crítica do conceito de revolução burguesa aplicado às revoluções dos direitos do homem e...

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1 Crítica do conceito de “revolução burguesa” aplicado às Revoluções dos direitos do homem e do cidadão do século XVIII 1 Por Florence Gauthier, Université Paris VII Denis Diderot A tradição marxista vê nas revoluções da liberdade e da igualdade, que precederam o que chamou-se a “revolução proletária”, inaugurada pela Revolução russa, “revoluções burguesas”. Sabe-se que Marx deixou elementos de análise, que apresentam momentos diferentes e mesmo contraditórios da sua reflexão, correspondendo à evolução dos seus conhecimentos e a sua compreensão da Revolução francesa. O esquema interpretativo, em questão aqui, foi produzido pela tradição marxista e tem sido, ele mesmo, uma interpretação das análises deixadas por Marx. Contudo, o meu propósito não é o de reconstituir como tal esquema interpretativo foi produzido, embora este trabalho permaneça a ser feito, e ele é mesmo urgente, mas, mais precisamente, procurar saber se este esquema interpretativo corresponde à realidade histórica. Para situar o problema, limitar-me-ei ao exemplo que chamamos “Revolução francesa”. E gostaria de começar recordando rapidamente os sofrimentos que alguns dos grandes historiadores marxistas infligiram-se para fazer enquadrar os resultados da sua investigação no esquema interpretativo da “revolução burguesa”. No início do século XX, entendia-se a Revolução francesa como “revolução burguesa” no sentido de que a direção política da revolução teria permanecido burguesa, passando de uma fração da burguesia a outra. As tarefas desta revolução teriam sido realizadas pelos violentos golpes sofridos pelo movimento popular, considerado como que não-pensante, e que encontrava-se por conseguinte na incapacidade de ter qualquer papel dirigente. Contudo, como tratava-se de uma “revolução burguesa”, procurou-se a existência de um embrião de “proletariado”. E interpretou-se então a presença dos Enragés 2 , dos Hébertistes 3 e dos Babouvistes 4 , 1 Este artigo, do original “Critique du concept de « révolution bourgeoise » appliqué aux Révolutions des droits de l’homme et du citoyen du XVIII e siècle”, foi publicado na revista Raison Présente, n°123, 1997, p. 59-72. Tradução para o português de Sérgio Dela-Sávia (DEFIL-UFRN). 2 Literalmente “enraivecidos”, era um grupo de revolucionários radicais, representados notadamente pelo padre constitucional Jacques Roux. Eles reivindicavam a igualdade cívica e política, mas também social. 3 Chamados também de “exagerados” eram formados inicialmente por membros da “sociedade amigos dos direitos do homem e do cidadão”, cuja maioria pertencia ao grupo montanheses e que se opunham radicalmente aos girondinos os quais, antes alinhados com os jacobinos, grupo de esquerda na composição da Assembléia Nacional Legislativa, passaram a representar interesses mais conservadores. 4 Grupo de agentes revolucionários armados, os Babouvistes (também conhecidos por “os Iguais”), militavam na clandestinidade. Constituíram a “Conjuração dos Iguais”, desmantelada em 1796, que tinha por objetivo dar continuidade ao espírito revolucionário de 1793 (data da primeira constituição republicana da França) e lutar contra os desvios que este sofria então. Em seu “Manifesto dos Iguais” escreveram: “Necessitamos não apenas desta igualdade transcrita na Declaração dos direitos do homem e do cidadão, queremo-la no meio de nós, sob o teto das nossas casas. […] Que cesse enfim, este grande escândalo que os nossos sobrinhos não querem crer! Desapareçam enfim, as revoltantes distinções entre ricos e pobres, grandes e pequenos, mestres e empregados, governantes e governados. […] O momento chegou de fundarmos a República do Iguais, este grande hospício aberto a todos os homens. […] A organização da igualdade real, a única que responde a todas as necessidades, sem fazer vítimas, sem custar sacrifícios, não agradará talvez de imediato a todos. O egoísta, o ambicioso tremerá de raiva”.

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    Crtica do conceito de revoluo burguesa aplicado s Revolues dos direitos do homem e do cidado do sculo XVIII1 Por Florence Gauthier, Universit Paris VII Denis Diderot

    A tradio marxista v nas revolues da liberdade e da igualdade, que precederam o que chamou-se a revoluo proletria, inaugurada pela Revoluo russa, revolues burguesas. Sabe-se que Marx deixou elementos de anlise, que apresentam momentos diferentes e mesmo contraditrios da sua reflexo, correspondendo evoluo dos seus conhecimentos e a sua compreenso da Revoluo francesa. O esquema interpretativo, em questo aqui, foi produzido pela tradio marxista e tem sido, ele mesmo, uma interpretao das anlises deixadas por Marx. Contudo, o meu propsito no o de reconstituir como tal esquema interpretativo foi produzido, embora este trabalho permanea a ser feito, e ele mesmo urgente, mas, mais precisamente, procurar saber se este esquema interpretativo corresponde realidade histrica. Para situar o problema, limitar-me-ei ao exemplo que chamamos Revoluo francesa. E gostaria de comear recordando rapidamente os sofrimentos que alguns dos grandes historiadores marxistas infligiram-se para fazer enquadrar os resultados da sua investigao no esquema interpretativo da revoluo burguesa.

    No incio do sculo XX, entendia-se a Revoluo francesa como revoluo burguesa no sentido de que a direo poltica da revoluo teria permanecido burguesa, passando de uma frao da burguesia a outra. As tarefas desta revoluo teriam sido realizadas pelos violentos golpes sofridos pelo movimento popular, considerado como que no-pensante, e que encontrava-se por conseguinte na incapacidade de ter qualquer papel dirigente. Contudo, como tratava-se de uma revoluo burguesa, procurou-se a existncia de um embrio de proletariado. E interpretou-se ento a presena dos Enrags2, dos Hbertistes3 e dos Babouvistes4, 1 Este artigo, do original Critique du concept de rvolution bourgeoise appliqu aux Rvolutions des droits de lhomme et du citoyen du XVIIIe sicle, foi publicado na revista Raison Prsente, n123, 1997, p. 59-72. Traduo para o portugus de Srgio Dela-Svia (DEFIL-UFRN). 2 Literalmente enraivecidos, era um grupo de revolucionrios radicais, representados notadamente pelo padre constitucional Jacques Roux. Eles reivindicavam a igualdade cvica e poltica, mas tambm social. 3 Chamados tambm de exagerados eram formados inicialmente por membros da sociedade amigos dos direitos do homem e do cidado, cuja maioria pertencia ao grupo montanheses e que se opunham radicalmente aos girondinos os quais, antes alinhados com os jacobinos, grupo de esquerda na composio da Assemblia Nacional Legislativa, passaram a representar interesses mais conservadores. 4 Grupo de agentes revolucionrios armados, os Babouvistes (tambm conhecidos por os Iguais), militavam na clandestinidade. Constituram a Conjurao dos Iguais, desmantelada em 1796, que tinha por objetivo dar continuidade ao esprito revolucionrio de 1793 (data da primeira constituio republicana da Frana) e lutar contra os desvios que este sofria ento. Em seu Manifesto dos Iguais escreveram: Necessitamos no apenas desta igualdade transcrita na Declarao dos direitos do homem e do cidado, queremo-la no meio de ns, sob o teto das nossas casas. [] Que cesse enfim, este grande escndalo que os nossos sobrinhos no querem crer! Desapaream enfim, as revoltantes distines entre ricos e pobres, grandes e pequenos, mestres e empregados, governantes e governados. [] O momento chegou de fundarmos a Repblica do Iguais, este grande hospcio aberto a todos os homens. [] A organizao da igualdade real, a nica que responde a todas as necessidades, sem fazer vtimas, sem custar sacrifcios, no agradar talvez de imediato a todos. O egosta, o ambicioso tremer de raiva.

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    como pequenos grupos comunistas, esboo do futuro movimento da revoluo proletria.

    Esta interpretao est presente em Jaurs, na sua Histria socialista da Revoluo francesa. A obra excede de resto este esquema interpretativo, graas publicao de numerosos documentos, muitos destes extensos, que deixam entender as vozes mltiplas dos revolucionrios, e que contradizem muito freqentemente o esquema interpretativo (1).

    Foi na seqncia da publicao das grandes monografias, primadas pela erudio, e que se consagraram pela primeira vez aos movimentos populares realizadas pelos Georges Lefebvre e seus alunos, Richard Cobb, George Duro, Albert Soboul, Kare Tonnesson, que o esquema interpretativo da revoluo burguesa explodiu. Lefebvre trouxe luz a presena de uma revoluo campesina autnoma nas suas expresses, nos seus modos de organizao e de ao (3). Seus alunos fizeram um trabalho de mesma amplitude nas cidades pondo trazendo luz a revoluo sans-culotte5 (4). O povo reencontrou ento o seu nome e a sua dignidade revolucionria. Soou o gongo anunciando o fim da revoluo burguesa. A tese de Soboul fez escndalo ao descobrir o que a historiografia atualmente dominante tenta a todo custo dissimular: a democracia comunal, viva, criadora de formas de vida poltica e social novas apoiadas sobre a cidadania e a soberania popular, criando um espao pblico democrtico que nutriam-se dos direitos do homem e o cidado e inventando mesmo, com relao revoluo campesina, um novo direito do homem: o direito existncia e aos meios para conserv-la. Breve, foi a descoberta de um verdadeiro continente histrico, ignorado at estes a trabalhos.

    Contudo, Lefebvre e em seguida Soboul tentaram enquadrar a revoluo popular autnoma no esquema dito marxista da revoluo burguesa. Isto deu ento, de sua parte, a inveno historiogrfica da ditadura burguesa da salvao pblica, mas aqui dirigida contra a revoluo autnoma popular. Curiosa inveno: contra a democracia comunal, Robespierre e a Montanha6 teriam posto em seu lugar a suposta ditadura do governo revolucionrio, que seria uma espcie de reao thermidoriana7 antes do tempo, e que teria tido como tarefa quebrar o impulso democrtico. Esta inveno bizarra e incompreensvel, mas contudo abalou o esquema precedente sobre vrios planos.

    Em primeiro lugar, os Enrags, os Hbertistes e os Babouvistes no so mais aqui a expresso de um proletariado balbuciante, mas restabeleceram seu lugar na revoluo popular autnoma. A revoluo assim retomou uma consistncia que lhe confere uma forte atrao. Por ltimo, uma dvida sria instalou-se quanto ao carter revolucionrio da burguesia, que, aqui, combate a democracia e os direitos do homem e o cidado. Mas novas dvidas emergem: houve uma ditadura no ano II? Somente a 5 Literalmente sem-cuecas, so o grupo emblemtico da Revoluo Francesa, oriundos das camadas populares e trabalhadoras do povo. 6 Referncia ao grupo dos Montagnards (Montanheses). 7 Incio do perodo chamado de Terror, que comeou com a priso e execuo de Roberpierre, lder dos Montagnards.

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    tradio marxista recorre a esta idia. No existe ditadura sequer na tradio thermidorienne que suspeitava a Robespierre de aspirar a tirania! Suspeitar no a mesma coisa que afirmar um fato real. Uma ditadura no existe tampouco na historiografia democrtica de Alphonse Aulard e Philippe Sagnac (5). Isto decididamente uma inveno da tradio marxista. Mas este erro, grave, foi retomado sem distanciamento nem crtica pela historiografia dominante atualmente para sustentar sua tese bem pensada segundo a qual a revoluo, ou as revolues seriam a anttese do direito e no podem produzir seno ditaduras e de reenviar tradio marxista para demonstr-lo (6).

    Alm do mais, os Robespierristes so realmente uma frao da burguesia? Albert Mathiez emitiu srias dvidas este respeito. Como, por fim, explicar o 9 Thrmidor (27 de julho) se uma reao antipopular estivesse j desenvolvimento?

    Notemos ainda que Lefebvre e Soboul, por preocupao de coerncia, foram forados, mas com dor, de fazer passar o liberalismo econmico, ao qual opunha-se o programa econmico popular, como projeto progressista e a Declarao dos direitos do homem e do cidado como um negcio de burgueses.

    A historiografia atualmente dominante, ou seja, a escola de Franois Furet (Furet que os seus amigos do jornal Nouvel Observateur cognominaram, no sem humor, em outubro de 1988 o rei bicentenrio), tentaram restaurar o esquema interpretativo da revoluo burguesa, abalado como venho record-lo por Lefebvre e Soboul. A escola Furet utiliza o esquema da revoluo burguesa para evacuar o movimento popular das suas preocupaes, e por conseguinte, da histria.

    Podemos ler o verbete Barnave redigido por F. Furet no Dicionrio Crtico, para descobrir esta apropriao do esquema da revoluo burguesa referido Marx, porm, interpretando-o diferentemente (7). Vejamos mais de perto: Barnave era de esquerda em 1789, isto , defendia a Declarao dos direitos do homem e o cidado. Passou direita em 1790 e tornou-se o porta-voz, na Assemblia Nacional, do lobby escravagista. Defendeu a manuteno da escravido e consegue, quando do debate de maio 1791, que a Declarao dos direitos no seja aplicada nas colnias, em nome dos interesses materiais dos colonos e do interesse nacional colonialista. Barnave rompeu claramente com a teoria da revoluo que era expressa na Declarao dos direitos do homem e o cidado. Contudo, F. Furet no toma em conta esta ruptura e apresenta um Barnave que seria ao mesmo tempo o homem dos direitos do homem e o defensor da manuteno da escravido e do preconceito de cor. Ora, h aqui uma contradio. F. Furet no parece aperceber-se disto. Era o caso mesmo de Barnave? Examinemos este ponto.

    Quando do debate sobre as colnias, em 11 de maio de 1791, na Assemblia Constituinte, Barnave apresentou a Declarao dos direitos como o terror dos colonos: Interpelo aqui todos os deputados das colnias a dizer se no for verdadeiro que o terror, relativamente declarao dos direitos, estivesse no seu limite nas colnias, antes do decreto do 8 de maro, pela enorme imprudncia da Assemblia Nacional de ter expresso demasiado tarde este decreto. Conseqentemente, Barnave

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    props uma constituio especfica para as colnias, que assim foram excludas do campo de aplicao da Declarao dos direitos. Pediu a manuteno da escravido nas colnias e justificou o preconceito de cor: Em Santo-Domingos, quase 450.000 escravos so possudos por cerca de 30.000 brancos por conseguinte fisicamente impossvel que um pequeno nmero de brancos possa possuir uma populao to considervel de escravos, se o meio moral no viesse ao apoio dos meios fsicos. Este meio moral est na opinio que pe uma distncia imensa entre o homem negro e o homem de cor, entre o homem de cor e o homem branco. nesta opinio que reside a manuteno do regime das colnias e a base da sua tranqilidade (8).

    Barnave estava bem consciente da contradio que existia entre os princpios da Declarao dos direitos e a defesa do sistema colonial escravagista e enuncia claramente a sua ruptura com os princpios [da Revoluo]. Porque no lhe homenagear em virtude da sua honestidade intelectual e querer faz-lo passar pelo que ele no quer ser: um defensor dos direitos do homem? Esta , efetivamente, a questo que merece ser posta. Alm disso, Barnave, passando da esquerda direita, teorizou o primado dos interesses reais sobre a enunciao dos direitos. Viu na revoluo o momento de reajuste do poder poltico sobre as novas formas de propriedade. Esta forma materialismo histrico prprio a Barnave, que justifica a defesa violenta da dominao do direito burgus de propriedade, incluive sobre escravos, interpretado por F. Furet como uma prefigurao de Marx, que iniciaria uma filiao intelectual com Marx, para retomar as suas expresses.

    Podemos nos interrogar sobre esta colocao de Marx a servio da justificao da revoluo burguesa escravagista de Barnave! O esquema interpretativo da revoluo burguesa revela-se aqui, e no se pode pretender mais claro, reacionrio. E que Marx seja envolvido nessa trama deveria, pelo menos, surpreender. Alm do mais, h que se notar que este esquema no um conceito estabilizado, e vimos aqui uma amostra de trs definies diferentes, e mesmo contraditrias, suceder-se. ento bem difcil fazer disto uma categoria histrica!

    O esquema interpretativo da revoluo burguesa gradualmente constituiu-se em preconceito e, como tal, a sua funo impedir de pensar. Gostaria de mostrar agora, atravs de trs exemplos significativos, esta funo do preconceito. Comearei pelo problema da perda de visibilidade de um liberalismo tico-poltico revolucionrio que, no entanto, largamente se exprimiu durante a revoluo e que foi, desde ento, recoberto por um liberalismo econmico privilegiado de maneira unilateral, entre outros pelos que sustentam o esquema interpretativo da revoluo burguesa.

    A Declarao dos direitos do homem e do cidado de 1789 foi o produto de trs sculos de experincias e reflexes, centradas na idia do direito natural universal. A filosofia do direito natural moderno, confrontada com as conquistas coloniais, com a exterminao dos indgenas, com a escravido do negros, com os massacres das guerras religiosas, com o despotismo do Estado, com a expropriao dos pequenos produtores, com a prostituio de subsistncia afirma-se, num esforo cosmopolita, como a conscincia crtica da barbrie europia. A Declarao dos direitos do homem e do cidado de 1789, por conseguinte, no foi obra de alguns dias. O seu

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    objetivo era o de pr um termo ao despotismo e tirania. A monarquia de direito divino era de natureza desptica. O rei era responsvel apenas diante de Deus. Devia contudo respeitar a constituio do reino, mas sua irresponsabilidade autorizava o dspota a exceder estes limites puramente morais e a tornar-se um tirano.

    Estabelecendo a Declarao dos direitos do homem e o cidado, a revoluo queria pr um termo ao despotismo que repousava sobre uma teoria prtica do poder sem limites outros que os morais (o bom prncipe), por conseguinte sem direito. O princpio de soberania popular destrua aquele do direito divino e restitua a soberania, como bem comum, ao povo. Fazendo assim, o princpio de soberania popular acompanhava-se da separao entre poltica e teologia: no meio da doutrina dos direitos do homem e do cidado encontra-se a liberdade de conscincia, este fruto precioso produzido pelos herticos que afirmaram, contra todos os dogmatismos doutrinais, a existncia de um direito natural unido pessoa e que vigora frente de qualquer poder terreno e se impe a todas as instituies criadas pelos homens. Nesse sentido, a Declarao dos direitos do homem e do cidado fundava um contrato social sobre a proteo dos direitos pessoais e do direito coletivo de soberania popular, ou seja, sobre princpios traduzidos concretamente em termos de direito.

    Apoiando-se sobre as experincias holandesas e inglesas e sobre a dos Estados Unidos, a Declarao dos direitos estabelecia o princpio lockeano8 do poder legislativo, expresso da conscincia social, como poder supremo. Diferentemente, o poder executivo era considerado como perigoso por natureza. Com efeito, o despotismo caracterizava-se, e caracterizado sempre, por uma confuso do exerccio dos poderes legislativo e executivo. O executivo devia, por conseguinte, ser subordinado estritamente ao legislativo e responsabilidade, ou seja, ser forado a dar conta [de suas aes] rapidamente, de forma a permitir impedi-lo de causar danos o mais depressa possvel.

    Insistamos sobre este ponto: o objetivo das revolues de 1789 e 1792-1794 era o de declarar os direitos do homem e do cidado, de construir um poder legislativo supremo e de inventar solues novas para subordinar o executivo, perigoso sempre que se torna autnomo, ao legislativo.

    A teoria da Revoluo dos direitos do homem e do cidado por conseguinte liberal: a Declarao dos direitos afirma que o objetivo da ordem social e poltica a realizao e a proteo dos direitos de liberdade dos indivduos e dos povos, na condio de estes direitos sejam universais, ou seja, recprocos e, por conseguinte, que no sejam transformados em seu contrrio, ou seja, em privilgios. Esta teoria da revoluo afirma ser igualmente possvel uma sociedade fundada no sobre a fora, mas sobre o direito. Aqui, a legitimidade do direito torna-se o problema mesmo da poltica (9).

    Produziu-se um conflito exemplar durante a Revoluo quando se manifestou a

    8 John Locke (1632-1704), filsofo empirista ingls, foi um dos principais pensadores do chamado sculo das Luzes, embora apenas tenha vivido quatro anos do sculo XVIII.

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    contradio entre liberdade poltica fundada sobre um direito pessoal universal e aquilo que se chama de liberdade econmica. Desenvolvamos um pouco este ponto.

    O movimento popular, e em particular campesino, ps em questo no somente a instituio da senhoria9, em se apropriando das terras e dos bens comunais usurpados pelos senhores, mas tambm opondo-se concentrao da explorao agrcola realizada pelos grandes agricultores capitalistas. Alm disso, a sociedade era ameaada pelas transformaes de tipo capitalista no mercado das subsistncias. A guerra do trigo comeava (10): os grandes mercadores de gros procuravam entender-se com os grandes produtores para substituir aos mercados pblicos controlados pelos poderes pblicos, um grande mercado privado. Estes mercadores eram capazes, em alguns lugares como as cidades, de controlar o abastecimento do mercado e de impor os preos. A especulao para o aumento dos preos dos produtos de subsistncia foi um dos problemas essenciais desta poca como mostraram-no notavelmente os trabalhos Edward Palmer Thompson, em especial.

    Os economistas ditos liberais da poca apoiavam, com muita convico, que o direito existncia e as subsistncias do povo era apenas um preconceito que, no meio termo, assegurado pela liberdade indefinida do comrcio dos gros que devia resolver o problema da produo e do consumo para todos, pela harmonia dos interesses individuais em concorrncia. Ora, a Assemblia constituinte aderiu poltica dos economistas chamados liberais, proclamou a liberdade ilimitada da propriedade e votou a lei marcial para reprimir as resistncias populares. A contradio que manifestou-se entre o direito de propriedade, que no universal, e o direito natural vida e a conservao da existncia foi exemplar. Duas concepes do liberalismo enfrentaram-se. O liberalismo econmico revelou o seu carter pseudo-liberal renunciando universalidade do direito e rompendo assim com a teoria da revoluo dos direitos do homem e do cidado. A Constituio de 1791 violou a Declarao dos direitos impondo um sufrgio censitrio, que restringia o direito de voto aos chefes de famlia ricos, mantinha a escravido nas colnias, em nome da preservao das propriedades, como vimos no caso de Barnave, e aplicou a lei marcial provocando uma guerra civil na Frana e nas colnias: a grande revolta dos escravos comeou Santo-Domingos em agosto de 1791, e no parou mais at abolio da escravido e a independncia da ilha.

    A Revoluo do 10 de agosto de 1792 inverteu esta constituio. O movimento democrtico reconduziu a Declarao dos direitos ordem do dia e reclamou um novo direito do homem: o direito existncia e os meios para conserv-lo. Os direitos econmicos e sociais foram uma verdadeira inveno de este perodo. A liberdade ilimitada do direito de propriedade e a lei marcial foram revogadas. Um programa de economia poltica popular, designado assim poca, elaborou-se de 1792 1794: o movimento campesino realizou verdadeira uma reforma agrria, recuperando a metade

    9 Organizao da economia e da sociedade rurais da Europa Ocidental e Central que vigorou durante longo perodo. Historicamente, a senhoria aplicava-se a um feudo, o qual estava sujeito a um senhor feudal que, usualmente, devia a sua posio e suas terras a um senhor hierarquicamente superior (suserano) em troca de assumir certas obrigaes perante o suserano.

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    das terras cultivadas e a propriedade comunal. O sistema de senhoria jurdico e poltico foi suprimido e a comunidade alde sucedeu-lhe. A poltica do Maximum reformou os mercados pblicos e criou silos comunitrios que permitiram controlar os preos e reajustar preos, salrios e lucros. Alm disso, a cidadania foi praticada de maneira nova. O sufrgio universal restringia-se legalmente aos homens mas, na prtica de numerosas assemblias primrias era misto e oferecia o direito de voto s mulheres. No entanto, os cidados participavam realmente da formao da lei discutindo nas suas assemblias, requerendo e manifestando. Cidados e deputados constituam juntos o poder legislativo, poder supremo, criando uma experincia original de espao pblico de reciprocidade do direito (11), que era a definio mesma que dava-se ento repblica: um espao pblico ampliando-se e permitindo aos cidados no apenas de expressar-se, mas de decidir, agir e instruir-se.

    Essa economia poltica popular inventou uma soluo original subordinando o exerccio do direito de propriedade dos bens materiais ao direito vida e a existncia, primeiro direito do homem. O direito vida uma propriedade de qualquer ser humano, que passa antes do direito coisas. Nada mais liberal, no sentido forte e autntico do termo, do que este programa de economia poltica subsumido no direito natural: o exerccio da liberdade est, com efeito, ligado natureza universal do homem, e uma qualidade recproca fundada sobre a igualdade de direitos reconhecida pela lei para todos, enquanto que a liberdade econmica indefinida no uma liberdade civil, mas uma liberdade antinmica da liberdade poltica, destrutiva de qualquer pato social, por conseguinte, de qualquer sociedade poltica. ento por antfrase que a economia clssica se pretende poltica, a menos que se considere a poltica como necessariamente desptica, que era evidentemente o caso dos economistas fisiocratas, como os economistas que fizeram a chamada lei marcial.

    Percebe-se aqui que este liberalismo tico-poltico revolucionrio est prximo das preocupaes de Marx quando este comenta a lei relativa ao roubo de madeiras10, bem como crticas que formula sobre o direito de propriedade nas declaraes dos direitos de 1789 e 1793 em seu texto Sobre a questo judaica, e ainda na sua Contribuio crtica da Filosofia do Direito de Hegel, a propsito do poder legislativo (12). No entanto, o esquema interpretativo da revoluo burguesa revela-se incapaz de tomar em considerao esta grande luta entre as duas concepes do liberalismo que acabo de recordar, e limita-se uma justificao unilateral do liberalismo econmico, revelando a sua impotncia em apreender esta realidade histrica.

    Gostaria agora de recordar a dimenso cosmopolita da Revoluo dos direitos do homem e do cidado, que permaneceu amplamente ignorada da historiografia e 10 Esta questo toma forma por ocasio de projetos de lei elaborados pelo Parlamento renano (na antiga Prssia) e que previam pesadas sanes (multas, priso e trabalho forado) para os que se apropriavam de madeira morta, recolhida sobre as terras dos grandes proprietrios feudais da provncia alem. Esta prtica era autorizada at esse perodo em virtude do estatuto indefinido, hbrido, da propriedade sobre a madeira morta ligada economia de subsistncia da qual viviam os camponeses e da qual eram parte integrante em virtude de uma tradio secular. este direito usual que os projetos de lei da Dieta pem em questo assimilando a madeira morta madeira verde.

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    designadamente, da tradio marxista da revoluo burguesa.

    Importa precisar, em primeiro lugar, que a Revoluo que ocorreu na Frana se incere num grande ciclo de revolues abertas pelas independncias da Crsega e dos Estados Unidos, seguidas de outras revolues na Europa, no Haiti, depois, novamente, no incio do sculo XIX, nas colnias portuguesas e espanholas da Amrica. Em outros termos, a Revoluo na Frana no foi isolada, e influenciou diretamente no movimento descolonizao da Amrica. A dimenso mundial deste ciclo revolucionrio merece ser tomada em considerao!

    Em 1789, o Reino da Frana era uma potncia conquistadora na Europa, e colonialista fora da Europa. Pensadores do sculo das Luzes j tinham analisado este sistema ligando s formas de economia de dominao fundadas sobre a troca desigual. Este sistema imperialista tinha sido designado pelos termos de barbrie europia por Diderot e Mably, por exemplo (13). Thomas Paine, exatamente no momento em que ia ser eleito deputado Conveno Nacional, publicava Os Direitos do homem, em que criticava os fundamentos antropolgicos do direito pblico europeu. Contestou a denominao de estado civilizado que atribua-se Europa, em oposio ao que chamou de estado selvagem. Paine mostrou a relao ntima que existia entre a poltica desptica dos estados europeus tanto internamente quanto externamente. O sistema econmico e a poltica colonial provocaram, escreve ele, uma crise social que a vergonha da Europa e este sistema no mantm nem um estado civilizado, nem um estado selvagem, mas um estado de barbrie. Paine esperava que as revolues na Europa e no domnio colonial europeu iam abrir um processo de inverso das polticas de potncia. Ele formulou esta perspectiva nos seguintes termos: Direitos do homem ou barbrie! (14)

    Existia nessa poca uma corrente de pensamento e de ao crtica contra o imperialismo europeu, no eurocntrica, e que exprimiu a ameaa que a barbrie europia representava, na Europa mesma, e no resto do mundo. Eis uma das dimenses mais interessantes da histria do fim do sculo XVIII.

    Vale precisar que a teoria revolucionrio dos direitos do homem e do cidado ps o problema no em apenas termos polticos em relao uma sociedade poltica isolada, mas de maneira cosmopolita, integrando as relaes que uma sociedade especfica mantm com os outros povos. O objetivo da constituio dos direitos do homem e do cidado no foi, com efeito, construir uma soberania nacional refratria aos direitos dos outros povos. Aqui tambm o direito natural dos povos sua soberania implicava o princpio de reciprocidade do direito universal (15).

    Em 1790, a Assemblia constituinte renunciou solenemente s guerras de conquista na Europa. A revoluo democrtica, aps ter-se liberado da guerra de conquista, verdadeira diverso que os Girondinos tentaram de setembro 1792 maro 1793 foi mais longe apoiando a revoluo dos escravos Santo-Domingos, abolindo a escravido e efetuando uma poltica comum contra os colonos escravagistas e os seus aliados ingleses e espanhis. Uma perspectiva anti-colonizadora tomava corpo, mas foi parada, e depois revertida, no 9 Thrmidor e os acontecimentos seguintes. A

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    Constituio thermidoriana de 1795 reatou laos com uma poltica de conquista na Europa e em suas colnias fora da Europa. Esta constituio, que suprimiu as instituies democrticas e o sufrgio universal masculino, preparou o restabelecimento da escravido por Bonaparte. J desde a expedio ao Egito em 1798, Bonaparte possua escravos. Em 1802, Bonaparte lanou os seus exrcitos nas Antilhas e na Guiana para restabelecer a escravido, o que provocou a independncia da Repblica haitiana (1804).

    Apesar dos reiterados apelos dos historiadores das revolues coloniais pensamos em especial em James e Cesrio necessrio efetivamente reconhecer, com Yves Bnot, os silncios surpreendentes da historiografia da Revoluo francesa sobre o problema colonial. Mais desconcertante o silncio dos historiadores marxistas, independentemente de sua tendncia, fossem eles ortodoxos ou dissidentes, como se diz, o resultado o mesmo (16). Uma vez mais, o esquema interpretativo da revoluo burguesa revela-se incapaz de apreender a realidade histrica. E vimos mesmo como se pde pr Barnave, sendo este escravagista, na filiao intelectual de Marx, e isto em nome de Marx! Eis o ponto a que chegamos!

    Para concluir, gostaria simplesmente de recordar alguns fatos que se opem fortemente aos resultados que se apraz atribuir s revolues burgueses. Estas teriam permitido, dizem-nos, ao mesmo tempo que o advento do capitalismo, aquele da democracia e dos direitos do homem. Em primeiro lugar, necessrio justificar, como alguns fazem disto as revolues burgueses , sem nenhuma distncia crtica, o advento do capitalismo? No que diz respeito ao advento paralelo da democracia e dos direitos do homem, permitam-me provar a falsidade desta afirmao no que diz respeito histria francesa.

    A Declarao dos direitos do homem e do cidado de 1789 declarava direitos naturais unidos pessoa e, por conseguinte, universais. Mas a Constituio de 1791 violou a Declarao dos direitos e estabeleceu um sistema censitrio, ao qual chamou-se, poca, a aristocracia da riqueza: o direito de voto no era unido aqui pessoa, mas riqueza, ou seja s coisas. A Revoluo de 10 de agosto de 1792 inverteu esta Constituio de 1791 e a Constituio de 1793 renovou com os princpios da Declarao direitos do homem e do cidado, ou seja, os direitos naturais unidos pessoa. Foi entre 1792 e 1794 que instituies democrticas apareceram: democracia comunal, deputados e agentes eleitos para o executivo, descentralizao administrativa responsabilizada, aparecimento de um espao pblico alargado. Este processo foi bloqueado e restringido, em seqncia ao 9 Thermidor, e a Constituio de 1795 suprimiu as instituies democrticas e as comunas, e estabeleceu novamente um sistema censitrio. No momento em que a burguesia tomava o poder, suprimiu-se as instituies democrticas. Mas esta fez mais: rompeu com a teoria da revoluo. Com efeito, a Constituio de 1795 repudiou a filosofia do direito natural moderno e a concepo de um direito unido pessoa e universalmente recproca. Eis o que importante e que a historiografia freqentemente finge ainda no compreender (17).

    Sob o Consulado e o Imprio, Bonaparte restabelecendo a escravido, apagou a memria da filosofia do direito natural moderno e a idia mesmo de uma declarao

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    direitos do homem e do cidado. Com efeito, a Frana viu-se privada de democracia durante um sculo. Foram as revolues de 1830, 1848 e 1871 que desenvolveram as idias de democracia e de direitos do homem, e impuseram a estabilizao do sufrgio universal masculino com a Terceira Repblica. Quanto Declarao dos direitos do homem e do cidado, repudiada em 1795, sua reapario se deu apenas em... 1946, ou seja, 150 anos aps a sua declarao, e aps uma guerra mundial pavorosa contra o nazismo.

    No se v como a democracia e os direitos do homem e do cidado possam ter ocorrido com o advento do capitalismo. Seria fazer crer que a filosofia do direito natural moderno a teoria da revoluo dos direitos do homem fosse a ideologia dos capitalistas, quando na verdade ela era a expresso da conscincia crtica contra a barbrie europia.

    Notes

    (1) Jaurs, Histoire socialiste de la Rvolution franaise, Paris, 1904, reedio Ed. Sociales, 6 vol. (2) A. Mathiez, L'Heure, 3-01-1917, ver tambm J. Friguglietti, Albert Mathiez historien rvolutionnaire, Paris, Soc. des tudes robespierristes, 1974, p. 219. (3) G. Lefebvre, Les Paysans du Nord, Lille, 1924, reedio Colin, 1972 ; La Rvolution franaise et les Paysans , Etudes sur la Rvolution franaise, P.U.F., 1953. (4) A. Soboul, Les Sans-culottes parisiens en l'an II, Paris, 1958 ; G. Rud, La foule dans la Rvolution franaise, 1959, trad. de l'Anglais Maspero, 1982 ; R. Cobb, Les armes rvolutionnaires, Paris, Mouton, 1961, 2 t. ; K.Tonnesson, La dfaite des Sans-culottes, Paris-Oslo, 1959, reedio 1978. (5) A. Aulard, Histoire politique de la Rvolution franaise, Paris,1901; Recueil des Actes du Comit de salut public, Paris, depuis 1889, cf. t.1, Prsentation . P. Sagnac, La lgislation civile de la Rvolution franaise, Paris,1898, reedio Genve, Mgariotis, 1979. (6) Ver em particular o catecismo marxista de F. Furet, Marx et la Rvolution franaise, Flammarion, 1986, podemos nos divertir em ler, pgina 57, como Furet, julgando Marx no-marxista, o qualifica de extravagante! (7) F. Furet, M. Ozouf, Dictionnaire critique de la Rvolution franaise, Paris, 1989, reedio augmente Champs-Flammarion, 1992. (8) Archives Parlementaires, desde 1867, t. 25, Assemble constituante, Barnave, 11mai 1791, p. 757 et 23 septembre 1791, t. 27, p. 256. J.P. Faye havia j chamado a ateno sobre a ruptura de Barnave com a Declarao dos Direitos em 1790-91,

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    Dictionnaire politique portatif en cinq mots, Ides Gallimard, 1982, p.112. (9) Sobre o lockeanismo revolucionrio ver S.Rials, La Dclaration des droits de l'homme et du citoyen, Pluriel, 1988 ; Fl. Gauthier, Triomphe et mort du droit naturel en rvolution, 1789-1795-1802, Paris, P.U.F., 1992. (10) Sobre a guerra do milho ver Fl. Gauthier, G.R. Ikni d., La Guerre du bl au XVIIIe sicle, Passion chez Verdier, 1988, conjunto artigos em homenagem a E.P. Thompson e bibliografia sobre o tema. (11) Voir D. Godineau, Citoyennes tricoteuses. Les femmes du peuple Paris pendant la Rvolution, Alina, 1988. Ver a sntese de R. Monnier, L'espace public dmocratique, 1789-95, Kim, 1994. (12) K. Marx, Critique du droit hglien, 1843, trad. Paris, 10x18, 1976 ; Sur la question juive, trad. de J.M. Palmier, Paris, 1968 ; P. Lascoumes, H. Zander, Marx, du vol de bois la critique du droit, dition critique, P.U.F., 1984. (13) Raynal, Histoire philosophique et politique des deux Indes,1772-81, textos escolhidos por Y. BENOT, La Dcouverte,1988. Diderot redigiu vrios captulos, cf. p.5 ; Mably, Le droit public de lEurope, 1740-64, e Les entretiens de Phocion, 1763, Desbrires, 1794-95, t. 6 et 10. (14) T. Paine, Les droits de lhomme, Londres,1791-92, trad. Belin,1987, 2 parte. (15) Voir Fl. Gauthier, Triomphe et mort du droit naturel en rvolution, op. cit., III parte, Une cosmopolitique de la libert . (16) C.L.R. James, Les Jacobins noirs. Toussaint Louverture et la Rvolution de Saint-Domingue, 1938, trad. revue Ed. Caribennes, 1988 ; A. Csaire, Toussaint Louverture. La Rvolution franaise et le problme colonial, Prsence Africaine, 1961 ; Y. Bnot, La Rvolution franaise et la fin des colonies, La Dcouverte, 1988, captulo Dans le miroir truqu des historiens .

    (17) Por exemplo, M. Gauchet, La Rvolution des droits de lhomme, Gallimard, 1989, que no distingue entre um direito natural, tal como declarado em 1789 e em 1793, e um direito do homem em sociedade, ver a segunda parte.