crÍtica À indiferÊnÇa: política, ciência e educação

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1 Jhonatan Almada CRÍTICA À INDIFERENÇA política, ciência e educação

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Reuni neste livro os artigos que publiquei em 2015 no Jornal Pequeno. Escrevi basicamente sobre as temáticas da política, da ciência e da educação, pontuando e demarcando minhas opiniões, sem a preocupação de convencer determinada audiência, mas focado na necessidade de dizer. Escrevo por que tenho algo a dizer sobre o mundo e os artigos dão vazão a esse dizer, o qual está ancorado nos meus valores e acúmulos de história e prática.

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Page 1: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

1

Jhonatan Almada

CRÍTICA À INDIFERENÇA

política, ciência e educação

Page 2: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

Jhonatan Almada

CRÍTICA À INDIFERENÇA: política, ciência e educação

artigos publicados em 2015 no Jornal Pequeno

São Luís Jhonatan Almada Editor

2016

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Ficha Catalográfica elaborada por Liliane Matos, graduada em Biblioteconomia (UFMA) e Pós - graduada em Docência no Ensino Superior (CAPEM), com dados fornecidos pelo Organizador da obra.

Almada, Jhonatan

Crítica à indiferença: política, ciência e educação / Jhonatan Uelson Pereira Sousa de Almada (Ed.). - São Luís: Jhonatan Almada Editor, 2016. 241 f. ISBN: 978-85-915859-2-2 1. Política - Ciência - Educação 2. Artigos publicados em 2015 - jornal pequeno I. Título

CDU: 32.001

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Para que haja menos fracos, não há outro caminho,

temos que nos juntar. Nós, juntos, temos muitas

possibilidades, muitos recursos, muitas promessas,

mas não somos uma realidade

Pepe Mujica

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SUMÁRIO

6

PREFÁCIO

10

APRESENTAÇÃO

15

POLÍTICA

185

CIÊNCIA

216

EDUCAÇÃO

239

O AUTOR

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6

PREFÁCIO

Normalmente un prefacio está de acuerdo con el

siguiente significado:

“prefacio: substantivo masculino

Texto preliminar de presentación, generalmente breve, escrito por el autor o por otra persona, ubicado en el inicio de un libro, con explicaciones sobre su contenido, objetivos o sobre la persona del autor”

Cuando el pasado día 4 de enero, recibí la invitación

de mi compañero Jhonatan Almada para escribir el

prefacio de su libro conteniendo los artículos escritos

por el durante 2015, me sentí sorprendido, e

inmensamente lisonjeado. No esperaba recibir, lo que

considero un homenaje de un escritor que admiro

tanto y que ha sido y continúa a ser mi referencia

desde que llegué a Maranhão hace un año.

Por estos motivos, voy a dejar de lado un poco la

definición de la palabra prefacio y en su lugar mis

sentimientos fluir.

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7

Vivíamos en Ceará desde 2011 mi esposa, mis perritas

y yo. Ejercía el cargo de Secretario Municipal y

pensábamos en hacer algunas modificaciones en

nuestras vidas. Nunca son fáciles los cambios

radicales, tales como mudar de empleo, ciudad,

amistades y enfrentar lo desconocido, principalmente

cuando pasamos de los 60 años de vida. Sin esperarlo,

recibí una invitación para integrarme en un equipo

del nuevo Gobierno de Maranhão. Después de

reflexionar sobre esta invitación y sus consecuencias

decidimos enfrentar este nuevo desafío en nuestras

vidas. El sentimiento de poder colaborar de alguna

manera en la difícil tarea de aumentar el desarrollo de

un estado, de disminuir las diferencias sociales, y de

ayudar a hacer una sociedad más justa, fue el peso que

inclinó la balanza para enfrentar el cambio y dejar la

vida cómoda de lado.

Llegamos a São Luís en enero de 2015 y comenzamos

lentamente a integrarnos.

Mi trabajo en la Secretaria de Estado de la Ciencia,

Tecnología e Innovación no era mi especialidad, pero

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el equipo de personas que allí trabajan y que es

formidable ayudaron a que mis tareas fueran más

fáciles. Entre ellos una persona se destacó, Jhonatan

Almada.

Él, semana a semana, artículo a artículo me fue

introduciendo en la realidad más profunda de

Maranhão, con sus palabras claras y crudas, con una

sinceridad que solamente un verdadero militante

utiliza, sin miedo a las represalias que pueda sufrir

por las verdades dichas, haciendo que recordase mis

tiempos de juventud cuando yo, así como el, adhería a

todas las luchas que consideraba justas.

Palabras como Ciencia, Tecnología e Innovación,

dichas por él tienen otro sentido, un sentido que todos

pueden entender, y nos muestra como aplicarlas en el

día a día. Él nos pasea por las diferentes realidades de

Maranhão con una claridad fantástica.

Hablar de cada uno de sus artículos merecería escribir

un libro para cada uno de ellos. Pero algunos de estos

me marcaron todavía más: el “Nuevo modelo de

desarrollo para Maranhão”, “El Poder como servicio”,

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“Golpe y corrupción como espectros”, “Voluntad de

desarrollo” y la “Regulación económica de los medios

de comunicación” nos llevan a repensar muchas

posiciones y con seguridad a mudar de actitudes.

Para terminar el agradecimiento, agradecimiento por

mostrarme que todavía tengo mucho que aprender,

por darme la oportunidad de volver a ser un joven

combatiente y de, al publicar este libro, poder guardar

en mi biblioteca, textos que tanto me motivan en el día

a día.

Gustavo Pilotto,

uruguaio e analista de TI

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APRESENTAÇÃO

Reuni neste livro os artigos que publiquei em 2015 no

Jornal Pequeno. Escrevi basicamente sobre as

temáticas da política, da ciência e da educação,

pontuando e demarcando minhas opiniões, sem a

preocupação de convencer determinada audiência,

mas focado na necessidade de dizer. Escrevo por que

tenho algo a dizer sobre o mundo e os artigos dão

vazão a esse dizer, o qual está ancorado nos meus

valores e acúmulos de história e prática.

Todo dito e escrito tem seu lugar de referência para se

afirmar. No nosso caso específico situamo-nos na

margem esquerda do rio da vida, tendo como móveis

existenciais, a luta pela democratização do acesso a

direitos, a expansão da cidadania política e a

consolidação de um projeto de desenvolvimento

sustentável e includente.

Se “cantar parece com não morrer” como diz a letra da

música de Ednardo, para mim, escrever é que parece

com não morrer. Meu dizer demanda escrever, com

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isso, sinto a vida e afasto a morte para mais longe.

Agradável e consequente depois de escrito é pôr o

escrito à descoberto, publicar. E é por isso que

disponibilizo este livro pois não vejo sentido em

manifestar minhas opiniões sem pô-las à prova do

público, expondo-as à crítica ou à indiferença, mas

sobretudo, registrando-as.

O eixo da política articula os artigos que tiveram essa

temática como mote predominante e norteador da

reflexão. Interessei-me no acompanhamento da

conjuntura política local e nacional, observando as

relações entre o Maranhão e o Brasil, bem como,

destacando assuntos-chave como a crise política e o

impeachment. A construção de um novo projeto de

desenvolvimento local está presente como

transversalidade e problema analisado à luz das

iniciativas, políticas e programas governamentais em

andamento.

O eixo da ciência destaca a centralidade dessa

temática para o referido projeto de desenvolvimento

no Maranhão. Essa centralidade se materializará

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pelos investimentos focalizados nas plataformas do

conhecimento estratégicas, atração de instituições de

pesquisa de excelência, divulgação e educação

científica, e criação de infraestrutura de rede para

acesso à internet de alta velocidade.

O eixo da educação apresenta artigos cuja base se

fundamenta em trabalhos e leituras anteriores

advindas de minha formação acadêmica. Sem

educação, não há viabilidade de um projeto de

desenvolvimento, o que para sair do óbvio exige

repensar e investir nas escolas e nos professores.

Nesse sentido, entendo a educação integral aliada à

educação profissional como um caminho fecundo e

comprovadamente bem-sucedido.

Escrever esses artigos demarca, sobretudo minha

crítica à indiferença do nosso tempo que ignora o

mundo como totalidade, se comove de forma seletiva,

abandonando às maiorias ao flagelo da miséria, das

doenças, da violência e das guerras. As minorias

privilegiadas defendem de forma implícita ou

explícita um mundo à parte sustentado pela exclusão.

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Tomar posição contra esse estado de coisas é algo

indispensável em tempos de cinismo, a meu ver, um

ato político preciso e irrefragável.

A capa utiliza aquarela de Paul Klee (gewagt wägend,

1930) para apresentar estes artigos como a bola que

lançada desce com uma força que se espera suficiente

para mover a pedra da indiferença. Se meu dizer

contribuir para isso penso que obtive algum sucesso.

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POLÍTICA

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BOÊMIOS CÍVICOS

O professor Marcos Costa Lima (UFPE) organizou o

livro “Boêmios Cívicos: a assessoria econômico-

política de Vargas (1951-54)”, publicado pelo Centro

Internacional Celso Furtado. O trabalho destaca o

papel de Rômulo de Almeida, Jesus Soares Pereira,

Cleantho de Paiva Leite e Ignacio Rangel na

construção de instituições estratégicas para o país

(BNDES, Petrobrás, Eletrobrás, CNPq, etc) e na

produção de planejamento de longo prazo, antes

mesmo da existência de Ministério para esse fim.

A expressão “boêmios cívicos” foi atribuída por

Getúlio Vargas pelo fato dessa plêiade nordestina

pensar e trabalhar pelo Brasil adentrando

madrugadas. Vargas vez em quando puxava as orelhas

dos ministros questionando o porquê de não terem

ouvido ou recebido seus boêmios. Contribuir para o

desenvolvimento do país era a boemia que deles

tomava conta, deixando marcas indeléveis na

consolidação do Estado brasileiro.

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Penso que nunca foram devidamente valorizados pela

intelectualidade local/nacional, com cariz centro-

sulista. Ignacio Rangel foi introduzido no Maranhão

pela liderança intelectual de Raimundo Palhano,

Rossini Corrêa e Maureli Costa nos idos de

1980/1990. Participei de nova iniciativa de resgate

com a publicação do livro “Ignacio Rangel: decifrador

do Brasil” (Edufma, 2014) juntamente com os

professores Ricardo Zimbrão e Felipe de Holanda,

bem como, a concessão do título de Doutor Honoris

Causa in memoriam a Ignacio Rangel pela UFMA.

De lá para cá, o planejamento não mais encontrou

efetiva acolhida no seio da elite dirigente do Brasil. A

atual crise da água e a nova crise de energia são provas

cabais da ausência de planejamento, da teimosia em

investir tudo no curto prazo e do desperdício de

esforços. Existe inteligência, faltam Vargas, capazes

de ouvir e dar concretude às ideias daqueles que se

preocupam com o pensar grande e para frente. Não

adianta existir espaços e instâncias institucionais se

as mesmas não servem para formular políticas

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públicas e convencer a elite dirigente a tomar as

melhores e as mais consequentes decisões.

Creio que esse espaço no Jornal Pequeno representa

oportunidade ímpar de exercer papel intelectual

espelhado nos históricos boêmios cívicos, ou seja,

pensar grande e para frente, incluindo o resgate de

seus legados. Essa abertura para o debate e

construção da esfera pública só seria possível no

Jornal Pequeno, justamente por sua autenticidade,

coerência e posicionamento decidido em favor do

desenvolvimento do Maranhão.

Não comungo dos portadores do complexo da hiena

Hardy, famoso desenho do estúdio Hanna-Barbera. A

hiena, pessimista e depressiva, sempre dizia que nada

daria certo. Nem otimista ingênuo, nem pessimista

amargo, mas sim um realista esperançoso como bem

definiu Ariano Suassuna. Nesse sentido, percebo em

relação ao novo governo do Maranhão, medidas

ousadas e jamais adotadas pelo antigo regime, as

quais concretizam as ideias-força da democratização

do Estado, republicanização da esfera pública e

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fortalecimento das políticas de promoção social e do

serviço público profissional.

1. Democratização do Estado: o processo eletivo

para a escolha de diretores de escola, combinando

seleção técnica e manifestação da comunidade

escolar; a criação do Conselho Empresarial do

Maranhão; e a articulação com prefeituras, sindicatos

e movimentos sociais no âmbito do Plano Mais IDH.

Essas medidas sinalizam para o empoderamento das

comunidades e o fortalecimento da sociedade civil,

integrando-as aos processos decisórios de Estado pela

materialização da gestão democrática.

2. Republicanização da esfera pública: a

proibição de atribuir o nome de pessoas vivas ou

envolvidas com a ditadura militar aos prédios,

logradouros e espaços públicos; a instituição do

processo de transição de governo, clarificando a

forma e os documentos que devem ser repassados; a

instalação de Comissões que irão analisar a venda da

Casa de Veraneio e o papel da Fundação da Memória

Republicana são exemplos emblemáticos. Essas

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medidas apontam para o fim da confusão

patrimonialista que ainda se abate sobre o Estado,

sobretudo a materializada na omissão de informações

para prejudicar o conhecimento dos problemas e o

consequente encaminhamento das soluções; a

homenagem baseada em critérios particulares ou de

natureza clánica e a promoção pessoal pelo uso da

coisa pública.

3. Fortalecimento das políticas de promoção

social: a criação do Instituto Estadual de Educação,

Ciência e Tecnologia do Maranhão (IEMA); a criação

do Programa Escola Digna para eliminar as precárias

condições das escolas; o Programa Estadual “Mais

Bolsa Família – Escola” para a compra do material

escolar pelas crianças e adolescentes; o Plano de

Ações Mais IDH para retirar do extravio da pobreza e

da exclusão os 30 municípios de menor IDH; e a

criação da Secretaria de Agricultura Familiar.

Sinaliza-se que a educação e a inclusão social

produtiva são prioridades do Governo. Esse conjunto

de medidas representa o atendimento de demandas

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históricas dos educadores e dos campesinos, cujos

desdobramentos evidenciarão seu impacto.

4. Fortalecimento do serviço público

profissional: convocação de concursados da Polícia

Militar e Bombeiros; aumento da gratificação de

incentivo de desempenho da gestão escolar,

valorizando a função do diretor escolar; progressão

funcional de 11.144 professores; reajuste de 15% no

salário dos professores contratados e o pagamento do

Piso Salarial Profissional Nacional. Sinaliza-se para o

fim da era dos comissionados e o início de outra, onde

o Estado será posto em ação por burocracia

profissionalizada, bem remunerada e eficiente.

Essas medidas significam a falência do ilusório

ócio incerto dos que estavam acomodados e

conformados com privilégios e benesses regados a

dinheiro público em volume gigantesco e por tempo

indeterminado. Entretanto, a responsabilidade

histórica de retirar o Maranhão do extravio, com rigor

e qualidade, é de todos nós. Essa será nossa

trincheira, sem perder a luz.

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NOVO MODELO DE DESENVOLVIMENTO PARA O MARANHÃO

O modelo de desenvolvimento baseado em grandes

projetos não funcionou no Maranhão, vide o

Programa Grande Carajás. Nascido no seio da

ditadura resultou em êxodo rural, periferização,

cadeia produtiva restrita, baixo valor agregado, nada

de impostos, nos deixando a ver navios. A ideia de

uma Refinaria no Maranhão aportou a mesma

fantasia quando da instalação da Alumar nos idos de

1980. A Refinaria é o segundo golpe do antigo regime

nessa seara, verifique-se quem se beneficiou dos

recursos aplicados e aguarde-se a conclusão da

Operação Lava Jato da Polícia Federal.

A elite política tem enorme dificuldade em aprender

com o passado. Exigir que o Governo do Estado se

mobilize em prol da Refinaria, a meu ver, significa

equívoco e desperdício de esforços, mentalidade

retrógrada. Até os maiores produtores de petróleo

sabem que isso acabará, tanto que possuem grandes

fundos de investimento dedicados a serviços e

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tecnologia. A dúvida, hoje tênue, é saber se o petróleo

acabará conosco primeiro por meio das guerras,

poluição e sectarismo. Toda uma cultura material e

alimentar é sustentada nos derivados do petróleo

(carros, asfalto, plásticos e embalagens para

alimentos), desafiando a ciência na busca de

alternativas viáveis, sustentáveis e substitutivas.

O caminho para a construção de um novo modelo

de desenvolvimento do Maranhão se assenta nas

energias renováveis (eólica, solar, de ondas e

biomassa), na economia do conhecimento e na

agricultura de orgânicos. O Estado do Maranhão pode

se tornar referência nessas áreas. Aqui sim concordo

em mobilizar o Governo, empresariado, políticos e

sociedade em frentes cívicas para a elaboração e

implementação de projetos, captação de recursos e

atração de investimentos, fomento a pesquisa e

inovação.

Ciência, tecnologia e inovação devem ser os eixos

direcionadores desse novo modelo, o que exige, por

um lado, investimento vultoso e obsessivo, por outro,

soluções inteligentes e sem custos. Esses eixos

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articulariam programas estaduais para apoio e

fomento ao novo modelo, combinando o

fortalecimento do mercado interno e uma inserção

altiva no mercado nacional e internacional. Para

tanto, redes locais, nacionais e internacionais de

cooperação acadêmica são indispensáveis, bem como,

a formação de pesquisadores com inserção em

arranjos público-privados de produção do

conhecimento e inovação no mundo produtivo.

O investimento vultoso e obsessivo em um Estado

endividado e oprimido pelas disputas em volta do

fundo público implicará em mudanças legais para a

criação de fundo específico com esse objetivo, bem

como, o estímulo à criação de fundos patrimoniais

(endowment) no âmbito das instituições de ensino e

pesquisa locais, todos protegidos do

contingenciamento orçamentário. Estamos

atrasados, mas creio que o Maranhão dará passos

largos em pouco tempo, especialmente com as

perspectivas abertas pela política estadual de ciência,

tecnologia e inovação do novo governo.

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As experiências mais exitosas de fundos patrimoniais

ou endowment funds estão nos Estados Unidos. Os

ativos dos fundos da Harvard University, Yale

University, Princeton University, dentre outras,

somam dezenas de bilhões de dólares cada um.

Formados por doações de empresários, ex-alunos,

heranças e aplicações no mercado, esses fundos

garantem estabilidade e continuidade aos

investimentos em pesquisa e infraestrutura dessas

instituições.

A economia do conhecimento demarcada pelas

startups, parques tecnológicos e indústria

aeroespacial são a nova fronteira da economia,

elevando o mundo produtivo a outro patamar,

modificando inclusive as relações de trabalho. A

experiência de Startup do Chile é um dos programas

internacionais mais exitosos, garantindo apoio

financeiro, técnico e relacional para empreendedores

locais e estrangeiros que desejam desenvolver ideias,

produtos, processos e negócios inovadores, mobiliza

mais de 1 bilhão de dólares no país.

Page 27: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

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O potencial da agricultura de orgânicos no Maranhão,

de base familiar ou a partir de cooperativas agrícolas

é muito grande. O campesino maranhense com

financiamento, assistência técnica permanente e

acesso aos mercados para comercialização,

certamente, alcançará no médio prazo, prosperidade

econômica e maior qualidade de vida. Esse mercado

movimenta milhões de reais no Brasil e bilhões de

dólares no mundo, os prejuízos e as doenças

disseminadas pela produção de alimentos com uso

extensivo de fertilizantes e agrotóxicos também é um

caminho que acabará. Talvez conosco primeiro, caso

não consigamos empreender esse novo modelo de

desenvolvimento.

O novo modelo de desenvolvimento em construção

deve incorporar e potencializar esses elementos, mais

ainda, somar inteligências e forças para que as

oportunidades gestadas possam efetivamente ser de

todos e cada um.

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A HERANÇA NEGATIVA E AS TRÊS

DEMOCRATIZAÇÕES

A Secretaria de Estado da Transparência e Controle,

criada pelo Governo Flávio Dino, tem se empenhado

de forma resoluta em passar a limpo o cipoal de

contratos firmados pela gestão anterior. Trabalho

hercúleo que tem identificado inúmeros problemas,

absurdos, superfaturamentos e irregularidades.

Retirar o Maranhão do extravio também significa

informar os maranhenses por todos os meios

disponíveis, bem como, adotar as medidas legais

cabíveis em relação à herança negativa encontrada, o

que representará a devida punição dos pretensos

vestais.

Essa herança vem de muito tempo com consequências

e desdobramentos de longo prazo. O Governo do

Estado do Maranhão abdicou de uma política pública

para a área de tecnologia da informação e

comunicação governamental ao extinguir a Empresa

de Processamento de Dados do Maranhão

(PRODAMAR) por intermédio da Lei Nº 7.356, de 29

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29

de dezembro de 1998, a qual dispôs sobre a reforma

administrativa do Governo Roseana Sarney (1994-

2001). Essa medida representou o abandono de toda

a experiência acumulada por aquela empresa desde

1972 e a transferências de bens e servidores para a

EMARHP.

A partir de então a responsabilidade por essa área

estratégica passou a ser de setores de segundo escalão

vinculados à administração direta, limitada pelas

baixas remunerações dos cargos comissionados e

efetivos, ausência de carreira específica e concursos

públicos regulares e mesmo impossibilitada de gerar

recursos próprios, além dos evidentes indícios de má

gestão e corrupção nos contratos firmados.

Quando de sua extinção, as funções da então

PRODAMAR foram absorvidas pela Gerência de

Planejamento e Desenvolvimento Econômico,

chefiada por Jorge Murad, marido da governadora

Roseana Sarney. Essa Gerência incorporou funções de

inúmeras Secretarias e órgãos, até mesmo a gestão da

política científica e tecnológica no bojo da extinção da

FAPEMA e sua substituição pelo FAPEM. Nos

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30

governos José Reinaldo e Jackson Lago, a anomalia

criada permaneceu, pois o braço de tecnologia da

informação e comunicação passou a fazer parte da

Secretaria de Estado do Planejamento e Orçamento.

Dessa forma, enquanto a Política de Ciência,

Tecnologia e Inovação é responsabilidade da

Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e

Inovação, as decisões sobre a infraestrutura

tecnológica que suporta essa política ficam em outra.

O fim da PRODAMAR cobra alto preço atualmente.

Inúmeras empresas prestam esses serviços

tecnológicos ao Governo do Maranhão por intermédio

de contratos milionários, nebulosos e

patrimonialistas, chegam a ocupar fisicamente o

espaço público, cobrar em duplicidade ou de forma

abusiva, estabelecer relações tortuosas com os

agentes governamentais e perpetuar-se ao longo dos

governos oferecendo serviços caros, ineficientes e

ultrapassados.

Entendo que persistir nesses contratos não é o

caminho para a efetivação de uma política pública de

tecnologia da informação e comunicação no

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31

Maranhão. Todos os grandes estados da federação

mantiveram suas empresas públicas, criadas nos idos

de 1960 ou 1970, mesmo no afã neoliberal dos anos

1990. Essas empresas oferecem serviços avançados,

geram lucro e garantem autonomia tecnológica aos

estados, a PRODESP (São Paulo), a PRODEMG

(Minas Gerais) e a CELEPAR (Paraná) são exemplos

emblemáticos.

A Empresa de Tecnologia da Informação do Ceará

(ETICE) é um caso exitoso recente. Graças a ela e ao

aporte de recursos e serviços disponibilizado, o Ceará

desenvolveu o Cinturão Digital que leva internet

rápida a quase todo o território. Após quatros anos

(2010-2014) de esforços, a cobertura da rede de fibra

óptica implantada pela ETICE alcança 105 dos 184

municípios cearenses, todas as escolas públicas de

Fortaleza e as universidades, institutos federais e

escolas profissionalizantes do interior. Antes da

ETICE as Prefeituras pagavam em média R$ 120 mil

pelo acesso a internet, via empresa pública, pagam R$

4 mil. A meta do governador Camilo Santana é

alcançar todos os municípios do Ceará até 2018.

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32

A China contemporânea foi erguida pelo

planejamento alinhavado sob a liderança de Deng

Xiaoping, as chamadas quatro modernizações: da

agricultura, da indústria, da ciência e tecnologia, e das

forças armadas. Desde 1976, ou seja, há 39 anos que o

país se empenha na implementação e

aperfeiçoamento dessas modernizações. Sem nunca

dar ouvidos às bobagens neoliberais do Ocidente, a

China permanece firme no rumo traçado adotando

eventuais correções.

Democratizar o poder, a riqueza e o conhecimento,

como defende o governador Flávio Dino, demanda

arrojada política de tecnologia da informação e

comunicação integrada à ousada política de ciência,

tecnologia e inovação. A infraestrutura tecnológica é a

base para que se erga o homem novo, meio estratégico

para a formação e o desenvolvimento de uma nova

cultura onde essas três democratizações se firmarão,

elevando o Maranhão a outro patamar histórico.

Page 33: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

33

O PODER COMO SERVIÇO

A mudança cultural é um processo lento de

transformação das práticas sociais que

invariavelmente gera resistências por parte da

sociedade, organização ou instituição em que ocorre.

A introdução de novos conceitos que se materializam

em novas práticas, tais como, a transparência, a

integração, a inteligência colaborativa e a

intersetorialidade, implica no despertar de seus

opostos combativos, os segredos de Estado, a

demarcação de territórios de influência em disputas

abertas ou fechadas pelo poder, a inteligência

competitiva e a setorialização. Lidar com a cultura

instituída no serviço público exige dos gestores

sabedoria para não sucumbir e perseverança para não

desviar do caminho.

Esses opostos combativos surgem tanto dos que já

estavam habituados às práticas sociais de

planejamento e gestão da coisa pública, quanto aos

que chegam, quando ambos não conseguem traduzir

Page 34: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

34

os princípios e as diretrizes estratégicas legitimadas

nas urnas em novos comportamentos e práticas de

governo. A união para gerar os resultados e melhorar

a vida das pessoas, objetivo primordial de um projeto

de mudança do Maranhão, não é abstrata, corporifica-

se nas relações e ações. Existem os que fincam os pés

na imobilidade; transferem equívocos ou impõe

divisões cartesianas; não atentam para a envergadura

da função pública, se perdem na busca das partes que

lhes cabem no latifúndio imaginário do poder; por

outro lado, existem os que apreendem e

praticam com verdade efetiva os princípios e

as diretrizes acordados, compartilhando e

chamando para o compartilhar.

O Plano Mais IDH é um bom exemplo de articulação

intersetorial e colaborativa em prol da melhoria dos

indicadores de longevidade, educação e renda dos 30

municípios em situação precaríssima não só nos

rankings, mas na vida real das pessoas que ali vivem.

Trabalhar juntos em prol de um objetivo comum

alimenta de sentidos o ser e o fazer individual ou

setorial. O desafio é viabilizar a convergência das

Page 35: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

35

ações governamentais navegando pela teia de

exigências burocráticas e legais com desenvoltura e

precisão. Ao lado disso, unir as forças daqueles que

não estão na governança da ação, mas podem

contribuir para sua efetividade.

O Programa CNH Jovem recentemente lançado

evidencia a integração entre o DETRAN-MA e a

Secretaria de Juventude, símbolo de trabalho

conjunto no atual governo. O objetivo do programa é

fornecer gratuitamente carteiras de habilitação para

os jovens entre 18 e 21 anos, egressos da rede pública

de ensino médio e com boas pontuações no ENEM.

Isso gera oportunidade de trabalho e resgata para a

possibilidade de uma vida digna, milhares de jovens

que engrossam as estatísticas daqueles que nem

trabalham, nem estudam. Essa é uma das iniciativas

mais importantes em termos de novas ideias e ações

para incentivar a geração de trabalho. O desafio é dar

a maior transparência possível às inscrições,

selecionados ou sorteados por intermédio de

plataforma digital pública e amigável.

Page 36: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

36

A FAPEMA pela primeira vez divulgou a lista

completa dos seus bolsistas, medida inédita de

transparência. Além disso, realizou oficinas de

planejamento e participação social para socializar a

discussão e a definição de dois editais dos novos

programas “Universidade para Todos Nós” e

“Tecnologias Sociais”, inaugurando nova forma de

construir a política de fomento à pesquisa. Os

programas financiarão projetos de extensão

universitária e projetos de pesquisa para a superação

de problemas socioeconômicos. O desafio é aprovar

projetos alinhados aos objetivos estabelecidos e

conquistar a adesão da comunidade acadêmica às

novas ideias.

A Secretaria de Saúde e a Secretaria da Mulher

teceram iniciativa fundamental para a garantia do

direito à saúde integral da mulher como política de

Estado. A implementação de ações voltadas para a

atenção primária tendo por foco a redução da

mortalidade materna e a prevenção de doenças

materializa a intersetorialidade e a transversalidade

dessas políticas públicas. O desafio é humanizar o

Page 37: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

37

quadro de pessoal da saúde em consonância com as

novas diretrizes, além de conduzir processo educativo

com as mulheres sobre o cuidado de si.

O Papa Francisco, estadista dos tempos atuais, ao nos

convidar a sermos “aquele sal que dá sabor” afirmou

em uma de suas meditações matutinas que o

verdadeiro poder é o serviço. Não se trata do

poder pelo poder ou da disputa em torno de quem

pode menos ou pode mais. Muitos e por muito tempo

se serviram do Maranhão, nosso desafio maior é

superar essa cultura do servir-se e praticar de mãos

dadas, irmanados, a cultura do servir. Por fim e para

que isso ocorra, entendo ser indispensável despir-se

das vaidades armadas e purgar-se da mesquinhez

desses opostos combativos.

Page 38: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

38

CUBA E A COOPERAÇÃO INTERNACIONAL

NO MARANHÃO

É com grande satisfação que vejo a retomada da

cooperação internacional pelo atual Governo. A vinda

dos embaixadores da China e de Cuba foi o primeiro

passo. Tenho absoluta convicção da importância e dos

benefícios da cooperação internacional para nosso

estado, hoje mais do nunca precisamos

desprovincianizar o Maranhão e inseri-lo em círculo

virtuoso de relações e prosperidade.

A propósito disso, o conhecimento das experiências

internacionais e os estudos de educação comparada

permitem duas constatações muito claras em relação

às políticas públicas de educação e ao ensino de

graduação do Brasil: o fracasso dos programas

nacionais de alfabetização e a falência do modelo de

formação dos cursos de medicina.

Desde a experiência do Mobral (Movimento Brasileiro

de Alfabetização), criado durante a ditadura militar de

Page 39: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

39

1964, ao atual Programa Brasil Alfabetizado, milhões

foram gastos do fundo público sem êxito para a

erradicação do analfabetismo no país. Penso que a

única coisa que mantem esses programas é a indústria

da alfabetização que se formou no entorno deles,

instrutores, monitores, tutores, capacitações,

material didático, diárias, viagens e tudo mais.

Se tivéssemos a sério adotado a metodologia de Paulo

Freire nos anos 1970 e priorizado a alfabetização esse

problema há muito estaria resolvido. Por outro lado e

em contraste, a metodologia de Cuba (Si, yo puedo)

com módicos recursos e educação a distância,

erradicou o analfabetismo na Venezuela e na Bolívia,

onde mais de 3,5 milhões de pessoas foram

alfabetizadas. Os dois países foram declarados pela

Organização das Nações Unidas para a Educação,

Ciência e Cultura (Unesco) como territórios livres do

analfabetismo e o método recebeu o Prêmio de

Alfabetização Rey Sejong. Atualmente, o método é

aplicado em dezenas de países do mundo e

contextualizado para cada país nos idiomas espanhol,

Page 40: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

40

inglês, português, criolo, aymará, quéchua, tetum e

francês.

Existem duas resistências a serem contornadas,

daqueles que colocam o método cubano em oposição

ao método freiriano, sem nunca tê-lo lido, entendido

ou praticado e dos que desejam manter tudo como

está seguindo exclusivamente os programas federais

existentes.

Médicos como Maria Aragão não são a regra no Brasil,

são a exceção. O curso de Medicina nascido desde a

época colonial para atender a realeza, permanece

elitista, racista, machista e seletivamente xenofóbico.

Apesar do longo processo de formação, o currículo

não tem por foco o ser humano e a prevenção das

doenças, mas sim o fornecimento de profissionais

liberais endeusados pela capacidade de curar a

doença. O compromisso essencial é com a abertura do

próprio negócio (consultório, clínica, hospital, etc),

enquanto o trabalho no setor público é considerado

complementação de renda.

Page 41: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

41

A Colaboração Médica Internacional Cubana que

ocorre desde 1963 se materializa pelo envio de

médicos, especialistas, técnicos e enfermeiros para

realizar atividades assistenciais e de ensino, apoio na

criação de faculdades de Medicina (11 no total,

sobretudo em países africanos), assessoramento na

elaboração e desenvolvimento de programas de

saúde, realização de estudos diagnósticos de saúde e

formação de médicos. No balanço de 49 anos desse

trabalho, Cuba enviou 134 mil equipes médicas para

108 países da África, América, Europa, Ásia e Oriente

Médio, mantendo essa mesma colaboração em 74

países com 38 mil equipes atuantes.

Nesse âmbito, o trabalho de Cuba atendeu 14,6

milhões de pessoas no mundo, realizou 151 mil

intervenções cirúrgicas, atendeu 3,9 milhões de

crianças menores de 1 ano, realizou 95 mil partos,

aplicou vacinas em 2,9 milhões de pessoas e capacitou

em serviço 561 mil profissionais da saúde. Isso tudo,

em um país com 11 milhões de habitantes que dá valor

a cada centavo de seu PIB de 68 bilhões de dólares

(2011). Só para comparar, cabem na cidade de São

Page 42: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

42

Paulo e sua economia representa pouco menos de

uma Petrobrás (R$ 179 bilhões).

Falta-nos humildade para aprender com os cubanos,

falta-nos vergonha para reconhecer nossa ignorância

em relação a Cuba e falta-nos honestidade para

aplicar o dinheiro público corretamente e em

benefício da população. O Maranhão agradece ao

grande povo de Cuba pela prática de verdadeira

solidariedade internacional que muito contribuirá

para tirar-nos do extravio da história. Sejam bem-

vindos!

Page 43: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

43

GOLPE E CORRUPÇÃO COMO ESPECTROS

Dois espectros rondam o Brasil, nenhum deles é o

comunismo. O primeiro é o espectro do golpe, o

segundo é o espectro da corrupção. Os movimentos de

direita de 2015 se apropriaram do legado das jornadas

de junho de 2013 e expurgaram aquele potencial

mobilizador em prol de um país melhor. Ficou apenas

a vontade de derrubar um governo legitimamente

eleito e pôr no seu lugar o PMDB de Eduardo Cunha e

Renan Calheiros. Não é só a ignorância que alimenta

o golpe, mas o conjunto de interesses conservadores

incomodados em se ver com os ossos expostos pelas

operações e investigações da Polícia Federal e

Ministério Público, as quais cresceram

exponencialmente nos últimos 8 anos. A corrupção

deixou de ser o falso privilégio dos políticos, trata-se

de prática institucionalizada, pública e privada, a

transferir milhões de reais do povo e do país para o

exterior em quantidades impossíveis de serem

Page 44: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

44

consumidas em vida pelos corruptos ou seus

descendentes.

O desvio de dinheiro da Petrobrás e os esquemas da

parcela mais rica da população para não declarar o

imposto de renda, depositando suas fortunas em

contas secretas são frutos da mesma árvore: a

corrupção. O espírito de saque do colonizador está

arraigado nos membros da Casa Grande, para estes, a

Senzala que lhes serve permanecerá conformada e

submissa por suas concessões pequenas e episódicas.

Além de todo o capital e os instrumentos que

dispõem, lançam mão da mídia hegemônica para

erigir versões como verdades, enganando a Senzala ao

fazê-la crer-se Casa Grande.

O ódio irracional, a incapacidade de conviver com o

diferente, a descrença na política e nas instituições, a

ignorância histórica como emblema, a violência e o

arbítrio aclamados como solução de nossos

problemas alimentam o golpe, batizado como os mais

diversos eufemismos, desde intervenção militar

constitucional a impeachment. A memória de

Page 45: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

45

Raymundo Faoro e do Direito brasileiro ficaram

envergonhadas pelo desassombrado parecer de Ives

Gandra da Silva Martins dando forma legal ao golpe.

O financiamento privado das campanhas, a

impunidade, o foro privilegiado, a desonestidade

como prática cotidiana, a função pública como

oportunidade de se fazer ou se dar bem, o nepotismo,

a falta de transparência com os gastos públicos e a

ineficácia das políticas públicas (educação, saúde e

produção) alimentam a corrupção. A fome de dona

Nadir do município de Centro do Guilherme não

comove nem chega à militante do feminicídio que

passeou de cartaz em punho no dia 15 de março.

Houve dissociação entre fome e morte, só possível na

cabeça e na barriga de quem nunca conheceu uma e

outra.

Não mais como espectro, o Partido Comunista do

Brasil completou 93 anos, fato comemorado em

sessão solene na Assembleia Legislativa do Maranhão

com a presença de lideranças expressivas, como o

presidente nacional Renato Rabelo e todas as forças

Page 46: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

46

políticas que elegeram Flávio Dino o primeiro

governador comunista da história do Brasil. O

discurso do governador resgatando em amplo arco a

trajetória histórica do partido convergiu na menção

aos três desafios que assumiu enquanto missão de

governo e de vida, qual seja, democratizar o poder, a

riqueza e o conhecimento no Maranhão.

Sempre que a democracia foi suspensa no país, o

PCdoB era o primeiro partido a ser cassado. Por outro

lado, quando ocorriam as redemocratizações, o

PCdoB era o último a ser legalizado. Defender o

comunismo, isto é, aquilo que deve ser comum de

todos, comunhão de iguais, em um mundo absorvido

pela voragem individual e o espírito de saque não é

tarefa das mais fáceis. A busca por uma sociedade

democrática, justa e igualitária com oportunidade

para todos custou a vida de muitos ao longo desses 93

anos. Ceifados em nome da causa e fiéis a si mesmos

até a derradeira hora, essas pessoas foram lume na

borrasca moral e hipócrita das ditaduras, saúdo a

memória delas em Olga Benário e Frei Tito.

Page 47: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

47

Apesar de toda a brutalidade e barbárie que alimenta

as estradas da fome no Brasil e no mundo, mesmo no

deserto, sorvendo água do orvalho, frutificam pessoas

que perseveram na luta pela mudança, saúdo-as no

sindicalista Ivan Ferreira, na professora Maria José

do Carmo e na conselheira tutelar Ronilda

Nascimento. O trabalho deles dignifica a

humanidade, revitaliza as instituições e nos energiza

no enfrentamento do desafio de mudar o Maranhão.

Sinalizam que poder, riqueza e conhecimento

concentrados alimentam golpe e corrupção.

Democratizá-los, implica em gerar prosperidade e

punir rigorosamente os corruptos.

Page 48: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

48

A VIDA É COMBATE, JACKSON LAGO – 80

ANOS

Dia 1º de novembro de 2014, Jackson Lago faria 80

anos de vida. A comemoração dessa data se dará em

exposição fotográfica de 6 a 19 de abril de 2015, no

Centro de Criatividade Odyllo Costa, filho, com amplo

balanço de sua vida privada e pública, destacando-se

sua atuação como prefeito de São Luís e governador

do Maranhão. A exposição “A Vida é Combate” foi

organizada pelo Instituto Jackson Lago e promete

significativa visão de conjunto sobre o legado de

Jackson, como ele mesmo afirmou “o

verdadeiro legado que entrego à população do

Maranhão, é a demonstração de que é possível fazer”.

O trabalho de Jackson Lago como prefeito de São Luís

se concentrou em ações na área de saúde, educação,

habitação, infraestrutura e produção. Destaca-se a

oposição sistemática que enfrentou durante seus

mandatos de prefeito. O grupo político dominante

liderado pelo senador José Sarney e a então

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49

governadora Roseana Sarney, sua filha, atacaram-no

diariamente por intermédio de seu sistema de

comunicação. Esse método continuou durante sua

gestão de governador. Apesar do contexto de crise

econômica e restrições financeiras vividas por todos

os governos naquele momento, Jackson Lago

conseguiu implementar louvável programa de

realizações, sem qualquer apoio do Governo do

Estado e respaldado amplamente no orçamento

participativo. Essa perseverança e suas realizações o

colocam como melhor prefeito da história de São Luís,

sem dúvida.

O trabalho de Jackson Lago como governador do

Maranhão se concentrou na recuperação da

administração pública: garantindo estrutura,

recursos e pessoal; criação de órgãos inovadores como

a Secretaria da Igualdade Racial, Secretaria da Mulher

e Secretaria da Economia Solidária; recriação de

órgãos estratégicos como a Agerp (assistência técnica

rural) e o IMESC (pesquisa aplicada); na

democratização do desenvolvimento: por

intermédio dos Arranjos Produtivos Locais (APL's);

Page 50: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

50

cobrar a obrigação contratual de 1% sobre o lucro da

Cemar, estipulada na sua privatização, mas nunca

cobrada e cumprida; o FUMACOP e a coordenação

dos investimentos privados no Estado, orientando sua

distribuição por todo o território maranhense; o

Programa de Revitalização do rio Itapecuru

(PROITA); articulação de projetos de financiamento

com o Banco Mundial, a Corporação Andina de

Fomento, a JICA e o IICA; além da regionalização:

fortalecimento dos Conselhos Estaduais de Políticas

Públicas; liberação do acesso aos sistemas financeiro

e orçamentário do Estado para os Conselhos; criação

dos Conselhos Regionais de Desenvolvimento; Fórum

Participativo da Sociedade Civil com o Governo;

Comitês e Comissões com participação equitativa

Governo e Sociedade para tomada de decisões;

Conselho Estadual de Desenvolvimento Econômico e

Social, com maioria absoluta de membros da

sociedade civil; e desconcentração dos órgãos

públicos para as 32 regiões (AGED, AGERP, CREAS,

FAPEMA, UNIVIMA, UEMA, etc.).

Page 51: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

51

A nova regionalização foi o eixo norteador dessa

estratégia. Implicaria na transferência de poder real

sobre parcelas do orçamento do Estado às regiões, a

ser gerido por Conselhos Regionais de

Desenvolvimento e Escritórios Regionais de

Desenvolvimento. A implementação dessa estratégia

foi desafiadora e sofreu resistências internas e

externas. Quando concluída propiciaria o surgimento

de novos atores políticos regionais, a horizontalidade

na definição de prioridades das políticas públicas

setoriais e a institucionalização de um novo modelo de

governança.

Jackson pertencia a uma geração de homens públicos

que praticamente deixou de existir. Leonel Brizola,

Darcy Ribeiro, Abdias do Nascimento, Neiva Moreira,

João Francisco dos Santos, Padre Victor Asselin,

todos eles passaram. Com o tempo e frente ao atual

quadro de políticos, mais crescem suas estaturas, a

fazer-nos confirmar o poeta Álvares de Azevedo e

considerá-los águias nunca vencidas. Apreciar sua

trajetória nos estimula a comparar e exigir novas

posturas e práticas das atuais gerações que ora

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52

assumem enormes desafios para a mudança do

Maranhão e do Brasil. Os primeiros movimentos dos

últimos 3 meses são promissores e exemplares de

novo momento na vida pública estadual.

Registro por fim a iniciativa do Secretário de Ciência,

Tecnologia e Inovação do governo Flávio Dino,

deputado Bira do Pindaré, de retomar o projeto de

Oscar Niemeyer, complementando a Praça Maria

Aragão com um Museu para a ciência, a cultura e os

saberes, incluindo uma praça dos povos para

homenagear os estadistas da humanidade. Esse

projeto foi pago pelo Governo Jackson e abandonado

pelo governo anterior. Essa iniciativa faz justiça a dois

homens públicos da história brasileira.

Todos estão convidados a visitar a exposição e tirarem

suas próprias conclusões. Parabéns, Clay Lago, pela

exposição e por não deixar cair o ramo da oliveira;

abraço-a afetivamente por mais essa conquista, sua e

do Instituto Jackson Lago. Avante!

Page 53: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

53

100 DIAS DO GOVERNO FLÁVIO DINO NO

MARANHÃO

O Governo Flávio Dino completa 100 dias hoje. É

necessário e fundamental fazermos um breve balanço

das ações realizadas e das perspectivas abertas para

os próximos anos, sobretudo quando as vozes do

antigo regime insistem no não reconhecimento das

mudanças e inovações, bem como, insistem no

achincalhamento do feito, nivelando os outros por si

mesmos. As cinco décadas de domínio dos Sarney não

serão resolvidas em 100 dias ou 4 anos, mas todo o

esforço e a energia para realizar essa mudança estão

sendo aplicados com vigor e dedicação desde o dia 1º

de janeiro de 2015.

A herança negativa recebida não é das mais tranquilas

de se administrar. Ela é mais profunda e poderosa que

as tecnicalidades financeiras ou os passivos contábeis.

Trata-se da articulação e direcionamento de todo o

Estado, desde os cargos até os contratos de obras e

prestação de serviços, para o enriquecimento de

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54

enquistada elite local e o vislumbre de ignorância,

conivência ou medo das maiorias. Os agentes dessa

elite, a cada dia que passa, vão sendo extraídos da

confortável zona de privilégios e exclusivismos.

Reagem pelos vendilhões das mídias para quem o

valor nunca foi conceito filosófico com implicações

para agir no mundo, mas sim dinheiro suficiente para

comprar-lhes.

Todo balanço pondera não só as ações realizadas,

como também os novos sentidos atribuídos ao Estado

enquanto administração pública. Entre esses sentidos

está o cumprimento da lei e o investimento prioritário

dos recursos públicos na melhoria dos indicadores

sociais do Maranhão, com absoluta transparência nas

ações e gastos, e foco na garantia de condições dignas

de vida aos mais pobres e excluídos. Elevar o patamar

de existência de cada maranhense é o desafio síntese

que move e inspira o governo. Cumprir rigorosamente

a lei ante o arbítrio dos antigos senhores de baraço e

cutelo, representa grande avanço, estes são a “gente

surda e endurecida” cantada por Camões, jamais

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55

admitirão os avanços, embrutecidos na marcha ré da

própria vileza.

Há uma característica diferenciada, pela primeira vez

em muitos anos e governos, temos um governador que

se projeta nacionalmente pela sua ação e estatura.

Não é uma projeção baseada em trocas de cargos ou

no jogo de bastidores das múmias e sabujos do poder,

mas assentada em capital simbólico de conhecimento

e honradez de vida pública, raríssimos na conjuntura

atual. A defesa do Estado Democrático, contra a onda

conservadora e de direita, a luta pela Reforma Política

e pela regulamentação do Imposto sobre Grandes

Fortunas foram bandeiras empunhadas nessa

projeção.

As principais inovações em termos de políticas

públicas do Governo Flávio Dino foram os programas

Mais IDH (priorização de ações nos 30 municípios de

menor IDH), CNH Jovem (concessão de carteiras de

motoristas gratuitamente), Escola Digna

(substituição das escolas de taipa por escolas dignas),

Mais Bolsa Família Escola (pagamento de bolsa para

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56

compra de material escolar) e o Maranhão

Transparente (lei de acesso à informação, força

estadual de transparência, novo portal da

transparência e posse de novos auditores). Sem

dúvida, o programa Maranhão Transparente é o que

mais incomoda àqueles e àquelas liderados pelo

manobrista de Curupu. Estes são incapazes de

suportar a luz que republicaniza a coisa pública, pois

ficam mais confortáveis na penumbra do conchavo e

da corrupção como no quadro das bruxas de Goya.

Cito duas ações, a meu ver, as mais simbólicas da

mudança, a substituição democrática dos nomes de

escola que homenageavam os ditadores de 1964 e a

realização de eleições para diretores. A Escola como

instituição de reprodução e produção da humanidade

sempre foi vilipendiada e instrumentada pelos grupos

no poder. A republicanização e a democratização da

escola dispõem as bases estratégicas para a

emergência de outra cultura política no Maranhão.

Dante Alighieri na Divina Comédia escreveu que um

fio de ferro prendia as pálpebras daqueles que

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57

expiavam o pecado da inveja. Esse sentimento toma

conta daqueles que desejam todos os bens do mundo,

mas sofrem com a possibilidade da partilha. A

caridade no sentido de doar-se pelo bem comum é a

única expiação da inveja, fora isso, somente choro e

ranger de dentes. Tenho perspectiva e convicção que

a caridade vencerá e elevaremos nossa realidade para

outros patamares sustentados em justiça, dignidade,

democracia, igualdade e fraternidade.

Page 58: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

58

VIETNÃ E A COOPERAÇÃO INTERNACIONAL

NO MARANHÃO

A retomada da cooperação internacional no

Maranhão nos permite conhecer experiências

exitosas e aprender formas de superação de

problemas similares vivenciados em outras partes do

mundo. Exemplo disso é o Vietnã. Durante uma

semana, o Embaixador Nguyen Van Kien, a

embaixatriz Luong Le Hien, o ministro comercial

Pham Ba Uong e o secretário Le Tung Son

conhecerem as potencialidades econômicas do

Maranhão, os principais pontos turísticos,

dialogaram com os secretários do governo, políticos e

empresários, visitaram o Porto do Itaqui e a

Universidade Estadual do Maranhão (Uema).

O Vietnã está localizado no Sudeste Asiático, fazendo

fronteira com Laos, Camboja e China. Sua área de 331

mil km2 (pouco menor que a maranhense) abriga 90

milhões de pessoas. O produto interno bruto é de US$

170 bilhões de dólares, com renda per capita de US$

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59

1.896 dólares. A expectativa de vida é de 75,4 anos,

com 93,2% da população alfabetizada e desemprego

de 4,5%. A economia mesmo em tempos de crise,

mantem crescimento médio anual de 5%. Números

invejáveis e promissores que evidenciam o trabalho

da Revolução Socialista de 1945 que venceu a

dominação colonial da França, a invasão do Japão e a

guerra contra os Estados Unidos em meio a poucos

recursos, grandes perdas humanas e o espírito

obstinado de resistência.

O país foi reunificado em 1976 e somente em 1994, os

Estados Unidos suspenderam o embargo econômico e

comercial, similar ao que Cuba enfrenta até hoje.

Apesar da devastação da guerra, esforço inteligente e

concentrado priorizando educação, ciência e

tecnologia tornaram o país um dos maiores

produtores de arroz, café, castanha de caju, pimenta e

pescado, exportando para o mundo todo e atualmente

em acelerado processo de industrialização. Os

revolucionários chegaram ao governo em 1945, mas

só em 1976 alcançaram o poder.

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60

O que mais chamou a atenção da comitiva vietnamita

foi a fartura de terras, a extensa costa marítima, as

águas doces e as boas condições climáticas para a

agricultura e pesca. Por outro lado e em

contraposição, uma maioria de maranhenses

empobrecida e dependente dos programas de

transferência de renda. Eis o paradoxo do Maranhão

ainda por ser decifrado, o Maranhão do interior

sinalizado por Raimundo Palhano. As similaridades

naturais identificadas pelo Embaixador estimularam

o diálogo e a identificação de oportunidades. Não é

concebível que tal potencial disponível em um país

sem guerras fique por se contemplar, sem maiores

consequências positivas e de prosperidade para as

maiorias.

O Vietnã tem muito a nos ensinar. Trabalhar com

pouco, mas de forma honesta e intensiva; investir em

ciência e tecnologia para elevação da produtividade

agrícola; disponibilizar permanentemente assistência

técnico-científica das Universidades aos homens e

mulheres do campo; e estimular a geração de renda

nas comunidades rurais; são algumas dessas lições.

Page 61: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

61

Em face disso, a cooperação internacional com o

Maranhão priorizará a agricultura, a pesca, o

intercâmbio linguístico e comercial. Nos próximos

meses, o estado será irmanado a uma província do

Vietnã e a cidade de São Luís a uma cidade vietnamita.

Esses são os passos iniciais para a materialização de

acordos e trocas mutuamente benéficas.

Ho Chi Minh (1890-1969), líder e pai do Vietnã

independente, afirmava sempre que a principal força

está no povo. Entre as doze recomendações deixadas

como responsabilidade fundamental do governo,

estão: nunca faltar com a palavra, não fazer ou dizer

qualquer coisa que sugira desrespeitar o povo, ensinar

a população a escrita nacional e a higiene básica,

mostrar-se e ser correto, diligente e disciplinado. Tais

recomendações sempre estiveram ausentes ou nunca

foram seguidas em terras maranhotas, praticá-las tem

sido a luta diária daqueles e daquelas comprometidos

com a mudança na vida das pessoas.

A batalha do Maranhão está nas suas primícias,

chegou-se ao governo e muito há por fazer. Ho Chi

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62

Minh, mais uma vez, mostra o caminho, ao registrar

que “apenas quando tem uma raiz firme pode uma

árvore viver muito e a vitória é construída tendo as

pessoas como seu alicerce”. Perseveramos

obstinadamente nesse caminho.

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63

VONTADE DE DESENVOLVIMENTO

A tremenda crise ética que vem corroendo ao longo

dos anos a imagem das instituições republicanas do

Brasil e alimenta negativamente o imaginário do povo

em relação à política e aos políticos exige mudança

radical na postura daqueles e daquelas que exercem

cargo público. Primeiro, há que se ter consciência do

caráter provisório e circunstancial do estar

colaborando em um governo. Segundo, há que se

defender e trabalhar pelo interesse público em todas

as ações, sobretudo e prioritariamente na

materialização do programa de governo. Terceiro, há

que se auxiliar o governante na tomada de decisões

sem medo do divergir fraterno, respeitando sempre a

coesão programática. Quarto, a exemplaridade na

condução da coisa pública é exigência inegociável

para formar uma nova cultura política.

Esses elementos são primordiais, mas insuficientes

para enfrentar a crise ética. O fundamental é sinalizar

outros caminhos e apresentar alternativas. O desafio

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64

de recuperar a confiança do povo nos governantes e

no governo passa pela formulação de um projeto de

futuro, projeto planejado e coletivamente construído,

fecundo de hojes e amanhãs. Tarefa que também

enfrenta o descrédito em relação ao passado recente,

sobretudo pela ausência de prestação de contas do

anteriormente planejado e pactuado. O espírito da

verdade está no feedback, diria o professor Tetsuo

Tsuji. A verdade nasce desses encontros.

Recentemente no Maranhão, o ministro Mangabeira

Unger, reconhecido intelectual e professor da

Harvard University, defendeu a ideia de um choque

de ciência e tecnologia no Nordeste elevando o

desenvolvimento regional a projeto de Estado. O mais

relevante dessa ideia é o chamamento à necessidade

de um projeto nacional. Até o presente momento, as

forças políticas e as elites brasileiras não conseguiram

ultrapassar o infantilismo contido na negação daquilo

que está posto. Não há sinalização desse projeto

nacional, existem iniciativas acumuladas ou

dispersas, mas nada relativo ao que somos e ao que

queremos ser.

Page 65: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

65

Um projeto nacional não é um amontoado de ações,

mas, sobretudo a proposição de sentido. Penso que

dois eixos articuladores desse projeto passam pelo

trabalho e pela ciência. Realizar a migração da oferta

intensiva de políticas sociais de transferência de

renda para a oferta intensiva de políticas sociais de

geração de renda é estratégico. O trabalho enquanto

construção de si, com o outro para transformar o

mundo, não tem feito parte do discurso das políticas

sociais. Investir em ciência robustecendo a qualidade

da formação dos brasileiros, a atração e a criação de

empresas de tecnologia, as energias limpas e

renováveis, a pesquisa aplicada na potencialização

das cadeias e arranjos produtivos locais e o fomento a

economia do conhecimento. A conformação a uma

vocação agrária não pode ser passivamente aceita

como destino-manifesto e internalizada no

imaginário do país.

Existe uma vontade de desenvolvimento difusa nas

manifestações e mobilizações de esquerda e de

direita, ainda não traduzida. De um lado, exaltam

cegamente os ganhos em termos de inclusão social

Page 66: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

66

sem reconhecer os problemas advindos da corrupção,

do assistencialismo e da ineficiência dos serviços

públicos. De outro, atacam insanamente a corrupção

sem reconhecer os ganhos em termos de inclusão

social e os problemas advindos do sistema político e

da complexidade de mudanças profundas em

ambientes democráticos. Ó glória de mandar, ó vã

cobiça, diria Camões. Não podemos perseverar na

encruzilhada, sair dela demanda um projeto nacional

que será fruto de inteligência e coletividade,

maturidade e juventude, tempo e circunstância.

Embalados pela esperança, andamos sem destino

pelo jardim dos mil caminhos. A andança leva a

qualquer lugar e a nenhum lugar. A pactuação política

desse caminho exige generosidade e compromisso de

nossas lideranças que ora se engalfinham na disputa

por quem manda mais, sem que esse mandar sirva ao

povo ou a um projeto por ele aprovado. Entendo que

a qualidade da liderança política depõe a favor ou

contra o futuro do Brasil. Nesse sentido, nos próximos

anos, emergirão novos quadros sintonizados com as

demandas pretéritas e atuais, com capacidades e

Page 67: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

67

práticas para costurar um projeto nacional. Não tenho

dúvidas quanto a isso. O parto da(s) alternativa(s)

ocorrerá nas dores dessa crise ética e da rediviva crise

econômica. Desgastante, lento, mas progressivo e

inexorável como a esperança.

Page 68: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

68

A FESTA DO BODE

Um consultor japonês fazendo visitas técnicas pelo

Maranhão elaborou um relatório com suas

impressões sobre o quadro local, entre os achados,

identificou que possuímos muitos esqueletos

abandonados em todo nosso território. Os esqueletos

eram as obras iniciadas e nunca concluídas.

Poderíamos acrescentar àquele relatório, a soberba

dos políticos envolvidos em corrupção. Por mais

inacreditável que possa parecer sobrepõem-se às

acusações e processos, apresentando-se ao público

como se nada tivesse ocorrido. Sustentam novas

candidaturas, pleiteiam cargos e articulam grupos

para as eleições ante a indiferença coletiva e a

incredulidade dos adversários.

Não é de hoje que a qualidade da liderança política no

Brasil anda ausente. Há uma crise de liderança, cujo

vácuo foi ocupado pelos que já estavam. Andrajosos

que se apropriaram dos espaços para usufruto

próprio. Raymundo Faoro com grande capacidade

Page 69: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

69

analítica previu no início dos anos 1990 que o país

seria governado por uma espécie de Estado Novo do

PMDB. Faoro estava certo, nos últimos 25 anos, os

quadros conservadores oriundos desse partido,

direcionam o Poder Legislativo, capturam o Poder

Judiciário e manobram o Poder Executivo. As demais

forças políticas na miríade de partidos existentes

nunca conseguiram formar nova maioria ou ameaçar

de longe esse domínio patrimonialista e

antirrepublicano.

A desfaçatez não tem limites, sobretudo quando a

soberba vem das barrigas de fim do mundo, expressão

do deputado Domingos Dutra que bem caracteriza a

oligarquia, cúpida por cargos, dinheiro e poder.

Cupidez gera insaciedade e desperdício. Enquanto

não fizermos obras de qualidade com os recursos

públicos muitos serão os esqueletos espalhados ou

sequer erguidos, figurando como promessa

desfraldada. Um exemplo típico. Um convênio

assinado no Governo Jackson Lago, com recursos

federais depositados em conta, permaneceu de 2008

a 2014 sem aplicação, seis anos rendendo no banco,

Page 70: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

70

durante os Governos de Roseana Sarney. O objetivo

era construir Centros de Capacitação Tecnológica em

Balsas, Porto Franco e Rosário. Inacreditavelmente

em seis anos não fizeram os centros e os recursos

foram devolvidos ao Governo Federal.

Não podemos compactuar com as práticas que

condenamos. O uso do Estado como instrumento de

enriquecimento ilícito com manutenção de contratos

onerosos e suspeitos, realização de pagamentos sem

base contratual, ocupação dos cargos por parentelas

ou folhas de pessoal com funcionários fantasmas não

rompe com o passado. Erro de boa-fé é

compreensível. Erro de repetição é inaceitável. A

mudança implica na fundamental auditagem daquilo

que foi e no abandono por completo dessas práticas.

O passado foi há tão pouco tempo, ainda reflete na

tomada de decisões estratégicas ou emperra as

mesmas.

A época dos arquipélagos de poder precisa ser

superada. A nova maioria governante tem como dever

fundamental republicanizar a coisa pública, cumprir

Page 71: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

71

a lei e resolver os problemas recorrentes das pessoas,

melhorando de fato suas condições de vida, elevando-

as da subsistência para a existência. Desafio de alto

nível que não comporta projetos pessoais, mas

perseverança no cumprimento do programa de

governo, mais coletividade, menos individualismo.

Tomando por referência “A festa do bode”, de Vargas

Llosa, encontraremos o ditador Trujillo da República

Dominicana e pessoalmente preocupado com o

vazamento de esgoto na Base Aérea do país. Por outro

lado, as bocas dos tubarões encontravam seus

adversários, opositores e desafetos sem que isso

representasse qualquer crise de consciência. Na

mesma linha, ele e a família serem proprietários das

principais empresas do país não colocavam dúvidas

na sua defesa da economia liberal. Aquele que não

tolerava desvios e afirmava nunca ter enriquecido

com o dinheiro público, patrocinava abertamente a

apropriação privada do Estado e o uso da violência

como modelo de gestão.

Page 72: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

72

É inacreditável como até mesmo aqueles e aquelas

que não têm envolvimento com o passivo histórico no

Maranhão repetem o discurso dos envolvidos.

Devemos esquecer os esqueletos, engolir a soberba.

Começar tudo como novo. Folhear os processos, tapar

o nariz e olhar para outro lado. Retirar o estado do

extravio demanda acerto de contas com esse passivo.

A festa do bode acabou.

Page 73: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

73

O BRASIL E O COMPLEXO DE VIRA-LATAS

Nelson Rodrigues ao cunhar o termo “complexo de

vira-latas”, em uma de suas crônicas, quis caracterizar

a inferioridade do brasileiro em relação ao resto do

mundo. Temos uma grande dificuldade de reconhecer

nossa potencialidade, nossas fortalezas. Em geral nos

deixamos perder no curto prazo, colhidos pela

violência e corrupção. Por um lado, o pessimismo

mais obtuso, de outro, a esperança mais frenética,

diria Nelson Rodrigues. Penso que o pessimismo tem

dominado. A esperança está no banco de reservas.

O “complexo de vira-latas” foi relembrado pelo

sociólogo Domenico de Masi, em recente entrevista na

Folha de São Paulo. Segundo ele, ao conversar com

intelectuais brasileiros sobre o Brasil em 2025, a

maioria apresentou uma visão pessimista quanto ao

futuro. Ao serem confrontados com os dados

econômicos e sociais das últimas décadas e a posição

ocupada pelo país em relação à Itália e a Inglaterra,

por exemplo, os intelectuais reviam suas opiniões.

Page 74: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

74

Aqui, conclui Domenico de Mais, os intelectuais se

enxergam como Terceiro Mundo, no sentido mesmo

de inferioridade em relação ao Primeiro Mundo.

Inobstante sabermos que os problemas brasileiros são

históricos e mais amplos, sendo que muitos ocorrem

não só aqui, mas em inúmeros outros países de forma

agravada, Nelson Rodrigues dizia que nosso problema

é de fé em si mesmo. Apesar da conjuntura política

tortuosa e retrógrada, o Brasil e os brasileiros são

maiores que a elite dirigente ou a direita golpista. É

impensável que 200 milhões de pessoas ficarão

sentados na calçada com a boca escancarada cheia de

dentes esperando a morte. Temos capacidade e fôlego

para consolidar nossa posição global e avançar

naquilo que estamos mais atrasados, sobretudo no

campo da educação e da ciência.

Precisamos do realismo esperançoso de Ariano

Suassuna para não sucumbir ao pessimismo mais

obtuso. Todos os anos em que a avaliação do PISA,

aplicada pela Organização para a Cooperação e

Desenvolvimento Econômico (OCDE), é divulgada,

Page 75: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

75

temos as mesmas discussões sobre a qualidade da

educação. O PISA foca o aprendizado de leitura,

ciências e matemática. Ocupam as primeiras posições,

China, Cingapura, Coréia do Sul e Japão. Quando

buscamos identificar explicações para isso,

novamente, destacam-se os investimentos elevados

em educação, pesquisa e desenvolvimento desses

países, o currículo mais racional, o intercâmbio

internacional de professores e estudantes, a existência

de grupos de estudo e pesquisa no âmbito das redes

escolares, salários mais elevados e condições de

trabalho para os professores.

O debate no Brasil se reduz a elevação do

investimento, não se toca no currículo ou na

organização escolar. O documento Pátria Educadora,

elaborado por Mangabeira Unger foi atacado pela

sociedade civil organizada, sem qualquer discussão do

mérito da proposta. Continuamos com uma visão

equivocada: ensinar tudo em 3 anos de ensino médio

de forma generalista e com baixíssima eficácia. Os

estudantes que conseguem concluir o ensino médio

chegam ao ensino superior com enormes lacunas em

Page 76: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

76

termos de leitura e raciocínio lógico-matemático,

obrigando as instituições de ensino a suplementar a

formação básica.

O Brasil é extremamente injusto e desigual, mas pode

e precisa avançar. O Maranhão ainda está corrigindo

problemas de infraestrutura de suas escolas. O

Programa “Escola Digna” do atual governo tem esse

objetivo em relação às escolas dos municípios, em

geral, a rede mais precarizada. A rede do Instituto

Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia (IEMA)

objetiva suprir uma infraestrutura atualmente

inexistente com a construção de unidades para a

oferta de cursos técnicos e tecnológicos. Em paralelo,

construiremos um novo currículo para o ensino médio

que permitirá à nova rede do IEMA ensinar com

qualidade e formar com efetividade. Estamos

plantando no curto prazo para colher nas próximas

décadas. O Maranhão será um Brasil que dá certo.

Page 77: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

77

MARCOS INOVADORES PARA O DESENVOLVIMENTO MARANHENSE

O ICMS é o principal imposto sob a responsabilidade

dos Estados e fonte maior de sua arrecadação. Por

conseguinte é a ferramenta mais utilizada para

estimular a economia, sobretudo por intermédio dos

incentivos fiscais. Os incentivos são utilizados para

atrair empresas e investimentos ou apoiar projetos

culturais e esportivos. A forma tradicional de

utilização do ICMS precisa ser acompanhada de

medidas inovadoras e indutoras que complementem

e amplifiquem a eficácia do instrumento.

A Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e

Inovação concluiu a elaboração de três propostas que

buscam materializar inovações no campo dos

incentivos fiscais. A primeira é a minuta da Lei de

Inovação. A segunda é a minuta da Lei “Milton

Santos” de Incentivo à Ciência, Tecnologia e Inovação.

A terceira que abordarei com mais detalhes é o ICMS

Mais IDH.

Page 78: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

78

A Lei de Inovação passou por consulta pública junto

ao ecossistema de inovação, o qual é formado por

empresas, empreendedores, instituições educacionais

e núcleos de inovação tecnológica. Essa Lei cria, com

11 anos de atraso, a simular estadual da Lei Federal

Nº 10.973, de 2 de dezembro de 2004. Regulamenta a

inovação tecnológica e seu estímulo no âmbito das

instituições científicas e tecnológicas do Maranhão e

das empresas, bem como, por parte dos

pesquisadores públicos, inventores independentes.

Além de estabelecer regime especial de incentivos e

contratações, prevê a criação de fundo específico para

apoio ao setor.

A Lei “Milton Santos” de Incentivo a CT&I, cria uma

legislação similar a já aplicada no âmbito da cultura e

do esporte. Milton Santos foi o pesquisador brasileiro

com o maior reconhecimento internacional até hoje,

premiado com o “Vautrin Lud”, Nobel da Geografia.

Estudou a globalização da economia e propôs

inúmeras saídas para a população pobre não ser

vitimado pelo jogo da exclusão global.

Page 79: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

79

A proposta do ICMS Mais IDH converge com o Plano

Mais IDH e a prioridade em relação aos municípios

mais pobres. Pela atual regra, de toda a arrecadação

do ICMS, 25% é transferido aos municípios.

Conforme Lei Nº 5.599, de 24 de dezembro de 1992,

os critérios atuais são: 15%, linearmente, em quotas

iguais para todos os Municípios; 5% na proporção da

população do Município em relação a do Estado; e 5%

na proporção da área territorial do Município

relativamente a do Estado. O atual critério é

altamente concentrador, conhecido pela regra Robin

Hood ao avesso, segue a lógica de quanto maior o

município em território e população, maior o repasse

do ICMS.

Adotando um modelo de gestão que valoriza os

resultados obtidos em termos de políticas públicas

que melhorem o IDHM, propõem-se os seguintes

critérios: 18% em função dos resultados obtidos na

educação (9% baseado na avaliação de alfabetização

dos alunos da 2º série do Ensino Fundamental; 6%

baseado no índice de qualidade educacional dos

alunos da 5ª série do Ensino Fundamental); 3% em

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80

função do pacto entre Estado e Municípios no

desenvolvimento da Educação Profissional; 5% em

função dos resultados obtidos com a redução da

mortalidade infantil e o combate a endemias; e 2% em

função dos resultados obtidos com a coleta e

tratamento de lixo, criação de áreas de proteção

ambiental, abastecimento de água e esgotamento

sanitário.

Essa modificação complementará o Plano Mais IDH

já lançado pelo Governo do Estado, pois criará

incentivos aos municípios para a implementação de

melhorias nas áreas de educação, saúde e meio

ambiente; contribuirá para elevação dos indicadores

que compõem o IDHM dos municípios; e afetará

positivamente a qualidade de vida dos maranhenses.

Experiências similares foram adotadas, com êxito, por

outros estados, a exemplo de Paraná (ICMS

Ecológico), Pernambuco (ICMS Socioambiental) e

Minas Gerais (ICMS Ecológico). Estudos sobre esse

modelo, sinalizam para a eficácia e efetividade das

políticas públicas municipais geradas. Quanto mais os

Municípios melhoram no campo da educação, saúde

Page 81: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

81

e meio ambiente, mais recebem recursos do Estado,

reconhecendo seus esforços e destacando o mérito dos

avanços obtidos.

O conjunto de propostas poderá, no médio e longo

prazo, reverter o quadro atual de pobreza e atraso

científico em que nos encontramos. O Maranhão não

é um carro em que se engatam marchas, mas sim um

coletivo por construir nova coesão social com

celeridade, legalidade e respeito a todos. Vencer os

maus agouros do Velho do Restelo demanda inovação

e ousadia dos navegantes.

Page 82: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

82

SEGURANÇA PÚBLICA PARA ALÉM DA

BALA

Muitos no Maranhão não deram consequência à

diretriz do novo governo em relação ao cumprimento

da lei. Interesses poderosos começam a se preocupar

com os desvios, as bandidagens, a corrupção ampla,

geral e irrestrita que implantaram nas últimas

décadas. As operações da Polícia que prenderam

prefeitos envolvidos com agiotagem e empresários

que desviaram milhões da finada Univima sinalizam

para a materialidade dessa diretriz. Não é a toa que

esses interesses se ajuntam aos intelectuais dos

direitos humanos para vilanizar as polícias e a

Secretaria de Segurança Pública. Olhos sem luz.

Não há nada desconexo nestes tempos de hipocrisia

em rede. As investigações em andamento revelarão

muito mais. As mesmas hienas que ululam contra a

polícia e os policiais, a secretaria ou o governo, no seu

recôndito ser e nas quatro paredes de seus castelos de

areia, tremem por antecipação. É necessária muita

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83

ignorância para creditar essas vozes que por

conveniência enxergam discursos no lugar de ações

em andamento.

Os olhos sem luz da província sempre pintam o

cenário como turvo, não vislumbram nada no

horizonte. A ampliação do efetivo policial é uma

medida de impacto no médio prazo para reduzir o

déficit, mas não é única. A política de pau e pedra, bala

por bala está superada. A política de segurança cidadã

desenvolvida pelo Programa das Nações Unidas para

o Desenvolvimento (PNUD) trabalha com a

causalidade múltipla da violência. Em face disso,

propõe conjunto de políticas públicas para

enfrentamento dessas causas. Não basta reprimir,

fundamental prevenir, reconstruir a confiança nas

polícias e a coesão social com a oferta de serviços

públicos de qualidade.

Se nos bairros mais periféricos existe ambiência para

a violência, o Estado há que se fazer presente com

creche, escola, biblioteca, internet livre, posto de

saúde, praças poliesportivas, centros culturais, ruas

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84

calçadas, abastecimento de água, coleta de lixo,

esgotamento sanitário, iluminação pública,

transporte de qualidade, qualificação profissional

para o empreendedorismo e a geração de

oportunidades de emprego e renda. Essa presença

sim. O pontapé que derruba a porta e a mão acintosa

que procura arma no corpo destrói a confiança.

É tolice pensar que esta ou aquela política por ter sido

proposta ou implementada em governos anteriores

não tem mais validade. É preciso ir além da

discordância ou rivalidade pessoal. As políticas

públicas precisam ser experimentadas e avaliadas

para se formar algum conceito quanto a sua eficácia.

A política de segurança cidadã não pôde germinar no

Maranhão, não criou raízes, portanto, enquanto

metodologia demanda ser reanalisada.

Nesse sentido, participação cidadã na governança da

segurança pública, integração das polícias, uso

intensivo de tecnologias e sistemas inteligentes,

articulação com a sociedade civil organizada e

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85

movimentos sociais, inserção ativa e democrática nas

comunidades são caminhos a serem trilhados.

O Mapa da Violência 2014 aponta duas grandes

causas das mortes no Brasil: homicídios e acidentes

de transportes. Ao olhar do curto prazo precisamos

contrapor o olhar no longo prazo. Não basta o dedo

sujo do Velho do Restelo a se escandalizar com o

episódico. Os dados dos últimos dez anos (2002-

2012) apontam que a taxa de homicídios no

Maranhão cresceu 162,4%, perdendo apenas para

Bahia (221,6%) e Rio Grande do Norte (229,1%) em

todo o país. Evoluímos negativamente de 9,9 para 26

mortes por 100 mil habitantes. A maior queda na taxa

de homicídios ocorreu em São Paulo, Rio de Janeiro e

Pernambuco, lugares em que a percepção de violência

é maior por força da cobertura midiática nacional.

Observa-se com as medidas iniciais adotadas, certa

redução percentual, contudo, o desafio é enorme.

Ninguém é insensível à morte, sobretudo quem tem a

responsabilidade de garantir a segurança pública. O

dever de casa é aprender com quem avançou. Firmar

Page 86: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

86

cooperação técnica e reiniciar a experiência de outra

política de segurança pública com cidadania. Londres

e Nova York, em que pesem casos de excesso com

repercussão internacional, são modelos de efetividade

sem recorrência significativa ao uso da violência

armada. Portugal e Colômbia (Medelín) têm casos de

sucesso no combate às drogas. Esse saber é

camoniano, de experiência feita. Há que buscá-lo e

praticar.

Page 87: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

87

A REGULAÇÃO ECONÔMICA DAS MÍDIAS

As mídias no Maranhão pertencem a famílias locais

que exercem a política profissional. O Grupo Difusora

pertence aos Lobão, o Grupo Mirante pertence aos

Sarney e por aí vai. Essa informação parece óbvio,

mas precisa ser permanentemente lembrada. Nada,

nada mesmo, sai ou sairá nos jornais, rádios, tv, sites

e blogs vinculados a esses grupo que não seja do

estrito interesse dos seus donos. Não há liberdade de

imprensa nesses veículos, existe a verdade dos donos.

Não há credibilidade da informação, existe a

falsificação dos donos. Creio que os profissionais que

aí trabalham, mesmo contaminados pelas paixões

políticas dos donos, devem ser respeitados. Isso

significa que a informação que levam deve ser

questionada por todos os meios legais e tecnológicos

disponíveis para que o público tenha acesso aos fatos

de forma mais fidedigna.

O italiano Antonio Gramsci (1891-1937) analisando os

jornais burgueses afirmou que “aquela folha de quatro

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88

ou seis páginas que todas as manhãs ou todas as

tardes vai injetar no espírito do leitor os modos de

sentir e de julgar os fatos da atualidade política que

mais convém aos produtores e vendedores de papel

impresso”. Assistimos sem perplexidade alguma a

desconstrução dos fatos relativos ao atual governo em

injeções diárias. Em outras palavras Gramsci

desnudou uma situação que é pujante e presente, sem

mencionar, quando o “jornal burguês ou cala, ou

deturpa, ou falsifica para enganar, iludir e manter na

ignorância o público trabalhador”. Silêncios,

deturpações, falsificações, enganos, ilusões e

ignorâncias tem sido o cardápio cotidiano dos meios

de comunicação em crise de abstinência de recursos

públicos que antes preenchiam suas narinas.

É fundamental entender que esse poder de pauta

impõe debates infecundos. Nunca se apontam as

soluções, apenas ressaltam-se os problemas em cores

e tons ampliados. O Maranhão tem uma agenda de

ações a executar. Agenda voltada para o

enfrentamento de problemas cruciais, como a

exclusão social, os péssimos indicadores, a

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89

precariedade econômica, as carências de

infraestrutura, o atraso educacional e científico, os

escassos serviços públicos essenciais. Essa é uma

agenda que vale a mobilização popular buscando

criticar e aperfeiçoar o programa de governo em

andamento.

O agravamento da situação climática do mundo, o

acirramento extremista no Oriente Médio, a criação

do Banco dos BRICS, a reaproximação entre Cuba e

Estados Unidos, as sanções econômicas contra a

Rússia, os avanços tecnológicos da China, o fato de

termos brasileiros chefiando organismos relevantes

como a OMC e a FAO, tudo isso é obstaculizado,

omitido ou escamoteado. A vida familiar da realeza

britânica invadindo nossas casas com boletins sobre

casamento, gravidez, nascimento, sexo e batismo

soma-se à pequenez do presidente da Câmara dos

Deputados, o retrocesso de uma reforma política

autoritária e inconstitucional, a pauta bíblica-

medieval dos evangélicos no Congresso Nacional, a

troca de cargos no Poder Executivo e as negociatas do

incansável José Sarney para manter cargos federais.

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90

Essas são as pautas impostas por uma mídia que se

move conforme os interesses dos donos e se distancia

completamente do sentido público dessas concessões.

A América Latina praticamente inexiste na mídia

brasileira, como se nenhum fato relevante ocorresse

nas dezenas de países do continente. Exemplifico com

uma notícia do Chile. A Fundação Pablo Neruda

lançou nota em que reivindica o sepultamento do

corpo do poeta. Ele foi exumado dia 8 de abril de 2013

para subsidiar investigações quanto à sua morte, com

a suspeita de ter sido assassinado pela ditadura de

Augusto Pinochet. Já se vão mais de dois anos sem

que as investigações sejam concluídas e sem que a

justiça se pronuncie. A nota cita trecho das

Disposições do livro Canto Geral onde o poeta pede

“Companheiros, enterrem-me em Isla Negra, frente

ao mar que conheço”.

A regulação econômica das mídias precisa avançar no

Congresso Nacional para que os fatos não fiquem

sepultados ao sabor dos interesses familiares que

controlam os meios de comunicação do Brasil e do

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91

Maranhão. Não se trata de limitar ou regular a

liberdade de imprensa, mas de coibir a prática de

monopólio da verdade, hoje quase naturalizado. Que

a lenta justiça chilena, irmã em velocidade da

brasileira, possa devolver o poeta ao descanso!

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92

O QUE FAZEM OS EX-PRESIDENTES?

Entendo que a Presidência de um país é a mais alta

magistratura pública que um político pode almejar em

sua história de vida. As altas responsabilidades e a

gravidade das decisões tomadas geram um desgaste

físico e mental significativo. Os anos de Presidência

são mais pesados que todos os anos precedentes. A

usual comparação entre a foto da posse e a foto do

final de mandato registra em cores brancas o peso do

tempo e da história. Há que se respeitar o saber

originado da experiência feita e a sabedoria alcançada

por alguns que por ali passaram.

Em geral, compreendendo que essa colaboração

marca sua biografia, os ex-presidentes resolvem se

dedicar a política no sentido amplo, sem partidos ou

mandatos. Assumem causas, viajam o mundo,

levantam bandeias internacionais, colaboram com os

organismos multilaterais, incentivam e participam do

debate dos grandes temas. Furtam-se do jogo do

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93

poder, se poupam das paixões dos atores, da disputa

por cargos e prebendas. Assumindo posição de

referência para o país pela estatura pública adquirida,

eventualmente são considerados estadistas.

A criação de fundações, institutos, bibliotecas, escolas

ou memoriais é ação adotada quase imediatamente ao

término dos mandatos presidenciais. O objetivo é

resguardar o acervo acumulado e dar algum retorno à

comunidade nacional ou internacional. Essas

instituições promovem estudos e pesquisas, realizam

eventos, campanhas, organizam e mobilizam o debate

público. Doações privadas custeiam sua construção e

funcionamento. Afastam o cálice da viúva.

Júlio Maria Sanguinetti presidiu o Uruguai de 1985-

1990 e 1995-2000. Após sua saída, fundou o Círculo

de Montevideo em 1996, formado por personalidades

políticas e intelectuais que discutem novos caminhos

para a governança e o desenvolvimento humano na

América Latina. Escreve para periódicos, publica

livros e ministra conferências.

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94

François Mitterrand foi Presidente da França de 1981

a 1995. Quando deixou o governo, viveu pouco tempo

devido ao câncer avançado. Ainda assim se dedicou a

algumas viagens internacionais e publicou três livros,

um deles tratando das relações entre França e

Alemanha. Seus herdeiros se encarregaram de fundar

o Instituto François Mitterrand que atualmente

preserva seu acervo e promove pesquisa científica.

O Presidente Bush que governou os Estados Unidos

de 1989-1993 fundou a Biblioteca e Museu

Presidencial George Bush. Publicou livros sobre sua

trajetória, a política externa de seu governo, a coleção

de suas melhores cartas e um diário sobre sua visita a

China. Atua como membro honorário de centros de

pesquisa sobre o câncer, realiza campanhas de doação

para a caridade e lidera instituição internacional de

voluntariado. Por ocasião dos desastres provocados

pelo tsunami do sudeste asiático e do furacão Katrina

atuou em parceria com o Presidente Clinton para o

levantamento de fundos e ajuda internacional aos

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95

sobreviventes, bem como, para a recuperação da

infraestrutura destruída.

Felipe González foi presidente do Governo da

Espanha (equivalente a primeiro-ministro) de 1982 a

1996. Após a saída do governo tem se dedicado a

questões de política internacional junto aos países da

América Latina e a União Europeia, participando de

fóruns, ministrando conferências e liderando grupos

de trabalho. Foi um dos fundadores do Club de

Madrid, onde participam ex-chefes de estado e

governo de vários países. Presidiu o Grupo de

Reflexão sobre o futuro da Europa no horizonte de

2020-2030. Publicou inúmeros livros, além de se

dedicar a arte do bonsai e da joalheria.

Os exemplos citados contrastam com os ex-

presidentes brasileiros. Fernando Collor exerce o

mandato de senador e se esforça para apagar o

passado do impeachment e da corrupção. Fernando

Henrique Cardoso ainda que não tenha mais

concorrido à eleição, mantem forte atuação no

combate ao PT. Lula reconhecido internacionalmente

Page 96: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

96

também continua atuante para manter seu grupo no

poder e combater o PSDB. Os dois sem mandatos se

engalfinham como se ainda os exercessem, se

apequenam, perde o Brasil.

José Sarney foi contemporâneo de Sanguinetti, Bush,

Mitterrand e González. Só está sem mandato por que

não teve condições políticas para concorrer e ganhar

a última eleição. Não os seguiu em nada. Ataca os

adversários políticos, pede cargos para os aliados e se

dedica diuturnamente a boicotar o atual governo do

Maranhão. Cresceria em estatura e limparia sua

biografia portando-se de forma mais republicana.

Menos Carlos Lacerda, mais Juscelino. Trocar o fuzil

pelo ramo de oliveira.

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97

TAMANHO DO ESTADO NO BRASIL E SUAS

NUANCES

Quando opinamos sobre determinados temas um

tanto distantes de nosso cotidiano de leituras ou

mesmo da nossa área de conhecimento convém ter

cautela e checar as informações que nos

fundamentam. Ninguém sabe tudo sobre tudo,

lembra-nos o adágio da prudência. Qualquer

intelectual que milita no campo das letras deve ter

clareza disso e enfrentar de peito aberto os silêncios,

aprovações e desaprovações de seus escritos.

Ferreira Gullar no seu artigo dominical para o jornal

Folha de São Paulo de 21.06.2015 escorregou na

inconsistência da fundamentação. Ao mais uma vez

criticar os governos do PT, Lula e Dilma, os acusa de

contradição por terem se oposto ao programa de

privatizações de Fernando Henrique Cardoso e

realizarem atualmente amplo programa de

concessões públicas. Concessão não é privatização.

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98

Privatização não tem volta, salvo medidas

excepcionais quebrando os contratos. Concessão é por

tempo determinado e implica no cumprimento de

exigências por parte daqueles que as ganham.

A pressa da oposição é falar aquilo que não sabe ou

dar estatura tal àquilo que não a possui. Isso é normal.

Nunca vi esse negócio de oposição responsável, a

necessidade de sobreviver os obriga a arrancar chifre

em cabeça de jumento todos os dias. Chega a ser

quixotesco, mas compreensível e parte do regime

democrático.

O day after do artigo de Gullar é brindado com uma

entrevista de Phillip Schiemer, presidente da

Mercedes-Benz no Brasil. Após lamúrias e

reclamações, dispara “o ajuste fiscal é necessário, mas

seria muito positivo se o governo reduzisse os custos

da própria máquina, que é muito ineficiente.

Ninguém precisa de 39 ministérios”. Aqui não temos

o problema da oposição em si, mas o executivo ou

administrador de negócios impondo sua visão de

mundo às políticas públicas. A velha e equivocada

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99

comparação do Estado com uma empresa. Na

empresa, Mister Schiemer demite quando quiser e

sempre para preservar a margem de lucro. No Estado,

estamos lidando com programas, recursos e milhões

de pessoas envolvidas enquanto servidores públicos

ou beneficiadas.

O debate sobre o tamanho do Governo medido pelo

número de ministérios não é novo no Brasil. Foi

intenso nos anos de ouro do neoliberalismo tucano.

Perdeu fôlego, mas sempre guarda fortes respiros em

tempos de nova crise. É um mote útil para distrair o

público em geral. O orçamento federal de 2015 dá

uma dimensão mais correta desse equívoco de

pastiche. Do total de R$ 2,86 trilhões orçados, 1/3 ou

R$ 863 bilhões são destinados ao refinanciamento da

dívida pública mobiliária federal, isto é, pagamentos

de juros da dívida.

O Senado Federal custa aos nossos bolsos R$ 3,9

bilhões, mais do que os orçamentos dos Ministérios

da Indústria e Comércio (R$ 3,2 bilhões), da Cultura

(R$ 2,6 bilhões) ou do Esporte (R$ 2,5 bilhões). Nem

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100

por isso não se reconhece a importância do Senado

para a manutenção da estabilidade política ou

propõe-se sua extinção. Gastamos mais com Justiça

do Trabalho (R$ 16,2 bilhões) do que com Ciência,

Tecnologia e Inovação (R$ 9,7 bilhões). Até onde isso

vai? Lugar algum. O cerne da questão não é o número

de Ministérios, cujo corte, a rigor, só afeta a

quantidade de ministros, pois as demandas e os

cargos de segundo escalão continuarão existindo pela

necessidade mesma de tocar as políticas públicas

setoriais.

A China possui 25 ministérios. A Índia possui 38. A

Rússia tem 23. Estados Unidos possui 22 entre

departamentos e órgãos com esse status. A Inglaterra,

pátria do neoliberalismo tem 24 departamentos com

status de ministério e outros 22 sem status de

ministério, 46 no total. O que isso diz quanto ao

tamanho do Estado? Nada. Em nenhum desses

países, o Estado deixar de atuar como grande jogador,

estimulando determinadas áreas, desestimulando

outras. Investindo mais nessa ou naquela política.

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101

Estabelecendo prioridades, influenciando nos rumos

da economia. O Estado é parte inerente das definições

do sistema capitalista. O mesmo Mister Schiemer que

critica o número de ministérios também deseja juros

subsidiados, menos legislação trabalhista e zero de

impostos.

Como não temos um projeto de país, nos damos ao

luxo de gastar R$ 78 milhões no Ministério das Micro

e Pequenas Empresas e torrar R$ 1,7 bilhão com o

Tribunal de Contas da União ou R$ 5,9 bilhões com a

Justiça Eleitoral. Nosso problema é ausência de

prioridade. Em uma democracia o Estado serve ao

bem comum. Se isso ocorre de menos ou de forma

enviesada é um debate que deve ser feito. O que não

se admite é atender a uns poucos com privilégios,

deixando as migalhas para as maiorias, gastar tudo

com o presente, abandonando as gerações vindouras.

Estado e políticas públicas são serviços, ainda que

tenham uma tecnicalidade orçamentária e financeira,

existem para servir. Estado e gestão das políticas

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102

públicas não podem ser comparadas a um programa

de computador, onde tudo se resolve com delete.

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103

O MARANHÃO NO TEMPO DO MUNDO

O Memorial de Martin Luther King Jr possui uma

imponente estátua desse estadista negro e militante

pelos direitos civis. A estátua emerge de uma rocha,

cuja lateral traz uma frase esculpida: “Out of the

mountain of despair, a stone of hope”, do discurso “I

have a dream”, de 28 de agosto de 1963. “With this

faith we will be able to hew out of the mountain of

despair a stone of hope”. Uma possível tradução seria

“com esta fé nós poderemos retirar da montanha do

desespero, uma pedra de esperança”.

Apesar dos desconcertos, o mundo poderá vivenciar

uma nova quadra histórica. O papa Francisco como

mediador pela paz contribuiu para o

reestabelecimento das relações entre Estados Unidos

e Cuba, reconheceu formalmente o Estado da

Palestina e defendeu o diálogo com o islamismo

extremista. O presidente Obama conseguiu implantar

uma política social de saúde nos Estados Unidos, com

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104

fortes reações e resistências da direita, e reestabeleceu

relações diplomáticas com Cuba.

Esse é o tempo dos homens, mais rápido que o tempo

do mundo. No primeiro, ao fixarmos em um ou outro

aspecto formamos uma visão ou posição, variando da

indiferença ao fatalismo, do cinismo ao otimismo, da

racionalidade a loucura. O segundo é mais exigente,

demanda sofisticação analítica e respeito aos

complexos de complexos para se permitir decifrar.

Situando o Maranhão, nosso pequeno quinhão de

Brasil e mundo, somos confrontados com paradoxos,

perplexidades e futuros. O paradoxo é sermos

potencialmente ricos, mas vivamente desiguais. A

perplexidade advém daqueles que vislumbrando um

conjunto de ações de governo focadas na resolução de

problemas históricos, não acreditam, não aceitam ou

não querem que essas ações cumpram com esse

objetivo norteador. Os futuros nascem em paralelo e

para além das ações resolutivas. É a resposta desta

geração ao que queremos ser daqui a 10, 20 ou 50

anos.

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105

Aqueles que não acreditam, perderam a esperança.

Leram e acataram o aviso do pórtico: “Deixai toda a

esperança, vós que entrais”, as palavras duras da

entrada do inferno na Divina Comédia de Dante. A

estes por mais ações que se faça, não veem e não

podem ver. A questão central está no crer para ver. A

despeito disso, quem tem a responsabilidade política

e pública necessita perseverar nas ações e no diálogo

de conquista e convencimento.

Os que não aceitam ou não querem tem como questão

central o ser no mundo. Não podem aceitar as

mudanças, pois sua materialização implicará na sua

desnecessidade de existir. Exemplifico, em um país

ideal onde a desigualdade tenha sido resolvida não se

pode mais justificar um sem fim de serviços de

assistência social, programas de transferência de

renda, alfabetização, dentre outros. Salvo se se

considera a desigualdade um flagelo incurável sobre a

terra e algo natural impossível de mudar, salvo pelo

apocalipse, revolução sistêmica ou morte. Há os que

estabeleceram a desigualdade e a violência como meio

de vida, não como móvel da vida.

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Aqueles que não querem mudanças se alimentam do

como está. Um desespero feroz e pegajoso conduz seu

agir. Isso é compreensível, humano. Utilizam sua

posição para fazer o maior barulho possível, tudo

sempre estará ruim, se não recuperarem seus

privilégios e migalhas. A tendência, pelo sucesso das

ações em andamento, é que essas posições se tornem

mais extremistas. Penso que merecem a dignidade de

uma resposta e profunda pena. Quem governa não se

pode contaminar, pois existe um programa de

governo a cumprir.

Pautar um governo por um problema herdado, ainda

que grave, como a situação do presídio de Pedrinhas é

incabível. Os problemas e desafios do Maranhão são

maiores que isso. O conjunto de novas

responsabilidades e programas que estão sendo

lançados ou já materializados é que podem dar a justa

medida do governo. Somar fatos isolados ou lançar

cascas de banana para colher escorregões só serve

àqueles que estavam no poder, com o gosto amargo do

golpe na boca. Não compreender isso, não respeitar

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107

isso, é embarcar na onda dos que não acreditam, não

aceitam ou não querem.

É fundamental não se apequenar ante o pontual ou

conjuntural. O grande poeta Castro Alves nos legou

isso com seu poema “Eu, que sou cego, — mas só peço

luzes... Que sou pequeno, — mas só fito os Andes...”.

O Maranhão é pequeno ante o Brasil e o mundo, mas

jamais devemos nos apequenar, almejamos o grande.

Um Maranhão Grande se faz no hoje mirando o

futuro, com fé e esperança.

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108

PACTO COMO PROJETO

É importante compreender o sentido de um pacto.

Um pacto é um acordo sobre projeto ou projetos

consensuais, firmado por um grupo heterogêneo do

ponto de vista político-ideológico. A isso, o ex-

governador e atual deputado federal José Reinaldo se

referiu no seu recente artigo. Muitas interpretações,

na maioria desproporcionais e enviesadas, surgiram

em relação a essa proposta. Variaram do entreguismo

ao peleguismo, do denuncismo ao cretinismo, do “eu

não disse” ao “eu sempre soube”, não debateram o

sentido da ideia e a inserção da mesma na conjuntura

nacional.

Não se está falando na ausência de punição em relação

aos crimes cometidos, sequer na suspensão dos

processos investigatórios ou auditorias em

andamento. Também não se menciona repartição de

espaços no governo. Essas coisas são impossíveis de

negociar. O conteúdo da proposta é um pacto por um

projeto para o Maranhão. O projeto são ações

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109

prioritárias em áreas consensuais entre as forças

políticas almejando um horizonte de futuro e defesa

unânime junto ao Governo Federal, Empresas,

Organismos internacionais e Instituições Financeiras.

Nacionalmente vemos uma articulação direita-mídia-

partidos conservadores e mesmo de extrema esquerda

trabalharem pela derrubada de um governo eleito

como a solução mágica que irá resolver os problemas

vinculados a economia e a gestão pública. Como se

colocando o PMDB de Eduardo Cunha e Renan

Calheiros, passando o poder para o PMDB de Michel

Temer ou entregando um mandato ao PSDB de Aécio

Neves, fossem caminho crível. Nenhum destes tem

um projeto de país, possuem ações pontuais que

pioram ou maquiam os problemas, sem tocar em

profundidade na corrupção ou na reforma política. Se

ações não possuem horizonte de futuro e sentido

estratégico não se configuram como um projeto.

Por outro lado, seria muito simplismo julgar todos

como corruptos e bloquear qualquer diálogo. Política

e diálogo são intrínsecos. Defender a estabilidade

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110

política e a preservação da governabilidade tem sido a

bandeira levantada por poucos em um momento que

todos tiraram a Presidenta Dilma para Geni e Lula

para Judas. Não vou embarcar na onda da Revista

“Veja” ou do jornal “O Estado do Maranhão” para

formar minha opinião sobre assuntos sérios e

importantes. Se houve corrupção que se aguarde o

trânsito em julgado da sentença, até lá, baixar a crista

do golpismo, do elitismo e da misoginia.

Distanciamento e criticidade são fundamentais, salvo

se se vive em uma eterna adolescência deslumbrada,

descompromissada e embrutecida, imune ao

aprendizado do tempo.

O Maranhão e a Bahia foram os dois últimos estados

a aderirem à Independência do Brasil. Tamanha a

nossa subordinação e identificação com os interesses

do colonizador português. Se em relação ao Brasil

podemos falar de 2022 como o bicentenário, aqui

precisamos postergar a data simbólica para 2028. A

pergunta a ser feita é que projeto temos a apresentar

para a Geração do Bicentenário de independência.

Defendemos uma inserção significativa do Maranhão

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111

na área aeroespacial? Queremos nos tornar referência

na agricultura de orgânicos? Vamos criar uma

tecnologia social de melhoria do IDH com padrão

internacional e copiada pelo mundo? Basta investir

tudo em educação, segurança e saúde? Repetiremos o

são-paulismo com uma industrialização

concentradora? Criaremos um parque tecnológico

voltado para as fronteiras da ciência aplicada? Que

pontos do programa de governo vitorioso são

consensuais entre as forças da situação e da oposição?

Adversário político não é inimigo público. O inimigo

público é a cultura patrimonialista continuada,

advinda de todos os oligarcas pretéritos e componente

da formação social do país. Adversário se combate

institucionalmente. Inimigo se combate fisicamente,

objetivando a eliminação completa. Reitero, pacto se

dá em torno de projetos, não de personalismos ou de

abstrações. Se a leitura coletiva daqueles que estão no

governo (não no poder) compreende que essa história

de pacto só funciona no Uruguai ou na Espanha, então

continuemos no rumo escolhido, seguros de nós

mesmos e confiantes naquilo que estamos plantando.

Page 112: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

112

O timing de José Reinaldo está incorreto? Alguns

podem argumentar. Há que se enxergar os

desdobramentos da atual conjuntura e os cenários

que nascerão, a depender do desfecho dos

movimentos do Tribunal de Contas da União (TCU),

Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e Câmara dos

Deputados. O PMDB é o elemento persistente em

qualquer desses cenários, seja como força

estabilizadora, seja como homem-bomba.

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113

ELOGIO A SERENIDADE

Nos idos de 1971, Chu En-Lai, primeiro-ministro da

China, afirmou para Kissinger, secretário de Estado

americano que “existe tumulto abaixo do céu e temos

oportunidade de acabar com isso”. Ainda que

comporte uma visão elitista aponta para a

necessidade de serenar os ânimos, hoje em ebulição

no Brasil. Não é razoável e racional acreditar que

jogando uns contra os outros, dividindo a sociedade

em puros e corruptos, chegaremos a solucionar os

problemas sociais que ainda sofremos, sobretudo a

brutal desigualdade agravada pela corrupção. A nova

crise econômica, de tantas que vivemos ao longo de

nossa história, mas sempre apresentadas pela

conjuntura como a definitiva ou a mais terrível,

demanda união nacional em prol de uma

agenda comum.

Precisamos superar a era da denúncia e iniciarmos a

era do anúncio. Não se faz política visando a

eliminação do campo contrário ao nosso. Essa via leva

Page 114: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

114

ao nazismo. Não se faz política renunciando aos

próprios princípios. Essa via leva ao descrédito. Não

se faz política vendendo ilusões e facilidades. Essa via

leva a irresponsabilidade. Não se faz política com a

anulação do outro ou a suspensão do diálogo. Essa via

leva ao autoritarismo. Não se faz política com o fígado,

via mais rápida para uma hemorragia interna.

Democracia é a convivência respeitosa entre

divergentes, porém, companheiros de um mesmo

barco, no qual afundamos juntos, uns mais rápidos

que outros.

Amar o Brasil não é igual a odiar o PT. Dilma não é o

PT. É uma tremenda infantilidade acreditar que

sacando à revelia esse partido, surgirá um santo

guerreiro vindo do nada para curar as feridas e

reiniciar sem erros a história. O ser humano não é

uma perfeição, em cada um de nós existe tudo que

criticamos ou elogiamos. O caminho não passa por

mera troca de atores, mas por firme costura de

futuros. O caminho é a composição, não o

impeachment ou a renúncia.

Page 115: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

115

Tenho minhas críticas aos descaminhos que a política

brasileira tem tomado. Isso é uma coisa. Daí a

defender a interrupção de um mandato presidencial

de 7 meses por que não gosto da presidente, por que

enxergo nela o alfa e o ômega da corrupção, vai uma

distância abismal. É preciso senso histórico. O mal

absoluto não está no PT, assim como, o bem absoluto

não está no PSDB, menos ainda no PMDB ou

qualquer outro partido. Todos os que tiverem culpa

comprovada devem ser punidos, com o trânsito em

julgado da sentença, não antes, por vontade de

minorias direitistas e elitistas. O Ministério Público e

a Polícia Federal estão funcionando com

independência talvez em um raro momento da

história republicana. A justiça não está na quantidade

de prisões, mas no valor da mudança cultural iniciada,

ou seja, rejeitar não somente nas ruas, mas na prática

pessoal e social concretas aquilo que publicamente

condenamos nos outros.

Reconheço, como Chico Buarque, os avanços sociais

significativos nas últimas décadas. Por outro lado,

compreendo que não foram suficientes, bem como,

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116

não foram eficazes na mudança de nossa cultura

patrimonialista. Essa erva de danação que verdeja em

qualquer coisa que seja pública só será arrancada por

intermédio de educação. Não o enciclopedismo vazio

de sentido, mas educação para o pensar com a própria

cabeça. O pensar de leituras concretas, não de frases

soltas postadas no facebook ou no whatsup. A

preguiça de pensar incentivada pelas redes sociais

desestimula a aprendizagem mais consistente e vicia

no comportamento de manada.

As redes sociais são uma via, mas não a única e

exclusiva. É fundamental sair do assassinato da

privacidade e se enfronhar em conteúdos inteligentes

e inteligíveis sobre o país. Gastar a vista nos livros ou

e-books. Gastar a saliva no debate coletivo. Gastar a

sola de sapato no encontro com o outro. Reconhecer

os erros, recomeçar. Não tratar o futuro do país, a

estabilidade política conquistada a duras penas e ao

custo do sangue de uma geração, como assunto de

panela cheia ou vazia, ariada ou suja, de condomínios

de luxo e bairros “nobres”. O país é muito maior que

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117

essa falsa consciência nacional que aponta a opção já

rejeitada nas urnas como uma via crível.

Recompor a base, revitalizar-se nos movimentos

sociais, mobilizar o povo, apresentar agenda de união

nacional, enfrentar com altivez, intensidade e

responsividade a direita, dialogar com a oposição,

abrir caminho para a emergência de novas lideranças

e efetiva alternância do poder nas próximas eleições

são linhas de ação possíveis e viáveis para escaparmos

do desastre e do golpe. Eduardo Campos (1965-2014),

que completaria essa semana 50 anos de idade, com

lucidez conclamou “Não vamos desistir do Brasil”.

Estamos de pleno acordo.

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118

AGENDA DA JUVENTUDE E O MESTRE

GRACILIANO

A síndrome do quadrado é um problema sério que

acompanhou a implementação das políticas públicas

materializadoras de direitos. Existe uma tendência a

se apropriar desta ou daquela parte como um

exclusivo colonial. Ninguém pode opinar ou se meter

naquilo que penso ser meu quadrado, minha

especialidade ou minha área de competência. Esse

pensamento ao extremo leva ao gigantismo

burocrático, aos conflitos paralisantes e a

incapacidade de agir.

O grande desafio de quem tem responsabilidade de

planejamento e gestão das políticas públicas é não se

acovardar ante às vaidades e aos demarcadores de

área. Um problema objeto de ação de uma

determinada política pública não é como um território

em que se chega e fincando bandeira toma-se como

seu. A complexidade dos problemas exige ação

intersetorial. Mais ainda, exige que os problemas

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119

sejam enfrentados. Não se pode esperar a boa vontade

de agir de um ou de outros, mas sim, incorporar o

espírito “não sabendo que era impossível, foi lá e fez”.

Um exemplo disso é a juventude maranhense, cujos

problemas demandam ação de várias frentes com

diversidade de meios e níveis de intensidade, urgência

e estratégia. Os programas Cidadão do Mundo, Pré-

Universitário, CNH Jovem e Projeto

Rondon/Operação Bacuri são tocados por diferentes

órgãos e todos tem esse público como sujeito-fim. Isso

tudo converge em uma Agenda da Juventude, apoiada

de forma intersetorial e transversal, sem necessidade

de demarcações com cores mais fortes. Importante é

que ações tenham complementaridade e alcancem o

objetivo de dignificar a vida desses jovens. Criado por

um ou outro órgão, a solidariedade de princípios deve

levar os diversos veios a um leito comum, sinérgico e

unido.

A síndrome do coitadismo é um problema sério que

acomete prefeitos e prefeitas do Maranhão para

justificarem a ausência, a lentidão ou a corrupção.

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120

Encostados nas transferências federais e estaduais,

corroídas pela corrupção ampla, geral e irrestrita,

vendem a imagem de pobres gestores de pobres

municípios. O dinheiro da merenda é pouco. O

dinheiro do Fundeb só deu para o salário dos

professores, não sobrou nada para melhorias nas

escolas. O dinheiro da Saúde não foi suficiente para

constituir mais equipes multiprofissionais. Essas e

outras desculpas são atiradas pelos prefeitos.

Se o desejo dos prefeitos é enganar e enriquecer às

custas do dinheiro público, que saiam de suas

funções, reconheçam sua incapacidade de gestão e

busquem algo melhor para fazer de suas vidas. A

exiguidade de recursos não é uma justificativa

plausível para a ausência de ações. A corrupção nunca

reconhecida, mas sempre denunciada e comprovada,

é a irmã gêmea do coitadismo. Não se pode aceitar

como normal pagarmos até uma beleza inventada em

ginástica e plásticas. Lamentavelmente, os efeitos das

políticas públicas voltadas para a juventude serão

sentidos no médio e longo prazo, toda uma geração de

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121

maranhenses continuará a colocar e recolocar no

poder esses monumentos à burrice.

Graciliano Ramos (1892-1953) é sempre lembrado

como escritor e algumas vezes como político. Foi

prefeito de Palmeira dos Índios (Alagoas) em uma

época de pouca tecnologia e fraco desenvolvimento

das forças produtivas locais. Ainda assim realizou

uma gestão honesta, saiu mais pobre do que entrou,

elevou a arrecadação, deixou dinheiro em caixa,

construiu escolas, urbanizou ruas, aplicou a lei sem

distinções e colocou o funcionalismo público para

trabalhar. Isso tudo entre 1928 e 1930.

O mestre Graça escreveu nos seus relatórios de gestão

o que hoje chamamos de boas práticas. Cito algumas:

“não empreguei rigores excessivos. Fiz apenas isto:

extingui favores largamente concedidos a pessoa que

não precisavam deles e pus termo à extorsões que

afligiam os matutos de pequeno valor,

ordinariamente raspados, escorchados, esbrugados

pelos exatores”. E ainda “favoreci a agricultura

livrando-a dos bichos criados à toa; ataquei as

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122

patifarias dos pequeninos senhores feudais,

exploradores da canalha; suprimi, nas questões

rurais, a presença de certos intermediários, que

estragavam tudo; facilitei o transporte; estimulei as

relações entre o produtor e o consumidor”.

Não acredito que todos os prefeitos do Maranhão

sejam como Lidiane ou tantos outros pegos pela sua

corrupção deslavada. Entretanto, ainda não

conseguimos ventilar nenhum nome no cenário atual

sequer próximo ao do velho mestre Graça que

governou quando não existia FPM, FUNDEB, SUS,

IPTU, ICMS, FNDE, e outros tantos. Eu acredito na

juventude, longe dos quadradismos e coitadismos.

Page 123: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

123

CRÍTICA À INDIFERENÇA

A velha Europa que nos legou tanto em termos de

civilização e humanismo teve seus altos e baixos ao

longo da história. A mesma Europa do Renascimento

e das Revoluções, foi a Europa da Inquisição e do

Nazismo. A Europa que forjou o direito, também

alimentou as ditaduras. A Europa que inventou a

democracia, semeou o colonialismo e o ideal do

homem branco. Poderíamos ampliar essa lista a

exaustão.

Acredito que esses altos e baixos não sejam claros

para a maioria das pessoas, cativas de uma imagem

cristalizada de riqueza, elites, impérios, cultura

erudita e altíssimo padrão de existência. Esse cristal

foi quebrado nas últimas semanas. Todos os valores

declamados ou impostos pelos europeus ao mundo se

viram mudos ante a violência, o descaso e a

desumanidade com que crianças, homens e mulheres

refugiados ou imigrantes estão sendo tratados.

Page 124: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

124

Estrangeiros expulsados pela pobreza e pela guerra

atraídos ou não pela imagem cristalizada

encontraram arames farpados, tiros, pancadas e

morte, em um lugar que pensavam encontrar a paz e

a esperança. Roubadas de sua dignidade e tangidas do

seu lugar pelo desespero foram postas como nuas.

Não há paz e esperança para o outro que chega,

somente para aquela exclusiva parte autointitulada

europeia, nascida e diferenciada.

Os discursos que sustentaram a aliança multinacional

de vários povos e línguas, confluindo na União

Europeia, sem igual em qualquer continente,

sumiram. Restaram covardia e medo do diferente.

Egoísmo e incapacidade de compartilhar. Se até

pouco tempo, almejava-se a tolerância com aqueles

que comiam sobras e farelos, até mesmo estes são

recolhidos em nome da xenofobia disfarçada em

brigas conceituais (imigrantes ou refugiados) ou

explicitada no assassinato aberto e gratuito.

A Europa sempre foi representada enquanto

majestade coroada segurando um cetro, indicativos

Page 125: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

125

de seu domínio e poder, cercada por animais e plantas

domesticadas, assim era nas gravuras de Marten de

Vos e Adriaen Collaert (1600). Sentada e indiferente

aos seus irmãos em humanidade, a Europa morreu e

consigo enterrou o vestígio de civilização que ainda

transmitia. Os Estados Unidos até meados dos anos

1990 ainda enganavam muita gente quanto a retórica

de defesa dos direitos humanos e da democracia.

Ninguém, além dos manifestantes brasileiros de

direita, acredita nisso.

Em síntese, a profunda separação entre os discursos e

a prática concreta foi explicitada com crueza nas

semanas que passam. O mundo, se posso dizer assim,

indignado vê os europeus e americanos destruírem os

regimes adversários nos países mulçumanos. O

mundo vê esses países caírem em guerras civis

sanguinárias e insanas. O mundo vê essas pessoas

fugirem das guerras criadas pelos europeus e

americanos. Os americanos estão muito longe para

serem incomodados com isso. Os europeus estão

muito perto de tudo isso, mas, hipocritamente,

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126

fingem que o problema é do mundo, criado por

outros.

A inspiração não vem mais da Europa e dos Estados

Unidos, se um dia chegou a vir com verdade. A

inspiração por um mundo melhor hoje, não no futuro,

vem da América Latina, vem dos latino-americanos.

O Papa Francisco se tornou uma força

transformadora dentro da Igreja e com muito

empenho pessoal tem chacoalhado a instituição rumo

à sua vocação cristã original, a defesa intransigente

dos mais pobres e a vida sem opulência e corrupção.

Pepe Mujica, presidente do Uruguai até o início do

ano, se firmou como exemplo concreto de encontro

entre discurso e existência, raríssimo nos tempos de

canalhice política organizada que convivemos. Ao

responder uma pergunta sobre o porquê devemos

priorizar as relações entre os países da América Latina

em detrimento dos Estados Unidos e da Europa,

Mujica respondeu o seguinte “No mundo que está por

vir, não há lugar para os fracos. Para que haja menos

fracos, não há outro caminho, temos que nos juntar.

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127

Nós, juntos, temos muitas possibilidades, muitos

recursos, muitas promessas, mas não somos uma

realidade. Já passou da hora de pensarmos como

continente integrado, de pensarmos como um único

país, não podemos nos acomodar”.

Contra a intolerância, a rejeição do diferente, a

incapacidade de acolher, há que se pregar e fazer

respeito, acolhida e união. Mais do que apontar as

hipocrisias, somos desafiados a agir como forças

transformadoras positivas, revitalizando o próprio

sentido de humanidade.

Page 128: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

128

AJUSTE DE QUEM?

O debate em torno do ajuste fiscal coloca uma

situação no mínimo insolvível. Por um lado, o

Governo Federal é criticado por mandar orçamento

com déficit. Por outro, o Congresso Nacional é

criticado por não aceitar elevação de impostos para

cobrir o déficit. A questão de fundo nessa gangorra e

ainda intocada é o pagamento das emendas

parlamentares que quando incorporadas ao

orçamento aumentarão significativamente o déficit.

Nunca fomos um país de realismo orçamentário,

talvez de ficção orçamentária. O orçamento em si

sempre foi um exercício de fé e alguns raios de razão.

Está assentado em estimativas de receita, quase

sempre derivadas dos impostos. Partem do princípio

de que tudo permanecendo conforme planejado, tudo

dará certo. Logo em seguida, o Ministério do

Planejamento e o Ministério da Fazenda

contingenciam o orçamento. Pouco ou quase nada é

liberado nos primeiros 8 meses do ano, muito é

Page 129: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

129

liberado nos últimos 4 meses, praticamente

inviabilizando um gasto mais qualitativo e

organizado.

O mais curioso desse quadro político tumultuado e

confuso é ver o PMDB, o mais cúpido dos partidos e o

mais especializado em cargos e sinecuras pedir cortes

no orçamento. Suponho que se referem a cortes nas

despesas dos ministérios não geridos por seus

integrantes. Também suponho que quando pedem

corte do número de ministérios não se incluem nessa

conta. Ver o PMDB sempre nutrido de Estado, pedir

menos Estado é algo paradoxal demais para acreditar.

A economia retraída e o orçamento deficitário são

seguidos de pedidos de aumento ou reajuste salarial.

Os servidores públicos federais, tanto do Judiciário,

como do Executivo, insensíveis à conjuntura,

acreditam que de onde tem pouco, pode sair sempre

mais. Argumentam que é só cortar as despesas com a

corrupção, com o petrolão, com vergas de gabinete,

com ministérios. É como se o Poder Executivo

pudesse cortar do Judiciário e do Legislativo. Não

Page 130: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

130

pode. Cada um apresenta seu orçamento, cada um

eleva seus salários. Ninguém pode sequer cogitar

reduções. Os dois poderes candidamente dizem que a

culpa é do Poder Executivo. Jornalistas dizem que a

culpa é o do Poder Executivo. Leia-se Dilma, leia-se

desgoverno, leia-se impeachment.

Vamos às contas. O déficit do orçamento 2015 está

estimado em R$ 30 bilhões. O orçamento da Câmara

dos Deputados é de R$ 5,3 bilhões. O Senado Federal

tem um orçamento de R$ 3,9 bilhões. O Poder

Legislativo, portanto, consome R$ 9,2 bilhões. O

Poder Judiciário, somando Supremo Tribunal

Federal, Superior Tribunal de Justiça, Justiça

Federal, Justiça Militar, Justiça Eleitoral, Justiça do

Trabalho, Justiça do Distrito Federal e Conselho

Nacional de Justiça consomem R$ 38,3 bilhões.

O Tribunal de Contas da União consome R$ 1,8

bilhão. O Ministério Público R$ 530 milhões. O

Conselho Nacional do Ministério Público consome R$

91 milhões. Somados, os três consomem R$ 2,4

bilhões.

Page 131: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

131

Essas instituições são importantes para a efetivação

da democracia representativa, para a aplicação da lei

e fiscalização dos poderes, contudo, não é aceitável

argumentar que somente o Poder Executivo deve

realizar cortes, justamente nos programas sociais,

(como o Minha Casa, Minha Vida, Ciência sem

Fronteiras ou Pronatec), isentando os demais poderes

e instituições de qualquer corte. Sabemos o quanto

essas instituições têm fortes traços monárquicos,

tanto simbólicos, quanto materiais, extremamente

onerosos aos cofres públicos.

Não creio que os Poderes Legislativo e Judiciário

terão esse ato de grandeza. Cortarem seus próprios

orçamentos. O ajuste é só para os outros.

Page 132: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

132

CRÍTICA AO FINGIMENTO

O Brasil novamente vive uma quadra difícil. Uns

apresentam-na como o fim do mundo. Outros como o

início do fim. Ambos estão errados. Não é a primeira,

nem será a última crise que iremos enfrentar.

Vivemos em um país natural e culturalmente rico,

com peso e estatura econômica, com povo sempre

capaz de um sorriso em meio aos mais insólitos

problemas, sobranceiro. Sobranceria no sentido de se

sobrepor e ultrapassar esses problemas.

A crise passará. O que faremos para sair dela não está

claro. O Congresso Nacional finge que não precisa

cortar nada de seu orçamento e que a culpa é do

Governo Federal. A imprensa finge que cortar

Ministérios e cargos é algo simples e rapidamente

realizável como ato de vontade do Presidente sem

qualquer consequência para a manutenção da base

aliada ou para a execução das políticas públicas. O

Judiciário ignora os problemas e flana encapado de

Page 133: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

133

preto como vestal inatingível, mas dono da última

palavra.

Nesse jogo de fingimento, malucos direitistas vendem

a ideia de que basta tirar a Presidente e prender o Lula

para a crise acabar. Outros entreguistas propõem que

basta abrir o pré-sal ao estrangeiro para o dinheiro

voltar a irrigar nossa prosperidade. Nenhum

consegue enxergar além do ponto de vista

conjuntural. Precisamos de inteligência, criatividade

e visão para não jogar sementes na terra seca de

direitistas e entreguistas.

A qualidade de nossa elite ou anti-elite governante

depõe contra nós mesmos. Proclamamos a República,

mas ainda convivemos com pequenos e grandes

déspotas nada esclarecidos. Fechados sobre si,

sorvendo privilégios, rituais de corte, pompas de

circunstância e vantagens solenes. A imensa maioria

do povo está cindida, conquistada à direita e

rechaçando a esquerda. Inserem-se defendendo

aquilo que está, claramente esgotado enquanto

Page 134: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

134

portador de futuro ou alimentando o retrocesso

autoritário.

Recordo a figura do lavrador assistindo à declaração

de Independência feita por Dom Pedro no clássico

quadro de Pedro Américo. À frente de sua junta de

bois parece espantado e um pouco incrédulo com a

pompa do momento, testemunhado por ele em plano

privilegiado. Vendo aquilo deve duvidar do impacto

daquele ato fictício ou imaginário no porvir. Apesar

dos avanços obtidos com o atual interregno

democrático, a leitura de povo não mudou tanto. A

elite que governa deseja um povo testemunho. Se

sujeito, que seja conduzido na ação, jamais

protagonista.

O governante que hesita no jogo de poder, tende a ser

arrastado por ele. Não há espaço para hesitação com

sujeitos desestabilizadores e conjuntura de crise. A

cisão é tão séria no seio da própria elite que os

parlamentares no Congresso Nacional organizaram

uma frente pré-impeachment e outra em defesa da

democracia. Os intelectuais do sofá acadêmico estão

Page 135: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

135

perdidos entre os gregos e romanos na eterna costura

de teorias da desconstrução ou seduzidos pelos golpes

suaves da América Latina (Honduras, Paraguai e

Guatemala).

O brasileiro sente forte atração por homens que se

mostrem fortes e arrojados ao velho estilo do rouba,

mas faz. Rouba, mas é macho; rouba, mas é bom de

marketing; rouba, mas é corajoso; rouba, mas não se

entrega; rouba, mas ninguém descobre, rouba, mas é

inteligente; rouba, mas diz a verdade; rouba, mas ora.

Enfim, tolera-se o roubo, desde que derrube o

governo, impeça aumento de impostos, aprove

legislação fascista e mantenha o Estado amplamente

permeável aos interesses particulares. Somos reféns

dessas figuras.

Também temos enorme dificuldade em definir

prioridades. Praticamente não há área passível de

uma política pública que não receba algum tostão de

orçamento. Tudo cabe, todos cabem, entretanto, nem

sempre terão sua despesa liquidada. Acreditar que no

orçamento público cabem todos os interesses é de um

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136

equívoco fenomenal. Por décadas tivemos peças

fictícias com déficit escondido ou disfarçado.

A crise é nossa, não dos outros. É preciso sobranceria

para enfrentá-la.

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137

A AGÔNICA CRISE BRASILEIRA

Chegamos a uma quadra muito complexa na história

política brasileira. Aqueles que perderam as eleições

de 2014 buscaram construir três caminhos de

desestabilização e reversão do resultado. O primeiro é

o do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), velho e

histórico instrumento de fraude da soberania popular,

sob o disfarce da tecnicalidade legal. O segundo é o do

Tribunal de Contas da União (TCU), formado por ex-

deputados e ex-senadores, não tão transparentes, mas

sempre muito dispostos à pose de vestais. O terceiro é

o do Congresso Nacional, cúpido por cargos, cioso de

poder e invejável bastião do que há de mais atrasado

na sociedade brasileira, contraditoriamente, também

o que há de mais avançado.

Essas três instituições funcionam em uníssono para

derrubar o governo da Presidente Dilma, freando ou

acelerando conforme a conjuntura política e

econômica. Em tempos democráticos não é mais

necessário pôr os tanques e militares na rua para se

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138

derrubar um Presidente, basta que uma parcela das

instituições compre a causa e que esta causa encontre

solo fértil para germinar em um ambiente de crise e

impopularidade avassaladores.

A nossa cultura política sustenta impávidos acusados

de corrupção, processados, condenados, réus

confessos, criminosos contumazes nos principais

cargos da República. Todos impassíveis ante

acusações. Desfilam nas câmeras de televisão como

príncipes ou reis tendo que aturar uma fachada

democrática. Vez em quando são incomodados pelos

plebeus, mas nada, nada mesmo, os demove de suas

posições de poder.

A descontinuidade administrativa é a prima irmã

dessa crise. Quando o governo cede espaço na reforma

ministerial não é uma troca de cadeiras e cabeças

como quer nos fazer crer a pobríssima mídia refém do

imediato. Muda também o direcionamento

estratégico das pastas e áreas importantes para o

desenvolvimento do país. O caso mais flagrante está

no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, o

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139

qual deveria ser instrumento central de superação da

crise pela força criativa do conhecimento e da ciência.

Os próximos meses poderão materializar retrocessos

com impactos e desdobramentos de décadas, aí não

recuaremos somente no tamanho do PIB, mas na

possibilidade de termos soberania.

A nossa cultura política comporta a transparência

seletiva. Algumas coisas devem ser transparentes

outras não. Até a data de hoje somente o Governo

Federal divulga os salários de todos os servidores

públicos do executivo. Desconheço qualquer outra

esfera de governo que tenha copiado essa boa prática.

Aqui no Maranhão, um grupo foi preso por fazer

desvios na folha de pagamento do Tribunal de Justiça,

inacessível para a maioria dos mortais. Na mesma

linha, ainda não sabemos como é gasto o salário-

educação, quem, com o que e de que forma,

irrespondidos, acabam por criar uma caixa-preta.

Entretanto, acredito que essas reminiscências um dia

acabarão.

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140

Também praticamos o corte seletivo preservando o

desperdício pulverizado. A área de telefonia e

tecnologia da informação é tratada de duas formas:

uma centralização engessada e que não funciona ou

uma fragmentação equivocada que funciona de forma

parcial, mas é excessivamente cara. Somente o estado

do Ceará conseguiu em um momento de fartura

canalizar investimentos para criar sua rede de fibra

óptica e hoje tem na internet de alta velocidade uma

vantagem competitiva difícil de bater.

Outro achado nacional é a nossa burocracia do

planejamento. Sempre em época de elaboração do

Plano Plurianual empurram suas concepções goela

abaixo daqueles que representam a vontade popular.

O grande equívoco dessa burocracia é acreditar que

pode pensar pelo povo e como povo. O mais grave

ainda é que esse pensar cerebrino e descarnado de

real, no apagar dos prazos, sobrepuja as diretrizes

estratégicas daqueles que foram legitimados pelo

povo nas urnas e no seu programa de governo.

Lamentável.

Page 141: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

141

Por fim e não menos grave, passou despercebida a

criação da Comissão Especial de Reforma do Estado

por decreto da Presidente da República. Isso depois

do malogro da Câmara de Políticas de Gestão,

Desempenho e Competitividade de 2011. Desde o

Plano Diretor da Reforma do Aparelho de Estado do

ministro Bresser-Pereira ninguém se pronunciou com

visão de longo prazo sobre essa questão. Tenho

dúvidas se criar comissão realmente resolve algum

problema no Brasil.

É difícil identificar o caminho para onde estamos

sendo arrastados pela inconsequência, impaciência e

incapacidade. Estamos reféns de uma conjuntura que

se prolonga agônica. Cito Nauro Machado, primeiro

poeta a receber o título de Doutor Honoris Causa da

Universidade Federal do Maranhão (UFMA):

“Ó desejo para fora

a romper-nos desde o dentro!

Ah, sairmos do nosso centro

para sempre e desde agora!”

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142

JACKSON E SÃO LUÍS

O ano de 2014 foi marcado por datas fundamentais

para o Instituto Jackson Lago. Dia 4 de abril, 3 anos

atrás, nosso patrono falecia. Dia 17 de abril,

completaram-se 5 anos da cassação de seu mandato

de governador em decisão que ficou registrada para a

história como “golpe pela via judicial”. Dia 29 de

outubro, comemorou-se os 8 anos da vitória da Frente

de Liberação do Maranhão no segundo turno das

eleições de 2006. Dia 1º de novembro, Dr. Jackson

faria 80 anos de vida.

Rememoro que por ocasião dos 80 anos de seu

nascimento, publicamos o e-book “Palavra de

Jackson”, primeiro volume de uma série que irá

veicular artigos, discursos, palestras e entrevistas de

nosso patrono ao longo de sua vida pública. Os artigos

deste livro explicitam o trabalho de Jackson Lago

como prefeito de São Luís, cujo governo se concentrou

em ações na área de saúde, educação, habitação,

infraestrutura e produção. Destaca-se a oposição

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143

sistemática que enfrentou durante seus mandatos de

prefeito. O grupo político dominante liderado pelo

senador José Sarney e a então governadora Roseana

Sarney, sua filha, atacaram-no diariamente por

intermédio de seu sistema de comunicação.

Apesar do contexto de crise econômica e restrições

financeiras vividas por todos os governos naquele

momento, Jackson Lago conseguiu implementar

louvável programa de realizações, sem qualquer apoio

do Governo do Estado e respaldado amplamente no

orçamento participativo. Essa perseverança e suas

realizações o colocam como melhor prefeito da

história de São Luís, sem dúvida.

Os artigos de Jackson nos levam a questionar o que

mudou e o que permaneceu como problemático

em São Luís no que tange às suas administrações na

Prefeitura. Em relação ao que mudou, identificamos

os problemas relativos à infraestrutura urbana, os

quais se agravaram sobremaneira. Não se trata mais

de asfaltar ruas e avenidas, ainda que essa demanda

continue gritante. O crescimento desordenado da

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144

cidade, o aumento significativo do número de carros

e o inchaço das áreas periféricas impõem desafio

difícil de ser superado. Ainda mais se considerarmos

a extensão desses problemas à Região Metropolitana,

cuja institucionalização nunca foi efetivada. A

mobilidade urbana passou a ser o principal óbice para

que a população possa usufruir o direito de ir e vir na

cidade de forma confortável, rápida e segura.

Outro aspecto relevante é a carência de espaços de

convivência e cultura na cidade. Essa carência tem

tornado os shoppings centers em algo além de lugares

de consumo e sobrecarregado as parcas áreas

culturais existentes. O Centro Histórico está

estagnado, sem política norteadora ou dinâmica na

preservação e ocupação dos prédios, padece da falta

de programa permanente de revitalização.

Mais do que um lugar de órgãos públicos, o Centro

Histórico deveria abrigar um conjunto de livrarias,

padarias, cafés, ateliês e oficinas de arte instaladas por

intermédio de um programa de subsídios da

Prefeitura e do Governo Estadual. O programa

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145

cobriria os custos de locação e adaptação dos prédios

tombados, transferindo aos empreendedores locais

sua utilização. Esses empreendedores pagariam

alugueis subsidiados (preços inferiores aos praticados

no mercado imobiliário local) com um prazo razoável

de carência para o início do pagamento e acesso a

outras linhas de financiamento.

Neste ano de 2015, o conjunto da obra de Jackson foi

reconhecido pela Universidade Federal do Maranhão

(UFMA) ao conceder-lhe in memoriam o título de

Doutor Honoris Causa, a mais alta distinção

acadêmica. Avante!

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146

IMBECILIDADE NAS REDES SOCIAIS

A grande dificuldade de ter sofrido sob um mesmo

jugo opressivo é, ao se ver livre dele, não conseguir

enxergar algo melhor e pior ainda, se identificar com

o opressor. As redes sociais possibilitam

visualizarmos essa impressão que em outros tempos

estaria subsumida nas cabeças ou nas conversas de

mesa de bar. A imbecilidade, graças às redes sociais,

se tornou pública, visível e identificável. O racismo, o

machismo, a xenofobia, a ignorância pura e simples,

desfilam como roupa em vitrine. A ignorância

daqueles que tem algum saber instituído e a

ignorância daqueles que fazem questão de não saber.

O desafio de construir um novo projeto societário é

muito mais profundo. Não estão presentes nas redes

sociais a imensa maioria do povo brasileiro. Cito o

exemplo do Maranhão, com 67% de exclusão digital,

somente uma pequena parcela da população tem

acesso à internet. Isso significa que apenas as antigas

classes opressoras e parte das classes que ascenderam

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147

socialmente nos últimos anos conseguem exprimir

com mais forças suas opiniões, muitas como

enxurrada de banalidades, achismos e bobagens.

O provincianismo agrava nosso quadro de exclusão

digital. O provincianismo significa a absolutização do

local. Não conseguimos perceber nossa inserção no

país e no mundo, tendemos a ignorar o restante em

nome de um pretenso conhecimento total de nosso

lugar. Mais que um comportamento individual, isso

aparenta ser fruto de uma preguiça coletiva

acostumada com a facilidade de aderir a um

pensamento, uma postagem, uma opinião do outro,

seja crítica, cômica, machista, fascista ou nonsense.

Enquanto provincianos somos arrastados por algo

maior e que nos precede. As marcas monárquicas do

Brasil por exemplo. O Judiciário é o exemplo maior

dessas reminiscências como suas vestes talares, os

servidores da corte, as regalias, as despesas, os carros

com motorista, a linguagem rebuscada, as insígnias,

as mansões, tudo confluindo em um poder dos menos

transparentes e mais corruptos do mundo.

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148

Três casos são sintomáticos dessa imbecilidade nas

redes sociais. A citação de Simone de Beauvoir no

último Enem nos brindou com uma onda de

ignorância, motivada pelo mais profundo

desconhecimento e machismo. O principal surfista

dessa onda foi o promotor de justiça Jorge Alberto de

Oliveira Marum, um dos muitos privilegiados do

serviço público que apesar de receber salário

desproporcional em relação à média do funcionalismo

se desobrigou de estudar. Tenho fundadas dúvidas se

o promotor conseguiria entender “O Segundo Sexo”,

se um dia lesse.

Bem antes disso, quando da visita do Papa Francisco

à Bolívia. Muitos criticaram o presente do presidente

Evo Morales ao Papa: uma cruz estilizada com a foice

(símbolo dos camponeses) e o martelo (símbolo dos

trabalhadores) esculpido pelo padre jesuíta Luís

Espinal. Este espanhol se dedicou ao povo da Bolívia

no seu sacerdócio aliando jornal e cinema à sua

pregação pela democracia em tempos de opressão.

Criticaram a cruz pela expressão no rosto do Papa

seguida por milhares de comentários medievais.

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149

Por fim, a exaltação a Jair Bolsonaro como salvador

da pátria e possível candidato a Presidente coroa essa

montanha de estupidez. Conservador, filhote e

defensor da ditadura militar, anticomunista,

machista, homofóbico e antiesquerda, esse político

conseguiu agregar a velha escória remanescente da

ditadura e os jovens de direita. Um vídeo no qual este

político prega que todos os bandidos devem ser

mortos é acompanhado por elogios,

compartilhamentos e curtidas. Como diria Ariano

Suassuna não existe limite para os monumentos à

imbelicidade humana.

A ressignificação da política e do espaço público são

contaminados por esse peso e passam a ser vistas

como lugar de usufruto pessoal, carreirismo,

funcionando quase sempre como escada, quase nunca

como ponte. Banaliza-se a opinião e qualquer lugar

onde possa ser expressa. Mudar esse quadro implica

em dignificar a atividade política, introduzir novos

temas, elevar o debate, implementar educação

política, fazer com que o sistema de fato puna os

corruptos, evidenciar os políticos que não

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150

enriqueceram na política. É difícil, mas não

impossível. Acredito plenamente nisso.

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151

REPUBLICANIZAR O JUDICIÁRIO, PUNIR

OS CURRUPTOS

Uma conquista fundamental para o avanço

civilizacional no Brasil é a independência e

funcionamento autônomo das instituições. Na última

década acostumamo-nos a ver a Polícia Federal e o

Ministério Público Federal a agir, investigar e

prender. Algo inédito mesmo para a nossa recente

democratização pós-ditadura militar de 1964.

Uma nota dissonante ainda incomoda. No Brasil e no

Maranhão em particular, as instituições nunca

conseguiram funcionar com independência, nem

mesmo as representações da Polícia Federal e do

Ministério Público Federal. Lembro dois casos que

mesmo funcionando redundaram em coisa nenhuma.

Existe uma instituição totalmente avessa e claramente

voltada para os interesses próprios e das elites que

retarda e tarda todas as demais.

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152

O Judiciário por intermédio do Supremo Tribunal

Federal arquivou o processo decorrente da Operação

Lunus de 2002. Aquela em que R$ 1,2 milhão foi

encontrado em empresa de propriedade de Roseana

Sarney, derrubando sua pretensiosa candidatura à

Presidência da República. Na mesma linha, o

Superior Tribunal de Justiça anulou as provas da

Operação Boi Barrica em 2011. O mesmo Judiciário

censurou o jornal “O Estado de São Paulo” em 2009.

Fernando Sarney continua livre e ninguém foi para a

cadeia.

O ponto de viragem do Judiciário foi o processo do

Mensalão no Supremo Tribunal Federal. Pela

primeira vez sinalizou-se que a justiça não é só para

os pobres. Apesar de eu suspeitar profundamente de

que se os atores fossem outros, ninguém teria sido

punido. Precisamos de mais tempo para saber se essa

viragem se sustenta ou se foi mais uma ilusão

republicana em terras de trombeteiros.

A Operação Lava Jato que apura a corrupção da

Petrobrás e uma miríade de esquemas, empresas e

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153

políticos não conseguiu ter eficácia quando chegou a

Edison Lobão e Roseana Sarney, com indícios claros

de recebimento de propinas. A velocidade do

Judiciário teima em correr de forma diferenciada,

contra a corrente. Temo que em relação a esses dois

atores os resultados sejam similares às operações

anteriores.

Apesar dessas salvaguardas, devo elogiar a Polícia

Federal pela Operação “Sermão aos Peixes” que

desarticulou uma organização criminosa acusada de

desvios milionários na Saúde Pública de nosso estado.

Essa organização criminosa era chefiada por Ricardo

Murad, secretário da pasta no Governo Roseana

Sarney e cunhado da governadora. Desvios feitos,

diversos mandatos foram conquistados e pagos por

dinheiro de corrupção. Esses acusados desfilavam

arrogância e moralismo há uma semana.

A Polícia Civil do Maranhão, pela primeira vez em

muitos anos também passa por um processo de

republicanização. Cito as operações que prenderam

empresários, agiotas e políticos envolvidos com

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154

eleições e corrupção junto a Prefeituras Municipais,

bem como, as que complementaram a Operação Lava

Jato da Polícia Federal, prendendo outros figurões

locais. Faço fortes votos para que esse ponto de

inflexão da Polícia Civil se fortaleça e se sustente no

tempo.

Padre Antônio Vieira no “Sermão aos Peixes”, que

batizou a Operação da PF, faz duras acusações aos

homens por intermédio de sua crítica ao

comportamento dos peixes. Segundo Vieira “os

grandes que têm o mando das cidades e das

províncias, não se contenta a sua fome de comer os

pequenos um por um, ou poucos a poucos senão que

devoram e engolem os povos inteiros”. Não está aí o

apetite insaciável dos que exercem o poder, incapazes

de não confundir, não corromper ou corromper-se

por um dinheiro de todos, cuja responsabilidade e

zelo deveria ser sua?

Uma barriga do fim do mundo, onde nenhum

dinheiro consegue preencher ou saciar. Milhões de

reais desviados, bilhões de reais desviados,

Page 155: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

155

repetidamente. Ninguém pense que essas

movimentações da Polícia Federal e da Polícia Civil

constrangem aqueles que roubam. A mudança dessa

cultura é mais lenta. Agem pela crença de que jamais

serão descobertos a despeito da intolerância crescente

em relação aos políticos e da ampla ojeriza popular em

relação a corrupção. Quanto mais republicanas as

instituições, mais confiamos que esses peixes serão

extirpados.

Não existe constrangimento. No mesmo dia da

Operação da PF, Roseana Sarney lançou livro em dois

volumes com suas realizações e resultados dos quatro

mandatos governamentais à frente do Maranhão.

Ora, esse esforço não era necessário. As realizações e

resultados estão visíveis ainda, pobreza, miséria, falta

de água, péssimas estradas, ensino de baixa

qualidade, saúde precária. Se nada disso existisse seu

grupo teria continuado no poder. Não há resultado

maior do que se ver rejeitada pelas urnas e expulsa da

vida pública, coroando-se o conjunto da obra pela

quarta Operação da Polícia Federal em mais de duas

décadas de mandatos.

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156

Ainda Padre Vieira adverte “os maiores que cá foram

mandados, em vez de governar e aumentar o mesmo

Estado, o destruíram; porque toda a fome que de lá

traziam, a fartavam em comer e devorar os pequenos”.

O desafio cotidiano que nos move é reconstruir o

Estado, alimentando os famintos da corrupção com

cadeias e grilhões, aplicando de forma honesta os

dinheiros públicos para saciar a verdadeira fome, a

fome de justiça.

Page 157: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

157

AVISO AOS NAVEGANTES DAS ÁGUAS TURVAS DE CORRUPÇÃO

Dentre as muitas especulações em tempos de crise as

de ordem financeira tendem a ser muito pessimistas,

mas, paradoxalmente, as mais realistas. Dão-nos

elementos materiais para sabermos onde pisamos e

onde devemos dar os próximos passos. A Receita

Federal divulgou relatório com o resultado da

arrecadação tributária referente a outubro. Os

indicadores macroeconômicos ali apontam a queda

na produção industrial (-6,84%) e na venda de bens e

serviços (-6,76%), comparando o período

janeiro/outubro de 2015 com janeiro/outubro bde

2014.

Em princípio, se a atividade econômica retroage

também a arrecadação tende a acompanhar esses

números. Os setores econômicos que apresentaram

maior queda na perspectiva de arrecadação foram o

de extração de minerais metálicos, atividades de rádio

e televisão, obras de infraestrutura, metalurgia e

Page 158: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

158

transporte terrestre. Isso se evidencia pela

paralisação de inúmeras obras importantes, a

exemplo da duplicação da BR-135 e da construção de

casas no programa Minha Casa, Minha Vida. Ciclo

vicioso agravado pelo ajuste fiscal e suas

consequências para a liberação de recursos federais

para estados e municípios, zero ou quase nada até o

presente mês. O Maranhão não ouviu tilintar

nenhuma moeda federal nos seus cofres.

Entre janeiro e outubro de 2014 a Receita Federal

arrecadou R$ 931 bilhões, no mesmo período em

2015, arrecadou R$ 977 bilhões. Em uma visão de

conjunto as coisas vão bem. Entretanto, abordando

isoladamente o mês de outubro arrecadou-se R$ 10

bilhões a menos em comparação com outubro de

2014. Maiores dificuldades terão Estados e

Municípios no horizonte se essa queda se tornar uma

tendência, impactando também as transferências

constitucionais, pois as transferências voluntárias

minguaram há tempos.

Page 159: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

159

Isso tudo para dizer que as coisas vão mal no campo

da economia, mas o campo da política consegue

superar e surpreender sempre. Quando as coisas

começavam a arrefecer, os ânimos mais exaltados se

acalmavam. Eis que o senador Delcídio Amaral foi

preso pela Polícia Federal por tentar atrapalhar as

investigações da Operação Lava-Jato, chantageando

testemunhas, prometendo tráfico de influência e até

fuga segura do país. É demais. Não é possível que os

parlamentares consigam ficar tão alheios ao que se

passa, conseguem colocar mais lama onde poucas

reputações se sustentam em pé.

Não se pode ignorar que a corrupção frustra nosso

sonho de Brasil mais desenvolvido e justo. Bilhões de

reais são arrecadados, mas um percentual nada

modesto é desviado criando fortunas gigantescas,

adubando impérios bancários. Nosso

desenvolvimento não consegue avançar, pois onde

faríamos 1.000 pontes, gastamos como se fossem

1.000, mas só construímos 100. Esta conta não

consegue fechar. Não basta transparência nas contas

públicas, precisamos de inteligência no gasto público.

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160

O que justifica termos diferentes empresas e contratos

para a prestação de serviços comuns, se poderíamos

ter preços melhores com contratos unificados?

Telefonia, internet, segurança privada, combustível e

locação de veículos abocanham receitas que poderiam

servir para outros fins, caso tivéssemos maior

organicidade na contratação desses serviços e no seu

respectivo pagamento. Já defendi a necessidade de

uma empresa pública na área de tecnologia da

informação para o Maranhão. Se a extinção da

Prodamar não tivesse ocorrido há 17 anos atrás, hoje

poderíamos estar em patamar mais próximo do Ceará

com sua Etice, a qual gera receita para o governo em

vez de despesa.

Minha expectativa é que consigamos dar um salto

civilizacional, após essa longa tormenta de uma

operação kafkiana sem fim, saindo do desperdício por

corrupção para o desperdício por falta de priorização

estratégica. Teríamos um grande avanço. Que bom se

nossas críticas fossem apenas sobre a necessidade ou

não de construir barragens, mas não sobre a ausência

delas por incompetência ou irresponsabilidade.

Page 161: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

161

Precisamos de grandeza de espírito para nos

preservar intactos e seguir trabalhando pelo bem

comum, quando muitos insistem em seguir

escarnecendo do povo, torrando dinheiro público e se

escondendo atrás das imunidades e foros

privilegiados. O recado da Ministra Carmen Lúcia do

Supremo Tribunal Federal, bem merece ser

pendurado alto e visível nos gabinetes políticos de

Brasília e alhures:

“Na história recente da nossa pátria, houve um

momento em que a maioria de nós, brasileiros,

acreditou no mote segundo o qual uma esperança

tinha vencido o medo. Depois, nos deparamos com a

Ação Penal 470 e descobrimos que o cinismo tinha

vencido aquela esperança. Agora parece se constatar

que o escárnio venceu o cinismo. O crime não vencerá

a Justiça. Aviso aos navegantes dessas águas turvas de

corrupção e das iniquidades: criminosos não passarão

a navalha da desfaçatez e da confusão entre

imunidade, impunidade e corrupção. Não passarão

sobre os juízes e as juízas do Brasil. Não passarão

sobre novas esperanças do povo brasileiro, porque a

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162

decepção não pode estancar a vontade de acertar no

espaço público. Não passarão sobre a Constituição do

Brasil”.

Page 163: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

163

NÃO ACEITAMOS GOLPE!

Eduardo Cunha, chantageador, comprovadamente

criminoso, denunciado pelo Ministério Público

Federal, com inquérito aberto pelo Supremo Tribunal

Federal, receptador de milhões de reais com propinas,

em vias de ter seu processo aceito pelo Conselho de

Ética da Câmara dos Deputados, resolveu admitir um

pedido de impeachment da presidente Dilma, cujos

fundamentos são inconstitucionais e já foram

questionados por inúmeros juristas desde o início do

ano.

Em qualquer país civilizado, Eduardo Cunha jamais

continuaria exercendo a Presidência da Câmara dos

Deputados. Exceto no Brasil, aqui, por ele cumprir um

papel que interessa à oposição, à direita raivosa e à

mídia, foi investido de inatacabilidade e permanece

chantageando o governo. O próprio PSDB só decidiu

retirar-lhe o apoio no limite da tolerância, quando

este não admitiu o impeachment meses atrás.

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164

Ignoraram todas as evidências e provas contra ele

apresentados pelo Ministério Público da Suíça.

Alguns desavisados vendo os jornais explicarem o rito

do impeachment, poderiam supor ser uma tentativa

desesperada de Cunha salvar o próprio pescoço,

jogando Dilma aos leões. Penso que a melhor resposta

a isso se encontra no silêncio do vice-presidente

Michel Temer e na fala do Ministro Marco Aurélio de

Mello (primo de Collor, cuja filha foi nomeada para o

TRF tendo na bagagem somente o diploma de

graduação no CEUB). O insuspeito Ministro do

Supremo Tribunal Federal pediu que não

atribuíssemos ao ato de Cunha uma dimensão o qual

não tem.

É justamente o contrário, as explicações sobre o rito,

o silêncio de Temer e o acalmem-se do Ministro

recomendam que iniciemos com tranquilidade, mas

firmes e decididos, campanha nacional pela

legalidade, em defesa da democracia e do mandato

constitucional da presidente. O governador do

Maranhão, Flávio Dino, comparou a situação com

Page 165: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

165

1961 e a tentativa de golpe contra Jango, lembrando a

importante liderança de Brizola em defesa da

legalidade.

Quando todos recomendam calma. Não tenham

dúvidas, as costuras já foram feitas, os indicativos

dados, acordos selados, garantias trocadas. O

documento “Uma ponte para o futuro” do PMDB foi

lançado dia 29 de outubro de 2015, ali consta o

programa de um futuro governo, destacando-se entre

as propostas: 1. o fim das vinculações constitucionais

para a educação e a saúde, 2. revisão do regime

previdenciário com aumento da idade mínima, 3.

revisão do modelo de concessão do setor petrolífero

com abertura total para empresas privadas e redução

do papel da Petrobrás, 4. cancelamento de programas

e políticas governamentais após avaliação que

comprove sua ineficiência. Essas serão as diretrizes de

um governo do PMDB, caso se materialize o golpe

institucional em andamento, o qual segue o estilo de

Honduras e Paraguai.

Page 166: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

166

Não há o que esperar. Como diria Luís Carlos Prestes

“só não comete erros quem nada faz”. Aqueles que

defendem a democracia e lutaram para vivermos o

mais longo período democrático de nossa história não

podem se acovardar, devemos partir para cima das

vivandeiras de golpe com vigor, ousadia e inteligência.

O palco da guerra é o Congresso Nacional. O palco da

batalha são as ruas.

Não se trata de desconsiderar as graves denúncias,

inquéritos, delações e desvios que pesam sobre

membros de vários partidos, entre eles membros do

PT, os preferencialmente divulgados pela mídia

nacional. Não compactuo jamais com tal. Acredito

que as instituições (PF, MPF e STF) darão cabo de

resolver isso, processando e condenando quando do

julgamento definitivo desses casos. A corrupção é um

problema histórico e sério, tornado mais visível pelas

tecnologias, redes sociais e instrumentos de

transparência pública. Há que se fazer combate

incansável.

Page 167: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

167

Eu sei o que é ser derrubado de um governo por

vontade arbitrária revestida de argumentos e floreios

jurídicos. A nossa arma é a palavra e as ruas, invoco o

grande brasileiro, Sobral Pinto “trabalhem não com

violência, trabalhem através da palavra, do raciocínio,

do argumento, no sentido de convencer a todos que

devem realmente organizar seu país dentro de uma

organização jurídica perfeita em que os três poderes

funcionem livremente e respeitando-se

mutuamente”.

Tantas décadas depois ainda não aprendemos essa

lição. Invoco ainda Leonel Brizola sobre a necessidade

de erguermos “uma cidadela contra a violência, contra

o absolutismo, contra os atos arbitrários”. A história

não se repete, mas sempre temos que repor essa

constatação, explicá-la e lutar para que os descrentes

da democracia não tentem aventurar uma repetição.

Não aceitamos golpe!

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ATÉ QUANDO CUNHA ABUSARÁ DE NÓS?

Quamquam quid loquor?

(Mas de que servem minhas palavras?)

Cícero

Não sei quem é o autor, mas uma das melhores

imagens da atual situação que vivemos no Brasil foi a

de um jogo da velha. Nesse jogo, Eduardo Cunha por

linha torta busca vencer apesar das regras exigirem

uma linha reta. Nunca vi algo tão explícito em relação

a essa natureza do ser de Cunha. Se o relatório do

Conselho de Ética não o agrada, protelam-se as

reuniões indefinidamente. Se o relatório chega a ser

votado, destitua-se o relator. Se o relator não agrada

também, muda-se novamente. E assim temos um

Conselho decorativo que é impedido de funcionar por

homens menores com rostos desconhecidos,

subservientes ao Presidente da Câmara dos

Deputados.

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169

O Congresso Nacional passa pelo seu mais baixo

momento de prestígio social em todo o período da

redemocratização pós-1985. Tão baixo que o Supremo

Tribunal Federal precisa regularmente intervir ante

as insanidades desse Congresso, sobretudo do

Presidente da Câmara. Sem hesitar, Cid Gomes, então

Ministro da Educação, o chamou de achacador,

algumas vozes chegaram a criticar Cid pela

inabilidade. Hoje, sem dúvidas todas lhe dão razão.

Cunha é um achacador, corrupto e perigoso que

ameaça de morte a estabilidade democrática.

Lembro-me da peça Ricardo III (Século XVI) de

William Shakespeare, também transformado em

filme por Richard Loncraine (1995). Ricardo então

Duque de Gloucester faz de tudo para chegar ao poder

e se tornar Rei da Inglaterra, suspeita-se que matou

os próprios sobrinhos, eliminou seus adversários e

casou por arranjos oportunistas, como ele mesmo diz

a peça “armei conjuras, tramas perigosas, por entre

sonhos, acusações e ébrias profecias”. Após tudo que

vimos até aqui, Cunha ergueu-se não mais como um

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170

dos homens menores que passaram pela Presidência

da Câmara, mas ergueu-se como vilão odiento.

Não acredito que qualquer processo contra Cunha

prospere no Conselho de Ética da Câmara dos

Deputados. Nem mesmo o Rei Luís XIV no auge do

absolutismo francês exerceu tanto poder sobre um

órgão que deveria ser colegiado. Não só impediu o

andamento do processo, como destituiu o líder do

PMDB na Câmara e se alinhou de forma mais enfática

ao vice-presidente Michel Temer. Os dois homens da

linha sucessória da Presidência da República

manipulam, conspiram e agem abertamente para

depor Dilma Rousseff.

Dezesseis governadores do Brasil se opõem ao

impeachment com forte liderança do governador do

Maranhão, Flávio Dino. Entre os onze governadores

que silenciaram ou se manifestaram isoladamente a

favor do impeachment, destaco o Governador Geraldo

Alckmin, o homem da falta de água, do fechamento de

escolas e da pancadaria contra os estudantes, é o

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171

único que publicamente declara tratar-se de um

processo legal.

Sou contra esse processo ilegal, antidemocrático e

inconstitucional de impeachment. Estou ao lado dos

dezesseis governadores democratas, da OAB, da

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB),

do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil, do

PCdoB, do PDT, do PSOL, da REDE, da SBPC, da

ANPAE, dos artistas, intelectuais e escritores como

Leonardo Boff, Chico Buarque, Lincoln Secco, Betty

Faria e Paulo Betti. Como disse um dia Darcy Ribeiro

não gostaria de estar de outro lado.

Com a licença do grande orador romano Cícero, faça

algumas indagações a todos nós brasileiros e a

Eduardo Cunha. Até quando Cunha abusará de nós?

Por quanto tempo assistiremos impassíveis essas

loucuras? A que extremos tua audácia sem freio irá se

precipitar? Nem a Polícia Federal, nem o Ministério

Público, nem o ódio do povo, nem as manifestações de

todos os homens de bem do país, nem o Congresso

Nacional, nem as palavras e as questões de ordem dos

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172

parlamentares, nada disto consegue perturbar-te?

Não percebes que teus planos estão à vista do país?

Não vês que a tua conspiração a dominam todos que

a conhecem? Quem, entre nós, ignora o que fizeste

ontem e anteontem, em que local estiveste, com quem

reuniste e que decisões foram as tuas?

Ainda com Cícero questiono-te Cunha. Mas de que

servem as minhas palavras? A ti, como pode alguma

coisa fazer-te dobrar? Tu, como poderás algum dia

corrigir-te? Tu, como tentarás planejar alguma fuga?

Page 173: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

173

ENGANAM-SE OS QUE ESPERAM DE CUNHA

A marcha do impeachment segue firme e impávida,

mesmo com a Polícia Federal operando e recolhendo

provas nas residências de inúmeros medalhões da

República, entre eles, o presidente da Câmara dos

Deputados, Eduardo Cunha. Logo ao ser perguntado

pela imprensa sobre a operação da Polícia Federal

(Operação Catilinárias em referência aos discursos de

Cícero contra Catilina), saiu-se com “um acho

normal” e se “estão entrando em minha casa por que

não tem provas”. Diga-se de passagem, que a revista

foi autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Sempre de olhos saltados, Eduardo Cunha entrará

para história recente da República como o político de

maior desfaçatez. Vendo e ouvindo suas declarações a

uma imprensa sempre submissa e aduladora parecia

que nada de sério estava acontecendo.

Afirmo que a marcha segue, pois, os beneficiados com

o impedimento da presidente Dilma não dão sinal de

terem mudado de ideia até o presente momento. Os

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174

beneficiados na verdade estão cada vez mais

irresolutos, independentemente das ruas à direita ou

à esquerda. Vejamos quais são as classes de pessoas

que apoiam o impeachment e respaldam Eduardo

Cunha, ao mesmo tempo, indiferentes em sacrificá-lo

se a causa assim exigir.

Um primeiro grupo importante diz respeito à banda

do PMDB que rompeu com o governo e deputados de

vários outros partidos que foram financiados por

Cunha, gravitando no entorno de sua liderança. Ali

encontraremos políticos dispostos a tudo para

aboletar maiores nacos do Governo Federal, tanto na

Esplanada dos Ministérios, quanto nas suas bases

eleitorais. Muitos contemplados nas últimas

concessões da Presidente Dilma, mas irresolutos e

insaciáveis. Escondidos no anonimato ou na

mediocridade sustentam os desmandos e a

impunidade de Cunha na Câmara dos Deputados.

Risíveis, mas perigosos.

Existe um desejo inconfesso no PMDB, deixar de ser

ator coadjuvante. Os métodos para materializar esse

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175

desejo podem não ter consenso, mas existe maioria

convergente. É questão de tempo, a única barreira são

os quadros partidários atuais, desgastados

publicamente ou inexpressivos tecnicamente.

O segundo grupo de beneficiados está no PSDB. Todas

as lideranças do partido aderiram em bloco à tese do

impeachment como caminho ideal para a volta ao

poder. Alguns interesses convergiram. Fernando

Henrique Cardoso por vingança ao PT que um dia

criou o Fora FHC e ousou contestar o príncipe da

sociologia tupiniquim. Geraldo Alckmin acuado

politicamente por uma gestão fracassada e

repressora, o qual tributa seus problemas à oposição

de esquerda. Aécio Neves que nunca aceitou ter

perdido a eleição, incapaz de superar essa frustração

partiu para o tudo ou nada. José Serra o presidente

que nunca foi, mas que almeja ser e se imagina até

Ministro do eventual governo Temer para repetir a

trajetória trilhada anteriormente por FHC. As demais

lideranças são figuras borradas e absorvidas pela

arrogância tucana.

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176

A estes grupos perguntamos com Cícero: e no caso

que cheguem a conseguir o que desejam com a maior

insolência, porventura esperam obter nas cinzas do

país o sangue dos cidadãos? Não veem que, se

conseguirem o que desejam, forçosamente o hão de

conceder a outro?

Outro grupo significativo se encontra no mercado. Às

vezes confundidos com algo abstrato, este é bem

concreto, tem nome e endereço. Os bancos não estão

satisfeitos com o que o governo fez até agora, mais

irritados ainda com possível redução dos recursos

para pagamentos de juros e dívidas. Os industriais,

sobretudo paulistas, não aceitam perder as reduções e

desonerações de impostos dos últimos anos. As

multinacionais querem explorar o pré-sal sem a

interferência da Petrobrás. Após o trabalho difícil de

exploração e descoberta das reservas do pré-sal,

desejam usufruir do lucro certo e mercado garantido.

Invocando Cícero, perguntaria a esse grupo: tu com

propriedades, dinheiro, adornados de tudo, duvidais

cortar tuas posses e recobrar o crédito? Que esperas?

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177

A guerra? Para que? Julgas que na assolação geral de

tudo hão de ser privilegiados os teus bens?

Temos ainda uma massa difusa de direita formada por

jovens, maduros e malucos. Ignorantes quanto à

história da ditadura militar do país e apoderados de

um espírito anticorrupção criaram os maus corruptos

(PT e companhia) e os bons corruptos (qualquer um

que consiga derrubar o PT). Acreditam piamente que

a corrupção no Brasil começou ou se agravou com o

PT, portanto, solucioná-la implica em sacar esse

partido do poder. Nazismo, machismo, xenofobia,

homofobia, autoritarismo, pobreza intelectual e a

mais profunda ignorância são marcantes nesse grupo.

Cícero afirmaria a estes que “não podendo viver com

decoro, querem morrer com infâmia”.

Apesar de tudo, de todas as denúncias, pedidos de

afastamento e incapacidade de admitir a própria

culpa, Cunha não é Catilina, continua em Brasília e

não dá sinais de que fugirá para Marselha. Mesmo que

seja retirado, seus amigos e sócios continuarão. O

atentado contra a República e a Democracia

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178

apelidado de impeachment e denunciado como golpe

após o julgamento do Supremo Tribunal Federal

receberá o véu de legalidade. A avidez dos

beneficiados será saciada.

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179

NATAL É PARA LEMBRAR QUE

PODERÍAMOS SER MAIS

Darei uma pausa do debate sobre Eduardo Cunha, o

homem que instabilizou a República brasileira

durante quase 1 ano, pondo em cheque o Poder

Executivo, ameaçando a instituição da Presidência,

acossando o Poder Judiciário e deflagrando uma

campanha sistemática de constrangimentos ao

Congresso Nacional que o pariu. Sabiamente Ricardo

Lewandowski, presidente do Supremo Tribunal

Federal, recebeu Eduardo Cunha em reunião aberta à

imprensa. Assegurou-se de não ouvir ou

experimentar a faceta indecorosa de quem não tem

vergonha de cobrar propina por Whatsapp.

Em geral, no período de Natal somos tomados por um

sentimento de solidariedade com o coletivo, um

sentimento de religação individual com a divindade.

Não lembramos a diferença radical entre o Deus que

está no Velho Testamento e o Deus que aparece no

Novo Testamento. Eduardo Galeano percebeu bem

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180

essa diferença no seu livro “Espelhos – uma história

quase universal”. Ali no texto “Um pai que não ri

nunca” expõe o Deus ciumento, castigador, impiedoso

e vingador do Velho Testamento, aquele que castiga a

“iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e a

quarta geração dos que me odeiam”, aquele que

afirma “matarás homens e mulheres, crianças e

lactantes, bois e ovelhas, camelos e asnos...”, e assim

segue em infinitas passagens.

Por outro lado, o Deus que emerge no Novo

Testamento nos fala de amar-nos uns aos outros como

ele nos amou, nos pede para dar a outra face, nos

conclama a amar o próximo como a nós mesmos, nos

desafia a atirar a primeira pedra quem nunca pecou,

nos convoca a vender tudo que temos e segui-lo, a

perdoar setenta vezes sete e nos promete a vida

eterna. Seguiu ao longo de sua breve passagem no

mundo “curando leprosos, multiplicando pães e

peixes”, como lembra Galeano.

As três grandes religiões envolvidas nos principais

conflitos do mundo têm esse Deus em comum.

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181

Judeus, cristãos e mulçumanos utilizam-no e fazem-

no falar conforme os interesses em vigor. Arrancam

dele todas as justificativas imagináveis para divinizar

uma obra tão humana como a guerra. Nos céus

buscam álibis e escapismos para suas pobres lógicas

de guerra e capitalismo.

Ano após ano, repomos no Natal nossa esperança de

um mundo melhor criado de cima para baixo,

exaltamos o distante como perto, o passado como

presente, a promessa de paz eterna como promessa de

paz de horas. Penso que respeitar o simbolismo do

Natal nos desafia a ir além da crítica ao Papai Noel dos

brinquedos e lembranças, ir além da exaltação do

nascimento de Jesus como sentido verdadeiro desse

dia.

Natal é para lembrar que poderíamos ser mais,

poderíamos ser melhores do que somos, mas adiamos

para o natal seguinte, e o seguinte ao seguinte. Lutar

para que a cada Natal estejamos mais pertos de um

mundo melhor é tarefa inarredável daqueles que

acreditam na humanidade e na sua capacidade

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182

transformadora para o bem. Apesar da crise de

confiança generalizada que vivemos, cada criança que

vem a lume repõe a esperança e nos chama à essa

responsabilidade individual e coletiva.

Não estamos condenados a viver como nascemos. Não

estamos condenados a conviver com a injustiça, a

miséria e a violência. Mudar isso não passa por

acender vela a este ou àquele Deus, ainda que isso nos

conforte temporariamente. Mudar passa por nós

mesmos, revolução interna e ação no coletivo. Não

existe outro caminho. Nada é dado, tudo é construído.

Recordo-me de um já distante 2008, no qual encerrei

desfiando “que venha 2009!”. Na mesma linha do

Natal, penso que o ano novo é oportunidade para

continuar aquilo que deu certo, que nos pôs no rumo

dessa luta por justiça, alegria e prosperidade e ao

mesmo tempo, ferramenta de correção, aparos e

refinamentos daquilo que não rendeu o esperado.

Persevero uma vez mais, agradecendo àqueles que

comigo partilharam dessa luta, às conquistas

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materializadas e aos desafios que permanecem, pois

nos mobilizam para superá-los.

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CIÊNCIA

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186

CIDADANIA DIGITAL

Os que produzem discursos no Maranhão sejam

intelectuais, militantes ou sociedade civil organizada,

os úteis dispostos, experimentam conjuntura inédita.

A derrota do antigo regime e a vitória do projeto

político do atual governo abriu uma oportunidade

para todos. Aqueles que até outubro de 2014 não

teriam acesso a qualquer senda de mídia, dispõem

agora de uma avenida às suas críticas. Por que isso

ocorreu? Ora, a mídia de maior capilaridade e

penetração é controlada pela família que perdeu a

eleição, a qual tem interesse em enfraquecer e

achincalhar o governo, lançando mão de suas próprias

forças ou dos úteis dispostos. Estes últimos,

carregados de boas intenções ou não, vivem o

deslumbre dessa luz, como os sapos do poema de

Manuel Bandeira.

A cidadania classicamente é conceituada como o

exercício dos direitos civis, políticos e sociais pelos

cidadãos de forma plena em uma determinada

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187

sociedade. Ao longo da história do Brasil, a cidadania

encontrou inúmeros percalços para se firmar, direitos

políticos sem direitos civis, direitos civis sem direitos

políticos, direitos sociais sem direitos civis e políticos.

No caso do Maranhão, a cidadania ainda apresenta

fortes defasagens e descaminhos em relação aos

direitos civis, políticos e sociais. O domínio político de

um mesmo grupo por décadas fez germinar a cultura

de que os direitos pertencem a alguns e os deveres a

nenhum, distantes do povo como produto de luxo

para consumo de poucos privilegiados.

Temos discutido como as práticas de Cidadania

Digital podem contribuir para a ampliação e

efetividade do exercício da cidadania no Maranhão.

Cidadania digital é ter direito à cultura digital, meios,

espaços e instrumentos que potencializem o exercício

de direitos pelos cidadãos, seja acompanhando os

gastos do governo (Portal da Transparência, Acesso à

Informação, Ouvidoria), formulando políticas

públicas (Plataformas de Participação Popular,

Consultas Públicas) ou acessando serviços públicos

(Documentos oficiais, Matrícula On-Line, Marcação

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188

de Consultas, Plataformas de Exames Médicos,

Cursos Profissionalizantes).

Inúmeras são as possibilidades e as áreas da

Cidadania Digital. O principal militante da cidadania

digital é o próprio governador Flávio Dino, ao usar as

redes sociais para tornar as decisões mais acessíveis

ao público e dialogar diretamente com as pessoas.

Essa ação é das que mais causam horror aos antigos

donos do poder pelo apreço aos jogos de bastidores,

conchavos de gabinete e acertos de cúpula.

Medidas sem custo ou de baixo custo com impactos

significativos para o Governo do Estado do Maranhão

podem ser adotadas no âmbito da Cidadania Digital,

especificamente na área de governo eletrônico. Não

faz mais sentido produzir papéis e documentos

oficiais que dizem respeito à comunicação interna dos

diferentes setores e órgãos, existindo sistemas de

gestão que utilizam memorandos eletrônicos para o

mesmo trabalho, economizando papel, combustível e

a manutenção ou aluguel de veículos, eliminando as

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189

distâncias geográficas, além de conferir agilidade e

dinamismo na velocidade da máquina pública.

Também não faz mais sentido que o cidadão se

desloque de sua casa até uma repartição pública com

o objetivo de requerer declarações ou documentos

oficiais, os quais tranquilamente poderiam estar

disponíveis de forma digital e acessíveis nos sites

institucionais para impressão e autenticação

eletrônica. A única coisa que impede essa facilitação

tecnológica é a resistência da própria burocracia em

perder uma de suas justificativas de existir, talvez a

que mais impacte nos custos de manutenção da força

de trabalho, mais útil em atividades-fim do que em

atividades-meio. Chama a atenção, por exemplo, que

apesar do Portal do Servidor permitir acesso imediato

ao contracheque dos funcionários, se continue

imprimindo os tais contracheques. É o cúmulo da

resistência de uma cultura organizacional

ultrapassada e cega ao mundo.

Não basta juntar tudo numa cesta digital e colocar o

nome de serviços ao cidadão no site governamental,

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190

importante gestar de forma inteligente, articulada e

orgânica essas facilitações tendo por norte o

fortalecimento do exercício de direitos em linguagem

comum, padrões reconhecíveis e plataforma

amigável. Nesse caminho, não tenho dúvidas, a

Cidadania Digital será uma das marcas do governo em

curto espaço de tempo.

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191

O SONHO DA CIÊNCIA PARA O MARANHÃO

No momento em que o Ministério da Ciência,

Tecnologia e Inovação (MCTI), completa 30 anos,

vemos o quanto ainda precisamos avançar e o quanto

avançamos. Saímos da irrelevância na década de 1980

para um patamar significativo em produção científica,

impacto de publicações, investimento e formação de

recursos humanos. Registre-se o papel destacado do

maranhense Renato Archer, o primeiro ministro da

pasta e responsável pela sua estruturação.

Para que o Brasil supere seu complexo de vira-latas se

reveste como indispensável o conhecimento de si e o

domínio do conhecimento mais avançado. Elementos

cruciais para isso estão na engenharia aeroespacial,

tecnologia da informação, nanotecnologia, energia

renovável e produção de novos materiais.

Investimento colossal a fundo perdido, sem

interferências burocráticas permitirão superarmos

esse nó histórico nos próximos 20 anos. Hoje, ainda

Page 192: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

192

somos mais importadores que criadores de

tecnologia.

Importante citar que as principais realizações da

ciência brasileira foram financiadas com recursos

públicos ou de empresas como a Petrobrás. Nada

diferindo do que ocorre no resto do mundo. A boba

direita desinformadora omite esse dado e trata a

questão como de corrupção endêmica. O melhor

remédio seria concluir as investigações da Operação

Lava Jato sem estardalhaço, com identificação cabal

dos responsáveis, sem essa espetacularização.

Trabalho bem feito e de qualidade prima pela

discrição no processo, mas divulga com a máxima

amplitude os resultados. Nisso, nossa Polícia Federal

e Ministério Público ainda precisam aprender muito

com os americanos. As instituições são mais fortes

que as pessoas, não podem sucumbir a elas.

Temos feito um grande esforço de articulação

institucional para atrairmos centros de excelência

para o Maranhão. Entre eles, o Centro de Tecnologia

da Informação “Renato Archer” (CTI) e a Agência

Page 193: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

193

Espacial Brasileira (AEB), órgãos vinculados ao

MCTI. A perspectiva é que, com a participação ativa

dos pesquisadores locais, possamos deixar

institucionalizada a política estadual e organizado o

órgão coordenador dessa política, com iniciativas

estratégicas e focadas na conquista de uma nova

geração para a ciência. O sonho é criarmos ambiente

propício e estimulante ao avanço científico em prol do

desenvolvimento humano maranhense, em definitivo

e com caráter sustentável.

A gestão da área de Ciência, Tecnologia e Inovação

(CT&I) do Estado do Maranhão viverão outro

momento no atual governo. O governador Flávio Dino

assinou o Decreto Nº 30.679, de 16 de março de 2015,

o qual reorganiza a estrutura da Secretaria de Ciência,

Tecnologia e Ensino Superior (SECTEC),

transformando-a em Secretaria de Ciência,

Tecnologia e Inovação (SECTI). Mais que uma

mudança nominal, a nova estrutura abarca mudança

conceitual e de sentido com três eixos de

competências: ciência, tecnologia e ensino superior;

educação profissional e tecnológica; inovação e

Page 194: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

194

cidadania digital. Antes restrita a um papel figurativo

e orçamentariamente secundário, a mudança

organizacional sinaliza para a afirmação da Secretaria

enquanto instância de coordenação e mediação das

entidades vinculadas (FAPEMA, UEMA e IEMA) no

trabalho de instituir e fazer funcionar o Sistema

Estadual de CT&I.

Três temas foram incorporados pela Secretaria de

forma mais contundente. A educação profissional e

tecnológica tem como desafio a implantação de uma

política estadual para o setor que abrange a

implantação do Instituto Estadual de Educação,

Ciência e Tecnologia do Maranhão (IEMA), a

realização de cursos técnicos e tecnológicos, a oferta

de oportunidades de inserção profissional e a criação

de novos Centros de Vocação Tecnológica (CVT), hoje

restrito ao Estaleiro-Escola. A inovação tem como

desafio fortalecer as iniciativas de fomento

executadas pela FAPEMA por intermédio de editais, a

partir da criação de programas voltados para start-

ups e aprovação do marco legal da inovação. A

cidadania digital tem como desafio ampliar o acesso a

Page 195: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

195

internet a partir de programas que implantem maior

infraestrutura de rede, wifi livre em locais públicos e

pontos tecnológicos de acesso a internet, cursos

técnicos e serviços públicos.

O legado de formar uma nova geração de

maranhenses interessados em ciência, tecnologia e

inovação, portadores do sonho de conhecer nos

mobiliza. A geração de 2022, quando completamos

200 anos de independência, herdará dez mil flores de

pensamento e criação. Estamos empenhados nisso.

Page 196: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

196

CIDADÃO DO MUNDO

Recentemente lançamos o edital “Maranhão no

Ciência sem Fronteiras” com o objetivo de identificar,

reconhecer e valorizar a participação dos

maranhenses nesse importante programa do governo

federal. Temos recebido inúmeros relatos de

experiência dos participantes que retornaram. Todos,

sem exceção, sublinham o caráter único e impactante

da experiência de intercâmbio em suas vidas. Não só

do ponto de vista do conhecimento adquirido, mas

como também da vivência experimentada. Atestam o

sucesso desse programa.

Países como Chile e Argentina também criaram seus

programas para a concessão de bolsas de estudo no

exterior com o objetivo de superar entraves e

limitações em termos de pessoal altamente

qualificado. O conhecimento se tornou fator crucial

para o desenvolvimento. Essa constatação

aparentemente óbvia, demorou a chegar entre nós e

ainda não se concretizou em toda sua plenitude.

Page 197: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

197

Apesar disso, os exemplos, nacional e internacionais,

tem gerado um conjunto de políticas similares a

somar-se nesse circuito virtuoso.

O Programa Cidadão do Mundo é uma iniciativa

pioneira do atual governo em relação aos que o

precederam. Inspirado no programa Ganhe o Mundo

de Pernambuco, objetiva propiciar a realização de

intercâmbio internacional a jovens maranhenses de

18 a 24 anos, egressos de escolas públicas. O

intercâmbio permitirá a aprendizagem de um idioma

estrangeiro (inglês, espanhol ou francês) e a vivência

cultural no país de destino. Abre-se uma janela de

oportunidade aos jovens, antes restrita aos filhos das

classes mais ricas.

O Programa vinculada à Secretaria de Ciência,

Tecnologia e Inovação contribuirá para elevarmos a

capacitação bilíngue e a inserção internacional do

Maranhão. As pesquisas que fundamentaram a

formulação do programa apontam que para cada 5 mil

alunos da rede pública maranhense, apenas 1 tem

habilidade linguística suficiente para concorrer com

Page 198: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

198

os da rede privada. Na mesma linha, dados do

Programa Ciência Sem Fronteiras evidenciam que

ocupamos a 16ª posição nacional no envio de

estudantes.

Recordo que nas discussões sobre cidadania, em

geral, cita-se a expressão pitoresca: “brasileiro mora

no município, não na União”. Destaca-se o elemento

local que cria a identificação com a terra. Entretanto,

pelo menos desde que o homem se afirmou em

sociedade, andar pelo mundo, conhecer outras

culturas e recuperar o universal de humanidade que

podemos depreender de cada país faz parte do

processo de aprendizagem. A cidadania local se

projeta na cidadania global, cuja grande bandeira está

na luta em defesa dos direitos humanos consagrados

pela Organização das Nações Unidas (ONU).

O filósofo francês René Descartes em seu Discurso do

Método empregou boa parte de sua juventude “em

viajar, em ver cortes e exércitos, em conviver com

pessoas de diversos temperamentos e condições, em

recolher várias experiências”, estudando no “grande

Page 199: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

199

livro do mundo”. Essa experiência foi fundamental

para o que depois ficou conhecido como método,

ponto de partida para a construção do conhecimento

científico até hoje.

Em um momento conturbado da vida nacional, a

pauta conservadora desconstrói a significativa

redução da desigualdade social do Brasil, fruto dos

últimos 12 anos de políticas públicas federais exitosas.

Defender e investir em educação se tornou ato de

coragem. Aos covardes cumpre urdir golpes. Aos

corajosos propor políticas de Estado para continuar

reduzindo as desigualdades e abrir janelas aos jovens.

Plantamos futuros, repudiamos o golpe e o

linchamento da juventude.

Estamos muito orgulhosos de poder registrar o

Programa Cidadão do Mundo nos anais históricos das

políticas públicas do Governo do Estado do

Maranhão, com a Lei Nº 10.286 e o Decreto Nº

30.959, de 21 de julho de 2015. Não trabalhamos para

estar na foto ou na mesa do poder, mas para inscrever

nosso nome na história. Isso é maior que a

Page 200: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

200

mediocridade midiática. É fruto do trabalho de uma

equipe revestida de esperanças, conhecimento

técnico, capacidade de realização e compromisso

político com o desenvolvimento de nosso estado.

Page 201: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

201

DO URGENTE AO ESTRATÉGICO NO

MARANHÃO

Passada em parte a turbulência política conjuntural e

com velhos usos e desusos do Estado para

enriquecimento ilícito, recordo os gregos. O mais

elevado objetivo da vida entre os antigos gregos era a

“Timé”, isto é, a estima social que o indivíduo obtém

enquanto fruto de seus feitos e atitudes no passado e

no presente. A Timé durante a vida tem como

contrapartida o “Kléos” no futuro. O Kléos é a fama

como o mais elevado dos valores, a qual se obtém até

com o sacrifício da própria vida, distante do conceito

atual de fama. Não ser esquecido após a morte era

considerado o máximo de aspiração individual.

Reinventar a atividade dos homens de Estado como

busca pelo bem comum e pela estima social como

valores norteadores é um desafio cada vez mais

visível, ante o descrédito dos políticos e das

instituições representativas.

Page 202: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

202

Semanas intensas tem sido vivenciadas por aqueles e

aquelas que carregam a responsabilidade de

implementar as políticas públicas do atual governo.

Por um lado, é forte a percepção coletiva de que uma

paralisia acometia os órgãos governamentais ante um

grande volume de problemas e ações por fazer. O

trabalho da Secretaria de Transparência e Controle

tem trazido à luz os germes da corrupção. Por outro

lado, também cresce a percepção de que muitas ações

demandam inteligência, não grandes somas de

dinheiro. Existem iniciativas da Secretaria de Ciência,

Tecnologia e Inovação (Secti) que buscam agir em

duas frentes fundamentais: a urgente e a estratégica.

Diante dos baixíssimos resultados obtidos no Exame

Nacional do Ensino Médio (Enem), lançamos o

Programa Pré-Universitário (PreUNI), o qual consiste

na disponibilização de um aplicativo para celular com

um curso preparatório completo e gratuito, onde os

estudantes podem revisar os conteúdos do exame,

bem como, na realização de aulões de revisão na

capital e em uma dezena de cidades do interior,

Page 203: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

203

contando com apostilas elaboradas para cada área de

conhecimento. Essa é uma ação de curto prazo.

A ação estratégica passa pela reorganização da rede

pública de ensino, com a construção de núcleos de

educação integral e de unidades do Instituto Estadual

de Educação, Ciência e Tecnologia (Iema) para oferta

de educação profissional e tecnológica. Essas duas

linhas de trabalho na área educacional possibilitarão

mais criatividade, qualidade e eficácia no ensino

médio, oportunizando itinerários formativos

diversificados e enriquecedores aos estudantes.

Uma segunda ação estratégica passa pela ampliação

das oportunidades educacionais. Nesse sentido,

lançamos o Programa Cidadão do Mundo, oferecendo

anualmente, 100 bolsas de estudo no valor de R$

1.500,00 para que os jovens possam aprender um

idioma estrangeiro. O Programa beneficia alunos

egressos ou integrantes de escolas da rede pública de

ensino, de escolas vinculadas a entidades paraestatais

(Sistema S) ou mantidas por fundações sem fins

lucrativos (como a Fundação Bradesco). Todos os

Page 204: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

204

custos de viagem e permanência no país escolhido são

cobertos pelo Programa. O principal critério de

seleção é a nota do Enem.

Outra ação estratégica é a valorização e

reconhecimento dos professores. A criação do Prêmio

Mais IDH para a Ciência, Tecnologia e Inovação, e a

Medalha Eduardo Campos é um exemplo. O Prêmio é

concedido a pesquisadores, inventores, estudantes de

ensino médio, estudantes de ensino superior ou

instituição que tenham contribuído para a melhoria

do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do

Estado do Maranhão a partir de um trabalho ou do

conjunto da obra científico-acadêmica, devidamente

fundamentada e comprovada. Eduardo Campos,

quando Ministro da Ciência e Tecnologia

institucionalizou a Semana Nacional desse setor e as

Olimpíadas Brasileiras de Matemática das Escolas

Públicas (OBMEP).

Na próxima semana, iremos lançar o SCIENTIA,

Laboratório de Experiências Inovadoras no Ensino de

Ciências e Matemática. Será um grande banco de

Page 205: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

205

inovação no ensino. Qualquer professor de ciências,

física, química, biologia, matemática, computação,

engenharia ou astronomia poderá inscrever sua

inovação na área do ensino. Além de dar visibilidade

ao trabalho dos professores, o banco identifica e

valoriza essas experiências, possibilitando seu

credenciamento, certificação, publicação e

premiação. Esse repositório também permitirá que

outros professores se inspirem nas boas práticas que

já existem na rede de ensino e também criem suas

próprias inovações.

Por último e a propósito do Dia do Historiador, 19 de

agosto, sempre bom lembrar a bela letra de Pablo

Milanés. A História “é um trem riscando trilhos.

Abrindo novos espaços. Acenando muitos braços.

Balançando nossos filhos”.

Page 206: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

206

JUSTIÇA, COMUNICAÇÃO E ECLIPSE

Ante déficits orçamentários, cortes e banhos de água

fria, faço três registros positivos. Inicialmente

parabenizo a comunidade do Cohatrac pela bela

iniciativa de homenagear o dr. Jackson Lago

nominando uma praça localizada ao lado do Shopping

Passeio. Essa iniciativa, surgida de proposta da

própria comunidade com forte liderança de Rosana

Bordalo, da qual tenho grande orgulho de ter sido

professor, reflete que o povo guarda na alma àqueles

que buscaram construir pelo bem comum.

Na mesma linha, parabenizo ao governador Flávio

Dino pela iniciativa de homenagear dr. Jackson

nominando o Hospital de Pinheiro. Os recursos para

construção desse hospital foram assegurados quando

dr Jackson era governador. Logo em seguida ao golpe

pela via judicial que o retirou do poder em 17 de abril

de 2009, a governadora que assumiu sustou os

recursos das contas da Prefeitura. Equivocadamente,

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207

a política de regionalização da saúde foi abandonada

e substituída por uma política de tratorização da

saúde. Pagamos o preço até hoje com estruturas

hospitalares cuja fatura não é suportável pelas

prefeituras e desafia a capacidade financeira do

estado.

Se faz uma justiça histórica. Estive com dr. Jackson

em Pinheiro realizando um balanço do seu curto

período de governo e lá mencionei o projeto de

regionalização da saúde. O evento ocorreu no Colégio

Pinheirense. Recordo emocionado aquele momento,

última vez que ouvi um discurso enérgico e de

resistência de dr. Jackson. A sua dignidade o movia

pelo interior do Maranhão em busca de explicar

àquilo que havíamos planejado.

Vejo com alegria que apesar do atraso dos últimos 7

anos, das incompreensões, e da degradação política,

ética e social herdada pelo atual governo, a luta

daqueles que não desistiram, mesmo no ermo, vale

uma alegria, duas alegrias, uma praça e um hospital.

Page 208: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

208

Aquelas viagens com dr. Jackson me fizeram perceber

com clareza o grande desafio da comunicação

governamental em um meio onde todos os veículos

são controlados por pequeno grupo de famílias. Esse

desafio da comunicação ainda está posto. Constatei na

ida a vários municípios que apesar de chegarmos com

ações, a informação chega pela vista ou pelo boca-a-

boca. Parece com aquele morador interiorano do livro

“Jangada de Pedra” de José Saramago, que só

acreditará naquilo que todo o mundo noticiava se

visse com os próprios olhos. Quem fez a obra, o

significado da obra, o sentido daquilo e o lugar no

conjunto maior não são comunicados com clareza.

Isso se agrava quando o governo trabalha muito. As

limitações tradicionais em termos de pessoal, meios e

acesso à mídia bloqueiam um fluxo mais ágil e de certa

forma frustram a boa vontade dos atores. É louvável a

iniciativa de facilitar o surgimento de novos meios de

comunicação como as rádios comunitárias. Registre-

se também o esforço da Rádio Timbira em realizar

essa comunicação e, ao mesmo tempo, cumprir com

Page 209: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

209

seu papel de espaço privilegiado para a cultura e a

educação.

Por último, convido a todos/todas para o evento

Maranhão Lunar, observação do eclipse total da lua

que ocorrerá na Praça Maria Aragão dia 27 de

setembro, domingo, com programação a partir das

20h30. Este evento faz parte da Semana Nacional de

Ciência e Tecnologia/Semana Estadual de Ciência,

Tecnologia e Inovação no estado. A Sociedade de

Astronomia e o Laboratório Ilha da Ciência da

Universidade Federal do Maranhão (UFMA) são

parceiros da Secretaria de Ciência, Tecnologia e

Inovação nessa empreitada.

Aqueles que não puderem comparecer podem enviar

fotos do eclipse, de qualquer lugar do Maranhão,

postando nas redes sociais com a marcação

#maranhaolunar. Todas as fotos serão reunidas em

um hotsite do evento e, posteriormente,

selecionaremos as melhores para compor um registro

desse momento ímpar da observação celeste.

Page 210: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

210

Olhar o céu sempre foi um exercício instigante para a

humanidade. As inúmeras explicações sobre o

fenômeno, desde o mito aos estudos científicos,

evidenciam o quanto avançamos na compreensão da

natureza, conseguindo preservar a capacidade de

admirar o distante. Nada retira a beleza silente da lua

e o prazer de fitar o céu.

Page 211: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

211

PERCEPÇÃO PÚBLICA DA CIÊNCIA E

TECNOLOGIA

Ante uma reforma ministerial difícil abordo o tema da

popularização e divulgação da ciência, tecnologia e

inovação. O Ministério da Ciência, Tecnologia e

Inovação (MCTI) divulgou uma pesquisa de opinião

voltada para a percepção pública sobre C&T. A

referida pesquisa nos dá uma dimensão da relevância

de se fazer popularização e divulgação no Brasil.

Ao serem questionados sobre os fatores que

determinam os rumos da ciência do mundo, 43,8%

dos entrevistados responderam que a própria ciência

impõe seus desafios, 31,4% afirmaram ser o mercado,

22,8% afirmaram ser as empresas multinacionais e

19% o governo dos países ricos. Nenhum apontou que

as demandas sociais ou os problemas públicos

influenciam de alguma forma os rumos da ciência.

Outra pergunta importante foi se as pessoas

lembravam de alguma instituição que se dedique a

Page 212: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

212

fazer pesquisa científica. Arrasadores 87,2%

responderem que não. A minoria que respondeu sim,

citou a Fiocruz, Embrapa, Instituto Butantã, USP,

IBGE, CNPq, dentre outras. Para o povo não está claro

aquilo que é feito no âmbito das instituições de

pesquisa e ensino. Algo que continua distante do seu

cotidiano, mesmo se considerarmos a expansão das

universidades públicas e institutos federais nos

últimos anos.

Um terceiro aspecto que também merece reflexão é a

resposta à pergunta: você se lembra de algum

cientista brasileiro importante? 93,3% responderam

que não. Daí o ministro Aldo Rabelo afirmar que nós

não temos celebridades da ciência, apesar de

abundantes em outras áreas. A minoria do sim citou

Oswaldo Cruz, Carlos Chagas, Miguel Nicolelis, Vital

Brasil, dentre outros. À exceção de Nicolelis todos os

demais não pesquisam mais e suas contribuições

remontam ao século passado.

Precisamos auxiliar os pesquisadores na divulgação

de seus resultados de pesquisa. No Maranhão,

Page 213: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

213

somente a Rádio Universidade realiza esse trabalho

de forma heroica e solitária. Esperamos que

brevemente a Rádio Timbira também some forças

nesse sentido. A Revista Inovação da Fapema é outro

veículo estratégico para esse fim. A criação do

Laboratório de Pensamento Estratégico (PensE) com

um canal no youtube disponibilizando palestras

realizadas por pesquisadores locais ou convidados

cumpre um papel institucional, mas é pouco em

comparação ao que produzimos.

É preciso furar o bloqueio midiático e a pasmaceira

dos meios de comunicação. Não é que a população

seja avessa à ciência, pelo contrário, é ávida e se tem

oportunidade usufruem. Dois eventos específicos

provam isso, um que fizemos, outro que faremos. O

Maranhão Lunar, evento de observação do eclipse

total da lua e a Semana Nacional de Ciência e

Tecnologia.

Nós tivemos uma procura significativa pelo Maranhão

Lunar, filas extensas se formaram em volta dos

telescópios disponibilizados para observação do

Page 214: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

214

eclipse. A Praça Maria Aragão ficou lotada de pessoas

em busca da ciência. Muitas nunca sequer tinham

observado o céu por um telescópio ou sequer sabiam

o que era um telescópio. Agradecemos a parceria com

o Laboratório Ilha da Ciência da UFMA e a Sociedade

de Astronomia do Maranhão para esse evento, o qual

virou marco do calendário científico local.

Iremos realizar a Semana Nacional de Ciência e

Tecnologia/Semana Estadual de Ciência, Tecnologia e

Inovação no período de 19 a 25 de outubro, na Praça

Maria Aragão, na capital, contando ainda com

atividades no Auditório do Curso de Medicina e nas

salas do Núcleo de Cultura Linguística da

Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Alcançamos 1.655 atividades inscritas nos municípios

de Açailândia, Água Doce do Maranhão, Alcântara,

Aldeias Altas, Arari, Bacabal, Balsas, Barra do Corda,

Buriticupu, Caxias, Centro Novo do Maranhão, Codó,

Coelho Neto, Conceição do Lago-Açu, Imperatriz,

Itapecuru Mirim, Monção, Paço do Lumiar,

Presidente Médici, Rosário, Santa Inês, Santa Luzia,

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215

São Bento, São Bernardo, São José de Ribamar, São

Luís, São Raimundo das Mangabeiras, Timon, Vitória

do Mearim, Vitorino Freire e Zé Doca.

Diferentemente de outras edições, o conhecimento

produzido pelas instituições de ensino e pesquisa

terão prioridade na ocupação dos espaços e da

programação. Foram inscritos, 1.144 posters de

pesquisa, 119 conferências/palestras, 79 Minicursos,

65 oficinas, 14 workshops, 56 mostras científicas, 20

feiras de ciências, 100 stands institucionais, dentre

outras atividades. Temos feito enorme esforço

organizativo para acatar o maior número possível de

propostas e assim realizar evento cientificamente rico.

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216

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217

EDUCAÇÃO

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218

APRENDER EDUCAÇÃO INTEGRAL

A educação integral tem sido colocada em pauta pelo

poder público, sobretudo na última década.

Entretanto, não são na escola pública isolada que se

realizam as experiências mais exitosas de educação

integral, nem foi aí que esse debate foi reavivado. As

experiências de educação integral no Brasil são

datadas a partir do século XX, destacando-se as

investidas integralistas, bem como as experiências

lideradas por Anísio Teixeira (anos 1950 e 1960) e

Darcy Ribeiro (anos 1980).

Anísio Teixeira foi um dos fundadores do movimento

escolanovista brasileiro. A educação defendida e

experienciada por este educador no Centro

Educacional Carneiro Ribeiro (Salvador, Bahia) na

década de 1950 implicou em um programa amplo que

envolvia leitura, aritmética e escrita, ciências físicas,

artes industriais, desenho, música, dança e educação

física, saúde e alimento à criança. O programa era

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219

desenvolvido em dois espaços: nas Escolas-Classe, as

atividades tradicionalmente escolares e as demais na

Escola-Parque, durante o “contraturno” escolar.

Anísio Teixeira inspirou experiências importantes,

como o Centro Integrado de Educação em Colinas

(MA).

Outra experiência de relevo foram os Centros

Integrados de Educação Pública (CIEP) criados na

década de 80 por Darcy Ribeiro no Rio de Janeiro. Ele

era Secretário de Educação do Estado no governo

Leonel Brizola. O objetivo dos CIEPs era proporcionar

educação, esportes, assistência médica, alimentação e

atividades culturais variadas. Estas escolas

obedeciam a um projeto arquitetônico de Oscar

Niemeyer. Diferentemente das experiências de Anísio

Teixeira que separavam as atividades escolares

tradicionais e as atividades complementares, o

projeto de Darcy Ribeiro unificava em um mesmo

espaço (CIEP) todas as atividades.

A Fundação Itaú-Social, o Fundo das Nações

Unidas para a Infância (Unicef) e o Centro de Estudos

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220

e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação

Comunitária (Cenpec) lançaram, dia 12 de março, a

11ª Edição do Prêmio Itaú-Unicef com o tema

“Educação integral: aprendizagem que transforma”.

Este prêmio, desde 1995, tem identificado,

reconhecido e estimulado experiências de todo o país

reunindo escolas públicas e organizações da

sociedade civil. As principais temáticas vinculadas ao

debate desse assunto têm emergido no bojo dessa

premiação, inspirando inclusive as políticas públicas

delineadas pelo Governo Federal, Estados e

Municípios.

Tratar de educação integral implica em se inteirar

desse debate e conhecer os caminhos já trilhados para

não repetir fracassos, refazer a roda ou construir

estruturas de tijolo e cimento sem conteúdo. Ainda

está fresco na memória coletiva, o fracasso dos CAIC’s

construídos a torto e a direito pelo governo Collor de

Melo, abandonados ou transformados em escolas

tradicionais. Exemplificando, educação integral é

empregada em no mínimo quatro sentidos:

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221

i. Educação integral: referindo-se a ideia de que

cada estudante tenha uma formação mais completa

possível, formação essa que vá além dos

conhecimentos tradicionalmente veiculados pela

escola e possa abranger as dimensões intelectual,

artística, físico-corporal e tecnológica, o que demanda

maior tempo e possivelmente articulação com outros

espaços educativos.

ii. Educação de Tempo Integral: referindo-se a

ideia de ampliação da jornada escolar, para além do

espaço da escola, mas não necessariamente que nessa

jornada se implemente uma educação integral.

iii. Escola de Tempo Integral: referindo-se ainda

a ideia de ampliação da jornada escolar, restrita ao

espaço da escola, mas da mesma forma não implica na

implementação de uma educação integral.

iv. Educação Integral de Tempo Integral:

referindo-se que a ideia de educação integral, já

explicitada, só pode ser desenvolvida em tempo

integral.

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222

Se o poder público tinha a ensinar sobre educação

integral quando das experiências de Anísio Teixeira e

Darcy Ribeiro, hoje, tem a aprender com as

organizações da sociedade civil. Educação integral,

para além da infraestrutura, se tece em rede e não de

forma cerebrina e isolada. Aprender educação

integral demanda escuta, abertura ao outro, empatia,

vontade de transformar, competência técnica e

política, união de forças para fazer mais.

Page 223: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

223

O IEMA SEMEANDO FUTUROS

O Estado do Maranhão se afastou completamente da

Educação Profissional e Tecnológica, não

acompanhando o incremento da matrícula no Brasil

conforme atestam os Censos Escolares do MEC/Inep.

Para uma ideia dessa ausência, registre-se que em

2013 e 2014, o Governo Federal respondeu por 100%

da oferta pública de educação profissional no

Maranhão.

Apesar da tendência nacional e regional de

predominância da rede federal, sobretudo pela

criação e expansão dos Institutos Federais de

Educação, Ciência e Tecnologia (IF’s), o Maranhão é

o único do Nordeste, cuja rede estadual não oferta

educação profissional. Bahia (51,66%), Ceará (30%) e

Pernambuco (15%), respectivamente, possuem as

maiores redes e respondem por significativo

Page 224: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

224

percentual de oferta. Em todo o Brasil, ficamos em

último lugar no ranking de matrículas na educação

profissional, as cinco primeiras posições são ocupadas

por São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de

Janeiro e Bahia.

O Governo do Estado por intermédio da Universidade

Virtual do Maranhão (UNIVIMA) executou o

Programa Maranhão Profissional. Este programa

ofertava cursos de formação inicial e continuada de

160 horas, com 15 mil vagas, pouco ante o orçamento

médio anual de R$ 100 milhões do órgão. A

propaganda do governo anterior incluía os cursos

oferecidos pelo IFMA, Sistema S e rede privada

inflando os números do Maranhão Profissional,

criando-se a ilusão de que o estado realizava mais de

400 mil qualificações por ano.

Diante desse cenário, o atual governo firmou o

compromisso de que o Estado deve atuar de forma

complementar ao trabalho do Governo Federal,

atendendo regionalmente onde não existem escolas

Page 225: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

225

da Rede Federal de Educação Profissional e

Tecnológica ou o planejamento de expansão. Decidiu-

se instituir uma política estadual para a Educação

Profissional e Tecnológica, compensando a má

distribuição espacial da oferta de vagas e alinhando a

oferta de cursos com as cadeias produtivas e arranjos

produtivos locais.

Nesse sentido, foi criado o Instituto Estadual de

Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IEMA),

vinculado a Secretaria de Estado da Ciência,

Tecnologia e Inovação (SECTI). Não houve a geração

de novas despesas com o órgão, pois a antiga

UNIVIMA foi absorvida pelo IEMA. Dessa forma,

superamos o problema de existir um órgão com o

nome de Universidade sem corpo docente, tecnologia

ou cursos próprios de graduação ou pós-graduação.

Para tanto, o Instituto de Co-Responsabilidade

Educacional (ICE), referência na implementação de

projetos de tempo integral de sucesso nos estados de

Pernambuco, Ceará e São Paulo, em conjunto com o

Page 226: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

226

Instituto Sonho Grande e o Instituto Qualidade no

Ensino, investirão R$ 3 milhões no desenvolvimento

do modelo institucional do IEMA. Essa parceria

estratégica firmada entre essas instituições e o

Governo do Estado representa o aporte de expertise

técnica e significativa experiência, fundamentais para

o aperfeiçoamento e consolidação do IEMA enquanto

instituição educacional de excelência.

Os primeiros 23 municípios a serem contemplados

com uma unidade do IEMA são: Bacabeira, Balsas,

Carutapera, Chapadinha, Coelho Neto, Colinas,

Coroatá, Cururupu, Dom Pedro, Estreito, Imperatriz,

Matões, Paço do Lumiar, Pindaré-Mirim, Presidente

Dutra, Santa Helena, Santa Luzia, São José Ribamar,

São Luís, São Mateus do Maranhão, São Vicente

Ferrer, Tutóia e Vitória do Mearim. Os critérios para

essa definição, a qual foi anunciada publicamente

pelo governador Flávio Dino e o secretário Bira do

Pindaré, foram: densidade populacional,

potencialidade no adensamento produtivo regional,

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227

polarização regional e demanda por educação

profissional.

O investimento na educação é o maior e mais

importante legado que os governantes podem deixar

a um povo, com desdobramentos fecundos no médio

e longo prazo. A criação do IEMA é um elemento

materializador dessa visão, possibilitando ao governo

erguer uma rede regionalizada de educação

profissional e tecnológica, gerando mais

oportunidades aos maranhenses. O desafio é, pela

educação, contribuir para a superação do paradoxo

estado rico versus povo empobrecido, semeando

futuros.

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228

AS VEIAS ABERTAS DA EDUCAÇÃO

PÚBLICA

Não se resolve os problemas de gestão irresponsável

dos recursos públicos sacando dinheiro do bolso dos

servidores ou gerando incertezas quanto ao direito de

aposentadoria. Lição fundamental não aprendida por

muitos governantes de ontem e de hoje. O que

acontece no Paraná é reflexo de uma mal explicada

migração de beneficiários entre os fundos de

previdência dos servidores. Os cálculos que

fundamentaram o projeto de lei do Governo do Estado

do Paraná não levaram em conta todos os elementos

técnicos necessários exigidos pela regulamentação

previdenciária nacional e não foram respaldados pelo

órgão federal que atua de forma concorrente nesse

assunto. A pressa em gerar uma economia de R$ 142,5

milhões sem saber se isso lesaria os servidores teve

como reação adversa a revolta em massa, liderada

pelos professores estaduais.

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229

A questão de fundo é o uso da violência pelo Estado

para impor a ordem. As elites políticas não respeitam

as mobilizações e reinvindicações quando feitas nas

ruas. Nossa tradição são os acordos de cúpula à revelia

das maiorias. As manifestações dos professores

paranaenses de 29 de abril e as manifestações elitistas

e de direita de 12 de abril receberam tratamento

diferenciado pelas polícias e pelas mídias. A primeira

por colocar o dedo na ferida ao expor a desvalorização

financeira e social a que os professores da rede pública

oficial vivenciam no país. A segunda por atender aos

interesses políticos conjunturais que desejam

derrubar o governo, inconformados com os resultados

das urnas e incapazes de conviver na democracia. Aos

primeiros, balas e cães. Aos segundos, selfies e

barreiras protetoras.

É antiga a discussão sobre desmilitarização e

unificação das polícias. A força das corporações é tão

grande que esse assunto nunca avançou.

Continuamos com polícias formadas como braço

auxiliar do Exército, especializadas na repressão ao

povo e incapazes de conter a violência criminosa. A

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230

simbologia das caveiras, facas, águias e cobras não são

mero mau gosto. Não há caminho fácil aqui. Os

policiais são servidores públicos, portanto, devem

obedecer ao código de ética do serviço público. Jamais

deveriam cumprir ordens expressas de repressão. No

mesmo sentido, nenhum governante na democracia

deveria ordenar repressão policial a livre

manifestação da opinião e do pensamento. Isso coloca

em cheque a legitimidade do Estado Democrático de

Direito e expõe seu caráter elitista e antipopular.

Repressão só a criminosos, manifestantes devem ser

protegidos dos excessos, nunca atacados.

Atacar os professores que defendem seu direito a uma

aposentadoria digna e expressam seu direito de

divergir da orientação do Governo do Estado é um

retrocesso claro e vergonhoso em relação aos 30 anos

de democracia no Brasil. As pancadas e mordidas nos

professores paranaenses informam o quanto as elites

não tem apreço pela educação básica pública, o

quanto falhamos no ensino da história da ditadura

militar de 1964 e o quanto nós professores somos

desunidos, mesmo com as veias abertas. Isso nada

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231

tem a ver com a crítica simplista ao slogan de pátria

educadora do governo federal, o qual aponta o

caminho de futuro, não a resolução de passivo

histórico.

Eduardo Galeano (1940-2015) escreveu que em 2009

o Governo Federal pediu desculpas públicas a Paulo

Freire por tê-lo prendido e exilado pelo seu trabalho

em prol da alfabetização de jovens e adultos nas

décadas de ditadura militar. Gesto que ficou sem

agradecimento, pois Paulo Freire estava morto há

doze anos. Ele andou o mundo e quanto mais

ensinava, mais aprendia. Diante disso, mesmo após

todo o reconhecimento internacional do seu trabalho,

o Estado lhe pediu desculpas tardiamente. Ainda

assim alguém banhado na ignorância do não saber

levanta um cartaz com “basta de Paulo Freire”.

Prende-se primeiro, humilha-se primeiro, atenta-se

levianamente contra a honra de outrem, essa é a nossa

tradição histórica em relação aos professores e

educadores.

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Não será com sangue, paus e pedras que iremos

resolver os problemas recorrentes ou pendentes,

entre eles, a centralidade da educação pública de

qualidade e da valorização financeira e social dos

professores. No Maranhão, estamos construindo

outro caminho em relação à educação pública.

Diálogo e serenidade sempre, repressão jamais.

Page 233: CRÍTICA À INDIFERÊNÇA: política, ciência e educação

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A REPETIÇÃO NO ENEM

Os resultados do Exame Nacional do Ensino Médio

são repetitivos. Primeiro, o desempenho das escolas

privadas (de elite) sempre está acima das escolas

públicas (federais, estaduais ou municipais).

Segundo, o desempenho das escolas privadas do

Maranhão está bem abaixo das escolas privadas do

Centro-Sul. Vemos uma lógica de elevador que

evidencia, repito, evidencia, a baixa qualidade da

escola pública em geral, a fragilidade comparativa da

escola privada local e um fracasso global em ensinar.

A pergunta fundamental é o que a escola pública

aprendeu com décadas de avaliações em escala

nacional? Pouco. Quase nada. O cerne da questão não

está nas provas em si, mas numa triangulação

complexa que envolve estudantes, professores e

famílias. Desperdiçamos bilhões de reais por ano.

Gastamos sem planejamento, sem priorização e sem

avaliação. Não se aprende com as evidências.

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Tentamos ensinar tudo de tudo e não permitimos que

os estudantes façam suas escolhas.

Colhi um depoimento de diretora de escola pública

que me pareceu digno de partilhar. Ao receber os

recursos da escola e ir comprar a merenda no

supermercado local, concluída a compra, o

comerciante pergunta qual das sacolas deveria ser

entregue na casa da diretora. Sempre foi assim. A

diretora comprava o da merenda das crianças e

separava uma parte para suprir sua própria casa. Ao

responder que todas a compra era da escola, o

comerciante incrédulo diz que em dez anos foi a

primeira vez que aquilo acontecia.

Outro depoimento que recolhi trata de episódio

similar. O cenário agora é uma livraria. A diretora vai

comprar material de expediente e de consumo básico

para as atividades escolares. A dona da livraria logo

pergunta se a diretora não quer levar o celular

lançamento que acabou de chegar, antes de ouvir a

resposta, diz para ela ficar à vontade que incluirá na

nota fiscal sem problema. Todas faziam isso.

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Novamente uma incrédula dona de livraria afirma que

foi a primeira vez que uma diretora não levava nada

para si.

Não existe transparência na escola pública em relação

aos recursos que recebe. O Portal da Transparência

não alcança as escolas e seus respectivos diretores. Os

Colegiados e os Caixas Escolares são ficções. A

participação na gestão da escola nem toca o campo do

dinheiro público. Eis aí área estratégica para uma

ação republicanizante, até o presente momento isso

não foi enfrentado por nenhum governo do país.

Por que as escolas privadas de elite são melhores?

Uma infinidade de respostas. Pagam salários maiores

aos professores, porém cobram dedicação exclusiva e

muito trabalho, capacitam permanentemente,

ensinam seus alunos a pensar em vez de decorar,

utilizam material didático e tecnologias educacionais

de fato, exigem desempenho dos alunos e funcionam

em tempo integral. Claramente, os diretores são

lideranças do processo educacional, trabalham com

metas, mobilizam a comunidade escolar. Não são

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236

figuras complacentes com a mediocridade, corroídos

pela cultura patrimonialista.

A academia brasileira tem pouca expertise em

melhorar a qualidade do ensino, mas tem muito

conteúdo crítico produzido em relação a avaliação,

rankings e desempenho. Algo curioso em relação aos

resultados do ENEM foi o destaque dos Colégios

Militares, escolas vinculadas às polícias ou forças

armadas; e dos Colégios de Aplicação, escolas

vinculadas às Universidades Federais que funcionam

como campo de estágio dos estudantes dos cursos de

licenciaturas e espaços de experimentação e inovação

no ensino.

O Maranhão recentemente começou a criar Colégios

Militares, mas de forma pouco consistente quanto ao

processo de institucionalização. O Colégio

Universitário (COLUN), vinculado a Universidade

Federal do Maranhão (UFMA) continua sendo o único

no Estado. A Universidade Estadual do Maranhão

(UEMA) não possui Colégio de Aplicação. São

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237

caminhos a se pensar, mas se não há consistência

nessa pequena rede, quanto mais expandindo-a.

O caminho seria oferecer educação integral em tempo

integral? Tenho convicção de que isso contribuirá

para melhorarmos, mas não solucionará todos os

problemas. A escola pública vai mal no ensino

cotidiano do seu conteúdo de língua portuguesa,

matemática, história etc. Acreditar que ensinaremos

tudo isso em um turno de aula com metodologia

expositiva, é uma tremenda ilusão. Não há solução

fácil para as pesadas redes públicas de ensino e suas

megasecretarias.

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O AUTOR

Jhonatan Almada (Jhonatan Uelson Pereira Sousa

de Almada) é Historiador e servidor público federal,

lotado na Universidade Federal do Maranhão

(UFMA), atualmente exerce o cargo de Secretário de

Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação do Governo

do Maranhão. Mestre em Educação pela Universidade

Federal do Maranhão (UFMA). Especialista em

Gestão e Políticas Públicas pela Fundação Getúlio

Vargas (FGV). Especialista em Formação Política e

Políticas Públicas pela EFG/MA e Universidade

Estadual do Maranhão (Uema). Licenciado em

História pela Uema.

Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas de Políticas

Educacionais do Programa de Pós-graduação em

Educação da UFMA. Integra o Fórum Internacional

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240

de Política e Administração da Educação

(INTEREDUC). Vice-diretor da seção Maranhão da

Associação Nacional de Política e Administração da

Educação (Anpae). Sócio fundador do Instituto

Jackson Lago (IJL).

Foi Chefe de Gabinete do Instituto Maranhense de

Estudos Socioeconômicos e Cartográficos (Imesc),

órgão vinculado a Secretaria de Planejamento e

Orçamento do Estado durante o Governo Jackson

Lago (2007-2009), membro do Conselho de

Desenvolvimento Econômico e Social (CDES),

secretário do Conselho de Administração do Imesc,

Chefe de Gabinete da Pró-Reitoria de Ensino da

UFMA (2014) e Secretário-Adjunto de Ciência,

Tecnologia e Ensino Superior do Maranhão (2015).

Publicou, como autor o livro “Alternância do poder no

Maranhão: temas de um projeto político pós-Sarney”

(2014); como co-autor, os livros “Governo Jackson: o

legado” (Instituto Jackson Lago, 2014) e “Aspirações

da Sociedade no Maranhão nas 19 Regiões do Estado

em 2007” (Imesc/Seplan, 2007); e como organizador

os livros “Experiências de educação profissional e

tecnológica: o Iema semeando futuros” (Engenho,

2015), “Política e gestão educacional na América

Latina: análises e desafios” (Edufma/Engenho, 2015),

“Ignacio Rangel, decifrador do Brasil” (Edufma,

2014), “Palavra de Jackson” (Instituto Jackson Lago,

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2014), “Democratização e educação pública: sendas e

veredas” (Edufma, 2011), “Políticas Educacionais na

América Latina e no Brasil contemporâneo:

fundamentos, programas e pesquisas” (Edufma,

2011), “Um Planejamento que Marca Caminhos”

(Imesc, 2008) e “A Singularidade do Pensamento de

Ignacio Rangel” (Imesc, 2008).

Tem experiência na área de Políticas Públicas,

Planejamento e Educação, com ênfase em Política

Públicas de Educação e Planejamento Educacional,

Políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação, e as

relações entre Educação e Desenvolvimento.