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Copyright © 2021 by Paulo Franchetti Direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. É proibida a reprodução total ou parcial sem autorização, por escrito, da editora. Direitos reservados à ATELIÊ EDITORIAL Estrada da Aldeia de Carapicuíba, 897 06709-300 – Cotia – SP – Brasil Tel.: (11) 4702-5915 www.atelie.com.br | [email protected] facebook.com/atelieeditorial | blog.atelie.com.br Printed in Brazil 2021 Foi feito depósito legal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Franchetti, Paulo Crise em Crise: Notas sobre Poesia e Crítica no Brasil Contemporâneo / Paulo Franchetti. – Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2021. – (Coleção Crítica Hoje, 6) ISBN 978-65-5580-023-4 1. Poesia brasileira – História e crítica I. Título. II. Série. 20-46581 CDD-869.109 Índices para catálogo sistemático: 1. Poesia: Literatura brasileira: História e crítica 869.109 Cibele Maria Dias – Bibliotecária – CRB-8/9427

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Copyright © 2021 by Paulo Franchetti

Direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. É proibida a reprodução total ou parcial sem autorização,

por escrito, da editora.

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ATELIÊ EDITORIALEstrada da Aldeia de Carapicuíba, 897

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Printed in Brazil 2021Foi feito depósito legal

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Franchetti, Paulo Crise em Crise: Notas sobre Poesia e Crítica no Brasil Contemporâneo / Paulo Franchetti. – Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2021. – (Coleção Crítica Hoje, 6)

ISBN 978-65-5580-023-4

1. Poesia brasileira – História e crítica I. Título. II. Série.

20-46581 CDD-869.109

Índices para catálogo sistemático:

1. Poesia: Literatura brasileira: História e crítica 869.109

Cibele Maria Dias – Bibliotecária – CRB-8/9427

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Um Trabalho de Desmonte: Inexequível, mas Razoável –

Osvaldo Manuel Silvestre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

1. Do Autor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

2. Do Livro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

i . sobre poesia

1. Sobre o Poema Sujo, de Gullar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

2. Ferreira Gullar: Notas Sobre Heroísmo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

3. Na Beira do Andaime . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

4. O “Poema-Cocteil” e a Inteligência Fatigada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

5. Funções e Disfunções da Máquina do Mundo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

6. No Ar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

7. A Górgona do Sentido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

8. Humor/Amor/Horror . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

9. Caso Exemplar: A Poesia de Marcelo Tápia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83

i i . sobre crítica de poesia

10. Drummond: A Pedra no Meio do Caminho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103

11. Cassiano Ricardo Ainda Espera uma Releitura . . . . . . . . . . . . . . . . 109

Sumário

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12. Literatura Literária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113

13. Leminski Revisitado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117

14. Crise de Verso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121

15. A Crise em Crise . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135

16. Anotações Sobre Alguma Poesia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151

17. Notas Sobre Poesia e Crítica de Poesia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167

18. Considerações Sobre Crítica de Poesia Contemporânea . . . . . . . . . . 179

19. Poesia Contemporânea e Crítica de Poesia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 189

20. Poesia em Tempo e em Espaços Digitais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 203

Referências Bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 219

Índice Onomástico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 223

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Um Trabalho de Desmonte inexequível, mas razoável

osvaldo manuel silvestreUniversidade de Coimbra

1. do autor

Na vasta obra do crítico e professor universitário Paulo Franchetti, a poesia ocupa um lugar que o leitor interessado facilmente reconhece como central. Longe de configurar dedicação exclusiva, já que Paulo Franchettti ocupou boa parte da sua atenção com a ficção, e em par-ticular com o romance oitocentista, a poesia preencheu desde logo as exigências de carreira acadêmica com que o autor se confrontou, tendo dedicado à poesia concreta a sua tese de mestrado e à obra do poeta por-tuguês Camilo Pessanha a sua tese de doutorado. Em ambos os casos, as obras resultantes marcaram o campo de estudos, quer se trate do livro Alguns Aspectos da Teoria da Poesia Concreta (1989), ainda hoje de lei-tura obrigatória para qualquer estudioso do Concretismo, quer se trate da edição crítica da Clepsidra (1995), de Camilo Pessanha, que abalou nos seus fundamentos a mitologia poética que acompanhava, como uma fata-lidade, o rastro aurático do poeta, e que a acribia filológica de Franchetti reduziu às suas devidas proporções (o que lhe valeu um significativo cor-tejo de desafetos, em Portugal e não apenas). Estes dois trabalhos maiores ajudam-nos ainda a delinear o perfil de um autor que não hesita perante o estudo, então pioneiro na universidade, da poética de uma vanguarda tão

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epocal e internacional como o Concretismo – mas recua no tempo para se dedicar à pesquisa, minuciosa, quase detectivesca, mas sempre amorosa, dos pressupostos filológicos de uma das poesias maiores do idioma, ainda que quantitativamente escassa, na sua outra margem atlântica e europeia. Como o título do seu livro de 2007, Estudos de Literatura Brasileira e

Portuguesa, indica, Paulo Franchetti é um estudioso dessas duas literatu-ras em português, num âmbito temporal que é basicamente o dos séculos xix e xx, ou seja, o da modernidade literária, tal como o Romantismo a definiu inicial e duradouramente. No caso português, a sua atenção concentrou-se em particular em autores como Camilo Castelo Branco, Eça de Queirós, Oliveira Martins, o já referido Camilo Pessanha, o Fer-nando Pessoa da Mensagem, entre outros. No caso brasileiro, assinale-se a sua longa dedicação ao Romantismo, bem como ao arco que vai do Romantismo ao Simbolismo, de que é grande conhecedor, o que pode-ria ser demonstrado por duas obras de referência: a antologia As Aves

que Aqui Gorjeiam: A Poesia do Romantismo ao Simbolismo, editada em Portugal em 2005 no âmbito da coleção Curso Breve de Literatura Brasileira, coordenada por Abel Barros Baptista para os Livros Cotovia, em rigor sem igual no Brasil; a edição de Iracema, de José de Alencar, em 2007, na coleção Clássicos Ateliê, edição paradigmática do que é revisi-tar um clássico, combinando atenção à letra do texto (e seus paratextos), recuperação do contexto e releitura forte, permitindo-nos reconquistar a obra na sua intensa, e insuspeitada, modernidade. Se acrescentarmos a isto o seu longo convívio com o realismo oitocentista brasileiro, mas em parti-cular com a obra de Machado de Assis, patente em vários ensaios e na sua edição anotada de Dom Casmurro, o quadro da obra de Franchetti fica satisfatoriamente traçado, nas suas linhas gerais.

O quadro não deixa de ser curioso, pois por um lado parece aceitar alguns dos pressupostos fundacionais que os estudos literários brasileiros herdam de Antonio Candido, já que não recua para lá do Romantismo, ou seja, para lá daquele momento em que a questão da autonomia da literatura brasileira é formulada explicitamente, aceitando que o que fica para trás do sistema em formação são “manifestações literárias” pouco pertinentes para uma ideia de Literatura Brasileira. Por outro lado, este

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pressuposto candidiano é questionado pela sua dedicação ao estudo não apenas da literatura brasileira mas também da portuguesa, o que significa que Franchetti não subscreve o desinteresse dos estudos literários bra-sileiros contemporâneos pela literatura portuguesa, com a significativa ressalva de Fernando Pessoa, na sequência da tese de Candido segundo a qual com o modernismo o desinteresse da literatura brasileira pela por-tuguesa se tornou total e irrevogável1. Esta questão, que poderá parecer pouco pertinente para a consideração deste novo livro do autor, inteira-mente dedicado a matéria brasileira, e que aqui tentarei apresentar, não o é assim tanto, pois creio que um certo cunho, aparentemente extraterritorial, da visada crítica que Franchetti lança sobre o panorama da poesia brasi-leira de hoje, resulta essencialmente de dois aspetos: por um lado, o fato de o seu enorme domínio do legado poético brasileiro conjugar tradição (do Romantismo ao Simbolismo, sem descurar as muitas faces do Parna-sianismo) com vanguarda – e posso dar testemunho do privilégio que é ler poemas concretos com Franchetti ao lado – mas sem outorgar à vanguarda um poder decisionista quanto ao valor da produção poética passada ou presente; por outro lado, o fato de Franchetti dominar também o devir da poesia portuguesa moderna, de Antero de Quental e Pessanha a Pessoa e depois, o que lhe permite uma perspetiva comparada, dentro do idioma, pouco sensível aos Diktats mais ou menos teleológicos herdados quer do modernismo de 22 quer da neovanguarda concretista. Finalmente, creio que estes dois aspetos são ainda reforçados pela competência do autor na poesia oriental, em particular na produção japonesa de Haicai, competên-cia essa que intensifica o seu desinvestimento numa perspetiva estritamente brasileira, e ocidental, da evolução da poesia, bem como pelo seu domínio da história e teoria da versificação, muitas vezes convocada em apoio de leituras e posicionamentos críticos, que têm, também por isso, uma compo-nente técnica, e formativa, ao alcance de poucos.

1. Chamo a atenção, a este respeito, para o texto fundamental com que Franchetti interveio na po-lêmica sobre a reforma curricular do ensino da literatura brasileira e portuguesa, em 2002, com o título “O Cânone em Língua Portuguesa – Algumas Reflexões Sobre o Ensino de Literatura Brasileira e Portuguesa no Brasil”, no qual advoga a substituição dessas duas disciplinas por uma só, com o título “Literatura de Língua Portuguesa”, proposta que subscreveria sem hesitação para Portugal.

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2. do livro

Num certo momento de 2018, numa das suas estadas para lecionar cursos intensivos na Universidade de Coimbra, e em particular no seu Instituto de Estudos Brasileiros, Paulo Franchetti solicitou a minha ajuda para tentar extrair de um conjunto de textos seus de há alguns anos um ou mais livros. Melhor seria dizer que o autor me propôs um puzzle de que parecia ter então desistido. Lidos os textos, não me pareceu, contudo, difícil extrair deles o livro que rapidamente ganhou a forma que viria a ser a deste, tal a coerência e coesão de pensamento que anima a escrita de Franchetti sobre a poesia brasileira contemporânea. Dos dois títulos que propus, a escolha acabou por recair, com alguma naturalidade, sobre Cri-

se em Crise, ainda que o subtítulo decida pela modéstia e informalismo de uma contribuição que está longe de se resumir a umas “notas”, já que o que aqui está em pauta é de fato uma operação sistemática, histórica e teoricamente informada, de desmonte da doxa poética e poetológica bra-sileira posterior ao Concretismo. Um dos aspetos que, justamente, mais ressaltam da leitura destes textos é que, embora eles se repartam por dois géneros dominantes – a resenha e o ensaio – com uma extensão até ao depoimento (no texto de abertura, sobre Ferreira Gullar), e embora to-dos eles sejam suscitados por circunstâncias jornalísticas ou acadêmicas muito particulares, tal não obsta a que o fio do pensamento do autor seja sempre reconhecível e facilmente acompanhável nos seus meandros e derivações.

As balizas cronológicas desta coletânea de resenhas e ensaios são tam-bém facilmente demarcáveis, oscilando entre tentativas de releitura crí-tica de figuras do modernismo como Carlos Drummond de Andrade e Cassiano Ricardo e consequências do império teórico e programático da poesia concreta sobre a poesia brasileira posterior. Que Franchetti con-sidere falhadas as tentativas de releitura dos modernistas e nefastas as consequências da poesia concreta, é o que neste momento me parece ser menos interessante do que reconhecer que o quadro histórico que assim se reconstitui não coloca em causa a centralidade quer do modernismo de 22, quer da poesia concreta, no devir da poesia brasileira novecentista.

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Não se trata, pois, de iconoclastia, mas sim, em rigor, de revisionismo crítico, numa tentativa para recolocar os dados de base da modernida-de brasileira, tentando ultrapassar os seus bloqueios que seriam, ainda e sempre, resultantes do imperativo de ser absolutamente moderno. Esse imperativo, no juízo de Franchetti, funcionaria já por inércia, em relação aos paradigmas de 22, no caso de Francisco Alvim, que é apresentado como emblema de uma cristalização de procedimentos que não respon-dem já à necessidade histórica e estética com que se manifestam, exem-plarmente, em Drummond. E, no caso da radicalização daquele impe-rativo ocorrido com a poesia concreta, o que Franchetti propõe é um paradigma alternativo, que seria o da poesia de Ferreira Gullar, autor cujo compromisso com a ideia de vanguarda, concreta ou neoconcre-ta, foi significativo, antes de se tornar um crítico da articulação entre vanguarda e subdesenvolvimento, sem contudo abandonar um horizonte de referência moderno. As duas posições foram, e são, polêmicas. No primeiro caso, quando Franchetti aponta à poesia de Alvim “a intenção de alegorizar o país”, chamando a atenção para o fato de haver “quem consiga propor com alguma repercussão crítica esses enunciados banais”, é claro que, sem o nomear, tem em mente a hermenêutica de Roberto Schwarz, autor que não deixaria de descer à liça em defesa do poeta de Elefante, o mesmo é dizer, em defesa do alcance ainda crítico do progra-ma modernista, revisitado embora pela distensão formal e programática da Poesia Marginal. No caso de Gullar, o gráfico da sua recepção pública, oscilando entre o “poeta-bardo, que vive a poesia junto com o social e o social pela poesia, e que fala para a comunidade em nome da comunida-de”, o que teria ocorrido com a publicação do Poema Sujo, em 1976, e o quase silêncio que rodeou a sua morte, em virtude dos ataques ferozes que o autor, nos seus anos derradeiros, lançou aos governos do pt – não colocando em causa a grandeza da sua obra, atribui-lhe porém um papel de “pária” da poesia e da intelectualidade brasileira contemporânea que torna ainda mais difícil o reinvestimento proposto por Franchetti.

Uma forma de condensar as posições, historiográficas e críticas, de Franchetti, poderia consistir em recordar a sua tese central, segundo a qual “o Modernismo vai se tornando cada vez mais uma velha experiên-

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cia histórica”, pelo que “a longa hegemonia dos pressupostos, do gosto e dos critérios de avaliação do Modernismo de 1922 – tão firme, vetusta e duradoura, pelo menos, quanto a Faculdade de Letras da Universidade de São Paulo – parece finalmente fazer água por todos os lados”. Esta crescente anomia afetaria “o ponto de vista teleológico que organiza a narrativa a partir da afirmação do internacionalismo progressista da modernidade paulista”, ponto de vista que religa 1922 e a intervenção concreta dos anos 1950, esta última decisiva para que a teleologia da narrativa, com o decisivo acrescento de João Cabral de Melo Neto, ou de João Cabral tal como o Concretismo o leu em modo racionalista e cons-trutivista, se naturalizasse na história literária brasileira. Esta redescri-ção, cujo teor revisionista comporta algo de autobiográfico, se tivermos em mente o compromisso acadêmico do jovem Franchetti com a poesia concreta, exige sempre no autor um combate não apenas crítico, mas so-bretudo pela crítica, um dos seus tópicos fatais ou não estivéssemos perante um autor que concebe a literatura enquanto prática expressiva e crítica, não pensável por isso sem o contributo (formativo e pedagógico) dessa funda-mental instituição social que é o discurso crítico. O balanço que Franchetti faz da crítica brasileira de hoje, note-se, é francamente negativo, apontando--lhe o crescente confinamento universitário e técnico, a par de um correlato esvaziamento cultural. Mas, sobretudo, denunciando as estratégias usadas para evitar o momento, por definição “precário e pessoal”, da exposição do crítico ao objeto novo, e a substituição da imprescindível produção de juízo, que exigiria o confronto do texto novo com a série histórica, por uma filia-ção, que diríamos ansiolítica, do objeto numa das narrativas dominantes da modernidade brasileira. Nas suas palavras, “Cria-se, assim, um modo ‘histo-ricista atemporal’ (em que pese o paradoxo), de regra decalcado da autovi-são das vanguardas, especialmente Modernismo paulista e poesia concreta”. O imperativo de ser absolutamente moderno teria desembocado, pois, numa forma de conservadorismo que conseguiu a proeza de transformar o radical historicismo modernista numa modalidade atemporal de relação com a his-tória, já denunciada há muito por Drummond, quando declarou que tendo ficado chato ser moderno, optava pelo eterno, opção tão paradoxal quanto o paradoxo do eterno moderno. A vigência do imperativo arrasta, ainda,