naes Unidas declarou o perodo de 2001 a 2010 a Dcada

    Internacional da Cultura de Paz e No-Violncia para as Crianas do Mundo. E, embora estejamos j na

    2 dcada do sculo XXI (2011-2020), esses princpios so vitais para toda a vida.

    Os 6 princpios do Manifesto:

    1. Respeitar a vida. Respeitar a vida e a dignidade de cada ser humano sem discriminao nempreconceito.

    2. Rejeitar a violncia. Praticar a no violncia ativa, rejeitando violncia em todas as suas formas:fsica, sexual, psicolgica, econmica e social, em particular contra os mais vulnerveis, tais como as

    crianas e os adolescentes.

    3. Ser generoso. Compartilhar meu tempo e meus recursos materiais no cultivo da generosidade epor fim excluso, injustia e opresso poltica e econmica.

    4. Ouvir para compreender. Defender a liberdade de expresso e a diversidade cultural privilegiandosempre o dilogo sem ceder ao fanatismo, difamao e rejeio.

    5. Preservar o planeta. Promover o consumo responsvel e um modo de desenvolvimento querespeitem todas as formas de vida e preservem o equilbrio dos recursos naturais do planeta.

    6. Redescobrir a solidariedade. Contribuir para o desenvolvimento de minha comunidade, com aplena participao das mulheres e o respeito aos princpios democrticos, de modo a criarmos

    juntos novas formas de solidariedade.

    A UNESCO, como o corpo das Naes Unidas coordenador da Cultura de Paz, responsvel peladistribuio do Manifesto 2000 pelo mundo afora, e est lanando um convite a todas as organizaes,associaes e governos no sentido de Cooperao. As organizaes que estiverem integradas nadivulgao do Manifesto 2000 tambm se comprometero a participar na coleta de assinaturas. No sitehttp://www3.unesco.org/manifesto2000/pdf/bresilien.pdf, dedicado ao Manifesto 2000, a assinatura possvel para todos (escolas, universidades, associaes, governos, etc) que desejem cooperar e mostrarque o trabalho e construo feito em parceria com os ideais da Cultura de Paz.

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    Caderno da Cultura de Paz

    Ncleos de Sustentao

    1) O que so os ncleos?

    Composto por pessoas e instituies com o intuito de refletir, promover e vivenciar a Cultura de Paz,

    formando uma grande rede de intercmbio de informaes, no compartilhar de experincias econceitos referentes Cultura de Paz.

    Os Ncleos de Sustentao compe a grande rede de Cultura de Paz. Cada n integrante da rede , ao

    mesmo tempo receptor e produtor ativo de informao.

    A Cultura de Paz contempla um mundo plural e solidrio, com responsabilidade no desenvolvimento da

    comunidade humana nos aspectos econmico, cultural, espiritual, poltico e social e em harmonia com a

    natureza. Abrange responsabilidades e atitudes como: desenvolvimento humano; qualidade de vida;

    generosidade; educao perante a vida; sustentabilidade; conhecer, compreender e conviver com adiversidade cultural.

    O desenvolvimento humano, segundo Hamilton Faria (in Educao e Cultura de Paz), a conquista de

    uma vida saudvel e longa, o acesso a bens e servios que possibilitem uma existncia digna, pessoal e

    coletiva; o acesso a conhecimentos teis e a valores ticos e o reconhecimento dos direitos polticos,

    sociais, econmicos, culturais e ambientais construdos com cidadania e participao; a possibilidade de

    produzir e exprimir a criatividade e construir com diversidade um rico imaginrio; realizao de uma

    cultura do ser e no do ter. Assim, promover a Educao e Cultura para a Paz.

    2) Objetivos

    A Rede da Bandeira da Paz constitui-se em uma grande rede que se formou a partir do plantio da 1

    Bandeira da Paz em 25 de Janeiro de 2000, no Parque da gua Branca, passando a ser seu n

    referencial. A partir de ento ramificou-se por diferentes municpios do Estado de So Paulo formando

    os Ncleos de Sustentao das Bandeiras da Paz, entorno de cada bandeira plantada, originado micro-

    redes.

    Os objetivos permeiam em:

    Contribuir para construo e consolidao de uma Educao e Cultura de Paz por meio dareflexo, investigao, educao, vivncia e ao;

    Favorecer o desenvolvimento da autonomia, valorizar o dilogo e a cooperao, o que significaprevenir conflitos, promover a sade do tecido social e a convivncia positiva, pressupondo o

    mundo como multicultural e multifacetado;

    Promover o acesso a conhecimentos teis e a valores ticos e o reconhecimento dos direitospolticos, sociais, econmicos, culturais e ambientais, construdos com cidadania e participao;

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    Caderno da Cultura de Paz

    Ampliar os conhecimentos produzidos e apropriados para alm dos contornos institucionais jestabelecidos, ou seja, englobando e conscientizando a sociedade ao entorno num enfoque

    crescente.

    3) Compromissos

    Os ncleos de sustentao so os guardies da Bandeira da Paz, tendo como compromisso o zelopermanente de cultivar a Cultura de Paz a partir do plantio da bandeira. O conceito de plantio tal qual

    como os organismos vivos, deve ser cuidado, acompanhado, tratado. O cultivo da Cultura de Paz ocorre

    pela informao que o conhecimento a partir do contato, reflexo e compreenso da informao, e

    assim tomar conscincia de ns mesmos, do outro e da teia que faz o mundo.

    4) Componentes

    Uma das caractersticas para a composio dos ncleos de sustentao o hibridismo (composto por

    pessoas de diversos nveis sociais, atuaes profissionais diversificadas, distintas faixas etrias e

    diferentes segmentos religiosos). Assim, abrange e envolve diversos perfis de pessoas a atuarem nosncleos, de maneira integrada e complementar, fortalecendo a diversidade de conhecimentos e aes.

    5) Atividades

    O Plantio da Bandeira da Paz o marco inicial para as atividades do Ncleo de Sustentao da Bandeira

    da Paz. Para seu hasteamento so levados em considerao alguns princpios:

    Em espaos pblicos e em carter oficial: colocando-se de frente para o conjunto de mastros, ocentral sempre o principal e destinado Bandeira Nacional. A sua direita estar a segunda em

    importncia, seguindo-se direita desta o espao reservado para a Bandeira da Paz.

    Para seu plantio em outros espaos os guardies devero definir as bases em conformidadecom os anseios de organizao e difuso de um iderio.

    Permanentemente desfraldada, a bandeira, depois da cerimnia de plantio, s dever serdescida para substituio quando o tecido degenerar.

    A substituio da Bandeira deve acontecer a cada 4 meses aproximadamente, de acordo comseu estado de conservao.

    As atividades so baseadas na vinculao e mobilizao de redes de instituies, organizaes e pessoas

    que identificam e compartilham seus compromissos com valores da Cultura de Paz, promovendo

    encontros regulares. Estes devem ser oportunidades de reflexes a partir de leituras de textos

    conceituais e textos referentes a atividades / mobilizaes / manifestos, ou seja, prticas da sociedade

    civil e pblica ao entorno da cultura de paz; vivncias interativas entre os participantes do ncleo com

    atividades artsticas, corporais, cooperativas; palestras e com partilhar de experincias. Isto o que

    conferir o sentido ao tremular da Bandeira da Paz, dentro de cada ncleo com a sua micro-rede.

    A comunicao regular entre a grande rede mantm-se via os prticos meios de comunicao, por

    internet e telefone, promovendo o acompanhamento, compartilhar de informaes e discusses na

    promoo da educao para uma Cultura de Paz.

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    Caderno da Cultura de Paz

    Enfatizando a necessidade de espaos de conversao para promover encontros presenciais, sero

    promovidos encontros eventuais a partir da grande rede, envolvendo todos os ncleos com suas micro-

    redes, nos quais os participantes da grande rede tm oportunidade de estabelecer contatos, conversar,

    trocar idias e intercambiar experincias, se reconhecer no outro, construir sensos de identidade,

    comparar diferenas e criar vnculos afetivos. Tais encontros podem ser de tipos variados: desde

    contatos de articulao e reunies de trabalho (encontros de pequeno porte), passando por grupos deestudos, cursos e palestras a eventos de maior envergadura, como seminrios ou congressos. Encontros

    presenciais podem ter carter de trabalho, de deciso, de intercmbio tcnico, de manifestao poltica

    ou somente de interao pessoal, festa e descontrao. No importa o seu formato, feitio ou ambio.

    Os encontros presenciais so capazes de animar a participao, porque se constituem em espaos de

    conversao nos quais as humanidades podem se reconhecer e se realimentar.

    Antecedentes e outras informaes:

    Novembro de 1997- Mudana da Abaa Cultura e Arte para o Parque da gua Branca.

    25 de janeiro 1998 Realizao da primeira verso do Upa, So Paulo! 25 de Janeiro de 1999- Realizao do Upa, So Paulo!, com alvorada no Bairro das Perdizes ao

    amanhecer.

    Janeiro de 2000- Realizao do Upa, So Paulo!, da Viglia Cvico, Ecumnica e Cultural pela Paz,

    com o plantio da Bandeira da Paz.

    Na vspera, foi organizada uma Viglia cvico, ecumnica e cultural pela Paz, com atividades

    (apresentaes artsticas, alternadas com reflexes, exibies de vdeos, atividades integrativas,

    descansos), seguido, ao amanhecer do dia 25, de alvorada e um grande abrao simblico em So Paulo.

    Logo depois do Revelando So Paulo 2002 em consulta ao Comit Paulista para a Dcada da

    Cultura de Paz, atravs da Prof. Lia Diskin , decidiu-se pelo agrupamento sob o mote A Paz oCaminho...,de inspirao gandhiana de vrias das aes em andamento, para otimizar energias e

    potencializar os resultados, passando o conjunto a ser divulgado como no caput.

    Revelando So Paulo CapitalSetembro de 2010 durante Cerimnia pela Paz

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    Caderno da Cultura de Paz

    2 Aplicao8 passos para a Aplicao

    da Cultura de Paz

    no Municpio

    1. Convite a todos os segmentos:populao, lderes religiosos e/ou a-

    religiosos, organizaes sociais,

    culturais, educacionais, etc., para

    fomento da Cultura de Paz, do dilogo

    Transreligioso, respeito entre todos os

    seres viventes, etc.

    2. Realizao de uma roda deconversao sobre a Cultura de Paz e

    os melhores caminhos para serem

    traados. Cooperao de todos!

    3. Entrar em contato com a Abaa,diretamente com Emerson Pantaleo,

    para tirar dvidas e para marcar a

    data e local do plantio da Bandeira

    da Paz.

    4. Importante: O mastro daBandeira de responsabilidade do

    municpio, ao que sugerimos a

    medida de 6 a 8 metros. A Bandeira

    branca para o 1 plantio ser

    oferecida pela Abaa Cultura e Arte.

    5. No dia do plantioou troca daBandeira da Paz, bom um convite

    amplo para as autoridades, imprensa

    e pblico em geral.

    6. Reunies regulares para troca deexperincia e melhor qualidade no

    fomento e construo da Cultura de

    Paz. Traar um planejamento e

    encaminhar Abaa.

    7. Contato, dilogo e interao comdemais ncleos da Cultura de Paz.

    8. Estimular o estudo e prtica daCultura de Paz, em todas suas formas,

    bem como a prtica da gentileza,

    solidariedade, educao, igualdade

    entre todos os seres e no-violncia

    direta ou indiretamente, despertando

    assim, a Beleza que h na Diversidade

    e no Respeito entre todos os seres.

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    Caderno da Cultura de Paz

    E a Paz, como se faz?Retirado dapgina 11 do Caderno Paz,

    como se faz? da Associao Palas

    Athena - Por Lia Diskin e Laura

    Gorresio Roizman

    Respeitar a vida

    Observe atentamente o caminho que seu corao aponta e escolha esse caminho com todas as foras

    Provrbio hassdico

    Muito tempo passou, desde o incio do universo, at surgir a vida humana. E ainda foi preciso

    muito mais para que aflorassem, no mundo, as mentes inteligentes e capazes dos seres humanos. O

    mais impressionante pensar que a vida, que existe h to pouco tempo, j est ameaada. Dizem os

    bilogos que uma espcie viva est desaparecendo do planeta a cada vinte minutos. Em centsimos de

    segundo, aquelas mesmas mentes inteligentes podem destruir centenas de seres vivos: basta apertar

    um boto! Com frequncia, mostram as estatsticas, um simples apertar de gatilho interrompe uma vida

    jovem, com sonhos, paixes, talentos.

    A violncia nas grandes cidades vitima milhares de pessoas, principalmente jovens. Por isso

    temos que praticar e disseminar, o mximo que pudermos, o resgate da vida, a defesa da vida, o

    respeito vida. Precisamos comear refletindo sobre algumas lies que a prpria vida nos passa. Em

    primeiro lugar, fundamental compreender que, apesar dos surpreendentes avanos da cincia,

    absolutamente impossvel recriar todas as formas de vida em laboratrio. Infelizmente, sabemos

    destruir, com diversos tipos de armas nucleares, qumicas e biolgicas toda e qualquer vida na

    Terra. Mas no sabemos como, nem por onde comear a restaur-la.

    Podemos dizer que alguma coisa viva quando ela gera a si mesma. Se batemos a bicicleta em

    um poste e alguma parte se quebra, precisamos consert-la, trocar peas, ajust-la, refazer a pintura

    etc. Mas se ralamos o brao, nosso corpo consegue se consertar sozinho, pois as clulas podem se

    reproduzir e cicatrizar a ferida. Apesar de to esplndido, esse fenmeno passa totalmente

    desapercebido aos nossos olhos. Estamos to acostumados a encontrar outras pessoas caminhando

    nossa frente, a ver as rvores alimentando os pssaros e insetos que esquecemos, literalmente, de

    admirar a vida em seu mistrio. O milagre se tornou comum: mulheres grvidas em pases em guerra,

    ovos eclodindo em terras ridas, a grama brotando das frestas do asfalto de cidades maltratadas pela

    violncia.

    A vida criativa. Observe as folhas de uma rvore. Se olhar atentamente, perceber que no

    existe uma folha igual outra! O mesmo acontece quando observamos as multides caminhando pelas

    ruas: quantas pessoas diferentes umas das outras! Na famlia humana, em todo nosso planeta,

    abraamos um nmero imenso de raas, culturas, religies, vises de mundo, valores

    E, logicamente, impossvel que todo mundo pense do mesmo jeito: alguns gostam do vero,

    outros preferem o inverno O problema comea quando resulta difcil aceitar o ponto de vista do outro.

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    Caderno da Cultura de Paz

    Perdemos a pacincia, nos tornamos intolerantes, discutimos e, sem querer, podemos utilizar a

    violncia para lidar com esse conflito. Em uma atitude imediatista e impensada, corremos o risco de

    desrespeitar a vida, machucando nosso semelhante com palavras, gestos, atitudes exatamente assim

    que comeam as brigas e as guerras. E justamente esta espiral de violncia que queremos eliminar.

    Para compreender a arte da aceitao do outro, podemos aprender com nossa maior mestra: aprpria vida, bem maior do universo, que insiste em pulsar a cada instante. Teima em se concretizar,

    perfeita e harmonicamente. Observe as bactrias, seres muito simples, de um passado remoto, que

    moram em todas as clulas humanas, trabalhando no processo de produo de energia, como

    parceiras em nosso corpo. O que seria do crebro sem os pulmes? Os rins sobreviveriam sem seu

    companheiro corao? Em nosso organismo, podemos afirmar sem pestanejar, existe respeito e ajuda

    mtua desde a pequena clula at os nossos rgos mais sofisticados. Todas as pequenas partes

    trabalham juntas, operando o milagre. Esse apenas um exemplo de associao, cooperao.

    Fenmenos de natureza amorosa que sustentam o princpio da vida.

    Vamos continuar estudando a vida: ao caminhar em uma mata ou beira-mar, observando um

    pr-do-sol, estabelecemos uma sensao imediata de paz, acolhimento, e harmonia com a Terra. O

    mesmo podemos dizer quando uma me abraa seu beb. O amor o combustvel fundamental da

    humanidade, o alicerce da vida no planeta. um bem-estar espontneo, fcil, natural, que precisa ser

    redescoberto. Cabe a cada um de ns empreender essa viagem interior, ao encontro da bondade

    humana, virtude presente em todas as culturas.

    Mas e no nosso organismo maior, a sociedade? Existe essa mesma sintonia? O que seria de ns

    sem os empregados das usinas hidroeltricas que produzem energia? Sem os padeiros, mdicos elixeiros? Msicos, jornalistas e camponeses? Dependemos uns dos outros para sobreviver

    Infelizmente, esse fato freqentemente esquecido, nos diversos cantos do planeta, a cada instante.

    Se pudssemos observar com uma lente de aumento a sade da sociedade humana,

    perceberamos muita dor e sofrimento. Muitos no encontram oportunidades de moradia, alimento,

    trabalho. A desigualdade social uma dura realidade de nossos dias, uma situao de profundo

    desrespeito vida.

    Ser que podemos fazer algo para construir um mundo mais justo, mais cooperativo? A injustias

    e desigualdades so tantas que, muitas vezes, mais cmodo nos sentirmos magoados e revoltados

    Mas, de alguma maneira, precisamos aprender que a paz est em nossas mos: a sociedade do futuro

    depende de ns! Cabe a cada um de ns cuidar da vida, em seu aspecto pessoal, social e planetrio.

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    Caderno da Cultura de Paz

    Declarao sobre uma Cultura de Paz

    Retirado do Comit Paulista para a Dcada da Cultura de Paz parceria Unesco-Associao Palas

    Athena

    A Assembleia Geral,

    Considerando a Carta das Naes Unidas, incluindo os objetivos e princpios nela enunciados,

    Considerando tambm que na Constituio da Organizao das Naes Unidas para a Educao, a

    Cincia e a Cultura se declara que posto que as guerras nascem na mente dos homens, na mente dos

    homens onde devem erigir-se os baluartes da paz,

    Considerando ainda a Declarao Universal dos Direitos Humanos e outros instrumentos internacionais

    pertinentes ao sistema das Naes Unidas,

    Reconhecendo que a paz no apenas a ausncia de conflitos, mas que tambm requer um processo

    positivo, dinmico e participativo em que se promova o dilogo e se solucionem os conflitos dentro de

    um esprito de entendimento e cooperao mtuos,

    Reconhecendo tambm que com o final da guerra fria se ampliaram as possibilidades

    de implementar uma Cultura de Paz,

    Expressando profunda preocupao pela persistncia e a proliferao da violncia e

    dos conflitos em diversas partes do mundo,

    Reconhecendo a necessidade de eliminar todas as formas de discriminao e intolerncia, inclusive

    aquelas baseadas em raa, cor, sexo, idioma, religio, opinio poltica ou de outra natureza, na origem

    nacional, etnia ou condio social, na propriedade, nas discapacidades, no nascimento ou outra

    condio,

    Considerando sua resoluo 52/15, de 20 de novembro de 1997, em que proclamou o ano 2000 Ano

    Internacional da Cultura de Paz, e sua resoluo 53/25, de 10 de novembro de 1998, em que

    proclamou o perodo 2001-2010 Dcada Internacional para uma Cultura de Paz e no-violncia para as

    crianas do mundo,

    Reconhecendo a importante funo que segue desempenhando a Organizao das Naes Unidas para

    a Educao, a Cincia e a Cultura na promoo de uma Cultura de Paz,

    Proclama solenemente a presente Declarao sobre uma Cultura de Paz, com o objetivo que os

    Governos, as organizaes internacionais e a sociedade civil possam orientar suas atividades por suas

    sugestes, a fim de promover e fortalecer uma Cultura de Paz no novo milnio:

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    Caderno da Cultura de Paz

    Artigo 1

    Uma Cultura de Paz um conjunto de valores, atitudes, tradies, comportamentos e estilos de vida

    baseados:

    a) No respeito vida, no fim da violncia e na promoo e prtica da no-violncia por meio da

    educao, do dilogo e da cooperao;b) No pleno respeito aos princpios de soberania, integridade territorial e independncia poltica dos

    Estados e de no ingerncia nos assuntos que so, essencialmente, de jurisdio interna dos Estados,

    em conformidade com a Carta das Naes Unidas e o direito internacional; Comit Paulista para a

    Dcada da Cultura de Paz parceria UNESCO-Associao Palas Athena;

    c) No pleno respeito e na promoo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais;

    d) No compromisso com a soluo pacfica dos conflitos;

    e) Nos esforos para satisfazer as necessidades de desenvolvimento e proteo do meio-ambiente para

    as geraes presente e futuras;

    f) No respeito e promoo do direito ao desenvolvimento;g) No respeito e fomento igualdade de direitos e oportunidades de mulheres e homens;

    h) No respeito e fomento ao direito de todas as pessoas liberdade de expresso,

    opinio e informao;

    i) Na adeso aos princpios de liberdade, justia, democracia, tolerncia, solidariedade, cooperao,

    pluralismo, diversidade cultural, dilogo e entendimento em todos os nveis da sociedade e entre as

    naes;

    j) Todos animados por uma atmosfera nacional e internacional que favorea a paz.

    Artigo 2

    O progresso at o pleno desenvolvimento de uma Cultura de Paz se conquista atravs de

    valores, atitudes, comportamentos e estilos de vida voltados ao fomento da paz entre as

    pessoas, os grupos e as naes.

    Artigo 3

    O desenvolvimento pleno de uma Cultura de Paz est integralmente vinculado:

    a) promoo da resoluo pacfica dos conflitos, do respeito e entendimento mtuos e da cooperao

    internacional;

    b) Ao cumprimento das obrigaes internacionais assumidas na Carta das Naes Unidas e ao direito

    internacional;

    c) promoo da democracia, do desenvolvimento dos direitos humanos e das liberdades fundamentais

    e ao seu respectivo respeito e cumprimento;

    d) possibilidade de que todas as pessoas, em todos os nveis, desenvolvam aptides para o dilogo,

    negociao, formao de consenso e soluo pacfica de controvrsias;

    e) Ao fortalecimento das instituies democrticas e garantia de participao plena no processo de

    desenvolvimento;

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    Caderno da Cultura de Paz

    f) erradicao da pobreza e do analfabetismo, e reduo das desigualdades entre as naes e dentro

    delas;

    g) promoo do desenvolvimento econmico e social sustentvel;

    h) eliminao de todas as formas de discriminao contra a mulher, promovendo sua autonomia e

    uma representao equitativa em todos os nveis nas tomadas de decises;

    i) Ao respeito, promoo e proteo dos direitos da criana;j) garantia de livre circulao de informao em todos os nveis e promoo do acesso a ela;

    k) Ao aumento da transparncia na prestao de contas na gesto dos assuntos pblicos;

    l) eliminao de todas as formas de racismo, discriminao racial, xenofobia e intolerncia correlatas;

    m) promoo da compreenso, da tolerncia e da solidariedade entre todas as civilizaes, povos e

    culturas, inclusive relao s minorias tnicas, religiosas e lingusticas;

    n) Ao pleno respeito ao direito de livre determinao de todos os povos, includos os que vivem sob

    dominao colonial ou outras formas de dominao ou ocupao estrangeira, como est consagrado na

    Carta das Naes Unidas e expresso nos Pactos internacionais de direitos humanos, bem como na

    Declarao sobre a concesso da independncia aos pases e povos colonizados contida na resoluo1514 (XV) da Assembleia Geral, de 14 de dezembro de 1960.

    Artigo 4

    A educao, em todos os nveis, um dos meios fundamentais para construir uma Cultura de Paz. Neste

    contexto, a educao sobre os direitos humanos de particular relevncia.

    Artigo 5

    Os governos tm funo primordial na promoo e no fortalecimento de uma Cultura de Paz.

    Artigo 6

    A sociedade civil deve comprometer-se plenamente no desenvolvimento total de uma Cultura de Paz.

    Artigo 7

    O papel informativo e educativo dos meios de comunicao contribui para a promoo de uma Cultura

    de Paz.

    Artigo 8

    Desempenham papel-chave na promoo de uma Cultura de Paz os pais, os professores, os polticos, os

    jornalistas, os rgos e grupos religiosos, os intelectuais, os que realizam atividades cientficas,

    filosficas, criativas e artsticas, os trabalhadores em sade e de atividades humanitrias, os

    trabalhadores sociais, os que exercem funes diretivas nos diversos nveis, bem como as organizaes

    no-governamentais.

    Artigo 9

    As Naes Unidas deveriam seguir desempenhando uma funo crtica na promoo e fortalecimento

    de uma Cultura de Paz em todo o mundo.

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    Caderno da Cultura de Paz

    Programa de Ao sobre uma Cultura de Paz

    AAssembleia Geral,

    Tendo em conta a Declarao sobre uma Cultura de Paz aprovada em 13 de setembro

    de 1999,

    Considerando sua resoluo 52/15, de 20 de novembro de 1997, na qual proclamou o ano 2000 Ano

    Internacional da Cultura de Paz e sua resoluo 53/25, de 10 de novembro de 1998, na qual proclamou

    o perodo 2001-2010 Dcada Internacional para uma Cultura de Paz e no-violncia para as crianas do

    mundo,

    Aprova o seguinte Programa de Ao sobre uma Cultura de Paz:

    Objetivos, estratgias e agentes principais:1. O Programa de Ao constituiria a base do Ano Internacional da Cultura de Paz e da Dcada

    Internacional para a Cultura de Paz e no-violncia para as crianas do mundo.

    2. Estimular os Estados Membros para que adotem medidas para promover uma Cultura de Paz no

    plano nacional, bem como nos planos regional e internacional.

    3. A sociedade civil deveria participar nos planos local, regional e nacional, com o objetivo de ampliar o

    alcance das atividades concernentes a uma Cultura de Paz.

    4. O sistema das Naes Unidas deveria fortalecer as atividades que realiza em prol de uma Cultura de

    Paz.

    5. A Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura deveria manter sua funo

    essencial na promoo de uma Cultura de Paz e contribuir para sua construo de forma significativa.

    6. Deveriam-se fomentar e consolidar as associaes entre os diversos agentes destacados na

    Declarao para um movimento mundial para uma Cultura de Paz.

    7. Uma Cultura de Paz se promove mediante o intercmbio de informao entre os agentes sobre as

    iniciativas com este objetivo.

    8. A execuo eficaz do Programa de Ao exige a mobilizao de recursos, inclusive financeiros, por

    parte dos governos, das organizaes e indivduos interessadas.

    Consolidao de medidas que adotem todos os agentes pertinentes nos planos nacional, regional e

    internacional

    9. Medidas para promover uma Cultura de Paz por meio da educao:

    a) Revitalizar as atividades nacionais e a cooperao internacional destinadas a promover os objetivos

    da educao para todos, com vistas a alcanar o desenvolvimento humano, social e econmico, e

    promover uma Cultura de Paz;

    b) Zelar para que as crianas, desde a primeira infncia, recebam formao sobre valores, atitudes,

    comportamentos e estilos de vida que lhes permitam resolver conflitos por meios pacficos e comesprito de respeito pela dignidade humana e de tolerncia e no discriminao;

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    Caderno da Cultura de Paz

    c) Preparar as crianas para participar de atividades que lhes indiquem os valores e os objetivos de uma

    Cultura de Paz;

    d) Zelar para que haja igualdade de acesso s mulheres, especialmente as meninas, educao;

    e) Promover a reviso dos planos de estudo, inclusive dos livros didticos, levando em conta a

    Declarao e o Plano de Ao Integrado sobre a Educao para a Paz, os Direitos Humanos e a

    Democracia de 1995, para o qual a Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e aCultura prestaria cooperao tcnica, se solicitada;

    f) Promover e reforar as atividades dos agentes destacados na Declarao, em particular a Organizao

    das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura, destinadas a desenvolver valores e aptides

    que beneficiem uma Cultura de Paz, inclusive a educao e a capacitao na promoo do dilogo e do

    consenso;

    g) Estimular as atividades em curso das entidades ligadas ao sistema das Naes Unidas a capacitar e

    educar, quando for o caso, nas esferas da preveno dos conflitos e gesto de crises, resoluo pacfica

    das controvrsias e na consolidao da paz aps os conflitos;

    h) Ampliar as iniciativas em prol de uma Cultura de Paz empreendidas por instituies de ensinosuperior de diversas partes do mundo, inclusive a Universidade das Naes Unidas, a Universidade para

    a Paz e o projeto relativo ao Programa de universidades gmeas e de Ctedras da Organizao das

    Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura.

    10. Medidas para promover o desenvolvimento econmico e social sustentvel:

    a) Tomar medidas amplas baseadas em estratgias adequadas e objetivos acordados, a fim de erradicar

    a pobreza, mediante atividades nacionais e internacionais, incluindo a cooperao internacional;

    b) Fortalecer a capacidade nacional para aplicar polticas e programas destinados a reduzir as

    desigualdades econmicas e sociais dentro das naes, por meio, entre outras coisas, da cooperao

    internacional;

    c) Promover solues efetivas, eqitativas, duradouras e orientadas ao desenvolvimento para os

    problemas da dvida externa e servio da dvida dos pases em desenvolvimento, por meio, entre outras

    coisas, da diminuio da carga da dvida;

    d) Fortalecer as medidas adotadas, em todos os nveis, para aplicar estratgias nacionais em prol da

    segurana alimentar sustentvel, inclusive com a elaborao de medidas para mobilizar e aproveitar ao

    mximo a destinao e utilizao de recursos obtidos de todas as fontes, incluindo-se os obtidos com a

    cooperao internacional, como os recursos procedentes da diminuio da carga da dvida;

    e) Adotar mais medidas que zelem para que o processo de desenvolvimento seja participativo, e para

    que os projetos de desenvolvimento contem com a plena participao de todos;

    f) Incluir uma perspectiva de gnero e o fomento da autonomia de mulheres e meninas como parte

    integrante do processo de desenvolvimento;

    g) Incluir nas estratgias de desenvolvimento medidas especiais em que sejam atendidas as

    necessidades de mulheres e crianas, bem como de grupos com necessidades especiais;

    h) Atravs da assistncia ao desenvolvimento aps os conflitos, fortalecer os processos de reabilitao,

    reintegrao e reconciliao de todos os envolvidos no conflito;

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    Caderno da Cultura de Paz

    i) Incluir medidas de criao de capacidade nas estratgias de desenvolvimento dedicadas

    sustentabilidade do meio-ambiente, includas a conservao e regenerao da base de recursos

    naturais;

    j) Eliminar obstculos que impeam a realizao do direito livre determinao dos povos, em particular

    dos povos subjugados pela dominao colonial ou outras formas de dominao ou ocupao

    estrangeira, que afetam negativamente seu desenvolvimento social e econmico.

    11. Medidas para promover o respeito a todos os direitos humanos:

    a) Aplicar integralmente a Declarao e Programa de Ao de Viena;

    b) Estimular a formulao de planos de ao nacionais para promover e proteger todos os direitos

    humanos;

    c) Fortalecer as instituies e capacidades nacionais na esfera dos direitos humanos, inclusive por meio

    das instituies nacionais de direitos humanos;

    d) Realizar e aplicar o direito ao desenvolvimento estabelecido na Declarao sobre o direito ao

    desenvolvimento e a Declarao e Programa de Ao de Viena;e) Alcanar os objetivos da Dcada das Naes Unidas para a educao na esfera dos direitos humanos,

    1995-2004;

    f) Difundir e promover a Declarao Universal dos Direitos Humanos em todos os nveis;

    g) Dar apoio mais significativo s atividades que o Alto Comissionado das Naes Unidas para os Direitos

    Humanos realiza no desempenho de seu mandato, estabelecido na resoluo 48/141 da Assembleia

    Geral, de 20 de dezembro de 1993, bem como as responsabilidades estabelecidas em resolues e

    decises subsequentes.

    12. Medidas para garantir a igualdade entre mulheres e homens:

    a) Integrar a perspectiva de gnero na aplicao de todos os instrumentos internacionais pertinentes;

    b) Intensificar a aplicao dos instrumentos internacionais em que se promove a igualdade entre

    mulheres e homens;

    c) Aplicar a Plataforma de Ao de Beijing, aprovada na Quarta Conferncia Mundial sobre a Mulher,

    com os recursos e a vontade poltica que sejam necessrios e atravs, entre outras coisas, da

    elaborao, aplicao e consecuo dos planos de ao nacionais;

    d) Promover a igualdade entre mulheres e homens na adoo de decises econmicas, sociais e

    polticas;

    e) Prosseguir no fortalecimento das atividades das entidades vinculadas ao sistema das Naes Unidas

    destinadas a eliminar todas as formas de discriminao e violncia contra a mulher;

    f) Prestar apoio e assistncia s mulheres que tenham sido vtimas de qualquer forma de violncia,

    inclusive domstica, no local de trabalho e durante conflitos armados.

    13. Medidas para promover a participao democrtica:

    a) Consolidar todas as atividades destinadas a promover princpios e prticas democrticos;

    b) Ter especial empenho nos princpios e prticas democrticos em todos os nveis de ensino escolar,

    extra curricular e no escolar;

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    Caderno da Cultura de Paz

    c) Estabelecer e fortalecer instituies e processos nacionais em que se promova e se apoie a

    democracia por meio, entre outras coisas, da formao de funcionrios pblicos e a criao de

    capacitao nesse setor;

    d) Fortalecer a participao democrtica por meio, entre outras coisas, da prestao de assistncia a

    processos eleitorais, a pedido dos Estados interessados e em conformidade com as diretrizes

    pertinentes s Naes Unidas;e) Lutar contra o terrorismo, o crime organizado, a corrupo, bem como contra a produo, trfico e

    consumo de drogas ilcitas e lavagem de dinheiro, por conta de sua capacidade de minar/solapar a

    democracia e impedir o pleno desenvolvimento de uma Cultura de Paz.

    14. Medidas destinadas a promover a compreenso, a tolerncia e a solidariedade:

    a) Aplicar a Declarao de Princpios sobre a Tolerncia e o Plano de Ao de Consecuo do Ano das

    Naes Unidas para a Tolerncia(1995);

    b) Apoiar as atividades que se realizem no contexto do Ano das Naes Unidas para o Dilogo entre

    Civilizaes, que se celebrar em 2001;c) Aprofundar os estudos das prticas e tradies locais ou autctones de soluo de controvrsias e

    promoo da tolerncia, com o objetivo de aprender a partir delas;

    d) Apoiar as medidas em que se promovam a compreenso, a tolerncia e a solidariedade em toda a

    sociedade, em particular com os grupos vulnerveis;

    e) Continuar apoiando a obteno dos objetivos da Dcada Internacional das Populaes Indgenas do

    Mundo;

    f) Apoiar as medidas em que se promovam a tolerncia e a solidariedade com os refugiados e as

    populaes deslocadas, levando em conta o objetivo de facilitar seu regresso voluntrio e sua

    integrao social;

    g) Apoiar as medidas em que se promovam a tolerncia e a solidariedade com os migrantes;

    h) Promover uma maior compreenso, tolerncia e cooperao entre todos os povos, por meio, entre

    outras coisas, da utilizao adequada de novas tecnologias e difuso de informao;

    i) Apoiar as medidas que promovem compreenso, tolerncia, solidariedade e a cooperao entre os

    povos, entre as naes e dentro delas.

    15. Medidas destinadas a apoiar a comunicao participativa e a livre circulao de informao e

    conhecimento:

    a) Apoiar a importante funo que os meios de comunicao desempenham na promoo de uma

    Cultura de Paz;

    b) Zelar pela liberdade de imprensa, liberdade de informao e de comunicao;

    c) Fazer uso eficaz dos meios de comunicao na promoo e difuso da informao sobre uma Cultura

    de Paz, contando com a participao, conforme o caso, das Naes Unidas e dos mecanismos regionais,

    nacionais e locais pertinentes;

    d) Promover a comunicao social a fim de que as comunidades possam expressar suas necessidades e

    participar na tomada de decises;

    e) Adotar medidas acerca do problema da violncia nos meios de informao, inclusive as novastecnologias de comunicao, entre outras, a Internet;

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    Caderno da Cultura de Paz

    f) Incrementar as medidas destinadas a promover o intercmbio de informao sobre as novas

    tecnologias da informao, inclusive a Internet.

    16. Medidas para promover a paz e a segurana internacionais:

    a) Promover o desarmamento geral e completo sob estrito e efetivo controle internacional, levando em

    conta as prioridades estabelecidas pelas Naes Unidas na esfera do desarmamento;b) Inspirar-se, quando procedentes, nas experincias favorveis a uma Cultura de Paz obtidas de

    atividades de converso militar, realizadas em alguns pases do mundo;

    c) Destacar como inadmissvel a anexao de territrios mediante a guerra, e a necessidade de trabalhar

    em prol de uma paz justa e duradoura em todas as partes do mundo;

    d) Estimular a adoo de medidas de fomento da confiana e atividades para a negociao de

    resolues pacficas de conflitos;

    e) Tomar medidas para eliminar a produo e o trfico ilcito de armas pequenas e leves;

    f) Apoiar atividades, nos nveis nacional, regional e internacional, destinadas soluo de problemas

    concretos que surjam aps os conflitos, como a desmobilizao e a reintegrao de ex-combatentes sociedade, bem como de refugiados e populaes deslocadas, a execuo de programas de

    recolhimento de armas, o intercmbio de informao e o fomento da confiana;

    g) Desestimular e abster-se de adotar qualquer medida unilateral que no esteja em consonncia com o

    direito internacional e a Carta das Naes Unidas, e dificulte a obteno plena de desenvolvimento

    econmico e social da populao dos pases afetados, em particular mulheres e crianas, que impeam

    seu bem-estar, criem obstculos para o gozo pleno de seus direitos humanos, includo o direito de todos

    a um nvel de vida adequado para sua sade e bem-estar e o direito a alimentos, a assistncia mdica e

    servios sociais necessrios, ao mesmo tempo em que se reafirma que os alimentos e medicamentos

    no devem ser utilizados como instrumento de presso poltica;

    h) Abster-se de adotar medidas de coao militar, poltica, econmica ou de qualquer outra natureza,

    que no estejam em consonncia com o direito internacional e a Carta, e cujo objetivo seja atentar

    contra a independncia poltica ou a integridade territorial dos Estados;

    i) Recomendar que se d ateno adequada questo das repercusses humanitrias das sanes, em

    particular para as mulheres e crianas, com vistas a reduzir ao mnimo as consequncias humanitrias

    das sanes;

    j) Promover uma maior participao da mulher na preveno e soluo de conflitos e, em particular, nas

    atividades em que se promova uma Cultura de Paz aps os conflitos;

    k) Promover iniciativas de soluo de conflitos, como o estabelecimento de dias de cessar fogo para a

    realizao de campanhas de vacinao e distribuio de medicamentos, corredores de paz que

    permitam a entrega de provises humanitrias e santurios de paz para respeitar o papel fundamental

    das instituies sanitrias e mdicas, como hospitais e clnicas;

    l) Estimular a capacitao em tcnicas de entendimento, preveno e soluo de conflitos, ministradas

    ao pessoal interessado das Naes Unidas, das organizaes regionais vinculadas e dos Estados

    Membros, mediante solicitao, em conformidade.

    107 sesso plenria

    13 de setembro de 1999Traduo do original em espanhol: Elisabete de Moraes Santana - Reviso tcnica: Lia Diskin

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    Caderno da Cultura de Paz

    Paz na terra pelos homens de boa vontadeAo longo destes dois milnios fomos nos habituando a uma idia de paz transcendental, que se busca ese recebe como um dom divino, e no como uma condio essencial humanidade e ao mundo. Paz naterra aos homens de boa vontade!

    Nos habituamos tambm com a idia transcendental de amor, como algo buscado e atingido em

    momentos especiais, e no como condio essencial e permanente para a nossa estada no mundo, paraa nossa salvao coletiva e no individual.Nos habituamos, ainda, idia arcaica de que os humanos devemos lutar e vencer, para sobreviver.Falamos de competio e luta criando um viver em competio e luta, e no s entre ns, mas tambmcom o meio natural que nos possibilita, como sendo a forma normal do viver.

    Entretanto no a luta o modo fundamental de relao humana, mas a colaborao e ocompartilhamento. No a agresso a emoo fundamental que define o humano, mas o amor, acoexistncia na aceitao do outro como um legtimo outro na convivncia, no respeito s diferenas,no compartilhamento. E na justia.

    A competio e a vitria implicam na derrota do outro. Por isso as interaes baseadas na competio,no preconceito, na obedincia, na negao do outro, na excluso no podem ser ditas sociais, poisnegam nossa condio biolgica de seres dependentes do amor; negam o outro como legtimo outro naconvivncia. A ambio pode, ocasionalmente, levar riqueza ou ao xito individual, mas no leva transformao harmnica do mundo na sabedoria de uma convivncia que no vai gerar nem pobrezanem abuso. Coexistncia harmnica com o mundo natural, com a conscincia de que um espirro maldado poder abalar as estrelas.

    Assim a paz no um dom, mas a consequncia desse amor que se fundamenta nas relaes, na

    aceitao mtua, e, como ele, deve ser cultivada, a cada dia. Tem que ser construda por cada um dens. contagiosa. Se a queremos no mundo preciso comear por t-la dentro de ns, cultiv-la comtodos e no somente com os amigos! Comea na prpria rua e se espalha, aos poucos, pelo bairro. Semconcesses a malandrices e sem fugir perante uma injustia!

    Para se fazer rir toda uma rua, basta comear a rir.

    Com a paz h de ser a mesma coisa. J no nos aconteceu de nos sentirmos felizes, um dia de manh,mesmo sem motivo, e ao encontrar um desconhecido na rua sentir desejo de lhe dizer: Bom dia, tudobem? E nesse dia nos sentirmos fortes, capazes de enfrentar quaisquer dificuldades, de ajudar qualquer

    um?

    Amar os outros para os obrigar a amar outros- e assim de seguida em toda a terra! Comea assim a paz!Mas isto no fcil...

    Seguramente estas sejam, aproximadamente, as ideias de muitos de ns. E se indispensvel que hajaalgum que d o primeiro passo, a esta altura j somos muitos a faz-lo. E o primeiro passo j foi dado.E, porque estamos assim de acordo, com os coraes abertos, certamente a paz ser um fato em nossacidade.

    Toninho Macedo Dezembro de 1999 - Inspirado nas ideias de Gilbert Cesbron, expressas em OsSantos vo para o infernoe de Humberto Maturana, bem como nos esforos das vivncias da AbaaCultura e Arte.

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    Caderno da Cultura de Paz

    tica planetriaPor Willys Harman House - Clube de Budapeste

    Os dez princpios da tica planetria

    Estas so as diretrizes do Clube de Budapeste para pensar globalmente e moralmente na aurora do

    sculo XXI. So baseadas em valores que representam o interesse esclarecido de todos os seres

    humanos, culturas, sociedades e vida na biosfera.

    Viva com respeito pelos outros e pela Natureza

    1. Viva de uma maneira que satisfaa suas necessidades bsicas sem tirar dos outros a oportunidade de

    satisfazerem as necessidades deles.

    2. Viva de uma maneira que respeite o direito inalienvel de todas as pessoas vida e aodesenvolvimento, onde quer que elas vivam e quaisquer que sejam suas origens tnicas, sexo,

    nacionalidade, posio social e sistema de crenas.

    3. Viva de uma maneira que respeite o direito intrnseco vida, e a um ambiente que d apoio vida, de

    todas as coisas que vivem e crescem na Terra.

    4. Busque a felicidade, a liberdade e a realizao pessoal em harmonia com a integridade da Natureza e

    levando em conta as buscas similares de seus semelhantes na sociedade.

    Aja para criar um mundo melhor

    5. Exija de seu governo que se relacione com os outros povos e pases pacificamente e num esprito de

    cooperao, reconhecido as aspiraes legtimas de todos os membros da comunidade internacional

    por uma vida melhor e um meio ambiente saudvel.

    6. Exija das empresas que manifestem preocupao adequada pelo bem-estar de todos os seus

    takeholders e pela sustentabilidade do meio ambiente, produzindo bens e oferecendo servios que

    satisfaam a demanda corrente sem degradar ou poluir a Natureza e sem reduzir as oportunidades das

    pessoas pobres de participar da economia nem as oportunidades das empresas locais de competir nomercado.

    7. Exija dos meios de comunicao que divulguem informaes contnuas e confiveis sobre as

    tendncias bsicas e os processos cruciais, assim permitindo que os cidados e os consumidores tomem

    decises abalizadas sobre questes que afetam sua sade, sua prosperidade e seu futuro.

    8. Abra espao em sua vida para ajudar os menos favorecidos do que voc a viver com dignidade bsica

    e trabalhe com pessoas de mente semelhante sua, prximas ou distantes, para preservar ou restaurar

    os equilbrios essenciais do meio ambiente.

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    Caderno da Cultura de Paz

    Desenvolva sua conscincia para desenvolver o esprito humano

    9. Desenvolva sua conscincia para perceber a interdependncia vital e a unidade essencial da famlia

    humana, para aceitar e apreciar sua diversidade individual e cultural, e para reconhecer que uma

    conscincia alando-se dimenso planetria um imperativo para a sobrevivncia humana no sculo

    XXI.

    10. Use o exemplo e a orientao da sua conscincia em expanso para inspirar e motivar os jovens (e

    pessoas de todas as idades) a desenvolverem aquele esprito que lhes dar o poder de tomar decises

    morais sobre as questes crticas que decidiro o futuro deles prprios e o futuro de toda a

    humanidade.

    Revelando So Paulo CapitalSetembro de 2010 durante Caminhada pela Paz e pela Vida

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    Caderno da Cultura de Paz

    Educao e Cultura de PazHamilton Faria

    Este no um tema a mais para enriquecer o rico repertrio de reflexes sobre a cidadania ou os

    caminhos da educao no pas. Este um tema chave para a compreenso do mundo atual e para a

    mudana radical de nossos paradigmas civilizatrios. Alm de conter, talvez, o maior potencial

    mobilizador do milnio a cultura da paz aponta para uma nova condio do ser em sociedade. Qualquer

    movimento social ou cultural, as polticas pblicas e a ao cotidiana devero, no presente e no futuro,

    inevitavelmente, unir-se a este feliz binmio: educao cultura da paz.

    Rpido diagnstico do mundo contemporneo

    Somos viventes e emergentes de um sculo marcado pela violncia e por uma cultura da violncia. As

    construes polticas e geopolticas, comerciais e culturais do sculo XX, ao lado de muitas conquistas no

    campo da cidadania e do desenvolvimento tecnolgico, passaram por processos bastante violentos. Sefizermos um breve retrospecto veremos um mundo palco de crimes sociais hediondos: a guerra de

    1914-8 com seus milhes de mortos e utilizao de gases venenosos; a guerra civil espanhola, em que o

    fascismo eliminou resistentes e populao civil; a segunda guerra mundial com seus cinqenta milhes

    de mortos e seus tristes campos de Dachau, Auschwitz, Treblinka; Hiroshima e Nagasaki, vingana

    exemplar da maior potncia da histria, com seus 200 mil mortos; a guerra do Vietn, Laos, Cambodja,

    com cerca de 1 milho de mortos; o resultado soturno das ditaduras do socialismo real e das genocidas

    ditaduras latino-americanas; segue-se o genocdio de Sabra e Chatila, a guerra do Iraque, Kosovo, e o

    massacre recente promovido pelo exrcito israelense nos campos de Jenin. Sem falar das guerras

    emancipatrias: revolues russa, cubana, chinesa e contra o colonialismo na frica e na ndia. Depoisque quase tudo isso cessou, aps 1945, ainda tivemos 150 guerras com 20 milhes de mortos.

    O sculo XX foi, sem dvida, um sculo de mortes. Com o final da guerra fria entramos num mundo

    tenso, complexo e inseguro marcado pela acumulao de armas qumicas, biolgicas, bacteriolgicas,

    com a presena de estados terroristas modernos e tradicionais e a proliferao de grupos terroristas

    estatais e paramilitares.

    Jamais poderemos esquecer que vivemos no cenrio de uma guerra social sem precedentes na histria

    da humanidade. A cpula social de Copenhague traou, em 1985, um quadro alarmante: "Mais de 1bilho de seres humanos vivem numa pobreza abjeta, passando a maior parte deles fome todos os dias.

    E mais de 120 milhes no desemprego e muito mais no subemprego". A crise social expande-se pelo

    desenraizamento e despertencimento, fruto da imposio de modos de vida pela modernidade,

    materializados em sociedades que perderam, em grande parte, a moralidade, os valores ticos e

    espirituais. Hoje possvel diagnosticar uma fratura societria marcada pela excluso social e cultural, a

    violncia cotidiana e a degradao ambiental, que traz como resultado um estilo de vida individualista e

    consumista e a perda dos laos de solidariedade entre as pessoas e no interior das comunidades.

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    Caderno da Cultura de Paz

    O Brasil, com seus indicadores de desenvolvimento humano j conhecidos, a fome de um quinto da

    populao e 40 mil homicdios anuais, mais do que um reflexo da cultura da violncia no mundo

    contemporneo.

    O Papel da Educao

    Aqui os processos educativos ganham uma centralidade talvez jamais vista na histria contempornea,no apenas considerando a escola formal mas tambm a "escola da vida", que constituda por outros

    espaos, experincias e saberes. A educao ganha um sentido cada vez mais claro de contribuir para o

    desenvolvimento humano, e no s de qualificar jovens e adultos para o mercado de trabalho. Como diz

    estudo da UNESCO: "A educao no serve, apenas, para fornecer pessoas qualificadas ao mundo da

    economia: no se destina ao ser humano enquanto agente econmico, mas enquanto fim ltimo do

    desenvolvimento". Surpreende-me que o discurso corrente ainda seja aquele de preparar o educando

    para o mercado de trabalho. Escolas marcadas pela lgica empresarial j chamam seus alunos de

    clientes. Sem comentrios.

    Mas, afinal, o que desenvolvimento humano? Desenvolvimento humano a conquista de uma vida

    mais saudvel e longa, o acesso a bens e servios que possibilitem uma existncia digna, pessoal e

    coletiva. Mais: o acesso a conhecimentos teis e a valores ticos e o reconhecimento dos direitos

    polticos, sociais, econmicos, culturais e ambientais construdos com cidadania e participao. Mais

    ainda: a possibilidade de produzir e exprimir a criatividade e construir com diversidade um rico

    imaginrio. Finalmente: a realizao de uma cultura do ser e no apenas do ter. A partir desse

    referencial j podemos concluir que a educao est predestinada, cada vez mais, a ter um papel

    complexo e fascinante no desenvolvimento humano.

    Mas se o seu papel aprimorar o desenvolvimento humano e no apenas qualificar estudantes para o

    mercado de trabalho, nem mesmo simplesmente reverenciar valores do passado, como devemos

    compreender o processo educativo? Retomo a discusso da UNESCO sobre os quatro pilares da

    educao, pois essa forma de apresentar a mais completa das que tenho conhecimento. Essa

    separao em quatro itens convocada e assinada pela UNESCO, mas conta com a presena dos

    maiores educadores e pensadores do planeta. A partir desta apresentao didtica fao a minha

    reflexo, fruto de experincias com educao e cultura e de encontros nacionais e internacionais de que

    tenho participado ao longo dos ltimos vinte anos.

    Aprender a conhecer

    Sem dvida este, desde sempre, um pilar da educao. Conhecer uma das finalidades da vida dos

    seres humanos. Conhecer, descobrir mundos imaginveis e inimaginveis. Mas devemos nos perguntar:

    conhecer o qu? O procedimento cientfico de interpretar o mundo? Existem sociedades cujo cogito

    diferente do nosso; isso acontece mesmo no interior de nossa sociedade. Aprendi com um indiano que,

    na ndia, a mais importante forma de comunicao o silncio, depois o gesto e, por ltimo, a palavra.

    No mundo ocidental ocorre o inverso. Portanto, a educao deve nos permitir conhecer o nosso mundoe suas diferentes culturas, mas tambm outros mundos que se cruzam, com os processos transculturais.

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    Caderno da Cultura de Paz

    No justo que negros e ndios tenham que ser reeducados com nossas categorias e modos de ver e

    tenham que se integrar ao mundo dos brancos negando sua prpria essncia, sua ancestralidade, sua

    cultura. H alguns anos o Conselho da Condio Negra da Bahia luta para incluir no currculo das escolas

    a capoeira, a msica afro, a religiosidade negra. Por outro lado, o conhecer no diz respeito apenas

    cincia ou aos livros, mas tambm ao corpo, s habilidades manuais, ao sentir, s dimenses espirituais.

    A escola neste milnio ter que abrir sua mente e as portas para outros saberes no-oficiais ou formais,

    para a multifacetada experincia humana, contribuindo para novas snteses oriundas dos saberes e da

    transdisciplinaridade.

    Aprender a fazer

    Este um tema amplo. Aprender a fazer desenvolver capacidades individuais e coletivas: habilidades

    profissionais, artsticas, cientficas, comunicacionais, polticas etc. Para aprender a fazer vital

    democratizar a palavra, vivenciar desde a infncia a democracia, perder o medo da rgida hierarquia

    escolar, desenvolver competncias e acrescentar humanidade s pessoas, com uma viso de sociedadesustentvel. Aqui a chave o pensar-agir, a coerncia entre o conhecer e a aplicao prtica do

    conhecimento, a transformao da realidade pela construo de parmetros ticos na vida cotidiana.

    Aprender a viver juntos

    Este talvez seja o maior desafio do processo educativo. Aqui fundamental o reconhecimento da

    diversidade e o respeito aos valores do pluralismo. A escola ainda no est preparada para reconhecer e

    dialogar com as diferenas. A dialogia na comunidade escolar pobre. Os professores, alm da troca de

    cumprimentos e ideias rpidas na sala dos professores e nos intervalos, conversam muito pouco entre

    si; entre eles e os alunos h uma autntica muralha: estes desconfiam daqueles; grande parte dos

    professores se consideram donos do poder e do saber e matam o esprito crtico do aluno e a

    curiosidade; no h uma cultura de relacionamento entre professores, alunos e funcionrios, todos so

    considerados mo-de-obra pronta para servir e no sujeitos dos processos educativos. O saber formal

    muito autoritrio e impe duras verdades realidade escolar. Recomendo aos supervisores que

    repensem o seu papel, a sua funo nos processos educativos, colocando-se no apenas como fiscais da

    discutvel qualidade de ensino, mas como transformadores de realidades e impulsionadores de novos

    paradigmas da educao. Com esse horizonte os supervisores podero vir a ser elos vitais para a

    construo da cultura da paz na comunidade escolar. Aes de cooperao entre alunos e entre a escola

    e a comunidade devem ser centrais nas atividades escolares, pois o sucesso individual e a competio

    esto norteando a vida em sociedade e o imaginrio social.

    Aprender a ser

    Esta deveria ser a finalidade ltima de todo processo educativo na famlia, na vida religiosa e

    comunitria, na vida escolar. Para aprender a ser, o estudante deve ser formado integralmente:

    inteligncia, sensibilidade, responsabilidade social e pessoal, tica, espiritualidade etc. Diferentemente

    de uma educao tradicionalista, deve-se privilegiar o direito de criar, fundador da cultura, e construir-

    se como sujeito. O lugar da arte deveria ser mais destacado na educao. Ela contribui para oaperfeioamento do ser, forma comunidades de emoo e pessoas sensveis vida.

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    Caderno da Cultura de Paz

    Trabalhos culturais com arte contribuem para o desenvolvimento da auto-estima e da sociabilidade do

    jovem, componentes indispensveis da cidadania.

    Caminhos Para a Construo da Cultura da Paz Por Meio da Educao

    Entendemos por cultura da paz a conscincia permanente dos valores da no-violncia social. A culturada paz vai mais longe do que construir a paz. Cultura da paz no simplesmente ausncia de guerra.

    diferente tambm de passividade e resignao. Ela no elimina oposies ou conflitos, mas pressupe a

    resoluo pacfica deles. E resolver os conflitos sociais de forma pacfica uma mudana radical nos

    paradigmas que do sustentao ao atual modelo civilizatrio.

    Passo ento a comentar alguns pressupostos definidores da cultura da paz apontados pela UNESCO.

    Vivemos hoje a possibilidade concreta de destruio das formas de vida, a primeira vez que isso

    acontece no planeta. Outras civilizaes anteriores no tinham esse poder de fogo. Criamos uma

    civilizao que no respeita a vida, pois aprendemos a sujeitar a natureza aos nossos desgnios.Respeit-la em todos os nveis o inicio de uma cultura da paz. "Tudo que vive o teu prximo", disse

    Gandhi.

    Devemos desenvolver um amplo cuidado para com as crianas, com os idosos, com os pais e filhos, com

    a comunidade dos seres vivos, animais e vegetais, com o outro e com ns mesmos. A educao deve

    voltar-se para ensinar continuamente o respeito vida.

    Rejeitar a violncia a base da cultura da paz. No s a violncia criminalizada, passvel de condenao

    judicial, mas tambm aquela naturalizada, no reconhecida pelos cidados, que passa distante do

    processo e da punio. Aquela violncia, infelizmente, ainda presente nas relaes autoritrias

    existentes na famlia, o despotismo no local de trabalho, as relaes de carter racista e sexista, que

    muitas vezes aparecem sutilmente na represso e no terrorismo estatal e de grupos privados

    escondidas atrs de uma aparente "boa causa".

    A cultura da paz rejeita a violncia fsica, sexual, tnica, psicolgica, de classe, das palavras e das aes.

    Mesmo as metforas blicas, utilizadas para atingir objetivos comunitrios ou empresariais, devem ser

    definitivamente banidas do dicionrio da cultura da paz, pois o ponto de partida dessa cultura a

    cooperao entre a comunidade dos seres vivos e o desenvolvimento interior das pessoas.

    J o momento de se criar nas escolas amplos programas de cultura da paz, para formar uma nova

    gerao de pacifistas, que saiba dialogar, negociar, argumentar e cooperar a partir de relaes de amor

    com as pessoas. Verdadeiros agentes e mediadores da paz. Algumas experincias j em curso devem ser

    destacadas.

    O Instituto Palas Athena tem sido um ponto de referncia decisivo para inspirar valores da cultura da

    paz no pas, particularmente em So Paulo. O programa Gandhi e a No-violncia, dessa instituio, visasubsidiar educadores com experincias de resoluo de conflitos e mostrar como o dilogo pode ser

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    Caderno da Cultura de Paz

    instrumento de convivncia. Junto Polcia Militar de So Paulo, Polcia Civil e aos integrantes dos

    Conselhos Comunitrios de Segurana Pblica (Consegs), desenvolve o concurso Gandhi e a No-

    violncia que consiste na elaborao de uma redao que relacione no-violncia e segurana pblica

    tendo como base o pensamento de Gandhi.

    A Paz Pede Parceiros rene voluntrios, artistas, professores e monitores em espaos pblicos pararealizar vrias atividades baseadas na simplicidade voluntria, na cidadania responsvel, na tica

    solidria e na valorizao das diferenas. Por exemplo: danas sagradas e da paz, caminhada silenciosa,

    jogos cooperativos, expresses dos jovens etc.

    A Aliana por um Mundo Responsvel, Plural e Solidrio, a Rede Mundial de Artistas e o Instituto Plis

    tm realizado Conversas de Rua sobre a paz em diversos pontos da cidade de So Paulo.

    Trata-se de uma atividade que envolve a populao em um dilogo sobre vrios temas, todos

    destacando a arte como fator de unio e estmulo. Da mesma Aliana, o projeto Tambores pela Paz temfeito soar a convergncia e a solidariedade em muitos pontos do planeta. Em 21 de junho do ano

    passado, a Aliana estimulou e participou diretamente dos Tambores pela Paz: na frica (atravs da

    Caravana Africana pela Paz), em Barcelona, na Frana, no Brasil (em todas as regies da cidade de So

    Paulo, alm de Macei, Braslia e Rio de Janeiro). Os eventos artsticos simblicos que podem reproduzir

    o imaginrio da paz so muito importantes para criarmos um clima favorvel ao surgimento dessa

    cultura.

    Em So Paulo, no ano passado, a prefeitura realizou, com a coordenao da Aliana, o Psicodrama da

    Cidade, em 150 pontos do municpio. A idia era desenvolver uma escuta da populao sobre seus

    principais problemas, desafios e conflitos, e sugerir solues.

    O Frum em Defesa da Vida, que rene centenas de entidades da zona sul de So Paulo, tem realizado

    caminhadas pblicas, aes nas escolas, denncias etc. e tem se constitudo em verdadeiro ponto de

    referncia da cultura da paz para os movimentos sociais e a sociedade civil. Alm de desenvolver

    atividades entre os estudantes e estimular o compromisso de professores e integrantes da polcia

    comunitria.

    Mas vamos a outra chave para a criao de uma cultura da paz: a generosidade. Estamos, cada vez mais,

    perdendo a nossa capacidade de dar-se; encapsulados em ns mesmos, nos fechamos muito para os

    outros. Freqentemente no temos valores prprios suficientes nem mesmo tempo para celebrarmos o

    outro. Justificamos tudo pelo medo, pela pressa, pela vida louca nas grandes cidades, esse compartilhar

    pouco o mundo cotidiano. Fico perplexo ao ver jovens cruzarem colegas ou professores na universidade,

    aps conviverem juntos durante um semestre, e no celebrarem um bom-dia, a sociabilidade mnima do

    dia-a-dia. Felizmente o mundo ainda tem exemplos de generosidade: as mes, os seguidores de Gandhi,

    as pessoas espiritualizadas, aquelas de bom corao, pessoas comuns que encontramos diariamente,

    muitas ONGs, o trabalho voluntrio, que se solidariza com os mais carentes e busca construir a paz, emuitos outros.

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    Caderno da Cultura de Paz

    A educao deve preocupar-se em ensinar o jovem e a criana a dedicar parte do seu tempo e de seus

    recursos materiais ao cultivo da generosidade. Flix Guattari no seu ltimo artigo, "Por uma refundao

    das prticas sociais", propunha para a sociedade futura uma redefinio do tempo: um destinado

    reproduo da vida material e outro economia dos valores sociais e mentais.

    Mas nada disso se tornar possvel sem dilogos. O mundo est carente de escutas e dilogos. Mais

    ainda que dialogar necessitamos "interculturar", transculturar ou seja, crescer atravs do dilogo com

    a diversidade, com a vivncia, a viso de mundo e a razo dos outros. O nosso grande desafio viver

    junto: conviver. "O futuro da Bsnia no a tolerncia, mas a convivncia", disse em Barcelona o

    prefeito de Sarajevo.

    muito limitado para superarmos o paradigma da cultura da violncia pensarmos nos termos tolerncia

    e intolerncia. Quando toleramos no compreendemos nem compartimos. Portanto, a nossa educao

    deve-se voltar para nos ensinar a ser conviventes e no apenas tolerar. Uma cultura forte se constri nadialogia, e por isso que no h cidadania sem uma escuta das diferenas culturais. Um novo paradigma

    educacional ter que ser criado a partir da diversidade cultural e da escuta.

    Na escola e na vida necessrio escutar silncios, gestos, olhares, toques; eles podem nos dizer mais do

    que todos os discursos racionalmente bem articulados e retoricamente impecveis.

    Devemos nos empenhar em desconstruir o discurso monoltico do saber no interior das escolas, o

    autoritarismo de certo saber oficializado. Grande parte dos nossos professores ainda vive um mundo

    autoritrio, de saberes formais e indiscutveis.

    O saber do futuro ser multicultural, isto , se complementar no outro, e ampliar a condio humana.

    Estabelecer trocas entre diferentes uma chave para a formao: assim diminumos nosso

    etnocentrismo e podemos ter vises e solues que nos acrescentem humanidade. O jovem, por

    exemplo, pode conhecer jovens de outras escolas, da comunidade, participar de festividades de culturas

    diferentes, assistir a outros cultos religiosos, visitar quilombos e aldeias indgenas, ouvir estrias

    ancestrais e gneros musicais novos, ampliando, assim, sua compreenso da pluralidade e seu

    repertrio de valores humanos.

    Considero equivocado ensinar a criana e o jovem a manipular instrumentos tecnolgicos sem

    contextualiz-los num cenrio de vivncias. Fala-se muito em incluso digital, importante sem dvida,

    mas ela no pode ser isolada dos contextos existenciais, vivenciais, presenciais da condio humana, sob

    o risco de prepararmos o jovem para o mundo tecnolgico, mas no para um mundo mais humano.

    Com a globalizao vivemos a interdependncia. A realidade e a ao no so mais globais, mas

    "glocais", ou seja, locais e globais ao mesmo tempo. O local inseparvel do global. Somos uma parte

    do todo. A metfora do mundo no mais a mquina, mas o holograma, como diz o fsico Fritjof Capra

    (de holos, "todo" em grego), ou seja, em cada parte est o todo. A idia de preservar o nosso planeta

    deve ganhar fora com a educao. Devemos trabalhar para a formao de uma cultura planetriaconsciente dos desequilbrios do planeta e das solues micro e macroecolgicas, locais e globais.

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    Caderno da Cultura de Paz

    Finalmente, nesse mar de egosmo e individualismo, encontramos a solidariedade. Esse um tema

    importante nesta virada de milnio. Devemos educar as novas geraes para recompor laos de

    solidariedade: nas relaes entre os sexos, entre pais e filhos, professores e alunos, comunidade e

    escola, diretoria e corpo docente, idosos e jovens, a solidariedade inter-geracional etc.

    A solidariedade deve se expandir para outras espcies, animais e vegetais. Hoje existe um amplo

    movimento mundial pela solidariedade humana e com os animais e vegetais. No h mudana possvel

    sem perceber que pertencemos a uma espcie que deve se solidarizar com a vida. Para tanto

    necessitamos mudar a viso antropocntrica que nos coloca como reis, ou melhor, como dspotas

    absolutos da natureza, e desenvolver, ento, uma viso em que o centro de tudo seja a vida e na qual

    tudo comece pelo direito a ela.

    Destaco aqui o papel das mulheres nessa mudana de paradigmas: a afirmao dos valores femininos e

    da natureza feminina da alma humana pode nos trazer uma nova percepo do mundo e da vida. Somosherdeiros do patriarcalismo, que domina a natureza, e precisamos agora buscar novos dilogos e novos

    laos de solidariedade. Um grande lema para o novo milnio ser o de feminizaro planeta.

    Revelando So Paulo CapitalSetembro de 2008 no Memorial da Amrica Latina (Barra Funda) durante

    Cerimnia pela Paz e pela Vida.

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    Caderno da Cultura de Paz

    Mahatma Gandhi e a Cultura da Paz

    Pretendo terminar essas reflexes com algumas passagens de Mahatma Gandhi, guia espiritual da nova

    educao, que tem por finalidade a criao da cultura da paz.

    Vamos nos iluminar: "A fora da no-violncia infinitamente mais maravilhosa e sutil que as foras

    materiais da natureza, como a eletricidade."

    "A no-violncia no consiste em renunciar a toda luta contra o mal. A no-violncia, como eu a

    concebo, , ao contrrio, uma luta contra o mal mais ativa e mais real que a da lei de Talio, cuja

    natureza prpria desenvolver, com efeito, a perversidade."

    "Onde houver conflito, onde houver oposio, triunfe atravs do amor."

    "O mundo no totalmente governado pela lgica: a prpria vida envolve certa espcie de violncia, e a

    ns compete escolher o caminho da violncia menor."

    "A fora gerada pela no-violncia infinitamente maior do que a fora de todas as armas inventadas

    pela engenhosidade do homem."

    "O seu inimigo se render no quando sua fora se esgotar, mas quando o seu corao se negar ao

    combate."

    "A nica coisa que as naes do Ocidente ensinaram ao mundo, com as letras de fogo, foi que a

    violncia no leva nem paz nem felicidade. O cultivo da violncia no tornou felizes, nem melhores,

    as naes com quem entrou em contato."

    Penso que essas passagens da obra de Gandhi falam por si. O estudo do pensamento de Gandhi

    torna-se no mundo contemporneo, marcado pela violncia generalizada,