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CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSO EM EDUCAÇÃO ESPECIAL MARIA CECÍLIA DOS SANTOS PIRES A INCLUSÃO DO DEFICIENTE VISUAL NA ESCOLA REGULAR São Paulo - 2010

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CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO

SENSO EM EDUCAÇÃO ESPECIAL

MARIA CECÍLIA DOS SANTOS PIRES

A INCLUSÃO DO DEFICIENTE VISUAL NA ESCOLA REGULAR

São Paulo - 2010

CRDA – CENTRO DE REFERÊNCIA EM DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO

SENSO EM EDUCAÇÃO ESPECIAL

MARIA CECÍLIA DOS SANTOS PIRES

A INCLUSÃO DO DEFICIENTE VISUAL NA ESCOLA REGULAR

Monografia apresentada como parte dos requisitos para aprovação no Curso de Especialização Lato Sensu em Educação Especial e submetida ao Centro de Referência em Distúrbios de Aprendizagem – CRDA, sob orientação do Prof.(a). Ms. Dr. Fabiana Maria Gomes Lamas .

“O MEDO CEGA, O MEDO NOS CEGOU, O MEDO NOS FARÁ

CONTINUAR CEGOS...”

(José Saramago)

A meu marido, minhas filhas, pais,

irmãs e amigos pelo apoio recebido

durante a elaboração deste trabalho

e durante todo o curso.

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer a todos que de forma direta ou indireta passaram por minha

vida durante essa trajetória: família, amigos, professores, professoras,

profissionais da área da educação, onde aprendi a educar o meu olhar, tornando-o

mais aguçado e crítico.

Tenho também muito orgulho, respeito e prazer por ter sido discente desta

instituição, como ter conhecido e passado por diversos profissionais. Sabemos

também que muitos valorizam o sabor de ensinar e priorizam reciprocamente

professor-aluno na arte de aprender juntos!

Para Gabriela, Carolina e para todas as crianças.

Eu queria uma escola que cultivasse

a curiosidade de aprender

que é em vocês natural.

Eu queria uma escola que educasse

seu corpo e seus movimentos:

que possibilitasse seu crescimento

físico e sadio. Normal.

Eu queria uma escola que lhes

ensinasse tudo sobre a natureza,

o ar, a matéria, as plantas, os animais,

seu próprio corpo. Deus.

Mas que ensinasse primeiro pela

Observação, pela descoberta,

pela experimentação.

E que dessas coisas lhes ensinasse

não só o conhecer, como também

a aceitar, a amar e preservar.

Eu queria uma escola que lhes

ensinasse tudo sobre a nossa história

e a nossa terra de uma maneira

viva e atraente.

Eu queria uma escola que lhes

ensinasse a usarem bem a nossa língua,

a pensarem e a se expressarem

com clareza.

Eu queria uma escola que lhes

ensinassem a pensar, a raciocinar,

a procurar soluções.

Eu queria uma escola que desde cedo

Usasse materiais concretos para que vocês pudessem ir formando

Corretamente os conceitos

Matemáticos, os conceitos

De números, as operações...

Usando palitos, tampinhas,

Pedrinhas... só porcariinhas!..

fazendo vocês aprenderem

brincando...

Oh! Meu Deus!

Deus me livre vocês de uma escola

em que tenham que copiar pontos.

Deus que livre vocês de decorar

sem entender, nomes, datas, fatos...

Deus que livre vocês de aceitarem

conhecimentos “prontos”,

mediocremente embalados

nos livros didáticos descartáveis

Deus que livre vocês de ficarem

passivos, ouvindo e repetindo,

repetindo, repetindo...

Eu também queria uma escola

que ensinasse a conviver, a cooperar,]

a respeitar, a esperar, a saber viver

em comunidade, em união.

Que vocês aprendessem

a transformar e criar.

Que lhes desse múltiplos meios de

vocês expressarem cada sentimento,

cada drama, cada emoção.

Ah! E antes que eu me esqueça:

Deus que livre vocês

De um professor incompetente.

Carlos Drummond de Andrade

RESUMO:Este trabalho tem como base a análise das barreiras sociais para com o deficiente visual a possibilidade de inclusão, a promoção dos direitos, o rompimento do segregacionismo, principalmente na área pedagógica, dando uma educação de qualidade, desenvolvendo as capacidades cognitivas operativas e sociais dos alunos necessárias ao atendimento individual e social. O esforço da inclusão se faz necessário, é um processo de aprendizagem. É preciso aprender a viver com os “diferentes”. Essa diversidade no meio social é fator determinante para o enriquecimento das trocas sociais, intelectuais e culturais, para isso, a inclusão escolar incorporará elementos distintos para criar uma nova estrutura, a adequação de novos conhecimentos atuais e de outras ciências as salas de aula. Uma escola inclusiva é aquela que acomoda todos independentes de suas condições físicas intelectuais, sociais emocionais, sendo o desafio maior desenvolver uma pedagogia centrada, uma pedagogia efetivamente capaz de educar e incluir o deficiente visual.

Palavras-chaves : Inclusão, Escola, Deficiência, Sociedade, Cidadania, Novo

Olhar.

ABSTRACT : This work is based on analysis of the social barriers to the visually impaired the possibility of inclusion, the promotion of rights, the breaking of the segregationist, especially in teaching, providing a quality education, developing the cognitive skills of students and social operating necessary to meet individual and social. The effort of inclusion is necessary, is a learning process. We must learn to live with "different". This diversity in the social environment is a determining factor for the enrichment of trade social, intellectual and cultural, therefore, to include school incorporate different elements to create a new structure, the adequacy of current and new knowledge of the other science classrooms. An inclusive school is one that accommodates all of their independent physical intellectual, social, emotional, and the challenge to develop a more focused pedagogy, a pedagogy effectively able to educate and include the visually impaired.

Keywords: Inclusion, School, Disability, Society, Citizenship, New Look

SUMÁRIO

Introdução...................................................................................... Pág. 09

Capítulo 1

1.1 Um olhar sobre a historia dos deficientes visuais.................... Pág. 11

1.2 O que é deficiência?.................................................................Pág. 11

1.3 Deficientes visuais, quem são?................................................Pág. 12

1.4 O que há de mitos e de realidade............................................ Pág.14

Capítulo 2

2.1 Inclusão.................................................................................... Pág. 15

2.2 Inclusão Escolar........................................................................Pág. 18

Capítulo 3

3.1 Escola Especial X Escola Regular........................................... Pág. 22

3.2 Sistema Braile e Alfabetização ............................................... Pág. 26

Considerações Finais.................................................................... Pág. 30

Referências bibliográficas.............................................................. Pág. 31

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Introdução

Nos últimos anos tenho me interessado e presenciado a inclusão dos

deficientes visuais e sobretudo a angústia dos profissionais e dos familiares

desses educandos. Existem muitas perguntas. Pouquíssimas respondidas e

superficialmente praticadas.

O deficiente visual, muitas vezes, é vítima de preconceito e discriminação.

É tratado por muitos como incapaz, enquanto deveria receber os estímulos

necessários para progredir nos estudos e na vida.

Este trabalho é uma reflexão acerca das possibilidades de inclusão do

deficiente visual.

Sabemos que todos são iguais perante a lei e tem direito, sem qualquer

distinção, a igual proteção da lei (Declaração Universal dos direitos Humanos-

ONU, 1948).

De acordo com a LDB (1996), a educação abrange os processos formativos

que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas

instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da

sociedade civil e nas manifestações culturais.

Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de

negligência, discriminação (ECA, 1990).

Os estados membros devem assumir a responsabilidade de fazer com que

sejam oferecidas as pessoas com deficiência oportunidades iguais aquelas do

restante dos cidadãos. (Organização das Nações Unidas – ONU / Assembléia

Geral, capítulo II).

A Declaração de Salamanca (1997) cita que crianças com necessidades

especiais devem receber apoio instrucional no contexto do currículo regular e não

de um currículo diferente.

Segundo Libânio (2001), uma educação de qualidade é aquela que

promove para todos, o domínio de conhecimentos e desenvolvimentos das

13

capacidades cognitivas operativas e sociais dos alunos necessários ao

atendimento de necessidades individuais e sociais dos alunos, a inserção no

mundo do trabalho, a constituição da cidadania, tendo em vista a construção de

uma sociedade mais justa e igualitária.

Em seus trabalhos, Godofredo (1991) afirma que precisamos romper a

barreira do segregacionismo, assegurando aos alunos portadores de deficiência

visual o direito de conviver com seus pares “normais”, pois a oportunidade de

aceitar as limitações recíprocas é base fundamental para a construção da

democracia.

Os professores do século XXI são aqueles que, além das competências,

das habilidades interpessoais, do equilíbrio emocional devem ter a consciência de

que mais importante que o desenvolvimento humano, devesse ressaltar que o

respeito às diferenças estão acima de toda pedagogia.

Ultrapassar teorias, decretos leis ainda é uma utopia, incluir a todos em

nossa escola e preparar os profissionais da área da educação, para que de fato

todos sejam incluídos nas escolas regulares.

14

Capitulo 1

1.1 Um olhar sobre a história dos deficientes visua is

Nos tempos bíblicos a cegueira era um mal comum, era encarada como

algum ato maligno ou um traço do destino, também encarada como uma punição

só podendo ser revertida por Deus. Nesse tempo os cegos estavam forçadamente

condenados a uma vida de dificuldades e pobreza.

Marco Pólo, o grande navegador do século XII ao chegar a Bagdá

defrontou-se com um sapateiro que destruira o olho direito com uma sovela,

sentindo-se culpado pelos pensamentos pecaminosos que teve ao ver exposta

uma parte da perna de uma jovem mulher.

A mitologia também considera a cegueira como punição aos pecados.

Provavelmente os primeiros casos de cegueira auto infligida foram relatados nas

mitologias gregas com Édipo e na mitologia nórdica onde Odin deu um de seus

olhos em troca do direito de beber um único gole na fonte Mimir, cujas águas

continham o dom a sabedoria e do entendimento.

A bela lenda de Lady Godiva nos conta, que todos os habitantes da cidade

esconderam-se por trás de suas venezianas fechadas a fim de tornar mais fácil a

tarefa da senhora de cavalgar nua pelas ruas em pleno dia. O único homem que

espiou através das venezianas, o seu belo corpo desnudo foi punido com a

cegueira (IBC/2009).

Embora muitos estigmas da cegueira mencionados acima sejam partes do

passado, também na sociedade moderna as pessoas cegas são evitadas,

ignoradas ou superprotegidas.

1.2 O que é deficiência?

Qualquer perda ou anormalidade de estrutura ou função psicológica,

fisiológica ou anatômica pode resultar numa limitação ou incapacidade do

desempenho normal de determinada atividade que, depende da idade, sexo,

fatores sociais e culturais, podem constituir uma deficiência.

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1.3 Deficientes visuais, quem são?

De acordo com a Política Nacional de Educação (1994, p.10), “deficiência

visual é a redução ou perda total da capacidade de ver com o melhor olho após a

melhor correção ótica”. Os portadores de deficiência visual são divididos em dois

grupos: cegos e portadores de deficiência visual. Essa classificação é feita a partir

da acuidade visual, sendo considerado cego aquele que dispõe de 20/200 de

visão no melhor olho, após a correção , e portador de visão subnormal, aquele que

dispõem de 20/70 de visão nas mesmas condições, sendo a visão normal de

20/20.

Existem várias causas para a deficiência visual. Uma delas tem se

relacionados com doenças infecciosas: rubéola, sífilis e a toxoplasmose. Essas

merecem destaque pala frequência com que ocorrem.

Há os fatores ambientais que atuam sobre o feto, como os traumatismos,

acidentes, envenenamento, o alcoolismo, as drogas em geral, as radiações, as

doenças infecciosas. Essas moléstias ocasionam sérias lesões quando adquiridas

na fase intra-uterina.

Outras sérias doenças oculares que atingem ainda as gestantes e as

crianças poderiam, como a maioria das demais, ser evitadas se medidas de saúde

fossem direcionadas na formação de hábitos e atitudes corretos, entre os quais

higiene, busca de cuidados médicos, alimentação correta.

Problemas ligados à higiene como tracoma e suas múltiplas conseqüências,

a ausência de cuidados pré-parto ocasionando à oftalmia nenatorum, a falta de

vitamina A agravada pela desnutrição, a alta concentração de oxigênio nas

incubadoras (fibriplasia retrolental) continuarão a concorrer para o aumento de

incidência de deficiência visual (LER PARA VER/2009).

Existem ainda uma série de sinais observáveis como estrabismo,

dificuldades ou incapacidades de perceber objetos à distancia, sensibilidade

excessiva a luz, irritações crônicas (pálpebras avermelhadas, inchadas ou

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remelosas), aproximar muitos objetos dos olhos como forma de identifica-los,

excessiva cautela ao andar, inclinar a cabeça para o lado quando lê, fechar ou

tampar um olho durante uma leitura, náuseas, dupla visão ou nevoa nos olhos.

Segundo BARRAGA (1976), a diminuição da visão pode ser leve,

moderada, severa ou profunda.

A Organização Mundial da Saúde (OMS/1972) propôs normas para a

definição da cegueira. O individuo com baixa visão ou visão subnormal é aquela

que apresenta diminuição das suas respostas visuais, mesmo com tratamento ou

correção ótica convencional e uma acuidade (perspicácia) menos que 6/18 a

percepção da luz, ou seja, possuem visão útil que pode ser melhorada com algum

auxilio óptico.

São capazes de ver objetos a poucos centímetros ou máximo a meio metro

de distância.

Nessa categoria estão os indivíduos capazes de contar dedos a curta

distância, os que percebem vultos, percepção entre claro e escuro, projeção

luminosa onde o individuo é capaz de identificar também de onde provém a luz.

A visão subnormal é uma perda severa de visão que não pode ser

corrigida por tratamento clínico ou cirúrgico, nem com óculos convencionais.

Também pode ser descrita como qualquer grau de enfraquecimento visual que

cause incapacidade funcional e diminua o desempenho visual. No entanto, a

capacidade funcional não está relacionada apenas aos fatores visuais, mas

também às reações da pessoa à perda visual e aos fatores ambientais que

interferem no desempenho. (CARVALHO, 1992).

A visão subnormal pode resultar da diminuição do campo periférico,

redução ou perda de visão de cores, dificuldade do olho de se ajustar a diferentes

intensidades de iluminação ou diminuição da sensibilidade ao contraste, chamado

de “visão em túnel” ou “em ponta de alfinete”.

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A cegueira total ou amaurose é a completa perda da visão. Esta é nula,

nem a percepção luminosa está presente. Na linguagem oftalmológica, usa-se a

expressão “visão zero”.

Desde o IV Congresso Brasileiro de Prevenção da Cegueira no Brasil em

1980, o termo cegueira não é absoluto, pois reúne indivíduos com vários graus de

visão residual. Variam também na habilidade de usar funcionalmente sua visão

residual.

Dados da OMS revelam a existência, no mundo, de aproximadamente 45

milhões de pessoas com acuidade visual subnormal, dos quais 75% são

provenientes de regiões consideradas “em desenvolvimento”. No Brasil, segundo

a mesma fonte, uma taxa de 1 a 1,5% da população. Observa-se que atualmente

a incidência de visão subnormal é maior que a cegueira.

1.4 O que há de mitos e de realidade

Existe um mito em torno da cegueira que faz dela um mostro que não é. A

cegueira, não limita tão radicalmente como pensam as pessoas que enxergam.

Não é uma doçura, acostuma-se com ela. É uma diferença, um limite que

dependendo do deficiente pode ser aumentado ou diminuído, pois a deficiência

depende muito de quem a porta. Limita o fato, diferencia da sociedade, mas,

obstáculos podem ser reduzidos. O esforço é maior, é necessário para o deficiente

aprender mais coisas através de estímulos, driblar situações, emoções, rejeições,

baixa estima a superação do estigma dos incapacitados (LER PARA VER/2009).

Os preconceitos e conceitos equivocados são os grandes responsáveis

pela marginalização de muitos. As idéias pré-concebidas de que as pessoas com

deficiência sejam sempre bem dotadas, são tão errôneas quanto às idéias de que

estas sejam necessariamente incapazes. Uma e outra dão lugar a um

comportamento injusto e contraditório da sociedade em relação às pessoas com

deficiência visual.

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A maior dificuldade enfrentada pelo portador de deficiência visual reside na

falta de uma compreensão social mais profunda a respeito das reais implicações

da cegueira ou da baixa visão.

A deficiência visual interfere em habilidades e capacidades não somente a

vida da pessoa, mas também dos membros da família e outros. Entretanto com o

tratamento precoce, atendimento educacional adequado, programas e serviços

especializados, a perda da visão não significará o fim da vida independente, plena

e produtiva.

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Capitulo 2

2.1 Inclusão

“Todos juntos somos fortes

Somos arcos, somos flechas

Todos nós no mesmo barco

Não há nada que temer”.

Chico Buarque

Inclusão: fazer parte, abranger, inserir, introduzir, estar compreendido

(AURÉLIO, 2001).

Segundo Aincow (2003), a inclusão é a transformação do sistema, de forma

a encontrar meios de alcançar níveis que não estavam sendo contemplados.

Para este autor inclusão está dividida claramente em três pilares ou níveis:

o primeiro é a presença, ou seja, estar, o segundo é a participação. Não é

suficiente estar, precisa-se participar dar condições para que participe, o terceiro

nível é a aquisição de conhecimento. Portanto, inclusão significa estar

participando e desenvolvendo suas potencialidades.

Outro aspecto relevante é identificar e transpor barreiras que impedem os

indivíduos de adquirir conhecimentos gerais.

Ou seja, todo processo de inclusão é um processo de aprendizado. É

preciso aprender a viver como os diferentes. Só se aprende com a ação dentro de

um contexto. Dar ênfase à cooperação.

É preciso ter clareza do que se quer conhecer os fatores essenciais para a

transformação. É uma tarefa para ser executada não só por algumas classes

sociais, mas sim, por todos. Cada um desempenhando seu papel. O exercício da

cidadania implica na participação da pessoa na vida social, resguardada a sua

20

dignidade, igualdade e respeito, bem como a recusa categórica de quaisquer

formas de discrição.

Há dificuldades de efetuar mudanças, ainda mais quando implica novos

desafios e inquestionáveis demandas sócio-culturais.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (2009), para incluir, a

sociedade deve ser modificada devendo formar a convivência no contexto da

diversidade humana, bem como aceitar e valorizar a contribuição de cada um

conforme suas condições pessoais.

Romper a barreira do segregacionismo, assegurar o direito de viver e

conviver com seus pares, aceitar limitações recíprocas é a base fundamental para

a construção da democracia.

Segundo Mantoan (1997) a inclusão parte do mesmo pressuposto da

integração, que é direito da pessoa ter igualdade de acesso ao espaço comum da

vida na sociedade. Depende da pessoa e do nível de sua capacidade da

adaptação. Difere no sentido de que para a integração o individuo deve caminhar

no sentido de sua normalização e para a inclusão ambos têm que mudar, sujeito e

sociedade. O diagnostico da inclusão tem uma perspectiva dinâmica de apontar

potencialidades e não diferenças.

Considerando a complexidade da vida em sociedade, caracterizada pela

convivência de pessoas tidas como normais com tantas outras concebidas como

anormais, a integração constitui uma via de mão dupla na qual o deficiente e não

deficiente devem interagir na construção de um entendimento comum de que a

unidade e a pluralidade podem amordaçar a existência humana em qualquer dos

pólos de exclusão.

Segundo Berdthistel (1984), o ser humano busca no outro a identificação do

que lhe é semelhante e do que lhe é diferente. É o outro quem possibilita ao

individuo reconhecer-se com tal decorrendo daí do seu próprio ajustamento a

realidade circundante. Nessa relação, o individuo busca identificar o que há de

semelhante e de diferente no outro construindo assim, o seu auto-reconhecimento.

Nesse sentido, não deve ocorrer uma identificação total, pois isto representaria a

21

perda do reconhecimento que lhe é próprio, a anulação do auto reconhecimento

como existência humana.

Na verdade, o que o homem vê é a sua própria fragilidade perante a vida, o

caminho para minimizar este problema está no reconhecimento de que a diferença

representa apenas um dado a mais no mundo em que vivemos. As relações

interpessoais são parte integrante do contexto social e político mais abrangente.

A vida em sociedade é caracterizada por uma complexa trama de relações.

O caminho para a superação da inclusão está na busca e no encontro de um

sentido para a existência humana, pois o homem, não está determinado pela sua

condição física, mental ou sensorial, ma por seu modo de ser autêntico e único.

Segundo Marques (2009), a normalidade e a anormalidade não podem ser

reduzidas ao plano biológico. Mais do que isso precisam ser consideradas do

ponto de vista social. O grau de inserção no processo histórico e cultural

independente do fato da pessoa enxergar ou não, ouvir ou não, andar ou não, o

essencial não está no instrumento, mas, no modo como se dá a inclusão do

sujeito no contexto social.

A inclusão é viver com o outro e estar com o outro integralmente. Esta não

trata apenas de colocar um deficiente na sociedade ou na sala de aula, mas trata-

se de saber e conhece.r a diversidade, diferença com a normalidade.

(CARVALHO,1992)

Quando acolhemos todos, instantaneamente criamos um crescimento. A

inclusão se torna uma oportunidade de um catalisador para a construção de um

sistema democrático e mais humano. Não somos iguais, a inclusão mostra a

nossa diversidade, quanto maior, mais rica a nossa capacidade de criar novas

formas de ver o mundo.

Almeida (2001), em seus trabalhos, afirma que este pode ser um processo

profundamente perturbador, pois instiga uma reflexão sobre o que é realmente

normal e comum, os valores são passados em revista, em ação e reação. A

reflexão é vital, a vida deve ser sempre refletida para ser plenamente vivida.

22

Vejamos a inclusão como um caleidoscópio, que precisa de todos os

diferentes pedaços que o compõem, para configurar os desenhos que se formam

indefinidamente com os arranjos de seus elementos a cada giro.

“Aqueles que abdicam da vida em comum perdem a vida”

Richard Sennett

2.2 Inclusão Escolar

Segundo Mantoan (1997), a diversidade no meio social é fator determinante

do enriquecimento das trocas, dos intercâmbios intelectuais, sociais e culturais

que possam ocorrer entre os sujeitos que neles interagem. Os desafios que temos

que enfrentar são inúmeros, e toda e qualquer investida para um ensino mais

elaborado e especializado, depende de ultrapassarem-se as condições atuais de

estruturação do ensino em vigor.

De acordo com a LDB (1996), a inclusão escolar tem que incorporar

elementos distintos para criar uma nova estrutura. Esta tem que ser uma

justaposição de recursos, assim como os outros são. A adequação de novos

conhecimentos vindos de investigações atuais e de outras ciências às salas de

aula tem que sistematizar conhecimentos acadêmicos às disciplinas curriculares.

Esta é uma forma mais radical, completa e sistemática de inserir alunos que

ainda não foram incluídos.

A meta é não deixar ninguém fora do sistema escolar, que terá que se

adaptarem as particularidades de todos.

A conciliação de uma educação para todos e com um ensino especializado

no aluno, não conseguir implantar essa inserção se não houver o grande

movimento: o fator humano. Novas atitudes na escola exigem mudança de

relacionamento pessoal e social e na maneira de ensinar novos processos de

aprendizagem.

23

É através da escola que a sociedade adquire e modifica conceitos de

participação, colaboração e adaptação.

“Embora outras instituições, como a família ou a igreja, tenham

papel muito importante, é da escola a maior parcela. Isto torna a questão da

inclusão dos deficientes uma questão decisiva não só como a curto prazo,

mas também no que se refere à organização das gerações futuras.” (Mello,

2001, p. 14).

O sucesso da inclusão escolar depende da tríade criança (aluno) – família –

escola. Através desses podemos propiciar condições favoráveis para a inclusão

social e escolar.

Os princípios estabelecidos pela Declaração Universal dos Direitos

Humanos e a Convenção sobre Direitos da Criança trazem compromissos

direcionados do provimento inclusivo. Acordos e Convenções trazem uma

educação orientada em nível internacional, para o acesso e desenvolvimento das

pessoas no sentido de melhorar suas vidas e transformar a sociedade.

Sendo a educação um direito de todos e dever do estado, esta igualdade de

oportunidade educacional está constitucionalmente designada a “todos” os

indivíduos independente de suas características.

Na década de 90 houve um impulso grande no que se refere a colocação

de alunos com deficiência nas escola regulares. Implicam a inserção de todos,

sem distinção de condições lingüísticas, sensoriais, cognitivas, físicas, emocionais

étnicas, sócio-econômicas ou outras e requer e sistemas educacionais planejados

e organizados que dêem conta da diversidade dos alunos e ofereçam repostas

adequadas as suas características e necessidades.

A inclusão constitui uma proposta politicamente correta que representa

valores simbólicos importantes, condizentes com a igualdade de direitos e de

oportunidades educacionais para todos, em um ambiente favorável e

experimentada na realidade brasileira, ampla e diversificada.

24

O plano teórico – ideológico da escola inclusiva requer a superação dos

obstáculos impostos pelas limitações do sistema regular. Defronta-se com

dificuldades operacionais e pragmáticas reais e presentes, como recursos

humanos pedagógicos e físicos ainda não contempladas no nosso país afora,

mesma nos grandes centros.

O modelo de escola ou classe inclusiva se apóia na teoria sócio-

construtivistas, com base nos trabalhos de Vygotsky (1998) que prioriza o contexto

ecológico e as dimensões de desenvolvimento.

Ele propõe uma revisão coerente de ensino e aprendizagem. Os conceitos

sócio-construtivistas sugerem que mantido em um estado de isolamento social, o

aluno não poderá desenvolver as funções sócias superiores. Para isso necessita

de interações sociais.

De acordo com Mallory (1994), o principio mais importante do sócio-

construtivismo para os alunos incluídos é o direito e a sua necessidade de

participar, de ser considerado como um membro legítimo e ativo no interior da

comunidade. A escola inclusiva não é somente útil para os alunos com

necessidades especiais, ela representa uma transformação positiva para todos os

alunos. Proporciona a todos, oportunidades de resolver problemas e contribui para

a construção de novos conhecimentos e estratégias. As trocas entre alunos são

habitualmente, origens de conflitos cognitivos, pois cada um tem seus próprios

esquemas, experiências, valores e crenças na resolução de problemas. Nessa

perspectiva, a possibilidade de conflito é diversificada.

No Brasil, a partir de 1993 e também com a implementação da L.D.B. (Lei

de Diretrizes e Bases / 96) foi implantada a Educação Especial , para minimizar a

prática da segregação e da exclusão.

Esta medida trouxe mecanismos para categorizar o portador de deficiência.

Inicialmente falava-se em excepcional, depois em deficientes, mais adiante

portadores de deficiência ou portadores de necessidades especiais. Hoje,

conforme a Política Nacional de Educação Especial (1993) chegamos a

portadores de necessidades educativas especiais. Esse movimento, que tem

25

como conceito a normalização, expressa que aos portadores de necessidades

devem ser dadas condições as mais semelhantes, tanto quanto possível, as

oferecidas na sociedade em que ele vive.

Os PCNs (2009) baseiam-se em adaptação curriculares, sugerindo atenção

às diversidades escolares. Considerar a diversidade as medidas que leve em

conta não só as capacidades e o conhecimento, mas também interesses e

motivações.

A escola inclusiva busca consolidar o respeito as diferenças e não a

desigualdade. As diferenças vistas, não como obstáculos para a educação, mas

podendo e devendo ser fator de enriquecimento.

As comunidades escolares têm uma gama muito ampla de diferentes

características. As necessidades educacionais são diversas como crianças com

condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais e sensoriais diferenciadas,

crianças com deficiências e superdotadas, crianças trabalhadas ou que vivem nas

ruas, populações distantes ou nômades, minorias lingüísticas, étnicas ou culturais,

grupos desfavorecidos ou marginalizados.

A expressão necessidades educacionais especiais refere-se à elevada

capacidade ou dificuldade para o aprendizado, está associada a dificuldade de

aprendizagem, não necessariamente a deficiência. É uma forma de reconhecer

que muitos alunos, portadores ou não de deficiência, apresentam necessidades

educacionais que passam a ser especiais quando exigem respostas específicas

adequadas.

26

Capitulo 3

3.1 Escola Regular X Escola Especial

É fato que o processo de inclusão está longe de ser concretizado ainda que

haja diversas leis nacionais e acordos internacionais que propõem e viabilizam

novas alternativas para melhoria do ensino nas escolas.

Atualmente o que existem são projetos de inclusão parcial, nos quais as

escolas não sofrem nenhuma mudança de base continuando a atender os alunos

com deficiência em espaços semi ou totalmente segregados.

As escolas especiais são estabelecimentos em que todos os alunos são

deficientes Trata-se muitas vezes de uma espécie de internato onde as crianças

estudam durante o ano escolar. As salas são organizadas de forma a se constituir

um ambiente totalmente adaptado às crianças com deficiência.

Neste sentido a criança é descaracterizada como aluno, aprendiz e

indivíduo e passa a ser somente um deficiente em sua sala segregada.

A entrada na classe visual é um sinal de um processo de reafirmação da

inadequação do aluno mediante um sistema escolar segregacionista,

estigmatizador e preconceituoso.

Fonseca (1995) ressalta o combate à separação e diferenciação dizendo

que além de conferir a igualdade de oportunidade, é urgente reduzir a separação,

ou seja, a educação deve ser pensada em termos de integração para que as

crianças deficientes, mais tarde adultos deficientes não sofram as conseqüências

da separação e segregação.

Como vantagens, as escolas especiais possuem docentes especializados,

com uma formação especial ou uma formação contínua em educação dessas

crianças estando assim capacitados a educarem as mesmas de forma específica

que necessitam.

Visto que, no caso da deficiência visual, todos os alunos dessas escolas

são cegos ou possuem uma visão reduzida, o estabelecimento disporá mais

27

facilmente dos meios para adquirir equipamentos especiais, obras em Braille,

livros impressos em caracteres ampliados, materiais destinados ao tato etc. O

número de alunos por turma, em geral é reduzido o que possibilita um ensino mais

individualizado.

Nas escolas regulares, os deficientes visuais frequentam o mesmo

estabelecimento de ensino que seus irmãos, amigos e vizinhos. Seguem os

mesmos cursos que eles, ministrados pelos mesmos docentes, nas mesmas salas

de aula.

Eles também podem ser beneficiados com as sala de recursos que tem

como objetivo auxiliar, complementar e oferecer apoio pedagógico aos alunos

deficientes e a seus professores através de um professor especializado no

trabalho com o tipo de deficiência em questão..

Muitas vezes neste espaço também o professor deve buscar não apenas a

confecção de materiais, mas a troca com parceiros mais experientes.

De acordo com Lamas (1998) apud Ferreiro, temos uma imagem

empobrecida da criança que aprende: a reduzimos a um par de olhos, um par de

ouvidos, uma mão que pega um instrumento para marcar e um aparelho fonador

que emite sons. Atrás disso, há um sujeito cognoscente, alguém que pensa que

constrói interpretações, que age sobre o real para fazê-lo seu.

É preciso permitir quebrar paradigmas de como aprendemos, permitindo-se

compreender que o deficiente visual trabalhe cognitivamente, através dos sentidos

de que dispõe as informações que recebe.

Lamas (1998) acrescenta ainda que as crianças com deficiência visual,

percorrem o mesmo caminho das crianças videntes no que diz respeito à

construção do conhecimento, o que faz com que sua alfabetização ocorra da

mesma forma, considerando que cada criança possui um ritmo próprio. Alguns

autores referem a um atraso na permanência do objeto de pelo menos um ano nas

crianças deficientes visuais.

28

O grande mérito da educação inclusiva é não separar as crianças de outras

da sua idade que não possuem deficiência, pois assim todas tem a possibilidade

de brincar juntas e aprender com a convivência diária.

A escola inclusiva é aquela que acomoda todos os alunos

independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais,

lingüísticas ou outras, sendo o principal desenvolver uma pedagogia centrada no

aluno, uma pedagogia capaz de educar e incluir além dos alunos que apresentem

necessidades educacionais, aquelas que apresentam dificuldades temporárias ou

permanentes na escola.

Educar indivíduos em segregadas salas de educação especial significa

negar-lhes o acesso a formas ricas e estimulantes de socialização e

aprendizagem que somente acontecem na sala de aula regular devido a

diversidade presente neste ambiente. Numa classe especial, o único exemplo para

o deficiente é o professor; faltam elementos para o conhecimento real dos códigos

sociais. O desafio que confronta a escola inclusiva é o desenvolvimento de uma

pedagogia centrada na criança e capaz de ser bem sucedida em educar todas as

crianças.

Nas escolas regulares, segundo a coordenadora de estudos e novas

pedagogias da Secretaria Estadual da Educação, “a linguagem é acelerada e as

crianças com deficiência aprendem novos conceitos com as outras crianças”.

Atualmente na Educação há um predomínio das imagens, dos estereótipos,

e de preconceitos. Os educadores guardam as imagens dos seus alunos

anteriores e se conduzem por elas, esquecendo-se que existe uma nova

realidade, um novo contexto para vivenciar.

Para a Psicanálise e para a Educação Inclusiva a perspectiva é ampliar

nosso olhar. Ver além das imagens, convivendo com as diferenças e mudanças.

A atitude dos adultos é o estopim do preconceito. Criança não

discrimina, quer apenas olhar, experimentar a brincadeira daqueles amigos,

ver de que jeito ele leva a vida. Aos poucos, pela impossibilidade que o

29

adulto lhe coloca de ter as vivencias desejadas ela começa e evitar, a

rejeitar o novo. (WERNECK, 2000:140)

As escolas de ensino regular recusam a matrícula e estimulam as famílias a

procurarem uma escola especial. Quando isso ocorre, os professores reagem

porque não se sentem preparados ou em condições de dar assistência

individualizada, principalmente nas séries iniciais. Além disso, não conhecem o

sistema Braile, não têm tempo para adaptar conteúdos ou materiais.

A incorporação da diferença decorrerá de uma nova concepção de escola e

de sociedade desejadas e a serem transformadas no cotidiano. Os educadores

estão inevitavelmente implicados neste movimento.

Em seus trabalhos, Godofredo (1991), afirma que para fazer frente às

exigências de uma escola inclusiva, será primordial construir novas competências.

Nesse sentido, a formação e o aperfeiçoamento profissional cumprem papel

predominante.

Compreende-se essa formação em dupla perspectiva: a da formação geral

e mudanças atitudinais; a do conhecimento técnico e habilitação específica. A

instrumentalização da prática pedagógica não resulta apenas do domínio de

técnicas ou de metodologias. A disponibilidade de serviços de apoio constitui

suporte indispensável para professores, alunos e seus familiares. O domínio do

Braile e outras aquisições específicas por si só, também não asseguram a

inclusão escolar bem sucedida.

A disponibilidade, atitudes e posturas do educador serão decisivas no

sentido de abrir ou fechar as possibilidades do conhecimento ou de descobrir ou

ignorar as potencialidades de qualquer pessoa, ou seja, o perfil pretendido será

delineado pelo exercício da ação pedagógica.

Portanto, será primordial conquistar tempo e espaços de formação que

possibilitem a prática da reflexão e a reflexão da prática e as dimensões da ação

educativa como concretização políticas na prática pedagógicas.

30

3.2 Sistema Braile e Alfabetização

"Se os meus olhos não me deixam obter informações s obre homens e eventos, sobre ideias e doutrinas, terei de encontrar uma outra forma."

Luis Braille

O Braille é um sistema de leitura tátil e escrita para pessoas cegas

desenvolvido por Luis Braille (1809 – 1852), a partir de um sistema de sinais em

relevo elaborado por Charles Barbier de la Ferre.

Tratava-se de um sistema de comunicação táctil que usava pontos em

relevo dispostos num rectângulo com seis pontos de altura por dois de largura e

que tinha aplicações práticas no campo de batalha, quando era necessário ler

mensagens sem usar a luz que poderia revelar posições.

Com base neste sistema, de sinais que foram utilizados na área militar

Barbier pensou na possibilidade deste instrumento auxiliar na comunicação entre

pessoas cegas. Assim transformou-o num sistema de escrita para cegos

denominado “Grafia Sonora”.

Louis Braille adquiriu grande habilidade no uso do método e descobriu seus

problemas pensando logo em possíveis modificações. Braille constatou que o

31

sistema Barbieri não permitia conhecimento de ortografia porque só sinais

representam somente sons, não haviam símbolos para pontuação, acentos,

números, símbolos matemáticos e notação musical e, principalmente,

complexidade, a complexidade de combinações tornava a leitura muito difícil e

lenta.

Em outubro de 1824, Louis Braille, aos 15 anos criou o alfabeto Braille,

constituído de 63 combinações que representavam todas as letras do alfabeto,

acentuação, pontuação, sinais matemáticos e notações musicais.

Este sistema consta do arranjo de seis pontos em relevo, dispostos em

duas colunas de três pontos. Para facilitar sua identificação, os pontos são

numerados do alto para baixo sendo 1, 2, 3 da coluna da esquerda e 4, 5, 6 da

coluna da direita. Esses seis pontos formam o que chamamos de “cela Braille”.

POSIÇÃO DE LEITURA POSIÇÃO DE ESCRITA

1 . . 4 4 . . 1

2 . . 5 5 . . 2

3 . . 6 6 . . 3

De acordo com Lamas(1998), as pessoas cegas podem facilmente

escrever por esse sistema com o auxílio da reglete e do punção e de máquinas de

datilografia Braille, satisfazendo sua necessidade de comunicação, abrindo-lhes

caminhos para o conhecimento literário, científico e musical, ampliando suas

possibilidades e atividades profissionais.

A escrita Braille é feita ponto por ponto na reglete utilizando o punção da

direita para a esquerda. A leitura é feita ponto por ponto da esquerda para a direita

32

utilizando as pontas dos dedos, podendo se tornar tão fluente para o cego quanto

o é para o vidente.

A criação do Sistema Braille colocou ao alcance das pessoas cegas o

acesso à educação e à cultura, abrindo espaço para os diferentes campos do

saber humano. Nesse sentido, o Sistema Braille deve ser visto como

ferramenta educacional, cultural, social, profissional, de lazer e de igualdade

das pessoas cegas.

“A questão da aprendizagem da leitura implica a discussão dos meios

pelos quais o sujeito pode construir seu próprio conhecimento, pois sabendo

ler ele se torna capaz de atuar sobre o acervo de conhecimento escrito

acumulado pela humanidade e, desse modo, produzir ele também um

conhecimento novo para si próprio.” (BARBOSA, 1990, p. 28).

Pode-se imaginar o quão mais grave é a questão quando se trata de

alfabetizandos deficientes visuais. Além de se depararem com as dificuldades

normalmente encontradas, os alfabetizandos cegos precisam aprender a ler e

a escrever, usando um outro código, o Sistema Braille e, para isso, é

necessário que seja feito, também, um trabalho de percepção tátil, forma que

possibilita o acesso a esse sistema de leitura e escrita, processo que para o

iniciante é bastante complicado.

“Tendo em vista os grandes problemas verificados durante o processo

de alfabetização de pessoas cegas, é preciso que os alfabetizadores

desenvolvam uma nova relação com seus alunos, que os profissionais que

militam nesse campo revejam suas metas de ensino e que tenham

consciência de que precisam aprofundar seus conhecimentos a fim de que a

ação educativa esteja, realmente, em consonância com as necessidades do

educando”. (Almeida, 2001, p. 294).

Mesmo que familiares e educadores saibam das dificuldades que o

deficiente visual irá encontrar, atribui-se a eles o importante papel de

incentivadores da luta por novos objetivos; da valorização das conquistas que

os cegos fazem por sua independência, pelo direito de participarem, de se

33

integrarem, enfim, de conseguirem espaços na sociedade, seja na escola, no

trabalho, ou na comunidade em que vivem.

Segundo Almeida (2001), o alfabetizador tem de conhecer o educando

que está diante de si. O educador, principalmente aquele que alfabetiza, além

do embasamento teórico, tão necessário, precisa atingir a confiança do seu

aluno, firmando entre ambos um nexo saudável de comunicação.

Sendo assim é fundamental que esse individuo tenha todas as

possibilidades, não apenas de aprender a ler e escrever , mas que seja

integrado dentro da escola sem nenhum tipo de distinção., pois tudo que uma

criança aprende a criança ou o adolescente cego também pode e quer

aprender.

ALFABETO BRAILLE:

34

35

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta reflexão revelou a necessidade de aprendermos e reaprendermos a

olhar a realidade escolar resguardando o direito por lei independente de gênero,

etnia, idade ou classe social.

A inclusão escolar dos alunos com deficiência visual é uma proposta

politicamente correta que representa valores simbólicos que dizem respeito à

igualdade de direitos e de oportunidades educacionais para todos.

A ideologia da escola inclusiva requer superação dos obstáculos impostos

pelas limitações do sistema regular de ensino, que vem de encontro com as

dificuldades operacionais reais e presentes como recursos humanos, pedagógicos

e físicos ainda contemplados no nosso país.

É indiscutível a situação dos recursos humanos especialmente dos

professores das classes regulares, que precisam de capacitação para transformar

sua pratica educativa, esta sim, é a principal meta a ser alcançada no sistema

educacional regular: que se inclua a todos verdadeiramente.

Todavia é necessário elaborar propostas pedagógicas baseadas nas

intenções nas interações com os alunos, das capacidades da escola, seqüência

de conteúdos e adequação aos diferentes ritmos de aprendizagem dos

educandos, adotar metodologias diversas e motivadoras.

Também, a própria sociedade ainda não alcançou níveis de integração,

para incluir todas as pessoas, a sociedade tem que ter novos olhares firmando

convivência nas diversidades humanas e aceitando e valorizando a contribuição

de cada um conforme suas condições pessoais.

E na educação que encontramos um meio privilegiado de favorecer o

processo de inclusão social dos cidadãos, a escola é a mediadora como instância

sócio-cultural.

36

Os serviços educacionais especiais não podem desenvolver-se

isoladamente, eles precisam fazer parte de uma estratégia educacional, onde a

ação terá que focar a transversalidade em todos os níveis, ou seja, a educação

infantil, jovens, adultos e profissionais.

Assim proporcionaremos à pessoa com deficiência visual a chance de

sucesso ou de qualquer outra pessoa.

Nossa sociedade é, e sempre será, cada dia mais complexa. Esta

complexidade está trazendo um novo paradigma: “viver a igualdade na diferença”

faz com que o “diferente” fique cada vez mais comum.

Enfrentar o desafio da inclusão do deficiente visual é condição essencial

para atender a expectativa da educação para todos em nosso país.

37

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