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IV Congresso Brasileiro e III Congresso IberoAmericano Habitação Social: ciência e tecnologia “Inovação e Responsabilidade” 12 a 15 de novembro de 2012, Florianópolis Promoção: Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo – PósARQ/UFSC e Associação Catarinense de Engenheiros – ACE/SC Secretário Executivo: Ivan Rezende Coelho, fones: (48) 32483553/84077100, FAX: (48) 32483500 E-mail: [email protected], Site Oficial: cthab.ufsc.br CONTRA OS TIPOS; A FAVOR DO LUGAR AGAINST TYPOLOGIES; FOR THE PLACE Profa. Denise Morado Nascimento: [email protected] Marcela Silviano Brandão Lopes Camila Alberoni Neves de Assis Luiza Bastos Lages Universidade Federal de Minas Gerais RESUMO/RESUMEN O objetivo desse artigo é apresentar argumentos que levem ao entendimento de que habitação social em massa é ainda hoje projetada por pressupostos da arquitetura moderna, calcada essencialmente na tipologia como ponto de partida projetual. Sendo assim, a produção habitacional atual encontrase distante da discussão teórica sobre o lugar, as transformações urbanas ao longo do tempo e as apropriações do espaço público e da moradia, aspectos relacionados à prática projetual contemporânea Palavraschave: habitação, tipologia, produção em massa. ABSTRACT The aim of this paper is to present arguments that lead to the understanding that mass housing is still designed by the assumptions of modern architecture, based primarily on typology as a starting point of design. Thus, the current housing production is far from the theoretical discussion about the place, the urban changes over time and the appropriation of public space and housing, issues related to contemporary design practice. Key words: housing, typology, mass production. 1. O PRINCÍPIO Os teóricos franceses JeanNicolasLouis Durand e Quatremère de Quincy têm sido reconhecidos como precursores do discurso em prol do tipo como base do conhecimento histórico dos estilos arquitetônicos. Ainda que Durand, em Recueil et parallèle dês édifices (1800), não use o termo tipo, sistematiza os vários edifícios da arquitetura mundial, tanto pela função quanto pelo padrão do partido (templos redondos, templos romanos, templos gregos, palácios de justiça, etc.), conformando um catálogo historiográfico de categorias. Em paralelo, seu tratado Précis des leçons d’architecture (18021805), apresenta o método de projetar a partir de “uma trama quadrada como base de disposição das paredes e das partes de sustentação, as quais podem, à maneira de um jogo de construção, juntarse em combinações coordenadas” (TEORIA, 2003, p.328). Sob outra ótica, Quatremère de Quincy, em seu terceiro volume da Encyclopédie Méthodique (1825) e também no Dicionarie Historique de L’architecture (1832), amplia o significado do tipo. Ainda que permaneça a visão historicista de Durand, Quincy entende que o reconhecimento da origem e da causa primitiva do desenvolvimento e das variações de formas que nos antecedem, todos produtos da ação humana, conforma o tipo, mas como uma ideia ou forma básica da arquitetura, válida para imitação, condutora de inúmeras possibilidades se vinculadas à intencionalidade do arquiteto e ao contexto do projeto (PIRES, 2009; PEREIRA, 2010).

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 IV  Congresso  Brasileiro  e  III  Congresso  Ibero-­‐Americano  Habitação  Social:  ciência  e  tecnologia  “Inovação  e  Responsabilidade”    12  a  15  de  novembro  de  2012,  Florianópolis  

Promoção: Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo – PósARQ/UFSC e Associação Catarinense de Engenheiros – ACE/SC Secretário Executivo: Ivan Rezende Coelho, fones: (48) 32483553/84077100, FAX: (48) 32483500

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CONTRA  OS  TIPOS;  A  FAVOR  DO  LUGAR  

AGAINST  TYPOLOGIES;  FOR  THE  PLACE  

Profa.  Denise  Morado  Nascimento:  [email protected]  Marcela  Silviano  Brandão  Lopes  Camila  Alberoni  Neves  de  Assis  

Luiza  Bastos  Lages  Universidade  Federal  de  Minas  Gerais  

 

 

RESUMO/RESUMEN    

O  objetivo  desse  artigo  é  apresentar  argumentos  que  levem  ao  entendimento  de  que  habitação  social  em  massa  é  ainda  hoje  projetada  por  pressupostos  da  arquitetura  moderna,  calcada  essencialmente  na  tipologia   como   ponto   de   partida   projetual.   Sendo   assim,   a   produção   habitacional   atual   encontra-­‐se  distante   da   discussão   teórica   sobre   o   lugar,   as   transformações   urbanas   ao   longo   do   tempo   e   as  apropriações   do   espaço   público   e   da   moradia,   aspectos   relacionados   à   prática   projetual  contemporânea  

Palavras-­‐chave:  habitação,  tipologia,  produção  em  massa.  

 

ABSTRACT  

The  aim  of   this  paper   is   to  present  arguments   that   lead  to  the  understanding  that  mass  housing   is  still  designed  by  the  assumptions  of  modern  architecture,  based  primarily  on  typology  as  a  starting  point  of  design.  Thus,   the  current  housing  production   is   far   from  the   theoretical  discussion  about   the  place,   the  urban   changes   over   time   and   the   appropriation   of   public   space   and   housing,   issues   related   to  contemporary  design  practice.  

Key  words:  housing,  typology,  mass  production.  

 

1. O  PRINCÍPIO  

Os  teóricos  franceses  Jean-­‐Nicolas-­‐Louis  Durand  e  Quatremère  de  Quincy  têm  sido  reconhecidos  como  precursores   do   discurso   em   prol   do   tipo   como   base   do   conhecimento   histórico   dos   estilos  arquitetônicos.   Ainda   que  Durand,   em  Recueil   et   parallèle   dês   édifices   (1800),   não   use   o   termo   tipo,  sistematiza   os   vários   edifícios   da   arquitetura   mundial,   tanto   pela   função   quanto   pelo   padrão   do  partido  (templos  redondos,  templos  romanos,  templos  gregos,  palácios  de  justiça,  etc.),  conformando  um   catálogo   historiográfico   de   categorias.   Em   paralelo,   seu   tratado   Précis   des   leçons   d’architecture  (1802-­‐1805),   apresenta   o   método   de   projetar   a   partir   de   “uma   trama   quadrada   como   base   de  disposição   das   paredes   e   das   partes   de   sustentação,   as   quais   podem,   à   maneira   de   um   jogo   de  construção,  juntar-­‐se  em  combinações  coordenadas”  (TEORIA,  2003,  p.328).    

Sob  outra  ótica,  Quatremère  de  Quincy,  em  seu  terceiro  volume  da  Encyclopédie  Méthodique  (1825)  e  também   no   Dicionarie   Historique   de   L’architecture   (1832),   amplia   o   significado   do   tipo.   Ainda   que  permaneça  a  visão  historicista  de  Durand,  Quincy  entende  que  o  reconhecimento  da  origem  e  da  causa  primitiva  do  desenvolvimento  e  das  variações  de  formas  que  nos  antecedem,  todos  produtos  da  ação  humana,  conforma  o  tipo,  mas  como  uma  ideia  ou   forma  básica  da  arquitetura,  válida  para   imitação,  condutora  de  inúmeras  possibilidades  se  vinculadas  à  intencionalidade  do  arquiteto  e  ao  contexto  do  projeto  (PIRES,  2009;  PEREIRA,  2010).    

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 IV  Congresso  Brasileiro  e  III  Congresso  Ibero-­‐Americano  Habitação  Social:  ciência  e  tecnologia  “Inovação  e  Responsabilidade”    12  a  15  de  novembro  de  2012,  Florianópolis  

Promoção: Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo – PósARQ/UFSC e Associação Catarinense de Engenheiros – ACE/SC Secretário Executivo: Ivan Rezende Coelho, fones: (48) 32483553/84077100, FAX: (48) 32483500

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Sabemos  que   a   compreensão  do  que   seja   tipo   não   inscreve-­‐se   apenas   a   partir   da   teoria   francesa  da  Arquitetura   do   século   XIX.   Anthony   Vidler   (2006),   por   exemplo,   considera   o   conceito   de   tipo  indissociável   das   origens   da   arquitetura,   desde   os   tempos   de   Vitrúvio.   No   entanto,   é   suficiente  entendermos  aqui  que  a  palavra  tipo,  àquela  época,  era  muito  bem  empregada  “para  indicar  tanto  as  formas  e  belezas  ideais,  como  as  categorias  classificatórias  dos  edifícios  e  suas  qualidades  expressivas”  (PEREIRA,  2010,  p.57).  

A   partir   do   século   XX,   o   tipo   na   arquitetura   passa   a   ser   visto   sob   dois   ângulos   diferentes,   ainda  ancorados  sob  os  conceitos  de  seus  predecessores,   “como   forma  aplicável  ao   trabalho  de  projeto”,  o  especificamente  projetual,  e,  depois,  “como  um  território  de  encontro  entre  arquitetos  e  habitantes”,  a  tipologia   (PERDIGÃO,   2009).   Podemos   dizer   que   o   tipo   é   um   princípio   organizador   da   arquitetura  referenciado  por   situações  históricas   registradas  ou  analogicamente  vivenciadas,   tanto   formalmente  quanto   funcionalmente,   incorporadas   cognitivamente   e   culturalmente   pelos   arquitetos   (PERDIGÃO,  2009).  Sob  o  nosso  ponto  de  vista,  tal  princípio  é  validado  e  legitimado  como  pressuposto  da  prática  projetual,  historicamente  construído  pelo  campo  de  conhecimento  da  arquitetura.      

A   tipologia   agrega   o   processo   criativo,   muito   além   da   sistematização   ou   da   classificação   dos   tipos,  assim  colocado  por  Giulio  Carlo  Argan  nos  anos  1960.  Argan  (2006,  p.268-­‐269)  lembra  que,  enquanto  a  tipologia  é  resultado  “do  processo  histórico  da  arquitetura  e  dos  modos  de  pensar  e  de  trabalhar  de  certos  arquitetos”,  o  tipo  é   “resposta  a  um  complexo  de  demandas   ideológicas,  religiosas  ou  práticas  ligadas  a  uma  determinada  situação  histórica  em  qualquer  cultura”,  se  constituindo  “pela  redução  de  um  complexo  de  variantes  formais  à  forma  básica  comum”.  

À   mesma   época   de   Argan,   Aldo   Rossi   expõe   o   conceito   de   tipo   como   um   “enunciado   lógico”   que  antecede   a   determinação   da   forma,   mas,   ao   mesmo   tempo,   a   define.   Abordagem   essa   própria   dos  arquitetos   modernos   funcionalistas   ao   determinarem   a   forma   a   partir   do   tipo   materializado   pela  função.   Entretanto,   Rossi   analisa   a   cidade   como   “resultante   de   uma   longa   história   incessantemente  reconstruída”,  oposta  aos  parâmetros  urbanísticos  da  cidade  ideal  planificável  (TEORIA,  2003,  p.782).  E,  por  isso,  o  tipo,  em  sua  teoria,  integra  “os  traços  de  vida  e  de  uso  de  gerações  inteiras,  elaborados  ao  longo  dos  séculos,  mantendo-­‐se  durável  e  apto  a  transformar-­‐se”  (TEORIA,  2003,  p.784).    

A   estandardização   de   elementos   e   a   racionalidade  matemática   impostas   pelos   trabalhos   de   Durand  permitem   conhecer   e   gerar   combinações   diversas   de   diferentes   espécies   de   edifícios.  Mais   à   frente,  Argan  entende  que  o  tipo  deve  ser  ponto  de  partida  do  processo  projetual,  e  não  ideal  ou  modelo,  na  medida  em  que  é  a  criatividade  o  elemento  construtor  da  tipologia.  Por  fim,  o  tipo  defendido  por  Rossi  coloca   o   contexto   histórico   e   cultural   no   centro   da   prática   projetual.   Assim,   a   visão   historicista  permanece  já  que  a  re-­‐significação  do  espaço  surge  a  partir  de  uma  operação  de  lógica  formal  calcada  em   associações,   correspondências   e   analogias   presentes   entre   o   “inventário   e   a   memória”   (ROSSI,  2006).  

Em  1977,  Anthony  Vidler  publica  o  artigo  The   third   typology   na   revista  Oppositions,   onde  associa  os  alicerces   da   tipologia   ao   ideal   da   natureza   (o  modelo   iluminista   da   cabana   primitiva   de   Laugier   –   a  analogia   orgânica)   e   ao   sistema   produtivo   modernista   (o   modelo   do   projeto   nascido   do   processo  industrial   de   Le   Corbusier   –   a   analogia   da   máquina).   E   propõe,   em   seguida,   a   terceira   tipologia,  associada   à   cidade,   “em   si   e   por   si   uma   nova   tipologia”   (VIDLER,   2006,   p.286).   Para   Vidler,   “uma  alternativa   promissora   e   racional,   não-­‐arbitrária   e   isenta   de   nostalgia   e   ecletismo”   (NESBITT,   2006,  p.284).  Nesbitt  (2006,  p.284)  considera  que  o  ensaio  de  Vidler  “leva  a  teoria  da  arquitetura  de  volta  ao  problema  da  forma”,  mas  tem  “a  cidade  como  origem  dos  tipos  arquitetônicos  pós-­‐modernos”.  

A  essa  altura,  é  evidente  a  distinção  do  uso  modernista  dos  conceitos  de  tipo  e  tipologia  das  primeiras  elaborações  de  Durand  e  Quincy.  As  argumentações  ocorridas  no  período  pós-­‐moderno  reacendem  o  debate  sobre  os  conceitos  da  arquitetura  e  a  prática  projetual  do  arquiteto.  No  entanto,  não  é  objetivo  desse   artigo   superar   os   vários   estudos   teóricos   sobre   as   origens   e   o   uso   do   tipo   e   da   tipologia   na  arquitetura,   alguns   aqui   referenciados.   Mas,   ao   contrário,   sintetizar,   assim   como   o   fez   Pires   (2009,  

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p.244):   “a   abordagem   tipológica   em   Arquitectura   tem   duas   componentes:   a   primeira   é   analítica   e  refere-­‐se   ao   processo   histórico   da   Arquitectura;   a   segunda   é   conceptual   e   decorre   do   processo  imaginativo  e  operativo  da  Arquitectura”.    

É  esse  o  nosso  ponto  de  partida  para  a  seguinte  questão:  quais  são  as  repercussões  do  tipo  na  prática  projetual  da  arquitetura  do  século  XXI  e,  mais  essencialmente,  da  habitação  de  interesse  social?  

 

2. PRODUÇÃO  EM  MASSA  

Depois   da   Primeira   Guerra,   a   produção   habitacional   européia   é   extensivamente   transferida   para   as  autoridades   locais,  ávidos  a  promover  o  estilo  moderno  que  vinha  sendo  debatido  desde  a  virada  do  século.  Os  arquitetos,  defensores  do  Neues  Bauen  (nova  construção),  vêem  a  produção  em  massa  como  um   elemento   crítico   do   pensamento   sobre   a   cidade   moderna.   O   grande   desafio   seria   incorporar   o  caráter   estilístico,   próprio   da   arquitetura,   em   um   novo   estilo   para   a   produção   de   moradias,   sem  identidade,  na  medida  em  que  o  usuário  era  desconhecido.    

Nesse   cenário,   os   arquitetos   modernistas   alemães,   entre   eles,   Walter   Curt   Behrendt   e   Albert   Eric  Brinckmann,   apresentam   respostas   em   torno   da   organização   espacial   da   cidade,   refletindo   as  condições   sociais   e  materiais   do   período.   Brinckmann   entende   que   a   habitação   pública   interfere   na  paisagem  urbana;  contudo,  recusa-­‐se  a  tomar  o  modo  de  expressão  (ou  espírito  de  época)  das  cidades  antigas  como  modelo.  Ao  contrário  de  Camillo  Sitte,  foca  seus  estudos  às  leis  da  forma  –  o  tipo,  como  a  primeira  ideia  geral  da  forma  moderna  em  prol  de  novas  formas  de  morar  –  as  novas  tipologias.  Nesse  bojo,  Behrendt  defende  a  fusão  de  casas  alinhadas,  gerando  um  todo  maior,  como  técnica  deliberada  para  dar  forma  ao  espaço,  e  promovendo,  a  partir  daí,  o  apelo  estético.  Em  sua  concepção,  o  espaço  da  rua   associado   a   uma  massa   auto-­‐suficiente   é  mais   fácil   de   ser   controlado  do  que  uma   variedade  de  residências  individuais  e  isoladas  (ENGEL;  HEER,  2008).  

A   padronização   de   plantas   residenciais   é   acelerada   nesse   período.   E,   assim,   todos   os   elementos   da  arquitetura  moderna  são  incorporados  pelo  Neues  Bauen,   incluindo  a  descentralização  dos  conjuntos  habitacionais,  a  estandardização  dos  elementos  construtivos,  a  racionalização  do  processo  construtivo  e  a  ornamentação  do  projeto  apenas  pela  forma  e  pela  massificação  (GUTSCHOW,  1993).  

Esse   momento   é   intensamente   explorado   pelo   arquiteto   alemão   Ernst   May,   a   partir   de   1925,   cuja  proposta  de  unidade  habitacional  é  associada  à  padronização  de  espaços  mínimos  imprescindíveis  ao  homem   moderno:   estar,   comer,   dormir,   lavar   e   cozinhar   –   o   espírito   do   existenzminimum  (necessidades  mínimas)  que  se  torna  tema  do  CIAM  de  1929,  em  Frankfurt.  

A  partir  da  teorização  alemã  sobre  a  produção  em  massa,  as  propostas  habitacionais  holandesas  são  apresentadas   pelos   arquitetos   Hendrik   Petrus   Berlage   e   J.   J.   P.   Oud.   No   ano   de   1918,   o   panfleto  Normalisatie  in  woningbouw  (Standardisation  in  housing),  descrevendo  a  palestra  de  H.  P.  Berlage,  com  30   ilustrações   e   sugestões   de   J.   Van   der  Waerden,   é   divulgado   pelo   governo,   explicitando  medidas  drásticas   para   combate   ao   grande   déficit   habitacional   holandês.   Entre   as   medidas,   estão   a  uniformização  de  plantas,  detalhes  e  elementos  construtivos.  

Em  paralelo,  Oud,  em  seu  artigo  intitulado  Bouwkunst  en  normalisatie  bij  den  massabouw  (Architecture  and  standardisation  in  mass  construction),  afirma  que  na  construção  de  casas  particulares  o  arquiteto  pode   gozar   do  privilégio   da   prática   de   projeto   tradicional;  mas,   no   caso  da   construção   em  massa,   o  crescimento  dos  métodos  industriais  e  dos  materiais  modernos  demanda  que  o  critério  da  construção  de  casas  particulares  seja  deixado  de  lado  (BEISCHER,  2004).  Influenciado  por  Berlage,  Oud  explica  que  o  espírito  moderno  não  é  definido  pelo  indivíduo  (interno:  a  casa),  mas  pela  multidão  (externo:  a  rua  e  a  cidade)  (ENGEL;  HEER,  2008).  Assim,  Oud  parte  da  quadra  do  século  XIX,  considerada  perfeita,  para  construir   a   sua   proposta   de   tipos-­‐padrão   em   blocos   alinhados   em   proporção   e   ritmo   na   paisagem  urbana.  

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 Figura  1  –  Proposta  para  casas,  Ernst  May,  1921  

Fonte:  ENGEL,  HEER,  2008.  Figura  2  –  Tussendijken,  J.  J.  P.  Oud,  1921  

Fonte:  WIKIPEDIA,  2012.  

 

Nesse  momento,  críticas  à  massificação  habitacional  começam  a  surgir.  O  arquiteto  holandês  Theo  van  Doesburg,   inicialmente   simpatizante   às   ideias   de   Oud,   rejeita   não   apenas   qualquer   noção   de   forma  como   reflexo   de   conteúdo,   mas   também   os   princípios   alemães   de   simetria   e   repetição.   Segundo  Doesburg,   caixas   residenciais   e   unidades   habitacionais   de   acordo   com   uma   tipologia   ou   padrão  particular  tornam  a  atividade  da  construção  mecânica  e  repetitiva;  a  (aparente)  economia  espacial  (ou  normalização),  organizada  ao  nível  da  cidade,  forma  um  obstáculo  à  plástica  da  construção  e  à  plástica  do  próprio  espaço  urbano.  (ENGEL;  HEER,  2008).  

O  debate   sobre  a  produção  em  massa  parte  da  crítica   sobre  a  universalidade  da  aplicação  dos   tipos,  associada   ao   apelo   plástico   e   estético,   historicamente   construído   pela   arquitetura,   mas,   assim,  espoliado.   Reconhece-­‐se,   contudo,   que   a   massificação   é   possível   somente   porque   no   processo   de  produção   da   sua   moradia,   o   indivíduo   é   excluído.   Ou   em   outras   palavras,   não   só   as   funções   são  universalizadas  por  meio  do  tipo,  mas  o  próprio  indivíduo.  Foucault  (1979)  alerta  que  a  produção  em  massa  é  uma  prática  política  disciplinar  no  sentido  da  organização  do  espaço,  mas,  essencialmente,  do  corpo,  sendo,  ao  fim,  controle  social.  

Por  um  lado,  não  parece  ser  difícil  entender  que  a  produção  em  massa  nega  o  indivíduo,  passivamente  justificada  em  razão  da  urgência  pela  eficiente,  econômica  e  rápida  realização  de  um  grande  número  de  unidades  habitacionais.  Habraken  (2011)  entende  que  o  conflito  resultante  entre  a  exclusão  da  ação  individual   de   cada   morador   e   a   desejada   uniformidade   massiva,   indica   que   há   aí   uma   conexão  intrínseca  entre  homem  (morador)  e  método  (projeto).  O  argumento   tecnicista  moderno  (a  analogia  da  máquina)  -­‐  tipos  rígidos  e  mínimos  alinhados  à  eficiência  de  tipologias  de  blocos  e  massas  -­‐  oculta  a  redução  do  indivíduo  a  um  consumidor  e  da  moradia  a  um  produto.  Longe  de  se  ver  a  moradia  como  processo  social  ou  como  relação  natural  entre  o  homem  e  o  ambiente  construído  (HABRAKEN,  2011).  

 

3. TIPOLOGIA  ASSOCIADA  À  PRODUÇÃO  EM  MASSA    

No  Brasil,  a  partir  do  primeiro  governo  Vargas  (1930-­‐1945),  a  moradia  passa  a  ser  condição  básica  de  reprodução  de  força  de  trabalho  para  que  a  industrialização  pudesse  ser  assentada,  ou  seja,  torna-­‐se  pauta  da  agenda  política  e  econômica.  Em  razão  disso,  o  governo  dá   início  a  uma  fase  de   incentivo  à  produção  intelectual  em  instituições  públicas  e  privadas,  em  busca  de  soluções  para  o  crescente  déficit  habitacional,   especialmente   baseadas   no   aperfeiçoamento   e   na   racionalização   de   processos  produtivos.  De  uma  maneira  geral,  os  trabalhos  apresentados  tratam  a  habitação  em  três  aspectos:  (1)  o   técnico,   demonstrado   nas   propostas   de   construções   baratas   e  mínimas;   (2)   o   higiênico,   prescrito  

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dentro  da  ordem  sanitária  vigente;  e  (3)  o  moral,  considerado  elemento  fundamental  na  construção  do  país  (SAMPAIO,  2002).    

Os  debates  intelectuais  e  políticos  da  época  acumulam  argumentos  em  defesa  da  alteração  de  padrões  técnicos  e  estéticos  para  viabilizar  a  nova  moderna   forma  de  morar,   propagada  pelos  arquitetos  nos  CIAM’s  –  instauração  de  relações  sociais  utilitárias,  produção  em  série,  economia  de  área  construída  e  de   materiais,   uso   de   novas   tecnologias   (principalmente   o   concreto   armado,   solução   ancorada   pela  pressão   da   indústria   do   cimento)   e   uniformidade,   racionalidade   e   funcionalidade   dos   projetos   e   da  cidade.  

Vidler   (2006,   p.285)   considera   que   a   tipologia   elaborada   para   enfrentar   o   problema   moderno   da  produção  em  massa  tem  como  pressuposto  a  tecnologia  de  produção,  para  incorporar  “as  formas  mais  progressistas  da  época”;  assim,  “a  missão  da  arquitetura,  como  agente  do  progresso”,  é  aceitar  e,  talvez  mesmo,  dominar  essas  formas.  

Uma   importante   pesquisa   -­‐   Habitação   Econômica   e   Arquitetura   Moderna   no   Brasil   (1930-­‐1964),  conduzida  por  Nabil  Bonduki,  resgata  o  papel  do  movimento  moderno  no  processo  da  viabilização  da  nova   forma   de   morar   (KOURY,   BONDUKI,   MANOEL,   2003).   Dentro   da   amplitude   dos   projetos  analisados,  Koury,  Bonduki  e  Manoel   (2003),  destacam  o  conjunto  Realengo  com  2  mil  unidades,  de  Carlos  Frederico  Ferreira,  em  1940.  Na  perspectiva  de  possibilitar  uma  produção  em  massa,  Ferreira,  usando   talvez   pela   primeira   vez   no   Brasil   o   termo   tipo,   denomina   os   agrupamentos   das   unidades  habitacionais   por   meio   de   letras   e   números   (A1,   A2,   B,   etc...),   cada   um   expressando   uma   solução  habitacional:  casa  isolada,  geminada  duas  a  duas,  casas  sobrepostas,  casas  em  fileiras,  blocos.  (KOURY,  BONDUKI,  MANOEL,   2003,   p.5).   A   sistematização   tipológica   de   Ferreira   torna-­‐se   referência   para   os  projetos   habitacionais   no   Brasil   que   viriam   a   seguir,   sempre   calcados   pelos   atributos   modernos   –  produção   em   série,   estandardização   e   padronização,   espaço   mínimo   racionalizado.   Confirma-­‐se,   a  partir   daí,   os   componentes   analíticos   e   conceituais   dos   processos   histórico,   imaginativo   e   operativo  das  tipologias  habitacionais  no  Brasil.  

No  estudo  de  Koury,  Bonduki  e  Manoel  (2003),  a  análise  da  tipologia  blocos  é  bastante  extensa  e  será  aqui   explicitada   em   razão   da   significativa   replicação   dessa   tipologia   em   programas   habitacionais  atuais,   tanto   federais,   como  o  Minha  Casa  Minha  Vida   (MCMV),  quanto  municipais,  promovidos  pela  Companhia   Urbanizadora   e   de   Habitação   de   Belo   Horizonte   (URBEL).   Em   23   projetos   de   conjuntos  habitacionais  brasileiros,  três  importantes  modelos  foram  identificados:1  

 

1)  blocos  compostos  por  uma  caixa  de  escada  para  cada  duas  unidades:  

“Modelo   usado   para   as   habitações   de   interesse   social   na   Alemanha,   […]   compostas   por   edifícios  laminares  que,  do  ponto  de  vista  urbanístico,   ajudam  a  organizar  os  acessos,   separando  pedestres  e  veículos  em  vias  diferentes”  (KOURY,  BONDUKI,  MANOEL,  2003,  p.8).  

 

1  As  soluções  exclusivamente  adotadas  no  conjunto  residencial  de  Lagoinha,  em  Belo  Horizonte-­‐MG,  do  Eng.  White  Lírio  da  Silva  (bloco  com  pátio  interno),  e  no  conjunto  Areal,  Rio  de  Janeiro,  do  Eng.  João  Carlos  Vital  (blocos  em  “Y”)  não  estão  aqui  apresentadas.  

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Figura  3  -­‐  Gros  Bad  Dürrnberg,  1930  Fonte:  http://commons.wikimedia.org  

Figura  4  -­‐  IAPI,  1940,  Realengo,  RJ,  Arq.  Carlos  F.  Ferreira,  2347  unidades  Fonte:  KOURY,  BONDUKI,  MANOEL,  2003,  p.10  

 

2)  blocos  em  "H"  com  uma  caixa  de  escada  para  cada  quatro  unidades:  

 

Figura  5  -­‐  IAPC,  1950,  Del  Castilho,  RJ,  1077  unidades  

Fonte:  KOURY,  BONDUKI,  MANOEL,  2003,  p.13  

 

“[…]a   solução   típica   de   agenciamento   das   unidades   é   dispor   as   áreas   mais   valorizadas   (salas   e  dormitórios)  nas  faces  opostas  às  da  circulação  e  as  áreas  de  serviço  dando  para  estas,  aproveitando  o  espaço  da  caixa  de  escadas  também  como  fosso  de  iluminação.  O  problema  ocorre  na  orientação  dos  blocos  que  ao  privilegiar  um  dos  lados  com  a  melhor  insolação,  necessariamente  prejudicará  o  outro”  (KOURY,  BONDUKI,  MANOEL,  2003,  p.8).  Este  modelo  é  bastante  difundido  no  período  do  BNH.  

 

3)  blocos  laminares:  

“[...]  composto  por  caixa  de  circulação  que  acessa  um  grande  corredor  coletivo,  baseado  no  modelo  da  Unidade   de   Habitação   de   Marselha   [...]”.   “Embora   o   rendimento   das   circulações   coletivas   não   seja  comparável  aos  modelos  anteriores,  as  possibilidades  de  variação  e  adensamento  que  permitem  não  foi  motivo  suficiente  para  que  ele  se  difundisse  como  solução  preferencial  dos  conjuntos  habitacionais  empreendidos  pelos  IAP's  e  muito  menos  daqueles  realizados  no  período  do  BNH”  (KOURY,  BONDUKI,  MANOEL,  2003,  p.9).  

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Figura  6  -­‐  Unidade  de  Habitação,  

Marselha,  Arq.  Le  Corbusier,  1947-­‐52  Fonte:  FRAMPTON,  1997  

Figura  7  -­‐  Pedregulho,  1945,  RJ,  Arq.  Afonso  Eduardo  Reidy,  478  unidades  Fonte:  KOURY,  BONDUKI,  MANOEL,  2003,  p.15  

Enquanto  arquitetos,  técnicos  e  setores  públicos  promovem  os  princípios  de  economia,  racionalidade,  estandardização   e   a   introdução   de   novos   materiais   e   tipologias,   as   relações   sócio-­‐econômicas   e   a  capacidade   aquisitiva   bem   como   os   hábitos   e   práticas   culturais   dos   trabalhadores   são   ignorados.   A  solução   habitacional   é   reduzida  ao  espaço  de  morar  genérico,   repetitivo  e  mínimo   (25  a  50  m2)  em  uma  lógica  de  produção  lucrativa  para  os  investidores  privados  viabilizada  pela  simplificação,  rapidez  e  barateamento  dos  processos  de  projeto  e  construção.  

 

Figura  8  -­‐  Conjunto  Jones  Santos  Neves,  Vitória,  264  un.  de  2  quartos  (47,72  m2)  

e  584  un.  de  3  quartos,  1975.  Fonte:  BANCO  NACIONAL  DE  

HABITAÇÃO,  1979  

Figura  9  -­‐  Apartamento  de  2  quartos  destinado  ao  programa  MCMV.  Fonte:  Folheto  informativo  

ilustrativo  de  construtora  em  Belo  Horizonte,  acervo  próprio  

Figura  10  -­‐  Apartamento  de  2  quartos  destinado  ao  programa  Vila  Viva  (URBEL)  em  Belo  Horizonte.    

Fonte:  http://portalpbh.pbh.gov.br,  2012  

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Um  olhar  comparativo  entre  a  produção  habitacional  do  BNH,  MCMV  e  URBEL  permite-­‐nos  inferir  que  o  tipo  (2  ou  3  quartos,  somados  à  sala  e  cozinha,  isto  é,  a  tripartição  mínima)  e  a  tipologia  associada  ao  sistema   produtivo   moderno   (estrutura   de   concreto   ou   alvenaria   estrutural),   presente   na   prática  projetual   dos   arquitetos   modernos,   ainda   permanece   como   componente   analítico   e   conceitual   da  produção   contemporânea   da   habitação   social.   Nesse   cenário,   a   emergência   da   quantificação   e  produção   das   unidades,   revelada   no   início   do   século   XX   e   preservada   até   os   dias   de   hoje,   torna-­‐se  norma  e  impedimento  para  que  transformações  urbanas  incorporem-­‐se  à  cidade  contemporânea.  

 

4. O  LUGAR  NA  PRÁTICA  PROJETUAL    

A   terceira   tipologia   proposta   por   Vidler   (2006,   p.286)   é   uma   crítica   explícita   ao   modo   de   morar  moderno,   referenciando-­‐se   à   cidade   como   nova   tipologia   per   se,   “completa   e   pronta   para   ser  decomposta  em  fragmentos”.  E  continua:  “a  experiência  acumulada  da  cidade,  seus  espaços  públicos  e  suas   formas   institucionais   permite   compreender   uma   tipologia   que   desafia   uma   leitura   literal   da  função,  mas  que,  ao  mesmo  tempo,  assevera  outro  nível  de  relação  com  uma  tradição  continuada  de  vida  urbana”  (VIDLER,  2006,  p.287).    

Se   incorporarmos   à   essa   discussão   o   informacionalismo   contemporâneo   como   fonte   de   geração   de  formas  e  processos  sociais  e  espaciais,  assim  referenciado  por  Castells  (2006),  teremos  a  cidade  atual  conformada  por  espaços  de  fluxos,  e,  em  oposição,  o  espaço  de  lugares.  Aqui,  movimentos  de  resistência  fazem-­‐se  presentes,  fundamentados  por  “interações  cotidianas  com  o  ambiente  físico  delimitado”,  mas  fortalecidos   a   partir   de   “pontes   culturais,   políticas   e   físicas   entre   essas   duas   formas   de   espaço”  (CASTELLS,  2006,  p.518).    

Por  um  lado,  a  interação  cotidiana  como  alicerce  do  espaço  de  lugares  pode  erroneamente  provocar  a  retomada   do   conceito   de   identidade   do   lugar.   Essa   abordagem   fenomenológica   é   reforçada   por  Norberg-­‐Schulz   (2006)   ao   definir   o   lugar   como   relação   interdependente   entre   o   espaço   –   a  organização   tridimensional   dos   elementos,   e   o   caráter   –   a   qualidade   do   ambiente.   Assim,   o   lugar   é  conformado  pela  estrutura  espacial  constituída  do  sentimento  de  pertencer.  Por  outro  lado,  o  processo  da   universalização   do   espaço,   presente   no   espaço   de   fluxos   e   calcado   pela   vocação   do   lugar,   pode  transformar   as   cidades   em   mercadorias   atraentes   e   competitivas   entre   si.   Tais   espaços   tornam-­‐se  interessantes,  mas  exclusivamente  sob  a  lógica  de  mercado,  na  qual  grande  parte  da  população  acaba  ficando  excluída  (ARANTES,  1998).    

Ao  contrário,  a  associação  entre  cidade  e  experiência,  proposta  por  Vidler,  aproxima-­‐se  do  conceito  de  urbano  proposto  por  Lefebvre  (2008,  p.85):  “trata-­‐se,  antes,  de  uma  forma,  a  do  encontro  e  da  reunião  de  todos  os  elementos  da  vida  social,  desde  os  frutos  da  terra  (trivialmente:  os  produtos  agrícolas)  até  os  símbolos  e  as  obras  ditas  culturais”.    

É   inevitável   a   compreensão  da   cidade   se,   e   apenas   se,   subordinada  à  vida   social;   ou   seja,   a   cidade  é  lugar  onde  as  práticas  sociais  acontecem  e  os  que  ali  vivem,  ao  reconhecê-­‐la,  agem,  ao  longo  do  tempo.  Ora,   se   a   cidade   está   vinculada   às   estruturas   sociais   cabe   pressupor   que   há   condições   sociais,   mas  também  físicas,  ambientais,  culturais,  históricas,  econômicas  e  políticas,  presentes  ali.  Condições  essas  que   são   transformadas   ao   longo   do   tempo,   e   por   isso,  dão   forma   ao   lugar.   Nesse   sentido,   o   lugar   é  muito  mais  do  que   identidade  ou  vocação.  Lugar  é  a   tessitura  do  processo  espaço-­‐tempo,  uma  tarefa  inacabada   na   medida   em   que   há   a   contínua   geração   de   novas   trajetórias   e   novas   configurações  (MASSEY,  2009).  

A   partir   da   leitura   do   lugar,   a   produção   do   espaço   urbano   caminha   ao   lado   da   possibilidade   de   se  extrair  subsídios  para  a  geração  da  estratégia  de  projeto  –  a  operacionalização,  exploração,  análise  e  manipulação   de   informações   verbais   que   deflagram   decisões   formais.   O   gesto   plástico   casual   que  antecipa   uma   resposta   espacial   não   comparece.   Também   não   se   confunde   com   o   propósito   do  

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contextualismo   ou   do   historicismo   na  medida   em  que   as   formas   resultantes   dessas   abordagens   são  adaptações  ao  lugar,  às  tipologias  existentes  ou  aos  processos  históricos.  

Não  há  prática  projetual  coerente  com  o  lugar  (e  a  cidade)  sem  que  os  arquitetos,  mas  também  todos  os  outros  agentes  envolvidos,  reconheçam  as   informações  sobre  o  mesmo.   Isso  significa  tomar  posse  das  informações,  pertinentes  à  tessitura  do  lugar,  que,  uma  vez  coletadas,  representadas  e  analisadas,  mostram-­‐se   ser   os   melhores   instrumentos   para   um   projeto   como   processo   investigativo.   Dessa  maneira,   a   estratégia   de   projeto   acolhe   percursos   de   interpretação   e   de   decisões   em   busca  de   respostas   às   situações   de   projeto   adequadas   e   coerentes   para   a   cidade   (e   não   soluções   para  problemas).  Soriano  (2009)  qualifica   tais   instruções  como  positivamente   incompletas  na  medida  em  que  não  são  cristalizadas  no   tempo.  E,  por  serem   formas   incompletas,  os  usos  do  espaço  podem  ser  inseridos  e  transformados.  

Nesse   cenário,   não   é   mais   possível   ver   a   produção   habitacional   como   resultado   de   necessidades  programáticas  imediatas,  reduzidas  às  funções  de  estar,  comer,  dormir,  lavar  e  cozinhar  pré-­‐concebidas  por   tipologias   congeladas,  materializáveis   em   um  determinado   sítio   físico   e   adaptadas   em   razão   da  relação   histórica   indivíduo-­‐ambiente.   O   lugar,   esse   amplo   e   complexo   conjunto   de   informações,  constitui-­‐se   pelas   dimensões   estéticas,   funcionais   e   tecnológicas,   próprias   da   modernidade,   mas  também   somam   as   dimensões   sociais,   políticas,   econômicas,   culturais,   históricas   e   ambientais,  operando  as  relações  entre  objetos,  conteúdos  e  cidadãos.  

Há  vários  exemplos  da  produção  habitacional  elaborados  por  arquitetos  contemporâneos,  incluindo-­‐se  os   relacionados   ao   movimento   Open   Building   (Arquitetura   Aberta),2   que   refletem   a   abordagem   da  leitura  do  lugar.  Segue,  aqui  como  exemplo,  contraproposta  do  grupo  de  pesquisa  Praxis  da  Escola  de  Arquitetura   da   UFMG   elaborada   para   a   implantação   de   um   empreendimento   habitacional   em   Belo  Horizonte.    

Na  área  estabelecida,   a  Urbel  pousa   o   (estático)   tipo-­‐bloco   “H”  dos  anos  1950,  de   tal   forma  que:   (1)  subestima  a  topografia  e  geomorfologia  dos  terrenos,  extremamente  íngremes  em  sua  grande  maioria,  na  medida  em  que  exige   ser   locado  em  platôs;   (2)   secciona  bairros  e/ou  comunidades   consolidadas  por  meio  da  sua  associação  à  grandes  avenidas  de  circulação  de  automóveis,  impedindo  o  encontro  de  pedestres  em  espaços  públicos;  (3)  torna  os  cômodos  imutáveis,  visto  que  as  paredes  são  portantes  em  blocos  de  concreto;  (4)  reforça  espaços  socialmente  hierarquizados,  já  que  não  permite  o  uso  misto  ou  a  expansão;  (5)  espelha  a  imagem  da  família  tradicional,  definida  por    2  ou  3  quartos,  sala,  banheiro  e  cozinha;  (6)  desvela  a  produção  em  massa  do  século  XIX  por  meio  da  combinação  única  de  elementos  repetitivos;   (7)   impede   a   participação   real   e   efetiva   dos   moradores,   visto   que   os   projetos   estão  definidos  a  priori.  

O   projeto   Praxis,   ao   contrário,   entende   as   dimensões   estéticas,   funcionais,   tecnológicas,   sociais,  políticas,   econômicas,   culturais,   históricas   e   ambientais   do   lugar,   e   estabelece   estratégia   de   projeto  que:  (1)  preserva  ambientalmente  as  encostas;  (2)  prioriza  os  percursos  dos  pedestres;  (3)  permite  a  transformação  e  apropriação  dos  espaços  privados  e  públicos;  (4)  permite  usos  mistos;  (5)  otimiza  o  uso   de   materiais   industrializados,   dentro   de   uma   combinação   inteligente   mas   não   repetitiva;   (6)  flexibiliza  o  projeto  no  que  se  refere  às  divisões  internas,  aos  localização  dos  pontos  de  infraestrutura  e  às  expansões;  (7)  implanta  processos  compartilhados  de  produção  do  espaço  entre  técnicos,  poder  

2   O  movimento  Open  Building   é   conhecido   internacionalmente   pela   organização   dos   processos   de   tomada   de   decisões   no  projeto  e  na  produção  do  espaço  construído  por  meio  de  intervenções  balanceadas  de  seus  envolvidos,  no  que  se  refere  ao  tecido   urbano   (morfologia   espacial   e   as   atividades   humanas),   à   infra-­‐estrutura   urbana   e   na   estrutura   da   edificação,   aos  componentes   que   fazem   o   espaço   ser   habitável   (recheio)   e   ao   mobiliário.   As   configurações   dessas   inter-­‐relações   são  propostas   por   meio   de   elementos   físicos   e   clusters   decisórios   hierárquicos. Os   conceitos   do   Open   Building   abarcam   as  seguintes  premissas:  (1)  os  processos  do  projeto  e  da  construção  do  espaço  devem  ser  decididos  por  seus  usuários  e  pelos  diversos  profissionais   e  participantes   envolvidos;   (2)   as   soluções   técnicas  devem  permitir   a   substituição  de   sistemas,  mas  preservando  as  funções  do  todo;  (3)  o  ambiente  construído  deve  ser  compreendido  como  um  produto  em  evolução  e  passível  de  constante  transformação.  Mais  informações  ver:  <http://www.arq.ufmg.br/praxis/2_ob/index.htm>  

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público   e  moradores   por  meio   da   definição   do   que   sejam   as   decisões   coletivas   e   as   individuais;   (8)  respeita  o  modo  de  viver  dos  moradores  e  a  vinculação  social  existente  entre  eles.  

 

 

O   ponto   comum   das   duas   propostas   é   o   adensamento   equivalente,   demonstrando   que   outras  premissas   qualitativas   podem   preservar   respostas   quantitativas   pré-­‐estabelecidas   pela  municipalidade.    

Outro  exemplo   referente  à  abordagem  do   lugar   como  ponto  de  partida  da  produção  da  moradia  é  a  autoconstrução.   Ou   seja,   o  modo   informal   no   qual   as   pessoas   constroem,   aumentam,   adicionam   ou  improvisam   suas   casas   –   processo   sócio-­‐tecnológico   em   evolução   e   transformação   constante,   indica  que   há,   inegavelmente,   conhecimento   implícito,   lucidez   e   capacidade   crítica   por   parte   dos   3  Resultados  da  pesquisa   “Os  processos  produtivos  da  autoprodução  de  moradias:   a  abordagem  da  prática   informacional”,  financiada  pelo  CNPq.  Mais  informações  ver:  <http://www.arq.ufmg.br/praxis/4_auto/>.  

declividade  

 áreas  ocupáveis  

 platôs  por  níveis  

 ocupação  pedestres,  acesso  das  moradias  e  espaços  públicos  

 implantação  elaborada  pelo  PRAXIS  

 

moradias  –  estruturas  flexíveis    

 moradias  –  estruturas  fixas      

   implantação  elaborada  pela  URBEL  

 Figura  12  –  Implantação  de  200  moradias,  elaborada  pelo  grupo  PRAXIS  em  contraproposta  ao  programa  Vila  Viva,  URBEL.  

Fonte:  Grupo  de  pesquisa  PRAXIS  3  

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 IV  Congresso  Brasileiro  e  III  Congresso  Ibero-­‐Americano  Habitação  Social:  ciência  e  tecnologia  “Inovação  e  Responsabilidade”    12  a  15  de  novembro  de  2012,  Florianópolis  

Promoção: Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo – PósARQ/UFSC e Associação Catarinense de Engenheiros – ACE/SC Secretário Executivo: Ivan Rezende Coelho, fones: (48) 32483553/84077100, FAX: (48) 32483500

E-mail: [email protected], Site Oficial: cthab.ufsc.br

autoconstrutores   na   escolha   e   na   avaliação   das   opções   que   possam   atender,   com   flexibilidade,   suas  necessidades   e   aspirações   individuais,   em   relação   não   só   às   tecnologias,   aos   materiais   e   sistemas  construtivos  e  à  execução,  mas  também  ao  financiamento  ou  gerenciamento.    

As  pessoas  constroem,  ao  longo  do  tempo,  um  corpo  de  conhecimento  substancial  sobre  como  melhor  construir  e  conectarem-­‐se  à   infra-­‐estrutura  e  aos  serviços  urbanos,  bem  como  se  beneficiarem  ou  se  esquivarem   das   autoridades   públicas.   É   um   processo   de   fazer   e   aprender   através   de   experiências  individuais,  repassadas  a  outros  de  maneira  formal  e  informal  (HAMDI,  1991).  Assim,  o  saber-­‐fazer  a  moradia  (como,  quando,  onde  e  a  que  custo)  é  gerado  por  informação  e  esta  se  transfere  pelas  redes  sociais.  

Entendemos,   ao   final,   que   a   leitura   do   lugar   como   ponto   de   partida   projetual   permite   a   inserção  urbana   de   forma   coerente   com   a   cidade.   Sendo   assim,   as   decisões   nos   processos   de   projeto   e   da  produção   do   espaço   urbano   incorpora   a   variável   tempo   –   a   quarta   dimensão   –   permitindo  apropriações  e  transformações  sócio-­‐espaciais,  não  tipologicamente  programadas.  

Tratando-­‐se  da  produção  habitacional  em  massa,  há  de  se  exemplificar  a  leitura  do  lugar  por  projetos  que  acolhem  não   só  a   transformação  dos  espaços  ao   longo  do   tempo,  que  por   si   só  desconstroem  o  argumento   da   tipologia   como   ponto   de   partida   projetual,   mas   também   o   morador   como   agente  participativo   do   processo   de   projeto   e   produção   da   casa.   Nesse   âmbito,   os   projetos   rebatem   os  modelos  tipológicos  rígidos,  resultantes  de  determinações  formais,  construtivas  e  técnicas  do  setor  da  indústria   da   construção   ou   do   estado.   Além   disso,   inserem   o  morador   na   cidade   a   partir   das   reais  possibilidades  de  apropriação  coletiva  e  individual  dos  espaços  públicos  e  da  moradia.  

 

5. AGRADECIMENTOS  

Pelo  apoio  financeiro  e  institucional:  CNPQ,  Fapemig,  ProEx/UFMG,  Capes.  

 

6. REFERÊNCIAS  BIBLIOGRÁFICAS  ARANTES,  O.  Urbanismo  em  Fim  de  Linha.  In:  ARANTES,  O.  Urbanismo  em  Fim  de  Linha.  São  Paulo:  EDUSP,  1998.  p.131-­‐142.    

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BANCO  NACIONAL  DE  HABITAÇÃO.  BNH:  Projetos  sociais.  BNH:  Rio  de  Janeiro,  1979.  

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