cultura corporal no cotidiano escolar - renata moura

Upload: hellen-kharynny

Post on 19-Jul-2015

26 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

FACULDADE ALFREDO NASSER INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAO CURSO DE PEDAGOGIA

CULTURA CORPORAL NO COTIDIANO ESCOLARRenata Mendanha de Moura

APARECIDA DE GOINIA 2010

2

RENATA MENDANHA DE MOURA RENATA MENDANHA DE MOURA

CULTURA CORPORAL NO COTIDIANO ESCOLARArtigo apresentado ao Instituto Superior de Educao da Faculdade Alfredo Nasser, sob orientao da Professora Ms. Milna Martins Arantes, como parte dos requisitos para a concluso do curso de Pedagogia.

APARECIDA DE GOINIA 2010

3

FOLHA DE AVALIAO

CONTRIBUIES DA COMPREENSO DA CULTURA CORPORAL NO COTIDIANO ESCOLAR

Aparecida de Goinia, ____ de dezembro de 2010.

EXAMINADORES

Orientadora Prof. Ms. Milna Martins Arantes Nota: ______ / 70

Primeiro examinador - Prof.(a) Ms. ----- - Nota:___ / 70

Segundo examinador - Prof.(a) ----- - Nota:___ / 70

Mdia parcial - Avaliao da produo do Trabalho: ___ / 70

4

CONTRIBUIES DA COMPREENSO DA CULTURA CORPORAL NO COTIDIANO ESCOLAR Renata Mendanha de Moura*RESUMO: Este artigo enfatiza o estudo da cultura corporal, e as contribuies que dela se ressalta, ao inseri - l no cotidiano escolar, atravs dos jogos e a dana. Possibilitando a criana desenvolver-se a cerca do conhecimento de seu prprio corpo. Para tanto organiza-se este estudo bibliogrfico com o objetivo de instrumentalizar o professor pedagogo na apropriao e utilizao dos elementos da cultura corporal de movimento na sua prtica pedaggica. Ao ampliar a utilizao de atividades ldicas atravs dos jogos e da dana na escola percebese a ampliao dos saberes e conhecimentos dos alunos tanto no que se refere a percepo, a criatividade, sociabilizao, criticidade, participao e envolvimento. Por considerar importante para o cotidiano escolar a busca de prticas que reinventem a escola que este estudo que ora propomos se faz significativo. Palavra-chave: Cultura corporal. Dana. Jogos.

INTRODUO

Este artigo busca estabelecer um dilogo com autores que discutem o corpo e a cultura corporal de movimento, a fim de reafirmar a vinculao deste tema com a cultura, faz-se necessrio analisar o contexto e as transformaes pelas quais se passam o conceito de corpo e seu significado scio-cultural. Neste contexto, o papel da cultura de transformar o corpo tanto em seus aspectos biolgicos, quanto nos seus aspectos psicolgicos, estticos, ticos e conceituais. Proporcionam-se diversas experincias ao homem no decorrer de sua vida, modificando hbitos, maneiras e costumes, nas diferentes regies e pocas. Portanto, essas modificaes reafirmam que o corpo a expresso da cultura, por ser o corpo a via de linguagem intermediaria dessas mudanas, atravs de gestos, movimentos e atitudes. De maneira que os corpos se constroem e se reconstroem e expressam as criativas articulaes entre cultura e natureza. Ao (inter) relacionar os estudos da corporalidade com o contexto educacional, ressaltam-se a dana e os jogos como aes prticas educativas significativas. Estas prticas so capazes de (re) significar o conhecimento que os alunos possuem sobre si mesmos e sobre o mundo que os cerca de forma ldica, prazerosa, participativa e interativa.

*

Acadmica do curso de Pedagogia da Faculdade Alfredo Nasser, sob orientao da professora Ms. Milna Martins Arantes.

5

Para tanto, organiza-se este artigo de cunho bibliogrfico em tpicos que visam a uma maior compreenso da temtica, inicia-se o mesmo com a finalidade de compreender e reafirmar o corpo na perspectiva cultural, apresentam-se algumas aproximaes conceituais com a cultura corporal de movimento. Em um segundo momento, apresenta-se a dana e o jogo como prticas culturais e suas possibilidades no contexto escolar. E para finalizar (temporariamente) este estudo, busca-se afirmar a dana e os jogos como uma possibilidade de superar as prticas escolares que no considerem a dimenso corporal dos alunos, para tanto se reafirma que o professor pedagogo pode e deve conhecer e aprofundar seus estudos nesta rea, com vistas a elaborar prticas que valorizem o corpo, suas possibilidades de movimento e expresso na sala de aula.

DISCUTINDO O CORPO: a perspectiva cultural

Na busca da compreenso sobre o corpo humano, vrios so os estudos que vm historicamente sendo construdos. Neste trabalho, propor-se esclarecer que impossvel analis-lo desvinculado da cultura. Entretanto, o corpo compreendido de forma hegemnica pelo vis biologicista. um grande desafio construir um discurso que supere esta viso, em busca de um olhar que pense o corpo a partir das significaes culturais. O corpo humano no um dado puramente biolgico sobre o qual a cultura impinge especificidades. O corpo fruto da interao natureza/cultura. Conceber o corpo como meramente biolgico pens-lo - explcita ou implicitamente - como natural e, consequentemente, entender a natureza do homem como anterior ou prrequisito da cultura. Santos (1990) critica aqueles que propem a volta a um suposto corpo natural no atingido pela cultura. Segundo ele, no se pode esquecer a natureza necessariamente social de uso do corpo. O homem s chegou ao seu estgio atual de desenvolvimento devido a um processo cultural de apropriao de comportamentos e atitudes que, inclusive, foram transformados o seu componente biolgico. A cultura corporal estabelece mudanas tanto nos aspectos fsicos, quanto no aspecto mental do homem, por este ter de se adaptar maneira de se sentir, pensar e agir conforme os costumes prdeterminados por uma determinada sociedade.

6

No possvel desvincular o homem da cultura. O que o diferencia de outros animais, principalmente, a sua capacidade de produzir cultura. Neste contexto, pode-se afirmar que cultura no um ornamento, um algo a mais que se sobreps natureza animal. A cultura foi a prpria condio de sobrevivncia da espcie. Portanto, pode- se dizer que a natureza do homem cultural. (GEERTZ, 1978, apud DALIO, 1995). A nfase dada ao entendimento do corpo na formao dos profissionais da educao, herdou-se a perspectiva da rea da sade, a qual ainda se refere ao homem e ao seu corpo como entidades primordialmente biolgicas. Temos ouvido comentrios sobre o corpo que introduzem uma noo que separa a natureza da cultura. Quando se defende a procura por um corpo natural, est se falando que possvel encontrar um corpo pr-cultural, ou que seja imune cultura. Entretanto, quando se refere ao corpo livre, parece que se busca um corpo que no seja escravizado ou moldado pelas regras sociais. Como se quisesse achar um corpo ainda no atingido pela cultura ou anterior a ela. Pensar o corpo em uma perspectiva natural apresenta-se uma viso limitada, mas preciso compreender o corpo em suas constantes transformaes e na sua relao com mundo scio-cultural, cujas marcas so temporais/ histricas, em cada poca o corpo cumpre e pode subverter a ordem vigente. Portanto, faz-se necessrio uma anlise das influncias scio-culturais e histricas sobre o corpo. Segundo Kofes (1991) o meu eu se destacava ao corpo de tal forma que parecia ser desvinculada por atitudes que escondiam o corpo, pois, no sculo XVII antes da revoluo industrial, o corpo era tratado como objeto manipulado para enfrentar exerccios dirios tendo como troca de seu servio braal a mercadoria para sua sobrevivncia, portanto prejudicava o andamento natural de sua vida. Porm, hoje no sculo XXI, com as mudanas existentes pelo avano da revoluo industrial, pode-se perceber que o homem tem sua prpria funo sendo remunerado como tal e sendo possvel designar o corpo como sinnimo do meu eu com possibilidades de comandar as necessidades e movimentos que podem ser gerados atravs dos sentidos e expresso corporal. Pois, senti - se o corpo como via de mo nica tendo como espao do prazer com plenitude e equilbrio para estabelecer uma vida saudvel, tendo-o como um sujeito e no mais como objeto, homens com agilidade e prazer em realizar atividades que os trazem domnio e

7

movimentos benficos; mulheres geis e no mais frgeis, com garra ao realizar seu trabalho com flexibilidade dos msculos e no mais flacidez. Entretanto, se antes no se considerava a devida importncia ao corpo pensando ser apenas um intermdio aos movimentos para realizaes de atividades obrigatrias para alcanar seu limite corporal, hoje se d essa importncia liberdade do corpo e se dando ateno necessria para melhor estabelecer seu trabalho em sua vida, no seu cotidiano. Haja vista que o autor Mauss (1950 apud KOFES, 1991), afirma que o corpo aprende em relao sociedade em que est inserido, em diferente momento histrico; acumula experincias e aprendizagem cada vez mais e do corpo se observa diversas maneiras de se expressar tais como: andar, dormir, danar, nadar, gestos, postura e os gestos faciais como o olhar.Os polinsios nadam diferentemente de ns. E mesmo entre ns diz Mauss que, se em sua gerao se ensinava a nadar de olhos fechados os de gerao atual, aprendem a nadar de olhos abertos, inibindo os medos, familiarizando se com a gua. Os Masai dormem de p, o que talvez ocasionasse insnia aos no Masai. Mauss se prolonga em ilustrar que a sociedade que ensina o corpo e nele marca as diferenas que ela reconhece e ou estabelece: de sexo, de idade, de hierarquia social. Os corpos expressariam o que a sociedade nos corpos escreve (MAUSS, 950 apud KOFES, 1991, p.48).

Kofes (1991) cita, tambm, Clastres (1974), esse autor compreende o corpo como memria, espao e tempo, so marcados com rituais de iniciao, com os quais o jovem passa para a idade adulta, as sociedades sem escrita escreve as leis em seus corpos, sendo marcado individualmente para que no se esqueam que um membro daquela comunidade, sendo que as cicatrizes seria a escritura marcada ao seu prprio corpo. A sociedade dita suas leis aos seus membros, ela inscreve o texto da lei na superfcie do corpo. Porque a lei que funda a vida social da tribo a ningum pressuposto esquecer. (CLASTRES, 1974, apud KOFES, 1991, p.4). A autora enfatiza que cada cultura pode ser expressa em diferentes atitudes utilizando o corpo como via de linguagem, assim como os vrios estudos da Antropologia voltada a corporalidade, cita-se a cultura indgena que se envolve na pintura corporal, prpria de sua linguagem. No entanto, o corpo e a expresso cultural, visto que a cultura formada devido a variaes de corpos, em que possvel perceber as mudanas de costumes existentes em cada regio, a fim de expressar sua sociedade.

8

Neste contexto, o corpo um componente da cultura, um objeto de estudo da Antropologia, a qual afirma que hoje o corpo no apenas questo de disciplina por agir de maneira certa em seu trabalho, por ter educao ao se relacionar com as pessoas, mas encontra-se indisciplinar por haver possibilidades de agir com o corpo de maneira liberal com movimentos livres como na dana, em todas as atividades em que o corpo chamado a expressar-se. H dois aspectos fundamentais a se considerar quando se trata de pensar o corpo como objeto de estudo: primeiro, destaca-se o corpo e suas maneiras de se movimentar e expressar, o corpo como linguagem; no outro aspecto, o corpo e o cuidado que se deveria ter com sua sade devem manter suas necessidades de vivencia garantidas para toda vida. Entretanto o corpo no pode ser constitudo, apenas, pela perspectiva natural, pois este est vinculado, diretamente, pela aproximao com a sociedade que nela habita. O corpo se constri e influencia a transformao de seu comportamento em funo das adaptaes de outros comportamentos para sua melhor convivncia. Neste contexto, impossvel encontrar um corpo desvinculado da cultura, isto , um corpo livre, porque ningum sobrevive sozinho e nem tem possibilidade de evoluo da espcie sem a influncia histrico-cultural. Ao desenrolar a historia scio-cultural, possvel encontrar grandes mudanas relacionadas ao comportamento humano e a utilizao do corpo para realizaes de suas necessidades. A cultura corporal de movimento se materializa como uma rea de conhecimento que discute o corpo, a corporalidade em suas constantes transformaes. Compreende-se o corpo como linguagem e expresso e no o limitando apenas aos seus aspectos motores e biolgicos. Assim, no decorrer da histria, percebem-se diferentes manifestaes da corporalidade humana diretamente vinculada aos pensamentos de cada poca, revolues, tecnologias existentes, variaes de cultura, mudanas de regies, pases, religies, raas, costumes, entre outros. Neste sentido, pretende-se discutir a cultura corporal de movimento, para compreender e (re) significar a prtica corporal no contexto educacional.

CULTURA CORPORAL E/OU CULTURA CORPORAL DE MOVIMENTO

Segundo o coletivo de autores (1992), o estudo da corporalidade na cultura visa a esclarecer e a destacar as expresses corporais por meio de linguagem, visto

9

em movimentos ldicos e outros em que se destaca em sua vida, sendo compreendidos como conscincia social. As pessoas atribuem pensamentos diversos ao se tratar de movimentos corporais sem aprofundar diretamente se esto realizando de fato algo benfico para seu corpo, s vezes, o sujeito participa de atividades pelas quais se pensa no ter valor nenhum para seu preparo fsico e, na verdade, pode-se proporcionar ao corpo movimentos que trar benefcios fsicos e mentais como o prazer em realizar. Ao relacionar a cultura corporal s atividades realizadas nas escolas pelo pedagogo por meio ldico, possibilita maior nfase nos movimentos corporais assim como nos jogos, nas danas, nas ginsticas, entre outros. Pode-se perceber que o aluno que realiza com prazer as atividades relacionadas a esses movimentos com sua prpria vida, enfatizando em sua devida alto-estima a motivao que estabelecida. Porm, ao trabalhar com esses movimentos dentro da cultura corporal necessrio pr-estabelecer o contexto histrico do qual tudo isso surgiu, para, assim, iniciar o processo ensino-aprendizagem e, com isto, pode-se tambm mostrar as significaes por meio do desenvolvimento scio-poltico. Para transparecer nos alunos a importncia do cuidado com o meio ambiente quando se realiza atividades em reas e campos verdes promovendo a leitura das necessidades de cuidados de sua prpria realidade.Quando a criana joga, ela opera um significado de suas aes, o que a faz desenvolver sua vontade e ao mesmo tempo tornar-se consciente das suas escolhas e decises. Por isso, o jogo apresenta-se como elemento bsico para a mudana das necessidades e da conscincia (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 66).

O coletivo de autores (1992) afirma que ao se tratar de jogos, tem-se o pensamento de que algo inventado pelo homem, resultado de seu processo criativo, para se ter o prazer em realizar e obter um pequeno distanciamento mental de acontecimentos de sua prpria vida. Para os pedagogos, ao adaptar o jogo em seu plano de aula, tem-se como objetivo proporcionar aos alunos mudanas em seu cotidiano escolar para balancear as necessidades de realizao de sua matriz curricular, com o vnculo afetivo e conhecimento prvio de cada aluno, como o que ele pode se adaptar, gostar, se sentir motivado para assim vincular com outras atividades proporcionadas pelo professor.

10

Entretanto, o jogo trs para o aluno a vontade e a ao vinculada com o prazer ao realiz-la, o que promove maior afirmao em suas escolhas e decises. Porm, quando essas aes no esto bem auxiliadas e planejadas devido ao que pode vir a acontecer no decorrer do jogo como ganhar ou perder, em equipes ou individual, pode-se ocorrer grande perda do prazer em jogar. Quanto mais difceis so as regras do jogo, tanto maior a exigncia ao realiz-lo, o que muitas vezes torna o jogo tenso, de modo que de grande valia demonstrar com detalhes as regras do jogo na escola, para estabelecer o conhecimento ao pratic-lo. Porm, h jogos que as regras no so to claras, mas, mesmo assim, necessria muita ateno tambm para participar. Desse modo, os profissionais devem demonstrar aos alunos que, alm de ganhar ou perder, a alegria e a diverso devem estar em primeiro plano, j que as atitudes de participao nos jogos promovem o domnio do conhecimento, o raciocnio lgico e a determinao para alcanar seus objetivos que podem ser estimulados apenas no jogar. Assim, a aprendizagem dessa prtica poder levar a ultrapassar obstculos que os alunos vo se deparar em sua vida. Conforme o coletivo de autores (1992), na escola possvel pr-estabelecer esse vnculo do aluno com jogo e com o real, com a finalidade de perceber e reconhecer suas possibilidades de ao; facilitar sua socializao com os demais grupos como: famlia, criana, adulto, professor e outros. Os valores so demonstrados em relao convivncia com o outro, em conjunto ou individual. A evidente conscientizao faz promover os pensamentos para utilizar os jogos j existentes ou inventar outros jogos, fabricados com materiais naturais, utilizando sua criatividade. E, ao elevar seu conhecimento diante dessas possibilidades, os alunos podero relacionar o que se joga aos contedos estudados como tambm, em outra instncia, podem construir uma relao de interdisciplinaridade entre os diferentes conhecimentos.Num programa de jogos para as diversas sries, importante que os contedos dos mesmos sejam selecionados, considerando a memria ldica da comunidade em que os alunos vivem e oferecendo-lhe ainda o conhecimento dos jogos das diversas regies brasileiras e de outros pases (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 67).

Ao se tratar de esportes em geral pode se relacionar previamente ao jogo por tambm ser algo que intermedia a pr-relao ao prximo, compreenso de regras,

11

tcnicas, tticas a serem cumpridas para obter melhores resultados. Entretanto, no que se refere ao individuo, importante ressaltar a necessidade de se relacionar positivamente com o prximo. Ao praticar determinados esportes, necessrio compreender quando se joga com o companheiro e quando se joga contra o adversrio. Tendo em vista que o esporte relaciona-se diretamente cultura corporal por ser responsvel principalmente por movimentos especficos por cada esporte escolhido a ser praticado. Ao adaptar a prtica esportiva na escola, preciso resgatar e apresentar aos alunos valores que provocam o pensamento diante das atividades realizadas coletiva ou individualmente com propsito de demonstrar a importncia da solidariedade e respeito humano. A capoeira uma modalidade muito importante para relacion-la ao mbito escolar, j que proporciona aos alunos variaes de experincias motoras, interligadas a vivncias rtmicas, criativas e expressivas, o que faz a criana conhecer melhor seu prprio corpo. Nos dias atuais, a capoeira tem sido considera uma modalidade esportiva e no mais apenas como, no seu surgimento, aflorava a vontade de estabelecer a capoeira como defesa pessoal, sua nica arma seria o prprio corpo. Os escravos no sculo XVI foram transportados como animais em navios, chamados de navio negreiro, para o Brasil com intuito de trabalhar nas fazendas de cana de acar, porm eles no vieram passivamente, de modo que eles encontravam-se em situao de humilhao, a capoeira foi ensinada aos escravos ainda presos como uma dana com cantorias e msicas africanas, essa dana podia tambm se desenvolver como uma forma de resistncia.A capoeira encerra em seus movimentos a luta de emancipao do negro no Brasil escravocrata. Em seu conjunto de gestos, a capoeira expressa de forma explcita, a voz do oprimido na sua relao com o opressor. Seus gestos, hoje esportivizados e codificados em muitas escolas de capoeira, no passado significaram saudade da terra de da liberdade perdida; desejo velado de reconquista da liberdade que tinha como arma apenas o prprio corpo. (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 76).

Esta luta foi marginalizada e proibida no Brasil durante dcadas, s houve a liberao dessas prticas na dcada de 1930 quando foi reformulada repensada como um esporte e no mais uma manifestao cultural ao presidente Getlio Vargas. A capoeira foi aperfeioada na Bahia e transmitida por geraes. Assim como as danas afro, a capoeira foi devidamente reconhecida no sculo XIX, essa

12

dana foi originada com a diversidade de religies africanas, utiliza-se do corpo para expressar as manifestaes de sua cultura afro descendente. Nos dias atuais, estabeleceu-se a Lei 10.639 de 09 de janeiro de corrente ano sancionada pelo presidente Luis Incio Lula da Silva realizou mudanas na lei de Diretrizes e Bases (LDB) tornando-se obrigatrio a incluso do estudo da Histria e Cultura Afro Brasileira como objetivo resgatar a contribuio da raa negra nas reas scio/econmico, poltica e cultural no cenrio brasileiro e tambm prope que nos calendrios incluam o dia 20 de novembro como Dia Nacional da Conscincia Negra. Ao se desenvolver essa conscincia, proporciona-se maior esclarecimento dessas modalidades, alm de possibilitar maior conhecimento de seu corpo atravs da diversidade cultural. Conforme os coletivos de autores (1992), as escolas tambm podem oferecer outras formas de prtica da expresso corporal. Assim como a dana, h tambm a ginstica, prtica de exerccios fsicos que utiliza ou no aparelhos; provoca valiosas experincias corporais; enriquece as vivncias do aluno em suas prprias aes corporais; eleva o conhecimento da cultura corporal, fundamentado nas aes: saltar, trepar, balanar, equilibrar, rolar, girar. Pode-se pr-relacionar a ginstica com temas de outras culturas, com mudanas rtmicas, danas, lutas e outros. Prope-se uma forma de movimento e expresso que possa configurar uma ginstica com diferentes abordagens.Pode-se entender a ginstica como uma forma particular de exercitao onde, com ou sem uso de aparelhos, abre-se a possibilidade de atividades que provocam valiosas experincias corporais, enriquecedoras da cultura corporal das crianas, em particular, e do homem, em geral (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 77).

No que se refere aos movimentos proporcionados pela dana, isto , como representao de expresses vivida pelo homem, esta prtica faz transparecer as emoes, os sentimentos e a afetividade em vrios aspectos da vida tais como famlia, trabalho, hbitos saudveis e outros. A dana entendida como uma arte que requer um desenvolvimento e uma disponibilidade corporal. Visto que, nas escolas brasileiras, tem-se feito um resgate histrico-social da dana presente na origem cultural, seja do ndio, do branco ou negro com o objetivo despertar a construo da cidadania e identidade social.

13

necessrio tambm abordar a riqueza que se compe o trabalho com a criatividade de expresses, em que a dana proporciona aos alunos como a compreenso da corporalidade e o suporte necessrio para expressar e estimular a criao de grupos de dana, jogos, entre outros. importante estabelecer as tcnicas, habilidades, regras, necessrias para assim desenvolver essa prtica de acordo com suas necessidades e de sua comunidade, porm fundamental a preparao e orientao do professor. Com isto, abri-se o espao para o aluno ter conhecimento e se auto-organizar, pois cada indivduo possui qualidades e vontades prprias, adquire objetivos pessoais a cada modalidade escolhida. Neste contexto, entende-se a cultura corporal de movimento como uma rea do saber que discute as prticas corporais construdas historicamente, bem como sua transposio didtica, em especial, para o contexto escolar. Embora esta rea de ensino tenha sido estudada de forma mais sistematizada pela educao fsica, o pedagogo pode e deve apropriar-se de alguns elementos deste estudo, visando compreender a dimenso corporal, motora e afetiva de seus alunos. Com a finalidade de compreender melhor a complexidade que o ser humano em suas permanentes transformaes e dimenses. No possvel proporcionar o desenvolvimento cognitivo dos alunos se no compreendemos todas as faces de seu desenvolvimento. Portanto, faz-se necessrio superar a dicotomia corpo e mente, e a cultura corporal de movimento pode ser um caminho para prticas educativas que busquem a compreenso integral dos indivduos. nesta perspectiva que se aponta a dana e o jogo como prticas corporais que podem e devem fazer parte da prtica pedaggica na escola, no s como especificidade da educao fsica, mas como elemento constitutivo da prtica do pedagogo, principalmente, quando se trata da educao infantil e do ensino fundamental. Proporcionar prticas de dana e jogos de forma ldica, tornam-se condies necessrias para que os alunos possam viver sua corporalidade de forma expressiva, significativa interligando com a produo de conhecimento, seja ela nas reas da lngua portuguesa, matemtica, artes,cincias, entre outras. A dana e o jogo so modalidades expressivas e significativas na aprendizagem e desenvolvimento dos alunos, ambos necessitam de ateno, ensino e aprendizagem, conhecimentos, apropriao de regras, tcnicas, interao, entre outros. Logo, pressupe-se a ajuda de profissionais especializados, dentre eles destaca-se o professor de educao fsica e o pedagogo, para estabelecer essas

14

prticas no cotidiano escolar e beneficiar os alunos integralmente. Portanto, a discuti-se a seguir a importncia destas prticas pedaggicas.

DANA: o movimento como expresso e linguagem

Segundo Vargas (2007), a prtica do movimento corporal na escola possibilita grandes benefcios, primeiramente, porque respeita a diversidade de indivduos e formas de expresso; segundo, porque favorece movimentos espontneos, fluentes, livres que ampliam a possibilidade de dilogo corporal e integrao, isto , promove o contato social. Mas, especificamente, por se tratar da arte do movimento, a dana possibilita um encontro harmonioso e potico com o corpo, proporcionando um conhecimento equilibrado e uma maior amplitude de seu prprio crescimento atravs de novas experincias corporais, emocionais, sociais e cognitiva. A dana, ao integrar-se ao universo escolar, assume uma funo simblica de permitir ao aluno se expressar, dialogar, conhecer, apropriar de sua corporalidade; utiliza seus sentimentos, as expresses que dela se ressalta e a criatividade ao longo do desenvolvimento, sem discriminar as diferenas sociais, gostos e caminhos que cada um quer percorrer ao longo de suas vidas. Porm, a dana como prtica social e cultural no contexto escolar vem sendo pouco utilizada por falta de conhecimento, principalmente, do professor pedagogo. Vargas (2007), afirma que possvel integrar a dana nas escolas, pois alm de ser uma prtica de expresso corporal, a criana e/ou adolescente, ao se movimentar atravs do ritmo da msica, utiliza-se do corpo como meio de linguagem, realiza-se de maneira prazerosa o ato de danar e se expressar. A dana capaz de ser mediadora no processo de construo de um ser humano mais sensvel, crtico, criativo e autnomo (VARGAS, 2007, p.52). Ao se movimentar atravs de um ritmo musical, expressa-se no apenas atravs do corpo em si, mas pode-se usufrui de todas as dimenses tais como: a afetividade, a esttica, a cognio, a tica, entre outros sentimentos que envolvem o homem. A escola tem o papel essencial de possibilitar aos alunos o novo, o prazer e a vontade de participar por ser foco dessas mudanas, estimulando a cada dia a descoberta de algo em seu prprio corpo sendo com harmonia, liberdade de expresso e criatividade. A expresso corporal poderia chegar a ser um auxiliar eficaz para os docentes em seu objetivo de atingir um amadurecimento integral,

15

tento em si prprios como em seus aprendizes. (STOKE & HARF 1987, apud VARGAS, 2007, p. 53). A autora cita que as crianas sentem a necessidade de se movimentar por terem grande quantidade de energia e quando no liberada, a criana se torna presa em sua prpria vida, estaguinada, insegura, entediada. No aproveita quase nada do objetivo que se quer alcanar na escola. Atravs da dana, estudiosos e professores veem a possibilidade de um novo olhar voltado educao diria, com entusiasmo, alegria e satisfao e bem estar ao praticar a dana. Vargas (2007), ao citar os autores como Robinson (1992) e Joyce (1987), esclarece que o movimento corporal utilizado nas escolas como prtica educativa, atravs da dana, podem-se possibilitar o desenvolvimento e o crescimento psicolgicos para as crianas; proporciona-se a experimentao de diversos sentimentos, pensamentos expresses que propiciam as crianas e/ou adolescentes a refletir sobre si e sobre o mundo que o cerca.A prtica da dana nas situaes educativas buscar proporcionar condies para o desenvolvimento das funes mentais como: ateno, concentrao, imaginao, memria, raciocnio, curiosidade, observao, criatividade, explorao, entendimento qualitativo de situaes de poder de crtica, j por seu carter artstico buscar desenvolver o senso esttico, a expresso cnica, a educao do sentido rtmico e musical, a sensibilidade e a expresso artstica (VARGAS, 2007, p.59).

Ao propor a insero da dana nas escolas, no se podem pensar as expresses do corpo como objeto de movimentos tcnicos, programados, mas o trabalho com as dinmicas de meninos e meninas devem priorizar o conhecimento de prprio corpo dos alunos e instigar suas vontades de se expressar, comunicar-se para que se possa atuar, criar e recriar os movimentos com autonomia. Pode-se inclusive ampliar e (re) significar os padres sociais, a compreenso de seu prprio corpo e suas possibilidades de mudanas no cotidiano atravs dele. Tem-se visto que a dana est diretamente relacionada aos movimentos corporais e com isso lida com as emoes existentes no corpo. Atravs da dana, podem-se transparecer os movimentos em relao ao sentimento comparado expresso de um instante como um salto de alegria, como contorcer-se ao sentir dor, tremer de medo. As expresses mais especficas acontecem de maneira rpida ou lenta, mas, na maioria das vezes, ocorrem inconsciente assim como as expresses faciais, os movimentos nas mos ou de partes isoladas do corpo. Assim,

16

exercita-se, tambm, a mente ao realizar esses mnimos movimentos mesmo os movimentos mais bruscos. A autora define a dana como uma atividade artstica que utiliza o corpo e tem os movimentos como o instrumento primordial. E, ao definir a dana, preciso que se fale dos ritmos que dela se necessita para melhor se expressar. No entanto, o ritmo pode vir de vrias formas assim como da natureza com os sons dos movimentos das ondas, ventos com estaes do ano e outros; os ritmos biolgicos como a batida do corao, gstricos, entre outros. O ritmo musical, o canto,

possibilita maior nfase nos movimentos em que dana trabalhada de acordo com o tempo de forma especifica e intencional, assim, pode-se captar as variaes de gestos e velocidade no decorrer da msica escolhida. Som e movimento sempre estiveram unidos e ao primeiro atribuda a qualidade geradora do outro, atravs dos impulsos naturais do indivduo. (MORATO, 1986, p.29 apud VARGAS, 2007, p.67). O uso da tcnica vem sendo questionada no ensino da dana, principalmente no ambiente escolar, a dana pode se utilizar de tcnicas para se organizar e se realizar, porm, ao se estabelecer essa tcnica, tem-se como referncia apenas uma maneira especfica de organizar os movimentos. Contudo, preciso investigar da melhor forma para aplicar a tcnica no desvinculada da interao e experincias de vida no ambiente escolar. interessante obter as tcnicas particulares de acordo com as necessidades de se praticar esses movimentos para proporcionar o mesmo prazer ao realiz-los. Segundo Vargas (2007), nas escolas, recomenda-se a dana natural por ser mais criativa e oferecer a participao direta dos alunos ao montar as coreografias j com o intermdio de sua personalidade ou expresso de suas vivncias, o que melhora significativamente na formao desses aprendizes. Visto que tais manifestaes utilizam de emoes provocadas para se ter o resultado que se espera da dana, uma espcie de comunicao com o mundo. As palavras e os movimentos so duas fontes da comunicao e a autora afirma que as expresses do corpo se manifestam de forma mais clara do que, muitas vezes, as prprias palavras, porque os movimentos nunca mentem, necessita-se trabalhar as duas formas de comunicao nas escolas. Vargas (2007) ressalta que quando se d oportunidade de expresso aos alunos, proporciona-lhes a liberdade de expandir a criatividade associada ao

17

desenvolvimento e ao processo de aprendizagem por redefinir situaes que dela j se viveu ou, por ir busca do novo, com associaes diversas, a fim de utilizar sua mente produtivamente e descobrir o que se julgava no conseguir em funo das novas potencialidades quando se podem alcanar resultados imprevisveis.Em um processo de criao, os praticantes devem ser estimulados a improvisar livremente, utilizando-se da sensibilidade, liberando-se das fronteiras imaginrias que muitas vezes no se atrevem a transpor, aproveitando surpresas e sugestes que surgem no trabalho, acomodando e desacomodando seus corpos. (VARGAS, 2007, p.73).

A expresso sobre a forma de movimentos como a dana tem muitas contribuies positivas aos alunos: primeiramente ressalta-se a necessidade de se movimentar, de forma espontnea e criativa; segundo, por relacionar-se com o prximo de forma afetiva, harmoniosa para assim criar novos movimentos na dana. A inter-relao professor-aluno, bem como a ampliao das relaes sociais contribui de forma significativa para a formao do sujeito. O vinculo entre

professoraluno importante para que realize o que se prope, de forma positiva e pode-se at descobrir juntos a melhor forma de praticar tal movimento, porm essas aes necessitam do auxlio do professor para que haja interao e seriedade ao realiz-las. Vargas (2007), afirma que assim como o estudo de outros contedos, importante que o professor tenha um autoconhecimento para inserir aos alunos algo renovador assim como a dana, j que se trata de um estudo de seu corpo e de movimentos corporais atravs de contedos e temas para ampliar o conhecimento. O professor deve estar bem preparado tambm, no que se refere ao conhecimento de seu corpo, mostrar a gestualidade, a postura e os movimentos trabalhados, transparecendo segurana no que se tem a propor. Os professores tm o papel de incentivar e integrar os alunos ao que se prope, de modo que necessrio planejar as aulas cuidados, porque todos os alunos possuem personalidade, gostos e etnias diferenciadas, eles obtm uma viso critica e insegura a cerca da renovao. Porm, a experincia a cerca dos movimentos e o conhecimento em plenitude so fatores relevantes para o que se pretende alcanar em relao dana. Por outro lado, estabelece-se a interdisciplinaridade com a juno das prticas que envolvem contedos diversos para obter melhor compreenso dos mesmos pelos alunos, utilizando-se de mtodos

18

para incentivar e deixar que os alunos elevem sua vontade de criar e recriar atravs da dana.Sabemos que na escola a apresentao de dana um dos feitos que mais agrada no somente aos participantes, mas tambm aos demais professores e professoras, colegas, amigos e familiares das crianas e adolescentes. Quase sempre nas comemoraes escolares h espetculos envolvendo os alunos e alunas da aula de dana, sendo um momento de muita satisfao para toda comunidade escolar. Ver o que se pode realizar com recursos prprios normalmente motivo de orgulho para todos. (VARGAS, 2007, p.78).

Vargas (2007), afirma que para se compor uma apresentao de dana, a participao envolve toda a comunidade escolar assim como os professores, os alunos, mesmo os que no queiram participar da coreografia. At os pais de alunos se envolvem nestas apresentaes como alguma habilidade especfica para formar o cenrio, organizar os lugares adequados dos danarinos e da platia, confeccionar o figurino e vrios outros itens necessrios para uma melhor apresentao. Contudo, afirma-se que ao apresentar atividades ldicas no ambiente escolar agrada no somente os alunos e os professores, mas tambm toda comunidade. Participar e interagir por meio desta arte do movimento, especialmente no ambiente escolar, configura-se um momento de renovaes de conhecimento e experincias e aprendizagem de todos.

JOGO COMO PRTICA CULTURAL

A influncia da prtica do jogo relacionado na cultura corporal dentro do mbito escolar est diretamente ligada a percepo do ser humano por inteiro, pois na sua prtica todas as dimenses se fazem presente: a cognio, a corporalidade, a afetividade, a esttica, o social, a poltica, a tica. Atravs do jogo pode se imaginar infinitas prticas j existentes, bem como o criar e (re) criar, para qualquer faixa etria de idade e diferentes gostos. Pode-se instigar o imaginrio em jogos de faz de contas, o raciocnio lgico em jogos como o xadrez e uma partida de futebol onde se utiliza os movimentos corporais e o raciocnio para planejar estratgias para a possibilidade de ganho.

19

Tentar definir o jogo no uma tarefa fcil. Quando se pronuncia a palavra jogo cada um pode entend-la de modo diferente. Pode-se estar falando de jogos polticos, de adultos, crianas, animais ou amarelinha, xadrez, adivinhas, contar estrias, brincar de mame e filhinha, futebol, domin, quebra-cabea, construir barquinho, brincar na ateia e uma infinidade de outros. Tais jogos, embora recebam a mesma denominao, tm suas especificidades. (KISHIMOTO, 2009, p.13).

Segundo Kishimoto (2009), o ato de jogar implica em definir a perspectiva de classe social e de culturas diferenciadas conforme os jogos so executados e contextualizados na forma pela qual so inseridos nas comunidades por meio das experincias vividas assim como o jogo de arco e flecha, quando inserido nas tribos indgenas significa treinar as crianas para sua prpria maturidade e sobrevivncia, pela caa para sua alimentao. J em outros ambientes onde no se necessita necessariamente da caa, o mesmo jogo , apenas, um simples ato de jogar. Entende-se o jogo enquanto fator social que assume a imagem em que cada sociedade lhe atribui e h diferenciaes pelo modo como so produzidos diante de cada atitude, pois depende do lugar e da poca em que os jogos so propostos, assumindo significados distintos. Kishimoto (2009) afirma que o ato de jogar quando o pblico alvo o infantil, as crianas se fazem com o intuito de brincar de se divertir, sem pensar no efeito ou resultado final, porm quando esses jogos so inseridos em sala de aula o alvo seria estabelecer aos alunos a devida compreenso a cerca do jogo escolhido. No se deve priorizar escolha dos alunos, mas sim o efeito que essa prtica pode desenvolver nos participantes. Pode-se afirmar que quando se oferece a oportunidade de escolha aos alunos torna-se o ato de jogar no muito produtivo, seria apenas um ensino, um trabalho executado aos alunos. Bomtempo (2009) ao citar Freud (1976), Piaget (1971), Luria (1932) e Vygotsky (1984) afirma que o jogo de fantasia possibilita observar claramente os sonhos e imaginaes em sua fase adulta enfatizando o faz-de-conta, incluindo a concentrao das crianas ao construir algum brinquedo de peas ou montar um quebra cabea. Quando brinca, a criana assimila o mundo sua maneira, sem compromisso com a realidade, pois sua interao com o objeto no depende da natureza do objeto, mas da funo que a criana lhe atribui. (PIAGET, 1971, apud BOMTEMPO, 2009, p. 59). Piaget cita tambm o jogo simblico que muito usado pelas crianas por utilizar a imaginao a cerca da brincadeira, pois o jogo simblico quando uma

20

criana lhe atribui diferenas de significado diante do objeto, de modo que um pedao de madeira se torna um cavalinho ou quando se assume um papel para ele importante ao seu convvio como se classificar a me, ou o pai, o mdico, policial e outros. J Vigotsky (1894 apud BOMTEMPO, 2009), afirma que os jogos e brincadeiras que a criana utiliza dependem da faixa etria de idade, pois um brinquedo que serve para um beb no tem interesse para uma criana de mais idade, isso se configura com o amadurecimento das poucas experincias j vividas. Entretanto, cita tambm que a criana usa muito do imaginrio por desejar ser algo que de imediato no tem possibilidade de se realizar assim como ser a me algo que precisar muitos anos para acontecer, logo, ela cria sua prpria histria para ser a me de algum brinquedo, criando um mundo prprio. de grande valia o ato de jogar e brincar para o desenvolvimento da criana, quando se estabelece uma base a cerca do real e do imaginrio utilizando-se de seu corpo para aes comandadas pela mente. As distines entre a imaginao e a compreenso do real ocorrero de acordo com as experincias vividas.

Os jogos infantis: apropriao cultural

Segundo Kishimoto (1993), o jogo tradicional infantil oferece a possibilidade de novas criaes de acordo com suas experincias, motivaes e dinamizao do cotidiano e inter-relao social. No Brasil, houve a mistura de trs raas, a vermelha, a negra na raa branca, com isso ocorreu-se a mistura de culturas e com essa miscigenao houve mudanas em vrios aspectos j existentes, modificou-se at o folclore. Pode-se retirar dessa tradio, veiculada aos jogos infantis, tem-se o exemplo da pipa que, no sculo 206 a.C., j existia na China, sendo que o imperador fazia medies do campo onde se instalava as pipas e no castelo servia para comunicar aos aliados a posio e o pedido de ajuda. At hoje em pleno sculo XXI, joga-se pipa ou o chamado papagaio, depende-se de qual regio esse jogo citado, ocorrem distintas denominaes como em Portugal se chamada de estrela, raia, arraia, papagaio bacalhau, gaivoto; no Brasil, chamada de papagaio, curica, pipa, cafifa, pandorga, arraia, quadrado e raia. Os portugueses trouxeram o papagaio do Oriente, Japo e China, onde popular, em todas as classes sociais, desde remotssimo tempo. (KISHIMOTO, 1993, p.19).

21

H jogos estimulados pela lenda dos contos do Folclore assim como o bicho papo, as histrias de bruxas contadas geralmente por pessoas mais velhas para as crianas em que se estimulou o ato de inventar jogos assim como os de pique que, iniciaram nos anos de 1979, eram praticadas por grupos de crianas de cinco a dez anos. Uma criana escolhida para ser a bruxa e, ao contar de vinte a trinta, os outros participantes devem correr, se pego pela bruxa automaticamente se tornar bruxa apenas com um mgico toque, logo este ser o prximo a pegar os outros. Este jogo de pique se encontra nos dias atuais e pode se afirmar que existem vrios movimentos corporais envolvidos como no ato de correr e o uso do raciocnio lgico para fazer estratgias na escolha de irem em direo ao mais prximo para peg-lo. Kishimoto (1993), afirma que a maioria de jogos tradicionais mais conhecidos foram os primeiros portugueses que trouxeram para o Brasil, os jogos de amarelinha, bolinha de gude, jogos de boto, pio e outros. Cita o jogo do pio foi trazido pelos brancos e feito de madeira com uma ponta de prego, era uma atividade recreativa.Tudo indica que os portugueses divulgaram este jogo nos primeiros tempos da colonizao brasileira. A existncia do pio em Portugal, em tempos passados, e confirmada por Tefilo Braga, no cancioneiro de Resende e nas ordenaes Afonsinas que cita, entre alguns jogos de sociedade do sculo XV, o pio. (KISHIMOTO, 1993, p.25).

O Brasil recebeu influncia dos negros africanos em todos os setores: do econmico, cultural e social, a partir da chegada de escravos para trabalho em canade-acar, era direcionado a cada senhor de engenho que pudesse ter 120 escravos, para substituir o trabalho dos ndios. Com estimativa de aproximadamente cinco milhes de negros africanos no Brasil, a miscigenao redefiniu a cultura, pois os negros tiveram anos de contato direto e sofreram influencias de Paris e Londres. Pode-se afirmar que existem brinquedos universais, pois se encontra em vrias culturas e situao social como a bola, arminhas de simulao a caa, dana de roda, lutas corporais e outros presente a dcadas imemoriais. Em vrias culturas pode tambm se observar a fabricao de jogos com elementos naturais assim como a arminha de casca de bananeira, em que se faz incises no talo e deixa fragmentado na base, ao pegar faz barulhos simulando o tiro de espingarda, foi criado em 1825 porm podendo ser visto at hoje na frica.

22

A autora, no decorrer de suas anlises, cita os jogos criados em sua grande maioria por crianas que vivem no campo, jogos pelos quais sugere a violncia infantil assim como o jogo de beliscar, de matar passarinhos, geralmente praticado por adolescentes que gostam de mostrar valentia e at a torturar ao colega ou matar animais. Percebe-se a falta de instrues e o desleixo por parte destes que causam a dor ao prximo com as toscas brincadeiras. Esta prtica acontece com relao ao desenvolvimento etrio da criana com idade pr-escolar utilizando de violncia e destruio como forma de mostrar tticas de um bom jogador. Destaca-se tambm entres os jogos citados os que so inventados pelos fatos hericos ou no, valores e ocasies que passaram na poca da escravido. Esses jogos so origem nacional manifestados no folclore infantil, com o nome amarra-Negra, capito-de-mato, escolhe-se um menino que se distancia do grupo e se esconde fora de vista de todos para da lhes um sinal que significa que podem ir procur-lo, esse sinal e o grito capito-de-mato-amarra-negra!e todos correm a sua procura, basta da um toque para que seja substitudo e recomea-se a brincadeira. Entretanto, este tipo de jogo proporciona a socializao de todos, para cultivar a cultura infantil necessria a cada um, pois cada um se dispe de expresses diferenciadas e, ao brincar com o jogo que no fez parte de vivncias, oferece-se por meio do convvio mais uma aprendizagem. Kishimoto (1993), ao citar diferentes culturas e suas prticas de jogos infantis, enfatiza a cultura indgena que utiliza diversificadas vivncias em seu cotidiano, como de sobrevivncia para treinar ou de denominar a tarefa educativa para seu prprio convvio. Seus jogos de pequenos arcos e flechas para a caa de animais e peixes, so realizados apenas por meninos que acompanham seus pais, j meninas ficam com as mes ajudam a colher razes, o preparo de alimentos e o cuidado com o irmo mais novo, eles podem utilizar de prticas adultas assim como amarrar com um pano seu irmo nos ombros, gostam de imitar os animais com intuito de reconhec-lo obtendo reflexos de smbolos e outros. Porm, observam-se outros jogos assim como o chamado cama de gato em que se utiliza apenas fios que se enroscam nos dedos e necessita-se de uma outra pessoa para ultrapassar os fios para outros dedos, formando outro desenho. O jogo da peteca, que tem a origem indgena, proveniente de tribos tupis do Brasil, confeccionada em palha de milho ou areia, serragem achatada e enfia-se as penas, que servem como bolas sendo jogada de um lodo para o outro. O jogo do Gavio

23

formado por uma fila grande com meninos e meninas, escolhe-se o menino maior para ser o Gavio, coloca-se diante da fila e grita tenho fome, logo o primeiro da fila estende a perna e pergunta: Quer isso? e ele contesta, at que chegue o final da fila ele diz: Sim, e ento trata-se de pegar o menino que corre sem direo, os demais tentam impedir e faz outra fila, se o Gavio no consegue pegar o menino ai comea de novo, se consegue, leva triunfantemente o cativo para o lugar que seu ninho, e procede o jogo ate que o ltimo tenha sido pego. Desse modo, citam-se diversos outros jogos utilizados em tribos indgenas assim como Jaguar, peixe pacu, Jacami, dos patos marreca, do casamento e outros. Estas prticas so inventadas por crianas e adultos indgenas. Ao relatar as prticas de jogo em diversas culturas, podese perceber que de toda forma foi possvel observar as expresses corporais de variados jogos e estilos, porm prioriza-se a nfase na cultura corporal. Visto que em variaes de idades, classe social, raa e culturas se podem perceber prticas que os traz benefcios e prazer em realiz-las. Com a realizao e valorizao destes jogos na escola os jogos africanos, portugueses e indgenas nota-se que os alunos vivem e precisam ter conscincia, tanto do ponto de vista do professor, quanto do aluno, de que os jogos como j mencionado, enquanto elemento da cultura corporal, possibilita a vivncia de diferentes forma de ser, agir, conhecer a histria, refletir sobre o mundo e sobre si mesmo. Os jogos, compreendidos como cultura, transmitem uma histria, bem como diversificam possibilidade de viver sua corporalidade. Ao brincar aprendem-se conceitos e resignifica o seu tempo, bem como sua compleio motora, em que o corpo pode expressar diferentes formas, padres, valores esttico, ser livre e criativo. Neste sentido, o jogo se torna importante recurso para a aprendizagem, pois possibilita uma relao mais harmnica entre corpo e mente, apropria-se de diversas formas de brincar e muitos jogos so resgatados pelos ancestrais. Portanto de extrema relevncia que os pedagogos possam valorizar estas prticas, no cotidiano de seu fazer pedaggico, tanto por estes seres ricos mediadores entre a criana e o mundo, entre a criana e sua motricidade.

24

CONSIDERAES FINAIS

A apropriao e conhecimento corpo atravs das diferentes expresses da cultura corporal de movimento, em especial da dana e jogos no cotidiano escolar, promove a valorizao da alto-estima, a percepo de si e do outro, bem como a melhoria da capacidade de expresso e comunicao. Transformando a vida de profissionais da educao, em especial dos pedagogos e dos alunos, pois tais prticas permitem a criatividade, participao, investigao, pesquisa, autoconhecimento, conhecendo singularmente seu corpo, suas vontades e limites ao participar. No contexto escolar, as experincias de movimentos podem proporcionar o conhecimento a cerca de seu prprio corpo e as diversidades culturais atravs de estudos tericos e prticos organizados pelo professor aumentando a compreenso, a valorizao e conscincia diante das diferenas de costumes, hbitos, raas, religies e etnias. As prticas que envolvem o movimento corporal, como a dana e o jogo, inseridas no cotidiano escolar podem ampliar o poder de crtica dos alunos, pois os torna mais autnomos. Visto que ao participar essas modalidades os alunos buscam novos conhecimentos, seja em suas vidas seja na escola, como por exemplo: o uso de tticas de jogos, a utilizao de alguma informao inserida no jogo, temas ou tticas e ao participar de aulas, apresentaes de dana, pesquisas, busca-se tcnicas, a livre expresso, a utilizao das msicas como temas, sentimentos, que se quer transmitir, discusses, provocaes, entre outros. Portanto, percebe-se a importncia de colocar em prtica o conhecimento que envolve a corporalidade no ambiente escolar, atravs de movimentos especficos ou espontneos. Essas prticas modificam o cotidiano dos alunos, alterando e ampliando seu conhecimento a cerca de novas culturas e modifica-se a interao de seu eu atravs de realizaes de movimentos e a conscincia plena das necessidades vinculadas pelo corpo para que tenha uma vida saudvel e apta a novos conhecimentos.

25

ABSTRACT: This article emphasizes the study of body culture, and its contributions, and to insert it at school, by games and dance. Allowing the child to develop knowledge about their own body. So this study is organized bibliographically aiming to equip the teacher and educator in appropriation and utilization of elements from body culture and body movement in his teaching. By expanding the usage of activities across fun games and dances at the school, the students realize enlargements of knowledge and understanding in regards to perception, creativity, socializing, criticism, participations and involvement. By considering the importance for classroom practices that the search for reinventing the school is that this study does suggest that is significant. Keywords: Body Culture. Dance. Games.

REFERNCIAS

COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de educao fsica. So Paulo: Cortez,1992.

DALIO, Jocimar. Da cultura do corpo. Campinas, SP: Papirus, 1995.

KISHIMOTO, Tizuki Morchida. O jogo, a criana e a educao. Petrpolis, RJ: Vozes, 1993.

______. (org.) Jogo, brinquedo, brincadeira e a educao. 12. ed. So Paulo: Cortez, 2009.

REVISTGTA-PR SAUDE, VEICULO DE COMUNICAO CIENTIFICA. v. I, n. 14 Curitiba, 2002.

VARGAS, Lisete Arnizaur Machado de. Escola em dana movimento, expresso e arte. Porto Alegre: Madiao, 2007.