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Crise dos Direitos Humanos ? Profa. Me. Érica rios [email protected]

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Crise dos Direitos Humanos?Profa. Me. Érica rios

[email protected]

EUROPA ENTRE GUERRAS MUNDIAIS

Dilaceração da comunidade europeia

Inflação elevadíssima

20 anos de guerras civis sangrentas

Migrações que não eram bem-vindas e surgimento de muitos apátridas

“Nada talvez ilustre melhor a desintegração geral da vida política do queesse ódio universal vago e difuso de todos e de tudo, sem um foco que lheatraísse a atenção apaixonada, sem ninguém que pudesse serresponsabilizado pelo estado de coisas — nem governo, nem burguesia,nem potência estrangeira.” (ARENDT, p. 237)

APÁTRIDAS E MINORIAS: o refugo da terra, os indesejáveis

Sem direitos do homem

Desempregados

Sem direito a propriedade

Sem proteção estatal

Sob a exceção do Tratado das Minorias – que todos os governos (com exceção daTchecoslováquia) haviam assinado sob protesto e nunca reconheceram como lei – ou naabsoluta ausência de leis.

Desnacionalização dava força a movimentos totalitários. “A própria expressão ‘direitoshumanos’ tornou-se para todos os interessados — vítimas, opressores e espectadores— uma prova de idealismo fútil ou de tonta e leviana hipocrisia.” (ARENDT, p. 238)

EUROPA ORIENTAL E SUA INADEQUAÇÃO PARA O FORMATO DE ESTADOS NACIONAIS

Est. Nac. criados por força dos Tratados de Paz que findaram a 1ª GM.

Não havia homogeneidade populacional ou fixação territorial para embasá-los.

Sobraram povos sem um Est. Nac. correspondente, que então viraram minoriasoprimidas.

Tratado de Minorias era visto com maus olhos pelos povos que haviam sido agraciadoscom Est. Nac., como uma quebra da promessa de plena soberania. Até porque só osNovos Estados eram obrigados a observá-lo. Era uma excepcional imposição temporáriados direitos humanos aos Novos Estados.

Tais Tratados haviam sido concebidos meramente como método indolor esupostamente humano de assimilação, e isso enfureceu as minorias.

“Povos sem história” do leste e proletariado do oeste europeu lutavam porreconhecimento e participação dos grupos marginais nos negócios públicos.

“[...] o status quo europeu não podia ser mantido. Só após a quedados últimos remanescentes da autocracia europeia ficou claro quea Europa havia sido governada por um sistema que nunca levou emconta as necessidades de pelo menos 25% da sua população. Essemal, contudo, não foi sanado pela criação dos Estados sucessoresdos impérios desmembrados, porque cerca de 30% dos seus quase100 milhões de habitantes eram oficialmente reconhecidos comoexceções a serem especialmente protegidas por tratados deminorias. Além disso, esse algarismo de modo nenhum conta todaa história; apenas indica a diferença entre povos com governopróprio e aqueles que supostamente eram pequenos ou dispersosdemais para obterem o direito de atingir o status pleno de nação.”(ARENDT, p. 239-240)

PÓS 2ª GUERRA MUNDIALFenômeno crescente dos apátridas (até hoje muito ignorados);

Explosão de refugiados que, expulsos de seus países pela revolução social,eram desnacionalizados pelos governos vitoriosos. Eram principalmentealemães e russos, mas também armênios, romenos, húngaros e espanhóis.

As 2 situações eram fruto da desnacionalização em massa feita por Estados totalitários,incapazes de tolerar qualquer oposição, preferindo perder os seus cidadãos a abrigá-loscom opiniões diferentes da vigente.

“Nenhum paradoxo da política contemporânea é tão dolorosamente irônico como adiscrepância entre os esforços de idealistas bem-intencionados, que persistiamteimosamente em considerar “inalienáveis” os direitos desfrutados pelos cidadãos dospaíses civilizados, e a situação de seres humanos sem direito algum.” (ARENDT, p. 244)

STATUS DAS NORMAS DE DIREITOS HUMANOS

“Existência mais ou menos irreal, como recurso em certos casosexcepcionais em que as instituições legais normais não eram suficientes.”(ARENDT, p. 246)

O que fazer com o n° crescente e intolerável de refugiados? Repatriação falham porque nenhum país os aceita, ainda mais em massa

Naturalização Expulsão – como o homem sem Estado (um fora da lei por definição) é uma

“anomalia para a qual não existia posição apropriada na estrutura da lei geral”, ficacompletamente à mercê da polícia, que, por sua vez, não hesita muito em cometeratos ilegais para diminuir a carga de indésirables no país.

Genocídio – ações violentas e confessadamente ilegais dos Estados-destino podemcaminhar nesse sentido, ainda que não se reconheça esse nome.

Até hoje, os campos de refugiados são a única “solução”

Paradoxos dos direitos humanos“A melhor forma de determinar se uma pessoa foi expulsa do âmbito da lei éperguntar se, para ela, seria melhor cometer um crime. Se um pequeno furtopode melhorar a sua posição legal, pelo menos temporariamente, podemosestar certos de que foi destituída dos direitos humanos. Pois o crime passa aser, então, a melhor forma de recuperação de certa igualdade humana,mesmo que ela seja reconhecida como exceção à norma. O fato — importante— é que a lei prevê essa exceção. Como criminoso, mesmo um apátrida nãoserá tratado pior que outro criminoso, isto é, será tratado como qualqueroutra pessoa nas mesmas condições. Só como transgressor da lei pode oapátrida ser protegido pela lei. Enquanto durem o julgamento e opronunciamento da sua sentença, estará a salvo daquele domínio arbitrário dapolícia, contra o qual não existem advogados nem apelações.” (ARENDT, p.249)

Fracasso dos ideais iluministas Para Pinheiro (p. 189), as 4 liberdades — liberdades de opiniãoe de crença, a não submissão ao medo e à miséria — sonhadaspelos autores da Declaração Universal dos Direitos do Homemde 1948 não se realizaram.

A ordem econômica mundial foi incapaz de erradicar a fome ea pobreza, apesar de pobreza já não ser considerada fatalidade,e sim violação de direitos humanos.

Os pobres estão excluídos dos processos de decisão,econômicos e políticos, que afetam suas vidas, e os paísespobres, marginalizados internacionalmente.

(PINHEIRO, 1994)

Desenvolvimento e pobreza A Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento (1986) define desenvolvimento comoum processo econômico, político e social global cuja finalidade constante é a melhoria devida de todos os indivíduos e de todos os povos, com base em sua livre e ativaparticipação no processo, e a justa distribuição dos benefícios dele decorrentes. O direitoao desenvolvimento é individual e coletivo.

Quanto aos direitos humanos, dois aspectos distintos da pobreza precisam sersublinhados: primeiramente, a pobreza, como desrespeito a direitos econômicos e sociaisbásicos de grupos e indivíduos, constitui uma violação de direitos humanos de acordocom a definição de instrumentos internacionais; em segundo lugar, pobreza e aconsequente marginalização das populações criam sérios obstáculos à realização dosdireitos políticos e civis, na medida em que as privações enfraquecem os laços desolidariedade e a marginalização econômica e social dificulta a participação política.

Esses dois aspectos reforçam-se mutuamente e agravam-se devido a desigualdadesregionais e várias formas de discriminação. A pobreza distribui-se desigualmente entreregiões e países, e entre os vários membros e grupos das comunidades.

(PINHEIRO, 1994)

Violência sistêmica e pobreza A conjuntura mundial de recessão, desemprego estrutural e crescentes disparidadessociais contribuiu para a marginalização dos setores mais pobres e vulneráveis dapopulação, não deixando-lhes nenhum espaço, a não ser o caminho da violência edas atividades ilegais. (PINHEIRO, 1994, p. 195)

[...] enquanto o crescimento per se continuava a ser uma prioridade, os benefíciosdesse crescimento eram apropriados por uma elite, e praticamente nenhumaatenção se dirigia à promoção de mudanças estruturais que permitissem uma melhordistribuição de renda entre a população. (id., p.195-196)

[...] , a idéia de que os mecanismos internacionais de comércio, financiamento parao desenvolvimento e transferência de tecnologia automaticamente transfeririamcrescimento dos países industrializados para os países pobres mostrou-se irrealista efalsa. Em nível global a falta de mecanismos reguladores estabeleceu uma sistemáticaque reforça desigualdades que passam a autoperpetuar-se. (id., p. 198)

Democracia? [...] o quadro atual dos regimes democráticos dos países em desenvolvimentoé bastante precário. Porque é o equilíbrio relativo de poder entre as elites e asnão-elites que determina o grau de democracia política. Nesses países, onde asnão-elites têm pouco controle sobre as elites e essas não são accountable(responsabilizáveis) perante as não-elites, o grau de democracia política é baixo(Bollen, 1991, p. 5 apud PINHEIRO, 1994, p. 201)

Conivência com Estados de Exceção permanentes e terrorismo de Estado

[...] a passagem para a democracia — entendida enquanto método de escolhade governantes — depende em grande medida de uma distribuição dosrecursos econômicos, intelectuais e de poder. (id., p. 204)

Para fins de democratização, a distribuição de recursos é mais importante doque sua quantidade.