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    Fernandes, Carlos RobertoIntroduo Cincia do Cuidado. Srie Cincia do Cuidado

    volume 1/Carlos RobertoFernandes. Belo Horizonte, 2006.

    1. Fundamentos de Enfermagem 2.Cincia do Cuidado3.Cuidado de Enfermagem 4. Cincia da Enfermagem 5. Enfermagem I.Fernandes, Carlos Roberto.

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    SUMRIO

    Sumrio, 7Introduo, 9

    PRIMEIRA SEO HERMENUTICA DO CUIDADOPARTE 1 DOS SABERES SOBRE CORPO NA ENFERMAGEM CINCIA DO CUIDADOA ESTUDOS PRELIMINARES, 33Aprofundamento de Aprendizagem, 45

    B INTRODUO CRTICA DA RAZO HISTRICA DAENFERMAGEM, 48

    B.1 A SITUAO DA ENFERMAGEM BRASILEIRA, 48B.2 CONTROVRSIAS E DISSENSOS, 53B.3 FORMAO DO CONCEITO ENFERMAGEM, 66B.3.1 A PALAVRA ENFERMAGEM, 68B.3.2 AS CONCEPES DE ENFERMAGEM, 73B.3.3 O CONCEITO ENFERMAGEM, 78B.3.4 TIPOS DE ENFERMAGEM, 82B.3.5 TIPOS DE ENFERMAGEM SEGUNDO CENRIOS TERAPUTICOS, 96

    B.3.6 TIPOS DE ENFERMAGEM SEGUNDO CONCEITOS DE ENFERMAGEM, 109B.3.7 DEFINIO DO CONCEITO ENFERMAGEM, 124B.3.8 - DEFINIO DE CINCIA DA ENFERMAGEM, 131Aprofundamento de Aprendizagem, 133B.4 FORMAO DO CONCEITO CUIDADO, 136B.4.1 CONTROVRSIAS E DISSENSOS SOBRE CUIDADO E CUIDADO DE ENFERMAGEM, 137B.5 DEFINIO DO CONCEITO CUIDADO, 143B.5.1 A PALAVRA CUIDADO, 143B.5.2 A PALAVRA CUIDAR, 144B.5.3 AS CONCEPES DE CUIDADO, 147B.5.4 AS CONCEPES DE CUIDAR, 151B.5.5 TIPOS DE CUIDADO, 152B.5.6 TEORIAS DO CUIDADO, 161B.5.7 O CONCEITO CUIDADO, 173

    B.5.8 O CONCEITO CUIDAR, 180B.5.9 DEFINIO DO CONCEITO CUIDADO, 185B.5.10- ASSISTIR E ASSISTNCIA DE ENFERMAGEM, 187B.6 DEFINIO DO CONCEITO CUIDAR, 193B.6 DEFINIO DO CONCEITO CINCIA DO CUIDADO, 193Aprofundamento de Aprendizagem, 195

    SEGUNDA SEO CLASSIFICAO DA CINCIA DO CUIDADOPARTE 2 SUBCAMPOS PARTICULARES E ESPECIAIS DA CINCIA DO CUIDADOA CLASSIFICAO DAS CINCIAS, 198B SUBCAMPOS DA CINCIA DO CUIDADO, 202B.1 SUBCAMPOS ESPECIAIS, 202B.2 SUBCAMPOS PARTICULARES, 229Aprofundamento de Aprendizagem, 260

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS, 262APNDICE 1 CONCEPES DE ENFERMAGEM, 281APNDICE 2 O SISTEMA DE DILTHEY

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    Introduo

    Introduo Cincia do Cuidado o desdobramento e aprofundamento das tendncias eperspectivas epistemolgicas apresentadas em minha Dissertao; como tal, o seu textodirige-se a alun@s,1 profissionais e pesquisador@s para o trabalho em sala-de-aula ou

    aprofundamentos e desenvolvimentos tericos em pesquisa bsica nas reas de Introduo Enfermagem, Histria da Enfermagem, Bases conceituais e filosficas do cuidado,Fundamentos Tericos da Enfermagem, Fundamentos Terico-Filosficos do Cuidado, Filosofiade Enfermagem, Pedagogia do Cuidado, Semiologia e Semiotcnica, Administrao dos Serviosde Enfermagem, Metodologia da Prtica de Enfermagem. De igual modo, professor@s demetodologia cientfica e metodologia da pesquisa em sade podero utiliz-lo sobretudo parademonstrar aos alunos como se constri conhecimento e se forma saber cientfico, alm deexplicitar mais uma das diferentes formas de apresentao dos conhecimentos cientficosconstrudos e dos saberes cientficos formados. Essa diferena entre conhecimento e saber proposital e ao longo deste trabalho ficar evidente.

    A indicao para aplicao da obra na graduao extensiva ps-graduao lato sensu e

    strictu sensu- procede do fato de que eu mesmo tenho realizado este trabalho no exercciodocente, inclusive como fonte referencial para trabalhos acadmicos, particularmente na reade Metodologia Cientfica onde os textos so usados para exemplificar as bases do processopesquisante e de formao da racionalidade cientfica.

    A composio desta escritura seguiu um itinerrio acadmico, assim resumido:

    De setembro de 2003 a junho de 2004, assumindo a disciplina Introduo Enfermagem,numa Instituio de Ensino Superior, no Estado do Tocantins, transformei minha Dissertaoem alguns artigos inditos para apresentao e discusso sobre a histria do conhecimento eda enfermagem no Brasil; da mesma forma, aos alunos do 1o, 2o e 4o. perodos do curso degraduao em enfermagem e nas respectivas reas de Metodologia, Didtica e Enfermagem

    Comunitria foram distribudos juntos queles artigos vrios textos publicados por outr@spesquisador@s em peridicos nacionais cujo foco era a anlise e a reflexo sobre oconhecimento na enfermagem; outra experincia de sala-de-aula foi a incluso e discusso devrias proposies terico-metodolgicas desse trabalho quando lecionei, noutra Instituio,as disciplinas de Bases conceituais e filosficas do cuidar e Semiologia e Semiotcnica deEnfermagem; ainda outra experincia a distribuio e discusso parcial das mesmasproposies, numa terceira Instituio, nas reas de Metodologia da Prtica de Enfermagem,Administrao dos Servios de Enfermagem e Sade da Mulher. E por isso que este trabalhonasceu, em parte, na sala-de-aula e em diferentes Instituies de Ensino Superior dediferentes regies do Brasil numa tentativa de densificao dos contedos oferecidosparticularmente na rea de Introduo e Histria da Enfermagem, afastando-se das estritas

    histrias de enfermeiras e enfermeiros ou de instituies para estimular a formao e odesenvolvimento do esprito cientfico d@s alun@s.

    Paralelamente ao trabalho docente, escrevi a obra indita Propedutica: introduo Cinciado Cuidado, registrada na Fundao Biblioteca Nacional: este registro protege-me quanto literalidade dos textos trabalhados em sala-de-aula, refundidos para a apresentao emeventos cientficos nacionais e agora ampliados para edio dessa obra. De igual modo,apresentei alguns dos desdobramentos da mesma Dissertao e a prpria obra citada emSimpsio, Seminrio, Congresso Nacionais e Colquio Internacional: no 7 o. Simpsio Nacional de

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    Diagnsticos de Enfermagem, realizado em Belo Horizonte Minas Gerais, de 29 de maio a 01de junho de 2004, apresentei o trabalho Propedutica: uma introduo Cincia do Cuidado; no8o. Seminrio Nacional de Diretrizes para a Educao em Enfermagem, realizado em Vitria Esprito Santo, de 31 de agosto a 04 de setembro de 2004, apresentei o trabalhoFundamentos da Cincia do Cuidado: da educao em enfermagem para a educao de

    enfermagem; no 13o. Seminrio Nacional de Pesquisa em Enfermagem, realizado em So Lus Maranho, de 14 a 17 de junho de 2005, apresentei a verso do presente trabalho sob o ttulode Concepes de corpo na enfermagem: advento da Nova Enfermagem e da Cincia doCuidado; no 3o. Congresso Brasileiro de Cincias Sociais e Humanas em Sade, realizado emSanta Catarina Florianpolis, de 09 a 13 de julho de 2005, apresentei as bases destetrabalho sob o ttulo de As concepes de corpo na Enfermagem e o advento da Cincia doCuidado; no 2o. Colquio latinoamericano de Histria da Enfermagem, realizado no Rio deJaneiro, de 12 a 15 de setembro de 2005, apresentei a proposio de dois subcampos daCincia do Cuidado Historstica, para estudos de Filosofia Crtica da Histria da Arte deCuidado, e Antropologia do Cuidado, para estudos de Antropologia Histrica da Arte deCuidado; os trabalhos de pesquisa esto nos Anais do Colquio referido sob os ttulos

    respectivos de A formao de um paradigma de pensamento histrico para estudo da arte ecincia do cuidado na Amrica Latina e Bases tericas da antropologia do cuidado ou dahistria e historiografia da arte de cuidado no Brasil; no 57o. Congresso Brasileiro deEnfermagem, realizado em Goinia, de 3 a 7 de novembro de 2005, apresentei novossubcampos e subreas da Cincia do Cuidado, alm das anteriores citadas. Neste ltimoCongresso, os resumos dos trabalhos constam em seu Anais sob o ttulo A Enfermagemsuperando a Enfermageme Movimento Nightingaleano para uma Cincia do Cuidado.

    Alm do propsito de socializao dos saberes decorrentes de uma Dissertao e trabalhados,em certa medida, com alun@s de graduao, a participao nos Simpsio, Seminrios,Congresso e Colquio teve o objetivo de discutir com outr@s professor@s o campo da

    enfermagem inserido na Histria e Filosofia das Cincias; sobretudo, porque introduzi naenfermagem o dilogo com o Sistema de Dilthey pretendendo subsidiar o processo deressignificao e recontextualizao da enfermagem brasileira, restrita utilizao dosconhecimentos de outras reas epistmicas para averbao de sua prtica: com aquelapretenso, a obra Introduo Cincia do Cuidado, novamente refundida mas sem alterar osfundamentos anteriormente divulgados, conseqncia de pesquisa bsica em seusdesdobramentos, alterando o estatuto epistemolgico da prpria Enfermagem Moderna.

    Com uma concepo histrico-historista de mundo,2 tenho a pretenso de apresentar oprocesso de formao e o programa de desenvolvimento da Cincia do Cuidado, desdobrado dasproposies da pesquisa de mestrado, na qual se anunciam: primeiro, o fim da EnfermagemModerna (*1860 ou 1922 - t1982), consolidado em suas crises histrico-epistemolgicas;

    segundo, o advento da Nova Enfermagem, em formao no Brasil desde 1982; terceiro, aformao de um novo campo epistmico aqui apresentado sob o nome de Cincia do Cuidado.

    Na consecuo do objetivo pretendido, divido esta escritura em duas sees para umareleitura de declaraes no sistematizadas dos seus declarantes, apresentando exaustivas edissensuais referncias bibliogrficas para uso em sala-de-aula, tanto na graduao quanto naps-graduao em enfermagem, a fim de que @s docentes introduzam discusses sobrerupturas, continuidades, evolues, involues e revolues epistemolgicas no campo terico-

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    metodolgico da Enfermagem: a ousadia est na releitura, na aproximao com uma pedagogiado conflito e do dissenso, no dilogo com a Hermenutica Pedaggica e HermenuticaFilosfica fundadas por Friedrich Daniel Ernst Schleiermacher (1768-1834), nas proposies aela conseqentes e no dilogo com a racionalidade hermenutica, luz do Sistema de Dilthey.

    Meu mrito o de compaginar e codificar parte do que @s terapeutas do cuidado tmproduzido dispersamente.

    A Primeira Seo, Hermenutica e Cincia do Cuidado, um incentivo s releituras histrico-crticas e possibilidade de acompanhar a formao de um novo campo epistmico a partir doesgotamento de outro.

    A Segunda Seo apresenta um quadro dos subcampos particulares e especiais da Cincia doCuidado, abrindo possibilidades futuras de pesquisa, educao e trabalho centrados nocuidado, desenvolvidos por terapeutas do cuidado: tais subcampos no so construes degabinete, mas proposies de reas especficas de estudo, de pesquisa e de trabalhosistematizadas a partir de toda a produo de conhecimento de enfermagem j publicada edispersa em catalogveis reas temticas.

    Ao final de cada item da Primeira Seo e ao final de toda a Segunda Seo sugere-seAprofundamento da Aprendizagem com as seguintes propostas: destaque dos conceitos novos,dos conceitos revisados e dos conceitos problematizados em cada item; exerccios de fixaopara subsidiar a apropriao d@ leitor ou leitora dos conceitos apresentados; questespropostas para reafirmao de idias e conceitos apresentados; exerccios de pesquisa paraabordagem de temas e aprofundamentos de itens ou idias apresentadas.

    Em seu conjunto, repito, Introduo um trabalho codificador e recodificador e, como tal,uma obra de sistematizao, ainda que relativa, do estado da arte da direo dosconhecimentos da Enfermagem Moderna e uma programao para a produo de saberes esistematizao da Nova Enfermagem e da Cincia do Cuidado. Se se quiser, todo meu trabalhoest na rea de Enfermagem Fundamental.Por ser introduo, os estudos aqui apresentados so estudos propeduticos .Nesse sentido, oconjunto de textos aqui apresentados so prolegmenos, introduo, preliminares para aCincia do Cuidado.

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    NOTAS EXPLICATIVAS1O smbolo @ usado nesta escritura para significar tanto o artigo definido masculino quantoo artigo definido feminino o e a.2 Todo o meu pensamento procede da Tradio Histrico-Historista iniciada com a CinciaNova de Giambattista Vico e culminando com a Escola Histrica Alem representada porGuillermo Dilthey.

    Historismo no deve ser confundido com Historicismo. Os termos historicista, historicismoforam divulgados mundialmente por Karl Popper; entretanto, na Alemanha o termo usado Historismo para se contrapor forma tradicional de conceber e fazer histria.

    A "misria do historicismo", de base naturalista e evolucionista no pensamento de Carlos Marx,Osvaldo Spengler, Arnoldo Toynbee, Augusto Comte no se aplicam ao Historismo.Contrariamente ao historicismo e sua miserabilidade, os termos historista e historismo

    remotam ao pensamento de Johann Gottfried Herder, Guillermo Dilthey, George Simmel,Guillermo Windelband, Enrique Rickert. (REIS, 2003)

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    Primeira Seo

    Hermenutica e Cincia do Cuidado

    PARTE 1

    DOS SABERES SOBRE CORPO NA ENFERMAGEM CINCIADO CUIDADO

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    A ESTUDOS PRELIMINARES

    Para a consolidao de uma cincia ou campo epistmicoconceitos precisam ser historicamentedelimitados, ressignificados, formados; da, o conjunto deste trabalho uma contnua revisohistrico-analtico-crtica para apresentao a posteriori dos fundamentos da Cincia do

    Cuidado. A reviso imprescindvel e constitui os prolegmenos daquela fundamentao. Nessecontexto, Propedutica sempre um conjunto de estudos antecipatrios e de conceitosimprescindveis para dar acesso a (e estimular) estudos mais amplos e aprofundados,necessrios para estabelecer os fundamentos de um campo epistmico; por isso mesmo prolegmeno, introduo de uma cincia, cincia preliminar.

    Pesquisador@s na enfermagem tm nomes, significaes e aplicaes diferentes e confundidas etimologia do vocbulo propedutica, limitando-a s aes relativas a ou de naturezaeducacional, realizadas pel@ enfermeir@ em servio: ao contrrio, na Propedutica h aformao de conceitos fundamentais, gerados, primeiro, pela contnua reviso crtica deconhecimentos, saberes e concepes, conceitos e teorias; segundo, pelas novas proposies,novos conceitos e ressignificao de conceitos legitimados, decorrentes de novas conexesentre os fatos. Todo esse esforo tem uma preocupao formal, metodolgica e instrumentalpara fundamentar a formao de novos modos e processos de conhecer, geradores de novosconhecimentos pelos quais, possivelmente, se desenvolvero novos saberes.

    A preocupao formal, metodolgica e instrumental permeia os saberes fluentes naPropedutica, numa contnua varredura epistmica ou reviso analtico-crtica de saberes,conhecimentos, concepes, conceitos e teorias de vri@s pesquisador@s.

    Trabalho de desinstalao de conhecimentos validados, varredura epistmica , literalmente, oalijamento, a limpeza, a retirada de todas as articulaes e reprodues de conhecimentos esaberes de outros campos epistmicos, realizadas acritica e a-historicamente pel@spesquisador@s, e supostamente formadores de um corpo de conhecimentos e um corpoespecfico de conhecimentos da Enfermagem Moderna.Num parntese, o resultado realizador da varredura epistmica na Enfermagem Moderna,Profissional, Prtica ou Aplicada, inaugura a Enfermagem Cientfica determinada pelaemergncia da Enfermagem Crtica: esse movimento o advento da Nova Enfermagem em seucaminhar da infantil Enfermagem como Cincia da Assistncia para a adolescente Cincia daEnfermagem e desta para a maturidade de uma Cincia do Cuidado.

    No ciclo de crescimento e de desenvolvimento da Enfermagem, marcado inclusive porestagnaes e at retrocessos histricos, um corpo de conhecimentos e at um corpoespecfico de conhecimentos de Enfermagem foi erguido seguindo o dogma da escadano qual odomnio cognitivo assim se processaria:

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    O dogma da escada comea com o conhecimento intuitivo pejorativamente colocado comopercepo nebulosa at uma interpretao ou compreenso objetiva, ou seja, abstrata darealidade; da, com os dados dessa compreenso abstrata aplicam-se as suas concluses emoutras situaes particulares e concretas, desarticuladas daquela realidade original; para essaaplicao, a realidade decomposta, recortada em seus supostos elementos constituintes maissimples e a isso que se chama anlise; em seguida, por mecanismos no menos nebulososconstri-se a unio das partes decompostas e constitui-se um suposto todo; por fim, elaboram-se julgamentos de valor sobre a verdade ou validade do conhecimento assim construdo. Se osargumentos forem suficientes chama-se a isso de evidncia, prova, demonstrao e,misteriosamente, se ter marchado do conhecimento intuitivo para o conhecimento cientfico:o corpo de conhecimentos e o corpo especfico de conhecimento da enfermagem segue ouseguia - esse dogma, autonomeando-o de juno ou sntese criativa para justificao efundamentao da prtica profissional. Os elementosda prtica eram validados pelas mltiplasconcepes de mundo dos referenciais terico-metodolgicos trazidas para aquela justificaoe fundamentao: antes derivavam das cincias biolgicas, depois das humanas e sociais. Atudo isso chamou-se de desenvolvimento terico da Enfermagem Profissional, responsvelobviamente pelas contradies da sua prtica criadas pela colcha de retalhos que a subsidia eno por movimentos da concepo hegeliana ou marxiana de dialtica e, tambm, pela ausnciade estatuto epistemolgico daquele corpusde conhecimentos.

    Na Propedutica, esses corpi sero outros e constituiro os Fundamentos da Cincia doCuidado, da qual nascero os prprios fundamentos da Nova Enfermagem. Ainda nesse sentido,

    esta escritura obra de formao e desenvolvimento de saberes de um campo epistmicoespecfico; no obra inter e transdisciplinar. Isso significa que todas as bases e conquistasengendradas pela tese da complementaridade das aes em sadepara o exerccio do cuidadointegral s pessoas e s comunidades de pessoas so legtimas e sua legitimidade inquestionvel; entretanto, para que haja essa transdisciplinaridade so necessrias duasconquistas anteriores: a interdisciplinaridade e, antes dela, a disciplinaridade; estou, pois, nocampo estrutural da disciplinaridade. Se no houver a disciplinaridade, em seu sentido positivode campo especfico de conhecimento, prolifera o terreno de justaposies fragmentadas e

    COMPREENSO

    ANLISE

    APLICAO

    SNTESE

    CONHECIMENTO

    AVALIAO

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    descontnuas da multi e da pluridisciplinaridade, responsveis pela perda ou ausncia deidentidade profissional e conseqente perpetuao de subalternismo cognitivo.

    Para a elaborao e consecuo de minha Dissertao e buscando um dique aos estudos epesquisas centrados em subalternismo cognitivo estruturei um modelo de anlise

    epistemolgica e abordagem hermenutica dos conhecimentos escriturados sobre concepesde corpo na enfermagem brasileira dos anos de 1990: a partir do paradigma para as cincias doesprito ou cincias da vida - Wilhelm Guillermo Dilthey (1830-1911), analisei aquelasconcepes, partindo do conceito diltheyano de tipos vivenciais, definidos como aspectoscomunsnos modos de relaode unidades de vidadas quais podem ser configuradas unidadesvivenciais.1

    Oito tipos vivenciais, expressivos de concepes de corpo, foram por mim compaginados:concepo de corpo no sistema nightingale;concepo de no corpo;concepo de corpo sintoma;

    concepo de corpo fundamento do cuidado;concepo de corpo fundamento da enfermagem;concepo de corpo da enfermeira como instrumento do trabalho;concepo histrica de corpo;nova concepo de corpo cuidador.

    A anlise dessas concepes de corpo configuradas em tipos vivenciaisfoi feita em termos detendncias e perspectivas epistemolgicas para a enfermagem, apontando novos e autnomosrumos de formao de seus saberes e desenvolvimento de suas prticas: em sumria sntese, aconcepo de corpo no sistema nightingale, a concepo de no corpo e a concepo de corposintoma permitem a reviso analtico-crtica do sistema pedaggico de ensino e treinamento deenfermeiras, na implantao e desenvolvimento da enfermagem no Brasil, suas ligaes com as

    polticas e prticas de sade, ditadas pelo Estado brasileiro, suas mudanas e diferenas naenfermagem hospitalar, na enfermagem de Sade Pblica, na enfermagem comunitria e naenfermagem de Sade Coletiva.

    A concepo de corpo fundamento do cuidado, servindo para desenvolver a proposio de quetrajetrias e memrias de corpo so o objeto epistemolgico de um novo campo epistmico,permite a reconstruo e anlise crtica das artes e dos saberes sobre cuidados com o corpo,com a vida e com a morte, formados e desenvolvidos pelas comunidades brasileiras, em seusvrios momentos histricos, inclusive quanto s atenes e cuidados diante dos agravos, riscose danos vida e sade das mesmas.

    A concepo de corpo fundamento da enfermagem, discutida em seu alcance epistemolgico,

    coloca a enfermagem como uma profisso, uma prtica social, uma arte e uma filosofia docorpo e para o corpo. Isto permite a definio do que corpo para aquele novo campoepistmico e a sistematizao dos conhecimentos de corpo, imanentes prtica deenfermagem.

    A concepo de corpo da enfermeira como instrumento de trabalho analisada em suasconseqncias minimizadoras dos fetiches de tcnicas e das tecnologias como exclusivas e maisimportantes mediadoras das aes cuidadoras, tendo o corpo cuidador, em ao recproca como corpo cuidado, a fonte, a mediao do saber e das terapias e teraputicas do cuidado.

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    A concepo histrica de corpo a fundamentao para se abordar o corpo em termos detrajetrias e memrias da pessoa e das comunidades: no existindo vida humana, pessoahumana sem corpo, a historiografia dessa vida e pessoa d-se no corpo; portanto, todas asrealizaes humanas so memrias de corpo.

    A concepo histrica do corpo conseqncia lgica e direta da concepo histrica da vida edo mundo no Sistema de Dilthey.2 Nas reflexes sobre o tipo vivencial em questo, ahistoricidade das trajetrias e memrias de corpo emerge de toda a minha reviso deliteratura, onde destaco pesquisador@s estudios@s da realidade histrico-social-humananacional sem violentar aquelas trajetrias e memrias.3

    Todas as evidncias desta violentao esto expressas nas prprias escrituras quecompuseram a minha reviso de literatura e, da mesma forma, esto expressas, indiretamente,por alguns terapeutas do corpo e do cuidado nas concepes analisadas, de onde procedeu otipo vivencial concepo histrica de corpo.

    Num parntese explicativo, a designao terapeutas do corpo e do cuidado ou simplesmente

    terapeutas do cuidado expresso substitutiva de enfermeiros e enfermeiras; a primeiraterica da enfermagem a qualificar enfermeir@s de terapeutas foi Hildegard Peplau. Odesenvolvimento e o aprofundamento dessa declarao designativa d indcios de continuidadeno final do sculo XX: a expresso terapeutas do cuidado j foi anteriormente utilizada poroutr@s pesquisador@s que enfatizam a terapia do toque teraputico; na Plenria Final do 50o.Congresso Brasileiro de Enfermagem, realizado em 1998 em Salvador-Bahia, h a aprovaotanto da expresso quanto do conhecimento e reconhecimento de que enfermeir@s soterapeutas do cuidado; Delvair de Brito Alves, no mesmo Congresso, usa a expressoterapeutas do cuidar. A expresso terapeutas do corpo e do cuidadoou terapeutas do cuidado criada por mim para qualificao de enfermeir@s, a partir da anlise de teses deenfermagem no Brasil dos anos de 1990, onde, pela proposio de Figueiredo (1994) de que o

    corpo d@ enfermeir@ meio e instrumento de cuidado, densifico conceitos de corpo taiscomo: desbravador do cuidado, descobridor do outro corpo no ato de cuidar, estruturasustentadora de tudo, presena de cuidado, fundamento da enfermagem, movimentomobilizador, co-presente noutros corpos, instrumento protetor, nutriente, ligao, pessoa,radar, memria, instrumento de trabalho, compromisso, salvamento, fazedor de cuidado,veculo da conscincia histrica, fundamento do cuidado, farmacutico, ecolgico, montanha,esconderijo, intuio, totalidade de emoes. Trata-se, pois, de um corpo teraputico assimdesenvolvido no processo de cuidado: fiis ao significado latino de cura, curcomo cuidado,pesquisador@s de enfermagem na contemporaneidade esforam-se para demonstrar a curapelo cuidado na relao teraputica entre corpo cuidador e corpo cuidado, validando a ao decuidar e o processo de cuidar como ao e processo teraputicos.

    Aps este parntese explicativo e retomando a sumria exposio dos tipos vivenciaisapreendidos, o alcance epistemolgico da concepo histrica de corpoest na proposio deque o corpo fato histrico e fonte de conhecimento, no um fenmeno, no um smbolo,no um mero dado biolgico. O foco epistemolgico da concepo histrica de corpo o dastrajetrias e memrias de corpo no curso da vida, onde memrias de corpo traduzem amemria prxica da carne, estruturando a vida scio-poltico-econmica-cultural.4

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    O ltimo tipo vivencial nova concepo de corpo cuidador, vem caracterizado por Fernandes(2003, p.90) em experincias de

    "fraternagem", "maternagem", "paternagem", "enfermagem" [, alm daquelasexperincias de] corpo cuidador perceptivo, intuitivo, comunicativo,

    interativo, criativo de aes cuidadoras, energtico, farmacutico,vivenciado, sentido, de encontro com o corpo cuidado, coexistente, presente,expressivo, todo linguagem, de desejos mais que de necessidades, curativo,de sade, voltado para a educao de sade, vivo, sensvel, esttico, que tocae tocado, significante, ecobioenergtico, intelectivo enquanto corpo,histrico, sexuado, multifuncional e multi-gnero, individual (sem dualidades edicotomias), dom e expresso de si mesmo.

    Nessa nova concepo de corpo cuidadoresto os contedos empricos para uma epistemologiado corpo onde o corpo fonte, mediao e expresso de conhecimento. E , tambm, por essanova concepo de corpo cuidador que advogo para a enfermagem a formao de uma filosofiae uma pedagogia do corpo, exclusiva d@s terapeutas do cuidado. Trata-se de uma perspectiva

    para o aprofundamento de pesquisas sobre terapias e teraputicas, inerentes s aes decuidado, imanentes ao processo de cuidado, desencadeantes e expressivas do cuidado deenfermagem.

    A partir dos oito tipos vivenciais apresentados, fao as seguintes distines: do sistemapedaggico nightingale, de ensino e treinamento de mulheres; do sistema assistencialenfermagem, caracterizado por saberes e prticas medicocntricas, hospitalocntricas,biomedicntricas; do sistema filosfico nursing, delineado por Florence Nightingale e ainda nodesenvolvido nem sistematizado; e de um novo sistema cujas razes reaproximam-se dafilosofia nursing, substituda pelo taylorismo, quando houve a verso norte-americana dosistema nightingale.

    Ao final da pesquisa esclareo que o estudo das concepes de corpo na enfermagem umestudo histrico, explicitador das aes e das polticas, das pedagogias e dos discursos emsade e enfermagem: defende que as trajetrias de corpo, anteriormente s concepes decorpo (=memrias), determinam, criam e fundamentam o cuidado, as aes cuidadoras ou atosde cuidar e os processos de cuidar. (FERNANDES, 2003, p.76) Aqui est, pois, o mar empricoda histria de onde fluem os contedos para ressignificao e recontextualizao daenfermagem.

    A nfase na anterioridade das trajetrias (= histrias), diante das concepes de corpo, abrecampo para os estudos histricos na Enfermagem, compreendidos tais estudos comohistoriografias (= memrias) de trajetrias de corpo (vivncia ou experincia vivida).

    Trajetrias de corpo so o que, no Sistema de Dilthey nomeado de mar emprico da histria,trajetria vital, trajetria de vida- todas expresses sinnimas; referem-se s vivncias e sexperincias de corpo das pessoas, elas mesmas formadoras de comunidades, povos eestados.Trajetrias de corpo so a histria.

    Memrias de corpo so o que, no Sistema de Dilthey, nomeia-se de expresso da vivncia,esprito objetivo, manifestao de vida, objetivao de vida, grandes objetividades dopensamento- todas expresses sinonmias.

    Memrias de corpo so historiografias.

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    No se trata de mera renomeao ou retraduo, mas do alinhamento dos novos estudos aoparadigma diltheyano para as cincias da vida ou cincias experienciais, buscando nfases narealidade histrico-social-humana brasileira; por isso, sugiro o advento de um novo campoepistmico e de uma Nova Enfermagem que parta da concepo histrica de corpoe da nova

    concepo de corpo cuidador,

    com o conceito de trajetrias e memrias de corpo (e no desinais e sintomas de doenas) como objeto epistemolgico, mantendo dilogo com o Sistema deDilthey a partir dos conceitos de razo histrica, conscincia histrica, memria histrica,crtica da razo histrica.

    Esse ponto de partida significa contemplarie considerareas trajetrias e memrias de corpodas pessoas e das comunidades de pessoas: contemplari olhar atentamente para, considerare examinar com cuidado e respeito.

    No exerccio de contemplari e considerare particularmente os tipos vivenciais concepohistrica de corpoe nova concepo de corpo cuidador, junto aos conceitos histricos supra-citados, concluo defendendo algumas proposies:

    1a

    .) existem trs sistemas ou conexes de fim, ligados um ao outro mas diferentes: sistemapedaggico nightingale, sistema assistencial enfermagem, sistema filosfico nursing.

    2a.) pelas vivncias tpicas dos sistemas pedaggico nightingale e enfermagem, expressas nostipos vivenciais concepo de corpo no sistema nightingale concepo de no corpo concepo de corpo sintoma, h possibilidade de se formar uma Nova Enfermagem.

    3a.) a Nova Enfermagem emerge dos tipos vivenciais expressos na concepo de corpofundamento do cuidado concepo de corpo fundamento da enfermagem concepo de corpoda enfermeira como instrumento de trabalho.

    4a.) pelos tipos vivenciais concepo histrica de corpo e nova concepo de corpo cuidador hnecessidade de um novocampo epistmico que, em ltima anlise, liga-se ao sistema filosficonursing.5a.) o novocampo epistmico antecede, abarca e ultrapassa a Nova Enfermagem.

    6a.) trajetrias e memrias de corposo o objeto epistemolgico do novocampo epistmico.

    7a.) do tipo vivencial nova concepo de corpo cuidador o conceito de trajetrias e memrias uma nova concepo de histria e historiografia na Arte de cuidar.

    8a.) as trajetrias de corpo so anteriores s concepes de corpo pois que estas so memriasde corpo, ou seja, fixaes no corpo de trajetrias vividas.

    Quanto abordagem hermenutica propriamente dita, empreguei-a na formao de novosconstructos alicerantes de tipos epistmicosemergidos dos tipos vivenciais:

    1o.) do tipo vivencial concepo histrica de corpo criei o constructo trajetrias e memrias decorpo.

    2o.) Cincia do Cuidado a denominao do novo campo epistmico com razes histricas nosistema filosfico nursing.

    3o.) terapeutas do corpo e do cuidadoso os cientistas e profissionais da Cincia do Cuidado.

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    4o.) da histria e historiografia da Arte de Cuidado nascer um subcampo da Cincia doCuidado para estudos histricos.

    5o.) da prpria Arte de Cuidado em movimento nascer um subcampo da Cincia do Cuidadopara estudo das terapias e teraputicas do cuidado.

    6o.) dos estudos a partir do sistema filosfico nursing nascer um subcampo filosfico daCincia do Cuidado .

    Num quadro resumitivo, tem-se:

    Proposies e tipos epistmicos derivados da compaginao de tipos vivenciais determinam ofim da Enfermagem Moderna, o advento de uma Nova Enfermagem, a formao e odesenvolvimento da Cincia do Cuidado.

    No processo de formao de saberes, digno de nota o fato de que os prprios tiposepistmicos advm de unidades vivenciais e de tipos vivenciais; tambm podem ser a um stempo unidades epistmicas advindas de tipos epistmicos; podem ainda ser tidos por novostipos epistmicos formadores de outros tantos a serem desenvolvidos; por fim, expressammemrias de corpo e, como tais, funcionam como objetos de estudo e objetos de cuidado, dosquais componho outros conceitos tais como unidades de cuidadoe tipos de cuidado.

    O desenvolvimento das proposies e dos tipos epistmicos decorrentes de pesquisa anteriorj mencionada exige uma sistemtica reviso codificante e recodificante dos saberes sobreenfermagem e cuidado. E isto porque os estudos sobre cuidado ligam-se necessidade deradicais mudanas conceituais da enfermagem e em sua prtica. Noutras palavras: os saberes eas prticas em enfermagem, diante das pesquisas sobre cuidado, apontam necessidades de

    ALGUNS CONSTRUCTOS OU TIPOSEPISTMICOS CRIADOS

    Terapeutas do corpo e do cuidado

    Histria e historiografia da Arte deCuidado

    Terapias e teraputicas de cuidado Trajetrias e memrias de corpo

    Anlise hermenutica Atitude hermenutica

    Cincia do Cuidado

    Sistema Filosfico Nursing

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    mudanas conceptuais da prpria Enfermagem Moderna ainda no sistematicamenterealizadas, embora continuadamente declaradas.

    A partir das proposies apresentadas, no exerccio da docncia, de 2003 at o presente,alm de ter includo tais temas e discusses em sala-de-aula da Graduao em Enfermagem e

    utilizando a prpria Dissertao para desenvolvimento de trabalho acadmico, constitui obraindita que tem servido de base quelas discusses e a qual, aps revises e aprofundamentos,intitulo Introduo Cincia do Cuidado.

    Fundamentalmente, o resultado epistemolgico da anlise das concepes de corpo o fim daEnfermagem Moderna, o advento da Nova Enfermagem e a estruturao da Cincia do Cuidado:esse movimento em trs dimenses interconexas no teria sido desencadeado sem o dilogocom Wilhelm Guillermo Dilthey.

    Guillermo Dilthey o pai do Historismo Alemo e criador da Filosofia Crtica da Histria;5primeiro filsofo das cincias e historiador do pensamento a criar uma lgica, uma metodologiae uma epistemologia autnoma para as Cincias da Vida ou do Esprito s quais denominaoCincias Experienciais.

    A Escola Filosfica de Pensamento Diltheyano, do ponto de vista ontolgico, Filosofia da Vidapara a qual a hermenutica , no sentido geral, filosofia e, no sentido particular, mtodo dasCincias da Vida.

    A formao de tipos vivenciais um dos momentos do mtodo hermenutico6no qual anlise ao ou movimento inverso fragmentao dos modos e processos de conhecer, de entender,de compreender, de esclarecer os fatos da vida ou fatos scio-humano- histricos.

    Opondo-se ao desmembramento dos fatos scio-humano-histricos, os movimentos na anlisehermenutica so a busca e a explicitao de nexos ou conexes dos fatos histricos,aproximando-se da significao de perscrutar, aproximar-se (e no afastar-se ou neutralizar-

    se) de algo para ver = conhecer, compreender = entender, esclarecer esse algo.7

    Por isso,anlise hermenutica ato ou movimento de aproximao, de relao, de composio, deconexo, de compaginao do que est disperso, fora do contexto, disjunto, desagregado,fragmentado, desarticulado.

    Analisar e perscrutar so sinonmios: investigar com mincias, conhecer em profundidade,penetrar, sondar, esquadrinhar, pesquisar, examinar minuciosamente.

    Examinar minuciosamente ato ou movimento somente possvel com as duas atitudes decontemplari e considerare, num movimento uno e nomeado por Dilthey (1986) de captaoobjetiva ou captao histrica, substitutiva do primeiro movimento do mtodo cientfico-experimental e introduzido por Francisco Bacon (1561-1626) a observao.

    Contemplari, repito, significa olhar atentamente, meditar, considerar; Considerare significaver, olhar com ateno, refletir, meditar, pensar.

    As significaes de contemplari e considerare, absolutamente mais profundas que aobservao, expressam o conceito de atitude hermenutica para a consecuo da anlisehermenutica.

    Com o desenvolvimento da atitude e da anlise hermenuticas para conhecer-entender-compreender-esclarecer a origem e o alcance epistemolgico de conhecimentos fixados numa

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    obra escrita em letra de forma,8a composio de tipos vivenciais procede do que denomino deprimeiro ato hermenutico.

    Tipos vivenciais o conceito designativo dos aspectos comuns e regularidades nos modos derelao das unidades de vida ouunidades de cuidado em suas trajetrias e memrias de corpo

    e de cuidadoe geradoras deunidades vivenciais.No pensamento diltheyano, unidade de vidaou unidade psicofsica de vida a superao dosconceitos abstratos de ser, ser humano, sujeito, objeto.

    Pela compaginao dos modos fundamentais de relao das unidades de vida ou unidades decuidadoem suas coexistncias e articulaes identificam-se unidades vivenciais (primeiro atohermenutico) geradoras de tipos vivenciais (segundo ato hermenutico); a anlisehermenutica dos tipos vivenciais (terceiro ato hermenutico) (re)conhecer unidadesepistmicas pelas quais se formaro conhecimentos (quarto ato hermenutico).

    Da articulao de unidades epistmicas por seus aspectos comuns se pode chegar ao quintoato hermenutico: o de formao de tipos epistmicos, ou seja, constructos para o

    desenvolvimento de saberes.Oprimeiro e o segundo atos hermenuticosso para conhecer o conhecido,9ou seja, o campodo conhecimento e, mais precisamente, do reconhecimento; oterceiro, o quarto e o quinto atoshermenuticos so para criar o que ainda no existe ou criar a partir do conhecimento jconhecido, ou seja, o campo do saber. Havendo a consecuo do quarto ato, chega-se aoquinto ato hermenutico, de efetiva formao de saberes.

    Pela tradio do pensamento de Giambattista Vico (1668-1744), h dois atos hermenuticos: ode conhecer, tomar ou ter conscincia de, um grau possvel de ser alcanado por todos; o deentender, criar ou ter cincia de, um grau no acessvel a todos. Nesse sentido, cincia campo do saber e no campo do conhecimento.

    No dilogo com o pensamento viconiano e pela minha pesquisa sobre concepes de corpo naenfermagem, concebo cinco atos hermenuticos a serem desenvolvidos por pesquisadoresindividuais ou grupos de pesquisadores das Cincias Experienciais, conforme o diagrama abaixo:

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    Ao tomar os cinco atos hermenuticos por etapas de formao de saberes, o meu estudo deconcepes de corpo assumiu o esforo para o desenvolvimento de um saber e de uma prticade enfermagem no hospitalocntrica nem fundada em sinais e sintomas de doenas, mas emtrajetrias e memrias de corpo, das quais os prprios sinais e sintomas de doenas so umadas memrias de corpo e, dentro dessas, provavelmente uma memria de no cuidado. Nessemomento de formao surge uma Nova Cincia ou Cincia do Cuidado, uma Nova Enfermagem e

    o fim da Enfermagem Moderna: essa formao est dentro do terceiro, quarto e quinto atoshermenuticos, ou seja, da formao de tipos epistmicos chega-se possibilidade dedesenvolvimento de novos saberes e no ao limite de justificao ou revalidao deconhecimentos j consolidados.

    Com o quinto ato hermenutico, pelo qual crio a Cincia do Cuidado, dou consecuo teleologiade superao das crises da enfermagem, do ciclo vicioso de pesquisa sem estatutoepistemolgico, de perptua problematizao do trabalho de enfermagem sem a consolidao

    PRIMEIRO ATOHERMENUTICO

    FORMAODE

    TIPOS VIVENCIAIS

    (RE)CONHECIMENTODEUNIDADES EPISTMICAS

    (RE)CONHECIMENTODE

    UNIDADES VIVENCIAIS

    SEGUNDO ATOHERMENUTICO

    TERCEIRO ATOHERMENUTICO

    ATOS HERMENUTICOS

    QUARTO ATOHERMENUTICO

    FORMAODE

    TIPOS EPISTMICOS

    QUINTO ATOHERMENUTICO

    FORMAODE

    SABERES

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    de uma cincia autnoma, das controvrsias e dos dissensos sobre o que enfermagem, seucampo de ao, seus objetos e metaparadigmas.

    O aprofundamento da declarao da necessidade de uma Nova Enfermagem, cujosfundamentos esto na Cincia do Cuidado implica que esta anteceda, abarque e ultrapasse a

    Nova Enfermagem para a qual os conhecimentos quimiobiofsicos so um dos meios de trabalhopara o cuidar e no fundamentos.

    Pela criao do campo epistmico Cincia do Cuidado tambm retomo o dilogo com o sistemafilosficonursingde Florence Nightingale.

    Quando Nightingale (1989) explicita que os agravos ao corpo decorrem mais da insatisfao decondies poltico-sanitrias, demogrfico-arquitetnicas, ecolgico-educativas, ecolgico-administrativas, scio-histricas que de etiologia de doenas, reafirma que os sinais e sintomasde dor e de sofrimento ou sinais e sintomas de no conforto das pessoas, sempreindividuocoletivas, decorrem da falta de uma ou de vrias daquelas condies e no de efeitosde doenas: no pensamento nightingaleano, doena um processo da natureza para restaurar obem estar.

    Num parntese explicativo sobre os conceitos diferentes de bem estar, sade e conforto,relevante o fato de pesquisadoras da Escola de Enfermagem da Universidade Federal deSanta Catarina defenderem a Enfermagem como Cincia do Cuidado e Cincia do Conforto:conforto (que inclui bem-estar), cuidado, autocuidado e qualidade de vida sero quatro dospossveis outros conceitos centrais da Cincia do Cuidado. Os sinais e sintomas de dor esofrimento ou de no conforto e de agravos-riscos-danos vida e qualidade de vida podemser designados pela expresso sinais e sintomas de no cuidado ou, conforme prefiro,expresses e impresses de no cuidado, traduzveis em dores, sofrimentos, no confortos,vulnerabilidades, fragilidades. Todas estas expresses e impresses de no cuidado somemrias de corpo.

    A Cincia do Cuidado retoma e rediscute a filosofia nightingale de que o conhecimento nursing conhecimento de cuidado e no conhecimento de doenas e de seus sinais e sintomas; ascondies geradoras, desencadeantes, precipitantes, complicantes e mantenedoras de agravos vida e agravos ao bem estar do corpo esto na histria e na historiografia das condiesecossanitrias de ambientes, espaos e contextos aonde nascem e vivem pessoas ecomunidades de pessoas, povos e sociedades, ou seja, nas suas trajetrias e memrias decorpo.10

    As trajetrias e memrias de corpo so engendrantes de condies poltico-sanitrias,ecolgico-educativas, scio-histricas de vida e bem-estar; no se trata de negar abiogentica, mas de afirmar que a base de saber da Cincia do Cuidado est no todo

    sociolgico-biolgico-eco-csmico-psicolgico-antropolgico-poltico, enfim, histrico da vida.A abarcao dessa totalidade fundamento da racionalidade hermenutica para a qual osignificado do todo se acentua pela ao recproca das partes e onde o sentido e a significaodas partes forma-se na relao com o todo: esse movimento hermenutico fundamento dahermenutica diltheyana e por ele que Florence Nightingale no concebe indivduo fora doambiente e vice-versa.

    *

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    No campo propedutico, o primeiro ato hermenutico, alm de me permitir a identificao deunidades vivenciais, deu-me contedo para formao dos oito tipos vivenciais (segundo atohermenutico) dos quais fiz o (re)conhecimento de unidades epistmicas (terceiro atohermenutico) e formei constructos ou tipos epistmicos (quarto ato hermenutico) para

    posterior elaborao de novos saberes (quinto ato hermenutico).O desenrolar dos atos hermenuticos so atos crtico-analticos, possveis mediante crtica darazo histrica.

    No Sistema de Dilthey, crtica da razo histrica ato pelo qual a pessoa toma conscincia deque ela histrica e de que a sociedade e a histria so por ela mesma formadas: ou seja, todapessoa unidade de vida e toda unidade de vida unidade histrica.11Unidade de vida supera alinguagem e as noes dualistas de sujeito e objeto.

    Ora, antes da crtica da razo histrica existe o conceito de razo histrica:12 o eu, apersonalidade, o pensamento, a razo so formaes histricas. Toda psicologia histrica eantropolgica no se podendo separar psicologia-antropologia-histria.

    A capacidade de crtica da razo histrica transformada em ato se desenvolve pela formaode conscincia histrica.13E conscincia histrica exige memria histrica.14

    Os conceitos de razo histrica, crtica da razo histrica, memria histrica e conscinciahistrica formam o que nomeio de racionalidade historstica, cuja referncia a Hermenuticade Dilthey ou Hermenutica Histrica.

    Alguns fundamentos da racionalidade historstica podem ser assim sumarizados:

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    Pela racionalidade historstica, aqueles cinco atos hermenuticos so atos histrico-analtico-crtico-compreensivos, a um s tempo traduzveis da Hermenutica como Cincia Filosfica do Esclarecimentoquanto Hermenutica como Cincia Metodolgica.

    Na Cincia do Cuidado, em dilogo com a Hermenutica Histrica, o movimento de permanente viso ereviso analtico-crtica do que os terapeutas do corpo e do cuidado esto fazendo, falando, escrevendo,vivendo; da, o meu trabalho pode ser nomeado de crtica da razo histrica da enfermagem, explicitadono prximo subitem.

    RACIONALIDADE HISTORSTICA

    Vida, processo da vida, processo de viver, trajetria histrico-social-humana criam e recriam o mundo histricoformado pelo mar empricoda histriaem seu tecido emaranhado de histria.

    O tecido emaranhado de histria o processo histrico, formado pelas trajetrias de vida com o seu mar emprico da histria.A vida ou mundo histrico (o mar emprico da histria), tanto quanto o processo histrico (o tecido emaranhado de histria), se dounicamente como movimentos de conexo-interconexo-reconexo e no resultam de supostos movimentos de tese-anttese-sntese.

    A lei da vida ou do mundo histrico lei de formao e no de construo, de desenvolvimento (diferenciao e aperfeioamento) e no deevoluo.

    O mundo histrico e o processo histrico tem por fundamento o princpio da conexo; no se trata de princpio de identidade nem deprincpio da contradio.

    Toda cincia e toda filosofia so cincia e filosofia da experincia e no experimento; por isso a metodologia das cincias sociais e humanoscom os seus mtodos so cientfico-experienciais e no cientfico-experimentais.

    Os conceitos so sempre conceitos histricos, concretos, porque nenhum conceito cientfico pode estar desvinculado da vivncia, darealidade concreta da vida; no so idias nem abstraes.

    A razo histrica

    Crtica da razo histrica via de acesso ao conhecimento da realidade histrico-scio-humana, de compreenso do mar emprico de histria,de esclarecimento do tecido emaranhado da histria, de entendimento do esprito do tempo no processo histrico

    Conscincia histrica capacidade para que o homem e a mulher compreendam que a histria, o processo histrico e a sociedade so por elesformados

    Memria histrica memria das trajetrias de vida das pessoas e das coletividades no processo histrico, na histria e na sociedade poreles formados

    Deduo, induo so pseudo-mtodos para as Cincias do Esprito ou cincias humanas e sociais porque a vida ou a vivncia humana dada,expressa ou objetivada no mundo histrico-social: vivncia, experincia ou experincia vivida no so deduzidas, inferidas ou hipotetizadas.

    Porque o eu, a inteligncia, o pensamento ou a razo histrica, no h (re)conhecimento e compreenso do esprito do tempo sem memriahistrica, conscincia histrica, razo histrica, crtica da razo histrica: com a razo histrica e a memria histrica, a conscinciahistrica autognose histrica quando o seu objeto so as concepes de mundo e os ideais humanos e crtica da razo histrica quandofaz da prpria conscincia histrica seu objeto de anlise.

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    NOTAS EXPLICATIVAS

    1 Nas Cincias do Esprito, da Vida ou, conforme prefiro, cincias experienciais, eparticularmente no Pensamento de Dilthey, o conceito unidades de vida contrape-se snoes de sujeito, objeto. As unidades de vida, em suas vivncias e experincias de vida,produzem unidades vivenciais que, segundo interpreta Gadamer (1999), so em si mesmasunidades de sentido ou unidades de significado, acessveis interpretao mas nonecessitadas dessa interpretao. E por isso o prprio Dilthey (1951) diz que a vida a suaprpria demonstrao.

    No mbito da Cincia do Cuidado unidades de vida so unidades de cuidado.2Sistema de Dilthey o nome que dou tanto para o campo diltheyano de Filosofia Crtica da

    Histria quanto para a classificao das cincias na Escola Histrica de PensamentoDiltheyano, melhor explicitado na Parte 2, item A deste trabalho.3A violentao de subjetividades, na expresso de Figueiredo (1999) , para mim, a negao, adesqualificao e a condenao das trajetrias e memrias de corpo no Brasil.4A expresso memria prxica da carne utilizada pela terapeuta Polak (1997).5Filosofia Crtica da Histria rea epistmica oposta Filosofia da Histria e, tambm, aprecursora da Teoria Crtica da Escola de Frankfurt.6Ao contrrio dos movimentos ascendentes e descendentes da dialtica, inspirada em Hegel, omovimento hermenutico total e interconexo em todo o processo de conhecer.

    7Em oposio neutralidade positivista e reduo fenomenolgica, o ato hermenutico demximo possvel de aproximao e profundizao com o farol da histria, durante todo oprocesso.8Tal anlise e atitudes so extensivas a todos os fatos humano-scio-histricos que se querconhecer-compreender-entender-esclarecer.9 Conhecer o conhecido processo de re-conhecimento, de retroquestionamento, derevivncia: esta afirmao retoma a concepo de compreenso hermenutica para a cinciahistrica, segundo o mestre de Guillermo Dilthey Augusto Boeckh. Tais estudos introdutriosde Hermenutica Filosfica podem ser revisados na obra de Grondin (1999).10

    A filosofia nightingale no tem como motivo central de cuidado as pessoas ou os ambientespor si mesmos: so as condies ecossanitrias dos ambientes, espaos e contextos em quenascem e vivem pessoas e comunidades a centralidade de todo o pensamento e de toda a obrade Florence Nightingale. Trata-se de uma Filosofia Poltica para criao e manuteno decondies ecossanitrias nos ambientes, espaos e contextos humanos: Filosofia Poltica deprxis ecossanitria, atenta para as formas e conseqncias de criao e modificao deambientes, espaos e contextos humanos produzidas a partir da revoluo industrial e docapitalismo.

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    11 Na Filosofia Poltica de Florence Nightingale identifico o que denominarei de razoecossanitria, de lgica ecossanitria, de tica ecossanitria, de conscincia ecossanitria, dememria ecossanitria; seu pensamento e sua obra constituem no todo uma crticaecossanitria da razo capitalista-industrial. Por tal crtica est subjacente um campo de

    saber, por ela fundado, e que eu denominarei Biocuidado, pelo qual Florence cria e instituidiagnsticos de cuidado, intervenes de cuidado e resultados de cuidado com as condiesecossanitrias de ambientes, contextos e espaos em que nascem e vivem pessoas ecomunidades de pessoas, povos, sociedades e naes.12 Para Dilthey (1954, p.35) razo histrica est evidente no fato de que "o homem individual,como ser isolado, mera abstrao. O parentesco de sangue, a convivncia local, a cooperaono trabalho, na competncia e no esforo comum, as mltiplas conexes que se produzem daprosecuo comum dos fins, as relaes de poder no mando e a obedincia, fazem do indivduomembro da sociedade. Como esta sociedade se compe de indivduos estruturados, nela operamtambm as mesmas regularidades estruturais. A teleologia subjetiva e imanente dos indivduosse manifesta na histria como desenvolvimento. As regularidades psico-individuais

    transformam-se em regularidades da vida social".13 Para Dilthey (1949, p.11), conscincia histrica conhecimento das "grandes objetividadesengendradas pelo processo histrico, dos nexos finais da cultura, das naes, da humanidademesma, da formao em que se desenvolve a vida, segundo uma lei interna [; aquelas grandesobjetividades e nexos finais] atuam como foras orgnicas, de onde surge a histria das lutasde poder dos estados".14 O conceito de memria histrica , ao mesmo tempo, tanto o conceito de conscinciacientfico-espiritual ou cientfico-experiencial quanto a explicitao de Dilthey (1952, p.76,77) sobre o desenrolar metodolgico da crtica da razo histrica:

    a correlao constante das vivncias e dos conceitos [at se alcanar a]conscincia cientfico-experiencial [, na qual] no deve haver nenhum conceitoque no se tenha formado em toda a plenitude do reviver histrico; no devehaver nada geral que no seja a expresso essencial de uma realidadehistrica. [...] Acima de toda representao e estilizao do real e dosingular, o pensamento esfora-se para chegar ao conhecimento do essenciale necessrio; aspira a compreender a conexo estrutural da vida individual esocial; porque somente conquistaremos poder sobre a vida social, quandocaptarmos e aproveitarmos sua regularidade e conexes. As formas lgicasem que se expressam essas regularidades so juzos [ou conceitos gerais]cujos sujeitos so to gerais como seus predicados.

    Entre os mltiplos conceitos gerais do sujeito, ao servio desta tarefa nas

    cincias do esprito [ou da vida], encontram-se alguns como filosofia, arte,[cincia], religio, direito, economia".

    Nesse sentido, conceito no abstrao procedente da reflexo sobre idias; ao contrrio,conceito a memria intelectiva da memria histrica historiografada. O desenvolvimento damemria intelectiva se d pelo desenvolvimento da razo histrica quando, a partir donascimento, o pensamento abstrato vai se tornando cada vez mais concreto: uma concepode desenvolvimento cognitivo oposta teoria de Jean Piaget.

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    APROFUNDAMENTO DE APRENDIZAGEM

    CONCEITOS NOVOSAnlise hermenuticaAtos hermenuticosCincia do Cuidadoconcepo histrica de corpoConscincia cientfico-experiencialConscincia histricaCrtica da razo histricaExpresses e impresses de no cuidadoHermenutica histricaLei de formao

    Lei hermenuticaLgica hermenuticamar emprico da histriamemria prxica da carneMemria histricaMtodo cientfico-experiencialMtodo cientfico-experimentalMtodo hermenuticoMovimento hermenuticoNo cuidadoNova Enfermagem

    processo de cuidadoracionalidade hermenuticaRazo histricaSistema de Diltheysubalternismo cognitivosistema filosfico nursingterapeutas do corpo e do cuidadotipos epistmicostipos vivenciaistrajetrias e memrias de corpounidades epistmicas

    unidades vivenciaisvarredura epistmica

    CONCEITOS REVISADOSabordagem epistemolgicaAnliseanlise epistemolgicacampo epistmico

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    Captao histricaCincias da VidaConceitoFatohermenutica

    histria e historiografiaProcesso da vidapropeduticaUnidade de vidaVida

    CONCEITOS PROBLEMATIZADOS

    AnliseCincia

    CompreenderConceitoConhecerConhecimento de doenaConhecimento de sadeConhecimento nursingcorpo de conhecimento da enfermagemcorpo especfico de conhecimento de enfermagemDeduoDesenvolvimentodisciplinaridade

    Doenadogma da escadaEnfermagemEnfermagem ModernaEntender

    Etiologia de doenasEsclarecerFatoFilosofiahistorismohistoricismo

    InduointerdisciplinaridadeMeios de trabalho para o cuidarObservaoMtodoPessoaProcesso de desenvolvimentoProcesso histrico

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    SaberSinais e sintomassujeito e objetoTese-anttese-sntesetransdisciplinaridade

    EXERCCIO DE FIXAOConsidere:Para a compreenso de um texto, composto de palavras, frases, pargrafos, perodos e oraes necessrio identificar as idias acessrias, as idias principais e as idias centrais de cadapargrafo.

    Acessrias so as idias dispensveis compreenso do(s) enunciado(s).Principais so as idias indispensveis compreenso do(s) enunciado(s).Centrais so a sntese das idias principais.

    1 Enumere sucessivamente todos os pargrafos do item Introduo.2 Extraia de cada pargrafo:a) as idias acessriasb) as idias principaisc) as idias centrais3 Agrupe as idias centrais, retirando-as da apresentao em tpicos, e transforme-as numtexto nico, de sentido completo. Este texto, formado com as idias centrais, o Resumoinformativo ou analtico.Resumo informativo ou analtico contm as informaes fundamentais contidas num texto,dispensando-lhe a leitura imediata; em peridicos cientficos este resumo contm objeto deestudo, proposies ou pressupostos, marco ou referencial terico, objetivos, metodologia,

    resultados e concluses.Resumo indicativo ou descritivo descreve a natureza, a forma e o objetivo do texto escritocujo contedo no pode ser apresentado abreviadamente; portanto, a leitura do textocompleto indispensvel.

    QUESTES PROPOSTAS1 - O autor defende o conceito trajetrias e memrias de corpo como objeto epistemolgicoda Enfermagem, da Nova Enfermagem ou da Cincia do Cuidado?2 Diferencie conceitualmente os trs campos epistmicos: Enfermagem, Nova Enfermagem,Cincia do Cuidado3 O conceito trajetrias e memrias substitui e ope-se a qual conceito? O que esta oposiosignifica para a Enfermagem, para a Nova Enfermagem e para a Cincia do Cuidado?4 Conceitue e estabelea a(s) diferena(s) sobre disciplinaridade, interdisciplinaridade,multidisciplinaridade, pluridisiplinaridade, transdisciplinaridade5 O que propedutica para o autor?

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    EXERCCIOS DE PESQUISA

    1 Investigue quem Wilhelm Guillermo Dilthey, suas obras, os pontos centrais de seupensamento e sua relevncia para a Cincia do Cuidado2 Explicite o que significa e compe o Sistema de Dilthey

    3 Investigue quem Hans-Georg Gadamer e sua relevncia para a Cincia do Cuidado4 Investigue quem Hildegard Peplau.a) Faa uma apresentao geral sobre o seu pensamentob)Faa um levantamento bibliogrfico sobre trabalhos de pesquisa no Brasil desenvolvendo aTeoria de Hildegard Peplau.5 - O autor se refere Pedagogia do Conflito. O que esse tipo de pedagogia?6 - Pesquise sobre as conccepes de Pedagogia e os tipos de Pedagogia existentes.7 Faa um levantamento bibliogrfico e conceitual sobre os seguintesvocbulos:- concepo- conhecimento

    - compreenso- sntese- avaliao8 Faa uma investigao sobre o campo epistmico Filosofia da Vida9 Investigue sobre a Escola de Pensamento nomeada de Historismo, fazendo uma brevesntese de seus principais precursores e representantes.10 Investigue e discorra brevemente sobre os tipos de Historismo11 - Faa uma investigao sobre:

    a - quem Giambattista Vico?b - qual a sua Escola de Pensamento?c - qual a sntese de seu pensamento?

    d - quais as influncias do pensamento viconiano no mundo contemporneo?12 Faa uma investigao sobre Florence Nightingale e sua obra.13 Investigue sobre quem e qual o pensamento de Ludwig Wittgenstein.14 Faa uma reviso sobre as concepes e os tipos de Hermenutica existentes.15 Faa uma reviso sobre as concepes e os tipos de Dialtica existentes.16 Investigue mais sobre a Hermenutica de Dilthey ou Hermenutica Histrica

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    B INTRODUO CRTICA DA RAZO HISTRICA DA ENFERMAGEM

    B.1 -A SITUAO DA ENFERMAGEM BRASILEIRA

    O modelo hegemonizado de enfermagem hospitalar alvo de anlises crticas j no incio dosanos de 1980 quanto aos limites do cuidado curativo centrado nos hospitais: esse modo de

    cuidado engendra a crise da profisso no Pas.No enfrentamento da crise da enfermagem, reconhecida nos anos de 1980 um plano de metasanti-crise foi apresentado, voltadas para uma dupla ruptura epistemolgica, revolucionria noensino, na administrao, na assistncia e na pesquisa de enfermagem: a primeira ruptura com os saberes de enfermagem fundados estritamente nos saberes das cincias naturais evalidadores das tcnicas de enfermagem; a segunda ruptura, adjacente primeira, com osmtodos cientfico-experimentais, chamados quantitativos e utilizados na pesquisa deenfermagem para buscar o estatuto de prtica cientfica.

    As rupturas epistemolgica e metodolgica geram a crise na enfermagem, reconhecida no finalda dcada de 1980 e justaposta crise da profisso nos anos de 1970.

    A crise na enfermagem crescente e sintomtica do esgotado modelo assistencial curativo-hospitalar-individual, determinando-se a necessidade de desconstruir as hegemonizadasprticas e relaes de trabalho, profissionais e interprofissionais, possibilitando a emergnciade novas prticas e novas relaes na enfermagem.O reconhecimento da crise na enfermagem evidencia-se quando pesquisador@s crtic@scontextualizam a enfermagem no modo de produo capitalista, superando a viso de disciplinaprtico-tcnica e inaugurando a nova concepo de prtica social, de profisso, de trabalhohistrico-socialmente determinado.

    A justaposio de ambas as crises fomenta dupla ruptura de identidade: com a enfermagemnightingaleana e com o modelo biomdico-hospitalocntrico de ateno individual aos agravos

    sade e agravos vida do corpo.A ruptura de identidade com a enfermagem nightingaleana, movida pelo movimento crticoassinalado, remonta ao sistema pedaggico nightingale: Florence Nightingale a criadora domodelo de escola profissionalizante de enfermeiras, com administrao autnoma, concebidadentro do hospital e no como formao acadmica e, sim, fruto de vocao e ideal, mantidapor disciplinarizao-adestramento dos corpos das estudantes para formao da mulherenfermeira e servial, natural e profissionalmente subordinada aos saberes e ordem dohomem representado pelo mdico.

    O sistema pedaggico nightingale, profissionalizante, feminino, de disciplina militar, vocacionale hospitalar implantado e posteriormente rejeitado, mas no superado no Brasil; da mesma

    forma, nas dcadas de 1970 e 1980, a enfermagem curativa e hospitalar criticada e nosuperada, ainda que responsvel pela deformao ou no formao de conscincia coletiva deenfermagem.

    A crise da enfermagem dos anos 1970, somada crise na enfermagem nos anos 1980, umarevivncia do fato de que, j no final da dcada de 1920, as enfermeiras da Escola Ana Nripreferiam o trabalho nos hospitais e nos domiclios ou o abandono da profisso quetrabalharem na sade pblica.

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    O modelo de enfermeira de sade pblica, implantado pelas enfermeiras dos Estados Unidos daAmrica do Norte, em 1922, no Brasil, prossegue seu declnio na dcada de 1940, quando ohospital passa a ser o centro de ateno s doenas e o lugar mdico de construo de sabersobre as mesmas.

    Nos estudos de Barreira (1992) pode-se acompanhar fatos sobre o paralelismo do novo modelode enfermeira hospitalar e a introduo de outro modelo de enfermeira de sade pblica,sucessor do trabalho de visitao sanitria: a enfermeira de Campanha, primeiramente contraa tuberculose com o seu incio, auge e fim de 1947 a 1979, quando a tuberculose torna-sequesto da pneumologia sanitria. Com esta nova denominao, desmoronam os trabalhos, ossaberes e os cargos das enfermeiras da Campanha contra a tuberculose, substitudas, noscargos decisrios, por mdicos pneumologistas recm-formados, at a extino da Seo deenfermeiras. As enfermeiras sem cargos e sem saber sistematizado e publicado engajam-seem nova campanha nacional: a de combate ao cncer.

    A enfermagem e suas crises no setor de sade pblica cronificam-se com a restrio dasenfermeiras nos hospitais at o final da dcada de 1970, quando, ento, h uma mudana deeixo referencial de saberes, de prtica e de pesquisa: das cincias biomdicas para as cinciashumanas e sociais, cujo auge o final da dcada de 1980.

    Na dcada de 1990, com o advento dos cursos de doutorado em enfermagem, no Brasil, quelascrises junta-se a crise enfermagem, sobretudo, caracterizada por mais amplas e densascrticas aos modelos e modos de enfermagem, de saber de enfermagem e prtica deenfermagem.

    De certa forma, buscando ruptura epistemolgica com os histricos subalternismos ao modeloanglo-saxo de pensamento, as crises crescentes em 1970 e 1980 se sustentam, salutarmente,quando se faz uma leitura histrico-crtica e no histrico-evolutiva das vrias constataesde pesquisadores da enfermagem, durante a dcada de 1990 at o ano 2003:1

    - A institucionalizao da enfermagem brasileira, mediante subordinao ao modelohospitalocntrico e curativo, manteve-a marginalizada dos cuidados primrios vida e ateno sade das comunidades.

    - A profisso enfermagem, buscando legitimar-se pela reproduo dos saberes biomdicos,construiu prticas de ensino, assistenciais e de pesquisa fora das especificidades da profisso.

    - A graduao em enfermagem mantm-se presa aos saberes traduzidos ou adaptados de livrosestrangeiros: os livros-textos das escolas de nvel superior so os mesmos das dcadas de1970 e 1980, atualizados por novas edies, traduzidas dos Estados Unidos da Amrica doNorte.

    - H o risco de extino da profisso enfermagem no Brasil, diante da evoluo e criao denovas tecnologias de assistncia e cuidado, independentes do trabalho profissional.

    - H o reconhecimento da falncia dos profissionais e pesquisadores da enfermagem naformao de saberes especficos e desvinculados do paradigma positivista e reducionista,incorporado biomedicina.

    - H ausncia de saberes prprios e saberes relevantes na enfermagem, limitada ao papel detratadora de doenas e subordinada aos saberes de outras cincias e outras profisses.

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    - Permanece a indefinio dos conhecimentos especficos da enfermagem diante daapropriao dos saberes de outras reas: o modismo dessas apropriaes acrticas e o enganode estatuto cientfico est na criao do processo de enfermagem - uma transliterao daprtica mdica.

    - H perseverao nos limites subordinantes dos saberes de enfermagem: na organizaoassistencial, pela administrao; na prtica assistencial, pela medicina; nas especificidades daprofisso, pela psicologia e medicina.

    - Os enfermeiros e as enfermeiras ainda no se apropriaram de saberes prprios: atualmente,esses saberes prprios ou especficos so reconhecidos como os advindos do processo decuidado nas situaes de cuidado.

    O reconhecimento da crise da enfermagem brasileira, na dcada de 1970; a gerao da crisena enfermagem durante a dcada de 1980; a justaposio das duas crises na dcada de 1990com a gerao da crise enfermagem, acentuadamente a partir do final da dcada, emergem ese sustentam pelos pesquisadores da rea, formadores da Enfermagem Crtica. Essaenfermagem crtica rejeita o modo de pesquisa e a gerao de conhecimentos e saberes,segundo o ciclo vicioso injustificvel epistemologicamente de buscar validao em referenciaisterico-metodolgicos extrnsecos e plurais.

    Incompreensivelmente aps as trs crises assinaladas, a Enfermagem Moderna, em supostameta de interdisciplinaridade, nega-se a constituir-se cincia e cincia autnoma, mantendo-secomo disciplina aplicada ou prtica e usando conhecimentos e saberes de outras reas doconhecimento para validar o campo restrito Enfermagem Aplicada: neeses primeiros anos dosculo XXI a perda quase absoluta de identidade profissional est evidenciada nos currculos

    de graduao em enfermagem aonde a arte e a cincia do cuidado no tem sido a baseinterpretativa da profisso. Atender ao mercado de trabalho e mais particularmente formartecnlogos hospitalares tm sido a base de desenvolvimento e de interpretao da profissoenfermagem.

    CRISES DA ENFERMAGEM BRASILEIRA

    Crise da enfermagem(dcada de 1970)

    Crise na enfermagem(dcada de 1980)

    Crise enfermagem(dcada de 1990)

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    B.2 - CONTROVRSIAS E DISSENSOS

    O grande problema, diante da situao da enfermagem apresentada, epistemolgico: primeiroporque os conhecimentos gerados na enfermagem so constitudos, at o momento, pelo

    estratagema de usar saberes de outras cincias e articul-los para justificar prticas decuidar ou de cuidado. Isso significa que a base emprico-vivencial no serve de validao aosconhecimentos gerados, sendo esta validao buscada em referenciais terico-metodolgicosplurais e extrnsecos enfermagem e s situaes de cuidado: segundo, porque @spesquisador@s de enfermagem tm se limitado a buscar validao e auto-afirmao de seusenunciados e de suas inferncias em referenciais terico-metodolgicos extrnsecos enfermagem, sem formao de conhecimento prprio e, conseqentemente, sem conseguiremoferecer axiomas tanto para a enfermagem quanto para os demais campos epistmicos;terceiro, e, conseqentemente aos outros estratagemas, os fundamentos ou as bases daenfermagem no esto definidas, estruturadas e consolidadas, confundindo-as com repetiode princpios do mtodo cientfico-experimental: tal legitimao tcnica perpetua as

    controvrsias e os dissensos sobre o que enfermagem, qual o seu campo de ao, objetos eparadigma.

    Quanto as controvrsias de declaraes sobre o que enfermagem, h pesquisador@s que aquerem consolidar como cincia aplicada, humana, biomdica, social, clnico-prtica: maisadiante apresento aquelas diversas declaraes como concepes de enfermagem.

    Em relao aos objetos da enfermagem, @s pesquisador@s de enfermagem adotam omaterialismo histrico e dialtico de Karl Marx e, por isso, falam em objeto de trabalho.

    Na concepo marxiana de mundo, o trabalho possui dois componentes: o trabalhopropriamente dito e o processo de trabalho.

    O processo de trabalho se caracteriza pelos componentes: objeto de trabalho ou coisa sobre aqual se realiza o trabalho, modificando-a; instrumento ou meios de trabalho e ao de trabalho,ou seja, a atividade orientada para um fim.

    TRABALHO(concepo marxiana de mundo)

    Trabalho Processo de trabalho

    Objeto de trabalho

    Instrumento de trabalho

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    Direta ou indiretamente influenciados pela concepo marxiana de mundo, pesquisador@s deenfermagem defendem vrios e dissensuais objetos de trabalho de enfermagem:2

    - necessidades humanas. De acordo com esta concepo de objeto de trabalho, @senfermeir@s intervem ou atuam sobre necessidades humanas; curioso o fato de noexistirem teorizaes na enfermagem sobre necessidades humanas, reduzindo-se aplicaodo trabalho de Vanda Horta transliterado das concepes de Abraham Maslow sobrenecessidades humanas bsicas por deficincia de satisfao das mesmas e usado quaseexclusivamente no campo da especialidade de enfermagem hospitalar.

    - administrao da assistncia ao paciente hospitalizado Segundo esta concepo de objetode trabalho, a administrao da assistncia a ao d@ enfermeir@; da mesma forma, curioso o fato de que, at o momento, houve apenas transliterao terico-metodolgica daAdministrao de empresas para a Enfermagem, de igual modo limitada administrao daassistncia hospitalar, onde a pessoa reduzida ao papel de paciente e a ateno reduz-se ao

    momento em que este permanece hospitalizado. Acrescente-se a isso, a no teorizaosistemtica sobre o que essa assistncia de enfermagem.

    - o processo de trabalho. Nessa concepo, o limite o pensamento marxiano colocado nolugar do pensamento nightingaleano.

    - cuidado de enfermagem. Isso significa que o resultado da arte e da ao de cuidado aproduo de cuidado de enfermagem: em alguns estados da Federao h reduo do cuidadode enfermagem assistncia de enfermagem, marcadamente hospitalar.

    - condies ecosssanitrias de vida relacionadas aos ambientes, espaos e contextos ondevivem pessoas e comunidades de pessoas sadias ou doentes. Essa concepo nightingaleana nofoi desenvolvida nem sistematizada pel@s enfermeir@s estando hoje sob responsabilidade de

    eclogos, ambientalistas e outr@s profissionais.- resposta das unidades de cuidado aos processos de viver e aos problemas de sade.Respostas ou reaes humanas significam as vivncias e experincias das unidades de cuidadonos processos de viver, inclusive as experincias de no cuidado, no conforto.

    A constatao de Cruz move-se no conceito de Enfermagem da Associao Norte-Americanade Enfermagem para a qual Enfermagem diagnstico e tratamento das respostas ou reaeshumanas aos processos de vier e aos manifestos ou potenciais problemas de sade; porconseguinte, o objeto epistemolgico da Enfermagem deve ser as reaes ou respostashumanas queles processos e problemas.

    Segundo esta concepo, a Enfermagem deve estudar as vivncias e experincias humanas nosprocessos de viver, inclusive as de no cuidado, no conforto.

    - o homem integral, constitudo de corpo-mente-espirito e o ambiente, a ser transformadoem ambiente teraputico pela sua organizao humana e material capaz de proporcionarcuidados de sade. De acordo com essa concepo pesquisador@s e trabalhador@s deenfermagem deveriam estar produzindo saberes e prticas sobre o homem integral e sobreambiente; nem um nem outro existem, alm do uso terico-metodolgico de outras reas doconhecimento.

    Teleologia do trabalho

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    - administrao de assistncia ao paciente. A nica diferena dessa concepo com aanterior est em que a primeira limita-se ao paciente hospitalizado e a segunda fala empaciente que pode ou no estar hospitalizado.

    - Cuidado. Apesar da unanimidade discursiva de que cuidado a essncia ou o foco central

    da enfermagem, somente a partir da dcada de 1990 no Brasil formalizam-se estudos sobre omesmo; dissensos e confuses conceituais so, portanto, comuns nesse campo

    - cuidado ao paciente. Novamente a restrio do cuidado noo mdica de paciente,fortalecendo a idia de cuidado curativo centrado nos hospitais ou pessoa doente.

    - corpos individuais, a conscincia e a organizao da assistncia. Nessa concepo de objetode trabalho, a centralidade dos estudos e do trabalho de enfermagem est no corpo, naconscincia e na organizao da assistncia; apenas a partir da dcada de 1990, enfermeir@spesquisam a noo de corpo na enfermagem, alm da concepo mdica, no havendo saberessubstanciais a respeito fora declaraes assistemticas. Na enfermagem, estudos sobreconscincia no existem, alm da reproduo das concepes freudianas; quanto organizao

    da assistncia, alm da reproduo dos conhecimentos da Administrao de Empresas, hreduo organizao hospitalar extensiva inclusive rede de servios de Sade Pblica.

    - processo sade-doena da populao. O limite dessa concepo est em que processosade-doena conceito biomdico e uma reduo dos processos de viver, mesmo comreferncia ampliao do conceito pela teoria social da medicina. Desse modo, o objeto detrabalho e os saberes de enfermagem mantm-se acorrentados a um conceito mdico.

    - a pessoa. A noo de pessoa na enfermagem quase nula, apesar de declarada, emdecorrncia da hegemonia do pensamento biomdico com a noo de paciente; portanto, aindano existem estudos sobre a pessoa na enfermagem, apesar da declarao de que aquela oobjeto de trabalho da enfermagem.

    - "seres humanos com diferentes necessidades". Trata-se de uma declarao pois queenfermeir@s nunca estudaram seres humanos, apesar de usarem conceitos da fenomenologia eda psicanlise; as necessidades referidas esto limitadas concepo hospitalocntrica denecessidades fisiolgicas afetadas ou no satisfeitas.

    - bem estar da pessoa. O conceito de promover e manter conforto sinonimiza a bem estar.

    *

    Ratificando e ampliando as vrias declaraes encontradas nos ltimos dez anos sobre o qu secuida na Enfermagem, tem-se:

    - cuidar dos seres humanos;

    - cuidar da vida;

    - cuidar do homem;

    - cuidar de sade;

    - cuidar dos enfermos;

    - cuidar da alma;

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    - cuidar do corpo;

    - cuidar da pessoa;

    - cuidar do ser;

    - cuidar de pacientes;- cuidar do indivduo, dos ambientes, dos animais, dos ecossistemas naturais e humanos, docorpo vivo e do corpo morto;

    - cuidar de doenas;

    - cuidar de doentes;

    - cuidar das necessidades bsicas do paciente;

    - cuidar do paciente;

    - cuidar de trajetrias e memrias de corpo;

    - cuidar do processo sade-doena;- cuidar do que demandado pelo processo de trabalho em sade ou pelo processo detrabalho mdico.

    Quanto ao objeto epistemolgico, os dissensos so menores com a maioria d@s pesquisador@sdeclarando ser o cuidado o foco central no estudo de enfermagem; h dissenso inclusive sobrese h consenso ou dissenso de objetos.

    Eis alguns dos objetos epistemolgicos dissensuais expressos pel@s pesquisador@s deenfermagem nos ltimos trinta anos:

    - ser humano e suas necessidades: h o limite de ser uma mera declarao pois que, nesse caso,

    enfermeir@s deveriam produzir pesquisas e prticas sobre ser humano e necessidadeshumanas exigncia no realizada at agora.

    - "homem subjetivo, sensvel, singular, imprevisvel": limitada a uma mera declarao porque hpouco ou nada de enfermagem produzido sobre esse homem subjetivo, sensvel, singular,imprevisvel

    - "cuidado do ser humano, em sua complexidade": uma declarao, apesar dos estudos recentessobre cuidado.

    -cuidado: a realidade dos recentes estudos tem demonstrado que cuidado no enfermagem,apesar desta declarar-se ou ser cuidado.

    - a pessoa integral. O conceito de pessoa integral supera o discurso de ateno de enfermagemao ser humano biopsicossocial. Pessoa integral significa pessoa histrica na qual estointerconexas as dimenses biolgicas, psicolgicas, sociais, tnicas, econmicas, polticas,espirituais, familiares, culturais, morais, sexuais.

    - cuidado de enfermagem. Isso significa que o resultado da arte e da ao de cuidado aproduo de cuidado de enfermagem.

    Num quadro resumitivo, tem-se:

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    ENFERMAGEM

    OBJETO EPISTEMOLGICO(declaraes dissensuais) OBJETO DE TRABALHO(declaraes dissensuais)

    cuidado do ser humano

    necessidades humanas

    Seres humanos

    cuidado

    a vida

    administrao da assistncia ao pacientehospitalizado

    corpos individuais, a conscincia e aorganizao da assistncia

    homem integral e ambiente

    processo sade-doena

    processo de trabalho

    pacientes

    cuidado ao paciente

    o corpo

    a sade

    cuidado de enfermagem

    ser humano e suas necessidades

    o Homem

    cuidado

    pessoa integral

    cuidado e enfermagem

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    Os dissensos quanto aos objetos refletem, justificam e perpetuam as crises reconhecidasdesde a dcada de 1980 at os dias atuais, levando pesquisador@s declararem a improrrogvelnecessidade de ressignificao e recontextualizao da enfermagem na Amrica Latina,

    particularmente no Brasil.A ressignificao da Enfermagem no Brasil exige conscincia histrica e crtica da razohistrica capazes de recontextualizar as atenes histricas vida individual e social daspessoas e as atenes histricas aos agravos-riscos-danos ao corpo,3 dentre os quais asenfermidades so apenas uma das manifestaes.

    O evidente comprometimento de formao de conscincia histrica e de desenvolvimento dacrtica da razo histrica na enfermagem se deve a dois erros epistemolgicos: adotar eacompanhar acriticamente terminologias e saberes de outras profisses da sade; desarticularde seus contextos conceitos e saberes produzidos por outras profisses para fazer "arranjode idias" sobre cuidado.

    As duas constataes demonstram de forma inequvoca e clara o porqu as pesquisas deenfermagem permanecem sem estatuto epistemolgico e porque o desafio de consolidar aenfermagem como disciplina cientfica uma mera declarao impossibilitada: nenhum campoepistmico se forma e se desenvolve acompanhando (adotando) estruturas cognitivas de outroscampos, tomando-lhes os fundamentos para si e desarticulando seus saberes de seus contextospara fazer colcha retalhada de saberes, apesar de outr@s afirmarem tratar-se de sntese oujuno criativa. Por tais estratagemas, at o momento, @s pesquisador@s da rea noconseguiram formar e definir o conceito enfermagem nem definir o que faz ou estuda, querdizer, qual ou quais o(s) seu(s) objeto(s) de trabalho e objeto(s) epistemolgico(s).

    B.3 FORMAO DO CONCEITO ENFERMAGEM

    A explicitao de Dilthey (1952) sobre o modo de se formar e se definir um conceito a basepara a tentativa de formar e definir o conceito Enfermagem, com os seguintes passos:- escolher ou criar a palavra designativa do que se quer conceituar, no caso, enfermagem;- esclarecer a origem ou a histria da palavra enfermagem;- determinar a origem ou a histria do conceito enfermagem;

    Condies ecossanitrias de vida

    enfermos

    as doenas

    a pessoa

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    - escolher ou identificar que fatos da realidade histrico-social-humana sero traduzveis donome ou da expresso geral enfermagem;- discriminar os diversos tipos de enfermagem, geradas pelas vivncias e concepes deenfermagem de pessoas e comunidades de pessoas. Tais tipos de enfermagem so asabreviaturas do fato;

    - separar as abreviaturas distorcivas ou falsas do fato que, porventura, tenham sido oupossam ser anexadas ao nome ou expresso geral enfermagem; tais abreviaturas seroconsideradas relaes isoladas ou arbitrrias entre vivncias de fato-realidades de fato-abreviaturas de fato;- compor traos distintivos essenciais e traos distintivos suficientes, expressivos doconceito enfermagem. Essa composio permite a definio do conceito enfermagem, ondeobjeto epistemolgico, objeto de cuidado, objeto de cuidado, fundamentos tericos,metodolgicos, epistemolgicos, histricos, filosficos, tcnico-instrumentais e campo de aoestaro delimitados:

    FORMAO DE CONCEITOS

    2. Identificao de fatos darealidade humano-scio-histricatraduzveis da palavra

    Traos distintivos dos fatos

    Traos essenciais dos fatos

    1. Escolha ou criao da palavra

    Traos suficientes dos fatos

    Abreviaturas de fato(possveis outras interpretaes

    do mesmo fato)

    Definio do conceito

    Relaes isoladas(distores ou falsidades do fato)

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    B.3.1 - A PALAVRA ENFERMAGEM

    A palavra enfermagemno est na natureza: surge no Brasil aps a partida da Misso Parsons(1921-1931) do Rio de Janeiro; terminado esse perodo, a Escola de Enfermeiras Dona AnaNri, designada a partir de 1931 Escola de Enfermeiras Ana Nri,4 tem por diretora a

    enfermeira Rachel Haddock Lobo.At 1931 existiam as denominaes institucionais: Escola Profissional de Enfermeiros e

    Enfermeiras do Hospcio Nacional de Alienados, criada em 1890 e posteriormente em 1920passa a chamar-se Escola de Enfermeiras Alfredo Pinto; Escola de Enfermeiras doDepartamento Nacional de Sade Pblica, criada em 1922 e que em 1926 passa a nomear-seEscola de Enfermeiras Dona Ana Nri; em 1930 criado o Servio de Enfermeiras doDepartamento Nacional de Sade Pblica; por outro lado, existiam a Escola Prtica deEnfermeiras da Cruz Vermelha Brasileira, a Escola de Enfermeiros do Exrcito, a Escola deEnfermeiros da Polcia Militar todas elas formando enfermeiros prticos.

    Rachel Haddock Lobo dirige a Escola de Enfermeiras Ana Nri apenas de 1931 a 1933, ano de

    sua morte e tambm o ano da criao pelos enfermeiros no diplomados ou enfermeirosprticos do Sindicato dos Enfermeiros Terrestres, alm do j existente Sindicato dosEnfermeiros Martimos. Uma luta de destruio oficializava-se onde se viam uns aos outroscomo adversrios: de um lado, as enfermeiras no diplomadas e prticas e seu Sindicato; dooutro lado, as enfermeiras diplomadas e registradas e sua Associao, formadas pela Escola deEnfermeiras Dona Ana Nri erguida condio de Escola Oficial Padro em 1931.

    Aps sua morte, Rachel Haddock Lobo substituda interinamente por Maria de CastroPhampiro at a volta de Bertha Pullen em 2 de abril de 1934 at 31 de agosto de 1938.

    Rachel Haddock Lobo, apesar de brasileira, teve sua formao em Frana e ps-graduao nosEstados Unidos da Amrica do Norte: em sua curta gesto interrompida por morte criou o

    Annaes de Enfermagem em 1932.Annaes de Enfermagem, em cuja capa traz um tringulo com os dizeres cincia arte ideal, orgo oficial de publicao da Associao Nacional de Enfermeiras Diplomadas (ANED), criadaem 1926, redenominada Associao Nacional de Enfermeiras Diplomadas Brasileiras (ANEDB)em 1928 e Associao Brasileira de Enfermeiras Diplomadas (ABED) em 1944 at, finalmentedenominar-se Associao Brasileira de Enfermagem (ABEn) em 1954.

    Se se considerar os fatos de que Rachel Haddoch Lobo brasileira e Annaes o rgo oficialda Associao Nacional de Enfermeiras Diplomadas Brasileiras, o tringulo cincia arte ideal criado por essas enfermeiras e expressa a teleologia da Enfermagem Brasileira desvinculadaem tese das enfermeiras norte-americanas.

    A expresso nominal Annaes de Enfermagem, criada em 1932, passou a ser grafada Anais deEnfermagemem 1946, redenominando-se definitivamente Revista Brasileira de Enfermagem apartir de 1954.

    Uma evidncia histrica relevante para a criao brasileira do nome Enfermagem por (ou nainterrompida gesto de) Rachel H. Lobo que, de 1923 a 1949, a parte geral do currculo daEscola de Enfermeiras do Departamento Nacional de Sade Pblica, mantm a disciplina Artede Enfermeira; somente a partir de 1949, onde existe a palavra enfermeira passa-se a

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    registrar a palavra enfermagem. Ou seja, criada entre 1931 e 1932, essa palavra somente senacionaliza e aceita oficialmente em 1949, dezesseis anos depois da interrupo por mortede sua possvel criadora, Rachel Lobo.

    Antes de 1932 no existem registros da palavra enfermagem: aonde aparece registrado a

    palavra enfermagem a partir de 1949, repito, a palavra existente desde 1923 era enfermeira.Nesse sentido, curiosa a definio dada por Rangel (1956, p. 269): a profisso deenfermeira a soma total de todas as enfermeiras. V-se que a aceitao mdica da palavraenfermagem tambm tardia, apesar do seu aparecimento registrado em 1932.

    E de onde Rachel H. Lobo, as enfermeiras brasileiras e, possivelmente, outras enfermeirasligadas fundao do Annaes, buscaram fontes para cunhar a palavra enfermagem, designativada profisso de enfermeira?

    Etimologicamente, enfermagem composta do radical latino enferm e do sufixo agem; oprefixo enferm vem do prefixo latino infirm significando no firme, fraco, dbil, debilitado,danificado, deteriorado; o sufixo nominal latino agem, formador de substantivos de

    substantivos e procedente do francs age, significa noo coletiva, ato ou estado de, ao ouresultado de ao.5 Historicamente, pessoas fragilizadas e debilitadas eram reunidas emenfermarias para que recebessem cuidados de pessoas denominadas enfermeiros eenfermeiras: o nome do faziam determinadas pessoas (prestavam cuidados), o nome do lugaraonde prestavam cuidados (enfermarias), o nome dos cuidadores (enfermeiros e enfermeiras)antecipou o nome brasileiro da profisso (enfermagem).

    Engano e erro afirmar a origem da palavra enfermagem na palavra inglesa nurse, surgida em1526 e significando mulher amamentadora ou cuidadora, nutriz.

    Hoje, na Frana, nursesignifica enfermeira, bab; na lngua inglesa significa pessoaque cuidade doentes, de uma criana, de um invlido, de um doente ou ferido no hospital.

    As palavras criadas com o prefixo infirmso enfermagem (enferm + agem), enfermar (enferm+ ar), enfermaria (enferm + aria), enfermeiro (enferm + eiro), enfermio (enferm + io),enfermidade (enferm + idade), enfermo (enferm + o).

    Todas as palavras compostas pelo prefixo enferm ligam-se obviamente s palavras francesasde origem latina infirmire, registrada em 1398, e infirmerie, registrada em 1606.

    Miranda (1994, p.14) registra que infirmiresignifica pessoa que cuida de um doente numaenfermaria clnica de hospital e infirmeriesignifica

    local onde viviam as comunidades destinadas a receber e a cuidar dosdoentes, feridos ou a lhes dar os primeiros cuidados antes de os transferirpara o hospital. Na lngua portuguesa, enfermeira tem origem no sculo XIII,

    significando ficar doente, do latim infirmare.

    Atualmente, na lngua francesa, infirmier, infirmire significam enfermeiro, infirmeriesignifica enfermaria e no existe a palavra enfermagem.

    Na lngua espanhola, enfermeratanto significa enfermagem quanto enfermeira e enfermaria.

    Atualmente na lngua inglesa, composta do latim, de lnguas clticas e do alemo arcaico,nursing o nome da profisso da nurse. Este no o sentido dado palavra nursing porFlorence Nightingale.

  • 8/14/2019 Cuidado Enfermagem

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    Na lngua portuguesa, a palavra enfermeir@ aparece no sculo XIII e usada no Brasil desdea vinda de Manuel da Nbrega em 1549; a palavra enfermagem aparece no Brasil em 1932como ttulo da publicao Annaes de Enfermagem.

    No se trata de evoluo da palavra ou daquela pessoa designada como infirmire, nurse,

    enfermeira; nem tampouco da evoluo da palavra para designar o nome de uma profissosurgida no Brasil no sculo XX e na Inglaterra no sculo XIX ou para designar o local onde setrabalhava infirmerie, enfermera (enfermaria em espanhol), enfermaria, hospital: o erro sinomizar palavras diferentes, criadas e usadas por culturas diferentes, para designar prticasdiferentes, em momentos histricos