crea tunel de vento

Upload: flaviagelatti642

Post on 10-Jul-2015

74 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

CONSELHO em revista | n 34

Engenharia do vento: mais segurana e otimizao nas edificaesREA TCNICA - MATRIAS Criado para atender a uma demanda da engenharia civil, o tnel de vento da Ufrgs considerado o mais avanado da Amrica LatinaPor Andrea Fioravanti Reisdrfer | Jornalista Compreender a natureza para abstrair dela elementos que possam fazer a diferena, sob diversos aspectos da vida no planeta, pode ser um dos passos mais significativos da humanidade. Esse entendimento, aliado ao conhecimento tcnico, traz benefcios aos mais diversos segmentos da sociedade. As engenharias, pela abrangncia das reas que atuam, no so diferentes. Atravs da engenharia do vento, cincia que trata da interao do vento com o ser humano e seu ambiente, possvel otimizar as construes e torn-las mais seguras e resistentes presso do vento. Uma ferramenta utilizada por essa engenharia a realizao de testes nos chamados tneis de vento. Essa tecnologia est disponvel na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mais precisamente no Laboratrio de Aerodinmica das Construes (Lac), da Ufrgs em Porto Alegre. O Lac teve seu campo de atuao ampliado em1996 quando, aps concluir o doutorado na University of Western Ontario, no Canad, o engenheiro civil Acir Mrcio Loredo-Souza retornou ao Brasil e assumiu a direo do rgo. Na bagagem trouxe determinao e novos conhecimento para retomar o trabalho do Laboratrio, que ligado ao Departamento de Engenharia da Ufrgs e considerado o mais avanado da Amrica Latina, em nvel de tecnologia. O tnel de vento, que leva o nome do engenheiro civil Joaquim Blessmann, fundador do Laboratrio no ano de 1972, foi projetado para realizar ensaios estticos e dinmicos deADRiANO BECKER

14

Doutor em engenharia, Acir Mrcio LoredoSouza o diretor do Lac

modelos de construes civis. As principais reas de estudo foram ampliadas, sendo, hoje, classificadas em ambiental, meteorolgica, estrutural e construtiva. O engenheiro civil Joaquim Blessmann explica que, a partir de janeiro de 1960, a maioria dos estudos feitos sobre a ao esttica do vento em edificaes teve por finalidade a incluso de resultados obtidos na Norma Brasileira NBR6123, que trata das aes do vento emARQuiVO/LAC

edificaes. Os primeiros ensaios foram feitos no Instituto Nacional de Tecnologia, no Rio de Janeiro, e no Centro Tcnico Aeroespacial, em So Jos dos Campos, So Paulo. Inicialmente em uma corrente de ar uniforme e de baixa turbulncia, seguindo-se ensaios com simulao parcial de caractersticas do vento natural por meio de grelhas e telas curvas convenientemente dimensionadas, explica Blessmann. A partir de 1973 os ensaios comearam a ser feitos em maior quantidade, j no Laboratrio de Aerodinmica das Construes da Ufrgs. As caractersticas de ventos naturais puderam ento ser mais bem simuladas, com reproduo dos perfis verticais da velocidade mdia e das principais caractersticas da turbulncia, explica ele. O fundador do Lac destaca que alguns modelos foram estudados tanto em escoamentos suaves e uniformes como em escoamentos turbulentos e deslizantes. Esses estudos comparativos mostraram a importncia de uma correta simulao das principais caractersticas dos ventos naturais. Em alguns casos a diferena de resultados impressionante, principalmente em construes arredondadas, complementa. Na extensa lista de estudos realizados pelo professor Blessmann para a determinao das foras devidas ao vento figuram a Chamin do Gasmetro, com 101 metros de altura na poca foi feito pr-estudo sobre a viabilidade de um restaurante prximo ao topo , a Torre de Refrigerao em Candiota, a Chamin de 200 metros para a Usina Termeltrica Jacu I, as janelas projetadas no Centro Administrativo de Porto Alegre com 142 metros.

ADRiANO BECKER

Os testes no tnel de ventoOs profissionais nos enviam as plantas, normalmente em Autocad. A partir da, analisamos e projetamos o modelo reduzido que ser submetido ao ensaio. Alm da edificao, reproduzimos todo o contexto no qual ela ser inserida, as construes do entorno, enfim, tudo o que possa interferir na presso do vento, explica o eng. Acir. O modelo, colocado dentro de uma das duas cmaras de ensaio do tnel, submetido a ventos com carac-

Projeto em teste no tnel...

...e j construdo em So Paulo. Edifcio So Paulo Wellness: Projeto Estrutural: eng. Francisco Graziano

www.crea-rs.org.br

CONSELHO em revista | n 34

Ponte sobre o Rio Guam em testes no tnel...FOTOS: ARQuiVO/LAC

...a obra em construo, em So Paulo: eng. Cato Ribeiro Empresa: Enescil

FOTOS: ARQuiVO/LAC

Acima, simulao grfica do Complexo Virio Jornalista Roberto Marinho, em So Paulo. Abaixo, projetos em testes no tnel. Projeto estrutural: eng. Cato Ribeiro / arq. Joo Valente Filho

tersticas especficas do local onde a edificao real ser construda. Diversos sensores so distribudos para medirem as presses, os deslocamentos, as velocidades e as aceleraes no modelo para qualquer ngulo de incidncia do vento, dando uma descrio completa dos efeitos do vento na edificao em estudo. a ferramenta mais confivel para determinar o carregamento do vento. O tnel otimiza o carregamento, evita o super ou subdimensionamento da obra, gerando economia e aumentando a segurana, explica o professor Acir. Sobre a demanda, ele esclarece que cclica, sendo influenciada por questes econmicas do pas e pocas de projeto. Em mdia atendemos quatro projetos mensais, sendo a maioria absoluta de fora do Estado. H muitos anos essa ferramenta utilizada nos Estados Unidos, pases da Europa e, mais recentemente, os da sia. O World Trade Center, um dos cones da economia norte-americana, construdo no incio da dcada de 70, foi uma das edificaes pioneiras no teste. Dos sete edifcios que compunham o complexo, destacavam-se as duas Torres Gmeas com 110 andares, idealizadas pelo arquiteto japons Minoru Yamasaki. Destrudo em 11 de setembro de 2001, o complexo de prdios realizou o teste no tnel de vento. Os tneis podem simular rajadas superiores a 300 km/h, sendo que os ensaios so recomendados para edificaes cujas especificaes no se enquadram na NBR 6123, que trata das Foras Devidas ao Vento em Edificaes, reitera o engenheiro Acir. A Norma fixa as condies exigveis na considerao das foras devidas ao esttica e dinmica do vento, para efeitos de clculo de edificaes. Especifica as presses geradas pelo vento em edificaes com formas convencionais. Nos casos em que ela no se aplica, como em edificaes de formas, dimenses ou localizao fora do comum, estudos especiais devem ser feitos para determinar as foras atuantes do vento e seus efeitos. Resultados experimentais obtidos em tnel de vento, com simulao das principais caractersticas do vento natural, podem ser usados em substituio do recurso aos coeficientes constantes da NBR. O teste, portanto, no obrigatrio, mas altamente recomendado em diversos casos, pois gera uma tima combinao de segurana e economia, esclarece o diretor do Lac. Para ele, o Brasil est comeando a ter essa preocupao. uma questo cultural, assim como o prprio estudo de presses em edifcios.

Vrias outras obras poderiam ter esse tipo de estudo, mas no tm, avalia. Como projetista estrutural, considero os resultados das presses e foras que o vento exerce sobre a estrutura obtidos em tnel de vento, a partir de ensaios de modelos da estrutura em escala, como uma ferramenta muito poderosa, til e esclarecedora. So conjuntos de resultados que nos mostram como a estrutura real vai se comportar sob a ao das foras do vento, permitindo tanto o seu correto dimensionamento quanto a tomada de atitudes para melhorar o comportamento previsto. A avaliao do engenheiro civil Anbal Knijnik, que j utilizou o teste em mais de 15 obras, grande parte delas construdas e/ou projetadas em So Paulo. Questionado sobre de quem a escolha na realizao do teste, Knijnik responde que em geral uma sugesto do profissional para o cliente. Na grande maioria das vezes o profissional que sente a necessidade do teste e o prope ao cliente. A escolha sobre fazer ou no do cliente, salvo nos casos onde a proposta de projeto estrutural j inclui a realizao do ensaio como condio tcnica para a elaborao do projeto, esclarece.

reas de estudoObras mais otimizadas, seguras e econmicas so as principais vantagens na utilizao do teste. Essas condies so frutos dos resultados apontados no teste, tais como prognsticos de presses, tenses, deformaes, deslocamentos e caractersticas das vibraes causadas pelo vento, avaliao de requisitos estruturais para otimizao de projetos para resistir s foras geradas pelo vento, realizao de estudos de diferentes tipos de vento (tormentas eltricas, tornados, ciclones), vento em pedestres, disperso de poluentes, transporte e deposio de areia, solo e poeira, interao vento e chuva, efeitos do vento em estruturas em geral (pontes, torres, linhas de transmisso, estruturas flexveis), eroso elica, efeitos do vento em plantas e posicionamento de quebra-ventos, identificao topogrfica para implementao de geradores de energia. O teste d a resposta para essas questes, explica o professor Acir, sendo que muitas vezes as solues podem ser simples. Sobre a questo ambiental possvel encontrar solues para a disperso de poluentes, de material particulado, como carvo. Nesse caso podem ser utilizados telas porosas para diminuir a velocidade do vento. Na questo da poluiowww.crea-rs.org.br

REA TCNICA - MATRIAS15

CONSELHO em revista | n 34

16

atmosfrica, no caso de implementar indstria, possvel medir no entorno o grau de impacto da implantao desse empreendimento para a comunidade. O tnel permite a quantificao e, caso necessrio, a adoo de solues para minimizar ou corrigir os problemas atravs de solues simples, como o aumento da altura da chamin para que essa possa dispersar a emisso do poluente. Recentemente o Lac realizou um estudo para a Companhia Vale do Rio Doce. O vento estava carreando partculas das pilhas de carvo em direo s cidades de Vitria e Vila Velha (ES). A Vale teve a preocupao de diminuir esse carreamento de partculas slidas. Por isso encomendou o estudo de colocao de centenas de metros de telas porosas de proteo em torno dos ptios de carvo, para diminuir o impacto. O projeto est na fase de implementao. um processo longo, bem estudado, explica o dr. Acir. Para a construo de edifcios, pavilhes, estdios, entre outros, so fornecidos dois grandes grupos de resultados: cargas para estrutura e carregamento para os elementos de revestimento como telhas, vidros, etc. Os profissionais que vo fazer o projeto da estrutura tm o carregamento mais otimizado possvel. Vo projetar para a carga real de vento, sendo que pela utilizao da Norma, esta carga sempre aproximada, enfatiza o engenheiro do Laboratrio. Para o engenheiro civil Anibal Knijnik cabe ao projetista estrutural avaliar as cargas a serem consideradas como atuante sobre a estrutura. Essa avaliao feita com base em um desses critrios e nesta ordem: atendimento s Normas Tcnicas

Consultoria 1: Eng. Marcelo Carnicelli (Empresa: Telecivil So Paulo) Consultoria 2: Eng. Anbal Knijnik (Empresa: Knijnik Engenharia Porto Alegre) Modelo em teste no tnel Arquiteto Flavio Lembert (Porto Alegre) Torre da Claro Digital em Porto Alegre

REA TCNICA - MATRIAS

(cargas mnimas), s especificaes do cliente e experincia do profissional. A NBR-6123 fornece as cargas de vento para algumas formas estruturais simples. Quando a estrutura apresenta caractersticas que no podemos classificar como simples forma, altura, propores entre as dimenses , o carregamento s pode ser determinado ou pela experincia do profissional ou por ensaios especficos (tnel de vento). O profissional, por dever de ofcio, na dvida deve considerar no projeto uma carga segura. Assim, se no existem dados normatizados nem resultados de ensaio, ele vai superdimensionar as cargas, a favor da segurana. O teste elimina esse arbitramento para maior das cargas, conduzindo a um projeto mais adequado e com menos incertezas. De posse dos resultados do teste, o projetista estrutural pode trabalhar com mais certeza das cargas, conduzindo a um projeto mais adequado e econmico. O ensaio vai propiciar a elaborao de um projeto estrutural melhor , avalia Knijnik. Os testes nos tneis de vento tambm podem ser realizados em edificaes pron-

Laboratrio de Aerodinmica das Construes (Lac) da ufrgsO Lac inserido em um contexto acadmico, orientado para o ensino, pesquisa e desenvolvimento, que busca gerar, transmitir e aplicar conhecimentos aos mais diversos problemas relacionados interao entre o vento, o ser humano e o seu ambiente. formado por uma equipe de quatro professores, um permanente e trs colaboradores, quatro engenheiros e um tcnico mantidos pelos recursos prprios, alm de estudantes de graduao e ps-graduao. Outras informaes podem ser obtidas no site www.ufrgs.br/lac

tas. possvel verificar e corrigir problemas. Por exemplo alguns prdios so construdos e comeam a oscilar em razo da presso do vento, embora no tenha risco de tombamento, a situao provoca desconforto nas pessoas que utilizam a edificao. O problema pode ser corrigido atravs da adoo de amortecedores. So dispositivos que podem ser colocados no prdio para que reduzam essas oscilaes, explica o professor Acir. O Lac recebe vrias solicitaes de trabalho aps a ocorrncia de acidentes, como coberturas arrancadas em decorrncia do vento, pavilhes destrudos. Situaes, que segundo o engenheiro do Lac, poderiam ter sido evitadas se o teste no tnel de vento tivesse sido realizado. A maioria dos acidentes causados pelo vento evitvel, explica ele. Para o engenheiro civil Anbal Knijnik, as principais causas de acidentes devido ao vento so a subestimao das cargas devidas ao vento, a falha na concepo estrutural, onde no adotado um modelo resistente capaz de efetivamente resistir com segurana a todas as foras causadas pelo vento e a fixao deficiente de peas de cobertura (tesouras, telhas, teras, etc.) e de vedao (painis, esquadrias, etc.). O Lac est desenvolvendo pesquisa sobre a reduo dos desastres naturais. Segundo o diretor Acir Mrcio LoredoSouza, uma rea que temos extremo interesse. Tambm esto tentando implementar na Ufrgs um Centro para preveno e reduo de desastres naturais, em parceria com a Defesa Civil Federal e do Estado. Os testes nos tneis de vento tambm esto despertando o interesse do mercado de seguros de imveis. Segundo o professor Acir, nos Congressos Internacionais de Engenharia do Vento, as indstrias de seguro esto presentes. O interesse que quanto mais precisa a carga do vento nas edificaes menor o risco de acidentes, esclarece.

ADRiANO BECKER

CustosEmbora o Estado tenha destaque na tecnologia empregada nos tneis de vento da Ufrgs, chama ateno o fato de a grande

Grupo de tcnicos responsveis pelo trabalho no Laboratrio

www.crea-rs.org.br

FOTOS: ARQuiVO/LAC

Projeto inicial: Padoin & Sachs Engenharia de Estruturas (Porto Alegre)

ADRiANO BECKER

Tnel de ventoO tnel do tipo retorno fechado, ou seja, tem duas sees principais de trabalho (duas cmaras de ensaio). A primeira tem dimenses da seo transversal de 0,90 m de altura por 1,30 m de largura. A segunda tem 2,10 m de altura por 2,40 m de largura. O comprimento total de 21,40 m. A velocidade do vento no tnel ultrapassa 160 km/h na primeira cmara de ensaio.

demanda atendida pelo Laboratrio ser para edificaes construdas fora do Rio Grande do Sul. So Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, e at outros pases, figuram na lista dos principais locais de construo das edificaes submetidas ao teste. Para o professor Acir, a questo acima de tudo cultural. Essa rea ainda tem muito a crescer. Falta conhecimento de que as cargas do vento podem ser previstas de maneira cientfica e precisa e que o tnel de vento a melhor ferramenta existente para essa finalidade, avalia Loredo-Souza. Para o eng. Knijnik existem duas razes principais. Uma que os prdios mais altos so executados fora do Estado e a segunda que a realidade fora mais moderna, onde j se consolidou que a utilizao de consultorias e ensaios tende a produzir resultados melhores. No so todos, mas muitos empresrios gachos ainda tm um pensamento mais imediatista, buscando principalmente uma reduo no custo inicial da obra, onde se encontra a fase de projetos e ensaios. Sabe-se hoje que a fase de projetos define 80% do custo da obra. Ou seja, uma vez definido o projeto, somente se pode atuar sobre 20% do custo

da obra. Mesmo assim uma grande parte dos projetos contratada mediante uma simples concorrncia de preos, sem ateno tcnica. Nesse caso, o projetista que sugerir a execuo de um teste em tnel de vento que melhora o desempenho da obra sob todos os pontos de vista ainda corre o risco de estar dando um tiro no prprio p, j que estaria propondo um acrscimo nos custos iniciais da obra. paradoxal, aquele projetista mais consciente, ao propor uma medida que vai melhorar o desempenho da obra, pode terminar por ser penalizado perdendo o projeto propriamente dito, pondera Anbal Knijnik.

Grau de confiabilidadeSegundo doutor Acir, na grande maioria das vezes o valor do teste inferior a 1% do custo total da obra. Embora mencione a questo econmica, o engenheiro Knijnik concorda com o professor. O teste no encarece a obra de maneira nenhuma, pois seu custo irrisrio diante do custo da obra e, ao mostrar o desempenho da edificao sob a ao do vento, permitir que as cargas de vento consideradas sejam as reais, bem como permite que se tomem algumas medidas para diminuir outros efeitos deletrios do vento. Essas grandes vantagens ultrapassam com folga os pequenos custos do ensaio no tnel de vento, reitera ele. A realizao do teste permite, segundo o diretor do Laboratrio da Ufrgs, o carregamento da maneira mais precisa possvel e a melhor tecnologia existente no

planeta para projetar edificaes. Grandes obras tm sido testadas e o que se faz no tnel de vento combinar a parte aerodinmica interao do vento com a forma arquitetnica e estrutural com parmetros meteorolgicos. Deve-se ter em mente que todas as edificaes so projetadas para determinado nvel de risco. As prprias normas de vento, por exemplo, no exigem que as edificaes convenionais sejam dimensionadas para resistir aos tornados mais violentos, pois seria mais barato reconstru-las do que construir bunkers para resistir a esses fenmenos. A razo, claro, que os recursos disponveis por governos e pela populao em geral so limitados. Entretanto, reitero que a maioria absoluta dos acidentes ocorridos nos ltimos anos poderia ter sido evitada com a avaliao correta das foras do vento, esclarece. Questionado sobre se possvel garantir a segurana das edificaes que no se enquadram na NBR-6123 e que no realizam o teste, o eng. Knijnik adverte que, do ponto de vista formal, no. Do ponto de vista prtico, isto atingido pelo aumento do valor das cargas do vento sobre a estrutura, gerando um aumento no consumo de concreto e ao na obra. O problema que este chute para cima no garante que a carga considerada corresponde efetivamente mxima carga que realmente atuar sobre a estrutura. Essa insegurana, por sua vez, provoca dvidas e estresse em quem projeta, fazendo com que cresam ainda mais os consumos, finaliza.www.crea-rs.org.br

REA TCNICA - MATRIAS17

CONSELHO em revista | n 34

Embalagens de agrotxicos: um desafio para a agriculturaBrasil referncia mundial em devoluo de embalagens vazias de defensivos agrcolas REA TCNICA - MATRIASPor J Santucci | Jornalista A sustentabilidade de uma agricultura passa pela utilizao de novos procedimentos e tecnologias e uma conscientizao que assegurem o respeito pela sade humana e pelo meio ambiente. Um dos desafios bsicos est no destino das embalagens de agrotxicos. O seu descarte em rios, plantaes, ou mesmo o seu aterramento, acarreta graves problemas de poluio ambiental, como contaminao de solos, mananciais de gua e do lenol fretico. Aps inmeros debates entre as indstrias fabricantes e canais de distribuio de agrotxicos junto com rgos governamentais, foram criadas algumas leis e um sistema de retirada das embalagens do campo para que sejam recicladas ou incineradas, com a implantao de postos ou centrais de recebimento, onde se realiza a prensagem e enfardamento. As embalagens que podem ser recicladas, no entanto, devem chegar devidamente lavadas a essas centrais. Segundo o Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (Inpev), entidade sem fins lucrativos, dedicada a gerir a destinao final de embalagens vazias de produtos fitossanitrios, so passveis de reciclagem 95% das embalagens vazias de defensivos agrcolas colocadas no mercado. Porm, para que possam ser encaminhadas para reciclagem, as embalagens precisam ser lavadas corretamente (trplice lavagem, veja box) no momento de uso do produto no campo. So incineradas aquelas no-lavveis, isto , embalagens que no utilizam gua como veculo de pulverizao (sacos plsticos, embalagens de produtos para tratamento de sementes, caixas de papelo, etc.) e as embalagens que no foram trplice lavadas pelos agricultores. Como responsvel pelo destino final ambientalmente correto das embalagens vazias de defensivos agrcolas, o Instituto desenvolveu e fez parceria nos ltimos cinco anos com oito empresas que realizam o trabalho de reciclagem das embalagens do sistema de destinao final de embalagens vazias de agrotxicos. Elas esto situadas nos Estados de Mato Grosso, Minas Gerais, Paran, Rio de Janeiro e So Paulo e produzem mais de 16 diferentes artigos provenientes da reciclagem, que recebem e reciclam as embalagens vazias com a segurana, qualidade e rastreabilidade necessrias ao processo. A assessoria do Inpev esclarece que somente essas empresas esto aptas a atuar com a reciclagem das embalagens vazias, ao cumprirem com as normas dos rgos ambientais, as exigncias legais e os padres de qualidade e segurana estabelecidos. As duas empresas que incineram as embalagens vazias deste sistema esto localizadas no Estado de So Paulo. Segundo informaes do Inpev, em 2006, foram destinados 88% do volume de embalagens primrias, aquelas que esto em contato direto com o produto, e colocadas no mercado. O volume de embalagens destinadas, primrias e secundrias, pelo pas foi de 19.634 toneladas, o que representa 63% do total. As pesquisas do Instituto indicam que, no primeiro quadrimestre de 2007, o Rio Grande do Sul destinou 452,7 toneladas de embalagens vazias de defensivos agrcolas, volume 5% maior que o registrado no mesmo perodo do ano passado (431 toneladas). Somente no ms de abril de 2007, foram processadas 79 toneladas nas unidades de recebimento do Estado. Em todo o ano de 2006, o RS foi responsvel pelaDiVuLGAO iNPEV

18

operador separa embalagens por tipo de material

destinao de 1.854 toneladas, volume 26,7% maior que em 2005, quando foram processadas 1.464 toneladas.

O Estado exemplo em devoluo de embalagensPara o Inpev, o crescimento expressivo apresentado pelo RS reflete o alto grau de comprometimento com o meio ambiente de todos os envolvidos no programa de destinao final de embalagens vazias no Estado: agricultores, canais de distribuio e cooperativas agrcolas, a indstria fabricante de defensivos agrcolas e o poder pblico, representados pela Fundao Estadual de Proteo Ambiental (Fepam), entidade responsvel pelo emisso de licenas necessrias para o funcionamento do sistema, e pela Secretaria de Agricultura, responsvel pela fiscalizao. No Rio Grande do Sul, o Inpev ainda parceiro do Servio Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/RS) na realizao de treinamentos e palestras para a educao do produtor e trabalhador rural. A Lei 9.974 de 06/junho/2000 disciplina a destinao final de embalagens vazias de agrotxicos e distribui responsabilidades para o agricultor, para o comerciante, para o fabricante e para o poder pblico. Consultor e instrutor credenciado do

www.crea-rs.org.br

CONSELHO em revista | n 34

Senar, onde ministra o curso Aplicao Correta e Segura de Agrotxicos-NR-31, o engenheiro agrnomo Csar Moutinho explica que desde maio de 2005, est em vigor uma Norma Regulamentadora da Segurana no Trabalho e Sade do trabalhador rural, intitulada NR-31 e fiscalizada pelo Ministrio de Trabalho. Importante salientar que atravs desta norma esto impedidos de trabalhar com agrotxicos menores de 18 anos, maiores de 60 anos e mulheres grvidas. Segundo o engenheiro Csar, os produtores devem procurar o Sindicato Rural de seu municpio para solicitar o curso, que gratuito. Sem custos ao produtor. Temos de aproveitar essa oportunidade para disseminar esses conhecimentos, destaca. Para ele, tambm importante o local de armazenamento dos agrotxicos, eles devem estar em locais seguros, longe do alcance de crianas e animais domsticos, no mnimo 30 metros afastados de locais com alimentos, medicaes, raes, ou mananciais dgua e sem riscos de inundaes. A utilizao de paletes prtica recomendvel, pois evita que a embalagem toque diretamente o cho, esclarece. Para o especialista, tambm preciso distinguir as responsabilidades dos agentes envolvidos no descarte de embalagens: cabe ao agricultor utilizar os agrotxicos conforme as recomendaes que recebeu de seu assistente tcnico e lavar as embalagens vazias trs vezes, logo aps o seu uso, antes de devolver no local indicado pelos comerciantes. Para isso, os comerciantes tm a responsabilidade de disponibilizar um local para que sejam recolhidas as embalagens utilizadas, bem como informar aos produtores onde devem ser devolvidas essas embalagens usadas e devidamente trplice lavadas. Normalmente, essa informao est disponvel no verso da nota fiscal de compra do agrotxico. Aos fabricantes cabe recolher as embalagens trplice lavadas dos locais disponibilizados pelos comerciantes e levlas at as usinas para recicl-las, ou queimlas, caso seja necessrio, explica. O especialista salienta ainda que as embalagens flexveis caixas de papelo, embalagens de produtos para tratamento de sementes (oleosos) podem ser devolvidas sem serem lavadas. As embalagens de produtos lquidos precisam ser lavadas assim que forem completamente esvaziadas, para que no ocorra ressecamento do produto que sobrou nas paredes da embalagem. Caso contrrio, no ser possvel diluir a sobra e, portanto, ficaro resduos nas paredes da embalagem. Se assim procedermos, haver uma diminuio de custos pelo completo aproveitamento do agrotxico, alm de reduzir o risco de contaminao do meio ambiente. No caso de o produtor devolver as embalagens

DiVuLGAO CiNBALAGENS

Sobra de produto ainda um problemaCesar Moutinho explica que as sobras devem ficar na embalagem original do produto. Jamais se troca produto de embalagem, pois h o risco eminente de haver algum acidente com o produto. Pensase que uma coisa e, no entanto, temos outro produto nesta embalagem. H vrios casos relatados de acidentes nesse sentido. Produtores que aplicaram dessecantes, pensando que estavam utilizando fungicidas (dessecante em embalagem de fungicida), crianas bebendo agrotxicos em embalagens de refrigerantes, etc. Todo produto tem um prazo de validade, que deve ser respeitado. Estando dentro desse prazo, poderemos guardlo sem problemas, mas sem nunca troclo de embalagem. importante conservar o produto na sua embalagem original, mantendo-se inclusive o rtulo do mesmo intacto, exatamente para sabermos o que a embalagem contm, analisa. O Estado possui Centrais em Passo Fundo, Giru, So Luiz Gonzaga, Alegrete, Dom Pedrito, Capo do Leo e Vacaria. Em torno das centrais h postos de recebimento. O engenheiro agrnomo Gilberto Gomes, responsvel tcnico pela Cinbalagens, de Passo Fundo, a maior Central do Brasil, explica que o RS foi o pioneiro no projeto de trplice lavagem. Junto com a Emater, foi desenvolvida uma campanha muito grande, tanto que o ndice de embalagens contaminadas recebidas pelas centrais do RS inferior ao verificado nos demais Estados, adianta. importante destacar que os produtores no podem devolver as embalagens com restos de produtos ou produtos vencidos. Nesse caso, segundo assessoria do Inpev, necessrio que o produtor contate a empresa fabricante do defensivo agrcola, que ir orient-lo como deveDiVuLGAO CiNBALAGENS

Embalagens devidamente prensadas, aguardando envio para a reciclagem

sem lav-las, elas sero recebidas e retidas na Central de recebimento, mas estar sujeito s penalidades da lei, destaca. O Inpev ressalta que as embalagens devolvidas pelos agricultores s unidades de recebimento passam por uma triagem que as separa entre lavadas e nolavadas. As embalagens lavadas passam por uma nova triagem que identifica se esto aptas para que sejam recicladas. Apenas so recicladas as embalagens que passaram pelos processos corretos de lavagem trplice lavagem ou lavagem sob presso. O destino final dessas embalagens a reciclagem. Atualmente so produzidos 12 materiais reciclados provenientes da matria-prima das embalagens de defensivos agrcolas, como barrica de papelo, tubo para esgoto, cruzeta de poste de transmisso de energia, embalagem para leo lubrificante, caixa de bateria automotiva, condute corrugado, barrica plstica para incinerao, duto corrugado, saco plstico de descarte e incinerao de lixo hospitalar, tampas para embalagens de defensivos agrcolas, dentre outros. Embalagens no lavveis ou que no foram lavadas adequadamente seguem para incinerao.

Para implantao de uma unidade de recebimentoSegundo a legislao vigente, os estabelecimentos comerciais devero dispor de instalaes adequadas para o recebimento e armazenamento das embalagens vazias devolvidas pelos usurios, at que sejam recolhidas Cinbalagens: maior Central do Brasil pelas indstrias produtoras e comercializadoras de produtos fitossanitrios, responsveis pela destinao final destas embalagens. A formao da Unidade de recebimento de responsabilidade do setor de comercializao (distribuidores e cooperativas), sendo que seu gerenciamento pode ser terceirizado ou realizado por sua entidade representativa. Para otimizar recursos, normalmente os estabelecimentos comerciais de uma mesma regio se organizam em associaes e viabilizam a construo de uma nica unidade de recebimento para uso e gerenciamento compartilhado.(Fonte: inpev)

www.crea-rs.org.br

REA TCNICA - MATRIAS19

CONSELHO em revista | n 34

Produtos provenientes da reciclagem das embalagens de defensivos agrcolas

20

proceder para realizar a devoluo. Com relao esta questo, Gilberto Gomes salienta que desde 1996, estamos tentando aprovar o recolhimento das sobras de produtos, porm um processo muito complicado, devido aos altos custos, principalmente de destruio desse material. Dessa forma, a obteno do compromisso da indstria se torna bastante complicado. J por parte do governo, nem pensar. Para dificultar, o Conama aprovou a Resoluo 334, proibindo a entrada de sobras nas Centrais, inviabilizado a possibilidade de utilizarmos a estrutura existente, enfatiza. No entanto, o responsvel tcnico da Cinbalagens destaca que o controle de gesto das embalagens a partir da Central muito grande. A revenda ou cooperativa associada ao posto e Central de cada regio envia tcnicos, responsveis por treinamento, para capacitao de recolhimento. So divulgados aos seus clientes e associados datas de recolhimento e agendadas com a Central as datas de envio das cargas. Os postos apenas recebem

embalagens. Quando completam a carga, solicitam ao Inpev, que atravs de transportadora licenciada, efetua a transferncia das mesmas para a Central. Ao receber do agricultor, revenda, cooperativa, prefeitura ou posto, a Central efetua a separao das embalagens e a reduo de volume (prensagem). Quando tiver carga completa, solicita ao Inpev a retirada das mesmas. H um sistema informatizado, com sincronizao, onde so lanadas todas as entradas, atravs do sistema transmitido a uma Central de Dados em So Paulo (Inpev). Portanto, o Inpev, on-line, sabe o que est entrando em todos os postos e centrais do Brasil. O projeto brasileiro considerado modelo para o mundo todo. Nenhum dos pases que efetuam a retirada das embalagens de agrotxicos consegue obter os resultados do projeto brasileiro, tanto em custos, quanto em eficincia, finaliza. Para o engenheiro agrnomo Csar, a fiscalizao ainda deficitria, apesar de o produtor, de uma maneira geral, estar familiarizado e habituado a devolver

as embalagens utilizadas. H algumas regies do Estado onde existem dificuldades. Por exemplo, a regio de serra, em funo da pequena propriedade familiar, h muita desinformao a respeito das devolues de embalagens vazias e trplice lavadas, esclarece. Ele chama a ateno para outra lei que o agricultor pode ser enquadrado e penalizado, caso no atenda s suas exigncias. A Lei dos Crimes Ambientais, LF 9.605, de 13/02/1998, dispe sobre sanes penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. Em seu art. 56, diz que todo aquele que produzir, processar, embalar, importar, exportar, comercializar, fornecer, transportar, armazenar, guardar, ter em depsito ou usar produto ou substncia txica, perigosa ou nociva sade humana ou ao meio ambiente, em desacordo com as exigncias estabelecidas em leis ou nos seus regulamentos, est sujeito s penalidades da lei, como multas que variam de 123,4 617 Ufirs, e/ou recluso de 1 a 4 anos, conclui.

REA TCNICA - MATRIAS

www.crea-rs.org.br