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VLADIMIR CUNHA SANTOS CUBA HOJE A ATUAL REALIDADE DA ILHA SOCIALISTA DAS AMÉRICAS 2016

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VLADIMIR CUNHA SANTOS

CUBAHOJE

A ATUAL REALIDADE DA ILHA

SOCIALISTA DAS AMÉRICAS

2016

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) S237c Santos, Vladimir Cunha. Cuba hoje : a atual realidade da ilha socialista das Américas /

Vladimir Cunha Santos. – Porto Alegre : Evangraf, 2016. 152 p. : il.

ISBN 978-85-7727-915-9

1. Cuba - Viagens. 2. Cuba - História. 3. Cuba - Cultura.

4. Cuba - Aspectos econômicos. 5. Cuba - Política. 6. Cuba - Aspectos sociais. I. Título.

CDU 910.4(729.1) CDD 917.291

(Bibliotecária responsável: Sabrina Leal Araujo – CRB 10/1507)

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Dedico este livroao Heroico Povo Cubano

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SUMÁRIO

01- INTRODUÇÃO / página 0702- A PRIMEIRA VISTA / página 0903- OBSERVATÓRIO DO DIA A DIA / página 1304- CUBA ANTES – UM RESUMO DA HISTÓRIA CUBANA / página 2105- CUBA HOJE - DADOS POPULACIONAIS / página 3306- COMO FUNCIONA A ECONOMIA CUBANA / página 3507- A SAÚDE DE REFERÊNCIA MUNDIAL / página 5608- A EDUCAÇÃO DE PRIMEIRO MUNDO / página 6709- AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SOLIDARIEDADE / página 7510- O TRANSPORTE COLETIVO: ÔNIBUS QUASE PASSE LIVRE / pág. 7711- HABITAÇÃO: 85% DO POVO TEM CASA PRÓPRIA / página 8312- INFRAESTRUTURA E RESTAURAÇÃO URBANA / página 8713- A PRODUÇÃO AGRÍCOLA E PECUÁRIA / página 9214- EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES / página 9715- O TURISMO COMO ATRAÇÃO DE RENDAS / página 9916- CULTURA: MUITA MÚSICA E ARTE / página 10317- SEGURANÇA E BAIXOS ÍNDICES DE VIOLÊNCIA / página 11718- TOLERÂNCIA ZERO AO TRÁFICO DE DROGAS / página 12019- AS DIVERSAS RELIGIÕES PRESENTES NA ILHA / página 12320- IMPRENSA COMPROMETIDA COM A REVOLUÇÃO / página 12521- AS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS E ELEIÇÕES EM CUBA / página 13022- A OPOSIÇÃO AO REGIME SOCIALISTA / página 13323- O ESPORTE DE GRANDES VITÓRIAS / página 13524- AS DEMANDAS ATUAIS DOS CUBANOS / página 13825- A INVASÃO TECNOLÓGICA NA ILHA / página 13926- A NOVA RELAÇÃO COM OS ESTADOS UNIDOS / página 14227- O MITO FIDEL CASTRO E AS NOVAS GERAÇÕES / página 14628- CONCLUSÕES / página 150

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Ao começar o projeto deste livro procurei viajar pelas provín-cias da maior ilha caribenha, conhecer os hábitos de seu povo, asinstituições, as regras econômicas e sociais, as condições de vida–habitação, transporte, saúde, educação, esporte, infraestrutura,empregos, agricultura, pecuária, pesca, comércio, sistema finan-ceiro, sistema judiciário, segurança pública, forças armadas, sis-tema penitenciário, a cultura, a arte, a música, a literatura, oturismo, a tecnologia e outros aspectos do cotidiano dos cubanoscontemporâneos. Sempre com uma visão realista e uma lingua-gem simples, compreensiva. Meu método de trabalho foi a pesquisa e em meu diário decampo anotei e gravei o que vi pelas cidades, estradas, campos,praias e serras, sempre fotografando prédios, locais, monumen-tos e pessoas. Entrevistei a população, os trabalhadores das esta-tais, os empreendedores “contapropistas”, as lideranças políti-cas e comunitárias, e observei o sistema eleitoral. Sempre bus-cando uma visão sociológica, acima da visão ideológica, paraobter nesta obra, a verdade, a realidade de uma nação e seu povomarcado por dominações estrangeiras (espanhola enorteamericana) e por revoluções sangrentas por sua indepen-dência, autonomia e soberania nacional. Para realizar este projeto parti de Porto Alegre, RS, com meuspróprios recursos financeiros acumulados. Embarquei no dia 05de novembro de 2015, no Aeroporto Internacional Salgado Fi-lho, com retorno marcado para 03 de fevereiro de 2016, no Ae-roporto Internacional José Martí. Foram 90 dias de pesquisas decampo e mais alguns meses de redação e complementação depesquisas através de livros, jornais e revistas que adquiri em Cubae dados obtidos pela internet sobre a ilha socialista da Américacaribenha. Optei por aplicar uma linguagem coloquial, de crônicas, po-rém com dados estatísticos com números reais e atuais, facili-tando assim a compreensão do leitor e seu conhecimento sobre

INTRODUÇÃO

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este país na atualidade (2015/2016), tanto de seus progressos evirtudes, como de seus problemas e dificuldades. Tambémpesquisei e escrevi sobre fatos da rica História Cubana paradar uma amplitude maior ao livro e para que o leitor tenhaconhecimento do que se passou na ilha antes para compreen-der o hoje. Enfim, um trabalho que me deu muito prazer em realizar eque me mostrou a verdade sobre uma nação soberana,politizada, de povo consciente, gentil e alegre. Desejo que façam uma boa leitura, uma boa viagem pelasnarrativas e imagens sobre a vida na maior ilha do Caribe, oúnico país que podemos classificar como socialista nas Améri-cas.

A capital Havana e seu tradicional Malecón

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A PRIMEIRA VISTA

Meus primeiros dias em Cuba foram de observar, observar,observar. Já na chegada, no Aeroporto Internacional José Martí,observei a correria dos taxistas em seus carros modernos ou an-tigos, carregando turistas. Algumas mulheres levavam os turis-tas desde a porta de saída do aeroporto até o ponto dos táxis quenão param de sair rumo ao centro histórico da capital cubana. Opreço médio para sair do aeroporto e ir para qualquer ponto dacidade gira em torno de 25 dólares, pagos somente em CUC, oPeso Convertível, uma espécie de dólar cubano, como eles mes-mos dizem, o peso turismo. A primeira coisa que o estrangeirodeve fazer quando chega em Cuba é o câmbio dentro do próprioaeroporto. Em nenhum lugar do país os cubanos recebem paga-mento em moeda estrangeira. O dólar americano paga impostode 10%, além da cotação. No meu primeiro câmbio recebi 0,87CUC por cada dólar que troquei. Ou seja, entreguei 100 dólaresamericanos e recebi 87 CUCs. Observação inicial: em Cuba odólar americano vale menos que a moeda local convertível. Antes de pegar um táxi andei pelo aeroporto para conhecer asinstalações. Achei boas para um país que recebeu, conforme da-dos oficiais que depois li no jornal, 3 milhões de turistas em2015. Poucos restaurantes, poucos bancos e muitos turistas empé, esperando seus voos. Porém muito espaço para se colocarmais opções de restaurantes, lancherias e bancos. Subi pela es-cada rolante, observei muitas “tiendas”, pequenas lojas onde sevendem coisas de Cuba, como bandeira, garrafas de ron, artesa-nato, cartões postais, camisetas, livros, fotos de Che Guevara,Fidel e os ícones da revolução socialista de 1959. Lembrançasda ilha para quem parte. Meu telefone brasileiro não funcionou em Cuba. Para me co-municar com minha amiga cubana que me esperava tive que

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entrar na internet. Foi minha segunda fila em Cuba (a primeirafoi para fazer câmbio de moedas). Natural, no Brasil e em ou-tros países se enfrenta filas também. Depois de mais uma vezapresentar meu passaporte (a primeira vez foi no câmbio) com-prei ao custo de 2 CUCs um cartão, que eles chamam de “tarjeta”,onde o adquirente raspa em um determinado espaço e aparecemnúmeros de usuário e a senha. Liguei meu notebook, vi queaparecia rede disponível, da única empresa de comunicaçõescubana (ETECSA), estatal, conectei, me apareceu um quadropara digitar os números que estavam na tarjeta, digitei e empoucos segundos estava na internet. Fui à rede social Facebookpara teclar com minha amiga cubana, mas ela não estavaconectada, deixei uma mensagem. A tarjeta de 2 CUCs permiteconexão de apenas 1 hora. Percebi que a internet em Cuba nãoé barata. No Brasil pago o correspondente a 18 dólares parausar 24 horas todo um mês, fiz a comparação de imediato. Comalgumas moedas tentei falar em uma cabine de telefone públi-co, também da ETECSA, mas ela não atendia. Era o fone de suacasa, com certeza estava no trabalho. Tentei o número de seucelular mas não atendeu também. Esperei mais duas horas, an-dando pelo aeroporto, observando os locais, saí, olhei as ruas,os edifícios de Habana ao longe, o trânsito, o teto vermelho e ogrande movimento de cubanos que se aglomeravam nos poucosbancos para se conectarem na internet, pois são poucos os lu-gares onde existem pontos de conexões, sinais de WiFi. Con-versei com os cubanos, muito simpáticos e atenciosos com osestrangeiros, principalmente com os brasileiros que admiram econhecem através das novelas da Rede Globo que passam emCuba. Uma senhora, ao saber de minha dificuldade de me co-municar com minha amiga, mui solidária, pediu o número docelular dela e ligou de seu celular. Enfim falei com minha ami-ga que me passou seu endereço para que eu pudesse lhe encon-trar. Estava, enfim, a caminho de uma casa na capital cubana. O taxista, Sr. Jorge, me deixou na frente do edifício, no BairroAlta Habana, situado entre o aeroporto e o centro histórico dacidade. Um bairro popular, onde moram trabalhadores e apo-

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sentados, ao estilo do bairro Jardim Leopoldina de Porto Ale-gre, RS, Brasil, para dar uma referência ao leitor. Na ida ob-servei ao redor muitas avenidas largas, movimentadas e bemsinalizadas, parques, escolas, hospitais, feiras e centros comer-ciais (os supermercados cubanos). Desembarquei, abracei mi-nha amiga e subimos até o apartamento de sua mãe. Depoisdos cumprimentos e apresentações de praxe, fiquei instaladoem um quarto, com uma cama de casal, guarda-roupas, mesade centro, ventilador, 2 poltronas, espelho grande, com ba-nheiro ao lado, janela para a frente do prédio, sem luxo, comsimplicidade. Havia, além do meu quarto, o quarto da dona dacasa, uma sala com jogo de sofá, poltronas, 2 cadeiras de ba-lanço, mesa de jantar com 4 cadeiras e televisão; e outro quar-to do seu filho que casou-se e estava morando em uma cidadeno interior de Cuba, mobiliado, obviamente, com cama de ca-sal, guarda-roupas, um sofá e uma estante; e também uma co-zinha com geladeira, fogão, balcão-pia e muitas panelas. Umaárea de serviço com tanque e varal para secar roupas davavista para a rua do fundo, um dos meus locais preferidos paraobservar as pessoas que passavam. Uma casa normal, comono Brasil. Os cubanos são normais, e como os brasileiros, tra-balham e pela noite assistem telejornais e telenovelas, e escu-tam rádios e leem jornais. Jantamos em família. Estava me adap-tando rápido. Depois fui até a parada onde minha amiga pegouo ônibus para ir para sua casa em outro bairro. Seu esposo émédico e estava trabalhando em uma missão cubana de saúdeno Equador. Retornei, tomei um banho frio e dormi minha pri-meira noite em Cuba, numa cama bem melhor que o banco doaeroporto de Bogotá. Passei a me deslocar diariamente para o centro histórico deHavana de ônibus, linhas P-12 ou P-16, como faz a maioria dopovo cubano. Sentia-me como um cubano no meio deste povo,porém um brasileiro, sempre conversando e perguntando tudo,fazendo assim minhas pesquisas que anotava diariamente em mi-nha agenda, o meu diário de campo, e também exercitando meuespanhol.

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Andei pela cidade de Havana olhando detalhadamente para osprédios, suas fachadas antigas danificadas pelo tempo ou restau-radas; vi também muitas construções modernas e edifícios de maisde 20 andares; olhei para as ruas estreitas da capital que vai com-pletar seus 500 anos de fundação, nos municípios Centro Habanae Habana Vieja, vi as largas avenidas onde cruzam carros antigosdos anos 50 misturados com carros modernos deste século eônibus e caminhões; observei as pessoas, seus costumes diários,os variados meios de transporte que usam, o que comem e be-bem, como trabalham, se divertem e levam a vida. Quis captar aessência deste povo que tem uma história de sofrimento, commuitas guerras pela independência da colonização espanhola edepois uma revolução socialista que está viva no dia a dia doscubanos. Apesar de tanto sofrimento e mortes, veio a redenção,a independência tão almejada e conquistada com muita luta, e asoberania de um governo socialista que enfrenta um império quese avizinha (EUA a 180 km) e lhe causa um mal em mais de 5décadas de embargo econômico e comercial. Estima-se que em53 anos Cuba perdeu mais de 126 bilhões de dólares de investi-mentos externos em função do embargo norteamericano. Mesmoassim o povo parece feliz, dança salsa nos bares e discotecas, fazfestas, e tem na música, na literatura, no esporte e na revolução oseu grande orgulho.

Contraste arqutetônico no bairro Vedado, em Havana.

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OBSERVATÓRIO DO DIA A DIA Andando pela cidade de Havana vi por todos os cantos, em to-dos os bairros, muitos hospitais e escolas. Hospitais em todos osbairros, em todas as cidades, policlínicas, emergências,especializados e farmácias populares. Escolas primárias, esco-las secundárias, técnicas, pré-universitárias e alunos uniformi-zados que enchem as ruas, cafeterias e ônibus. Meninas de sai-as curtas, meninos de calças e camisas brancas e azuis, commochilas e pastas, brincando, sorrindo, namorando, levandouma vida normal de jovem, como em qualquer parte do mun-do. Neste momento em que Cuba descobre a internet e os tele-fones celulares, a maioria das pessoas carrega seus aparelhos eandam pelas ruas telefonando ou lendo e escrevendo mensa-gens. Desde os jovens estudantes até os trabalhadores e tam-bém os velhos carregam seus celulares nos ônibus, carros epelas calçadas. Para recarregar tem que comprar também umatarjeta, como para a internet, em um posto de venda ou com oscambistas. Uma recarga custa no mínimo 5 CUCs (o dólar cu-bano). Observação: quando eu falar em dinheiro CUC, ou pesoconvertível, o leitor pode equiparar com o valor do dólar, comum pequeno desconto, pois em Cuba o dólar vale menos que oCUC, alguns 0,13 centavos. Mas para arredondar o cálculo,cada vez que falo em CUC você pensa dólar, ou euro que équase o mesmo valor do CUC, valendo apenas uns 0,11 centa-vos a mais. Combinado? Então seguimos a crônica das minhasprimeiras observações sobre a Cuba atual. Em Cuba quase tudo que existe pertence ao estado (desde aRevolução Socialista de 1959) que controla e administra empre-sas, desde as fábricas estratégicas até as padarias e restaurantesestatais. Em torno de 80% da economia está nas mãos do estadoe a grande maioria do povo cubano trabalha para alguma empre-sa estatal. Os ônibus circulares das cidades são do estado, ostaxis, na maioria, são do estado e arrendados para motoristasque pagam para o estado uma taxa diária e ficam com o exce-

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dente do faturamento; os ônibus nacionais para as viagens entreas cidades são do estado, porém existem diferenças de preços ede empresas para os passageiros cubanos e os estrangeiros quepagam bem mais, e o mesmo ocorre nos trens que percorrem ailha. As cervejas e refrigerantes são produzidos por empresasestatais, as roupas, calçados e utensílios de cama e mesa sãoproduzidos por fábricas estatais e os eletrodomésticos atualmen-te são na maioria importados da China, o grande parceiro docampo socialista que substituiu a URSS. Porém se encontra eletroscomo forno micro-ondas, aparelhos de televisão, aparelhos desom, celulares, aparelhos de ar condicionado e outros fabrica-dos no Canadá. Vendidos nas tiendas, as lojas da ilha, que fazemparte de redes comerciais também pertencentes e controladaspelo estado. A maioria da frota dos novos ônibus que circulam pela ilha échinesa e nos vidros das saídas de emergência se pode obser-var a escrita das instruções em espanhol e mandarim. Aindaexistem velhos ônibus de antes da revolução, de fabricaçãonorteamericana, mas estão saindo de circulação. Os ônibus cir-culares, urbanos e os que fazem viagens para as províncias ecidades, que os cubanos chamam de “auaua” são bons, moder-nos, grandes e seguros, porém não encontrei nenhum deles comacesso especial para cadeirantes. Os carros russos estão perdendo muito espaço, mas aindasão milhares nas ruas, principalmente os Ladas que percorremas avenidas e estradas da ilha. Atualmente se vê muito carrofrancês (Renault e Peugeot) e também os carros fabricados nospaíses asiáticos, como Kia e Hyundai. Os velhos carros dasfábricas norteamericanas (Ford, Chevrolet e outras), dos anos40 e 50, foram restaurados, reequipados, adaptados e circulammuito nas ruas de todas cidades cubanas, sendo na maioriatáxis que servem a população e aos turistas. Um vendedor emuma tienda (como eles chamam as lojas em Cuba) me falou:“aqui tudo é chino, até yo.” Depois de rir da brincadeira medisse, simpático: “no, no, yo soy cubano.”

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Uma coisa que se observa muito em Cuba é o culto quefazem aos heróis do passado, principalmente aos que fizeramas guerras da independência, quando Cuba montou um exér-cito revolucionário, os Mambises, e guerreou contra a Espanhadurante 30 anos, desde 1868 até 1898, quando se livrou dacoroa espanhola e se tornou uma nação independente e reco-nhecida a partir de 1902, porém dependente dos Estados Uni-dos que ajudaram no último ano da guerra os cubanos a der-rotarem os espanhóis. Por todos os cantos de Havana e portodas as cidades da ilha se encontra monumentos aos maioresheróis da independência, começando pelo maior de todos, opoeta, jornalista, intelectual e guerreiro José Martí Péres, maiorídolo cubano; o apóstolo da liberdade. Espalham-se monu-mentos e estátuas, em praças, escolas e fábricas em homena-gem a José Martí, Antônio Maceo, Máximo Gómez, CalixtoGarcia e outros. Porém os novos heróis do século XX, quefizeram a revolução socialista nos anos 50, como Che Guevara,Camilo Cienfuegos e Fidel Castro, têm muitos espaços pelascidades onde são homenageados em outdoors e painéis gi-gantescos. A Praça da Revolução, em Havana, é um dos exem-plos desta idolatria e reconhecimento aos feitos destes ho-mens históricos. As emissoras de rádio e televisão, todas pertencentes ao es-tado, bem como os jornais da ilha, não cansam de homenagearestes ídolos, narrando suas histórias, comemorando as datas deseus aniversários e relembrando a triste data de seus falecimen-tos, em espacial Camilo Cienfuegos que desapareceu em umacidente de avião no mar. As principais datas de Cuba são 10de Outubro, quando começou a guerra da independência em1868, em Bayamo; 26 de Julho, quando Fidel, Raul Castro e osrevolucionários atacaram o quartel Moncada em Santiago deCuba, no ano de 1953, dando início à guerra revolucionária; e o1º de Janeiro quando aconteceu o Triunfo da Revolução Socia-lista, marcada com a entrada histórica de Fidel Castro e seuscompanheiros em Havana, em 8 de janeiro de 1959. Painéispor todas as cidades cubanas fazem o povo lembrar-se destas

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datas históricas. Outro ídolo muito homenageado em Cuba é o jornalista, políticocomunista e líder estudantil Júlio Antônio Mella, um dos fundadoresdo Partido Comunista Cubano em 1925 e que foi liderança expres-siva nos anos 20 do século passado contra a ditadura direitista deMachado que comandava Cuba e contra o imperialismonorteamericano. Existem praças, estátuas e escolas em homenagema Mella por toda a ilha. Outros heróis do passado são muito venerados e estudados.Todo cubano conhece a história de seu país e respeita seus he-róis. Caminhando por Cuba podemos observar esta veneraçãoexplícita nos gigantescos monumentos . Os painéis com frases sobre o processo revolucionário e asconquistas da Revolução também são visíveis em toda a ilha,não somente em Havana, a capital, onde permaneci mais tempodurante meus 90 dias de pesquisa. Frases como “Viva CubaLibre”, “Educacion para todos – Derecho de cada cubano”,“Unidos, vigilantes y combativos”, “Socialismo o muerte”,Gracias Che por tu ejemplo”, e muitas outras estão estampadasnos outdoors nas margens de avenidas e estradas. É uma prega-ção diária e permanente para manter vivo o espírito da Revolu-ção na mente dos cubanos. E esta publicidade funciona muitobem, pois a maioria do povo cubano é favorável ao regime po-lítico da Revolução e manifesta isso nas conversas. Apenas re-clamam dos baixos salários que recebem. A oposição que exis-te, clandestina, é minoria e não tem espaço nenhum para cres-cer. Os cubanos, em sua grande maioria, não querem mudançasna estrutura política construída nas 6 décadas de revolução. Issoé visível e inquestionável. Basta ficar uns meses em Cuba econviver com seu povo, nos bairros, nos ônibus, nas cafeterias,em todos os lugares. Mesmo com as dificuldades que muitasvezes enfrentam, são fieis aos princípios da revolução e salien-tam as conquistas como soberania, saúde e educação gratuitaspara todos, moradia barata, reforma agrária, etc. Quando vocêfala em cambiar o regime eles contestam e defendem a Revolu-ção. O cubano sempre tem uma justificativa para explicar o

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porquê das necessidades que passaram ou passam. Apoiam ospaíses do campo socialista em todo o mundo e principalmenteos países da América Latina que possuem governos progressis-tas e de esquerda como Bolívia, Nicarágua, Equador, Venezuela,Chile, Brasil de Dilma e a Argentina de Cristina recentementederrotada pelo neoliberalismo nas eleições presidenciais de2015. A grande tristeza do ano, porém, para os cubanos, no cam-po político, foi a derrota do partido de Chaves, liderado porMaduro, nas eleições parlamentares da Venezuela. Os comen-taristas políticos da imprensa cubana e o povo todo lamentouesta derrota nas urnas, pois a Venezuela, desde o início da Re-volução Bolivariana através do governo do falecido presidenteHugo Chaves, até hoje, é um importante parceiro e fornecedorde produtos como petróleo para o desenvolvimento econômicoda ilha caribenha. O temor em Cuba hoje é que a oposiçãovenezuelana, de reconhecida tendência neoliberal, vença a pró-xima eleição presidencial e acabe com as conquistas do gover-no chavista, além de propor políticas que venham prejudicarCuba. O herói latinoamericano em Cuba no momento é o presi-dente boliviano Evo Morales, el índio. Mas o brasileiro LuísInácio Lula da Silva também é bastante conhecido e comemo-rado em Cuba, por sua tendência política esquerdista e seu go-verno de inclusão popular no Brasil. No saguão do Hotel Naci-onal, o mais famoso hotel da ilha, tem uma foto de Lula comFidel. Os cubanos apoiam a presidente Dilma Rousseff que so-freu perseguição política da direita brasileira no Congresso Na-cional e da imprensa capitalista, episódio que ocasionou o afas-tamento da presidente eleita do governo. As emissoras cubanase a voz do povo nas ruas expressam claramente esta posição. Nestas minhas primeiras andanças por Habana e outras pro-víncias e municípios cubanos enxerguei bandeiras de Cuba portodos os lados, em prédios públicos, praças, parques, hotéis,escolas, hospitais e até casas particulares. A bandeira cubanapara os cubanos é sagrada, idolatrada, com sua estrela solitária,e demonstra o patriotismo e o amor pela ilha. Quase todo cuba-no tem sua bandeira em casa, exposta na sala ou guardada para

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expor na janela nos dias festivos, como 26 de julho, 10 de outubro,1º de janeiro e o 1º de maio –dia do trabalhador. Todos os dias eu pegava o ônibus linha P-12 para ir até Cen-tro Habana e Habana Vieja, coração da capital cubana. Desciano fim da linha, na praça atrás do grande prédio em restauraçãodo Capitólio e começava minha peregrinação pelas ruelas dacidade antiga, com seus 496 anos de fundação, preparando-secom muitas obras de restauração dos prédios centenários (mui-tos em ruínas) para comemorar seus 500 anos em 2019. Muitasvezes escutei canções brasileiras dentro do ônibus urbano quepossui som ambiental em Cuba. Roberto Carlos é o mais toca-do, em espanhol, mas também ouvi Leandro e Leonardo e ou-tros sertanejos que são tocados na ilha. Meu primeiro passeioem Centro Habana e Habana Vieja foi com minha amiga cuba-na, Anita, num sábado. Almoçamos a culinária de Cuba e bebe-mos a cerveja da ilha, depois de caminharmos pelas ruelas epela avenida que corta os dois bairros que eles chamam demunicípios por causa da divisão administrativa e circunscriçãoeleitoral. No bar Monserrate tocava um grupo de músicos cu-banos a tradicional salsa. Anita me mostrou alguns prédios his-tóricos, os hotéis mais antigos e os caminhos das paradas deônibus para que eu pudesse andar sozinho pela cidade. Muitosturistas nas ruas, a maioria europeus e canadenses, e os vende-dores ambulantes cubanos oferecendo de tudo, táxis, comidas,doces, artesanato, passeios, tabacos, livros, mochilas, bolsas,camisetas, vestidos, etc. Comecei neste dia meu arquivo de ima-gens com as primeiras fotos e filmagens. Foi uma espécie dedeslumbre controlado, afinal eu estava no seio do primeiro eúnico país comunista das Américas. Depois de caminharmospelos prédios antigos, voltamos para o bairro Altahabana, de P-12, pela Avenida Boyeros. No domingo peguei na mesma parada, na Av. Boyeros, o ôni-bus P-16, para ir até o bairro Vedado e conhecer enfim o famo-so calçadão à beira mar de Havana, o Melecón. No caminhopercebi que passava pela Ciudad Deportiva, pelo Ginásio, pelaPraça da Revolução, pelo Memorial José Martí, pelo Palácio

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do Governo, pela Biblioteca Nacional, pelo terminal de ônibusnacionales, pelo monumento e hospital Calixto Garcia e enfimo bairro Vedado. Já estava programando um roteiro de visitaspor este caminho. Próximo está a Universidade de La Habana.Desci na calle 23, em La Rampa, e fui ao encontro do mar azulhabanero. Outro momento de emoção e deslumbre. Só que des-ta vez não controlei. Cantei e dancei no Malecón: “estoy enCuba... Cuba libre, yo libre...” E os carros corriam pela largaAvenida Antônio Maceo. Caminhei, fotografei e filmei até che-gar ao Castelo de San Salvador de La Punta. Neste local, meinformaram, aconteciam os fuzilamentos de criminosos e con-trários ao governo, antigamente. Incomodou-me muito ver al-guns prédios velhos em ruínas, caindo aos pedaços, ao lado deprédios restaurados e conservados. Um contraste que um cuba-no justificou para mim: “Esta ciudad vai completar 500 anos,passou por una década de período especial quando faltava tudo,principalmente cimento e tinta, y quando el gobierno deuprioridad para mantener la qualidad de la salud y de la educaciongratuita para todos, y una ciudad que enfrenta el pior genocídiode la história de las Américas que é el bloqueio econômico ycomercial imposto pelos Estados Unidos a nuestro pueblo. Peroque estamos restaurando aos poquitos esta región histórica deLa Habana”, concluiu o cubano. Fiquei calado. O que eu pode-ria argumentar? Eu estava apenas chegando em Cuba e teriamuito o que conhecer sobre este país, seu povo, sua história,seus costumes, seus lugares, sua governança, sua economia, suacultura... A pesquisa sobre Cuba hoje estava apenas começando. Epara entender o presente tive que voltar um pouco ao passado.

Castelo dos 3 ReisMagos do Morro,

na entrada daBaía da Havana.

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Prédio do Capitólio de Havana, em restauro

Museu da Revolução

Habana Vieja

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CUBA ANTES

UM RESUMO DA RICA HISTÓRIA CUBANA

Depois de visitar alguns pontos tradicionais da capital cubana,como o Museu da Revolução, a Catedral, o Capitólio em obrasde restauração, a Praça da Revolução, O Memorial José Martí,o bar La Bodeguita del Médio, o Teatro Nacional, o porto e aBaía de Habana, a Estação Central de trens (também em restau-ração), as muralhas, a Biblioteca Nacional José Martí, o Castellode La Punta, o Parque Lênin, o teatro Karl Marx, os zoológicos,os ginásios e estádios esportivos, as praças e monumentos e osbairros Vedado, Miramar, 10 de Octubre, Poey e outros tantos,além das praias de Guanabo, Santa Maria, Mégano, as cidadesde Matanzas e Varadero, comecei então a ler na casa da mãe deAnita um livro sobre a História de Cuba – Formación y Liberaciónde la Nación – relatando desde a origem primitiva da ilha, e dan-do ênfase ao período da invasão espanhola em 1492 até o fimdas guerras da independência em 1898. O livro, bastante minu-cioso, com 400 páginas e muitas ilustrações, fotos e mapas, émuito usado nas escolas cubanas. Foi escrito pelo historiadorEduardo Torres-Cuevas, filósofo, ensaísta, doutor em CiênciasHistóricas, professor titular e presidente da Casa de Altos Estu-dos Don Fernando Ortiz da Universidade de La Habana; e por

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seu colega Oscar Loyola Vega, historiador e ensaísta, doutorem Ciências Históricas e professor da Universidade de LaHabana. Aos poucos fui me aprofundando na história deste heroico povoque ficou 406 anos como uma colônia da coroa da Espanha(1492-1898) e que depois esteve por mais 60 anos sob a tutelae influência direta dos Estados Unidos, apesar de ser uma repú-blica independente desde 1902. Cuba só ficou realmente livrepara decidir seu destino e ter autonomia e soberania, a partir de1959, com o triunfo da Revolução Socialista começada com atentativa frustrada de tomada do Quartel Moncada, em Santia-go de Cuba, pelos irmãos Fidel e Raul Castro e um pequenogrupo de revolucionários que foram detidos e presos em 26 dejulho de 1953. Neste mesmo dia também aconteceu o ataqueao quartel de Bayamo, também frustrado e com prisão dos re-volucionários. Depois de libertos e de alguns anos no México,planejando a guerra revolucionária, voltaram em 1956 no iateGranma, montaram a guerrilha na Sierra Maestra que se espa-lhou por toda a ilha e conquistaram o poder, desalojando o dita-dor Fulgêncio Batista do governo. Batista, que mandava tortu-rar e matar adversários cometeu um erro estratégico, ou seja,deixar vivo Fidel Castro e seus companheiros de Moncada. Seos tivesse matado, como fazia com os opositores de seu regime,creio que a história de Cuba teria sido diferente. Mesmo assim,com soberania de escolha, Cuba teve que optar pelo camposocialista no mundo dividido entre capitalistas e comunistas du-rante o período histórico da chamada Guerra Fria, que dividiu oplaneta em 2 blocos político-econômico após o desfecho da 2ªGuerra Mundial em 1945. Cuba passou a ter a influência políti-ca direta, o apoio econômico, tecnológico e militar da URSS –União das Repúblicas Socialistas Soviéticas- liderada pela Rússia.Enfim, acredito eu, que Cuba somente se tornou efetivamentelivre e se transformou em um país que caminha com as própriaspernas, a partir dos anos 1990, quando se dissolveu a URSS eos cubanos tiveram que encarar a realidade do mercado inter-nacional sem o subsídio e ajuda dos russos, buscando alternati-

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vas e políticas próprias. Os bons anos 70 e 80, em que se cons-truía mais de 70 mil habitações por ano para os trabalhadores,em que a comida era farta e o peso cubano tinha bom valor,quando havia alimentos abundantes, medicamentos, material deconstrução para todos, quando a indústria russa despejava seusprodutos a baixos preços na ilha, pois este tempo foi sucedidopor uma década de dificuldades, sem o apoio russo, com acen-tuação do bloqueio econômico e comercial dos Estados Unidose com uma economia pobre que teve que se reorganizar e bus-car novos parceiros comerciais, e não novos patrocinadores ex-ternos. O governo manteve as conquistas da Revolução, ou seja, saúdee educação gratuitas para todos cubanos, mas para manter estasprioridades teve que fazer racionamentos severos. Foi o perío-do especial, quando faltava tudo, desde produtos básicos dehigiene, até comida. O heroico povo cubano sobreviveu comcriatividade e sacrifício e hoje caminha para a prosperidade,com a economia crescendo em torno de 04% ao ano, com no-vos países parceiros, com investimentos fortes nas áreas de tu-rismo, saúde e agricultura, organizando seus portos e partindopara a exportação. No entanto ainda falta muita industrializa-ção e tecnologia que aos poucos vão aportando na ilha que temum futuro promissor graças ao heroísmo de seu povo que viveu500 anos de dependência real e agora, no início do século XXI,parte para a verdadeira e real independência, produzindo e ne-gociando seus produtos, sem necessitar de uma grande nação-mãe para prover sua sustentabilidade. Acredito que depois de 500 anos de dependência direta e obe-diência, Cuba, enfim, caminha para a prosperidade com seuspróprios recursos. Livre. Se autodeterminando. E sinto que estetambém é o sentimento de seu povo passivo, ordeiro,paciencioso, trabalhador, criativo, inteligente e alegre. Um novomomento na História da maior ilha do Caribe. Conforme os historiadores a ilha de Cuba está povoada hámais de 10 mil anos, desde a quarta era glacial, quando o níveldos mares ao redor da ilha baixou em torno de 100 metros do

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nível atual, proporcionando migrações na região (Eduardo Tor-res-Cuevas, pp.08). Os primeiros habitantes teriam procedên-cia do território que hoje pertence aos EUA, sendo primitivoscaçadores de grandes animais para alimentação e vestimentas,saídos da desembocadura do rio Mississipi, indo pelo litoral doGolfo do México e da Flórida e estabelecendo-se no que hoje éa ilha de Cuba. Eram aborígenes indoamericanos de origemmongóis, estatura média e sem deformações no crânio. Domi-navam o fogo e fabricavam seus utensílios e ferramentas compedras. Viviam a céu aberto e pouco usaram as cavernas. 4.500anos antes de nossos dias, aconteceu a segunda onda migratóriapara a ilha de Cuba, provenientes dos territórios que hoje sãoda América Central, Nicarágua e Honduras, e também da costanorte da América do Sul, o que atualmente é a Venezuela. Tam-bém eram de descendência mongol e dominavam a caça e apesca, vivendo em cavernas e a céu aberto. (Eduardo Torres-Cuevas, pp.09-12). O cronista-historiador Bartolomé de Las Casas distinguiu trêstipos de culturas diferentes entre os nativos habitantes de Cubae as chamou de Guanahatabey, Ciboney e Taína. Porém quan-do os espanhóis invadiram a ilha, em 1492, viviam em Cuba osnativos taínos, de origem aruaco, provenientes da costa caribenhada Venezuela, Guianas e ilhas antilhanas. Falavam a língua aruacoinsular, do tronco linguístico aruaco, eram excelentes navegado-res e construtores de canoas e introduziram a agricultura em Cuba,como plantação de mandioca, feijão, batatas, algodão e tabaco.Eram excelentes ceramistas e pescadores. Até hoje muitos no-mes de cidades, frutas, árvores e lugares em Cuba são de ori-gem da língua aruaco, como o próprio nome Cuba, Habana,Baracoa, Camaguey, Jagua, Bayamo, aguacate, ají, anón,guayaba, guanába, batey, bohío, huracán, etc. Viviam em casasconstruídas com madeira de palma e forradas com folhas destatradicional árvore da ilha. Os povoados tinham uma espécie depraça, que os nativos chamavam de batey, onde realizavam suasfestas tradicionais. Também viviam em palafitas, casas sobre aágua. A produção era coletiva e a liderança exercida por caci-

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ques escolhidos por idade e prestígio. Havia fortes laços famili-ares entre os taínas. Os chefes religiosos, curandeiros, conduzi-am o povo em suas crenças relacionadas com natureza. (EduardoTorres-Cuevas, pp.08-16-17-19-21-23). Durante muitos séculos houve uma mescla de nativos de ori-gem ciboneyes e taínos, em um processo de transculturação enão dominação. Quando os Espanhóis ocuparam a ilha, em 27de outubro de 1492, com a chegada dos navios de CristóvãoColombo, calculou-se em um censo de 1510 que havia emtorno de 112 mil nativos vivendo em Cuba. Em apenas 32 nosde domínio colonial restavam apenas 893 nativos vivos na ilha.Isso significa o desaparecimento de 99,21% da população.(Eduardo Torres-Cuevas, pp. 25). Foi uma extinção muitorápida de um povo, de uma nação que se constituiu em sécu-los, com sua cultura, sua língua, suas crenças. Um genocídioinexplicável que os espanhóis cometeram contra os nativos.Em toda a região antilhana, Cuba, Haiti, Jamaica, centenas deilhas do Caribe, existiam em torno de um milhão e meio denativos vivendo felizes em suas comunidades que se desenvol-viam, porém no ano de 1550 restavam apenas uns centos dehabitantes na região, tal foi o holocausto promovido pelos es-panhóis. No entanto houve resistência dos nativos e o primeiroherói líder a defender o território cubano foi o cacique Hatuey,que organizou os aborígenes mas foram derrotados pelas ar-mas e experiência militar dos espanhóis. Hatuey foi capturadoe queimado vivo. Os índios viraram escravos dos fazendeiros(encomenderos) na agricultura e mineração, e os rebeldes fo-ram assassinados. Milhares morreram nas epidemias de saram-po, varíola, infecções pulmonares, maus tratos, fome, depres-são e suicídio em massa. Começa neste período, início dosanos 1500, a fundação das primeiras vilas e cidades em Cuba,pelos comandantes espanhóis Diego Velázquez de Cuéllar(primero governador de Cuba) e Pánfilo de Nerváez. Os pri-meiros núcleos urbanos fundados foram: Baracoa (1511),Bayamo (1513), Trinidad (1514), Sant Spíritus (1514), Santi-ago de Cuba (1515) e La Habana (1519).

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Cuba ficou escrava dos espanhóis durante 406 anos. De 1492,ano da invasão, até 1898, ano em que os espanhóis foram ex-pulsos pelo exército revolucionário cubano, os mambises, comajuda do exército norteamericano que entrou na guerra no últi-mo dos 30 anos de peleia. Neste período formou-se o novopovo cubano, pois os nativos foram extintos. Este novo povofoi composto por filhos de espanhóis, os crioulos, nascidos nailha, e filhos de negros que foram levados à força pelos espa-nhóis para serem escravos na ilha. Aconteceu uma mescla, umamiscigenação racial durante quatro séculos de convivência. For-mou-se uma nova nação, com outros valores, outros costumes,outras crenças, uma nova cultura que foi forjada com poucosresquícios da antiga civilização nativa que restaram do genocídio,juntamente com os costumes levados pelos espanhóis e negrosque chegaram na ilha após 1492. Começa então a história dosegundo povo cubano nascido na ilha, que sofreu com a escra-vidão mas enfrentou os colonizadores após 376 anos de domí-nio da coroa espanhola. Em 1762 Cuba foi tomada pelos Ingle-ses, mas 11 meses depois foi trocada pela Flórida e voltou aodomínio espanhol. No século 18, os cubanos, que tinham relações comerciaiscom os norteamericanos, participaram da guerra de Indepen-dência dos EUA, ajudando com soldados e dinheiro os ameri-canos do norte que formavam as 13 colônias inglesas e partirampara a luta de independência nos anos 1776. O comerciante deHavana Juan Miralles e o comerciante da Filadelfia RobertMorris ajudaram financiar as investidas de George Washingtoncontra a Inglaterra. O general cubano Juan Manoel Cajigal YMonserrate, com seus soldados cubanos, lutaram contra os in-gleses. Em 1781 Cajigal foi nomeado governador de Cuba pe-los espanhóis. Foi a primeira vez que um crioulo nascido na ilhaassumiu o máximo poder político e militar em Cuba. O governa-dor cubano e o líder independentista venezuelano Francisco deMiranda, arrecadaram fundos financeiros em Havana, quandoaté uma campanha das damas habaneras que entregaram suasjóias foi promovida para ajudar economicamente a financiar a

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dados cubanos e haitianos que ajudaram a vencer os britânicos.Estava feita a independência dos EUA. Pela primeira vez na his-tória, Cuba ajudava na guerra de independência de outro país.(Eduardo Torres-Cuevas, pp.120-122) No século 19 começaram os movimentos de independências emtoda a América Latina. México, Peru, Colômbia, Venezuela, Equa-dor, Bolívia, Uruguai, Argentina, Brasil, Paraguai, Chile e os paísesda América Central conquistavam sua liberdade com relação à coroaespanhola. Estas ideias independentistas inspiraram os cubanos quedesenvolveram o sentimento patriótico. Porém Espanha lutou muitopara manter sob seu domínio a maior ilha do Caribe. Mesmo assimos crioulos, nascidos na ilha, que constituíam uma nova sociedade,começaram as conspirações nos anos 1820 do século 19. Forma-ram-se clubes independentistas por toda a ilha e movimentos parti-dários contra os espanhóis. No dia 10 de outubro de 1868 começou a guerra dos cubanoscontra os espanhóis pela independência político-administrativa dailha e a abolição da escravatura. Os nascidos em Cuba não que-riam mais ser mandados pelos espanhóis. A primeira guerra revo-lucionária durou 10 anos, de 1868 até 1878. Começou na cidadede Bayamo e teve como principal líder Carlos Manuel de Céspede.Foi um conflito generalizado por todas as partes da ilha, quandomorreram milhares de soldados espanhóis e cubanos. No ano de1878 houve uma trégua, um armistício negociado. Mas a paz du-rou pouco, já em 1879 a guerra recomeçou, e foi chamada deGuerra Tiquita, pois foi curta e se desenvolveu até 1880, sem apresença de vários generais rebeldes. Foi nesta guerra que surgiua figura do intelectual e guerreiro José Martí Pérez, imortalizadona História cubana. Depois veio mais um período de relativa paz,sem batalhas, porém com algumas tentativas de derrubar os es-panhóis do poder. Porém no ano de 1895 estourou a definitiva

guerra contra a Inglaterra. O escritor francês Claudio Henriquede Saint-Simom entregou o dinheiro para George Washington quecolocou as contas em dia, pagou suas tropas, e partiu para a ba-talha final contra as forças do general britânico Cornwallis na re-gião virginiana de Yorktown. Esta batalha teve a presença de sol-

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etapa da guerra revolucionária, com o exército mambise (cuba-no) mais organizado e com força política, apoiado pelos intelec-tuais, por lideranças campesinas e urbanas, além do apoio devários países da América Latina. O conflito foi intensificado, commilhares de morte e destruição da economia da ilha. Neste período, em 1886, aconteceu a definitiva abolição daescravatura na ilha, depois de vários processos por esta cau-sa. Durante a guerra muitos líderes, como o próprio José Martí,morreram em combate contra os espanhóis. A miséria, a fome,a prostituição e a violência aumentaram nestes anos finais daguerra. O exército dos Estados Unidos também entrou no con-flito e apoio o exército revolucionário cubano para derrotar emdefinitivo o exército espanhol na derradeira batalha marítimaem Santiago de Cuba. Com esta vitória os EUA passaram adominar a ilha, sendo que Cuba só alcançou o status de naçãoindependente e formalizou sua república no ano de 1902, po-rém com uma cláusula na sua Constituição que permitia a inter-venção militar por parte dos EUA a qualquer momento quequisessem. Os principais líderes, generais e comandantes cubanos destes30 anos de guerra pela independência foram: Carlos Manuel deCéspedes, Francisco Vicente Aguilera Infante, Calixto Garcia,Antônio Maceo, Máximo Gómez Baéz, Vicente Garcia González,José Martí Pérez, Ignácio Agromonte y Loynaz, Serafim SánchesValdívia e tantos outros heróis até hoje homenageados pelo povocubano. Também as mulheres, esposas e mães destes heróis,como Lucia Iñiguez Landín, Mariana Grajales Coello e BernardaToro Pelegrín (Manana), também foram ativistas nestes confli-tos, dando apoio considerável. O primeiro país a reconhecer aindependência de Cuba e a instalar uma embaixada cubana emsua capital foi o Peru. O hino cubano foi composto no início daguerra por Pedro Perucho Figueredo Cisnera, e a bandeira deCuba, com sua estrela solitária, as cores azul, branca e verme-lha, foi adotada desde a guerra até os dias de hoje. Passados estes séculos de opressão política e lutas pela li-berdade, os cubanos entram o século 20 com o dilema de de-

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senvolver o país. A opção oferecida foi o capitalismo e asmegaempresas norteamericanas invadiram a ilha com seu di-nheiro e sua ganância. Compraram terras, instalaram conglo-merados econômicos, engenhos de açúcar, dominaram as la-vouras de tabaco, despejaram os produtos de sua indústriaautomotiva e levaram até a famosa máfia para Cuba. Planta-ram uma democracia de fachada e colocaram os presidentesda ilha, incluindo os sanguinários ditadores Machado e Batis-ta, que possuíam de plantão torturadores profissionaisnorteamericanos para liquidar com os oposicionistas. Mais umavez o heroico povo cubano passou a lutar por liberdade, auto-nomia, soberania e vida digna. Quase todos os setores da eco-nomia eram privados e havia muita miséria e desigualdade, coma falsa sensação de liberdade, com economia liberal, estadofraco e injustiça social. Neste cenário a luta de classes se in-tensificou, foram criadas as entidades de trabalhadores, os par-tidos socialista e comunista, e as maiores lideranças deste pe-ríodo foram Diego Vicente Tejera, Carlos Beliño, Alfredo Lopéze Julio Antônio Mella. Os movimentos sociais explodiam nasruas de Havana, greves gerais, movimento estudantil, centraissindicais que reuniam mais de 200 mil trabalhadores ativistas,etc. Porém as forças capitalistas do império norteamericanosufocaram estas lutas populares por justiça social e igualda-de. As seis primeiras décadas do século XX foram marcadaspor uma intensa luta de classes na grande ilha caribenha que,apesar das dificuldades, desenvolvia sua arte musical, sua cul-tura popular, sua literatura, seu esporte e sua economia de-pendente das vendas de açúcar para os norteamericanos. Umpovo sofrido, porém alegre e solidário. Em 1956, com a chegada dos revolucionários socialistasFidel Castro, Ernesto Che Guevara, Camilo Cienfuegos, RaulCastro e outros guerrilheiros, começa uma nova guerra na ilhacaribenha. Foram mais de dois anos de batalhas por todos oscantos da ilha, entre o exército de Fulgêncio Batista e os guer-rilheiros barbudos e socialistas. Triunfou em 1º de janeiro aRevolução Comunista que deixou um saldo de milhares de mor-

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tos, porém animou as esperanças deste povo sofrido e lutadorpor dias melhores. A implantação do socialismo mudou completamente as rela-ções comerciais da ilha. Acabaram as empresas privadas, osbancos particulares e as grandes fazendas. Os norteamericanosforam embora e as novas regras exigiram esforços e restriçõespolíticas para que a revolução se realizasse. Com a ruptura docapitalismo na ilha e o fim do comando dos EUA, osnorteamericanos tentaram retomar a ilha à força, com um exérci-to de mercenários, mas foi repelido pelos revolucionários comu-nistas. Aconteceu então o bloqueio econômico e comercial con-tra a ilha e os países parceiros dos EUA foram obrigados a nãonegociar com Cuba, numa tentativa de isolar a ilha do resto domundo. Os revolucionários então se uniram aos comunistas daEuropa e Ásia, selando uma aliança com a URSS, para sobrevi-ver, pois sua economia primária não possuía indústria e nem con-dições de se desenvolver sozinha. Veio a nova dependência, agorada União Soviética, que passou a ditar as regras econômicas,políticas e militares. Despejando os produtos da indústria russa,mas promovendo uma revolução socialista, que reduziu as desi-gualdades sociais, ofereceu medicina e educação gratuita paratodos cubanos, acabou com o analfabetismo, construiu casas eapartamentos para os trabalhadores, fez uma ampla reforma agrá-ria, melhorou a autoestima do povo e desenvolveu a cultura e oesporte em níveis nunca alcançados pelo país. Os anos 70 e 80do século XX foram os melhores para o povo cubano em termoseconômicos e sociais. Uma nova sociedade nascia em plenaAmérica Latina e dava exemplos para os demais países vizinhosescravos do capitalismo. Cuba ajudou na luta de independênciade países da África, como Angola, e sua medicina passou a fazermissões de solidariedade, com médicos e enfermeiras trabalhan-do em vários continentes, auxiliando países e povos pobres. Eraum tempo de fartura nas mesas dos cubanos, e de orgulho naci-onal. O patriotismo foi incentivado e o socialismo venerado. Semesquecer as raízes culturais de um povo que lutou muito por suasconquistas.

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500 anos em 2019 com mais beleza em seus prédios históri-

Quando tudo parecia ir muito bem aconteceu o desmanche daUnião das Repúblicas Socialistas Soviéticas. A poderosa URSSquebrou e seus afiliados, como Cuba, passaram a viver dificul-dades econômicas, problemas de abastecimento de produtos in-dustrializados, falta de petróleo, ausência de parceiro comercialpara comprar seu açúcar, seu tabaco, etc. Veio o período espe-cial, os anos 1990, quando faltava tudo para os cubanos, menosa medicina e a escola gratuita. Estas foram as prioridades que ogoverno revolucionário elegeu e conseguiu manter, até que sereorganizasse a economia. Foi um momento na história da socie-dade cubana de muita persistência, disciplina, e que aflorou acriatividade do povo cubano para sua sobrevivência. Cuba di-versificou sua agricultura, flexibilizou suas regras comerciais, pas-sou a investir forte em turismo e exportar médicos para dezenasde países. Buscou novos parceiros comerciais, como Canadá,Espanha (a volta dos espanhóis), Alemanha, China, França,Venezuela, Argentina, Brasil , Peru, Equador, México, Chile,Uruguai e outros tantos da América Central, Caribe, Ásia e Áfri-ca. Os Estados Unidos ficaram isolados, com seu bloqueio eco-nômico em vigor, mas querendo retomar as negociações comer-ciais com a ilha e neste momento se preparando para isso. Cuba hoje está conseguindo superar esta crise sem vender suasoberania para o imperialismo capitalista. Faz negócios comerci-ais, mas mantém suas regras e seu modelo de sociedade socialis-ta. Mantém sua estrutura política, através da Assembleia Nacio-nal do Poder Popular, e uma econômica interna totalmente con-trolada pelo estado. Exige que os EUA devolva o território dabase militar de Guantánamo e acabe com o bloqueio econômicoe comercial imposto há mais de 54 anos, política que gerou umprejuízo de aproximadamente 126 bilhões de dólares para a ilha.As principais marcas do período especial e do bloqueio econô-mico-comercial se vê nas construções deterioradas que se en-contra no centro histórico de Havana e em algumas outras cida-des da ilha. Aos poucos começam a aparecer também os resul-tados das reformas de uma capital que quer comemorar seus

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cos. Para isso e para gerar maior bem-estar ao povo, a economiase fortalece e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em2015 foi de 4%, estando entre os maiores índices das Américas. Enfim, uma rica história marcada por lutas e conquistas. Assim,conhecendo um pouco desta história, podemos entender um poucomais de Cuba e seu povo hoje.

Monumento a Céspede, em Bayamo, cidade onde começoua guerra pela independência de Cuba

Heróis da História de Cuba, como Antônio Maceo,são lembrados em gigantescos monumentos pela ilha

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CUBA HOJE Atualmente Cuba possui uma população de 11.163.934 habi-tantes, conforme dados do senso oficial de 2012. Está divididaem 15 províncias e 1 município especial (Ilha da Juventude),possuindo um total de 169 municípios. O nome oficial da maiorilha do Caribe é República de Cuba, tendo como língua oficial oespanhol e como moeda o peso cubano que possui 100 centa-vos. A capital da República é La Habana que tem uma popula-ção de 2.154.454 habitantes, sendo uma das províncias cuba-nas. O território total da República de Cuba é de 110.922 Km2,sendo que corresponde à ilha de Cuba 105.007 Km2, à Ilha daJuventude 2.200 Km2 e 3.715 às 1600 ilhotas e caios existen-tes ao redor da ilha. A ilha de Cuba tem um comprimento de1.250 km e uma largura média de aproximadamente 100 km. Opico mais alto da ilha é na Sierra Maestra, sendo o Pico Turquino,com 1.972 metros de altura, no oriente do país. Além da SierraMaestra existem outras regiões montanhosas na ilha, as serrasde Nipe-Sagua-Baracoa, também no oriente; a Sierra delEscambray, na zona central da ilha; e no extremo ocidental, naprovíncia de Pinar del Rio, encontra-se a Cordilheira deGuaniguanico, composta pela Sierra de los Órganos e pela Sierradel Rosario. Cuba está situada entre o Mar das Antilhas ou Mar do Caribe, oGolfo do México e o Oceano Atlântico. Está distante apenas 180km dos Estados Unidos (Flórida-Miami), 130 km das ilhasBahamas, 210 km do México, 140 km da Jamaica e 77 km doHaiti. (Fonte: instituto Cubano de Geodesia y Cartografía: AtlasNacional de Cuba, 1978). Suas províncias possuem atualmente a seguinte distribuiçãopopulacional: La Habana: 2.154.454 habitantes; Santiago de Cuba: 1.053.837; Holguín: 1.027.683;

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Granma: 830.645; Villa Clara: 783.708; Camaguey: 768.311; Matanzas: 697.314; Pinar del Rio: 585.452; Las Tunas: 525.729; Guantánamo: 506.369; Artemisa: 487.339; Sancti Spíritus: 462.114; Ciego de Ávila: 424.750; Cienfuegos: 400.768; Mayabeque: 371.198 e Ilha da Juventude: 84.263 habitantes.

(Fonte: Senso nacional de Cuba, de 2012)

Desde ocidente até o oriente da ilha: muitas belezas

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A ECONOMIA CUBANA

A economia cubana funciona com duas moedas nacionais: oPeso Cubano e o Peso Conversible, chamado também de PesoTurismo, ou popularmente de dólar cubano. Estas duas moe-das convivem na sociedade da ilha de Cuba, naturalmente, elogo ao chegar o estrangeiro passa a entender como se dá estarelação na prática. O Peso nacional, dinheiro com que o go-verno e suas estatais pagam os salários dos trabalhadores cu-banos, é chamado pela sigla de CUP, já o Peso Conversible, ochamado popularmente “dólar cubano”, é chamado pela siglade CUC. Esta segunda moeda da ilha tem o valor de 24 pesosnacionais (CUP). O CUC também tem mais valor que o dólarnorteamericano, que, neste caso, é cambiado por 0,87. Ou seja,1 dólar norteamericano tem o valor de 87 centavos de CUC.Em comparação com o Euro o valor muda para a relação 1,13CUC por 1 Euro. Estas cotações em Cuba não variam muito eestes valores conferi em 2015 e 2016. As alterações são míni-mas, de alguns centavos, quando ocorrem. O estrangeiro vainum banco e troca 100 dólares americanos por 87,00 CUCs.Este dinheiro vale 2.088,00 pesos nacionais (CUPs). Porém,também em Cuba, existe o câmbio negro, quando os comerci-

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antes e sacoleiras que buscam produtos no Peru, Equador eoutros países com bons preços, pagam mais que os bancos na-cionais pelo dólar americano, moeda que usam para suas com-pras no exterior. Os comerciantes pagam entre 0,95 a 0,98 cen-tavos de CUC por dólar americano. Num câmbio de 100 dóla-res americanos o estrangeiro recebe 95,00 CUC, equivalente a2.280,00 pesos nacionais (CUPs). Uma diferença de 8,00 CUCsou de 192,00 pesos nacionais (CUPs) com relação ao câmbiooficial. Para fazer uma relação com o a moeda brasileira atual, o Real,o melhor para nosso entendimento é o parâmetro do valor doEuro, que hoje, meados de 2016, vale no Brasil em torno de4,00 reais. Por exemplo: 100 euros valem 113,00 CUCs. Osmesmos 100 euros valem R$ 400,00 reais. Ou seja, com R$400,00 reais você adquire 113,00 CUCs (peso convertible/tu-rismo) ou 2.712,00 CUPs (peso nacional cubano). No comércio de Cuba, nas tiendas, centros comerciais, su-permercados, restaurantes, cafeterias, feiras e outros estabele-cimentos, os preços são apresentados nas duas moedas, commínima correção para “arredondar”. Por exemplo: uma cervejana prateleira tem o preço de 1 CUC e de 24,00 pesos. Umperfume numa tienda tem marcado na embalagem os 2 preços:4 CUCs e 96,00 CUPs. Em algumas feiras, açougues e padari-as a cotação do CUC é cobrada em 23,00 CUPs e assim pordiante movimenta-se a economia cubana. Existem tiendas e lo-jas que só recebem na moeda convertible, o CUC, e outroslocais só recebem em peso nacional (CUP); porém, na maioriados pontos comerciais, são recebidas as 2 moedas, CUC ouCUP. Existem estudos dos economistas do governo cubano paraem breve (?) unificar as duas moedas da nação. Faltam aindaconclusões e definições que devem ser examinadas e aprovadaspelos deputados da Assembleia do Poder Popular. Para os cubanos o uso de 2 moedas não é problema. Oproblema econômico que mais os cubanos reclamam nas ruas,ônibus, cafeteria e todos os lugares, é o baixo salário. Tendocomo referência o dólar, os salários dos cubanos são os mais

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baixos das Américas. O que compensa para o povo são os bai-xos preços do transporte e dos alimentos vendidos nas bodegascom utilização da libreta, um instrumento de subsídio estatal. Obaixo custo da energia elétrica, da água, do gás e dos medica-mentos, e a gratuidade total do atendimento médico e das esco-las de todos os níveis não corroem significativamente os salári-os. Também o fato de que mais de 85% dos cubanos possuemcasa própria e não pagam aluguel ajuda. Soma-se a isso acriatividade dos cubanos em aumentar a renda fora dos saláriospagos pelas empresas estatais que empregam em torno de 78%dos trabalhadores. Os cubanos são bons comerciantes, vendem de tudo. Além deum número grande de milhares de taxistas na ilha que movimentaa economia local, em Cuba se encontra milhares de vendedoresambulantes pelas principais ruas das cidades e nos conjuntoshabitacionais nos bairros. Vendem batata, cebola, pão, feijão,azeite, manteiga, café, ovos, temperos, frutas, hortaliças, leite,sucos, rum, charutos, roupas, sapatos, chinelos, tênis, camise-tas, perfumes, artesanato, bolos, bolachas, sorvete, doces, cho-colate, vassoura, pá de ventilador, utilitários em geral você en-contra nas mãos dos vendedores ambulantes ou instalados nascalçadas das cidades. A grande maioria possui um tipo de auto-rização do estado, pelo qual pagam uma taxa anual de baixovalor em peso nacional (CUP). A atividade da vaidade está cadavez mais em alta. As cubanas montam em suas casas ou espaçosalugados, maquininhas para fazer unhas postiças e estampas deunhas decoradas. Os salões de beleza para penteados e cortesda moda, se espalham pela ilha. Também os tatuadores movi-mentam a economia cubana com seu trabalho artístico. Muitos cubanos, mesmo que trabalhem em estatais, exercemoutras atividades como prestadores de serviços a particulares,como eletricistas, encanadores, pedreiros, cabeleireiros, barbei-ros, garçons em restaurantes particulares, esteticistas, progra-madores e arrumadores de computadores, cuidadores de ido-sos e enfermos em residências, donos de cafeterias e padarias,restaurantes, oficinas de carros e de computadores, salões de

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beleza, etc. A economia cubana tem uma dinâmica própria deconsumo de produtos e serviços e não se percebe miséria nopaís, apesar de encontrarmos regiões e bairros pobres. A maio-ria possui emprego e a taxa de desemprego não passa de 3%em média na ilha. Essa alta taxa de ocupação laboral reflete nadiminuição das taxas de roubos, assaltos e violência, conformeapontam estatísticas oficiais com supervisão e aprovação daONU. Os trabalhadores dos grandes hotéis do Estado que estão emtodos os cantos da ilha para servir a grande demanda de turistas(mais de 3 milhões de estrangeiros visitaram Cuba em 2015),além de receberem seus salários em peso nacional (CUP), algoem torno de 700 pesos em média, ainda recebem uma partici-pação do movimento financeiro do mês do hotel em CUC, umextra em torno de 20 CUCs por mês, em média. O estado cubano é proprietário de todas as grandes e médiasempresas em funcionamento na maior ilha do Caribe. Estasempresas produzem todos os produtos consumidos pelos cu-banos e estrangeiros, desde o vestuário, passando por alimen-tos, bebidas, setor moveleiro, extração de minérios, construçãocivil de núcleos habitacionais, serviços de hotelaria, venda decarros, postos de combustíveis, redes de supermercados, lojasde produtos industriais e eletrodomésticos, fábricas de charu-tos, usinas açucareiras, fábricas de perfumes e produtos de hi-giene, fábricas de refrigerantes, cervejas e runs, fábricas de brin-quedos e outros manufaturados, frigoríficos, etc, toda esta pro-dução é conduzida e controlada pelo estado cubano que aospoucos faz abertura para investimentos de capitais estrangeiros. Muitas empresas estatais cubanas já fazem parceria de até50% com empresas do México, Espanha, Canadá, França,Holanda, Alemanha, China e outros países que apresentam edesenvolvem projetos na ilha. Entre as várias iniciativas brasi-leiras de parceria em Cuba, ressalto aqui a fábrica de cigarrosBrascuba que ocupa uma boa parte do mercado de indústria decigarros de marcas famosas consumidos na ilha. Os francesesse aliaram à famosa marca de rum Havana Club e estão avan-

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çando no mercado internacional de bebidas alcóolicas. Os es-panhóis são os maiores investidores na construção de grandeshotéis, os canadenses operam na extração de minérios como oníquel, os mexicanos investem na indústria de alimentos, os chi-neses despejam os produtos de sua indústria tecnológica, enfim,desenvolve-se uma grande cadeia de atividades econômicas ondeparticipam o estado cubano e a iniciativa privada internacional.O carvão vegetal é uma das pautas de produtos de exportaçãode Cuba, assim como medicamentos genéricos ebiotecnológicos. Em meio a estas mudanças e flexibilização da economia cuba-na, desenvolve-se lentamente uma aproximação econômica como vizinho: o poderoso império dos Estados Unidos da América.As empresas norte-americanas já realizam estudos, principal-mente na área de tecnologia e comunicação, para venderem seusprodutos na ilha; querem, porém, mudanças maiores neste mer-cado promissor de 11,2 milhões de consumidores, tentando in-fluenciar o comportamento dos governantes e da sociedade cu-bana. Estas intenções causam um dilema nos cubanos e um mo-mento de expectativa de abruptas transformações culturais. Asconversações diplomáticas e comerciais acontecem nos trâmi-tes governamentais entre estes dois países e também entre em-presários norteamericanos que fazem contatos com empresasestatais de Cuba para possíveis projetos de desenvolvimento.Comitivas de norteamericanos, como prefeitos, governadores,secretários de estado e empresários já visitam oficialmente ailha socialista do caribe, porém o embargo econômico e comer-cial dos EUA contra Cuba ainda persiste e depende de votaçãono Congresso (Câmara de Deputados e Senado) para ser der-rubado. Todo este processo está sendo bem analisado pelaslideranças cubanas que não abrem mão de sua autonomia políti-ca, não abrem mão dos princípios e mecanismos do socialismo.A própria sociedade cubana vigia este processo e ao mesmotempo anseia por mais possibilidade de consumo, sendo commelhores salários e maiores ofertas. Todo este processo tam-bém passa pelo crivo da Assembleia do Poder Popular, pela

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aprovação ou não dos deputados, depois de ser analisado ediscutido pelo Conselho de Ministros e pelo Congresso do Par-tido Comunista Cubano. Nenhuma grande mudança acontecesem ser aprovada por estas instâncias que representam a de-mocracia socialista cubana. Passei 3 meses, entre novembro de 2015 e fevereiro de 2016,pesquisando na maioria das províncias e cidades de Cuba ospreços de produtos alimentícios, utilitários, eletros, serviços eoutros de uso permanente do povo cubano. Porém, a partir de22 de abril de 2016, em decisão do 7º Congresso do PCC,ocorrido em abril, os preços dos produtos alimentícios foramrebaixados em média em 20%, para dar maior poder de com-pra ao peso nacional. Estes preços são tabelados e controladospelo governo. Porém existem pequenas variações no comérciolivre e adequações referentes às ofertas e demandas e depen-dências das safras e clima. Veja a tabela de alguns produtos alimentícios que tiveram seuspreços rebaixados, e o informe oficial do governo cubano so-bre este tema econômico: “En el Informe Central al 7mo. Congreso del Partido seexpresa: “los salarios y pensiones siguen siendo insuficientespara satisfacer las necesidades básicas de la familia cubana”.La solución definitiva a esta compleja realidad se alcanzarácon el incremento de la productividad y la eficiencia de laeconomía nacional. No obstante, la voluntad política de laDirección del Partido y el Gobierno de hacer todo lo posible pormejorar la situación de la población en medio de las limitacionesexistentes, así como la disminución de los precios de los alimen-tos en el mercado mundial, han propiciado adoptar un conjuntode medidas encaminadas a incrementar gradualmente lacapacidad de compra del peso cubano en el corto plazo, las cualesse aplicarán a partir de este viernes 22 de abril.1. Reducir los precios en el entorno de un 20 % en las Cadenasde Tiendas Recaudadoras de Divisas y el mercado paralelo delMINCIN para un grupo de productos seleccionados, sobre todoalimentos.

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2. Rebajar: El precio del arroz que se vende de manera libera-da de 5.00 CUP la libra a 4.00 CUP.El precio del arroz de producción nacional que se vende deforma liberada de 3.50 CUP la libra a 3.00 CUP.El precio del chícharo que se vende de manera liberada de 3.50CUP la libra a 3.00 CUP.3. Generalizar la venta de pollo en formato grande (cajas),aplicando un único método de formación de precios para lasCadenas de Tiendas Recaudadoras de Divisas y el mercadoparalelo del MINCIN, lo cual resulta en una disminución de un6 % sobre los precios minoristas.Con igual propósito se estudian otras medidas, cuya adopciónse irá informando a nuestro pueblo oportunamente.(Ministerio de Finanzas y Precios)

LISTADO DE NUEVOS PRECIOS MINORISTAS EN PE-SOS CONVERTIBLES (CUC) A APLICAR A PARTIR DEL22 DE ABRIL DE 2016.

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PIB DE CUBA EM CRESCIMENTO Os números oficiais da economia cubana, no que se refere aoProduto Interno Bruto, PIB, apresentam um crescimento constantenos últimos anos. A revista Fórum (www.revistaforum.com.br) pu-blicou na virada dos anos 2015/2016 o seguinte texto produzidopelo site Ópera Mundi (http://operamundi.uol.com.br/), São Paulo -21/12/2015 - 19h06:“O Produto Interno Bruto (PIB) de Cuba cresceu 4% em 2015,incluindo a participação de todos os setores produtivos nesseresultado, informou o ministro da Economia, Marino Murillo,durante o Conselho de Ministros, na segunda-feira (21/12/2015).Segundo ele, esse crescimento foi possível porque dispôs de “an-tecipações de liquidez, contratações adiantadas dos créditos e desua execução e, além disso, houve uma tendência de baixa nospreços das importações”, explicou em seu relatório.“Todos ossetores produtivos crescem em relação ao ano anterior, mas aagricultura, a indústria açucareira, a construção, o transporte, oarmazenamento e as comunicações não alcançaram o que estavaplanejado”, comentou Murillo, que também é vice-presidentedo Conselho de Ministros. A agricultura, a pecuária e a silvicul-tura tiveram um crescimento de 3,1%, mas estiveram abaixo doobjetivo em dois pontos percentuais, fundamentalmente pelaprodução de hortaliças, tabaco, leite e arroz. A indústria açucareiraaumentou em 16,9%. No entanto, o previsto era de 5,3 pontosadicionais. O resultado não foi obtido por conta dos baixos ren-dimentos e do mau aproveitamento da capacidade industrial,devido a “deficiências organizativas”, principalmente. O setorda construção cresceu 11,9%, não conseguindo cumprir o planoem oito pontos, e entre os motivos destacou a “deficiente prepa-ração técnica” dos investimentos. Durante a reunião ministerial,a titular da pasta de Finanças e Preços, Lina Pedraza, informouque foi registrado um déficit fiscal estimado em 5,7% do PIB.Além disso, detalhou que as receitas e as despesas “deram res-posta aos níveis de atividade que demandou a economia, não

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sem tensões orçamentárias”. Por sua parte, a ministra do Trabalho eSegurança Social, Margarita González, indicou que, ao concluir oprimeiro semestre do atual exercício, a produtividade do trabalho nasempresas estatais tinha aumentado 30% em relação ao planificado.Além disso, assinalou que o salário mensal por trabalhador subiu para696 pesos (equivalentes a R$ 111, aproximadamente), o que repre-senta um crescimento de 12%. No caso das empresas com perdas, aavaliação ressalta que se reduziram de 245 no fechamento de 2014 a64 no primeiro semestre deste ano (2015)”

O site Trading Economics (http://www.tradingeconomics.com)publicou os índices do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB)de Cuba nos últimos 10 anos, mostrando que o ano de 2006 regis-trou o maior índice de crescimento deste país, sendo de 12,1%. Em2007 o crescimento do PIB foi de 7,3%, 2008 foi de 4,1%, 2009 =1,4%, 2010 = 2,4%, 2011 = 2,8%, 2012 = 3%, 2013 = 2,7%, 2014= 1,3% e 2015 = 4,3%. O mesmo site internacional de informaçõeseconômicas sobre todos os países do mundo registrou outros indica-dores básicos da economia cubana referente ao ano de 2015, comoa inflação anual de 4,4%, o índice de desemprego de 2,4%, o PIB de80,66 bilhões de dólares, a dívida pública de 17,1% do PIB, o PIBper capta de 5.351 dólares por ano, o salário médio mensal de 687,00pesos cubanos (CUP), uma balança comercial deficitária e valoresde impostos sobre vendas na faixa de 10 a 20%.

A revista Negocios em Cuba (www.prensa-latina.cu/negocios) em sua primeira edição de janeiro de 2016, publicouque o crescimento do PIB em Cuba foi de 4% e que a projeçãopara 2016 é de um crescimento de 4,2%, conforme a CEPAL –Comissão Econômica para América Latina e Caribe. Porém odéficit da balança comercial ainda é um problema econômico nailha e a grande meta do governo cubano é diminuir as importa-ções e aumentar as exportações para equilibrar esta balança.Para isso várias políticas de diversificação da agricultura e au-mento da industrialização estão sendo implantadas através dosplanos elaborados pelos ministérios e aprovados pelos deputa-dos da Assembleia Nacional do Poder Popular e Congresso doPCC.

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Das minhas pesquisas de campo, realizadas em váriascidades das províncias de Cuba, registro aqui alguns preços deprodutos e serviços que anotei: 1 botijão de gás = 7 pesoscubanos -CUP (aproximadamente 1 real e 10 centavos); 1 litrode gasolina comum = 1 dólar; um litro de diesel = 0,75 dólar; ataxa média de luz para uma casa com 3 habitantes = 2 dólares;taxa de água menos de 1 dólar mensal; 1 sabonete = 0,35 cen-tavos de dólar; um pacote com 4 rolos de papel higiênico =1,30 dólar; shampoo nacional = 1,45 dólar; 1 desodorante na-cional = 0,90 a 1,50 dólar; tubo de pasta de dente = 0,50 cen-tavos de dólar; 1 escova de dente = 0,60 centavos de dólar; 1vidro de nescafé com 500 gr. = 2,90 dólares; um pacote de250 gr. de café pra passar = 3,75 dólares; 1 par de tênis defabricação nacional = 15,00 a 20,00 dólares; um sapato decouro = 13,00 a 25,00 dólares; 1 camiseta = 6,00 a 15,00dólares; uma calça jeans = 8,00 a 30,00 dólares; 1 vestido =10,00 a 35,00 dólares; 1 camisa = 3,00 a 25,00 dólares; cal-ção de praia = 8 dólares e biquínis = 12 dólares. Estes preçosforam pesquisados em lojas e supermercados que vendem emCUCs (Peso convertible, o chamado dólar cubano ou dólarturismo) que naturalmente é frequentado por qualquer cubanoe por turistas. Porém, nas tiendas populares, encontramos pre-ços mais baixos, onde só se paga em peso nacional (CUP), taiscomo camisetas por 3 dólares, calças por 7 dólares, camisasocial por 2 dólares, casaco por 3 dólares, blusa feminina por4 dólares, sandálias por 8 dólares, cueca e calcinha por 1 dó-lar, sapato e tênis por 6 dólares, pasta e mochilas por 8 dóla-res; bolsa feminina = 10 dólares; e material escolar como ca-netas, lápis, cadernos, borrachas em torno de 0,30 centavosde dólar a unidade.

Os aparelhos eletrodomésticos, na maioria importadosda China, Argentina, Canadá e outros países, são mais carosque a média no Brasil. Por exemplo: 1 aparelho de ar condicio-nado está em média 800 dólares; 1 máquina de lavar roupascom capacidade para 6 litros = 360 dólares; um aparelho desom com 2 caixas = 500 dólares; 1 geladeira = 600 dólares; um

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fogão à gás = 282 dólares; 1 liquidificador = 45 dólares; 1 “cha-pinha” para alisar o cabelo = 24 dólares; 1 TV tela plana com 32polegadas = 500 dólares; 1 notebook = 500 dólares; 1 ventila-dor de mesa = 30 dólares; 1 colchão de casal = 130 dólares, desolteiro = 92 dólares; uma cama de casal = 238 dólares, desolteiro 130 dólares; um guarda-roupas com 4 portas = 400 dó-lares; 1 chuveiro elétrico = 30 dólares; 1 galão de tinta com 3,5 L= 13 dólares. Outros artigos de necessidade para montar umacasa também são considerados caros pelos cubanos, tais como1 porta interna, sem marco, por 50 dólares; 1 porta externa commarco, de metal, por 200 dólares; 1 vaso sanitário com caixaanexa por 70 dólares; 1 pia de banheiro com pé por 20 dólares;1 mesa com 4 cadeiras por 120 dólares; 1 panela média = 24dólares; 1 panela de pressão = 34 dólares; 1 chaleira = 18 dóla-res; jogo de 6 copos de vidro = 5 dólares; pratos = 2 dólares aunidade; caneca para café = 3 dólares; 1 vassoura com cabo = 4dólares; toalha de banho = 8 dólares; toalha de rosto = 5 dóla-res; e por aí vai.

Como em todo país, capitalista ou socialista, os trabalha-dores sempre reclamam que os salários não alcançam suas ne-cessidades. Porém, no caso de Cuba, não existe gente passandofome e nem sem casa para morar. Os produtos alimentícios ven-didos pela libreta são extremamente baratos. Bem mais baratoque os vendidos em “la libre”, como eles chamam o mercadolivre na ilha. Por exemplo: 115 g. de café pela libreta custa ape-nas 4 pesos nacionais, e pelo mercado livre a mesma quantidadecusta em média 15 pesos. Um pãozinho de 50 gramas pela libretacusta apenas 5 centavos de peso cubano, e na venda libre custa1,00 CUP. O arroz pela libreta custa 3 pesos nacionais a quanti-dade de 3,5 kg. 3 pesos é algo como 0,50 centavos de real.Açúcar, ovos, feijão, macarrão, azeite, mortadela, carne moída,frango, pão, gás e outros produtos básicos constam na lista devendas através da libreta. Todo cubano tem sua libreta e suascotas limitadas. Entre as reclamações do povo cubano hoje éque estas cotas não atingem o necessário para se ter uma mesafarta. Também existe o mecanismo de dietas, onde doentes e ido-

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sos recebem cotas diferenciadas e maiores para adequada ali-mentação, como é o caso do leite em pó e pão. Em Cuba, desdea revolução socialista, é proibido matar vacas, pois as vacas sãode exclusividade para o abastecimento de leite. Quem mata umavaca vai preso e responde a processo por isso. Já se tornou umcostume na ilha este fato. Também o peixe faz parte da libreta.Meu amigo cubano, dono do apartamento onde vivi em Havana,comprava pela libreta 3 peixes de aproximadamente 1,5 kg cadapor apenas 4 pesos nacionais, ou seja, menos de 1 real, algo emtorno de 0,20 centavos de dólar. Porém as cotas das compraspela libreta são baixas e não cobrem a necessidade alimentar dasfamílias cubanas, mesmo somando as cotas de cada membro dafamília, e então eles passam a comprar em la libre, onde os pre-ços são mais caros e geram reclamações. Mesmo assim os cuba-nos comem bem, não passam fome, vão nos restaurantes, cafeteriase pizzarias (estatais e/ou particulares), bebem cervejas, refrige-rantes, sucos, rum, vinho e adoram andar de táxi. Mesmo com osbaixos salários, se compararmos os valores em dólar, euro ou atémesmo o real, existe poder de compra do povo na ilha socialistado caribe. O comércio é bastante agitado e proliferam lojas, su-permercados, tiendas, feiras, cafeterias, pizzarias, oficinas e ou-tros estabelecimentos que movimentam a economia de Cuba.

Os cubanos também pagam impostos, em torno de 10% a20% da renda, em média, além de taxas de licenças para o estadopara obterem direito de comercializar, por exemplo. A economia sedinamizou a partir do Decreto de Lei 305, de 11 de dezembro de2012 que estabeleceu as normas de constituição e funcionamentodas cooperativas não agrícolas. Com os resultados de 2015 publi-cados, de que o índice de desemprego foi de apenas 2,4%, a infla-ção anual de 4,4%, o PIB de 80,66 bilhões de dólares, o PIB percapta de 5.351 dólares por ano, o salário médio de 687,00 pesosnacionais, a dívida pública equivalente a 17% do PIB e uma balan-ça comercial deficitária em aproximadamente 9 bilhões de dólares,ou seja, Cuba compra mais do que vende, o país acelerou sua po-lítica para reverter esta situação. Por isso o grande desafio do go-verno é reduzir esta proporção, produzir mais bens de consumo, se

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industrializar mais e dinamizar sua agropecuária para atingir as metaspropostas no seu planejamento econômico. Estão na pauta dodesenvolvimento econômico a melhor utilização dos portos deMariel, Santiago de Cuba e de outras cidades polo da ilha queestão sendo melhorados para o comércio externo. Na tradicionalFeira Internacional de Havana em dezembro de 2015, em sua 33ªedição, foram apresentados 326 projetos de investimentos emCuba, destacando-se 94 para o setor de turismo, 86 paraprospecção e extração de petróleo e 40 para o setor de alimenta-ção. Esta ExpoCuba teve a participação de mais de 70 países,570 empresas estrangeiras e 364 cubanas. O tema principal damostra foi a promoção das exportações cubanas e assim será nospróximos anos, na tentativa de equilibrar a balança comercial defi-citária há anos. Entre os vários produtos de exportação da ilhaestão o carvão vegetal considerado de alta qualidade pelo merca-do internacional que tem uma demanda não satisfeita, e também aprodução de medicamentos genéricos e biotecnológicos, destacaa diretora geral de Comércio Exterior do Ministério de ComércioExterior, Vivian Herrera, em entrevista ao jornal cubano Opciones,edição de 08 a 14 de novembro de 2015. (www.opciones.cu).

Os bancos em Cuba também financiam a produção, prin-cipalmente a agropecuária, sendo os mais importantesfinanciadores o Banco de Crédito e Comércio (Bandec), que fi-nanciou, em 2015, 53 mil clientes do ramo empresas estatais,unidades básicas de produção cooperativa (UBPC), cooperati-vas de produção agropecuária (CPA) e de créditos e serviços(CCS). Os maiores volumes de créditos estão voltados para aprodução de arroz, feijão, milho, tabaco, cana de açúcar, carne eleite. Além do Bandec, os bancos BPA (Banco Popular de Apoio)e Banmet (Banco Metropolitano) são importantes instrumentosde desenvolvimento econômico de Cuba. Este sistema bancárioarrecada com depósitos da população, possui poupanças, pagajuros, paga salários, recebe contas, faz câmbios de moedas eassim movimenta o sistema econômico cubano.

Após diversificar e flexibilizar a economia, o governo deCuba tem como prioridade diminuir as importações e aumentar as

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exportações, para depois, em um segundo momento, continuar apolítica de aumento salarial para os trabalhadores que recebem emmédia 35 dólares por mês, um dos mais baixos das Américas. Po-rém o custo de vida dos cubanos também é dos mais baixos docontinente e do Caribe, possibilitando que nenhum cubano passefome, nem durma nas ruas e viadutos, e todas famílias possuamcasas ou apartamentos mobiliados, com geladeiras, ventiladores,energia elétrica, água e gás com preços baixíssimos e transportepúblico em ônibus praticamente de graça, o sonhado passe livre noBrasil, pois uma passagem urbana custa apenas 0,40 centavos depeso nacional, em Havana, algo em torno de 0,05 centavos de real.Em Santigo de Cuba e outras cidades a passagem de ônibus urbanocusta 0,20 centavos de peso nacional. Este é o milagre cubano?Salários baixos, porém preços baixos nos produtos e serviços bá-sicos populares para atender a demanda da maioria do povo cuba-no? No entanto há muitos descontentes com a economia cubana,sem dúvidas, porém longe de ser uma maioria. Os cubanos queremcomprar chuveiro elétrico, pintar suas casas, trocar o carro, masdizem que o salário não alcança, só dá para comer e comprar rou-pas baratas nas tiendas populares; mas na maioria das casas debairros pobres eu vi aparelhos de som que valem 400 euros e ani-mam as famílias nas tardes de sábados e domingos. Todo mundotem seu celular que custa em média 100 euros. Os jovens bebemsua cerveja nos fins de tarde e as cafeterias e restaurantes estãosempre cheias. Qual o mistério se a matemática não fecha? Cubanose vira, me disseram muitos que entrevistei.

AMEAÇAS E ALERTA NAECONOMIA CUBANA EM 2016

Em julho de 2016 a principal notícia econômica em Cuba foio não cumprimento da meta de crescimento do PIB previsto em02% no primeiro semestre do ano. Ficou pela metade, cresceu01%. A imprensa noticiou: Mudou o Ministro da Economia:

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“O Conselho de Estado, sob proposta de seu presidente, acordoumudar do cargo de Ministro de Economia e Planejamento ao com-panheiro Marino Murillo Jorge e nomear em seu lugar ao vice-presidente do Conselho de Ministros, Ricardo Cabrisa Ruiz. Estadecisão obedece à necessidade de que o companheiro MarinoMurillo, em sua qualidade de vice-presidente do Governo e Che-fe da Comissão Permanente para Implementação e Desenvolvi-mento, volte seus esforços nas tarefas vinculadas com a atualiza-ção do modelo econômico e social cubano, aprovadas pelo 6º e7º congressos do Partido. O companheiro Ricardo Cabrisas acu-mula uma vasta experiência e preparação, demonstrada no exer-cício de responsabilidade no Governo e o cumprimento de impor-tantes missões, entre elas a recente direção bem-sucedida do pro-cesso de reordenação da dívida externa cubana. Ao efetuar estamudança de desempenho, se reconhece o trabalho desenvolvidopelo companheiro Murillo no cumprimento das funções inerentesao cargo de ministro do MEP.” (Autor: Granma | [email protected]/ julho 14, 2016/ 09:07:06h.)

O Presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros, gene-ral Raúl Castro, se manifestou com este discurso amplamente di-vulgado para as lideranças e população, através de jornais, revis-tas, sites, blogs, e emissoras de rádio e televisão; explicando as-sim o atual momento econômico e as providências planejadas pelogoverno para superar as dificuldades provenientes de fatores ex-ternos:

Perante as dificuldades e ameaças não há espaçopara improvisações e muito menos para o

derrotismo (Discurso do primeiro secretário do Comitê Central do Partido Comu-nista de Cuba e presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros, general-de-Exército Raúl Castro Ruz, na 7ª Sessão Ordinária da Oitava Legislaturada Assembleia Nacional do Poder Popular, no Palácio das Convenções, em8 de julho de 2016, Ano 58º da Revolução)Autor: Raúl Castro Ruz | [email protected] 11, 2016. /09:07:31h.(Tradução da versão estenográfica — Conselho de Estado)

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“ Companheiras e companheiros: Tivemos neste ano um primeiro semestre intenso, com a realiza-ção de importantes eventos nacionais e internacionais; em primeirolugar o 7º Congresso do nosso Partido, o qual adotou um conjunto deacordos de longo alcance no interesse da atualização do modelo eco-nômico e social de Cuba. Desde segunda-feira passada, 4 de julho, reuniram-se as dez co-missões permanentes da Assembleia Nacional, e nesse âmbito os de-putados examinaram as questões mais importantes da vida da nação.Nosso povo recebeu ampla informação sobre estes temas e, portanto,minha intervenção será breve. A reunião do Conselho de Ministros, que nós fizemos em 25 dejunho passado, e a Segunda Reunião Plenária do Comitê Central doPartido, realizada em 7 de julho, tiveram como foco a análise dorelatório do desempenho da economia no primeiro semestre. Em dezembro de 2015 eu expliquei que se registrariam restri-ções financeiras, como resultado da queda das receitas de nos-sas exportações, pela queda dos preços em itens tradicionais, bemcomo danos nas relações de cooperação mutuamente benéficascom vários países, em particular com a República Bolivariana daVenezuela, submetida a uma guerra econômica para enfraquecero apoio popular a sua revolução. No primeiro semestre o PIB cresceu um por cento, metade do quese havia proposto. Este resultado foi condicionado pelo agravamentodas restrições financeiras externas, motivada pelo descumprimentodas receitas pela exportação, juntamente com as limitações enfrenta-das por alguns dos nossos principais parceiros comerciais, devido àqueda dos preços do petróleo. A isto se acrescenta certa contração no fornecimento do combus-tível acordado com a Venezuela, apesar da firme vontade do presi-dente Nicolás Maduro e seu governo para cumpri-los. Obviamente,isso tem causado estresse adicional no funcionamento da economiacubana. Ao mesmo tempo, em meio deste cenário se conseguiu manter ocumprimento dos compromissos assumidos no processo dereestruturação das dívidas com os credores estrangeiros. Devo admi-tir que têm havido alguns atrasos nos pagamentos correntes aos for-necedores. A este respeito, gostaria de agradecer aos nossos parcei-

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ros pela confiança e compreensão da situação transitória em quenos encontramos e ratificar o firme compromisso do governo derecuperar os vencimentos pendentes. Nós não vamos abrir mãodo propósito de continuar restaurando a credibilidade internaci-onal da economia cubana. Também não podemos ignorar os efeitos nocivos do bloqueionorte-americano, que continua vigente. Mais de três meses de-pois dos anúncios do presidente Obama, em 15 de março, de queseria removida a proibição de Cuba para utilizar o dólar em suastransações internacionais, a verdade é que ainda não foi conse-guido fazer pagamentos ou depósitos de dinheiro nessa moeda. Nestas circunstâncias adversas, o Conselho de Ministros ado-tou um conjunto de medidas encaminhadas a resolver a situaçãoe garantir as principais atividades que garantam a vitalidade daeconomia, minimizando os efeitos sobre a população. Como era esperado, a fim de semear desânimo e incertezaentre os cidadãos, começaram a se espalhar especulações e pre-visões de um iminente colapso de nossa economia com o retorno àfase aguda do ‘período especial’ que enfrentamos no início dadécada de 90 do século passado e que nós soubemos superar,graças à capacidade de resistência do povo cubano e sua ilimita-da confiança em Fidel e no Partido. Não negamos que possamocorrer afetações, ainda maiores que no presente, mas estamospreparados e em melhores condições que naquela época parasuperá-las. Perante as dificuldades e ameaças não há espaço para improvi-sações e muito menos para o derrotismo. De uma situação conjunturalcomo a que enfrentamos podemos sair vitoriosos, agindo com grandeenergia, calma, racionalidade e sensibilidade política, continuar re-forçando a coordenação entre o Partido e o governo e, especialmen-te, com muito otimismo e confiança no presente e no futuro da Revo-lução. Devemos reduzir as despesas de todos os tipos que não sejam es-senciais, promover uma cultura de poupança e uso eficiente dos re-cursos disponíveis, concentrando o investimento em atividades quegerem receitas mediante exportações, substituindo importações e apoi-ado o fortalecimento da infraestrutura, assegurando a sustentabilidadeda produção de eletricidade e melhor utilização dos combustíveis eelementos para produzir energia. Trata-se, em síntese, de não parar,

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nem minimamente, os programas que garantam o desenvolvimen-to da nação. Ao mesmo tempo, serão preservados os serviços sociais que aRevolução conquistou para nosso povo e se adotam medidas afim de melhorar gradualmente sua qualidade. Em meio a essas dificuldades foram implementadas várias de-cisões destinadas a aumentar o poder de compra do peso cuba-no, incluindo a diminuição dos preços de um conjunto de produ-tos e artigos de grande demanda para nossa população. Da mesma forma, apesar da seca prolongada que nos asso-la, começamos a ver os frutos de outras ações encaminhadas agarantir uma melhor recolha e distribuição dos produtos agríco-las, o que confirma maior presença destes nos mercados e umaredução pequena, mas progressiva, dos preços de venda. Estas medidas, com efeitos ainda incipientes, foram acolhi-das favoravelmente pela população, pois representam um aliviopara as famílias cubanas. Outras alternativas estão sendo estu-dadas, de acordo com as possibilidades econômicas do país. Por outro lado, garantiu-se o equilíbrio financeiro interno atra-vés de níveis adequados de oferta no mercado de varejo, enquanto seprogride na implementação de sistemas de remuneração ligados aresultados produtivos, o qual nos permitiu evitar as pressões infla-cionárias. Na manhã de hoje, tal como há cinco anos, a Assembleia Nacio-nal do Poder Popular, órgão supremo do poder do Estado, concor-dou em apoiar no seu espírito e letra, a atualização adotada pelo 7ºCongresso, das Diretrizes da Política Econômica e Social do Partidoe da Revolução, para o período 2016-2021. Este apoio do nosso Par-lamento implica o desenvolvimento e aprovação de normas legaisexigidas para continuar aperfeiçoando a base jurídica e institucional,no interesse das mudanças econômicas no país. A grande maioriados deputados já tinha participado das consultas regionais sobre estedocumento, que foram desenvolvidas antes do 7º Congresso; outroso fizeram, também, como delegados ou convidados ao congresso doPartido. Ao mesmo tempo, em 15 de junho, teve lugar o início do processode debate democrático por parte dos militantes do Partido e da Uniãodos Jovens Comunistas, representantes das organizações de massa egrandes setores da sociedade, dos documentos “Conceituação do

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modelo econômico e social cubano de desenvolvimento socialis-ta” e o “Plano nacional de desenvolvimento econômico e socialaté o ano 2030: Proposta de visão da nação. Eixos e setoresestratégicos”. Até segunda-feira passada tinha se efetuado maisde 7.200 reuniões, com 238.000 participantes, os que apresen-taram milhares de propostas, todas concebidos para enriquecere aperfeiçoar estes documentos. Como é sabido, esperamos continuar este debate nos próxi-mos meses, de modo que o Plenário do Comitê Central do Parti-do, de acordo com a autoridade concedida pelo 7º Congresso,aprove finalmente os dois documentos programáticos, incluindoas alterações resultantes desse processo. É útil reafirmar que vamos continuar atualizando nosso mo-delo econômico, segundo o ritmo que definamos de forma sobe-rana, forjando o consenso e unidade dos cubanos na constru-ção do socialismo. A rapidez das mudanças continuará a sercondicionada pela nossa capacidade de fazer as coisas direito,o que nem sempre foi assim. Isso requer assegurar a preparaçãoprévia, a elaboração de documentos normativos, a formação edomínio do seu conteúdo até o escalão onde eles sejam aplica-dos, o monitoramento e condução da implementação, o controlesistemático e a retificação oportuna perante quaisquer desvios.(...)”Informações relacionadas:* Deputados cubanos aprovam atualização das Diretrizes. Leiaem: http://pt.granma.cu/cuba/2016-07-11/deputados-cubanos-aprovam-atualizacao-das-diretrizes

A queda de arrecadação colocou os economistas cubanosem alerta. A planificação da economia começou a ser alterada eos gastos não essenciais foram congelados, adiados, para quesejam mantidos os investimentos nas prioridades: saúde e edu-cação gratuita para toda a população. Os gargalos encontradosestão sendo combatidos, podem haver racionamentos de ener-gia e combustíveis, até alguns apagões em horários mais críti-cos. Entrevisto diariamente meus amigos cubanos pela internetque me relatam das dificuldades. Tornou-se um hábito meu.Em agosto de 2016 tive relatos de normalidade. Poucos apagões,

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preço do combustível mantido, alimentos e bens com preços con-gelados, pouca alteração no cenário econômico, porém mais con-trole nos gastos. A ordem é apertar os cintos. Prevenção.

A oposição ao modelo revolucionário de governança dailha, que ataca através da internet com blogs, sites, emissoras onlinede rádio e TV, tenta pregar a ideia de um novo período especial,como nos anos 90 do século passado, quando acabou a URSS eCuba entrou em crise econômica que exigiu muita criatividade parasuperar os problemas de falta de produtos e dinheiro. Hoje os alar-mistas virtuais dizem que os problemas econômicos da Venezuela eoutros parceiros comerciais vão causar uma crise em Cuba. Poréma maioria da população cubana fala que se vierem mais dificulda-des estas serão mais uma vez superadas, como sempre foram naHistória da ilha. O governo segue seu trabalho de fazer a gestão doque foi aprovado no 7º Congresso do Partido Comunista e pelaAssembleia Nacional do Poder Popular, o parlamento cubano. Ahistória continuará seu movimento, nada é definitivo, temos queacompanhar diariamente o comportamento das cadeias produti-vas, os resultados comerciais e a manifestação da sociedade. Des-contentes sempre existirão, porém a hegemonia é uma conquistapermanente que não tem fim. Ao concluir este capítulo lembrei-meda frase que li num outdoor em Havana que diz o seguinte: “Uni-dos, vigilantes y combativos.” Este é o espírito do povo cubano.

Supermercados estão abastecidos comprodutos industrializados na ilha e tambémimportados

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A SAÚDE DE REFERÊNCIAMUNDIAL

Escrever um capítulo sobre a saúde em Cuba é complexo.Existe toda uma expectativa com relação ao atendimento gratuitopara os cubanos, o atendimento pago para os estrangeiros, a estru-tura hospitalar da ilha, a formação dos profissionais, os equipamen-tos e laboratórios, a exportação do serviço médico para dezenas depaíses, etc. Não pretendo, neste momento, apresentar um diagnós-tico minucioso desta área prioritária da sociedade socialista cubana,que, para tanto, deve ser abordado com muitos recortes. No entan-to, mesmo apresentando uma abordagem mais geral da situaçãoreal e atual do sistema de saúde de Cuba, demonstro alguns fatosreais da pesquisa de campo que realizei nos meses de novembro,

Hospitais em Havana

Hospital em Santiago de Cuba

Hospitais 100% de graçapara o povo cubano

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dezembro e janeiro na Ilha. Apresento dados pesquisados em vá-rias fontes institucionais e relatos do povo cubano através dos de-poimentos que colhi no dia a dia, nas residências, nos hospitais,nos ônibus, em vários lugares da ilha caribenha.

Começamos pela apresentação de dados estatísticos arespeito da saúde em Cuba, muitos deles conferidos e confir-mados por reconhecidas organizações internacionais, como aUNICEF/ONU, Organização Mundial da Saúde, OrganizaçãoPanamericana de Saúde e várias publicações especializadas emmedicina. Números como a da mortalidade infantil, em torno de4,2 por mil habitantes, são melhores que o do poderoso EUA eestá entre os mais baixos do mundo. (Antes da Revolução So-cialista, em 1959, a mortalidade infantil atingia a faixa de 60 pormil.) A existência de um alto índice de pessoas com mais de 100anos de idade, atualmente superando o Japão em proporçãopopulacional, é um demonstrativo dos bons resultados do siste-ma de saúde em Cuba. Em 2025, conforme projeções de orga-nismos mundiais de saúde, Cuba terá a maior proporção depessoas com mais de 60 anos da América Latina. Atualmente aexpectativa de vida em Cuba é de 79 anos para homens e 81para mulheres, no entanto conheci nos bairros de Havana eSantiago muitas pessoas com idade de 85, 90, 96 anos, e emboas condições de saúde. Os números mais recentes, de 2015,mostram que existem na ilha em torno de 1.550 pessoas cente-nárias. Vivi 2 meses no apartamento de um amigo no bairroAltaHabana, que tem 85 anos de idade. Participei da festa 85deste amigo. O pai dele, um poeta da linda cidade de Cienfuegos,morreu com 107 anos, em outubro de 2015. Também morei 1mês na casa de uma senhora com 74 anos de idade. Apesar deser aposentada ela trabalha na casa de um professor, historia-dor e escritor que tem 95 anos de idade. Ele é autor de várioslivros e está escrevendo uma nova obra. O próprio líder máxi-mo da Revolução, Fidel Castro, aposentado da governança,completou com muita festa seus 90 anos em 13 de agosto de2016. O povo e as instituições de Cuba comemoraram muitoeste dia, em gratidão ao revolucionário que fez da saúde cuba-

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na um modelo para o mundo.Conforme pesquisa realizada por organismos interna-

cionais de saúde, Cuba aparece em 4º lugar no ranking de pa-íses que mais investem seu PIB em saúde. A pesquisa foi ela-borada a partir de dados obtidos no site do Banco Mundial -THE WORLD BANK. O gasto com saúde pública engloba asdespesas correntes e de capital previstas no orçamento dogoverno (nas esferas federal, estadual e municipal), os emprés-timos e subvenções externos (incluindo doações de agênciasinternacionais e organizações não governamentais) e os fundosde previdência social (ou compulsórias). Confira abaixo esteranking mundial e os respectivos percentuais do PIB investi-dos em saúde da população. (http://www.deepask.com/goes?page=Veja-ranking-de-paises-pelo-gasto-publico-na-saude-(em--porcento-do-PIB).

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RECONHECIMENTOINTERNACIONAL

Durante sua visita a Havana, Margaret Chan, diretora-geralda Organização Mundial da Saúde, elogiou o sistema de saúdecubano e se declarou impressionada com as conquistas nessa área.“Cuba é único país que eu vi que tem um sistema de saúde estrei-tamente relacionado com a pesquisa e o desenvolvimento em umcircuito fechado. Essa é a direção certa porque a saúde humananão pode melhorar se não há inovação”, enfatizou. Destacou “osesforços da administração desse país em colocar a saúde comopilar essencial do desenvolvimento”. Cuba baseia seu sistema namedicina preventiva e os resultados são excepcionais. SegundoMargaret Chan, o mundo deve seguir o exemplo da ilha nesse cam-po e substituir o modelo curativo, pouco eficiente e custoso, porum sistema baseado na prevenção. “Desejamos ardentemente quetodos os habitantes do planeta possam ter acesso a serviços mé-dicos de qualidade, como em Cuba”, destacou a diretora-geral daOMS. Cuba se comprometeu a investir de forma maciça na medi-cina. Universalizou o acesso ao ensino superior e estabeleceu aeducação gratuita para todas as especialidades. Assim, existemhoje 24 faculdades de medicina (contra apenas uma em 1959) emtreze das quinze províncias cubanas, e o país dispõe de mais de7,4 mil professores de medicina. Desde 1959, se formaram cercade 180 mil médicos em Cuba. Com uma relação de 01 médicopara 148 habitantes, segundo a Organização Mundial da Saúde,Cuba é a nação mais bem dotada neste setor. O país dispõe aindade 161 hospitais e 452 clínicas. No ano universitário 2011-2012,o número total de graduados em Ciências Médicas, que inclui 21perfis profissionais (médicos, dentistas, enfermeiros, psicólogos,técnicos da saúde, etc.), sobe para 32.171, entre cubanos e es-trangeiros. Além das 24 faculdades de medicina, Cuba possui a25ª, ou seja, a Escola Latinoamericana de Medicina, que já rece-beu alunos de 116 países, principalmente da América Central, doSul e Caribe, além de países africanos e asiáticos. Até alunos dos

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EUA se matriculam nesta escola de medicina destinada a formarjovens pobres para atenderem os pobres de suas pátrias. O tem-po do curso de medicina é de 6 anos, incluindo 1 ano de interna-to, e as especializações variam entre 3 e 4 anos. (Salim Lamrani,Paris -29/07/2014, in http://operamundi.uol.com.br- 04 de Julhode 2016).

SOLIDARIEDADE E NEGÓCIO

Além de se preocupar com a saúde de seu povo, os cuba-nos são solidários com outros povos, enviando brigadas desaúde formada por médicos, enfermeiros, técnicos de saúde,para mais de 102 países da África, América do Sul, AméricaCentral, Caribe, Ásia, Oceania, desde 1962. Atualmente emtorno de 60 mil cubanos atuam em mais de 70 países com suasbrigadas de saúde, levando atendimento médico para milhõesde pessoas em nações pobres do mundo, como Haiti, Angola,Bolívia, Equador, Paraguai e outros. Também países de gran-de potencial econômico, como Brasil e Venezuela, contratammédicos cubanos para atenderem nas regiões mais precárias edistantes de seus territórios. Atualmente, no Brasil, são maisde 11 mil médicos trabalhando para a população de baixa ren-da nos confins da Amazônia, nos sertões nordestinos, nas pe-riferias das grandes, médias e pequenas cidades. A remunera-ção deste serviço no mundo todo gera uma renda em torno de5 bilhões de dólares por ano para o estado socialista cubano,algo como 7% do PIB da ilha. Esta receita ajuda no financia-mento da saúde em Cuba que é gratuita para todos cidadãoscubanos em qualquer hospital ou clínica. Além deste serviçoprogramado, os médicos e enfermeiros cubanos participam ati-vamente e constantemente de missões em países que sofremcatástrofes como terremotos, maremotos, vulcões e furacões. Com o alto desenvolvimento da pesquisa, Cuba tem atraído pa-cientes do mundo inteiro para realizações de tratamentos con-tra o câncer e também para cirurgias corretivas e estéticas quecustam bem menos que em países europeus e nos EUA. Cuba

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desenvolveu várias vacinas que exporta para vários países, entreelas a vacina contra a poliomielite e recentemente a vacina con-tra o câncer de pulmão. Anualmente milhares de estrangeirosvão fazer tratamentos de saúde em Cuba e pagam por isso. Asaúde é de graça somente para os cubanos, pois estrangeiros pa-gam por consultas, tratamentos e intervenções cirúrgicas, porémbem menos que nos países capitalistas. Na minha experiência,quando adoeci do intestino e fui parar na Clínica InternacionalCira Garcia, em Havana, paguei 30 CUCs pela consulta, algoem torno de 117,00 reais. Com o exame e duas medicações, aconta ficou em 39,25 CUCs, aproximadamente 155 reais. Maspara ter atendimento médico e hospitalar gratuito fiz um segurode saúde em Havana que me custou 2,50 CUCs por dia, em tor-no de 9 reais diários. Cobertura total, inclusive cirurgias, emer-gências e até o translado do corpo, se eu morresse, para PortoAlegre. Viajei tranquilo pela ilha, pois em cada cidadezinha ouvila que chegava, lá encontrava hospital e clínicas e muitos mé-dicos. Uma das reclamações atuais que ouvi em Cuba, com rela-ção à saúde, foi que com a ida de milhares de médicos paratrabalhar no exterior, o número de médicos da família, que aten-dem nas residências, diminuiu. Antes este atendimento era bemmelhor e mais permanente, me falou uma senhora de 78 anosque vive em Altahabana. Fui visitar hospitais, entrei, fotografeie filmei os corredores, as instalações e quartos. Nada luxuosos,porém bem limpos e equipados; Pelo menos os que visitei emHavana e Santiago. No entanto há quem diga que muitos hospi-tais cubanos encontram-se decadentes, sucateados e deteriora-dos. Não há uma unanimidade, mas em torno de 90% do povocubano se orgulha e gosta do sistema de saúde de seu país,gratuito e universal para todos, uma conquista da revolução so-cialista. “Antes”, me disse um ancião de 85 anos que viveu suajuventude no tempo do capitalismo, “era muito difícil e cara amedicina, principalmente nas pequenas cidades e nas áreas ru-rais. Conseguir um médico para um parto era uma missão quaseimpossível”, disse-me, e me contou várias histórias que vivenciou

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com seus familiares nos anos 40 e 50 do século XX. “Com arevolução a coisa mudou”, repetia, fumando um tabaco e be-bendo um run, nesta idade. O dia em que estava com uma feridaincurável na orelha, foi no hospital e já lhe fizeram umamicrocirurgia e biópsia; quando descobriu um tumor no reto,em poucas semanas marcaram a consulta com anestesista e acirurgia; o mesmo aconteceu quando teve que tirar uma hérniaou quando fez cirurgia de cataratas nos olhos. E tudo gratuito.Cubano não sabe o que é pagar médico ou hospital.

MEDICINA PARTICULAR PROIBIDA

Em Cuba não existem clínicas, hospitais, consultórios e far-mácias particulares. Todos profissionais de saúde trabalham parao estado e atendem gratuitamente seus pacientes. É proibidomontar consultório particular, tanto médicos como dentistas.Muitos medicamentos são distribuídos gratuitamente nas policlí-nicas e hospitais após as consultas e nas farmácias estatais o va-lor dos medicamentos é extremamente barato. “Isto para prote-ger o povo cubano dos médicos mercenários e da transformaçãoda saúde pública em um balcão de negócios na ilha”, salientou umcubano. Porém há quem diga, mas eu não constatei nenhum caso,ou não me permitiram ter acesso a estes casos, que alguns médi-cos se arriscam a atender pacientes em casa e cobrar algo. Épossível, afinal, repito, não existe sociedade 100% perfeita. Oque sei é que a realidade que vi em Cuba é de um povo contentecom seu sistema de saúde. Existem, algumas vezes, desentendi-mentos diante do nervosismo da doença na família, entre familia-res de pacientes e profissionais, mas nada grave que gere tragé-dias. Meu velho amigo cubano sentiu-se mal e procurou um hos-pital; foi atendido imediatamente, fizeram na mesma noite um exa-me nele, uma tomografia, detectaram um tumor e já marcaramconsulta com especialista, anestesista, sendo que em poucas se-manas já estava realizando um procedimento cirúrgico. Totalmentegratuito. Colhi muitos depoimentos de cubanos sobre a saúde,entre eles, este que publico agora, de uma profissional que se

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graduou em enfermagem na universidade de Havana e tem expe-riência de 26 anos de trabalho. Em 2015 e 2016 trabalhou noHaiti, em mais uma missão médica para ajudar os países pobresdo Caribe. Ela resumiu assim a situação da saúde em seu país:

"Tu tema referente a la salud cubana, ya que es realmentelo que se vive en Cuba. La educación y la salud son los dosrenglones priorizados en mi país, primeramente porque sin saludno puede ser posible la educación y sin educación y salud no

semanas de gestación, su tratamiento vitamínicos, por supuestotodo gratuito como corresponde a nuestro sistema de salud y estose realiza para preventivamente garantizar la salud de la gestan-tes, posible puerpera y su recién nacido y toda su trayectoria,transicional, escolar, adolescentes, adultos y adultos mayores yes por ese seguimiento antes mencionado que se garantiza lacalidad de vida del último es decir el adulto mayor y eso nos faci-lita el bienestar y salud del pueblo cubano.

En sentido general el pueblo de Cuba tiene conocimientode como evitar y tratar enfermedades, en el caso de las crónicasno transmisibles como la hipertensión arterial, diabetes mellitus,asma bronquial, ya que en las consultas médicas se le orientacomo llevar una vida sana y saludable mediante el ejercicio físicoy la dieta, además del tratamiento medicamentoso si lo requiere,en estos casos se le programan las consultas en número de 2 y 3consultas anuales dependiendo del grado de la patología. En lasI.T.S. o infecciones de transmisión sexual al que la padece se leadministra su tratamiento gratuito se le repiten los exámenes y sele orienta la importancia de la protección y uso del condón opreservativos, en el caso del V.I.H. es mucho más controlado, se legarantiza la dieta reforzada, sus vitaminas y tratamiento retroviralque es muy costoso en cualquier país del mundo y en Cuba se le

pueden ser posible los demás sectores. Por eso en atención prima-ria de salud se atiende a la gestantes realizando una captaciónprecoz antes de las 12 semanas de gestación que incluye exámenfísico general, análisis de laboratorio, pruebas diagnósticas, estose realiza todos los meses en los 2 primeros trimestres y en el tercertrimestre se realiza quincenal o semanal dependiendo del riesgo ono que presente la gestante, también se le administra la vacunacontra el t?tanos, su respectiva dieta reforzada a partir de las 14

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garantiza de forma gratuita. Todos los enfermos son muy biencontrolados y la población sana también se controla mediante lasvisitas de terrenos y consultas que se le programan 1 vez al año,independientemente de que el médico y la enfermera siempre estánen interrelación con la comunidad como una gran familia. Poreso en Atención primaria de salud llevan bien puesto el nombre "consultorios médicos de la familia".Con respecto a las epidemiasque puedan surgir o fenómenos naturales el pueblo está prepara-do, pero siempre esperando por las orientaciones del Ministro desalud, los puestos de mandos creados y el Ministerio de defensacivil que nos unimos todos para enfrentar cualquier embate y todoes posible por la disciplina que caracteriza al pueblo de Cuba."

As notícias buenas são constantes no que se refere à saúdeem Cuba, que realmente é reconhecida como referência mundial.Entre tantas, faço exemplo algumas, como estas recentementepublicadas na mídia internacional:

Científicos cubanos descubren molécula que podríaimpactar en tratamiento de la isquemia cerebral

Investigadores cubanos encontraron en estudios preclínicos evi-dencias farmacológicas del efecto neuroprotector de unanueva molécula denominada JM-20, lo cual abre promissóriaspotencialidades en el tratamiento de la isquemia cerebral, un graveproblema de salud mundial. Este aporte sienta las basesfundamentales para el paso a la siguiente fase de ensayos clínicosen humanos. De culminar estos con éxito y comprobarse el benefi-cio antes mencionado, podría disponerse por primera vez en elmercado de un producto con acción terapeútica efectiva contraesa dolencia y sus secuelas. La molécula y sus derivados estánprotegidos por patente ciento por ciento nacional. La relación deentidades científicas participantes en el estudio incluye alLaboratorio de Neuroprotección del Centro de Investigación yDesarrollo de Medicamentos (Cidem), el Centro de Estudios paralas Investigaciones y Evaluaciones Biológicas, Instituto de Farmaciay Alimentos de la Universidad de La Habana, Laboratorio de SíntesisOrgánica de la Facultad de Química de la propia UH, el departa-

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mento de Bioquímica del Instituto de Ciencias Básicas de la Salud,de la Universidad Federal de Río Grande del Sur, Brasil y elLaboratorio de Histología del Cidem. Merecedor de uno de losPremios Nacionales de la Academia de Ciencias de Cuba 2015 enel acápite de Ciencias Biomédicas, el trabajo también recibió elPremio Especial del Citma al resultado de mayor relevancia cientí-fica. (4 julho- 2016. Por Orfilio Peláez (Tomado do Granma)

Cuba anuncia a 1ª vacina contra câncer de pulmão

Registro permite usar a vacina maciçamente no país, bem comonos mil pacientes aos quais foi administrada durante os testes. Cuba registrou a primeira vacina terapêutica contra o câncer depulmão, após testar sua eficácia em mais de mil pacientes, sem quetenham ocorrido efeitos colaterais. A informação foi dada nesta se-gunda-feira (10/1) pelas autoridades científicas do país. “Foram maisde 15 anos de pesquisas”, disse Gisela González, chefe do projeto davacina denominada Cimavax-EFG, cujo objetivo é transformar o cân-cer de pulmão avançado em uma doença crônica controlável. O re-gistro permite usar a vacina maciçamente no país, bem como nos milpacientes aos quais foi administrada durante os testes. “Atualmenteseu registro avança em outras nações”, disse a especialista. “Umavez que o paciente termina o tratamento com radioterapia ouquimioterapia e é considerado um paciente terminal sem alternativaterapêutica, nesse momento é aplicada a vacina, que ajuda a contro-lar o crescimento do tumor sem toxicidade associada, e pode ser usa-da como um tratamento crônico que aumenta a expectativa e a quali-dade de vida do paciente”, ressaltou. Segundo ela, a vacina está ba-seada em uma proteína que todos têm: o fator de crescimentoepidérmico. “Igualmente se avalia a forma de empregar o princípiodessa vacina em outros tumores sólidos (em próstata, útero e mama),que podem ser alvo desse tipo de terapia. Existem resultados impor-tantes, mas é preciso esperar.” (Fonte: O Globo)

Cuba é o 1° país a eliminar HIV de mãe para filho

Washington - Cuba se tornou nesta terça-feira o primeiropaís do mundo a receber a validação da Organização Mundialda Saúde (OMS) por ter eliminado a transmissão do vírus

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da Aids (HIV) e da sífilis de mãe para filho. O anúncio foi feitonesta terça-feira pelo ministro da Saúde Pública de Cuba,Roberto Morales Ojeda, em entrevista coletiva na sede da Orga-nização Pan-Americana da Saúde (OPS/OMS) em Washington."Tudo foi possível por nosso sistema social e pela vontade polí-tica desde o mais alto nível. Isso permitiu que um país com pou-cos recursos tenha feito estas conquistas", disse o ministro cu-bano. Ojeda atribuiu este marco ao sistema de saúde estabeleci-do após o triunfo da revolução cubana há mais de meio século,um sistema que definiu como "gratuito, acessível, regionalizadoe integral". "Estamos na total disposição de ajudar outros paí-ses", assegurou o titular da Saúde cubana, para comentar quejá recebeu solicitações, por exemplo, de países africanos. Porsua vez, a diretora da OPS, Carissa Etienne, disse que todos ospaíses da região se comprometeram em 2010 a conquistar o queCuba alcançou hoje. "Imagino que o novo tempo político entreCuba e Estados Unidos só pode ajudar a alcançar esta conquis-ta, mas Cuba também trabalhou com outros membros da organi-zação para aumentar o acesso à saúde", afirmou Etienne. Emmaio de 2014, foi criado um comitê regional de validação depaíses sobre a eliminação da transmissão do vírus da Aids (HIV)e da sífilis de mãe para filho. Um grupo de 14 especialistas inde-pendentes de diferentes áreas do continente é encarregado deavaliar quais países podem ser recomendados para a validaçãoglobal neste tema. Cuba foi o primeiro país em solicitar esta ava-liação, um processo que já foi iniciado por Barbados, Jamaica,Anguila e Ilhas Virgens. Também foi estabelecido um primeirocontato com Guatemala, El Salvador e Chile.

(Fonte:http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/cuba-e-o-1-pais-a-eliminar-hiv-de-mae-para-filho)

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A EDUCAÇÃO DEPRIMEIRO MUNDO

O sistema de Educação de Cuba é totalmente gratuito para oscubanos desde a pré-escola até o doutorado. Até 1959 existiammuitas escolas particulares, em especial nas grandes cidades da ilha,isso dificultava o acesso aos estudantes de pais pobres, a grandemaioria dos cubanos, e uma pequena parcela da sociedade tinhaacesso aos estudos. Os camponeses eram os que enfrentavam mai-ores dificuldades pois as escolas públicas em áreas rurais eram pou-cas. Quem nascia no campo não passaria nunca de ser um humilde eanalfabeto cortador de cana para o resto da vida. Depois do triunfoda revolução socialista este panorama mudou muito. Foramconstruídas centenas de escolas públicas em todos bairros das cida-des, nos mais distantes lugares do interior da ilha, muitas escolasagrárias e técnicas, faculdades de enfermagem e medicina, foi reali-zada uma campanha nacional para acabar com o analfabetismo etodas grandes escolas particulares, católicas ou não, passaram parao controle do estado, foi proibida a educação privada pelo novogoverno. Fidel Castro, em entrevista concedida ao brasileiro Frei Beto,publicada em seu livro “Fidel e a Religião”, em 1985, mostra dadosonde afirma que em 1959, ano do triunfo da revolução socialista, se

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graduaram em Cuba 2 mil universitários, sendo que em 1984 foram28 mil graduados. Também afirma que em 1985 já existiam 600 es-colas rurais com aproximadamente 300 mil alunos, mais de 1 milhãode estudantes nas escolas primárias e aproximadamente 1 milhão deestudantes no ensino de nível secundário. O grande triunfo do governo revolucionário foi acabar com oanalfabetismo na ilha. Foi desencadeada uma grande campanha naci-onal de alfabetização, envolvendo professores, estudantes e voluntá-rios que trabalharam em todas as cidades e nas regiões rurais, nasserras e praias, para ensinar o povo pobre a ler, a escrever e a desco-brir o mundo através das páginas de livros, jornais e revistas. Existemem Cuba museus em homenagem a esta campanha que mobilizoutoda a sociedade cubana que hoje se orgulha deste feito. Milhões depessoas de todas as idades saíram do obscurantismo da ignorância epassaram a entender melhor o mundo e suas relações históricas. Osdados mostram que atualmente 75% dos cubanos possuem cursosuperior.

Aqui publico dados gerais oficiais sobre a educação em Cuba:

“O sistema nacional de educação da República de Cuba é con-cebido como um conjunto de subsistemas organicamente articula-da em todos os níveis e tipos de educação. Os subsistemas que compõem a estrutura do sistema nacionalde educação são as seguintes: Educação Geral Primária e Especial:até o 6º grau. Educação Geral Secundária e Pré-universitária: até o12º grau ou formação técnica e laboral com nível equivalente. Educa-ção Universitária. Educação de Pós-graduação. O Ministério de Educação é o organismo encarregado de di-rigir e executar a política do Estado nos primeiros níveis, en-quanto o Ministério de Educação Superior sobre o terceiro e quar-to níveis. Isto é, dirigir, orientar, controlar e executar a políticaem matéria de ensino universitário, tanto na preparação de pro-fissionais, como na educação pós-graduada, garantindo que sedê a formação contínua aos graduados, independentemente doramo ou especialidade do estudo.

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O ano escolar está organizado em todas as escolas no país, apartir de 10 de Setembro e até a primeira semana de Julho, inclu-indo os períodos de aulas, exames e avaliações periódicas. As fériassão aproximadamente um mês e três semanas. Durante este perío-do, os professores gozam um mês de férias, dedicando o restantetempo à preparação para o próximo curso. Faz parte do currículo a educação informal porquecomplementa, reforça e enriquece o ensino escolar através de ati-vidades artísticas e culturais, desporto, entretenimento, patriótica,a formação profissional e a orientação profissional. Os conhecimentos, aptidões e competências dos monitores são fre-quentemente atualizados. A escola, como um centro de trabalhoeducativo, organiza estas atividades, criando grupos de reflexão istotambém acontece fora do contexto escolar, ou seja, nas diferentes ins-tituições da comunidade e em horários extracurriculares. Este siste-ma é assistido por agências estatais, organizações sociais, culturais,desportivas e de estudantes, e tem sempre como objetivo as necessi-dades e potencialidades dos estudantes e da comunidade. A educação em Cuba é democrática, estatal e gratuita. A escolatem uma articulação importantíssima na sociedade, assim como a fa-mília, sendo o principal objetivo da educação a formação dos jovens,quer profissional, quer pessoal.”

(Fonte:https://educuba.wordpress.com/sintese)

Para não ficarmos apenas com minhas anotações e pesqui-sas, passamos a algumas observações gerais, escritas e divulgadaspor outros autores e pesquisadores do tema educação em Cuba:

“Christopher Marquis, do jornal norteamericano New York Ti-mes, assinalou: “os estudantes cubanos, em todas as matérias exami-nadas, obtiveram qualificações muito superiores à media, de maneiraconsistente, em todas as escolas”. O estudo concluiu que “os alunoscubanos quase duplicam os resultados dos alunos que mais se aproxi-mam deles”. O jornalista nova-iorquino apontou que os resultados“foram tão dramaticamente superiores que os pesquisadores da Unescoregressaram a Cuba e examinaram de novo os estudantes, obtendo osmesmos resultados de novo”. Jeff Puryear co-diretor da Associaçãopara a Revitalização Educativa das Américas também se surpreen-deu: “mesmo os resultados mais baixos dos cubanos alcançaram um

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índice superior à média da região, e aplicando nossos própriospadrões!” Seguramente isso se deve a um milagre, pois Cuba éevidentemente um país com escassos recursos e fortes problemaseconômicos, devido ao constante bloqueio e dificuldades diver-sas. Ninguém poderia comparar com a capacidade econômica doMéxico, do Brasil, da Argentina e inclusive do Chile e, no entanto,é inegável que a educação em Cuba supera notavelmente mesmo adas potências da região. Cuba teve 70% dos seus estudantes comqualificações de mais 350 pontos de um total de 500, enquanto amédia na Argentina, no Uruguai e No Chile foi de 300 pontos.Brasil e México acusaram uma média instável de aproximadamen-te 250 pontos. Só um milagre da deusa Iemanjá poderia explicaresses resultados. O milagre teve início em 1959 quando a revolução triunfante dedi-cou-se a realizar todo tipo de projetos, cada um mais criativo e signifi-cativo. O mais conhecido, o da alfabetização, conseguiu em um anodeclarar Cuba como o primeiro território livre de analfabetismo naAmérica Latina. Menos conhecidos são os programas para mulherescamponesas, trabalhadoras, prostitutas; para crianças camponesas,órfãs ou “marginais”; projetos para formar contingentes de professo-res, e poderíamos acrescentar um longo etcetera… Desde aqueles anos,o primeiro mandato foi levar todos os recursos disponíveis para asregiões devastadas pela pobreza no campo e na cidade. Este simplesprincípio marca uma enorme diferença com nosso próprio sistema noqual se impôs implacavelmente a máxima neoliberal de dar mais aomelhor “rankeado”, de investir somente naquilo que dá lucro. (...) (...) O milagre é que Cuba investe em educação 12.9% do PIB,no bojo de um investimento social de 30%. O México, a duraspenas, destina 5% para a educação com altos e baixos pronunci-ados. Islândia e os países nórdicos se aproximam de 8%. Em ja-neiro de 1959, Cuba tinha 3 universidades públicas com 15.000alunos e mil professores, e hoje conta com 67 instituições de altosestudos com 261.000 matriculados e 77 mil professores; 35.000bolsistas latino-americanos passaram por suas classes, além deum novo programa de municipalização da educação superior quejá construiu mais de 300 sedes universitárias municipais. Na ver-dade, Cuba é toda uma grande escola. O estado é o responsável integral da educação, como na Finlândiae na França. Há uma grande valorização social da profissão docenteem todos os seus níveis e os salários dos professores equivalem aos de

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outros profissionais como médicos e físicos. As Universidades Pedagó-gicas têm um alto grau de formação e de exigência. Nunca há mais de18 crianças por sala e o tempo dedicado a cada criança pra elaborare problematizar respostas individuais duplica o da região. Estes são alguns dos fatores recolhidos por Martin Carnoy,professor da Universidade Stanford, em seu excelente livro Laventaja académica de Cuba, ¿Por qué los estudiantes cubanosrinden más?. Não necessitamos acudir a modelos tão distantescomo Finlândia ou qualquer outro país altamente desenvolvido; aexplicação está aqui mesmo, muito perto, e não se trata de ummilagre educativo, mas sim de una política congruente com a dig-nidade de todo ser humano. Fonte:(http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/12/educacao-cubana-dados-que-impressionam.html)

Não sou eu quem afirma, mas sim as publicações que são muitase não há como contestar, são dados da ONU e suas organizaçõespara a Educação. Leia mais esta:

Da France Presse:

“Na América Latina e no Caribe, apenas Cuba atingiu os seisobjetivos de Educação no período 2000-2015, informou nestaquinta-feira (9) a Organização das Nações Unidas para Educa-ção, Ciência e Cultura. (Unesco) Quinze anos após o lançamento, em Dakar, da iniciativa "Educa-ção para Todos", a missão fixada pela Unesco não foi cumprida, ape-sar de alguns progressos. "Apenas um a cada três países do mundo atingiu a totalidade dosobjetivos mensuráveis da Educação para Todos (EPT) estabelecidosno ano 2000", destaca o relatório de acompanhamento do programa,assinalando que "na América Latina e no Caribe, Cuba foi a únicanação a cumprir estes objetivos". O Brasil cumpriu apenas duas deseis metas mundiais para a educação, de acordo com a organização.”

Visitei algumas escolas primárias e secundárias, entrevistei pro-fessores, visitei a Universidade de Havana, entrevistei uma jovemprofessora da Universidade do Oriente, de Santiago de Cuba,

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conversei com alunos e percebi que em todos os bairros existemescolas. Caminhando pelas ruas via em todos os lados estudantescom seus uniformes. Nos ônibus, nas cafeterias, nas ruas, vi estu-dantes, muitos, uma prova do quanto se dá valor para educaçãoneste país. Todo cubano conhece a história de sua pátria e dadosdos acontecimentos e as datas dos mesmos. Devido a este altonível educacional os cubanos conseguiram superar dificuldadeseconômicas e desenvolveram uma medicina eficiente, bem comoa engenharia e a cultura em geral. O paradigma da educaçãocubana é formar um cidadão voltado para o bem da coletividade,um cidadão solidário, justo e íntegro, que busque em sociedade obem comum, e não apenas o bem individualista e a competição,conforme as práticas educacionais liberais capitalistas. Desde pe-queno o cubanito aprende o ideal socialista, conhece o que eraCuba antes da revolução e depois, aprende a dar valor aos prin-cípios e regras da sociedade socialista em constante desenvolvi-mento. Porém existe uma vertente de estudantes, em especial osadolescentes, que contestam o comunismo da ilha e sonham emvoar para outros países em busca de trabalho melhor remunera-do, mesmo sabendo que vão encontrar custo de vida alto, alugu-éis caros, educação e saúde pagas e violência desenfreada. Mui-tos vão embora da ilha, mas muitos voltam decepcionados com oque encontram nas sociedades liberais e suas desigualdades pro-fundas. Visitei e pesquisei na Universidade de Havana, instalada emantigos e pomposos prédios no bairro Vedado, proximidades doMalecón. É uma das mais antigas universidades das Américas, foifundada em 1778, completando em 2016 seus 238 anos. Nesteespaço aconteceram momentos marcantes da História de Cubaonde os estudantes sempre foram protagonistas das mudançaspolíticas. Os cursos universitários, desde a graduação, licenciatu-ra, até mestrado, doutorado e pós-doutorado, são 100% gratui-tos para os cubanos. Os estudantes estrangeiros pagam para es-tudar em Cuba, ou de seus próprios recursos ou de seus gover-nos. Fui me matricular no curso de mestrado em Ciencias Socialesy Humanísticas, com duração de 1 ano e meio. Estavam abrindo

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vagas para especialização em História Contemporânea e Rela-ções Internacionais, a partir de fevereiro de 2016. Custo total de4.500 CUCs, a pagar em 2 parcelas, a metade na matrícula e a 2ªparcela no final do curso. Algo em torno de 17 mil reais. O douto-rado tem duração de 3 anos e custa 8.000 CUCs, aproximada-mente 29 mil reais, pagos em 4 parcelas. As despesas com hospe-dagem, alimentação e transporte são por conta do estudante. Aca-bei por não me matricular. Milhões de cubanos são formados em algum dos inúmeroscursos universitários e muitos acabam exercendo outras profis-sões fora de suas formações. Conheci um porteiro do edifício novoconstruído pelo estado na frente da Embaixada dos EUA paraservir o corpo diplomático norteamericano, que era formado emHistória. Ficamos horas conversando sobre a história do país e domundo. O porteiro era bem letrado. No entanto o problema dos baixos salários persiste tambémneste campo da sociedade cubana. Os professores são dedicadosaos seus alunos, ao seu trabalho pedagógico, cumprem o currícu-lo programado pelo estado, mas reclamam “siempre” da má re-muneração. Em média um professor primário ou secundário re-cebe entre 550 a 750 pesos de salário mensal, o equivalente a 30dólares americanos, aproximadamente 120 reais. Até mesmo osprofessores universitários recebem o que consideramos baixossalários, algo como 2 mil pesos cubanos, ou seja, uns 83 dólaresamericanos, aproximadamente 280 reais. Conheci um cubano quesua filha era professora de Direito na Universidade de Havana, foifazer doutorado na França e Suíça e acabou ficando na Espanhaonde ganha milhares de euros por mês. Se não fossem as com-pras de alimentos pela libreta, os baixíssimos preços da luz, água,gás, transporte, saúde e educação gratuitas e o fato de que 85%dos cubanos possuem casa própria e não paga aluguel, este salá-rio não alcançaria as necessidades básicas de um professor ouprofessora, se é que alcança. Este problema salarial, em todas as profissões, é mais um de-safio para o governo cubano resolver no presente e satisfazer opovo plenamente. Os profissionais cubanos que são convocados

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para trabalharem em missões internacionais são os melhores remu-nerados do país. Mesmo os militares e burocratas do sistema nãorecebem grandes salários, pois em Cuba não é permitida uma dis-crepância salarial como nos países neoliberais. Ninguém ganha maisdo que 10 vezes o salário mínimo. Conheci e entrevistei um capi-tão do exército cubano que recebe soldo de aproximadamente milpesos cubanos, ou 40 CUCs, algo em torno de 160 reais. Já ummédico em missão no Brasil, por exemplo, pode recebermensamente em torno de 800 a 1000 dólares, equivalente a uns2.700 reais. Por isso a fila para conseguir uma vaga em missãointernacional é grande. No entanto os trabalhadores que alcançamboa produção nas suas tarefas profissionais recebem as vantagensextra salário, ou seja, temporadas de férias com a família em hotéisestatais nas praias cubanas, sem custos, apoios com carros dasempresas e do estado para seu uso pessoal, comida nos refeitóriosdas empresas estatais, divisão das gorjetas nos restaurantes e ho-téis e outros benefícios que indiretamente engordam os salários.Já o professor, o maestro que forma as outras profissões, só podecontar com o salário do estado, na maioria dos casos.

Estudantes cubanos têm os mehores resultados na América Latina

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AS POLÍTICAS DE SOLIDARIEDADE A solidariedade do povo cubano é uma realidade que se veri-fica em todos os rincões da ilha. Desde a capital Havana até osmais remotos povoados nas serras e praias. O regime socialistareeducou este povo que passou a viver e a pensar no coletivo,deixando o individualismo em segundo plano. Primeiro a comuni-dade, depois o indivíduo. E esta cultura se multiplicou na mentedos cubanos por seis décadas, gerando assim uma nação menosviolenta, com menos disputas, com mais cooperação. E assim agemtanto no plano interno, com a instituição das cooperativas rurais eatualmente as não rurais, os sindicatos e outras instâncias de orga-nização popular; como no plano externo, enviando missões de mé-dicos, enfermeiros e técnicos de saúde para ajudar nações pobresda África Ásia e Américas que sofrem com catástrofes naturais(furacões, terremotos, tsunamis) e catástrofes econômicas e soci-ais. Enviaram milhares de soldados para lutarem pela independên-cia de Angola e ajudaram na reconstrução do país após a guerracivil da independência. Além dos apoios na área da saúde envian-do médicos cubanos e formando jovens médicos de outros paísespobres em medicina e enfermagem nas faculdades de Cuba, o paíscaribenho também apoia outras nações com professores, enge-nheiros e outros profissionais para desenvolverem projetos quemelhorem a qualidade de vida das pessoas. A ideologia cubana épensar primeiramente no ser humano, depois na economia. Porémo governo precisa fazer funcionar bem a economia para poderproporcionar bem-estar para a população, pois o estado mantéma saúde e a educação totalmente gratuitas para todos, e subsidiaos custos do transporte público e da alimentação básica que têmbaixos preços pela libreta e são muito consumidos. As políticas públicas são muitas e extremamente importantes.Todos os ministérios desenvolvem estas politicas que são planeja-das e aprovadas pelo parlamento cubano, a Assembleia Nacionaldo Poder Popular.

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Os ônibus dascooperativassão maisconfortáveis emais caros:5 pesos, ou0,80 centavosde real.

No ônibus popularuma passagem custaapenas 5 centavos dereal (0,40 CUP), emHavana. Já emSantiago é a metade :0,20 CUP.

Nos horários de pique ficam super lotados.

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O TRANSPORTE COLETIVO:ÔNIBUS QUASE PASSE LIVRE

O transporte coletivo é praticamente gratuito em Cuba. Umapassagem de ônibus circular em Havana custa apenas 0,40 centa-vos de peso nacional, algo em torno de R$ 0,05 centavos de real.Em cidades como Santiago de Cuba ou Matanzas a passagem éainda mais barata, ou seja, a metade do preço de Havana, apenas0,20 centavos de peso cubano, menos de 3 centavos de real. Sópara fazer uma comparação, a passagem média no Brasil é de R$3,50 ou o equivalente a 25 pesos cubanos. Este transporte coleti-vo barato é fornecido pelo estado cubano para a locomoção dosseus trabalhadores e estudantes; e qualquer estrangeiro tambémpode usufruir deste transporte. Na maioria são ônibus bons, dequalidade, seguros e limpos. Ônibus de fabricação chinesa, namaioria, porém Cuba fabrica micro-ônibus. Uma peculiaridade no transporte coletivo cubano é a músicaambiental. Todos ônibus possuem música no ambiente e relógio nopainel visível para os passageiros. Música cubana em som alto, oumúsica mexicana, portoriquenha, brasileira, dependendo do gostodo chofer, o motorista. Ouvi desde rock no ônibus, até RobertoCarlos e sertanejos brasileiros, mas o mais comum é a alegre salsacubana que anima as viagens pelas avenidas, ruas e estradas deCuba. Nos ônibus cubanos não existe a figura do cobrador e da role-ta, os usuários colocam suas moedas num cofre de vidro na entra-da do ônibus que é pela frente. O usuário não recebe troco secolocar até um peso. Se entregar para o chofer 3, 5, 10 ou maispesos, então o motorista dá o troco. Mas cubano é organizado esempre tem na mão suas moedas de centavos de pesos ou 1 peso.São solidários entre si até nesta hora, pois se eles possuem 1 peso,o que equivale a 2 passagens, e ainda sobra 0,20 centavos, elespagam para o outro, dão 1 peso no cofre e avisam o chofer que épara 2 pessoas. Mesmo que não se conheçam. E durante a viagem

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conversam muito, animadamente, como gente civilizada ehumanizada. Como este transporte é muito barato, dos mais baratos domundo, é muito utilizado. Em horários de pique, início e fim dodia, os ônibus ficam muito lotados. Nestas horas os cubanos seapertam nos corredores. Idosos, grávidas, deficientes e criançastêm prioridade nos assentos. Nos horários de pique aparecem osajudantes dos motoristas, que organizam a entrada e cobram dospassageiros que embarcam pelas portas de trás para agilizar oserviço. Os ônibus param em todas as paradas e abrem as portaspara embarque e desembarque até quando estão parados nos se-máforos. No entanto não vi nenhum ônibus com elevador paracadeirantes. Além destes ônibus populares existem os micro-ônibus quenão são do estado e sim das cooperativas. Custam 5 pesos naci-onais por pessoa e só transportam passageiros sentados. Possu-em ar condicionado e rotas que atravessam as cidades. Tambémcirculam ônibus das empresas estatais, dos ministérios, da políciae do exército, que carregam trabalhadores e soldados sem custospara os mesmos. Em Havana o transporte coletivo de massa é o ônibus estatale não se encontra caminhões e camionetes, como em Santiago deCuba ou Guantánamo, por exemplo. O que detectei em Havana éque algumas linhas são arrendadas pelo estado para grupos demotoristas que pagam uma taxa diária mínima para o estado e oexcedente da arrecadação é dividido proporcionalmente entre osmotoristas que trabalham nesta linha. No entanto nem todas aslinhas urbanas de Havana têm este procedimento de “terceirização”.Eu pegava o ônibus todos os dias na Avenida Boyeros, P12 parair à Habana Vieja e Centro Habana, ou P16 para ir a Vedado edesembarcar no Malecón, e de 10 em 10 minutos aparecia umônibus. Existem muitas linhas, uma grande frota, que atendem to-dos os pontos da capital, como P1, P9, P10... que atravessambairros e municípios habaneros. Em Santiago os ônibus do estado são poucos para a grandedemanda que é atendida na maioria por caminhões particulares

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que cobram em torno de um peso nacional. Nestas cidades dooriente cubano predomina o transporte coletivo particular, domi-nado por proprietários de caminhões particulares que atuam nestesetor. Entrevistei vários proprietários que me disseram que umcaminhão-bus custa em torno de 70 mil dólares, o preço de umaboa casa, mas é rentável, geralmente há cooperativa de caminho-neiros que se unem para comprar o caminhão de transporte e de-pois trabalham e dividem o excedente do faturamento após tirar asdespesas com combustível, manutenção e até motoristas e aju-dantes-cobradores, o que gera empregos fora das estatais. Esta éa dinâmica da economia cubana. Os ônibus demoram a passarnas paradas enquanto os caminhões estacionam e lotam de passa-geiros apressados. Nestas cidades também existem as motos quecarregam passageiros com rapidez, além dos táxis e balsas quetransportam turistas e moradores para os caios -as pequenas ilhasao redor de Santiago, que navegam na baía . Nas balsas já encon-trei diferença de preços, ou seja, o cubano paga 1 peso nacional(CUP), enquanto que cobram do turista estrangeiro 1 CUC (24pesos nacional). Eu paguei por isso. Além dos ônibus estatais, das balsas, dos micro-ônibus, doscaminhões e motos, existem os táxis coletivos por toda a ilha.Aqueles carros antigos dos anos 50 do século passado que apa-recem em todas as fotos e filmagens em Cuba, são alterados, comcaixas de câmbio novas, direção hidráulica, rodas de magnésio, arcondicionado, som e TV a bordo, bancos estofados e todo con-forto para os passageiros. Não existe esta cultura capitalista detáxi individual, em Cuba o táxi é coletivo e coloca até 5 passagei-ros na mesma corrida, e vai parando e trocando de passageiros,dentro da sua rota. Embarcar nestes carros custa 10 pesos naci-onais (CUP), equivalente a 1 real e 80 centavos, ou em torno de0,50 centavos de dólar. Quase todo carro particular é táxi, poisesta é uma boa fonte de renda. Basta tirar uma licença. Conhecium cubano aposentado que por ter sido um bom trabalhador, cam-peão de produção nos anos 70 e 80, acabou ganhando de presen-te um carro do estado socialista. Hoje, com idade avançada e sempoder dirigir seu carro russo ano 1977, ele aluga este carro para

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um jovem cubano por 5 CUCs por dia, o que lhe dá uma rendaextra de 150 CUCs mensais, salário de médico. Entrevistei vários taxistas que estavam pagando 10 CUCs pordia de aluguel de carro; me disseram que pagavam esta taxa,abasteciam e no fim do dia ainda sobrava de 10 a 20 CUCs, ge-rando uma renda média mensal de 300 a 600 CUCs, muito maisdo que recebe de salário um dentista (40 CUCs) que trabalhapara o estado ou um médico (80 a 100 CUCs). Existem os car-ros novos do estado que são alugados para os taxistas que traba-lham neste setor por conta própria, pagando de 30 a 70 CUCspor dia (dependendo das condições e do ano do carro) faturandoo excedente do faturamento do dia. Estes carros são de luxo, no-vos, e trabalham nos aeroportos da ilha, nos hotéis e para as agên-cias de turismo que também são estatais. Sobre assaltos aos taxistasnão encontrei nenhum caso. Todos que entrevistei me confirma-ram que nunca foram assaltados e não conhecem casos de assal-tos a taxistas em Cuba. Os mais econômicos na gestão de seusfaturamentos acabam comprando seus próprios carros e continu-am com a atividade, porém estes casos são raros, pois em Cubatodos carros são importados e custam muy caros. Na categoria de motores ainda se encontra em Cuba os “Coco-táxis”, com 3 rodas, uma espécie de triciclo que leva 2 passagei-ros. Quem mais utiliza estes coco-táxis são os turistas, por curio-sidade, e andam pela cidade de Havana por 10 CUCs. Os traba-lhadores destes coco-táxis pagam para o estado o aluguel dostriciclos em torno de 15 CUCs por dia. Mas nem só de motores vive o transporte em Cuba, pois ain-da existem as bicicletas táxis, com 3 rodas e capacidade para car-regar 2 pessoas. Custa 10 pesos a corrida e quem mais utiliza sãoos cubanos. O estado é dono de parte destas bici-táxis, porémmuitos cubanos possuem propriedades de seus carrinhos movidosa pedal. Quem não trabalha e possui um carrinho destes, acabapor alugar para quem quer trabalhar nesta atividade. Por dia alu-gam de 3 a 5 CUCs, o que já é uma renda considerável de 90 a150 CUCs mensais, bem superior aos salários pagos pelas em-presas estatais da ilha.

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Como se pode observar este setor de transporte é uma exce-lente alternativa de renda na ilha, isso explica porque existem tan-tos táxis em Cuba. A pessoa vai caminhando nas ruas e os taxistasvão oferecendo seus serviços. Esta é uma realidade visível consta-tada nas minhas pesquisas. Andar de táxi em Cuba é chique emovimenta milhões de pesos.

O transporte nacional entre as cidades e províncias é feito pelosônibus do estado, trens e aviões. Todas as capitais e grandes cida-des na ilha possuem aeroportos e estações de trem. Uma grandemalha de estrada de ferro liga as regiões da ilha e os trens depassageiros são comuns, com baixos preços e acessíveis a todos.A Estação Central, em um prédio histórico em restauração emHabana Vieja, distribui trens para todas as partes da ilha, compreços baixos para os cubanos e bem mais altos para os estran-geiros. Até mesmo as passagens de avião são baratas e os cuba-nos atravessam a ilha em voos diários. Porém os cubanos pagampassagens baratas em peso nacional, enquanto que o estrangeiropaga em CUCs, o chamado popularmente de dólar cubano. Paraisso já existem terminais diferentes, os terminais para cubanos e osterminais para turistas, que usam a estatal Viazul. Também cuba-nos podem utilizar os ônibus da Viazul, sem problemas, basta pa-gar. Por exemplo: uma passagem de Havana para Santiago de Cuba,uma viagem de mais de 12 horas num trecho de aproximadamente900 km, custa, para um cubano, pelos ônibus nacionais, em tornode 7 CUCs. Já pela Viazul, para estrangeiros, a mesma viagemnum ônibus de condições não muito diferenciadas, custa 51 CUCs.Devido a esta brutal diferença, tentei comprar passagem no Ter-minal Nacional mas não pude, pois teria que possuir e apresentara carteira de identidade cubana. Com passaporte é nos terminaisda Viazul e custa 51 contra 7 CUCs. Acabei viajando de cami-nhão-ônibus particular, ao custo de 10 CUCs até Santiago, semprecisar apresentar nenhum documento, paguei, entrei. Um cami-nhão com a carroceria adaptada como se fosse um ônibus, porémsem ar condicionado e sem banheiro. Bancos não muito confortá-veis, com pouco espaço, mas com um telão onde passam vídeos

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de música cubana e filmes durante toda a viagem. E vai parandonas cafeterias e restaurantes de beira de estrada onde os passa-geiros utilizam os banheiros. Em cada cidade que chega, descem esobem passageiros, num pinga-pinga constante. Neste caminhão-bus a viagem de Havana a Ciego de Ávila custa 6 CUCs, enquan-to que eu pagaria num ônibus da Viazul pela mesma viagem o valorde 27 CUCs. Devido a esta diferença, muitos turistas acabamoptando por este transporte alternativo. Nas minhas viagens en-contrei e entrevistei muitos italianos, espanhóis e franceses que semisturam entre os passageiros cubanos e viajam pela ilha. Viajar em Cuba pode ser barato mas pode ser caro, depen-de da cidadania. Porém o transporte coletivo urbano é um dosmais baratos do mundo e os preços nos ônibus são os mesmospara cubanos e estrangeiros.

Frotas de caminhões-ônibus atravessam a Ilha com preços populares

Táxis modelos 1955

Coco-taxi

Balsas levam o povo e turistas aos caios

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HABITAÇÃO: 85% DASFAMÍLIAS

TÊM CASA PRÓPRIA

Nos anos 80 do século XX o estado cubano construía emtorno de 70 mil casas e apartamentos por ano para entregar àpopulação com mensalidades de baixos valores que não passa-vam de 10% do salário recebido pelo beneficiado e com prazo de20 anos para quitar. Neste período surgiram os grandes edifíciosde 12 e 9 andares em bairros populares. Áreas nobres que eramparticulares no subúrbio de Havana foram desapropriadas peloestado que intensificou uma reforma urbana radical. Quem mora-va de aluguel passou a ser o dono do imóvel. Quem tinha muitosimóveis para especulação imobiliária teve estes bens desapropri-ados e indenizados pelo estado e todos locatários que estavamdento destes imóveis passaram a donos. Com a estatização dasempresas muitos empresários não aceitaram as novas regras dosocialismo e foram embora de Cuba, deixando casarões que fo-ram ocupados pelo povo que não tinha casa antes da Revoluçãode 1959. Até hoje se vê várias famílias dividindo casarões paramorar. Mas a demanda era imensa e o estado ficou responsávelpelas construções, reformas e adaptações, para que todo cubanotivesse um teto para viver. Muitas campanhas e mutirões foramrealizados por toda a ilha, nas cidades e nas áreas rurais, sendoque o maior índice obtido foi de que 85% das famílias cubanasmoram em casas próprias. No entanto a crise econômica dos anos 90, após o fim daURSS, no chamado “período especial”, as construções de casase apartamentos e as reformas de prédios, tiveram uma grandequeda. Calcula-se que Cuba chegou a ter já nos anos 2010 umdéficit habitacional estimado em 600 mil habitações. A cada anoque passava, o estado cubano construía menos do que o neces-sário, caindo para 25 mil unidades anuais em 2014. Soma-se a

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isso a estatística que mostra que 40% das habitações em Cubaapresentam problemas e necessitam de reparos. Também a repe-tida falta de água em alguns bairros e instalações elétricas precári-as nos casarões são problemas encontrados por quem pesquisasobre moradia em Cuba. Além das dificuldades econômicas Cubaé rota de furacões e por várias vezes foi atingida por vendavaisque destelharam e derrubaram casas e edifícios, gerando mais pro-blemas, fazendo que muitas famílias fossem morar com familiaresem albergues públicos. O governo, atento a estes problemas, bus-cou novas alternativas que foram implementadas a fim de frearesta decadência.

A partir de 2011 o governo permitiu a compra e venda decasas, autorizando as negociações e realizando legalizações de es-crituras e partilhas. As obras de construção e reformas passarama ser permitidas para todos cubanos, com mão de obra particulare uma pequena ajuda do estado que fornece parte do material ouvende por preços subsidiados. Esta mudança na lei e a aberturado mercado imobiliário estão gerando mobilização de recursos fi-nanceiros, além de causar a sensação de segurança ao morador.Os mutirões continuam e Cuba luta para resolver mais esta mazelaque assola todos os países do mundo: o problema da moradia;Pelo menos nesta ilha socialista não se vê moradores de ruas, dor-mindo embaixo de viadutos e marquises, enfrentando chuvas, comovemos nos países capitalistas tal qual Brasil, México, Inglaterra,EUA e outros. Todos cubanos, crianças, jovens, adultos e velhos,possuem um teto para morar, mesmo que às vezes em más condi-ções, mas um teto pra se proteger.

Andei muito por Havana e várias outras cidades, não fi-cando apenas nos bairros Vedado, Miramar, Playa, na capital, ouna cidade-praia de Varadero e outros locais onde se situam asmelhores edificações. Vi boas casas e lindos apartamentos bemmobiliados em Altahabana, Diez de Octubre, Marianao, Boyeros,San Miguel del Padron, Alamar, Guanabo, Bacuranao, por todaLa Habana. Encontra-se boas e excelentes habitações por toda ailha, como nas cidades de Matanzas, Pinar del Rio, Holguin, San-tiago de Cuba, Cienfuegos, Trinidad, Ciego de Ávila, Camaguey,

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Bayamo, Guantánamo, Baracoa e outras. Porém se encontra tam-bém nestas cidades casas em más condições, mal cuidadas e comproblemas estruturais, principalmente na capital, em Habana Vieja,Centro Habana, bairro Poey e outros, e em Santiago de Cubaonde vi muitos casebres. Porém todas com suas mobílias essenci-ais e sendo um teto para que nenhum cubano more na rua.

Os prédios de apartamentos populares têm basicamente omesmo padrão por toda a ilha. Teve momentos que eu observavaum edifício em Matanzas ou em Santiago de Cuba, e parecia queeu estava em Havana, tal a semelhança e a padronização dasedificações com suas sacadas salientes e sobrados com escadasexternas. As casas nas regiões rurais, dos camponeses, me pare-ceram semelhantes às casas das zonais rurais do Rio Grande doSul, o mesmo desenho, com seus galpões de madeira, mangueirase até cercas de pedras. Contam os mais velhos que antes da revo-lução os campesinos viviam em barracos de madeira caindo ospedaços, sendo que o governo revolucionário mudou este pano-rama construindo vilas rurais com casas de tijolos e cimento, dis-tribuindo terras e dando condições para o desenvolvimento deuma verdadeira reforma agrária com pleno atendimento pelas co-operativas agropecuárias.

Eu vi com meus olhos, conversei com cubanos que estavamvendendo suas casas e encontrei preços como 10 mil dólares por um

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apartamento de 2 quartos em Altahabana, 7.500 dólares por um apar-tamento de 1 quarto, sala, banheiro e cozinha nas proximidades docentro histórico e do porto de Santiago de Cuba, ou ainda uma enor-me casa com 4 quartos, 2 garagens, jardim, 2 banheiros, sala ampla,cozinha americana, etc, por 75 mil dólares na Avenida 100, em Boyeros.Porém os preços são diversos, dependendo das condições e localiza-ção do imóvel. Existem em Cuba escritórios imobiliários que auxiliame fazem todo o processo de compra, venda e legalização de habita-ções. Além dos cubanos, também estrangeiros podem comprar imó-veis em Cuba, desde que seja para morar e não para especulação.

Apesar dos problemas sofridos com crises econômicas comoo bloqueio comercial imposto há mais de 54 anos pelos EUA, e aquebra da URSS que era a maior parceira da ilha, além dos furacões evendavais, Cuba se orgulha de ter todo seu povo embaixo de um teto,mesmo que seja humilde ou compartilhado. Meu velho amigo cubanode Altahabana sempre me dizia com muito orgulho: “Somos pobres,mas com dignidade!”

Em Cuba todos moram em algumlugar, menos nas ruas e nosviadutos.

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INFRAESTRUTURAE RESTAURAÇÃO URBANA

Cuba foi um dos primeiros territórios da futura América, in-vadido pelos europeus, em especial os espanhóis. As primeirascidades foram erguidas em 1511, 1513, 1515... e a capital Ha-vana em 1519, sendo 500 anos de urbanidade, construções defortalezas, prédios, praças e ruas. Desde esta época começaramas obras de infraestrutura que se desenvolvem até os dias atuais.Nos períodos mais críticos da economia, durante as guerras pelaindependência e depois pela revolução socialista, houve muita di-ficuldade para o desenvolvimento das cidades. O período espe-cial, nos anos 90 do século passado foi marcado por mais dificul-dades econômicas e por escassez de material de obras para res-tauração dos prédios antigos e construção de novos edifícios demoradias. Estes períodos geraram uma grande deterioração nascidades, principalmente nas áreas mais antigas, centenárias, comoem Habana Vieja e Centro Habana, municípios que constituem ocentro histórico da capital cubana. Ainda hoje se encontra prédi-os decadentes e ruinas, porém o estado e os habitantes estãoempenhados em mudar este cenário, através de restaurações cons-tantes e planificadas, o que se pode observar andando pelas rue-las nas proximidades do Malecón habanero. Quando reclama-

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mos deste aspecto de ruinas em alguns lugares como CentroHabana, Habana Vieja, Diez de Octubre e outros, osinterlocutores cubanos dizem que a cidade tem 500 anos, eenfatizam que as lindas cidades europeias que têm mais de milanos foram conservadas e restauradas com dinheiro do ouro e daprata saqueados pelos europeus nas Américas, África e Ásia, con-tinentes historicamente explorados pelo capitalismo. As cidades menores, como Santiago de Cuba, Holguin,Cienfuegos e tantas outras com menos de 1 milhão de habitantes,apresentam menos deterioração que a capital que possui mais de2 milhões de moradores e uma quantidade bem maior de prédiosantigos e problemáticos. Um exemplo claro é a restauração daárea portuária e do centro histórico de Santiago, onde prédiosmuy antigos foram transformados em lojas e cafeterias, bem comoo local onde se situa o “malencozito”, o malecón de Santiago,com praças para crianças, espaços esportivos e passeios. Umaárea totalmente restaurada e com bom visual para os turistas epara os cubanos. Em Havana muitas reformas de prédios históricos estão emandamento, o centro histórico é um verdadeiro canteiro de obras,com guindastes e operários por todos os lados. Exemplo recentede restauração concluída é o Gran Teatro de Havana, reinauguradoem 2016 e batizado com o nome de Grand Teatro de La HabanaAlicia Alonso, em homenagem a maior bailarina da ilha. Também oCapitólio de Havana, que foi sede do governo e será sede do par-lamento cubano, está em obras finais de restauração, para em bre-ve reabrir suas portas. Os recursos destas obras provém do orça-mento do estado e custam muito para o governo, porém são ne-cessárias e estão em andamento, como muitos outros prédios his-tóricos que devem ser preservados. As principais avenidas das cidades, como a Antônio Maceo,Boyeros, Av. do Porto, Calle 23, Avenida dos Presidentes, Av.Salvador Allende, 5ª Avenida, 3ª Avenida, Via Blanca e outras tan-tas que atravessam a capital Havana, estão em perfeitas condiçõesde trafegabilidade, bem como os viadutos e os 2 túneis que ligamMiramar a Vedado e Habana Colonial à Habana del Este, região

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das praias habaneras. Muitas ruas centrais e em vários bairros es-tão recebendo asfalto novo e sendo recuperadas. Porém nos bair-ros mais afastados encontramos ruas esburacadas, com asfaltoantigo e deteriorado, mas constando na lista de futuras obras derecuperação. Cuba não é um país rico que possa resolver todos osproblemas de infraestrutura ao mesmo tempo, pois o governo nãodescuida da prioridade social que é a saúde pública gratuita e tam-bém a verba para a educação. As estradas em Cuba, em especial as chamadas “carreteras”,que atravessam o país e dão acesso às principais cidades-praias,como Varadero, estão em boas condições de trafegabilidade, semburacos e com bastante sinalização. O cubano ou o turista podeatravessar a ilha em excelentes estradas que levam a todos os pon-tos turísticos e áreas rurais de produção. Obviamente existem pe-quenas estradas vicinais que necessitam de reparos e são de aces-so às pequenas cidades e vilas e de uso dos camponeses. Este éum problema que está na pauta do governo e encaminhado para osorçamentos provinciais. Com certeza a nova crise econômica que assola o mundo ca-pitalista, como a queda do preço do níquel, importante item napauta de exportação de Cuba, e a queda do preço do barril depetróleo, que afeta drasticamente a economia da Venezuela –im-portante parceiro comercial da ilha- estão abalando o orçamentocubano, com queda de receitas e queda do PIB. Isto é uma reali-dade econômica que está sendo enfrentada pelo estado e pela so-ciedade cubana nesta metade da segunda década do século 21. Eesta situação diminui as verbas previstas para investimento eminfraestrutura, como reparo de estradas, reconstrução de edifícios,restauração de prédios, praças, estádios, espaços públicos, termi-nais, aeroportos, estações e outras instalações. O governo buscasoluções e flexibiliza as leis a fim de manter e aumentar o padrãode vida em Cuba, fazendo parcerias com empresas estrangeiras.O recente exemplo é no setor de turismo, a entrada de uma em-presa francesa na administração do principal aeroporto de Cuba,em Havana, o Aeroporto Internacional José Martí. Veja a notíciada mídia internacional:

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“De olho no rápido crescimento do número de turistas e umpouco antes do início dos voos regulares entre Estados Unidos eCuba, o governo cubano fez um anúncio inédito: a privatização deum aeroporto. O terminal internacional José Martí, em Havana, seráoperado em breve pela empresa francesa Aéroports de Paris (ADP).Já a expansão e modernização ficarão a cargo da construtora fran-cesa Bouygues Bâtiment International. O anúncio foi feito no iníciode agosto pelo vice-ministro dos Transportes de Cuba, EduardoRodríguez, em Havana. A francesa ADP administra - além do aero-porto Charles de Gaulle, em Paris - outros 31 terminais espalhadospelo mundo. Por sua vez, a Bouygues participou de vários outrosgrandes projetos, como a construção do Stade de France, doEurotúnel e do aeroporto de Hong Kong. O projeto em Cuba, quedeve ser estendido ao aeroporto regional de San Antonio de los Baños,a oeste de Havana, "prevê o financiamento e execução de medidasimediatas para melhorar a qualidade dos serviços, bem como inves-timentos de médio e longo prazo de acordo com o crescimento esti-mado de passageiros", afirmou a televisão estatal cubana. Não fo-ram divulgados detalhes do modelo adotado na concessão nem osinvestimentos previstos. Novas parcerias não são descartadas. Apósa expansão, o aeroporto de Havana deverá receber mais de 10 mi-lhões de passageiros por ano, afirmou a Aéroports de Paris. Em2015, 3,5 milhões usaram o terminal, e neste ano os números tendema ser ainda maiores. Mais da metade dos turistas estrangeiros quevisita o país entra pelo aeroporto da capital. Até agora, o governocubano havia concedido licenças de exploração para empresas es-trangeiras apenas no setor hoteleiro. Há anos que empresas europeiase canadenses estão ativas na ilha. Em junho, depois de mais de 50anos, uma rede americana - a Starwoods Hotels - abriu uma unidadedo Four Points by Sheraton em Cuba. O anúncio da privatização doaeroporto da capital é apenas o início de novas concessões paraempresas estrangeiras na área de infraestrutura. "Transporte einfraestrutura são elementos estratégicos e prioritários na econo-mia e sociedade cubana", declarou o Ministério do Transporte dopaís. E acrescentou: "Parcerias como as descritas acima serão esti-muladas também para outros terminais no país". Turismo tem boom,mas infraestrutura não acompanha. Com a concessão, o governoem Havana reage aos diversos desafios de infraestrutura da ilha

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por causa do crescente número de visitantes. São esperados quase 4milhões de turistas até o final deste ano. No primeiro semestre de2016, a quantidade de viajantes em comparação ao mesmo períododo ano anterior cresceu 12%. O verdadeiro boom, porém, aindaestá por vir: os americanos já estão liberados para viajar a Cuba,apesar de ainda serem obrigados a preencher um dos pré-requisitosdas 12 categorias para a autorização das viagens - como desportivas,culturais, universitárias ou religiosas. As restrições para viagens in-dividuais deverão ser em breve retiradas pelo Congresso.”

(Fonte:https://noticias.terra.com.br/cuba-privatiza-aeroporto-de-havana-de-olho-no-turismo) (16 AGOSTO/2016-13h28)

Aeroporto Internacional José Martí, em Habana

Amplo espaço para receber turistas.

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A PRODUÇÃO AGRÍCOLAE PECUÁRIA

A agricultura é uma peça fundamental para uma sociedade or-ganizada. Cuba, desde seus primórdios, desenvolveu sua agricul-tura com planejamento coletivo, depois passando para amonocultura de açúcar como base de exportação. Neste períododesenvolveram-se os grandes latifúndios criados pelos coloniza-dores espanhóis e depois da independência estes latifúndios pas-saram às mãos da burguesia agrária cubana e das empresasnorteamericanas. O açúcar, o tabaco e a banana ocuparam pormuitos séculos a maior parte dos campos cultiváveis da ilhacaribenha. Porém, com as sucessivas crises econômicas e de abas-tecimento, este cenário começou a mudar, transformando os cuba-nos em bons e organizados produtores de arroz, frutas, hortaliças,batatas, milho, cebolas, feijão, legumes, leite, carnes, pescados,café, mel, cacau e outros produtos da cesta básica popular. A re-volução de 1959 foi impulsionadora de um novo tempo na agricul-tura e pecuária de Cuba, passando por reformas agrárias radicais,com acertos, com erros, correções e recomeços no decorrer das6 décadas de socialismo. Atualmente as cooperativas agrícolas re-cebem financiamentos dos bancos estatais para compra demaquinários e insumos, e, através da pesquisa, implementam no-

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vas tecnologias a fim de aumentarem a produção. Tirando os pro-blemas com as secas, chuvaradas e vendavais, os resultados têmsido positivos em relação aos tempos da monocultura do açúcar.Mesmo assim o país ainda importa aproximadamente a metade doque necessita consumir, mas este problema está na agenda doseconomistas cubanos que tentam inverter esta realidade, com in-centivos aos agricultores individuais e cooperativados. Dados iniciais de um estudo teórico descrito em artigo da pes-quisadora Joana Salém Vasconcelos, mostram o porquê da revoluçãoagrária que ocorreu em Cuba a partir de 1959, quando Fidel Castropercorreu a ilha distribuindo títulos de posse de terra, começando,simbolicamente, ao assinar o 1º termo de posse em Baracoa, a 1ªcidade fundada em Cuba no ano de 1511, onde começou, conformeFidel ressalta, o roubo de terras pelos invasores espanhóis: “Em 1958, as propriedades estadunidenses em Cuba repre-sentavam nada menos que 40% da produção açucareira, 90% dosserviços de eletricidade e telefonia, 50% das ferrovias e 23% dasindústrias não açucareiras (PERICÁS, 2004: 30). A primeira medi-da de desmonte desta estrutura foi a Lei de Reforma Agrária, pro-mulgada oficialmente em 17 de maio de 1959. “A primeira reformaagrária cubana não era ainda socialista”, analisa o primeiro presi-dente do Instituto Nacional de Reforma Agrária (INRA), Carlos RafaelRodriguez (RODRIGUEZ, 1978: 136). Ainda que a reforma agráriafosse uma medida essencial do novo governo, as condições de pro-dução encontradas em 1959 não permitiam a imediata expropria-ção das grandes unidades produtivas. A economia da ilha dependiados engenhos. Por isso, a reforma agrária teria que conciliar a dis-tribuição de terras aos camponeses com a produção em larga esca-la. (Reforma Agrária e subdesenvolvimento: a experiência revoluci-onária de Cuba -por Joana Salém Vasconcelos. Fonte: Revista Mar-xista Mouro. http://convencao2009.blogspot.com.br/2011/02/estu-do-acerca-da-reforma-agraria-em.html)

Analisando os caminhos da agricultura contemporânea cuba-na, um artigo do sociólogo pesquisador Juan Valdés Paz classifica aquestão agrária em Cuba pós-revolução como dividida em 5 etapashistóricas assim descritas:

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“Primeira Lei de Reforma Agrária de maio de 1959. Por meioda qual foi erradicado o latifúndio e a propriedade estrangeirasobre bens rústicos; foram suprimidas todas as formas de possenão proprietária; e a propriedade da terra foi entregue a quem atrabalhava, beneficiando mais de 100 mil camponeses. Após suaaplicação, em condições de aguda luta interna e externa, origi-nou-se um setor nacionalizado da agricultura, administrado pormeio do Estado, que compreendia 33% das terras do país. Segunda Lei de Reforma Agrária. Promulgada em 1963, umavez definido o caráter socialista da Revolução no marco da lutapolítica e de classes do momento. Por meio dessa Segunda Lei, fi-cavam automaticamente nacionalizadas todas as propriedades ouprédios com mais de 67 hectares. Com ela, o setor estatal da agri-cultura passou a possuir 66% das terras, convertendo-se na basedo desenvolvimento socialista da agricultura cubana. Evolução dos anos 1960, 1970 e 1980. Desde a segunda meta-de dos anos 1960, houve uma transferência paulatina de terra dosetor privado ao setor estatal, por motivos de vendas voluntáriaspor parte dos camponeses ou de compras para utilidade pública,em apoio aos planos estatais de desenvolvimento. Essas transfe-rências elevaram a posse do setor estatal para 82% das terras. Terceira reforma agrária de 1993. A crise agrária desencadeadanos anos 1990 (desabastecimento, descapitalização, desmorona-mento do modelo tecnológico, falta de força de trabalho agrícolaetc.) deu lugar à urgência de se redistribuírem terras nacionaliza-das em favor de formas cooperativas e do setor camponês. Isso fezque houvesse uma desestatização da estrutura de posse, diminuin-do sua participação de 80% para 40% das terras. Quarta reforma agrária, iniciada em 2008. As difíceis condi-ções de recuperação da agricultura em terras estatais ou recente-mente desestatizadas deram lugar a uma reserva crescente de ter-ras ociosas, o que apresentou a necessidade imperiosa de suaredistribuição em condições de usufruto para novos camponeses,camponeses tradicionais e cooperativas com disponibilidade deforça de trabalho. O efeito desse processo ainda em curso foi dimi-nuir a posse de terras estatais para aproximadamente 25%, assimcomo elevar o número de ocupantes individuais, proprietários deseus fundos ou usufrutuários de terras nacionais. Como podemos observar, a tendência que mostrou a evolução

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da estrutura de posse de terra no país foi a condição histórica danacionalização da propriedade rústica para sua posteriorredistribuição como posse privada, camponesa ou cooperativa. (Juan Valdés Paz é licenciado em Sociologia pela Universidade de Ha-vana. Professor titular adjunto da Universidade de Havana e do InstitutoSuperior de Relações Internacionais "Raúl Roa García". @ [email protected] Tradução de Diego Molina. O original em espanhol- "La revolución agraria cubana: logros y desafíos" - encontra-se à disposi-ção do leitor no IEA-USP para eventual consulta. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142011000200007).

Dados recentes, resultados em 2015, apontam um crescimentomédio de 10,3% da produção agropecuária em Cuba, conforme des-creve artigo publicado pela imprensa cubana:

“A produção agropecuária em Cuba aumentou 10,3% no pri-meiro trimestre de 2015 em relação ao mesmo período de 2014, emboraseus níveis ainda não satisfaçam a demanda interna da ilha, indicou osemanário oficial Trabalhadores. Esse indicador inclui um aumento de13,9% na agricultura e de 5,7% na pecuária, segundo dados recentes doEscritório Nacional de Estatística e Informação (Onei) citados pela pu-blicação. Além disso, a imprensa cubana lembra que a produçãoagropecuária teve impacto no anunciado aumento do produto internobruto (PIB) de pouco mais de 4% durante o primeiro semestre de 2015.Entre janeiro e março deste ano a produção de refeições aumentou 68,7mil toneladas (11,4%), e a estrela desse resultado foi a batata, com 41.100toneladas a mais que em igual período de 2014. Mas segundo a análise,foram colhidas 11.700 toneladas menos de batata-doce (9,8%), e dimi-nuiu em 5.600 toneladas a produção de inhame (8%), enquanto a debananas alcançou 18.000 toneladas a mais (aumento de 10,1%). Nocaso do arroz, a produção foi menor em 13,3% por causa da seca, quetambém atingiu a produção de ovos, que chegou a 584,5 milhões deunidades (2,7 milhões menor), e de leite, que só alcançou 76,9 milhõesde litros (redução de 11,9%). Além disso, o país também apresentou umcrescimento na produção de hortaliças de 23,4% e algo similar com osfeijões, um dos alimentos tradicionais na dieta dos cubanos e que au-mentou 11,1 %. Na pecuária, o jornal afirma que houve um aumento de12,5% no caso da carne bovina (equivalente a 4.700 toneladas) e de7,8% no caso da carne de porco (6.000 toneladas a mais). O governo

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cubano considera o aumento da produção de alimentos um assunto de“segurança nacional”, já que a ilha importa anualmente 80% dos man-timentos que consome quando cerca da metade desses produtos poderi-am ser produzidos dentro do país. A entrega de terras ociosas paraagricultores cubanos foi uma das primeiras reformas econômicas em-preendidas pelo governo de Raúl Castro para reanimar a agricultura,setor vital para a economia de um país que gasta mais de 2 bilhões dedólares anuais em alimentos. Como resultado dessa medida, foram en-tregues mais de 1,7 milhões de hectares de terras para cerca de 200 milpessoas desde 2008 como parte da política para aumentar a produçãode alimentos, embora 43 mil contratos tenham sido revogados por maluso dos terrenos.(Fonte: http://brasil.efeagro.com/noticia/producao-agropecuaria-cubana-cresce-103-no-primeiro-trimestre-2015)

Neste ritmo funciona o setor agropecuário em Cuba, com altos ebaixos, secas e vendavais, porém com apoio financeiro aos produto-res, através dos bancos estatais, e apoio técnico por parte do ministérioque faz parcerias com vários órgãos internacionais, como a Embrapa(Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) do Brasil. A renovaçãoconstante dos métodos produtivos, buscando maior produtividade nocampo, a ampliação de lavouras, a diversificação de produtos, o cui-dado com o meio-ambiente, a utilização de adubos não prejudiciaisaos consumidores, são algumas das realizações dos cubanos nesta área.

Lavouras de canas ainda predominam noscampos da ilha, mas arroz, hortaliças efrutas crescem na pauta de produção.

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EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES

A balança comercial cubana apresenta um déficit de aproximada-mente 9 bilhões de dólares ao ano, algo próximo de 12% do PIB dailha. O bloqueio econômico e comercial imposto à Cuba pelos Esta-dos Unidos desde 1962, em muito prejudica os negócios de exporta-ção e importação, fazendo com que a ilha socialista deixe de faturarmais receitas e diminua esta discrepância de sua balança comercial.Atualmente o governo tem feito esforços para produzir mais e expor-tar mais, substituir produtos importados por produtos produzidos nopaís, porém os resultados destas políticas só aparecem a médio e lon-go prazo. Principais produtos exportados: açúcar, tabaco, níquel, café, me-dicamentos, frutas. Principais produtos importados: máquinas, petró-leo, alimentos e produtos químicos. Principais parceiros econômicos (exportação): China, Canadá,Espanha e Holanda. Principais parceiros econômicos (importação): Venezuela, China,Espanha, Brasil e Estados Unidos. Exportações (em 2014): US$ 5,5 bilhões. Importações (em 2014): US$ 14,9 bilhões. Saldo da balança comercial (em 2014): déficit de US$ 9,4 bi-lhões. Cuba amplia sua indústria e produção primária para reduzir estedéficit. Para isso faz parcerias novas neste processo.

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Praias de Havana del Este são lindas e procuradas: Mégano

Varadero é oparaíso dosturistas quevisitam Cuba

e Santa Maria (fotos) além de Bacuranao, Tarará, Guanabo e outras.

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O TURISMO COMOATRAÇÃO DE RENDAS

Uma das principais fontes de renda de Cuba é o turismo. Esta voca-ção é marca registrada da maior ilha caribenha e este setor da economianão para de crescer. Desde os tempos antes da revolução socialista, jáexistiam projetos de turismo, hotéis e locais de exploração turística. Apóso triunfo dos socialistas o governo de Fidel Castro começou a implementarainda mais o turismo como fonte de renda, devido aos imensos potenciaisda ilha, com praias paradisíacas no litoral habanero, em Varadero, comoem caios espalhados por volta de toda ilha, como em Ciego de Ávila.Também as cavernas de Matanzas e as serras de Pinar del Rio,Guantánamo e Santiago de Cuba, além de outros inúmeros locais turísti-cos em Holguin, Santa Clara, Cienfuegos, Baracoa, Trinidad e outrascidades. A revolução derrubou cercas e muros que tornavam as praias par-ticulares e liberou todas as mais de 230 praias da ilha para todoscubanos e visitantes. Nas serras de Pinar del Rio foram construídosparques turísticos temáticos e pontos de observação da beleza natu-ral do alto da serra. Investimentos foram realizados pelo estado paraconstruir a infraestrutura necessária para receber e hospedar turistasvindos de todas as partes do mundo. A cada ano aumenta o númerode turistas estrangeiros que entram na ilha. Em 2015 foram 3 milhõesde estrangeiros. Em 2016 a previsão é passar dos 3 milhões e 700mil. Com a retomada dos voos diretos dos EUA para Cuba, nesteano, 2016, a entrada de turistas estrangeiros em Cuba pode passardos 4 milhões. A primeira empresa norteamericana a se instalar emCuba, neste momento em que os dois países retomam amizade e ne-gócios, é um grande hotel inaugurado em 2016. Estes visitantes levamdivisas para Cuba, são bilhões de euros e dólares americanos e cana-denses que aportam na economia de Cuba. O setor hoteleiro é um dos principais empregadores do setor de ser-viços e representa um bom percentual do PIB cubano. A ilha tem seusatrativos turísticos e uma boa estrutura somada ao atendimento pessoal

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cafeterias, clubes de dança, castelos, malecón, igrejas, tem praiaboa na costa del este. A 30 minutos de ônibus, linha 100, comsaída da frente da Estação Central em Habana Vieja, passa pelotúnel da Baía de Havana e começa a viagem de 30 minutos pelaestrada das praias. Dá pra escolher, mas o bom é passar no míni-mo um dia em cada uma destas praias de águas claras e de boatemperatura para o banho, areias brancas e limpas, com bares ehotéis ao redor, e muitos táxis. Com apenas 1 dólar o visitantepaga a passagem de ônibus ida e volta destas praias. Os lugares

dos cubanos que recebem muito bem os visitantes. Nas minhasandanças pela ilha percebi a simpatia e a gentileza da povo cuba-no, sempre atenciosos e solidários. Um turismo vocacional. EmHavana se encontra multidões de turistas europeus, latinoamericanose asiáticos. Os espanhóis, canadenses, italianos, franceses, holan-deses, belgas, russos, alemães, chineses, mexicanos, venezuelanos,colombianos, brasileiros, bolivianos, chilenos, argentinos, uruguai-os, árabes e outras nacionalidades estão presentes neste contin-gente de povos que transitam diariamente pelas ruas de HabanaVieja e Centro Habana, ou em Santiago de Cuba, Varadero, Caiose outras cidades turísticas. Além das atrações naturais Cuba promove muito o turismo deeventos e de saúde, atraindo milhares de especialistas para Con-gressos Internacionais de medicina, além dos projetos que atraempacientes de outros países para realizarem tratamentos de saúdeem Cuba. As áreas de cirurgias plásticas e tratamentos para curaro câncer são as mais procuradas pela eficiência e o baixo custoem comparação com tratamentos em países capitalistas comoEUA, México, Brasil e outros. Esta demanda é parte do bolo tu-rístico que engorda a economia cubana e por isso o governo cuidado setor e implementa inovações para satisfazer os turistas; umadelas é a informatização dos serviços e o melhoramento de acessoà internet. Pra quem se apega a uma vida agitada de metrópole, ficar emHavana, no meio de seus 2 milhões e 200 mil habitantes, é a op-ção. Além do chamado centro histórico com museus, monumen-tos, porto, cidade antiga, muralhas, praças, bares, restaurantes,

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mais visitados são as praias Mégano, Bacuranao, Tarará, SantaMaria, Guanabo e Mar Azul. O mar realmente é azul e transpa-rente nesta costa de La Habana del Este, as areias são brancas efinas como um tapete que a natureza oferece aos humanos, e oclima é agradável mesmo no inverno cubano entre os meses denovembro a janeiro. O cenário é de especial sensação de desape-go e tranquilidade, com segurança da polícia sempre presente nasareias das praias e do povo pacífico e ordeiro. Pra relaxar docotidiano e dos problemas, La Habana del Este é um curto cami-nho. Banho de sol, banho de mar, um suco, uma cerveja, um rum...um lindo mar para mirar. Saindo de La Habana a praia mais buscada pelos turistas epróxima da capital é Varadero, a 2 horas de viagem, com custo depassagem de 10 dólares para ir. Passa por Matanzas, a capital daprovíncia, cidade ligada por pontes, chamada de a Veneza cuba-na, e com grande atração turística por suas famosas cavernas. Cayo Coco, a 4ª maior ilha de Cuba, é um dos mais procura-dos destinos na região central do país, na província de Ciego deÁvila. Possui aeroporto próprio e recebe turistas do mundo intei-ro que procuram paz e lazer neste paraíso tropical. Nas redonde-zas encontram-se muitas outras ilhotas paradisíacas como CayoGuillermo e Cayo Santa Maria. Também no outro lado da ilha, noMar do Caribe, o Cayo Largo, na Ilha da Juventude, é uma atra-ção especial por suas belezas naturais. As famosas praias e a baíada cidade de Cienfuegos também atraem turistas do mundo intei-ro, assim como a bucólica e histórica cidade de Trinidad. Quem quer conhecer um pouco da história primitiva de Cubaencontra em Holguín a Aldeia dos Taínos, com casas de nativosreproduzindo como era a vida dos povos originários da ilha antesda invasão europeia. Nesta província encontram-se várias e belaspraias, como Cayo Naranjo, Guardalavaca e outras.

As serras ao redor de Pinar del Rio, bem como as serrasno centro da ilha e a famosa Serra Maestra no oriente de Cuba,são atrações turísticas muito visitadas e possuem infraestrutura ne-cessária para atender os turistas.

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Arte cubana exposta nas ruas em Havana., e artesanato de Santiago

A histórica SierraMaestra atraituristas a Santiagode Cuba e região.

Arte cubana exposta no Hotel Nacional, em Havana.

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UMA RICA CULTURACOM MUITA ARTE

Sem dúvidas Cuba possui atrações naturais. Mas o povo civi-lizado de Cuba produz muita cultura, muita arte plástica, artesana-to, música, literatura, teatro, cinema, programas de televisão, tele-novelas, radionovelas, balé, danças afros e latinas, etc. É realmentemuita geração de arte, muita criação, muitos shows, eventos, feiras,festivais, por todo o território da ilha. Produtores e artistas se movi-mentam neste ambiente cultural que culmina com grandes espetácu-los nos diversos teatros e nas ruas. E além dos eventos culturais,Cuba também tem seu carnaval, com desfile de blocos de fantasiase alegorias, que alegram as ruas de Santiago, Havana e outras cida-des em julho de todos os anos. É a conga, o povo canta e cai nadança popular.

CINEMA LEVA MULTIDÕES PARAAS GRANDES SALAS

Tive a oportunidade de assistir entre os dias 03 e 13 de de-zembro de 2015, a 37ª edição do Festival Internacional do NovoCine Latinoamericano, em Havana, e também em Santiago de Cubae outras províncias que foram sub-sedes do festival. Foram 444filmes em exibição e competição em 16 salas de cinema da capital.No Hotel Nacional aconteceram conferências e seminários sobretécnica e política da arte cinematográfica, além de apresentaçõesde filmes, lançamentos de mostras e entrevistas de diretores e pro-dutores. Um intenso movimento de profissionais e apreciadores decinema deram um impulso ao turismo na cidade, em especial aobairro Vedado nas margens do histórico Malecón, o calçadão naorla marítima de Havana, onde concentrou-se a maioria das ativi-

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dades.Filmes de vários países latinoamericano como Cuba, Ar-

gentina, Peru, Venezuela, Brasil, Costa Rica, Colômbia, Chile, Mé-xico, Trinidad & Tobago, Paraguai e outros, retratam a realidadedestes países através de suas personagens e histórias gravadas noscenários destas nações, com suas músicas e costumes próprios.Também aconteceram mostras de curtas, cine experimental e defilmes Espanhóis, Alemães e norteamericanos que não disputampremiação.

Os cinemas ficaram completamente lotados em todos oshorários que começavam às 10 h da manhã e se estendiam até às22:30 h, com 6 seções diárias. Os preços dos ingressos paracubanos e estrangeiros foram bastante baixos, apenas 2 pesosnacionais por filme, o que representa 10 centavos de dólar. Tam-bém foram vendidos os passaportes para 7 filmes por 10 pesos,ou seja, 40 centavos de dólar. Na entrada do cinema foram distri-buídos cupons para o público que votou para apuração do filmemais popular do festival. Porém existiu uma comissão de jurados,cineastas de vários países, que fizeram o julgamento especializa-do. O festival teve patrocínio do governo cubano, através do Mi-nistério da Cultura e algumas de suas estatais, como a companhiatelefônica ETECSA, fábrica de run Havana Club, CigarrillosBrasCuba, além de apoio de instituições culturais e cinematográ-ficas de vários países, bem como de companhias aéreas da Fran-ça, Peru e outras.

Em Havana existe uma sala de cinema em homenagem aocineasta brasileiro Glauber Rocha. Neste local foram apresentadosdezenas de filmes que participaram do festival.

Assisti a alguns filmes nestes dias, entre os quais os filmesbrasileiros Aspirantes e Campo Grande, bem como os filmes emlíngua espanhola La Novia, da Espanha; Distancias Cortas, doMéxico; Vuelos Prohibidos, de Cuba, em parceria com franceses,que tem como cenário as cidades de Paris e Havana; Café Amargo,filme cubano gravado na Sierra Maestra, e outros mais. Um festival que promete muito mais nas próximas edições. As-sisti ainda filmes colombianos, peruanos, outros brasileiros,

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costariquenhos, venezuelanos, chilenos, de outros países latinos e asmostras de filmes da Espanha e Alemanha. Em Cuba a cultura évalorizada e os baixos preços dos ingressos dão oportunidade aopovo de participar. Você assiste 7 filmes por apenas 40 centavos dedólar. No Brasil uma sessão de cinema custa em média de 3 a 6dólares. Isto explica por que as salas de cinema no Brasil são pou-cas, pequenas e têm um limitado público de classe média, enquantoque em Cuba os cines são enormes e ficam lotados de povo, comfilas nas entradas, para assistirem as belezas da sétima arte da hu-manidade. Por isso Cuba possui uma das mais importantes escolasde cinema da América Latina, a Escola Internacional de Cinema eTV de San Antonio de Los Baños, que recebe alunos do mundointeiro para seus cursos.

A MÚSICA FAZ PARTE DA VIDADO POVO CUBANO

A grande marca internacional da cultura cubana é a música.Costumo dizer que o ópio do povo cubano é a música. É umpovo musical, tem música alta nos ônibus e táxis, tem música naslojas e restaurantes e nas casas. Os cubanos e cubanas gostamde dançar, aquela dança sensual de rebolar. São os inventoresdo internacionalmente difundido bolero, como expressão musicaldo romantismo, e pais da salsa, o ritmo dançante que convida atodos para bailar sensualmente e alegremente. Em todos municí-pios de Cuba existe ao menos uma Casa de la Música que ensinaa arte de executar um instrumento musical. Grande parte da ju-ventude cubana é atualmente formada em música. A música ématéria de escola primária e ajuda a forjar um cidadão com maissensibilidade. E atrás desta música vem a dança, outra especiali-dade do povo cubano. Os grandes e consagrados nomes da música cubana, grava-dos pela indústria fonográfica em Cuba, são, entre outros, BennyMoré, Miguelito Valdéz, Chucho Valdéz, Olga Guillot, CarlosPuebla, Pablo Milanes, Silvio Rodriguez, Paquita La del Barrio,

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Tânia Pantojas, Omara Portuondo, Celia Cruz, Alexander Abreu,David Calçados, Príncipe, orquestras Van Van, Buena Vista So-cial Club, Gente de Zona, Miguel Farilde, pianista Fran Fernandese outros que fazem sucesso na mídia cubana da música. GravamCDs e DVDs, são tocados nas emissoras de radio e TV, fazemshows nos teatros, casas de espetáculos e nas ruas das cidadescubanas e do Caribe, são amados, imitados e seguidos nas redessociais, fazem muito sucesso e são prestigiados e pagos por isso. A música rural, do povo campesino, é a Trova, uma cançãocom violas e muito improviso, onde canta o repentista e a repentistacubana. São as guajiras e tem um programa de TV muito popular,Palmas e Canas, que divulga estas canções de origem espanhola.Grandes nomes fazem parte deste estilo musical muito popular namaior ilha caribenha, tais como Guillermo Portabales, RamonVeloz , Coralia Fernandez , Celina Gonzalez, Martin Silveira,Miguel Puertas Salgado, Juan Páginas, Horacio Martinez eoutros. Mais tarde surgem Pedro Valencia, Maria Matancera,Nena Cruz, a Calandria, Edelmira Vera e tantos outros que sur-gem pela ilha.

FESTIVAL INTERNACIONAL DE JAZZ

Outra grande atração musical em Cuba no mês de dezembroé o Festival Internacional de Jazz de Havana, criado em 1979 eorganizado pelo consagrado pianista Chucho Valdéz, que reúneos melhores músicos cubanos e de vários países, incluindo osEstados Unidos e Brasil. Foi a partir de Cuba que surgiu o jazzlatino que ganhou espaço no mundo todo, incluindo no tradicionaljazz do sul dos EUA ingredientes da cultura musical afro-cubanaque se desenvolveu no final do século 19 e no século 20. Osteatros de Havana ficam lotados e os músicos estrangeiros en-cantados com os sons e músicos cubanos que possuem fama in-ternacional por seu talento. Durante o festival, os fãs de jazz se reúnem para grandes con-certos nos teatros Amadeo Roldan, Nacional e Mella, mas são os

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eventos em clubes de Havana que realmente emocionam. No bair-ro Vedado, em casas noturnas como La Zorra y el Cuervo e oJazz Café, acontecem a magia dos instrumentos e o encanto dojazz. Ao longo dos anos a programação do Festival de Jazz incluiunomes de artistas como Dizzy Gillespie, Charlie Haden, RoyHargrove, Steve Coleman, Richie Cole, Max Roach, CarmenMcRae, Leon Thomas, Tete Montoliu, Airto Moreira, Tânia Ma-ria, Dave Valentin, Michel Legrand e Ivan Lins. Porém são osmúsicos cubanos que têm sido a força motriz por trás doFestival. A lista de participantes inclui nomes importantes: Arman-do Romeu, Chucho Valdés, Gonzalo Ruvalcaba, BobbyCarcaças, Los Van Van, Ernan López-Nussa, NG LaBanda, Orlando Valle e as presenças de impressionantes jovensmúsicos emergentes das escolas cubanas que resultou na criaçãodo Jazz Jo (Jovem Jazz), um Festival que acontece antes do eventoprincipal como um concurso para jovens músicos. Música é a vida dos cubanos. Eles acordam escutando músi-ca, passam o dia escutando música, dormem escutando música,respiram música. As novas gerações de cantantes surgem a cadaano nos palcos e estúdios de Cuba, como é caso dos jovens can-tantes Maurício Figueiral, Lena Burke, Adrián Berazaín, DavidTorrens, Kelvis Ochoa, Raúl Torres, Raúl Paz, Rey Montalvo emuitos outros que estão revolucionando a música cubana con-temporânea. O leitor pode colocar no YouTube um destes nomese assistir o talento destes jovens cubanos.

Músicos nos baresalegram turistas ecubanos.

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O BALLET CONSAGRADODE CUBA E ALÍCIA ALONSO

Além da música, os cubanos se orgulham do ballet do país. Equando se fala em ballet cubano temos que mencionar o nome dacélebre Alícia Alonso, que no seus 95 anos de idade foi homena-geada em vida com o seu nome sendo o do principal teatro dopaís, o Gran Teatro de Habana Alícia Alonso, restaurado ereinaugurado em 2016. O Ballet Nacional de Cuba foi criado em 1948, pela primeirabailarina absoluta de Cuba, Alicia Alonso. Na mesma época elatambém fundou a Escola Nacional de Ballet, inicialmente comocentros privados, de cultura e arte. Após a revolução socialista deFidel Castro, em 1959, ambos foram estatizados recebendo totalapoio do novo governo e abrindo suas portas para os grandestalentos que surgiriam na Ilha, vindos das mais remotas Províncias.A partir dos anos 60, toda criança que manifestasse real talentopara a dança, especialmente o balé, poderia se candidatar a umavaga na Escola Nacional de Ballet de Cuba (hoje chamada"Fernando Alonso"), onde são formados os grandes bailarinos deCuba. Ao completar os estudos esses alunos são avaliados pelarigorosa seleção do BNC, onde apenas os melhores serão admiti-

Gran Teatro de Habana Alicia Alonso

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dos. Os demais, mesmo que não venham a integrar seus quadros,são encaminhados para outras companhias, pois há muitas delasem toda a Ilha. Lá, os jovens que estudam balé, sempre terão em-prego, pela diversidade de ofertas no segmento da dança. Máxima expressão da escola cubana de balé, o BNC figurahoje entre as maiores companhias de balé clássico do mundo. Origor artístico e técnico de seus bailarinos e a concepção estéticade seus coreógrafos permitem ao BNC ocupar um lugar de desta-que entre as grandes instituições do gênero no cenário internacio-nal. Montagens completas de balés de repertório como “Giselle”,“O Lago dos Cisnes”, “Coppélia”, “Dom Quixote” e outras, emnada deixam a desejar às demais companhias do Mundo. Até hoje o BNC é dirigido pela sua fundadora Alicia Alonso.Nascida em 1920. Atualmente com sérios problemas de visão elocomoção pela idade avançada, ela apresenta um vigor espanto-so. A grande dama do balé cubano, que até os 70 anos de idade seapresentou pela companhia, ainda hoje trabalha nas montagens dosespetáculos. Ao excursionar pelos grandes centros mundiais, o BCNtem sempre Alicia Alonso em seu comando. Anualmente o BNCmonta e apresenta os principais balés de repertório, sempre a pre-ços populares em CUPs, para os cubanos, já para os estrangeirosos preços são maiores e em CUCs, mas sempre lotam as plateias.Ao mesmo tempo, a companhia não deixa de prestigiar as obras deautores cubanos, permitindo uma constante renovação do fluxo cri-ativo entre os artistas locais, o que faz de Cuba um centro de pu-jança artística. O BNC além de uma grande companhia de balé, se presta aoimportante trabalho de moldar e formar talentos, com suas Cáte-dras de dança para estrangeiros, com ampla abrangência discipli-nar, aplicada a grupos ou individualmente.

(Fonte: http://www.pasdecuba.com.br/bnc.html)

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ORQUESTRA SINFÔNICANACIONAL DE CUBA

Corpo do que rege Filarmônica Nacional de Cuba . Desde o seu pri-meiro concerto tem desenvolvido um importante trabalho de difusão damúsica americana e universal Cubana, Latina de todos os períodos etendências estilísticas. Ela tem atualmente um número significativo dedirigentes cubanos e convidados estrangeiros. Tem escritórios e sedepermanente no Teatro Amadeo Roldan Auditorium , instalaçãoemblemática na história da cultura musical cubana, mas hoje ofereceprovisoriamente seus concertos públicos no Salão Covarrubias do TeatroNacional de Cuba . Fundada em 7 de Outubro 1959 pelosprofessores Enrique González Mántici e Manuel Duchesne Cuzan é ainstituição líder da Filarmônica Nacional de Cuba . Desde o seu primeiro concerto desenvolveu uma ampla divulgaçãoda música cubana, latino-americana e universal de todos os períodos etendências estilísticas. Inclui no seu crédito mais de dois mil concertosnacionais e internacionais e entre as suas linhas básicas de trabalho sãoconcertos sazonais regulares, programação de concertos sinfônicos - ci-clos de coral de concertos educacionais, turnês nacionais e acompanha-mentos para ópera e entretenimento ballet. Também destaca as grava-ções de trilhas sonoras, produções musicais e participação em eventosnacionais e internacionais. Em todos estes anos, a Orquestra SinfônicaNacional de Cuba foi conduzido por mais de cem diretores nacionais eestrangeiros. Também teve a participação de solistas de renome interna-cional. Atualmente tem um número significativo de dirigentes cubanosque passam pelo pódio como Zenaida Romeu , Ivan del Prado , ElenaHerrera , Guido Lopez-Gavilan , Jorge Lopez Marin , Enrique PérezMesa - o último, Maestro Principal - e Leo Brouwer . A OrquestraNational Symphony Orchestra de Cuba tem a sua sede permanenteno Teatro Amadeo Roldan auditório , instalações de capitânia na históriada cultura musical cubana, mas hoje oferece provisoriamente seus con-certos públicos no Salão Covarrubias do Teatro nacional de Cuba .

(Fontes: Radames Giro. Dicionário Enciclopédico de Música deCuba. Editorial Letras Cubanas, Havana, de 2009. Orquestra Sinfônica Naci-onal) http://www.ecured.cu/Orquesta_Sinfónica_Nacional_de_Cuba.

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UMA RICA LITERATURA

Outra marca da cultura cubana é sua rica literatura, repletade talentos em todos os gêneros, desde a poesia, passando peloscontos, romances, crônicas, ensaios e outras manifestações escri-tas. As editoras em Cuba são de controle do estado e por toda a ilhaexistem muitas delas, publicando os autores cubanos e estrangeiros,em especial os latino-americanos. Proliferam concursos de poesias,contos e novelas, quando os escolhidos participam com seus traba-lhos em coletâneas ou edições individuais. Além dos grandes e con-sagrados escritores cubanos, existem os autores regionais que tra-balham com temas de suas províncias e divulgam seus poemas emproporção menor, mas nem por isso deixam de ser poetas do povocubano e em todas as cidades, vilas e bairros encontramos poetas,na maioria das vezes inéditos. Em cada prédio ou bairro habitampoetas.

Realmente a literatura cubana é muito rica e cito aqui al-guns dos nomes mais expressivos da poesia e da prosa, para queo leitor possa procurar seus textos e biografias: José MariaHerédia, José Martí, Carilda Oliver Labra, Alejo Carpentier, JuanClemente Zenea, Luís Suardiaz, Heberto Padilla, Luís RogelioNogueras, Nancy Morejón, Henrique Loynaz, Nicolás Guillén,Roberto Fernández Retamar, Alexis Díaz-Pimenta, Pablo Arman-do Fernández, José Ángel Buesa, Agustin Acosta, Carlos Raul

Feiras de livros permanente nas ruas e praças de Cuba

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Pérez, Antonio Nuñez Jiménez, Jorge Fernández Era, César Garciadel Pino, Miladis Hernandez Acosta e tantos outros consagradosou não.

O custo do livro em Cuba realmente é baixo. O leitor podepercorrer livrarias ou feiras ao ar livre pelas ruas de Havana ouqualquer cidade cubana e adquirir exemplares por apenas 6 pe-sos, o equivalente a 1,00 real, ou ainda por 10, 12, 20, 30 a 50pesos nacionais, em torno de 2 dólares. Porém os livros mais re-centes, lançamentos atuais, encontram-se à venda nos hotéis e li-vrarias por preços superiores que chegam a custar 15 dólares. Amaior feira de livros de Cuba acontece no mês de fevereiro e cha-ma-se Feira Internacional do Livro, instalada no famoso castelode Cabaña, no outro lado da Baía de Habana. No ano de 2016 opaís homenageado foi o Uruguai e teve a marcante presença doex-presidente uruguaio Pepe Mujica. Neste espaço encontram-se livros em várias línguas e o Brasil sempre se faz presente comsuas publicações em português.

Em homengem aos jovens poetas que surgem todos os diasem Cuba, vou publicar aqui um poema de uma jovem poeta inédita,Liliana Leyva Reyes, de Ciego De Ávila, no centro de Cuba.

MIEL DE AMARGURA

Yo tengo planes y sueños,Amores que nunca olvido,Tengo recuerdos risueñosAl ver tus labios dormidos.

Esta ausencia tuya hiereEn las alas mi corduraMás mis deseos no mueren,Si mi amor por ti perdura.

No pongo tu amor a prueba,Ni escapo a tus ataduras,Pero quiero, mientras lluevaHagas miel de mi amargura.

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CASA DE LAS AMÉRICAS

A mais importante instituição da literatura cubana é a Casade Las Américas, que anualmente promove o maior concurso lite-rário do país e da América Latina, premiando os melhores dacontemporaneidade e homenageando outros países. Tive a opor-tunidade de participar em janeiro de 2016 do lançamento do Prê-mio Casa de Las Américas 2016, na sede da entidade, situada nasproximidades do Malecón, no bairro Vedado. A ampla coberturada imprensa e a presença de autores sempre marca este lança-mento que abre as inscrições para as obras. A Casa de lasAméricas é uma organização fundada em Cuba em 1959, para pro-mover o intercâmbio da cultura cubana com a de outros paísesda América Latina. Foi criada apenas quatro meses depois da vi-tória da Revolução Cubana, por Haydée Santamaría, que presidiua entidade até 1980. O segundo presidente foi MarianoRodríguez (1980-1986), sucedido por Roberto FernándezRetamar (desde 1986). A entidade ocupa um edifício em estilo artdéco, que abriga uma coleção de arte cubana e latino-americana.Além de promover festivais, exposições e encontrosde literatura, teatro, artes plásticas e música, a organização oferecetodos os anos o Prêmio Casa de las Américas, dedicado a escri-tores latino-americanos e caribenhos. Muitos grandes autores em-prestaram o prestígio de seus nomes ao concurso, ao integrar júrisinúmeras vezes, entre eles: Alejo Carpentier, Ítalo Calvino, Ernesto

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Cardenal, Miguel Ángel Asturias, Júlio Cortázar, Camilo José Cela,Nélida Piñon, Antônio Cândido e José Saramago, que foi juradoda categoria "literatura brasileira" em 1992, são alguns dos quederam peso à história do Prêmio Casa, como é chamado peloscubanos. O concurso se orgulha de ter revelado e laureado escri-tores que apenas despontavam na cena literária, como o uruguaioEduardo Galeano, o chileno Antônio Skármeta, o argentino RicardoPiglia, os brasileiros Chico Buarque, Luiz Ruffato, Ângela Leite deSouza, Walter Galvane, André Carvalho, Guiomar de Grammont,Oduvaldo Viana Filho, Moacyr Scliar, Ana Maria Machado,Deonísio da Silva e outros; ainda uma lista de jurados, alguns fa-mosos na esfera literária e fora dela, tais quais Chico Buarque,Ziraldo, Rubem Fonseca, Antônio Callado, João Ubaldo Ribeiro eFernando Henrique Cardoso. Livros escritos em língua portuguesapodem participar deste que é considerado um dos mais importan-tes concursos da América. Os interessados devem procurar infor-mações pela internet ou na embaixada cubana.

Além dos espaços para exposições de artes plásticas e ofi-cinas, a Casa de las Américas possui uma biblioteca que leva onome do inesquecível revolucionário José Antonio Echeverría. Nesteespaço encontrei obras de autores brasileiros e doei exemplaresde meus mais recentes livros publicados.

Espaços para exposições de arte e fotos, e uma biblioteca para atender osfrequentadores que fazem pesquisas sobre Cuba e buscam obrasliterárias.

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BIBLIOTECA NACIONALJOSÉ MARTÍ

Em Cuba existem atualmente 412 bibliotecas, espalhadas portodas as 15 províncias e 169 municípios da ilha, que fazem parte dosistema coordenado pela Biblioteca Nacional José Martí, a maior dopaís e situada em um edifício de 17 andares na Praça da Revolução, emHavana. Esta biblioteca mãe foi fundada em 1901e seu atual endereçofoi inaugurado em 1958, construída em um estilo moderno e com deta-lhes feitos com mármore da Ilha da Juventude e as aberturas e móveiscom madeira nobre de Cuba. Atualmente possui um acervo de mais de7 milhões de livros e 200 funcionários. Tem um teatro com 300 lugarese uma galeria de arte, além de várias salas de leitura. Possui uma salaespecial para deficientes visuais, com máquinas de escrever em braile,salas para pesquisa individual e coletiva, sala de música com acervo devinil, cassete, CD e DVD, e está sendo construído um novo anexo. Abiblioteca está totalmente informatizada. Nas demais 411 bibliotecastambém têm máquinas de braile e atendimento especial para os defici-entes visuais, com aparelhos de som e funcionários que fazem a leiturade livros e jornais para estes usuários especiais. Quem vive em Cubasabe o valor da leitura e por isso que mais de 70% dos habitantes têmformação superior.

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ARTES PLÁSTICASE ARTESANATO

Os cubanos também são excelentes desenhistas, pintores, esculto-res e artesãos. Muitas galerias se espalham pela maior ilha caribenha enos espaços públicos estão expostas as artes deste povo, como no HotelNacional e no Terminal de ônibus Nacional de Havana, onde painéis ex-pressivos estão aos olhos dos passageiros. O artesanato está presenteem todas as cidades, praças, estabelecimentos comerciais para atenderao turista e no Porto de Havana, onde existem galpões repleto de arte. Importantes artistas cubanos: Wifredo Lam (1902-1982), AmeliaPeláez (1896-1968), Mariano Rodriguez, René Portocarrero (1912-1985), Luis Martínez Pedro (1910-1989), Sandú Darié (1908-1991),Amélia Peláez, Servando Cabrera Moreno, Raúl Martínez, Antônio VidalFernández, Lorenzo Romero Arciaga, Tomáz Oliva, Eduardo MuñozBachs, René Azcuy, Alfredo Rostgaard, Umberto Peña, Félix Beltran...Muitos são os nomes das artes plásticas cubanas que exercitam váriasescolas da arte mundial, clássica e contemporânea. Entre os cubanosestão representantes de muitas tendências e esta arte está expressa nasobras expostas pelo país e por vários continentes, em museus públicos eparticulares fora de Cuba, em galerias nas princiais capitais da Europa enos EUA. Entre estes nomes consagrados surgem novos talentos nasescolas de artes da ilha.

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SEGURANÇA E BAIXOSÍNDICES DE VIOLÊNCIA

Cuba tem orgulho de ser um dos países mais tranquilos doplaneta, onde a violência, o assassinato, os sequestros, assaltos,latrocínios, praticamente não existem. São raros os casos de as-sassinatos. Arma é expressamente proibida e a pena para quemfor pego com arma é grande. Só a polícia e o exército em Cubapossuem armas de fogo. Não é como nos EUA ou no Brasil, ondeexistem leis que permitem a compra e o porte de armamentos.Este é um dos tantos fatores para Cuba ter um dos menores índi-ces de homicídios da América, com 05 homicídios para cada gru-po de 100 mil habitantes. A média no Brasil é de 21 por 100 mil.No México está em torno de 22 por 100 mil, na Jamaica passa de52, Honduras está em torno de 92 assassinatos para cada grupode 100 mil habitantes e por aí vai, sendo que neste mapa da vio-lência encontraremos o Canadá com apenas 1,6. O Chile com 3,2e a Argentina com 4,3 e até mesmo os EUA com 4,2. O que fazpensar que Cuba pode e deve melhorar no ranking dos paísesmais pacíficos da América e do mundo. Mas estes números tam-bém não querem mostrar uma Cuba violenta. Na ilha os índicesoficiais de atos de violência contra a pessoa e o patrimônio sãobaixos.

Vivendo no meio da população cubana, tendo amigos emCuba, nas principais cidades como Havana, Santiago, Ciego deÁvila, Cienfuegos, Matanzas, Pinar del Rio, Guantánamo e ou-tras, fiz várias entrevistas sobre o tema da violência, ouvindo depoi-mentos sinceros de pessoas simples, sem maldade, que falam sobreeste e outros assuntos da vida na ilha socialista. Existe uma sensaçãode segurança. Com os habitantes são escassos os depoimentos deassaltos ou latrocínio. Os taxistas, e são muitos, não sabem o que éum assalto à mão armada. Estes crimes de invasões por bandidosarmados de bares, lojas, oficinas, residências, bancos, ônibus, etc,não acontecem em Cuba. O policiamento é intensivo, em toda a ilha,

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e as penas são severas para os criminosos. Em Cuba o tráfico dedrogas, os cartéis, as máfias, os bandos, as quadrilhas, o crime orga-nizado foi banido com a revolução e a educação. A repressão pegouforte pra cima dos bandidos na ilha, muitos foram fuzilados e enforca-dos. O governo não deu espaço para os criminosos e a violência foicontida.

Soma-se a todas as investidas do estado contra o crime ofato de que a maioria do povo tem casa própria e não gasta comaluguel, que a maioria está empregada em alguma estatal, escolaou empresa por conta própria, que a maioria tem boa formaçãoeducacional e mais de 70% da população tem curso superior enão existe analfabetismo, soma-se a essas vantagens o fato deque o transporte coletivo e a alimentação pela libreta são baratos.Este panorama deixa a população mais tranquila quanto às ne-cessidades básicas, o que não ocorre em países como Brasil,México, Argentina, EUA, Colômbia, Peru, etc. Esta tranquilidadeé geradora de paz. O cubano não precisa sair assaltando e matan-do e traficando para ter as coisas em casa, as coisas de que real-mente necessita, sem luxos ou exageros. Este pensamento estan-ca a maldade humana. Um cubano não chama um humano, umhermano, um turista, para esfaquear, balear, estuprar, cometer umamaldade absurda. Pode chamar para vender um charuto, ofereceruma garota de programa, tentar vender rum ou show, ganhar umapequena vantagem ou gorjeta, mas nunca para assassinar comotemos visto nos países de formação ideológica capitalista. EmCuba as pessoas podem sair à noite, ir às discotecas (como eleschamam as casas noturnas), nas pizzarias, restaurantes, espetá-culos, cinemas, sem ter medo de assalto. Esta cultura dobanditismo não faz parte da cultura do povo cubano. Por issoCuba é considerada uma das nações mais pacíficas do planeta, ape-sar de ter guerreado muito por sua liberdade.

A Polícia Nacional Revolucionária - PNR, é a polícia deCuba, criada em janeiro de 1959, após o triunfo da revolução.Constitui-se de uma força policial de natureza civil, com atribui-ções preventivas e repressivas, dirigida por um Diretor-Geral esubordinada ao Ministério do Interior. A PNR desenvolve as suas

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atividades nas 15 províncias de Cuba e na Ilha da Juventude, nasmodalidades de policiamento uniformizado, polícia judiciária econtrole de trânsito. Cada província conta com um chefe de po-lícia local, subordinado ao Diretor-Geral.

A corporação dispõe de vários tipos de viaturas policiais,interligadas por aparelhos de rádio comunicação a uma centralcomputadorizada, entretanto, nas maiores cidades o policiamen-to é realizado a pé. O armamento básico inclui uma pistolasemiautomática e o cassetete.

Mesmo com leis rígidas contra o crime, do baixo índice dehomicídios intencionais, dos latrocínios e do crime organizadopelo tráfico de drogas, os cubanos são precavidos contra o rou-bo, e instalam na maioria de suas residências as famosas gradesde proteção nas portas e janelas. A população teme que as influ-ências da abertura econômica, como o consumismo, podem ge-rar mais roubos e assaltos. Em alguns bairros mais pobres dosubúrbio de Havana, alguns adolescentes tentam montar ganguesmas a polícia está sempre vigilante e acaba prendendo osdelinquentes que se organizam para roubar. Os CDRs -Comitêsde Defesa da Revolução, espalhados por toda a ilha e instaladosem todos quarteirões e prédios de Cuba, ajudam muito na pre-venção do crime e delação de criminosos. Um dos relatos queouvi de uma cubana de 52 anos é que se orgulhava muito dosCDRs na sua infância, pois mantinham bem conservados os pré-dios, atuando como espécie de síndicos, e também a segurançalocal. E concluiu seu relato lamentando que nos dias atuais ospresidentes de CDRs não tenham a mesma dedicação dos anteri-ores dos anos 70, 80, 90 do século passado. Mesmo assim o CDRé uma importante ferramenta de apoio ao Estado para manter aordem no país.

As revistas especializadas em turismo mostram uma ilhapacífica, tranquila, sem problemas com o tráfico de drogas nemsequestradores, um paraíso tropical onde o que mais interessa é afesta, sem violência. E os dados estatísticos realmente expressamisso. Porém a crise econômica da globalização deixa muitos paísesreféns de um mercado internacional disputado e competitivo. Cuba é

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um exemplo de país que, além de sofrer um embargo comercial im-posto pelos EUA, acabou tendo sua economia afetada pela quedade negócios com parceiros em crise, como Venezuela, Rússia, Brasil,México, Argentina e outros. Esta realidade acaba aumentando a po-breza na ilha e este fato faz com que muitos jovens prefiram o crimemais comum: o roubo. No entanto não existe em Cuba, como vemosno Brasil, a maldade e a agressividade, os assaltos com armas e as-sassinatos por bens de consumo, que são comuns nas cidades brasi-leiras e de outros países liberais. Praticamente não existe o roubo decarro na ilha, ao contrário do que vivenciamos no Brasil onde cida-des como Porto Alegre registram 20 roubos de carros por dia e 5assassinatos diários de jovens envolvidos em tráfico de droga ou porassaltos em lojas e ruas. Não é da índole do povo cubano a maldadede querer esfaquear ou balear outra pessoa para lhe roubar o fonecelular, o tênis importado, a correntinha de ouro, o carro e o di-nheiro que tiver.

A sociedade cubana, no passado, antes da Revoluçãosocialista, sofreu com a violência das gangues e traficantes quefaziam da maior ilha do Caribe o seu refúgio, como era o casoda máfia de Al Capone. A revolução fez repressão ao crime or-ganizado, construiu leis duras contra o banditismo, proibiu osjogos de azar e moralizou os jovens. Viciado em drogas em Cubaé um péssimo exemplo de jovem que envergonha os pais, fami-liares e amigos. E a maioridade penal é de 16 anos, em cadeiaespecial.

TOLERÂNCIA ZERO AO TRÁFICODE DROGAS

O tráfico foi amplamente combatido com leis duras quecondenaram à pena de morte por fuzilamento vários traficantes.O caso de maior repercussão foi o do General Ochoa, fuziladoem julho de 1989. Arnaldo Ochoa Sánches era General de Divi-são do Exército Cubano e montou dentro do Ministério do Interi-or uma quadrilha que operava com corrupção e tráfico de drogas

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em parceria com o colombiano Pablo Escobar. Entre 1986 a 1989estima-se que esta quadrilha movimentou cerca de 6 toneladas decocaína, recebendo no aeroporto da cidade-praia de Varadero e ou-tros menores, enviando posteriormente para os EUA. A investigaçãopegou forte nos envolvidos e 4 militares foram fuzilados: o generalOchoa, o capitão Jorge Martínez Valdéz, o coronel Antonio de LaGuardia Font e major Amado Pedrón Trujillo. Outros 10 membrosdesta quadrilha foram condenados à prisão em penas que variaram de10 a 30 anos. Este exemplo ficou marcante em Cuba e todo o pro-cesso, com depoimentos dos acusados e pareceres dos juízes, estáregistrado no livro "Narcotráfico - Vindicación de Cuba" (Editorapolítica, 1989, Havana). O livro também revela números da opiniãopúbica que se manifestou favorável à aplicação das penas em 79%.

Existe droga em Cuba? Sim, existe, mas em pouca quantida-de e com preço bem caro. Existem pequenos traficantes de "marijuana"(maconha) e de papelotes de cocaína, mas estes são perseguidos,discriminados e presos. Não é o nível do Brasil, Colômbia e do Mé-xico, onde os traficantes estão empoderados, possuem exércitos comarmas potentes e comandam legiões de bandidos nos bairros, favelase cidades, assassinando adversários e criando uma própria lei, esco-lhendo seus políticos e lideranças sociais, assaltando bancos e gran-des empresas para investir na compra de drogas e armas. Esta rela-ção perversa, esta guerra sangrenta onde a ideologia é o lucro sobre avida, não se encontra em Cuba. O povo cubano tem uma índole pací-fica e respeitadora.

Policiamnto intensivo eeducativo nas cidades epraias.

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Catedral em Habana Vieja Igreja em 10 de Octubre

Catedral em Santiago de Cuba

Religião Afrcana

Igreja Ortodoxa russa Igreja em Centro Habana

Templos católicose evangélicos portoda a ilha

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AS DIVERSAS RELIGIÕESPRESENTES NA ILHA

Ao contrário do que muitos pensam, o povo cubano é bas-tante místico e religioso. Desde os primeiros habitantes nativos esuas crenças, passando pela colonização dos católicos espanhóisque implantaram o cristianismo, até as entidades das religiões afri-canas importadas com os escravos. Atualmente o que mais cresceem Cuba, em termos espirituais, são as igrejas evangélicas e oespiritismo, que conquistam novos fiéis a cada dia. A visita de 2Papas à ilha, em especial a do 1º Papa latino-americano (argenti-no), Francisco, em 2015, fez crescer os quadros dos seguidores docatolicismo, retomando uma tradição religiosa dos colonizadoresespanhóis.

O herói maior de Cuba, o apóstolo da liberdade, escritor,poeta, jornalista, político e guerreiro José Martí Perez, manifestavaem seus escritos e debates públicos, nas rodas de intelectuais do sé-culo 19, sua afeição pela doutrina espírita. Em vários ensaios e artigosmanifestou esta opinião religiosa. Já o maior líder cubano do século20, Fidel Castro Ruiz, em suas manifestações a respeito de religião,salientou que sua família, em especial a mãe e a avó, eram católicaspraticantes, e que ele e seus irmãos se criaram neste ambiente e estu-daram em escola cristã. Fidel, em entrevista ao brasileiro Frei Beto,no livro "Fidel e a Religião" (1985), fez uma correlação entre JesusCristo e Karl Marx, de que ambos lutaram pelo mesmo ideal de igual-dade entre os seres humanos. Fidel salientou que nunca teve nadacontra a religião, mas que em certo momento do processo revolucio-nário teve que prender e deportar alguns padres que estavam colabo-rando com os contrarrevolucionários, escondendo nas igrejas as ar-mas e dando abrigo aos que tentaram derrubar a revolução socialista.Outro momento de crise entre o estado cubano e a religião foi a ex-propriação das escolas católicas que passaram a pertencer ao gover-no. Mesmo assim o povo cubano continuou com sua religiosidadeexpressa em um sincretismo que envolveu deuses africanos e santos

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católicos, dando origem a diversas religiões e seitas que praticam aespiritualidade na ilha.

As principais religiões de origem africana são La Santeria ouLa Regla de Ocha, La Regla de Palo Monte ou Paleros, e La SociedadAbakuá; Depois vêm Espiritismo de mesa, de cordão e cruzado; Igre-jas evangélicas, pentecostais e Testemunhas de Jeová, e a tradicionalIgreja Católica Apostólica Romana. Por toda a ilha existem enormese antigas catedrais que ilustram bem a religiosidade deste povo. Asprincipais festas são a Peregrinação de San Lázaro, em Rincón, LaHabana, no dia 17 de dezembro; a peregrinação da Virgem da Cari-dade del Cobre, dia 08 de setembro, em Santiago de Cuba; e a pere-grinação de Santa Bárbara, em 04 de dezembro.

Estas peregrinações anuais são verdadeiras festas populares eenvolvem milhares de pessoas que mostram sua devoção a Deus eaos Santos, contrariando aquela falsa lenda de que os comunistasacabaram com a religião em Cuba e que proibiram a crença emespiritualidade em prol do materialismo e do ateísmo. Cuba, possoafirmar, é uma nação com um povo religioso e pelas ruas podemosver as santeiras vestidas de branco, os crentes com suas bíblias indopara os cultos ou os cubanos frequentando os templos católicos er-guidos em todas as cidades da ilha.

Fieis visitam as igrejas da ilha

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UMA IMPRENSACOMPROMETIDA

COM A REVOLUÇÃOSão muitas as emissoras de rádio e televisão que alegram e

informam o povo cubano. Todas ligadas ao estado e controladaspelo governo, com o objetivo de manter o ideal revolucionário,divulgar as conquistas da revolução, promover as atividades pú-blicas de gestão socialista e cobrir os espetáculos artísticos musi-cais e esportivos. Escutei muitas horas de rádio, passava escu-tando rádio e vendo TV quando estava em casa. Eu dormia como rádio ligado na Rádio Reloj, 24 horas de notícias de Cuba e detodo o planeta. Pela manhã sintonizava a Rádio Progresso, pas-sava pela Rádio Rebelde e seguia pesquisando novas emissoras eescutando seus programas. Ouvi uma radionovela, com atores etrilha sonora de qualidade, relatando histórias de amor e dramas,mas também utilizadas para promover novas ideias que surgemna sociedade cubana, como as cooperativas não agrícolas, comocooperativas de costureiras, etc. Uma programação sem publici-dade de empresas, porém com intervalos para anunciar a gradede programas, e na TV trailers de filmes, cenas de esportes eprogramas musicais, de entrevistas, telejornalismo bem dinâmi-co e moderno, novelas cubanas de alto nível cinematográfico gra-vadas nos cenários de Havana e outras cidades da ilha. As nove-las brasileiras também fazem sucesso em Cuba e muitos de nos-sos atores brasileiros são celebridades na ilha caribenha, como éo caso de Glória Pires, Antônio Fagundes e outros. No períodoem que estive vivendo em Cuba para fazer minhas pesquisas,assisti as novelas brasileiras "Duas Caras" e "Império" com oscubanos, em suas casas. Segunda, quarta e sexta passam novelabrasileira. Terça, quinta e sábado é noite de novela cubana, a par-tir das 21 h. E o "jornal nacional" de Cuba é o "Noticiero", quepassa diariamente em várias emissoras antes das novelas. O prin-

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cipal programa diário de entrevistas é o "Mesa Redonda", com jor-nalistas e convidados de várias áreas para debaterem temas pontuaisdo país e do mundo.

A mídia cubana coloca no ar, diariamente, acontecimentoshistóricos do país, como datas de batalhas, combates e datas co-memorativas de nascimento de seus heróis e também a lembran-ça de suas mortes. As vinhetas rodam nas rádios e TVs com otítulo de "O dia na História" contando algo sobre a data. Nosespaços de jornalismo são apresentadas notícias das atividadesdo governo em todas as províncias, reportagens sobre produçãoagrária, industrial, comercial, turismo, cultura, ciências, espor-tes, serviços e em especial programas musicais. Tem um progra-ma que está puxando a mente dos cubanos e alcançou excelentespontos na pesquisa de audiência, trata-se do programa "Laneurona intranquila". O programa de humor "Vivir del cuento" eos musicais "Sonando em Cuba" e "Palmas Y Canas" alegram asnoites dos cubanos assim como o programa "Entre Amigos".Seriados policiais e românticos também são apresentados na TVcubana no domingo, além de documentários e shows.

A TV cubana mostra muitos filmes, inclusive dos EUA,brasileiros, franceses, alemães, ingleses, russos, e apresenta umaampla e boa pauta sobre esporte, com partidas do campeonatonacional de beisebol, lutas de box e jogos de futebol da LigaEuropeia. Existem as principais emissoras, de cobertura nacio-nal, e em cada capital de província existe a TV local que faz suaprogramação regional e reproduz a programação nacional. Asprincipais emissoras são Cuba Vision, Tele Rebelde, CanalEducativo, Canal Habana, Multivicion e Telesur (da Venezuela).Somam-se a elas as programações regionais das 15 províncias eIlha da Juventude. A TV cubana tem um caráter educativo, deinformar a população, e não de aterrorizar. Não existem progra-mas específicos sobre crimes e acidentes trágicos, estes apare-cem discretamente nos noticieros. Nos intervalos dos filmes,novelas, jogos e programas, aparecem anúncios de campanhasde educação no trânsito, prevenções de doenças, dicas de saúde,propaganda de eventos culturais, científicos, esportivos e outras

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notícias de interesse coletivo.As principais emissoras de rádio que sintonizei na ilha fo-

ram a Rádio Progresso, a Rádio Reloj, a Rádio Rebelde, a RadioCuba, a Rádio Cubana, a Radio Habana Cuba, a Rádio Metropo-litana e emissoras regionais nas províncias.

Em Cuba também os jornais pertencem ao estado e sãocontrolados pelo governo revolucionário. Os principais são oGranma, diário oficial do Partido Comunista, que circula em todaa ilha; Trabajador, diário nacional da Central de Trabalhadoresde Cuba; Juventud Rebelde, diário nacional da juventude cuba-na; Opciones, semanário econômico, financeiro e turístico deCuba; Negócios em Cuba, el periódico mensual de los empresá-rios; a Revista Bohemia (mensal); os principais semanários pro-vinciais Tribuna de Havana, Ahora (de Holguín), Adelante(Camaguey), Invasor (Ciego de Ávila), 5 de Setember(Cienfuegos), Venceremos (Guantánamo), Sierra Maestra (San-tiago de Cuba), Vanguardia (Villa Clara), Victória (Ilha da Ju-ventude), Guerrillero (Pinar del Rio), Girón (matanzas) e outrostantos impressos. Todos publicam notícias do país, do mundo,das províncias, das cidades, dos bairros e das entidades. Comcríticas moderadas e construtivas. Todos os jornais têm um com-promisso com a manutenção da revolução e suas conquistas. Ogoverno não quer permitir a impressão e circulação de jornaisoposicionistas, liberais, capitalistas, sem compromisso com arevolução e que são editados por contrarrevolucionários a fimde provocar desestabilidade política e social. Todos os jornaisimpressos possuem a plataforma online, com sites atualizados.Sabendo da importância da imprensa para manter o regime soci-alista, Fidel Castro estatizou toda a mídia privada cubana exis-tente, deu novo enfoque editorial pra este setor e criou a agênciaPrensa Latina para divulgar para o mundo as ações do processorevolucionário em Cuba, pra não depender das agências interna-cionais capitalistas dominadas por norteamericanos e judeus.Todos jornais, rádios e emissoras de TV passaram a divulgarnotícias de interesse da construção da sociedade socialista, semdar espaço para as ideias do inimigo imperialista. Cuba sofreu

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muito com a invasão de ondas de rádio e TV geradas a partir deMiami para rebelar o povo contra o castrismo, mas conseguiuinterferir em parte esta ameaça midiática. Porém hoje a entradade notícias questionando e criticando arduamente o regime co-munista são através da internet, dos sites, blogs, TV e rádiosonline que invadem os lares. A alternativa atual do governo soci-alista é a batalha do convencimento e da mostra das provas esta-tísticas de que o caminho certo é manter Cuba longe das práticaspolíticas, econômicas e sociais do capitalismo gerador de enor-mes desigualdades e causador de misérias, violências e guerras,conforme comprova a História da Humanidade. Esta é a situaçãoque percebo da mídia na República de Cuba hoje. Uma mídiaque não semeia discórdias e intrigas entre governo e sociedade.Uma imprensa comprometida ideologicamente com o sucesso ea manutenção do processo revolucionário sempre em curso. Umaresponsabilidade com o ideal social em que acreditam. Sempreatentos às ameaças mercenárias que cercam os periodistas deplantão.

Fica a questão: é normal aceitar que a imprensa nos paísescapitalistas defenda com unhas e dentes a tese do neoliberalismo,mesmo noticiando diariamente a miséria, a violência, a desigual-dade social, a fome, as guerras e a fraqueza destes estados paraatender as demandas do povo (saúde, educação, segurança, em-pregos...), e no entanto tenta-se legitimar e tornar normal a críti-ca aos jornalistas que defendem a tese do socialismo do século21, que está sendo aplicado em países como Cuba e Vietnã. Aliberdade de escolha, o livre arbítrio tão defendido pelo liberalis-mo, em tese, não em prática, pois a exploração através do podersobre os meios de produção não deixam escolhas aos trabalha-dores a não ser pegar ou ficar sem nada e passando dificuldadesdentro do sistema individualista; esta liberdade de opinião acabasendo negada a quem defende com provas estatísticas e difundepela imprensa a tese econômica e política do socialismo. Porquê? É a renovada guerra de classes com nova roupagem e novalinguagem. Esta é a guerra que Cuba enfrenta no momento nosmeios de comunicação.

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Alguns dos jornais que circulam na ilha de Cuba:

Revista Bohemia circula em Cubadesde o início do século XX.

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AS INSTITUIÇÕES POLÍTICASE AS ELEIÇÕES EM CUBA

Cuba é uma democracia? Esta é a pergunta que fazem nomundo todo e as respostas são inúmeras. Existem vários pontosde vista sobre o que é democracia. Existem modelos e concep-ções. Na nossa cabeça ocidental, nos países dominados cultural-mente pelo liberalismo, pelo capitalismo, existe o modelo quequer ser hegemônico na humanidade contemporânea, porém exis-tem outros modelos, como o de Cuba, que é o caso de nossa pes-quisa. Não vou falar sozinho, vou citar algumas observações es-critas por autora especialista neste tema tão polêmico no mundo capi-talista, mas não na ilha socialista das Américas onde o modelo delesfoi naturalizado e legitimado. _

Eleições em Cuba: breve análise de um modelo de democracia*Por Gabriela de Souza Guedes

"O sistema eleitoral cubano talvez seja um dos mais democráti-cos da atualidade. Seu estudo descortina um horizonte político desco-nhecido de muitos: a participação livre, o alto índice de compareci-mento dos eleitores, a desvinculação ao modelo partidarista, a escolhados candidatos pelos próprios eleitores, etc. Tudo isso desaguando numsistema misto de participação direta e indireta. O atual modelo foi instituído pela Reforma Constitucionalde1975, após um período de transição sem eleições (1959-1975), con-siderado necessário para o amadurecimento do processo revolucioná-rio, para as adaptações das instituições políticas e a contenção de umaforte resistência contrarrevolucionária.

Candidatos são indicados pelos eleitores, não por partido:

O novo sistema reintroduziu a participação popular em novosmoldes de representatividade e participação, desenvolvidos segundoas peculiaridades históricas, políticas e geográficas da ilha.

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Atualmente em Cuba são realizadas eleições gerais a cadacinco anos e eleições parciais a cada dois anos e meio, visandopreencher as vagas da Assembleia Nacional do Poder Popular (de-putados/mandato 5 anos), das Assembleias Provinciais do PoderPopular (delegados/mandato de 5 anos) e das Assembleias Munici-pais do Poder Popular (delegados/mandato de 2,5 anos), sendoesta a base do sistema representativo. Para a escolha dos delegados e deputados o voto é direto e aAssembleia Nacional do Poder Popular elege, dentre seus deputados, oConselho de Estado, integrado por um presidente, um primeiro vice-presidente, cinco vice-presidentes, um secretário e vinte e três mem-bros. O presidente do Conselho de Estado é Chefe de Estado e Chefe deGoverno, cargo ocupado atualmente por Rául Castro. Eleitores podem revogar mandatos: Uma característica importante desse sistema é que os manda-tos podem ser revogados: o eleitor poderá destituir o delegado eleito,caso este descumpra as obrigações assumidas com sua base eleitoraou não preste contas devidamente. Destaca-se, também, que pode ha-ver acumulação de cargos nas Assembleias, ou seja, a mesma pessoapode exercer simultaneamente diversos cargos eletivos. Com relação à remuneração, a Constituição (artigo 82) estabe-lece que durante o tempo em que desempenham suas funções políticas,os deputados recebem o mesmo salário de seu "posto de trabalho",mantendo o vínculo com este para todos os efeitos. Com a Reforma Constitucional, a participação do eleitor apre-sentou-se pela forma do voto universal, secreto e livre, calcado somen-te na consciência política do cidadão, sendo que desde outubro de 1976(primeira experiência do novo modelo) a participação do eleitoradosempre esteve acima de 96%. Não há na Constituição de Cuba nem na Lei Eleitoral a referên-cia à necessidade de se estar filiado a partido político para concorrer.Consequentemente, a eleição é feita pelo modelo majoritário, sendonecessária a obtenção de mais da metade do número de votos válidosna respectiva base eleitoral (Nacional, Provincial ou Municipal).

Um novo modelo de democracia: No atual sistema, as candidaturas para Assembleia Municipaldo Poder Popular são indicadas pelo próprio eleitor em Assembleiacriada para este fim. Esse mecanismo é coordenado pelas Comissões

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de Candidatura e todos os eleitores participantes têm direito apropor candidatos a delegados e resulta indicado aquele que ob-tiver maior número de votos. O sistema eleitoral cubano apresenta inovações importan-tes sobre bases clássicas da ciência política, em um novo modelodemocrático dentro de um governo socialista, demonstrando cla-ramente que a democracia não está vinculada ao modelo capita-lista. Porém, percebe-se que o conhecimento desta realidade so-mente está disponível para quem se dispõe a furar o bloqueioestadunidense, que muito além de econômico, atua incessantementenas fronteiras da informação. * Gabriela de Souza Guedes é especialista em História da América Latinapela URI - Campus Erechim, graduada em Direito e servidora da JustiçaEleitoral de Snta Catarina.

Fica a questão a pensar. Qual é a verdadeira democracia?Este modelo de Cuba ou o modelo liberal, onde as eleições sãopor disputa de cargos com mordomias e altos salários? Por exem-plo: no Brasil um deputado recebe salário de mais de 8 mil dóla-res por mês, desfruta de foro privilegiado na Justiça, recebe apar-tamento funcional para morar na capital da República, tem car-ros à disposição, passagens de avião, cotas de impressão de seusdiscursos que se transformam em boletins e livros, vários asses-sores e outras mordomias. Para se reeleger para ilimitados man-datos o deputado recebe milhões de reais em doações de empre-sários para defender seus interesses no parlamento que fica alta-mente comprometido com os interesses de seus patrocinadores enão da população em geral. No modelo de democracia cubananão existe esta relação.

Entrevistei pessoas comuns, o povo cubano, trabalhado-res, intelectuais e lideranças, e na maioria dos casos os meusinterlocutores diziam preferir este modelo cubano de política,sem interesses mercenários como no Brasil e outros países libe-rais, pois este modelo, dizem eles em Cuba, já foi superado, eque no país antes da revolução havia o mesmo modelonorteamericano, com fraudes, compra de votos e corrupção emprol dos políticos. A maioria de meus interlocutores salientaramque a escolha de delegados e de deputados é resultado de muitos

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debates entre a população e os Conselhos Populares. Arepresentatividade popular é bem significativa. Comparando como Brasil observamos que o Congresso Brasileiro possui 594 parla-mentares (513 Deputados Federais e 81 Senadores da República)representando uma população de mais de 204 milhões de habitan-tes. A Assembleia Nacional do Poder Popular da República de Cubapossui 614 deputados que são representantes de uma população de11 milhões e 200 mil habitantes. Bem mais representativa do queno Brasil. Acontecem em Cuba eleições em paz, ao contrário doBrasil que no pleito de 2016 para eleger prefeitos e vereadoresforam registrados muitos assassinatos e atentados contra candida-tos, forçando o governo federal a enviar tropas extras de soldadospara garantir a paz e a ordem nos estados mais violentos. São doismodelos de democracia para se comparar.

OPOSIÇÃO EM CUBA

A legislação não permite a fundação de partidos políticos,todos os chamados dissidentes do regime socialista se organizamclandestinamente ou em Miami, cidade violenta dos EUA que abri-ga os latinos que abandonam seus países. Clandestinamente, emCuba, estes grupos oposicionistas ao castrismo não cresce, seusmembros são denunciados e algumas vezes presos para que nãosabotem o estado, para que não conspirem contra o socialismo,para que não cometam atos de terrorismo como tantas vezes acon-teceu em Cuba por parte dos contrarrevolucionários, gerando mui-tas vítimas. Dentro de Cuba o grupo mais saliente é o "Damas deBranco", acusado na ilha de ser um movimento mercenário e desuas lideranças receberem dinheiro dos EUA. Suas passeatas pe-las ruas de Havana são pequenas e ridicularizadas. Não existeoposição regularizada. Alguns dissidentes concorreram nas elei-ções, mas não conseguiram votos suficientes para se elegeremdelegados do Poder Popular.

Sendo assim, a oposição cubana se dá através da internet,através dos blogs e sites de dissidentes, a nível virtual. Em Miami oscubanos capitalistas que lá vivem organizam uma imprensa online dirigida

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para combater o socialismo da terra natal. Existem emissoras de TVonline com programação própria e telejornalismo para denegrir a ima-gem de Cuba, colocando repórteres infiltrados em Havana e outrascidades para forjarem cenas e pautas de descontentamentos. Existedescontentamento, eu vi, assisti, mas eles pensam em melhorias e nãoem troca de governo ou de orientação ideológica ou mudanças na suaestrutura política constitucional. A oposição entra pela internet, atravésdas rádios e dos jornais online, feitos por cubanos descontentes com ogoverno socialista. Esta ação que os revolucionários chamam de ter-rorismo midiático, feita pelos contrarrevolucionários, é combatida tam-bém através da internet com argumentos e estatísticas sociais compa-radas.

Ginásios de esporte por toda a ilha formam atletas competitivos

Povo vê na TV eenche ginásios emCuba, para ver aslutas de box.

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Cuba é uma das potências olímpicas, não só das Américascomo do mundo. Chegou para disputar as Olimpíadas no Rio deJaneiro, em 2016, com 211 medalhas conquistadas no decorrerda história. 101 a mais que o Brasil, país anfitrião, que somava109 medalhas no seu quadro geral. Cuba conquistou 11 novasmedalhas e somou 220. O Brasil conquistou 19 medalhas e agorasoma 128. Cuba é o país de língua espanhola que mais tem meda-lhas olímpicas, à frente da Espanha, México, Argentina, Colôm-bia, Uruguai, Venezuela e outras nações.

Os principais esportes vencedores são: Boxe (73 medalhasolímpicas), Atletismo (41), Judô (36), Lutas (22), esgrima (16),Beisebol (5), Voleibol (5), Halterofilismo (5), Taekwondo (5), Tiro(4), Canoagem (3), Natação (2), Ciclismo (1), Vela (1) e basquete(1). Destas medalhas olímpicas que orgulham o povo de Cuba,77 são de ouro, 69 de prata e 74 de bronze. Um retrospecto bemmelhor que vários países de Primeiro Mundo, como Suíça, Dina-marca, Nova Zelândia, Áustria, República Tcheca, Irlanda,Eslováquia, Israel, Bélgica, Portugal, Espanha e outros. Cuba estáentre os 20 países que mais conquistaram medalhas olímpicas emtodos os tempos, num universo de 206 países inscritos no ComitêOlímpico Internacional. Estas façanhas foram conquistadas a partirde 1959, com a nova sociedade socialista, pois antes da revolu-ção Cuba possuía apenas 12 medalhas olímpicas, sendo 11 delasconquistadas na esgrima.

Saindo do campo olímpico, Cuba tem destaque continentale mundial nos campeonatos de Baisebol, o esporte mais populare tradicional da ilha. O baisebol chegou em Cuba através dosnorteamericanos, no final do século 19, quando os yanques entra-ram na guerra contra a Espanha para a independência (ou anexa-ção) de Cuba. Nos intervalos de combates, nos acampamentos deguerra, os soldados descontraíam seu estresse jogando beisebol.

O ESPORTE DE GRANDESVITÓRIAS

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Atualmente existe na ilha socialista o campeonato nacional deBeisebol com 1 representante de cada Província e da Ilha da Ju-ventude, uma liga com 16 equipes e jogos o ano todo. As equipesmais vencedoras são Industriales, de Havana; Santiago de Cuba;Pinar del Rio e Tigres de Ciego de Ávila, atual bicampeão nacio-nal. Eu assisti no Estádio Latinoamericano, em Havana, um dosprincipais confrontos da ilha, entre Industriales e Tigres de Ciego,saindo vencedor o Tigres por 9 carreiras a 1. O publico enche osestádios e os ingressos custam apenas 1 peso cubano (CUP), equi-valente a 20 centavos de real. A torcida canta, aplaude, grita, tocacornetas mas não briga. Ao fim do jogo saem juntos sem confli-tos, bate-bocas ou agressões. Povo civilizado e pacífico. O turistaestrangeiro pagará para assistir uma partida de beisebol em Cubao valor de 1 CUCs, ou seja, 1 euro, 1 dólar, ou 3 reais e 50 centa-vos, aproximadamente. Cuba já venceu vários torneios internaci-onais, pan-americanos e em especial as disputas entre os paísesdo Caribe. Cuba foi campeã da Copa do mundo de Beisebol 25vezes desde 1939, sendo o país que mais conquistou este título,seguido por EUA. Também Cuba é o país que mais vezes foi sededeste campeonato mundial de Beisebol masculino. Os cubanoschamam os jogadores de beisebol de "peloteros" e o esporte ocu-pa bastante espaço na mídia local, criando ídolos e sendo o sonhode crianças e jovens que amam e praticam o esporte. As camisetasdas equipes são vendidas com abundância nas tiendas da Ilha.

O boxe e demais lutas são importantes e deram a maioriadas medalhas olímpicas de Cuba. Anualmente se reúnem numacidade escolhida os maiores lutadores da ilha e disputam em vári-as categorias o Campeonato Nacional de Boxe, transmitido todasas noites pela TV cubana. Porém o voleibol também atrai a juven-tude e desportistas e teve conquistas importantes, em especial daseleção feminina, equipe tricampeã olímpica da modalidade.

O futebol de Cuba não tem grandes conquistas, nem se clas-sificou para copas do mundo. Participou apenas uma vez na CopaAmérica. Porém o futsal cubano está em boa evolução e foi cam-peão da Copa do Caribe no ano de 2015, vencendo a final por 5 a0 a seleção de Curaçao, em partida inesquecível em Havana, sede do

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torneio caribenho de futsal neste ano.

No futebol de campo os cubanos se dividem na torcida por2 grandes clubes espanhóis: o Barcelona e Real Madri. A TVcubana passa os jogos e nas casas os torcedores colocam bandei-ras dos seus clubes preferidos. Nas ruas encontramos as pessoasvestindo camisetas do Real, do Barça, da seleção Argentina, daseleção Brasileira e do Equador, como mais usadas. Em todas aspraças, quadras esportivas de escolas e parques, encontramos agarotada jogando futebol. Acredito que a maior paixão dos jo-vens hoje em Cuba é o futebol que aos poucos ganha adeptos eforma times. O espanhol Real Madri anunciou em 2016 que mon-tará uma clínica de futebol em Havana, para desenvolver o es-porte na ilha e prospectar talentos. Os ídolos do futebol em Cuba,atualmente, são o português Cristiano Ronaldo e o argentino Leo-nel Messi, seguidos pelo brasileiro Neymar Jr. Muito lembradospelos cubanos são os craques Pelé e Maradona, ídolos dos maisvelhos.

Eu morava em Havana bem perto do Centro de Formaçãode Atletas Cerro Pelado e da escola Nacional de Ginástica. Visi-tei o centro e assisti um treino do time feminino de basquetebol.Teve um dia em que acordei com a notícia da visita da mundial-mente famosa ginasta Nadia Comaneci na Escola de Ginástica.Os atletas em Cuba, mesmo sendo famosos, são pessoas simples,andam de ônibus, pegam táxi. Quando ganham medalhas olímpi-cas ou campeonatos mundiais, são retribuídos com casas, aparta-mentos, carros e outros regalos. Os jogadores dos times de beise-bol que disputam o campeonato nacional recebem salários quevariam em torno de mil pesos cubanos (CUP), ou 40 euros, ou150,00 reais. No Brasil é pouco, pois aqui se paga tudo e muito,mas em Cuba é um salário considerado bom, em comparaçãocom a média salarial da ilha, onde a maioria recebe em torno de500 a 700 CUPs mensais. O esporte em Cuba não é consideradoprofissional, mesmo assim tem excelentes atletas que recebemtodo apoio estatal para desenvolverem suas habilidades para com-petições internacionais.

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AS DEMANDAS ATUAIS DEPOIS DE 6DÉCADAS DE SOCIALISMO

Passados 57 anos da implantação do Socialismo em Cuba,ou seja, 6 décadas de construção de uma nova sociedade, comnovos paradigmas estruturais, enfrentando vários momentos difí-ceis e também bons momentos de crescimento econômico e soci-al, os cubanos hoje desejam mais do que saúde e educação gratui-ta, querem mais do que transporte quase passe zero, moradia eeletricidade a baixo custo. Os cubanos da atualidade querem no-vos carros e motos, novos telefones celulares, internet mais rápi-da e mais barata, roupas de marcas (desejo da juventude) e maisvariedades de produtos de consumo nos supermercados e lojas.Não podemos simplesmente considerar estas vontades como sen-do burguesas e capitalistas, são desejos de seres humanosconectados com a modernidade, são aspirações de melhor quali-dade de vida que o mundo contemporâneo oferece e pode propi-ciar em ambas as sociedades, capitalista ou socialista. Nas minhas andanças e pesquisas pela maior ilha caribenhapercebi que os cubanos não querem mudanças no sistema políti-co, nem acabar com o socialismo e nem mudar as conquistas darevolução. Não querem que o antigo regime de grandes empresasprivadas, latifúndios, saúde e educação particulares, senadores edeputados recebendo grandes salários e mordomias. No entantoouvi muito que querem salários melhores para que possam adqui-rir mais coisas para suas casas e para que possam viajar mais.Não reclamam de falta de liberdade, pois em Cuba todo mundofala o que quiser e até vestem camisetas e carregam bandeirinhasdos EUA (maior rival do castrismo). Os cubanos amam a revolu-ção e seu líder maior, Fidel Castro, e os heróis Che Guevara, CamiloCienfuegos, Raúl Castro, Célia Sanches e tantos outros revolucio-nários socialistas. Acreditam que o fim do bloqueio econômico ecomercial imposto pelos EUA por mais de 5 décadas e as novasparcerias internacionais, bem como a flexibilização da economia eda produção, poderão gerar mais receitas para o Estado e assim

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melhorar as condições econômicas da nação e do seu povo traba-lhador e ordeiro. Para que isso aconteça os governantes e a popu-lação trabalham unidos num mesmo objetivo.

A INVASÃO TECNOLÓGICA NA ILHA

Assim como em todo o planeta, Cuba também teve umainvasão de tecnologia da comunicação com a chegada dos telefo-nes celulares móveis e das redes sociais da Internet. Pelas ruas,ônibus, trens, táxis, carros particulares, nas praias, serras e aero-portos, encontramos as pessoas com seus celulares nas mãos,teclando, passando mensagens, postando fotos do dia a dia, ehablando muito com familiares e amigos que moram na ilha ouem outros países. Fazem filas para comprar cartões de acesso àInternet e aos serviços de telefonia. A carga mínima de créditospara os celulares é de 5 CUCs, valor aproximado de 19 reais, quegarante várias chamadas. Pra se conectar na internet, usar o gmail,twiter, facebook e outras redes sociais, se paga em Cuba no míni-mo 1 CUC, equivalente a 24 pesos (CUPs), algo em torno de R$3,80 reais, para acessar durante meia hora. Existem cartões deacessos de 1 hora, por 2 CUCs, e 5 horas por 10 CUCs. A empre-sa estatal ETECSA é a única que oferece estes serviços. A de-manda é grande e por isso tem que haver controle: cada pessoa,cubano ou estrangeiro, só pode comprar em seu nome, apresen-tando a carteira de identidade cubana ou o passaporte, 3 tarjetas(cartões) de 2 CUCs, ou seja, 3 horas. Porém sempre existe umamalandragem de comprar em nome de outros, com a presença e aidentidade do outro, para revender por 3 CUCs nas ruas centrais,nas proximidades dos hotéis, para os turistas. O abastecimentodas tarjetas nos postos de vendas não é o suficiente para atender agrande demanda de procura, por isso existem os vendedores clan-destinos e ambulantes que faturam em media 20 CUCs por dia,lucrando 1 CUC por tarjeta. Uma boa remuneração, comparandocom salário mensal de 40 CUCs que recebe um dentista ou 35CUCs que recebe uma professora para trabalhar todo mês. Porémesta atividade é proibida e combatida pelo governo. A polícia está

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sempre de olho nos vendedores de tarjetas que se arriscam para ga-nhar mais. Entrevistei vários vendedores, inclusive uma mulher quetem como pai um médico que trabalha no Brasil, em Minas Gerais.Fizemos os cálculos e chegamos a conclusão de que ela precisaria de2 meses de vendas para conseguir 1.200 CUCs e assim tirar o passa-porte (100 CUCs) e comprar passagens (ida e volta) para visitar o paino Brasil. Este cálculo tendo como base a venda de 20 tarjetas deinternet por dia, o que geraria lucro de 20 CUCs/dia ou 600 CUCs/mês. Realmente um bom negócio em Cuba. Por isso muitos cubanosse arriscam, uns vendem 10, outros 15, outros 20 ou 30, mas o maisdifícil é conseguir as tarjetas. Há quem diga que muitos vendedorestêm esquemas com funcionários da ETECSA. A polícia investiga, equando descobre, é cadeia na certa.

Nas lojas um telefone celular dos baratos custa em torno de100 CUCs, ou R$ 380,00 reais. Existem os mais caros, que chegam acustar em torno de 300 a 500 CUCs (R$ 1.140,00 a R$ 1.900,00reais). Porém se compra telefones usados, nas mãos dos cubanos, ounas oficinas de reparos por 30 ou 50 CUCs (R$ 114,00 ou R$ 190,00reais). Esta invasão tecnológica na ilha gerou o surgimento de muitasoficinas de reparos de telefones celulares e computadores, movimen-tando mais a economia do país. Aumentaram as lojas de vendas deaparelhos e equipamentos. Um notebook simples, com 2 GB/RAN,novo, na loja, custa em torno de 500 CUCs (R$ 1.900,00 reais),dependendo da marca e da tecnologia. Nas oficinas de reparos seencontra computadores usados a todos os preços, a partir de 150

Febre deinternet: cubanosem busca dosinal na frentedos hotéis eprédios públicos.

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CUCs (570 reais) e até por menos. Um amigo cubano que mora no2º andar do prédio onde eu morei, em AltaHabana, me ofereceu 250CUCs (equivalente a R$ 950,00 reais) pelo meu notebook CCEbrasileiro de 2 GB. Recusei, afinal esta é minha ferramenta de traba-lho e viajou comigo por toda a ilha caribenha. Estes são apenas al-guns exemplos, pois os preços variam muito neste campo. Aparelhosmais modernos e mais potentes, como em qualquer parte do mundo,obviamente são mais caros também em Cuba.

Os preços podem parecer bastante altos, comparando comos baixos salários, pois um trabalhador que recebe 600 pesoscubanos por mês, ou seja, 25 CUCs, teria que usar 4 meses detrabalho para adquirir um telefone de 100 CUCs, ou ainda, usarseu salário de 1 ano para adquirir um computador médio. Mes-mo assim, sabendo que o cubano se vira e busca outras rendasalternativas, o que vemos é uma verdadeira invasão destatecnologia na ilha, pois, mesmo com salários baixos, a maioriadas pessoas (em especial os jovens) possui celular. Virou umanecessidade para comunicação e uma espécie de vício, como noBrasil, nos EUA, na China, no México e na maioria dos países.Até os acidentes de trânsito e atropelamentos aumentaram nasestatísticas devido ao uso de celulares por motoristas enquantodirigem seus carros e as autoridades fazem campanhas nas emis-soras para alertar sobre este perigo.

A instalação de Internet nas residências e empresas tam-bém existe, porém com menos intensidade devido ao alto custooperacional. Ainda é cara para os padrões salariais dos cubanos,mas aos poucos está se tornando uma realidade que lentamentecomeça a invadir os lares e mudar os costumes da população. Oregime socialista também utiliza muito esta mídia eletrônica parapropagar as conquistas e os ideais da revolução, como um antí-doto contra a propaganda capitalista que entra na ilha pela Internet.O sonho das empresas multinacionais de comunicações é entrarneste mercado de 11 milhões e 200 mil cubanos, hoje suportadoapenas pela empresa do governo ETECSA.

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A NOVA RELAÇÃO COMOS ESTADOS UNIDOS

Depois de quase 6 décadas de uma guerra fria entre osvizinhos (EUA e Cuba), os dois governos anunciaram em dezem-bro de 2014 que começavam a fazer as pazes. Foram anos durospara os cubanos. Teve o ataque na Baía dos Porcos quando maisde 1.500 contrarrevolucionários tentaram invadir a ilha. Foram com-batidos e presos. Os EUA pagou resgate, em produtos para a saú-de, para ter de volta seus mercenários. Teve a Crise dos mísseisrussos que quase causou uma 3ª guerra mundial e com mísseis atô-micos. E teve o bloqueio econômico e comercial imposto pelosEUA e seus aliados de plantão. Ninguém podia vender ou comprarque recebia multas pesadas. Quem fizer negócios com Cuba temsansões absurdas, incluindo bancos e transportadores, pois naviosque atracam nos portos de Cuba ficam muitos meses proibidos deatracarem nos portos dos EUA, e por aí vai a pressão. Cuba per-deu bilhões de dólares que poderia ter faturado se não houvesse obloqueio comercial. Passaram democratas e republicanos pelo go-verno e a pauta de acabar com o bloqueio nunca foi aprovado peloCongresso norteamericano. Não depende de um canetaço do pre-sidente.

Em muitas votações na ONU o bloqueio dos EUA contraCuba, que perdura até os dias de hoje (2016), foi reprovado pelaesmagadora maioria dos países unidos. Somente o próprio EUA eIsrael votam pela manutenção do bloqueio. Os demais países re-comendam o fim do bloqueio e o livre comércio com a ilha caribenha.

Após passar décadas negociando apenas com seus aliadosdo bloco Socialista, como a poderosa e extinta União Soviética, aAlemanha Oriental, China, Vietnan, Angola e outros, aos poucosCuba começou a fazer negócios com o Canadá, França, países dobloco Europeu, com vizinhos latino-americanos, aliados dosnorteamericanos que foram ficando isolados nesta sua política demanter o bloqueio. A revolução socialista deixou marcas nos bol-sos e patrimônios de grandes grupos norteamericanos, tipo Shell,

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que exploravam a ilha e eram donos das comunicações e energiano país. As grandes fazendas de plantações de cana e as usinas deaçúcar que os norteamericanos possuíam, além do domínio dossetores industrial, imobiliário, comercial e turístico, foram toma-das pelo governo castrista. Milhares de norteamericanos que tra-balhavam na ilha como gerentes e funcionários dos grupos econô-micos dos EUA tiveram que fugir, e atrás deles foram milhares decubanos que serviam aos interesses do gigante país imperialista,instalando-se a 180 km de Havana, em Miami, a cidade dos cuba-nos contra o socialismo e a revolução. Neste clima de guerra fria,com espiões e atentados, explosões de aviões cubanos com atle-tas, com bombas colocadas em hotéis de Cuba por terroristaspatrocinados pelos EUA e os cubanos contras de Miami, passa-ram-se as décadas e o bloqueio persiste. Desde John Kenedy,que instituiu o bloqueio, passando por Jimi Carter, Bill Clinton queapertou mais o bloqueio, chegando intacto até os dias de BarackObama. A esperança nos avanços das negociações entre os 2 pa-íses vizinhos é o governo de Hillary Clinton, mas, sobretudo, naconquista dos votos necessários entre senadores e deputadosnorteamericanos para acabar com este bloqueio. Esta política eco-nômica e comercial que adotou os EUA contra Cuba é uma con-tradição ao Liberalismo que é a ideologia pregada e imposta pelosnorteamericanos: a do livre comércio globalizado.

Os presidentes Obama e Raúl, com conselhos e mediaçãodo Papa Francisco, anunciaram ao mundo a volta das relaçõesdiplomáticas entre as 2 nações, no final de 2014. Em 2015 osEUA instalou sua embaixada em Havana, nas margens do Malecón,mas até os dias de hoje o Congresso Nacional dos EUA não no-meou um Embaixador. Cuba instalou sua Embaixada em Washing-ton e montou seu corpo diplomático completo para atuar nestasnegociações de abrir o comércio. As viagens de avião, direta, en-tre EUA e Cuba foram liberadas somente em meados de 2016,apesar de anunciadas em dezembro de 2015. Até estes meses de2016 os turistas norteamericanos que visitaram Cuba tinham quesair dos EUA até o México ou outro país para depois pegar umavião neste local para Cuba. O que vemos hoje, final de 2016, é o

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movimento de aviões de empresas norteamericanas chegando epartindo de Cuba, provenientes do território dos EUA, e navioscruzeiros atracando nos portos de Cuba com milhares de turistasestadunidenses.

As visitas oficiais de políticos e empresários, que aconte-ceram antes da histórica viagem de Obama e família à Cuba, forampontos de partida para se tratar de negócios. O governador deNova York, Andrew Cuomo e uma comitiva de empresários, bemcomo o Secretário da Agricultura Thomas Vilsack, visitando as áreasde produção rural, e alguns congressistas e liderançasnorteamericanas já passaram pela ilha e estão indo conhecer ascondições de produção do país socialista. O que falta ainda é aqueda do bloqueio pelo Congresso Nacional dos EUA.

As relações hoje são bem mais amistosas do que no sé-culo XX. Os cubanos querem negociar, porém não admitem ja-mais vender sua autonomia política e ideológica. Querem com-prar, querem vender, querem receber, querem visitar, estão abrin-do as portas da ilha, mas querem respeito. Os cubanos dizemque são pobres, mas têm dignidade. Ninguém passa fome, tememprego para todos, saúde e educação de graça, energia e trans-porte barato, a maioria do povo tem casa própria, não há neces-sidade da nação vender esta dignidade por ilusões forjadas pelomodelo capitalista de sociedade consumista, salientaram meus en-trevistados na ilha. A maioria do povo de Cuba quer continuar nalinha do socialismo, construindo uma sociedade que eles enten-dem mais justa, com estado forte para poder repartir as riquezasdo país com a população, gerando melhores condições de vidapara todos.

Neste ano de 2016 foi construído o primeiro hotel de em-presa dos EUA, mostrando que aos poucos os negócios vão acon-tecendo na atual realidade, sempre limitados pela lei do bloqueiodos EUA, e controlados pela legislação e autoridades do estadosoberano cubano. Pouco antes da visita do presidente Obama, ofabricante de tratores Cleber LLC, do Alabama, recebeu sinal ver-de para construir uma central de produção em Cuba, como pri-meira empresa americana em meio século. Assim, a partir de 2017

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cerca de mil pequenos tratores sairão a cada ano de Mariel, paraabastecer agricultores independentes e cooperativas.

É normal encontrar pelas ruas de Cuba pessoas vestindocamisetas e calças com imagens da bandeira estadunidenses, sempreconceitos com o país vizinho, afinal a cultura das duas naçõestem muitos costumes em comum, como a comemoração anual doHalloween, o jazz e o esporte preferido, o beisebol. Os estilos dealgumas milhares de casas em Havana e outras cidades da ilha, fazlembrar os bairros residenciais dos EUA, com cercas e jardins aoredor.

Embaixada dos EUA em Havana, na beira do Melecón.

Pelas ruas de Havana e outrascidades da ilha de Cuba, encon-trei muitos cubanos com rou-pas com estampa da bandeirados EUA, adesivos ou bandei-rinhas yanques. Uma prova daliberdade de expressão emCuba.

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O MITO FIDEL CASTRO EAS NOVAS GERAÇÕES

Escrever sobre Cuba e não escrever sobre o Mito FidelCastro é como ir a Cuba e não dar um mergulho nas suas praiasde águas claras. Fidel é da geração de jovens estudantes univer-sitários que resolveram partir para a revolução armada e tomar opoder da nação, romper com a burguesia e instalar uma repúbli-ca socialista, com bases na teria do marxismo-leninismo. Montouo exército revolucionário, enfrentou o exército do ditador de plan-tão, Fulgêncio Batista, ganhou o apoio popular em toda a ilha echegou ao governo. Teve momentos de crise, a guerra civil paramanter-se no poder, enfrentando os contrarrevolucionários,barrando a tentativa de invasão de mercenários na Baía dos Por-cos, enfim, lutando contra o que sempre chamou de imperialis-mo: o vizinho e gigante EUA. Fez mudanças radicais, implantouuma reforma agrária, desapropriou terras de latifúndios, nacio-nalizou as empresas de petróleo, energia, comunicações, abaste-cimento e tornou gratuito todos os serviços de saúde e educa-ção, proibindo as clínicas particulares e os pagamentos por con-sultas médicas, proibindo as escolas privadas, inclusive da igrejacatólica. As fábricas, de todos os setores, passaram para o con-trole do estado. Os bancos passaram a ser estatais. Formaram-se as cooperativas e a produção passou a ser coletiva e complanejamento. Fidel não deu espaço nem margem de atuação paraos contras. As emissoras de TV e rádios, bem como os jornaispassaram a ser responsabilidade do estado socialista cubano.Quem se opunha a estas novas regras revolucionárias teve queabandonar Cuba pra viver em Miami e outras cidades da Flórida,região norteamericana mais próxima da maior ilha caribenha. Enão foram poucos. Calcula-se que em torno de 400 mil pessoas,de uma forma ou de outra, autorizada ou fugindo, vazaram deCuba no século passado. Os Estados Unidos receberam a maio-ria, o que causou problemas como instalação emergencial de

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acampamentos para abrigar e alimentar os milhares deanticastristas. Muitos dos que saíram da ilha eram oriundos depresídios e manicômios, e livres nos EUA eles assaltavam e rou-bavam nas casas, criando a fama de indesejáveis. Aos poucos seformaram grupos anticastristas que patrocinaram atentados ter-roristas contra alvos cubanos, como a explosão de um avião cheiode jovens atletas cubanos que voltavam de uma competição in-ternacional. Outros alvos dos terroristas infiltrados em Cuba eramos hotéis e prédios públicos, para dar notícia negativa do regimee atrapalhar a entrada de turistas. O próprio Comandante Fidelteve que se proteger e se prevenir de muitos atentados contrasua vida. Mas sobreviveu para governar e fazer as maiores cam-panhas de alfabetização popular que se tem notícia nas Améri-cas. Sobreviveu para ter pulso de estadista na Crise dos Mísseis,para fazer uma reforma urbana e proporcionar casa própria paratodos pobres de Cuba, construindo mais de 100 mil casas porano.

Fidel também teve que tomar medidas duras dos temposde crise, quando acabou a URSS e o comércio entre os dois paí-ses caiu 75%, gerando a maior crise da era revolucionária, o cha-mado "período especial", quando existiu muito racionamento paranão faltar para o coletivo. Cuba deu a volta por cima, voltou acrescer, e, mesmo com o bloqueio econômico e comercial impostopelos EUA, fez novas parcerias. Fidel começou a abrir espaçopara empresas estrangeiras que queriam investir em Cuba, mas co-locou as regras. Atravessou a virada de século e de milênio nopoder, enfrentando problemas e liderando sua nação. Conquistoumilhões de admiradores pelo mundo afora, mas também ganhoumuitos adversários que odeiam suas ideias e práticas. Por fim, coma chegada dos seus 80 anos de vida, começou a transição de po-der na ilha, entregando esta responsabilidade de presidir o país aoseu parceiro de revolução, general de confiança que tem o apoioda maioria dos deputados e ministros, o seu irmão Raúl Castro.Fidel se aposentou da administração, mas continuou dando seuspitacos em todos os assuntos, sempre respeitado pela sua experi-ência, trajetória histórica e inteligência.

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Neste ano de 2016 o comandante comemorou no dia 13de agosto seus 90 anos de vida, quando os cubanos fizeram amaior festa de aniversário de todos os tempos. Teve artesão quefez um charuto com 90 metros, o maior do mundo. Teve bolo de90 metros, tudo se referia aos 90 anos do chefe da revolução. Nomundo inteiro os cubanos festejaram e deram vivas ao comandan-te. Ele recebeu visitas e homenagens de estadistas de vários paí-ses. As emissoras passaram o ano todo comemorando, os canto-res fizeram canções, os artistas pintaram imagens de Fidel e a ju-ventude prestou homenagens nas escolas e universidades, desdeo pioneiro de 5 anos, até o doutorando. É uma referência de umpovo e de uma juventude a seu líder maior, vivo, compartilhandoos acontecimentos.

Fidel Castro, mesmo com problemas de saúde, com cui-dados especiais, e com seus 90 anos de muita vida, continua es-crevendo seus discursos que são referenciais para a juventude co-munista de Cuba, para que formem a consciência socialista e con-tinuem a obra de construir esta nova sociedade que ele e seusrevolucionários Raúl, Camilo Cienfuegos, Che Guevara, Célia eoutros tantos iniciaram. Suas frases espalham-se pela ilha em pa-inéis nas ruas e estradas. O agora ancião da revolução, o Papi doscubanos, não administra mais a ilha, mas dá conselhos. Seu irmãoRaúl deve terminar o mandato em 2018, e quando chegar 2019,nas comemorações dos 60 anos da Revolução, Cuba terá um novopresidente dos Conselhos de Estado e de Ministros, um novogovernante que deverá seguir as regras da Assembleia Nacionaldo Poder Popular. O nome mais cotado para assumir esta presi-dência é o do atual 1º vice-presidente, Miguel Díaz-CanelBermúdez, um engenheiro elétrico de 56 anos, que subiu os esca-lões do poder em Cuba durante três décadas, até estar na linha defrente da sucessão do presidente Raúl Castro. Alto e de cabelosgrisalhos, ele agrada por ser um "bom ouvinte" e "extremamentesimples", de acordo com aqueles que o conhecem. Nascido em20 de abril de 1960, na província central de Villa Clara, é o pri-meiro líder nascido depois do triunfo da Revolução de 1959 aalcançar o cargo de primeiro vice-presidente do Conselho de Es-

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tado, o órgão executivo da ilha, presidido por Raúl Castro. "Nãoé um novo rico ou um candidato improvisado", declarou RaúlCastro ao apresentá-lo publicamente ao novo cargo. Ele teve suaúnica experiência no serviço militar, quando cumpriu o períodoobrigatório de três anos em unidades de mísseis antiaéreos, de-pois de se formar na faculdade, em 1982. Foi professor universi-tário em Villa Clara, líder da União de Jovens Comunistas naquelaprovíncia, chegou à liderança da juventude nacional do PartidoComunista de Cuba (PCC) em 1993. Foi Secretário do PCC deVilla Clara. Porém seu nome só será confirmado depois da vota-ção dos deputados cubanos. Ele sempre foi militante e políticoatuante , e sua imagem na ilha já está associada como a de suces-sor dos irmãos Castro Ruiz. Chamam Miguel Canel de o número2. São momentos de transição política e flexibilização econômicaque o líder histórico Fidel Castro assiste em Cuba hoje. As gera-ções passam, a imagem de Fidel ficará para sempre na Históriada República de Cuba e das Américas.

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CONCLUSÕESEnfim chegamos ao final desta narrativa, desta exposição

de fotos, temas e opiniões a respeito de Cuba. Não vou me tornarrepetitivo e começo a concluir este trabalho de pesquisa que cha-mo de ensaio sociológico, de uma forma simples e objetiva, comoprocurei fazer ao longo do livro. Existem opiniões que condenamo regime socialista de Cuba, que acham que o estado deve se afas-tar das atividades industriais, comerciais e financeiras, deixar deser o centralizador e permitir que a iniciativa privada controle al-guns setores da economia. Os países vizinhos a Cuba, como Mé-xico, Haiti, Jamaica, Honduras, Venezuela, e até mesmo o giganteda América do Sul, o Brasil, funcionam com economia de merca-do, no modelo neoliberal, capitalista, onde as empresas privadaspossuem os meios de produção como indústrias. Nestes países,observam os cubanos, existe alto nível de desemprego, saláriosbaixos que são consumidos com despesas de aluguéis, saúde, edu-cação pagas, luz, gás e água caros, preços do transporte coletivoalto, etc, que também não alcançam as necessidades. Mas o piornesta análise é a questão da violência: ao redor os cubanos assis-tem o terror da sociedade mexicana, com máfias de narcotraficantescomandando as cidades, assassinando políticos adversários e jo-vens estudantes. Enxergam as favelas brasileiras, o desempregode 70% no Haiti, o terror dos homicidas que matam por dinheiro,por carros, por aparelhos. E pior, encontram nas páginas da internetas imagens de legiões de humanos morando nas ruas, dormindonas calçadas e embaixo de viadutos, criando filhos ou morrendocomo velhos sem assistência, sem um teto digno. A cada dia au-menta mais esta população no Brasil, mesmo que o governo tenhafeito mais de 3 milhões de novas casas para a população de baixarenda. Faltam albergues. Falta rigor na execução de projetos soci-ais. Em Cuba não se enxerga esta situação de miséria, existe po-breza e casas precárias, os salários são baixos, mas existe políticasocial de alimento barato pela libreta, luz, gás e água baratos de-mais, a maioria não paga aluguel, ninguém paga consultas, hospi-tais ou cirurgias, o transporte é praticamente gratuito para quem

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anda de ônibus, não existem bocas de fumo nem quadrilhas detraficantes aterrorizando os bairros e matando os jovens. Estesparâmetros são levados em consideração pelos cubanos, por issopreferem manter o estado forte para proporcionar esta realidadede emprego, preços adequados dos produtos básicos, saúde e edu-cação gratuitas para todos. Mas tudo tem custo e o estado precisafaturar com suas empresas para gerar recursos e manter as con-quistas populares. É uma opção que precisa ser respeitada e opovo cubano se faz respeitar mantendo suas convicções e sobera-nia. Salientam que são pobres mas têm dignidade. Querem fazernegócios com todo mundo, vender, comprar, receber, viajar, seminterferências na sua cultura social conquistada com muita luta esangue. Este é o espírito cubano hoje. Querem vida melhor, maisconforto, mais modernidade, mais tecnologia, mais dinheiro nobolso, mas que isto seja conquistado pelos avanços da Revoluçãoque é permanente e desafia teóricos pela sua dinâmica histórica.

Concluo dizendo: visitem Cuba. As passagens de ida e vol-ta, hoje, 2016, estão na faixa de R$ 3.000,00 reais, dependendoda companhia aérea e das promoções. Em determinados dias oturista compra no Brasil ida e volta para Cuba por apenas 2 mil e500 reais. O visto para até 30 dias é de apenas 20 dólares ameri-canos que o passageiro adquire em uma escala no aeroporto deLima, no Peru, ou antecipado em um consulado de Cuba no Bra-sil. Na ilha, se o estrangeiro pesquisar, consegue preços baixosem todos os campos. Com uns 10 mil reais no bolso e um passa-porte, o brasileiro pode passar 1 mês na maior ilha do caribe,passeando pelas belas praias, serras e cavernas, visitando cidadeshistóricas, convivendo com um povo alegre, consciente e recepti-vo. Sem medo de violência e assaltos. Em paz. Um modelo desociedade humanizada e solidária para ser analisada sem precon-ceitos e paixões ideológicas.

Eu fui. Eu vi. Eu vivi Cuba hoje.

Vladimir Cunha Santos, outubro de 2016.

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