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CRDA – CENTRO DE REFÊRENCIA EM DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM MAGDA OLIVEIRA DE ARRUDA SILVA A DISLEXIA: UM TRANSTORNO DE APRENDIZAGEM SÃO PAULO 2010 CRDA – CENTRO DE REFÊRENCIA EM DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM

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CRDA – CENTRO DE REFÊRENCIA EM DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM DISTÚRBIOS DE

APRENDIZAGEM

MAGDA OLIVEIRA DE ARRUDA SILVA

A DISLEXIA: UM TRANSTORNO DE APRENDIZAGEM

SÃO PAULO 2010

CRDA – CENTRO DE REFÊRENCIA EM DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

EM DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM

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MAGDA OLIVEIRA DE ARRUDA SILVA

A DISLEXIA: UM TRANSTORNO DE APRENDIZAGEM

Monografia apresentada como parte dos requisitos para a provação no Curso de Especialização Lato Sensu em Distúrbios de Aprendizagem e submetida ao Centro de Referência em Distúrbios de Aprendizagem – CRDA, sob orientação da Profª MS. Lucilla da Silveira Leite Pimentel.

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Dedicatória

Dedico este trabalho aos meus filhos que me apoiaram com carinho e paciência nesses anos de estudos. Em especial a Natália que muito contribuiu na realização desse trabalho.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus filhos e companheiro pelo apoio. Aos meus professores pelo empenho ao longo do curso por terem possibilitado aprendizagens importantes e que ora devolvo como resultado esse trabalho.

Agradecimento especial a Deus por ter me concedido sabedoria e perseverança para conseguir concluir o curso, a todos aqueles que mesmo indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho e em especial a quem tanto me incentivou e acreditou em mim.

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ESTUDO ERRADO – GABRIEL PENSADOR Eu tô aqui pra quê? Será que é pra aprender? Ou será que é pra aceitar, me acomodar e obedecer? Tô tentando passar de ano pro meu pai não me bater Sem recreio de saco cheio porque eu não fiz o dever A professora já ta de marcação porque sempre me pega Disfarçando espiando colando toda prova dos colegas E ela esfrega na minha cara um zero bem redondo E quando chega o boletim lá em casa eu me escondo

(...) sei que o estudo é uma coisa boa O problema é que sem motivação a gente enjoa O sistema bota um monte de abobrinha no programa Mas pra aprender a ser um ignorante. Ah, um ignorante, por mim eu nem saía da minha cama (Ah, deixa eu dormir) Eu gosto dos professores e eu preciso de um mestre Mas eu prefiro que eles me ensinem alguma coisa que preste - O que é corrupção? Pra que serve um deputado? Não me diga que o Brasil foi descoberto por acaso! Ou que a minhoca é hermafrodita Ou sobre a tênia solitária. Não me faça decorar as capitanias hereditárias!! (...)

Encarem as crianças com mais seriedade Pois na escola é onde formamos nossa personalidade Vocês tratam a educação como um negócio Onde a ganância, a exploração e a indiferença são sócios Quem devia lucrar só é prejudicado Assim cês vão criar uma geração de revoltados Tá tudo errado e eu já tou de saco cheio

Agora me dá minha bola e dexa eu ir embora pro recreio...

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"Sem a curiosidade que se move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino".

Paulo Freire

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RESUMO

Este trabalho é um estudo sobre a dislexia, sua causa, sintoma, efeitos e

sentimentos na vida das pessoas que apresentam este distúrbio, a fim de esclarecer

pais, educadores e as instituições escolares. Por meio de visões de diferentes

pesquisadores, pretende-se não só discutir o conceito do termo dislexia, mas

também apresentar um retrospecto sobre os estudos direcionados a esse distúrbio

de aprendizagem. Atualmente, poucos são os casos diagnosticados por falta de

informações dos profissionais que atuam com essas crianças. As dificuldades

apresentadas por elas podem ter origem no analisador visual ou auditivo central,

acarretando dificuldades nas funções provenientes destas áreas. As consequências

aparecerão no decorrer das atividades realizadas em seu dia-a-dia, tanto no campo

cognitivo quanto emocional. Possuir um transtorno na aprendizagem como a dislexia

não deve ser visto como uma doença, mas sim como uma dificuldade na leitura e

escrita. A intenção aqui é a de sensibilizar educadores e todos os envolvidos na

aprendizagem escolar das crianças, para que não discriminem e rotulem o que deve

ser estudado e analisado antes de ser diagnosticado.

PALAVRAS-CHAVE : dislexia – aprendizagem - crianças – educadores –transtorno.

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ABSTRACT

This job is a study about dyslexia, causes, symptoms, effects and feelings

in the life of people who have this disturb, clarifying to parents, educators and school

institution. By citing different researchers, this work intends not only to discuss the

concept of dyslexia, but also to present a retrospect of dyslexia studies. Nowadays,

we have few diagnosed cases due to the professional that work with these children

have fewer information about it. The difficulties presented by them may be from

visual or phonological origin bringing some difficulties to the function originated from

this area. The consequence will appear during the activities done day by day as

much cognitive as emotional area. Posses a learning disruption likes dyslexia not

have been seen how a disease, but so how a difficult in the reading and writing the

intention here is to influence the educators and everybody who is involved in the

school learning of child, to don´t discriminate and label what have to be studied and

analyzed before been diagnostic.

KEY-WORDS: dyslexia – learning – childrens – educators - disruption

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................ 10

Objetivo Geral............................................................................... 11

Objetivos Específicos................................................................... 11

Metodologia..................................................................................

11

OS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM E A

DISLEXIA........................................................................................................ 12

1 Aprendizagem......................................................................... 12

2 Transtornos de aprendizagem................................................ 14

3 Dislexia................................................................................... 17

4 Baixa auto-estima.................................................................. 22

5 Em sala de aula...................................................................... 24

CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 26

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................. 27

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INTRODUÇÃO

A proposta em torno do tema “dislexia” tem como base sanar nossas

próprias dificuldades em detectar e desenvolver um projeto pedagógico adequado a

este distúrbio de linguagem, podendo também servir como subsídio de informação

para outros profissionais afins.

Atualmente sabemos que crianças, aparentemente normais, podem

apresentar transtornos de aprendizagem, o que diminui ou traz conseqüências para

o desenvolvimento de sua auto-estima.

A dislexia não é resultado de uma má-alfabetização, desmotivação, baixa

inteligência ou baixa condição sócio-econômica. É uma condição hereditária com

alterações genéticas e neurológicas.

O professor que está no dia-a-dia com as crianças, apresentando

conteúdos de forma criativa e variada, proporcionará a aquisição da informação de

forma adequada e estimulará intelectualmente a criança afim de desenvolver sua

criatividade que, quando aguçada trará uma sensação de satisfação, diminuindo a

frustração e aumentando a auto-estima.

Ao educador cabe detectar as dificuldades na aprendizagem que

aparecem na sala de aula, principalmente nas escolas mais carentes, e investigar as

causas de forma ampla, que abranja os aspectos orgânicos, neurológicos, mentais e

psicológicos adicionados à problemática ambiental em que a criança vive.

O conhecimento adquirido é a base sobre a qual constrói a compreensão.

Isto significa que a competência verbal (fala, leitura e a escrita, em termos de

facilidade e compreensão) não é objetivo final para o processo educativo, mas sim o

desenvolvimento do pensamento, por meio do qual podem originar-se o

compreender e o ser verbalmente competente.

Dentre os distúrbios de aprendizagem, a dislexia pode ser vista como

severa variação de talentos, cujas desvantagens são determinadas puramente por

circunstâncias sociais (GESCHWIND, 2000).

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OBJETIVO GERAL

Apresentar os transtornos de aprendizagem do aluno colocando em

destaque a abordagem da dislexia e técnicas que auxiliem o aluno a obter sucesso

em sua vida escolar e pessoal.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Aprimorar os conhecimentos em relação à aprendizagem para

compreender as dificuldades dos alunos;

• Apresentar a dislexia de forma a entende-la melhor e intervir no

aprendizado;

• Propor a inclusão do disléxico na sala de aula, a fim de desenvolver

atividades diferenciadas em cada componente disciplinar, para estimular o

desenvolvimento cognitivo e social;

• Despertar nos professores maior interesse pela criança disléxica para

desenvolver sua auto-estima.

METODOLOGIA Para a realização deste estudo foi feita uma pesquisa bibliográfica, que,

para Oliveira (1997), significa analisar materiais teóricos já produzidos, com o intuito

de responder algumas questões e ou problemas e depois reescrever a teoria.

Esta monografia apresenta-se dividida em cinco aspectos, sendo:

aprendizagem, transtornos de aprendizagem, dislexia, baixa na auto-estima e as

dificuldades na sala de aula, para se considerar definições e concepções dos temas

citados conforme autores e obras consultadas.

O estudo bibliográfico para este trabalho foi realizado através de livros

específicos, artigos, apostilas, para que assim fosse possível coletar o tema

estudado e apresentar uma análise interpretativa a respeito.

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OS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM, E A DISLEXIA

1. Aprendizagem Segundo JOSÉ e COELHO (1999), aprendizagem é o resultado da

estimulação do ambiente sobre o indivíduo já maturo que se expressa diante de uma

situação-problema sob a forma de uma mudança de comportamento em função de

experiência.

A aprendizagem é um fator que ocorre diariamente na vida de milhares de

pessoas, em ação dos diversos fatores que nos leva a apresentar um

comportamento anteriormente não apresentado.

É comum as pessoas restringirem o conceito de aprendizagem somente

aos fenômenos que ocorrem na escola, como resultado do ensino. Entretanto, o

termo tem um sentido muito mais amplo: abrange os hábitos que formamos, os

aspectos de nossa vida afetiva e a assimilação de valores culturais. Enfim, a

aprendizagem se refere a aspectos funcionais e resulta de toda estimulação

ambiental recebida pelo indivíduo no decorrer da vida (JOSÉ e COELHO, 1999).

A aprendizagem implica em modificações no sistema nervoso. Não pode

ser separado da memória e chega a ser essencial, já que uma nova aquisição (um

novo estímulo) requer a possibilidade de comparação com o que já é conhecido.

Com isso vê-se a importância de pré-requisitos na aprendizagem, nos quais são

utilizadas as funções perceptivas e motoras da criança nas experiências e que

permitem formar estruturas mentais indispensáveis.

A aprendizagem envolve alguns conceitos básicos, como: sujeito,

desenvolvimento e conhecimento. Deve-se considerar o meio em que ocorre tal

processo, as condições necessárias para a aprendizagem, bem como a interação

dinâmica desses elementos com a estrutura cognitiva do sujeito.

MUTSCHELE (1992) classifica a aprendizagem como um processo em

que o comportamento é modificado através de experiências. Referindo essa

experiência como sendo a aquisição de uma nova resposta ou uma mudança na

freqüência de uma nova conduta, algo já realizado pela criança.

Para que a aprendizagem provoque uma efetiva mudança de

comportamento e amplie cada vez mais o potencial do educando, é necessário que

ele perceba a relação entre o que está aprendendo e a sua vida (JOSÉ e COELHO,

1999).

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A aprendizagem se realiza de várias maneiras e processos. Segundo

PILETTI (1993), esses processos dependem de três elementos principais:

• a situação estimuladora: a soma dos fatores que vão estimular os

órgãos dos sentidos do indivíduo que aprende. Assim, se houver só um

fator, ele é considerado estímulo;

• a pessoa que aprende: o indivíduo que é atingido pela situação

estimuladora;

• a resposta: é a ação que resulta da estimulação e da atividade

nervosa.

Ainda para esse autor, todos nós indivíduos sempre estamos aprendendo

coisas novas, porém essas novas ações e acontecimentos sempre são diferentes

dos outros. Sendo assim, esses diferentes tipos de aprendizagem exigem condições

variadas para ocorrer.

O aluno precisa ser capaz de reconhecer as situações em que aplicará o

novo conhecimento ou habilidade. Tanto quanto possível, aquilo que é aprendido

precisa ser significativo para ele (JOSÉ e COELHO, 1999).

Uma aprendizagem mecânica, que não vai além da simples retenção, não

tem significado para o aluno. Para ser significativa, é necessário que a

aprendizagem envolva raciocínio, análise, imaginação e o relacionamento entre

idéias, coisas e acontecimentos (Ibidem).

Aprendizagem, apesar de ser universal e ocorrer durante toda a vida, não

é tão simples quanto possa parecer à primeira vista. Os psicólogos ainda não

chegaram a um acordo sobre os aspectos considerados mais importantes no

processo da aprendizagem.

Os autores acima citados alegam que o que é ensinado e aprendido

inconscientemente tem mais probabilidade de permanecer. Um estudante pode

esquecer muitas das noções que aprendeu com alguns professores, mas lembram o

tipo de pessoas que eram e as atitudes que tinham em relação a ele.

A cognição também é um fator fundamental para o processo de

aprendizagem, como afirma SCHEUER (1994) ao abordar algumas correntes que

tratam do desenvolvimento cognitivo, as quais discutem a cognição como um

arsenal de habilidade, “que determina a possibilidade de aprender ou não, podendo

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ser um sério obstáculo ou, em outro pólo, um facilitador para a concretização destes

processos” como diz NICKERSON (1987 apud WAJNSZTEJN, 1999, p.121).

Ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo (...). A leitura do mundo precede a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade daquele (FREIRE apud JOSÉ e COELHO, 1999, p.75).

2. Transtornos de aprendizagem

O processo de aprendizagem sofre interferência de vários fatores –

intelectual, psicomotor, físico, social, mas é do fator emocional que depende grande

parte da educação infantil (JOSÉ e COELHO, 1999).

Os transtornos de aprendizagem sempre existirão e isto é “maravilhoso”!

Porque por trás do erro de um aluno, está a oportunidade de descobrir como ele

organiza o seu pensamento. O erro proporciona vida dentro de uma sala de aula,

pois alguns alunos, aqueles que erram, pensam diferente dos demais, e isto, pode

não parecer, mas é ótimo, pois proporciona uma riqueza cognitiva à disposição do

educador. Aquele aluno que decora, não aprende com o real significado, mas aquele

que erra nos mostra que esta pensando, elaborando o seu conhecimento,

constituindo o seu saber.

É a família quem primeiro proporciona experiências educacionais à

criança, no sentido de orientá-la e dirigi-la. Tais experiências resumem-se num treino

que, algumas vezes, é realizado no nível consciente, mas que, na maior parte das

vezes, acontece sem que os pais tenham consciência de que estão tentando influir

sobre o comportamento dos filhos (Ibidem).

A aprendizagem depende basicamente da motivação. Muitas vezes o que

se chama de transtorno de aprendizagem é basicamente uma dificuldade de ensino.

Portanto, cada indivíduo aprende de uma forma diferente, conforme consegue

aprender. E quando o que lhe é ensinado não o motiva suficientemente, a

compreensão ou o aprendizado não se completa. A massificação do ensino tem

contribuído muito ao aparecimento e aumento dos “transtornos de aprendizagem”.

É de suma importância, portanto, que o professor conheça o processo da

aprendizagem e esteja interessado nas crianças como seres humanos em

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desenvolvimento. Ele precisa saber o que seus alunos são fora da escola e como

são suas famílias (JOSÉ e COELHO, 1999).

Os chamados transtornos de aprendizagem são um assunto vivenciado

diariamente por educadores em sala de aula; fazem parte de um tema que desperta

a atenção para existência de crianças que freqüentam a escola e apresentam

problemas de aprendizagem. Por muitos anos, tais crianças têm sido ignoradas, mal

diagnosticadas e mal tratadas. Os transtornos de aprendizagem vêm frustrando a

maior parte dos educadores, pois na maioria das vezes não encontram soluções

para tais problemas.

O educador precisa ao se defrontar com os erros de seus alunos

questionarem o porquê daquela resposta, e assim, começará a entender como eles

pensam. É assim que educadores têm a oportunidade de aprender.

Quando um educador respeita a dignidade do aluno e trata-o com

compreensão e ajuda construtiva, ele desenvolve na criança a capacidade de

procurar dentro de si mesma as respostas para os seus problemas, tornando-a

responsável e, conseqüentemente, agente do seu próprio processo de

aprendizagem (Ibidem).

Quando uma pessoa tem dificuldades para ler ou para escrever, apesar de

ter recebido educação apropriada, suas oportunidades de sucesso na escola e na

vida são diminuídas. Frequentemente associamos essas dificuldades com uma

menor capacidade intelectual, mas o problema real pode ser um distúrbio de

aprendizado.

“O termo distúrbio, significa perturbação ou alteração no comportamento

habitual de uma pessoa, e vem sendo usado na literatura especializada em várias

acepções” (DROUET, 2001, p.91).

Podemos constatar que as crianças com transtornos de aprendizagem

constituem um desafio em matéria de diagnóstico e educação. No entanto, não é

difícil encontrar educadores que consideram alguns alunos “preguiçosos e

desatentos”. Essa atitude não só rotula o aluno, como também esconde a prática

docente do professor, que atribui alguns adjetivos ao aluno por falta de

conhecimento sobre o assunto em questão. Muitos desses professores

desconhecem por completo que essas crianças podem estar apresentando alguns

transtornos de aprendizagem, de ordem psicológica, neurológica, social ou outras. É

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imprescindível ao professor, antes de rotular o seu aluno, conhecer tais transtornos

que interferem no processo ensino aprendizagem.

Conforme DROUET (2001), os transtornos de aprendizagem são

problemas, dificuldades ou distúrbios no processo de ensino-aprendizagem.

Portanto, esses transtornos têm sua origem em causas diversas, vemos que todos

eles se constituem em obstáculos à aprendizagem, prejudicando ou mesmo a

impedindo.

MOOJEN (1999) afirma que, ao lado do pequeno grupo de crianças que

apresenta transtornos de aprendizagem decorrentes de imaturidade do

desenvolvimento ou uma disfunção psiconeurológica, existem grupos muito maiores

de crianças que apresentam baixo rendimento escolar em decorrência de fatores

isolados ou em interações. As alterações apresentadas por esse contingente maior

de alunos poderiam ser designadas como “dificuldades de aprendizagem”. Pois

alunos que participariam dessa conceituação são os que possuem atraso no

desempenho escolar por falta de interesse, perturbação emocional, inadequação

metodológica ou mudança no padrão da escola, ou seja, essas alterações evolutivas

normais que foram consideradas no passado como alterações patológicas.

Quando a aprendizagem não se desenvolve conforme o esperado para a

criança, para os pais e para a escola ocorre a “dificuldade de aprendizagem”. E

antes que a “bola de neve” se desenvolva é necessário a identificação do problema,

esforços, compreensão, colaboração e flexibilização de todas as partes envolvidas

no processo. O que se vê normalmente é a criança desestimulada, achando-se

“burra”, sofrendo.

As dificuldades em aprender são consideradas como sintomas, assim

como os problemas de aprendizagem podem ocorrer seguidos não só de fatores

neurológicos da criança, as dificuldades e os problemas de aprendizagem podem

ocorrer também devido a problemas emocionais e familiares.

Entretanto, sabemos que, educadores são pesquisadores em essência, e

por isso se aprofundam e vivenciam de fato a prática pedagógica. Precisam

entender a responsabilidade frente aos alunos, lembrando que os alunos serão o

que esperamos deles.

Segundo PAIN (1985), a hipótese fundamental para avaliar o sintoma é

entendê-lo como um estado particular de um sistema que, para equilibrar-se, precisa

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adotar esse tipo de comportamento que poderia merecer um nome positivo, mas que

caracterizamos como não aprender.

O fato de que o aluno não mostrou nenhum sinal de progresso ontem ou hoje é absolutamente compatível com um possível progresso na semana ou no bimestre seguinte. As sementes, de fato, germinam lentamente. Os músculos demoram a enrijecer. Você conseguiu nadar logo em sua primeira aula de natação? Caso você não o tenha conseguido, isso significa que você nada aprendeu nessa aula? (RYLE apud CARVALHO, 1996, p.1).

3. Dislexia Dislexia é um tipo de distúrbio de leitura que provoca uma dificuldade

específica na aprendizagem da identificação dos símbolos gráficos, embora a

criança apresente inteligência normal, integridade sensorial e receba estimulação e

ensino adequados. É uma dificuldade que faz vítimas em todas as camadas da

sociedade e em todos os países do mundo numa proporção que varia de 6% a 15%

da população, apesar de ser raramente identificada e levando seus portadores

quase sempre ao fracasso escolar (ABD, 2000).

Segundo Nunes et alii (1997), quando a criança ingressa na escola, sua

primeira tarefa é aprender a ler e escrever. A alfabetização é o centro das

expectativas de pais e professores.

O termo dislexia, de acordo com a Associação Brasileira de Dislexia

(2000), significa: DISLEXIA = dis – distúrbio; lexia - leitura = escrita; linguagem =

grega.

Quando o processo de aprendizagem da criança está comprometido

desde os primeiros anos de vida, considera-se que os problemas de linguagem

interferem diretamente nesse processo, dificultando a escolarização como um todo,

o que freqüentemente acarreta prejuízos no aprendizado da leitura e escrita, neste

caso estamos diante dos distúrbios de aprendizagem.

Ninguém é disléxico porque quer. MARTINS (2001) afirma que toda

criança e/ou adulto gostaria de ler bem. Ser um bom ou mau leitor é algo que está

humanamente acima da habilidade e da vontade. Mas sendo uma condição humana,

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pode ser superada quando diagnosticada corretamente e se for tratada com

paciência e força de vontade.

Muitas vezes encontramos atitudes antipedagógicas por parte de

professores e educadores, devido a um total desconhecimento sobre o que é a

dislexia e quais atitudes mais corretas a serem tomadas com relação a essas

crianças.

Aprender a ler é uma tarefa complexa e difícil para todas as crianças, e

não apenas para aquelas que são disléxicas.

Uma criança sadia ao ingressar na escola já sabe falar, compreende

explicações, reconhece objetos, portanto não há razão para que ela não aprenda

também a ler. No entanto, o que muitas vezes pais e professores não consideram é

que a leitura e a escrita são habilidades que exigem da criança a atenção, por isso,

toda criança encontra algumas dificuldades na aprendizagem da leitura e da escrita.

A leitura e a escrita exigem dela novas habilidades, que não faziam parte de sua

vida diária até aquele momento.

No entanto, NUNES et al (1997) afirma que algumas crianças têm mais

dificuldades do que as outras. Até certo ponto, essas diferenças entre as crianças

são absolutamente esperadas, pois há uma relação clara entre o sucesso da criança

na aprendizagem da leitura e suas habilidades intelectuais.

Por ser uma dificuldade neurológica, a dislexia é considerada por

estudiosos como uma patologia. Os médicos a definem como “cegueira cerebral”, os

professores de leitura simplificam para impedimento de leitura: cada um na sua

terminologia e maneira particular de definir esse distúrbio de aprendizagem.

Para simplificar, a dislexia não é uma doença, é um distúrbio de

aprendizagem congênito que interfere de forma significativa na integração dos

símbolos lingüísticos e perceptivos.

Caracteriza-se por dificuldades na leitura (ortografia e semântica),

matemática (geometria e cálculo), atraso na aquisição da linguagem, compromete

também a discriminação auditiva e memória seqüencial, e uma das suas principais

causas (não se pode afirmar com absoluta certeza) pode ser uma falha no sistema

nervoso central em sua habilidade de organizar grafemas, ou seja, as unidades

sonoras que distinguem uma palavra da outra.

Segundo MORAIS (1986), todas as crianças têm dificuldades na

aprendizagem da leitura, que é uma atividade complexa, como já foi mencionado

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anteriormente, mas algumas crianças vencem estas dificuldades mais rapidamente e

outras mais lentamente do que esperaríamos com base no seu nível de inteligência.

O mesmo autor (ob. cit.), afirma que a criança disléxica apresenta uma

discrepância acentuada na direção desfavorável, ou seja, sua aprendizagem de

leitura e escrita é muito mais lenta do que seria esperado a partir do seu nível

intelectual. As diferenças entre as crianças disléxicas e as demais crianças podem

ser qualitativas e não quantitativas.

É possível, ressalta MORAIS (ob. cit.), que as crianças disléxicas

encontrem dificuldades diferentes na aprendizagem da leitura e da escrita e que elas

tenham de lidar com obstáculos que, normalmente, não afetam as outras crianças

na alfabetização. As crianças disléxicas precisam de mais horas de ensino e

métodos de ensino diferentes das outras crianças.

A constatação de que a criança é portadora de uma dificuldade de

aprendizagem, num grau leve ou severo, provoca ansiedade tanto na família quanto

na escola e nos profissionais de reeducação, pois sabem que essa limitação

acarretará problemas de ajustamento social já que vivemos em uma sociedade

letrada e a base de aprendizagem, conseqüentemente da convivência e da vivencia,

se dá por meio da leitura e da escrita.

Ainda MORAIS (ob. cit.): pais e professores podem suspeitar da dislexia

quando uma criança, ativa e inteligente tiver dificuldade em ler, escrever e soletrar,

podendo ela ser boa aluna em outras atividades.

Segundo IANHEZ e NICO (2002, p.29), a dislexia é diagnosticada dos

seguintes modos:

• Por exclusão;

• Indiretamente, à base de elementos neurológicos;

• Diretamente, à base de freqüência e persistência de certos erros na escrita e na leitura.

Os sintomas, de acordo com os autores, variam de criança para criança,

mas os primeiros indícios podem ser:

• Demora em aprender a falar;

• Em fazer laço nos sapatos;

• Em reconhecer as horas;

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• Em pegar e chutar a bola;

• Em pular corda;

• Dificuldade em escrever números e letras corretamente;

• Ordenar as letras do alfabeto, meses do ano e sílabas de palavras

compridas;

• Distinguir entre esquerda e direita;

• Desatento;

• Organizar símbolos em seqüência;

• Aprender seqüências diárias;

• Coordenação motora fina: disgrafia – desenhos – pintura;

• Coordenação motora grossa: desengonçado – ginástica;

• Memorizar mensagens e anotações;

• Organização geral – trabalho escolar e tempo;

• Na linguagem e fala; vocabulário pobre com sentenças curtas e

imaturas, estrutura de linguagem simples, sentenças longas e vagas,

pobre vocabulário expressivo;

• Instruções, dígitos, tabuadas e fonemas;

• Copiar de livro ou lousa;

• Matemática (discalculia); desenho geométrico.

Embora mais criativos e inteligentes que muitas pessoas normais, muitos

disléxicos desconhecem possuir o distúrbio e tornam-se reféns da falta de

informação.

É interessante assinalar que, pesquisas internacionais comprovaram que

10% da população mundial têm dislexia, mas devido à falta de informação os

disléxicos, sendo pessoas capazes e inteligentes, em razão do distúrbio estão

impedidas de alcançar seus verdadeiros potenciais se não tiverem suas dificuldades

de aprendizagem identificadas e tratadas de forma adequada (PAIN, 1985).

Para DROUET (2001), o distúrbio independe de causas intelectuais,

emocionais e culturais, não tem cura, mas pode ser amenizado por meio de

tratamento terapêutico, e tem incidência maior em meninos (3/1) do que em

meninas. Para detectá-la, faz-se necessária uma avaliação multidisciplinar, que

envolve diversos profissionais, como psicólogos, fonoaudiólogos, psicopedagogos e

professores.

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Ao professor caberá estudar e muito. Fazer cursos, ler mais e conhecer,

aplicar técnicas especiais de leitura, para que os disléxicos possam desfrutar de

uma leitura compreensiva. É verdade que os disléxicos vão cometer sempre erros

ao escrever, mas podem ler normalmente e inclusive acima do esperado.

Os computadores e a Internet são de grande valia no tratamento dos

disléxicos. São ferramentas de aprendizagem especialmente úteis para as crianças

que tem dislexia, já que permite o desenvolvimento de habilidades para escrever (e

até para ler) que outras maneiras não se podiam lograr.

Os pais, normalmente por estarem mais próximos de seus filhos, deveriam

ser os primeiros a perceberem se a criança tem algum problema. Contudo, muitos

deles não reconhecem as dificuldades de seus filhos por falta de informação. Para

uma caracterização geral, diz-se que o momento na qual a dislexia se torna mais

evidente é no período de 6 a 7 anos.

O disléxico é desorganizado, porém deve ser treinado a trabalhar de

maneira ordenada e construtiva. Isto envolve um grande número de repetições das

várias tarefas. É freqüentemente necessário conceder mais tempo para realização

destas tarefas. Lembrar e manter uma seqüência de instruções, freqüentemente, é

um grande desafio.

Os principais objetivos da ABD (2000) são de esclarecer e orientar a

sociedade como um todo e ajudar o disléxico, sua família e os profissionais que

trabalham com ele, para uma atitude de prevenção e de adequado

acompanhamento após o diagnóstico. Para isso, promovem estudos, pesquisas e

eventos.

Das escolas que procuram a ABD, 87% são particulares e 13% são

públicas. As séries que as crianças freqüentam são a maioria da 3ª série, depois da

5ª série, da 2ª série, da 4ª série, ensino médio, universidade, sem escolaridade

(abandono) e crianças de pré-escola – o principal objetivo da ABD é detectar a

criança de risco – (ABD, 2000).

A população chega até a ABD através de 44% pelos pais (que recebem

informações pela mídia), 28% de escolas e 28% de profissionais que já conhecem a

ABD.

Expresso aqui meu descontentamento pela falta de compreensão e apatia ao lidar com minha dislexia: à Escola Pública, suas diretorias, administradores, conselheiros e professores; às Escolas paroquiais e às

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Organizações Estaduais e Nacionais que lidam com distúrbios de aprendizagem cuja primeira prioridade é manter seu status. Universidades, colégios é escolas técnicas que se recusam a reconhecer o distúrbio de aprendizagem e a dislexia (BAUER, 1997, p.9).

4. Baixa Auto – estima

Intimamente ligada à ansiedade está a questão da auto-estima (ou seja, a

consideração que se tem por si mesmo). Uma série de estudos demonstrou que

crianças que possuem uma auto-estima elevada apresentam, de forma inconsciente,

um desempenho melhor do que crianças de habilidades semelhantes mas com uma

auto-estima inferior (FONTANA, 1991).

Auto - estima é uma palavra muito preocupante para as pessoas que

convivem com a criança disléxica, uma vez que ela sempre acabou se enfrentando

com situações de amparo com colegas ou irmãos e primos. As conseqüências

observadas são facilmente detectadas na idade pré-escolar quando a criança

apresenta dificuldades na memorização do alfabeto e raciocínio lento em algumas

atividades. Estas dificuldades desenvolverão na criança um sentimento de

incapacidade de diferença muito forte, que acaba comprometendo sua auto-estima.

Para amenizar esta situação, é necessário trabalhar e desenvolver atividades que

estimulem suas capacidades, fortalecendo o desenvolvimento geral da criança.

A auto-estima refere-se ao valor que se atribui a si próprio e, de todas as

áreas dos autoconceitos, é a mais importante. Às vezes, diz-se que um dos

principais fatores no desenvolvimento de doenças psicológicas é a incapacidade de

alguns indivíduos para atribuírem a si mesmos seu real valor (ibidem).

Todas as pessoas envolvidas com a criança disléxica devem ser

orientadas sobre este fato, uma vez que suas atitudes a ajudarão a desenvolver a

auto-estima, o que facilitará o seu desenvolvimento em qualquer segmento da vida.

A auto-estima é um sentimento a ser desenvolvido internamente, por isso

exige a presença de pessoas efetivamente envolvidas com essas crianças e que as

estimulem.

Encontramos evidências de uma auto-estima mais baixa em meninas, por

exemplo, no fato de que, quando participam junto com os meninos da tarefa de

resolver problemas, elas, às vezes, diminuem artificialmente seus níveis de

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desempenho para não suplantar seus parceiros (um fenômeno que não se inverte)

(Ibidem).

A família poderá ajudar a manter a auto-estima da criança a partir do

momento em que a dislexia for diagnosticada e seja traçado um plano de ação que a

auxilie a ultrapassar as barreiras do preconceito que poderão ocorrer para a

inserção da criança na sociedade e com tranqüilidade.

Algumas pessoas com auto-estima baixa são cheias de desculpas porque

não podem suportar o pensamento de que uma ou outra coisa foram culpa sua e

que, portanto, são uma prova de sua inadequação. Muitas delas desculpam

facilmente os outros, mas nunca a si mesmas. Tais pessoas (e isso é mais fácil na

infância do que na vida adulta) precisam ser ajudadas a atingir a auto-aceitação e a

realizar uma avaliação realista de si mesmas.

Paciência é uma palavra/ação que deverá ser prioritária em todos, uma

vez que a criança disléxica levará maior tempo para realizar algumas tarefas e

poderá apresentar outras dificuldades.

É primordial também que se desenvolva a autoconfiança, o encorajamento

e a responsabilidade, para manter sua auto-estima em nível adequado. Aumentando

a autoconfiança e mantendo a auto-estima do disléxico, o aprendizado ficará mais

nítido e efetivo.

A importância do professor no acompanhamento do quadro evolutivo do

disléxico é essencial, uma vez que ele não pode ser superestimado nem

subestimado nas suas habilidades para não comprometer a sua auto-estima. Por

isso, faz-se necessário uma observação e avaliação constantes do professor, uma

vez que estes alunos podem apresentar uma inconstância no seu trabalho.

Não se está sugerindo, com isso, que os professores devem gastar todo o

seu tempo no papel de conselheiros ou conversar, continuamente, em particular com

cada criança sobre si mesma, mas, meramente, que eles devem, sempre, estar

alertas às oportunidades de averiguar como as próprias crianças percebem seus

próprios sucessos e falhas (FONTANA, 1991).

Para manter integralmente a auto-estima da criança a afetividade, no meio

em que ela está inserida, deve ser muito honesta, pois essas crianças são

extremamente sensíveis.

Com uma auto-estima baixa também pode ocorrer um comportamento

delinqüente e anti-social, assim, é também necessário observar as crianças que

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demonstram uma auto-afirmação exagerada para com as outras ou que se tornam

um estorvo (Ibidem).

Para que esse ambiente seja mantido no decorrer do seu dia, a integração

família-escola deve ser muito forte, para facilitar o aprendizado e o desenvolvimento

do disléxico.

5. Em sala de aula

Toda e qualquer dificuldade escolar tem uma causa e uma solução.

Ninguém nasce com dificuldades escolares, elas aparecem ao longo do caminho e

precisam ser observadas, respeitadas e solucionadas.

Segundo MARTINS (2001), a estimativa é a de que, no Brasil, pelo menos,

15 milhões de crianças e jovens sofreram com transtornos de aprendizagem. Para

esse autor, a dislexia é a maior causa do baixo rendimento escolar, pois a linguagem

é fundamental para o sucesso escolar. Ela está presente em todas as disciplinas e

todos os professores são potencialmente professores de linguagem, porque utilizam

a língua materna como instrumento de transmissão de informações. Muitas vezes

uma dificuldade de enunciar determinado conteúdo leva a não compreensão do

mesmo, dificultando o processo operatório da solução do que está sendo

apresentado.

Portanto, o papel do professor é muito importante para a vida de qualquer

criança, principalmente no inicio da vida escolar; é ele quem conduz ao ler e

escrever, sendo um vínculo para a compreensão do que está sendo aprendido pelo

aluno.

O método de ensinar de cada professor, suas atitudes, o jeito de se

relacionar com os alunos, e até mesmo a freqüência com que fala com cada um, o

interesse e o carinho que demonstra, estarão influenciando todo o desenvolvimento

afetivo e cognitivo das crianças com transtornos de aprendizagem. Em

consequência, o professor estará influindo sobre a formação do autoconceito, sobre

a motivação e a capacidade de aprendizagem. Aos olhos do aluno, o professor é

muito importante. Suas atitudes vão ajudá-los a construir imagens positivas de si

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mesmo, aumentando suas chances de desenvolver uma aprendizagem significativa,

trabalhando suas dificuldades e melhorando suas habilidades.

A relação ideal do professor com a criança deve ser a mais próxima e

afetiva possível, proporcionando um ambiente acolhedor na classe. Assim, a criança

adquire confiança, o que possibilita motivação maior para o aprendizado.

Os professores devem utilizar-se dos mais variados recursos para que os

alunos, não só os disléxicos, mas aqueles que apresentem qualquer outro distúrbio

de aprendizagem, possam usufruir das informações. Estas podem ser transmitidas

através dos recursos visuais, auditivo e/ou táteis. Os recursos geralmente utilizados

e conhecidos são os projetores de slides, multimídia, retroprojetores, aulas práticas,

músicas, filmes, etc.

Para o desenvolvimento de atividades em sala de aula, os trabalhos em

grupo ajudam o disléxico, tanto na questão do tempo quanto na organização. Nestes

casos é aconselhável que as instruções sejam por escrito, e depois explicadas

oralmente. Aumentar o tempo de realização e incentivar a participação do disléxico

durante o desenvolvimento do trabalho pelo professor ajuda a elevar a auto-estima,

assim como a desenvolver outras habilidades no disléxico.

A escola é o local onde a criança fica grande parte de seu dia, e

consequentemente é o local de maior impacto das suas dificuldades. Portanto, é

nela também que devem ser trabalhadas as suas diferenças individuais.

A motivação que o professor oferece ao aluno é de extrema importância

para o disléxico. Reforçando o sucesso no aprendizado, valorizando cada produção,

estar-se-á enriquecendo seu repertório de idéias e abrindo novos horizontes para

que ele possa expressar o seu aprendizado da melhor forma possível.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No processo de aprendizagem com crianças que apresentam a dislexia

como distúrbio é primordial o conhecimento por todos os envolvidos, para que assim

possa promover à criança a ajuda necessária para seu desenvolvimento cognitivo e

social.

O trabalho com o disléxico precisa caracterizar-se como um verdadeiro

encontro, no qual pais, professores, escola e outros profissionais assumam decisões

mútuas, de compreensão e auxílio para que o disléxico se torne um leitor hábil e se

integre ao meio social.

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A maior desvantagem trazida pela dificuldade de aprendizagem depende

muito do que a sociedade exige, pois vivemos onde há grande intolerância em

relação ao domínio da leitura e escrita.

Rotular uma criança com dificuldade de aprendizagem como desleixada e

fracassada é um hábito que deveria ser banido da relação de conceitos existentes

na mentalidade humana, sobretudo quando se desconhece o motivo dessas

dificuldades. O fato, é que deve existir uma fase de preparação, conscientização e

até de amor contínuo em relação a este tipo de educando.

Não se pode negar que os transtornos de aprendizagem é uma questão

real e frente a eles surgem novos desafios, novos compromissos, enfim, faz-se

necessário uma visão ampliada das concepções sociais e ideológicas que os

envolvem.

Todo trabalho realizado dentro de uma metodologia multisensorial,

sensitiva e afetiva beneficiará o disléxico, desenvolvendo sua capacidade de

realização e elevando sua auto-estima, para que a evolução do seu aprendizado

seja facilitada.

O disléxico é um ser pensante, atuante e muito criativo. Bastam-lhe asas e

um horizonte.

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