crônica

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“Na crônica, acho que coloco uma espécie de mundo através de uma espécie de mim. O leitor quer, no jornal, encontrar um pouso, uma conversa.” Clarice Lispector

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Page 1: Crônica

“Na crônica, acho que coloco uma espécie de mundo através de uma espécie de mim. O leitor quer, no jornal, encontrar um pouso, uma conversa.”

Clarice Lispector

Page 2: Crônica

Amigo estudante “Crônica é um escrito de jornal que procura contar ou comentar

histórias da vida de hoje. Histórias que podem ter acontecido com todo mundo: até com você mesmo, com pessoas de sua família ou com seus amigos. Mas uma coisa é acontecer, outras coisa é escrever aquilo que aconteceu. Então você notará, ao ler a narração do fato, como ele ganha um interesse especial, produzido pela escolha e pela arrumação das palavras. E aí começa a alegria da leitura, que vai longe. Ela nos faz conferir, pensar, entender melhor o que se passa dentro e fora da gente. Daí por diante a leitura ficará sendo um hábito, e esse hábito leva a novas descobertas. Uma curtição.”

Carlos Drummond de AndradeFernando Sabino

Paulo Mendes CamposRubem Braga

Para Gostar de Ler – Crônicas. São Paulo, Ática, 1977. v. 1

Page 3: Crônica

O que é um cronista?

Page 4: Crônica

A palavra crônica A palavra crônica é derivada do latim Chronica e do grego Khrónos

(tempo). O significado principal que acompanha esse tipo de texto é exatamente o conceito de tempo. Assim, seja um registro do passado, seja um flagrante do presente, a crônica é sempre um resgate do tempo.

Page 5: Crônica

A primeira crônica brasileira A carta de Pero Vaz de Caminha era considerada em sua

época uma crônica histórica. Posteriormente este documento passou a ser chamado de crônica de viagem.

“Eles não lavram nem criam. Nem há aqui boi ou vaca, cabra, ovelha ou galinha, ou qualquer outro animal que esteja acostumado ao viver do homem. E não comem senão deste inhame, de que aqui há muito, e dessas sementes e frutos que a terra e as árvores de si deitam. E com isto andam tais e tão rijos e tão nédios que o não somos nós tanto, com quanto trigo e legumes comemos.”

Pero Vaz de Caminha

Disponível em:http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/carta.html

Page 6: Crônica

A crônica como gênero jornalístico

Surgiu do folhetim de variedades no século XIX. Era

um espaço livre no rodapé do jornal para entreter o leitor. O folhetinista registrava e comentava a vida cotidiana da província, do país e do mundo.

Entre os mais variados assuntos surgiu a crônica da crônica.

É o que veremos a seguir.

Page 7: Crônica

O folhetim do folhetim “É uma felicidade que não me tenha ainda dado

ao trabalho de saber quem foi o inventor deste monstro de Horácio, deste novo Proteu, que chamam - folhetim; senão aproveitaria alguns momentos em que estivesse de candeias às avessas, e escrever-lhe-ia uma biografia, que, com as anotações jeito ter um inferno no purgatório onde necessariamente deve estar o inventor de tão desastrada idéia. 

Obrigar um homem a percorrer todos os acontecimentos, a passar do gracejo ao assunto sério, do riso e do prazer as páginas douradas do seu álbum, com toda a finura e graça e a mesma monchalance com que uma senhora volta as páginas douradas do seu álbum, com toda a finura e delicadeza com que uma mocinha loureira dá sota e basto a três dúzias de adoradores! Fazerem do escritor uma espécie de colibri a esvoaçar em ziguezague, e a sugar, como o mel das flores, a graça, o sal e o espírito que deve necessariamente descobrir no fato o mais comezinho!”

José de Alencar Disponível em   http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/jose-de-alencar/ao-correr-da-pena.php

Page 8: Crônica

O nascimento da crônica “Não posso dizer positivamente em que ano nasceu a

crônica; mas há toda a probabilidade de crer que foi coetânea das primeiras duas vizinhas. Essas vizinhas, entre o jantar e a merenda, sentaram-se à porta, para debicar os sucessos do dia. Provavelmente começaram a lastimar-se do calor. Uma dizia que não pudera comer ao jantar, outra que tinha a camisa mais ensopada do que as ervas que comera. Passar das ervas às plantações do morador fronteiro, e logo às tropelias do dito morador, e ao resto, era a coisa mais fácil, natural e possível do mundo. Eis a origem da crônica.”

Machado de AssisDisponível em http://www.almacarioca.net/o-nascimento-da-cronica/

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A crônica do século XX O folhetim desapareceu e deu origem à crônica

moderna. A crônica do século XX é mais curta e, em geral, limita-

se a abordar um só assunto, entretanto os cronistas continuaram a fazer metalinguagem, isto é, falavam frequentemente do seu fazer literário.

Ouça “O exercício da crônica” de Vinícius de Moraes em http://www.dominiopublico.gov.br/download/som/us000041.mp3

Leia a crônica completa em http://oliteratico.webnode.com/news/o-exercicio-da-cronica/

Page 10: Crônica

O gênero crônica

Neste momento, você deve estar se perguntando: - Onde cabem as pequenas coisas do cotidiano? - Como captar a conversa fiada, os pequenos sentimentos,

os nossos fatos ou os alheios? - Quando o fato fica no registro do cotidiano e quando vira

literatura?

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A crônica literária A crônica se destina inicialmente a leitores de jornais, revistas e,

atualmente, blogs. Gilberto Freyre no prefácio do livro de memórias de Nélson Rodrigues,

esclarece: “ O escritor-jornalista ou o jornalista-escritor é o que sobrevive ao

jornal: ao momento jornalístico. Ao tempo jornalístico. Pode resistir da prova tremenda de passar do jornal ao livro.”

Antonio Candido, professor e crítico literário, opina a respeito: “Não se imagina uma literatura feita de grandes cronistas, que lhe

dessem o brilho universal dos grandes romancistas, dramaturgos e poetas[...]Portanto, parece mesmo que a crônica é um gênero menor.

“Graças a Deus”, - seria o caso de dizer, porque sendo assim ela fica perto de nós. E para muitos pode servir de caminho não apenas para a vida, que ela serve de perto, mas para a literatura...”

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Rubem Braga Rubem Braga foi o pioneiro da crônica contemporânea. Ultrapassou

os limites do jornalístico e aprimorou o gênero enquanto literatura. Suas crônicas são antológicas e figuram em livros didáticos.

Em “O padeiro” , o cronista faz uma analogia entre o pão e o jornal. Levanto cedo, faço minhas abluções, ponho a chaleira no

fogo para fazer café e abro a porta do apartamento - mas não encontro o pão costumeiro. No mesmo instante me lembro de ter lido alguma coisa nos jornais da véspera sobre a "greve do pão dormido". De resto não é bem uma greve, é um lock-out, greve dos patrões, que suspenderam o trabalho noturno; acham que obrigando o povo a tomar seu café da manhã com pão dormido conseguirão não sei bem o que do governo.

Continue lendo essa e outras crônicas em http://mortuis.vilabol.uol.com.br/braga/6.htm

Page 13: Crônica

Como definir e classificar a crônica? Fernando Sabino disse que “crônica é tudo aquilo que chamamos

de crônica.” Cada cronista tem seu estilo e , por isso, liberdade para escolher o

tipo de texto e recursos de outros gêneros literários. “A crônica tanto pode ser um conto, como um poema em prosa, um

pequeno ensaio, como as três coisas simultaneamente”, definiu Eduardo Portela.

É breve e narrada em primeira pessoa. Em geral, redigida em linguagem simples, descompromissada, coloquial, muito próxima do leitor. Quase sempre explora o humor e a ironia, mas às vezes diz coisas sérias por meio de uma aparente conversa.

Releia todas as crônicas apresentadas e prepare-se para ler as próximas.

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Leitura de crônicas1 - Rachel de Queiroz O Amistosohttp://www.releituras.com/racheldequeiroz_amistoso.asp

2 - Carlos Drummond de Andrade Depois do jantar http://www.releituras.com/drummond_menu.asp3 – Fernando Sabino Minas Enigmahttp://www.releituras.com/drummond_menu.asp4- Paulo Mendes Campos Menina no jardimhttp://minhalinguaeeu.blogspot.com/2009/09/menina-no-jardim-para-gostar-de-ler.html5- Stanislaw Ponte Preta História de um nome http://www.releituras.com/spontepreta_nome.asp

Page 15: Crônica

Continue lendo...6 – Lourenço Diaféria Nunca deixe seu filho mais confuso que vocêhttp://www.releituras.com/ldiaferia_menu.asp7- Luis Fernando Veríssimo Pechadahttp://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/pratica-pedagogica/pechada-

423370.shtml8- José Carlos de Oliveira Cãomício no calçadãohttp://www.janainaramos.com/2009/05/caomicio-no-calcadao-jose-carlos.html9- Carlos Eduardo Novaes Volta às aulas (Um retorno cada vez mais caro) http://migre.me/16HQS10- Walcyr Carrasco Cena Eletrônicahttp://veja.abril.com.br/vejasp/130302/cronica.html11- Fábio Reynol O vendedor de palavrashttp://www.releituras.com/ne_freynol_vendedor.asp

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Para encerrar...12- Ana Paula Maia O mundo é um miojohttp://vidabreve.com/uncategorized/o-mundo-e-um-miojo13 - Kledir Ramil Língua Brasileirahttp://www.cantadoresdolitoral.com.br/k/kl16.htm#102

E então? Gostou da viagem de leitura pelas crônicas brasileiras das mais antigas às

contemporâneas? As crônicas apresentadas nessa coletânea foram escolhidas para que observasse

a visão pessoal do cronista sobre os mais variados assuntos. Ficamos com a impressão de que o autor registrou o nosso dia-a-dia com sensibilidade, humor, ironia, crítica, uma visão mais abrangente do fato, aquilo que deixamos escapar. Em algumas crônicas, percebemos claramente que o cronista dialoga com o leitor.

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A linguagem da crônica “Num país como o Brasil, onde se costumava

identificar superioridade intelectual e literária com grandiloquência e requinte gramatical, a crônica operou milagres de simplificação e naturalidade, que atingiram o ponto máximo nos nossos dias.[...] O seu grande prestígio atual é bom sintoma do processo de busca de oralidade na escrita, isto é, de quebra do artifício e aproximação com o que há de mais natural no modo de ser do nosso tempo.”

Antonio Candido

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Concluindo... Observamos, a partir da crônica moderna, que mudou o

contrato de comunicação da literatura no Brasil no que se refere à variação linguística: em textos literários o registro formal (língua padrão) deixou de ser obrigatório e tornou-se facultativo, passando a escolha da variedade lingüística utilizada a obedecer às necessidades estilísticas do escritor. (Helênio Fonseca de Oliveira)

O registro adequado, seja coloquial, seja padrão formal, depende do contexto e de quem será o interlocutor. Muda também de acordo com fatores geográficos e socioculturais.

Embora a variedade padrão seja usada por alguns autores, principalmente nas crônicas dissertativas, percebe-se o desvio quando é esteticamente necessário para caracterizar personagens, por exemplo.

Assim segue a crônica brasileira: um retrato do homem e da sociedade.

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Para saber mais! Este pequeno estudo sobre a crônica foi baseado no livro

Crônica: história, teoria e prática de Flora Bender e Ilka Laurito (Scipione).

Prof. Fátima Campilho