a contribuição da crítica feminista à ciência

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Estudos F eminist a s, Fl ori anópolis, 16(1): 288, j aneir o-abril/2008 207 A con t r i bu i ção da c r í t i ca A con t r i bu i ção da c r í t i ca A con t r i bu i ção da c r í t i ca A con t r i bu i ção da c r í t i ca A con t r i bu i ção da c r í t i ca f em i n i st a à c i ênc i a f em i n i st a à c i ênc i a f em i n i st a à c i ênc i a f em i n i st a à c i ênc i a f em i n i st a à c i ênc i a R e sumo R e sumo R e sumo R e sumo Re sumo: O t exto dis cut e a contri bui ção trazi da pel a críti ca f eminist a ao conhecimento ci enfi co a c i ênc i a , uma vez que s e evi denc i a uma ampli ação da s f orma s de pens ar . O pens ament o part e da f ormul ação de uma críti ca em re l ação a a l guns pre ssupost os, os qua is nort earam a produção do conhec i ment o c i enfi co , t a is como a condi ção de neutra li dade , univers a lismo e obj e tivi dade da c i ênc i a , a l ém de s eu cará t er ma s culinist a . A críti ca f eminist a evi denc i ou a l guns li mit e s i mpost os ao ma i or ace sso da s mulhere s no campo c i enfi co . Enf a ti za como a noção de gênero se torna si gnifi ca tiva na medi da em que introduz outros component es na prá ti ca ci enfi ca . P a l avra s-chave P a l avra s-chave P a l avra s-chave P a l avra s-chave P a l avra s-chave: críti ca f eminist a; conhec i ment o c i enfi co; c i ênc i a; gênero; de si gua l dade . Copyr i gh t ! 2008 by R ev i s t a Estudos F emi nist a s. L our de s B ande ir a Unive rsi dade de Br a síli a I n t r odução I n t r odução I n t r odução I n t r odução I n t r odução S ão muit a s a s difi cul dades e os obst ácul os que s e apr es ent am pa r a a s que ous am s e enver eda r pel os estudos da s mulher es em soci edade , pois tr a t a-s e de um t err eno minado de incert eza s, s a tur ado de controvérsi a s movedi ça s, pontuado de ambi i dades sutis, que é pr eciso dis cernir , ilumina r , document a r ma s que r esist em a defini ções. Pr essupõem-s e sot err ada s a s ba liza s epist emol ógi ca s tr adi ci ona is, como o s er humano univers a l, a ver dade , a ci ênci a que nort eavam a s ci ênci a s humana s no s écul o pa ss ado. Tr a t a-s e de um domíni o is pit o pa r a quem sofr e de ansi edade ca rt esi ana , pois ma is cabe ao pens ament o f eminist a destruir pa r âmetros her dados do que construir ma r cos t ri cos muit o níti dos. Mari a Odil a L eit e da Silva Di a s O propósit o que nort ei a est e a rti go centr a-s e em t orno da s contri bui çõe s tr azi da s pe l a c ríti ca f eminist a à pr odução do conhec i ment o c i entífi co ist o é , da c i ênc i a . Em outr a s pa l avr a s, s e por um l ado i dentifi cam-s e a l guma s c ríti ca s d iri g i da s ao p r oce ss o hist óri co de construção da p r á ti ca c i entífi ca pe l a c ríti ca f emi nist a , po r outr o s e p r e t ende evi denc i a r a s contri bui çõe s e mudança s tr azi da s à c i ênc i a

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feminismo, raça, gênero

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  • Estudos Feministas, Florianpolis, 16(1): 288, jane iro-a bril/2008 207

    A contribui o d a crtic aA contribui o d a crtic aA contribui o d a crtic aA contribui o d a crtic aA contribui o d a crtic afeminista c inc iafeminista c inc iafeminista c inc iafeminista c inc iafeminista c inc ia

    ResumoResumoResumoResumoResumo: O texto discute a contribui o trazida pela crtic a feminista ao conhecimento cientfico a cincia , uma vez que se evidencia uma amplia o d as formas de pensar. O pensamentop arte d a formula o de uma crtic a em rela o a a lguns pressupostos, os qua is norte aram aprodu o do conhe cimento cientfico, ta is como a condi o de neutra lid a de , universa lismo eobjetivid ade d a cincia , a lm de seu c arter masculinista . A crtic a feminista evidenciou a lgunslimites impostos ao ma ior a c esso d as mulheres no c ampo cientfico. Enfatiza como a no o degnero se torna significativa na medida em que introduz outros componentes na prtica cientfica .Pa lavras-chavePa lavras-chavePa lavras-chavePa lavras-chavePa lavras-chave: crtic a feminista; conhe cimento cientfico; cincia; gnero; desigua ld a de .

    C o pyrig ht ! 2008 by Re v ist aEstudos Feministas.

    Lourdes Bande iraUniversid a de de Braslia

    In tro d u oIn tro d u oIn tro d u oIn tro d u oIn tro d u o

    So muitas as dificuld a des e os obst culos que se a presentamp ara as que ousam se envered ar pe los estudos d as mulheres

    em socied a de , pois trata-se de um terreno mina do deincertezas, satura do de controvrsias movedi as, pontua do de

    ambigid a des sutis, que pre ciso disc ernir, iluminar,documentar mas que resistem a definies. Pressupem-se

    soterra d as as b a lizas epistemolgic as tra diciona is, como o serhumano universa l, a verd a de , a cincia que norte avam as

    cincias humanas no s culo p assa do. Trata-se de um domnioinspito p ara quem sofre de ansied a de c artesiana , pois ma isc a be ao pensamento feminista destruir p armetros herd a dos

    do que construir marcos tericos muito ntidos.

    Maria Odila Leite d a Silva Dias

    O propsito que norteia este artigo centra-se em tornod as contribuies trazid as pela crtic a feminista produ odo conhe c imento c ientfico isto , d a c inc ia . Em outrasp a lavras, se por um la do identific am-se a lgumas crtic asdirigid as ao proc esso histrico de constru o d a pr tic ac ientfic a p e la crtic a feminista , por outro se pre tend eevidenc iar as contribuies e mud an as trazid as c inc ia

  • LOURDES BANDEIRA

    208 Estudos Feministas, Florianpolis, 16(1): 207-230, janeiro-a bril/2008

    com o surgimento d a crtic a feminista e com o a c esso d asmulheres c inc ia , espe c ia lmente no c ampo d a teoriasoc ia l.1

    A premissa de p artid a assenta-se no fa to de que aprodu o do conhe c imento c ientfico tem sido historic a-mente consid era d a como um domnio reserva do a oshomens.2 Ta l consta ta o n o signific a a exc lus o d asmulheres. Porm, explic ita que as resistnc ias existentes presen a delas no c ampo cientfico so a ind a inquietantes.Pressupe-se que a existnc ia de um suje ito universa l jno ma is plausve l, e isso va le tanto p ara o eu masculinocomo p ara a tardia individua lid a de feminina .

    Os d a d os re la tivos a o Dire trio d os G rup os d ePesquisa DGP do CNPq informam, no toc ante s bolsas deprodutivid a de em pesquisa ,

    [...] havia em 2004, 41.168 homens e 36.080 mulhereseng a ja d os e m p esquisa , o que signific a 47% d ep artic ip a o feminina . Entretanto, este perc entua l semo d ific a e ntre ld e res e n o-ld e res: a lid e ra n afeminin a n a p esquisa re presenta 42% do tota l d eld e res. Entre n o-ld e res, a p a rtic ip a o feminin aq u a se se ig u a l a m a sc u l in a , c o m 49% . En tr epesquisa dores doutores, a p artic ip a o d as mulherestambm de 42%.3

    Em re la o ao nmero de bolsas de produtivid a dee m p e sq u is a , n a c a t e g o r i a Pq 1-A (e q u iv a le n t e apesquisa dor/a nve l 1-A), o tota l de 1.081 em 2006, sendo29,9% (249) de pesquisa doras e 70% (832) de pesquisa doreshomens n as d ive rsas re as d e c onhe c imento . Porm ,desta c a-se que a distribui o d as pesquisa doras est nagrand e re a d e C inc ias Humanas (67), se guid a p e lasC inc ias Biolgic as (50) e Lingstic a , Letras e Artes (40),a penas seis esto nas Engenharias. Ao contrrio, em rela o d istribui o d os p esquisa d ores m asculinos, a m a iorconc entra o est na re a d as C inc ias Exa tas e d a Terra(192), nas C incias Biolgic as (169) e nas Engenharias (142).4

    Os d a dos evidenc iam a esc assa presen a a ind a hoje depesquisa doras sobretudo nas re as d as C inc ias Exa tas, oque c ara cteriza como as a tivid a des d a pesquisa cientfic a ,a ind a , esto configura d as primordia lmente por re la essoc ia is e por marc as cultura is sexistas.

    Assim, prope-se a discusso a p artir de a lguns dospressupostos fund a dores d a produ o c ientfic a na histriad a c inc ia moderna , cujas espe c ific id a des se a grup amem torno d e: a ) a rgumentos n a tura listas, cond i o d eneutra lid a de d a c inc ia , com perspe ctiva masculinista ecom lingua g em androc ntric a; e b) d imens o universa la tribud a a o conhe c imento c ientfico , assim como p e lacren a no c ar ter progressista d a ra c iona lid a de c ientfic a .

    1 Texto em prime ira verso a pre-senta do no Grupo de Tra b a lho Ac ontrib u i o d o p e nsa m e ntofeminista s C inc ias Soc ia is, doEncontro d a Soc ied a de Brasile irad e Soc iolog ia SBS, d e 31 d ema io a 3 de junho de 2005, emBe lo Horizonte .2 Sandra HARDING , 1996; H lneROUCH, 2003.

    3 Isa be l TAVARES, 2007, p . 1.

    4 Est a t st ic a s fo rn e c id a s p e loCNPq , Braslia , em setembro de2007 .

    Viviane Silva

    Viviane Silva

  • Estudos Feministas, Florianpolis, 16(1): 207-230, jane iro-a bril/2008 209

    A C ONTRIBUIO DA CRTICA FEMINISTA C INC IA

    A crtic a feminista contrria a esses e lementos p ara digm-ticos evidenc ia-se nas contribuies re la tivas s mud an aspropostas nos fund amentos d a c inc ia assim como nasculturas que lhe outorg am va lor,5 explic ita d as no de correrdo texto.

    Sem dvid a , as feministas no foram as prime iras enem as nic as a e la borar uma crtic a c inc ia moderna .Antecedidas por outros atores, grupos e movimentos anticolo-nia listas, oriundos d a contra cultura , e colgicos, antimilitaris-tas, entre outros, re a lizaram a gud as crtic as ao processo deconhe c imento c ientfico , o qua l, a fora outras questes,exc lua as mulheres de seu fazer.

    Qu a is te ria m sid o ent o a s esp e c ific id a d es oup a rticula rid a d es d a crtic a feminista c inc ia? Em quepe culiarid a de c entrou-se a crtic a feminista? So a lgumasdessas questes que se explicitam na seqncia d a an lise .A c entra lid a de d a crtic a est posta na forma de org aniza- o do mundo soc ia l e na tura l ma teria liza do nas re la esso c ia is, c o gnitiv a s, tic a s e p o ltic a s entre hom ens emulheres, assim como nas suas expresses e signific a dos nomundo simblico.6

    A historia dora francesa Michelle Perrot, respondendo jorna lista Florance Rayna l, ao ser pergunta d a sobre comoretirar as mulheres do silnc io e d a sombra , onde seu sta tusas confinou durante s culos, p ara escrever a sua histria equa l seria a influnc ia d a presen a d as mulheres comoobjeto de estudos sobre as C incias Humanas com rela o indigna o de muitos diante d a presen a d as mulheresna c ena poltic a , na cultura e constituindo-se como suje itode pesquisas, de public a es e com visibilid a de re c entena histria [e na c inc ia], re la tou:

    Os homens est o a . A histria dos homens est a ,onipresente . Ela ocup a todo o esp a o e h muitote m p o . As mu lh e re s se m p re fo r a m c on c e b id a s ,re p rese nta d a s, c omo um a p a rte d o to d o , c omop a rticula res e ne g a d as, na ma ior p a rte do tempo .Po d e m os f a l a r d o si l n c io d a Hist ri a so b re a smulhe res. N o d e esp a nta r, p orta nto que um are flex o histric a p a rtic ip e d essa d esc o b e rta d asmulhe res so b re e la s p r p ria s e p or e la s m esm a s,asp e c to d e sua a firm a o no esp a o pb lico [...]porque a emancip a o d as mulheres, que diz respe itos re la es entre os sexos, um dos fatos ma ioresd o s c u lo XX . E a q u e le s q u e se su rp re e n d e m ,provave lmente no esto a p ar do desenvolvimentoconsiderve l dessa reflexo no mundo oc identa l hum quarto de s culo.7

    Ou se ja , a ausnc ia d as mulheres e o resp e ctivosilncio em torno de sua presen a na histria e, por extenso,

    7 Trecho da entrevista realizada porFlorence Rayna l com a historia do-ra francesa Michelle Perrot, publi-c a d a na revista Les Femmes dansla Franc e , Paris: La be l Franc e , n.37 , out . 1999 . Disp on ve l e m:http://www. a mb a fra nc e .org .b r/a b r / l a b e l / l a b e l 3 7 / d o s s i e r /01perrot.html. Grifo meu.

    6 HARDING , 1996.

    5 HARDING , 1996.

    Viviane Silva

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  • LOURDES BANDEIRA

    210 Estudos Feministas, Florianpolis, 16(1): 207-230, janeiro-a bril/2008

    na histria d as c inc ias a c a b am por reve lar, e les prprios,a assoc ia o hegemnic a entre masculinid a de e pensa-mento cientfico.

    Os fund a m e ntos d a c rtic a fe m in istaOs fund a m e ntos d a c rtic a fe m in istaOs fund a m e ntos d a c rtic a fe m in istaOs fund a m e ntos d a c rtic a fe m in istaOs fund a m e ntos d a c rtic a fe m in ista

    C a be lembrar que no h uma teoria crtic a gera l nic a do pensamento feminista . Existem correntes teric asdiversas, que , a propria d as a p artir d as teorias gera is, c a d auma a seu modo procura compre ender por que e como asmulheres ocup am uma posi o/condi o subordina d a nasoc ied a de . Desde que se fa la em crtic a feminista , faz-se ,gera lmente , a pelo a esse bloco de correntes heterogne asque tentam explic ar por que as mulheres continuam, emboa medid a , a viver em condies de subordina o, umavez que n a b ase d e qua lquer corrente feminista h ore conhe c imento d e uma c ausa soc ia l e cultura l p ara acond i o feminina d e subord ina o. Portanto, a crtic afeminista exp lic ita , inc orp ora e assume a tom a d a d econsc inc ia ind ividua l e coletiva , a qua l se guid a poruma revolta contra o entendimento presente nas re la esde sexo/gnero e a posi o subordina d a que as mulheresocup am em uma d a d a soc ied a de , em um d a do momentode sua histria assim como na produ o do conhecimento.Trata-se de uma luta p ara mud ar/transformar essas rela ese essa situa o.

    O p ensamento crtico feminista orig inou-se comoproduto do pensamento, o qua l questionou as formas e asexp ress es d as ra c ion a lid a d es c ientfic as existentes epredominantes, porta doras de marc as cognitivas, tic as epoltic as d e seus cria dores ind ividua is e cole tivos osmasculinos. Formulou a crtic a ao potenc ia l reflexivo queportava ta l ra c iona lid a de , uma vez que os/as cientistas sodemarc a dos/as tambm como porta dores/as de c ara cte-rstic as de gnero, ra a , c lasse soc ia l e cultura l.8

    Assim,

    a crtic a feminista de contexto, re la c iona l e re la tivistao q u e d e in c io im p l ic a num a a t itu d e c r t ic aiconoc lasta que consiste em no a c e itar tota lid a desuniversa is ou b a lizas fixas. Tra ta-se d e historic iza r osprprios conc e itos com que se tem de tra b a lhar, ta iscomo os de reprodu o, famlia , pblico, p articular,c id a d a n ia , so c ia b ilid a d es a fim d e tra nsc e n d e rdefinies est tic as e va lores cultura is herd a dos comoinerentes a uma na tureza feminina .9

    Se por um la do a crtic a feminista contra pe-se a umconhe c imento tota lizante , masculinista e universa lista , poroutro, va le lembrar que sua produ o traz as marc as deseus c ria d ores.10 Fo i a c rtic a feminista que p a rtiu d a

    8 HARDING , 1996.

    9 Maria O dila DIAS, 1990, p . 3.

    10 HARDING , 1996.

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  • Estudos Feministas, Florianpolis, 16(1): 207-230, jane iro-a bril/2008 211

    A C ONTRIBUIO DA CRTICA FEMINISTA C INC IA

    condi o de consc inc ia histric a re construd a ,11 a qua lpossibilitou visibilizar um sistema de domina o masculinoarra ig a do re la tivo s mulheres que se coloc avam comosubstra to produ o do conhe c imento c ientfico. Nessecontexto, as mulheres como sujeitos individua is e coletivos ec omo suje itos d o c onhe c im ento c omp a rtilh a ra m d a smesmas exc luses e inc ertezas re la tivas a outros grupossoc ia is, nos c aminhos d a constru o c ientfic a , ta is comoc ertos grupos tnico-ra c ia is.

    Assim, o desafio d a crtic a feminista foi, precisamente ,o de contra por-se aos hegemnicos e ixos epistemolgicose conceitua is c ategorias, conceitos e mtodos p ara noreproduzir como espe lho distorc ido as prprias c a tegoriasdo sistema de domina o cientfic a que tomou como objetoda crtica .12 Para isso foi necessrio propor e assumir conceitosprovisrios e perseguir a bord a gens teric as no definitivas,e sc a p a r d a o rd e m s im b l ic a d o m in a n t e e p e ns a rtempora lid a des mltiplas, uma vez que o conhe c imentoc ientfico implic a tambm em um sistema de domina o.

    A crtic a feminista tambm resulta do dos processosde intera o com os movimentos soc ia is, a lm de outroseng a jamentos, como a d a experinc ia feminina em suaconcretude , a qua l p assa a compor p arte dessa crtic a queemerge em um contexto movedio, em um mundo instvel eem mud an a . Portanto, supe-se que as frentes crtic as aoconhe c imento c ientfico contemporneo pre dominante ,embora persistentes, no so e nem sero permanentes, porum la do; por outro, a crtic a feminista , ao desafiar o ethosm a sculinista d a c inc ia n a busc a p or o b je tivid a d esd in mic as, p or exemp lo , a c a b ou p or enre d a r-se n ade limita o do prprio c ampo.13

    C om a incorpora o do conc e ito re la c iona l d eg ne ro , a c rtic a imp lic a que a tributos m asculinos efe m in inos se ja m d e fin id os um e m re la o a o outro ,pressuporia tamb m que termos como sexua l, feminino,masculino no fossem toma dos como auto-evidentes, massim considera dos em sua historic id a de.14 Nesse sentido, ac a tegoria re la c iona l d e gnero, [...] ma is propriamenteusa d a p a ra re fe rir um siste m a d e sig nos e sm b o losdenotando re la es de poder e hierarquia entre os sexos[...],15 representou um aporte decisivo s abord agens menosdescritivas, consolid ando-se como uma c ategoria ana ltic a ,cuja d ensid a d e conc e itua l tem sido fund amenta l n oa penas p ara uma nova/outra pr tic a de produzir c inc ia ,mas sobretudo p ara as transforma es d as estruturas socia is.

    11 DIAS, 1990.

    12 DIAS, 1990; HARDING , 1996;Ev e lyn FO X KELLER , 2003; eROUCH, 2003.

    13 Maria Marg areth LOPES, 2006.

    14 Ludmilla JORDANOVA, 1989 ,c ita d a por LOPES, 2006, p . 39.

    15 Lond a SCHIEBINGER, 2001, p .45 .

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  • LOURDES BANDEIRA

    212 Estudos Feministas, Florianpolis, 16(1): 207-230, janeiro-a bril/2008

    Pr in c ip a is e l e m e n to s p r e s e n t e s n aPr in c ip a is e l e m e n to s p r e s e n t e s n aPr in c ip a is e l e m e n to s p r e s e n t e s n aPr in c ip a is e l e m e n to s p r e s e n t e s n aPr in c ip a is e l e m e n to s p r e s e n t e s n ah ist r i a d a fo rm a o d a c i n c i ah ist r i a d a fo rm a o d a c i n c i ah ist r i a d a fo rm a o d a c i n c i ah ist r i a d a fo rm a o d a c i n c i ah ist r i a d a fo rm a o d a c i n c i am o d e rn am o d e rn am o d e rn am o d e rn am o d e rn a

    sa bido que entre os grandes filsofos e pensa dores,na histria d a humanid a de , as mulheres estiveram ausentesd as d iscursivid a d es filosfic as, histric as, c ientfic as ecultura is. Foram pouc as as que conseguiram. Nos s culosXVII e XVIII podem ser cita d as: Ma d ame d Epinay; Ma d amedu Ch te let; a veneziana Elena Cornaro Piscopia (1678),prime ira mulher a ter uma c a de ira na universid a de; a fsic aLaura Bassi (1723), segund a mulher na Europ a a receber umgrau universitrio; e Marie Curie , que , em 1903, dividiu oprmio Nobe l com o seu marido. Tod as foram p arc amentere conhe c id as como sendo o outro suje ito produtor doconhecimento. So muitos os relatos histricos a indic ar quea cincia moderna foi construda como um empreendimentoespe c ific amente masculino.16 Franc is Ba con e os dema isfund a dores d a Roya l Society impediram a presen a d asmulheres nas universid a des a dmitindo somente a presen ade filsofos, pensa dores e c ientistas homens, sendo dignode registro ao expressarem-se:

    Se lon les termes de luns des prime irs membres de laRoya l Soc iety, Joseph G lanvill, la vra i philosophie nepourra it progresser l o les affections portent la culotteet le Fminin gouverne . Deux si c les plus tard , a lorsque les femmes for a ient l entr e d e la professionm d ic a le , le Dr Ro b e rt C hristia n , d e l Un iv e rsitd Ed imbourg , mit l op inion que la pra tique d e lamdic ine p ar des femmes fera it injure la professionscientifique qu est la mdicine . C es convictions ta ientfo n d e s su r un e v is io n d u m o n d e to t a l e m e n tdichotomique et genr e [....] assoc iant les femmes la na ture , l obscutit , au mystre , au corps et auxmotions, les hommes au c ie l, la lumire , la c lart , l esprit et la ra tiona lit [...] lobje ctivit rejetanttoute motion prouv e l g ard de , ou toute identitave c lobjet de l tude , savoir la na ture .17

    Como se observa , a exc luso d a presen a femininano era a penas explic ita d a em termos d a na tura liza o,pois era fartamente justific a d a pe la inc a p a c id a de e pe loobscurantismo d as mulheres, ao contrrio dos homens, quese notific avam pe las luzes e pe la objetivid a de .

    Ass im , d a d isc uss o r e a l iz a d a p e l a s a u to r a smenc iona d as, cuja ilustra o est em p arte na c ita o,inferem-se a lgumas conseqnc ias: a) a assoc ia o d asmulheres na tureza/biologia , isto , a uma na tura liza odo feminino; b) o predomnio de uma viso do mundo e doconhe cimento p artid a , dividid a entre homens presentes e

    16 E l iz a b e th KERR e We n d yFAULKNER, 2003.

    17 KERR e FAULKNER, 2003, p . 49.

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  • Estudos Feministas, Florianpolis, 16(1): 207-230, jane iro-a bril/2008 213

    A C ONTRIBUIO DA CRTICA FEMINISTA C INC IA

    mu lh e res o bsc ur a s e a use ntes; e c ) a p rese n a d aassocia o histric a entre masculino, cincia e objetivid a dee nra iza d a n a s p e rc e p es p re d om in a ntes. Porta nto ,identific a-se uma privatiza o d a produ o cientfic a peloshomens.18

    A exc lus o d as mulheres do c ampo c ientfico foijustific a d a p or a rgumentos assenta d os n a fisio lo g ia epsicologia femininas: mesmo a grande feminista inglesaMary Wollstone craft, em seus esforos p ara criar igua ld a deentre os sexos, encora java as mulheres a tornarem-se ma ismasculinas e respe itve is.19 Ou seja , asseme lhar-se aohomem p ara poder ingressar em certos crculos cientficos eser a c e ita em d etermina dos c nones do conhe c imentoconstituram-se no p assa porte d e a lgumas c ientistas d a p o c a . Po is , se o p e ns a m e n to c ie n t f ic o fun d a d o rpropugnava a id ia de um suje ito masculino universa l , oque equiva leu exc luso feminina tanto d a produ o d acincia como de sua histria ,20 a ps a Revolu o Francesa ,o pensamento libera l g arantiu a c id a d ania masculina esusp end eu a s c onquista s d e lid e ra n a s fe minin a s n apoltic a nas ltimas d c a d as do Antigo Regime .

    Identific a d as a lgumas d as crtic as dirigid as cinciaa lic e r a d a em um id e a l d e o b je tivid a d e 21 est tic a ea temp ora l,22 seus fund a d ores, d e Ba c on a Desc a rtes,serviram-se d a na tureza/biologia como uma ma tria inertee op a c a; escolheram uma express o d e ra c iona lid a d eobjetiva , a qua l rejeitava qua lquer rela o com o fenmenoestud a do . Porta nto , o a rgumento c entra l d a exc lus ofe m inin a d a c inc ia esta ria p osto n a tra d e : a ) p e ladomina o masculina que na tura lizava a inferiorid a de d asmulheres; b) pe la conseqente diviso sexua l do tra b a lho;e c) pe la condi o monoltic a , a tempora l e exc ludente d acincia . Por sua vez, a crtic a feminista rejeitou ta is elementosfundadores que desemboc aram em uma cincia alicer adaem referentes e va lores masculinos e neutros, extensivos aoc ampo d a teoria soc ia l na tra di o oc identa l. Ao contrriodesses referentes, p ara a crtic a viso feminista , a cincia sempre impregna d a de va lores ma teria is e cultura is.23

    Para a crtic a feminista , qua lquer forma de c inc iaque seja considera d a ou proposta como universa l deve serduramente critic a d a , uma vez que tod as as c a te goriaspretensamente universa is a c a b am por fixa r p a rmetrospermanentes, inc lusive de poder. Ao contrrio, p arte-se deque as posturas teric as se constroem como proc esso deconhe c imento em um d a do contexto soc ia l transitrio .Pro c essos e c a te g orias unive rsa is c orrem risc os d e seconstiturem em nc leos e/ou redutos d e um sistema d edomina o, do qua l justamente o pensamento feministafaz crtic a . Um suje ito universa l e nico no encontra do

    18 SCHIEBINGER, 2001.

    19 SCHIEBINGER, 2001, p . 138.

    20 ROUCH, 2003.

    21 As autoras FOX KELLER, 2003, eKERR e FAULKNER, 2003, conside-ram que a c a tegoria de objetivi-d a de demasia d amente va g ap ara comportar as mltiplas con-cepes do fazer cientfico, assimcomo a d imens o universa l doconhe c imento , pois os homenstanto como as mulheres, conside-rados sujeitos e agentes da histriae do conhe c imento, no fic amp resos/as a c a te g orias fixas euniversa is.22 FOX KELLER, 2006.

    23 FOX KELLER, 2003; e KERR eFAULKNER, 2003.

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    214 Estudos Feministas, Florianpolis, 16(1): 207-230, janeiro-a bril/2008

    mesmo em la bora trio. Portanto, desconstruir e critic ar astota lid a des universa is que formam, entre outros, o arsena lde conc epes teric as predominantes p assa a ser o a lvocom o qua l, fund amenta lmente , lid a a crtic a feminista .

    Portanto, durante sculos, as mulheres foram omitid asd as comunid a des c ientfic as, isto , dos esp a os a c a dmi-cos e instituciona is produtores de cincia e de conhecimentoquando de sua fund a o, mesmo durante a Revolu oC ientfic a dos s culos XVII e XVIII. Desd e a que la poc ac ara cterizou-se uma dupla situa o de ausncia: produtorasde conhe c imento eng a ja d as em instituies c ientfic as e ,por c ausa d a ausnc ia , impossibilita d as de interferir noscontedos e nas noes de c ientific id a de , o que demar-cou24 a no igua ld a de entre homens e mulheres na estruturasocia l d as C incias Natura is, d a Matemtic a e d a Engenha-ria . As instituies c ientfic as universid a des, a c a demias eindstrias foram estrutura d as sobre a suposi o de que oscientistas seriam homens com esposas em c asa p ara cuid arde les e de suas famlias.25

    O conhe c imento c ientfico e o feminismoO conhe c imento c ientfico e o feminismoO conhe c imento c ientfico e o feminismoO conhe c imento c ientfico e o feminismoO conhe c imento c ientfico e o feminismoc o n t e m p o r n e oc o n t e m p o r n e oc o n t e m p o r n e oc o n t e m p o r n e oc o n t e m p o r n e o

    Desde o fina l do s culo XIX a t me a dos do s culoXX, o pensamento feminista veio se construindo sob varia d asvertentes teric as e , portanto, constituiu-se como objeto dediversos esquemas classific atrios heterogneos. Mas foram,so b re tu d o , os p re ssu p ostos d o lib e r a lismo v a lo re sindividua listas e do soc ia lismo va lores igua litaristas 26

    que serviram de ncora aos pressupostos inic ia is do pensa-mento crtico feminista . E ma is re c entemente , as teoriasfeministas tm se inspira do nos pressupostos d a chama d aps-modernid a de . Essa contextua liza o pode possibilitaruma ampla discusso, mas no este o ponto de an lisea qui proposto.

    Pode-se pensar, em termos de p ara le lo, no exemplodo re conhe c ido e respe ita do tra b a lho de Thomas Kuhn,d esenvo lvido n a d c a d a d e 1960/70, A estrutura d asrevolues cientfic as, public a do em 1962. O estudo trouxe tona o uso do conc e ito de p ara digma a plic a do histriado fazer c ientfico. Kuhn consid era como p ara digma asre a liza es c ientfic as universa lmente re conhe c id as que ,durante a lgum tempo , forne c em prob lemas e soluesmode lares p ara uma comunid a de de pra tic antes de umac inc ia . A reflexo sobre a mud an a de p ara digma toc ara teoria do conhe c imento enfa tizou que a c inc ia domundo a c a d mico c a ra c teriza-se princ ip a lmente p e latransmisso de conhe c imento e a plic a o de mode los jexistentes, uma vez que esses modelos, de a lguma maneira ,

    24 HARDING , 1996.

    25 SCHIEBINGER, 2001, p . 69.

    26 Bila SORJ, 1997.

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    A C ONTRIBUIO DA CRTICA FEMINISTA C INC IA

    j se enc ontra m re c onhe c id os p e la c omunid a d e d ecientistas esta bele cidos. Em sntese , sua conc ep o a deque um p ara digma o que os membros de uma comuni-dade partilham e, inversamente, uma comunidade cientfic aconsiste de homens que p artilham um mesmo p ara digma.27

    A tese de Kuhn de que a reje i o de uma teoria spod e te r lug a r com d a dos conflita ntes no inte rior d ascomunid a des c ientfic as. Apia essa tese no fa to de que ahistria d a c inc ia reflete conflitos, polmic as, crises erevolues, que d enunc ia m existir prob lem as cultura is,soc ia is e psicolgicos que dizem respe ito ao desenvolvi-mento c ientfico no interior d as comunid a des c ientfic as.Decorrente disso p ara Kuhn,28 ocorrem momentos de rupturaou d e mud an a de p ara digmas que criam a possibilid a ded e a ltera r tanto os modos d e p ensa r, as estra t g ias d era c iona lid a de como tambm de incorporar outros a toressoc ia is e novas dimenses como as re la es d e pod er/sa b er,29 a d ivis o sexua l do tra b a lho,30 as re la es d egnero,31 entre outras.

    A perspe ctiva Kuhniana tende a ser drstic a quanto forma de ruptura que o novo p ara digma provoc a nacomunid a de cientfic a . Para o autor, quando a comunid a dec ie n t fic a re p u d i a um a n t ig o p a r a d ig m a , re nun c i asimultane amente ao corpus epistemolgico assim como ma ioria d a produ o b ib liogr fic a que o corporific a elegitima , e nesse sentido, deixando-o de consider-lo comoreferncia prtica cientfica . Isso no quer dizer, certamente,que a ruptura ocorra de imedia to e de forma drstic a . Noentanto, c a be considerar que as rupturas de p ara digmas, semelhan a do que enfatiza Kuhn, produzem uma cinciam a is a brang ente e , potenc ia lmente , m a is a c essve l smulheres.

    Fox Ke ller explic ita:

    Em p articular procure i entender a gnese d a divisosexua l e emoc iona l do tra b a lho, to conspicuamentedominante em minha prpria gera o, que rotulavamente , raz o e ob je tivid a d e como m asculin as, ecora o (e corpo), sentimento e subjetivid a de comofemininos e que , portanto, esto subja c entes exc lu-so d as mulheres do empre endimento c ientfico.32

    Nesse sentido, o pensamento feminista ela borou suac rtic a a o c onhe c im ento c ientfic o he g e mnic o , quesustentou, se cularmente , a domina o masculina , a p artird as reflexes re a liza d as nas seguintes questes e enfoques:a questo d as diferen as de sexo e de gnero;33 as teoriasd e d esenvo lvimento mora l; a vis o d as mulhe res n asd esc o b e rtas d a p esquisa psic o l g ic a ; a im a g em d asmulheres nos escritos e nos tra ta dos mdico-gine colgicos;

    27 Thomas KUHN, 2003, p . 218.

    28 KUHN, 2003.

    29 Miche l FOUCAULT, 1999.30 FOX KELLER, 1985.31 Joan SC OTT, 1998.

    32 FOX KELLER, 2006, p . 15.

    33 SC OTT, 1997.

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    o monoplio masculino d a re presenta o histric a e a(in)v isib ilid a d e d a s mu lh e re s n a h ist ri a ;34 a s v is e sandrocntric as d a sexua lid a de;35 a ima gem do p atriarc a dosustenta d a pe los escritos d as C inc ias Soc ia is e histricos;36

    a invisibilid a de d as mulheres nas an lises soc iolgic as;37 ab a ixa re p rese nta o d a s mulhe res tra b a lh a d ora s n apesquisa em C incias Socia is;38 a excluso d a voz feministana teoria poltic a;39 as vises androc ntric as d a sexua li-d a de;40 os conflitos interpessoa is, as a gresses e as violn-cias;41 a exc luso d as mulheres na c inc ia ,42 entre outras.43

    O conjunto d essas an lises n o esgota a amp laprodu o sobre a diversid a de de temas e de a bord a gens.Porm, essas autoras e tra b a lhos exemplific am, em boamedid a , as princ ip a is crtic as e an lises re a liza d as p e lac r t ic a f e m in ist a s exp r e ss e s d o c o nh e c im e n toc onte m p o r n e o p re d om in a nte , p rovo c a n d o d e nsosdesloc amentos e desafios nas formas de se re a lizar o pensare de re a lizar a pesquisa c ientfic a .

    C o ns id e r a -se q u e a s mu d a n a s r e l a t iv a s epistemologia e as teorias c ientfic as efetivam-se dentro douniverso c ientfico e no esto descola d as d as influnc iasinterativas dos processos socia is e cultura is existentes, a exem-plo d a presen a do pensamento feminista , e colgico emulticultura lista . Se por um la do , o c a mpo d a pr tic ac ientfic a a lm de ser determina do no cotidiano pe lasdimenses soc iocultura is ma is amplas, por outro, no estimune aos desafios de ultra p assar seus limites, impostos poruma comunid a de de origem hegemnic a . Ultra p assar limi-tes impostos no f cil, uma vez que o va lor re a l e simblicod a presen a masculina e d as C inc ias Exa tas, as d itasc inc ias duras, fazem-se , sistema tic amente , presentes,a qui lembra do a c ima com os d a dos do CNPq .

    Outro exemplo pode ser mencionado com a propostade Re estrutura o e Exp anso d as Universid a des Federa is Projeto Reuni,44 atualmente em discusso tanto no Ministriod a Educ a o como em d iversas universid a d es fe d era isbrasile iras com o objetivo de deb a ter as futuras mud an asestrutura is e conjuntura is nessas instituies. Esse projeto temno Grupo Assessor, responsvel pela elabora o da propostaque foi enc aminha d a , a presen a de treze homens, notveisc ientistas e p esquisa d ores, c om a utorid a d e c o gnitivamasculina amplamente re conhe c id a , sendo a ma ioria dosinte grantes oriund a d a re a d as C inc ias Exa tas, comd esta que p a ra a Fsic a . Emb ora j exista um nme roexpressivo de professoras mulheres titula d as em disc iplinasc ientfic as, ta mb m com re conhe c imento a c a d mico ,nenhuma fez p arte do grupo. J a assessoria t cnic a , dese gund a ord em d e importnc ia , composta d e c incomembros, sendo trs mulheres.

    34 PERROT, 1984.35 De lphine GARDEY e Ilana LOWY,2002; e Ann e-M a rie DEVREUX,2002 .36 C lia AMOROS, 1985.37 Franoise C OLIN, Evelyne PIESIERe Eleni VARIKAS, 2000.38 He lena HIRATA, 1991.39 Fa nny TABAK , 2002 , e Ele n iVARIKAS, 2002.40 Maria Luiza HEILBORN, 1999.41 He le ie th SAFIOTTI e Sue ly d eALMEIDA, 1995.42 Je anne PEIFFER, 1992, e FannyTABAK, 2002.43 Parte dessas contribuies estr e f e r e n c i a d a n os a rt ig ospublic a dos na obra edita d a porM a ry M c C a rnn e y G e rg e n (Op e ns a m e n to fe m in ist a e ae stru tur a d o c o nh e c im e n to )(GERGEN, 1993).

    44 O documento Reuni encon-trava-se disponve l nos sites d asuniversid a d es http://www.unb .br.Ac esso em: a go. 2007.

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    A C ONTRIBUIO DA CRTICA FEMINISTA C INC IA

    c erto que as mulheres a c ederam ma is lentamentes c inc ias. Mas os e lementos e as estra tgias p ara dig-m tic as que forne c em as orienta es b sic as sobre asdefinies dos problemas c ientficos, objeto d a c inc ia (noc aso, as mud an as propostas nas universid a des que noenvolvem a penas questes instituciona is, mas fund amenta l-mente os proc essos de forma o a c a dmico-profissiona ld as futuras gera es), esto imbric a dos, por um la do, emproc essos soc ia is e histricos complexos e , por outro, namanuten o de c ertas hegemonias re la tivas aos c amposd isc ip lin a res d o c onh e c im e nto c ie ntfic o , nos q u a isinteresses polticos e fa tores cultura is vincula dos a gruposhe g emnicos e assoc ia dos a os esp a os instituc iona is ea c a d mic os a c a b a m por le g itim a r um c none (m a is)legtimo de produ o de conhe c imento, cujas teorias emtodos nem sempre contemplam eqita tivamente apresen a d as mulheres na c inc ia , assim como em outrasdimenses d a vid a .

    Enfa tiza Tava res, assessora t cnic a do CNPq , emtra b a lho recente ,

    As re as do conhe c imento tambm se c ara cterizampor um domnio ma ior de um ou de outro sexo. Naste c no l g ic a s e n a s c h a m a d a s h a rd sc ie n c e s Eng enha rias, Exa tas e d a Terra e Agr rias pre do-minam os homens. As mulheres s o numeric amentepouco representa d as, princ ip a lmente na Fsic a e naMa tem tic a . Do tota l de pesquisa dores d as Engenha-rias, no DGP, as mulheres so a proxima d amente dotota l de pesquisa dores, e 1/3 nas re as de Exa tas eAgr rias.Entre as bolsas d e Produtivid a d e em Pesquisa PQ ,concedid as pelo CNPq , o perfil masculino ma is a cen-tua do: o perc entua l de p artic ip a o d as mulheres a ind a menor nas C inc ias Exa tas e d a Terra e Enge-nharias, representando a proxima d amente 1/5 do tota ld e p esq u isa d o res . E o p re d om n io n a s C i n c ia sBiolgic as e na Sade , que feminino, no DGP, p assaa m asculino entre as bo lsas d e Produtivid a d e emPesquisa .45

    Esses d a dos re a firmam a ausnc ia d e d imensese q it a t iv a s e n tr e h o m e ns e mu lh e r e s c i e n t ist a s/p e sq u is a d o r e s/ a s n a e stru tu r a so c i a l d a s C i n c i a sNa tura is.46 O efetivo ma ior a c esso d as mulheres ao mundoc ientfico no e limina o fa to de que quanto ma is a lto oesc a lo, menos as pesquisa doras mulheres esto presentes.Se ja no Norte ou Sul pouc as mulheres d irig em os ma isprestigia dos la bora trios, so chefes de dep artamentos dec inc ias na tura is, ma tem tic a , eng enha ria ou ocup amposies do topo d as a gnc ias ou org aniza es poltic as

    45 TAVARES, 2007, p . 1-2.

    46 HARDING , 2007.

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    d a C&T interna ciona is.47 Portanto, h uma d a d a coincidn-c ia entre a que les que detm o poder soc ia l, e conmico epoltico e que determinam as verd a des e as mud an aspossve is no c ampo c ientfico.

    Embora a d c a d a de 1960 tenha representa do om a rco p a ra os estudos feministas, o eng a ja mento d asmulheres nas a tivid a d es re la tivas a o fazer c inc ia e a op ro duzir c onh e c im e nto e nfre ntou o p ro b le m a a in d apersistente de romper com hierarquias rgid as, muitas vezes,imp e d itivas d e a c esso s mulheres em c ertos c a mposdisc iplinares. Ta l rigidez se deveu manuten o de a lgunspressupostos e representa es, ta is como a ruptura com aidia de que a mulher vista como objeto natura l e comota l lhe neg a d a a condi o de re ciprocid a de e , portanto,de re conhe c imento igua l. H dificuld a de em subverter asre la es d e d omin a o m asculin as re la tivas a c e rtosc ampos disc iplinares, produtores de c inc ia , uma vez quea integra o invisve l de pressupostos sexua dos na lingua-gem c ientfic a pode refor ar c ertas ima gens e esteretiposna soc ied a de .

    Deve-se incorporar a ne c essid a d e d e re p ensar ahistria e a teoria soc ia l a p artir d a presen a d as mulheres,c om isso d e m a rc a nd o a ne c essid a d e d e uso d e umvoc a bul rio generiza do. Portanto, o p ensamento crticofeminista surgiu como novid a de no c ampo a c a dmico eimpe-se como uma tendncia teric a inova dora e de fortepotenc ia l crtico e poltico, o qua l, a p artir d a d c a d a de1970, evidenc ia um deb a te sobre a questo d a c inc ia ,cujas especia listas passaram a se perguntar: em que medidaa cincia discrimina a presen a d as mulheres? O que a ind aimpede as mulheres de p artic ip arem eqita tivamente nosesc a les c ientficos? Schiebinger se pergunta: A exc lusod as mulheres, d as c inc ias, teve conse qnc ia p a ra ocontedo d a c inc ia?.48

    Se na tra d i o histric a observa-se que o suje itoso c i a l a p a r e c e u c o m o se n d o um se r g e n r ic o ,concretamente , esse sujeito refletia um tipo socia l especfico:o c a be a de famlia , o masculino oc identa l, o homem dec la sse a b a sta d a , he te rossexu a l e se mp re b ra nc o . Asmotiva es e o estilo de ra ciona lid a de c ara cterstic a dessetipo soc ia l e mora l p assaram a ser a tribudos a todos osd em a is suje itos so c ia is, a p esa r d a a busiva evid nc iaempric a de que os indivduos tm motiva es distintas eutilizam estilos prprios de ra c iona lid a des.49

    J n o p l a n o a c a d m ic o , s o inm e r a s a sp esquisa d ora s, p ensa d ora s, filsofa s e c ientista s quein te ns ific a r a m a c r t ic a s p r t ic a s c ie n t fic a s q u edesqua lific avam a pertinnc ia d as mulheres ao a c esso

    47 HARDING , 2007, p . 164.

    48 SCHIEBINGER, 2001, p . 205.

    49 Alison JAG GAR, 2001.

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    A C ONTRIBUIO DA CRTICA FEMINISTA C INC IA

    pr tic a d a cincia e s c arre iras cientfic as. Ta l ausncia seconsta ta , por exemplo, quando

    espe c ia listas indic aram como as chama d as pr tic asde desenvolvimento a cresc entaram noes sexistas,do Norte , de culturas europ ias e norte-americ anas,a gnc ias interna c iona is e corpora es transna c iona iss soc ied a des do Sul p ara reduzir a prob a bilid a de demulheres do Sul re c e b erem b enefc ios d e p esquisad a C&T conc e b id as no Norte ou no Sul. Exemp losdeplorveis dessa discrimina o foram documenta dosno tra b a lho sobre sade , a gricultura , gua , re cursosna tura is e pesquisa sobre me io ambiente .50

    O surg imento d a histria d as mulhe res51 e su asconseqentes re la es com a vid a cotidiana , com a vid apblic a instituc iona l, com as subjetivid a des na vid a soc ia l,constituem-se exemplos que implic aram no a penas naela bora o de novas c ategorias de an lise como tambmd e outros m to d os d e inv e stig a o . Ta is e le m e ntoscontriburam p ara exp andir c ampos d a discusso, emboraesses investimentos d a c rtic a feminista em re la o c onstru o d e nov a s p e rsp e c tiv a s a n a ltic a s tenh a menfrenta do resistnc ias ao contra por-se persistnc ia doconhecimento cientfico predominante .

    Aind a a crtic a feminista buscou a poio conc e itua lnos filsofos ps-estrutura listas Miche l Fouc ault, G illesDe leuze , Roland Ba rthes, Derrid a e Julia Kristeva , queintensific aram a discusso sobre a crise e o descentramentod a no o de suje ito, introduzindo, como temas c entra is dodeb ate a c a dmico, as idias de margina lid a de , a lterid a dee diferen a . Conjug ados com a crtic a feminista , esses temasserviram como um suporte terico mud an a soc ia l que acrtic a feminista produziu e que forne c eu novos ngulos,novas mane iras de ver o mundo, de ver as coisas comuns ea brir novos esp a os cognitivos.52 Portanto, o pensamentofeminista introduziu novos suje itos, como a tores e novossuje itos como objetos de pesquisa na teoria soc ia l, assimcomo as contribuies trazid as ao c ampo disc iplinar d abiologia , as qua is afetaram as a gend as de pesquisa .53

    C on trib u i e s c i n c i a e v id e n c i a d a sC on trib u i e s c i n c i a e v id e n c i a d a sC on trib u i e s c i n c i a e v id e n c i a d a sC on trib u i e s c i n c i a e v id e n c i a d a sC on trib u i e s c i n c i a e v id e n c i a d a s

    p e la c rtic a fe m in istap e la c rtic a fe m in istap e la c rtic a fe m in istap e la c rtic a fe m in istap e la c rtic a fe m in ista

    P a r a c om p re e n d e r a s c rtic a s a um a c i n c i am asculinista a tua lmente h que se p ergunta r: em queconsistiria a masculinid a d e d a c inc ia? Se o a c esso smulheres j no se constituiria ma is o problema , qua is seriamento os esteretipos e as discrimina es a ind a persistentesem re la o s mulheres c ientistas? Uma d as hipteses que

    50 HARDING , 2007, cita d a por RosiBRAIDOTTI et a l., 1994.51 M ic h e l l e P e rro t , e m 1973 ,ofe re c eu o p rim e iro curso Asmulheres possuem uma histria?,cujo ttulo interrog a tivo tra duz asnossas perplexid a des.

    53 FOX KELLER, 2006.

    52 FOX KELLER, 2006.

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    220 Estudos Feministas, Florianpolis, 16(1): 207-230, janeiro-a bril/2008

    pode explic ar, em p arte , ta l situa o evoc a os processos deso c ia liza o d ife renc ia dos, n o menos pre c o c e p a rameninas e meninos, em re la o aos proc essos de a prendi-za gem e aos comportamentos prprios, tolera dos e interditosque podem orientar, na seqncia , a vid a profissiona l.54 Emoutras p a lavras, inic ia-se na soc ia liza o o proc esso ded ista nc ia mento d as mulheres p a ra com a c inc ia , n amedid a em que essas so dire c iona d as s a tivid a des ditasfeminin as, prorrog a d as n a se qnc ia d a vid a p e lasdificuld a des e pe los constrangimentos que se coloc am nasescolhas entre famlia , ma ternid a de e c arre ira profissiona l.

    Outro a rgumento o d e que a crtic a feministaevidenciou a necessid a de premente de integrar as mulherescomo c ategoria sociolgic a e filosfic a em qua lquer an lise,com isso coloc ando um fina l s an lises trunc a d as sobre asoc ied a de e as re la es soc ia is. Nesse sentido, supera osdeterminismos biolgicos, geogrficos e socia is; rompe como pensamento c entra do nas da des: suje ito/objeto, razo/emo o ou ima gina o, na tureza/cultura . Essas da des seevidenc iaram incomp a tve is com a dimenso ontolgic ad a condi o do humano, pois neg am tod as as possibili-d a d es d e inte rd e p e n d n c ia s e d e h istoric id a d e . Aocontrrio, re conhe c er a existnc ia de suje itos sexua dos homem/homens e mulher/mulheres, e a dema is, etniza dos,r a c ia liz a d os e situ a d os c onfig urou-se c omo outr aconstru o ontolg ic a , a do proc e d er d a p esquisa nasC inc ias Soc ia is.55

    Muitas d as mud a n as fora m intro duzid as p e lasp r p ria s c ie ntista s mulh e res. Re fe rind o-se a o c a m p odisc iplinar d a Biologia , Fox Ke ller afirma: [...] a entra d a demulheres na cincia em grande nmero tornou possvel queuma perc ep o feminina do mundo encontrasse lug ar nac inc ia.56

    Outra contribui o refere-se mane ira d e ler osa uto res c l ssic os nos d ive rsos c a m p os d isc ip lin a res,p ossib ilita nd o c omp re end e r m e lhor as estra t g ias d eexc lus o d as exp erinc ias femininas. Se por um la do op e nsa m e nto fe m inista c onte mp or n e o formulou su a sprimeiras crtic as re a gindo permanncia d a ordem p atriar-c a l, no qua l as mulheres foram reduzid as invisibilid a de eao silnc io, por outro, disps-se a enfrentar a bertamente oconflito com o sistem a d e p ensa mento pre domin ante ,questionando se a c inc ia e a teoria tm um sexo.

    A crtic a feminista denunciou o c none predominanten a p ro du o d o c onhe c imento c onsid e ra d o le g timocontra pondo-se aos argumentos natura listas e s estratgiasessenc ia listas, impostas p e los a rgumentos masculinistas.Provocou vrios desloc amentos nas formas do pensar cientfi-co, d a lingua gem, do lxico, d a concep o de humanid a-

    54 KERR e FAULKNER, 2003.

    55 JAG GAR, 2001.

    56 FOX KELLER, 2006, p . 28.

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  • Estudos Feministas, Florianpolis, 16(1): 207-230, jane iro-a bril/2008 221

    A C ONTRIBUIO DA CRTICA FEMINISTA C INC IA

    de e d a tic a do suje ito e do coletivo nas re la es soc ia is,assim como d as re la es entre indivduo e soc ied a de .57

    A crtic a c ensura o fa to de que a c inc ia um locussignific ativo para a compreenso das condies que afetama vid a d as mulheres e dos homens,58 a ind a que ne la muitasdesigua ld a des e esteretipos de gnero sejam legitima dos,como pr tic as androc ntric as dissimula d as no interior demo d e los e estra t g ias d e c onted os d a c inc ia , d asinstituies soc ia is, d as pr tic as metodolg ic as e p e d a-gg ic as.59

    A crtic a se estendeu incorpora o d as dimensesemociona is e subjetivas d a vid a como meio de existir e formade conhe c er que a ordem d a razo e d a objetivid a de nose constitui em recursos exclusivos d a cincia; o que pressu-pe que o conhe c imento pode ser produzido pe las mulhe-res, na extenso de suas heterogeneid a des. Assim, a pesqui-sa socia l p assa a ser orquestra d a por hipteses e c ategoriasempric as que moldam a forma e os resultados subseqentes,a c a b ando por corroborar a postura a dota d a a priori, ouseja , [...] uma vez que um investig a dor a dotou uma d a d aontologia , esse sistema de orienta o determina o que re levante . Os d a dos n o pod em corrig ir ou fa lsific a r aontologia porque todos a queles que foram coleta dos nessaperspectiva s podem ser compreendidos em seus termos.60

    A introdu o de novas perspe ctivas ana ltic as comod e outros modos d e p ensa r romp e com as c a te goriasdominantes na teoria soc ia l e exprime novos p ara digmas produ o do conhecimento, a lm d a constru o de novosc ampos de sa ber/poder. Em outras p a lavras, sua contribui- o diz respe ito a bertura p ara as a lterid a des, ou seja ,enfa tiza-se a neg a o de qua lquer perspe ctiva essenc ia-lista e binria , contemplando o esp a o d as experinc iasfemininas p lura is constitutivas d a exp erinc ia soc ia l d amodernid a de e o surgimento de novas temtic as e c atego-rias deriva d as de ta is experinc ias. Va le desta c ar que ateoria feminista , ao incorporar as a lteridades, no se restringiucom exclusividade s mulheres, mas tambm absorveu outrossuje itos omitidos pe las grandes discursivid a des iluministas.

    C rt ic a fe m in ist a , siste m a d e g n e ro eC rt ic a fe m in ist a , siste m a d e g n e ro eC rt ic a fe m in ist a , siste m a d e g n e ro eC rt ic a fe m in ist a , siste m a d e g n e ro eC rt ic a fe m in ist a , siste m a d e g n e ro ec i n c i ac i n c i ac i n c i ac i n c i ac i n c i a

    Ta lvez menos ambicioso do que tentar mud ar o mundo, tentava s mud ar a cincia

    Fox Keller

    As mud an as trazid as pe la crtic a feminista podemser sistema tiza d as, prime iramente , porque a condi o de

    g nero faz d iferen a p a ra as mulheres na c inc ia

    57 A propsito consultar: Franc ineDESCARRIES, 1994.

    58 Alison WYLIE, 2001.

    59 WYLIE, 2001; Kenneth GERGEN,1993; e DESCARRIES, 1994.

    60 GERGEN, 1993, p . 50. Na pers-pe ctiva de privilegiar um modode investig a o pe las mulheres,a exemplo do que Hilary ROSE,1983, d enominou como sendoum tra b a lho artesana l, contras-tando com a forma masculina detra b a lho industria liza do. Essaautora sugere como p arte cons-titutiva do tra b a lho artesana l asa tiv id a d es m a nu a is , m e nt a is ,emociona is d a pessoa , pois tod asesto unific a d as, em vez de fra g-m e n t a d a s , a b a n d o n a n d o oseng anosos dua lismos c artesianosdo tipo mente versus corpo, razoversus emo o etc . e , como ta l,d isp e nsa n d o a p re o c up a omasculina com o reduc ionismo ea linearidade por vises que ressal-tem o holismo e as interd ep en-dnc ias complexas.

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    222 Estudos Feministas, Florianpolis, 16(1): 207-230, janeiro-a bril/2008

    no por c ausa do que trazem com seus corpos e svezes nem mesmo p e lo que pod em trazer com suasoc ia liza o, mas pe las perc epes que as culturasd a c inc ia trazem comunid a de tanto d as mulheresquanto do gnero e , por sua vez, por c ausa de queta is p erc e p es trazem p a ra os va lores comuns d edisc iplinas c ientfic as p articulares.61

    A cincia no tem um gnero em seu ethos e substn-c ia ,62 embora se sa ib a que a condi o de gnero estpresente nas culturas e subculturas c ientfic as.

    As mud an as provoc a d as pe la crtic a feminista , ap artir d a no o de gnero, produziram novos ngulos emodos cognitivos de ver o mundo. Sa be-se que a histriasoc ia l e na tura l foi org aniza d a em termos dos signific a dosde gnero, em cujo contexto foram edific a d as instituiesque inc orp ora ra m os sentid os d e g ne ro .63 Em outrasp a lavras, a critic a feminista evidenc iou uma nova dia ltic aao desconstruir a suposta b ase biolgic a dos comportamen-tos masculinos e femininos afirmando que o gnero resultad as construes socia is e cultura is. Ao possibilitar essa novad ia ltic a dos costumes soc ia is, novos comportamentos,lingua gens e olhares, traz como conseqnc ia mud an asrelativas condi o d a existncia de homens e de mulherese entre eles, reciproc amente. Em outras palavras, a condi ode gnero se efetiva pe los tipos d as re la es que se pro-duzem (ou que podem se produzir) entre homens e mulheres,que , em bo a me d id a , resultam dos proc essos soc ia is ecultura is. A p artir disso que varia o tipo de re la o queambos esta be le c em com a ra c iona lid a de c ientfic a , assimcomo os seus eng a jamentos instituc iona is e profissiona is.

    H que se re g istra r que as mud a n as cultura isintroduzid as pela c a tegoria de gnero com incidncia noespecific amente na teoria socia l, mas desloc a d as ao dom-nio d as C inc ias Biolgic as,64 por exemplo, no supunhamque o conc e ito d e g nero seria um fa tor primord ia l d ed esenvolvimento soc ia l e c ientfico, ne g lig enc ia do p e lahistria d as c inc ias, cuja importnc ia se reve la tambm ap artir d a crtic a feminista .

    A c ategoria de gnero centra-se nas identid a des desuje itos que se encontram, constitudos por seu pertenc i-mento a coletivid a des soc iocultura is distintas a ind a queso b re p ostas , as qu a is se d e finem n o a p en as p e laBiologia , Histria ou geografia , mas, sobretudo, por c atego-rias d a cultura , c omo as d e ra a /e tnia , c lasse so c ia l,religiosid a de , gera o, entre outras.65 A crtic a feminista , aodisseminar o conc e ito de gnero como um conhe cimentositua do, constitudo nas re la es histric as e soc ia is , nasre la es desigua is de poder em que estiveram implic a dosmulheres e homens, oferece um novo olhar sobre a realidade,

    61 FOX KELLER, 2006, p . 29-30.

    62 SCHIEBINGER, 2001.

    63 HARDING , 1996.

    64 FOX KELLEY, 2006.

    65 Marilyn FRIEDMAN, 2001.

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  • Estudos Feministas, Florianpolis, 16(1): 207-230, jane iro-a bril/2008 223

    A C ONTRIBUIO DA CRTICA FEMINISTA C INC IA

    possibilitando loc a lizar as distines entre c ara cterstic asconsidera d as masculinas e femininas presentes no c erned as hierarquias do mundo socia l e do conhe cimento, cujasmarc as de gnero tm-se desloc a do p ara a teoria soc ia l.

    O conc e ito de gnero como um desdobramento dopensamento crtico feminista trilhou c aminhos prprios noc ampo c ientfico, d a pesquisa a c a dmic a , assim como nod a a o poltico-instituc iona l. O que o torna to a tra tivo epotenc ia lmente frutfero a na tureza d a perc ep o queofere c e le itura e compre enso dos sistemas soc ia is ecultura is que a porta . No c ampo cientfico o peso relativo d acondi o de c ad a gnero poder variar em rela o a sriesd e va lores p resentes em c a d a c a mpo c ientfic o e /oudisc iplinar, nas diversas instituies e grupos.

    A c a tegoria ana ltic a de gnero vem sendo, por umla do, um instrumento de an lise crtic a aos pressupostosque informam os princ ip a is p ara digmas d a teoria soc ia l nosentido no somente de entender a relevncia d as rela esde gnero na org aniza o d a vid a soc ia l, mas de comoafeta tambm a extenso do conhecimento produzido pelascincias, e , por outro, a c a tegoria re conhe cid a como umcomponente transversa l, cuja presen a se faz importanteem qua lquer projeto de desenvolvimento cientfico, institucio-na l e sociopoltico, que tem posto em intera o as instituiesa c a d mic as com os movimentos soc ia is, as instituiespblic as e os fruns interna ciona is, em uma filia o interati-va e comum, criando um novo universo voc a bular e novosesp a os de intera o entre os atores do c ampo cientfico epoltico-instituc iona l, assim como possibilita a emerso denovas questes de reflexo e de estudo.

    C o n c lu in d oC o n c lu in d oC o n c lu in d oC o n c lu in d oC o n c lu in d o

    As inova es e as contribuies indic a d as pe lacrtic a feminista c inc ia n o consistiram, c ertamente ,a penas em introduzir teorias e conc e itos, mas, sobretudo,em a lguns temas reflexo; enfa tizaram dimenses quehaviam sido de ixa d as ao esque c imento, ta is como a ques-to do a borto, de interesse p ara as mulheres, o qua l chamoua ten o de c ientistas, pesquisa dores, filsofos e re ligiosos.Tornou-se, a partir dos anos setenta , uma questo de interessefilosfico e re ligioso volta do preocup a o com a discri-mina liza o nos p a ses oc identa is, a tingindo diretamenteuma d as ncoras d a estrutura p a triarc a l: a famlia .66

    A crtic a feminista buscou e liminar a condi o desubordina o d as mulheres no toc ante ao seu pertenc i-mento ao c ampo d as prtic as cientfic as no que diz respeitos diversas formas de opresso, nem sempre explcitas, sobrea c a p a c id a de feminina , suas reflexes e pontos de vistas.

    66 Outra contribui o refere-se presen a do elemento conflitua lpresente nas re la es soc ia is desexo, explodindo o qua dro d asa n lises b in rias, extensivo a odomnio da produo do conheci-mento, que se manifesta nas arti-cula es e inter-rela es presen-tes no conjunto d as soc ia bilid a-d e s . A re f lex o f e m in ist a n ate n t a t iv a d e c o m p re e n d e r aviolnc ia sofrid a pe las mulheresdefrontou-se com a produ o demuitas explic a es.

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    224 Estudos Feministas, Florianpolis, 16(1): 207-230, janeiro-a bril/2008

    Assim, a crtic a feminista a lertou que o conhecimentoc ientfico no uma entid a de objetiva , afina l p arte d acondi o cultural dos atores sociais. Sua produ o no podeser re a liza d a como uma a tivid a de a bstra ta , distanc ia d a eisola d a , sobretudo porque como podem ser a dequa dosos padres convencionais de objetividade, se inmeras vezeseles permitem descries de inferiorid a de biolgic a e socia ld as mulheres?, pergunta-se Sandra Harding .67 Ao contrrio,d e v e m c o nst itu ir-se e m um c e n r io p rov id o d e ss amultiplic id a de e diversid a de de a tores, a es, a tivid a des,redes de sociabilid ades, intera es, (des)encontros. Enfatiza-se que no propriamente a ausnc ia de a tores soc ia is oque chama a a ten o, mas a ausnc ia de c erto tipo dea tor soc ia l as mulheres e o p a pe l determinante que osoutros a tores tambm p assam a desempenhar em fun od a ausncia dessas mulheres e desses a tores no c ampo dep esquisa . Eis a um obst culo a no ser menospreza do,como bem sa lientou Desc arries.68

    A crtic a feminista provocou uma ruptura epistemo-lgic a signific ativa ao postular que o domnio do privado, naexistncia pessoal, tambm poltico, que no h problemapoltico que de alguma maneira no recaia sobre a dimensodo pessoal/privado e que tais rela es interferem nas prtic asde conhecimento cientfico. O corolrio da visibilidade doprivado ganha destaque para a prtic a cientfic a , centradana crtic a ao patriarc ado: a diviso sexual do trabalho, asrela es entre os sexos/gnero, as rela es de classes, asc ategorias associadas apropria o individua l e coletivadas mulheres e em particular as manifesta es de controlesocial (violncia conjugal, incesto, estupro, mutilaes sexuais,prostitui o, pornogra fia ) constituem-se prioritrios comotemtic as e propostas de pesquisa .

    Nas a tivid a des de pesquisa a crtic a contribuiu coma c ensura s formula es terico-emp ric as existentes,questionando o androcentrismo, o qua l demarc a os modelose os conc e itos d as C inc ias Soc ia is. Possibilitou tambmuma c ensura epistemolgic a s noes de neutra lid a de ede objetivid a de como iluses metodolgic as, no dizer deDesc arries,69 reconhecendo a importncia d a subjetivid a dedo/a pesquisa dor/a em re la o ao conjunto de eta p as doprocesso de produ o de conhecimento.

    A crtic a feminista redefiniu os conc e itos de reprodu- o socia l, de socia liza o, dos p a pis sexua is, de discrimi-na o/desigua ld a de , entre outros, em fun o dos diversosconceitos, c ategoriza es, linguagens cultura is e simblic as,como tambm dos diversos grupos e instituies, objetos doconhe c imento. Alguns pressupostos orientaram essa novadiscusso inc lusiva d as questes que dizem respe ito noa penas s mulheres, mas aos homens tambm.

    67 HARDING , 2007, p . 165.

    68 DESCARRIES, 1994.

    69 DESCARRIES, 1994.

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    A C ONTRIBUIO DA CRTICA FEMINISTA C INC IA

    Ta is crtic as e pressuposies conduzem as pesquisa-doras feministas a defender uma a deso ma is rigorosa emre la o s re gras (terico-emp ric as) d e um mtodo d epesquisa que tambm c ientfico. Ao optar por proc edi-mentos metodolgicos a lternativos postula dores d a crtic ae d a dvid a , a crtic a feminista serviu (in-diretamente) p araquestion a r a m a ne ira tra d ic ion a l d e fazer p esquisa , ac egue ira em re la o s mulheres, assim como duvid ar d aspremissas conceitua is e d as hipteses usua is que estruturama lgic a d a investig a o positivista .

    D o p o n to d e v ist a m e to d o l g ic o , a ru p tu r adesenc a de a d a pe la crtic a feminista deu-se no a penaspe la crtic a de mode los c ientficos hierarquiza dos em seufunc ionamento , mas tamb m p e la presen a d e c ertospressupostos he g emnicos na p esquisa c ientfic a . Essaru p tur a p ro p e exp lo r a r outr a s trilh a s c on c e itu a is eme todo lg ic as, cujas re flex es sistem a tiza d as possa mcontribuir p ara evidenciar o interesse e a efic cia de a portesp lu r id isc ip l in a re s q u e f a vo re a m n ov a s c o n d i e se qita tiv as d e g ne ro p ro du o d o c onhe c imentocientfico. Concomitantemente , procura integrar-se com asdiversas reflexes e exp erinc ias femininas com vistas aproduzir um conhecimento ma is comp artilha do em rela os a lterid a des e re a lid a de soc ia l.

    Pa ra conc luir, va le c ita r um tre cho d a entrevistare a liza d a com a feminista Lise Disch70 sobre a contribui od a filsofa Hannah Arendt, a propsito d a crtic a feminista:

    IHU On-Line Qua l a a tua lid a de do pensamento deAre nd t p a ra a c onstru o d e um a tic a -p o ltic afeminista?

    Lisa Disch As id ias d e p lura lid a d e d e Arendt aigua ld a de de todos em suas diferen as , e nata lid a de a c a p a c id a de de come ar a lgo novo , inspiraramv rias feministas, inc lusive a mim. Alm d isso, comoNancy Hartsock argumentou a lguns anos a trs, Arendtte m um a no o c oo p e ra tiv a e inte r-sub je tiv a d epod er como a o conjunta que frutfero p a ra op ensamento feminista . Embora o que Arendt tenhad ito so b re p o ltic a se ja mu ito insp ira d or p a ra a sfeministas, ns s pod emos ir t o long e com um apensa dora que torne isso to difc il quanto Arendt p araana lisar re la es de poder pe las lentes do gnero.

    IHU On-Line E quanto p a rtic ip a o poltic a d asmulheres, a filosofia arendtiana serve de p armetro einspira o?

    Lisa Disch Sim, mas nem ma is nem menos que p araa p artic ip a o de qua lquer um.71

    70 Lise Disch filsofa ,,,,, le c iona noDep artamento de C incia Poltic ad a Universid a d e d e Minnesota ,Esta dos Unidos. Suas especia lid a-des so: teoria poltic a , histria dopensamento poltico, teoria femi-nista , proc essos e le itora is e teoriademocrtic a , entre outras. Ph.D.pela Rutger University, EUA; auto-ra de inmeras obras, dentre asquais citamos: Hannah Arendt andthe Limits of Philosophy (DISCH,1994). Recebeu vrios reconheci-m e ntos a c a d m ic os p or su a spesquisas. O ma is re c ente de lesfo i o p rmio Arthur Re d a ndHe le n e B . M o t le y Exe m p l a ryTe a ching Award , em 20012002.

    71 D isp o n v e l e m: h t tp : //www.unisinos.br/ihu. Ac esso em:a go. 2007.

    Viviane Silva

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    Re fe r n c ia s b ib lio g r fic a sRe fe r n c ia s b ib lio g r fic a sRe fe r n c ia s b ib lio g r fic a sRe fe r n c ia s b ib lio g r fic a sRe fe r n c ia s b ib lio g r fic a s

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    Viviane Silva

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    [Re c ebido em ma io de 2006e a c e ito p ara public a o em outubro de 2007]

    Th e C o n trib u tio n o f th e F e m in ist C ritic ism to Sc ie n c eTh e C o n trib u tio n o f th e F e m in ist C ritic ism to Sc ie n c eTh e C o n trib u tio n o f th e F e m in ist C ritic ism to Sc ie n c eTh e C o n trib u tio n o f th e F e m in ist C ritic ism to Sc ie n c eTh e C o n trib u tio n o f th e F e m in ist C ritic ism to Sc ie n c eAbstra ctAbstra ctAbstra ctAbstra ctAbstra ct: The text discusses the contribution brought by the feminist criticism to the scientificknowledge , as an incre asing variety of ways of thinking c an be observed . Science , guided by theproduction of scientific knowledge , presupposes neutrality, universalism and objectiveness, whichgoes beyond its masculine chara cteristics. The feminist criticism evidenced some limits imposedto the gre ater a c c ess of women to scientific c are ers. The text emphasizes how the notion ofgender be comes signific ant, sinc e it introduc es other components in the scientific pra ctic es.Key WKey WKey WKey WKey Wordsordsordsordsords: Feminist Criticism; Scientific Knowledge; Scienc e; G ender and Inequa lity.

    Viviane Silva

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