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Costumes e Mentalidades Escola de Governo Março de 2016 Xixo/Maurício Piragino

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Costumes e Mentalidades

Escola de GovernoMarço de 2016

Xixo/Maurício Piragino

COSTUMES E MENTALIDADES Do que estamos falando?

Costumes são modos de vida largamente observados em uma sociedade, em geral de forma irrefletida, como se fossem automatismos sociais. São fundados nas tradições e no mimetismo social.

Passado: evolução lenta Presente: evolução mais rápida(meios de

comunicação de massa) Costumes gerais, regionais, locais ou de

classe social Tendemos hoje a uma uniformização

universal

Costumes e Mentalidades

- Mentalidade: uma visão de mundo, formadapor um conjunto de ideias, sentimentos,crenças e valores predominantes, que atuana mente de cada um de nós

- Mentalidades são individuais ou coletivas- Podem estar em um povo, grupos regionais,

étnicos, de gênero ou categoria profissional.- Mentalidades individuais sempre sofrem a

influência da mentalidade coletivapredominante

Por que a Escola de Governo tem esses pilares como fundamentais para a transformação da realidade da sociedade brasileira?

Defesa incondicional dos Direitos Humanos

Estabelecimento dos valores republicanos

Aprofundamento da democracia participativa

Desenvolvimento (como enfrentamento das desigualdades)

Ética( na política e nas relações sociais)

Mentalidades e Costumes Sociais

No Brasil temos três raízes (com pesos diferentes) que

constroem os nossos costumes e mentalidades, em suma, a nossa

‘brasilidade’:

1. Indígena (Tupi/Jê/Karib/Aruak)

2. Portuguesa( Ibérica – “Européia”)

3. Negra (várias etnias Africanas: Bantu/Nagô/Iurobá)

Mentalidades e Costumes Sociais- A nossa raiz indígena foi muito forte em nossa

sociedade colonial, a ponto dos portugueses(1757 -Marquês de Pombal) proibirem no Brasil-Colônia a “língua geral” ( tupi-guarani e demais) que era mais popular, impondo a população falar somente a língua portuguesa.

Apesar da aniquilação da população indígena (Darci Ribeiro estima em 5 milhões de indígenas em1500), temos incorporados em nossa vida cotidiana costumes e mentalidades vinda das civilizações indígenas que aqui estavam, como:

1. Na culinária: a mandioca2. Nas localidades os nomes: Anhangabaú, Aricanduva,

Ibirapuera, Cumbica, Maracanã, Ubatuba e etc...3. Nos costumes e mentalidades: banhos diários/ achar

graça em situações acidentais. Dançar, cantar,brincar e rir muito!

Mentalidades e costumes sociais

2 – A raiz portuguesa (Ibérica) constrói de forma forte nossas mentalidades e costumes sociais, principalmente em razão do controle político e sócio-econômico.

No Brasil- Colônia a imposição de mentalidades e costumes pela corte portuguesa-brasileira, aparece realmente com a chegada da família real(1808). A corte tenta condicionar todas as relações. Era a ‘elite’ que até hoje (“quatrocentona”) normatiza ou tenta normatizar as mentalidades e costumes sociais.

Herdamos desta raíz até hoje uma série de mentalidades e costumes sociais que estão na vida de todos.

A classe social que domina uma sociedade dissemina com mais contundência suas mentalidades e costumes.

Mentalidades e costumes sociais

3. A raiz negra (Africana de várias etnias ) constrói a nossa mentalidade e costumes também em muitos aspectos:

Religião (todos orixás/ ‘mundo visível e invísivel’)

Música (ritos); Culinária (banana, quiabo...)Conhecimentos tribais e tecnologiasFormas de organização social/práticas de

resistênciaHigiene pessoal(banho como limpeza

espiritual, encontro com sagrado)Língua (palavras:dengo, cafuné, bunda,

tanga,moleque,cuíca,sinhozinho...)

OS GRANDES FATORES DE FORMAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA

A – O grande domínio rural autárquico

B – A autocracia governamental

C – A escravidão indígena e africana

D – O prestígio da riqueza

E – A influência do catolicismo romano aqui organizado

Mentalidades e costumes sociais

“Raízes do Brasil”/ Sérgio Buarque de Holanda:a formação da identidade nacional brasileira.

O conceito de “homem cordial” é fundamentado sociologicamente por Sérgio Buarque de Holanda. Ideia foi criada pelo jornalista, poeta, magistrado e acadêmico santista Ruy Ribeiro Couto(1898-1963).

Esta definição não tem nada a ver com o ser cordial no sentido comum: afetuoso, simpático,afável, educado e polido. A palavra cordial na sua raiz (Core/Cordis= coração) fala de alguém que só se relaciona fincado no sentimento, na emoção e estabelece suas relações sempre nesta perspectiva passional. A racionalidade nunca prevalece.

Raízes do BrasilSérgio Buarque de Holanda

- O declínio das sociedades rurais e o êxodourbano

- Transferência dos poderes e das estruturas ruraispara as cidades. Manutenção da velha herançarural.

- Um aspecto conservador do poder, ocasionando amanutenção do “status quo”.

- A ocupação dos novos cargos administrativoscriados nos centros urbanos pelos antigossenhores de engenho e seus herdeiros(excluindonegros, pardos, ‘mulatos’)

- “ A família patriarcal fornece assim o grandemodelo por onde hão de calcar, na vida política,as relações entre governantes e governados”.

Raízes do BrasilSérgio Buarque de Holanda

- Economia colonial centrada no meiorural(latifúndio/monocultura/escravidão)

- A política como um reflexo dos poderes incorporadospelos proprietários rurais

- Colonização exploratória marcada por um espíritoaventureiro(ética da aventura x ética do trabalho).

- Valorização do enriquecimento fácil e rápido, enenhum cuidado com a terra e seus ocupantes

- A máxima de extrair o máximo do solo, sem grandessacrifícios, justificado pela abundância territorial

- O problema do trabalho resolvido pela utilização demão de obra escrava

Mentalidades e costumes sociais

Sérgio Buarque de Holanda acentua algunslegados históricos originários da colonizaçãoportuguesa e sua estrutura social, política eeconômica:

- Não separação do público do privado- A falta de ética nas relações; de

capacidade de aplicar-se a um objetivoexterior

- Pouca afeição/relutância em face das leis- Abomina as formalidades

Mentalidades e Costumes Sociais

Traços Marcantes da Mentalidade Brasileira na Vida PolíticaFábio Konder Comparato – abril de 2011

1. Privatismo2. Personalismo / postura que não estrutura

a ordem coletiva3. Predomínio dos sentimentos sobre as

convicções racionais (o “homemcordial”).

4. Espírito de conciliação5. Duplicidade institucional, como reflexo de

nosso caráter dúplice

Traços Marcantes da Mentalidade Brasileira na Vida Política

Privatismo

- Durante todo o período colonial, o Estado permaneceupraticamente ausente da vida brasileira. Isto se modificalentamente a partir da instalação da família real no Brasil em1808 e após a Independência. A importância do poder estatal noBrasil só veio a acentuar-se com a Revolução de 1930.

- Até praticamente o século XX, o policiamento efetivo era feito porguardas ou capangas de grandes senhores. De onde a tradição deviolência e irresponsabilidade das nossas forças policiais, e suasubmissão à vontade dos ricos e poderosos.

- A moderna propaganda capitalista, fantasiada de liberalismo edemocracia, encontrou em nossa mentalidade privatista umterreno fértil onde depositar suas sementes. Aceitamos facilmentea ideia de que o Estado trabalha mal, e que somente a empresaprivada é eficiente.

Personalismo- Nossa dificuldade em compreender e aceitar o

funcionamento de organizações impessoais, demodo geral. Daí, p. ex., a evolução da fé católicaem direção a uma fidelidade, não ao dogmaabstrato, mas à pessoa do clérigo que exerce opoder: o pároco, o bispo, o papa.

- No campo político, o personalismo tempermanecido incontestável. O povo desconfia dasideias e programas abstratos, repudia os partidose somente confia em políticos de carne e osso,sobretudo quando eles encarnam um‘paternalismo’ protetor. A política, entre nós,nunca foi um embate de ideias, mas a atuação,conflitiva ou amigável, de personalidadesmarcantes.

Predomínio dos sentimentos sobre asconvicções

racionais (o “homem cordial”).- A política sempre foi, entre nós, um jogo de

amigos e de adversários ou inimigos. As relaçõesde amizade ou inimizade são decisivas. NaRepública Velha (1889 – 1930) dizia-se: “Aosamigos, tudo; aos inimigos, a lei”.

- Essa mesma ausência de impessoalidade existeno funcionamento da Administração Pública e daJustiça. É comum, quando se tem um problemaligado a serviço público, procurar antes de tudo oamigo na repartição competente. Nos processosjudiciais, advogado eficiente é o amigo dosjuízes.

- Essa tradição personalista explica, em grandeparte, a instituição do despachante, grandeoriginalidade nacional.

Espírito de conciliação- Como consequência das duas últimas tendências

assinaladas, a lei geral da política brasileira é aconciliação entre grupos ou personalidades rivais.Entre nós, em matéria política, sempre foi aceitoo princípio de que um mau acordo é preferível aum conflito aberto, a se encerrar com vencidos evencedores.

- Daí o fato impressionante de que todas asgrandes mudanças institucionais, no Brasil, foramfrutos de acordos, mesmo quando tais mudançasse iniciaram por conflitos armados. Assim foi coma Independência, com a abdicação de D. Pedro Iem 7 de abril de 1831, com a proclamação daRepública, com a extinção do Estado Novogetulista em 1945 e do regime militar em1985.Conciliação das ‘elites’!

Brasil: uma falsidade política permanenteFábio Konder Comparato, 2011

- A Constituição Federal de 1988 abre-se com a declaraçãode que “a República Federativa do Brasil é um EstadoDemocrático de Direito”. Na realidade, porém, o EstadoBrasileiro não é republicano, nem democrático, nemtampouco um verdadeiro Estado de Direito.

- Não é republicano, porque nesta terra, desde o‘Descobrimento’, o interesse privado sempre prevaleceusobre o bem público. Não é democrático, porque o povonunca chegou a ter voz ativa na vida política. Enfim, não éum autêntico Estado Democrático de Direito, porque ogrupo oligárquico, que sempre deteve o poder supremo e éa fonte primária de toda a corrupção, em geral, foge aqualquer controle jurídico.

O Brasil de desenvolveu com estes costumes e mentalidades?

1952

População:

51.944.397

Maiores cidades:1) Rio de Janeiro (2,3 mi)

2) São Paulo (2,1 mi)

3) Recife (0,5 mi)

2012

População: 190.732.694

Maiores cidades:1)São Paulo (11,3

mi)

2)Rio de Janeiro (6,3 mi)

3) Salvador (2,6 mi)

O Brasil de desenvolveu?

1952 Maior produto

exportado: Café

PIB: US$ 6.891 Extensão das Estradas

de Ferro: 37.019 km Automóveis em

circulação: 299.625 Expectativa de vida: 52

a Diplomas ensino

superior: 158 mil Analfabetismo: 39,5%

2012 Maior produto

exportado: Minério de Ferro PIB: US$ 11.660 Extensão das Estradas

de Ferro: 29.706 km Automóveis em

circulação: 65.636.754 Expectativa de vida: 72

a Diplomas ensino

superior: 12 milhões Analfabetismo: 9,6%

Desigualdade de renda e desigualdade étnicorracial

- Dados de 2002:-dos 10% + Pobres: 71,5% eram negros,

27,9% brancos.-Do 1% + rico: 87,7% brancos, 10,7% negros.

- Dados de 2012:- dos 10% + Pobres: 75,6% eram negros, 23,5

brancos.- Do 1% + rico: 81,6% brancos, 16,2 negros.

Agência Brasil (29/11/2013)

Problemas na formação do conjunto da população

- EDUCAÇÃO INFANTIL – Atendimento de 1/5 dascrianças

- ENSINO FUNDAMENTAL – Evasão de 1/3 (1 milhão debrasileiros por ano iniciam a vida adulta sem teremconcluído o ensino fundamental)

- ENSINO MÉDIO – Concluído por ½ da população

- ENSINO SUPERIOR – Concluído por 1/5 da populaçãoFonte IBGE

Educação de elite

Pesquisa do Business Insider (jornal GGN, 13/10/2013) destinada a medir o potencial de formação de pessoas de elite, mostra o Brasil em 20º Lugar. Brasil produz menos de 200 mil “pessoas brilhantes” por ano. Nos Estados Unidos e no Japão são 5,5 milhões por ano. Na Austrália e na Polônia são mais de meio milhão. Em termos percentuais, apenas 0,1% dos alunos atingem o topo da qualidade no Brasil. Para citar apenas três exemplos, na Nova Zelândia são 4,1%, na Bélgica, 3,4% e na Espanha, 0,75, o que é sete vezes mais.

Alguns dados:Desigualdade social e econômica

Distribuição de renda (Fonte: Dieese)

Brasil 1981 199550% + Pobres 14,5% 13,3%10% + Ricos 44,9% 47,1%1% + Rico 13,4% 14,4%

2012 40% + Pobres 13,3% 10% + Ricos 41,9%

Passou de 16,8 vezes (2002) para 12,6 (2012)

Costumes e mentalidades Ditados popularesFalas do poderAos amigos tudo, aos inimigos a leiVocê sabe com quem está falando?Falas da resignaçãoManda quem pode, obedece quem tem juízo,Uma mão lava a outraNão dá para dar um jeitinho?Falas da prudênciaA corda arrebenta do lado mais fracoCada macaco no seu galhoAfinal de contasCasa de ferreiro espeto de pau

ouAqui se faz, aqui se paga

Agenda Política

Democratização da mídia

Reforma política democrática

Mecanismos de controle social

Transparência do Judiciário

Reforma agrária e urbana

Reforma Tributária

Nova Governança (mais participativa)

Novos paradigmas da cultura cidadã

Espaço público realmente público, de todos

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