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CRISTINA PEREIRA VIECELI

JULIA WUNSCH

LÍVIA ZANATTA

1. O QUE É ECONOMIA FEMINISTA?

• “Se pretende uma mudança radical na análise econômica, que possa transformar a própria disciplina e permita construir a realidade de mulheres e homens, tendo como princípio básico a satisfação das necessidades humanas” (CARRASCO, C. (2006)).

• Introdução do gênero como uma categoria analítica também na economia;

• Crítica à teoria neoliberal – homo economicus como agente econômico autônomo, maximizador de utilidade

Gênero: construções sociais que

definem homens e mulheres.

Tudo o que não é biológico mas

social. (Mathieu, N. Sexo e Gênero. Dicionário crítico

do feminismo)

AMPLIAÇÃO DO CAMPO DE

AÇÃO DO FEMINISMO

FEMNISMO – AÇÃO E RAZÃO,

TEORIA E PRÁTICA

1. O QUE É ECONOMIA FEMINISTA

Crítica ao androcentrismo da economia, na visão somente voltada para o mercado, onde se excluiu a

atividade não remunerada ou sem valorização mercantil, orientada para o cuidado da vida

humana e realizada majoritariamente por mulheres. Busca de um paradigma alternativo.

(Carrasco, 2006)TRADIÇÃO DA ECONOMIA CLÁSSICAOLHAR PARA O MERCADO, ECONOMIA SÓ

TEM A VER COM O MUNDO PÚBLICO.

DICOTOMIAS: PÚBLICO/PRIVADO, RAZÃO E

SENTIMENTO, TRABALHO MERCANTIL E

TRABALHO DOMÉSTICO, EMPRESA E FÁMÍLIA

Alfred Marshall – seriam consideradas

econômicas somente as atividades que

poderiam ser mensuradas em termos

monetários, ou que poderiam ser trocadas.

Arthur Cecil Pigou: se um homem se casasse

com a sua empregada doméstica a renda

nacional diminuiria

1. O QUE É ECONOMIA FEMINISTA?

• Séc. XIX – feministas criticaram o caráter androcêntrico da economia e a

questão da pobreza das mulheres. Denúncia à invisibilidade do trabalho

feminino, segregação de gênero no mercado de trabalho, questão da

pobreza feminina

• A biographical dictionary of women economists (Robert W. Dimand, Mary

Ann Dimand, Evelyn L. Forget)

• Trabalhos Reprodutivos: Helen Stuart Campbell, Charlotte Perkins Gilman,

Margaret Gilpin Reid

• 1960: NED (Nova Economia Doméstica) – Gary Becker, “Treatiese on family”

( 1981)

1. O QUE É ECONOMIA FEMINISTA?

• Século XX: Economia Feminista surge como uma uma linha de investigação própria

• 1988: If women counted: a new feminist economics, Marilyn Waring

• 1990: Conferência Anual – American Economic Association

• Ferber e Nelson – Beyond economic man: feminist theory and economics

• 1992 – International Association for Feminist economics (IAFFE)

• http://www.iaffe.org/pages/resources/thematic-groups/

1995 – Feminist Economics Review

• Abrange várias escolas do

pensamento econômico e

diferentes tradições do

feminismo;

• Visão global da economia,

associandos trabalhos voltados

para a produção de

mercadorias aos trabalhos

reprodutivos; Importância dos

cuidados destinados aos

indivíduos;

O QUE É A ECONOMIA FEMINISTA?

• GRUPOS TEMÁTICOS IAFFE:

• ECONOMIA DO CUIDADO E TRABALHOS NÃO

REMUNERADOS

• MEIO AMBIENTE

• TEORIA FEMINISTA E ECONOMIA

• MERCADO DE TRABALHO

• TERRA, AGRICULTURA E DESENVOLVIMENTO

RURAL

• ASSUNTOS ECONÔMICOS LGBTQ

• POBREZA DE RENDA E PRIVAÇÕES

• CONTEXTO MACROECONÔMICO

ECONOMÍA FEMINI(S)TA – UBA

BRASIL:• REVISTA GÊNERO (UFF)

• REVISTA DE ESTUDOS FEMINISTAS

(UFSC)

• CADERNOS PAGU (UNICAMP)

• UFRGS – DISCIPLINA FCE

2. ECONOMIA FEMINISTA E EMPREGO DOMÉSTICO

• EMPREGO DOMÉSTICO – MARCADO POR

RELAÇÕES DE GÊNERO, RAÇA E CLASSE –

INTERSECCIONALIDADE

TRABALHO REPRODUTIVO REMUNERADO

EXERCIDO POR MULHERES (EM TORNO DE 93%), DE BAIXA

ESCOLARIDADE, CLASSES SOCIAIS E GRUPOS ÉTNICOS E

RACIAIS MARGINALIZADOS

CARACTERÍSTICAS DO

EMPREGO DOMÉSTICO

BRASIL É O PAÍS

COM MAIOR

NÚMERO DE

EMPREGADAS

DOMÉSTICAS DO

MUNDO

ECONOMIA FEMINISTA E EMPREGO DOMÉSTICO

• MARCADO POR ALTOS ÍNDICES DE INFORMALIDADE,

• BAIXOS SALÁRIOS,

• VULNERABILIDADE À ASSÉDIO MORAL E SEXUAL,

• JORNADAS EXTENSAS E INSTÁVEIS

• TRATADO DE FORMA DIFERENCIADA PELA LEGISLAÇÃO

TRABALHISTA,

• AMPLA GAMA DE ATIVIDADES VARIA DE FORMA INVERSA DE ACORDO COM

OS CICLOS ECONÔMICOS: QUANTO MAIOR O

PIB MENOR A QUANTIDADE DE EMPREGADAS

DOMÉSTICAS, QUANTO MAIOR O DESEMPREGO

MAIOR A QUANTIDADE DE EMPREGADAS

DOMÉSTICAS

CARACTERÍSTICA

S EMPREGO

DOMÉSTICO

TRABALHO DOMÉSTICO NO BRASIL: UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA E DE GÊNERO

• Dualidade esfera público e privada

• Na modernidade,a esfera pública estaria baseada em princípios universais, na razão e naimpessoalidade, ao passo que a esfera privada abrigaria as relações de caráter pessoal e íntimo(BIROLI, 2015, p.32).

• Estereótipos de gênero: é historicamente atribuído às mulheres papéis relacionado com adomesticidade e o cuidado com a família.

• Nesse sentido, há uma forte percepção da preservação da esfera privada em relação aintervenção do Estado e até mesmo das normas e valores majoritários na esfera pública. (Dessapercepção decorrem diversas problemáticas, sobre violência doméstica, abusos sexuais nocasamento, porém aqui abordaremos apenas a questão do trabalho doméstico).

• A privacidade do domínio familiar e doméstico manutenção da dominação masculina

• ( Dessa decorrência também reflete no movimento feminista (1ªonda, feminismo liberal) libertação das mulheres através do trabalho remunerado (entrada na esfera pública) e asmulheres negras? E dupla jornada?)

Para McIntosh (2000), o trabalho remunerado das mulheres se constituiu em condiçõessubalternizadas, enquanto o trabalho não remunerado ficou invisível. A ideologia de

gênero estimula a impressão de que são as mulheres que são dependentes dos maridos,

no entanto, são eles e seus empregadores que sempre dependeram do trabalho

doméstico das mulheres.

Seguindo na mesma direção dos apontamentos de McIntosh, Pateman (1998) em seu

livro “Welfare State Patriarcal” afirma que o Estado de Bem-Estar Social se consolidou

através de um estrutura patriarcal: de um lado o Trabalhador na referência do homem

assalariado e provedor, de outro lado a esposa dependente. O trabalho doméstico se

conformou no modelo marital provedor/dona-de-casa, e se ignorou totalmente sua

participação na reprodução da força de trabalho do marido.

Os “lugares” da mulher negra no período

pós-abolição: espaços de agência e

contestação

• FIM DA ESCRAVIDÃO X CONTROLE DO ESTADO X INSUBORDINAÇÃO E SOBREVIVÊNVIA

• A lenta extinção do trabalho escravo ocorreu juntamente com um intenso repertório de políticas de

Estado para controlar a situação das alforriadas.

• Regulamentação das relações entre empregadores e trabalhadoras livres: cadernetas, contratos e

livros de matrícula, que eram registrados em postos da polícia e câmaras municipais.

• As leis previam que era dever, e passível de multa, do empregador exigir a caderneta do empregado

(aos empregados, além da multa havia previsão de encarceramento caso a lei fosse infringida).

Livro Libertas entre Sobrados - Mulheres Negras E Trabalho Domestico Em

São Paulo (1880-1920) da historiadora Lorena Telles.

Intensa mobilidade dos ofícios consolidação de uma independência

relativa das mulheres negras com os empregadores

Decisão sobre seu local de serviço se traduzia no domínio sobre seus corpos

e vidas.

Líderes de suas próprias vidas, negociaram o direito de morar fora e de cuidar

dos seus, conquistaram o aumento salariais e transitaram entre sobrados

em busca de melhores tratamentos (...) agentes de suas escolhas, as libertas

foram ainda fundamentais para a criação de uma comunidade de cor livre em

confronto ao regime escravista (TELLES, 2013, p. 136).

RACISMO DO ESTADO E COLORISMO

As cadernetas de trabalho também revelavam as estratégias de reação dos

patrões contra insubordinação das mulheres libertas: anotações de

comentários como “desobediente”, “faz corpo-mole”, “tem língua-solta”.

Nas cadernetas também apareciam as especificações precisas das cores

das mulheres.

A preocupação com a cor era explicitamente visível quando se tratava de

contratar uma ama-de-leite. A literatura médica do período alertava o risco de

que as mulheres negras passassem doenças.

Pelas leis municipais do período, era obrigatório que as amas de leite

fizessem exames de saúde antes da contratação, devendo ser repetidos

mensalmente ou sempre que o patrão exigisse. No entanto, pelos registros

levantados por Telles (2013), somente entre os patrões das empregadas

negras se notava a preocupação em registrar os exames preventivos.

MOVIMENTAÇÃO DA ECONOMIA E DA SOCIEDADE

Com o avanço da urbanização, surgem as quitandas, o comércio clandestino,

as vendas com tabuleiros, uma variedade de comércio varejista de alimentos

de subsistência.

As mulheres negras dominavam esse tipo de comércio e eram tidas pelo

poder público como transgressoras da ordem social, por ocuparem as ruas,

reagindo ao empobrecimento e escapando dos papéis supostamente

atrelados ao âmbito feminino (FIGUEIREDO E MAGALDI,1985).

Encontros e reuniões ao redor dos locais de venda ameaça à ordem, pois

poderiam promover laços de associativismo e solidariedade entre a população

trabalhadora.

Lavadeiras nos espaço públicas: PROTAGONISTAS DA HIGIENE DA

SOCIEDADE. Os locais onde se realizavam a lavagem, os chafarizes, as

várzeas eram locais de intensa sociabilidade, e, portanto, também

representavam uma ameaça.

As lavadeira mesmo vivendo nas ruas ou morando em locais apinhados,

possuíam a vantagem de gozar de maior liberdade do que grande parte das

empregadas domésticas, que residiam nas casas dos patrões e viviam sob

sua tutela moral.

Contrastes do ideal de mulher burguesa “recatada” e “com hábitos honestos”

com os grupos bastante “indiscretos” das mulheres lavadeiras que “viviam

embriagadas”, levava à utilização de violência e à prisão de um grande número

de mulheres, principalmente as negras, sob a acusação de vagabundagem.

LIVRO: EMPREGO DOMÉSTICO NO BRASIL: RAÍZES HISTÓRICAS,

TRAJETÓRIAS E REGULAMENTAÇÃO

LINK: http://www.ltreditora.com.br/emprego-domestico-no-brasil.html

Perfil das mulheres que exercem o trabalho

doméstico no Brasil.

• COR: A maioria das trabalhadoras domésticas são negras (em 2011 elas

representavam 61% das trabalhadoras domésticas). Sua proporção de participação

nessa ocupação aumentou de 2004 a 2011. Elas também são maioria entre as

trabalhadoras domésticas sem carteira assinada;

• IDADE: De 2004 a 2011 as domésticas mais jovens (10 a 29 anos) tem diminuído

sua proporção nessa ocupação, as entre 30 anos e mais de 50 são as que

aumentaram sua proporção de participação nessa ocupação.

Idade 2004 2011 ∆ variação

10-17 anos 6,1% 3,9% -2,20%

18-24 anos 16,8% 9,3% -7,50%

25-29 anos 13,4% 8,9% -4,50%

30-39 anos 27,2% 27,5% 0,30%

40-49 anos 22,8% 28,5% 5,70%

50 e mais 13,7% 21,9% 8,20%

Fonte: DIEESE, 2013.

ESCOLARIDADE: A maioria das domésticas tem fundamental incompleto (em 2004 57,7% tinham fundamental incompleto, e em 2011 passou para 48,9%).

Há uma forte correlação entre idade e escolaridades: quanto mais velhas menor a escolaridade.

CONDIÇÃO DO DOMICÍLIO: A maioria das domésticas ou são cônjuges ou são chefes de famílias:

2004 2011

Cônjuges 44,6% 42,7%

Chefes de família 23,1% 35,3%

Maioria branca

Maioria negra

Fonte: DIEESE, 2013.

FORMALIZAÇÃO DO TRABALHO:

2004 2011 ∆ variação

Sem carteira 57% 44,9% -12,10%

Com carteira 21,6% 24,5% 2,90%

Diaristas 21,45 30,6% 9,15%

Houve uma considerável redução de domésticas sem carteira assinada, mas

isso não veio acompanhado com o aumento de domésticas com carteira

assinada, houve um aumento considerável das diaristas. Vale destacar que as

diaristas possuem alto nível de vulnerabilidade (se ficar doente não ganha nada),

trabalham mais horas por dia, no entanto, possuem rendimentos médios

mensais maiores que as domésticas.

Fonte: DIEESE, 2013.

REFERÊNCIAS

• BRASIL. Constituição Federal. Brasília, 1988.

• BRASIL. Lei Complementar 150. Brasília, 2015.

• DIEESE. O emprego doméstico no Brasil. Estudos e Pesquisas, n.68. São Paulo, 2013.

• GAMA SOUSA, A. As contribuições e os dilemas da crítica feminista para a análise do EStado de Bem-Estar Social. SER Social. Brasília, v.10, n.22, p.41-68, jan/jun.2008

• MCINTOSH, M. Feminism ans social policy. In: The welfare state reader. Edited by FG Castles ans C Pierson. Cambridge: Policy Press.16

• PATEMAN, C. The Disorder of Women. Democracy, Feminism and Political Theory. Cambridge: Polity. 1989

• VIECELLI, Cristina Pereira. Economia e Relações de Gênero e Raça: Uma Abordagem sobre o Emprego Doméstico no Brasil. Dissertação de Mestrado. UFRGS. Porto Alegre, 2015.