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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ Keila Maria de Azevedo Ponte Tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para o conforto de mulheres com Infarto Agudo do Miocárdio Fortaleza-Ceará 2011

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

Keila Maria de Azevedo Ponte

Tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para o

conforto de mulheres com Infarto Agudo do Miocárdio

Fortaleza-Ceará

2011

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Keila Maria de Azevedo Ponte

Tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para o conforto de mulheres

com Infarto Agudo do Miocárdio

Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Mestrado Acadêmico Cuidados Clínicos em Saúde do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Cuidados Clínicos em Saúde. Área de concentração: Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde Orientadora: Profª. Drª. Lúcia de Fátima da Silva

Fortaleza-Ceará

2011

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Universidade Estadual do Ceará

Biblioteca Central Prof. Antônio Martins Filho

P813t Ponte, Keila Maria de Azevedo

Tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para o conforto

de mulheres com infarto agudo do miocárdio / Keila Maria de

Azevedo Ponte. – 2011.

177 f. : il. color., enc. ; 30 cm.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual do Ceará,

Centro de Ciências da Saúde, Curso de Mestrado Acadêmico em

Cuidados Clínicos e Saúde, Fortaleza, 2011.

Área de Concentração: Cuidados clínicos em saúde e

enfermagem.

Orientação: Profª. Drª. Lúcia de Fátima da Silva.

1. Cuidados de enfermagem. 2. Cuidados intensivos. 3. Infarto

do miocárdio. 4. Saúde da mulher. 5. Cuidados de conforto.. I.

Título.

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Keila Maria de Azevedo Ponte

Tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para o conforto de mulheres com Infarto Agudo do Miocárdio

Dissertação de Mestrado apresentada à Coordenação do Mestrado Acadêmico Cuidados Clínicos em Saúde do Centro de Ciências da Saúde, da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Cuidados Clínicos em Saúde. Área de concentração: Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde

Aprovada em: 23/12/2011

BANCA EXAMINADORA:

__________________________________ Profa. Dra. Lúcia de Fátima da Silva (Orientadora)

Universidade Estadual do Ceará - UECE

________________________________________ Profa. Dra. Antonia Eliana de Araújo Aragão Instituto Superior de Teologia Aplicada - INTA

_______________________________________ Profa. Dra. Maria Vilani Cavalcante Guedes

Universidade Estadual do Ceará - UECE

_______________________________________ Profa. Dra. Ivete Palmira Sanson Zagonel Faculdades Pequeno Príncipe – Curitiba-PR

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Aos meus pais, Manoel Euladio Ponte e Maria Arlene de Azevedo Ponte, a quem dedico todas as minhas vitórias conquistadas.

E, ao meu esposo, Jean Marques de Morais, pela compreensão e pelo amor em todos os momentos que passamos juntos.

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AGRADECIMENTOS

Agradecer pelo alcance de mais uma conquista em minha vida torna-se uma obrigação neste momento, considerando que, sem o apoio e incentivo destas pessoas a conclusão da dissertação e do Mestrado Acadêmico Cuidados Clínicos em Saúde não teria sido possível:

A Deus, que sempre me guia, protege, ilumina, dá força, coragem, fé e amor, além de me privilegiar com pessoas abençoadas e iluminadas ao meu redor, como segue:

Ao meu pai, Manoel Euladio Ponte (in memorian), pelos ensinamentos e por todos os momentos compartilhados juntos... responsável por despertar em mim o amor pelo cuidado de enfermagem em cardiologia.

À minha mãe, Maria Arlene de Azevedo Ponte, que sempre apoia, orienta, vivencia junto comigo todos os momentos, além de participar ativamente de minhas atividades particulares e acadêmicas; pelo amor recíproco que suplanta tudo, inclusive a ausência (para dissertar).

Ao meu esposo, Jean Marques de Morais, pela confiança, pelo incentivo, companheirismo, amor incondicional, cúmplice em todos os momentos, pelo acompanhamento e incentivo aos nossos projetos de vida.

A todos de minha família: Ponte, Azevedo e Marques, sem distinção, pela atenção, pelo apoio, carinho e pela presença constante em minha vida.

À querida amiga, Dra. Antonia Eliana de Araújo Aragão (Lili), a quem devo a realização deste mestrado, pelo incentivo, pelos ensinamentos, pela confiança, atenção, compreensão e, principalmente, amizade; pelas contribuições para o desfecho desta dissertação.

À querida orientadora, professora e amiga, Dra. Lúcia de Fátima da Silva, pela amizade conquistada, pelos ensinamentos apreendidos, pelo incentivo, pela compreensão, presença e acolhida em seu lar para as orientações.

À Fundação Cearense de Apoio à Pesquisa, pela concessão da bolsa de pesquisa, a qual muito me ajudou durante o período do curso.

À professora Dra. Maria Vilani Cavalcante Guedes, pelos ensinamentos, pelo apoio, pela amizade e pelas excelentes contribuições para o aprimoramento desta dissertação.

À professora Dra. Ivis Emília de Oliveira Sousa, pelas contribuições sugeridas e acatadas na qualificação do projeto de pesquisa deste.

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À professora Dra. Ivete Palmira Sanson Zagonel, pela disponibilidade em apreciar e aprimorar esta dissertação e pela elaboração do método pesquisa-cuidado, possibilitando alcançar os objetivos desta dissertação.

Às amigas enfermeiras do Hospital do Coração de Sobral: Berenice Sousa, Claudiane Albuquerque, Raimundinha Parente, Célia Carneiro, Neila Régia, Socorro Mendes, Glacie Suely, Fabiene Parente, Ivonildo Ferreira pela atenção, respeito, carinho, confiança e contribuição na realização deste estudo.

Aos médicos e auxiliares de enfermagem do Hospital do Coração de Sobral, pela acolhida e apoio na coleta de dados desta;

Às amigas professoras Esp. Claudênia Vasconcelos, Dra. Adelane Monteiro e mestranda Michelle Alves, pelo incentivo e apoio na realização deste mestrado.

Ao diretor geral do Hospital do Coração de Sobral, Dr. Klauber Roger, pelos ensinamentos, pela oportunidade e, principalmente, por ter apoiado a realização desta pesquisa.

Ao diretor geral das Faculdades INTA, Dr. Oscar Rodrigues Júnior, pela liberação para ir cursar o mestrado.

A todos os professores do Mestrado Acadêmico Cuidados Clínicos em Saúde (CMACCLIS), pelo conhecimento transmitido, pela atenção e pelo incentivo.

Às amizades conquistadas durante as aulas do CMACCLIS, pelas trocas de experiências, pelos momentos alegres e tensos que compartilhamos juntos.

A todos do Grupo de Pesquisa Enfermagem, Educação, Saúde e Sociedade (GRUPEESS), em especial aos colegas da Linha de Pesquisa: Fundamentos e Práticas do Cuidado Clínico em Enfermagem e Saúde, pelos momentos de aprendizagem compartilhados juntos.

Às secretárias do CMACCLIS, Selma Campos e Luciana Oliveira, que sempre estiveram disponíveis para ajudar durante o curso.

Em especial, às mulheres que foram sujeitos desta pesquisa, pelas contribuições para a realização desta, e pela confiança depositada em mim durante a implementação dos cuidados.

Aos familiares das mulheres participantes do estudo, pela confiança e pelas contribuições no período da coleta das informações.

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RESUMO

“As palavras de amizade e conforto podem ser curtas e

sucintas, mas o seu eco é infindável.”

Madre Tereza de Calcutá

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RESUMO

PONTE, K.M.A. Tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para o conforto de mulheres com infarto agudo do miocárdio. 2011. 177f. Dissertação (Mestrado Acadêmico Cuidados Clínicos em Saúde). Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2012.

Este estudo teve como objeto o uso de tecnologias de cuidar para o conforto de mulheres com infarto agudo do miocárdio. Como objetivo geral, analisar a contribuição das tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para o conforto de mulheres com infarto agudo do miocárdio, mediado pelo referencial da Teoria do Conforto de Kolcaba e pela pesquisa-cuidado. Utilizou-se para isto o desenho qualitativo, caracterizado como uma pesquisa-cuidado proposta por Neves e Zagonel. Os sujeitos do estudo foram nove mulheres admitidas com infarto agudo do miocárdio, no período de abril a junho de 2011, em um hospital de referência em Cardiologia de Sobral-Ceará-Brasil. O primeiro encontro foi na admissão, o qual perdurou em média seis horas, foram esclarecidos os objetivos da pesquisa, a proposta do método e, seguidamente, ocorreu a implementação do cuidado com base nos quatro contextos de conforto proposto pela teoria: físico, psicoespiritual, ambiental e sociocultural. Após, realizaram-se mais três encontros subsequentes de pelo menos quatro horas. Coletaram-se dados por meio de entrevista individual semiestruturada, formulário, diário de campo e observação participante. Respeitaram-se os aspectos éticos e legais da pesquisa com humanos. As informações foram analisadas por meio da análise temática categorial de conteúdo de Bardin. Realizou-se a caracterização das protagonistas do estudo, expondo o perfil sociodemográfico das mulheres. Quanto às tecnologias implementadas no contexto físico: controlar e aliviar desconforto precordial e sintomatologias clínicas; implementar cuidados gerais de enfermagem e para melhorar conforto no leito; satisfazer as necessidades básicas e cuidar diferenciado no sítio de punção e na retirada do dispositivo intra-arterial. No psicoespiritual, fortalecer a espiritualidade; esclarecer sobre a pesquisa e o adoecimento; ajudar no enfrentamento da nova condição de saúde e nas situações de confusão mental e desorientação. No contexto ambiental, implementar cuidados voltados a promover adaptação à unidade coronariana; proporcionar ambiente propício para conforto e favorecer ambiente descontraído. E, para confortar no contexto sociocultural, ficar disponível, adquirindo confiança, estabelecendo vínculo, fornecendo carinho para ser uma companhia agradável; viabilizar o encontro com as famílias, oferecendo-lhe apoio; estimular a interação e bom relacionamento com os profissionais do hospital; e conhecer a cultura da pessoa, adaptando-a na unidade coronariana. Considera-se que a percepção do conforto depende da escolha de tecnologias de cuidar apropriadas a cada situação do cuidado clínico de enfermagem.

Palavras-chave: Cuidados de enfermagem. Cuidados intensivos. Infarto do miocárdio. Saúde da mulher. Cuidados de conforto.

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ABSTRACT

PONTE, K.M.A. Technologies of clinical nursing care for the comfort of women with acute myocardial infarction. 2011. 177f. Dissertation (Academic Master Course in Health Clinical Care). State University of Ceará, Fortaleza, 2012. This study aimed the use of care technology for the comfort of women with acute myocardial infarction. The main objective was to analyze the contribution of technologies to clinical nursing care for the comfort of women with acute myocardial infarction, mediated by the Comfort Theory of Kolcaba e by the research-care. Thus, we used a qualitative study characterized as a research-care proposed by Neves and Zagonel. The study subjects were nine women admitted with acute myocardial infarction from April to June 2011 in a reference hospital in Cardiology in Sobral, Ceará, Brazil. The first meeting was in the admission, which lasted six hours on average, were explained the research objectives, the proposed method and then there was the implementation of care based on the four contexts of comfort proposed by the theory: physical, psycho-spiritual, environmental and socio-cultural. After, there were three more subsequent meetings of at least four hours. Data was collected through semi-structured individual interviews, questionnaire, field diary and participant observation. The ethical and legal aspects of research with humans were respected. Data was analyzed using content categorical thematic analysis of Bardin. We carried out the characterization of the protagonists of the study, exposing the socio-demographic profile of women. Regarding the technologies implemented in the physical context: to control and relieve precordial discomfort and clinical symptoms; implement general nursing care and improve comfort in bed; meet the basic needs and special care in the puncture site and at the removal of intra-arterial device. In psycho-spiritual: strengthen spirituality; clarify the research an illness; help in dealing with the new health condition and situations of confusion and disorientation. In the environmental context: implement care aimed at promoting adaptation to the coronary care unit; provide an environment prompt to comfort and encourage a relaxed environment. And to comfort in the sociocultural context: to become available, gaining confidence, establishing bonds, providing care to be a pleasant company; enable the meeting with families, offering support; encourage interaction and good relationships with the hospital professionals; and know the person's culture, adapting it to the coronary care unit. It is considered that the perception of comfort depends on the choice of technologies appropriate to each situation of clinical nursing care. Keywords: Nursing Care. Intensive Care. Myocardial Infarction. Women's Health. Hospice Care.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CMACCLIS Mestrado Acadêmico Cuidados Clínicos em Saúde

GRUPEESS Grupo de Pesquisa Enfermagem, Educação, Saúde e Sociedade

IAM Infarto Agudo do Miocárdio

ICP Intervenção Coronariana Percutânea

INTA Instituto Superior de Teologia Aplicada

PC Pesquisadas-cuidadas

SADTs Serviços de Apoio Diagnóstico e Tratamento

SAME Serviços de Arquivos Médicos

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UCO Unidade Coronariana

UECE Universidade Estadual do Ceará

UVA Universidade Estadual Vale do Acaraú

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................... 13 2 OBJETIVOS....................................................................................................... 23

3 REVISÃO DE LITERATURA.............................................................................. 24 3.1 CUIDADO DE ENFERMAGEM: USO DE TECNOLOGIA DE CUIDAR PARA

PROMOVER O CONFORTO............................................................................. 24

3.2 TECNOLOGIAS PARA O CUIDADO DE ENFERMAGEM À MULHER COM INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO .................................................................

30

4 REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO ................................................. 37 4.1 TEORIA DO CONFORTO DE KATHERINE KOLCABA .................................... 37 4.2 MÉTODOS E PROCEDIMENTOS .................................................................... 43 4.2.1 APROXIMAÇÃO COM O OBJETO DE ESTUDO .......……………………......... 45 4.2.2 ENCONTRO COM O SER PESQUISADO-CUIDADO ...................................... 47 4.2.3 ESTABELECIMENTO DAS CONEXÕES DA PESQUISA, TEORIA E

PRÁTICA DO CUIDADO.................................................................................... 52

4.2.4 AFASTAMENTO DO SER PESQUISADOR-CUIDADOR E SER PESQUISADO-CUIDADO .................................................................................

65

4.2.5 ANÁLISE DO APREENDIDO ........................................................................... 66 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................... 70 5.1 CARACTERIZAÇÃO DAS PROTAGONISTAS DO ESTUDO ........................... 70 5.2 ANÁLISE TEMÁTICA CATEGORIAL DE CONTEÚDO ..................................... 73 5.2.1 A DOR PRECORDIAL E O PROCESSO DE HOSPITALIZAÇÃO DAS

MULHERES COM IAM....................................................................................... 74

5.2.2 CONTEXTOS DA EXPERIÊNCIA HUMANA: O CONFORTO FÍSICO ............. 79 5.2.3 CONTEXTOS DA EXPERIÊNCIA HUMANA: O CONTEXTO

PSICOESPIRITUAL .......................................................................................... 107

5.2.4 CONTEXTOS DA EXPERIÊNCIA HUMANA: O CONTEXTO AMBIENTAL ..... 124 5.2.5 CONTEXTOS DA EXPERIÊNCIA HUMANA: O CONTEXTO

SOCIOCULTURAL ........................................................................................... 130

5.2.6 O AFASTAMENTO: SEPARAÇÃO DA PESQUISADORA E SER CUIDADO .. 149 5.3 TRATAMENTO DOS RESULTADOS OBTIDOS E INTERPRETAÇÃO ............ 153 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 157 REFERÊNCIAS .................…………………............................................,,,,,,,,,,, 159 APÊNDICES .......……………………………………………………....................... 171

ANEXO ............................................................................................................. 177

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1 INTRODUÇÃO

O cuidado, percebido como uma relação entre profissional de

enfermagem e pessoas, é um ato que envolve conhecimento científico e uso de

habilidades técnicas para o alcance de uma meta de saúde, incluindo-o no contexto

de cuidar, sentimento das pessoas envolvidas. Nesta investigação, buscou-se pela

análise da contribuição do cuidado clínico de enfermagem, mediado por tecnologias

de cuidar, para proporcionar conforto a mulheres com Infarto Agudo do Miocárdio

(IAM).

Para programar cuidados clínicos nessas circunstâncias, o enfermeiro

dispõe de tecnologias que favorecem e permeiam o processo de cuidar. Aliado a

esta compreensão de práticas de saúde, alguns autores exploraram o processo de

trabalho em saúde e as tecnologias utilizadas, as quais segundo Merhy e Onocko

(1997), permitem a criação de práticas inovadoras permanentes de processos

tecnológicos para enfrentar as necessidades de saúde. E, ainda, os autores

classificam as tecnologias de saúde em dura, leve-dura e leve, sendo as duras

representadas pelas máquinas, as leve-duras pelos saberes estruturados e as leves

pela relação a qual se estabelece entre o profissional de saúde e a pessoa cuidada.

Na Enfermagem, o cuidado é genuíno e peculiar, sendo a essência da

profissão. Trata-se de um empenho transpessoal de ser humano para ser humano, e

tem como um dos objetivos propiciar a sensação de conforto, confiança, segurança,

tranquilidade e alívio. Assim, o conforto, como resultante do cuidado clínico de

enfermagem, deve ser uma das metas estabelecidas pelo plano de cuidados dos

enfermeiros (WALDOW, 2008).

Dessa maneira, a busca por conforto tem sido frequentemente

empregada nas práticas de enfermagem, estando este conceito vinculado à origem

da profissão e possuindo diferentes significados, por transcender a dimensão do

cuidado de enfermagem (APÓSTOLO, 2009). É a partir deste panorama que se

evidencia a necessidade de aprofundar a compreensão do ato de cuidar,

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promovendo o conforto na perspectiva do exercício profissional do enfermeiro, já

que se configura como essência da profissão.

Nessa perspectiva, compreende-se cuidado clínico como práticas,

intervenções e ações sistematizadas, de cuidado direto, desenvolvido pela equipe

de enfermagem e dirigido ao ser humano, seja individualizado ou coletivo,

fundamentado em evidências quantitativas e/ou qualitativas, com bases filosóficas,

ética, estética, teórica, cientifica, técnica e política, considerando as manifestações

ou respostas das pessoas ao seu processo de viver no continuum saúde-doença

(REGIMENTO, 2011).

Para a implementação do cuidado clínico, os enfermeiros precisam ter

como base modelos científicos sistemáticos capazes de fundamentar e orientar o

processo de cuidar. Para tanto, a Enfermagem vem se estruturando para ser

reconhecida como ciência. Neste sentido, Kim e Kollak (2006) enfatizam a

necessidade de serem discutidas as práticas de enfermagem, pelo compromisso,

quanto à qualidade, eficácia e eficiência dos cuidados nos serviços de saúde, bem

como apresentam de que maneira a Enfermagem pode se diferir na prestação de

cuidados aos pacientes.

Isso é possível por meio do embasamento e da associação da práxis de

enfermagem em fortalecer a relação dos envolvidos do processo de cuidar. Nesta

perspectiva, o enfermeiro busca pelo sustentáculo para o cuidar na internalidade da

profissão, na reflexão crítica do seu saber-fazer, nos referenciais teóricos- filosóficos

da pesquisa científica e nas teorias de enfermagem, objetivando contribuir para o

cuidar sensível, ético e estético (CRIVARO; ALMEIDA; SOUZA, 2007).

Assim, quando se busca pela compreensão do fenômeno conforto numa

perspectiva teórica da enfermagem, evidenciam-se pesquisadores que já

contribuíram e/ou vêm contribuindo para o desenvolvimento teórico ou do estudo de

teorias na profissão, seu entendimento e aplicação dos constructos. Podem ser

citadas, entre outras, Florence Nightingale, Lidia Hall, Callista Roy, Hildegard

Peplau, Jean Watson, Madeleine Leininger, Josephine Paterson, Loretta Zderad e

Katherine Kolcaba. Esta última diferencia-se pelo aprofundamento no assunto e na

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dedicação à operacionalização e conceituação do termo, considerando o conforto

como resultado das intervenções de enfermagem (APÓSTOLO, 2009).

Dessa forma, percebe-se, no âmbito da profissão, a importância de

operacionalizar o processo de enfermagem, embasado em teorias que facilitem e

permeiem o cuidado. Assim, para direcionar o presente estudo, escolheu-se como

fundamento a Teoria do Conforto, de Katherine Kolcaba (KOLCABA, 2003),

considerando os fatores da referida teoria que condicionam e possibilitam a

apreciação investigativa sobre o fenômeno conforto como meta do cuidado de

enfermagem, fornecendo inclusive o suporte à coleta, a análise e interpretação de

informações recolhidas em pesquisas.

Nessa perspectiva, Kolcaba (2003) contempla o conforto como uma

experiência imediata e holística, que é reforçada por meio de satisfação das

necessidades de alívio, tranquilidade e transcendência, presentes em quatro

contextos da experiência humana: física, psicoespiritual, sociocultural e ambiental.

Logo, a autora sugere que o oposto do conforto seja a sensação de sofrimento,

contudo, resultado do cuidado de enfermagem.

Com vistas, portanto, ao estudo do conforto no âmbito da enfermagem, é

preciso ponderar que os contextos nos quais o cuidado de enfermagem é oferecido

abrangem diversas condições de saúde-doença, como as situações de adoecimento

crônico, dentre as quais, destacam-se as doenças cardíacas agudas e crônicas.

Nestas circunstâncias, a pessoa apresenta comprometimento geral do seu estado

de saúde devido à diminuição da força física e cardíaca. Neste sentido, a equipe de

enfermagem assume função significativa por ter a missão de ajudar as pessoas a

enfrentarem as dificuldades em torno da doença e de cuidarem de suas

necessidades (BALDUINO; MANTOVANI; LACERDA, 2009).

Dentre as doenças cardiovasculares, enfatizam-se as cardiopatias

isquêmicas como as principais responsáveis pela morbimortalidade em todo o

mundo (OMS, 2010). Além disso, devido ao seu caráter agudo, já se instala

provocando alterações físicas, emocionais, psicológicas, familiares, espirituais e

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sociais, que devem ser consideradas durante o cuidado clínico de enfermagem a

estas pessoas.

As doenças cardiovasculares têm sido a maior causa de morte entre

mulheres após a menopausa no mundo (MEDEIROS, 2003; MALHEIROS et al.,

2009) e no Brasil (SCHMITT; CARDOSO; ALDRIGHI, 2008). Isto pode ser justificado

pelo provável aumento do peso e alto consumo de sal pelas mulheres nesta fase, o

que desencadeia hipertensão. Ainda, é preciso considerar o hábito de fumar e a

deficiência estrogênica presentes na menopausa (LOTUFO, 2007).

Quanto à mortalidade por IAM em relação ao gênero, Morton et al. (2007)

afirmam que esta doença afeta aproximadamente 25% dos homens e 38% das

mulheres. As pessoas do sexo feminino têm a maior probabilidade de morte no

primeiro infarto, principalmente quando são acometidas em idade mais avançada, de

maneira que dos sobreviventes de um primeiro infarto, 18% dos homens e 35% das

mulheres terão outro episódio em seis anos.

Ao considerar as informações supracitadas, torna-se relevante a

valorização do cuidado à saúde da mulher em todos os níveis de atenção, desde os

cuidados na área reprodutiva como na preventiva, incluindo-se a prevenção do

câncer de mama e de colo uterino, assim como na prevenção dos adoecimentos

crônicos não transmissíveis e nas doenças coronarianas. Com isto, poder-se-ia não

somente reduzir os elevados índices de morbimortalidade por doenças

cardiovasculares neste grupo, mas, principalmente, ajudar às mulheres a enfrentar a

nova condição de existência, conduzindo-as à busca pelo bem-estar possível,

principalmente quando estas necessitam de assistência hospitalar.

A hospitalização da pessoa com doença coronariana geralmente ocorre

de forma súbita e inesperada, podendo causar-lhe, assim como à sua família,

sofrimento e insegurança, além da angústia pelo medo de morrer ou ficar inválido

(SCHNEIDER et al., 2008). Neste sentido, é importante destacar que por ocasião da

internação hospitalar de mulheres com cardiopatias podem ocorrer alterações

capazes de refletir na qualidade de suas vidas, como: o afastamento da família e do

trabalho, as limitações dos afazeres domésticos e atividades de lazer, interferindo no

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seu autocuidado. Em virtude disso, os enfermeiros devem identificar as causas de

desconforto nessas pacientes durante a internação, para que estabeleçam um plano

de cuidados voltados às necessidades individuais, visando à obtenção do conforto

necessário ou possível.

Quando admitidas em Unidade de Terapia Intensiva, neste caso

denominada Unidade Coronariana (UCO), as pessoas com IAM enfrentam

mudanças repentinas no cotidiano anteriormente vivenciado. Tornando-se relevante

o cuidado de enfermagem prestado aos pacientes nestas condições, pois, para as

pessoas hospitalizadas, a unidade é um ambiente estranho, assim como os

procedimentos aos quais são submetidos.

Nesses cenários, as pessoas podem ter sensação de desconforto

relacionado à presença de dor precordial, frequentemente intensa. Isto gera a

necessidade de realização de procedimentos diagnósticos e/ou terapêuticos

invasivos, os quais incluem: cateterismos e angioplastias das artérias coronarianas,

os quais para serem realizados requerem a tricotomia pubiana. Também existe a

necessidade da manutenção de dispositivo intra-arterial protegido por curativos

compressivos. Após seis horas ocorre a retirada do dispositivo e aposição de

curativos compressivos. Todo o processo é gerador de dor e desconforto.

Para realização eficaz deste tipo de atendimento, faz-se necessária

existência de procedimentos protocolares para esta clientela, como: manutenção de

repouso absoluto no leito, punção venosa, banhos no leito, verificação amiúde de

sinais vitais, administração de medicamentos, dentre outras intervenções.

Acrescenta-se o fato de a pessoa permanecer segregada do contexto familiar,

afastada dos entes queridos e em interação com profissionais desconhecidos. Isso

pode ser responsável por percepção de desconforto do paciente no ambiente

hospitalar. E, por certo, o enfrentamento dessas situações difere de pessoa para

pessoa.

As mulheres com coronariopatia e a indicação de alguma intervenção

diagnóstica ou terapêutica invasiva possuem algumas peculiaridades a serem

consideradas. Como por exemplo, os vasos coronarianos e periféricos são menos

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calibrosos, sendo que as hipertensas e diabéticas, em relação ao sexo masculino,

tornam-se mais graves e, consequentemente, apresentam mais complicações do

que os homens quando se submetem a uma angioplastia ou cirurgia cardíaca. Além

disto, as mulheres apresentam maiores chances de desenvolver choque

cardiogênico (SOUSA et al., 2007).

Nesse sentido, Rocha et al. (2008) referem que o modelo de cuidado

clínico de enfermagem oferecido ao paciente irá indicar as tecnologias a serem

utilizadas. Objetivando sua eficiência e eficácia, torna-se necessária a utilização de

diferentes tipos de tecnologias.

Dessa maneira, os enfermeiros podem apoderar-se das tecnologias como

estratégia de desempenho de cuidado e, consequentemente, promover conforto a

pessoas hospitalizadas em Unidade Coronariana (UCO). Tais práticas podem ser

aprimoradas por meio das inovações e dos avanços tecnológicos, de maneira a ser

importante ressaltar que o cuidado é o indicador da tecnologia necessária a uma

determinada situação. O uso de tecnologias do cuidar conduz o enfermeiro a

promover conforto e bem-estar, contribuindo para uma vida saudável ou para uma

morte tranquila (ROCHA et al., 2008).

Assim, o importante é a escolha adequada da tecnologia a ser utilizada na

prática de enfermagem, de modo a utilizá-la para o conforto dos pacientes, pois, no

ambiente de terapia intensiva, observa-se a valorização do uso de tecnologias

duras, por meio da utilização dos equipamentos existentes na unidade. Entretanto, é

importante destacar as tecnologias leve-duras e leves que também estão presentes

nesse ambiente.

Desse modo, Waldow (2006) reforça que, na contemporaneidade, as

tecnologias duras estão sendo priorizadas no cuidado de enfermagem e os

cuidadores estão muito preocupados com o manuseio dos equipamentos e, por

vezes, esquecem o ser humano que está a ele conectado, necessitando,

frequentemente, muito mais de um apoio, um aperto de mão e/ou de um olhar

carinhoso.

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19

Tem-se observado a priorização da mecanização do modelo assistencial

em saúde e em enfermagem, em que não se tem atenção ao ser humano presente,

voltando-se, prioritariamente, para o equipamento ou dispositivo utilizado como meio

para o cuidado. Quando se verifica a pressão arterial, por exemplo, opta-se para a

verificação da pressão por meio invasivo ou não invasivo com utilização de monitor

cardíaco em detrimento à verificação manual, inviabilizando maior contato com o

paciente.

Silva, Alvim e Figueiredo (2008) consideram as tecnologias leves

imprescindíveis para a prática de enfermagem no ambiente hospitalar e destacam

algumas atividades executadas desde o acolhimento à alta hospitalar, como

valorização do diálogo, do toque, da relação de ajuda, da demonstração de

preocupação, da expressão de afeto e do saber ouvir.

Essas atitudes são significativas no relacionamento interpessoal de uma

maneira geral, por isso, devem ser reforçadas na prestação de cuidados por

enfermeiros às pessoas hospitalizados. Ações como estas, consideradas

tecnologias leves, podem propiciar ao paciente, melhora no quadro clínico, por

tornar o ambiente agradável, capaz de proporcionar conforto.

Como enfermeira de uma unidade hospitalar que atende a pessoas em

condições de adoecimento clínico na área da cardiologia, a autora teve a

oportunidade de vivenciar diversas condições de cuidado, por vezes percebendo o

explícito alcance de bem-estar das pessoas cuidadas.

A experiência de seis anos na prática de cuidado às pessoas com IAM na

UCO permitiu perceber que, por se tratar de uma doença com características de

atenção de emergência, compreende-se que quanto mais rápido o atendimento

melhor será a resposta do paciente, considerando-se a necessidade de obter-se a

reperfusão das artérias coronarianas comprometidas. Por isso, o cuidado de

enfermagem acompanha as necessidades urgentes de atos que se tornam muitas

vezes mecanizados, por meio de atitudes padronizadas direcionadas a qualquer

pessoa atendida.

Page 20: Tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para o conforto de ... · Tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para o conforto de mulheres com Infarto Agudo do Miocárdio

20

O cuidado de enfermagem, para promover o conforto, pouco é vivenciado

durante este processo, o que é observado no atendimento de rotina. A preocupação

gira em torno da solução de necessidades mais urgentes e voltadas para a

objetividade do diagnóstico e intervenção clínica do adoecimento cardiovascular. Ao

que parece, o modelo biomédico ainda prevalece também na práxis de enfermagem

na UCO. Torna-se, portanto, importante que o enfermeiro programe estratégias para

possibilitar a sensação de conforto à clientela mesmo durante as situações mais

urgentes, considerando todas as suas dimensões. Isto porque a sensação de

conforto é uma necessidade básica que costumeiramente tem-se o desejo de

satisfazê-la.

Assim, merece relatar que a escolha pelo aprofundamento do saber no

âmbito da enfermagem na área da Cardiologia surgiu ainda quando da época da

Graduação no Curso de Enfermagem na Universidade Estadual Vale do Acaraú

(UVA), há cerca de dez anos, especificamente quando do adoecimento por

problemas cardíacos do genitor, ocasião em que o mesmo apresentou angina,

infarto do miocárdio e edema agudo de pulmão, evoluindo posteriormente para

insuficiência cardíaca e choque cardiogênico, culminando com seu falecimento, em

2003. À época, chamava à atenção, por ocasião das internações hospitalares, ele

afirmava ter sido “bem tratado pelas enfermeiras”. Da aproximação com aquela

situação, emergiu a curiosidade sobre o conhecimento daquele mundo de cuidados,

tanto acerca do processo fisiopatológico quanto dos modos de cuidar.

Outro fator de aproximação com a temática ocorreu a partir da

experiência e vivência por seis anos no exercício do cuidado como enfermeira da

UCO, na qual foi possível perceber como os seres cuidados ficam satisfeitos com

pequenos gestos e atitudes oferecidas pela equipe de enfermagem em benefício de

sua recuperação, principalmente o grupo feminino, mais presente em nosso meio.

Associadas as experiências citadas, destacam-se as contribuições da inserção no

Mestrado Acadêmico Cuidados Clínicos em Saúde (CMACCLIS), da Universidade

Estadual do Ceará (UECE), na linha de pesquisa: Fundamentos e Práticas do

Cuidado Clínico em Enfermagem e Saúde, cujo projeto atual está relacionado ao

conforto no contexto do cuidado de enfermagem no adoecimento cardiovascular.

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21

Pactua-se também como fator motivacional para o fortalecimento da temática, os

estudos realizados pela referida linha de pesquisa voltados para o conforto de

mulheres em adoecimento cardiovascular (PONTE; SILVA, 2010; SILVA, et al.,

2011).

Diante do exposto, conhecendo a realidade de mulheres com IAM

internadas na UCO, emergiu a preocupação de analisar a contribuição do cuidado

clínico de enfermagem a estas mulheres, mediado por tecnologias próprias do

cotidiano de cuidar, como contribuidor para a percepção de conforto por parte desta

clientela.

A intenção foi responder ao seguinte questionamento: qual a contribuição

do cuidado clínico de enfermagem, mediado por tecnologias de cuidar, para a

percepção de conforto por mulheres com IAM internadas em UCO? O pressuposto

era que a percepção do conforto por mulheres com IAM na UCO dependeria da

escolha de tecnologias de cuidar apropriadas para cada situação do cuidado clínico

de enfermagem.

Considera-se relevante analisar essa contribuição, posto que conhecer as

tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para o conforto de mulheres com IAM

permitiria devolução dos achados aos diretores, ao corpo clínico e, em especial, à

equipe de enfermagem do hospital lócus da investigação, contribuindo para

proporcionar reflexão, com vistas à melhoria do cuidado. Ressalte-se, então, a

relevância da enfermagem em buscar pelo bem-estar das pessoas sob seus

cuidados, a partir de suas potencialidades em áreas específicas, deste modo foram

investigados os cuidados aos pacientes com IAM em uma UCO.

Salienta-se que este se configura como primeiro estudo que abrange o

contexto do conforto realizado na instituição, podendo ser modelo para outras tantas

pesquisas, que igualmente visem a desenvolver reflexões individuais e com os

enfermeiros do serviço sobre o cuidado de enfermagem prestado, observando as

necessidades individuais de conforto do ser cuidado. Em particular, na UCO, torna-

se essencial este conhecimento como meio de possibilitar a construção de um

Page 22: Tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para o conforto de ... · Tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para o conforto de mulheres com Infarto Agudo do Miocárdio

22

modelo de cuidado clínico de enfermagem que possa nortear a prática e melhorar a

qualidade do atendimento e do serviço.

Reitera-se a relevância da realização desta pesquisa, e de outras, que

contribuam para a práxis da enfermagem. Nesta perspectiva, é significante a

realização de pesquisas que envolvam relevância do cuidado clínico de

enfermagem, mediado por tecnologias do cuidar, buscando por inovações que

fortaleçam a prática e a profissão como meio para seu reconhecimento como ciência

da saúde com forte interface com as ciências humanas como foco para o bem-estar

de saúde dos seres cuidados.

Portanto, esta pesquisa é de grande valia, uma vez que é extensiva a

toda a comunidade hospitalar, inclusive aos gestores, pois, sabe-se que para a

implementação do cuidado clínico no ambiente hospitalar, faz-se necessário o

rompimento de paradigmas por meio da aplicabilidade de novas tecnologias, com

vistas a obter-se cuidado de enfermagem inovador e eficaz.

Page 23: Tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para o conforto de ... · Tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para o conforto de mulheres com Infarto Agudo do Miocárdio

23

2 OBJETIVOS

Geral

-Analisar a contribuição das tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para o

conforto de mulheres com infarto agudo do miocárdio, mediado pelo referencial da

Teoria do Conforto de Kolcaba e pela pesquisa-cuidado.

Específicos

-Conhecer os fatores que causam (des) conforto a mulheres com infarto agudo do

miocárdio, nos contextos físico, psicoespiritual, ambiental e sociocultural;

-Desvelar a percepção do conforto entre mulheres com IAM internadas na UCO;

-Implementar estratégias de cuidado clínico de enfermagem para o conforto de

mulheres a partir do uso de tecnologias de cuidar e da Teoria do Conforto de

Kolcaba;

-Descrever tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para promoção de

conforto para mulheres infartadas.

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24

3 REVISÃO DE LITERATURA

Para aprofundamento no tema em estudo, realizou-se revisão da literatura

acerca do uso de tecnologias do cuidado de enfermagem para promover o conforto

e o cuidado de enfermagem a mulheres com infarto agudo do miocárdio.

3.1 Cuidado de enfermagem: uso de tecnologias de cuidar para promover o

conforto

É importante que os enfermeiros fortaleçam o corpo de conhecimento

próprio da Enfermagem, com vistas a embasar suas práticas, vislumbrando a

cientificidade da profissão e o reconhecimento junto à comunidade acadêmica,

contribuindo para o crescimento e a consolidação da ciência enfermagem (PONTE

et al., 2010b).

Para tanto, observa-se que as produções científicas na área da

enfermagem têm ampliado em quantidade e aprofundamento, as quais se buscam

pelo conhecimento da profissão como ciência. O cuidado, como essência da

profissão, tem sido cada vez mais objeto de estudo de enfermeiros pesquisadores,

com objetivo de aclarar a compreensão conceitual, considerando-o como paradigma

primordial da profissão.

Como objeto de estudo de teses, a complexidade do cuidado é cada vez

mais evidente. O cuidado foi apresentado em diferentes contextos de atenção ao

processo saúde-doença, a partir do qual foi demonstrado o compromisso do

enfermeiro em cuidar em todas as fases da vida e diversos ambientes. O conceito

de cuidado tem assumido diferentes definições e contemplado por vários

profissionais de saúde, cuja concepção denota cuidado em saúde/doença; cuidado

como processo interativo; cuidado em um sistema de cuidados; cuidado de si;

cuidado domiciliar e cuidado familiar (BACKES et al., 2006).

Page 25: Tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para o conforto de ... · Tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para o conforto de mulheres com Infarto Agudo do Miocárdio

25

Em vista disso, a Enfermagem atua em diversos contextos e níveis de

atenção à saúde, dentre os quais na atenção terciária, incluindo as de terapia

intensiva, tipo UCO. Nesses ambientes, o cuidado de enfermagem é presente,

conhecido e referenciado pelos pacientes, acompanhantes e por outros profissionais

de saúde, pois é a equipe de enfermagem quem detém a responsabilidade pelo

cuidado integral das pessoas internadas.

Silva e Damasceno (2005), em estudo acerca do conceito de cuidado no

âmbito da UCO, encontraram que o cuidado de enfermagem, na visão de

enfermeiros deste setor, é definido como uma atenção global da equipe para o ser

cuidado visando satisfazer as necessidades físicas, psicológicas e espirituais, sendo

um método sistematizado permeado pelo conhecimento científico, por meio de

atitudes humanísticas. Entretanto, a investigação revelou distanciamento entre a

retórica e o real da definição de cuidado por parte destes profissionais, uma vez que,

na prática observada, nem sempre as atitudes humanísticas eram percebidas.

Esse fato deve ser refletido, pois se percebe que o conhecimento

científico sobre “o cuidar” por parte dos enfermeiros existe, porém, não é aplicado na

prática. Isso deve ser discutido entre profissionais da área na academia e na prática

do cuidado, como forma de vislumbrar soluções para esses achados, principalmente

ao se referir ao cuidado de pessoas em unidades de terapia intensiva, as quais

permanecem totalmente dependentes do cuidado da equipe multiprofissional, e na

maior parte do tempo, da enfermagem.

Dessa maneira, quando se põe em questão o cuidado de enfermagem

prestado em UCO, considerado ambiente fechado, pode-se apresentar como uma

das metas a implementação de atividades que possam promover o conforto. Os

pacientes, muitas vezes, dependem do profissional para exercer atividades básicas,

por isso a importância de ser discutida a percepção de conforto por parte de

pessoas cuidadas nessas unidades.

Com base nessas reflexões, Kolcaba (2010) estabelece relação e

diferenças entre os termos “cuidado” e “conforto”, de maneira que conceitua o

conforto como resultado para o paciente, enquanto o cuidado é como os enfermeiros

Page 26: Tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para o conforto de ... · Tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para o conforto de mulheres com Infarto Agudo do Miocárdio

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executam o trabalho; enfatiza que os efeitos de cuidar são dificeis de mensurar

enquanto os efeitos das intervenções de conforto (incluindo a prestação de

cuidados), podem ser mensuráveis. Considera também o conforto como um

resultado e o cuidado como um processo.

Nesse contexto, merece atenção o processo de cuidar dos enfermeiros às

pessoas com doença cardíaca, o qual é exercido, essencialmente, por meio de

práticas na dimensão técnica, mediante a realização de procedimentos técnicos,

cujo objetivo é prevenir complicações e, na dimensão expressiva, manifestada pela

presença junto ao paciente, cuidando de maneira integral e humanizada. As

dimensões técnica e expressiva ocorrem simultaneamente, dependendo da forma

que ocorre a relação entre profissional e ser cuidado (BALDUINO; MANTOVANI;

LACERDA, 2009).

É possível perceber a essência do cuidado quando nessas dimensões se

retrata como as técnicas, ou seja, os procedimentos propriamente ditos; e as

expressões, que é o diferencial do olhar humanístico do cuidador. Dessa forma, o

saber fazer tecnicamente é valorizado, contudo, o cuidar perpassa esse saber, pois,

é preciso visualizar o outro como um ser diferenciado e dotado de necessidades

individuais, como as de conforto.

Para o aprofundamento deste fenômeno, é relevante conhecer a

terminologia dessa palavra. O termo conforto é originado do latim confortare, que em

português significa fortificar, certificar, conceder, consolar, aliviar, assistir, ajudar e

auxiliar. Tem significados diferentes de pessoa para pessoa, conforme as realidades

vivenciadas, é um estado de equilíbrio pessoal e ambiental (ROSA et al., 2008).

Por conseguinte, percebe-se o conforto como uma necessidade básica de

saúde presente em qualquer pessoa, vivenciando ou não um processo de

adoecimento. Deve-se, então, buscar pela compreensão deste fenômeno nas

pesquisas em saúde e sua relação com a enfermagem.

Ao ser analisado o conforto na literatura, Apóstolo (2009) descreve a

possibilidade de percebê-lo como um dos elementos dos cuidados de enfermagem,

desde sua origem e assume, historicamente, diferentes significados que se perdem

Page 27: Tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para o conforto de ... · Tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para o conforto de mulheres com Infarto Agudo do Miocárdio

27

com a evolução histórica, política, social e religiosa da humanidade junto à evolução

técnico-científico, sobretudo das ciências da saúde e da enfermagem.

Reportando-se à história da enfermagem, em se tratando de cuidado e

conforto, Almeida e Rocha (1986) já faziam referências que, na era cristã, o cuidado

era realizado por diáconos e diaconisas, dando banho nos doentes, realizando

curativos, fornecendo alimentos e proporcionando conforto físico e espiritual aos

pacientes. Esses cuidados eram realizados com o objetivo de obter a salvação de

suas almas, uma forma de obter o perdão para os pecados dos cuidadores. Ainda,

neste contexto, os autores referem que na década de 1980, o conforto e a

segurança do paciente eram concebidos como a finalidade mais importante das

técnicas de enfermagem e que o cuidado de enfermagem, até 1860, tinha como

objetivo promover o conforto da alma dos doentes.

Florence Nightingale, considerada primeira teorista da enfermagem, já

abordava o conforto como meta do cuidado de enfermagem, e se preocupava com

ambiente saudável, alimentação, sono e repouso, interação com a família ou outro

ser humano, higienização pessoal, atividades de lazer, como formas de o cuidador

promover o bem-estar do doente (ICN, 2010).

Para DuGas (2008), o conforto pode ter influências com estímulos físicos,

psicossociais, ambientais e psicológicas, além da maneira como ocorre o cuidado

prestado por enfermeiras. O enfermeiro deve atentar-se para os sinais de

desconforto e também conhecer as intervenções que aliviam ou dificultam o

aumento da intensidade por meio de uma abordagem sistemática.

A teórica Lydia Hall deu origem à história da filosofia do cuidado, na

década de 1960, e apresentou a sua teoria de enfermagem representada por três

círculos: o cuidado, a essência e a cura. Apresenta o conceito de maternagem, que

significa cuidar e confortar a pessoa. Ademais, complementa que ao implementar

cuidados corporais ao paciente e à manutenção de suas funções básicas, o

enfermeiro tem como meta o conforto (HALL, 2000).

Desse modo, o conforto foi e continua sendo estudado por pesquisadores,

mas foi Katherine Kolcaba quem se aprofundou no tema para realizar uma revisão

Page 28: Tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para o conforto de ... · Tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para o conforto de mulheres com Infarto Agudo do Miocárdio

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extensiva na literatura em busca por melhor definir o termo. Este conceito significa

uma experiência imediata e holística, fortalecida pela satisfação das necessidades

de alívio, vontade e transcendência nos contextos: físico, psicoespiritual,

sociocultural e ambiental (KOLCABA, 2003).

Assim, direcionam-se às necessidades de cuidados de conforto

percebidas por pessoas com adoecimento cardíaco, destacando o IAM, por ser

agudo e o paciente apresentar sensações que costumeiramente causam

desconforto nas primeiras horas dos sintomas e do tratamento, precisando ser

reconhecidas como problema de enfermagem e cuidadas como tal.

Em seus estudos, sobre a concepção de conforto em homens com IAM

em uma UCO, Mussi, Friedlander e Arruda (1996) identificaram que as condições

materiais e financeiras foram as que mais se relacionaram ao significado do

conforto. Posteriormente, surgiram as interações pessoais com as pessoas

significativas, o bem-estar físico, psicológico e espiritual, e a restituição das funções

fisiológicas em parâmetros de normalidade.

A partir destes resultados, pode-se observar o conforto relacionado ao

cuidado de enfermagem, entretanto, algumas condições não estão relacionadas a

isto, como as condições financeiras e a ligação de conforto com a posse de bens

materiais.

Outra abordagem do estudo que analisou a concepção do conforto a

partir do sujeito foi em relação à atribuição do conforto como meta do cuidado de

enfermagem, ressaltando nos estudos realizados a existência de pesquisas

envolvendo esta relação (MUSSI; FRIEDLANDER; ARRUDA, 1996).

Com base no exposto, Morton et al. (2007) apresentam como

intervenções de enfermagem nas medidas de conforto ao paciente em fase terminal

o cuidado no posicionamento, com a pele e a boca, no controle da dor e da

ansiedade, considerando ainda as necessidades de comunicação e espirituais.

Em se tratando do cuidado de enfermagem às pessoas hospitalizadas,

está a certificação de que estes estão confortáveis, contudo, é essencial a avaliação

Page 29: Tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para o conforto de ... · Tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para o conforto de mulheres com Infarto Agudo do Miocárdio

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do estado geral da pessoa cuidada, a obtenção de informações relacionadas ao

padrão habitual e da situação atual do adoecimento, com respeito às restrições.

Dentre os cuidados de conforto promovido pela enfermagem no ambiente hospitalar,

principalmente por longo tempo, apontam-se as condições da cama e colchão,

estando com frequência os pacientes preocupados com estes elementos (DUGAS,

2008).

Esses cuidados são restritos à equipe de enfermagem, a qual deve

apropriar-se como atividade permanente de observação, tornando-se atenta a

quaisquer uns destes problemas e atuando na resolubilidade dessas intercorrências.

Com o objetivo de proporcionar conforto físico à pessoa hospitalizada, cujo cuidado

é de competência da enfermagem.

Silveira (2010) enfatiza que a enfermagem utiliza cuidados de conforto por

meio de multiplicidade de ações, com a comunicação verbal e não verbal, cuidado

com o ambiente, respeito ao paciente e alívio à dor, assim como ações para manter

a calma, condição que reforça a relevância do relacionamento entre o cuidador e o

ser cuidado.

Assim, foi realizada revisão integrativa na base de dados da Biblioteca

Virtual em Saúde, buscando por evidenciar as pesquisas realizadas por enfermeiros

no Brasil que abordassem sobre cuidados de conforto, em que foi possível

vislumbrar esse fenômenos em diversos contextos do adoecimento (PONTE; SILVA,

2010).

O conforto foi referido em diversas situações de adoecimento por

enfermeiros no Brasil como: pessoas com câncer (CLEMENTE; SANTOS, 2007;

ROSA et al., 2008; GUTIÉRREZ et al., 2007); cuidado ao idoso (BRUM;

TOCANTINS; SILVA, 2005; SILVA; CALDAS, 2009); durante o trabalho de parto

(CARRARO et al., 2008; SILVEIRA, 2010); em pessoas queimadas (CARLUCCI et

al., 2007); em pacientes em fase terminal (SUSAKI; SILVA; POSSARI, 2006; ELIAS

et al., 2007; MORTON et al., 2007; GUEDES; SARDO; BOREINSTEIN, 2007;

MORAES, 2009); em oncologia pediátrica (AVANCI et al., 2009); no portador de

estomias (SOUSA; GOMES; BARROS, 2009); no recém nascido (SILVA; VIEIRA,

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30

2008); com usuários da estratégia saúde da família (FERRI et al., 2007); familiares

de pacientes (MARUITI; GALDEANO, 2007); e da qualidade do cuidado/conforto por

enfermeiros em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) (OLIVEIRA, 2009).

Destacam-se, para este estudo, as pesquisas que mencionaram o

conforto como necessidade no adoecimento cardiovascular (MUSSI et al., 1996;

SILVA; DAMASCENO 2005; LOURENCI; ANDRADE, 2006; ROCHA et al., 2009;

FORTES, 2007; BALDUÍNO; MANTOVANI; LACERDA, 2009). Entretanto, nestes

estudos não houve preocupação em discutir o uso de tecnologias do cuidado de

enfermagem para o conforto a mulheres com IAM.

A pesquisa mais relacionada ao objeto da presente investigação foi o de

Mussi et al., (1996), que identificou os significados da palavra conforto conferido por

pacientes do sexo masculino com IAM na UCO. Os autores evidenciaram que o

conceito de conforto pode ser expresso de várias formas devido à

multidimensionalidade e complexidade dessa palavra, considerando que esta

percepção não depende exclusivamente dos cuidados de enfermagem.

Outro estudo que abordou o conforto no adoecimento cardiovascular foi o

de Fortes (2007), que evidenciou em pacientes com diagnóstico médico de angina

instável o diagnóstico de enfermagem de dor aguda em 82,5% da amostra e

ressaltou que este faz parte do domínio Conforto.

Dessa maneira, observa-se a dor como desconforto presente nas

coronariopatias, a qual é uma resposta do organismo ao comprometimento do

miocárdio, portanto, as intervenções devem ser voltadas para minimizar o esforço

cardíaco.

3.2 Tecnologias para o cuidado de enfermagem à mulher com infarto agudo do

miocárdio

Compreende-se, desta maneira, a importância de se aprofundar a

concepção de conforto a pessoas com IAM, por ser a coronariopatia com caráter

Page 31: Tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para o conforto de ... · Tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para o conforto de mulheres com Infarto Agudo do Miocárdio

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mais agudo em seus sintomas e que necessita de cuidados imediatos em relação às

demais.

Refletindo este fenômeno, Rosa et al. (2008) referem que viver

confortável não representa estar com conforto em todas as dimensões da vida

simultaneamente, entretanto, é o poder de manter ou restaurar o bem-estar

subjetivo, considerando o equilíbrio entre as limitações e potencialidades presentes.

Neste estudo, optou-se em incluir como sujeitos as pessoas do sexo

feminino, já que a proporção de mulheres tem aumentado significativamente ao

longo do tempo (MELLONI et al., 2010). Ademais, estas possuem algumas

peculiaridades no adoecimento cardiovascular que estão sendo exploradas e devem

ser conhecidas por todos os envolvidos no processo de cuidar.

Diante disso, Carneiro (2010) afirma que existe divergência na anatomia

fisiopatológica cardíaca entre os gêneros, cuja artéria coronária da mulher tem

menor calibre, tem remodelador positivo, ou seja, sua capacidade para esconder a

placa aterosclerótica é maior e sua estrutura é mais tortuosa. Por outro lado, em

geral, o trombo formado na coronária feminina tem menor extensão. Com isso,

durante a hospitalização, as mulheres têm maiores chances de desenvolver

complicações como oclusão aguda ou IAM, cirurgia de revascularização de

urgência, muito embora, após a alta hospitalar, essa incidência torna-se semelhante

para os dois sexos (PEIXOTO et al., 2006).

Ressalta-se, nos aspectos hemodinâmicos, que a mulher tem importância

epidemiológica. Na década 1970, a prevalência de mortalidade por doença arterial

coronariana era maior no sexo masculino. Porém, nos anos de 1980, houve

equilíbrio, e a partir de então a mulher teve maior mortalidade por doença cardíaca,

tornando-se a principal causa de morte entre as pessoas do sexo feminino

(CARNEIRO, 2010).

Coadunado com o exposto, estudos apontam aumento das doenças

cardíacas em mulheres, devido ao estilo de vida moderno assumido, com novas

atribuições, acarretando sobrecarga de trabalho, de preocupações e de

responsabilidades (PONTE et al., 2010a). Esses são alguns fatores que contribuem

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para alteração no metabolismo da mulher, influenciando no aparecimento de

cardiopatias que necessitam de intervenção preventiva ou terapêutica precoce.

Com base no exposto, vale ressaltar também a relação existente entre o

sexo feminino e o cuidado de si, pois, no contexto histórico, as mulheres foram as

primeiras que cuidaram e medicalizaram, além de possuirem comportamentos

diferenciados em relação aos homens e apresentarem mais demonstrações de

interesse e afeto, além de serem mais gentis. São consideradas cuidadoras por

excelência (WALDOW, 2006).

Voltando-se para o adoecimento cardiovascular, recorda-se que até os 75

anos de idade, os homens tinham maior risco de ter adoecimento cardiovascular,

entretanto, após esta idade, era mais frequente em mulheres. Consequentemente,

em idades mais avançadas, o sexo feminino apresenta mais chance de morrer por

IAM do que o masculino Isto ocorre por fatores hormonais sexuais e pela perda do

estrogênio pela mulher na menopausa (MORTON et al., 2007). Corroborando este

estudo, Fortes (2007) encontrou que quase a totalidade das mulheres com angina

instável encontrava-se na menopausa.

Outra peculiaridade na mulher com doença coronariana encontra-se na

característica clínica, pois tem uma apresentação mais tardia do que no homem (+

10 anos), tem maior prevalência de fatores de risco, além do que a Intervenção

Coronariana Percutânea (ICP) possui desafios importantes, devido ao predomínio de

diabetes e hipertensão. Com isso, o diagnóstico é mais tardio, implicando em maior

comorbidades, e índices de complicações hemorrágicas relacionadas ao

procedimento, maior tempo porta-balão, maior taxa de mortalidade hospitalar e

menor taxa de sucesso nas intervenções (CARNEIRO, 2010; PEIXOTO et al., 2006;

FERRER-HITA et al., 2008).

Nesse âmbito, sobressai o papel peculiar da enfermagem no atendimento

aos pacientes vítimas de infarto que são assistidos no ambiente hospitalar, e com

isso tem reduzido a mortalidade associada à cardiopatia por empregarem

habilidades técnicas avançadas, decisões rápidas, educação em saúde e apoio

psicológico (MORTON et al., 2007).

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33

Estas habilidades e intervenções utilizadas pela enfermagem são

tecnologias do cuidado, cujo objetivo principal é proporcionar o bem-estar do

paciente num ambiente diferenciado de seu habitat natural, qual seja, seu lar, além

de cuidar para prevenir complicações e buscar promover a saúde. Na UCO, podem

ser oferecidas pelo enfermeiro variadas tecnologias com esses objetivos.

A UCO é caracterizada como uma unidade diferenciada, pois tem como

característica a incidência e prevalência de mortes superiores aos demais setores

hospitalares, cujos conceitos de vida e morte se interpenetram, constituindo uma

sobrecarga ainda maior sobre o paciente com IAM. Com isso, as satisfações das

necessidades humanas básicas destes pacientes permanecem ameaçadas

(OLIVEIRA; ALBUQUERQUE; ALENCAR, 2009).

Com base nesse contexto, a enfermagem utiliza tecnologias leve, leve-

duras e duras para promover o cuidado. Então é preciso ressaltar que as tecnologias

do cuidado são meios para utilização de equipamentos e técnicas necessárias à sua

prática. Portanto, o cuidado deve estar além dos aspectos técnicos e científicos,

centrado na interação, na transmissão de energia criativa, emocional, intuitiva e

moral (WALDOW, 2006).

Para discutir tecnologia, vale destacar a referência deste termo no

cotidiano ligado ao aspecto trabalho-intervenção-produção-máquina, o que mantém

os profissionais reféns das máquinas, dependentes de um raciocínio reducionista e

dissociado das interações entre cuidado e trabalho. Esse termo lembra também os

centros especializados, como os de terapia intensiva, em que ser humano

permanece exposto a todo um aparato tecnológico (KOERICH et al., 2006).

Ainda nesse contexto, Waldow (2006) relata a ocorrência da substituição

do cuidado humano pelo cuidado pelas máquinas, ocasião em que o contato com o

corpo, toque, afago, aperto de mão, olhar carinhoso parecem não serem mais

necessários. O profissional passa a ocupar-se a entender o funcionamento dos

equipamentos os quais estão acoplados à pessoa.

O diferencial dos seres humanos para as máquinas é o sentimento, a

capacidade de emocionar-se, de envolver-se, de afetar e de sentir-se afetado. Os

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equipamentos não possuem condições de cuidar do meio ambiente, de chorar sobre

as desgraças dos outros e de rejubilar-se com a alegria do amigo (RIBA, 2008).

Outro olhar concebido sobre tecnologia do cuidado de enfermagem

refere-se à relação como “arte da enfermagem” que, por muito tempo, foi

apresentada como a materialização de ideias criativas pelo profissional cuidador, no

qual realizavam improvisações ou adaptações de materiais, implicando em redução

de tempo e economia para a instituição (PAIM et al., 2009).

Em contribuição ao apresentado, enfatiza-se a essencialidade da

construção afetiva estabelecida entre o profissional de saúde e o paciente, que

ocorre no mesmo território das ações cuidadoras, considerando a autonomia do

sujeito. Neste sentido, o cuidado é a essência dos serviços de saúde e se torna o

território das tecnologias leve-duras dos profissionais (MERHY; CERQUEIRA;

FWEREUERKER, 2010).

Os autores ainda sinalizam para o fato de se tornar essencial a ampliação

do olhar e da escuta do profissional para o paciente, permitindo a compreensão da

complexidade da vida, além do processo saúde-doença, colocando o ser cuidado na

posição de agente ativo na produção de sua saúde, diferente do lugar em que

hegemonicamente é posto como objeto das ações de saúde.

À vista do exposto, observa-se que durante o adoecimento, o conforto

habitual é alterado, e as atividades do cotidiano até então realizadas pela pessoa,

passam, inesperadamente, no caso do paciente com IAM na UCO, a ser realizada

com o auxílio de outras pessoas (cuidadores), com o intuito de evitar o esforço

cardíaco.

Com isso, Morton et al. (2007) recomendam que a meta do cuidado de

enfermagem aos pacientes com IAM na UCO é de melhorar o débito cardíaco e

minimizar a carga de trabalho do miocárdio. Isto é possível mediante investigação da

história do paciente na admissão, realização do eletrocardiograma e da

monitorização cardíaca, além de verificação regular de sinais vitais, providência e

manutenção do pérvio, o acesso venoso, e providências de exames laboratoriais,

raios X de tórax e ecocardiograma.

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35

Explicações breves e claras acerca dos procedimentos, assim como o

apoio ao paciente e à família, e administração de oxigenoterapia e terapia

medicamentosa também são fundamentais. Manter repouso absoluto no leito,

promover alívio da dor, avaliar oxigenação, controle da dieta, mensurar peso diário,

balanço hídrico, avaliar distensão venosa no pescoço, estertores pulmonares e

bulhas alteradas são importante em toda internação (MORTON et al., 2007).

Ainda, é preciso monitorar sinais de sangramento, avaliar continuamente

a resposta do paciente, avaliar precordialgia, proporcionar um ambiente calmo e

tranquilo, encorajar a participação do paciente e da família no plano de cuidados,

dentre outras atividades. Morton et al. (2007) apontam o processo de enfermagem,

tecnologia leve-dura, considerado como ferramenta essencial para o cuidado às

pessoas infartadas. Dessa forma, estudos já foram realizados implementando esse

modelo com essa população.

Dentre os principais diagnósticos de enfermagem para pacientes com

IAM, tem-se: Dor torácica relacionado ao infarto; Débito cardíaco diminuído

relacionado a fatores elétricos e mecânicos; Déficit de conhecimento relacionado

com a doença e impacto sobre o futuro; Ansiedade e estresse relacionado com o

medo da doença, morte e ambiente de cuidados críticos; Intolerância à atividade

relacionada com o débito cardíaco diminuído ou alterações na perfusão miocárdica;

e Risco de perfusão tissular ineficaz relacionado com o impacto da terapia

trombolítica sobre o tecido miocárdico (MORTON et al., 2007; PAIVA, 2007).

Portanto, é responsabilidade dos enfermeiros a contemplação do

processo de enfermagem durante o cuidado com o intuito de conhecer o paciente

em sua integralidade e, como um de seus objetivos, minimizar a ansiedade dos

pacientes e também dos familiares. Além de promover melhor adaptação e conforto

frente à hospitalização no ambiente de terapia intensiva.

Considera-se significativo o apoio aos familiares durante o cuidado em

“ambientes fechados”, como as UTI (Unidades de Terapia Intensivas), pois observa-

se que esses locais são com frequência relacionados imediatamente à morte, devido

às características do ambiente da UTI, pois são locais com muitos aparelhos, em

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36

que os pacientes não podem se comunicar e muitos são submetidos a

procedimentos invasivos. A exigência de paramentação durante a visita e restrição

do número de visitantes são aspectos que devem ser ponderados pela equipe de

enfermagem durante o cuidado, pois podem contribuir para os sentimentos de medo

e angústia de familiares e dos pacientes (PONTE et al., 2009).

Ressalte-se, dessa maneira, que as tecnologias leves são saberes

estruturados e podem ser apresentados como oferta de um estilo de vida saudável

ou de orientações de ter conforto e minimizar sofrimentos. Podem ser ferramentas

para lidar com a diferença na produção da vida e não como uma carapaça que

aprisiona a repetição (MERHY; CERQUEIRA; FWEREUERKER, 2010).

Dessa forma, Oliveira, Guedes e Lima (2010), referenciam que o

enfermeiro pode atender às prioridades dos pacientes, por meio de cuidados integral

e individual, com vista a melhorias e saltos na qualidade do cuidado prestado.

Com base no exposto, percebe-se a multidimensionalidade do cuidado

clínico de enfermagem na abordagem a mulheres com IAM, e a partir do

apresentado, é possível vislumbrar a implementação de tecnologias do cuidado para

proporcionar o conforto no ambiente da UCO.

Page 37: Tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para o conforto de ... · Tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para o conforto de mulheres com Infarto Agudo do Miocárdio

37

4 REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO

Na sequência, estão apresentados o referencial teórico utilizado para

fundamentar a presente investigação e os métodos e procedimentos usados para

sua realização. No primeiro momento, mostra-se a Teoria do Conforto de Katherine

Kolcaba, na qual estão postas as informações sobre a teórica, os conceitos e

pressupostos defendidos pela teoria.

Em seguida, são discutidas as etapas da estratégia metodológica para

efetivação deste estudo, mediante a qual optou-se pela pesquisa-cuidado para

nortear os caminhos a serem percorridos para o alcance dos objetivos propostos.

4.1 Teoria do Conforto de Katherine Kolcaba

A teórica Katherine Kolcaba nasceu nos Estados Unidos, é enfermeira,

graduada em 1965, pela St. Luke’s Hospital School of Nursing, em Cleveland, Ohio.

Tem Ph.D em Enfermagem pela Frances Paine Bolton School of Nursing, na Case

Western Reserve University, em 1997. É membro do Conselho de Elderlife, uma

comunidade e rede de apoio para idosos, do American Nurses Association, Honor

Society of Nursing e Sigma Theta Tau (KOLCABA, 2010).

Ela vem elaborando estudos sobre conforto em diferentes contextos do

cuidado de enfermagem, quais sejam, pacientes idosos (KOLCABA; PANNO;

HOLDER, 2000); pediátricos (KOLCABA; DIMARCO, 2005); pessoas no

perioperatório (KOLCABA; WILSON, 2004; KOLCABA; WAGNER; BYRNE, 2006);

mulheres com câncer de mama (KOLCABA; FOX, 1999); em psiquiatria (KOLCABA;

APÓSTOLO, 2009), dentre outros. Percebe-se a aplicação da teoria em diversos

cenários da prática profissional, entretanto não foram encontradas pesquisas

conduzidas por Kolcaba na abordagem aos pacientes com doença coronariana.

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38

O interesse pelo aprofundamento sobre conforto iniciou-se quando a

teorista era enfermeira coordenadora de uma unidade de saúde para idosos com

Alzheimer, na ocasião, concebia conforto como um estado desejado para aqueles

pacientes, ao realizarem atividades especiais (KOLCABA, 2010).

A elaboração da Teoria do Conforto, considerada de médio alcance e de

fácil operacionalização, ocorreu a partir do desenvolvimento de sua dissertação e

tese de pós-graduação stricto sensu, quando analisou o conceito de conforto na

pesquisa, teoria e prática. Para Kolcaba (2010), conforto é, então, compreendido

como a satisfação das necessidades humanas básicas e resultado do cuidado de

enfermagem.

Conceitos da Teoria do Conforto de Kolcaba

Os conceitos articulados que Kolcaba articula na teoria são: conforto,

atendimento de conforto, medidas de conforto, necessidades de conforto,

comportamento de busca de saúde, integridade institucional e variáveis

intervenientes (MCEWEN; WILLS, 2009).

Tais conceitos são explicitados pela Teoria do Conforto na

operacionalização das proposições, nos pressupostos e nas pesquisas, discussões

e reflexões da teórica, que podem ser encontradas em Kolcaba (2003) ou no site

http://www.thecomfortline.com e publicações de Kolcaba (2001); Kolcaba e Dimarco,

(2005) e Kolcaba e Apóstolo (2009).

Ressalte-se que a principal obra de Katherine Kolcaba é Comfort –

Theory and Practice, cuja última edição data de 2003. A autora mantém, na rede

mundial de dados, vastas informações sobre a teoria, entrevistas concedidas, artigos

publicados e vídeos produzidos. Além disso, disponibiliza o endereço eletrônico

[email protected] para quaisquer intercâmbios com pesquisadores e outros

profissionais interessados pela temática conforto no âmbito da enfermagem.

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39

Metaparadigmas da Teoria do Conforto de Kolcaba

Metaparadigmas da enfermagem são os conceitos centrais da profissão.

Os preconizados na elaboração das teorias de enfermagem e definidos como os

quatro maiores metaparadigmas são: Enfermagem, Paciente, Ambiente e Saúde.

Na Teoria do Conforto de Kolcaba (2003), o metaparadigma Enfermagem

é caracterizado como a avaliação intencional de necessidades de conforto,

estabelecimento de intervenções de medidas de conforto para atender às

necessidades. Assim, o enfermeiro reavalia pacientes, famílias ou comunidade após

a implementação das medidas de conforto em comparação com a base anterior.

Paciente é indivíduo, família ou comunidade que necessita de cuidados

de saúde; Ambiente caracteriza-se por influências exteriores (espaço físico ou da

casa, políticas, instituições etc.), que podem ser manipulados pelo enfermeiro para

melhorar o conforto; e Saúde é o estado ideal de um paciente, família ou

comunidade facilitado pela atenção às necessidades de conforto (KOLCABA, 2010).

Representação gráfica da Teoria do Conforto de Kolcaba

Katherine Kolcaba representa graficamente as proposições de sua teoria

como forma de facilitar a compreensão por seus usuários:

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40

HealthCare

Needs ofPT/Family

ComfortingInterventions

InterveningVariables

EnhacedComfort

HealthSeeking

Behaviors

Institutionalintegrity

Best Practices

Best Policies

InternalBehaviors

PeacefulDeath

ExternalBehaviors

Figura 1. Conceptual Framework for Comfort Theory.

Fonte: http://www.thecomfortline.com

A Figura 1 apresenta o modelo da Teoria do Conforto com os principais

conceitos articulados pela teórica. Ao viabilizar a compreensão do conforto como

resultado dos cuidados de enfermagem, têm-se as proposições da teoria que podem

ser divididas em três momentos (KOLCABA, 2003).

No primeiro momento, o enfermeiro avalia o paciente de forma holística,

buscando identificar às necessidades de conforto a partir dos quatro contextos e,

simultaneamente, implementa intervenções, ao tempo em que avalia a satisfação de

conforto proporcionada por cada ação praticada (KOLCABA, 2003).

No segundo momento, as atividades que promovem conforto são

intensificadas e o paciente é preparado, consciente ou inconscientemente, a

desenvolver comportamentos que buscam pelo bem-estar, criando um modelo de

atividades que promovam conforto. Esses comportamentos de busca de saúde

podem ser internos (cura, função imune...), externas (atividades de saúde), ou morte

tranquila (KOLCABA, 2003).

E, no terceiro momento, corresponde à integridade institucional, quando

instituição e equipe de cuidados são preparadas eticamente para a tentativa de

aperfeiçoar a qualidade dos serviços. Inclui a satisfação do paciente, redução de

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custos, redução de morbidade e reinternações, assim como melhores políticas e

práticas de saúde (KOLCABA, 2003).

Nesta pesquisa, utilizaram-se o primeiro e o segundo momentos

propostos pela teoria, visto que o terceiro momento, de caráter institucional,

transcende o cuidado de enfermagem.

Pressupostos da Teoria do Conforto de Kolcaba

Na teoria do conforto, as concepções de seus pressupostos são de

acordo com a teoria holística, na qual seres humanos têm respostas globais aos

estímulos complexos, bem como corpo físico relaciona-se com mente, espírito,

emoção, ambiente e sociedade (KOLCABA, 2010).

Com base nessa compreensão, o conforto é um objetivo e um resultado

holístico desejável e pertinente a partir dos cuidados de enfermagem. Os seres

humanos se esforçam para satisfazer suas necessidades básicas de conforto; os

resultados das medidas de conforto são percebidos pelos sentidos do tato, olfato,

paladar, audição, visão e “proprioception”; e o conforto é individual, representando

mais que ausência de dor (KOLCABA, 2003).

Contextos de conforto propostos pela Teoria de Kolcaba

Para o aprofundamento e a estruturação da taxonomia da Teoria do

Conforto, foram definidos os quatro contextos da experiência humana em que ocorre

conforto: físico, psicoespiritual, ambiental e sociocultural.

Conforto físico pertence às sensações físicas, mecanismos homeostáticos

e funções imunes; conforto psicoespiritual à consciência interna de si mesmo,

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42

incluindo a autoestima, o autoconceito, a sexualidade, o significado na vida de

alguém e a relação com o Ser mais elevado (Deus). Trata-se da combinação do

estado mental, emocional e espiritual (KOLCABA, 2003).

Já conforto ambiental tem foco no ambiente, nas condições e influências

externas, incluindo cores, iluminação, sons/ruídos, odor, temperatura, elementos

naturais e artificiais. Deste modo, o objetivo do enfermeiro deve estar voltado para

interação do paciente com o ambiente. No contexto sociocultural, inserem-se as

relações interpessoais, familiares, sociais, incluindo questões financeiras, educação,

cuidado de saúde pessoal, assim como tradições familiares, culturais, rituais e

práticas religiosas (KOLCABA, 2003).

Tipos de conforto propostos pela Teoria de Kolcaba

A elaboração conceitual do fenômeno conforto considerou conhecimentos

contidos em outras teorias de enfermagem, quais sejam o conceito de alívio,

proposto por Ida Orlando; a compreensão de tranquilidade, proposta por Virginia

Henderson; e o conceito de transcendência, sugerido por Josephine Paterson e

Loreta Zderad (KOLCABA, 2001).

Alívio representa a sensação de ter uma necessidade de conforto

satisfeita; tranquilidade caracteriza-se por um estado de calma ou de contentamento;

e transcendência uma condição na qual a pessoa consegue suplantar um problema

ou dor (KOLCABA, 2001).

Nessa linha de pensamento, a teoria de Kolcaba (2010) permite

considerar o fenômeno conforto associado ao cotidiano da prática dos profissionais

de enfermagem, sendo proporcionado por meio de intervenções/ações de

enfermagem denominadas medidas de conforto.

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43

Considerando esses ensinamentos, o referencial teórico de Kolcaba

constituiu base para a realização deste estudo, em que foram seguidas as

proposições da teoria, enfocando os quatro contextos e três tipos de conforto.

4.2 Métodos e procedimentos

Para realização desta pesquisa, mediante fundamentação teórica e

prática da Teoria do Conforto, utilizou-se o desenho qualitativo, caracterizado como

pesquisa-cuidado. Trata-se de uma proposição de Neves e Zagonel (2006) que

integra pesquisa e cuidado como elementos essenciais à atuação do enfermeiro.

A pesquisa qualitativa foi pensada nesta investigação diante da

possibilidade de explicar fenômenos sociais e estabelecer significados para as

experiências vividas pelos sujeitos, motivo pelo qual tem sido frequentemente

utilizada na área da saúde (POPE; MAYS, 2009).

No que diz respeito ao desenho de pesquisa qualitativa, Silverman (2010)

relata que sua maior força está na aptidão para estudar fenômenos humanos.

Possibilita a utilização de informações da ocorrência natural de um evento, de forma

a localizar e nortear as sequências interacionais, cujos significados das falas das

pessoas envolvidas se desenvolvem. Assim, considerando o objeto desta

investigação, acreditou-se pertinente a análise qualitativa pela compreensão da

utilização de tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para proporcionar o

conforto, a partir da ocorrência habitual da relação enfermeiro-paciente.

Já a escolha pelo método pesquisa-cuidado decorreu da possibilidade de

esta metodologia viabilizar a articulação entre pesquisa, teoria e prática, por meio do

estabelecimento de uma relação interpessoal de cuidado entre o pesquisador

(enfermeiro) e pessoa cuidada (paciente). É uma técnica de pesquisa com dimensão

humanista, coerente com a essência da enfermagem, cuja perspectiva é a

ocorrência de uma relação peculiar de cuidado, como presença genuína dos

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44

envolvidos, promovendo conforto tanto para quem pesquisa-cuida como para quem

é pesquisado-cuidado.

Para Lacerda et al. (2008), as pesquisas de abordagem qualitativa e o

método pesquisa-cuidado são adequados para investigações de enfermeiros, já que

o objeto de trabalho da profissão está voltado para o ser humano. Desta maneira,

torna-se relevante o desenvolvimento de metodologias com estas características, de

modo que seja mantida ligação de reciprocidade entre profissional e paciente, com

resultados que subsidiem a prática.

Para viabilizar uma pesquisa-cuidado, Neves e Zagonel (2006) propõem o

seguimento de cinco etapas que se sucedem: aproximação com o objeto de estudo;

encontro com o ser pesquisado-cuidado; estabelecimento das conexões da

pesquisa, teoria e prática do cuidado; afastamento do ser pesquisador-cuidador e

ser pesquisado-cuidado; e análise do apreendido. A efetivação destas etapas

acontece conforme ocorre o encontro do pesquisador-cuidador e do ser pesquisado-

cuidado.

A trajetória metodológica deve ter base nos passos propostos pelo

método, os quais devem estar em sintonia com o objetivo do estudo. Desta maneira,

é fundamental que o pesquisador-cuidador esteja em alerta a estas etapas, em

especial, ao cuidado de enfermagem, por ser essência do encontro (MAAS, 2006).

Para representar a sequência do fluxo das atividades da investigação,

apresenta-se, por meio da Figura 2, um esquema das etapas pensadas para

aproximar a Teoria do Conforto ao método pesquisa-cuidado.

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45

Figura 2. Representação esquemática das etapas para implementação do método

de pesquisa-cuidado com base na Teoria do Conforto de Kolcaba.

Fonte: primária

Assim, apresentam-se na sequência as etapas percorridas pelo método

pesquisa-cuidado, conforme proposto para o desenvolvimento da investigação.

4.2.1 Aproximação com o objeto de estudo

Nesta fase, atendendo aos ensinamentos de Neves e Zagonel (2006),

selecionou-se o objeto de estudo, de maneira que o método estivesse de acordo

com os resultados esperados. A aproximação com o objeto de estudo ocorreu

inicialmente quando a pesquisadora estava na graduação em enfermagem e seu

genitor apresentou adoecimento cardiovascular. Outro fator de proximidade decorreu

da experiência como enfermeira assistencial de uma unidade coronariana, assim

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46

como ter cursado a especialização em Enfermagem Cardiovascular e a inserção na

linha de pesquisa com estudos sobre a temática, no CMACCLIS.

Ainda como aproximação com o objeto do estudo, foi fundamental a

configuração da revisão de literatura para auxiliar na delimitação do objeto de

estudo, como forma de analisar o conhecimento existente, propiciar novas incursões

à temática, oferecer segurança ao pesquisador, permitir delimitação de um modelo

para seguimento à pesquisa, bem como encontrar lacunas do conhecimento na área

de estudo.

Atendendo a esta recomendação, tentou-se fornecer clareza ao objeto da

investigação na parte introdutória, assim como se descreveu o estado da arte dos

temas abordados no item referente à revisão de literatura. Considerou-se, portanto,

inter-relação da estratégia metodológica com o objeto de estudo da pesquisa, cuja

meta era analisar a contribuição do cuidado clínico de enfermagem, mediado por

tecnologias de cuidar, para proporcionar conforto a mulheres com IAM. Inclusive,

para as idealizadoras deste método de investigação, por ser possível entre

pesquisador-cuidador e pesquisado-cuidado haver discussão de “alternativas de

ação que visem minimizar seu desconforto ou melhorar seu nível de conforto”

(NEVES; ZAGONEL, 2006, p. 75).

Como referencial teórico, conforme apresentado, optou-se pela Teoria do

Conforto de Kolcaba para fundamentar e articular com o objeto e o método de

estudo. Nesta teoria, é vislumbrado o conforto como meta do cuidado de

enfermagem e como satisfação das necessidades humanas básicas da pessoa

cuidada (KOLCABA, 2003). Após aproximação com o objeto de estudo, iniciou-se a

próxima fase proposta pelo método, o encontro com o ser pesquisado-cuidado.

4.2.2 Encontro com o ser pesquisado-cuidado

Nesta segunda etapa, ocorre a interação entre pesquisador-cuidador e

pesquisado-cuidado. Este contato requer do pesquisador-cuidador cautela, respeito

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47

e atitude ética com os pacientes, familiares, demais profissionais de saúde e

administradores institucionais, além de ser necessário estabelecer relação de

sensibilização e conhecimento, considerando a efetivação do processo de pesquisa-

cuidado (NEVES; ZAGONEL, 2006).

Com essas recomendações, nesta investigação, o referido encontro

ocorreu na UCO e no pronto atendimento de um hospital de referência em

cardiologia do Município de Sobral-Ceará-Brasil. Município com 188.271 habitantes,

dentre estes 96.796 mulheres. A área territorial era de 2.123 Km2 e a rede de

assistência à saúde integrava os níveis de atenção primária, secundária e terciária

(IBGE, 2010).

O hospital lócus da investigação atendia a pacientes do Sistema Único de

Saúde (SUS), conveniados e particulares. Tratava-se de unidade terciária

especializada no diagnóstico e tratamento de doenças cardíacas. Dispunha de

unidade de emergência com hemodinâmica 24 horas. Realizava atendimentos

ambulatoriais e de internação, composta por enfermarias e terapia intensiva

coronariana. A instituição contava também com centro cirúrgico; Serviços de Apoio

Diagnóstico e Tratamento (SADT), como laboratório, centro de radiologia, unidades

de métodos não invasivos em cardiologia, além de serviços complementares como

manutenção, nutrição e dietética, Serviços de Arquivos Médicos (SAME), entre

outros.

Caracterizava-se como uma unidade beneficente sem fins lucrativos,

atuando nos níveis de média e alta complexidade, por meio de atendimento

ambulatorial e hospitalar. Sua missão era primar pela qualidade do cuidado ao

paciente, e todos os profissionais eram instigados a prestar a melhor e mais eficiente

terapêutica à clientela.

Possuía trinta e quatro leitos e o atendimento advinha de demanda

espontânea e referenciada de municípios circunvizinhos. Estudos realizados no

referido hospital apontam que cerca de 76% das pessoas atendidas são

provenientes de municípios circunvizinhos, de modo que apenas 24% residem na

cidade de Sobral (PONTE et al., 2010a); (ARAGÃO; PONTE; MONTEIRO, 2009).

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48

Portanto, tem relevância no atendimento de pessoas com problemas

cardíacos, tanto para o município de Sobral quanto para toda a região norte do

Estado do Ceará. Estava implantado um dos mais importantes programas de

tratamento para IAM no Brasil, com excelentes indicadores de baixa mortalidade e

de número reduzido de reinfarto hospitalar. Ademais, o hospital se destacava pela

participação de ensaios multicêntricos internacionais na área cardiovascular

(BRASIL, 2010).

A UCO possuía doze leitos, os pacientes eram cuidados por uma equipe

multidisciplinar, composta de médico intensivista, enfermeiro especialista em

cardiologia, fisioterapeuta, nutricionista, técnico/auxiliar de enfermagem e pessoal de

apoio para secretaria e higienização. A equipe de enfermagem era constituída de

oito enfermeiros, distribuídos dois a cada turno de trabalho, nos períodos diurnos, de

segunda-feira a sábado. Nos períodos noturnos e dias de domingo, a cobertura era

de um enfermeiro por plantão de doze horas. Os vinte e dois técnicos/auxiliares de

enfermagem eram distribuídos em turmas de quatro profissionais em cada turno de

trabalho.

O paciente com IAM, admitido na UCO, poderia ser proveniente do pronto

atendimento, da hemodinâmica, da enfermaria ou do ambulatório, permanecendo na

terapia intensiva, sob cuidados contínuos, até estabilização do seu quadro clínico ou

recuperação de sua saúde. Após a estabilização, o paciente poderia ser

encaminhado para continuar tratamento na enfermaria ou ser transferido para outros

serviços.

O motivo de escolha da referida UCO para a realização do estudo ocorreu

diante da viabilidade da pesquisadora-cuidadora na inserção do processo de cuidar

de sua equipe de enfermagem. Isto por considerar que se tratava do campo

profissional do qual emergiu parte das inquietações para a realização da pesquisa.

Assim, considera-se que a experiência profissional vivida por mais de cinco anos no

hospital, facilitou a compreensão do processo de pesquisa-cuidado.

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49

Coadunando com o exposto, Silverman (2010) declara que mesmo antes

de iniciar uma coleta de dados, é importante o pesquisador conhecer o ambiente de

ocorrência natural dos fenômenos a serem estudados. Isto facilita a organização e

interpretação das informações obtidas, por possibilitar a identificação de

informações, o que precede e/ou acompanha o fenômeno.

Ressalte-se que quando possível o encontro, já ocorria no pronto

atendimento, de modo que era permitido à pesquisadora-cuidadora acompanhar a

pesquisada-cuidada até a UCO, em que fornecia continuidade à pesquisa. Merece

considerar a composição do grupo de pessoas estudadas, ou seja, as pesquisadas-

cuidadas foram mulheres, maiores de 18 anos, com diagnóstico médico registrado

de uma primeira internação em terapia intensiva por IAM, admitidas na UCO do

hospital, durante o período da coleta das informações.

O período de coleta das informações para a pesquisa ocorreu entre os

meses de abril e junho de 2011. A escolha dos meses procurou atender ao

cronograma disponível à realização do estudo.

Durante o período, foram admitidas 66 pessoas com diagnóstico médico

de IAM, sendo dezoito delas do sexo feminino. Destas dezoito mulheres, foram

excluídas nove pelas seguintes causas: quatro tiveram óbito na admissão, quatro

tiveram admissão entre meia noite e cinco horas da manhã e uma por não ter sido a

primeira internação. Deste modo, nove mulheres formaram o corpus de

pesquisadas-cuidadas deste estudo.

Para iniciar a coleta das informações, a pesquisadora-cuidadora

esclareceu os objetivos da pesquisa e o método de pesquisa cuidado para todas as

enfermeiras, médicos, técnicos e auxiliares de enfermagem da unidade. Na

oportunidade, foi solicitado o apoio de todos, os quais se dispuseram a colaborar, de

modo que a cada ocorrência de admissão de mulher com IAM alguém da equipe

imediatamente comunicava a pesquisadora-cuidadora.

Todos foram solícitos e contribuíram com o estudo durante todo o período

da coleta das informações. Para garantir a presença da pesquisadora-cuidadora na

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50

admissão da pesquisada-cuidada, um aparelho de celular foi consentido às

enfermeiras da UCO, com vistas a possibilitar sua convocatória imediata diante da

chegada de uma mulher com IAM no hospital. Ao ser convocada diante da

internação de uma mulher com IAM, a pesquisadora-cuidadora se encaminhava

para o ambiente hospitalar. Frisa-se que esta convocação era realizada após

autorização verbal por parte da paciente, ao ser explicada sobre a realização da

pesquisa.

Ao chegar ao hospital, a pesquisadora-cuidadora se apresentava à

paciente, explicava os objetivos da pesquisa e as etapas pensadas para a realização

de uma pesquisa-cuidado. Ressaltava a necessidade futura do afastamento entre

pesquisadora-cuidadora e pesquisada-cuidada após três encontros. Dessa maneira,

no primeiro encontro, as mulheres eram sempre informadas acerca do Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para realização da investigação.

A pesquisadora-cuidadora seguiu os princípios éticos e legais de uma

pesquisa envolvendo seres humanos. Desta maneira, o estudo obedeceu a estes

preceitos, considerando inclusive as referências básicas da bioética, incluindo a

autonomia como a condição de direito do paciente para decidir a participação ou não

da pesquisa.

O princípio da beneficência também foi respeitado, mediante o qual o

bem-estar das participantes do estudo estava acima dos interesses da ciência e da

sociedade. Outro princípio pensado foi a não maleficência, justificando-se pelo fato

da não realização de procedimentos que causam mal ou problemas para as

participantes. Justiça e equidade foram garantias para todas as pacientes inclusas,

pois considerava-se que teriam acesso aos benefícios dos resultados obtidos e

poderiam desistir da participação na pesquisa em qualquer momento que achassem

inconveniente (BRASIL, 1996).

Somente diante da garantia destes princípios e do desejo de participar da

investigação, as mulheres investigadas eram convidadas a assinar o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice A). Ainda atendendo aos preceitos

éticos e legais da pesquisa com humanos, o projeto do estudo foi apreciado pelo

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51

Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Ceará, na qualidade de

unidade proponente, sendo aprovado pelo protocolo número 10727050-3 (Anexo A).

O hospital de realização do estudo, unidade coparticipante, por não ter instituído

Comitê de Ética em Pesquisa com seres humanos, forneceu anuência para

realização da investigação (Apêndice D).

Atendidos a estes cuidados, a primeira relação estabelecida entre

pesquisadora-cuidadora e cada uma das nove pesquisadas-cuidadas ocorreu logo

na sua chegada ao hospital, seja no pronto atendimento ou na unidade coronariana,

conforme a situação apresentada por cada mulher. O primeiro encontro com as

mulheres durou em média seis horas. Considerou-se então este tempo como um

período regular de turno de trabalho do enfermeiro.

Os encontros subsequentes foram caracterizados pela permanência

terapêutica diária da pesquisadora-cuidadora junto à pesquisada-cuidada, de pelo

menos quatro horas seguidas, nos três dias seguidos ao da admissão da mulher no

hospital.

Como meio de aproximar a coleta de informações às premissas do

referencial da Teoria do Conforto de Kolcaba, as mulheres inclusas no estudo foram

avaliadas holisticamente, com vistas a identificar suas necessidades de conforto,

conforme os quatro contextos e os três tipos de conforto preconizados por Kolcaba

(2003), como dispostos no Apêndice B.

Para o alcance desta meta, foi apreendido, no discurso das participantes,

as referidas necessidades, por meio de uma entrevista semiestruturada, a partir da

seguinte questão norteadora: o que posso fazer para proporcionar-lhe conforto

nesse momento? A pergunta foi aplicada nas primeiras seis horas de interação e por

ocasião das visitas terapêuticas, de acordo com a percepção do melhor momento

para o questionamento. Esta entrevista foi gravada em voz, sob anuência das

participantes, com a finalidade de garantir a fidedignidade da transcrição na íntegra

do seu discurso.

Quanto ao uso da entrevista semiestruturada, considerada uma conversa

com a intenção de coletar dados para uma investigação científica, Pope e Mays

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(2009) referem ser uma técnica muito utilizada em pesquisas na área da saúde, pela

sua flexibilidade e possibilidade de revelar informações novas e aprofundadas.

Entretanto, durante a apreensão das informações, Neves e Zagonel

(2006), idealizadoras do método de pesquisa-cuidado, recomendam que o

pesquisador não deve realizar nenhum tipo de interferência, apenas escutar com o

olhar voltado ao objetivo da pesquisa. Após a conclusão dos discursos dos sujeitos,

o pesquisador pode, então, iniciar o cuidado.

Ainda como meio de coletar informações para o estudo, lançou-se mão

também da estratégia observação participante, na qual ocorre interação da teoria

com a prática para transformar ou implementar ações no meio pesquisado

(QUEIROZ et al., 2007). A observação participante é essencial para pesquisa

qualitativa, pois o pesquisador se insere no cenário da pesquisa e, além de observar

o fenômeno e realizar entrevistas, vivencia o momento com presença contínua

(MINAYO, 2008; GOMES, 2008).

Ao inserir-se no cenário da pesquisa, o pesquisador tem a compreensão

do fenômeno. Esta estratégia vai ao encontro do preconizado pelas autoras do

método pesquisa-cuidado. Para garantir a memória do observado, a pesquisadora-

cuidadora registrou as vivências em um diário de campo, imediatamente após cada

encontro com a pesquisada-cuidada.

Além da entrevista semiestruturada, utilizou-se também um formulário

(Apêndice C), que se denominou de caracterização dos sujeitos por conter um

espaço para registro das informações pessoais, de identificação do perfil

socioeconômico, cultural e espiritual, bem como informações relativas ao processo

saúde-doença e ao adoecimento atual.

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53

4.2.3 Estabelecimento das conexões da pesquisa, teoria e prática do cuidado

A terceira fase, como preconizado por Neves e Zagonel (2006), é

determinante para o sucesso da aplicação do método de pesquisa-cuidado. É o

momento, em que o pesquisador-cuidador irá captar e desvelar o que deseja

pesquisar, além de observar, julgar e decidir junto com o ser-cuidado, a partir das

necessidades identificadas, o que pode ser realizado.

Como sugerido pelo método pesquisa-cuidado, efetivou-se então a

conexão entre a pesquisa (coleta das informações), a fundamentação do referencial

teórico (nesta investigação, a Teoria do Conforto de Kolcaba) e a prática do cuidado.

Foram estabelecidas, na ocasião, as prioridades de cuidado para cada momento

específico. Assim, o cuidado de enfermagem foi efetivado a partir do uso de

tecnologias do cuidado, que permitiram a realização de intervenções/ações voltadas

para as necessidades expressas por meio da comunicação verbal ou não verbal do

ser-cuidado, bem como da experiência e dos conhecimentos prévios do

pesquisador-cuidador (NEVES; ZAGONEL, 2006).

Logo na fase inicial, ocasião primeira para a identificação das

necessidades de conforto, foram implementadas no primeiro encontro, como nos

encontros subsequentes, tecnologias de cuidado adequadas à cada situação,

sempre considerando a parceria entre ser-cuidado e pesquisadora-cuidadora, ao

tempo em que se promovia o conforto à pesquisada-cuidada.

Resultados positivos e negativos foram avaliados entre a pesquisadora-

cuidadora e o ser pesquisado, conforme registro em um formulário específico para

esse fim (Apêndice B). Desta maneira, as atividades positivas foram intensificadas, e

a pesquisada-cuidada foi sendo continuamente estimulada a participar.

Segundo as recomendações de Neves e Zagonel (2006), foram

ressaltados os aspectos relevantes, as necessidades de conforto que requeriam

intervenção. Também foram analisados os momentos de cuidado ocorridos durante

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a realização da pesquisa, entre o ser pesquisador-cuidador e o ser pesquisado-

cuidado.

Essa fase se figurou como a principal de toda a pesquisa, pois marcou o

momento da efetivação das tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para

proporcionar o conforto a mulheres com IAM, a partir das necessidades de conforto

identificadas de cada uma. A realização das entrevistas, a observação participante e

os registros no diário de campo foram estratégias fundamentais para recolher o

material que permitiu a interpretação do fenômeno.

Ao considerar que o encontro com as pesquisadas-cuidadas foi precedido

da devida interação da pesquisadora-cuidadora com administração hospitalar,

diretora de enfermagem, equipe médica e de enfermagem, todo o processo de

coleta das informações foi facilitado.

Nesse sentido, o apoio e a confiança depositada na pesquisadora-

cuidadora para realização da pesquisa foi enfatizada pelas enfermeiras durante a

coleta das informações. Elas expressaram que a presença da pesquisadora era

satisfatória. Outra enfermeira relatou ter dito à paciente que viria um anjo para ficar

com ela.

Com base no exposto, percebeu-se a satisfação quanto à presença da

pesquisadora-cuidadora na unidade, os auxiliares e técnicos de enfermagem

ficavam sempre por perto e disponíveis para o que precisasse. Isto demonstra que a

presença da pesquisadora-cuidadora naquele meio estava sendo benéfica e

também esperada pelas profissionais, que se demonstraram curiosas com a

realização da pesquisa, revelando satisfação. Por vários momentos, solicitaram

esclarecimentos sobre o método e a relevância dos resultados para a sua prática.

O apoio da equipe foi importante para pesquisadora-cuidadora, pois cada

vez que chegava para uma visita, era bem acolhida por todos, que de pronto

forneciam informações acerca da pesquisada-cuidada. Todos se envolveram no

intuito de contribuir com a pesquisa, demonstrando satisfação com a realização da

investigação no serviço. Por ocasião de um encontro, o diretor do hospital estava em

visita à unidade no momento da realização de uma entrevista. O diretor demonstrou

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satisfação com o estudo e convidou a pesquisadora para conhecer mais uma

unidade de terapia intensiva do hospital.

Mesmo sendo convidada a comparecer imediatamente ao hospital

quando da internação de uma mulher com IAM, por algumas vezes, quando da

chegada ao hospital, a pesquisada-cuidada se encontrava na hemodinâmica ou

mesmo sendo admitida na UCO. Contudo, estes fatos não dificultaram a realização

da pesquisa, pois permitiu que a pesquisadora-cuidadora analisasse a vivência da

mulher no processo de admissão nos dois ambientes de cuidado.

Por ocasião da realização do cuidado com a pesquisada-cuidada 7, já era

noite e ela dormia, enquanto isto registrava-se no diário de campo, quando chamou

à atenção a manifestação de cuidados dos auxiliares de enfermagem com a

pesquisadora-cuidadora. Eles procuravam tornar o ambiente mais confortável,

fornecendo uma cadeira e chamando-a para tomar café. Tais manifestações se

justificam pelo contato anterior da pesquisadora quando profissional daquele serviço.

Determinadas ações são gratificantes e proporcionam a sensação de ser bem

cuidada.

Em outra situação enquanto estava com a pesquisada-cuidada 9, um

médico hemodinamicista, sem saber da presença da pesquisadora-cuidadora na

UCO, ao adentrar ao recinto perguntou à enfermeira de plantão se a pesquisadora-

cuidadora havia sido convidada, posto que estava sendo admitida uma paciente com

o perfil de pesquisada-cuidada. Foi importante saber do envolvimento de outros

profissionais de saúde com o estudo.

No primeiro encontro, a pesquisadora-cuidadora se apresentava como

enfermeira especialista em Enfermagem Cardiovascular e discente do Mestrado

Acadêmico Cuidados Clínicos em Saúde, da Universidade Estadual do Ceará

(UECE), esclarecia os objetivos da pesquisa, as fases do processo de pesquisa-

cuidado, os aspectos éticos e a opção de aceitar ou não ser sujeito do estudo.

É fato que nesse primeiro encontro, quase sempre acompanhado de dor,

não havia compreensão imediata das mulheres acerca do que lhes era informado

sobre o estudo. Mesmo aceitando participar da investigação, percebia-se

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incompreensão, entretanto, após a estabilização do estado geral de saúde da

mulher, a pesquisadora-cuidadora reiterava as informações, elucidando dúvidas

sobre a pesquisa e, somente então, era requerida a assinatura do TCLE. Todas as

mulheres abordadas pela pesquisadora-cuidadora aceitaram participar do estudo.

O encontro no pronto atendimento ocorreu com três pesquisadas-

cuidadas: PC1, PC2 e PC9. A PC1 havia sido admitida há vinte minutos, porém,

diante da emergência, foi de pronto encaminhada para hemodinâmica para

intervenção terapêutica.

Ela estava sem acompanhantes, deitada em uma maca, apresentando

gemidos de dor, tinha acesso venoso periférico no membro superior esquerdo,

demonstrava desconforto no leito e se locomovia de um lado para o outro e já havia

realizado a tricotomia pubiana. Devido a normas hospitalares, a família não podia

acompanhá-la e por isto foi embora. No mesmo ambiente estavam outros pacientes

aguardando atendimento médico.

A pesquisada-cuidada 1 foi a que apresentou queixa de desconforto

precordial mais intensa. Além de estar sem acompanhante, naquele momento,

somente uma profissional de enfermagem fornecia atenção a mais ou menos cinco

pessoas. A mulher estava muito inquieta diante da forte precordialgia. Então, a partir

da apresentação da pesquisa e dos esclarecimentos, iniciou-se a identificação de

necessidades de conforto e logo foi realizada a implementação de tecnologias do

cuidado voltadas, inicialmente, para o alívio da dor.

O encontro com a pesquisada-cuidada 2 iniciou-se antes da oficialização

de sua admissão no hospital, tendo sido possível acompanhá-la desde o pronto

atendimento. Chegou ao hospital acompanhada pela filha, pelo esposo e por uma

auxiliar de enfermagem do hospital de origem. Estava de óculos escuros,

cabisbaixa, com feições de dor. Já durante os primeiros procedimentos protocolares,

como verificação de pressão arterial e realização de eletrocardiograma, a mulher já

passava as mãos em direção a dor (lado esquerdo do peito). A pesquisadora iniciou

a abordagem explicando os motivos da dor, os procedimentos aos quais ela seria

submetida, sugerindo manutenção da calma e respiração profunda quando da

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vigência da dor. De imediato, foi providenciada transferência para UCO. Entretanto,

enquanto aguardava transporte, a pesquisadora-cuidadora mantinha a filha e o

esposo junto da pesquisada-cuidada, sugerindo-lhe que segurassem sua mão. Em

seguida, acompanhou a transferência até à UCO.

Os familiares demonstravam ansiedade e preocupação com a paciente,

sendo esclarecidos quanto à necessidade da hospitalização, ao adoecimento e até

sobre a pesquisa. Destarte que neste caso, o encontro envolveu, além da

pesquisada-cuidada, os familiares desta. Estes foram orientados a aguardar a

realização do procedimento hemodinâmico, assim como foram esclarecidos acerca

de dúvidas e anseios.

Com a pesquisada-cuidada 9, foi possível realizar também encontro com

a família. Ela foi acompanhada desde a admissão, tendo sido a única ocorrência de

admissão diurna com esta possibilidade. Ao chegar à unidade, a pesquisadora-

cuidadora deparou-se com uma mulher chorando, andando de um lado para o outro

e, aparentemente, muito preocupada. Tal postura motivou a pesquisadora-cuidadora

a supor que se tratava de uma acompanhante. Cumprimentou-a rapidamente e

seguiu até a mulher com IAM. A pesquisada-cuidada estava em uma cadeira de

rodas recebendo cuidados da equipe de enfermagem, que se mantinha junto a ela,

embora providenciando sua transferência para a UCO. Diante da emergência das

ações, não houve possibilidade de convite para participar do estudo naquela

ocasião.

De certo modo a circunstância foi positiva, pois permitiu a pesquisadora-

cuidadora manter-se como expectadora naquele ambiente, permitindo percepção

acerca da mulher que acabava de chegar, demonstrando sofrimento visível pelo

ocorrido. A presença de dor e sensação iminente de morte eram presentes, além da

exposição ao ambiente, em que todos observavam o que estava sendo realizado

com ela. A família, por sua vez, angustiava-se, embora nada pudesse fazer, por

vezes parecendo até alheios à situação.

Naquela ocasião, durante o transporte para UCO, a família parecia mais

apreensiva, e durante o percurso, a pesquisadora-cuidadora realizou o encontro com

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a família, explicou o que estava acontecendo com a paciente, esclareceu sobre o

IAM e os procedimentos, a permanência na terapia intensiva, assim como a

realização da pesquisa. Os acompanhantes eram uma sobrinha e um neto.

Na UCO, o encontro com a pesquisada-cuidada 9 finalmente se efetivou.

Ela apresentava alteração no nível de consciência, com sinais de baixo débito

cardíaco, como: pele sudoréica, hipotensão, sonolência, hipoatividade, palidez e

gemidos, o encontro foi marcado pela implementação de cuidados clínicos de

enfermagem dirigidos ao restabelecimento dos parâmetros hemodinâmicos e de

saúde.

Os cuidados intensivos realizados pelas equipes médica e de

enfermagem, assim como pela pesquisadora-cuidadora foram capazes de conduzir

a pesquisada-cuidada a uma melhor condição clínica e hemodinâmica.

Encaminhada à hemodinâmica, a paciente foi tratada com angioplastia coronariana

com implantação de stent, culminando com estabilização de seu quadro clínico. A

melhoria da situação clínica da paciente possibilitou a efetivação do encontro,

convite para participar da pesquisa e esclarecimentos pertinentes.

O encontro com as pesquisadas-cuidadas 3 e 6 ocorreu durante

admissão na UCO, entretanto, somente com a terceira houve vínculo com a família

no primeiro momento. Com ela, mais uma vez ficou demonstrado o apoio da equipe

com o estudo quando uma enfermeira demonstrou: “Pronto, chegou sua doula”.

Trata-se de terminologia usada em referência às mulheres que

acompanham parturientes, dando-lhes suporte físico e emocional, confortando-lhes

durante o parto. A comparação foi pertinente nesta investigação, pois, era objetivo

da pesquisadora confortar mulheres, muito embora em um outro contexto/cenário de

cuidar.

A pesquisada-cuidada 3, a caminho da hemodinâmica, gemia,

apresentava fácies de dor: “Estou com dor minha filha, e com vontade de provocar”,

foi a única manifestação da pesquisada-cuidada com a pesquisadora-cuidadora

neste encontro. Ela estava hipertensa, bradicárdica, apresentando náuseas e, junto

dela, uma enfermeira e três auxiliares de enfermagem prestavam cuidados

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imediatos e prévios ao cateterismo cardíaco. A pesquisadora-cuidadora buscou por

estratégias para tranquilizá-la, para alívio da dor e das náuseas.

A acompanhante era uma neta que aguardava por informações. A

pesquisadora-cuidadora foi ao seu encontro, ocasião em que ela informou ter

encontrado a avó desmaiada. Foi esclarecida acerca do IAM, dos procedimentos a

serem realizados, da necessidade de permanência na terapia intensiva e da

realização deste estudo.

O encontro com a pesquisada-cuidada 6 também ocorreu durante

admissão na UCO, antes da submissão ao procedimento hemodinâmico. Os

cuidados a serem prestados prévios à cinecoronariografia foram realizados e ela

aguardava transferência para hemodinâmica. Estava calma, orientada, cooperativa,

apresentando hipertensão arterial e estabilidade dos demais parâmetros vitais,

referia precordialgia. Na ocasião, foram esclarecidas as dúvidas quanto ao

adoecimento e procedimento hemodinâmico que seria realizado. Ela manifestou: “É

minha filha, eu posso te chamar de filha porque já sou bisavó. Quando a dor ataca

fica aquela coisa aqui como um entalo no peito, fico tentando arrotar para ver se

melhora [...] eu quero é minha saúde”.

Já o encontro com as pesquisadas-cuidadas 4, 5, 7 e 8 ocorreu na UCO,

embora diferente das duas anteriores, elas já tinham sido submetidas ao

procedimento hemodinâmico intervencionista.

O encontro com a pesquisada-cuidada 4 foi marcado pela implementação

de tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para promoção do conforto. Logo

no início do encontro, ela referiu frio, além disto, apresentava tremores. Foi

providenciado o aquecimento com mais lençol e cobertura completa do corpo. Ainda,

foi proporcionado aquecimento por meio do toque e contato físico entre

pesquisadora-cuidadora e ser pesquisado-cuidado, de modo a promover o

aquecimento. Ela manifestou: “Desde que cheguei de lá (hemodinâmica) que tenho

frio [...] com frio a gente fica até cansada” (PC4). Após os cuidados disse: “está

esquentando mais”.

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Considera-se, então, a importância do conforto quando ocorre o contato

físico entre o profissional que cuida e o ser que é cuidado, por transcender as

barreiras existentes e estabelecer uma relação de confiança e apoio emocional

(CARRARO et al., 2008). Esse aspecto deve ser ressaltado, pois o contato físico

favorece a promoção de confiança e conforto, independente do estado de saúde que

a pessoa se encontre. Observa-se, no cotidiano, que esse contato físico é pouco

utilizado devido à sobrecarga de afazeres no cotidiano de trabalho, portanto,

somente é praticado quando se realiza alguma atividade técnica.

Após melhorar a alteração térmica, foi lhe informado sobre a pesquisa. A

pesquisada-cuidada 4 compreendeu e antes de aceitar participar, perguntou se teria

ônus para ela: “Mas isso aí é pago, não?” Foi informada com mais detalhes quanto à

pesquisa, e quando soube que não era pago, demonstrou alívio, aceitando de pronto

participar.

Como na pesquisa-cuidado, o pesquisador tem ligação de proximidade,

prestação de cuidado e disponibilidade para com o sujeito da pesquisa, a

pesquisada-cuidada 4 teve a impressão que precisaria pagar pelo serviço.

A pesquisadora-cuidadora estava presente na admissão da pesquisada-

cuidada 5, na UCO. Ela estava calma, orientada, apresentando tremores de frio e

hipertensão arterial. O vínculo entre as envolvidas foi iniciado com a providência de

aquecimento ao frio e prestação de cuidados necessários para melhor acomodação

no leito e manutenção dos parâmetros vitais por meio das tecnologias duras

disponíveis na unidade (monitorização cardíaca, verificação intermitente da pressão

arterial não invasiva e oximetria de pulso).

Após estabilização do quadro clínico, a pesquisada foi orientada quanto

aos cuidados que deveria ter a partir daquele momento, em especial com o

manuseio do membro inferior correspondente à localização da artéria, por meio da

qual foi realizada a angioplastia; ainda sobre a importância de manter-se tranquila.

Também foi esclarecida sobre a disponibilidade de pessoas para atendê-la e a

pesquisa em realização.

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O encontro com a pesquisada-cuidada 7 ocorreu em um sábado à noite.

Ela havia sido submetida ao procedimento hemodinâmico e encontrava-se

repousando no leito. Tratava-se da mulher que menos interagiu com a

pesquisadora-cuidadora. No momento inicial, apenas abriu os olhos, ocorreu um

breve diálogo sobre a pesquisa, em seguida, dormiu. Na ocasião, ocorreu o encontro

da pesquisadora com a família da pesquisada-cuidada.

Considerando a idade avançada da paciente, o risco iminente de morte e

o fato de serem oriundas de uma cidade distante de Sobral, foi providenciada

acomodação para permanência de sua filha no hospital na unidade de enfermaria.

Tal decisão foi compartilhada entre pesquisadora-cuidadora e duas enfermeiras do

serviço (respectivamente, a que saía e a que entrava no plantão).

Registre-se a sensibilidade demonstrada pelas enfermeiras do serviço em

proporcionar conforto e segurança à paciente e acompanhante em questão,

inclusive violando protocolos institucionais. Há de se considerar a importância de

serem estabelecidos protocolos, rotinas, muito embora cada situação deva ser

analisada em sua singularidade.

A permanência da filha da paciente no hospital possibilitou que ela

visitasse a mãe, momento em que a pesquisadora-cuidadora orientou-as quanto à

pesquisa, foi esclarecido todo o processo de adoecimento, permanência, IAM e

benefício dos equipamentos dispensados ao processo de cuidar. A acompanhante

demonstrou satisfação em poder acompanhar a mãe naquele momento difícil.

Como se trata de adoecimento súbito, tudo é inesperado. As pessoas não

sabem o que irá acontecer, salvo nos casos de experiência anterior. O estigma de

que a pessoa internada num ambiente de terapia intensiva está em risco iminente de

morte é real, e os que estão distantes imaginam até que os aparelhos são o sustento

da vida.

Então, a conduta de autorizar, por exemplo, a entrada de uma filha para

ver a mãe após a realização de um procedimento invasivo, mesmo fora do horário

determinado para visitas, é capaz de tranquilizar tanto a uma como a outra.

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Ao chegar para o encontro com a pesquisada-cuidada 8, a pesquisadora-

cuidadora recebeu, da enfermeira de plantão, informações acerca das condições de

saúde da paciente por ocasião da admissão: estava alerta, porém gemia com muita

dor retroesternal, apresentava náusea, seguida de episódios de vômitos e sinais

vitais controlados. Naquele momento, a mulher encontrava-se na hemodinâmica.

Por ocasião do procedimento interventivo, houve complicação de rompimento

coronário e derrame pericárdio. Por isto, a paciente foi submetida ao procedimento

cirúrgico de punção pericárdica, com drenagem imediata de 300 ml de resíduo. Foi

preciso manutenção de drenagem, em selo d’água, em posição mediastínica.

Por ocasião da admissão na UCO, após os procedimentos, a pesquisada

cuidada 7 estava hemodinamicamente instável, em uso de drogas vasoativas,

apresentando sonolência, hipoatividade e resposta lenta aos comandos verbais.

A equipe médica, de enfermagem e a pesquisadora-cuidadora estavam

empenhados em sua recuperação, e os cuidados com monitorização, conforto no

leito, controle das medicações, da exposição do corpo, do ambiente, apoio

psicológico, dentre outros cuidados foram prestados. Após estabilização do quadro

clínico (aproximadamente três horas após readmissão na UCO), a pesquisada-

cuidada foi convidada a participar da pesquisa, tendo-lhes sendo esclarecidos os

objetivos, métodos, aspectos éticos, assim como informações sobre o adoecimento

e a hospitalização.

Assim, após o primeiro contato com cada pesquisada-cuidada, seguia-se

para segunda etapa do método pesquisa-cuidado de Neves e Zagonel (2006), com

vistas a implementação das tecnologias para o cuidado, capazes de promover

conforto voltado à satisfação das necessidades de conforto identificadas.

Seguindo as etapas propostas pelo método, foi possível realizar no

primeiro encontro a conexão entre teoria, pesquisa e prática, por meio de realização

de ações voltadas à promoção do conforto em mulheres com IAM.

Uma das vantagens deste método de pesquisa relacionou-se ao fato de

que na identificação dos problemas de enfermagem foi possível implementar

tecnologias de cuidado clínico de enfermagem que contribuíram para o conforto das

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mulheres cuidadas. Estas intervenções buscaram por atender ao preconizado pela

Teoria do Conforto de Kolcaba, inseridas nos quatro contextos.

Logo, no primeiro contato, realizou-se o levantamento do histórico pessoal

e clínico de cada mulher, além de avaliações holísticas e periódicas que

possibilitaram o julgamento clínico e, posteriormente, o estabelecimento de

prioridades para implementação dos cuidados. As necessidades de conforto foram

identificadas em cada situação, sendo, em seguida, iniciadas a implementação de

tecnologias do cuidado de enfermagem, possibilitando o conforto das mulheres.

Lembre-se de que na hemodinâmica todas as mulheres foram submetidas

à angioplastia coronariana percutânea com implante de stent intracoronariano. Por

isto, elas, inicialmente, mantinham o dispositivo intra-arterial inserido na artéria

femural direita e, por vezes, acesso venoso para uso de marcapasso transitório.

As intercorrências ocorridas naquele setor e comunicadas aos

profissionais da UCO foram episódios de fibrilação ventricular com desfibrilação

cardíaca, hipotensão arterial com uso de noradrenalina endovenosa, presença de

trombos nas coronárias, necessitando uso de heparina endovenosa, hipocinesia de

ventrículo direito, ruptura coronariana com derrame pericárdico, além de

manifestações como vômitos, frequência cardíaca em ritmo de marcapasso.

Ao retornar para a UCO, dispensavam-se às pesquisadas-cuidadas os

seguintes cuidados: monitorização contínua, cuidados com o dispositivo intra-

arterial, controle das medicações, assim como o conforto físico, psicoespiritual,

ambiental e sociocultural daquelas mulheres naquele momento.

As mulheres retornavam calmas, orientadas, percebia-se que as queixas,

quando presentes, como, por exemplo, a dor precordial, apresentava menor

intensidade. Elas eram postas em decúbito dorsal, com membro inferior direito

hiperextendido, devido à presença do dispositivo intra-arterial. Era mantido venóclise

no membro superior esquerdo, curativo oclusivo e compressivo no local de inserção

do dispositivo intra-arterial. Os níveis hemodinâmicos eram mantidos sob controle.

Apenas a pesquisada-cuidada 2 estava sonolenta, de olhos fechados, pouco

interagiu com a pesquisadora-cuidadora.

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Santos e Moreira (2011) consideram essencial o cuidado de enfermagem

nessas circunstâncias, com base em julgamento clínico e raciocínio crítico diante

das características definidoras e dos fatores relacionados aos pacientes.

Cada primeiro encontro com as pesquisadas-cuidadas durava em torno

de seis horas e, no dia seguinte, a pesquisadora-cuidadora comparecia a instituição

para realizar o segundo encontro, o qual iniciava-se com a reapresentação da

questão norteadora do estudo: o que posso fazer para lhe proporcionar conforto

nesse momento? Muitas vezes, as pesquisadas-cuidadas respondiam que nada os

faltava, tal como expressaram: “Está tudo uma maravilha, nada não (PC2). Nada

não, está tudo bem” (PC4).

No dia seguinte, a pesquisadora-cuidadora realizava um terceiro encontro

com duração de, em média, quatro horas. Percebeu-se que as pesquisadas-

cuidadas demonstraram ansiedade ao aguardar a chegada da pesquisadora-

cuidadora, conforme observado nas falas: “Olá, não tinha vindo ainda hoje [...] onde

você estava?” (PC2).

É importante enaltecer a formação de laços criados entre as partes.

Embora na pesquisa-cuidado de Neves e Zagonel (2006) orienta-se que os

encontros têm caráter de pesquisa, por isso a pesquisadora-cuidadora não

permanecerá o tempo todo na instituição. De maneira que a responsabilidade dos

cuidados integrais das pesquisadas-cuidadas é da equipe de saúde. Desta maneira,

em determinado momento ocorrerá o afastamento da pesquisadora-cuidadora e os

cuidados devem ser mantidos.

Ressalta-se que as primeiras manifestações de desconforto entre as

mulheres investigadas foram seguidas de cuidados de enfermagem apropriados

para cada situação, favorecendo a percepção de conforto e prevenindo fatores de

desconforto. Tais ações propiciaram bem-estar das pesquisadas-cuidadas no

ambiente da UCO.

No último encontro, foram fornecidas informações sobre a alta hospitalar,

assim como realização da avaliação das necessidades de conforto de cada mulher

investigada. Cada última visita correspondeu ao fim de uma ligação entre

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pesquisador-cuidador e ser pesquisado-cuidado, com consequente afastamento.

Após cada um destes momentos, iniciou a quinta fase que correspondeu à análise

das informações apreendidas.

Salienta-se que nesta pesquisa, foram seguidas as etapas conforme a

representação da estrutura conceitual da Teoria do Conforto de Kolcaba, como

apresentado na Figura 1, adaptando-a ao preconizado pelas etapas da pesquisa-

cuidado.

Ao identificar as tecnologias que promoveriam conforto, a partir da

percepção das mulheres pesquisadas-cuidadas, indicou-se o fim dessa fase, e se

iniciou uma nova etapa, que culminaria com o afastamento entre pesquisadora-

cuidadora e pesquisada-cuidada.

Esse momento de estabelecimento das conexões da pesquisa, teoria e

prática do cuidado representou a maior parte do contato entre pesquisadora-

cuidadora e pesquisada-cuidada, posto que correspondeu desde ao primeiro

encontro até a realização dos três outros subsequentes.

4.2.4 Afastamento do ser pesquisador-cuidador e ser pesquisado-cuidado

Esta etapa indicou o fim do encontro, a qual foi preparada durante toda a

trajetória metodológica, pois se caracteriza pelo afastamento entre pesquisador-

cuidador do ser pesquisado-cuidado, com vistas a iniciar a organização e a análise

das informações apreendidas (NEVES; ZAGONEL, 2006).

Nesse sentido, esta fase exige sensibilidade dos envolvidos no processo.

O afastamento, embora previamente acordado, poderia representar decepção para o

ser pesquisado-cuidado, pois não havia garantia da continuidade dos cuidados

oferecidos e estimulados pela pesquisadora-cuidadora (MAAS, 2006).

Page 66: Tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para o conforto de ... · Tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para o conforto de mulheres com Infarto Agudo do Miocárdio

66

Nesta pesquisa, o afastamento da pesquisadora-cuidadora, como

mencionado, foi preparado desde o primeiro contato com a pesquisada-cuidada, de

modo que não foram geradas expectativas de continuidade dos cuidados a elas

dirigidos para fins de pesquisa. Porém, foi assegurada a continuidade dos cuidados

após o encerramento dos encontros para fins da pesquisa. Importante salientar, que

durante a coleta das informações, as mulheres foram preparadas acerca do

encerramento da pesquisa, e de que os cuidados continuariam sem nenhuma

interferência após o término da mesma pelos profissionais de saúde da unidade.

Naquela ocasião, as pesquisadas-cuidadas expuseram sentimentos que

se mantiveram velados nos outros encontros. Também demonstravam satisfação em

ter participado da pesquisa, houve troca de elogios com demonstrações de carinho e

afeto. Entretanto, percebeu-se a demonstração de tristeza pela separação, assim

como expressão de choro de pesquisadas-cuidadas.

Após aquele momento, todo o material recolhido durante os encontros

foram organizados e interpretados, iniciando-se, desta maneira, a última etapa da

pesquisa-cuidado, a qual compreende a análise das informações apreendidas.

4.2.5 Análise do apreendido

Na última etapa, preconizada pelo método pesquisa-cuidado, todas as

informações foram analisadas com foco no referencial teórico, após organização das

informações coletadas, por meio da análise de conteúdo, técnica escolhida para este

fim. Então, constituiu-se uma estrutura compreensiva do significado da experiência

vivenciada. Para tanto, ao interpretar os dados apreendidos, buscou-se por atender

à recomendação de Neves e Zagonel (2006) e os pressupostos da Teoria do

Conforto de Kolcaba (2003).

Inicialmente, a partir da investigação, para cada mulher foi elaborado um

perfil, a partir dos dados oriundos do Apêndice C. Para este fim, mantendo-se o

respeito aos preceitos da ética em pesquisa envolvendo seres humanos, as

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67

pesquisadas-cuidadas foram identificadas mediante o termo “pesquisada-cuidada”

ou “PC”, seguido do número de ordem de cada entrevistada.

Após compilar as informações individuais do perfil das mulheres, foi

descrito um item denominado “Pesquisadas-cuidadas: caracterização das

protagonistas do estudo”, com vistas a apresentar as características pessoais e de

adoecimento.

As informações procedentes das entrevistas semiestruturadas foram

organizadas com base na análise temática categorial de conteúdo por enunciação,

conforme Bardin (2008). As temáticas categoriais apreendidas foram associadas às

etapas do método de pesquisa-cuidado e aos contextos de conforto preconizados

pela Teoria do Conforto de Kolcaba.

A análise por enunciação apoia-se na concepção da comunicação como

processo e não como um dado, sendo acessível, maleável, manejável, de fácil

operação e produção de sentido. Realizou-se a análise de conteúdo, tal como em

toda comunicação evidenciada, não como um produto acabado, mas como um

momento no processo de elaboração. Com a produção da palavra, são elaborados

os sentidos e as transformações possíveis e relacionadas (BARDIN, 2008).

Para alcançar a enunciação de sentidos nos discursos da pesquisadas-

cuidadas foi, inicialmente, realizada leitura flutuante do material transcrito, seguida

de pré-análise, até a constituição do corpus de análise. Em seguida, procedeu-se à

exploração do material a partir de recortes de frases, e formulação de categorias

emergentes e significativas. Todo o material foi, então, como anunciado, interpretado

com base na literatura pertinente e à luz da Teoria do Conforto de Kolcaba.

As informações oriundas do Apêndice B, contendo a evolução da

percepção de conforto a partir das tecnologias de cuidado usadas para satisfazer as

necessidades de conforto identificadas, foram organizadas manualmente, de modo a

facilitar a análise e interpretação. Da mesma forma, por meio da literatura vigente e

dos ensinamentos de Neves e Zagonel (2006) e Kolcaba (2003). Assim, houve

complementação das informações oriundas das entrevistas semiestruturadas. Os

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68

relatos contidos no diário de campo subsidiaram a discussão dos achados da

investigação.

Os resultados da pesquisa, após defesa pública da Dissertação, serão

apresentados à equipe da unidade onde se realizou a pesquisa, como também aos

gestores da instituição, com vistas a otimizar a qualidade do cuidado de enfermagem

dirigido às pessoas com adoecimento coronariano, por meio da oferta de subsídios

para promover-lhes conforto.

Page 69: Tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para o conforto de ... · Tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para o conforto de mulheres com Infarto Agudo do Miocárdio

69

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao apresentar os resultados e as discussões das informações

apreendidas durante o desenvolvimento da pesquisa-cuidado, com base na teoria de

Kolcaba, e a aplicação de tecnologias de cuidar, aduz-se, inicialmente, a

caracterização das mulheres pesquisadas-cuidadas, para que o leitor conheça cada

ser envolvido, passando então à análise qualitativa pela técnica de análise temática

categorial de conteúdo proposta por Bardin (2008).

5.1 Caracterização das protagonistas do estudo

É relevante o conhecimento das principais características pessoais e do

adoecimento dos sujeitos de uma pesquisa. Para tanto, as mulheres que

compuseram este estudo foram caracterizadas como pesquisadas-cuidadas ou ser

pesquisado-cuidado, denominação proposta pelo método de pesquisa usado nesta

investigação.

A idade das pesquisadas-cuidadas variou entre 52 e 85 anos, com média

de 71,5 anos. O grupo de sujeitos foi predominantemente de pessoas idosas, posto

que apenas uma mulher tinha idade inferior a 60 anos, no caso a pesquisada-

cuidada 1.

Para apresentar a escolaridade das pessoas envolvidas neste estudo,

consideraram-se que apenas as pesquisadas-cuidadas 1 e 2 concluíram o Ensino

Médio; as demais nunca estudaram ou tiveram acesso à escola entre dois e quatro

anos.

Quanto à situação conjugal, quatro eram viúvas, quatro com companheiro

fixo e uma era divorciada. Todas eram mães, sendo que a média de filhos entre elas

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70

era de nove; sendo a pesquisada-cuidada 6 com menor número, três; e a

pesquisada-cuidada 9 com o maior número, quinze filhos.

Para tanto, investigou-se quem eram as pessoas que residiam com elas.

Isto é relevante para a investigação por possibilitar o conhecimento da estrutura

familiar e das vivências cotidianas. Quatro delas moravam com seus respectivos

esposos, sendo que o companheiro da pesquisada-cuidada 8 dependia dela para

todas as suas atividades, por apresentar deficiência de locomoção. Ela não deixou

esconder a preocupação com seu esposo: “Fico bem deitada aqui imaginando na

minha casa como é que está lá, meu marido é velho [...] não sei o que ele tem, anda

bem ruim, não fala, não levanta [...] fico preocupada porque acho que elas (as filhas)

não fazem (cuidam) como eu”.

Três outras residiam com seus filhos. A pesquisada-cuidada 9 também

tinha um filho dependente de seus cuidados, por possuir transtorno mental, de modo

que referia com frequência suas preocupações: “Ele (o filho) é como uma criança e

tem 42 anos, fico preocupada com ele, e como vão ficar as coisas”. Nesta fala,

evidenciou-se a preocupação da mulher que era mãe e dona de casa, mesmo

passando por um processo de adoecimento grave, ainda ficava atenta às demandas

de casa que, naquele momento, não estavam mais sob seu controle.

A pesquisada-cuidada 3 residia sozinha, enquanto que a pesquisada-

cuidada 4 com a irmã e os sobrinhos. A que morava sozinha, deixava exposta sua

angústia quanto à sua solidão: “Casei bem novinha, sou viúva, moro sozinha numa

casa, anoiteço e amanheço sozinha, pois não tem ninguém para morar comigo. Lá

onde eu moro só tem mulher que não presta. Fico com medo, não gosto de ficar só

[...] há! como eu tinha vontade de ter uma pessoa comigo!”.

Em relação à procedência, apenas duas eram da cidade de Sobral, as

pesquisadas-cuidadas 4 e 9. As demais eram de cidades circunvizinhas: Ibiapina,

Itarema, Viçosa, Irauçuba e Forquilha. Da última cidade provinham duas mulheres, a

terceira e a quinta, as quais já se conheciam previamente. Elas infartaram em meses

subsequentes de modo que houve coincidência no encontro entre pesquisadora-

cuidadora e as duas pesquisadas-cuidadas, concomitantemente.

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71

Todas as mulheres do estudo eram donas de casa, sendo que apenas a

pesquisada-cuidada 1 exercia atividade remunerada, como auxiliar de serviços

gerais, no hospital de sua cidade. A renda mensal familiar variou de um a quatro

salários mínimos, que por ocasião da coleta das informações, correspondia a R$

540,00 (quinhentos e quarenta e cinco reais).

Para melhor conhecimento dos hábitos das mulheres, investigou-se

acerca das atividades de lazer. Dentre estas, a atividade mais relatada foi ir à igreja,

independente da religião. Entre as pesquisadas-cuidadas, sete eram católicas e

duas evangélicas. Outras atividades relacionadas à espiritualidade como rezar o

terço e novenas religiosas também foram relatadas. Dentre as outras práticas, citara:

ficar na calçada, visitar filhos, costurar, participar de forró para idosos, assistir à

televisão, ouvir rádio e brincar com netos.

É relevante conhecer cultura, hábitos e costumes das pessoas cuidadas,

para assim lançar estratégias de cuidado voltadas para as necessidades individuais.

Nestes casos, deve-se identificar como promover conforto sociocultural,

considerando o contexto atual de adoecimento e a possibilidade de manter

atividades de lazer do cotidiano.

Quanto à idade da menopausa das pesquisadas-cuidadas, variou de 40 a

56 anos de idade; com exceção da pesquisada-cuidada 4 que aos 27 anos foi

submetida à histerectomia. Nenhuma realizou reposição hormonal.

Torna-se essencial a investigação desses aspectos, pois, como

apresentam Fernandes et al. (2008), as mulheres estão vivendo cerca de 1/3 de

suas vidas no período pós-menopáusico e, devido à incidência elevada das doenças

cardiovasculares nesse período, ocorre preocupação com os efeitos da terapêutica

de reposição hormonal, capazes de aumentar os riscos de doenças

cardiovasculares (DCV).

Desse modo, a utilização de terapias de reposição hormonal deve ser

indicada com cautela em mulheres após menopausa, pois nesta fase há risco

elevado de desenvolver doença cardiovascular (GEBARA; FERNANDES;

BERTOLINE, 2009).

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72

Existiram também outros fatores de risco para adoecimento

cardiovascular nas pesquisadas-cuidadas, como história familiar positiva para

adoecimento cardiovascular. Este fator não modificável esteve em sete das nove

mulheres; com graus de parentesco de mãe, pai, irmão, filho, avó e primo. Para

Santos et al. (2009), quando o parentesco é de primeiro grau, a chance de uma

mulher ter doença cardiovascular é de 2,2 a 2,8 vezes maior em relação àquelas

sem o histórico familiar.

Ainda sobre risco cardiovascular, cinco mulheres pesquisadas tinham

hipertensão, uma diabetes mellitus, a pesquisada-cuidada 5, e duas afirmaram ser

dislipidêmicas. Dentre os fatores de risco modificáveis, quatro eram tabagistas e

uma ex-tabagista; seis eram sedentárias, cinco possuíam hábitos alimentares não

saudáveis com alto consumo de sal, açucares e gorduras. Ainda, a pesquisada-

cuidada 3 referiu depressão.

Discussão acerca desses aspectos é apresentada no estudo de Santos et

al. (2009) ao analisarem a epidemiologia dos fatores de risco para doença

cardiovascular na mulher e os seguintes fatores de risco modificáveis: tabagismo,

ingestão de álcool, dieta gordurosas, obesidade e síndrome metabólica. Dentre os

não modificáveis, destacam-se hipertensão arterial, diabetes mellitus, dislipidemias,

menopausa e depressão.

Diante da presença desses fatores no grupo pesquisado, vale enfatizar a

preocupação do enfermeiro na identificação do que pode contribuir para o

acometimento das doenças cardiovasculares. A abordagem deste aspecto na

presente investigação se justifica pela prática de fornecer esclarecimentos e

orientações sobre estilo de vida saudável para as pesquisadas-cuidadas durante os

encontros realizados.

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73

5.2 Análise temática categorial de conteúdo

Na realização da pesquisa-cuidado, é relevante o seguimento ordenado

das etapas propostas pelo método. Deste modo, a primeira etapa foi realizada com o

aprofundamento teórico, com vistas a obter informações significativas e atualizados

sobre o objeto de estudo. Com isto foi possível a delimitação do objeto, a análise do

conhecimento obtido, possibilitando a segurança da pesquisadora-cuidadora para

facilitar a conexão entre teoria, pesquisa e prática.

Ainda com base no método, ressalta-se a característica qualitativa

inerente à pesquisa-cuidado, com valorização de cada detalhe da ocorrência do

fenômeno. Então, o pesquisador pode, a partir dos objetivos propostos pela

pesquisa, abstrair das entrevistas preenchimento do diário de campo e do

formulário, o que foi importante por meio da interação entre as pessoas envolvidas

no estudo (Pesquisador-cuidador e pesquisado-cuidado). Na sequência, apresenta-

se descrição e compreensão obtidas a partir de cada temática construída.

A apresentação e discussão dos resultados foram realizadas tão logo

ocorreram às transcrições das falas das pesquisadas-cuidadas, das informações dos

formulários e das impressões do registro do diário de campo pela pesquisadora-

cuidadora, correspondendo à primeira etapa da análise temática categorial de

conteúdo proposta por Bardin (2008). A pré-análise do material buscou identificar,

nos relatos das mulheres, pertinência em relação aos objetivos da pesquisa, à

homogeneidade do conteúdo abstraído pelos sujeitos e à representatividade das

informações. A pré-análise foi facilitada pela transcrição e organização do material

apreendido.

A segunda fase correspondeu à exploração do material, momento em que

realizou-se o agrupamento das informações similares, do qual emergiram-se seis

temáticas. Ao apresentar as temáticas com a discussão dos resultados obtidos,

inseriram-se as formas de viabilizar o cuidado que a pesquisadora-cuidadora utilizou

durante a pesquisa.

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74

5.2.1 A dor precordial e o processo de hospitalização das mulheres com IAM

Quanto ao processo de adoecer, foi abordado junto às mulheres sobre

características da dor precordial, motivo primordial que as levou à unidade

hospitalar. A identificação destas características possibilita conhecer a diversidade

dos sintomas e intensidade da dor referida.

A dor precordial foi a causa de desconforto mais frequente e presente

entre todas as mulheres estudadas. Deste modo, torna-se relevante descrever as

principais características da precordialgia apresentada pelas pesquisadas-cuidadas.

O conhecimento destas peculiaridades é importante, pois, muitas vezes,

podem ser acompanhados de outros sintomas, que apesar das particularidades

individuais, há semelhanças entre sinais e sintomas. Por isto, torna-se essencial a

divulgação das diversas maneiras em que o IAM pode se manifestar, objetivando

socorro imediato, a fim de evitar quaisquer danos pela demora no atendimento.

Ao se posicionarem quanto aos sintomas que as levaram ao hospital,

verificou-se presença de dor prévia ao dia da admissão, embora a manifestação não

tenha sido valorizada. Em alguns relatos, pôde-se perceber que a mulher não

achava que o sintoma se relacionasse à doença no coração; por outra via, elas

associavam a dor precordial à ocorrência fisiológico como flatulência: “Já estava com

uma semana que vinha sentindo uma dorzinha, achava que era gases, mas ontem a

dor foi bem mais forte [...]” (PC1). “Um aperto aqui está com três dias que sinto”

(PC5). “Já fazia dia que vinha sentindo esse arrocho no meu peito [...] mas hoje foi

demais [...] não achava que fosse coração, ia no posto e mandava medir a pressão e

dizia que estava boa [...]” (PC9). Também teve mulheres que já vinham com

sintomas e não considerava: “De vez em quando, eu sentia umas coisas no peito,

mas não dizia a ninguém” (PC8).

Nos estudos de Mussi e Pereira (2010), também ficou evidenciado que as

pessoas com IAM são resistentes para procurar assistência médica imediatamente

aos primeiros sintomas. Elas toleram a dor, não interrompendo suas atividades

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cotidianas e não se afastando do convívio social, pelo menos até o sintoma se tornar

insuportável.

A não valorização da dor precordial não é algo desvalorizado somente

pelos que estão em adoecimento ou seus acompanhantes. Infelizmente, há

profissionais que cuidam da saúde e não promovem atenção necessária e eficaz, na

consulta inicial, aos relatos de manifestações clínicas das pessoas.

Esse comportamento profissional foi relatado pela pesquisada-cuidada 6:

“Sou hipertensa e lá no hospital de Itarema, a enfermeira disse que era mesmo só

pressão alta. Aí despachou, passei a noite acordada me vendo com essa dor, e o

dia amanheceu. Aí não suportei mais, a dor aumentou e quando fomos para Acaraú

fizeram exames e mandaram para cá”.

Durante a vivência da pesquisadora-cuidadora, como enfermeira

assistencial, foi possível presenciar o quanto as pessoas por ocasião do IAM

demoravam a chegar num hospital especializado. Permaneciam em unidades de

observação de hospitais de pequeno porte, devido a orientações dos profissionais

de saúde até melhorar o quadro clínico. Contudo, é sabido que a melhora somente é

possível por realização de procedimento intervencionista. Consequentemente,

observa-se que muitos morrem antes de chegar ao hospital, enquanto outros

contribuem para os altos índices de morbidade, decorrentes do retardo entre o início

da sintomatologia de dor, chegada ao hospital, e realização da intervenção

terapêutica.

Diante disso, Mussi e Pereira (2010) enfocam que existem poucas

pesquisas no Brasil que buscam por compreender os motivos para o retardo na

decisão em buscar por atendimento médico especializado das pessoas, face à dor

como sintoma prodrômico do IAM. Portanto, é fundamental que os profissionais de

saúde saibam identificar precocemente o adoecimento cardiovascular, assim como

realizar a terapêutica mais adequada para cada situação, principalmente nos casos

agudos.

Outra característica observada nas pessoas com adoecimento

cardiovascular, em particular com IAM, é a associação do sintoma a uma

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manifestação digestiva ou emocional: “Hoje sete horas da noite após comer uma

sopa industrializada, a dor aumentou e fui para o hospital da minha cidade [...] foi

aquela sopa que tomei” (PC2); “está com três dias que sinto, depois de uma

contrariedade que me separei do meu marido, ele veio me pedir minha aliança e já

tenho 54 anos que tenho ela” (PC5). No caso desta última pesquisada-cuidada,

houve relação ao sentimento de decepção com o ex-marido, em especial pelo fato

de ele solicitar a aliança que para ela representava algo já incorporado a si.

Durante a realização da pesquisa, foi possível cuidar das mulheres

admitidas com IAM, tal como o fazia nos cinco anos de atividade assistencial

naquele hospital, muito embora com o diferencial de agora utilizar o olhar de

pesquisadora para além de cuidadora.

No que se refere à sintomatologia de dor, elas referiram que durante a

manifestação do sintoma buscavam alternativas para o alívio, afirmaram clamar por

Deus, massagear o peito, gemer, alternar a posição, ingerir chá, gritar e fazer

caretas.

Dos discursos das pesquisadas-cuidadas, foi possível abstrair atitudes

sobre alívio da dor: “Era uma dor pesada aqui no peito, tomei um chá de colônia”

(PC5); “me levantava me deitava, ficava encalcando (apertando) na parede para ver

se passava [...] fico tentando arrotar (eructar) para ver se melhora” (PC5); “ficava

andando de um lado para o outro para ver se passa [...] era uma dor fadigada, que

tinha vontade de rolar pelo chão” (PC8); “meu Deus, meu Deus me ajude!! Essa dor

é forte demais, está insuportável” (PC1).

Vale apresentar as impressões das pesquisadas-cuidadas quanto à

presença da dor precordial; elas buscavam por comparações e adjetivos para

demonstrar magnitude do sintoma: “É uma dor ardosa, pesando [...] rasgando,

apertando” (PC2); “tapando dos peitos para as costas” (PC3); ”amassando o peito”

(PC4); “é um entalo no peito [...] quando a dor ataca, fica aquela coisa aqui como

arroto” (PC6); “uma dor arrochando, acochando” (PC9).

A dor, de maneira geral, tem sido discussão na comunidade científica, e

merece análise pela perspectiva antropológica do gênero, posto que possa sofrer

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77

interferências socioculturais, determinando diversos significados, meios de tolerância

e de enfrentamento entre os gêneros humanos. Entretanto, em estudo que avaliou a

dor entre os gêneros, não ocorreu diferenças entre a resistência à dor pelo sexo

feminino e masculino. Contudo, na percepção das mulheres a dor foi mais tolerada,

pois elas usavam artifícios como gemer para tentar aliviá-la (MUSSI; PEREIRA,

2010).

A dor precordial pode ser acompanhada de irradiação para os membros

superiores: “Ela começa aqui no peito e vai até o braço” (PC2); “desce e vem aqui

pro braço que adormece a mão” (PC6); pode também irradiar para o dorso: “é uma

dor rasgando, passando pelas costas” (PC3); ou mesmo irradiar para mandíbula:

“senti uma dor aqui (no queixo) e nos peitos também” (PC7).

Ocorreu ainda a presença da dor mais forte fora da região precordial e

localizada no dorso ou na região epigástrica, como referido pela pesquisada-cuidada

4: “Era dor nas costas passando pro braço, o peito também doía, mas doía mais nas

costas [...] agora a dor na pá (escápula) que deu dessa vez foi muito forte”. Já a

pesquisada-cuidada 5 relatou: “Uma dor no corpo todo, na boca do estômago

(região epigástrica), que passava para as costas, toma para os braços, só não ia

para as pernas, graças a Deus que não me empatava de andar”.

A sensação iminente de morte também foi presente: “A dor era aqui na

boca do estômago e tinha hora que fervilhava (espalhava) para o corpo todo, ficava

como se eu tivesse sentindo que estava morrendo, sabe como é” (PC8); “eu sempre

dizia para minha filha que quando fosse morrer queria morrer do coração que era

mais rápido, daí quando vi que o que eu tinha era infarto, eu pensei pronto é agora,

que era chegado a minha hora [...]”(PC1).

Outra particularidade percebida foi a posição da mão em punho fechado

em direção à região torácica, expressada quando elas tentavam demonstrar a

localização da precordialgia.

Um traço peculiar das mulheres, o cuidado com a aparência física, esteve

presente mesmo nos momentos de maior aflição. Mesmo ciente de que aquela dor

poderia ser coronariopatia e, consequentemente, estava sob risco iminente de

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morte, houve preocupação com o autocuidado, como na pesquisada-cuidada 1:

“Essa dor começou cinco horas da tarde, estava sozinha em casa, e como vi que

estava aumentando pensei: essa dor não é gases é coração, tenho que ir ao

hospital. Só que tinha que tomar banho, fiquei com medo de tomar banho e morrer

sozinha pelada no banheiro, então somente me assiei (higiene rápida)”.

Associado à dor precordial, outros sintomas se apresentaram: náusea,

vômito, dispneia, síncope e diaforese: “Senti uma coisa ruim e segurei na corda e caí

(estava colocando roupa no varal). Tornei a me levantar, me deu vontade de

provocar e pedi: meu Deus me ajude a me levantar” (PC3); “senti aquele mal-estar,

suando, dor nas costas, pedi para ele (filho) esfregar minhas costas, pro outro

(sobrinho) me abanar, ele botou o ventilador” (PC4); “Ia indo de um lado para o outro

e o cansaço batendo [...] uma dor cansada, morrendo sem fôlego” (PC8); “comecei a

vomitar, minha vista escurecendo e não vi mais ninguém” (PC9).

Conforme Leite, Figueiredo e Erdmann (2007), o principal sintoma do IAM

é uma pressão desconfortável no tórax ou nas costas, podendo irradiar para ombros,

pescoço ou braços, além de sintomas como tontura, sudorese, náuseas, respiração

curta e sensação de plenitude gástrica.

Com base no exposto, é relevante o conhecimento desses aspectos

abordados, para que se possa compreender a magnitude do sintoma presente

durante o adoecimento e, assim, possibilitar solicitude do enfermeiro e da equipe de

enfermagem na prestação de cuidados a estas pessoas. Deve-se, portanto, lançar

mão de toda variedade de tecnologias de cuidar como estratégia da prática clínica

da enfermagem que possibilitem pelo menos aliviar este sintoma, proporcionando

conforto nos diversos contextos preconizados pela Teoria de Kolcaba.

A seguir estão apresentadas as tecnologias do cuidado clínico,

implementadas e descritas conforme a classificação dos contextos de conforto,

pertinentes à Teoria do Conforto de Kolcaba.

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79

5.2.2 Contextos da experiência humana: o conforto físico

Para Kolcaba (2003), o contexto físico pertence às sensações físicas, aos

mecanismos homeostáticos e às funções imunes. Com base nisto, as tecnologias

para o cuidado clínico de enfermagem com vistas a proporcionar conforto das

mulheres do estudo neste contexto foram: controlar e aliviar desconforto precordial e

sintomatologias clínicas; implementar cuidados gerais de enfermagem; realizar

cuidados para melhorar conforto no leito; satisfazer as necessidades básicas de

hidratação, alimentação e eliminações; e cuidar diferenciado no sítio de punção e na

retirada do dispositivo arterial.

-Controlar e aliviar desconforto precordial e sintomatologias clínicas

No contexto físico, o desconforto mais presente referido por todas as

pesquisadas-cuidadas foi a dor precordial, a qual esteve presente desde a admissão

e representou a causa principal de busca por atendimento de cuidados em saúde.

Nas primeiras seis horas de cada contato, ao abordar a questão

norteadora sobre o que poderia ser feito para proporcionar o conforto, todas elas

foram objetivas nas suas respostas, e responderam ainda gemendo, como a

pesquisada-cuidada 1: “Parar essa dor, o que mais me incomoda é isso [...] é

insuportável. Meu Deus, meu Deus, me ajude [...] essa dor no peito que não passa”.

A partir dos relatos, implementaram-se cuidados clínicos de enfermagem

para alívio da dor aguda, seguindo a Classificação das Intervenções de Enfermagem

(NIC) de Bulechek, Dochterman e Butcher (2010), por meio do controle dos

medicamentos indicados para alívio da precordialgia: Morfina, Aspirina e Ticlodipina,

medicações indicadas para o alívio da precordialgia; também foram usados terapia

simples de relaxamento: respirar profundamente e fechar os olhos; como

instrumento de distração, conversar sobre outros assuntos de interesse das

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pesquisadas; e utilizou-se de terapias de relaxamento, orientações quanto ao

processo de adoecimento e exames necessários; ocorreu também melhora do

sistema de apoio por meio da permanência ao lado da pesquisada-cuidada como

meio de proporcionar suporte. Além disso, realizou-se o eletrocardiograma e as

orientações, sugerindo que permanecessem tranquilas.

Em estudos sobre conforto, Rosa et al. (2008) evidenciaram que a dor

está intimamente relacionada à sensação de desconforto, sendo o conforto aludido a

fato de não ter dor, pois, esta afeta tanto o aspecto físico como o emocional.

Interfere inclusive na alimentação, deambulação e no viver confortável. Kolcaba

(2003) reforça que a dor é o fator de desconforto mais frequente de modo que o

alívio da dor proporciona conforto.

Desse modo, torna-se relevante realizar cuidados para o controle do

sintoma, justificando cada ação, assim, ao solicitar que a paciente respirasse

profundamente, eram fornecidas explicações quanto à importância deste

comportamento, posto que melhoraria a oxigenação sanguínea e,

consequentemente, otimizaria a oxigenação do miocárdio e aliviaria a dor torácica.

Para Kulur et al. (2009), alguns parâmetros de função cardíaca parecem

está associado ao modo de respiração; realizada adequadamente, a respiração

profunda pode influenciar na fração de ejeção, pressão aórtica e arterial pulmonar,

pré e pós-carga e oxigenação dos tecidos.

A permanência ao lado da pesquisada-cuidada durante o desconforto

precordial pareceu propiciar segurança à pessoa que sente dor. Naquela ocasião,

cada procedimento realizado era informado; além disto, segurava-lhe a mão,

realizava-lhes carinhos em sua cabeça e lhes solicitava calma. A cada mulher era

garantido que não ficaria sozinha naquele ambiente, a equipe de enfermagem era

apresentada e a pesquisadora-cuidadora permanecia junto pelo tempo previamente

definido.

Outras queixas álgicas também foram causas de desconforto nas

mulheres. A pesquisada-cuidada 1 apresentou câimbras na panturrilha direita. Foi

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orientada a manter a perna em extensão na mesma direção do corpo. Além disso,

realizou-se massagem no músculo contraído, o qual respondeu satisfatoriamente.

A pesquisada-cuidada 3 por ocasião da troca de lençóis referiu outra

queixa álgica: “Estou com esse dedo quebrado, cuidado com ele, quando desmaiei

em casa, caí por cima dele e está doendo”. Identificou-se a luxação no dedo da mão

direita. Referida ocorrência demonstrou a importância da avaliação integral do

paciente, de maneira que todos os principais problemas de enfermagem fossem

identificados.

Manifestaram-se também desconforto a partir da presença de cefaleia.

Por esta causa, a pesquisada-cuidada 4 apresentou dificuldades em conciliar o

sono. Nestas situações, realizou-se controle da pressão arterial, administrou

analgésico, favoreceu ambiente propício para repouso. Mediante estes cuidados,

houve melhoria da queixa álgica.

Diante da ocorrência de derrame pericárdico e consequente necessidade

de drenagem por gravidade, a pesquisada-cuidada 8, com frequência, referia dor

incisional. Deste modo, tentou-se ajustar uma posição de conforto, porém, o alívio

da dor somente ocorreu após a retirada do dispositivo.

As manifestações de instabilidade hemodinâmica também estiveram

presentes nos discursos das mulheres estudadas nesta investigação, dentre as

quais o uso dos equipamentos torna-se primordial. A pesquisada-cuidada 4

apresentou taquicardia e em sua fala destacou: “Eu fico é assim, pupupum, parece

que o coração tá alterado [...]”. A pesquisada-cuidada 9 apresentou náuseas, pele

fria e hipocorada, hipotensão, hipoatividade, bradicardia com frequência cardíaca

irregular, resposta lenta aos comandos verbais, além de ansiedade; ela gemia de

dor: “Meu Deus do Céu eu não aguento mais não [...] uma dor acochando,

arrochando”.

Nesse contexto, a pesquisadora-cuidadora implementou tecnologias para

o cuidado clínico de enfermagem nestas circunstâncias. As mulheres foram

monitorizadas, receberam oxigenoterapia, foram administrados medicamentos e

fluidos endovenosos. Ademais, foram orientadas sobre o que acontecia, solicitava a

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manter a calma e eram informadas que teriam sempre quem lhes ajudasse,

assegurando que tudo sairia bem.

Ocasionalmente, nessas ocasiões, elas insistiam em manter os olhos

fechados e eram solicitadas a abri-los, olhar para pesquisadora-cuidadora de modo

a otimizar confiança entre ambas. Naqueles momentos, era relevante esclarecer o

que acontecia, reforçar sobre o profissional que cuidava ao seu lado, bem como

quanto aos cuidados que estavam sendo realizados com vistas à melhoria das

intercorrências e/ou complicações.

Outro fator de desconforto referido pelas mulheres do estudo foi a

sensação de náusea e presença de vômito, cujo alívio pareciam fatores

preponderantes para seu conforto na hospitalização. A pesquisadora-cuidadora

esclarecia-lhes a justificativa daquelas ocorrências, solicitava manutenção de

tranquilidade, esclarecia o uso da medicação antiemética e sugeria que

aguardassem a ação do medicamento.

As mulheres eram orientadas também que em caso de emese elas

deveriam manter a lateralização da cabeça, para evitar quaisquer riscos de

aspiração pulmonar de resíduo gástrico. Para tanto, posicionava-se um lençol ao

lado de seu rosto que possibilitasse a recolha de resíduos gástricos. Como forma de

tranquilizá-las, reforçava que permaneceria ao seu lado para ajudá-la quando

necessário.

Vale destacar que ao analisar às pesquisadas-cuidadas acerca de

cuidados de conforto, observava-se que atitudes simples e rotineiras executadas

pela equipe de enfermagem no cotidiano de trabalho são relevantes para satisfação

do conforto. Por isto, atitudes que para os profissionais parecem parte de seu

cotidiano são proporcionadoras de conforto. Por isso, a relevância de serem

identificadas necessidades singulares das pessoas cuidadas.

Nos segundos encontros, a dorsoalgia foi o desconforto mais frequente

entre as mulheres estudadas: “Estou com minhas costas como espinho” (PC4).

Nestes casos, a tecnologia para o cuidado implementado foi a utilização de

almofadas improvisadas com lençóis, na tentativa de melhorar a acomodação no

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leito. Diante da observação frequente destes sintomas álgicos, havia tentativa de

prevenir tais ocorrências nas mulheres que iam sendo admitidas e incluídas no

estudo.

Outro desconforto comum no segundo dia de encontro foi a dor no sítio de

punção venosa. Ao observar, via de regra, não havia sinais aparentes que

justificassem àquela dor, entretanto, elas eram orientadas a movimentar

minimamente o membro que comportava o acesso venoso. Houve um caso especial

de manifestação fóbica, a pesquisada-cuidada 4 reclamava muito das sucessivas

punções para o controle do tempo de coagulação sanguínea devido ao uso

continuado de heparina venosa. Ela, em particular, ficava atenta às medicações

administradas, observando quanto iria faltar para terminar a medicação,

demonstrando ansiedade para retirar o acesso e indagava: “Quando terminar a

medicação tira isso aqui, né?” (PC4). Outras pesquisadas-cuidadas apesar de não

referirem queixas álgicas pelas punções, demonstraram saber da importância delas

e afirmavam: “Elas não são muito boas, mas tem que aguentar” (PC6).

No terceiro dia de encontro, foi comum às mulheres recordarem os

momentos de sofrimento agudo, os quais perpassaram de modo a fazerem

comparações para mostrar a dimensão da dor precordial: “A dor era tão forte,

parecia que estava enfiando uma faca de ponta bem aqui no meio do meu peito [...]

como tinha dito, que quando fosse morrer queria morrer do coração, pedi várias

vezes desculpas a Deus, por ter dito isso e pedia para ele me livrar daquela agonia”

(PC1). Com esta fala foi possível perceber a dimensão e intensidade da dor

precordial no momento do IAM.

Mussi e Pereira (2010) evidenciam que durante a precordialgia intensa

apresentada por pessoas durante o IAM, buscam-se formas de enfrentamento a este

sintoma, o que pode motivar incapacidades geradas pela demora em buscar

atendimento adequado.

Por isso, a importância da realização de pesquisas qualitativas, para

possibilitar o aprofundamento da compreensão das pessoas cuidadas, fornecendo a

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oportunidade de interpretar a intensidade do sofrimento, além das manifestações

espirituais presentes nestes momentos.

-Implementar cuidados gerais de enfermagem

Dentre os cuidados de enfermagem implementados, alguns foram

considerados como gerais, quais sejam os relacionados ao manuseio dos

equipamentos, à higiene, administração de medicamentos e outros procedimentos

de preparo para diagnósticos e para terapêuticas implementadas.

Quando se trata de ambiente de terapia intensiva não há como não

abordar as tecnologias duras presentes naquele local. Assim, todas as pesquisadas-

cuidadas estavam sob monitorização contínua de frequência cardíaca, pressão

arterial e oxigenação periférica. Por vezes, o manuseio do leito destas pessoas

acarreta emissão de alarmes dos aparelhos, causando desconforto e medo. Nestas

circunstâncias, coube à pesquisadora-cuidadora sanar tais ocorrências.

Torna-se relevante, portanto, que os enfermeiros tenham conhecimentos

e habilidades em relação ao manuseio dos dispositivos tecnológicos inerentes ao

ambiente de terapia intensiva, para que precocemente identifiquem não

conformidade no seu funcionamento, bem como realizem leituras das informações

obtidas por meio do seu funcionamento. Estes procedimentos permitem ao

enfermeiro antever necessidades de cuidados a serem dispensados aos pacientes

(SILVA, 2002).

O profissional que tem conhecimento quanto aos equipamentos, como

transdutores para monitorização invasiva de pressão arterial e marcapasso

transvenoso temporários, manuseia-os com mais facilidade, transmitindo confiança,

segurança, tranquilidade e, consequentemente, conforto à pessoa com

adoecimento. Estes equipamentos estão disponíveis para prestar cuidados e merece

atenção do enfermeiro de terapia intensiva. Dentre as pesquisadas-cuidadas, a

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número 3, ao utilizar tais dispositivos, requereu da pesquisadora-cuidadora

intervenções com o manuseio destes equipamentos.

As pesquisadas-cuidadas 3 e 9 mantiveram oxigenoterapia por máscara

de Venturi que pareceu causar-lhes incômodo: “Isso aqui tá doendo”. Nestas

circunstâncias, foi-lhes explicado a importância da manutenção da máscara e

procurada acomodação adequada para o posicionamento facial confortável. A

realização do eletrocardiograma também foi um procedimento necessário às

mulheres estudadas, com o objetivo de analisar a frequência cardíaca e delimitar

zona de isquemia miocárdica. Como se trata de um procedimento rotineiro, as

mulheres demonstravam cooperação e se interessavam em perguntar sobre os

resultados dos exames.

Evidenciou-se que, por ocasião da realização do eletrocardiograma,

satisfação como o trabalho de uma auxiliar de enfermagem que repercutia no

conforto das pacientes. A profissional cantava, conversava com a paciente,

explicava e orientava suas rotinas, o que pareceu importante para o bom

funcionamento do serviço.

No decorrer dos encontros, era explicada às mulheres a relevância dos

equipamentos presentes, orientando sobre as tecnologias dos monitores cardíacos e

a importância de cada um para o cuidado das pessoas internadas naquele ambiente.

Para todas as pacientes, foi necessário realizar tricotomia pubiana como

um preparo para angiografia. Isto porque o procedimento era feito por inserção de

um cateter intra-arterial, em posição femural direita. Desse modo, a retirada de pelos

pubianos contribui para facilidade na higienização local e aderência das fitas

adesivas do curativo compressivo realizado após o procedimento (para manutenção

da bainha até pelo menos seis horas após o procedimento, e oclusão da punção

arterial após sua retirada). Quanto a este procedimento, Sousa, Almeida e Reis

(2009) enfatizam que a tricotomia dos pelos pubianos proporciona desconforto ao

paciente.

Como se trata de um procedimento que expõe a genitália, considerando

as questões culturais relativas ao pudor feminino para exposição de sua região

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íntima, este procedimento se acompanha de constrangimento mútuo entre quem

cuida e quem é cuidado. Por isto, coube à pesquisadora-cuidadora orientar sobre a

necessidade da realização da tricotomia, garantir exposição mínima necessária para

sua realização e manter a privacidade possível para a paciente. A utilização destas

tecnologias leves é essencial para estabelecer interação entre pesquisador-cuidador

e pesquisadas-cuidadas.

Por ocasião de um dos procedimentos, foi percebido certo

constrangimento da paciente diante da insistência da auxiliar de enfermagem que,

por conhecer a pesquisadora-cuidadora, mantinha conversação. Deste modo,

aventa-se a necessidade de a equipe de enfermagem repensar comportamentos

que incluam conversação amena e alheia, junto aos leitos dos pacientes, muitas

vezes, desconsiderando dor e aflição.

Outra tecnologia realizada, sempre que houve necessidade, foi a punção

venosa periférica, que, geralmente, envolve necessidade de antissepsia e dor

provocada pela punção. Nestas circunstâncias, houve necessidade de orientações

acerca do procedimento e da aposição do curativo estético como meio de propiciar

conforto à pesquisada-cuidada.

Nos segundos encontros, houve oportunidade de cuidados gerais durante

o banho no leito com água morna. Vale destacar a importância do diálogo durante

este procedimento, principalmente voltando-se para identificação dos desejos da

paciente acerca do banho. A pesquisada-cuidada 2, mesmo sem pedir nada em

particular, apresentou expressão de dor e disse: “Estou com uma dor cansada, acho

que é dessa cama”. Era dorsoalgia pelo tempo prolongado em decúbito dorsal. Após

o banho, realizou-se mudança de decúbito e houve alívio da dor.

Ainda em situações de banho no leito, a pesquisada-cuidada 2 referiu ter

se sentido como uma criança que recebe cuidados de sua mãe: “Pareço um bebê

(risos)”. Ali se observou uma analogia a um bebê que recebe cuidados.

Nakatani et al. (2004) reforçam que durante o banho no leito, fatores

como a temperatura da água, o toque e a abordagem do profissional de saúde

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interferem para o conforto da pessoa que está sendo cuidada, e destacam a

importância de valorizar as vontades do paciente e a relação interpessoal.

Foi interessante que nos terceiros encontros quando as pesquisadas-

cuidadas referiram melhora clínica e realização de atividades de vida diária, como

evidenciado nos discursos da pesquisada-cuidada 1: “Estou muito bem hoje, já fui

tomar banho no banheiro; não tem nem comparação. Tomar banho na cama não é

bom (risos) [...] depois do banho até dormi, acredita? Fiquei muito bem [...] sentar na

cadeira estirar a perna, ah como é bom [..] agora está melhor, posso me mexer de

um lado para o outro, do jeito que gosto”.

Observou-se como a saída do leito e o banho no chuveiro foram

confortantes para as pesquisadas-cuidadas, portanto devem ser práticas

estimuladas o mais precocemente possível. Interessante citar que quando

encontravam a pesquisadora-cuidadora logo informavam o que tinha proporcionado

conforto naquele período.

No último encontro, as queixas de desconforto se repetiam, e estavam

relacionadas às punção venosa com impedimento de movimentação plena do

membro.

Em um destes últimos encontros, a pesquisada-cuidada 7 demonstrou

chateação por desejar tomar banho e a equipe de enfermagem não ter autorizado.

Foi explicado que não era recomendado banho naquele horário devido ao excesso

de sol na parede do hospital, contudo demonstrou inquietude quanto à sua vontade:

“Já pedi às meninas ali pra tomar banho e elas não deixam; dizem que não pode

tomar agora não [...] já estou com raiva porque queria tomar banho, e estas daí

disseram que não dava [...] desde cedo que peço a elas e não deixam [...] vou ficar é

podre”(risos).

A rotina do serviço é que o banho seja às cinco horas da manhã, então as

auxiliares de enfermagem não autorizam os pacientes a tomarem banho fora desse

horário. Entretanto, caberia ao enfermeiro analisar as necessidades de cada

paciente. Infelizmente, na qualidade de pesquisadora-cuidadora na situação, não foi

possível intervir.

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-Realizar cuidados para melhorar conforto no leito

Outro desconforto físico apresentado foi o incômodo devido ao

posicionamento no leito, em especial quando na maca, aguardando transferência

para unidade coronariana. Tal desconforto era percebido pela pesquisadora-

cuidadora e/ou verbalizado pela pesquisada-cuidada. Elas viravam de um lado para

o outro enquanto gemiam. Quando esta situação era identificada, orientavam-se

medidas de relaxamento, ajudava-as a procurar posicionamento mais confortável no

leito, fazia-se massagem no dorso e, especialmente tentava-se agilizar para uma

cama berço, o que certamente lhes causaria mais conforto.

Com essas estratégias, havia diminuição dos gemidos e demonstração de

calma. Com o tempo, as pesquisadas-cuidadas, mesmo sem orientação da

pesquisadora-cuidadora, passavam a implementar algumas destas estratégias,

realizando ainda respiração profunda e fechamento dos olhos que também havia

sido-lhes ensinado.

Com vistas a amenizar o desconforto, a pesquisadora-cuidadora orientava

sobre a necessidade da manutenção da posição dorsal, em especial após o

estudo/intervenção hemodinâmica, devido à presença do dispositivo intra-arterial.

Esclarecia também acerca do tempo médio de permanência do dispositivo que era

em torno de seis horas e, que ao ser retirado, elas poderiam ficar mais à vontade

para mover-se no leito.

Todas as pesquisadas-cuidadas foram orientadas acerca do que seriam

avaliadas, tanto pela pesquisadora-cuidadora ou por outro profissional de saúde da

UCO, com o intuito de verificar o local de aposição do dispositivo intra-arterial, com o

objetivo de identificar sinais de sangramento. Elas também foram orientadas a

perceber, por meio da autopalpação sinais de sangramento, como intumescimento,

umidade no curativo e dor. Diante destes achados, eram solicitadas a comunicar o

evento ao profissional de saúde mais próximo para que fossem realizadas medidas

cabíveis.

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Quando a pesquisadora-cuidadora perguntou acerca do conforto no leito,

a pesquisada-cuidada 2 relatou ter considerado a cama boa, inclusive afirmou já

saber manuseá-la: “A cama é uma benção, toda computadorizada, já aprendi até a

mexer”. A própria pesquisadora-cuidadora havia ensinado acerca do manuseio dos

controles da cama. Esta paciente encontrava-se ainda utilizando um colchão tipo

piramidal. Diante desta situação, foi possível apreender, pelo relato, a percepção de

conforto na cama.

Considerando a necessidade de implementação de conforto de pessoas

acamadas, Dugas (2008) cita, como cuidados de conforto propiciados pela

enfermagem, a manutenção de camas e colchões limpos e secos, lençóis

arrumados e sem dobras. Isto porque, muitas vezes, a pessoa com adoecimento

necessita manter-se o tempo inteiro na cama.

A dorsoalgia foi outra manifestação física que justificava o desconforto no

leito, presente em todas as mulheres estudadas. Este sintoma foi percebido, em

especial, após a realização do procedimento hemodinâmico, o qual exigia que as

mulheres mantivessem seu membro inferior afetado imóvel, em posição dorsal, até a

retirada do dispositivo intra-arterial.

Essas manifestações foram percebidas em suas falas: “Estou com dor

nas costas [...] estou cansada dessa posição”; “estou com dor nas costas dessa

posição [...] eu passo o tempo todo me levantando em casa, e agora ter que ficar

aqui assim, né minha filha?”(PC8); “essa posição é ruim porque ela é ruim mesmo

[...]”(PC4).

Desse modo, quando a questão norteadora era repetida, ou seja, quando

era perguntado o que poderia fazer para proporcionar-lhes conforto, elas logo

solicitavam para assumir decúbito lateral. Nestas circunstâncias, a pesquisadora-

cuidadora as colocava em decúbito lateral esquerdo por pelo menos dez minutos (o

dispositivo estava posicionado na região inguinal direita). Durante este tempo, a

pesquisadora-cuidadora mantinha-se ao lado das pesquisadas-cuidadas, a fim de,

precocemente, identificar qualquer intercorrência relacionada ao sangramento.

Decorrido tempo, novamente às posicionava em decúbito dorsal.

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A pesquisadora-cuidadora aproveitava a oportunidade de mudar decúbito

para ressaltar a necessidade de repouso diante da ocorrência cardíaca, informando-

as para não alternarem decúbito sozinhas, de modo que somente deveriam fazê-lo

com ajuda de um profissional. Ainda, com vistas a proporcionar conforto físico,

enquanto alternava o decúbito, realizava massagens no dorso e região sacral para

ativar circulação e promover contato direto entre pesquisada-cuidada e

pesquisadora-cuidadora, como modo de estreitar laços de confiança, fortalecer

relação entre si e proporcionar conforto.

Na ocasião, a pesquisadora-cuidadora conversava com as pesquisadas-

cuidadas sobre a vida pessoal delas, rotina diária e, principalmente, o adoecimento e

a internação. Referido diálogo demonstrou importância para que as mulheres

ficassem à vontade com a pesquisadora-cuidadora. Naquela ocasião, a

pesquisadora-cuidadora repetia o próprio nome para facilitar a interação.

A implementação de tecnologias leve do cuidar pareceu proporcionar

conforto às mulheres pesquisadas, posto que acerca dos cuidados para aliviar

dorsoalgia, elas mencionavam: “Melhora muito [...]”(PC5). Elas referiam ainda

redução do desconforto e apresentavam demonstrações físicas de satisfação.

Da intervenção para mudança de decúbito não adveio nenhuma

intercorrência para as pesquisadas-cuidadas. Somente em uma ocasião de

alternância de decúbito de uma mulher, a pesquisadora-cuidadora machucou o

punho direito e ficou sentindo dores. Deste modo, é preciso atentar-se também para

o conforto do cuidador, de modo que a realização de nenhum procedimento lhe seja

prejudicial.

Outra estratégia para proporcionar conforto às mulheres restritas ao leito

foi a providência em improvisar uma almofada, utilizando lençol para melhor

acomodar a cabeça das pesquisadas-cuidadas. Isto porque não havia travesseiro

disponível na UCO. Nestas circunstâncias, elas referiam mais conforto mesmo em

decúbito dorsal.

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A necessidade de sono e repouso no leito, principalmente após a

realização do procedimento hemodinâmico e estabilização do quadro clínico na

UCO, esteve presente nas mulheres estudadas.

O conforto é uma medida imprescindível, pois, nesta ocasião, o miocárdio

infartado necessita de redução do metabolismo basal, com vistas a melhoria do seu

débito cardíaco. Logo, torna-se relevante que a equipe de enfermagem facilite a

manutenção do repouso recomendado, evitando manuseios desnecessários com a

paciente, salvo se houver necessidade de alguma intervenção diagnóstica e/ou

terapêutica.

Conforme Morton et al. (2007), a manutenção do sono e repouso,

geralmente, não é valorizada pelos profissionais de saúde, não priorizando este

cuidado com os pacientes. Relatam, ainda, que a promoção do sono é uma

intervenção humanística e mantenedora da vida, pois, com a privação do sono,

podem ocorrer alterações na cognição, confusão, interferência na cicatrização de

feridas, além de fadiga muscular e retenção de dióxido de carbono, incapacitando o

desmame de ventilação mecânica.

Portanto, favorecer sono e repouso é essencial para as pessoas que

foram acometidas por IAM, posto que muitas vezes além da presença de dor,

chegam ao hospital após longas viagens, em especial, oriundas das cidades

interioranas. Ademais, elas apresentam crises dolorosas, realizam procedimentos

invasivos dentre outros fatores de estresse. Com isto, o corpo necessita de

descanso e a Enfermagem deve estar alerta quanto a esta necessidade, decidindo

quando vale ou não interromper o sono que a pessoa possa ter conciliado.

Assim, merece considerar uma situação especial ocorrida com a

pesquisada-cuidada 7. Enquanto dormia, a copeira veio servi-lhe o lanche, como se

tratava da última refeição do dia, decidiu acordá-la. Felizmente, não se mostrou

como empecilho, pois logo depois conseguiu dormir novamente. Vale lembrar que

antes de conciliar o sono, perguntou à pesquisadora-cuidadora se havia sido

providenciado lugar para sua filha ficar. Após resposta afirmativa, conciliou o sono.

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A pesquisada-cuidada 7 afirmou que estava com muito sono e queria

dormir. A pesquisadora-cuidadora informou que permaneceria ao seu lado e que, se

precisasse, poderia chamá-la, ou ainda chamar qualquer profissional da equipe

disponível. O sono da pesquisada-cuidada 7 prolongou-se naquela ocasião de modo

que não houve despedidas. A paciente mantinha estabilidade hemodinâmica,

verificação dos sinais vitais e ausência de intercorrências.

O enfermeiro deve identificar sono e repouso das pessoas que estão sob

seus cuidados, posto que, por vezes, são fatores insignificantes para o profissional,

mas que podem repercutir negativamente no sono, descanso e conforto da clientela.

Nesse sentido, a pesquisada-cuidada 3 manifestou-se de modo a chamar

a atenção. Após melhoria do quadro clínico, perguntou à pesquisadora-cuidadora:

“Posso dormir?”. Destaca-se que é comum, em unidade de terapia intensiva, as

pessoas adoecidas temerem dormir, acredita-se que seja conhecimento que estas

pessoas têm em relação ao risco iminente de morte, já estigmatizado nestes

ambientes.

Outros fatores também interferiram no repouso e causaram desconforto

das pesquisadas-cuidadas: “Não consigo dormir [...] tem muitas conversas” (PC5);

“[...] mas também estou sem sono [...] ver se minha filha está ai” (PC4). A ansiedade

pela presença da família, os ruídos do ambiente e a própria falta de sono.

Nessa perspectiva, o conforto tem associação com a satisfação das

necessidades de sono e repouso, e apresenta diversos fatores a serem

considerados durante a satisfação destas necessidades, como: hábitos de sono

prévio do paciente, posicionamento na cama, condições e localização do

travesseiro, fatores ambientais (ruídos, odores, temperatura, iluminação), além da

presença de dor e ansiedade (DUGAS, 2008).

Por ocasião do cuidado relacionado ao sono prestado às pesquisadas-

cuidadas, a pesquisadora-cuidadora permanecia ao seu lado, acompanhando a

evolução clínica e o ambiente, como modo de manter seu conforto. Os cuidados

ambientais se dirigiam a diminuir intensidade das luzes e manter redução de ruídos

desnecessários ao seu redor.

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A pesquisadora-cuidadora já percebia, em sua prática clínica, a

dificuldade que seus pacientes tinham em conciliar o sono em ambiente de terapia

intensiva. Alguns se preocupavam inclusive com equipamentos em torno do seu leito

(sistema de monitorização cardíaca, bombas infusoras, dispositivos de soro etc.), o

que deveria ser uma preocupação profissional, impressionantemente, são focos de

atenção do paciente internado.

Por isso, é importante o enfermeiro apresentar-se ao paciente e mais que

isto, adquirir sua confiança, pois a adaptação da pessoa no seio da terapia intensiva

tem relação direta com o vínculo estabelecido com o profissional cuidador, bem

como a percepção que tem sobre o adoecimento. Se, tem confiança no profissional,

o paciente dorme mais tranquilo, na certeza de que sempre terá uma pessoa

cuidando dele.

Para Bordinhão (2010), o profissional de saúde deve avaliar as condições

de sono e repouso do paciente já na admissão em terapia intensiva, pois auxilia no

planejamento de cuidados integrais, deste modo, o enfermeiro realiza intervenções

voltadas para a melhoria da qualidade e quantidade do sono, buscando assistência

mais humanizada.

No segundo dia dos encontros, identificaram-se dificuldades em repousar

durante o período noturno: “Não dormir muito bem, lá para tantas da noite, tinha luz,

barulho e a posição, não podia me mexer, não dá para dormir assim [...] mas

amanhã será melhor” (PC2). A pesquisada-cuidada foi orientada que mesmo nos

períodos de ausência da pesquisadora-cuidadora, haveria sempre um profissional

que poderia ajudá-la no que precisasse. Logo, em uma próxima sensação de

desconforto como a descrita poderia requerer por ajuda profissional.

Em um segundo encontro, a pesquisada-cuidada 6 anunciou ter dormido

bem, apesar de acordar de vez em quando: “Nem se compara com a noite anterior

que estava me vendo com dor no peito [...] a menina (enfermeira) tirou o aparelho

(dispositivo intra-arterial) a noite, não doeu muito não, pensei que iria doer muito,

ficou só rocho (equimatoso)”. Foi-lhe explicada a justificativa da equimose e sua

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evolução esperada (desaparecer), de modo que a paciente demonstrou estar mais

tranquila.

Também nas situações de segundo dia de encontro, em que as

pesquisadas-cuidadas já se locomoviam com mais facilidade, a pesquisadora-

cuidadora as reorientava quanto ao manuseio do controle de automação da cama.

Na ocasião, referiam: “Ah! muito bom, agora que sei mexer, não vou precisar chamar

por ninguém para baixar ou subir a cama” (PC2). Acredita-se que saber movimentar

a cama poderia ser confortador, pois elas teriam a liberdade de manter o

posicionamento que mais lhes proporcionasse conforto.

Entretanto, mesmo no terceiro dia de internação, as pesquisadas-

cuidadas ainda referiam desconforto no leito e dorsoalgia, conforme manifestaram

em seus discursos: “Está tudo bem, só tenho dor aqui (apontando para região

dorsal), mas também esse tempo todo aqui desse jeito deitada, tem mais é que ter

dor, né” (PC2); “o que maltrata aqui é a coluna” (PC5).

Observou-se, porém, que mesmo com dor e desconforto, a pesquisada-

cuidada 2 expressou que “está tudo bem”, demonstrando que a presença daquela

dor não era condição suficiente para comprometer seu bem-estar geral. Novamente,

eram estimuladas a alternar o decúbito, com o fim de sentirem-se confortáveis.

Por ocasião do último dia de encontro, durante avaliação do estado geral

das pesquisadas-cuidadas, encontrou-se uma situação de desconforto físico

relacionada ao uso de lençol e roupas pessoais molhados da pesquisada-cuidada 3.

Diante daquela situação, os lençóis foram trocados, a mulher foi colocada na

posição sentada, de modo que foi promovido conforto no leito, ela demonstrou

satisfação: “Oh que coisa boa [...] pronto, muito obrigada você é muito boa”.

Quando o último dia de encontro ocorreu em unidades tipo enfermaria,

encontrou-se, como na pesquisada-cuidada 6, demonstração de desconforto em ali

permanecer: “Oh, minha filha, não consegui dormir aqui nessa cama, a da UTI é

mais confortável, além das luzes acesas e esse ventilador em cima de mim [...] os

ferros (molas da cama) pegava aqui e eu eita vai furar mesmo”. Infelizmente, como

não havia nenhum outro leito disponível para que ela pudesse permanecer, a

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pesquisadora-cuidadora sugeriu que a paciente alternasse com mais frequência sua

posição no leito, para assim reduzir o desconforto.

-Satisfazer às necessidades básicas de hidratação, alimentação e eliminações

Ao considerar as necessidades básicas como requisitos humanos

necessários à manutenção da vida, neste estudo, evidenciaram-se manifestações de

hidratação, alimentação e eliminações como fatores necessários à manutenção de

conforto de mulheres infartadas.

Horta (1979, p.29) afirma que “enfermagem é a ciência e a arte de assistir

o ser humano no atendimento de suas necessidades básicas, de torná-lo

independente desta assistência, quando possível, pelo ensino do autocuidado”.

As necessidades básicas do ser humano são de alimentação, hidratação,

eliminação, sono e repouso, cuidado corporal, recreação e espirituais (HORTA,

1979). Para o atendimento das necessidades de conforto, neste estudo, foram

atendidas a todas estas e, neste momento, estão apresentados os cuidados de

conforto quanto à hidratação, alimentação e eliminações.

A manifestação de sede apresentou-se como necessidade de conforto

das mulheres principalmente após a realização do procedimento hemodinâmico.

Para satisfazer a esta necessidade de hidratação, perguntou-se sobre a preferência

quanto à temperatura da água desejada e, nos casos em que havia restrição da

ingesta hídrica, foi-lhe explicado e orientado quanto aos motivos pela referida

restrição.

Ao oferecer a água, elas eram ensinadas a manter lábios e língua

umedecidos, como meio de reduzir a sensação de sede. Discursos como: “Tenho

sede, estou com a boca sequinha” (PC4), eram presentes. O ressecamento dos

lábios faz com que a pessoa tenha sensação de sede mais frequente,

principalmente quando em uso de oxigenoterapia (MORTON et al., 2007).

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96

Por isso, as condutas simples são importantes reflexões conforme se

apresentam: manter-se junto ao paciente, mesmo que seja para mediar uma simples

conversa, saber se ele deseja mais um lençol ou mesmo informar-se da preferência

da temperatura da água que a pessoa ingere, são atos que promovem sensação de

conforto, e que em nada interfere no trabalho do enfermeiro.

Como este estudo proporcionou aproximação entre pesquisadora-

cuidadora e pesquisadas-cuidadas, tal como propõe o método pesquisa-cuidado de

Neves e Zagonel (2006), perceberam-se que as pesquisadas-cuidadas mostraram-

se gratas diante da implementação de qualquer tecnologia do cuidado apresentada,

independente de serem: dura, leve-dura ou leve, principalmente as leves, como:

oferecer água, fornecer um lençol, esclarecer uma dúvida, ou simplesmente

conversar. Elas repetiam: “Muito obrigada, que Deus lhe ajude!” (PC3).

No que se refere à alimentação, o uso contínuo de prótese dentária

apresentou-se como conforto para as mulheres que dela necessitavam. Em geral, na

admissão da paciente em terapia intensiva, são retirados e entregues aos familiares

todos os pertences, inclusive, a prótese dentária. Entretanto, entre as participantes

deste estudo, observou-se a solicitação das pesquisadas-cuidadas para não

entregar suas próteses dentárias.

A pesquisadora-cuidadora favorecia o uso deste artefato desde que não

houvesse limitação relacionada à condição clínica. Quando havia risco de maior

gravidade, como parada cardiorrespiratória, que pudesse complicar com aspiração

da prótese, a mulher era orientada a manter-se sem ela, com a garantia e a certeza

do uso quando sua condição clínica permitisse.

O uso da prótese dentária relaciona-se à necessidade de mastigação e

ainda à questão estética. Foi possível observar a dificuldade enfrentada para

mastigar os alimentos das mulheres que permaneciam sem prótese, assim como a

preocupação com a estética facial. Naquelas condições, elas procuravam esconder

a boca com as mãos.

Em uma ocasião durante o almoço, a pesquisada-cuidada 4 não

conseguiu alimentar-se devido à ausência de sua prótese, por isto optou por solicitar

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uma alimentação líquida diante da impaciência em não conseguir mastigar o

alimento. No desjejum, alimentou-se tão somente de líquido porque não conseguiu

mastigar o pão: “O pão ficou embolando na minha boca, ai não deu mesmo para

comer”. Disse-lhe que por ocasião da visita seria solicitado que seus familiares

trouxessem a prótese dentária e assim foi feito.

Como sensação de desconforto, queixas de fome também foram

apresentadas pelas mulheres do estudo. Nestas circunstâncias, foram orientadas

quanto aos horários da presença de copeiras na unidade. Estas tinham horários

fixos para fornecer alimentos à unidade, distribuídos em seis refeições ao dia.

Quanto a isso, quando perguntado a pesquisada-cuidada 5 o que poderia

fazer para proporcionar conforto, referiu: “Se pudesse tomar um cafezinho era bom”.

Foi-lhe explicado a impossibilidade devido ao horário, já era noite, não tendo mais

como fornecer café e mesmo assim, o café poderia afastar-lhes o sono. Contudo,

garantiu-se que pela manhã ela satisfaria seu desejo.

Outra queixa referida pelas pesquisadas-cuidadas, em especial nos

momentos primeiros, foi relativa à eliminação urinária: “Estou com vontade de urinar,

a menina (auxiliar de enfermagem) já colocou e não consegui [...]”(PC4). Nestas

situações, as pesquisadas-cuidadas eram orientadas acerca da manutenção do

repouso no leito que as impedia de levantar-se para urinar; havia necessidade de

adaptação ao uso da aparadeira; orientação quanto ao seu posicionamento; e

importância da mensuração do débito urinário, com vistas a avaliar a eliminação do

contraste radioativo, utilizado por via endovenosa e necessário para procedimento

hemodinâmico.

A aparadeira era entregue sempre que solicitada. A pesquisadora-

cuidadora explicava que elas permanecessem tranquilas e sem pressa; as deixava

sozinhas enquanto urinavam, como meio de preservar sua intimidade; e as orientava

a comunicar qualquer desconforto, bem como quando terminassem a eliminação.

Em alguns casos, houve necessidade de utilizar meios físicos (compressas

umedecidas frias na região suprapúbica) para facilitar a eliminação do débito

urinário.

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Naquelas situações, referiam: “Não consigo urinar enquanto tem gente

por perto”. A manutenção da privacidade durante as eliminações urinárias deve

ocorrer durante a hospitalização, tal como evidenciado na fala da pesquisada-

cuidada 4. Vale destacar que somente o fato de utilizar a aparadeira já é fator que

dificulta a eliminação, tanto urinária como intestinal.

Lenardt et al. (2007) consideram o uso da aparadeira como um dos

instrumentos usados pelos profissionais de saúde para satisfazer as necessidades

básicas dos pacientes, sendo um procedimento simples e rotineiro. Entretanto, para

o paciente nem sempre tem este significado, pois não o utiliza em seu cotidiano e,

portanto, enfrenta dificuldades no seu uso. Ressalte-se que, durante este cuidado, a

privacidade é essencial, e deve ser implementada, de preferência, por profissional

do mesmo sexo do paciente.

Lembre-se que ao fornecer a aparadeira às mulheres, que ainda

portavam o dispositivo intra-arterial, eram solicitadas para não flexionar a perna

respectiva. A elas era explicada a importância da eliminação urinária e a

disponibilidade da pesquisadora-cuidadora ou outro membro da equipe de

enfermagem para atender às suas solicitações. A sensação de bem-estar era

aparente nas mulheres após conseguir urinar: “Agora estou melhor [...]”(PC8); “estou

mais aliviada agora” (PC4).

Ressalte-se, então, que ao oferecer a comadre ou papagaio ao paciente,

se estar realizando-se um cuidado, devem-se, portanto, serem considerados os

princípios científicos da técnica adequada, analisando as inadequações e corrigindo-

as (LENARDT et al., 2007).

Neste estudo, percebeu-se dependência das pesquisadas-cuidadas com

relação à pesquisadora-cuidadora para implementação de alguns cuidados, tal como

a oferta da aparadeira. Em uma ocasião com a pesquisada-cuidada 3, que

apresentava dificuldade para urinar, ela foi logo contando que havia conseguido

fazê-lo após implementação de meios físicos por uma auxiliar de enfermagem.

Afirmou que havia lembrado do interesse da pesquisadora-cuidadora, em um

momento anterior, no seu débito urinário com vistas à eliminação do produto usado

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na hemodinâmica e explicitou ter sentido a falta da pesquisadora-cuidadora naquele

momento.

Considerando o exposto neste contexto de conforto, enfatiza-se, de

maneira reducionista, que a literatura voltada para a promoção do conforto evidencia

ações voltadas para a higienização, o posicionamento do cliente no leito, a

manutenção da integridade corporal, sono e repouso, entre outros (SILVA;

CARVALHO; FIGUEIREDO, 2010). Neste sentido, há também de ser considerada

toda e qualquer manifestação apresentada pelo paciente.

Por ocasião do segundo encontro, ao perguntar o que poderia fazer para

confortar as pesquisadas-cuidadas, a solicitação de água apresentou-se como uma

necessidade conforto: “Me dê uma aguinha, estou com a garganta sequinha” (PC2).

Outra necessidade foi de alimentação, que mostrou importância relativa à

identificação de preferências referida por cada mulher cuidada. Por exemplo, a

pesquisada-cuidada 7 preferia alimento mais quente: “Sabe o que eu acho, eu gosto

de comida mais quentinha e a daqui está vindo fria, aí não acho bom, e fico ruim

para comer [...]”.

No segundo encontro, ainda, a eliminação urinária também se apresentou

como necessidade de conforto. A pesquisada-cuidada 4 apresentou dor em baixo

ventre: “Estou urinando de vez em quando, bem pouquinho, estou com dor no pé da

barriga [...] é como um espinho, não consegui dormir a noite [...]”. Diante daquele

relato, a pesquisadora-cuidadora forneceu-lhe a aparadeira e aplicou compressa fria

na região do baixo ventre. Ela ainda referia não ter conciliado o sono pela cama e

por apresentar cefaleia. Após este momento de interação entre pesquisadora-

cuidadora e pesquisada-cuidada, a mesma conseguiu urinar satisfatoriamente,

demonstrando maior conforto físico.

Observou-se, na realização deste estudo, que conforme ocorriam os

contatos as pesquisadas-cuidadas, forneciam-se mais e melhores informações

sobre suas necessidades de conforto satisfeitas. Elas demonstravam ter

compreendido a importância de seus relatos e assim referiam: “O frio passou mais,

já me alimentei [...]”(PC2); “hoje tomei banho no banheiro, fui fazer o ECO

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(Ecocardiograma), saiu sangue aqui na veia e teve que trocar o curativo [...] sabe

que dormi um pouquinho à noite, acordei pensando que já era de manhã e a

enfermeira disse que ainda era duas horas da manhã [...] elas desligaram algumas

luzes e ficou melhor [...] saudade é dos meus dentes [...]”(PC4). Ao encontrarem a

pesquisadora-cuidadora, relatavam o que lhes acontecera nas últimas horas, a

satisfação de suas necessidades de alimentação, higiene e eliminação.

Nos terceiros encontros, que correspondia ao terceiro dia de

hospitalização, as mulheres já poderiam ir ao banheiro, à exceção da pesquisada-

cuidada 2, que tinha recomendação médica para repouso diante da condição clínica

instável.

Diante dessa necessidade de repouso, a paciente permaneceu

desconfortável ao manifestar desejo de evacuar. Naquela ocasião, a pesquisadora-

cuidadora considerava ser possível o transporte cuidadoso da pesquisada-cuidada,

em cadeiras de rodas até ao banheiro, o que certamente favoreceria a satisfação da

necessidade. Entretanto, não havia possibilidade de transgredir uma recomendação

do corpo clínico.

No encontro seguinte, quando já havia possibilidade de encaminhá-la ao

banheiro, a pesquisada-cuidada 2 mostrou-se visivelmente animada. Ao retornar,

solicitou um lençol para apoiar melhor a cabeça e relatou satisfação de ter atendido

à sua necessidade básica. Um tempo depois disse: “Depois do banheiro tomei café,

depois veio o suco, depois o almoço, e daqui a pouco vem mais suco [...] aqui ando

para todo lado, me sento aqui e olho pela janela, converso com elas (outras

paciente)”. Naquela ocasião, já se encontrava na unidade de internação tipo

enfermaria.

Como referido, sabendo do interesse da pesquisadora-cuidadora por elas,

as pesquisadas-cuidadas relatavam: “Eu estou bem só comendo e dormindo [...] fico

só olhando para o relógio e vendo a hora, esperando a hora da visita [...] a noite foi

boa, deu para dormir [...] a luz ficou somente por longe” (PC2). Falavam destes

assuntos por saber que a pesquisadora-cuidadora iria se interessar por estes

aspectos.

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Foi possível também presenciar relatos de satisfação fornecidos aos seus

familiares: “Minha filha aqui tem tudo, comida, banho, as pessoas são de Deus, eu

almocei foi muito hoje, pedi uma sopa de frango e veio bem grossinha [...]”(PC3).

Destaca-se, no último dia de encontro, que em geral, elas sentiam-se melhor quanto

à satisfação de suas necessidades básicas, neste caso de alimentação.

A satisfação das pesquisadas-cuidadas nestas circunstâncias ocorria

devido à melhora do quadro clínico e da possibilidade de estar realizando as

atividades do cotidiano como alimentação e banho.

-Cuidar diferenciado com o sítio de punção arterial femural e retirada do

dispositivo intra-arterial

Um cuidado especial já anunciado com pessoas que sofrem IAM é a

instalação, manutenção e retirada do dispositivo intra-arterial, inserido em artéria

femural direita, para diagnóstico/intervenção da doença coronariana aguda. A

inserção do dispositivo ocorre por punção e colocação de um introdutor na artéria

femural, antes do estudo hemodinâmico. Quando a angioplastia é indicada, referido

dispositivo somente é retirado de quatro a seis horas após a realização do

procedimento, mediante controle de exames sanguíneos de coagulação. Assim, no

caso particular das mulheres estudadas, na maioria das ocorrências, a retirada do

introdutor ocorria no mesmo dia da admissão, conforme a hora de chegada ao

hospital.

A retirada desse introdutor é sempre um momento de tensão, tanto para o

paciente como para o profissional, posto que podem ocorrer intercorrências como:

sangramento, formação de hematoma, comprometimento da circulação periférica do

membro inferior correspondente, reação vagal e, principalmente, e mais comum, a

dor intensa percebida pelo paciente.

Diante da normalidade nos resultados dos exames de coagulação da

pesquisada-cuidada 4 e da realização de preparativos para retirada de seu

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dispositivo intra-arterial, ao ser comunicada do procedimento, referiu: “Eita que

agora vai doer”. Ao ser perguntada por que percebia assim, respondeu: “Ora se tem

um negócio ai dentro, e vai tirar, tem mais é que doer mesmo”. Foi-lhe dito que se

colaborasse não iria doer tanto. Todo procedimento foi previamente esclarecido:

retirada do curativo, antissepsia local, retirada do dispositivo e aposição de curativo

oclusivo e compressivo por aproximadamente seis horas. Foi-lhe informado ainda

que haveria necessidade de repouso absoluto no leito por pelo menos seis horas,

restrições de movimentos no membro inferior correspondente, necessidade de uso

venoso de solução anticoagulante (Heparina de baixo peso molecular), e da

necessidade de punções regulares a cada seis horas para controle do tempo de

atividade de tromboplastina.

Ainda não foi possível alcançar um consenso a respeito do tempo ideal de

repouso após a retirada da bainha femoral. Resultados de estudos que reduziram de

seis para quatro horas, e de quatro para duas horas, o tempo de repouso de

pacientes submetidos ao cateterismo cardíaco com introdutor 6F não identificaram

maior número de complicações no grupo que deambulou mais precocemente

(ROCHA, 2009). Apesar disso, o serviço, no qual o estudo se realizou, mantém este

protocolo de seis horas como forma de garantir segurança ao paciente.

As orientações quanto ao seguimento do tratamento, explicações dos

procedimentos e continuidade de tratamento são técnicas consideradas

significativas para pessoas em ambiente hospitalar. É importante para elas saberem

o que irá acontecer, para que não tenham expectativas positivas ou negativas.

Por exemplo, durante a retirada do dispositivo intra-arterial da

pesquisada-cuidada 4, ela foi orientada a respirar profundamente e expirar, pela

boca três vezes enquanto ocorria a retirada. Trata-se de uma forma de retirar a

atenção da pessoa do foco que neste caso é o procedimento; ao se concentrar nos

movimentos respiratórios a paciente desvia sua atenção da dor. Trata-se de uma

tecnologia advinda da prática clínica da pesquisada-cuidada. Ao final da primeira

expiração, o dispositivo era retirado e a pessoa era requisitada a proceder a mais

duas incursões respiratórias profundas. Ao final do terceiro movimento completo de

respiração, o paciente era informado de que a retirada da bainha foi concluída.

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Deste modo, em geral, os pacientes se admiram e parecem que sentiram menos

dor. Assim, ocorreu com as pesquisadas-cuidadas 1, 2, 3, 4 e 7.

Após a retirada do dispositivo, é necessário realizar compressão manual

ou mecânica, com vistas a reduzir riscos de sangramento. Na situação clínica em

questão, a compressão foi manual e ocorreu com vistas a obter maior segurança,

por cerca de quinze minutos. A pesquisadora-cuidadora dispôs deste tempo para

conversar sobre o procedimento e a evolução clínica da paciente. Decorrido tempo

necessário, foi feito curativo oclusivo e compressivo com fita adesiva tipo micropore

para proteção da pele sobreposta com fita tipo esparadrapo.

Ao final do procedimento, a pesquisadora-cuidadora solicitou que o

próprio paciente palpasse sua região inguinal, ensinando-lhe que comunicasse

qualquer manifestação de enrijecimentos dos tecidos adjacentes, umidade ou dor a

um profissional do setor. Com todas as pesquisadas-cuidadas, com as quais a

pesquisadora-cuidadora, foi responsável pela retirada da bainha, o procedimento

assim aconteceu e, naquelas em que um profissional do setor o fez, as mesmas

recomendações foram fornecidas.

O manuseio do local da punção e a retirada do dispositivo arterial estão

relacionados às complicações hemorrágicas e vasculares, ocasionando aumento da

morbidade e dos custos hospitalares. Deste modo, a formação de hematoma local,

retroperitoneal, pseudo-aneurisma e formação de fístula arteriovenosa contribuem

para o aumento de permanência hospitalar, desconforto, além de riscos adicionais

aos pacientes, em decorrência de possíveis procedimentos de reparo cirúrgico,

compressão mecânica e transfusões sanguíneas (ZANATTA et al., 2008).

O profissional que realiza o procedimento de retirada do dispositivo intra-

arterial deve estar treinado para executar a técnica, avaliando o paciente de maneira

integral, visando a identificar precocemente quaisquer intercorrências. O enfermeiro

tem capacidade para realizar o procedimento, amparado pelo Parecer Técnico

COREN-DF nº 14/2001, desde que tenha realizado curso de Especialização em

Enfermagem em Terapia Intensiva ou Enfermagem em Unidade de Hemodinâmica,

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posto que se trata de procedimento complexo, passível de risco para o paciente

(MALAQUIAS et al., 2005).

A pesquisadora-cuidadora era especialista em Enfermagem

Cardiovascular, bem como tinha experiência na prática clínica com a retirada do

referido dispositivo. Portanto, sempre que possível realizava o referido procedimento

em suas pesquisadas-cuidadas, ocasião em que obtinha apoio das mulheres ao

lançar das estratégias cuidativas mencionadas.

Na retirada do dispositivo da pesquisada-cuidada 7, houve formação de

discreto hematoma, tratado com vasodilatador local, entretanto ela de nada

reclamou, inclusive dormiu durante todo o procedimento.

A pesquisada-cuidada 3 não referiu dor por ocasião da retirada do

dispositivo, mas a despeito de todos os cuidados adotados durante o procedimento,

relatou dor precordial à retirada do dispositivo: “Depois que tirou o aparelho voltei a

ter dor no peito”. Foi pedido para ela respirar profundamente pelo nariz e perguntado

se havia intensificação da dor, a qual respondeu afirmativamente.

A partir desse relato, foram proporcionados cuidados como tentativa de

relaxamento e alternância de decúbito. Tais ações foram suficientes para melhora da

dor, de modo que se pensava não ter se tratado de dor de natureza cardíaca. Após,

afirmou que a dor havia melhorado: “A dor deve ter sido porque tirou o aparelho lá

de dentro do meu peito [...]”(PC3).

A paciente foi então orientada que certamente sua dor não estava

relacionada ao procedimento, poderia ser mesmo desconforto no leito, já que houve

melhora com a mudança no decúbito. Naquele momento, agradeceu pelo cuidado:

“Obrigada pela sua dedicação e o amor que você tem pelos seus pacientes” (PC3).

Apesar de após a retirada do dispositivo intra-arterial terem persistidas as

queixas de dorsoalgia, as pesquisadas-cuidadas eram orientadas para manter o

decúbito dorsal, pelo prazo determinado, pelo menos seis horas. Para alívio do

sintoma álgico, a pesquisadora-cuidadora as colocava em decúbito lateral esquerdo

pelo tempo limite de dez minutos, mantendo-se para tanto ao seu lado. Naquelas

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circunstâncias, elas compreendiam e diziam: “Já que não pode ficar muito tempo né

minha filha, vamos voltar” (PC4).

A retirada do dispositivo intra-arterial da pesquisada-cuidada 5 ocorreu

quando a pesquisadora-cuidadora sentia dores no punho direito em decorrência da

realização de uma mudança de decúbito promovida na paciente. Deste modo, o

procedimento foi realizado por uma enfermeira da UCO. A pesquisadora-cuidadora

manteve-se junto, auxiliando a profissional e promovendo o conforto necessário à

mulher participante do estudo.

Apesar de orientada sobre todo o procedimento, demonstrava descrédito

e referia: “Você está é mentindo, não tirou não [...]”(PC5). Com isto, foi preciso

mostrar-lhe o dispositivo para que ela acreditasse.

No dia seguinte, correspondente ao segundo encontro, a pesquisada-

cuidada 5 ainda se queixava de dor na região femural: “O que me incomoda é

somente essa dor, será que se eu sentar não melhora?”. Realizou-se, então,

mudança de decúbito, acrescida de técnicas de relaxamento para alívio da dor por

meio de respiração profunda e fechamento dos olhos. Na ocasião, expressou:

“Sabia que quis melhorar a dor quando virei de lado [...] a dor já tá melhorando, acho

que era porque tava muito tempo parada [...]”. Outra referiu: “Só durmo de lado, por

isso dói quando fico de barriga pra cima, quando viro de lado relaxa muito” (PC1).

Queixas de desconforto também se relacionavam à manutenção do

curativo compressivo após a retirada do dispositivo intra-arterial. Assim, a

compressão era aliviada sob rigorosa observação. Esta intervenção levava as

pesquisadas-cuidadas a se sentirem mais confortáveis: “Agora está melhor, pois

apertado do jeito que era, estava ruim” (PC1).

No terceiro encontro com a pesquisada-cuidada 2, a análise do curativo

mostrou manutenção de compressão, revelando que não houvera troca desde a

retirada da bainha: “O curativo está apertado, disseram que vinha trocar mais não

vieram”. Investigou-se, e a informação da enfermeira era que não houve tempo para

realizar referido procedimento.

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Diante daquela situação, a pesquisadora-cuidadora realizou a troca do

curativo, mantendo-o sem pressão. A paciente participou do procedimento,

acionando controle da cama para melhor posição. Depois do curativo: “Assim fica

melhor do que aquele durão” (PC2). Observou-se manifestação de conforto da

paciente com curativo menos compressivo.

Na avaliação geral da pesquisada-cuidada 7, por ocasião do terceiro

encontro, observou-se integridade da pele prejudicada no sítio de punção do

dispositivo intra-arterial e, como cuidada, sua pele foi protegida com uma pomada

facilitadora de cicatrização. Além do prejuízo da integridade, havia equimose e

hematoma, foi aplicada pomada à base de vasodilatador local e a paciente foi

orientada quanto às intercorrências e perspectivas de melhoras.

Durante a mesma visita, a pesquisada-cuidada 8 estava sem curativo na

região inguinal direita. Não havia sangramento ou hematoma, embora houvesse

integridade da pele prejudicada devido ao uso de esparadrapo. Como se tratava de

uma mulher idosa, consequentemente de pele sensível, devia-se evitar o uso do

esparadrapo, preferindo o uso do micropore, quando fosse realizar o curativo.

Um caso atípico ocorreu à pesquisada-cuidada 2 no seu quarto dia de

internação. Ela informou presença de sangramento no sítio de incisão da bainha,

quando se encaminhava ao banheiro. Imediatamente, foi levada ao leito, a

enfermeira renovou o curativo e providenciou realização de exames laboratoriais

(testes de coagulação) para identificar as causas do episódio. A paciente foi mantida

em repouso.

Com base no exposto, as tecnologias para o cuidado clínico de

enfermagem para promover conforto no contexto físico com base no referencial da

Teoria de Kolcaba foi atendido, conforme ocorria a satisfação das necessidades de

conforto de ordem biológica ou voltado ao bem-estar físico.

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5.2.3 Contextos da experiência humana: o conforto psicoespiritual

No contexto psicoespiritual que para Kolcaba (2003) se refere ao

fornecimento de cuidados direcionados ao autoconceito, autoestima, sexualidade,

significado na vida de alguém, fé em ser superior e manter-se bem informado. Neste

estudo, as tecnologias do cuidado clínico de enfermagem, para promoção deste

conforto, viabilizadas foram: fortalecer a espiritualidade; esclarecer acerca da

pesquisa, do adoecimento e da hospitalização; ajudar no enfrentamento da nova

condição de saúde; ajudar nas situações confusão mental e desorientação.

-Fortalecer a espiritualidade

As intervenções voltadas para contemplar o contexto psicoespiritual foram

implementadas já no primeiro encontro e as tecnologias do cuidado clínico voltadas

para esta dimensão ocorriam concomitante à atenção aos contextos físico,

ambiental e sociocultural.

Observou-se que durante uma forte precordialgia da pesquisada-cuidada

1, na sua admissão, ela dizia: “Meu Deus me ajude, essa dor é forte demais, está

insuportável [...]”. Diante de manifestações desta natureza de religiosidade, buscava-

se por fortalecer a espiritualidade e a crença em um Ser superior, solicitando-as que

confiassem em Deus, para assim se fortalecerem. Por exemplo, quanto à

espiritualidade, a pesquisada-cuidada 5 afirmou: “Sou católica, gosto de rezar o

terço da misericórdia, da divina providência [...] antes de vir pra cá me vali de Jesus

Misericordioso [...] não troco minha religião por religião de ninguém”. Para Kolcaba

(2003), um dos meios de se obter a satisfação do conforto no contexto

psicoespiritual é através da fé em Deus.

A pesquisadora-cuidadora informou a ela quanto à relevância de se ter fé

em Deus naquela situação, para que tudo ocorresse bem, e ainda orientou-a orar e

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sempre agradecer por tudo que Deus lhe faz. Lembrou também que enquanto ela

permanecesse ali seria interessante rezar, agradecer por tudo de bom que lhe

acontecia e, em especial, pela melhoria de sua condição clínica. A pesquisadora-

cuidadora que comunga da mesma fé ofereceu-se para rezar juntas. A pesquisada-

cuidada 9 logo destacou: “Quando quiser podemos sim rezar juntas”.

Noutra situação, a pesquisadora-cuidadora enfatizou a importância da fé

e do crédito de que teria sua saúde novamente diante da revelação de religiosidade

da pesquisada-cuidada 6, que dizia ser católica, gostar de rezar, e revelava: “Confio

muito em Deus e Nossa Senhora e sei que eles estão olhando por mim”.

O fortalecimento da religiosidade das pesquisadas-cuidadas foi

estimulado em todos os encontros, a pesquisadora-cuidadora estimulava as

mulheres a rezar e se colocava à disposição para partilhar orações.

É relevante frisar a importância da manutenção dos hábitos cotidianos no

ambiente da hospitalização. Neste estudo, em particular, foi possível, por exemplo,

manter o costume das pesquisadas-cuidadas de rezar o terço diariamente. Investe-

se de relevância estimular a realização de atividades rotineiras de casa que podem

ser viabilizadas também no ambiente hospitalar.

Em uma ocasião, a pesquisada-cuidada 5 afirmou que apesar de gostar

de rezar, não tinha feito suas orações: “Não rezei ainda, mas quando der três horas

vou rezar o terço da misericórdia, da divina providência. Eu gosto de rezar, pra mim

eu posso tá na aflição que estiver, mas quando começo a rezar passa, acredita? [...]

diz que quem reza fala com Deus [...]”. A pesquisadora-cuidadora ofereceu um terço

e disponibilizou-se a rezar junto com ela. A pesquisada-cuidada 5 contemplou uma

imagem disposta na unidade e disse: “Está ali nossa mãe [...] não tinha visto ela

ainda [...] sou devota de Nossa Senhora da Conceição [...]”. Ela passou a observar o

ambiente em sua volta, sempre contemplando a imagem de Nossa Senhora.

Quando a pesquisadora-cuidadora propôs que fizesse uma oração, ela

aceitou, perguntando se a pesquisadora-cuidadora conhecia a Oração do Poder, e

recitou: “Deus de toda força e poder, dai-me hoje a esperança do teu amor e a

certeza de que estás comigo; peço ajuda e proteção nesta hora tão difícil de minha

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vida, preciso de tua assistência, do teu amor e de tua misericórdia. Tire de mim o

medo, tire de mim a dúvida, esclarecendo o meu espírito abatido com a luz que

iluminou o teu filho Jesus Cristo aqui na terra. Que eu possa perceber Senhor toda

tua grandeza e tua presença em mim, soprando o teu Espírito Santo dentro de mim,

para que eu me sinta fortalecido com a tua presença em minha vida, hora por hora,

minuto por minuto. Que eu sinta o teu Espírito Santo e a tua voz ao meu redor, em

minhas decisões, e que, no decorrer deste dia, eu sinta o teu maravilhoso poder pela

Oração, e, com esse poder, espero pelos milagres que podes realizar em favor de

meus problemas. Não me deixes e nem me abandones para que eu não caia no

desespero e nem perca a fé que tenho em ti; Pai, não me deixes cair! Levantai o

meu Espírito quando me encontrares abatido. Entrego-te, neste dia, a minha vida e a

da minha família. Curai-me de minhas moléstias, ainda que seja por milagre.

Obrigado Mestre, meu Senhor, meu Irmão e meu Amigo. Sei que vais me dar a

solução de que tanto preciso e desejo. Divino coração de Jesus providenciai a

abertura de nossos corações. Amém!” (PC5).

A pesquisadora-cuidadora declarou não conhecer a oração e tê-la achado

muito bonita, sugerindo que ela a rezasse diariamente, pedindo a proteção de Deus

naquele momento. Na ocasião, a pesquisada-cuidada 5 declarou: “Tenho muita fé

nessa oração e quando for rezar boto minha família e você também [...]".

Ela falou também da oração da medalha milagrosa e rezou o Salmo 91:

“Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Todo-Poderoso

descansará. Direi do Senhor: Ele é o meu refúgio e a minha fortaleza, o meu Deus,

em quem confio. Porque ele te livra do laço do passarinho, e da peste perniciosa.

Ele te cobre com as suas penas, e debaixo das suas asas encontras refúgio; a sua

verdade é escudo e broquel. Não temerás os terrores da noite, nem a seta que voe

de dia, nem peste que anda na escuridão, nem mortandade que assole ao meio-dia.

Mil poderão cair ao teu lado, e dez mil à tua direita; mas tu não serás atingido.

Somente com os teus olhos contemplarás, e verás a recompensa dos ímpios.

Porquanto fizeste do Senhor o teu refúgio, e do Altíssimo a tua habitação, nenhum

mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda. Porque aos seus anjos

dará ordem a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos. Eles te

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susterão nas suas mãos, para que não tropeces em alguma pedra. Pisarás o leão e

a áspide; calcarás aos pés o filho do leão e a serpente. Pois que tanto me amou, eu

o livrarei; pô-lo-ei num alto retiro, porque ele conhece o meu nome. Quando ele me

invocar, eu lhe responderei; estarei com ele na angústia, livrá-lo-ei, e o honrarei.

Com longura de dias fartá-lo-ei, e lhe mostrarei a minha salvação”. Ela ainda disse

que: “com fé a gente consegue tudo [...] quando você tiver uma folguinha, você vai lá

em casa que te passo essas orações [...]”(PC5).

Os segundos dias de encontro foram ocasiões de resgate dos momentos

de aflição pelos quais passaram na admissão hospitalar. Elas reportavam a um Ser

superior (Deus), como um conforto espiritual: “[...] e fiquei pedindo a Deus que

olhasse por mim, pensei também em meus filhos chorando por mim [...]” (PC1). Em

seu segundo encontro, também a pesquisada-cuidada 2 demonstrou interesse em

propagar sua religiosidade aos profissionais de saúde: “Vou mandar meus filhos

trazer uns terços que tenho para você dar para as pessoas daqui que são católicas”

(PC2).

Momento similar ocorreu quando a pesquisadora-cuidadora rezou junto

com a pesquisada-cuidada 9 pela sua família, saúde e recuperação, bem como

pelos profissionais de saúde daquele hospital. Como a pesquisadora-cuidadora tinha

presenteado-a com um terço, naquele momento declarou: “Eu estava precisando

desse terço, a noite vou rezar de novo [...] só ando com terço de Santo Expedito,

mas na hora que sai de casa não me lembrei de pegar [...]”.

O conforto espiritual deve ser promovido a todos os pacientes, devendo o

enfermeiro identificar a necessidade de cada um, sempre se baseando na religião e

crença da pessoa e, pelo menos em parte tentar satisfazê-la.

Lucchetti, Granero Lucchetti e Avezum Junior (2011) referem que alguns

estudos têm mostrado relação positiva entre religiosidade/espiritualidade e doenças

cardiovasculares, entre as quais destacam menores taxas de depressão e

ansiedade, maior sobrevida, menores níveis pressóricos e de complicações no pós-

operatório. Assim, com abordagens espirituais, os pacientes podem ter influências

positivas em seu tratamento, inclusive conforto.

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Por ocasião do último encontro, quando a pesquisada-cuidada 6 foi

questionada quanto o que fazia para se sentir confortável naquele ambiente, ela

disse: “Fico aqui deitada olhando o movimento, vendo as meninas (enfermeiras)

passar [...] rezo à noite antes de dormir, agradeço a Deus [...]”.

Nesse mesmo encontro, a pesquisada-cuidada 9 estava triste,

conversando e respondendo pouco às perguntas e tinha lágrimas nos olhos.

Apresentava preocupação com o filho que deixou em casa: “Eu tenho um filho que é

perturbado, estou pensando nele [...] não sei como ele está, ele deve tá sem comer

[...] (chorou) se internasse ele, eu ficava mais despreocupada, ele se trata no CAPS

(Centro de Atenção Psicossocial) sabe, ele tem a moda de sair de casa, estando

internado, eu sabia onde ele estava, tenho medo dele sair e os carros pegar ele [...]”.

A pesquisadora-cuidadora procurou confortá-la, lembrando que deveria

ter alguém com ele e como as pessoas que conheciam deveriam estar olhando por

ele e, como era especial, os outros filhos também teriam cuidado com ele. Outra

paciente ao lado reforçou para ela não se preocupar, sendo otimista dizendo que

daria tudo certo. Acreditava-se que naquele momento, o convívio interpessoal

estava se fortalecendo, proporcionando, assim, o conforto social, considerando

inclusive que na enfermaria ficavam apenas mulheres.

Naquela ocasião, a pesquisadora-cuidadora perguntou a pesquisada-

cuidada 9 se ela não gostaria de rezar como forma de sentir-se mais confortável, ao

que ela respondeu: “Mas o pior é que não trouxe meu terço [...] queria mesmo rezar,

hoje é dia de Corpus Cristi”. Naquele dia a pesquisadora-cuidadora portava um terço

e o ofereceu à paciente. Assim que esta o recebeu, beijou o próprio terço e

repentinamente mostrou sinais de felicidade e logo rezaram juntas.

Ainda sob o prisma do conforto espiritual, por ocasião dos últimos

encontros, observaram-se manifestações de gratidão a Deus pela recuperação da

saúde: “Agradeço a Deus por ter dado tudo certo [...] todo dia leio a Bíblia [...] mas

não consigo orar aqui.” Tratava-se de uma das pacientes evangélicas, a pesquisada-

cuidada 1, que ao ser perguntado se gostaria de ouvir a leitura da bíblia respondeu

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que não precisar. Acrescentando que logo que retornasse para casa, voltaria a ler a

bíblia e frequentar o culto.

Nesse último encontro, a pesquisada-cuidada 2, que fazia questão de

testemunhar sua fé revelou: “Meus filhos trouxeram uns tercinhos que pedi para dar

para vocês, quero que tire um pra você e outro para enfermeira X [...]”. A

pesquisadora-cuidadora distribuiu os terços entre os presentes que agradeciam a

paciente que, por sua vez, demonstrava felicidade pela gratidão expressada por

todos.

Naquela ocasião quando a pesquisadora-cuidadora despediu-se da

pesquisada-cuidada 2, dizendo que iria à missa e rezar também por ela. A mulher

afirmou: “Queria muito ir à missa [...] todo dia eu vou, mas Deus está vendo porque

não estou indo”. Antes de sair, a pesquisadora informou que na manhã seguinte

haveria visita do padre e a mulher disse tê-lo visto naquela manhã embora não

tenha conseguido conversar com ele porque estava fazendo o curativo.

-Esclarecer acerca da pesquisa, do adoecimento e da hospitalização

A todas as mulheres era perguntado se sabiam o que lhes acontecia

naquele momento. Tratava-se da demonstração de interesse da pesquisadora-

cuidadora em facilitar a interação entre si e identificar necessidades de

conhecimento das mulheres que suscitassem esclarecimentos acerca do

adoecimento, de procedimentos diagnóstico e terapêutico, de conhecimento sobre o

processo de cuidar, bem como dos materiais e equipamentos utilizados nos

cuidados.

Eram orientadas quanto à importância do repouso naquele momento, da

necessidade de descansar, dormir para relaxar e acalmar o coração, sempre

enfatizando que estaria ao seu lado para apoiá-la, assim como o diálogo era

estimulado como meio de promover conforto psicoespiritual.

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Nas situações oportunas, a pesquisadora-cuidadora reforçava

informações sobre a pesquisa em questão, considerando que num momento inicial o

foco das mulheres era direcionado às manifestações agudas do adoecimento de

modo que poderiam não ter compreendido as informações sobre o estudo em

questão.

Nessas ocasiões, demonstravam maior interesse em participar e logo se

percebia a emergência de interesses: para a pesquisadora-cuidadora tratava-se, em

essência, da composição de sua dissertação de mestrado; para as mulheres

adoecidas, a oportunidade de ter uma enfermeira disponível para atender às

necessidades de conforto.

Como se tratava de uma primeira internação, as mulheres tinham

dúvidas: “Eu vou ficar aqui é? aqui é UTI é? quanto tempo fico aqui?” (PC2). Diante

destes questionamentos, eram-lhes explicados acerca do adoecimento, da

internação, dos procedimentos e do ambiente de terapia intensiva.

Aproveitava-se a ocasião para orientar acerca dos equipamentos

inerentes ao ambiente de terapia intensiva (monitor cardíaco, oxímetro de pulso,

dispositivo intra-arterial, punção venosa, tensiômetro, dentre outros). Também eram

fornecidas orientações voltadas para repouso no leito, satisfação de necessidades

básicas, horários da visita e as dúvidas eram esclarecidas.

Ainda, considerando este contexto, aproveitava-se para orientar quanto

aos fatores de risco para adoecimento cardiovascular, importância do uso adequado

das medicações e da regularidade no comparecimento nas consultas com os

profissionais de saúde. Teve-se o cuidado de sempre que necessário retomar

pontos de dúvidas e reforço de orientações.

Observou-se que as perspectivas do tempo que ficaria na unidade foi um

questionamento presente entre as mulheres. Emergindo a importância de mantê-las

informadas sobre a média de permanência, como meio de reduzir suas expectativas

de saída precoce ou mesmo tardia do setor. Acredita-se que conscientes da

necessidade da internação, seria facilitada a compreensão do tempo de

permanência necessário. Para tanto, fornecer informações quanto ao que está

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ocorrendo com a pessoa é relevante para possibilitar o conforto. Kolcaba (2003)

ressalta que manter o paciente bem informado lhes proporciona conforto no contexto

psicoespiritual.

Os segundos dias de encontro se caracterizavam pelo reforço de

esclarecimentos de dúvidas. A mobilidade no leito era sempre questionada, a

pesquisada-cuidada 2 perguntou: “Tá bom, é bom se movimentar na cama, posso

ficar debruçada (decúbito ventral)? Acho bom dormir debruçada [...]”. Diante do

questionamento, buscou-se pela melhor posição de conforto.

Perguntas sobre a previsão de alta foram apresentadas no segundo dia

de internação: “Será que eles me dão alta amanhã? Não sei se mando meus

sobrinhos virem me buscar meio dia [...]”. A pesquisada-cuidada 4 apresentava

vontade de ir embora, estava bem e sem queixas. Orientou-se quanto à média de

permanência hospitalar e esta se mostra mais tranquila.

A pesquisadora-cuidadora forneceu informações acerca dos cuidados que

deveria ter ao retornar para casa e as alterações no estilo de vida, ressaltando para

as mulheres e suas famílias que assumir novo modo de viver requereria apoio

familiar. A pesquisadora-cuidadora esclareceu sobre o procedimento da alta

hospitalar, informando que receberiam relatório dos procedimentos, agendamentos

das consultas (um mês, três meses, seis meses e um ano), receituário de

medicamentos e dieta. Todas demonstraram compreender e garantiram não faltar

aos retornos: “eu venho sim para todos os retornos”.

Importante ressaltar que a Enfermagem deve garantir espaço no processo

de cuidar em qualquer cenário ou contexto do processo saúde-doença. Com este

fim, acredita-se que estabelecer relação com as pesquisadas-cuidadas, fornecendo-

lhes informações e esclarecendo suas duvidas são aspectos de grande relevância.

O comportamento da pesquisadora-cuidadora neste processo de pesquisar-cuidar,

sugerido por Neves e Zagonel (2006), motiva a crença de as pesquisadas-cuidadas

demonstraram que ser bem informadas e esclarecidas sobre o seu processo de

adoecimento foi fator relevante sobre o conforto, em especial considerando o

contexto psicoespiritual, no ambiente hospitalar.

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115

-Ajudar no enfrentamento da nova condição de saúde

Como tecnologias do cuidado clínico de enfermagem que proporcionaram

conforto a mulheres participantes deste estudo teve-se a ajuda no enfrentamento

das situações emergentes com o adoecimento cardíaco, como o afastamento

familiar, o medo e a ansiedade diante da hospitalização e a exposição do corpo

diante da necessidade de ter que permanecer sem roupas para realização dos

procedimentos diagnósticos e terapêuticos.

Durante o estudo, identificou-se que a ausência da família, nas primeiras

horas da internação, causou-lhes desconforto. Diante desta constatação, aventa-se

que a presença da família nos primeiros momentos do IAM é essencial para

adaptação da pessoa neste processo de adoecimento súbito.

Para Cavalcanti e Coelho (2011), fatores como o confinamento a que o

cliente se vê submetido, a distância de casa, a ausência de familiares, o

desconhecimento do ambiente, o contato com pessoas estranhas e os

equipamentos complexos são causas de ansiedade, preocupação e desconforto

durante a hospitalização numa unidade de terapia intensiva.

Neste estudo, observou-se percepção de isolamento familiar da

pesquisada-cuidada 2 que ao ser encaminhada para hemodinâmica indagou: “Eu

vou ficar aqui sozinha aqui?”. Na ocasião, foi esclarecida que sempre teria um

profissional de saúde pronto para lhe ajudar, que não seria recomendada a

permanência de familiar na sala de hemodinâmica, bem como estariam presentes no

horário previsto para visitação.

As demonstrações de preocupação com a ausência da família

permaneceram evidentes ao longo da pesquisa: “Tenho uma menina que veio

comigo, não se ela ainda tá ai, ela tem um menino novo [...] se ela tiver ai diga a ela

para ir embora, que eu estou bem, eu acho que estou, mas pode dizer” (PC4).

Diante da demonstração de preocupação das pesquisadas-cuidadas com

suas famílias, a pesquisadora-cuidadora tinha o cuidado de informar-lhes que havia

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contactado seus familiares, transmitido recados, favorecendo a manutenção de

vínculo entre eles.

A pesquisada-cuidada 3 que morava sozinha foi comunicada que a partir

de sua alta iria morar com um filho na cidade de Fortaleza até o pleno

restabelecimento e a volta ao lar. Esta comunicação somente foi possível após

conversa entre pesquisadora-cuidadora e familiares da paciente, o que foi suficiente

para mantê-la tranquila e confortável.

A separação entre a pessoa internada e seus familiares é tão gritante que

elas permanecem voltadas para os seus problemas familiares, de modo que desde a

admissão, e durante todo o seu período de internação, a pesquisada-cuidada 5 se

preocupava com uma neta que tinha sob seus cuidados: “Minha filha tem uma

meninazinha que sofreu muito quando nasceu, eu quero muito bem a ela, porque ela

é especial, dá muito trabalho sabe, mas gosto, ela é inteligente [...] passo o dia em

casa só olhando essa menina”. Diante da situação, a pesquisadora-cuidadora

sugeriu que aquela mulher voltasse sua atenção, momentaneamente, para as

questões do seu adoecimento, posto que, certamente, alguém estaria cuidando de

sua neta.

Por ocasião de um dos encontros, a pesquisada-cuidada 5 revelou

desconfiar da causa de seu adoecimento, dizendo que há quatro anos vivia o

processo de separação do marido que a maltratava muito e saiu de casa para morar

com uma filha. Disse que, na véspera de sua internação, o ex-marido mandou pegar

a aliança de casamento a qual a mulher portava há 57 anos. Aquela atitude a deixou

extremamente contrariada e revelou: “Aquela aliança já fazia parte de mim, foi como

tirar um pedaço do meu corpo [...] você entende, né?”. A mulher avançou para

revelar sua intimidade com o ex-marido: “No início era bom, mas depois que ele não

fazia mais nada, ficava fazendo coisas que não gostava, e me forçava a fazer [...]”.

Da situação, dois pontos merecem destaque: o primeiro era a

sensibilidade daquela mulher perante a simbologia do uso da aliança; o segundo, a

confiança adquirida na pesquisadora-cuidadora de modo a revelar suas

sentimentalidades mais íntimas.

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117

Nesse contexto merece enfatizar a importância da participação da família

no processo de hospitalização, durante a visita de uma filha à pesquisada-cuidada 9,

presenciou-se o diálogo em que sua filha assumia os cuidados com o lar e com o

irmão acometido de transtorno mental. Assim, torna-se relevante que a família

transmita otimismo e tranquilidade para a pessoa internada.

Coadunando, assim, com Beccaria et al. (2008) que relatam quanto ao

envolvimento da família junto à pessoa com adoecimento em terapia intensiva e,

quando presentes, favorecem um cuidado mais humanizado. Contudo, é

imprescindível que o enfermeiro forneça apoio e orientações para os familiares,

levando em consideração que muitos ficam ansiosos ao entrar em Unidade de

Terapia Intensiva (UTI).

Ainda como ajuda no enfrentamento da situação e buscando promover o

conforto, com todas as pesquisadas-cuidadas, a pesquisadora-cuidadora teve o

cuidado de mantê-las informadas acerca de sua evolução clínica, uso de

medicamentos, resultados de exames complementares etc. Observou-se que a

prática de informar sobre resultados de exames tão ansiados por pessoas

internadas, não era comum entre profissionais de saúde daquele setor. Acrescente-

se que se investia de uma situação delicada, de modo que os profissionais deverim

conhecer profundamente as pessoas internadas para escolher a melhor maneira de

fornecer a informação.

Os pacientes sentem necessidades de conhecer os aspectos que estão

envolvidos durante o seu cuidado, desejam ser informados sobre o que irá ocorrer

com eles e como está sendo sua evolução clínica (BISEK, 2007).

Do mesmo, os segundos encontros foram marcados por informações

relativas às condições clínica, reforçando os aspectos de melhoria, como meio de

levá-las a um maior conforto psicoespiritual. Acredita-se que as pacientes, quando

orientadas acerca de seu estado de saúde se mostravam mais tranquilas quanto ao

processo de adoecimento o qual estava vivenciando.

Discursos sobre o retorno a suas atividades de vida diária, ansiedade

para retornar ao lar e preocupações com a família estiveram presentes no último dia

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de encontro: “Hoje tomei um banho mais demorado, e relaxei mais [...] agora estou

doida para ir embora, não vejo a hora de ir para casa [...] não sei como meu marido

está em casa sozinho [...] estou preocupada com um filho meu, acho que ele está

preso pela Lei Maria da Penha; ele bateu na mulher dele e ela tinha vindo me dizer

que ia denunciar ele” (PC1). Percebeu-se, com o passar dos dias, que elas iam

melhorando e sentiam vontade de retornar ao lar: “Mas hoje eu vou embora

[...]”(PC3). Naquelas ocasiões, as pesquisadas-cuidadas foram orientadas em

relação ao tempo e espaço, posto que é comum, no confinamento das terapias

intensivas, haver desorientação nestes aspectos.

Percebeu-se também que a melhoria do quadro clínico distanciava as

mulheres do foco de atenção em sintomatologias, remetendo-as à atenção aos

problemas familiares.

Outro fator que necessitou de cuidados para enfretamento da nova

condição de saúde e que promoveu conforto foi a presença de medo. Seja medo da

morte, dos procedimentos, do retorno da dor e, até mesmo de almas: “Não sei se

vou dormir hoje não, aqui deve ter alma, porque já morreu muita gente aqui” (PC5).

Mais uma vez, merece destaque a importância de manter o paciente esclarecido

sobre os procedimentos, assim como permanecer junto deles em todos os

momentos.

Na segunda visita com a pesquisada-cuidada 5, a pesquisadora-

cuidadora, ao chegar ao hospital, deparou-se com duas auxiliares de enfermagem,

uma enfermeira e uma médica, informando-lhe que a paciente apresentava-se muito

triste e chorosa. As profissionais estavam ansiosas pela chegada da pesquisadora-

cuidadora com vistas a acompanhar a paciente.

Esse encontro com a pesquisada-cuidada 5 foi marcado pela

demonstração do medo de morrer, porque considerava que a pessoas internadas

em UTI não voltavam mais para casa. Diante daquela situação, a pesquisadora-

cuidadora intentou esclarecer sobre a percepção equivocada e, pois a terapia

intensiva, tal como a UCO que estava, era ambiente de luta pela vida, possuindo

condições para o pronto restabelecimento de pessoas em situação grave.

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Com base nesse aspecto, Pettengill e Souza (2011) apontam que o

paciente em terapia intensiva fica mais vulnerável nestes ambientes, por ser

destinado a pacientes mais graves, com possibilidades de ocorrência de morte,

fazendo com que estes apresentem com frequência ansiedade, depressão, raiva,

negação e dependência.

Naquele ínterim, a pesquisada-cuidada 5 revelou sentir saudades de

casa, deste modo, acreditou-se que a ausência da família era uma das causas da

tristeza que se encontrava desviada para a queixa de medo. É característica peculiar

das mulheres sentir saudades de casa, no caso desta pesquisada-cuidada, da filha,

da neta e de sua rotina domiciliar. A pesquisadora-cuidadora conversou com aquela

mulher até mudar o foco de medo. A implementação destas tecnologias leves de

cuidar foram suficientes para manter a paciente aliviada quanto às angústias e ao

medo, deixando-a mais confortável.

Pettengill e Souza (2011) enfatizam a importância da humanização nos

ambientes de terapia intensiva e, para isto, torna-se essencial a existência de

comunicação entre a equipe, o paciente e sua família, de modo a diminuir as

distâncias e fortalecer os laços, respeitando a individualidade.

Ainda no segundo encontro, a pesquisada-cuidada 3 referiu medo de

outro paciente hospitalizado que se encontrava em processo de confusão mental. Ao

cumprimentar a pesquisadora-cuidadora, referiu: “Olá eu estou bem. Só tem um

doido ai que está batendo em todo mundo, dizendo que vai pegar a mulher a força

[...] ai eu estava dizendo, cuidado! [...]. Ela havia sido informada por um auxiliar de

enfermagem que ele estava conversando sozinho. Este contexto motivou reflexão de

que as pessoas internadas permanecem alerta a todas as pessoas ao seu redor.

Fontaine (2007) reforça que no ambiente de terapia intensiva, muitas

vezes, os leitos ficam muito próximos, permitindo que os pacientes possam observar

o que está ocorrendo com o outro paciente internado no leito mais próximo e, com

isto, ficam mais ansiosos.

A paciente encontrava-se tão assustada que, naquele dia quando a

pesquisadora-cuidadora perguntou o que poderia lhe promover conforto, respondeu

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que seria impedir que aquele homem lhe fizesse algum mal. Foi lhe garantido que

sua segurança seria preservada e a situação estava sob controle da equipe

profissional da UCO.

Os terceiros encontros foram marcados também pela percepção de

insegurança, manifestada pelas pessoas adoecidas: “Eu tenho medo de ir só no

banheiro porque sempre fico tonta, por está muito tempo deitada” (PC2). Até aquele

momento, ela não havia se levantado, entretanto já demonstrava insegurança de

fazê-lo. A paciente foi tranquilizada de que seria amparada por um profissional, em

especial, quando do início à deambulação.

A pesquisada-cuidada 2, por ter apresentado sangramento no sítio de

inserção do dispositivo intra-arterial, encontrava-se emocionalmente desequilibrada

e receosa em ocorrer novos episódios: “Não vou tomar banho no banheiro mais não,

estou com medo de sangrar de novo”. A paciente foi orientada quanto à

estabilização do resultado de seus exames laboratoriais relativos à coagulação do

sangue, de modo a garantir que naquele momento novos episódios de sangramento

não ocorreriam.

No que tange ao temor de encontrar almas de pessoas falecidas, a

pesquisada-cuidada 5 perguntou se a pesquisadora-cuidadora já havia presenciado

o aparecimento de “assombração” nos períodos noturnos. A pesquisadora-cuidadora

respondeu negativamente e, na ocasião, a paciente referiu não ter visto nada na

terapia intensiva, mas que na primeira noite de enfermaria viu: “Uma criança com

gorrinho na cabeça, passando de um lado para o outro”. Na ocasião, a

pesquisadora-cuidadora tratou de conversar com a mulher sobre estes

acontecimentos, tentando levá-la a crer que se tratava de imaginação. Deste modo,

é importante que seja criado um ambiente agradável nos hospitais, de modo que

estes pensamentos sejam afastados.

Outro aspecto que merece destaque quanto à ajuda diante do

enfrentamento da nova condição de saúde é o cuidado relativo ao respeito ao pudor

da clientela cuidada pela equipe de enfermagem. A realização deste estudo permitiu

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emergências de discursos referentes ao desejo das mulheres em terem sua

privacidade respeitada.

O controle da exposição do corpo foi expresso verbalmente por algumas

pesquisadas-cuidadas e por outras, apesar de não dito, subentendeu-se. Em vista

disso, destaca-se que a equipe de enfermagem deve manter-se atenta e providente

por meio da oferta de: uso de biombos de proteção, cuidados com uso de camisola e

redução da exposição mínima do corpo, seja para a realização de exame físico seja

para execução de procedimentos. A pesquisada-cuidada 2 disse: “Foi bom colocar a

camisola, não fico exposta, tem homem ali e dá para ele me ver”.

Nessa mesma direção, a pesquisada-cuidada 5 relatou que nunca havia

realizado exame de prevenção do colo uterino para não expor sua região genital e,

naquele dia, devido ao IAM, teve que ser submetida a tal exposição: “Pra você ver,

nunca fiz aquele exame de prevenção que é para não mostrar as partes e agora tive

que mostrar [...]”.

Diante de tal manifestação, é válido refletir sobre o respeito com o corpo

da mulher que está internada. Para os profissionais de saúde, acostumados com a

exposição dos corpos sob seus cuidados, pode ser normal, mas para a pessoa que

está exposta, desencadeia vergonha. Vale ressaltar o cuidado que a pesquisadora-

cuidadora teve com a mínima exposição do corpo de suas pesquisadas-cuidadas, o

que favoreceu a adaptação delas à unidade coronariana.

-Ajudar em situações de confusão mental e desorientação

Como referido, é comum nos ambientes de terapia intensiva a

desorientação relativa ao tempo e espaço: “A gente pensa que todo tempo é noite,

vê como estou com a cabeça ruim” (PC3). De acordo com Morton et al. (2007), as

síndromes cognitivas (ansiedade, delírio, agitação, psicose, confusão e demência)

são facilitadas em ambiente de terapia intensiva pela limitação quanto à mobilidade,

privação do sono e falta de estimulação verbal ou cognitiva.

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122

Por isso, é importante que as terapias intensivas disponham de

iluminação natural capaz de nortear as pessoas quanto ao tempo. No ambiente onde

o estudo ocorreu, em alguns leitos, os pacientes tinham acesso à luz solar,

entretanto outros não o permitem, de modo que o risco de desorientação quanto ao

tempo é mais presente.

O último encontro foi marcado pela ocorrência de desorientação de pelo

menos três pesquisadas-cuidadas, coincidentemente as mais idosas. Para Whitaker,

Zanei e Yoshitome (2011), 45 a 70% dos pacientes idosos internados em terapia

intensiva podem apresentar pelo menos um episódio de Delirium, caracterizado

como um estado de confusão aguda com alterações na cognição e com

possibilidades de ocorrer insônia, agitação e alucinações.

A pesquisada-cuidada 4 foi uma das que apresentou tais manifestações;

ao encontrá-la, estava muito ansiosa, em companhia de uma nora. A presença da

familiar contribuiu para amenizar a desorientação diante do comportamento afetuoso

que a nora demonstrava ao ficar conversando com ela.

A pesquisadora iniciou um diálogo com elas perguntando como a

pesquisada-cuidada se sentia, ocasião em que ela disse que estava bem, mas

querendo ir para casa. Ela alternava coerência e incoerência mental, entretanto

quando foi perguntada se lembrava da pesquisadora-cuidadora, respondeu: “Estou

minha filha, de você não esqueço nunca” (PC4).

A pesquisada-cuidada 3 também apresentou episódios de desorientação,

inclusive uma auxiliar de enfermagem relatou que na noite anterior ela tinha

levantado sozinha do leito. Ao encontrá-la, a pesquisadora-cuidadora investigou o

que havia ocorrido: “Acordei desacelerada, me levantei foi sangue para todo o lado

(desconectou acesso venoso) [...] estava acelerada, me levantei e fui bater onde os

meninos (profissionais de enfermagem) estavam [...] não sabia onde estava, pensei

que estava na casa do meu filho [...]”.

Além de confirmar o ocorrido, referiu estar chateada com uma das

profissionais de enfermagem que segundo sua percepção lhe destratou pelo fato de

ter levantado da cama sem chamar ninguém. Ao ser perguntada se havia saído da

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123

cama sem autorização da enfermeira, disse: “Minha filha eu estava dormindo e

quando acordei pensei que estava na casa do meu filho, aí queria me levantar para

ir ao hospital [...] estava confusa” (PC3).

Em contato com a enfermeira do plantão, a pesquisadora-cuidadora

soube que a paciente apresentou desorientação mental, levantou sozinha, dizia ter

sido operada do coração, estava com o peito aberto e tinha que ir ao hospital.

Quanto aos cuidados de enfermagem que podem ser realizados com

pessoas idosas nestas condições clínicas, delirium, Whitaker, Zanei e Yoshitome

(2011) apontam a observação do estado geral, restrições quanto à contenção no

leito, controle da dor, favorecendo um ambiente agradável, transmitir calma, facilitar

orientação no tempo e no espaço, facilitando, também, a comunicação e a presença

de pessoas significativas sempre que possível.

Em se tratando de pessoas idosas, no caso das pesquisadas-cuidada 3,

observou-se, na prática assistencial, maior tendência para desorientação em

ambiente de terapia intensiva, e ainda que essas ocorrências ocorrem

principalmente no período noturno.

A pesquisadora-cuidadora permaneceu ao lado da paciente conversando

e buscando estratégias para lhe proporcionar conforto: os lençóis foram

organizados, uma posição mais confortável foi encontrada, e conversaram sobre

assuntos diversos, deixando-a mais calma.

Aquela ocasião revelou a importância de incluir o acompanhante no

processo de cuidar, inclusive para orientá-los quanto a possibilidades daquele tipo

de ocorrência. A presença dos familiares permite, com certeza, a sensação de

conforto no contexto psicoespiritual.

Como apresentado neste contexto psicoespiritual, com base no

referencial da Teoria do Conforto de Kolcaba, as tecnologias para o cuidado clínico

de enfermagem para promover conforto foram proporcionadas, conforme ocorria o

bem-estar psíquico e espiritual.

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124

5.2.4 Contextos da experiência humana: o conforto ambiental

Considerando Kolcaba (2003), o contexto ambiental pertence ao meio, às

condições e influências externas, a iluminação, ao ruído, à cor, às mobílias, à

temperatura, além dos elementos naturais e artificiais. Deste modo, as tecnologias

do cuidado clínico de enfermagem desempenhadas para promover conforto neste

contexto foram voltadas a promover adaptação das mulheres cuidadas à unidade

coronariana; proporcionar ambiente propício para conforto; e favorecer ambiente

descontraído.

-Promover adaptação à unidade coronariana

Os momentos iniciais de internação das mulheres na unidade coronariana

foram marcados pela tentativa de adaptá-las àquele setor. Tratava-se de um meio

social diferente do habitual, arraigado de estigmas, em que jamais haviam estado.

Com este fim, a pesquisadora-cuidadora demonstrava interesse pelas mulheres, por

seus processos de adoecimento, segurava suas mãos, chamava-lhes pelo nome,

apresentava-lhes o ambiente e fornecia-lhes informações necessárias.

Contudo, identificar estratégias de cuidado para contemplar o conforto

ambiental torna-se desafiador diante da presença de outras pessoas hospitalizadas.

Portanto, deve-se atentar para satisfazer as necessidades de um, sem, contudo,

interferir no conforto do outro.

No primeiro contato com as pesquisadas-cuidadas, que quase na

totalidade ocorreu no pronto atendimento, não houve queixas relativas ao ambiente.

Talvez porque seu foco estivesse direcionado às manifestações clínicas, em

especial, para a precordialgia. Contudo, a pesquisadora-cuidadora estave alerta ao

desconforto provocado pela luminosidade excessiva e pelos ruídos de conversas

envolvendo pacientes, acompanhantes e funcionários do hospital.

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125

Por consequência, a conduta de escolha foi a tentativa de agilizar a

transferência das pesquisadas-cuidadas para a UCO e, na impossibilidade de fazê-

lo, mantê-las o mais reservado possível até o chamado da hemodinâmica. Já na

UCO, conforme se desenvolvia a interação entre pesquisadora-cuidadora e

pesquisadas-cuidadas, as informações necessárias quanto ao ambiente iam sendo

repassadas, assim como eram identificadas as necessidades de cada uma, com

vistas à melhoria do conforto ambiental.

Como referido, as pacientes mantinham-se alerta ao contexto do

ambiente hospitalar. Durante um dos encontros, ocorreu óbito de um paciente

internado ao lado da pesquisada-cuidada 4. Para manutenção de seu conforto

ambiental e psicoespiritual, esta informação foi omitida. Foi-lhe dito que se tratava

de uma transferência entre setor. Entretanto, durante toda a realização do estudo

observou-se que as mulheres ficavam atentas ao ambiente em sua volta e

compreendiam o que ali acontecia.

Presenciar a morte de uma pessoa em situação clínica similar a sua, nem

sempre é percebido como normalidade. Então, os profissionais de saúde devem

evitar expor à pessoa que está sob seus cuidados, sem antes conhecer seu preparo

para receber esta informação.

-Proporcionar ambiente propício para conforto

Desde o primeiro encontro, aspectos relativos ao contexto ambiental

foram evidenciados. Por exemplo, preferências quanto à iluminação do ambiente

foram referidas: “Devido à claridade eu me sinto mal, prefiro ficar com os óculos [...]

fiz cirurgia no olho, por isso uso óculos” (PC2). Ainda por problemas oculares

prévios, a pesquisada-cuidada 2 tinha aversão à luminosidade, então, sempre que

possível, se mantinha com os óculos escuros conforme desejos dela.

Em vista disso, sempre que possível a pesquisadora-cuidadora controlava

a iluminação do ambiente, principalmente das luzes que ficavam próximo a elas. Ao

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proceder assim evidenciaram-se expressões de insatisfação: “Agora está bem, não

está nem claro nem escuro, vamos dormir agora, você também vai” (PC2). Assim,

também, houve relatos de insatisfação com a iluminação próxima: “Não gosto de luz

acesa no meu rosto” (PC6).

Nesta penúltima fala, percebeu-se a preocupação da pesquisada-cuidada

com a pesquisadora-cuidadora. Ao se preocupar com o conforto da pesquisadora,

quando decidiu dormir de certo modo, sugeriu que a cuidadora também fosse

descansar.

Outro aspecto relativo ao contexto ambiental abordado, nos discursos das

pesquisadas-cuidadas, foi relativo à temperatura ambiental. Manifestavam o frio,

tanto assumindo posição de proteção, quanto verbalizando: “Eu estou com frio”

(PC7). Estratégias de cuidado clínico de enfermagem para o conforto foram

promovidas, dentre elas controle da temperatura ambiental, oferta de cobertores,

realização de massagem de aquecimentos e contato corpo a corpo, incluindo o

abraço.

O ambiente frio é questionado por muitas pessoas hospitalizadas em

terapia intensiva e, portanto, deve-se ter o cuidado para que a temperatura do

ambiente seja agradável para todos, pacientes, acompanhantes e profissionais.

Como se trata de uma manifestação individualizada, cabe à enfermagem identificar

meios de satisfazer e proporcionar o conforto de todos.

Com base no exposto, Silva, Carvalho e Figueiredo (2010) enfatizam os

cuidados de conforto, considerando o ambiente em volta como um espaço de

circulação de pessoas, considerando aspectos relativos à iluminação, ventilação,

presença de ruídos, acondicionamento de equipamentos e aparelhos ligados ao

paciente.

Durante o contato com as pesquisadas-cuidadas, observou-se o ambiente

com vistas a identificar fatores que pudessem causar desconforto. Foi possível

verificar: excesso de luminosidade; alarme de bombas infusoras, monitores e

ventilador mecânico; odores desagradáveis (presença de paciente internado, em

estado grave, sem controle dos esfíncteres e séptico). As ações profissionais devem

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127

ser cuidadosas. Em uma ocasião, um auxiliar de enfermagem, ao instalar uma

válvula redutora de fluxo de oxigenoterapia, provocou barulho que causou espanto

em uma paciente que estava repousando.

O foco do enfermeiro deve ser com todo o ambiente, posto que favorece a

cura e promove a saúde, para isto, deve-se atentar para a escolha de cores,

gerenciamento de ruídos, de iluminação e temperatura, bem como garantia de visão

da área externa, de elementos naturais e artificiais (KOLCABA, 2003).

Foi possível, pelo estudo, perceber a significância de controlar o ambiente

em que a pessoa com adoecimento está inserida, pois, foram apresentados alguns

fatores que podem proporcionar conforto neste aspecto. Estes cuidados se referem

ao gerenciamento dos ruídos provocados pelos aparelhos, pela redução de

conversas paralelas, de iluminação excessiva e de odores desagradáveis. Tais

intervenções foram desencadeadoras de conforto a mulheres estudadas.

Aspecto positivo com relação à ambientação do hospital, revelado no

estudo, foi descrito pela pesquisada-cuidada 6, em conversa com a pesquisadora-

cuidadora e seu esposo. Eles se mostravam encantados com a beleza do hospital,

demonstrando a importância de que para cuidar é preciso também haver

preocupação com os aspectos ambientais e conforto visual.

Registre-se que a reaproximação da pesquisadora-cuidadora ao ambiente

que lhe foi familiar por seis anos como enfermeira assistencial, permitiu por meio da

realização do estudo, que tanto são importantes, para proporcionar conforto à

clientela, atitudes assistenciais como também relacionadas ao ambiente em que a

prática é desenvolvida.

Outro aspecto de relevância e interveniência no conforto de pessoas

internadas é o burburinho diuturno, provocado pela conversação entre os

profissionais de saúde. É preciso recordar que na terapia intensiva o silêncio precisa

ser preservado como meio de proporcionar tranquilidade para as pessoas

internadas. Ademais, percebeu-se, em especial neste estudo, além da percepção

advinda da prática assistencial da pesquisadora-cuidadora, que os paciente

permaneciam atentos ao que ouviam. É fato que, não se deseja propor que as

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128

pessoas permaneçam naquele ambiente de tanto estresse, completamente calado,

porém recomenda-se a escolha cuidadosa dos assuntos discutidos. Devem ser

evitadas conversas íntimas e relativas ao quadro clínico da clientela atendida, como

meio inclusive de preservação dos aspectos éticos envolvidos no processo de

cuidar.

Por ocasião dos terceiros encontros, ainda havia relatos relativos à

iluminação e à temperatura. Enquanto algumas referiam: “O frio daqui é muito bom e

ajuda a dormir” (PC1), outras preferiam uma temperatura mais amena. Enquanto uns

preferiam repousar com luz acesa, outros se incomodavam sobremaneira,

especialmente, quando a luz estava direcionada para si. Portanto, aventa-se a

importância de identificar a necessidade de cada pessoa, com vista ao conforto

ambiental.

Quanto ao barulho pertinente ao setor, é preciso registrar que a

intensidade foi capaz de interferir na decodificação de algumas falas das pacientes

entrevistadas e gravadas. Assim, torna-se propício a realização de campanhas de

silêncio ambiental, considerando que o ambiente de terapia intensiva deve ser

favorável ao descanso das pessoas internadas.

Os quartos e últimos encontros caracterizaram-se ainda por relatos de

excesso de luminosidade no setor: “Essa noite não dormi muito bem, a luz estava

ligada em cima de mim e não quis pedir para desligar, fiquei com vergonha

[...]”(PC1). Mesmo mediante as orientações de que todos estariam disponíveis para

lhe atender e já há quatro dias internadas, as mulheres ainda apresentavam

limitações na expressão de desejos e sentimentos.

No ambiente da enfermaria, a pesquisada-cuidada 7 revelou mais

conforto diante da oportunidade do ambiente aberto e presença do acompanhante. A

pesquisadora-cuidadora levou-a para uma volta nas dependências da unidade,

proporcionando inclusive visão para área do jardim. A paciente ficou admirada com a

altura do hospital e beleza do jardim: “Olha aí como é alto e bonito”.

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129

- Favorecer ambiente descontraído

Mesmo estando em um ambiente de terapia intensiva, acredita-se ser

relevante que este local seja harmonioso e passível de propiciar momentos de lazer

e descontração. Por isso, neste estudo, foi possível, em algumas ocasiões,

presenciar vivências desta natureza. Por exemplo, por ocasião da retirada do

dispositivo intra-arterial da pesquisada-cuidada 5, a paciente ofereceu à

pesquisadora-cuidadora e enfermeira do serviço que realizava o procedimento um

filho em matrimônio para uma das duas. Na ocasião criou-se um momento de

descontração entre a paciente e as enfermeiras.

Consoante Prevost (2007), a distração permite aos pacientes desviarem a

atenção do foco de dor ou desconforto para algo mais agradável; entre as fontes de

distração, citam-se conversar com o paciente durante algum procedimento

desconfortável. Bisek (2007) complementa ainda que o uso do humor e riso em

terapia intensiva alivia tensão e ansiedade.

Neste estudo, as pacientes, ao observarem a movimentação da equipe de

saúde, encontraram meios de descontração: “Fico deitada aqui rezando, vendo o

movimento das meninas, tudo delicada, tudo alegre, ninguém vê ninguém com cara

ruim [...] não tem quem ache bom falar com uma pessoa que tem a cara ruim” (PC6).

Também as pacientes conversavam entre si, mantendo convívio social e

possibilitando diálogo sobre diversos assuntos, inclusive alguns cômicos.

Outra estratégia de cuidado de conforto foi a promoção de leitura para as

pacientes que poderiam fazê-lo. Estimulada pela pesquisadora-cuidadora, a filha da

pesquisada-cuidada 2 lhe trouxe um livro e ela assim exclamou: “Minha filha trouxe

esse livro dos Salmos para mim ficar lendo enquanto estou aqui”.

A leitura é um dos melhores instrumentos para promover o lazer das

pessoas internadas em terapia intensiva, pois não exige esforço e pode ser

realizada no leito. Dever-se-ia ver a possibilidade de consentir material de leitura,

como forma de entretenimento para as pessoas internadas em terapias intensivas.

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130

Outra tecnologia é a musicoterapia, seja individualizada, ou, quando

possível ambiental. Em um encontro, a pesquisada-cuidada 2 comentou: “À noite

colocaram uma música e deu para ouvir daqui, Paula Fernanda [...] achei bom a

música dela [...] eles colocam bem baixinho”.

As visitas musicais são tecnologias leves que proporcionam conforto e

bem-estar às pessoas em ambiente hospitalar, modificando positivamente o local,

fortalecendo a relação entre profissional de saúde e paciente (BERGOLD; ALVIM,

2008). Para Fontaine (2007), o uso adequado da musicoterapia reduz o estresse e a

ansiedade de pacientes com IAM, com efeitos inclusive na redução da pressão

arterial, frequência cardíaca e no padrão respiratório.

Como forma de distração também se considera a presença dos

profissionais junto aos pacientes, conversando, apoiando, ouvindo suas

necessidades, atendendo-as para promoção do seu conforto. Era comum a

pesquisadora-cuidadora perguntar sobre como promover conforto para as

pesquisadas-cuidadas e ouvir: “Só você mesmo aqui pertinho de mim” (PC3).

Por fim de conversas amenas podem advir relatos engraçados como o

discurso da pesquisada-cuidada 9 que disocorria sobre o marido que saiu para fazer

compras há mais ou menos uns 25 anos e nunca mais voltou: “Acho que ele ainda

está fazendo essas compras, que compras demoradas?” (muitos risos).

Diante do exposto, as tecnologias para o cuidado clínico de enfermagem

para promover conforto no contexto ambiental, com base no referencial da Teoria do

Conforto de Kolcaba, foram implementadas com base no preconizado, possibilitando

que o ambiente estivesse confortador.

5.2.5 Contextos da experiência humana: o conforto sociocultural

No contexto sociocultural, Kolcaba (2003) refere ao fornecimento de apoio

nas relações interpessoais, familiares e sociais, incluindo aspectos relacionados ao

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financeiro, à educação, ao cuidado de saúde pessoal e a tradições culturais. Neste

estudo, as tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para promoção deste

conforto viabilizadas foram voltadas a disponibilidade, adquirindo confiança,

estabelecendo vínculo, fornecendo carinho para ser uma companhia agradável;

viabilizando o encontro com as famílias, oferecendo-lhe apoio; estimulando a

interação e bom relacionamento com os profissionais do hospital; conhecendo a

cultura da pessoa, adaptando-a na unidade coronariana.

-Ficar disponível, adquirindo confiança, estabelecendo vínculo, fornecendo

carinho para ser uma companhia agradável

Para promover conforto no contexto sociocultural, torna-se primordial a

criação de vínculo entre cuidador e ser cuidado, para isto o profissional que cuida

deve-se mostrar presente, além de disponível para interação.

Neste caso particular, logo no primeiro contato, a pesquisadora-cuidadora

realizava o levantamento do histórico pessoal e clínico de cada pesquisada-cuidada,

assim como realizava avaliações holísticas e periódicas, objetivando conhecer as

mulheres do estudo e identificar o melhor modo de interagi-las.

Conforme mencionado, a pesquisada-cuidada 7 pouco dialogava, não

interagindo no primeiro e no segundo dia de contato com a pesquisadora-cuidadora,

entretanto, durante o terceiro contato estava mais aberta ao diálogo. Todas as

demais interagiram melhor em todos os momentos de contato com a pesquisadora.

Em todos os encontros era ressaltado que a pesquisadora estava ali ao

lado delas, disponível para o que precisasse e o que pudesse ser realizado para

promover conforto. Era esclarecido também que, se precisasse, profissionais de

saúde estariam disponíveis para cuidar.

Após a admissão na UCO, a pesquisadora-cuidadora permanecia em

constante observação do estado geral das mulheres, visando a identificar

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precocemente a ocorrência de quaisquer complicações. Por vezes, segurava suas

mãos como forma de oferecer segurança e favorecer a criação de vínculo.

É certo que o diálogo e fornecimento de esclarecimentos possibilitaram

melhor interação entre pesquisadora-cuidadora, pesquisadas-cuidadas e família, de

maneira que foi se estabelecendo confiança na profissional e propiciado conforto no

contexto sociocultural.

Com base neste contexto de conforto, observou-se que a conversa entre

pesquisadora-cuidadora e pesquisadas-cuidadas foi uma maneira de proporcionar-

lhes conforto. Isto pôde ser observado nos discursos ainda no primeiro dia de

contato e de prestação de cuidados de conforto. Quando era abordada a questão da

pesquisa acerca do que poderia favorecer-lhe o conforto, a pesquisada-cuidada 9

disse: “Já gostei demais de sua conversa [...]”.

Ao expressar, assim, demonstrou que conforto naquele momento era o

contato, a conversa, o diálogo, a preocupação com o seu estado de saúde, bem

como as orientações recebidas sobre saúde e internação. Estas atitudes deveriam

ser seguidas por todos os profissionais de saúde, em qualquer ambiente de cuidar,

independente da doença ou gravidade que a pessoa estevissem apresentando.

Com base no exposto, ressalta-se a relevância da comunicação durante o

cuidado com o cliente, pois tanto na modalidade verbal como não verbal fazem parte

do processo de cuidar, compreendendo subjetividade e objetividade como um

contínuo processo, que é a própria essência da enfermagem (CAVALCANTI;

COELHO, 2011).

A pesquisadora-cuidadora preocupou-se com a saúde da pesquisada-

cuidada 9, diante da gravidade de seu quadro clínico. Destaca-se o quão é

impressionante como os profissionais da enfermagem têm facilidade de apego às

pessoas sob seu cuidado, de maneira que demonstram sentimentos positivos ou

negativos, muito embora, o importante é o amor pelo que fazem.

A ocorrência dos segundos dias de contato permitiu conhecer a

percepção de conforto das pesquisadas-cuidadas 6 e 8: “Sabe que tá tudo muito

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133

bom basta sua delicadeza [...] só a sua presença já bom demais”; “Sabe que só a

sua conversa aqui comigo já é um conforto”. Ainda a pesquisada-cuidada 9, além de

expressar verbalmente que estava confortável com a presença da pesquisadora,

relatou: “Só você, estou vendo você, pronto [...] só em lhe ver sinto conforto” (risos).

Ela ainda segurou a mão da pesquisadora e demonstrou satisfação com a relação

estabelecida.

Portanto, a companhia da pesquisadora-cuidadora foi suficiente para lhes

proporcionar conforto, por isso há necessidade de serem valorizados os momentos

de contato entre profissional de saúde e pessoa adoecida. Esta interação, além de

promover conforto, possibilita a criação de laços de amizade, envoltos de confiança,

respeito, carinho e atenção.

Estar disponível para as mulheres, ouvir suas estórias e estar presente foi

confortador para as pesquisadas-cuidadas, assim como se demonstraram

importante a oferta de orientações sobre o que estava acontecendo, sobre sua

saúde, além da prestação de esclarecimentos quanto às dúvidas. Tudo isto as

deixou mais tranquilas e confortadas.

Cavalcanti e Coelho (2001) corroboram afirmando que para fortalecer a

interação entre cuidador e cliente é importante que seja constituída uma relação de

afetividade e empatia por meio do cuidado, de maneira que ambos se comuniquem,

estabelecendo confiança para que o cliente discorra sobre suas angústias e tenha

força para se recuperar.

Com base no exposto, é relevante e confortante no contexto sociocultural,

quando o enfermeiro dedica tempo para conversar com as pessoas que estão sob

seus cuidados, posto que estejam, na maioria das vezes, ansiosas e com medo do

processo de adoecimento.

Observou-se também, que aquelas pessoas adoecidas sentiam falta de

atenção e de um olhar diferenciado das pessoas que delas cuidam. Pois, observa-se

que poucos profissionais têm este cuidado. Acredita-se que o processo continuado

de cuidar da enfermagem pode favorecer esta aproximação.

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134

As pesquisadas-cuidadas interagiam com outras pacientes,

estabelecendo relação de amizade e descontração, o que é significativo para

conformação da pessoa no ambiente hospitalar. Estas manifestações foram

observadas tanto na UCO como, principalmente, na unidade tipo enfermaria. Uma

das vantagens de estar no setor de internação tipo enfermaria é a oportunidade de

estar com outras pessoas em situação similar de adoecimento, o que pode

proporcionar trocas de informações. Isto possibilita o diálogo, a troca de experiência,

os momentos de descontração e, consequentemente, de conforto sociocultural.

A demonstração de satisfação com relação ao contato, a presença, a

companhia foram manifestadas nos últimos dias de encontro. Foi satisfatório para

pesquisadora-cuidadora reconhecer que as mulheres desta pesquisa ficaram

satisfeitas com o método escolhido para abordagem do estudo. Algumas falas

retrataram: “Sabe que adorava quando você ia lá me visitar, não queria que você

fosse embora, só não fazia dizer né, para não atrapalhar você [...] você é boa

demais, achava muito bom ficar com você” (PC4).

Observou-se também satisfação quanto à presença de outras pessoas

em mesma situação de adoecimento. A liberdade de estar na enfermaria também foi

revelada: “Estou bem melhor, aqui a gente pode conversar com as outras pessoas

(pacientes) que tiveram o mesmo que a gente, andar por aqui, ver ali fora (janela

com acesso para fora do hospital)” (PC5).

Por fim, revelou-se satisfação das mulheres em ser acompanhadas pela

pesquisadora-cuidadora, o que foi percebido pela ansiedade demonstrada à

chegada da profissional: “De vez em quando olho para porta esperando, cadê minha

bonequinha que não veio ainda [...] meu marido foi embora muito satisfeito com você

[...] essa princesa aí encostada de ti [...] olha aí como ela é bonitinha [...] disse que

você está me acompanhando, olhando os medicamentos, fazendo a pesquisa,

vendo o que eu quero para ter conforto [..] falei com uma mulher aqui que também

veio de lá sobre você, mas ela disse que não te viu, aí eu disse é uma moça muito

boa e muito bonita [...] se eu pudesse levar ela pra casa eu levava [...]”(PC6).

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135

Além da disponibilidade e interação, a pesquisadora-cuidadora lançou

mão de implementar estratégias para adquirir a confiança e, consequentemente, o

conforto social das pesquisadas-cuidadas, conversava acerca da sua evolução

clínica satisfatória e que os procedimentos realizados tinham sido bem sucedidos. è

importante que a pessoa saiba pelo profissional de saúde a evolução clínica positiva.

Assim, é preciso que o profissional mantenha o otimismo e estimule a pessoa

cuidada a também proceder assim.

A pesquisada-cuidada 4, no primeiro encontro, já apresentava interesse

pela presença da pesquisadora-cuidadora junto de si: “Você vai sair hoje? [...] você

já vai embora? [...] você vai passar a noite? [...] você só vai mais tarde”. Ela era,

então, orientada quanto à permanência da pesquisadora durante o período da

pesquisa, assim como lhe era garantida à prestação de serviço pelos profissionais

de saúde da instituição. Diante da atenção diferenciada, proporcionada pela

pesquisadora-cuidadora, todas as pesquisadas-cuidadas, embora repetidas vezes

orientadas pelo método de pesquisa-cuidado, desejavam a permanência contínua da

pesquisadora.

De certo modo, este comportamento de vínculo e confiança entre

pesquisadora-cuidadora e pesquisadas-cuidadas é desejado nesta metodologia de

investigação, posto que favorecesse a interação, expressão de desejos de ser

cuidadas, possibilitando a implementação de intervenção de enfermagem.

No segundo dia de internação, marcado pela redução de queixas clínicas

das pesquisadas-cuidadas, estas passaram a conversar sobre diversas

particularidades de sua vida social, lazer e cotidiano. Aos poucos, elas iam tendo

liberdade e adquirindo confiança para abordar assuntos mais particulares,

desvendando suas subjetividades.

Em um diálogo com a pesquisadora-cuidadora, a pesquisada-cuidada 2

relatou: “Eu faço dieta, caminhada todo dia, não ando adoecendo [...] e não sei

porque eu tive doença no coração”. A mulher referiu que a história de sua família é

positiva para doença cardíaca, porém reiterava ter cuidados com o coração e não

entendia porque adoecera, se tinha hábitos tão saudáveis de vida. Foi-lhe explicado

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136

que outros fatores causais estão envolvidos, como por exemplo, sua história familiar

positiva para doenças cardíacas.

Nesse contexto, ao longo dos encontros, desenvolveu-se a aproximação

profissional e pessoal entre pesquisadora e mulheres cuidadas. Estas se

interessavam não somente pela pesquisa, mas também pela pesquisadora: “Quando

você se forma de novo?” (PC2) (elas entendiam o mestrado com uma nova

formatura). Também elogiavam a pesquisadora-cuidadora com gentilezas: “Você

está tão cheirosa [...] você tem uma cara de anjo [...] é uma menina boa” (PC2);

“você é muito bonita [...] eu nunca tinha lhe visto e lhe quero bem [...] acho que vou

sentir saudades de você quando sair daqui [...] vou dizer lá: ô meu povo, eu

encontrei lá uma verdadeira mãe que Deus mandou pra mim [...]”(PC3).

Percebia-se então um bom relacionamento entre pesquisadora-cuidadora

e pesquisadas-cuidadas, o que se tornou gratificante para a pesquisadora-

cuidadora, diante da certeza de que o processo da pesquisa-cuidado estava,

promovendo o bem-estar daquelas pessoas que estavam hospitalizadas e, assim

conforto, que era o desejo fim de investigação.

Também nos segundos dias de encontro com as pesquisadas-cuidadas,

pôde-se abstrair dos seus discursos demonstrações de satisfação com os cuidados

recebidos da pesquisadora-cuidadora a ponto de desejarem retribuir, da maneira

que podiam, tal como convidando para visita às suas casas: “Depois você vai lá na

Forquilha me visitar, tomar um café, coalhada, pode ir pela manhã e voltar somente

a tarde [...]”(PC5).

Relataram a falta da pesquisadora-cuidadora após sua saída depois do

primeiro encontro: “Eu estava com saudade de você” (PC5). A pesquisada-cuidada 5

revelou que havia dito ao seu filho que estava satisfeita com aquele ambiente e

estava sendo bem cuidada: “Meu filho disse que eu tava era bem, bem bonitinha [...]

disse a eles que estava sendo bem tratada aqui, e ele disse que quando sair daqui

eles vão agradecer vocês”.

A partir desses discursos, percebeu-se a satisfação das pesquisadas-

cuidadas acerca do conforto percebido no contexto sociocultural durante a

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hospitalização. Elas vislumbravam a pesquisadora como um envio de Deus para

acompanhá-las naquele momento de adoecimento. É notório que atitudes e

condutas simples foram significativas para o conforto daquelas mulheres, como por

exemplo, o simples fato de conversar, está presente e fornecer atenção ao que elas

tinham a dizer.

Nesse contexto, mais uma vez indagando sobre o que poderia lhe

proporcionar conforto, as pesquisadas-cuidadas 3, 8 e 2 revelaram,

respectivamente: “Sabe o que eu quero (pausa) [...] acho que só o seu carinho, que

é uma coisa muito boa [...] meu conforto é está com você”; “não agora por hora não

[...] só você mesmo aqui comigo já é um conforto”; “quando você aparece de longe

já me dá conforto”.

Essas manifestações revelaram ligação afetiva estabelecida entre o ser

que cuida e o ser que é cuidado, denotando a criação de um laço de afeto e

confiança. A prática do cuidado cotidiano às mulheres na unidade coronariana

revelou que elas sentiam necessidade de conversar, independente da classe social.

Demonstraram interesse em compartilhar vida social, anseios, particularidades e

outros aspectos de suas vidas.

No contexto deste estudo, isto se revelou pelo interesse expresso pelas

pesquisadas-cuidadas em ter a pesquisadora-cuidadora junto a si. O interesse era

tanto que as pesquisadas-cuidadas desejavam saber da vida pessoal da

pesquisadora-cuidadora, quando lhe questionava sobre estado civil, com quem

morava, onde residia e trabalhava. A todas as perguntas, a pesquisadora procurava

responder atentamente.

Nos últimos dias de encontro, as pesquisadas-cuidadas já esperavam a

chegada da pesquisadora-cuidadora. A pesquisada-cuidada 1 afirmou: “Ei, Keila, eu

já tinha perguntado por você, pensei que não ia vir mais hoje”. Referida

demonstração foi motivo para, mais uma vez, a pesquisadora-cuidadora explicar a

necessidade de um afastamento próximo, posto que embora esta aproximação de

relação de confiança seja desejado pela pesquisa-cuidado, os envolvidos devem ter

ciência da necessidade de afastamento.

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138

Naquele momento, percebeu-se que a ligação da pesquisada-cuidada

com a pesquisadora-cuidadora era intensa e, que ao sair do ambiente hospitalar,

causava-lhes saudades. Por mais que explicasse que a separação fazia parte dos

momentos da pesquisa, os reencontros eram marcados pela demonstração de ter

sentido falta da pesquisadora-cuidadora durante o período da internação.

A pesquisada-cuidada 3 repetia, várias vezes, ter sentido saudades da

pesquisadora. Numa dessas vezes, disse: “Minha filha, deixa eu te dizer, faz muito

tempo que não recebo um amor tão grande quanto o seu, vou sentir muitas

saudades de você quando sair daqui [...] muitas felicidades para você, sucesso!”.

Observou-se, também, por ocasião dos últimos encontros, que elas

faziam um resgate da experiência no hospital, lembravam-se dos momentos de dor

e sensação iminente de morte que passaram e referiam agradecimento e satisfação

por estarem apresentando melhora clínica.

Por ocasião da visita de amigas, a pesquisada-cuidada 9 discorreu sobre

a relação estabelecida com a pesquisadora-cuidadora: “Ela está comigo desde que

cheguei aqui, me acompanha, faz as coisas pra me ajudar, o nome dela é Keila”.

Falava da vivência no hospital e lembrava do relacionamento com a pesquisadora-

cuidadora: “Lembro que teve uma vez que ela aí disse assim: Por que você não abre

seus olhos, é porque as luzes estão acesas, eu não sei o que eu disse, mas lembro

disso [...] ontem aqui nós rezemos o terço, não foi minha filha? [...] eu acho que não

foi dessa vez (sua morte) por causa das orações”.

As mulheres não apenas elogiaram a pesquisadora-cuidadora, como

estenderam elogios à equipe de saúde do hospital. A pesquisada-cuidada 5

mencionou ter sido muito bem cuidada naquele hospital e acrescentou que antes

pensava que ao internar-se em UTI, a pessoa estaria “para morrer”.

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139

-Viabilizar o encontro com as famílias oferecendo-lhe apoio

Outros fatores que proporcionaram conforto e que teve relevância na

prática clínica da enfermagem, foi a presença de um familiar junto à pessoa

adoecida e o apoio aos familiares em orientações e esclarecimento de dúvidas.

No caso da pesquisada-cuidada 9, na fase aguda de sua instabilidade

hemodinâmica, a presença do filho pareceu contribuir para melhoria dos parâmetros

de seus sinais vitais e suspensão gradativa das drogas vasopressoras e da

oxigenoterapia.

Para Rosa et al. (2008), o contato do paciente com o familiar fez lembrar

o lar como seu ambiente de conforto, deste modo, durante a hospitalização, o afeto,

carinho e a atenção recebidos dos familiares são cuidados que resultam em

sensação de conforto; o afastamento destas pessoas próximas levam ao

desconforto.

Ressalte-se que a permanência de um acompanhante junto à pessoa

doente, salvo a situações previstas em lei, são condicionadas pelos protocolos de

normas e rotinas hospitalares. Contudo, acredita-se ser um sistema de apoio

essencial tanto para o paciente como para os familiares. De qualquer maneira, a

pesquisadora-cuidadora, neste estudo, permaneceu sempre que possível junto aos

familiares, informando as pesquisadas-cuidadas acerca da sua presença e do apoio

que fornecia à sua família.

Outro aspecto positivo evidenciado acerca da presença da família das

pesquisadas-cuidadas foi a visita da filha da pesquisada-cuidada 7. Na ocasião, ela

demonstrava afeto e carinho a sua mãe, afagava-lhe a cabeça, dava-lhe beijos e

segurava-lhe as mãos. Atitudes como estas foram significativas tanto para a

paciente, família e profissionais de saúde, que perceberam a satisfação das pessoas

envolvidas.

O transporte da pesquisada-cuidada 4 para a realização do procedimento

hemodinâmica coincidiu com o horário de visitas, de modo que ela teve a

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oportunidade de ser acompanhada pela filha até aquele setor. Na ocasião, foi notória

a felicidade expressa por ambas.

As pesquisadas-cuidada pareciam ficar confortáveis com a presença de

seus familiares, mesmo que aqueles momentos fossem envoltos de emoção e

expressão de choro mútuo. Esta relação social é tão importante que foi presenciado

ansiedade e tristeza de uma mulher, a pesquisada-cuidada 5, quando no momento

da visita ninguém de sua família compareceu. Ciente do contexto familiar, a

pesquisadora-cuidadora tratou de consolá-la, justificando que, talvez, sua filha não

tivesse vindo por não ter com quem deixar a neta.

A distância entre o hospital e a residência da pesquisada-cuidada também

foi impedimento de visitação e, assim, de conforto sociocultural. Lembre-se de que

algumas mulheres são oriundas de outros municípios. É sabido que em torno de

70% dos pacientes internados naquele hospital lócus do estudo eram procedentes

de cidades circunvizinhas, onde, muitas vezes, o transporte e as condições

financeiras eram difíceis, justificando a ausência de visitas (ARAGÃO; PONTE;

MONTEIRO, 2009). Merece considerar que o enfermeiro precisa atentar-se para

estas condições, como meio de ajudar às pessoas que cuidam a enfrentarem as

situações.

Kolcaba (2003) afirma que as relações familiares contribuem para

satisfação do conforto no contexto sociocultural, contudo, quando as pessoas em

adoecimento não possuem esta rede de apoio, os enfermeiros são as pessoas

responsáveis por proporcionar conforto neste contexto.

Durante a presença dos familiares, as mulheres demonstraram

felicidades, aproveitaram para relatar tudo o que acontecera na internação, inclusive

acerca da presença da pesquisadora-cuidadora. As despedidas eram envoltas de

afetividades e envio de recados: “Diga a todo mundo que estou bem” (PC4).

Ao receber sua filha, a pesquisada-cuidada 5 relatou: “Essa menina aí,

minha filha é a que te falei, que cuidou de mim lá na UTI, ela é uma santa [...] essa

aqui é a mãe da meninazinha (apresentando sua filha à pesquisadora-cuidadora)

[...]”. Observou-se, naquele momento que a filha era carinhosa com a mãe, sorriam

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juntas, conversavam sobre assuntos diversos (família, casa, a doença), dentre estes

informava que o aniversário de sua neta foi adiado como forma de garantir sua

participação. Por fim, ela disse que seu pai (ex-marido da pesquisada-cuidada 5)

demonstrava preocupação com sua saúde e estava disposto a devolver-lhe a

aliança. A mulher apresentou sinais de felicidade ao saber que ia ter de volta sua

aliança: “Todo começo disso aqui foi devido à aliança [...]”. Ela tornou-se sorridente

em estar junto à filha e, especialmente, em ter sua aliança de volta.

A pesquisadora-cuidadora tentava proporcionar conforto sociocultural às

pesquisadas-cuidadas, estimulando as manifestações de afeto, bem como

favorecendo a entrada de mais familiares por visita, posto que o permitido é apenas

de duas pessoas. Esta exceção era realizada com a permissão dos profissionais de

saúde responsáveis pelo setor naquelas ocasiões.

Registre-se a necessidade de o enfermeiro estar atento às visitações,

posto que nestas ocasiões, situações familiares desconfortantes podem ser

indevidamente levadas às pacientes. O filho da pesquisada-cuidada 3, por ocasião

da visita, levou um problema de relacionamento desagradável com vizinhos para sua

mãe. Diante daquela situação, foi necessária intervenção da pesquisadora-

cuidadora para afastá-lo da paciente e orientá-lo acerca do comportamento desejado

para o momento da visita de pessoas adoecidas do coração. Baseado no exposto,

exalta-se a importância do enfermeiro orientar e acompanhar de perto a visita aos

pacientes internados, evitando que as pessoas exponham assuntos delicados para

conhecimento dos pacientes internados. Estas orientações devem fazer parte do

acolhimento de familiares de pacientes internados em terapia intensiva.

Coincidentemente, o último encontro com a pesquisada-cuidada 2 ocorreu

no dias das mães. Na ocasião, a pesquisadora-cuidadora parabenizou-a por este

dia, ela agradeceu e, sabedoura de que a pesquisadora ainda não era mãe, enviou

congratulações para sua genitora. Naquele momento, esperava ansiosa pela

presença das filhas, quando chegaram, a mulher demonstrou satisfação confortante.

Como era dia das mães, foi permitida a entrada de todos os filhos.

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Assim como a presença do familiar junto à pessoa com adoecimento foi

fator que contribuiu para o conforto das mulheres deste estudo, o apoio que a

pesquisadora-cuidadora dedicou-se junto aos familiares e acompanhantes das

pesquisadas-cuidadas também proporcionou conforto.

Desse modo, os primeiros contatos com os familiares das pesquisadas-

cuidadas foram dedicados a prestar esclarecimentos quanto ao adoecimento, aos

horários de visita, procedimentos realizados, assim como esclarecimentos de

dúvidas. A pesquisada-cuidada 9 foi uma das que apresentou maior gravidade

clínica, de modo que sua família demonstrou apreensão e preocupação.

Nas situações de casos clínicos mais graves, a pesquisadora-cuidadora

procurou por esclarecer aos familiares sobre a situação, embora tenha estimulado o

otimismo e fé em Deus, objetivando a criação de um clima de fé e esperança.

Assevera-se que os profissionais de saúde devem manter sinceridade nos

esclarecimentos fornecidos aos familiares das pessoas que cuidam, entretanto

recomenda-se a instilação de fé e esperança. Assim, conforme Watson (2008), a

manutenção da fé, esperança e do respeito à crença do paciente são elementos

essenciais durante o cuidado de enfermagem.

Outra questão relevante abordada pela pesquisadora-cuidadora, junto às

pesquisadas-cuidadas que lhes proporcionou conforto no contexto sociocultural, foi a

informação sobre presença dos familiares no hospital. Além disso, manteve os

familiares igualmente informados sobre a evolução clínica do ente querido.

Para Pettengill e Sousa (2011), a internação do paciente em terapia

intensiva tem repercussões na qualidade de vida de seus familiares que necessitam

de informações objetivas quanto ao quadro clínico da pessoa internada e, além

disto, almejam ser ouvidas, estar presente, receber cuidados de conforto e ter seu

sofrimento reconhecido. Diante disto, Silva, Carvalho e Figueiredo (2010) também

descrevem quanto à importância de promover conforto aos familiares de pessoas

internadas, pois permanecem nos corredores das unidades de internação,

esperando o horário de visita.

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143

Em qualquer novidade relacionada à condição clínica da mulher

internada, como por exemplo, após o procedimento hemodinâmico, a pesquisadora-

cuidadora procurava pelos familiares das pesquisadas-cuidadas com o intuito de

levar-lhes as notícias. Aproveitava a ocasião para sugerir contribuição para o

processo de cuidar. Antes das altas hospitalares, a pesquisadora-cuidadora envolvia

os familiares nas orientações sobre as necessárias orientações do estilo de vida

sugeridas para a mulher com IAM.

Em um terceiro encontro com a pesquisada-cuidada 6, foi importante a

presença da pesquisadora-cuidadora junto à paciente na ocasião em que ela

conseguiu falar por telefone móvel com seus filhos pescadores que se encontravam

em alto mar. Esta possibilidade a deixou confortável.

A demonstração de gratidão para com a pesquisadora-cuidadora foi

explicitada pelos familiares das pesquisadas-cuidadas. Tal gratidão se objetivou por

meio da oferta de presentes, como um terço e um peixe fresco. Estas atitudes foram

suficientes para deixar a pesquisadora-cuidadora muito satisfeita diante do

reconhecimento pelo seu trabalho. Pode parecer irrelevante, mas aqueles objetos

eram de grande significado para quem dava e, em especial, para quem recebia. Um

familiar da pesquisada-cuidada 9 relatou: “O que você faz não tem como a gente

pagar, é um favor assim que a gente deve por toda vida, só Deus mesmo para

pagar, porque você faz o papel de filho, não tem dinheiro no mundo que pague”.

-Estimular a interação e o bom relacionamento com os profissionais do

hospital

Merece destaque a preocupação sempre revelada das pesquisadas-

cuidadas sobre quem cuidaria delas na ausência da pesquisadora-cuidadora.

Diante destas manifestações de ansiedade, a pesquisadora-cuidadora procurava

tranquilizá-las, destancando que sempre teria algum profissional de saúde (auxiliar

de enfermagem, enfermeiro, médico) que estaria ali para prestar-lhes cuidado.

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144

O bom relacionamento com os profissionais do hospital também merece

ser destacado. Indistintamente, observou-se que os profissionais expressavam

interesse em atender às necessidades das mulheres, mantendo-as o mais

confortável possível. Percebia-se este comportamento nos processos de trabalho de

médicos, equipe de enfermagem, fisioterapeutas, copeiras e servidores da área da

higienização.

Aponta-se que a observação dos profissionais do hospital como um todo

revela que eles demonstraram oferecer um atendimento diferenciado, procurando

estabelecer o diálogo com as pessoas internadas, assim como com seus

acompanhantes. Por diversas vezes, foi possível presenciar atitudes como estas,

fundamentais para o estabelecimento de conforto sociocultural.

Em um dia de segundo encontro, revelou-se pelas entrevistas a interação

ocorrida entre pesquisadas-cuidadas e profissionais do hospital quando diziam:

“Conversei muito com as meninas daqui (equipe de enfermagem)” (PC9); “está tudo

perfeito, as meninas atende bem, eu chamo elas e elas estão no ponto [...] tem uma

moreninha (auxiliar de enfermagem) que não faz falta aqui, fica aqui olhando e

ajeitando as coisas” (PC6). É importante que se estabeleça boa relação entre

pacientes e funcionários do serviço, pois proporciona segurança ao paciente e

confiança entre as pessoas que delas estão cuidando.

Assim, as mulheres estudadas demonstraram satisfação quanto ao

cuidado prestado pelos profissionais da equipe, não fazendo distinção entre o

cuidado das pessoas dos plantões diurnos e dos noturnos, e nem de gênero: “Eles

são bons, não tenho o que dizer, são ótimas pessoas, tanto dos homens como as

mulheres, cuidam direitinho, quando chamo estão sempre aqui, tudo alegre,

satisfeito, ficam proseando aqui perto de mim na cama junto comigo” (PC6); “muito

bom, muito bom mesmo [...] pra mim não está faltando nada [...] aqui é bom tem

muito repouso, se a gente não tivesse casa pra cuidar, pra ficar pensando, era muito

bom [...] o ruim daqui é está só deitada, hoje já me virei de banda e melhora” (PC8).

Houve comparações do atendimento do hospital com outros serviços, inclusive da

capital: “Todas são demais, maravilhosas, é igualmente Fortaleza se não for até

melhor” (PC3).

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145

Percebeu-se que as pesquisadas-cuidadas não distinguiam os

profissionais que lhes prestavam cuidado: “Não sei quem faz o que (risos) [...] assim,

eles têm a mesma roupa, acho que o médico era uma mulher que veio bem cedinho,

os serventes sei quem é por causa da luva deles, engraçado eles usam a mesma

roupa dos outros [...] não sei quem é o enfermeiro chefe e auxiliar” (PC1). Outras

disseram saber quem são alguns profissionais: “não sei quem eles são [...] vejo

muito falar no Dr. X [...] a gente escuta falar muito nele [...] e não sabia quem era [...]

é muita gente [...] não dá para saber quem é quem, pois são muitas pessoas em

cada turno” (PC2). Outras disseram saber quem eram as pessoas, porém não

sabiam os nomes: “As carinhas delas eu sei, mas o nome não” (PC2). A pesquisada-

cuidada 3 reforça que “O atendimento, as pessoas são educadas, o atendimento é

maravilhoso, tudo eles sabem, ninguém ver ninguém zangado”. Apesar do bom

atendimento referido, não sabiam definir os membros da equipe.

A pesquisada-cuidada 4 relatou não saber quem eram as pessoas da

unidade: “Não sei não, quem é esse? [...] tem hora que está assim de gente, não sei

mesmo, não dá para saber [...] não sei nome de ninguém [...] tem uma que sempre

fica ali (posto de enfermagem), acho que ela é enfermeira, mas não está mais ai”.

A pesquisada-cuidada 6 foi a única que relatou conhecer e identificar os

profissionais: “O da limpeza eu sei quem é, os enfermeiros também eu já prestei

atenção, e o médico também, os auxiliar de enfermagem não sei não [...] o médico

eu sei, tem a doutora, sei que tem um mais alto e outro mais forte [...]”.

Elas não sabiam diferenciar quem era o enfermeiro do plantão, para elas

o enfermeiro e o auxiliar eram as mesmas pessoas. Ao perguntar se sabia o nome

de alguém na unidade, ela disse a princípio que não sabia, mas depois elucidou: “O

que me operou o nome dele é Dr. X né, das enfermeiras tem a Y, o outro é Z [...]

quando elas vêm pergunto o nome, se é solteiro ou casado, eu gosto de saber e

pergunto, é bom conhecer, conversar” (PC6).

É relevante que a pessoa com adoecimento e sob cuidados conheça os

profissionais do ambiente. Neste estudo, as pesquisadas-cuidadas sabiam o nome

de alguns profissionais do setor, entretanto nenhuma lembrou o nome dos

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enfermeiros. Deste modo, é importante que os enfermeiros se identifiquem como

profissionais e lhes informem acerca de suas atribuições isto para, em especial,

imprimir visibilidade da profissão no meio dos usuários.

Com base nesses discursos, percebeu-se que os pacientes precisavam

adivinhar quem eram os profissionais da unidade. O paciente deveria identificar

quais trabalhadores estavam naquele momento e o qual era a função de cada uma,

e isto somente seria possível se os próprios profissionais, ao receberem o plantão,

se identificassem às pessoas ali hospitalizadas e, assim, o fizesse no decorrer do

plantão. Esta não é uma prática comum, principalmente em se tratando da equipe de

enfermagem.

Para os pacientes internados, pode ser difícil aprender os nomes, mas

com o tempo e conforme a proximidade do cuidado, vão apreendendo.

Particularmente, foram presenciadas algumas situações marcantes, em especial

porque a pesquisadora-cuidadora tinha o cuidado de se identificar às mulheres

estudadas. Foi significativo, então, perceber que seu nome e sua imagem foram

marcados pelas mulheres; era sinal que a partir daquela experiência de adoecimento

acontecera episódios benéficos entre a relação interpessoal. Para o profissional de

saúde, é muito satisfatório ser lembrado por uma ou mais atitudes que marcaram a

vivência dos doentes internados.

-Conhecer a cultura da pessoa, adaptando-a na unidade coronariana

Para proporcionar conforto em todos os contextos, torna-se essencial

conhecer a cultura da pessoa que estava sendo cuidada, adaptando-a àquele

ambiente hospitalar. Para tanto, conforme ocorriam os encontros entre

pesquisadora-cuidadora e seres cuidadas, estes aspectos eram investigados.

Nesse sentido, Kolcaba (2003) declara que é importante para equipe

cuidadora conhecer a cultura para facilitar a prestação de cuidados de conforto, e

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devendo ser incluídas no contexto de cuidar as tradições familiares, os costumes e a

linguagem particular de cada pessoa cuidada.

Assim, é imprescindível o conhecimento da vida cotidiana das pessoas

que estão sob cuidados de saúde, não somente neste estudo, mas na prática

profissional como um todo. No contexto deste estudo, observou-se que as mulheres

infartadas sentiam a ausência das pessoas que, no seu cotidiano de vida, lhes

davam atenção. Por isto, como meio de proporcionar-lhes conforto sociocultural, a

pesquisadora-cuidadora dedicou tempo para manter-se ao lado delas, ouvindo-as.

Um contexto pessoal que envolve as relações sociais é a higienização.

Neste sentido, houve estranhamento quando da realização do banho no leito:

“Banho aqui mesmo na cama, ô bagunça? [...] escovar dentes a gente não escova, é

muito chato, mas quando sair daqui volta ao normal?” (PC2). Da estranheza,

destacou-se a higienização oral restrita ao uso de enxaguatório naquela UTI, em

decorrência da impossibilidade de guardar utensílios pessoais.

Também foi preciso conhecer a cultura e rotina cotidiana das pessoas que

estavam sendo cuidadas quanto ao hábito de repousar para, a partir dali,

implementar estratégias e meios que possibilitassem o conforto no ambiente

hospitalar. Observou-se dificuldade para repouso em cama, quando, habitualmente,

as pessoas nordestinas dormem em redes. A posição de relaxamento também foi

destacada: “Como sou acostumada a deitar e dormir de lado, estranho ficar de

barriga pra cima, é muito ruim ficar assim” (PC1); “eu não consigo dormir aqui, pois

não gosto de cama e nem de claridade, lá em casa eu durmo de rede e [...] a luz

ligada não gosto” (PC4). Já que não havia possibilidade de atender ao pedido de

usar a rede para dormir, foram buscadas estratégias de melhor acomodação na

cama (uso de decúbitos laterais), assim como foi tentado minimizar a claridade do

ambiente.

Quanto aos hábitos alimentares, observaram-se desejos de tomar café à

noite e de preferir ingestão de alimentos na temperatura mais elevada: “Se pudesse

tomar um cafezinho era bom” (PC5). Na medida do possível, otes desejos foram

saciados.

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Outro aspecto cultural importante foi a linguagem usada no ambiente

hospitalar, que muitas vezes se distanciava do vocabulário próprio das pessoas ali

internadas. Conforme Ruedell et al. (2010), os profissionais de saúde usam termos

técnicos ao se comunicarem com as pessoas que estão cuidando, sem adaptar-se à

linguagem cotidiana daquela pessoa, implicando, portanto, em interpretações

errôneas das informações. Neste sentido, procurou-se pelo diálogo com as mulheres

infartadas, utilizando linguagem acessível à sua compreensão. Um exemplo da

dificuldade das pessoas apreenderem a fala profissional foi referida pela

pesquisada-cuidada 9: “Vieram me visitar e disseram que eu estava na semi, o que

é isso? [...] não entendi nada que disseram”. Foi-lhe explicado que se tratava de

uma unidade de cuidados semi-intensivos, em que se internam pessoas em

condição clínica mais estável.

Conhecer aspectos culturais, relativos a crenças e valores dos pacientes

é relevante, em especial para o fornecimento de orientações acerca do

comportamento que as pessoas devem assumir, após a alta hospitalar. Conhecer

estes hábitos ajuda os profissionais de saúde e enfermeiros, em particular, a

negociarem, com sua clientela, hábitos saudáveis de bem viver.

Coadunando com o exposto, Guedes, Silva e Freitas (2004) apontam que

o enfermeiro contribui amplamente para a realização de educação em saúde e,

estes profissionais têm buscado pelo interesse na realização de pesquisas

envolvendo a temática da educação em saúde.

Com base no exposto, as tecnologias para o cuidado clínico de

enfermagem para promover conforto no contexto sociocultural com base no

referencial da Teoria de Kolcaba foi atendido conforme ocorria a relação entre

pesquisador, pesquisadas-cuidadas e suas famílias, satisfazendo, na medida do

possível, as necessidades de conforto.

Ao final de cada encontro entre pesquisadora-cuidadora e ser cuidado era

comum as pesquisadas-cuidadas agradecerem pelo cuidado prestado naquele

instante: “Tá minha filha, obrigada por tudo, olha dá abraço na sua mãe por mim tá”

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(PC2). Evidenciou-se, então, a satisfação que elas tinham na realização da

pesquisa.

5.2.6 O Afastamento: separação da pesquisadora e ser cuidado

O afastamento entre pesquisadora-cuidadora e as pesquisadas-cuidadas

envolvidas no estudo aconteceu como previsto. Em alguns casos, elas não estavam

preparadas para o afastamento, naquelas ocasiões, percebeu-se que tanto

pesquisadas-cuidadas quanto pesquisadora-cuidadora iam sentir a ausência uma da

outra. Estas manifestações aconteciam a despeito de todas estarem orientadas

desde o princípio de que este afastamento coincidiria com o final da coleta das

informações do estudo.

Por exemplo, ao encontrar a pesquisada-cuidada 2 pela última vez, após

quatro dias de contato e visitas regulares, ela já esperava a pesquisadora-cuidadora

e dizia: “Eu já estava perguntando as pessoas por você, que não tinha vindo me ver

hoje” (risos). A pesquisada-cuidada 7, também no último encontro, perguntou:

“Amanhã você vem por aqui”.

Com base no exposto, Maas (2006) refere que em seu estudo, durante o

afastamento, embora tivesse orientado previamente acerca deste momento, ainda

assim ocorreu decepção por parte dos sujeitos de sua pesquisa que esperavam a

continuidade dos cuidados prestados.

Os afastamentos evidenciaram falas implícitas, como a referida pela

pesquisada-cuidada 1: “Olha vou sentir falta é de você, sabe, eu não disse a você

ainda, mas gostava demais quando via você chegar para ficar aqui comigo, ficava

olhando você conversar com as meninas e depois vinha para ficar comigo [...]”. As

pesquisadas-cuidadas faziam retrospectiva dos encontros, lembrando-se de

ocasiões que estiveram juntas da pesquisadora-cuidadora: “Você ficou comigo lá na

UTI, trocou minha roupa, ficava ao meu lado, trazia o lençol e eu me enrolava [...]. O

curativo era tão duro que parecia uma pedra e você ajeitou” (PC3).

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Observou-se no afastamento, que quando pesquisadora-cuidadora

utilizava a expressão “último encontro”, as pesquisadas-cuidadas consideravam o

termo forte e logo diziam: “Mas quem sabe a gente se encontre por aí, o mundo dá

muitas voltas” (PC2); “último encontro não, viu? Porque você vai ter que ir lá na

minha casa em Forquilha, me visitar [...] vou esperar você e vai ter que ir” (PC5).

Foi notória a afeição e ligação que as pesquisadas-cuidadas

estabeleceram com a pesquisadora-cuidadora, a ponto de convidá-la para visitas em

casa. Tratava-se de uma maneira que elas encontravam de retribuir ao cuidado

recebido, à atenção que tiveram.

Elas aludiaram a visita da pesquisadora-cuidadora em suas casas como

modo de gratidão, de retribuição, à maneira delas, do que foi realizado na

internação: “Quando você for em Ibiapina, pode perguntar por mim que todo mundo

me conhece, vai ser bom ver você, a gente toma café junto” (PC2).

Naqueles momentos de último encontro, foi notória a expressão de

tristeza pela separação. Por isto, é importante que desde o início da utilização do

método de pesquisa-cuidado, o pesquisador tenha o cuidado de ressaltar o

necessário afastamento que virá, pois a criação de vínculo entre as partes pode ser

dificultador da separação e, assim, prejudicial para as pesquisadas-cuidadas. Há

risco da pessoa cuidada não estender a confiança aos demais profissionais do

serviço, prendendo-se à segurança percebida na relação com a pesquisadora-

cuidadora.

No presente estudo, também demonstrando compreensão acerca do

método pesquisa-cuidado e revelando sucesso pela pesquisa realizada, as mulheres

manifestaram: “Desejo seu sucesso na sua carreira [...] espero ajudar você nos seus

estudos” (PC2). Naquela ocasião, a pesquisadora-cuidadora reiterou a contribuição

inenarrável que elas imprimiram para a realização da pesquisa.

Elas aproveitaram a ocasião para manifestações de espiritualidade,

ressaltando a importância de ter fé em Deus e visualizando a presença da

pesquisadora-cuidadora como um envio deste ser superior: “Sabe o que é isso, você

não recebe de Deus de quem você fez, você recebe por outras pessoas [...] Deus

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bota as pessoas no caminho da gente [...]”(PC9). Ela reforçou ter ficado satisfeita

com os momentos que viveu com a pesquisadora-cuidadora: “Eu gostei demais de

conversar com você e ter participado de sua pesquisa”.

A ocasião dos afastamentos nos encontros finais foi aproveitada para

pesquisadora-cuidadora estabelecer momento de educação em saúde, com vistas à

promoção da saúde das mulheres. Na ocasião, orientava acerca de cuidados para o

bem-estar da saúde do coração, como dieta saudável, tabagismo e redução de

níveis de ansiedade. Naquelas ocasiões, manifestações de gratidão estiveram

presentes em ambas as partes. As pesquisadas-cuidadas agradeciam pelos

cuidados recebidos, enquanto pesquisadora-cuidadora agradecia pelo aceite em

participar da pesquisa. Elas replicavam, como a pesquisada-cuidada 5: “Eu que

agradeço minha filha tudo o que você fez por mim, foi tudo uma maravilha”.

A pesquisada-cuidada 1 segurou e apertou a mão da pesquisadora-

cuidadora, deu um sorriso e beijou sua mão dizendo: “Obrigada por tudo, Keila”. Já a

pesquisada-cuidada 3 disse: “Você é uma menina de tamanha inteligência [...] muito

obrigada por tudo [...] vai na minha casa que vou receber você com maior satisfação

[...] é uma enfermeira de ouro”.

Elas demonstraram felicidades e agradecimentos pelo cuidado recebido:

“Com muito prazer eu fiquei com você, quero lhe agradecer pelo que você fez [...]

pedir desculpa por alguma coisa, que você seja muito feliz na sua vida e no seu

casamento [...] estou muito satisfeita aqui, bem esclarecida, quando eu voltar quero

ver você de novo [...] todo mundo me tratou bem” (PC6).

A ocasião do afastamento foi importante para reflexão da pesquisadora-

cuidadora acerca da viabilidade de continuar o acompanhamento e saber sobre a

saúde daquelas mulheres integralmente.

Após o afastamento

Mesmo após o afastamento ainda ocorreram momentos de interação

entre pesquisadora-cuidadora e pesquisadas-cuidadas. Por exemplo, a pesquisada-

cuidada 2 foi visitada pela pesquisadora-cuidadora após o afastamento quando

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152

ainda se encontrava na enfermaria. Ao ser perguntada sobre sua vivência na

unidade coronariana, respondeu: “Minha filhinha, assim, não que queremos ir pra lá

sabe? (risos), mas na UTI é até bom, não sabia que era daquele jeito”.

Por coincidência, a referida mulher precisou ser reiternada um mês após

participar do estudo, assim, quando pesquisadora-cuidadora acompanhava outra

participante do estudo, teve nova oportunidade de reencontrá-la. Informada por uma

enfermeira que alguém indagara pela sua presença, investigou e chegou à paciente.

A lembrança da referida mulher em procurar pela pesquisadora-cuidadora lhe

causou satisfação.

Em pesquisa que adotou o método pesquisa-cuidado, Maas (2006)

manteve contato com os sujeitos de sua pesquisa após o afastamento e reforçou

que naquelas ocasiões foi possível complementar algumas observações e

considerações do conteúdo validado durante a coleta das informações. Também

Brandalize (2008) reencontrou-se com os sujeitos de sua pesquisa após o

afastamento e relatou que aquelas ocasiões foram prazerosas por manter a

interação iniciada durante a pesquisa.

Noutra situação, quando pesquisadora-cuidadora estabelecia o último

encontro com a pesquisada-cuidada 5, surpreendentemente, percebeu-se a

presença da pesquisada-cuidada 3 que se encontrava para tratamento

hemodinâmico de uma segunda lesão coronariana. O encontro foi inusitado também

porque ambas eram oriundas da mesma cidade e, previamente, se conheciam. A

conversa entre as três estabeleceu-se. Na ocasião, todos os encaminhamentos dos

cuidados com a saúde, pessoais e familiares foram ressaltados.

Ao final do afastamento, houve trocas de beijos, abraços e manifestações

de carinho. É certo que laços foram criados entre as partes, posto que

pesquisadora-cuidadora participou de todo o processo de adoecimento das

mulheres desde suas admissões até próximo de seus retornos aos lares. Para

pesquisadora-cuidadora, como enfermeira, a relação estabelecida com as

pesquisadas-cuidadas foi substancialmente agradável.

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153

5.3 Tratamento dos resultados obtidos e interpretação

Esta etapa correspondeu à terceira fase da análise de Bardin, em que

seria abordado objetivamente em que resultou a pesquisa. A partir do exposto nos

resultados, apreendeu-se que a sensação de conforto pelas mulheres com IAM

envolvia atividades habituais do cotidiano, cuidados básicos e avançados de

enfermagem.

Contudo, para satisfazer esta necessidade é essencial que o profissional

estabeleça vínculo, diálogo e confiança durante o cuidado oferecido, de modo a

possibilitar na identificação das necessidades individuais de conforto e, logo, na

implementação dos cuidados de conforto.

Por isto foi importante apresentar a caracterização das pesquisadas-

cuidadas, como um meio de expor o perfil sociodemográfico das mulheres, para

melhor compreender a análise de conteúdo das categorias emergentes.

Destaca-se que a realização deste estudo foi, em sua essência, motivador

para pesquisadora, por ter permitido a realização de cuidados a partir da

identificação das necessidades de conforto de cada paciente. Percebeu-se, portanto,

que a implementação dos cuidados pela pesquisadora proporcionou um diferencial

no atendimento às mulheres que fizeram parte da pesquisa.

As etapas propostas pelo método de pesquisa-cuidado foram adequadas

aos objetivos da pesquisa, sendo possível adaptar às proposições da Teoria do

Conforto de Kolcaba. Ressalte-se que na aproximação com o objeto do estudo, a

implementação das fases da pesquisa-cuidado foi facilitada.

O encontro com profissionais do hospital, pesquisadas-cuidadas e

familiares foi essencial para a realização dos cuidados de conforto por terem sido

esclarecidos os objetivos e o método de pesquisa-cuidado. Os encontros

subsequentes deram sustentabilidade à pesquisa, sendo possível identificar

necessidades de conforto não apresentadas no primeiro encontro durante a

admissão das pesquisadas-cuidadas.

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154

Quanto à sensação de conforto, foi referida pelas pesquisadas-cuidadas a

partir de cuidados realizados pela pesquisadora-cuidadora, profissionais de saúde

do hospital e pela presença e pelo apoio da família, sendo referido desde o primeiro

encontro até o afastamento.

A precordialgia foi o desconforto apresentado por todas as mulheres

durante o primeiro encontro, a partir de então, estratégias voltadas para controlá-la e

aliviá-la foram realizados, assim como foram implementados cuidados que

contribuíssem para minimização de outras sintomatologias clínicas emergentes.

Assim como estas, outras tecnologias do cuidado clínico de enfermagem foram

utilizadas no contexto físico para promover conforto: a implementação de cuidados

gerais em enfermagem, para melhorar conforto no leito, satisfazer as necessidades

básicas e na retirada do dispositivo intra-arterial.

Para promover conforto no contexto psicoespiritual, as tecnologias de

cuidar foram voltados para promover conforto direcionados ao fortalecimento da

espiritualidade; esclarecimentos acerca da pesquisa, do adoecimento e da

hospitalização; ajuda no enfrentamento da nova condição de saúde; assim como,

auxílio em situações de confusão mental e desorientação.

Ainda como cuidados de conforto, as tecnologias do cuidado clínico de

enfermagem desempenhadas para o contexto ambiental foram voltadas a promover

adaptação à unidade coronariana, a proporcionar ambiente propício para conforto; e

favorecer ambiente descontraído.

No contexto sociocultural da Teoria do Conforto de Kolcaba, foram

desempenhados cuidados como ficar disponível, adquirindo confiança,

estabelecendo vínculo, fornecendo carinho para ser uma companhia agradável;

viabilizando o encontro com as famílias, oferecendo-lhe apoio; estimulando a

interação e o bom relacionamento com os profissionais do hospital; conhecendo a

cultura da pessoa, adaptando-a na unidade coronariana.

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155

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização deste estudo acerca do uso de tecnologias do cuidado

clínico de enfermagem para o conforto de mulheres com IAM teve como objetivo

geral analisar a contribuição das tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para

o conforto de mulheres com infarto agudo do miocárdio, mediado pelo referencial da

Teoria do Conforto de Kolcaba e pela pesquisa-cuidado, a qual foi relevante por

possibilitar o estudo do conforto a partir do cuidado clínico de enfermagem.

O mesmo proporcionou à pesquisadora, por meio da pesquisa-cuidado,

identificar as necessidades de conforto e, logo, implementar tecnologias de cuidado

clínico de enfermagem voltadas para o bem-estar físico, psicoespiritual, sociocultural

e ambiental.

A utilização das tecnologias do cuidar motivaram as mulheres infartadas a

perceberem conforto nos quatro contextos propostos por Kolcaba, de modo que se

confirmou o pressuposto da dissertação: a percepção do conforto de mulheres com

IAM depende da escolha de tecnologias de cuidar apropriadas para cada situação

do cuidado clínico de enfermagem.

Para isso, houve a necessidade de conhecer os fatores causadores de

(des) conforto e desvelar a percepção de conforto daquelas mulheres, de modo a

implementar estratégias de cuidado clínico de enfermagem para o conforto, a partir

do uso de tecnologias de cuidar.

Nessas circunstâncias, torna-se relevante que os enfermeiros

assistenciais, gerentes e docentes estejam atentos ao processo de formação e à

prática clínica profissional, sensibilizando os exercentes da enfermagem para

atender às necessidades de conforto dos pacientes sob seus cuidados.

Contudo, devem ser destacadas algumas limitações deste estudo que

valem ser consideradas neste momento. Dentre estas, o fato de algumas

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tecnologias de cuidado ter sido limitada diante das rotinas e/ou dos protocolos

estabelecidos da unidade de internação. Por exemplo, conduzir uma pesquisada-

cuidada ao banheiro; permitir acesso aos familiares aos seus pacientes em horários

não reservados à visita na unidade; e alimentar em horário não preconizado. Além

disto, não poder controlar a iluminação e temperatura do ambiente, devido à

necessidade de outros pacientes internados.

Pôde-se considerar também como limitações, a não permanência

constante da pesquisadora junto às pesquisadas-cuidadas, levando a crer que

houve perda de contato entre um encontro e outro. Por certo, naqueles períodos

ocorreram situações que requereriam implementações de cuidados de conforto por

parte da pesquisadora-cuidadora. Registre-se, ainda, não ter sido possível

presenciar a admissão de todas as mulheres antes do procedimento hemodinâmico,

nem também das admissões que ocorreram no período noturno.

Outro ponto que merece destaque e sugerido pela metodologia pesquisa-

cuidado é o afastamento após considerado final da coleta das informações, o que,

em especial nesta investigação, motivou a pesquisadora-cuidadora a meditar sobre

o curso de saúde das pessoas de quem cuidou.

O IAM afeta um órgão repleto de mitos e tabus, o que provoca sentimento

de preocupação entre as pessoas adoecidas, e também as que delas cuidam. Neste

sentido, faz-se relevante, nestas situações, a implementação de um cuidado de

enfermagem integral, sistematizado, individual e principalmente confortador.

Considera-se, no entanto, que o método de pesquisa escolhido neste

estudo foi essencialmente benéfico e relevante, por ter facilitado a ligação entre o

pesquisador e a pessoa pesquisada. Na pesquisa-cuidado, tanto pesquisador como

sujeitos ficaram próximos e, na ausência, sentiram falta um do outro. Contudo, é

preciso esclarecer para os sujeitos da pesquisa como ocorrem as etapas propostas

pelo método, de modo que não interfira no tratamento ou acarrete algum prejuízo

para paciente.

Assim, a realização da pesquisa que envolveu o método de pesquisa-

cuidado e a Teoria do Conforto de Kolcaba, possibilitou integração e proximidade

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entre pesquisador-cuidador e pesquisadas-cuidadas, além de proporcionar

resultados imediatos que proporcionaram conforto, por meio da implementação do

cuidado, de acordo com as necessidades individuais apresentadas.

Desse modo, assegura-se que as mulheres com IAM deste estudo foram

beneficiadas, por terem suas necessidades de conforto satisfeitas. Isto somente foi

possível, pois elas foram sujeitos atuantes e facilitadoras da pesquisa, na medida

em que, durante os encontros, demonstraram suas necessidades para ter conforto.

As outras pessoas que possam vir a serem admitidas na unidade após

apresentação deste estudo no referido hospital, por certo poderão usufruir destes

resultados, pois, a partir da reflexão propiciada aos componentes da equipe de

enfermagem sobre suas atividades cotidianas de trabalho, espera-se sensibilização

para o atendimento das necessidades individuais das pessoas de quem cuidam.

Não somente de mulheres, mas de todas as pessoas que necessitarem de cuidado

na UCO, de modo a levá-las à sensação de conforto possível naquele ambiente.

Espera-se também publicar os achados do estudo no meio científico, de

modo que outros profissionais tenham acesso e possam usar o saber produzido,

estimulando a prática do cuidado clínico de enfermagem que valorize a necessidade

de proporcionar conforto ao ser humano, considerando esta uma das intervenções

prioritárias no processo de cuidar.

Torna-se, no entanto, relevante a realização de outros estudos acerca do

conforto como resultado da prática clínica do enfermeiro, em especial aqueles que

envolvam ativamente os sujeitos de cuidar, possibilitando retorno imediato dos

resultados da pesquisa para o âmbito do ensino e da prática clínica profissional.

Sugere-se, portanto, que sejam realizadas pesquisas que busquem pela

identificação e satisfação das necessidades de conforto nas diversas situações do

contínuum processo saúde-doença do ser humano. Ressalta-se que o enfermeiro é

capaz de conhecer e proporcionar bem-estar em diferentes contextos do processo

saúde doença da pessoa humana.

Com base no exposto, é imprescindível a realização de pesquisas que

envolvam a crescente importância do cuidado clínico de enfermagem, buscando por

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inovações tecnológicas que fortaleçam a profissão, visando ao reconhecimento

como ciência humana voltada para o bem-estar dos seres cuidados.

Enfim, ao identificar as tecnologias do cuidado clínico de enfermagem,

como intervenções para proporcionar conforto de mulheres com IAM, o estudo

reforçou a importância do cuidado individualizado, integral e humanizado, uma vez

que este foi concebido de forma a considerar a individualidade das mulheres

envolvidas e a relação interpessoal entre cuidadora e pessoas cuidadas.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

A senhora está sendo convidada a participar da pesquisa intitulada TECNOLOGIAS do

CUIDADO CLÍNICO de ENFERMAGEM para o CONFORTO de MULHERES com INFARTO AGUDO do

MIOCÁRDIO com os objetivos de analisar a contribuição das tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para o conforto de mulheres com infarto agudo do miocárdio, mediado pelo referencial da Teoria do Conforto de Kolcaba e pela pesquisa-cuidado; conhecer os fatores que causam (des) conforto a mulheres com infarto agudo do miocárdio, nos contextos físico, psicoespiritual, ambiental e sociocultural; desvelar a percepção do conforto entre mulheres com IAM internadas na UCO; implementar estratégias de cuidado clínico de enfermagem para o conforto de mulheres a partir do uso de tecnologias de cuidar e da Teoria do Conforto de Kolcaba; e descrever tecnologias do cuidado clínico de enfermagem para promoção de conforto para mulheres infartadas. Dessa forma, pedimos a sua colaboração nesta pesquisa respondendo a uma entrevista sobre o tema acima proposto que será gravado em um Ipod se a senhora concordar. Garantimos que a pesquisa não trará nenhuma forma de prejuízo, dano, transtorno para os que participarem. Todas as informações sobre sua identificação, obtidas neste estudo serão mantidas em sigilo e sua identidade não será revelada. Vale ressaltar que sua participação é voluntária e a Sra. pode deixar de participar a qualquer momento sem qualquer prejuízo ou dano. Comprometemo-nos a utilizar os dados coletados somente para pesquisas e os resultados poderão ser veiculados através de artigos científicos e revistas especializadas e ou encontros científicos e congressos, sempre resguardando sua identificação.

Este estudo trará benefícios para o Hospital do Coração de Sobral, por ser o primeiro estudo abrangendo o contexto do conforto a ser realizado na instituição, o que poderá ser modelo para outras tantas pesquisas, que igualmente visem a desenvolver reflexões individuais e com os enfermeiros do serviço sobre o cuidado de enfermagem prestado, observando as necessidades individuais de conforto do ser cuidado e melhorar a qualidade do atendimento e do serviço. As mulheres com IAM serão beneficiadas, pois a partir da reflexão da equipe de enfermagem sobre suas atividades, espera-se que as necessidades individuais sejam melhores consideradas e, assim, não somente as mulheres, mas todas as pessoas que necessitarem de cuidados na unidade percebam o conforto possível naquele ambiente. Todos os participantes poderão receber quaisquer esclarecimentos acerca da pesquisa e, ressaltando novamente terão liberdade para não participarem quando assim acharem mais conveniente. Contatos com a pesquisadora Keila Maria de Azevedo Ponte, enfermeira especialista em enfermagem cardiovascular e aluna do Mestrado Acadêmico Cuidados Clínicos da Universidade Estadual do Ceará, e com a orientadora Profa. Lúcia de Fátima da Silva, enfermeira doutora, docente do Mestrado Acadêmico Cuidados Clínicos da Universidade Estadual do Ceará.

O Comitê de Ética da UECE encontra-se disponível para esclarecimentos pelo telefone (085) 31019890 – Endereço Av. Parajana, 1700 – Campos do Itaperi – Fortaleza – Ceará.

Este termo está elaborado em duas vias, sendo uma para o sujeito da pesquisa e a outra para arquivo do pesquisador. Eu,____________________________________________________________ tendo sido esclarecida a respeito da pesquisa, aceito participar da mesma.

Sobral, ____ de ________________ de 2011.

____________________________ ______________________________

Assinatura da Participante Assinatura da pesquisadora Keila Maria de Azevedo Ponte

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APÊNDICE B - Descrição de necessidades de conforto/tecnologias do cuidado

clínico de enfermagem/resultados alcançados

IDENTIFICAÇÃO DA PESQUISADA-CUIDADA

NOME: DATA DA ADMISSÃO:

DDATA

NECESSIDADES DE CONFORTO IDENTIFICADAS

TECNOLOGIAS DO CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM REALIZADAS

RESULTADOS

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APÊNDICE C - Formulário de caracterização dos sujeitos

IDENTIFICAÇÃO DO SER-CUIDADO

Nome:

Idade:

Cor/Raça:

Procedência:

Situação conjugal:

Filhos:

Ocupação:

Renda mensal:

Escolaridade:

Religião:

Menopausa:

Uso de ACO:

Atividades de lazer:

INFORMAÇÕES ACERCA DO ADOECIMENTO E DA INTERNAÇÃO

Dia da admissão:___/___/__ 1ª visita:___/___/___2ª visita: ___/___/___ 3ª visita:___/___/___

Fatores de risco para IAM:

História da doença atual:

Avaliação do estado geral na admissão:

Procedimentos submetidos:

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APÊNDICE D – Declaração enviada para a direção do hospital e com anuência do diretor geral para realização da pesquisa

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ANEXO

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ANEXO A - Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa – CEP/UECE