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1 O Atlântico, os Açores e o comércio nos séculos XV-XVII.............2 OS AÇORES PONTO DE CONFLUÊNCIA DAS ROTAS ATLÂNTICAS PROVEDORIA E ARMADA DAS ILHAS (SÉCULOS XV A XVII).............10 ANGRA “ESCALA DO MAR POENTE”........................................11 Vigilância, defesa e abastecimento das naus.........................18 A missão informativa, os oficiais da Provedoria e a eficácia do serviço............................................................. 31 A “carrera”, o contrabando e o reflexo nas ilhas....................40 A fortificação açoriana, corolário da vulnerabilidade do Arquipélago às investidas de corsários e piratas....................50 A importância económica do Arquipélago como factor da intervenção dos corsários - o serviço informativo - Planos de fortificação das ilhas..............................................51 Notícias sobre o corso francês e inglês.............................66 FORTIFICAÇÕES....................................................... 96 CONCLUSÃO.......................................................... 122 BIBLIOGRAFIA....................................................... 126 APÊNDICE........................................................... 142

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O Atlântico, os Açores e o comércio nos séculos XV-XVII...................................................................2

OS AÇORES PONTO DE CONFLUÊNCIA DAS ROTAS ATLÂNTICASPROVEDORIA E ARMADA DAS ILHAS (SÉCULOS XV A XVII).....................................10

ANGRA “ESCALA DO MAR POENTE”............................................................................................11

Vigilância, defesa e abastecimento das naus.........................................................................................18

A missão informativa, os oficiais da Provedoria e a eficácia do serviço................................................31

A “carrera”, o contrabando e o reflexo nas ilhas...................................................................................40

A fortificação açoriana, corolário da vulnerabilidade do Arquipélago às investidas de corsários e piratas................................................................................................................................ 50

A importância económica do Arquipélago como factor da intervenção dos corsários - o serviço informativo - Planos de fortificação das ilhas...........................................................................51

Notícias sobre o corso francês e inglês.................................................................................................66

FORTIFICAÇÕES............................................................................................................................... 96

CONCLUSÃO................................................................................................................................... 122

BIBLIOGRAFIA................................................................................................................................ 126

APÊNDICE........................................................................................................................................ 142

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O Atlântico, os Açores e o comércio nos séculos XV-XVII

Nos séculos XIV e XV uma extraordinária aventura descobre o Atlântico e origina a consequente

criação das rotas oceânicas. As condições dos mercados do Mediterrâneo oriental estavam em

transformação e outras condições peculiares dos países Atlânticos explicam a aventura e a abertura que

então se verifica, e na qual Portugal participa activamente. Procura-se o ouro e a mão-de-obra,

alargam-se as áreas de pesca, procuram-se novas condições para o desenvolvimento industrial. Estas

são certamente um conjunto de forças que tiveram como consequência as viagens de descobrimento e

os primeiros estabelecimentos nas ilhas Atlânticas e ao longo das costas africanas. Nesses lugares viu-se

o ouro, desenvolveram-se as plantas tintureiras e expandiu-se o açúcar, cuja dinâmica, na perspectiva

de Braudel, permitiria a génese do mundo atlântico e/ou a conquista dos novos mundos: Madeira,

Açores, Cabo Verde, S. Tomé e Canárias, depois o Brasil e as pequenas Antilhas.

Nos finais do séc. XV numa economia em expansão surge um novo complexo, cuja configuração

extremamente dispersa, salienta a importância do Atlântico Sul e do Oriente. Esta aumenta em

meados do séc.XVI numa altura em que se perdem os alicerces do Norte -Ocidental Africano. De

Antuérpia à China, do Mediterrâneo ao Brasil e à Terra Nova articula-se um Império, cujos factores

dinâmicos são o ouro da Mina, o açúcar da Madeira e S. Tomé, o pau brasil, os bacalhaus da Terra

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Nova, os escravos da Guiné, o pão e pastel dos Açores, os produtos orientais, a prata e cobre da Europa

Central e Oriental e os grãos do Báltico.

Em finais do séc. XVI e ao abrir o séc. XVII as Índias orientais e a Rota do Cabo entram em

decadência surgindo outra frente do palco: “ as colónias e comércios atlânticos ou para-atlânticos “,

como diria Vitorino Magalhães Godinho1.

Os galeões Espanhóis trazem a prata do México e do Peru conduzindo-a a Sevilha. Os

Holandeses e os Franceses redistribuem-na alimentando os portos Atlânticos da Europa. A prata chega

também a Génova e por via terrestre à França . De Setúbal e de Andaluzia os Holandeses levam o sal

cuja rota coincide com a redistribuidora da prata.

Do Brasil e de S. Tomé a Lisboa vive o açúcar, que do Tejo vai a Marselha e a Génova ou pelo

Atlântico atinge o Norte de França, Londres, Amesterdão e Hamburgo.

Os escravos da Guiné e de Angola vão ao Brasil e às Índias de Espanha e na volta vêm as

piastras e o tabaco.

Os Ingleses e Holandeses começam então a acossar as costas da África negra ocidental e o

quinhão português quanto ao ouro da Mina vai diminuindo. Os mesmos concorrem com os portugueses

no Oriente, altura em que renasce o antigo tráfico do Levante, não deixando contudo o país, de se

alimentar nas relações marítimas do Atlântico, detendo o açúcar elevada monta, seguindo-se o tabaco, o

pau brasil e o sal, que são produtos cuja troca permite a obtenção das piastras espanholas.

O sistema das navegações triangulares parte então dos portos europeus, segue para o continente

africano, leva escravos ao Brasil e às Antilhas, e volta com o açúcar, o tabaco e a prata.

1 Vitorino Magalhães Godinho, Ensaios, 2ª edição, Lisboa, Livraria Sá da Costa, 1978, vol. II, p. 247.

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O Atlântico vive já desenvolto e é dinamizado por um percurso que atinge cidades como Lisboa,

Amsterdão e Londres, os lugares do Índico e do Brasil, onde as cargas orientais podem ser completadas

pelos novos produtos em voga2 .

A intensidade e os ritmos deste tráfico não são específicos do império português, mas traçam as

orientações da economia mundial, ou antes, das economias-mundo3.

Mas qual seria o peso deste comércio?

Partindo dos estudos de Pierre Chaunu e Braudel, Pierre Léon referindo-se à função comercial da

época afirmava que somente 1% da produção bruta explorada alimentava a economia do mercado ou o

vértice da decisão económica, cujos impulsos, embora estimuladores, são ainda altamente modestos.

Analisando os custos das distâncias que se medem em meses de navegação, e por vezes anos, desde as

feitorias até aos portos de desembarque, só a mercadoria preciosa praticamente viajava e só os homens

ricos a compravam.

Este 1% basta contudo, para fazer a diferença entre os mundos de economia fechada, quase

imóveis e o resto da Europa, onde as relações de troca criam por si só as condições das mutações

futuras, económicas, sociais e culturais. Este marginal 1% constituíria assim uma peça chave de um

processo de acumulação que daria os seus frutos mais tarde, culminando no processo industrial inglês 4.

É assim que os tráficos de longa distância vão representar pouco relativamente ao consumo global da

Europa. Tal explica-se pelo custo do tráfico, pelos limites técnicos dos meios de transporte, e pelo

2 Id., Ibid., pp. 16-28, 245-280 e 425-433.

3 A este respeito ver os estudos de: F. Braudel, Civilization Matérielle, Economie et Capitalisme - XVe - XVIIIe siècle, Le Temp du Monde,Paris, Librairie Armand Colin,1979, vol. III, pp. 7-80 ou I. Wallerstein, O Sistema Mundial Moderno, A Agricultura Capitalista e as Origens da Economia Mundo Europeia, Porto, Edições Afrontamento,1990, pp. 23-68 e 291-333.

4 Pierre Léon, História Económica e Social, o mundo em expansão, Porto, Liv. Sá da Costa editora, 1984, vol. I, Tomo II, pp. 424-426. Fernand Braudel alertava para a imobilidade estrutural que não é afectada em absoluto pelas “novas acelerações, pelas surpresas”, fazendo ver o historiador menos atento que apesar do domínio dos mares e de um “capitalismo comercial”, grande percentagem da população se ocupa da agricultura e dos lucros que daí advêm. (F. Braudel, Civilização Material e Capitalismo: séculos XV-XVIII , Lisboa, Edições Cosmo, 1970, Tomo I, pp. 9-11).

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baixo poder de compra da maioria. Neste mecanismo são contudo os portos de mar que ganham: é que

o transporte marítimo é ainda o mais oneroso.

Este grande comércio não deixou pois, de ser fundamental no desenvolvimento económico do

século XVI, pois ainda que “incida em fracas quantidades, permitiu lucros consideráveis, criou

desfasamento de preços, e portanto capitais”5. A importância dos investimentos, os riscos, as

especulações, as grandes companhias, as novas técnicas beneficiam este comércio e os portos que o

incentivam.

Neste processo quem obterá rendimentos? Que países participam nele?

Sabemos que a abundância de moeda não constituiu na época o sustentáculo nem a riqueza de

um Estado, sendo o declínio da produção nacional muito mais grave que as saídas de ouro e prata 6 .

Este aspecto tem a sua expressão na actuação das potências ibéricas, que iniciando um processo

dinâmico atingiram um bloqueio no seu desenvolvimento. Não investindo no seu país, são assim

dominados economicamente pelos centros da economia-mundo situados no Norte da Europa. Daí falar-

se em semi-periferia ibérica face aos centros do Norte Europeu que dominam o mercado com o seu

dinamismo e “trocas desiguais”.

As ilhas por outro lado e concretamente os Açores formariam assim uma períferia da semi-

períferia centrada em Lisboa. Esta cria nas ilhas um domínio político e económico, impondo os modos

de vida e incentivando a exploração económica a seu favor. As ilhas produzem e abastecem o Estado e

este tal como aquelas são controladas pelo mercado europeu necessitado das suas produções. As ilhas

são ainda períferia por geograficamente serem marginais.

A organização e a definição do poder dos capitães nas ilhas poderá fornecer algumas pistas

quanto ao papel destas na época. Segundo Vitorino Magalhães Godinho existiu desde o início um

contraste entre o consumo de colonos - assegurado pela produção agrícola e pelas indústrias familiares -

e a produção destinada ao desembarque ou ao abastecimento da classe comercial e administrativa, para

5 Pierre Léon, Ibid., p. 423.

6 Id, Ibid., vol. II, Tomo II, pp. 195-196.

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a qual trabalhava a indústria pertencente ao capitão ou áqueles com que se fazia o contrato para

exploração do monopólio. Sabemos que a isenção de direitos de entrada no reino, concebida a todos os

produtos insulares, visava indubitavelmente o fomento e valorização do arquipélago, mas também

tinha por objectivo garantir um melhor abastecimento do país7.

Teriam sido as ilhas um palco de ensaio e de experimentação de culturas que interessavam à

coroa?

Miguel Jasmim Rodrigues aponta como explicação para o rápido desenvolvimento dos

arquipélagos, as culturas de exportação, que asseguravam aos senhores das ilhas, aos seus

representantes e à nobreza local o adequado rendimento8.

Segundo o mesmo autor era preocupação política dissociar a produção do comércio, uma forma

de impedir o capital comercial de dominar directamente a produção, e de preservar o monopólio da

nobreza local sobre a terra e sobre a produção. Isto leva-nos para o campo das relações e do jogo entre

a nobreza - reconhecedora da soberania/senhorio no centro (duque/Rei) - e o centro que a apoia na

dominação a nível social e a nível da produção, separando esta última do comércio9.

7 Vitorino Magalhães Godinho, Os Descobrimentos e a Economia Mundial, Lisboa, Editorial Presença, 1985, vol. II, pp. 232 e 233.

8 Miguel Jasmim Rodrigues, ”Os Descobrimentos portugueses na construção do ‘Mediterrâneo Atlântico’ como espaço de interacção”, in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, (Os Açores e as Dinâmicas do Atlântico. Do descobrimento à II Guerra Mundial. Actas do II Colóqio Internacional, realizado em Angra do Heroísmo, de 28 de Julho a 2 de Agosto de 1987), Angra do Heroísmo, 1988, vol. XLV, Tomo I, pp. 221-245.

9 Este propósito confirma a opinião de João Marinho dos Santos quando este se referia ao relativo fracasso das administrações dos infantes que utilizavam servidores seus e não gente especializada tecnicamente. Caracterizando a sociedade dentro da “organização tradicional de mando”, atenta na incapacidade da nobreza em corresponder às novas funções proporcionadas pela “organização mercantil”, que haveria de conduzir a uma luta de interesses com os novos grupos sociais e a uma hibridez sócio-profissional - esta também desenvolvida nos estudos de Vitorino Magalhães Godinho sobre a sociedade portuguesa. (Vitorino Magalhães Godinho, “A Sociedade Portuguesa”, in Dicionário de História de Portugal, Direcção de Joel Serrão, Porto, Liv. Figueirinhas, 1985, vol. VI). João Marinho dos Santos “A Sociedade Açoriana dos séculos XV e XVI sob uma abordagem macroscópica”, in Os Açores e o Atlântico - Séculos XIV - XVII. Actas do colóquio internacional realizado em Angra do Heroísmo de 8 a 13 de Agosto de 1983, separata do B.I.H.I.T., Angra do Heroísmo, 1984, pp. 435-440 e Os Açores no Século XV-XVI, s.l., Edição da Direcção Regional dos Assuntos Culturais e Secretaria Regional da Educação e Cultura, 1989, vol. II.

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É esta forma que permite, segundo o autor, a participação em amplos circuitos comerciais e

financeiros, mas que não teria dado origem a uma integração económica nem a uma subordinação

política das ilhas. Constata-se assim no campo político uma constelação de espaços sectoriais com

significativas margens de autonomia, um sistema descontínuo e plural, próprio do Antigo Regime e

continuador dos quadros senhoriais. Estes pactuam com as necessidades impostas pelo Ocidente

Europeu com a finalidade de suprir as suas carências. Acerca da existência de relações entre os

arquipélagos atlânticos elas seriam secundárias em relação ao seu comércio global, existindo não tanto

“espaços nacionais” de comércio, mas um “espaço europeu” em que os arquipélagos participam 10. É

dentro desse esquema imposto do exterior que se compreende a instalação abundante de comerciantes

estrangeiros cujas “procurações apresentam-se como fios duma densa teia a aproximar as margens do

Atlântico”11. É Maria Olímpia Rocha Gil que apresenta uma opinião - acerca da importância das ilhas

nos negócios da época - que só aparentemente12 é diferente das anteriores.

As ilhas são então vistas por ela como capazes de desenvolver interesses próprios, e alargar a sua

esfera de acção e estabelecer articulações satisfatórias com as grandes forças e área de crescimento

europeu. São sensíveis à penetração do capital mercantil e apesar de serem os comerciantes (dos quais

muitos estrangeiros) as figuras em evidência nesse processo, ela salienta o papel da aristocracia

10 Pensamos que a afirmação de Carl H. Hanson de que o comércio é a chave que mantinha a economia luso-atlântica unida atendendo ao desinteresse por outra actividades e partindo da constatação de uma articulação e complementaridade dos produtos das diversas áreas em termos de unidade económica nacional, não entra em contradição - antes pelo contrário - com a ideia de desarticulação e afrontamento da economia insular que surgem do domínio das culturas de pastel, açúcar, vinho, impostas externamente.(Carl H. Hanson, Economia e Sociedade no Portugal Barroco, Lisboa, Publicações D. Quixote, 1986, pp. 207-208). M. J. Rodrigues partilha da opinião de Alberto Vieira. (Alberto Vieira, O Comércio Inter-Insular nos Séculos XV-XVI (Canárias, Madeira e Açores): alguns elementos para o seu estudo;Ponta delgada, U.A., 1985, p. 146).M. J. Rodrigues, Ibid., pp. 239-242.

11 Maria Olimpia da Rocha Gil, “Os Açores e a rede de negócios no Atlântico Seiscentista (elemento para o seu estudo: as procurações), in Os Açores e o Atlântico Séculos XIV-XVII ..., p. 555-575.

12 Referimos “aparentemente” porque a autora embora evidencie uma visão mais optimista da acção das ilhas nesses negócios, continua a reafirmar a dependência delas face às correntes dominantes europeias. (Id., Ibid., p. 555 ; Id., Os Açores e o Comércio Atlântico nos Finais do Século XVII (1680-1700), Ponta Delgada, 1983, p. 178). A autora apresenta as reacções dos ilhéus contra a pressão das novas leis de política mercantilista e do absolutismo da coroa, evidenciando os ilhéus, regras próprias de acção, adapta-se aos variados circuitos de comércio, capazes de construir o seu próprio espaço na enorme diversidade do mundo que o Atlântico criou.

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proprietária de terras que participava e beneficiava, sendo a principal produtora de trigo, vinho e

pastel13.

Em conclusão pode-se então perguntar, quais os benefícios a médio ou a longo prazo que as ilhas

tiveram na participação desses negócios? Teriam tido elas um lugar próprio e dinamizador na economia

europeia, ou teriam sido efectivamente arrastadas pelos interesses do exterior? Não teriam tido

simplesmente o papel periférico, essencial, mas só e enquanto as condições económicas da economia-

mundo o permitissem?

Parece que a opinião geral tende a ver as ilhas como uma “ponte” um espaço que teve na

verdade o seu lugar na economia geral europeia, (e não só) mas que a serviu sem se servir e sobretudo

sem intervir ela própria, determinantemente, na definição dos seus caminhos e sem passar a um espaço

dominador em termos comerciais. Entrou nos tráficos adaptados ao processo e desenvolvimento do

capitalismo, mas dentro de um contexto de trocas desiguais com os fortes colaborantes nesse processo.

Mas os Açores ainda que participassem na produção para o exterior, tiveram sobretudo uma

função de base e entreposto para a navegação entre os continentes. José Enes estruturando a sociedade

açoriana pelas suas funções, nega o subdesenvolvimento e ruralismo das ilhas em relação ao

Continente, referindo que as características demográficas, sociais, económicas e culturais das ilhas são

próprias de uma sociedade de vanguarda para o tempo. A sociedade teria sido resultado de um projecto

parcial, necessário à expansão portuguesa e europeia, que utilizaria o Atlântico para a navegação

comercial e para a guerra. Foram os Açores o trampolim, o apoio, a base para a expansão portuguesa

avançar em África, proporcionada por uma sociedade dinamizada, por uma população activa e com a

composição profissional adequada às funções exigidas14.

13 Maria Olímpia Rocha Gil, referindo-se a essa nobreza diria por outro lado que novas formas de mentalidades expressam a abertura às novas realidades sócio.económicas não sendo apenas “alguns elementos da burguesia a declarar que o que têm o devem ao seu trabalho , (Maria Olimpia da Rocha Gil, “Os Açores e a rede de negócios no Atlântico Seiscentista (elemento para o seu estudo: as procurações), in Os Açores e o Atlântico Séculos XIV-XVII ..., p. 556).

14 José Enes, “A dominância das origens na história da sociedade açoriana”, in Os Açores e o Atlântico ..., p. 398-412. Convém referenciar, a propósito, que nesta exploração inicial focamos algumas interpretações históricas que correspondem a modelos ou a teorias económicas, sociais e políticas Para melhor esclarecimento do papel destes modelos na construção da História veja-se Vitorino Magalhães Godinho, “Os modelos nas economias pré-estatais” in Revista de História Económica e Social, nº 16, Julho/Dezembro.

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OS AORES PONTO DE CONFLUNCIA DAS ROTAS ATLNTICAS PROVEDORIA E

ARMADA DAS ILHAS (SCULOS XV A XVII).

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ANGRA ESCALA DO MAR POENTE

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Partindo então da análise do Império Atlântico comercial e marítimo, reconhecemos a

complexidade de rotas diversas e complementares que ligam as metrópoles europeias às suas

longínquas colónias. Depreende-se assim a necessidade de escalas de apoio a toda esta navegação e

deduzem-se as maiores dificuldades e vicissitudes dos navegadores, se não fosse a existência de

estruturas e serviços disponíveis ao seu apoio e defesa.

Desde cedo e em virtude do regime de ventos e de correntes no Oceano Atlântico, as

embarcações que conduziam a Lisboa os escravos africanos ou o ouro da Mina, eram impelidas a dar a

“volta pelo largo”, fazendo dos Açores uma escala obrigatória que se revelaria de grande importância.

Após os grandes marcos dos descobrimentos - o da América e do caminho marítimo para a India

- iniciaram-se e organizaram-se as carreiras comerciais de longo curso definindo-se com exactidão as

rotas do Atlântico e as suas escalas ocasionais e/ou definitivas15. Destas últimas, salienta-se Santa

Helena para a carreira da India, Canárias para a carreira das Índias espanhola e a ilha Terceira, base de

apoio de quase todas as carreiras do Atlântico.

Da desabitada ilha de Santa Helena e da sua importância na viagem das Índias orientais, Pyrard

de Laval16 diria que “seria mui difícil, quasi impossível mesmo, fazê-la, se não houvesse a dita ilha”.

Acrescentava ainda que “cada um se regala como pode”, fazendo assim juros à sua riqueza natural em

15 Na verdade se nas primeiras décadas do século XVI houve indeterminação quanto às paragens a efectuar, assiste-se logo em seguida ao estabelecimento das bases do Atlântico que apoiariam a navegação. As escalas ocasionais que incluem a Madeira, Angra de Bezeguiche, Cabo Verde, Baía, S. Tomé e Angola, definem-se pela escalada esporádica dos navios, que devido às vicissitudes climatéricas, às necessidades de abastecimento, aguagem, conserto e repouso, distinguem a sua função de apoio, que apesar de relativa não é de menosprezar. Saliente-se que Santiago de Cabo Verde, S. Tomé e Angola, para o tráfego negreiro, se considerarão escalas de frequência regular e por isso definitivas, substituindo aquela última (século XVII), a importante escala de Santa Helena, após esta oferecer maiores perigos pelos sucessivos ataques dos Holandeses. Neste século XVII Angola centraliza o tráfico negreiro quer para a América Espanhola como para o Brasil. (Cf. Artur Teodoro de Matos, “As Escalas do Atlântico no Século XVII”, in A Viagem de Bartolomeu Dias e a Problemática dos Descobrimentos - Actas do Seminário realizado em Ponta Delgada, Angra do Heroísmo e Horta de 2 a 7 de Maio de 1988, s.l., ed. D.R.A.C./S.R.E.C., 1989, pp. 44-45). Esta divisão é dada por Teodoro de Matos, contudo outras são feitas por vários historiadores. A nossa escolha recaíu nesta divisão pela facilidade e operacionalidade que apresenta para o estudo introdutório deste trabalho. Entre os historiadores citados por Teodoro de Matos que se debruçaram sobre o problema das escalas do Atlântico salientam-se os estudos de Avelino Teixeira da Mota, Virgínia Rau, Gentil da Silva, Luis de Albuquerque, Clarence H. Haring, Pierre Chaunu, Fredèric Mauro, Charles Boxer e Eufemio Lourenzo Sanz. (Ibid., p. 39).

16 Apud. Teodoro de Matos, Ibid., pp. 45-50.

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caça, pesca, frutos e legumes. Era escala de abastecimento e de reagrupamento da frota 17 e a sua

importância é revelada pelo crescente assédio dos corsários ao ponto do Rei por vezes proibir aí a

ancoragem de navios e enviar uma armada para os conduzir a Lisboa18. Servia também para cura de

enfermos ou para castigo de outros, além de fornecer informações desde a gravação de escritos nas

árvores, às mensagens deixadas numa pequena ermida, local onde decorria os ofícios litúrgicos ou os

actos oficiais19.

Desde Colombo e por causa dos ventos gerais do Atlântico, os barcos com destino à América

encontravam nas Canárias a sua primeira escala. Aí reconfirmavam a rota, reviguravam energias e

abasteciam-se de carne, peixe e legumes, além de obterem o refúgio face aos inimigos ou o abrigo de

tempestades20.

Quanto à Terceira “escala do mar do ponente (...) celebrada por todo o mundo” 21, muito haverá a

dizer, visto que foi o centro vital para o êxito do comércio português com África, Oriente e Brasil.

17 E na dita ylha (de Santa Helena) esperareis pela naos da nossa companhia que Ynda não forem chegadas até vinte de Maio que he o tempo que por meu regimento mando que esperem as náos humas por outras na dita ylha (Cf. Instrução particular de D. Filipe I para Alvaro Rodrigues de Távora, capitão da Nau de S. Pantaleão, Lisboa, 26 de Fevereiro de 1592, in Artur Teodoro de Matos, Subsídios para a História da Carreira da Índia (Documentos da Nau de S. Pantalião, (1592), Lisboa, 1977), Separata do Boletim do Arquivo Histórico Militar,vol. XLV, 1975, p. 64.

18 Artur Teodoro de Matos, “As Escalas do Atlântico no Século XVII”, in A Viagem de Bartolomeu Dias e a Problemática dos Descobrimentos, segundo fontes aí citadas, p. 47. Atente-se por exemplo no regimento da armada de D. António de Ataíde à Ìndia em 1611 visando o cuidado a ter com a situação de permanente hostilidade ao longo da maior parte do percurso, com especial incidência para os pontos onde o inimigo actuava com maior frequência. Alguns reveses sofridos perante os Holandeses fundamentaram as ordens régias e directrizes regimentais (inclusivé as dadas na Índia) preventivas contra a actuação contrária em Santa Helena e noutros pontos. Curioso é que o regimento dado a D. António não prevenia o cuidado a adoptar à passagem por Santa Helena, emitindo contudo o experimentado capitão o seguinte parecer: parece me que convém muito ao serviço de Vossa Magestade mandar declarar a seus capitais como se ande aver com navios estrangeiros em caso que os encontrem porque podem topá-los em Santa Helena ou em outra alguma paragem; e não tendo ordem de Vossa magestade pera o que ande fazer podem errar e as vezes sem culpa sua. (Francisco Contente Domingues e Inácio Guerreiro,”D. António de Ataíde, capitão-mór da armada à Índia de 1611”, in A Abertura do Mundo. Estudos de História dos Descobrimentos Europeus (org. de Francisco C. Domingues e Luis Filipe Barreto), Lisboa, Presença, 1987,vol. II, p. 67).

19 Artur Teodoro de Matos,“As Escalas do Atlântico no Século XVII”, in A Viagem de Bartolomeu Dias e a Problemática dos Descobrimentos, segundo fontes aí citadas, pp. 49-52.

20 Id., Ibid., p. 45.

21 Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1978, liv. VI, p. 13.

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Porto de reabastecimento e reparação da frota, protecção, restabelecimento das tripulações e centro de

informações, Angra era valorizada pelo apoio que fornecia aos navios que abarrotavam de riquezas

vindos dos mais variados pontos do comércio. Como já foi afirmado, as ilhas começam a ser desde

cedo, escaladas regularmente no regresso das viagens da costa de África, mas o descobrimento da

América e a rota da India e do Brasil tornam-na a escala mais importante do Atlântico. Essa

importância traduz-se nas estruturas e serviços de apoio que lá tinham o seu centro, sendo de destacar o

papel da Provedoria das Armadas e o da Armada das Ilhas22.

A crescente actividade do corso, no vértice que liga o sudoeste ibérico, as Canárias e os Açores,

integra-se assim no contexto vital ligado às rotas e embarcações que traziam as prodigiosas riquezas

encontradas nos novos espaços abertos ao mundo. Isto exigirá por parte da coroa a adopção de medidas

de apoio e fiscalização para segurança das naus. A coroa pretende por outro lado, regular as rotas das

naus, definindo o serviço de escalas nas ilhas a fim de proteger os seus negócios. Em 1520 era

promulgado o “Regimento para as naos da India” nos Açores23, onde se definiam as regras a seguir

pelas naus, quer quanto à segurança das cargas, quer quanto ao abastecimento que necessitassem.

Desde cedo o desvio e o contrabando preocupou o Rei e acções de vigia são estipuladas nesse

regimento, assim como a punição dos transgressores. Contrabando, corsários e aprovisionamento eram

tomados em conta e definia-se toda uma legislação, que contudo não chegava para a prevenção

22 A Provedoria das Armadas era integrada pelo provedor que para o cargo recebia 50 000 réis anuais, dispunha de pessoal de estiva e a partir de 1552 de um corpo de 12 bombardeiros. As despesas financeiras efectuavam-nas o almoxarife. O provedor da fazenda e o corregedor coadjuvavam o provedor em muitas das suas acções. Estes são os principais oficiais que suportavam tal estrutura. A provedoria manter-se-à na família Canto até à sua extinção no século XVIII. (Artur Teodoro de Matos, Os Açores e a carreira da India no século XVI, Separata do B. I. H. I. T., vol. XLV, Tomo II, 1986, p. 49 e in Estudos de História de Portugal, séculos XVI-XX, Homenagem a a.h. Oliveira Marques, Lisboa, Editorial Estampa, 1983, p. 49). Quanto à Armada das Ilhas tinha como objectivo comboiar as naus chegadas, esperando-as no extremo ocidental do arquipélago, devendo trazê-las até Lisboa passando pela Terceira. (Id., Ibid., pp. 96-97). Vejamos a seguinte passagem: “Paragem do Corvo que é a altura onde vem ter as naos da Índia, Mina, Brasil, Guiné, e, assi, muitos navios das Antilhas em que vem muitos castilhanos e biscaínhos.( Artur Teodoro de Matos,“As Escalas do Atlântico no Século XVII”, in A Viagem de Bartolomeu Dias e a Problemática dos Descobrimentos, segundo fontes aí citadas, p. 47). Vd. Documento em apêndice nº 1. De 1536 a 1556, 12 armadas teriam sido enviadas às ilhas. (Artur Teodoro de Matos, “A Provedoria das Armadas da Ilha Terceira e a Carreira da Índia no século XVI”, in II Seminário de História Indo-Portuguesa, Instituto de Investigação Científica Tropical, Centro de Estudos de História e Cartografia Antiga, Lisboa, 1985, p. 66-67, segundo fontes aí citadas).

23 A. A., vol. III, pp. 29-33.

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eficaz24 . Havia que se criar estruturas de controlo, de defesa, de apetrechamento e provimento das naus,

que desenvolvessem em concreto o apoio da navegação atlântica. De certo que o regimento de 1520

teria servido de base à provedoria que se instalou na Terceira. O regimento do provedor só aparece em

1575 no reinado de D. sebastião, consistindo num diploma, que resume e sistematiza a legislação

anterior, baseada na já larga experiência e patenteada na inúmera correspondência do provedor ou nos

vários alvarás/cartas régias que regem a sua actividade.

A provedoria não seria então, mais do que a institucionalização de um socorro, que já vinha

sendo feito e que era efectivamente necessário às naus que vinham da India. Ora o provedor era a

autoridade que superintendia neste serviço e um dos mais importantes ministros de Sua Magestade.

Desde 1527, Pedro Anes do Canto tem a seu cargo a extrema responsabilidade de prover as carreiras

das frotas que escalam a Terceira25.

A abundância de correspondência entre o provedor - e demais oficiais de apoio à provedoria - e

o Rei ou vice-versa, revela a importância e a séria consciência da responsabilidade que revestia tal

cargo. Os serviços no domínio da provedoria são salientados em informações elogiosas quer do

24 O conteúdo das ordens régias tinha inclusivé divulgação pública nas praças e lugares, afixado o seu treslado e fixado nos livro camarários, pois a ordem não podia fechar-se na “secretaria pública”, havia que ser bem “notória”. (João Marinho dos Santos, Os Açores no Século XV-XVI, s.l., Edição da Direcção Regional dos Assuntos Culturais e Secretaria Regional da Educação e Cultura, 1989, vol. II, p.407).

25 Pedro Anes do Canto é assim o primeiro provedor das armadas da Índia, Brasil, Guiné e Mina. O seu esforço e tenacidade ajudou a construir os alicerces que serviriam de apoio ao sistema naval português. Citando Baquero Moreno o seu exemplo como paradigma de um dos portugueses intrépidos inseridos na galeria dos construtores da presença portuguesa no mundo, a quem nunca faltou o sentido de serviço continuado e preserverante ao seu país. (Baquero Moreno, “Notícias sobre Pedro Anes do Canto, povoador e provedor das Armadas da ilha Terceira”, in Os Açores e o Atlântico (séculos XIV-XVII) ..., pp. 309-323). O ano de 1527 é apresentado por Artur Teodoro de Matos como sendo o início das funções do provedor. Tal opinião baseia-se no testemunho colhido na “Carta de Pero Anes do Canto ao Rei em 18 de Julho de 1547” in A.A., vol. I, p. 130 e que passamos a transcrever: eu à vynte anos que syrvo V.A. n’esta negoceação das naos da India ... No entanto, segundo Baquero Moreno só em 1531 Pero Anes do canto passou a ter um papel actuante relativamente às medidas de apoio logistico às naus. O alvará publicado em 16 de Maio desse mesmo ano, enviado ao almoxarife e contador da Terceira, determinava que o corregedor acompanhado por Pero Anes do Canto, deveria entregar o dinheiro que suportaria as despesas de uma nau (A.A., vol. XII, p. 409) É muito possível que na carta, acima citada, Pero Anes referencie os 20 anos aproximadamente. Antes da data de 1531 ele obtém cartas reais mas, relativas aos seus serviços como militar, que foi em Àfrica e povoador que era na Terceira. Como exemplo apontemos a carta de privilégio que obtem de D. João II em 1527 (A.A., vol. IV, p. 131)

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provedor quer dos outros funcionários do Rei26. A competência e tarefa do provedor na defesa e

reabastecimento das embarcações tornavam-no na verdade um dos mais distintos e respeitáveis

funcionários do Rei. Vejamos a constatar tal facto o seguinte auto levantado aquando de um desacato

de que o provedor fora vitima, e relativo ao carregamento de trigo para Tânger: com palavras

indesentes e prohibidas de resguardo e respeito com que S. M. que seus ministros sejam tratados e

particularmente a ele dito provedor, porque demais de sua qualidade fazia o dito senhor delle

extimação e fiava maiores couzas e mais importantes a este reino de Portugal, que de nenhum ministro

dos que tinha nestas ilhas ...27

O trabalho a realizar na defesa das naus da India era certamente tido em grande consideração.

Servir o Rei era honra que não se desperdiçaria. Por exemplo, e provando tal facto, é visível o apreço

que Gaspar Gil Severim tem por seu filho, Francisco de Faria Severim que escreveu o único diário até

agora existente sobre a Armada das Ilhas. Trocando as letras pelas armas, é reconhecida a sua escolha

pelo pai, que lhe recomenda uma série de moralidades, que serviriam de autêntico código de

comportamento cívico e honrado28.

26 Senhor aos três dias deste mez de Agosto, tivemos novas de hua nao da Índia em que vinha Dom Afonso, he que andava com almarias sem poder tomar esta ilha; Dom Fernando de Noronha capitão-mór, e António Pires do Canto, he eu em sua companhia a fomos buscar (...) aos quatro dias deste mes, partirá (...) porque o capitão-mór lhe fez a augoada he nós a proveremos de mantimentos he do mais necessário com toda a brevidade; as duas náos que ainda esperamos e Nosso Senhor queira trazer a salvamento, em chegando se proverÃo com toda a brevidade possível porque Dom Fernando trabalha muito nisto he no mais faz ho serviço de V. A. tão bem que dizem todos não ser vindo capitão-mór que tão bem o fizesse” (Carta do corregedor, 5 de Agosto de 1555, in A.A. , vol. II, p. 19).

27 Maria Fernanda Enes, “A Provedoria das Armadas no século XVII”, in Os Açores e o Atlântico ..., p. 150 e segundo informações aí citadas (grande parte delas obtidas no F. E. C., Provedoria das Armadas, B. P. A. P. D). Refira-se a propósito que este artigo de Fernanda Enes é bastante importante, pois que debruçando-se sobre a provedoria no século XVII, fornece dados novos completando a informação dada pelos estudos de Teodoro de Matos.

28 Artur Teodoro de Matos, Diário de bordo da viagem de Francisco Faria de Severim aos Açores em 1598, pp. 37-39.

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Vigilncia, defesa e abastecimento das naus.

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Que funções eram então cometidas ao provedor?

Teria que garantir um sistema de vigilância no arquipélago, atento à vinda das armadas da India,

Mina e outras partes e à existência de corsários que viam na zona o esteiro luzente da riqueza.

Preveniam-se as justiças do Corvo para logo mandar aviso ao provedor para ir buscar as naus e

abastecê-las até à Terceira29. Se porventura a armada das ilhas, destinadas a comboiar e defender as

carreiras, já estivesse no extremo ocidental das ilhas - lugar onde eram aguardadas as carreiras - era o

capitão-mor avisado e este passaria a informação ao provedor e às restantes ilhas, que para o efeito

possuiam também o seu sistema de vigilância: como entra o mes de maio paso cartas pera todas estas

ilhas pera as justiças dellas requerendo lhe da parte de vosa alteza mandem por vegias nos altos das

ditas ylhas vigiando ho maar se parese allgua nao ou naaos da yndia apareçendo mandem a ellas ou

vao e tendo algua necessidade as provejão ate cheguar a esta ylha me enviem lloguo recado a que

parte fiquam as ditas naos pera eu hir a ellas ou mandar as prover do necessaryo notefiquando lhe que

se venhão a este porto d'Angra ...30

A ameaça dos corsários franceses, na primeira metade da centúria de quinhentos e depois para

finais do mesmo século dos ingleses exigia essa apertada vigilância e a necessidade de manter a coroa

informada dos seus movimentos.

29 A ilha do Corvo funcionaria assim como o farol da navegação chegada, e o ponto de alerta possibilitador da sua defesa.

30 Relatório de António Pires do canto ao Rei em 1571/1572, Apud. Artur Teodoro de Matos, “As Escalas do Atlântico no século XVI” in A Viagem de Bartolomeu Dias... ,p. 59. Este aspecto da vigilância também é definido no Regimento do Provedor das Armadas de 1575: o dito provedor terá cuidado em cada hum anno nos tempos que se esperão as náos da ìndia (...) advertir as justiças da ilha do Corvo que tenhão muito cuidado de ordenar, e fazerem que haja nella vigia de dia e noute nos lugares que devem de ser para que possão ser vistas della as ditas náos quando vierem, e que tanto que as virem e mande avizo que se venham a ilha Terceira (...) onde acharam recado no dito provedor do que ouverem de fazer, e asim que o avizem se andão cossairos na paragem da dita ilha, e quantos navios sam, e para que parte andam. Se a armada se encontrava já nas ilhas seria o capitão-mór a dar o aviso e em caso de avistarem corsários se faria sin por fogos de quantos navios são. A legislação quanto à passagem pela Terceira era rigorosa: pela Terceira não devem passar as náos sem se proverem do que houverem mister e que o provedor obrigue aos mestres e senhorios dos ditos navios que se não partam do dito porto sem a sua ordem sob o risco de correrem em pena. (Artur Teodoro de Matos, “O Regimento do Provedor das Armadas nos Açores de 1575”, in A Abertura do Mundo ..., p. 44). Aquele relatório terá contribuido para a elaboração deste Regimento de 1575.

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Registe-se o temor pelos corsários, apresentado por oficiais, provedores e câmara em várias

comunicações ao Rei: em 1543, aquando da sugestão para a fortificação das ilhas acrescentava-se o

facto d'os franceses serem tão dessarazoados que justo vel injusto tomam tudo o que podem,

principalmente aquilo com que lhes parece que enfraquecem seus imigos31.

Havia também que precaver a defesa e segurança das carreiras no mar e em terra assim como

cuidar da sua carga, muitas vezes atribulada pelo negócio ilícito.

Os navios da Mina deveriam fazer a viagem para Lisboa juntamente com os da India, pelo que

facilitava a defesa uma vez que se faria a comboiagem em conjunto e após o desembarque dos cofres de

ouro. Contrariando as restrições do desembarque de mercadorias o ouro da Mina e América era

desembarcado a fim de se impedir o seu assalto; o seu transporte far-se-ía logo que estivessem

garantidas as mínimas condições de segurança 32.

31 Acerca da ilha Terceira diria Linschooten que tem quinze ou dezasseis léguas de circuito, com rochedos altos e sobranceiros, de que é cingida, como se fossem muralhas levantadas pela natureza, que a tornam inexpugnável. E onde quer que faltem esses rochedos, existe sempre fortaleza de boa defensão (...) o que é uma referência às virtualidades da defesa e vigilância da ilha, quanto mais não seja pela bendita existência de grandes montanhas e onde em todas elas há guardas e sentinelas colocadas (...) que olham para o mar a fim de que os governadores e capitães sejam avisados a tempo de se porem em prevenção ( Linschooten,”Navigation et Itenerarium in Orientalem sive Lusitanorum Indiam”, (tradução de José Agostinho) in B. I. H. I. T., vol. I, pp. 150-151.) Saliente-se inclusivé a necessidade de armar as gentes das ilhas como se pode ver na carta a El-Rei de Manuel Pacheco de Lima,ouvidor de Angra, de 19 de Março de 1552: O capitão Manoel Corte Reall me mandou ho ano pasado a esta ilha hum regimento e ordenaçam que V. A. mandou fazer acerca das armas que todos seus vasallos seram hobriguados a ter e do llamçamento dellas as quaes aviam de vir do reino e ate ora nam vieram: havia no allmazem de V. A. certas espinguardas e alcabuzes, praticamos Pero Annes do Canto e o contador e eu que seria bem e serviço de V. A. pera quando comprise que se allguas pesoas dos moradores da cidade as quisesem tomar lhas desem com obriguaçam de as emtregaarem quando lhas pedirem, e asy se fez e muytas pesoas as tomaram. (A. A. , vol. IV, p. 67-68).

32 Artur Teodoro de Matos, " Os Açores e a Carreira das Índias no século XVI", in separata do B. I. H. I. T., vol.XLV, Tomo II, 1985, p. 98. Como se pode depreender também no que o Rei estabelece no regimento do provedor de 1575: se virem alguns dos ditos navios da Mina antes de chegarem as náos da Índia esperarão para virem com ellas, (...) e tirar se ham em terra em poder de algua pessoa certa e segura que parecer ao dito provedor e provedor de minha fazenda e ao corregedor fechados em hua arca de duas fechaduras, de que tera hua chave a tal pessoa, e outra o escrivão de cada hum dos ditos navios (...) e tanto que forem tirados os ditos cofres se hiram os cappitais dos ditos navios nelles ajuntar com a armada que for esperar as náos e amdaram com ella até virem as ditas náos (...) Se os navios vinham muito “desbaratados” em tal estado que não devem esperar as ditas náos, nem devem vir nellas os cofres pella dita rezão se tirarão delles os cofres e virão na náu ou navio do capitão-mór das ilhas. (Artur Teodoro de Matos, “O Regimento do Provedor das Armadas nos Açores (1575)”, in A Abertura do Mundo ..., p. 48).

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Lembre-se ainda que por vezes a constituição da armada das ilhas era insuficiente, havendo

necessidade do provedor armar outras embarcações à custa da Fazenda Real. Nos anos de 1540, 1544,

1550, 1551 e 1555, não havendo armada das ilhas o provedor mandou armar navios para irem ao Corvo.

Em 1532, 1536 e 1549, Pero Anes do Canto reforçou a mesma armada 33. Este reforço era feito não só

com peças de artilharia e embarcações mas também com gentes. O mesmo acontecia perante a

necessidade da armada das ilhas ter que se desdobrar quando a espera, das naus atrasadas das indias, na

Terceira não se poderia fazer mais ...34

A coroa enviava bombardeiros de Lisboa a fim de incorporarem as naus que o provedor

mandava armar como aconteceu em 155035. Em 1552 o mesmo provedor é encarregado de recrutar e

ensinar em quatro meses 20 homens para servirem de bombardeiros da armada das ilhas que ele

organizasse e dos quais seriam escolhidos os 12 melhores36.

Para evitar o contrabando proibia-se o desembarque de passageiros que salvo raras excepções,

teriam a permissão do provedor. Essa proibição refere-se ao regimento de 20 de Abril que determinava

que só uma única pessoa escolhida pelo capitão pudesse desembarcar a fim de tratar de tudo o que fosse

necessário 37. No regimento do Provedor das Armadas também é definida esta situação da qual

citaremos o seguinte: ... que pessoa algua dellas não saya em terra, sob penna de serem prezos os que

dellas saírem, e aos cappitãis dellas não dem para isso liçença, e que avendo algua cauza para dar a

33 Cf. Artur Teodoro de Matos, "Os Açores e a Carreira das Índias no século XVI", in Estudos de História de Portugal, Volume II - Séculos XVI - XX, homenagem a a. h. de Oliveira Marques , Lisboa, Eitorial Estampa, 1983, p. 98. e Separata do B. I. H. I. T., vol. XLV, Tomo II, 1986, p. 98.

34 E assentandosse que se venhão alguas das ditas naos por não poderem ou não deverem de esperar, e não havendo na Armada tantos navios que se possão tirar della os que forem neçessários para as acompanhar e trazer com seguridade (...) e não havendo outros navios no dito porto dos que forem vindos a elle que possam dar goarida a tal. Nao, ou naos com que possam vir segurar ou tendo tais novas de cossairos que obriguem a se engroçar a dita armada que houver de ficar ...”O provedor e os ajudantes discutiriam o que se deveria fazer e os navios que se deveriam armar à custa da fazenda real. (Artur Teodoro de Matos, “O Regimento do Provedor das Armadas” in A Abertura do Mundo ..., pp. 46-47).

35 “Carta de 19 de Dezembro de 1550 do provedor do armazém do reino a Pedro Annes do Canto”, in A. A., XII, p. 415.

36 Cf. Artur Teodoro de Matos, "Os Açores e a Carreira das Índias no século XVI", in Estudos de História de Portugal,... p. 98. e Separata do B. I. H. I. T., vol. XLV, Tomo II, 1986, p. 99.

37 ”Regimento para as naos da India nos Açores, de 20 d'Abril de 1520”, in A.A., vol. III, p. 29-33.

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dita liçença a algua pessoa, lho faça saber, e sendo ella tal que pareça que se lhe deva de dar o

deixará sair sendo primeiro buscado pellos goardas ...38

Estas excepções relativamente à saída de passageiros são já referidos no extenso relatório que o

provedor António Pires do Canto envia ao Rei (1571-72)39. Aí se refere que se permitia ao capitão o

envio de um homem a terra para lhe comprar mantimentos e lavar roupa. Se algum ilustre fidalgo

estava a bordo podia fazer o mesmo - uma espécie de pagamento pela sua qualidade e pelos seus

serviços: é um apontamento do estatuto social que também era ressalvado nas leis que regiam a

navegação e nos tratos a bordo, nomeadamente no uso de penas relativas a devassas 40. Mestre, piloto,

marinheiros e bombardeiros tinham igual permisso e os restantes um comprador por grupo de 3 ou 4.

Quanto aos doentes esses desembarcavam logo a fim de se tratarem à sua custa quando o podiam ou a

fim de serem conduzidos ao hospital por conta da fazenda real. Após o desembarque destes o provedor

e o corregedor faziam a busca no cais e no regresso eram acompanhados por um guarda e escrivão 41.

Mais uma vez os oficiais régios em acção permanente.

Estes aspectos são por demais evidentes da apertada vigilância ao contrabando, são verdadeiros

indícios e provas desse mesmo contrabando.

Passageiros e tripulantes também ansiavam vender em terra alguns produtos, fazerem o seu

negócio e adquirirem alimentos. Mas só alguma mercadoria poderia ser transportada (camisas, toalhas,

surucos, arroz e cocos) causando isto o descontentamento dos das naus e dos negociantes em terra: Que

38 À frente o Rei determina que poderão saír de cada uma das náus duas pessoas “que os que nelas vierem ordenarem lhes hirem comprar refresco ou mantimentos” e lhes dará o provedor seus assinados de licença. (Artur Teodoro de Matos, “O Regimento do Provedor das Armadas nos Açores (1575)”, in A Abertura do Mundo..., vol. II, p.47).

39 Relatório de António Pires do Canto ao Rei em 1571/1572, Apud. Artur Teodoro de Matos, “As escalas do Atlântico no século XVI” in A Viagem de Bartolomeu Dias... , pp. 61-62.

40 Relativamente ao estatuto social veja-se o regimento dado a D. António de Ataíde, capitão-mór da armada da Índia de 1611: “porém em pena de morte e cortamento de membro não podereis condenar fidalgos (...)”. A matéria de jurisdição é aí tratada objectivamente estabelecendo-se a alçada do capitão, dos seus poderes, e definindo-se as penas do cível a aplicar segundo o estatuto social dos navegadores. (Francisco Contente Domingues e Inácio Guerreiro,” D. António de Ataíde, capitão-mór da armada à Índia de 1611”, in A Abertura do Mundo..., p. 64).

41 Relatório de António Pires do canto ao Rei em 1571/1572, Apud. Artur Teodoro de Matos, Ibid., pp. 55, 61 e 62.

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das ditas naos não tirase cousa algua sallvo allgus surucos, camyzas feitas allguas toalhas cocos e

aRoz que os homens pobres que vinhão das dytas naos vendirião para se proverem de mantimento e

asim hos que estivessem doentes em terra e que outra cousa nenhua se tirase isto asim se usou em vyda

de meu pay eu este anno apertei mais ho neguoçeo de que hos das naos e os neguoçeadores da teRa

fiquarão de myn mall contentes ...42

A tripulação da armada das ilhas tinha permissão para o desembarque, pois não guardavam

nenhum tesouro nem mercadorias raras ... O capitão-mor tinha até dificuldades em recolher os

marinheiros, que por razões várias se escusavam ao cumprimento do seu serviço. O provedor, na

contingência da armada seguir para o Corvo sem grande parte da tripulação, propõe ao rei sanções para

os que ficam em terra e para a população conivente que os albergava: em os homens que fogem das

naos (...) e se vem ascondidos a teRa e voso serviço mandar que eu posa por penas as pesoas que as

aguasalharem e recolherem (...) os da armada de vosa allteza se vem a teRa e nunqua hos mais pode

recolher ho capitao moor e fiqua sem gente (...) hus por se fazerem doentes outros por não quererem e

se escondem e muytos destes são cryados de vosa allteza pareçe senhor forte cousa levarem moradia

soldo mantimento e virem se por nesta çidade e lleyxarem a armada de vosa allteza nisto senhor a

mister prouvese ...43

Os capitães da mesma armada gozavam de liberdade para visitar as naus das Índias e segundo

o provedor precauções haviam que ser tomadas, a fim de evitar que alguma mercadoria "voasse". 44 A

42 Relatório de António Pires do canto ao Rei em 1571/1572, Apud. Artur Teodoro de Matos, Ibid., pp. 66-67.O provedor pede ao rei que mesmo o que se estabelecera para o comércio dos pobres seja por provisão do rei para legalizar o acto.

43 Id., Ibid. , p. 72.

44 Item parece voso serviço que vem e todos os do Reino e capitais das caravellas day não vão as ditas naos nem mandem seus bateis se não quando delles ouver neçessidade (...) que devia vosa alteza mandar em seu regimento ao capitam moor que gente de sua armada de nenhua callidade sem sua licença ou mandando fose as ditas naos (...) e que enquanto ho dito capitão estivese na nao mandase aredar ho batel da nao e que os remeyros delle nao entrasem na nao nem hos da nao no batel por se não acomteçer tirar se algus baRis de cravo e llevarem se a capitaina domde hos eu ja fui tirar e ei por escuzo dizer em que tempo nem em que armada somente cumpre isto asim mujto e servjço de vosa allteza e boa guoarda da sua fazenda ... (Id., Ibid., p. 65.)

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tripulação das naus da Mina e Brasil também desejavam esse regime de livre circulação e tão grande

era a vontade de transgredir as regras quanto a dificuldade do corregedor em as fazer valer45.

Também a ancoragem das embarcações exigia cuidadosa legislação devendo aquela de ser curta

e fazer-se ao largo. No citado documento de António Pires do Canto, entre muitas determinações

referentes à vigilância e segurança, o provedor, definia minuciosamente a maneira como as naus

deveriam ser ancoradas, pretendendo-se evitar quer a pirataria, o contrabando ou possíveis problemas

com o mau tempo46.

Já antes e através de uma provisão régia de 11 de Maio de 1545 as naus são mandadas surgir de

largo em lugar limpo, donde se possa fazer à vella quando sobrevier tempo que seja forçado

desamarrar-se 47.

Segundo Vitorino Magalhães Godinho as naus não poderiam permanecer mais de três dias

mesmo sob o pretexto de haver corsários, mas como se depreende nem sempre era possível48.

O rei no regimento do provedor das armadas a dado passo referia o seguinte: Nos ditos tempos

em que se as ditas Naos esperão em cada hum anno, o dito provedor fará apregoar na dita çidade que

45 Não ha quem hos tenha nos navios e como estão ancorados perto de tera deytam se a nado e saem em teRa e mandam se a outros navyos domde saem desconhecidos de vosa allteza mande... que nisto ey de ter ... (Id., Ibid., p. 70). Esta quetão já é salvaguardaregimento do provedor das armadas: vindo algum navio, ou navios da Mina, com os cofres que de lá trazem, não saira pessoa foraa delles em terra, nem barco, nem navio algum chegará a bordo delles, e quem o contrário fizer encorrerá em pennas (...) e sendo neçessario serem os ditos navios providos de mantimentos e refrescos, o dito provedor lhe fará levar a bordo por pessoas quos vendam, os quais hiram em hum só barco (...) com goardas de confiança para que não possa tirar ouro, nem fazenda alguma dos ditos navios (Artur Teodoro de Matos, “O regimento do provedor das armadas nos Açores (1575)”, in A Abertura do Mundo ..., pp. 47-48). Note-se que todas estas medidas e diligências acompanhadas de legislação são assiduamente retomadas e relembradas.

46 Quando chegam as naus o provedor mete-se num batel e leva consigo os guardas e o piloto, além dos escrivães e do alcaide ficando o corregedor em terra a prover o batel que ajudará à ancoragem. O provedor, o corregedor e os dois escrivães após a ancoragem das naus entra nelas ficando o alcaide fora nos bateis com os juizes e tabeliães para olharem que nenhum batel chegue às ditas naus. (Relatório de António Pires do canto ao Rei em 1571/1572, Apud. Artur Teodoro de Matos, “As Escalas do Atlântico no século XVI” in A Viagem de Bartolomeu Dias... , pp. 60-61).

47 Cf. Artur Teodoro de Matos, "A Provedoria das Armadas da Ilha Terceira e a Carreira das Índias no século XVI", in II Seminário Internacional de História Indo-Portuguesa ..., p. 68.

48 Vitorino Magalhães Godinho, Os Descobrimentos e a Economia Mundial, Lisboa, Arcádia, 1965, vol. II, p. 100. Aspecto que também já era definido no regimento das naus de 1520.

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vindo as ditas naos pessoa algua não vá a bordo dellas // andando a vella, nem estando surtas ... ,

salientando-se em seguida as respectivas penas a quem incorrer em tal49. A aproximação de qualquer

barco junto das naus era assim proíbida e por isso, nem os pescadores da noite poderiam exercer a sua

actividade junto delas. Havia mesmo a necessidade de afastar "a bom espaço" os navios existentes no

porto, não fosse a carga tombar para outro barco ou cair "por acaso" ao mar, ao qual se atirava de bom

grado um ou outro mais atento e de prévio aviso conhecedor50.

No regimento do provedor das armadas o Rei ainda determina que as naus "andarão a vella na

paragem da dita ilha terceira esperando pellas que ouverem de vir, e não surgirão no Porto da dita ilha

pelo risco que nisso correm (...) e quando por algua cau[sa] não pudessem deixar de surgir será em

trinta braças de altura e mais em lugar limpo, e que com qualquer tempo que sobreviver se possam

seguramente fazer á vella"51.

Porquê todo este cuidado? Vejamos os factos: em 1569/70 o guarda-mór das naus da India

Francisco de Sá reaveu muito cravo e canela que das naus se tirava às escondidas 52. Em 1577 detectou-

se na Rocha do Monte Brasil do lado do mar, um barril e um fardo com anil53 e vários sacos com

canela cravo e lacre; no ano seguinte num fardo de arroz detectou-se uma arroba e seis arráteis de

pimenta54 . Em 1538 era absolvida a mulher de um piloto de uma nau de Castela que vinha do Porto da

49 Artur Teodoro de Matos, “O Regimento do Provedor das Armadas nos Açores (1575)”, in A Abertura do Mundo ..., p. 45. A este propósito veja o estabelecido para os capitães da Armada das Ilhas - ver supra nota 45.

50 Item como as naos sam ancoradas todos os navjos que estam no dito porto se aRedam dellas a bom espaço. Que batell de pescar nem outro nehu saya de noyte do porto. (Relatório de António Pires do canto ao Rei em 1571/1572, Apud. Artur Teodoro de Matos, “As Escalas do Atlântico no século XVI” in A Viagem de Bartolomeu Dias... , pp. 65 e 75).

51 Artur Teodoro de Matos, “O regimento do provedor das armadas nos Açores (1575)”, in A Abertura do Mundo ..., p. 46.

52 Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, Liv. IV, p. 165.

53 Vd. Apêndice, Documento nº 2.

54 Apud. Artur Teodoro de Matos, “A Provedoria das Armadas da Ilha Terceira e a Carreira da Índia no século XVI”, in II Seminário Internacional de História Indo-Portuguesa ...p. 72.

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prata e a quem havia sido encontrada na sua câmara certa quantidade de especiarias depois de tocar os

Açores55.

São por demais evidentes os exemplos de negócio ilicito e as precauções a tomar contra a

marginalidade destes circuitos económicos. Nos portos de segunda categoria a fiscalização quanto ao

contrabando não seria tão eficaz por motivos óbvios e deve-se ter em conta que as naus por vezes

ancoravam neles, o que criaria possibilidades a um contrabando facilitado. Nos portos principais o

prevaricador teria que ser mais perspicaz ou beneficiar de maior conivência. Outro dos aspectos que se

pressupõe ser tarefa do provedor, trata-se do zêlo pela Fazenda Régia em caso de naufrágio. Em 1615

aquando do naufrágio da nau “Nossa Senhora da Luz”, junto ao Faial, o provedor deslocou-se para

procurar a mercadoria por toda a parte em que houvesse possibilidade de ter saído a fim de que tudo

fosse posto em segurança. Não obstante o empenho do monarca e a solicitude do provedor, não se

impediu o saque à fazenda, bem como as fraudes e excessos praticados pelo corregedor56.

Segundo se consta, entre os "bafejados" pela sorte de poderem ir às naus, estavam os irmãos de

Angra e os religiosos dos mosteiros que lá iam pedir as suas esmolas. Só podiam trazer algumas

mercadorias, mas o provedor Pires do Canto dizia que eram "claustrais, um pouco mais soltos no pedir

e no arrecadar". Por aqui podemos ver os abusos que seriam cometidos e daí o regimento de 1575 vir

definir esta situação precisamente para os evitar57: E porque sou informado que nas ditas naos quando

chegam à dita ilha se pedem as pessoas que nellas vem esmollas para os mosteiros da dita cidade, e

casa da Misericordia della, e se não ouvesse ordem e limitação das pessoas que as vão pedir poderia

55 “Carta de 25 de Março de 1538, absolvendo Anna Pires da perda de bens em que incorreo Pantaliam Fernandes seu marido, nas Ilhas dos Açores”, in A.A., vol. V, pp. 151-152.

56 Maria Fernanda Enes, “A Provedoria das Armadas no século XVII”, in Os Açores e o Atlântico (séculos XIV-XVII) ..., segundo fontes aí citadas, pp. 151 e 158. Questões ainda se levantam em 1620 acerca dos dinheiros gastos pelo corregedor na recuperação da náu naufragada. Por aqui já se vêem os conflitos jurisdicionais entre o provedor e o corregedor, assim como o negócio ilícito feito por oficiais do rei.

57 que hos da miserycordia desta cidade ... os lleixasemos hir as naos pedir suas esmollas comtanto que o que lhes desem não fosem couzas defezas somente dinheiro cocos aRoz allguas siroullas, etc. Relatório de António Pires do canto ao Rei em 1571/1572, Apud. Artur Teodoro de Matos in “As escalas do Atlântico no século XVI” in A Viagem de Bartolomeu Dias.. , p. 67.

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haver alguns inconvenientes ..., Hey por bem que pessoa algua não vá as ditas Naos aos ditos petitorios

sem licença do dito provedor ...58

As esmolas não seriam de especiarias nem drogas mas de "ençenço e panos de algodão brancos e

pintados e arros" e se as trouxessem em algum fardo ou "outra couza serrada" terião que o abrir à frente

dos guardas 59.

No interior do navio colocavam-se guardas e dia e noite um batel com guarda, escrivão e 3 a 4

homens de melhor consciência e ajuramentados que vigiavam as naus ancoradas. Estes eram

revistados em chegando a terra ou não fosse a consciência cair à água com alguma carga apetecida.

Toda a noite o provedor tinha uma barca prestes com gente pera acudir a quoallquer neçessidade e

por vezes à noite e não a oras sertas vai o provedor correr as ditas naus, ver como estão e como

trabalham os guardas60.

Em terra os quadrilheiros policiavam o porto e os lugares da costa onde algum batel mais ousado

pretendesse sair61. O rei determinava o mesmo no Regimento do provedor apelando à vigia do porto da

ilha pelos guardas e pessoas ordenadas e havendo escassez de gente o corregedor e o provedor deveriam

ordenar "os offiçiais de justiça os que se ouverem mister ...goardam o dito Porto de maneira que se não

possa tirar fazenda algua das ditas naos e navios." 62

Aspecto curioso é o facto de se estimular a denúncia dos contrabandistas, fomentando-se a

partilha pelo denunciante da mercadoria apreendida63.

58 Artur Teodoro de Matos, “O Regimento do Provedor das Armadas nos Açores (1575)”, in A Abertura do Mundo ..., p. 48.

59 Id., Ibid., pp. 48-49.

60 Relatório de António Pires do canto ao Rei em 1571/1572, Apud. Artur Teodoro de Matos “As escalas do Atlântico no século XVI” in A Viagem de Bartolomeu Dias.. , pp. 62-63.

61 item se provee por tera que os quadrylheiros de noute vigiam o porto e llugares da costa omde bateis podem sajr pera que acontecendo allgua cousa destas se prendão os mallfeitores e disto tem ho coRegedor espesiall cujdado ... (Id., Ibid., p. 63).

62 Artur Teodoro de Matos, “O Regimento do Provedor das Armadas nos Açores (1575)”, in A Abertura do Mundo..., p. 48.

63 Prática que principia bastante cedo. A confirmá-lo temos o alvará régio de 20 de outubro de 1511, que ordenava a entrega de uma percentagem de mercadorias a Gaspar Leitão, in A.A., vol. V, pp.

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Abastecer os navios era outra das preocupações do provedor e nem sempre os géneros da ilha

eram suficientes64. Praticamente todas as cartas do Rei recomendavam a provisão de todo necessário

constituindo este todo , não só alimentos, mas também apetrechos, equipagem e armas. Tornava-se por

isso necessário a existência de estruturas de apoio à navegação, para seu conserto e aviamento, assim

como dispôr-se de pessoal de estiva65.

O abastecimento era de água, biscoito e carne ou peixe e algumas vezes vinho. A viagem a

percorrer até Lisboa já era curta e por isso não exigiria grandes mantimentos, contudo a necessidade de

protecção face aos possíveis corsários ou de reparação das avarias levava a uma estadia prolongada66.

A falta de cereal devido à obrigatoriedade dos Açores exportarem para o Norte de África e

continente era preocupação do provedor. Este no ano de 1538 mostrava a discordância pelo monarca

mandar para Lisboa o que sobrava da exportação para o Norte de África, numa altura em que as

despesas com as naus atingiam a soma de 400 000 reis67.

A falta de carne e de pescado levava também à necessidade de por vezes se recorrer às restantes

ilhas do arquipélago68. Sempre que houvesse necessidade o provedor podia mandar tomar a quada

110-111.

64 Pergunto aos capytães dellas a neçessidade que tem de mantimento e (...) lho dou comforme o tempo que me pareçe que despenderão (...) e assim pera vjnte dias de vjagem daqui para o Reino ... (Relatório de António Pires do canto ao Rei em 1571/1572, Apud. Artur Teodoro de Matos, “As Escalas do Atlântico no século XVI” in A Viagem de Bartolomeu Dias.. , p. 61).

65 Artur Teodoro de Matos, "Os Açores e a Carreira das Índias no século XVI", in Estudos de História de Portugal,... p. 99. Nota curiosa é a missiva de 13 de Novembro de 1537 em que Pedro Anes do Canto dá a saber ao rei ter mandado cortar madeira de seus “cerrados”, que lhe haviam sido outorgados em satisfação de seus serviços em Àfrica, para se poderem construir navios destinados ao serviço da coroa e ilhas,(A.A.,vol. I, pp. 121-122).

66 Id., Ibid., p. 97,segundo fontes aí citadas.

67 “Carta de Pedro Anes do Canto ao Rei em 19 de Outubro de 1538”, in A. A., Vol. I, pp. 124-128.

68 Como se pode ver na seguinte passagem do Relatório de Pires do Canto: item el Rei voso avoo que deus que santa glória aja mandou provizão que quando nesta ilha não ouvese carnes pera suas armadas que meu pai pasase carta aos almoxarifes das ilhas debaixo e de S. Miguel para que enviassem a esta ilha ... e que o que as ditas carnes custassem por mandado do dito meu pai os almoxarifes mandava que os comtadores lhe levasem em conta jsto senhor por nesta jlha aver pouqua carne e nas outras ilhas aver mujta e milhor e mais barata ... (Relatório de António Pires do canto ao Rei em 1571/1572, Apud. Artur Teodoro de Matos, “As Escalas do Atlântico no século XVI” in A Viagem de Bartolomeu Dias.. , p. 73).

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cryador segundo as rezes que tivesem a carne necessária pera se as naos proverem ... 69 Mais uma vez,

era determinante e completo o poder do provedor, sempre atento às necessidades e à ponderação dos

custos.

Outras vezes era o almoxarifado que não dispunha de verba, não só para suportar os encargos na

compra de bens alimentares, mas também os custos para o pagamento de soldos 70. O limite das

despesas que atingiam por vezes proporções elevadas é fixado em 40 000 reis anuais71.

As exigências e açambarcamentos dos oficiais e tripulações também dificultava o papel do

provedor72. A armada de Lisboa por vezes exagerava no pedido e o provedor atento, recorria ao

abastecimento que achava justo e necessário, não podendo fazer mais ou melhor sem um regimento que

definisse tal acção73.

O provedor Pires do Canto alerta o rei para reduzir os custos e o tempo da aguada, propondo

que a armada do reino trouxesse 100 pipas para água pois custa mais ho coRegimento que compra llas

de novo74

69 Id., Ibid., p. 73.

70 O problema era explicado por Artur Teodoro de Matos pelo facto de os recursos serem magros ou da despesa com as armadas ser excessiva (Artur Teodoro de Matos, “A Provedoria das Armadas da Ilha Terceira e a Carreira da Índia no século XVI”, in II Seminário Internacional de História Indo-Portuguesa ... p. 67).

71 Id., Ibid., p. 67

72 Não eram só as naus das Índias que eram abastecidas, mas também a armada das ilhas. Esta mantinha-se por um período de 4 a 6 meses. Tinha uma média de oito navios, integrando 400 a 500 homens. Era abastecida em Lisboa de vinho, azeite, vinagre e por vezes de biscoito para 4 a 6 meses e carne e pescado para um mês.(Id., Ibid. pp.66-67).

73 O provedor Pires do Canto pede um regimento onde o rei declare a maneira que terá no dar dos mantimentos e das armadas que vem do Reino porque além do que trazem pedem outro dizendo que lhe apodreçe o bisquouto que se lhe foi o azeite que lhe apodreçeo a carne (...) e asim me pedem os capitais mores refresquo de bois vivos dizendo que asim he custume e regimento (Relatório de António Pires do canto ao Rei em 1571/1572, Apud. Artur Teodoro de Matos “As Escalas do Atlântico no século XVI” in A Viagem de Bartolomeu Dias.. , p. 69).

74 A proposta do provedor era para evitar os custos e o tempo que se tinha com recolha das pipas dos navios ancorados, a sua reparação e depois o seu transporte de novo para bordo.(Id., Ibid., pp. 63-64).

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A misso informativa, os oficiais da Provedoria e a eficcia do servio.

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O provedor teria ainda uma missão informativa. À chegada das naus o provedor deslocando-se a

bordo obteria informações dos capitães sobre a data da partida, o número de naus e respectiva carga,

local de afastamento das outras naus, notícias do Oriente, etc. Com estes elementos e com as

informações respeitantes a movimentos de corsários o provedor despachava para Lisboa um caravelão,

com um dos homens que viera nas naus e bom informador para saber dar rezam do que se lhe for

perguntando75. Convém salientar a tarefa das caravelas de aviso que era deveras importante. Tinham

por objectivo noticiar e detectar a existência dos piratas nos mares, comunicar as ordens régias às naus

entregando-lhes cartas, que continham todas as indicações acerca da rota e cuidados a ter à entrada da

barra do Tejo, além de estabelecer o contacto da provedoria com o reino e vice-versa. É através delas,

que o provedor solicita e recebe do monarca as informações e o necessário ao apresto das

embarcações76.

Finalmente, outra função mas somente documentada no século XVII consistia na assistência e

zelo com o carregamento de trigo para o Reino ou praças no Norte de África77.

Outra questão importante é o apelo que o provedor faz ao Rei para a necessidade dos

funcionários cumprirem o seu serviço e ajuda78. O Rei no regimento é atento a esta questão, pois

afirma que sendo o cazo que nos tempos em que se as ditas naos esperavam não esteja na dita ilha o

corregedor das ditas ilhas o dito provedor lhe escreverá que se venha a ella para se achar prezente na

75 Acrescentava ainda que sendo já chegada a armada das ilhas que foi esperar as ditas náos, o cappitam mór della fara a tal delligência, e enviara com o dito recado e o caravellão que para isso leva (...) , como é do seu regimento, dispensando assim o provedor desta tarefa. (Artur Teodoro de Matos, “O regimento do provedor das armadas nos Açores (1575)”, in A Abertura do Mundo... p. 46).

76 Maria Fernanda Enes, pp. 158-160.

77 Como se pode ver num documento de 1650, parece que tal tarefa decorria do seu oficío: por elle dito provedor ser das armadas à sua conta o expediente e provimento dos navios, assy dos que erão de S. Mag., como dos que andavão em seu serviço pera que com seu favor se fizesse a dita carga (dos trigos para Tãnger) com maes brevidade. (Id., Ibid., segundo fontes aí citadas, p. 153).

78 Item senhor ell Rei voso avoo por sua provizao tinha mandado que todollos taballiães desta cidade que meu pai os pudesse obriguar que fosem vigiar as ditas naos e com elle a elas e nos bateis dos mantimentos e que aquele taballiam que nisto fosse Revel (...) fizese diço auto e o suspendese ate merçe de vosa alltez e jso mesmo podese sospender ho allcaide não jndo para as couzas de voso serviço ... vosa alteza mande nisto prover por mujto coprir a seu serviço e boa guarda de sua fazenda ... (Relatório de António Pires do canto ao Rei em 1571/1572, Apud. Artur Teodoro de Matos “As Escalas do Atlântico no século XVI” in A Viagem de Bartolomeu Dias.. , p. 66).

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chegada das ditas Naos, e a ajudar no que comprir, e assim o escreverá ao Provedor de minha fazenda

nas ditas ilhas estando em algua outra dellas para que todos os trêz possão melhor prover, e ordenar

no que se ouver de fazer79.

Entre os principais auxiliares do provedor salientam-se os escrivães e sobretudo o corregedor que

estarão com o provedor à chegada das naus da India para obter as informações a enviar ao Rei, e

havendo na dita Nau, ou Naos alguns cazos tais que por bem de justiça se deva de prover e acodir

antes de as ditas naos partirem (...)o dito corregedor proverá nelles como lhe parecer rezão, e como for

a direito80.

A opinião quanto à determinação sobre a vinda ou espera das naus e quanto à necessidade do

armamento de outras embarcações para engrossar a Armada das Ilhas, está a cargo do provedor, do

corregedor e do provedor da fazenda, juntamente com os capitães das naus e o Capitão-mór da

Armada.E do que por assentado se farão dous autos asignados por todos, hum delles trará o cappitam

de tal Náo, ou Náos e outro ficará ao dito provedor para nas costas della passar mandado para se os

ditos navios armarem, o qual ficará ao almoxarife para a conta e despeza que fizer ...81 São os mesmos

oficiais que dão a opinião quanto à pessoa certa e segura para ficar com os cofres de ouro da Mina 82. É

também o corregedor que fica em terra a guardar o Porto e juntamente com o provedor ordena os

oficiais de justiça necessários a essa guarda83. É ainda o corregedor que em terra provê o batel que

ajudará à ancoragem.

79 Artur Teodoro de Matos, “O Regimento do Provedor das Armadas nos Açores (1575)”, in A Abertura do Mundo.., p. 45. Maria Fernanda Enes refere-se também à importância decisiva do provedor da fazenda, notando uma sobreposição entre a jurisdição deste e a do provedor das armadas. Este dava ordens mas a sua efectivação dependia daquele. Inclusivé o Rei por vezes, ultrapassando a autonomia do provedor pedia informações e fazia solicitações ao provedor da fazenda. (Maria Fernanda Enes, Ibid., p. 150, segundo fontes aí citadas).

80 Artur Teodoro de Matos, Ibid., p. 46.

81 Id., Ibid., pp. 46-47.

82 Id., Ibid., p. 48.

83 Id., Ibid. p.48.

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Os escrivães também estão no primeiro plano, tanto para mais que há sempre a necessidade de

fazer autos e notificações. Por isso mesmo, estão junto do provedor quando chegam as naus. O

alcaide, os juizes e tabeliães, após a ancoragem das naus, ficavam fora nos batéis provendo à vigia e

guarda84.

Essencial era a existência de um piloto, e o provedor Pires do Canto apela à necessidade de o

Rei dar provisão ao trabalho de um piloto de terra, sempre necessário para mostrar onde as naus se

hão-de ancorar, e para ter a seu cargo o batel grande das naus, a barca do provedor que espera as naus,

além dos remos, cordoalha, munições e bateis das naus. A propósito o provedor toma uma casa por três

mil reais cada ano para que estas coisas o dito piloto as guarde85.

Finalmente há que fazer referência ao papel do almoxarife que terá de prover o financiamento do

que for necessário, mesmo dos contratadores particulares, pois era serviço do rei e do bem comum: Ao

almoxarife que hora é na dita cidade e aos que pello futuro forem mando que que dem por mandados

do dito provedor tudo o que fôr necessário para o provimento das ditas naus da India e das Armadas, e

cobrarão dos feitores delas Letras que ham de passar do dinheiro que lhe for dado para as ditas

despezas para os contratadores das ditas Naos (...) pagarem a quinze dias vista ....86

Nas outras ilhas, a actuação do provedor era exercida pelo almoxarifes, feitores ou juiz da

alfândega, deslocando-se o provedor em casos especiais87 . O que interessa contudo destacar é a

funcionalidade de um dispositivo, que estava a cargo de vários funcionários, que trabalhavam em

conjunto e cujas esferas parecem estar mais ou menos definidas. Este dispositivo, segundo Fernanda

84 Relatório de António Pires do canto ao Rei em 1571/1572, Apud. Artur Teodoro de Matos, “As Escalas do Atlântico no século XVI” in A Viagem de Bartolomeu Dias.. , pp. 60-61.

85 Id., Ibid., p. 68. M. F. Enes ao referir-se aos oficiais secundários do Rei informa da existência de um guarda das naus, do patrão das naus e ribeiras e do escrivão da provedoria. O patrão das náus guardaria os apetrechos nauticos utilizados nas embarcações de S. Magestade (esta tarefa que no documento de Pires do Canto caberia ao piloto, não entra nacessariamente em contradição com a função daquele), preparava todas as coisas necessárias para manter as naus em segurança no porto e cuidava da reparação das embarcações, sob ordem do provedor. (Maria Fernanda Enes, Ibid., pp. 152-153, segundo fontes aí citadas).

86 Artur Teodoro de Matos, “O Regimento do Provedor das Armadas nos Açores (1575)”, in A Abertura do Mundo.., p. 50.

87 Vd. Apêndice, Documento nº 3.

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Enes, teria no século XVII uma estrutura mais complexa. Por exemplo, sabemos que o provedor nunca

esteve isolado no seu serviço, pedindo a opinião e conselho de seus funcionários. Contudo, na segunda

metade do século XVII, hà também a referência a uma junta da contribuição de donativos das ilhas

para aprovisionamento das naus. Funcionaria como conselho do provedor, constituido pelas dignidades

da Sé, prelados, ministros da fazenda, e justiça das ilhas88.

Outras preocupações do provedor são visíveis em várias chamadas de atenção ao Rei. Por

exemplo, Pires do Canto informa o Rei da não existência de uma casa, que servisse para armazem e

que a alfândega existente, sendo pequena não cabia nada nela, não estando a mesma em bom estado.

Assim o provedor fazia o serviço de guarda dos apetrechos numas casas que possuia junto do cais e

propõe ao Rei tomar-se uma casa a par do porto onde estivessem estas munições cobres coiros

cordoalha (...) e desta caza tivese carguo ho (...) almoxarife e que tudo se entreguase e caReguase em

Receyta (...)89

O mesmo provedor alerta o Rei para a necessidade de se fazer um inventário da artilharia,

munições, arcabuzes, armas e pólvora e que tudo fosse entregue ao almoxarife careguando lhe em

Receita porquanto ... pareçe ate aguora ho negoçio desta artelharia não estar bem ordenado e andar

em llivro d’allfandegua mesturado com outras cousas ...90 O mesmo pede ao Rei o renovamento

constante da artilharia a ser utilizada e que fosse meuda que he a que mais serve pera caravellas já que,

a que o provedor possuia era grosa e não serve senão para defendimento da TeRa91.

Chegando algum navio, que não dando Rezão domde vem às justiças da TeRa vão ao dito

navio tirar “devasa” de onde vem. Pires do Canto pergunta ao Rei a maneira a ter com navios que

tragam artilharia de bronze com as armas reais, não mostrando como lhe fora dada ou de que maneira a

trazem92. É que todo o cuidado é pouco e toda a cautela é escassa para precaver o imprevisto.

88 Maria Fernanda Enes, Ibid., p. 152, segundo fontes aí citadas.

89 Relatório de António Pires do Canto ao Rei em 1571/1572, Apud. Artur Teodoro de Matos, “As Escalas do Atlântico no século XVI” in A Viagem de Bartolomeu Dias.. , pp. 74-75.

90 Id., Ibid., p. 71.

91 Id., Ibid., p. 71.

92 Id., Ibid., pp. 70-71.

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Certamente a actividade do provedor mereceria queixas de quem porventura se sentisse lesado

com as suas determinações e responsabilidades. Havia muita gente (oficiais, pilotos, capitães,

comerciantes, gentes das ilhas), que esperando um lucro fácil ou uma livre actividade em redor da área

funcional do provedor, entraria porventura em conflito. Inclusivé os custos das armadas e mais

concretamente o pagamento aos soldados do presídio, levavam os prelados a queixarem-se ao rei por o

dinheiro destinado aos seus vencimentos, ser gasto integralmente com os soldados. Por sua vez, o

presídio sentia-se defraudado em benefício das naus, sendo os rendimentos do pastel(1608) e as

consignações aplicadas à gente da guerra, gastos nos socorros e abastecimentos às armadas93.

Mas que se poderá afirmar quanto à eficácia deste serviço? As diligências tomadas pela coroa,

provedor e oficiais colaboradores, a abundante troca de correspondência, os avisos, as precauções, as

responsabilidades realçadas e o sentimento do dever cumprido, parecem ser pontos que enaltecem o

serviço da provedoria das armadas. Pondo de lado os negócios ilícitos entre os oficiais, as especulações

que alguns desenvolvem à volta deste serviço, e as dificuldades que ele implicava - pela fraqueza de

recursos ou pela conciliação de esforços - numa área espartilhada pelo poder, pode-se depreender uma

certa eficácia, que torna o serviço imprescindível, ao garante de uma integridade espácio-comercial e

marítima. É interessante a análise de Linschooten relativa ao serviço prestado na Terceira, e que

apresenta uma opinião diferente. Contava ele, que após uma tempestade resultante dos fortes ventos do

Sul, as naus que estavam no porto deram tiros de canhão pedindo socorro, estando a maior parte dos

oficiais em terra conforme o mau hábito dos portugueses que não haviam deixado a bordo das náus

senão algum marinheiro e escravos94 . Isto demonstrará uma forte crítica aos oficiais, que descurando as

suas responsabilidades pouca cautela teriam com as suas cargas. A nau de Malaca naufragara perdendo

valiosas mercadorias, pois era a mais rica de todas as náus, e trazia (...)muitas preciosidades, tais

como sedas, damascos, objectos de oiro e prata, porcelanas e outras coisas de valor, cujos fardos

andavam à tona de àgua e vinham dar à costa, recolhendo-se ainda alguns (...) e quem sabe, outros

93 Maria Fernanda Enes, p.149, segundo fontes aí citadas e Artur Teodoro de Matos, "Os Açores e a Carreira das Índias no século XVI", in Estudos de História de Portugal..., p. 97,segundo fontes aí citadas.

94 Linschooten, Op. cit., p.148.

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seriam recolhidos por aqueles a quem a sorte e a “esperteza” não haviam de faltar. A maior parte das

mercadorias se perderam ou estragaram, sendo os despojos levados para a alfândega, não havendo

nenhuma consideração pela condição miserável dos navegadores que tinham sofrido com a grande

perda. Nem se contentaram com a caução que essa pobre gente queria prestar, prometendo equipar

caravelas e dar boa fiança, para o transporte a Lisboa e a seu próprio risco. Mas então onde estaria a

dignidade e a responsabilidade dos oficiais, que anos antes davam tão boa conta do serviço? Para

conseguir o despacho pronto destas harpias é preciso dar-lhes presentes, de outro modo far-vos-hão

esperar três ou quatro meses antes de revelarem contas comnosco. E se hà qualquer coisa de

estimação das náus é para eles. É verdade que prometem pagar, mas fazem o que querem e não hà

meio de alcançar a justiça95.

A convite do feitor da nau naufragada, Linschooten ficou a cuidar das mercadorias salvas,

esperando os navios de guerra que o Rei havia prometido e que nunca chegaram, mostrando bem os

portugueses o pouco cuidado que têm com o trato e negócios do mar96.

Que concluir desta visão de desleixo dos funcionários da provedoria? É certo que estamos no

período filipino. Será que este serviço agora com portugueses e espanhóis reflectiria a má organização

que eventualmente daí pudesse resultar? Ou refectirá a pouca responsabilidade dos funcionários,

perante uma nação “sem um pai legítimo”, e que estariam mais interessados num enriquecer

individual?

Parece que a actividade da provedoria das armadas durante o século XVII teria decaído. A

escassez de informação relativamente à armada das ilhas revelará a diminuição do serviço ou

efectivamente uma escassez de documentos?97 Ambas as hipóteses são possiveis, mas convém referir

um aspecto importante: a descrição dos feitos realizados pelo provedor João do Canto Castro, durante

os 22 anos de serviço (1640-1662), revelam somente os seguintes dados: os anos de 1645, 1646, 1649,

95 Id., Ibid., pp. 148-149.

96 Id., Ibid., p. 149.

97 Maria Fernanda Enes, Ibid, p. 163. Acrescenta ainda que esse enfraquecimento de serviço se prende com a correspondente queda do nosso império, não sendo atribuído ao avanço da arte de marear, que nesse século se mantém estacionária.

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1652, 1654 e 1651, referem-se à aguada das naus. Os anos de 1644, 1651, 1655, 1656, referem-se ao

socorro à armada das ilhas. Visto ser este um documento em que solicitava recompensa pelos serviços,

nada teria sido omitido, o que será prova inequívoca do enfraquecimento do império português de

quinhentos98.

Em todo o caso, isto não explica o decréscimo da importância de Angra como apoio à

navegação, nem a actividade da provedoria deixou de ser descurada. Angra é assim escala obrigatória

para a embarcação isolada, que aí espera a armada, para as embarcações vitímas do temporal e dos

corsários, ou carênciadas de abastecimento, para recuperação dessas embarcações e do esforço dos

marinheiros. Angra, foi sobretudo um posto avançado do Reino para o contacto com as carreiras da

Índia e Brasil e o ponto de apoio e abastecimento da Armada Real, bem como o elo de ligação desta

com a coroa99.

98 Id., Ibid., pp. 160-163.

99 Id., Ibid., p. 154.

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A carrera, o contrabando e o reflexo nas ilhas.

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Até à organização do “Atlântico dos espanhóis”, a grande rota que tocou os Açores foi,

efectivamente, a das especiarias e drogas asiáticas ou se se preferir a das “Índias Orientais”. O destino

das suas cargas era Lisboa, ou antes, os centros da economia europeia como já era percebido em 1571

pelo embaixador de Castela: vale mucho dinero todo lo que viene de india cada anno y la maior parte

dello va pera Flandes, y lo demas para Spana, Francia e Italia100.

Os navios estrangeiros teriam também o cuidado e a afeição do provedor, ordenada inclusivé

no regimento doado pelo Rei em 1575: o dito provedor terá cuidado de fazer que os // navios de

estrangeiros que vierem ao dito porto sejam socorridos do que houverem mister101. É assim, que a Ilha

Terceira tem a sua importância relevada pelo papel que também desempenhava no apoio à carreira das

Índias Espanholas. Na verdade o comércio espanhol com a América beneficiou das estruturas existentes

na Terceira e as suas naus escalavam regularmente esse porto. Segundo dados apresentados por Artur

Teodoro de Matos, num período de 80 anos (1518-1598) foi 42 vezes a armada da América assistida

nesta escala e os cofres de ouro e prata 18 vezes guardados em terra 102. O motivo destes desembarques

prende-se não só com os temporais e avarias, mas sobretudo com a ameaça dos corsários pertencentes

às nações inimigas de Espanha.

A própria armada espanhola de protecção às naus e a fortificação de Havana não fazem

decrescer a importância que representava esta escala para os espanhóis. Pois em 29 dos anos acima

indicados, as embarcações foram conduzidas por uma armada espanhola a Sevilha ou Cádis e apenas

duas na primeira metade da centúria quinhentista103.

O início da construção da fortaleza de S. Filipe atesta o interesse de que Angra revestia para o

império colonial espanhol. Nem a resistência terceirence à invasão castelhana desinteressou as frotas

100 Apud. João Marinho dos Santos, Os Açores nos séculos XV e XVI ..., p. 400.

101 Artur Teodoro de Matos, “O Regimento do Provedor das Armadas nos Açores (1575)”, in A Abertura do Mundo ...p. 50.

102 Artur Teodoro de Matos, "Os Açores e a Carreira das Índias no século XVI", in Estudos de História de Portugal ... p. 100, segundo fontes aí citadas.

103 Artur Teodoro de Matos, “As Escalas do Atlântico no século XVI ....”, pp. 47-48.

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espanholas pela escala. Aliás Filipe II reconhecia o valor estratégico da Terceira, e reconhecia que o

seu domínio era essencial para o controle do Atlântico, das ricas rotas e da protecção face aos corsários.

A solicitação do apoio era feita pela coroa espanhola, quer directamente ao provedor ou ao Rei de

Portugal, sendo recebida por via oficial104.

Em 27 de Maio de 1547 diz Pêro Anes do Canto em carta enviada ao Rei: Ho serenyssimo

principe de Castella me mandou aquy huma carta que noteficasse aos capitães as suas náos, que

vyessem das Antylyas, que nom pasasem d’estas ilhas sallvo com muita frota, e nom indo com frota tam

possante que se podessem defender, em tall caso, que ho ouro e prata que trouxessem leyxassem n’estas

ilhas, porque tynha nova de armadas franceses e escorceos105.

Um ano depois uma provisão do Rei de Castela manda que as naaos que vyerem das Antylyas

leyxem nestas ilhas e pusesem em terra a bom recado ho ouro que trouvessem (...) porque era

enformado que em Diepa se fazyam prestes certas naos de cosayros que as vynham agardar a estas

ilhas 106 .

Era frequente uma armada espanhola ir esperar as suas naus 107. Artur Teodoro de Matos

apresenta como exemplos os anos de 1537, 1539, 1552, 1554, 1556, 1557, 1559, 1561, 1571, 1572,

104 Num alvará do Rei português anterior a 1518 estabelece-se o seguinte: Nos El-Rey fazemos saber (...) que o emperador meu mito amado e prezado primo nos fez ora saber como no porto da villa d’Angra (...) eram aribadas cynquo naaos que vinham das Amtylhas com ouro, rogandonos que mandassemos dar provisões para lhe ser dado todo o necesario pera serem bem providas, e asy todo o que mais se ouvese mister pera daly virem com segurança dos cosairos; (...) e se pella ventura quiserem fretar algumas naos e navyos que nessas ilhas estem pera os trazerem em sua conserva e com elles poderem vir mais seguramente, (...) aos quais pagarão seus chefes, asy como se concertarem, e todo o que dito he e cada cousa fareis e cumprireis todos e cada huns de vós en seus lugares com grande presteza, diligência e cuydado e asy como se pera noso serviço propriamente se ouvese de fazer (...) (A.A., vol. III, pp. 27-28 e A.A. , vol. V, p. 126). É de salientar na carta do Rei o mesmo rigor e apoio a dar a naus estrangeiras como se de nacionais se tratasse

105 A.A., vol. I, pp. 128-129.

106 A. A., vol. I, pp.131 e 132.

107 É elucidativo desta a instrução dada a Juan Tello de Guzman, capitão general da armada que foi aos Açores buscar o ouro e a prata que lá se encontravam e acompanhar (...) as naus espanholas regressadas da América. De 30 de Abril de 1554 .( Artur Teodoro de Matos, "Os Açores e a Carreira das Índias no século XVI", in Estudos de História de Portugal... ,p. 106.

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1579, 1580, 1583, 1590, 1592, 1593 ou 1589108. Em alguns casos as naus da América seguiriam para

Lisboa juntamente com as da Índia ou trazidas pela Armada das Ilhas portuguesa109.

A frequência da frota espanhola e a sua permanência prolongada terão sugerido a Filipe II em

1584 a ideia de estabelecer um provedor que se ocupasse do abastecimento das suas naus 110. Certamente

a provedoria da Terceira ter-se-ia debatido nessa altura com dificuldades de abastecimento às naus

portuguesas111. Refira-se também, que mesmo antes do domínio filipino, o rei de Castela teria feitores

nas ilhas que arrecadavam os dízimos da fazenda vinda das Antilhas e que aí era vendida. O que revela

uma preocupação e um assinalável interesse pela escala açoriana112.

A necessidade desta escala e de desembarque do ouro espanhol na Terceira proporcionava um

palco propício ao negócio clandestino, à fuga do registo e ao depósito do metal, que poderia ser

ocultado antes de chegar ao seu destino. Eram essencialmente os navios particulares, que

comercializavam com a Índia, os protagonistas dessa drenagem do ouro, já que pela frota das Américas

teria que responder o mestre reduzindo-se assim o contrabando ao que vinha fuera del Registro, o que

108 Artur Teodoro de Matos, Ibid., p. 101 segundo fontes aí citadas. Por vezes era surpreendente a dimensão da frota das Índias de Castela. Linschooten depois de referir o episódio da batalha da ilha das Flores, refere que embarcações tanto da armada espanhola como da armada das indias se haviam reunido nas paragens do Corvo. Contudo, esta sobre deuida um violento temporal, chegando salvos a Portugal e Espanha somente 32 ou 33 embarcações. Por aqui poderemos inferir a contribuição das tempestades para o número de naufrágios. (Linschooten, Op. cit., pp. 163-164). Esta informação também se pode recolher no “Isolario” de Vincenzo Coronelli. (João da Cunha Silveira, “Os Açores no ‘Isolário’ de Vincenzo Coronelli (séc. XVII)”, in B. I. H. I. T., 1957, vol. XV, pp. 177-179).

109 Como se pode ver na seguinte carta: nesse caso se as ditas naaos do emperador meu primo quiserem esperar até à chegada das ditas nossas naaos podelohan fazer e darlhes vosa conserva.( “Carta d’El Rey” , in A.A., vol. V, p. 126 e “Carta de Pero Anes do Canto a El Rei, de 18 de julho de 1547”, in A. A.,vol. I, pp. 129-130 e ainda no diário de Manuel Severim de Faria: ... uma esquadra de Sevilha vinham-nos esperar para de conserva irem buscar as mais da Índia e Perú (...) (Artur Teodoro de Matos, Diário de bordo da viagem de Francisco Faria de Severim aos Açores em 1598, p. 20)

110 Artur Teodoro de Matos, "Os Açores e a Carreira das Índias no século XVI", in Estudos de História de Portugal ..., p. 101, segundo fontes aí citadas.

111 Id., Ibid., p. 101. Vd. supra a descrição feita por Linschooten acerca de um possível desleixo do serviço da Provedoria na época do domínio filipino.

112 Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, Liv. IV, p. 99. ... na ilha de S. Miguel se salvou a gente de duas naos de Indias e de hua biscaynha da armada e as fazendas que se salvaram de huas e outras se põem em boa arrecadação pela ordem antiga dos reis passados e regimento que tem o feitor da casa da contratação de Sevilha naquilo que toca às naos da India ... (“Carta do corregedor em 24 de Outubro de 1591 ao arquiduque Alberto”, in A.A., Vol. II, p. 308).

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não seria pouco, atendendo às palavras do embaixador espanhol: mucho mas es lo que traem fuera del

(registro) escondido y todo lo demas viene e lo vendem en las yslas de los Açores o aqui (Lisboa) ... y

todos los mas que puden viene a dar aqui por llevarlo a Sevilla porque saben que aqui no les llevaran

derechos113. O embaixador acusava esta situação, havia provas e pressionava-se a coroa portuguesa para

a controlar, escrevendo com todos os pormenores para Madrid, dando conta do que se passava114. Ora,

por aquilo que já se disse, podemos realçar um dos “negócios” mais importantes neste palco atlântico -

o contrabando.

José Gentil da Silva, baseado nos dados de Pierre Chaunu, observa um aspecto curioso

referente às perdas de embarcações nas vizinhanças do arquipélago. Dezoito embarcações teriam

naufragado em 17 anos (1552-1570). De 1586 a 1633 (48 anos) 24 embarcações naufragaram o que

proporcionalmente é menor que no período anterior. A primeira metade do século regista somente seis

navios “perdidos” (1522-1551). A média de naufrágios na vizinhança dos Açores é de uma embarcação

todos os dois anos, mas com maior frequência para o terceiro quartel do século XVI. Esta não é a época

de maior acção corsária francesa, nem da predominância do ouro sobre a prata, que caracterizava a

primeira metade do século XVI. Ora porque não deduzir destes dados o contrabando e as acções ilícitas

à volta do negócio da prata, em que portugueses e ilhéus em particular, participariam? Calcular as

perdas diante da costa portuguesa é difícil, mas isso denota precisamente a ambiguidade de muitos

naufrágios a que os castelhanos chamam “arribadas forzosas ou maliciosas”115. E que pensar dos

tesouros e mercadorias que têm de ser desembarcados à espera de solução? Que parte de ouro ou prata

ficaria nas ilhas entregue aos “negociadores” ou utilizando o termo correspondente, aos

contrabandistas?

113 Carta do embaixador de Espanha em Lisboa, Apud. João Marinho dos Santos, Ibid., p. 410, segundo fontes aí citadas.

114 Id., Ibid., p. 410.

115 José Gentil da Silva, “As Ilhas dos Açores, os metais preciosos e a circulação monetária (séculos XVI-XVII)” in Os Açores e o Atlântico (séculos XIV-XVII)..., pp. 596-601.

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Às mercadorias recuperadas por uns, e à prata ou ouro dos navios “perdidos” ou simplesmente

abrigados, juntavam-se as despesas. Mas que despesas se fariam? Que abusos ou especulações elas

comportariam?116.

É efectivamente no terceiro quartel do século XVI que os Açores tiveram mais oportunidades de

receber e negociar ouro e prata americana. A coroa portuguesa não ignorava toda esta abundância e

inicialmente pediu dizímos sobre as mercadorias luzentes das Índias Orientais. A coroa espanhola

solicita inclusivé a isenção! José Gentil coloca a seguinte questão: se a coroa portuguesa tivesse ou

quisesse fazer respeitar os seus direitos, não haveria pelo menos uns números significativos, de uma

importância relativa desses negócios, que em parte eram legitimos?

João Marinho dos santos refere que a união de interesses entre os dois países vizinhos, no sentido

da não demarcação dos respectivos espaços económicos, levaria a uma certa “promiscuidade fiscal”,

caíndo o pagamento de dízimos ao Rei português em desuso, o que talvez explique a ausência de

números que José Gentil refere ... o que talvez explique uma “descontracção” da coroa portuguesa

interessada no negócio clandestino à volta da prata, e que, como já vimos, era confirmado pelo

embaixador espanhol, que denuncia, informa e protesta117.

Conclui-se então, que nem sempre o Estado português saíu prejudicado com o ousado e

abundante contrabando. O que escapava ao registo da Casa da Índia de Lisboa, o que se arrecadava de

um naufrágio ou de uma nau, cuja vigilância não fora desenvolvida pelo provedor, tudo isso era

preocupação régia portuguesa. O mesmo não se poderá pôr face ao contrabando à volta das Índias de

Castela, pois muito do metal espanhol afluía à Casa da Moeda em Lisboa para ser cunhado. Mas se tal

acontecia para o lado português, não vamos pensar que a Rota do Cabo não teria servido os

espanhóis118.

116 Vd. supra nota 55.

117 José Gentil da Silva, Ibid., pp. 596-601 ; João Marinho dos Santos, Ibid., p. 401; Maria Olímpia Rocha Gil, Os Açores e o Comércio Atlântico nos Finais do Século XVII (1680-1700) ...pp. 154-157.

118 Vd. supra, nota 54.

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Depreende-se pois que, imensa riqueza que circulava pelas rotas transatlânticas não teria

chegado ao seu destino natural. Mas não é só sobre as mercadorias em trânsito que tal contrabando se

faz. As mercadorias reais das ilhas, o pastel e o trigo fugiam ao pagamento de direitos e às “posturas” e

“acordãos” definidos pela administração ... Uma forma de fugir à subordinação e ao monopólio da

coroa “opressora” dos ilhéus, e de garantir uma riqueza tantas vezes coartada119.

Que aproveitamento fariam os terceirenses de todas estas riquezas? Que dizer quanto ao fluxo

monetário nas ilhas?

Sabemos que das conquistas portuguesas passou a vir, com os que emigravam para as ilhas,

alguma riqueza móvel120. É também de prever que algum ouro das feitorias de Arguim e Mina tenham

sido contrabandeados nas ilhas, pois como já se referiu, por vezes era necessário guardar os cofres em

terra121. Mas na verdade tal abundância de metais toma a sua maior relevância com a “carrera”.

O ouro abundava na ilha Terceira, mas a falta de moeda para o comprar era uma das dificuldades

a atender ao testemunho de Sebastião Moniz, que em meados do século XVI, sugeria ao nosso Rei a

criação na cidade de uma casa da moeda, pois a falta desta impossibilitava o negócio vantajoso 122.

119 João Marinho dos Santos, Ibid., p. 410 e Maria Olímpia da Rocha Gil, Ibid.pp. 154-157 e 159. Maria Olímpia Rocha Gil, Os Açores nos séculos XV e XVI ..., p. 401.

120 João Marinho dos Santos, Ibid., p. 416.

121 Além das duas rotas por excelência do Atlântico, as de S. Tomé, Cabo Verde, Costa Ocidental de Àfrica e Brasil, também escalavam os Açores levando o açúcar, escravos, algodão, malagueta, marfim e ouro. Mercadores locais e estrangeiros não se deixavam rogar pela possibilidade de enriquecerem através de um trajecto inter-insular que por vezes se desprendia até Angola e depois Brasil. Linschooten referindo-se aos lucros que os insulares tiravam com o pastel, acrescentava que outros tiram o seu principal lucro dos navios que vem das Indias, Brasil, Cabo Verde, Guiné e outros lugares. (Linschooten, Op. cit., p.154).

122 Vem todollos anos muita quantidade douro e prata do Peru e outras partes e os que ho dito ouro e prata trazem ho querem vemder e nã acham quem lho compre por a quall causa deixam de comprar espravos e pastell e coyros e acucres e outras mercadoryas que ha na terra por ffalta de não terem moeda no que V. A. recebe muita perda nos direitos que deyxam de lhe pagar por asi na comprarem as mercadorias por fallta de dinheiro ho que na seria se na tera houvesse moeda hou quem lhe ho dito ouro e prata comprase porque os que as ditas mercadorias vendem na querem tomar ouro nem prata em pagamento delas porque huns a vendem polla neceçidade que tem do dinheiro e outroa sam lavradores e pesoas que nam emtendem a ley do ouro e prata por vir mall apurado allgum e nelle aver engano (...) ho que tudo causa muito escamdolo aos estramjeyros que esperam as armadas. (A.A.,vol. I, pp. 136-137). Esta análise é elucidativa da situação monetária da ilha, revela a débil sensíbilidade dos habitantes relativamente a essa economia monetária, além de revelar a crescente procura de moeda por todos. Helder de Lima a este respeito afirma que o verdadeiro problema não tinha sido desenvolvido por Sebastião Moniz. O facto de existirem inúmeros estrangeiros na ilha poderá

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A imagem da economia açoriana não é, pois, a de uma circulação monetária intensa, sendo as

mercadorias usadas como moeda de troca. O mercado estrangeiro beneficia com as oscilações dos

preços e da qualidade das mercadorias importadas . É que trazendo as manufacturas, estas não

encontram no meio açoriano concorrência, apresentando-se esta, somente para os produtos agrícolas e

matérias primas. É assim, que os estrangeiros dominam assim o mercado com os seus “câmbios de

mercadorias”, levando muitas vezes os metais preciosos. Nos inventários de bens podemos vislumbrar

somente uma modesta riqueza de ouro e prata. A modéstia de certas transacções e salários exclui na

verdade, a utilização da moeda metálica123.

Na viragem da primeira centúria de quinhentos o fluxo da “carrera” intensifica-se e o eixo

América-Açores-Sevilha-Bilbau-Antuérpia/Bruges aumenta, a par do negócio ilícito, que partindo das

ilhas ligava Portugal à França e ao Norte europeu. Comprova-o o recrudescimento da pirataria/corso,

que se articulava assim com a actividade do contrabando.

Nos anos 60/70 a carreira das Índias trouxera abundância, mas talvez esta tenha sido

ligeiramente interrompida pela guerra no Atlântico dos anos 80, como se pode constatar pelo

testemunho de Christoval Mosqueira de Figueiroa, relativamente às ilhas de baixo: Estava esta isla casi

arruinada e perdida: no avia comercio, porque aunque se usava, como é dicho el contrato de la

permutation, esto no se restringe à comercio. Faltava la comunicacion de las armadas de las Índias de

castilla; que ordinariamente dexavam buena cantidad de plata, y moneda ladrada por aquellas islas, en

trueco de los refrescos que se les davan.124

explicar a não repugnância de se receber o ouro e prata em lingotes. Isso seria sintoma das importantes trocas comerciais que aí se efectuavam. É evidente que era necessário o metal amoedado, mas isso não implica que se regeitasse a obtenção de metais através de um via ilícita. (Helder Fernando Parreira de Sousa Lima, “Os Açores na Economia Atlântica - contribuição para o seu estudo nos séculos XV-XVI e XVII”, in B. I. H. H. T., 1976, vol. XXXIV, p. 147).

123 José Gentil da Silva, Ibid., pp. 601-609 e Maria Olímpia da Rocha Gil, O Arquipélago dos Açores no século XVII. Aspectos sócio-economicos 1575-1675, Castelo Branco, 1979, pp. 217, 222 e 233.

124 A.A., vol. IV, p. 304.

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Nessa época a política comercial restritiva de Filipe II provoca perturbações na vida económica

e social125 , mas o negócio ilícito teria nessa restrição motivo para se desenvolver quer à volta do trigo

ou pastel126 . Portanto nessa época, e atendendo ao testemunho de Figueiroa127 , a carestia parece

acentuar-se, o dinheiro escasseia - o que desde sempre não foi novidade apesar do afluxo de metais -,

mas nem por isso o negócio proibido e as rotas secretas deixavam de diminuir ... alguns não deixariam

de aproveitar as “perturbações” da guerra.

Em conclusão, estas escalas causavam na verdade um impacto que não é por demais assinalar.

São elucidativas as descrições dos habitantes da Ilha ou mesmo de alguns cronistas salientando e

aludindo ao panorama alvoroçado e rico das tentativas de comercialização à chegada das armadas 128 . E

tudo o que os forasteiros compravão era a peso d’ouro (...) e sem repararem no preço dos mantimentos

davão o que se lhes pedia, tão liberais que não só pagavam o vendido mas as passadas do vendedor 129.

Se “muitas coisas das Índias de Castela” no dizer de Gaspar Frutuoso existiam em Angra, 130 se até o

número de ourives existentes corrobora a existência de abundância do metal,131 se os cofres

permaneciam em terra largo período de tempo, não se duvidará a existência de um enriquecer

clandestino, que contudo não pode ser quantificado132. É notável pois “o petiscar dos mais ousados”,

numa terra abençoada pela posição geo-estratégica que pugnava e procurava tirar os seus lucros. A

125 Linschooten referindo-se ao pastel negociado com ingleses, escoceses e franceses diria em 1591 que desde há tempo para cáe comércio foi interdito aos ingleses (Linschooten, Op. cit., p. 152).

126 João Marinho dos Santos, Ibid.,pp. 418-419.

127 A.A., vol. IV, p. 304.

128 Linschooten salientava a boa situação da ilha para a escala dos navios vindo os habitantes logo que chegavam vender as suas coisas (Linschooten, Op. cit., p. 154).

129 Manuel Luis Maldonado, Apud. Artur Teodoro de Matos, "Os Açores e a Carreira das Índias no século XVI", in Estudos de História de Portugal, ..., p. 104.

130 Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, Liv. VI , p. 30.

131 Cf. Maria Olímpia da R. Gil, Os Açores no século XVII ..., p. 278.

132 É neste contexto que se percebe a vigilância do provedor português, as medidas de proibição emanadas de Espanha, de se lançarem botes à àgua, de se aproximarem barcos pesqueiros, de impedir o descarregamento do ouro - cujo desembarque na maioria dos casos era necessidade imperiosa pelas razões já desenvolvidas - e punir os infratores que traziam a mercadoria “fuera del registro, ...”

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contrapartida na opinião de Teodoro de Matos seria mínima comparada com a importância que este

posto representou no suporte sublimado das armadas que traziam as principais riquezas comerciais da

época133.

As ilhas do grupo ocidental, Flores e Corvo, foram o palco da guerra ao corsário, da espera das

armadas, mas também o centro das contradições do relacionamento entre habitantes e forasteiros. Aí se

fazia a vigilância a fim de defesa contra os corsários, mas era também aí que estes se abasteciam,

deixando em troca as riquezas roubadas ou combinando inclusivé relações mais cerimoniosas de

realização familiar134.

133 Artur Teodoro de Matos, A Provedoria das Armadas da Ilha Terceira e a Carreira da Índia no século XVI ...p. 72.

134 Em 1549 considerável quantidade de ouro e prata fora encontrado no Corvo. Não será isto prova de uma troca clandestina em que populações e corsários pactuavam? Vd.Doc. em Apêndice nº4. D. Manuel de Gouveia em Setembro de 1592 aconselha a existência de um presídio na ilha do Corvo. Esta, que segundo ele, era uma autêntica “estalagem” dos inimigos, uma baliza onde vem ter os navios de mar em fora. (“Carta de D. Manuel de Gouveia a El Rei, de 6 de Setembro de 1592”, in A.A., vol. II, pp.311-312). Ilha indefesa e por isso muitas vezes apropriada ao jogo combinado - e/ou forçado - a troco de rendas tão ilícitas quanto proveitosas. Contra Pedro Eston, um corsário inglês, o Rei mandava tomar providências para que o prendessem pois que se abastecia anualmente no mês de Março na ilha das Flores e havia até combinado o casamento com a filha do capitão-mór da ilha. (Artur Teodoro de Matos, "Os Açores e a Carreira das Índias no século XVI", in Estudos de História de Portugal ... p. 106, segundo fontes aí citadas).

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A fortificao aoriana, corolrio da vulnerabilidade do Arquiplago s investidas de corsrios e piratas.

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A importncia econmica do Arquiplago como factor da interveno dos corsrios - o servio

informativo - Planos de fortificao das ilha

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Ao procurarmos fazer um estudo sobre fortificações no espaço insular, teremos de destacar as

conjunturas políticas e económicas que marcaram o devir do processo histórico açoriano e atlântico.

Se considerarmos que a finalidade de um sistema de defesa é dupla- desmobilizar ou barrar o

caminho ao invasor e servir de refúgio para as populações -, o seu surgimento em determinado espaço e

momento é corolário de factores exógenos ao próprio meio135.

Desde os primórdios da ocupação do espaço insular, em virtude da sua disseminação por nove

ilhas, houve a impossibilidade de uma acção concertada no sentido de o tornar uma fortaleza

inexpugnável. As soluções parecem revelar um carácter temporário surgindo como consequência das

ameaças ou investidas dos corsários e piratas; será apenas nas décadas de 60 e 70 do século XVI que se

avançará com um plano de fortificação das ilhas Terceira, S. Miguel e Faial. Na Terceira esse projecto

é alargado, na década de 80, com a iniciativa de Ciprião de Figueiredo que tem como objectivo erguer

uma barreira ao invasor filipino. Não podemos perder de vista que é a conjuntura política que impele

essa acção; primeiro a ameaça de corsários argelinos, franceses e ingleses , depois o ímpeto do invasor

espanhol136.

Do posicionamento charneira das ilhas açorianas na dinâmica e traçado das rotas comerciais

europeias no atlântico, lhes advém grande importância económica, nos séculos XVI e XVII.

Efectivamente, com o descobrimento das novas terras, o mar dos Açores passou a constituir passagem

obrigatória dos navios que se dirigiam para as Índias ou daí regressavam então, carregados de

verdadeiros tesouros em especiarias, ouro e prata. Este facto despertou a rapacidade de quantos eram

capazes de se lançar em aventuras transatlânticas. Para a cobiça humana não há escrúpulos - não os

havia, principalmente naqueles recuados tempos. De facto os rapinantes não se fizeram esperar. Os

primeiros que apareceram cruzando as águas açorianas, nesse exercício da pirataria, foram os argelinos.

135 Alberto Vieira,”Da Poliorcética à Fortificação nos Açores. Introdução ao Estudo do Sistema Defensivo nos Açores nos séculos XVI-XIX” in Os Açores e as Dinâmicas do Atlântico. Do Descobrimento à Segunda Guerra Mundial. Actas do II Colóquio Internacional realizado em Angra do Heroísmo, de 28 de Julho a 2 de Agosto de 1987, Separata do B. I. H. I. T., vol. XLV, Tomo II, 1988, p. 1528, In B. I. H. I. T., p.1528

136 Alberto Vieira, Ibid., p. 1529.

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Eram gente ousada, cruenta, que tinha isso como modo de vida. Aprisionavam os navios incautos e

indefesos, com gente e tudo. Nos intervalos, ao velejar de atalaia, não tendo barco a que deitar mão,

assaltavam uma ou outra ilha, que saqueavam com furor. Pilhavam quanto podiam e levavam também

cativos. Mas não eram somente os argelinos: foram da mesma sorte os holandeses, os franceses, os

ingleses, neste exercício da caça ao alheio.

Se o papel de plataforma à navegação atlântica é factor favorável à intervenção dos corsários no

espaço açoriano, a riqueza dos arquipélagos contribuiu para a intensificação das investidas.

A riqueza de cereal, pastel e vinho bem como o recheio das igrejas e casas particulares, surgem,

por diversas vezes, como uma alternativa a um assalto marítimo mal sucedido. Todavia, a mercadoria

em curso (açúcar, ouro e prata) nos mares açorianos surge como o alvo preferencial da cobiça corsária.

Vem a propósito dizer que é de distinguir entre pirataria e corso .

Pirataria deve entender-se como sendo: actos de violência praticados no alto mar ou em terra

pela tripulação de um navio, cujo objectivo é pilhar, apropriar-se dos bens dos que ataca para com

eles se tornar mais forte 137.

Assim, o pirata seria aquele que empreenderia uma expedição armada sem autorização de um

Estado, não passando de mero salteador dos mares.

O corso tinha organização e aparência um tanto diferentes, pois o corsário em tempo de

hostilidades no mar era titular de uma licença, a carta de corso, que lhe permitia capturar os navios de

comércio do inimigo. Efectivamente, o corsário empreendedor da guerra acreditada pelos Estados, era

notável comerciante de presas e chegava a ser elevado a herói nacional. Mas a verdade é que, em tempo

de guerra, se tornava difícil muitas vezes distinguir a pirataria das operações de corso138.

137 Maria Emília Cordeiro Ferreira, "Pirataria", in Dicionário de História de Portugal, vol. V.

138 Ana Maria Pereira Fereira, O essencial sobre o corso e a pirataria, Imprensa Nacional-Casa da Moeda. As acções de pirataria não se fariam só pelo saque, outros motivos estarão presentes, senão vejamos: Em 1589 no mês de Novembro duas grandes naus de Espanha, que vinham das Índias, foram atacadas por um navio inglês. O motivo fora uma agressão que oito meses antes, “tendo alguns ingleses ido à Terceira buscar pastel sob o nome de franceses, visto que esse comércio lhes era proibido, foram descobertos”, o navio confiscado e os homens presos, tendo contudo escapado e conseguiram chegar a Cumberland. O mestre e o feitor inglês contudo tinha ficado em terra. O cunhado daquele obteve

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A pirataria, iniciada no Mediterrâneo, passou ao Atlântico no século XVI, no momento em que

as novas rotas marítimas foram descobertas pelos portugueses e espanhóis. Os brilhantes resultados dos

navegadores peninsulares, através das riquezas obtidas, tornaram-se fonte de cobiça de outros povos,

que até então se viam reduzidos à situação de simples espectadores. Na realidade o domínio dos mares

pertencia exclusivamente àqueles, e os outros não possuíam ainda conhecimentos náuticos capazes de

os poderem levar à competição ou ao descobrimento de novas rotas, que os lançassem na senda do

frutuoso comércio então monopolizado por portugueses e espanhóis. Nessa impossibilidade, cedo

vieram a adoptar a posição que lhes era acessível - a de esperar as naus de torna-viagem das Índias, na

passagem dos Açores, empreendendo assim um ataque sistemático a esses navios. 139

Não admira, portanto, que os Açores tenham merecido particular atenção ao poder régio,

cuidadoso em se informar ou em informar acerca dos movimentos das velas corsárias. Serve de

exemplo a correspondência trocada entre o soberano e Pêro Anes do Canto:

(...) Ho serenyssimo principe de Castella me mandou aquy huma carta que noteficase aos

capitães das suas náos, que vyesem das Antylyas, que nom pasasem d'estas ilhas sallvo com muita frota,

e nom indo com frota tam posante que se podessem defender, em tall caso, que o ouro e prata que

trouvesem leyxassem n'estas ilhas, porque tynha nova de armados franceses e escorceos; de V. A. nom

tenho d'isto nem hum recado porem eu tenho já avysado d'ysso todallas ilhas que dem ho dito avysso ás

naos da Indya se d'ellas ouverem falla.

Cosayros nom ha ao presente n'estas ilhas nova d'elles, Deus seja louvado.

licença da rainha “para ir em perseguição de algum navio espanhol e resgatar por este meio o seu cunhado e reparar os prejuízos da sua detenção.” Conseguiu deter aquelas duas naus, “muito ricamente carregadas com um valor de trezentos mil ducados”, retendo somente dois gentis homens para troca do cunhado com o governador da ilha. O aspecto da vingança assume aqui um papel relevante. Mas o mesmo acontecia pelo lado ibérico. Em Janeiro de 1590 chegaram de Sevilha à Terceira 15 ou 16 naus, a maior parte tomadas aos ingleses e holandeses e arrestadas para servirem nesta viagem. Um navio inglês de 20 toneladas, era entretanto tomado por esta frota, não lhe valendo o socorro de dois outros navios ingleses, impedidos pela artilharia da cidade e do castelo. Os ingleses tomados foram “presos a cadeias, dois a dois. o porta - bandeira espanhol por vingança da morte de um seu irmão que tinha perdido na frota enviada contra Inglaterra, se lançou de punhal na mão contra estes pobres prisioneiros presos a correntes, matando meia dúzia a fio, havendo dois que, para evitar serem assassinados, se lançaram ao mar afogando-se.” (Linshooten, Op. cit., pp. 158-159).

139 História da Expansão Portuguesa no Mundo, vol. III, p. 112-113

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A vyda e estado de V. A. e da raynha e princepe nossos senhores Deus acrescente como V. A.

deseja e he necesaryo ha paz e asesego e boa governança d'estes reynos a que Deus praza sempre

estarem no estado que ora estom, da ilha Terceyra ha 27 de mayo de 1547 - Pero Anes do Canto.

Noutra carta de Pêro Anes do Canto ao rei, datada de 18 de julho de 1547, podemos detectar essa

mesma ideia:

Senhor - Eu tenho escripto a V. A. como chegarão a este porto d'Angra ha náo Espera, de que é

capitão Lourenço Pires de Távora, com cinquo naos, (...) ontem, que foram desassete do dito mês, forão

de todo providos e despachados de todo o que ouverão mister he foy ho capitão mor d'armada Manoell

de Mendoça à dita nao Espera, (...) he n'ella ajuntou todolos capitães das naos da India e corregedor,

contador e allmoxarife, e eu, e tomou o parecer de todos sobre a partida d'estas cinquo naos; pareceu a

todos ser serviço de V. A. se irem para o reino por serem cinquo he bem artilhadas e bons capitães he

estar aqui António Vaz, irmão do patram, com uma caravela d'armada que veyo da Mina, he vam em

sua conserva duas naos armadas do emperador, que levão ouro que trazem das Antilhas que se não

atreverão ir sos, navios de Sam Tome he Cabo Verde e do Brazyll, que hirom muito perto de vynte

velas, manda ho dito Manoel de Mendonça com ellas o galeão Esperança, que he da sua armada, de

que he capitão Francisco Luis; tenho que vam seguros ainda que achem outras vynte vellas de

cosayros. (...) 140

O mesmo se pode depreender da leitura da carta de D. João III a Pedro Anes do Canto de 19 de

Março de 1538:

Pedro Annes do Canto. Eu Elrei vos envio muito saudar. Por ser informado que no mar andam

muitos corsarios, e que a náo S. Miguel que partio da India o anno passado, não deve com a ajuda de

140 In A. A., vol. I, pp. 129-130.

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N. Sr. muito de tardar, houve por meu serviço de vos mandar este aviso., por esta caravella de que é

mestre Balthazar Gonçalves,a qual leva recado, que achando a dita náo no caminho das ilhas para cá,

se torne com ela, e dê ao capitão uma provisão minha, por que lhe mando que venha pela altura da

Róca (...). 141

Ao serviço informativo juntava-se a protecção das frotas. Mereciam especial atenção as naus das

especiarias que esperavam ou eram esperadas, pela armada real, nas Flores ou Corvo. Todos os anos

entre Março e Agosto, quatro, cinco ou mais navios enviados por Lisboa para aí se dirigem. À sua

sombra protectora se acolhem diferentes barcos, vindos da Mina, do Brasil ou de São Tomé, procurando

o apoio da viagem em conserva:142

(...) E tanto que mandardes os ditos caravellões à dita paragem da ilha do Corvo, começareis

logo a fazer prestes tudo o que virdes, que pode ser necessário para a dita náo, e estar assim prestes

para que, em ella ahi chegando, a possaes fornecer do que for necessario, o que fareis com a mais

diligência, que for possivel, e mandareis metter nella a mais gente, artilharia, mantimentos e tudo mais

que ouver mister, e assim mandareis armar os mais navios que poderdes e vos mettereis na dita nao, e

vireis por capitão d'ella e dos mais navios que em vossa companhia vierem, vindo tudo a bom recado -

a caminho e pela altura da Róca e desviando-vos da derrota de leste a oeste com a Berlenga onde mais

costumam d'andar os ditos corsarios. (...) 143

141 In A. A., vol. XII, p. 411.

142 Ana Maria Pereira Ferreira, "Os Açores e o Corso Francês na primeira metade do século XVI: a importância estratégica do arquipélago (1521-1537)" in B. I. H. I. T., 1983, Vol. XLI , p. 287.

143 “Carta de D. João III a Pedro Annes do Canto, 19 de Março de 1538”, in A.A, vol. XII, pp. 411-412.

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Os portos açorianos revestiam-se de importância fundamental para as naus das Índias, uma vez

que ao regressarem (transportando a bordo inúmeros doentes, vitimados pelo escorbuto e a

subalimentação) necessitavam de um abrigo para aí se reabastecerem de água e víveres.

Dentre esses portos de abrigo destaca-se o de Angra, na ilha Terceira, para onde todas as naus se

dirigiam dado a sua excelente situação na rota das armadas.144

No <<Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira>> encontra-se referência a uma relação do

Auditor Geral da Armada , o licenciado Cristoval Mosquera de Figueiroa, que diz assim: é muito o

comércio com as Índias Orientais e Ocidentais, por ser escala para refresco e refúgio das suas

armadas, por ter em si água em abundância muy delgada e saudável, formosas campinas de muito

trigo, cevada e pastel, que é de muito valor e de que se provê a Flandres, Inglaterra e Espanha145.

Se partirmos do pressuposto de que o mar é o palco para a guerra de corso e represália é lógico

admitir que o plano de fortificações açorianas surge apenas como uma precaução ou intimidação a esses

interesses. Segundo Alberto Vieira, a sua construção surge usualmente apressada mercê da ameaça e

temor permanente ou temporário dos corsários e piratas146. Nos Açores, o recrudescer da ameaça

corsária, sobretudo francesa, na primeira metade do século XVI, em face do incremento das rotas

comerciais, levou Bartolomeu Ferrraz a solicitar com insistência medidas de guarnição e defesa das

ilhas açorianas147. Em 1543 sugeria-se a construção de baluartes de pedra e cal. E que em todolos

lugares de porto de mar onde imigos ou ladrões possam dessembarcar, sse fação baluartes podendo

sser de pedra e cal, e pera entretanto que sse não fazem de terra e madeira e com alguns tiros e hum

144 Saíndo da porta do mar à rua Direita, principal, está uma fermosa casa da misericórdia , (...), com seu hospital anexo (...), com encárrego de certas missas em cada um ano, grande e proveitoso refúgio de muitos enfermos e pobres da terra e de muitos mais que pelo mar vêm de fora, de muitas partes, por ser o porto desta cidade escala de muitas navegações. (Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, Livro VI, pp. 27-28.

145 Major Miguel Cristóvam Araújo, "A Batalha do Porto das Mós" in B. I. H. I. T, vol. XVII, p. 195.

146 Alberto Vieira, Ibid., p.1534.

147 “Carta de Bartholomeu Ferraz, aconselhando El rei sobre a necessidade urgente de se fortificarem e guarnecerem as ilhas dos Açores, por causa dos corsários franceses. (1543)”, in A. A., vol. V, pp. 364-367.

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par de bombardeiros com a monição necesaria, porque ja que não matem espantarão como taramela de

figueira148.

Nesse plano traçado por Bartolomeu Ferraz estabelecia-se uma forma dinâmica de defesa das

ilhas. Assim, pretendia-se conciliar a existência de embarcações armadas149 com baluartes construídos

nos diversos portos, tendo estes últimos a finalidade de afogentar qualquer assalto, pois eram como

taramela de figueira. Quanto às povoações, enuncia-se a necessidade de se erguerem como em França

trincheiras de tiro150. Nesse plano enuncia também a necessidade de alertar os açorianos para a defesa,

exercitando-os151. A completar esse plano, sugeria-se que os corregedores fizessem revista, três vezes

por ano, às armas em posse dos habitantes152.

Esta missiva vem no seguimento de outra , certamente do mesmo punho, em que se dá conta da

situação da costa das ilhas de S. Miguel, Terceira, S. Jorge, Pico e Faial. Aí se aponta a necessidade de

148 “Carta de Bartholomeu Ferraz, aconselhando El rei sobre a necessidade urgente de se fortificarem e guarnecerem as ilhas dos Açores, por causa dos corsários franceses. (1543)” in A. A., vol. V, p. 365.

149 E que nhum navyo parta ssem tantas peças dartelharia quantas aos corregedores ou joizes das vilas donde partirem per enformação de homens do mar vyrem que podem levar e assy provydos das mais armas, cit. Carta de Bartholomeu Ferraz, in A. A., vol. V, p. 365.

150 E porque as povoações principaes das ilhas creo que ssão derramadas polo que sserião trabalhossas de cercar de muros, sseria de parecer que avendo despossyção pera sse cercarem de hum mui alto e grosso valo com huma mui grande fossa donde a terra ssayria pera o valo e com baluartes de madeira e terra em que tenhão tyros, porque desta maneira sse fez em mais hum tal valo e fossa que nom era menos forte para hum ssupito rrebate do que o podera sser ssendo hum grosso muro de pedra e cal, e he coussa em que todo homem e escravo pode sservir e ajudar como ouver quem lho ordene.(“Carta de Bartholomeu Ferraz, aconselhando El rei sobre a necessidade urgente de se fortificarem e guarnecerem as ilhas dos Açores, por causa dos corsários franceses. (1543)”, in A. A., vol. V, p. 366).

151 ..., mande aos capitães das ilhas que rressedir cada hum na ssua a animar a gente a praticar co eles ho como sse milhor defenderão a qualquer trabalho que lhes suceda, porque proverbio he antigo que omem percebido meo combatido. (“Carta de Bartholomeu Ferraz, aconselhando El rei sobre a necessidade urgente de se fortificarem e guarnecerem as ilhas dos Açores, por causa dos corsários franceses. (1543)”, in A. A., vol. V, p. 366).

152 Ou se parecesse milhor que os corregedores fezessem três vezes no ano alardo, e aos que achassem ssuas armas mal concertadas e não mui a ponto de guerra, que os castigassem na bolssa e os rreprendessem de palavra. (“ Carta de Bartholomeu Ferraz, aconselhando El rei sobre a necessidade urgente de se fortificarem e guarnecerem as ilhas dos Açores, por causa dos corsários franceses. (1543)”, in A. A., vol. V, p. 366).

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obras de defesa, pois não pondo remedeo nisto facilmente a podem emtrar lembrando que se não

tenhão em pouco estes neguoceos porque sertefico que todo se hade apallpar por piratas e hereges.153

Para protecção do porto de Ponta Delgada, em 1551 é projectada uma fortaleza. 154

Senhor - V.A. mandou que se tomasem huas çertas mididas no porto desta çidade de Ponta

Delguada, da ilha de São migel, pera se fazer hua fortaleza pera guarda do dito porto, as quais

medidas se tomaram perante os juizes e vreadores e muita parte do povo, estando eu presente, e se

fizeram conforme ao matiz que Manoel Machado leva, por quem o mandou fazer, e nam leva duvida

nhuma que aja mister outra declaração mais que a que pello matiz claramente consta e crea V. A. que

he muito neçessario fazer-se loguo a dita fortaleza, e mandar alguma artelharia pera defensão dos

navios que surdem no porto, porque depois que se escreveo a V. A. sobre esta fortaleza vierão aqui por

duas ou tres vezes náos francezas e tomaram alguns navios, em que tomarão hum com vinte e sete

pesoas, em que entravão nove molheres, do qual navio e gente não ha nenhuma nova e ha mais de dez

mezes que o tomaram; e por muyto çerto se afirma que todas as vezes que aqui vierem poderão roubar

os navios que no porto estiverem sem lhe poderem valer por falta da artelharia e fortaleza que não ha,

a qual agora he mais neçesaria por causa do grande creçimento em que vay a ilha com os açuquares

que agora se prantão e querem já fazer 155.

Em 1552 são enviados aos Açores o doutor Manuel Álvares e Isidro de Almeida para, com o

Provedor Pedro Anes do Canto, indicarem os lugares carecidos de fortificação156.

153 “ Informação dos Portos das ilhas dos Açores” , in A. A, vol. IV, pp. 121-124.

154 “Carta a El rei, sobre as medidas e risco da fortaleza de Ponta Delgada, de 23/III/1551”, in A.A., vol. II, P. 18. Esta fortaleza é o castelo de S. Brás, cuja construção se iniciará dois anos depois.

155 “Carta a El rei, sobre as medidas e risco da fortaleza de Ponta Delgada, de 23/III/1551”, in A.A., vol II, P. 18.

156 Pedro Annes do Canto. Eu Elrei vos envio muito saudar. Por ser informado dos roubos e dannos que os corsarios fazem em cada um anno n’essas ilhas dos Açores ordenei de mandar de se fazer em ellas o que fosse necessario para sua deffensão e para isso envio ora a essa ilha Terceira o Doutor Manoel Alvares, do meu desembargo e corregedor dos feitos civeis d’esta cidade de Lisboa e Isidro d’Almeida, cavalleiro fidalgo de minha casa, por ter conhecimento das coisas da fortificação, para que com vosco e com vosso parecer, verem o que se deve fazer na cidade d’Angra, da dita ilha Terceira, e assim em todas as povoações e portos que na dita ilha houver, conforme a um Regimento

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Nos “Anais da Ilha Terceira” temos notícia de que em 1561 os portos eram saqueados:157

No ano de 1567 o problema das fortificações desta ilha e das outras do arquipélago dos Açores

foi de novo posto em consideração por parte do governo158.

Essa necessidade de defesa das ilhas está bem patente numa carta do cardeal D. Henrique ao

corregedor Ciprião de Figueiredo, da ilha Terceira, datada de 1578, em que o rei o avisa da presença de

corsários franceses e ingleses e o exorta à <<defensão da ilha>>:

Licenciado Cyprião de Figueiredo: Eu El-Rei vos envio muito saudar. Por navios d'Inglaterra e

França fui agora informado que naqueles reinos se faziam prestes muitos navios com intento d'irem a

essas ilhas, e outras partes de meus senhorios: pelo que me pareceu mandar-vos logo este aviso para o

terdes, e estardes prestes e apercebido para qualquer caso que possa acontecer, e com mui grande

cuidado procederdes no que toca à defensão dessa ilha, e fazerdes em ela dobrar as vigias de noite e de

dia. E tenho por certo que nisto fareis e ao que estais obrigado, e eu de vós confio; e que se a essa ilha

forem esses corsários acharão nella tal resistência que se tornem com muito dano seu, e não ousem de

a tornar a acometter; e escrever-me-heis o que nesta matéria fizerdes em tudo o que nella passar.

Escrita em Lisboa a 7 de Novembro de 1578 annos. E este aviso mandareis à villa da Praia, e às outras

que vos, o dito Manoel Alvares mostrará e agradecer-vos-hei tanto que elles forem na dita cidade, onde hão-de primeiro ter ajuntarde-vos com elles quando for necessario juntos verdes, o que se na dita cidade e porto d’ella se deve fazer para sua deffensão; e assim em todos os outros logares e portos que na dita ilha houver. (“Carta d'Elrei de 18 de outubro de 1552 - Defeza contra os corsarios na Terceira”, in A.A., vol. XII, pp. 417-418).

157 ” ANNO de 1567. A fortificação da ilha Terceira e das mais dos Açores chamou a atenção do governo, pois que os corsários de muitas nações com grande poder infestavam estes mares, acomettiam os portos, e saqueavam algumas ilhas; porem a Terceira como escala das embarcações da India e do Brazil, era o principal objecto de tais inimigos. Já no anno de 1561 se havia dado impulso a este negocio, como dissemos; e constando que ás armas e munições então enviadas para esta ilha se lhes não dava o verdadeiro destino, e tanto se desprezavam que algumas pessoas as empenhavam por dividas, e davam à penhora, passou-se alvará a 11 de Março, que se não vendessem nem penhorassem, sob pena de serem pagas em dobro. E porque eram necessários grandes meios pecuniários, e o estado se achava em grande quebra por causa do naufrágio das nossas armadas nos mares das conquistas, deus-se alvará e regimento a 5 de Março, para que na ilha Terceira se estabelecesse a imposição nos vinhos, carnes e azeites para as obres de fortificação da costa; e se estabeleceu o pagamento de dous por cento em todas as mercadorias que se importassem: e os direitos d’ancoragem dos navios que aos portos viessem. (Francisco Ferreira Drumond, Anais da Ilha Terceira, 2ª ed., Angra do Heroísmo, (reimpr. fac-sim.), 1981, vol. I, pp. 146-147).

158 Id., Ibid., pp. 146-147.

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villas da vossa Correição posto que eu lhes escrevo; e também à pessoa que na ilha de S. Miguel

entende nas cousas de obrigação do capitão da dita ilha. Rei 159.

Aqui ficam definidos os princípios orientadores da fortificação e defesa açoriana no século XVI.

As fotificações surgem neste plano, não só como recintos adequados à defesa de gentes e haveres e

combate do invasor,160 mas também como mecanismo de intimidação a esse assaltante, isto é, como

taramela de figueira.

Ao plano de intensões de Bartolomeu Ferraz associa-se a campanha de fortificação levada a cabo

por Ciprião de Figueiredo na ilha Terceira. Esta iniciativa vem culminar todo o processo de fortificação

da ilha iniciado em finais do século XV. Na década de 80 do século XVI, a ilha Terceira surge "muito

fortificada e defensável com vinte e quatro fortes, antre fortalezas e cubelos, que em si tem" 161. Tal

situação deriva da ilha ter sido fortificada novamente com outras mais fortalezas e muros de pedra e

cal, pedra e barro e de fachina e pau pique ... 162 Especial atenção foi dada aos portos de Angra e baía

da Praia que, segundo Gaspar Frutuoso, se encontrava cercada de boa muralha, com seus fortes e

baluartes toda em redondo ... trincheiras de pau pique de uma banda e de outra ...163

Do período do governo filipino ficou a mais imponente das fortificações erigidas nos Açores.

Esta fortificação do Monte Brasil fora idealizada em 1572 no plano de defesa da baía e Porto de Pipas,

159 “Carta Régia ao corregedor Cyprião de Figueiredo a respeito dos corsários d'Inglaterra e França” in Id., Ibid., p. 667.

160 E asy me parece que sseria mui proveitosso e serviço de V. A. que em cada vila das que estão perto d agoa, que a custa dos moradores de toda a ilha e dos capitães e de V. A. ssua parte sse fezesse hum castelo de pedra e cal espaçoso e de grossura e altura que baste a sse defenderem de lança e escudo e com sseus travesses e artelheria, assy que defendão a desembarcação como a parte da terra onde forem necesarios, onde ha qualquer pressa recolhão ssuas molheres e fazendas de mais importancia, e com tal avysso que em ho tempo de ssospeita o tenhão provido de agoa ou fação nele cisterna, e de farinha e fornos e lenha e dos mais mantimentos e que poderem. (“ Carta de Bartholomeu Ferraz, aconselhando El rei sobre a necessidade urgente de se fortificarem e guarnecerem as ilhas dos Açores, por causa dos corsários franceses. (1543) ” in A. A., vol. V, p. 366).

161 Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, Liv. VI, p.53.

162 Id., Ibid., p.46.

163 Id., Ibid., pp. 14-15 e 24.

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todavia, em face de reclamação dos moradores de Angra, apenas se avançou com o castelo de S.

Sebastião, ficando suspensa a construção do Monte Brasil164. Mas na década seguinte sentiu-se a

necessidade de um recinto fortificado, substitutivo do castelo de S. Luis, capaz de cruzar fogo com o

castelo de S. Sebastião. Assim, surge o forte de Santo António. Mas a importância do porto de Angra,

no contexto da economia atlântica, implicava o reforço da defesa deste porto, pelo que o monarca

recomenda em 1590 a sua construção não só para defender a Terceira, mas ainda mais ilhas ou as

restaurasse ao menos, se por inimigos fossem entradas, ou como dizia Filipe III em 1613 por ser a

ilha Terceira a escala das armadas, frotas e mais navios que vem d'umas e outras Índias... 165 Desta

forma, com o plano de defesa elaborado por D. António de La Puebla, se deu início à fortificação do

Monte Brasil, sendo o seu plano elaborado por João de Vilhena. As obras iniciaram-se em 1592 e cinco

anos após encontrava-se já em forma de praça cerrada, todavia só em 1643 se concluiu a construção dos

alojamentos da cidadela. No período de 1592 a 1623, em que decorreram as obras do referido castelo,

todos os proventos resultantes da imposição dos 2%, do vinho e carne da Terceira e mais ilhas dos

Açores foram canalizados para a referida obra, o que provocou o abandono e impossibilidade de dar

atenção às restantes fortificações. Assim, em 1609, dava-se conta do estado de ruína 166.

Em 1617 o Rei toma providências no sentido de defender as ilhas dos Açores de possíveis

ataques e corsários:

Carta Régia ao corregedor a respeito dos corsários que intentavam atacar estas ilhas.

Corregedor das ilhas dos Açores eu El-Rei vos envio muito saudar. Eu mando a essa ilha, e ás mais

dessas costas visinhas a ellas, ao capitão e sargento mor Marcos Fernandes de Teive, para em primeira

164 Capitão Spinola de Melo, O Castelo de S. João Baptista da Ilha Terceira e a Restauração de 1640, Angra do Heroísmo, 1939, pp. 44-46.

165 Id., Ibid., p. 40.

166 Pediu D. Luis d' Alencastre ao corregedor Roque da Silveira informação do estado das fortificações da ilha Terceira, dos rendimentos a ellas applicados, suas origens, e maneira de sua fiscalização, e se era necessário acrescentarem-se. Mandou então o corregedor ouvir a camara dÁngra, onde serviam Manoel do Canto de Castro, Domingos Martins da Fonseca, Luis Pereira de Lacerda, Sebastião Moniz de Barreto, e Melchior Homem Gularte, os quaes responderam que o estado da fortificação era de grande ruina. (F.F. Drumond, Ibid. , p. 421).

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via se vos dar esta, para as visitar, e pôr todas em ordem à defensão, pelo cuidado que poderão dar os

corsarios turcos, já no mar em quantidade, que obrigam a cuidado; não deixando também de coroar os

bons sucessos, que estes annos tiveram nellas, com que se pode presumir, que muitos bandos delles o

emprehenderão todos. E porque para melhor encaminhamento do que se pretende, lhe mandei que

communicasse ahi com o mestre de campo D. Gonçalo Mexia este negocio, e a instrucção que leva: e

para o mesmo effeito convem ao meu serviço, que vos ajunteis com elles, e para tractareis da execução

delle, na forma que ordeno, encarrego muito que com se vos dar esta carta e tiverdes aviso do mestre

de campo, e do capitão Marcos Fernandes, que estão juntos na fortaleza, acudais a vos juntar com

elles e procureis servir-me nesta materia, como de vós confio, e o tenho por certo do zelo e animo que

acudis à vossa obrigação, e a meu serviço. Escrita em Lisboa a 12 de Dezembro de 1617. O marquez

d'Alenquer, Duque de Franca Villa. Por El-Rei ao corregedor das ilhas dos Açores, ou a quem o dito

cargo servir. 167

Esta primeira campanha de fortificação no arquipélago encerra em 1643 com a conclusão das

obras do castelo de S. Filipe (então de S. João Baptista)168. Este momento é marcado por três fases

importantes; uma primeira na década de 60 do século XVI, marcada pelo reconhecimento de

167 Id., Ibid., p. 711.

168 Construção de fins do século XVI e começo do XVII é constituído propriamente por uma cintura de muralhas, que nalguns pontos atinge mais de 20 metros de altura, com fosso e esplanada cortando o istmo da península do Monte Brasil, que assim forma o núcleo da magestosa fortificação. Antecipando-se à concepção dos ingleses que criaram Gibraltar, Filipe II de Espanha, subindo ao trono de Portugal em 1580, mandou fortificar a ilha Terceira com os mais poderosos recursos militares, de que no seu tempo se dispunha, ficando no Monte Brasil um ponto de apoio formidável para as suas frotas, do qual o poder de Espanha desafiou com pleno êxito todas as armadas de corsários que Isabel de Inglaterra enviou a cortar caminho às naus ... Contra o poder do castelo de S. Filipe - como então se chamava - foram impotentes os mais famosos almirantes ingleses, Drake, Howard, Frobisher, o conde Essex ...Quando em 1643, após a Restauração, o castelo de S. Filipe se rendeu às forças da Terceira, D. João IV mandou que a fortaleza passasse a denominar-se de S. João Baptista. ( B.I.H.I.T., vol I, 1943) O peso da empresa gigantesca que foi a construção do castelo de S. Filipe, as fintas, as pesadas imposições, o despotismo de João d’Horbina, o luto e a dor daí resultantes, as duras lutas durante o cerco que dividiam as populações, as ameaças e receios, são tudo aspectos que a História não regista, mas que a tradição não esquece. A narração novelesca desses episódios teriam criado a lenda da opressão e martírio à volta da vida intra-muros do castelo. Daí que servir à “tropa de linha” ou “ir para o castelo” sejam expressões relutantes chegando o tempo “das sortes”. O cancioneiro regista algumas dessas alocuções: Quando cheguei à Terceira, Fiquei como a noite escura, maldito castelo de Angra, És a minha sepultura. O castelo, presença respeitável de guardião do poder de Espanha em terras de Portugal, é desta maneira “desprestigiado” pela tradição popular.( F. Lopes Jr., “O castelo na tradição popular”, in B. I. H. I. T., 1951, vol. IX, pp. 242-244).

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necessidade de um plano integrado de defesa, uma segunda, na década de 70 e 80, com a primeira

concretização desse plano, a que se segue o último momento marcado pela construção da mais

importante fortificação açoriana.

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Notcias sobre o corso francs e ingls.

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A inauguração, pelos portugueses, de uma rede de comércio que canaliza para Lisboa e

Antuérpia uma preciosidade de carregamentos, não podia deixar de despertar cobiça nos países que se

encontravam afastados desse tráfego marítimo e mercantil. Para estes, torna-se mais cómodo e de

proveito mais seguro ficar à espreita, na rota de regresso, das caravelas carregadas.

Grande parte da imensa riqueza que circulava pelas rotas transatlânticas abertas por portugueses

e castelhanos não chegou ao seu destino natural, porque foi desviada por processos enviesados. A

guerra de saque também contribuiu para isso169.

Diz-nos Gaspar Frutuoso que no tempo em que el-Rei D. Afonso trazia guerra com el-Rei D.

Fernando de Castela e Aragão, vieram a estas ilhas duas naus de castelhanos com determinação de

roubarem e meterem a saque as povoações d’elas ....Não tendo logrado entrar em Vila Franca, aquelas

nãos terão tomado o caminho da Terceira e saqueado a Vila de Angra170.

Segundo o mesmo informador, serão os andaluzes que, n’aquele tempo das guerras de Castela

com Portugal, vivendo el-Rei D. João, o segundo do nome, soiam vir por estas ilhas, em armadas a

roubar e fazer entradas ...171

A partir do século XVI os navios portugueses serão objecto de assalto de corsários europeus.

Estes pretendem reclamar contra a teoria do mare clausum de D. Manuel e mais tarde de D. João III.

São os franceses os primeiros a defenderem a doutrina do livre trânsito nos mares e o direito de

atacarem as nossas terras. Assentes nesse princípio, lançam-se sobre as embarcações portuguesas

despojando-as das suas mercadorias: em 1508, Mondragon roubou nos mares dos Açores, Job

Queimado, comandante de um navio português que vinha da Índia; no ano seguinte, o mesmo corsário

169 Não poderemos atribuir exclusivamente ao corso a perda das cargas e naus das Índias a testá-lo podemos referir que no ano de 1589, a 19 de Outubro, chegaram à Terceira 14 navios das ìndias Ocidentais fazendo parte de uma frota inicial de 50. Alguns destruídos por tempestades, outros levados para diversos rumos. Os que lograram chegar à Terceira acabaram por ser tomados por corsários ingleses perto da costa de Espanha e levados para Inglaterra. Toda a frota foi perdida! (Cf. Linschooten, Op. cit., p. 157).

170 Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, Liv. IV, p. 84.

171 Id., Ibid., p. 110.

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foi surpreendido por Duarte Pacheco no Cabo Finisterra, quando de novo se dirigia para o mar dos

Açores, tendo, após combate, sido trazido para Lisboa com três dos seus navios172.

É sobretudo a partir de 1520 que a incidência de ataques corsários se tornam mais intensos.

Vitorino Magalhães Godinho, partindo do inquérito judiciário feito em Guimarães no ano de

1532 apresenta-nos o seguinte levantamento das presas feitas por corsários franceses:173

172 M.E.C.F. "Pirataria" in D. H. P, vol V.

173 Vitorino M. Godinho, "As incidências da pirataria", in Ensaios, p. 188.

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Número de navios portugueses apresados pelos franceses

Anos Anos

1520 2 1526 1

1521 2 1527 1

1522 1 1528 4

1523 1 1529 2

1524 4 1530 1

1525 1 Soma 20

É através de dois balanços datados de 1531 e 1534, a pedido do rei, que podemos constatar a

amplidão do corso francês às embarcações portuguesas. Segundo D. João III desde inícios do século até

1531 os franceses teriam apresado mais de trezentos navios. Em 1534 numa carta do rei ao embaixador

em França era referido que trezentos e cinquenta navios portugueses teriam sido tomados ou pilhados

pelos franceses174.

No que se refere ao arquipélago açoriano os dados apontam para 22 navios roubados, entre 1521

e 1537175.

Ao tratarmos do corso no mar dos Açores teremos de referir, aliás repetindo o que é de todos

conhecido, o seu peso estratégico: era aí a encruzilhada dos rumos da nova ordem económica europeia,

os que vinham das Américas e da Índia, atraíndo, nesta primeira metade do século XVI, os corsários

174 Id., Ibid., p. 189.

175 Ana Maria Pereira Ferreira, Ibid., p. 284.

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franceses176. Não residiria no arquipélago em si ou nas suas riquezas o impulso que levava os corsários

franceses ao mar dos Açores. A explicação entronca no papel estratégico privilegiado que os Açores

tiveram de assumir desde a sua descoberta até aos nossos dias177.

Em Fevereiro de 1552, corsários franceses tomarão, junto da ilha de S. Miguel, um navio

proveniente da Madeira com 35 pipas de vinho e um outro, da Terceira, com azeite, dinheiro e

mercadorias diversas178. Em 1576, agentes da mesma nacionalidade entrarão a Vila do Porto (Santa

Maria) e levarão quasi tudo o que n’ela havia, sem pouparem ornamentos e alfaias religiosas de ouro e

prata. Sob a ameaça de porem fogo à vila, haviam exigido, anteriormente, o pagamento de 50 vacas, 20

porcos e 30 carneiros179.

Se estes números pouco nos dizem pelo seu carácter generalista, pense-se, por exemplo, que o

micaelense Pedro Vaz Pacheco, por fazer vida sumptuosa e [...] também por lhe roubarem francêses por

vezes alguns navios, que mandava carregados [ao Algarve], recebendo muita perda ... ,acabou por ter

de vender os seus bens e morreu pobre180. Aliás, não era só a fazenda que corria perigo com a actuação

dos corsários. Em 1550, designadamente, os franceses tomaram um navio em Ponta Delgada, com 27

pessoas a bordo, entre as quais 9 mulheres, (...)do qual navio e gente não há nenhuma nova181. A

propósito recorde-se que nas grandes rotas transatlânticas não circulavam apenas mercadorias, mas

também passageiros e notícias (novas). Em Julho de 1593, chegou ao porto de Ponta Delgada uma

caravela, de que era proprietário um micaelense, com frete e passageiros de Lisboa para esta ilha 182 . E

o navio de Gaspar Furtado, que por essa cidade [a de Ponta Delgada] veio da de Lisbôa, chegou a esta

d’Angra meiado o mez de Janeiro; pelos passageiros e mestre tivemos as novas (...); as novas eram taes

176 Id., Ibid.,p. 285.

177 Id., Ibid.,p. 285.

178 “Carta do corregedor, de 16 de Março de 1552”, in A.A., vol. IV, pp. 64-65.

179 Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, Liv. III, pp. 108, 113 e 117.

180 Id., Ibid., Liv. IV, p. 77.

181 “Carta do ouvidor de S. Miguel, de 23 de Março de 1551”, in A.A., vol. II, pp. 18-19.

182 “Carta do Governador de S. Miguel, de 8 de Julho de 1593”, in A.A. vol. II, pp. 322-325.

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(...). Dizem que um capitão castelhano (...). Dizem mais que o Grão Turco (...). Disseram estes homens

que o desbarate na cidade do Porto (...) e que morriam da peste em Lisboa ...183

Em pleno Atlântico, as ilhas dos Açores são de extrema importância - tanto para produtores

como para depradadores. Repare-se, nomeadamente, que algumas das “entradas” serão realizadas com a

finalidade exclusiva de obter água e víveres, para os corsários poderem regressar às suas bases,

custando mais aos insulanos, por vezes, abastecer os inimigos de água do que vinho. Em 1589, por

exemplo, os habitantes da Graciosa dispor-se-ão a pagar 60 pipas de vinho aos corsários do conde de

Cumberland, esclarecendo um morador que quanto à água doce não podiam fornecê-la em quantidade

suficiente, por terem muito pouca ou nenhuma (...) e por isso preferiam dar dois tonéis de vinho de que

um de água 184.

Mas, voltemos à análise da actuação dos corsários franceses nos Açores. Em Setembro de 1553,

correrá, em Angra, a notícia de que uma armada francesa, constituida por 6 “grossas” naus e 3

patachos, com muita gente e armamento, depois de ter atacado a ilha da Palma, tomara um batel junto

de Sante Maria e procurava colher informações no Faial185. Os insulares receavam um ou mais ataques,

porque os desaguisados cometidos pelos franceses já haviam chegado ao ponto de tomarem

embarcações nos portos de Angra e Ponta Delgada186. Ainda no ano anterior, um galeão, uma nau e uma

zabra, sob o comando de Monsieur Jacques, haviam feito várias presas nos Açores, apesar daquele

corsário ter apresentado às autoridades de Ponta Delgada uma carta testemunhável em que o capitão da

Madeira confirmava não terem feito qualquer desaguisado naquela ilha187.

183 “Carta do corregedor, datada da Terceira, a 6 de Fevereiro de 1581”, in A.A. vol. I, pp. 468-471.

184 Cf. “A Viagem do Muito Ilustre George, Conde de Cumberland, Aos Açores etc., escrita pelo Excelente Matemático e Engenheiro Mestre Eduardo Wright” , tradução de J. H. Anglin, in Insulana, vol. XIX, 1963, pp. 40-79.

185 “carta do ouvidor de Angra, de 30 de Setembro de 1553”, in A.A., vol. IV, pp. 70-71.

186 “Carta do ouvidor de S. Miguel, de 23 de Março de 1551”, in A.A., vol. II, pp. 18-19.

187 “Carta do corregedor, de 16 de Março de 1552”, in A.A., vol. II, pp. 64-65.

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Entre outros factores que poderão explicar o comportamento dos corsários franceses, não

podemos esquecer que estes não estavam dispostos a aceitar os princípios da teoria do mare clausum e

daí o apoio às acções do corso. A 27 de Julho de 1530, por exemplo, foi conferida carta de marca a

João Ango, corsário e governador de Dieppe, pela qual o monarca francês o autorizava a tomar aos

portugueses valores até à importância de 26 000 ducados188.

O penúltimo quartel do século XVI foi um período em que os franceses fustigaram, por diversas

vezes, os mares e as ilhas dos Açores através de acções de corso realizadas com maior número de

efectivos. Em 1576 a Vila do Porto foi entrada por corsários franceses que rondariam as quatro dezenas,

transportados em uma nau muito grande , outra mais pequena e uma lancha189.

Consequentemente, o aumento do poderio naval dos inimigos exigia a mobilização de mais

meios da parte de portugueses e castelhanos conforme sugeriam alguns oficiais e pessoas influentes dos

Açores: (...) sou de parecer que deve vir grossa armada em guarda das náos da Índia por que afirmou

hum homem que veo de Sam Miguel neste barco que fôra a bordo dese galeam cosairo e que lhe

contara vinte e tantos tiros [peças de artilharia] por banda e que trariia acima de trezentos

homens ...190.

É a partir de Março, e porque começam a ser esperadas as naus da Índia, que bretões e

normandos descem até ao mar dos Açores. É de salientar, entre o grupo dos depradadores, a existência

de uma hierarquia. Encontramos, por um lado, o grande corsário, que actua em conserva, tendo

preferência pelos valiosos carregamentos das naus das Índias; por outro, o pequeno aventureiro,

desprovido dos meios do primeiro, cujo objectivo preferencial serão as embarcações de menor porte

não se arriscando em empreendimentos de vulto191.

188 Ana Maria Pereira, O essencial sobre o corso e a pirataria, p. 29.

189 Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, Liv. III, p.117.

190 “Carta de João da Silva do Canto, de 22 de Maio de 1572”, in A.A., vol. I, pp. 138-139.

191 Ana Maria Pereira Ferreira, Ibid., p. 29.

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O século XVI é marcado por dois momentos de maior incidência da guerra de corso nos mares

açorianos: um primeiro até 1580 dominado pelos assaltos franceses e ingleses e um segundo entre

1581-1600, em que a guerra de represália se associa à ocupação do solo açoriano pela coroa filipina. A

usurpação castelhana, que colocou Portugal sob o domínio Castelhano, fez que tivessemos de sofrer

farto quinhão nos insultos a que o comércio marítimo, as armadas e as costas de Espanha iam ser

sujeitas. 192 Este último momento é marcado por uma forte intervenção britânica em que se destaca a

presença de importantes almirantes da referida marinha, como Francis Drake , Conde de Cumberland ,

Jolin Hawtkins, Martin Frobisher, Thomas Howard, Richard Greenville e o Conde de Essex 193. Por

vezes essa intervenção alarga-se aos portos de Ponta Delgada, Angra e Horta ou ao saque sistemático de

localidades como sucedeu em 1587 nas Flores194. Ao largo da mesma ilha teve lugar em 1590 uma das

mais sanguinolentas batalhas navais travadas em mares açorianos que pôs frente a frente a frota de

Richard Greenville e a armada castelhana195. Sete anos depois, o Conde Essex surge com uma armada

de 143 embarcações com o objectivo de conquistar a Terceira, ou outra ilha dos Açores, e aí montar

uma base de apoio para as suas operações navais no Atlântico podendo mais seguramente vigiar a

chegada das naus de torna-viagem de ambas as coroas e apoderar-se delas. Esta expedição era mesmo

conhecida pela viagem das ilhas196.

Remontemos, pois, a 1582, ano em que se deu o primeiro ataque dos ingleses, o qual teve por

alvo a nau <<Boa Viagem>>, que vinha de regresso da Índia quando foi atacada por navios ingleses

próximo dos Açores197.

192 Almirante Alfredo Botelho de Sousa, "Os Açores campo estratégico para o ataque ao nosso comércio marítimo nos finais do século XVI" in Insulana, 1945, vol. I, p. 418.

193 Id. Ibid.

194 Ver Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, Vol. VI, p.346.

195 Maria Irene Gil da Silva Braz Teixeira, "A Batalha da Ilha das Flores - Sir Richard Greenville e o “Revenge", in B. I. H. I. T.,vol. XXV-XXVI, 1967-68.

196 Almirante Alfredo Botelho de Sousa, Ibid., p. 486.

197 Id., Ibid., p. 477.

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A partir de então os ataques desencadearam-se de forma tão sistemática que <<num período de

catorze anos se deram nove assaltos de navios ingleses às naus da Índia, sete das quais foram tomadas,

incendiadas ou encalhadas, perdidas em qualquer caso>>198.

Efectivamente, três anos não eram volvidos sobre o ataque ao <<Boa Viagem>>, quando dois

navios ingleses surgem sobre a ilha de S. Miguel. Aí travaram luta com os navios que se encontravam

ancorados em Ponta Delgada, queimando cinco deles, abalroando uma nau biscaínha e matando muitos

dos seus tripulantes e aqueles que da ilha tentaram socorrê-los. Um navio vindo do Brasil também foi

tomado 199

escravos que nele se encontravam postos em resgate.

Como testemunho deste ataque, podemos apontar duas cartas, datadas desse mesmo ano (1585).

Uma delas é dirigida a Filipe II pelo corregedor de Leiria, na qual põe o rei ao corrente do que se

passava na ilha de S. Miguel.

Senhor

Oje 27 deste outubro chegou a este porto de Peniche (aonde) estou, hua carauela delle e vinha

d' Aueiro auia novas que erão tomadas dos ingreses onze náos de bacalháo que vinham da Terra Noua

com outras de Viana e Lesa, e que huns marinheiros das onze escaparão em um batel, disserão em

Aueiro que a armada se partira 2ª feira, 21 deste, da ria de Vigo em galiza onde se forão recolher com

o vendaual dos dias pasados, e na mesma carauella achei um marinheiro por nome Gil Mena, de

Cizimbra, que me disse auia 25 dias partira da ilha de S. Miguel em um nauio d'Aueiro, e antes de

partir doze dias, uieram ancorar ha ilha duas náos ingresas e queimarão e botarão a traues cinco

nauios, que acharão no porto, de partes, entre os quaes era ho en que vinha por marinheiro, e assim

mais que estando ancorada hua náo bisquainha debaixo da fortaleza da ilha, a albaroarão de noite

has duas ingresas, e lhe matarão muita gente e asim da que lhe socoreo da terra, e que os mesmos

198 Jaime Cortesão,”Domínio ultramarino”, in História de Portugal, Barcelos,Edição Monumental da Portucalense Editora, Lda., vol. V, p. 351.

199 “Cartas do corregedor, de 5 de Outubro e 23 de Novembro de 1585”, in A.A., vol. II, pp. 120-126.

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ingreses diserão ao mesmo Gil Mena e a outros, que se fossem que antes de cinco dias auiam de vir 40

náos ha mesma ilha. E o que se presume he que parte desta armada que dizem tomar as rias da Galiza

foi com o tempo contrairo, também tomarão has 2 ingresas na ilha hum nauio d'escravos que vinha do

Rio e os pozerão em resgate. Parece me ser necessário fazelo saber a V. M. de pera prover como fosse

seu seruiço; a gente deste porto e dos lugares que a ele podem acodir, tenho aduertida e postas uigias

en terra nos lugares acomodados, que vigião ho mar de dia e noite com barcas que todos os dias

mando, mas estão os homes desapercebidos das armas alguus e a terra mal prouida de poluora, mas

obrigo aos tendeiros terem na fortaleza a continoa uigia e auerá tres ou quatro quintais de poluora,

deve V. M. de mandar milhor prouer della pera que auendo algua cousa, que Deus não permitta, não

falte noso S.or; ho real estado de V. M. de prospere per m.tos annos.

Peniche ha 27 de outubro 200

A outra carta, de Cristovão Soares d'Albergaria, dirige-se ao Arquiduque Alberto, no momento

vice-rei de Portugal, 201 e é datada igualmente do mesmo ano de 1585, a 23 de Novembro. Nela se

relata também o ataque dos ingleses de que foi vítima a ilha de S. Miguel, informando-o de que novos

ataques se haviam dado às ilhas e que por esse motivo se tornava urgente a sua protecção e defesa por

meio de fortalezas, que se haviam começado a construir, apelando para que mandasse prosseguir as

obras, então paradas, pois de contrário, nunca mais estariam prontas para deter os inimigos. Assim se

apresenta a carta:

200 “Carta a El-Rei por Filipe Machado de Novaes, corregedor de Leiria, em 1585, communicando notícias sobre os estragos que faziam os corsários Ingleses em S. Miguel e outras partes”, In A. A., vol. I, p. 239.

201 O Arquiduque Alberto de Áustria nos anos 1583 a 1598, durante o domínio castelhano foi vice-rei de Portugal, após Filipe II de Espanha, passados dois anos de residência em Lisboa, ter regressado a Madrid.

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Senhor

Depois que desta ilha escrevi a V. A. como duas naos ingresas, defronte da cidade de Ponta

Delgada, pelejaram com um galeão desarrotado da armada que este ano veo sperar has frotas de

Indias; e o sucesso da briga, nunca mais estes cossairos Inglezes deixarão de molestar estas ilhas,

correndo o mar d'ellas com tanta liberdade, que a tirão de nos podermos communicar de hua para

outras, porque a vista desta tem tornado estes dias sete navios, e nas de baxo seis, coatro do Brasil e

dous de Indias, de que me escreveo o mestre de campo João Dorbina, que tinha avisado a V. A. , em um

caravelão, que para esse effeito despachou, e pela incerteza das cousas do mar o torno a fazer n'esta.

O mes passado vierão tres naos de mercadores inglezes carregar de pastel, no porto da cidade

de Ponta Delgada; em um delles veio, Duarte Privado, desta ilha, que por mandado do conde de Villa

Franca era naquelle Reyno com seus negócios de mercancia. Este deu aviso como em um hum porto de

Inglaterra ficava hua armada de 22 naos grossas, a cargo de Francisco Draque, e em sua companhia

Dom António, prior que foy do Crato, que de poucos dias avia chegado de França, e que ficavão para

se fazer ha vella a devisão já de andar no mar, sem saber seu desenho por aver muitos e diferentes

pareceres, e algum que virião a estas ilhas, de que a gente desta fica chea de medo e desprovida de

todas as cousas necessarias para sua defensão, como são armas, pólvora, munições e exercicio, de que

V. A. a deve mandar prover com tempo, ao menos a fortaleza de Ponta Delgada, por que enquanto ella

se defender estará a terra guardada, está falta de todas estas cousas, sogeita a padrastos,

principalmente dos dois mosteiros de S. Francisco e da Esperança, que lhe ficão a cavaleiro, e estão

por acabar, alguas fortificações começadas, a estrada cuberta, que principiou o mestre de campo

Augustin Inhiges, e ha plataforma diante da cortina de leste, que com serem de muita importancia

correu as obras dellas tão de vagar, que se V. A. o não mandar lembrar, nunca serão acabadas, e

acabandose, tirados hos padrastos, ficará a fortaleza defensavel, reforçada de mays gente de guerra,

porque tem pouca para sustentar e quanto ha na terra. Como he grande e aberta, sua defensão consiste

na gente della, que se quizer pelejar, bastante he para se defender sem presídio, posto que tem pouca

ordem e algum desabrimento, com ho conde, que ha mór fraqueza que lhe sinto, e sem embargo que

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nelle enxerguei sempre grande vontade e bom zelo de cumprir com o que deve ao serviço de S. M. de e

à sua obrigação, me pareceo razão avisar a V. A. deste particular, que importa muito. (...)

... Em Villa Franca da ilha de S. Miguel a 23 de Novembro de 85

Christovam Soares d'Albergaria

(sobrescripto) Ao Muito Alto e Muito Poderoso Príncipe Cardeal 202

No ano seguinte (1586) dois navios de Sir Walter Raleigh partem de Playmouth com destino à

costa de Espanha e Açores, atacando os barcos que aí se encontravam. As embarcações eram duas

pinaças, uma chamada "The Serpent" e a outra "The Mary Sparke of Playmouth". Na sua viagem

apresaram uma pequena barca carregada de Sumagre e outras mercadorias, a bordo da qual se

encontrava o governador da ilha de S. Miguel com outros portugueses e espanhóis. Navegando para a

ilha Graciosa avistaram um navio espanhol. Logo hastearam uma bandeira branca no mastro da proa,

pelo que julgaram, os espanhóis, tratar-se de algum navio das armadas do rei de Espanha à espreita de

navios de guerra ingleses; desta forma foram enganados e apresados. Na embarcação encontrava-se um

gentil-homem de Espanha, de nome Pedro Sarmiento, governador dos Estreitos de Magalhães, que foi

aprisionado e levado para Inglaterra.

Fazendo rumo à Inglaterra, estando ao largo das ilhas na latitude de 41 graus, avistaram uma

armada de 24 navios carregados de riquezas, especiarias e açúcar. Tendo entrado em luta contra estes

navios, acabaram por desistir, por falta de pólvora, sem que pudessem apresar algum203.

Nesse ano também a nau <<S. Filipe>>, comandada por João Trigueiros é atacada no regresso

da Índia, por Sir Francis Drake, que após a incursão a Cadiz decidira tentar a sua sorte no mar dos

Açores. A tomada deste navio foi de grande proveito para os ingleses, uma vez que, além da preciosa

202 In A. A., vol. II, p. 125.

203 João H. Anglin, "Pirataria nos Açores no último quartel do século XVI", in Insulana, Vol. XIX, 1963, pp. 75-79.

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carga que transportava, se encontravam na sua câmara valiosos documentos, que chamavam a atenção

dos ingleses para os navios de comércio da Índia e lhes davam a conhecer os processos para a

organização de um comércio semelhante que viriam a pôr em execução poucos anos depois, com a

fundação da sua Companhia das Índias Orientais204.

Com efeito, teria sido nesses assaltos às armadas das Índias, que os ingleses se teriam apoderado

dos roteiros das costas e das relações do comércio, que lhes teriam facultado o conhecimento das rotas e

do tráfego do Oriente.

O ano de 1587 regista igualmente um ataque de corsários ingleses, desta vez à ilha das Flores.

Por um manuscrito da autoria do Dr. João Teixeira Soares, teriam chegado a esta ilha, ao porto da vila

das Lages, a 2 de Junho desse ano cinco navios ingleses. Poderosamente armados e conhecendo a

fraqueza da terra, mandaram pedir mantimentos por um português, e, em oito dias, acabaram por

saquear toda a ilha, inclusivamente as igrejas, apenas escapando algumas imagens e ornamentos que os

sacerdotes haviam conseguido salvar. O Dr. João Teixeira Soares refere que os ingleses roubaram tudo

<<não ficando casa de pé>>, tendo depois passado à vila de Santa Cruz e a Ponta Delgada205.

A presença de corsários na ilha das Flores é notificada igualmente por Gaspar Frutuoso, o qual

indica como data desse assalto, 25 de Junho de 1587. Ao confrontarmos, no entanto, as duas versões

verificamos que coincidem completamente, excepto na data, o que nos leva a crer, que se tratará do

mesmo ataque e não de outro posterior.

Diz Gapar Frutuoso:

204 Almirante Alfredo Botelho de Sousa, Ibid., p. 480.

205 Em dois de junho de 1587 chegaram ao Porto da villa das Lages desta ilha das Flores - cinco navios ingleses, armados com muita gente de guerra, com pretexto de paz, e mandando em um barco um portuguez que lhe dessem mantimentos, conhecendo a fraqueza da terra, entraram em oito dias e saquearam roubando tudo até as egrejas, escapando algumas imagens e ornamentos que os sacerdotes livraram não ficando casa em pé. O mesmo fizeram na villa de Santa Cruz e algumas coisas se salvaram no logar de Ponta Delgada. (Manuscrito de João Teixeira Soares, in A.A., vol. X, p. 501).

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A vinte e cinco dias do mês de Junho de era de mil e quinhentos e oitenta e sete chegaram ao

porto da vila das Lagens cinco navios ingreses, armados com muita gente de guerra e bandeiras

vermelhas pelas quadras, e nos mastos outras de cruz, como que vinham de paz e de guerra; e

subitamente, apareceram ao longe, parecendo aos moradores da terra que era gente da armada

portuguesa. Chegando ao porto, mandaram um barco a terra com um português, que, de sua parte,

disse lhe dessem mantimentos, carne, vinho e água, ao que respondeu o ouvidor e capitão da

companhia que tomassem água e depois lhe dariam o mais que lhe fosse necessário. Conhecendo os

inimigos sua fraqueza, lhe mandaram dizer que lhe mandassem um homem e eles mandariam outro em

reféns, o que lhe concederam; e não bastou dar-lhe o ouvidor Diogo Pimentel um homem por outro,

mas também deu um batel com dois homens da terra, fazendo-os embarcar contra sua vontade. E assi

tomaram os cossairos a terra, trazendo os homens consigo, fazendo-les mostrar as pessoas ricas,

fazendas e gados, e desta maneira destruiram quanto acharam, queimando os templos todos e

assolando as casas, sem ficar uma só.

A gente que pôde fugir se acolheu ao mato, em que andou alguns dias, agasalhando-se à sombra

das árvores e em algumas pobres cafuas e ao longo das paredes, padecendo fome e frio; porque, com a

pressa da fugida, não poderam levar consigo mantimento e quase perderam quanto tinham. Somente

salvaram os sacerdotes alguns ornamentos e imagens da igreja. Queimaram os inimigos o retábulo da

igreja Matriz e derribaram esta e as mais, estando oito dias de posse da vila, em que descobriram e

roubaram quantas coisas os moradores, com a pressa da fugida, deixaram escondidas. O mesmo dano

fizeram estes inimigos depois, na vila de Santa Cruz no lugar da Ponta Delgada, da dita ilha das

Flores, onde se salvaram mais coisas, no espaço de tempo, que estavam os cossairos na vila das

Lagens206.

206 Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, Livro VI, p. 346.

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Em 1588, João de Urbina, na altura corregedor e governador da ilha Terceira recebe uma carta

do rei, prevenindo-o de que corsários em grande número pretendiam atacar os Açores e pondo-o de

sobreaviso para a eventual defesa das ilhas207.

Em 1589 velejava ao corso no mar dos Açores, a espreitar os navios que regressavam da Índia,

uma armada da Grã-bretanha, sob o comando do conde de Cumberland208.

Estando os ingleses em conflito com a Espanha, o aprisionamento das naus da Índia constituía,

pois, um acto de boa política e, sendo os barcos tomados presas de guerra, não deixava também de ser

uma maneira cómoda de adquirir cabedal. Não se constrangiam os nobres lords e condes, súbditos de

Sua Graciosa Magestade nesta diligência de rapinantes - eles e outros mais. Nós próprios que faziamos

por terras de oriente? Naqueles tempos era um profissão tolerada.

No primeiro de Agosto estavam à vista da ilha de S. Miguel, aprisionando dois navios espanhóis

ancorados no porto, com carregamento de vinho e de azeite. A artilharia do castelo troou, mas sem

resultado, ao acaso, porque já era noite209.

207 (...) El Rei escreveu ao corregedor e ao governador desta ilha uma carta, prevenindo-os de que os corsarios com grande poder como se presumia, demandavam as ilhas dos Açores; e para lhes resistir, persuadia a estas auctoridades empregassem todos os meios, de forma que em qualquer tempo e logar os inimigos recebessem o damno que mereciam pelo seu atrevimento.Em consequência desta ordem, começou a haver nas ilhas dos Açores um grande trabalho de milicia e de fortificações, (F.F. Drumond, Ibid., p. 375).Corria o anno de 1589, bastante calamitoso para os terceirenses, pelos grandes temporaes que arrasaram muitos campos, levando consigo as paredes e as sementeiras. A 27 de Novembro escrevia D. Filippe a João de Horbina, prevenindo-o contra os piratas que, em grande numero, pretendiam atacar os Açores; e, apezar da fome eminente a que estavam sentenciados os terceirenses, encontrou o governador a boa vontade e o sacrificio em todos para uma boa defesa da ilha.Conjunctamente com o corregedor percorreu João de Horbina todas as câmaras da ilha consultando-as sobre as medidas necessárias contra o inimigo, e por esta forma poderam aquellas duas auctoridades desvanecer no animo do povo terceirense a lembrança dos actos cruéis praticados nos primeiros annos do seu governo. (Alfredo da Silva Sampaio, Memória sobre a ilha Terceira, Angra do Heroismo, Imprensa Municipal, 1904).

208 Cf. António Lourenço da Silveira Macedo, História das Quatro Ilhas que Formam o Distrito da Horta, s.l., Região Autónoma dos Açores - Secretaria Regional da Educação e Cultura - Direcção Regional dos Assuntos culturais, 1981, vol. III, p. 268. Linschooten dá-nos o seguinte testemunho a propósito da proliferação de corsários ingleses nos mares dos Açores: quando nos aproximavamos das ilhas do Corvo e Flores, avistámos três velas que não nos deram pouco que fazer, pois atacaram a nossa almiranta e lançaram-se sobre ela e sobre uma outra nau a tiros de canhão durante um bom espaço de tempo. Eram bregantina ingleses de 30 toneladas, segundo nos pareceu, e os quais nos seguiram pela noite adiante (...) Achámonos porém em outro embaraço por não sabermos em que estado se achava a ilha Terceira, pois, olhando para a ilha, ao redor da qual singravam os ingleses, não viamos caravelas algumas portuguesas. (Linschooten,Op. cit., p. 146).

209 Estes aventureiros abandonando-se ao curso dos ventos (...) acharam-se no primeiro d’agosto a vista da ilha de San-Miguel, a mais oriental dos Açores. Aproximaram-se durante o dia, e tomando o

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No dia 14 aportaram às Flores, a fazer aguada e tomou algum refresco em troca de azeite, vinho

e pimenta. Alguns tripulantes curiosos andaram em excursão no interior da ilha. Demoraram-se nisto

uns poucos de dias210.

Entretanto teve o conde notícia de que havia barcos espanhóis fundeados na Terceira. Levantou

ferro a toda a pressa e partiu, fazendo trajecto pelo Faial. Em 30 de Agosto foram sobre a ilha Terceira

com intenção de ali encontrarem algum barco para apresarem. A desilusão foi grande, ao saberem que

as caracas já dali tinham partido havia oito dias. A magoa de perder uma tão bela esperança fez-lhes

surgir a ideia de regressarem ao Faial e tomar a vila.

Em 10 de Setembro achando-se no ancoradoiro do Faial, Cumberland declara à vila as suas

intenções: obrigar os habitantes a pagar um resgate ou sofrerem os malefícios da guerra. Os habitantes

recusam a proposta e são atacados pelos ingleses211.

Estes acontecimentos são também relatados por Gaspar Dutra, apresentando o facto em data de 6

de Setembro212.

pavilhão hespanhol observaram de mui perto o porto da cidade, e n’elle descobriram ancorados trez navios, e algumas pequenas embarcações, de que resolveram apoderar-se durante a noute. As dez horas destacaram as chalupas, com alguns soldados bem armados, para picar as amarras, esperando que o curso da maré bastaria a trazer-lhes a preza; mas os soldados ao aproximar-se do maior dos trez navios, reconheceram ser embarcação ingleza chamada - Falcão de Londres - que um piloto escocez conduzia: e só picaram as amarras dos outros dois, que eram hispanhoes e não poderam evitar o infortunio. Vinho e azeite era a carga. Os hispanhoes da equipagem, perdida a esperança de resistir ao vento e a mare, que os arrastava, se deitaram a mor parte a nado com grandes gritos, espalhando o alarme no castelo. Bem depressa soou a artilheria, mas batendo ao acaso não pode na obscuridade prejudicar muito aos ingleses.(Id., Ibid., p. 268-269).

210 No dia 14 abordaram á ilha das Flores , no intento de ahi fazerem aguada, mas nada querendo dever senão à coragem propria, mandaram nas chalupas cento e vinte homens bem armados, para lhes servir ai fim. Ao aproximarem-se lhes fizeram os habitantes signal de paz , que foi correspondido pelo outro egual, e o Conde de Cumberland lhes fez declarar, que bem longe de pensar em prejudical-os, era amigo de don-Antonio seu rei, e que só lhes pedia refrescos, em troca d’azeite, vinho e pimenta, que lhes offerecia. Consentiram de boamente, e as chalupas fizeram este commercio, enquanto a frota ancorou a pouca distancia da costa. Alguns soldados inglezes , curiosos de visitar a ilha, penetraram n’ella obra de uma milha para o sul, até á Villa de santa-Cruz, que acharam abandonada pelos habitantes.Ja o temor os fizera procurar outros azilos, com o mais precioso do que tinham, lembrando-se que dois annos atraz tinham visto incendiar a villa por alguns navios inglezes, e que sua situação os expunha de continuo á mesma sorte. (Id., Ibid., p. 269).

211 Id., Ibid., p. 269.

212 In A.A., vol. II, pp. 303-305.

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Carta do Capitão Gaspar Gonçalves Dutra a Lopo Gil Fagundes, em Lisboa, sobre o que

aconteceo na ilha do Fayal no anno de 1589

As mais novas que lhe posso escrever são assás tristes por o grande castiguo que por nossos

peccados nos quis Noso Senhor dar cõ gente ereje e luterana imigos de sua santa fee.

A seis de Setembro de 1589 anoiteceram no porto desta ilha, trese naus de imigos em que vinha

huma do estado da Rainha de Inglaterra de novecentas toneladas, trazia quatro centos e cincoenta

homens e oitenta peças dartelharia toda de bronze, vinha por general hum Conde por nome Jorze de

Momborláo, estavam surtos em Santa Cruz debaixo da fortaleza sete navios em que estava huma nau de

India e outra do Cabo Verde, ricos, d'ahi o vierão tirar sem a fortaleza lhe poder valer por ser de noite

e fazer muito escuro e o seu poder ser grande e não ficou homem nenhum nos navios que se não

acolhesse a terra senão o Capitão da nau com sinquo homes por não ter em que viese pera terra por

lhe ser fugida a barca com a gente, e tiraram estes navios com as lanxas e dous pataxos, pasado este

trabalho, a vinte de Setembro vespera de S. Mateus, amanheceo este imigo com todo o seu poder em

que trazia quatorze naus, e surtos no porto mandou dizer por huma carta que lhe entregassem a

fortaleza e lhe mandassem alguns homens principaes da terra pera tratarem com ele o resgate que lhe

haviam de dar por não queimarem a villa e que não o fazendo não deixaria pesoa alguma a vida;

respondi-lhe com o parecer dos mais capitães por outra carta que a fortaleza que pedia era de S.

Magestade e que não a aviamos de entregar, mas que pera a defender estavão postos todos os

moradores da terra morrer sobre isso e que não mandavão homens para tratar do resgate por a terra

ser muito pobre e não ter dinheiro, por a terra ser estruida e saqueada avia pouco tempo, mas se

quizese mantimentos isto poderia fazer a terra com trabalhos. E não foi bem ouvido o recado do imigo

quando a gente da terra desempararão seus capitães, e não houve poder n'eles fazerem-nos esperar,

botaram os imigos na laguoa pasante de tresentos homes nas primeiras lanxas, e loguo tornaram por

mais e armada do imigo disparou sua artelharia na terra e fortaleza e a fortaleza a sua, mas nada

aproveitou aos capitães, nam lhe ficaram que pasasem de cem homens, nenhum dos montes acodio só

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João Francisco foi o melhor homem que achei de todos os capitães porque com seis ou sete homens e

cominguo e Domingos fernandes o Vigario e Thomas de Porras esperou sem aver mais pessoa em toda

a villa e por ser cousa temeraria esperar mais: nos fomos, veio marchando o imiguo, entrou na vila por

onde estaa o esfaladouro e foi á fortaleza e por os bombardeiros e a gente dela fugirem se foi Gaspar

de Lemos asi se apozentou o Conde saqueou a villa e roubaram todas as Igrejas, quebraram os

cruxifixos e todas as imagens de nossa Senhora e dos Santos que acharam em vulto fizeram grandes

estragos em todo o mais que nam poderam levar; nas Igrejas dormiam, faziam lume e de comer,

matavão porcos e faziam todas as sugidades que a eles era posivel fazer que afirma a .... nenhum

christam as vio que nam chorase muitas lagrimas feito todo este estraguo nas Igrejas e villa, mandou

dizer por Francisco Fernandes, filho de Antonio Fernandes, que a este tempo estava nesta ilha, que lhe

dessem vinte mil crusados e os Capitães móres e que nam queimariam as Igrejas e toda a vila, e com

arreceo de o fazer lhe deram dous mil cruzados em que se concertaram, recebido o dinheiro levou

quanta artelharia avia na fortaleza sem deixar peça se não duas que ficaram em Porto Pim que elles

nam viram e poseram fogo ás casas da fortaleza que arderam muita parte delas; estiveram sete dias em

terra; as molheres e a mais gente se foram pera os matos, a nossa gente esteve na Praia do Norte em

caza de Antonio Machado.

Ido este ladram tornou a dous de outubro com mais poder, que eram dezasette velas, a ancorar

neste porto e sahio em terra e fez cento e cinquoenta pipas dagoa; lancha trazia que carregava de uma

vez quarenta pipas dagoa e com muito roim mar, nam fez nenhum nojo na terra, deu palavra diso que

comprio, mas as molheres nam esperaram na vila e sempre suspirou este ladram por me ver, o que eu

não quiz: esteve tres dias em tomar a agoa e de noite com tempo se alevantou com a sua armada,

sómente ficaram tres naus que nam tinham tomado agoa, o outro dia nam lha quizemos dar e

levantaram ancora e vieram surgir muito perto da terra e tiraram muitas bombardas, e à noite se

foram: á feitura desta ficam á banda da Feteira quatro naus,; todas as noites dormimos na arêa; não

ha quem possa sofrer a vida que levamos, Deos nos valha.

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No dia 30 voltaram, então catorze naus em vez de treze. Logo que ancoraram mandou o conde

dizer por escrito <<que lhe entregassem a fortaleza e lhe mandassem alguns homens principais da terra

para tratarem com ele o resgate ... por não queimarem a vila e que não o fazendo não deixaria pessoa

alguma a vida>>213. Responderam os capitães Gaspar Dutra e outros, também por carta, que não

entregariam a fortaleza, estando todos os moradores da ilha dispostos a morrer em sua defesa, e que não

tinham que tratar resgate >>por a terra ser muito pobre e não ter dinheiro e ter sido destruída e

saqueada havia pouco tempo (referia-se sem dúvida ao saque praticado pelos espanhóis quando

ocuparam a ilha), mas se quisessem mantimentos isso poderia fazer a terra com trabalhos>>214.

Cumberland deliberou então atacar. Duma assentada desembarcaram na Alagoa mais de 300

homens; depois mais. De bordo protegiam a operação bombardeando a terra; o castelo retorquia; - mas

os pobres capitães, apesar do seu patriotismo, fracos de armamento, tendo apenas cem homens ao seu

dispor, sem mais ninguém a acudir-lhes, quer da vila, quer dos montes, que podiam? A vila estava

deserta; todos tinham fugido e também parte da soldadesca. No posto de honra achavam-se somente

Gaspar Dutra, o vigário, o capitão Tomás de Porras, Domingos Fernandes e João Francisco com seis a

sete homens. Os seus tiros eram coisa vã, que nem um único homem mataram aos invasores.

Resolveram, pois, debandar igualmente, <<por ser coisa temerária esperar mais>>.

Tomaram os ingleses posse da fortaleza, que encontraram abandonada, vendo-se o conde

vencedor com tão pouco custo, proibiu aos seus a pilhagem, e pôs guarda às igrejas e comunidades

religiosas. Mas os soldados cobiçosos pouco respeitaram a ordem215. Saquearam a vila, roubaram todas

as igrejas, destruindo imagens e fazendo grandes estragos em tudo mais que não puderam levar; nas

igrejas dormiam, faziam lume e de comer, matavam porcos e faziam todas as sugidades216. Por um

emissário mandou Cumberland pedir que lhe dessem vinte mil cruzados e lhe entregassem os capitães,

213 Cit. carta de Gaspar Dutra,in A.A., vol. II, p. 304.

214 Id., Ibid., p. 304.

215 Cit. relato em Silveira Macedo, Ibid., vol. III, p. 272.

216 Cit. carta de Gaspar Dutra,in A.A., vol. II, p. 305.

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senão queimariam as igrejas e toda a vila. Deram-lhe dois mil cruzados, que mais não podia ser, pagos

com pratas das igrejas, e com isso se contentou o nobre conde217.

Antes de partir tentou o conde aplacar com alguma cortesia o ódio que despertara. Convidou

para jantarem a bordo com ele quantos assim entendessem, à excepção do capitão-mor, governador da

ilha, Diogo Gomes. Ninguém mostrou empenho por esta festa, tomando-a antes pelo contrário, como

um insulto. Todavia houve quatro indivíduos que aceitaram o convite e que <<o conde tratou

magnificamente, ao estrondo do canhão e dos instrumentos de guerra, e lhes deu uma carta, por ele

assinada, em que rogava a todos os capitães ingleses que, “porventura tocassem na ilha do Faial, que

não causassem novos desgostos aos habitantes e que não exigissem deles mais que àgua fresca e

viveres”218.

Quando levantaram ferro o tempo começava de se toldar, soprando rijo do sudoeste. Um dia

depois voltaram. Estabeleceu-se um pequeno comércio entre a frota e a terra: os inglese pagavam - e

tinham carne e outros mantimentos. Tomaram 150 pipas de àgua, mas a muito custo por causa do mau

tempo. Estiveram neste serviço três dias. E porque a borrasca crescia, pondo em perigo a sua estadia no

porto, picaram sem demora as amarras. Teve o conde grande trabalho em reunir a frota dispersa219.

Ficaram ainda ancorados, acabando de se abastecer, três naus; contudo, porque não quisessem ou não

pudessem fornecer-lhes àgua, desfraldaram também pano, deram uma volta e, por fim, num bordejo

muito próximo de terra, dispararam muitas bombardas por despedida220.

217 Id., Ibid., p. 305.

218 Cit. relato em Silveira Macedo, Ibid., vol. III, p. 273.

219 Id., Ibid., p. III, p. 274.

220 Cit. Carta de Gaspar Dutra, A. A., vol. II, p. 306. Segundo testemunho de Linschooten, três ou quatro dias após a partida de Cumberland da ilha do Faial teriam chegado a este lugar seis navios das Índias sob o comando de Ian Doryues, conduzindo 14 milhões de ouro e prata, os quais, tendo-se demorado algum tempo nesse lugar para repararem, depois de retomarem a sua viagem chegaram a Espanha sem perigo. Mais uma vez Cumberland não pôde concretizar os seus desejos, ficando por isso contrariado. (Linschooten, Op. Cit., p. 157).

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Segundo Urbano de Mendonça Dias, a 9 de setembro desse ano foi a ilha do Faial invadida por

uma esquadra de 125 navios de piratas ingleses, que desembarcando no porto da Feteira, provocaram

enormes estragos em toda a ilha.

Igualmente a 29 desse mês o porto da Madalena, na ilha do Pico foi assaltado, morrendo em sua

defesa o capitão-mór da vila de San Roque, Francisco Vieira221.

Ainda a 2 de Novembro de 1589 aportaram duas naus inglesas, que vinham sob o comando do

Conde de Northumberland ao porto da vila de Santa Maria, tentando desembarcar muitos marinheiros

armados numa lancha e numa barcaça, sendo rechaçados pelo capitão da Ilha Braz Soares de Sousa,

com a sua gente; refugiando-se apressadamente nas suas naus os invasores, deixando no porto alguns

despojos222.

Data deste ano a malograda tentativa de colocar no trono D. António Prior do Crato. Na

realidade essa tentativa teve lugar com o auxílio de Inglaterra que organizou então uma esquadra sob o

comando de Drake e Duarte Narvais. Alfredo Sampaio na sua <<Memória sobre a ilha Terceira>> faz

referência e essa expedição, relatando a ocorrência e dizendo que era comandada pelos <<generais

Duarte Narvais e Francisco Drake>>223.

Aí refere-se ainda à incursão feita por Drake aos Açores quando regressava a Inglaterra.

Com efeito, antes de voltar a Inglaterra, resolveu Drake tentar um desembarque na ilha Terceira

a fim de a conquistar ou saquear o porto de Angra. Mas a defesa preparada por João de Urbina surtira

efeito visto que Drake ao dar conta da sua fortificação retirou-se para Inglaterra.

Sampaio dá testemunho do facto ao dizer que <<Drake aproou à ilha Terceira com o fim de

conquistar. Novos sobresaltos soffreram os terceirenses com o apparecimento da armada em frente ao

221 Urbano de Mendonça Dias, História dos Açores, Vila Franca do Campo, p. 35.

222 Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, Livro III, p. 183.

223 Alfredo da Silva Sampaio, Op. Cit, p. 498.

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porto de Angra. Reconhecendo Drake a boa defeza em que estava toda a costa da ilha, resolveu voltar

para Inglaterra, deixando sossegados os habitantes da ilha Terceira que apenas tiveram o susto>>224.

Igualmente no Livro de registo da Câmara da Praia, na ilha Terceira, existe um despacho, no

qual se inclui entre outros artigos, que dão notícia dos serviços prestados pela cidade, ao rei, o seguinte:

...Provariam que, todas as ocasiões que houvera d'inimigos, acudira sempre o povo da dita

cidade e sua jurisdição, offerecendo suas vidas e fazendas, como fizeram na em que Drake entrara em

Portugal; que indo sobre a dita ilha, preparando-se com todo o ânimo fizera um reducto na fortaleza de

S. Sebastião, capaz de se recolher nelle joão d'Orbina, mestre de campo que então estava na dita ilha,

com 2 000 homens de guarnição, para se poder defender do inimigo, qual fôra obra mui custosa, que

em resolução era um castelo de fachina de mais de 20 pés de largo e 50 dálto, com seus torreões em

que estava assestada muita artilharia, que tudo fizeram os moradores da dita cidade e jurisdição à sua

custa com seus carros e pessoas; e sabendo o inimigo da dita prevenção se fôra muito embora ... 225

Em 1590 formaram-se em Inglaterra duas esquadras, uma delas, sob o comando de Sir John

Hawkins com o objectivo de ir às costas de Espanha e a outra comandada por Martin Frobisher para

interceptar o comércio das Índias espanholas e portuguesas. Fez esta última alguns assaltos ao Corvo e

ao Faial, mas o êxito da expedição não foi consideravel, porque as naus da Índia tinham recebido

instruções para virem tomar uma latitude mais alta que a dos Açores dirigindo-se directamente para

Lisboa226 .

224 Id., Ibid. , pp. 498-499.

225 F. F. Drumond, Op. Cit., p. 378.

226 Linschooten, Op. cit., p. 160.

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Em 1591 os ingleses actuarão na passagem do Corvo, dominando inteiramente as águas

açorianas e tomando quantas embarcações encontravam. Entre estes há a assinalar a presença do Conde

de Cumberland (que empreendeu a sua 4ª expedição - a 2ª com destino aos Açores), e Thomas Howard.

Organizavam os países ibéricos “grossas” frotas para dar protecção procurando suster a contínua

e maior capacidade do inimigo. A 25 de Agosto de 1591 chegou à Terceira uma frota de 30 grandes

naus de Biscaia, Portugal e Espanha, dez outros navios menores dos Paises Baixos, chamados

“flibots”, que o rei tinha feito arrestar para se servir dêles, e mais alguns patachos e caravelas para

assistirem e servirem a frota, a qual o rei enviava para servir de escolta aos navios que vinham das

Índias Ocidentais ... 227 A 13 de Setembro esta frota aproximando-se da ilha do Corvo avistu 16 navios

ingleses que por ali andavam esperando a frota das Índias à qual tinham apresado já algumas naus 228 .

Thomas Howard vendo a força da frota espanhola mandou aos seus que a não atacassem. O vice-

almirante Greenvile não acatou a ordem, ou porque não quizesse voltar as costas ao inimigo, ou por se

convencer de que tinha na frente os galeões da prata, que buscavam, de que resultou ser esmagado entre

os espanhóis e a ilha, depois de uma luta heróica que ficou conhecida pela batalha da ilha das Flores229.

Em 1592 Sir Walter Raleigh, que se dirigia às Antilhas a mandado da raínha, veio entregar o

comando das operações a Burgh, seu tenente-general e a Frobisher. A armada foi então dividida

(segundo a decisão de Sir Walter Raleigh) em duas partes: uma, com Frobisher, procuraria manter a

armada espanhola junto das costas e a outra, sob o comando de Burgh, iria esperar nas ilhas as naus das

Índias.

227 Id., Ibid., pp. 162-164. A armada foi organizada na Corunha sob o mando de D. Alonso de Bazam.

228 Esta frota inglesa, segundo uma relação de Bushnell (B. I. H. I. T., vol. XXV-XXVI, 1966-67,pp. 269-270), compreendia os seguintes barcos: “Defiance” de Lord Thomas Howard, “Revenge”, de Sir Richard Greenville, “Bonaventure”, cap. Robert Crosse, “Lions”, cap. George Fenner, “Foresigh”, cap. Thomas Vavasow, “Crane”, cap. Duffield, “Bark Ralegh”, cap. Thynne, “Nonpareil”, de Sir Edward Denny, “Pilgrim”, “George Noble”, “Moon”, “Elisabeth”, “Diana”, “Wasp”, “Dainty”, “Swallow”, “Vanguard”, “Bellyngham”, “Bostock”, “Disdain”, “Delight” e as pinaças “Lion’s Whelp”.

229 Maria Irene Gil da Silva Braz Teixeira, “A batalha da Ilha das Flores - Sir Richard Greenville e o “Revenge”, in B. I. H. I. T., vol. XXV-XVI, 1967-68. É de notável importância o ” Romance Do sucesso da Armada que foi ás Ilhas Terceiras no anno de 1591.” (Por Andres Falcão de Resende), in A.A., vol. VI, pp. 463-468.

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Na realidade o plano de Raleigh surtiu efeito, porque D. Alonso de Bazan, tendo sido informado

de que os ingleses se encontravam na costa, manteve-se quanto possível em vigilância a Frobisher,

deixando desprotegidas as naus de torna-viagem. Foi assim que os navios de Burgh auxiliados pelos de

Crosse e dois do conde de Cumberland tomaram nessas paragens a <<Madre de Deus>> e estiveram a

ponto de se apoderar da nau <<Santa Cruz,>> o que não chegou a acontecer porque os portugueses lhe

deitaram fogo e entrincheiraram-se em terra para impedir que o inimigo a assaltasse enquanto se

consumia. Transferiu-se a luta para terra, onde os ingleses desembarcaram ainda conseguindo levar da

nau alguma da riqueza que esta trazia. Tendo feito alguns prisioneiros, por eles souberam que por perto

deviam estar outras naus da mesma conserva. Detiveram-se os ingleses desde 29 de junho, a oito léguas

a oeste das Flores, dispostos numa linha de vigilância Norte-Sul, até que em 3 de Agosto avistaram a

nau <<Madre de Deus>>. Foi de imediato abordada pelos ingleses tendo sofrido grandes danos ao

atacarem a nau, afastando-se com grande dificuldade e sem terem conseguido abordá-la. Após renhida

luta, os ingleses, reforçados por outros navios, deram o assalto final.

A tomada da <<Madre de Deus>> fez penetrar nos ingleses todos os segredos do comércio das

Índias, que Portugal procurava sempre ocultar com tanto cuidado230.

Em 1594, o conde de Cumberland volta à caça das naus da Índia. Por um patacho que tomaram

no caminho para oa Açores, souberam que era esperada da torna-viagem a nau <<Cinco Chagas>>.

Tendo em dois de junho o conde obtido vista de S. Miguel, logo colocou os seus navios em situação de

vigilância; no dia 13, tiveram vista da nau, vindo a travar-se o combate a seis léguas ao Sul do canal

entre o Pico e o Faial. A luta prolongou-se até ao dia seguinte, com grandes baixas para ambas as

partes.

Após várias investidas, sem sucesso, para abordar a Chagas, ateou-se o fogo à nau sem que tenha

sido possível controlá-lo. Ao anoitecer, pegou o fogo à pólvora e a nau voou pelos ares231.

230 Almirante Alfredo Botelho de Sousa, Op. cit., p. 484.

231 Id., Ibid., p. 486.

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Finalmente, resta-nos ainda fazer referência à expedição feita por Essex, que ficou conhecida

pelo nome de <<viagem das ilhas>>. Esta expedição comandada pelo conde de Essex, tinha com vice-

almirante Lord Thomas Howard e como contra-almirante Sir Walter Raleigh. Destinava-se

primacialmente a impedir a partida dos navios que Filipe II preparava no Ferrol, com vista à invasão da

Inglaterra e como segundo objectivo a conquista da ilha Terceira para dispor de uma base onde

pudessem manobrar a intercepção e aprisionamento das naus de torna-viagem das Índias232.

Valerá a pena transcrever o relato dessa incursão às ilhas, que se apresenta descrita nos <<Anais

da Ilha Terceira>>:

... Não se esquecia Izabel, Rainha dÍnglaterra, de perseguir o comércio e as possessões d'El-Rei

catholico, e no ano de 1597 pôz entre os mares dos Açores uma grande armada, composta de 140 velas,

a cargo do conde d'Essex, o qual, destacando uma parte della para o canal entre a ilha Terceira e a de

S. Jorge, a barlavento do porto dÀngra, com a outra parte d'armada se foi pôr entre a ilha do Fayal e a

do Corvo, cruzando em uma e a outra volta, aquelles mares; e não querendo o comandante estar

ocioso, tentou um desembarque na dita ilha do Fayal com mil soldados e a entrou sem resistência que

lhe fizesse maior damno. Quando porém se achava entretido no saque da vila da Horta, em que até não

lhe escapou o mais sagrado, chegou a frota das Índias, commandada pelo capitão joão Guterres

Gamboia, ou Guarivai, como outros dizem, com tal fortuna sua, que passou com vento favorável, sem

ao menos ser vista dos moradores da mesma ilha; e desta forma veiu amanhecer entre S. Jorge e a

Terceira, quasi a sotavento da primeira esquadra inimiga, que os podera tomar em poucas horas.

Julgando o conde que esta frota era a sua segunda esquadra, não fez movimento algum: e então

conhecendo o espanhol o enleio do inimigo, ordenou que todos os navios lançassem bandeiras inglesas

por quadra, e nesta forma vieram aproximando-se da terra conquanto lhes foi possível. Apenas o conde

percebeu que esta era a frota esperada, lançou-se a todo o pano sobre ella, porém já foi tarde;

porquanto apenas pôde alcançar uma fragata que tomou, contentando-se com atirar muitas

bombardadas contra as mais embarcações que se haviam recolhido ao porto d'Angra, e nelle se

232 Id., Ibid., p. 486-87.

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achavam a salvo. Não duvidou o general Guarivai que o conde atacaria um porto no dia seguinte com

todo o seu poder, e por isso à maior pressa desembarcou em terra todas as drogas de maior preço, e

com a maior brevidade.

No entanto procediam os ingleses no saque da ilha do Fayal tão impiamente que, depois de

roubarem as casas com a maior crueldade, entraram nas igrejas, profanando-as e levando consigo as

vestiduras sacerdotaes, os vasos sagrados e até os sinos; e não contentes com todos estes desacatos,

finalmente largaram fogo às egrejas, as quaes El-Rei depois mandou restituir à antiga forma.

Já nesse tempo se havia dado princípio ao castello de S. Filippe, e por isso mandou o

governador António Sentano recolher nelle a riqueza immensa desta frota, guarnecendo aquele porto

com toda a gente de guerra, e assestando sobre elle muita artilharia com que pertendia repellir o

inimigo se ele voltasse. Tudo isto foi escusado, porque vendo elle aquelles preparativos, e a vigorosa

resistência que se lhe havia feito no porto, em que se achavam recolhidos os navios da frota, desistiu do

intento e retirou-se. 233

Assim, enquanto a esquadra de Essex atacava a ilha do Faial e tentava o assalto à ilha de S.

Miguel,234 a rota da frota das Índias ficou desprotegida, conseguindo as naus espanholas acolher-se à

ilha Terceira, sem que os ingleses fizessem qualquer tentativa de ataque à sua poderosa fortaleza.

A famosa <<viagem das ilhas>> havia sido realizada em vão.

Com o advento do novo século as águas açorianas continuaram a ser “visitadas” por corsários.

233 F.F. Drumond, Op. cit., p. 388. A presença da frota de 140 naus também é notificada no “Atestado do capitão Francisco da Câmara Paim, de 11 de Setembro de 1600”, in A.A., vol. I, p. 140.

234 A tentativa de assalto à ilha de S. Miguel, por parte do Conde de Essex, foi testemunhada pelo Governador da Ilha, Gonçalo Vaz Coutinho. (Relaçam do svccedido na ilha de Sam Miguel, sendo Governador nella Gonçalo Vaz Covtinho, com a armada Real de Inglaterra, General Roberto de Borevs Conde de Essexia. Anno de 1597, in A.A., vol.X, pp. 97-149).

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Ao receio de uma investida às ilhas por parte de barcos ingleses e holandeses, se referem

algumas cartas régias235 de 1654. Nestas cartas explicava D. João IV que a guerra, então terminada,

entre a Inglaterra e a Holanda levara a que aquelas duas nações tivessem feito uma contra a outra duas

armadas de mais de cem navios de guerra cada uma. E adiantava o aviso: Porque lhe fica ocioso

aquele poder, se tem por certo e empregarão aonde a conveniencia própria e avingança dos dannos

passados os persuadir, e por isso se receia que commettam essa ilha.

Desta feita, porém, os corsários não apareceram, se bem que fosse certa a sua presença nas águas

vizinhas. Prova-o o facto de, nesse mesmo ano de 1654, um barco pirata ter recolhido, na altura da ilha

do Corvo 236 , os 41 náufragos de um navio português proveniente do Maranhão. Entre eles passageiros

que foram deixados na Graciosa, contava-se o padre António Vieira, que ao acidente se refere na sua

peça oratória <<Maria Rosa Mística>>237.

Em 1672, nova tentativa de ataque à ilha das Flores. No dia 24 de Janeiro, amanhece defronte da

vila de santa Cruz uma frota de 27 navios holandeses que, depois de ter ancorado no porto de S. pedro,

enviou para terra um grande número de escaleres com gente armada238. Sem meios de defesa capazes

de suster uma tal investida, recorreram então os florentinos à protecção divina, fazendo o voto de, no

caso de serem poupados, todos os anos, nesse mesmo dia, mandarem celebrar uma missa solene e Te-

Deum com sermão. O mar, segundo rezam as crónicas, ter-se-á então enfurecido, obrigando os

escaleres a regressar para os navios com muita dificuldade e estes a levantarem-se e desaparecerem239.

235 “Ao Capitão da ilha das Flores, sobre o receio que seja atacado pelos Ingleszes e Hollandezes: 25 de Junho de 1654”, in A.A., vol. V, p. 260.; “Ao Capitão da ilha do Pico, sobre corsarios Hollandezes: 25 de Junho de 1654”, in A.A., vol. V, P. 260; “Ao Capitão Mór da ilha do Pico, para que se previna contra o ataque provavel dos Hollandezes: 26 de Janeiro de 1655.”, in A.A., vol. V, p. 261.

236 Silveira Macedo, Op. cit., p. 172.

237 Padre António Vieira, Sermões, sermão nº 25, vol. 15, p. 343.

238 Gervásio de Lima,Breviário Açoriano, p. 48.

239 Id., Ibid., p. 48.

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FORTIFICAES

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Apresentamos em apêndice a localização das áreas fortificadas que nos foi possível encontrar.

Os critérios que estiveram presentes para a localização dessas áreas resultaram da articulação do nome

das fortificações com a toponímia. A sinalização a verde prende-se somente com a toponímia, sendo

uma área em que se apresenta a possibilidade da existência de recintos fortificados. A simbologia

utilizada pode não corresponder exclusivamente a um único recinto, mas sim a vários, constituindo

uma área fortificada. No entanto, a cada recinto fortificado fizemos corresponder um número, querendo

com isto facilitar a sua rápida localização e identificação. Não foi possivel encontrar algumas

fortificações, lacuna, que poderá diminuir a verdadeira mancha fortificada das ilhas.

Existem diferentes disignações referentes à estrutura fortificada que parece corresponder a uma

hierarquia em termos de poder, sendo contudo dificil defíni-la, tanto mais, que essa hierarquia é diluída

pelo uso arbitrário das designações que os vários informadores utilizam (forte, fortaleza, castelete,

reduto, etc.).

Se a formação vulcânica do arquipélago fornece, por vezes, uma fortaleza natural inexpugnável,

a ela juntar-se-á, logicamente, a "fortificação humanizada" para reforço da defesa.

Se atendermos ao facto e à situação de que as povoações se localizariam junto às zonas

ribeirinhas e de portos pela dominância que o mar tem na sua vida, as condições de defesa serão

menores e a execução de um plano de fortificação terá de contar com esse condicionalismo. Assim os

fortes situar-se-ão nas zonas costeiras povoadas e nos portos que seriam os locais de maior

vulnerabilidade à investida dos corsários.

A orografia tem assim, o seu peso relativamente à localização das fortificações, não podendo

estas explicarem-se somente pela premência dos assaltos ou pela valorização económica das ilhas. Isto

explicará a crescente fortificação que também se verifica nas ilhas de menor importância económica,

que contudo, não adquirirem o poder e força das estruturas fortificadas das principais ilhas. Inclusivé o

estudo do perímetro da costa dimensiona e explica esta visão240 .

240 Vd. Alberto Vieira, Op. Cit., pp. 1542-1544. A propósito registe-se que a fortificação das ilhas serviu também outros propósitos que não só a defesa contra o corsário, também desmpenhou o seu papel na época filipina e se o castelo de S. Filipe serviu para defesa dos mares, também defendeu os apoiantes de Filipe II dos da terra. Aliás, aquando a defesa da ilha perante as tropas espanholas

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ILHA DE SANTA MARIA

1 - Forte de Nossa Senhora da Conceição, Castelo Real ou Castelo de S. Brás (Nossa Senhora da

Conceição - Baía da Vila do Porto).

2 - Forte na Ponta donde se anchora (Baía da Vila do Porto).

3 e 4 - Forte sobre o Porto (Baía da Vila do Porto).

5 - Forte no Cabo da Vila (Baía da Vila do Porto).

6 - Forte dos Anjos (Baía dos Anjos).

7 - Castelo de Nossa Senhora dos Anjos (Baía dos Anjos).

8 - Forte de São Lourenço (Baía de S. Lourenço - S. Lourenço).

9 - Forte de Nossa Senhora dos Prazeres (Senhora dos Prazeres - Baixa da Maia).

10 - Forte da Praia ou Castelo de S. João Baptista (Praia).

11 e 12 - Dois Redutos na Praia (Praia).

13 - Forte do Marvão (Ponta do Marvão - Vila do Porto).

14 - Forte da Forca (Baía da Vila do Porto).

15 - Forte sobre Meia Baía (Baía da Vila do Porto).

procedeu-se, sob a direcção de Ciprião de Figueiredo à construção de fortes em pontos estratégicos.

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ILHA TERCEIRA

1 - Castelo de São Sebastião (Angra).

2 - Forte das Portas do Cais ou da Cidade (Angra, junto da Alfândega).

3 - Forte do Porto das Pipas (Angra, junto ao cais).

4 - Forte da Ponta do Cais (Angra).

5 - Forte de São Cristóvão (Ribeira de Angra e cais da cidade).

6 - Castelo de São Luís (Alto do Outeiro em Angra, junto da Ribeira dos Moínhos).

7 - Forte da Prainha (Angra, junto à Alfândega).

8 - Forte do Porto Novo (Junto da Baía de Angra).

9 - Fortaleza de São João Baptista ou Castelo de S. Filipe (sopé do Monte Brasil, a Sul da

cidade de Angra).

10 - Forte de Santo António (Angra, Monte Brasil).

11 - Forte da Quebrada (Quebrada, junto ao Pico do Facho).

12 - Reduto de São Gonçalo (perto do Zimbreiro).

13 - Forte de Santa Cruz.

14 - Forte do Zimbreiro (Monte Brasil).

15 - Forte do Fanal ou da Ponta da Cruz (Baía do Fanal).

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16 - Forte da Silveira (Cais da Silveira).

17 - Forte da Prainha (Vila Maria - entre Angra e S. Mateus).

18 - Forte do Matadouro (Senhora das Mercês - entre Angra e S. Mateus).

19 - Forte de Nossa Senhora da Luz (Senhora da Luz - perto de S. Mateus).

20 - Forte Grande de S. Mateus (S. Mateus).

21 - Forte do Terreiro (S. Mateus).

22 - Reduto da Má Ferramenta (S. Mateus).

23 - Forte do Azogue - Açougue (S. Mateus).

24 - Reduto do Poço (S. Mateus).

25 - Forte do Barreiro (S. Mateus).

26 - Fortim do Negrito. (S. Mateus).

27 - Forte do Biscoitinho (S. Mateus).

28 - Forte da Igreja (S. Mateus).

29 - Forte da Prainha (S. Mateus).

30 - Forte de Nossa Senhora do Pilar ( Nossa Senhora de Lurdes - Porto das Cinco Ribeiras).

31 - Forte de São Pedro dos Biscoitos ou da Calheta (Cais dos Biscoitos).

32 - Forte da Rua Longa (Rua Longa - Biscoito Bravo).

33 - Forte de S. José (Praia).

34 - Forte do Zimbreiro (Praia da Vitória).

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35 - Forte de Nossa Senhora da Conceição (ponta da Serra de S. Tiago).

36 - Forte do Facho (Praia da Vitória).

37 - Fortaleza do Espírito Santo (Praia da Vitória).

38 - Castelo do Pau (Praia da Vitória).

39 - Forte de Santa Cruz (Cais da Praia da Vitória).

40 - Fortaleza das Chagas (Baía da Praia da Vitória).

41 - Forte de Santo Antão (Ribeira de Santo António - Baía da Praia da Vitória).

42 - Forte de S. Caetano (Abaixo da Ribeira de Santo Antão - Praia da Vitória).

43 - Forte de S. Bento (Cabo da Praia, junto ao Forte de Santa Catarina).

44 - Forte de Santa Catarina Cabo da Praia).

45 - Forte do Cabo da Praia (Cabo da Praia).

46 - Forte de S. José Cabo da Praia).

47 - Reduto do Meio (Caminho do Meio - Cabo da Praia).

48 - Fortaleza das Preguiçosas (entre o Porto Martins e o Cabo da Praia).

49 - Forte de Santo António (perto do Porto Martins).

50 - Forte de Nossa Senhora da Nazaré (Porto Martins).

51 - Forte de S. Tiago (Porto Martins).

52 - Forte de S. Fernando (Ponta de S. Fernando - entre S. Sebastião e o Porto Martins).

53 - Forte de S. Francisco (entre S. Sebastião e a Ponta de S. Fernando).

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54 - Forte do Gaspar (acima do Porto Novo, em S. Sebastião).

55 - Reduto Novo (Porto Novo - S. Sebastião).

56 - Fortaleza de S. Sebastião (S. Sebastião).

57 - Reduto do Pesqueiro dos Moninos - Meninos (Arrabalde - S. Sebastião).

58 - Forte do Ilhéu da Mina (Ilhéu da Mina).

59 - Forte de Santo António (Baía da Mina).

60 - Fortaleza de Santa Catarina das Mós (Baía da Mina).

61 - Fortim das Caninas (Baía das Caninhas).

62 - Forte das Cavalas (Cavalas - entre a Baía da Salga e a Baía das Caninhas).

63 - Fortaleza da Casa da Salga (Baía da Salga).

64 - Forte da Fonte da Salga (Baía da Salga).

65 - Forte do Bom Jesus (Baía da Salga).

66 - Forte na Ponta dos Coelhos (Pico do Refugo entre o Porto Judeu e a Baía da Salga).

67 - Forte de Santo António (Porto Judeu).

68 - Atalaia da Cruz da Esperança (Senhora da Esperança - entre a Feteira e o Porto Judeu).

69 - Forte da Laginha (Feteira).

Para a Ilha Terceira não foram localizadas as seguintes fortificações :

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Reduto de São Jorge ( Praia - cabo da praia ).

Forte de Nossa Senhora.

Forte do Bom Jesus da Trindade.

Forte das Mós (São Sebastião).

Forte dos Fornos.

Forte da Horta.

Forte de São Francisco (Praia).

Forte de Nossa Senhora da Cruz (Praia).

Forte de São Miguel (Angra).

Forte de São António (São Sebastião).

Reduto de Santa Catarina (São Sebastião).

Forte de São Francisco (São Sebastião).

Forte da Laginha (Freguesia do Porto Judeu).

1º e 2º Reduto da Ribeira Seca (São Sebastião).

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ILHA DA GRACIOSA

1 - Forte da Pesqueira (Ponta da Pesqueira - Santa Cruz da Graciosa).

2 - Reduto da Barra (Cais da Barra - Santa Cruz da Graciosa).

3 - Reduto de Santa Catarina (Santa Catarina - Santa Cruz da Graciosa).

4 - Fortim da Rocha (Arrochela - Praia).

5 - Fortim de S. Sebastião( Santa Luzia - Praia).

6 - Reduto dos Fenais (Fenais).

7 - Reduto do Carapacho (Baía do Carapacho).

8 - Forte do Enxudreiro (Ponta do Enxudreiro - Luz).

9 - Reduto da Folga (Farol da Folga - Luz).

10 - Forte de Afonso do Porto (Porto Afonso, perto do Redondo - Vitória).

11 - Forte de Nossa Senhora da Vitória (Baia da Vitória - Vitória).

Para a Ilha Graciosa não foram localizadas as seguintes fortificações :

Forte do Corpo Santo.

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Reduto de João Dias (Praia).

Reduto da Areia.

Reduto Portinhas.

Reduto Pedras Altas.

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ILHA DO FAIAL

1 - Forte de Nossa Senhora da Conceição da Alagoa (Horta).

2 - Forte de Nossa Senhora das Angústias (Angústias).

3 - Forte de Nossa Senhora da Guia (Nossa Senhora da Guia).

4 - Forte da Ponta Furada (Porto Pim).

5 - Reduto da Patrulha (Porto Pim).

6 - Forte de Santa Bárbara (Pasteleiro - Santa Bárbara).

7 - Forte Novo (Ponta Furada).

8 - Forte do Espírito Santo da Laginha (Laginha - entre a Feteira e a Ponta Furada).

9 - Forte da Feteira (Porto da Feteira).

10 - Forte de Santa Luzia (Feteira).

11 - Reduto na Ribeira da Feteira (Feteira).

12 - Reduto na Ribeira da Feteira (Feteira).

13 - Forte do Castelo Branco (Morro do Castelo - Castelo Branco).

14 - Forte de Nossa Senhora da Esperança (Cais do Comprido).

15 - Reduto da Eira (Porto da Eira - Cedros).

16 - Forte de Nossa Senhora do Rosário (Ribeirinha).

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17 - Forte de S. Pedro (Porto da Boca da Ribeira - S. Pedro Ribeirinha).

18 - Forte de Santo António (Ponta Redonda).

19 - Forte de Nossa Senhora dos Remédios (Praia do Almoxarife, perto da Rocha Vermelha).

20 - Forte da Praia (Porto da Praia - Praia do Almoxarife).

21 - Forte de Santo Cristo (Praia do Almoxarife).

22 - Forte da Ribeirinha (Praia do Almoxarife).

Para a Ilha do Faial nao foram localizadas as seguintes fortificaçoes :

Castelo de Santo António (lugar do Porto da Cruz).

Reduto de Santo António.

Forte da Boa Viagem.

Fortim Bom Jesus.

Forte Vera Cruz do Porto da Guarda.

Forte Nossa Senhora da Ajuda (no Baixo).

Forte Santa Catarina.

Forte do Pé da Cruz (entre os Montes).

Forte de Nossa Senhora da Guia.

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Forte de Jesus Maria (Forno da Cal).

Castelo de Santa Cruz (Porto na Cortina de Sao Diogo).

Forte do Baixio.

Forte Monte Queimado.

Forte o Varadouro.

Forte Cruz matos.

Forte Nossa Senhora da Nazaré.

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ILHA DO PICO

1 - Forte de Santa Catarina (Castelo, Santa Catarina - Lages).

2 - Reduto da Ribeira do Meio (Lages).

3 - Reduto da Prainha (porto da Prainha - S. Caetano).

4 - Castelo de S. Mateus (porto de S. Mateus).

5 - Reduto do Pocinho do Monte (Pocinho, Moínho do Monte - Madalena).

6 - Castelo do Porto Areia (Areia Larga - Madalena).

7 - Castelo do Cais do Mourato (Cais do Mourato).

8 - Reduto do Porto do Cachorro ( Porto do Cachorro).

9 - Reduto de Santo António (Calhau, Santo António - S. Roque do Pico).

10 - Castelo do Cais do Pico (Cais do Pico - S. Roque do Pico).

11 - Reduto de S. Roque (S. Roque do Pico).

12 - Reduto do Portinho (Portinho, entre a Prainha de Baixo e Santo Amaro).

13 - Reduto de Santo Amaro (Santo Amaro).

14 - Reduto do Calhau da Piedade (Baía do Calhau, Ponta do Lagido - Piedade).

15 - Reduto à Ponta da Ilha (Ponta da Ilha).

16 - Reduto da Manhenha (Manhenha).

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17 - Reduto da Calheta do Nesquim (Calheta do Nesquim).

18 - Reduto do Porto de Santa Cruz (Santa Cruz - Ribeiras).

Para a Ilha do Pico nao foram localizadas as seguintes fortificaçoes :

Reduto da Santíssima Trindade da Barra.

Dois redutos da Madalena , Areia Larga e Sao Roque.

Reduto de Nossa Senhora da Ajuda (Sao Roque).

Reduto de Nossa Senhora dos Remédios (Sao Roque).

Reduto Porto Arruda (Lages).

Reduto Crisgalgo (Lages).

Reduto Porto do Celeiro (Lages).

Reduto da Anguela (Lages).

Reduto Canadas (Lages).

Reduto da Calheta (Lages).

Reduto do Calhau (Lages).

Reduto Tolhao da Barra (Lages).

Reduto do Porto (Madalena).

Reduto da Trave (Madalena).

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Reduto Estaleiro (Madalena).

Reduto Vigia (Madalena).

Reduto do Lugar dos Baixos (Madalena).

Reduto lugar da Lage (Madalena).

Castelo Fromosinha (Madalena).

Castelo de Brava.

Castelo Lagoa .

Castelo Sao joao Baptista.

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ILHA DO CORVO

1 - Forte de Nossa Senhora dos Milagres (Corvo).

ILHA DE S. MIGUEL

1 - Castelo de S. Brás ( porto de Ponta Delgada).

2 - Reduto de Santa Clara ( Santa Clara - Ponta Delgada).

3 - Reduto de Santo Amaro (Mosteiros).

4 - Forte de Nossa Senhora da Conceição ( Mosteiros).

5 - Forte Velho ou Forte da Terra (Mosteiros).

6 - Dois Redutos no lugar dos Mosteiros ( Mosteiros).

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7 - Forte de Santo António (Ribeira Seca - Ribeira Grande).

8 - Forte da Ribeira Grande (Ribeira Grande).

9 - Reduto no lugar do Porto Formoso (Porto Formoso).

10 - Forte de Nossa Senhora da Estrela (Baía do Porto Formoso).

11 - Forte de S. Brás ou de Nossa Senhora da Graça (Ponta de S. Brás -Porto Formoso).

12 - Forte do Espírito Santo (Ponta da Maia - Maia).

13 - Forte de Nossa Senhora da Graça (Faial da Terra).

14 - Forte de Nossa Senhora Mãe de Deus (Faial da Terra).

15 - Reduto no Lugar da Povoação (Povoação).

16 - Forte da Mãe de Deus (Povoação).

17 - Forte da Ribeira Quente (Castelo - Ribeira Quente).

18 - Forte de Santo António (Ribeira das Taínhas).

19 - Forte da Vinha da Areia (Vinha da Areia - Vila Franca do Campo).

20 - Castelo da Areia (Vila Franca do Campo).

21 - Forte do Baixio (Vila Franca do Campo).

22 - Forte Real (Vila Franca do Campo).

23 - Forte do Areal Grande (Vila Franca do Campo).

24 - Forte de Santo António (Vila Franca do Campo).

25 - Reduto Jesus Maria José (Vila Franca do Campo).

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26 - Forte Velho ou de Nossa Senhora da Conceição (Vila Franca do Campo).

27 - Forte do Tagarete (Vila Franca do Campo).

28 - Castelo da Forca (Vila Franca do Campo).

29 - Castelo do Corpo Santo (Vila Franca do Campo).

30 - Forte dos Barreiros (Vila Franca do Campo).

31 - Reduto de S. Francisco (Vila Franca do Campo).

32 - Forte da Ribeira do Salto (Vila Franca do Campo).

33 - Forte Gonçalo Velho (entre o Ilhéu e a terra - Vila Franca do Campo).

34 - Forte do Cabrito (Baía da praia - Vila Franca do Campo).

35 - Forte da Praia (Baía da praia - Vila Franca do Campo).

36 - Forte da Caloura ou Forte de Nossa Senhora da Conceição (Caloura).

37 - Reduto da Vila de Água de Pau (Água de Páu).

38 - Reduto de Santa Cruz (Santa Cruz - Lagoa).

39 - Reduto da Vila da Lagoa (Lagoa).

40 - Forte de Santo António (Lagoa).

41 - Forte do Livramento (Praia do Pópulo - S. Roque).

42 - Reduto de S. José (Rosto de Cão - S. Roque).

43 - Reduto do Porto (Rosto de Cão - S. Roque).

44 - Reduto de S. João (Rosto de Cão - S. Roque).

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45 - Fortim de S. Caetano (Baía de Rosto de Cão - S. Roque).

46 - Forte de S. Roque (Rosto de Cão - perto da igreja paroquial, S. Roque).

47 - Forte de S. Francisco Xavier (Rosto de Cão, próximo do Ilhéu - S. Roque).

48 - Reduto de S. Pedro (junto à igreja de S. Pedro - Ponta Delgada).

49 - Forte de Nossa senhora Mãe de Deus ou de D. João VI (Mãe de Deus - Ponta Delgada).

50 - Forte de S. Cristóvão ou da Matriz (Matriz - Ponta Delgada).

Para a Ilha de Sao Miguel nao foram localizadas as seguintes fortificaçoes, cujas informações

foram recolhidas em Alberto Vieira (Alberto Vieira, Op., cit.).

Forte de Nossa Senhora de Monserrate.

Forte Nossa Senhora das Dores.

Forte de Santo André.

Forte de Nossa Senhora da Salvação (Ponta Delgada).

Forte de Santa Catarina.

Forte de São Jorge.

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ILHA DAS FLORES

1 - Forte do Cais ( Porto de Santa Cruz - Santa Cruz).

2 - Forte do Cais do Porto das Poças ( Porto das Poças - Santa Cruz).

3 - Forte de S. Sebastião (sopé do Monte das Cruzes - Santa Cruz).

4 - Fortim da Ribeira do Moínho (Baixa do Moínho).

5 - Fortim Pero Vieira (Fajã Pedro Vieira - Boa Vista).

6 - Fortim Outeiro do Maio (Outeiro do Maio).

7 - Fortim o Cantinho (Porto da Lomba).

8 - Fortim do Lagedo (Porto do Lagedo).

9 - Forte do Porto da Fajã (Porto da Fajã Grande).

10 - Forte do Porto de Ponta Delgada (Porto de Ponta Delgada).

11 - Forte da Ponta do Ilhéu (Ponta do Ilhéu - Ponta Delgada).

12 - Forte do Porto da Lagoa (Porto da Lagoa - Cedros).

13 - Forte de S. Francisco (Fazenda de Santa Cruz).

14 - Fortim do Monte da Baía (Monte - Santa Cruz).

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Para a Ilha das Flores não foram localizadas as seguintes fortificações :

Forte do Espírito Santo.

Forte de Nossa Senhora da Conceição.

Forte de Santo António (Lages).

Forte de São Francisco Xavier.

Fortim São Caetano.

Fortim Nossa Senhora dos Remédios.

Fortim Nossa Senhora do Rosário (Lages).

Fortim Boca da Ribeira.

Fortim Porto da Lapa .

Fortim A Toyum.

Fortim o Pau em Moira.

Fortim a Mostra de Baixos.

Fortim a Ponte .

Fortim a Captichora.

Fortim Vale do Lenho.

Fortim da Gruta.

Fortim Porto Escaninhas (Santa Cruz).

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Fortim o Paso (Santa Cruz).

Fortim Santo Amaro ( Santa Cruz).

Fortim Santa Catarina (Santa Cruz).

Fortim Nossa Senhora do Livramento (Santa Cruz).

Fortim o Perco (Lages).

Fortim Portão (Lages).

Fortim Rocha de Paulo (Lages).

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ILHA DE S. JORGE

1 - Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição (Velas).

2 - Forte de Nossa Senhora do Pilar e de S. José (Castelinho - Velas).

3 - Forte da Ponta do Topo (Cais do Topo).

4 - Reduto da Fajã de S. João (Porto de S. João - Fajã de S. João).

5 - Quatro Redutos no porto da Calheta (Calheta).

6 - Reduto de Santa Cruz (Cruz - Calheta).

7 - Reduto das Manadas (Cais das Manadas - Manadas).

8 - Forte dos Terreiros (Terreiros, entre o Cais da Urzelina e o Cais das Manadas).

9 - Forte do Porto da Urzelina (Cais da Urzelina).

10 - Forte do Porto da Fajã (Ribeira do Nabo).

11 - Forte de S. Miguel o Anjo (Cais da Queimada, perto do aeroporto).

Para a Ilha de São Jorge não foram localizadas as seguintes fortificações:

Reduto de São José (sobre o Porto )

Forte Porto Caravelas ( Velas )

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Forte Monte Eiras ( Velas )

Reduto do Espírito Santo ( Calheta )

Reduto São Sebastião ( Calheta )

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CONCLUSO

Em jeito de conclusão só nos resta salientar e enaltecer as nossas ilhas.

No século XV elas tornam-se um autêntico "laboratório" do Atlântico. Permitiram explorar e

desenvolver a navegação e a arte de marear, permitiram a experimentação de culturas, foram uma base

avançada no Atlântico que permitiu o salto no desconhecido e o desenvolvimento das descobertas a Sul

e a Oeste. A uma economia de subsistência juntou-se a economia de exportação e a todos os níveis foi

grande o papel de escala a todos os navios que demandavam as rotas do Atlântico.

No século XVI, essa importância cresceu com o nascimento na América das civilizações filhas

dos europeus. Novas rotas e novas fontes de receita sublimam o papel das ilhas, provocam uma

animação comercial e uma exuberância da vida social dos ilhéus. As ilhas tornam-se um espaço pleno,

ponto charneira das rotas, escala imprescindível e local de exportação redobrada: primeiro para o Norte

de África e agora o crescente comércio com o Norte europeu.

Piratas em tempo de paz, corsários em tempo de guerra povoam as águas atlânticas insaciáveis

na procura das rotas e das naus carregadas de riquezas. Angra protege-as ou pelo menos tenta fazê-lo.

Os franceses, na primeira metade do século XVI, executam entradas nas ilhas, estimulados pela

riqueza ali armazenada, pelos metais preciosos e mercadorias que ali navegavam, mas também

satisfeitos com o excedente das ilhas correndo risco as populações e os seus bens.

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O esforço maior, no domínio militar, vai ser exigido aos estados peninsulares. Procede-se à

cooperação ibérica, ao equipamento militar, ao treino regular, à recruta permanente, à fortificação das

ilhas, ao apetrechamento da artilharia, ao funcinamento de um serviço de informações de âmbito

militar, ao reforço das armadas, ao incremento da fiscalidade, da legislação, etc.. Tudo isso para

proteger o espaço económico e marítimo atlântico. A coordenação e estimulação dessa organização

militar parte da coroa e concretiza-se nos serviços de apoio e defesa estabelecidos nas ilhas. Artilharia

de costa, Infantaria mobilizada e armamento eficaz empenham as populações açorianas a fazerem uma

guerra a que não podem ficar indiferentes.

Com o domínio filipino aumenta a percepção do interesse face ao controlo desse espaço

Atlântico. A guerra de saque económico politiza-se e não poupa os Açores. Filipe II querendo

concretizar o sucesso da sua manobra política e económica encontra três poderosíssimos rivais: um

homem e duas mulheres. Aquele é o defensor do Portugal independente - D. António, Prior do Crato -

aquelas são a Catarina de França e a Isabel de Inglaterra.

Os franceses, pretendendo a disputa do Atlântico, dispõem-se a apoiar militarmente os

indignados terceirenses apoiantes da causa nacional.

Nesse mesmo tempo, um novo opositor do "mare clausum" emerge actuando de maneira

acutilante e fria, exigindo mais gastos militares e mais força açoriana para a sua defesa - os ingleses.

Não que desprezassem apoiar o Prior do Crato, mas a sua posição neste campo nunca foi decidida ou

resoluta. Aliás, tanto os ingleses como os franceses não faziam um apoio leal ou por mera solidariedade

ao "nacionalismo luso"241 .

É assim que os ingleses, a par de um apoio indefinido, incrementam o corso, desgastam os

insulares e actuam no sentido de os descontentar perante uma união ibérica que só trazia o reforço das

investidas. Este clima de guerra, esta opressão, incidente nas ilhas apoiantes da causa do Prior do Crato,

241 Acerca dos interesses profundos e das posições tomadas por esses "inimigos encobertos" de Filipe II, cf Jesus Salgado Alba, "La maniobra española en el Atlántico - campaña de las Azores - siglo XVI", in Os Açores e as Dinâmicas do Atlântico - do Descobrimento à II Guerra Mundial, Actas do II Colóquio Internacional, realizado em Angra do Heroísmo de 28 de Julho a 2 de Agosto de 1987, B.I.H.I.T., vol. XLV, Tomo I, 1988, pp.39-40).

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teria como objectivo a desestabilização das forças espanholas, tornando-as temerárias dos ilhéus, que

não poderiam suportar por muito mais tempo tais guerras perturbadoras da paz do seu paraíso

Atlântico242 .

Os espanhóis mobilizando excepcionais meios conseguem conquistar as ilhas, mas não

conseguiram o domínio do mar.

Seriam as ilhas importantes para assegurar o Oceano? Se não o fossem esta história teria

acabado. O futuro dos países europeus estava no domínio do Atlântico e no controlo do excelente

entreposto açoriano.

Eram as ilhas, e Angra em particular, uma verdadeira chave do Oceano243 .

Importante empório comercial, apreciado centro geoestratégico, verdadeira base político-militar,

excelente e rico espaço defensivo e abastecedor, as ilhas ganharam o seu papel no sucesso da

navegação, no desenvolvimento das descobertas, do comércio e das vivências mais elaboradas da

época. Tiveram o seu lugar nas lutas e forças mais importantes. Foram uma força dinâmica que

participaram no sucesso de uma Europa em crescimento. Tiveram por fim o seu lugar num mundo

aberto e disperso que o Oceano uniu e que elas ligaram. À sua existência "ordinária" juntou-se assim,

um espaço, um domínio de grande importância histórica. As ilhas fizeram história... uma rica e

maravilhosa história.

242 Aliás esse aspecto ligado ao apoio francês, à força, à "fortificação terceirense" foram razões para os terceirenses não aceitarem o perdão geral, após combate decisivo dirigido por Alonso Basin, e explicam a forte mobilização de efectivos e meios materiais espanhois.

243 É interessante e operacional a selecção, feita por Jesus Salgado, dos factores que pesam no valor estratégico das ilhas: factor posicional, relativamente a outros espaços de interesse político, estratégico e económico; factor geo-estrategico de intercepção de toda a navegação; capacidade de protecção ao tráfico marítimo, sendo a base das armadas que aí davam escolta às naus; factor logístico de apoio, sendo um verdadeiro "íman" que atraía os aventureiros navegadores para a cura das enfermidades e abastecimento; finalmente o factor relacionado com o regime dos ventos do Atlântico. Todos estes aspectos explicam o facto da Madeira não lhe apresentar concorrência forte ( Id., Ibid, pp. 344-39).

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FONTES MANUSCRITAS

B.P.A.P.D., Fundo Ernesto do Canto (Documentos da Casa Miguel Canto e Castro), ms. V, nº

159 “Auto que se fez do que pesou os pedacinhos d ouro”

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130

Angra, 27 de Julho de 1592.

B.P.A.P.D., Fundo Ernesto do Canto (Documentos da Casa Miguel Canto e Castro) ms. V, nº

158: “Auto que mandaram fazer”.

Angra, 22 de Agosto de 1578.

A.N.T.T., Corpo Cronológico, pt. 1ª, M. 80, Doc. nº 116: “a el Rej noso senhor”

Angra, 21 de Maio de 1548.

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CORSO, PIRATARIA E FORTIFICAÇÕES

NOS AÇORES

(SÉCULOS XV-XVII)

APNDICE

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DOCUMENTO Nº 4

B.P.A.P.D., Fundo Ernesto do Canto (Documentos da Casa Miguel Canto e Castro), ms. V, nº

159.

“Auto que se fez do que pesou os pedacinhos d ouro”

Angra, 27 de Julho de 1592.

Este papel conta de como foi hum Batel a Ilha das Flores sobre noticias que avia de Mouros

Anno do nacimemto de noso senhor Jhesu Christo de mjll e quinhentos e coremta e noue anos

aos vjmte e sete dias do mes de Julho do dito anno em esta cidade d amgra da Ilha terceira nas pousadas

da morada de gaspar triguo orjues estamdo hi ho senhor amtonio pirez do camto fidalgo da casa d ell

Rej nosso senhor e capitão mor d armada ho anno presemte (......?) hi (?) por elle dito amtonio pirez foi

dito que jmdo elle neste mes presemte de Julho de (....?) da esperar as naos da India que com ajuda do

senhor deus se espera virem este anno presemte pera ho coruo e por hi andar esperamdo por as ditas

naos amdamdo elle na dita parajem da Ilha do coruo lhe deram nouas como a Ilha do coruo fora hum

batell com framceses hos quaes framceses deram certas cousas a unns (?) moradores na dita Ilha e por

elle ser sabedor disto fora a dita ilha das flores e dera disso conta a Roque Valladão Juiz do dito lugar e

lhe requerera que soubese dos moradores se hos ditos framceses lhe deram allgum ouro ou prata ou

outra fazenda e o dito Juiz se emformou e dise que em poder de hum morador no dito lugar se acharam

certos pedacinhos d ouro e annes em Rosca (?) de prata o quall homem ho dito Juiz mandou logo hi vir

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e o que tinha ho mandou entregar a elle dito amtonio pirez e elle ho Recebeo de que se fez auto que

dise ficar na dita Ilha e que hora elle trazia allj todo ho que asi lhe fora emtregue e mandou que gaspar

trigo ho pesase e avalljase pera elle antonio pirez dar disso conta a ell Rej nosso senhor se lhe impedise

(?) ou todo lhe emtregar ou so avalljar e o que asi ho trouxe ho dito gaspar triguo ho pesou e avalljou

pela manejra adiamte e as cousas que asi hi trouxe e dise que lhe foram emtregues sam as seguimtes

( . . . . . . . . . . . . . . . . . . )

Item quoatro pedacinhos d ouro e asi dous aRaes (?) d ouro que pesaram noue pesos que avalljou

ho dito gaspar tigo em tres mill seiscemtos reis por o ouro ser bajxo

iij bjc

Item cimquo anees com pedras falsas que pesaram tres cruzados e meio

j iiijc reis

Item maes hua gargantilha d ouro bajxo que pesou quoatro pesos a quoatrocemtos cada peso e

asi

hua arrecada e por todo pesamos (?) quoatro cruzados

j bjc

reis

Item dezoito pedacos de Reaes de prata e huns pedacos de cadea de prata que todo pesou duas

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homcas e mea e hua oitaua que avaljou em seiscemtos e cinquemta reis

bjc Lta

O quall amtonio pirez deu juramento dos santos evamjelhos ao dito gaspar triguo e elle ho

Recebeo e pelo dito juramemto lhe encarregou que declarase se os ditos pesos pesaram o sobredito e se

valljam mais do que tinham dito e elle dise que não e que pesou ho sobre (sic) e que nam vallja maes

do que ja dito tinham e o dito amtonio pirez Requereu a mym tabeliam todo espreuese e lhe dese ho

dito auto pera o ter e eu tabeliam lho dei testemunhas manuell ym (?) mourato (....) e manuell pirez e

francisco Rato e outros e somou todo ouro e prata sete mjll e cimquemta reis o quall todo elle se

hobrigou todo entregar quando lhe for pedido pelo dito senhor e eu (.....) tabeliam o sprevi

Antonio pirez do canto

francisco Rato Manuel ym Mourato

manoel pirez gaspar trigo

1549

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DOCUMENTO Nº 2

B.P.A.P.D., Fundo Ernesto do Canto (Documentos da Casa Miguel Canto e Castro), ms. V, nº

158.

“Auto que mandaram fazer.”

Angra, 22 de Agosto de 1578.

Em os vimte e dous dias do mes de agoosto de mil e quinhentos e setenta e outo nesta cidade d

angra da Ilha terceira nas casas da allfandegua della estando hy presemtes os senhores pero de castro do

canto fidallgo da casa dell Rei noso e bastiam digo prouedor das armadas do dito senhor nestas ilhas e o

senhor bastiam coelho prouedor da fazenda de S. A. nas ditas Ilhas e dotor sepuam de figueiredo de

vascomsellos coregedor por elles foi mandado fazer este termo dizemdo que aver hum ano que nesta

allfandegua estaua duas aRobas e vimte coatro aRateis de anillque se tomaram por descamjnhados na

parte declarada no auto atras e por na tera nam aver sayda ao dito anill asemtaram que se llevase pera o

Reino e se entregase ao senhor dom Jorge de menezes capitão moor d armada que este prezente ano

vejo a estas Ilhas pera o llevar pera o Reino he entreguar na casa da India diguo pera ho entreguar aos

senhores veadores da //fazemda ou a pesoa que os ditos senhores mandarem e mandar disto sertidam ou

conhecimento de como he asj emtregue a pesoa que mandaram os ditos senhores vedores da fazenda e

com asjnado do dito senhor dom Jorge de como ese asj foj entregue o dito anill pera se ajumtar a este

auto e se aver por de hobrigado o feitor de S. A. de como ho tinha em sj e de como asj asemtaram

asjnaram aquj cosmo corea espvam da prouedoria ho espvj

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Cypriam de figueiredo bastião coelho

pero de Castro do Canto

pero de castro do camto prouedor das armadas d ell Rej noso senhor nestas Ilhas etc. mando a

vos Amtonio Soares feitor da fazenda de S. A. que entregueis ao senhor dom Jorge capitão mor ho anil

comteudo no termo acima e atras per asy estar asemtado e per este com asjnado dito dom Jorge de

como o devas Recebeo pera ho entregar no Reino aos senhores vedores da fazenda de S. A. sereis

desobrigado d elle comprio asj em amgra aos xxij de agosto cosmo corea o fez de J bc Lxxbiij anos

pero de Castro do Canto

+

he uerdade que eu rrecebi de Ceprião rrodrigues o baril conteudo no auto atras que são duas

arrobas e vint oito arrateis d anil e por uerdade asinei oye 24 de Julho l578

dom Jorge de meneses

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DOCUMENTO Nº 3

A. N. T. T. (Corpo Cronológico), pt.1ª, M. 80, Doc., nº 116

“a el Rej noso senhor”

Angra, 21 de Maio de 1548.

+

Senhor

ao porto desta cjdade veo ter hua nao de Vila de conde per nosa Senhora da mjserjcordja em que

vinha por mestre dela marquos aluarez e nela vinhão djoguo aluarez christouam fernandez mestre e

piloto do niujo esmerjlhão que era na mjna e asi outras pessoas que vinhão no dito niujo e deram noua

que i djto naujo por não vir pera nauegar aRjbara a Ilha de Sam Tome e que ahi por mandado do

capitão da dita Ilha se meteram o capitão e escrjuão com a maes gente do djto naujo com dous cofres d

ouro de V. A. na dita nao abrjra no mar de maneira que com agoa per mujtas vezes cujdaram de se

perder e que chegando a Ilha das flores parecera bem a todos que os ditos capitão e escrjuão sajsem

com os ditos // cofres na villa de santa cruz onde sajram e que la fiquauam pedro anes do canto e eu

fomos loguo a djta nao onde fizemos as djljgençjas neçesarjas e pareçe nos maes serujço a V. A.

espereremos pola armada que ha de vir busquar as naos da Indea pera hir pellos ditos cofres que

mandaremos daquj por elles asi por seescusar gasto como por se dizer nesta Ilha que de djapa da frança

he sajda grande armada e não se sabe pera onde pello qual eu pasej hua carta pera os Jujzes da dita

Villa em que lhe mando que tanto que lhe for apresentada loguo apousentem aos ditos capitão e

escrjuão com os djtos cofres em casa do maes Riquo homem que ouuerna djta Villa e onde maes

seguros posam estar e que notjfiquasem aos ditos capitão e escrjuão que se não embarquasem em naujo

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nenhum com os djtos cofres nem sem elles ate não vir a djta armada que hirja por elles e que se o

contarjro quisesem fazer que elles Jujzes lho não consentjsem escreuo isto a V. A. perA que sjba a

deljgençja que nisto se fez / noso senhor acrecente os djas de vida a V. A. com mujta saude desta

cjdade d angra oje xxj de majo de 1548 annos //

o doctor Lujs d ataide

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DOCUMENTO Nº 1

A. N. T. T. (Corpo Cronologico), pt. 1ª, M. 49, Doc. nº 89

“pera el Rey noso senhor”

Angra, 31 de Agosto de 1532.

+

Senhor

Ate oje trynta dias d agosto amdey com as caravellas que commyguo traguo desuyadas huas das

outras da maneira que me V. A. ordenou na ylha do corvo e a dezanove dias do dito mesachey a nao

sam bertollameu que aRybou das que hyam este ano pera a yndia de que he capitam diogo llopez de

sousa ao quall dise de parte de V. A. se lhe era necesaryo allgua cousa pera de tudo o prover dise me

que de nada tynha necesydade senam yr se pera o Reyno poys fratam (. . . ) no que nam pasara eu lhe

dise que se vyese pera esta vylla d amgra domde ya tinha mandado outros navyos de canaga e guyne e

cabo Verde que trazia fazenda de V. A. ( . . .) os navyos que comyguo andam d armada e me hyrya

direitamente a dita vylla a elle (?) e chegado ouve (?) por seruyço de V. A. manda lla pera o Reyno com

os navios que açima diguo com os quaes ordeney hyr Yorge de (. . . ) por ser pessoa que eu confyey e

escolhy por ter delle sabydo que mylhor farya o que compra a sereuyso de V. A. que nenhum dos que ( .

. .) traguo e por que ho ya fazer outras vezes e ser este que diguo fiquo descansado pello quall beyxarey

as maos a V. A. fazer lhe merçe por que ha muyto tempo ho serue e por que tyue necesydade do navyo

em que V. A. o della (?) man // dou armado e ho tomey e lhe dey outro yso (?) mesmo armado do quall

V. A. nam paga nenhum frete por ser ( . . .) cryado (?) de meu pay que pera yso mo ofereçeo e por eu

ser ymformado por muytos navyos que aquy vem ter e por estas que as ma diguo ( . . .) nam cursarem

(?) de maneira que as naos da ymdea ate aguora tambem ouve por comcelho torna llas a esperar no

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corvo todo este mes de setembro e comfyo em noso senhor que vyram e de tudo o que pasar neste

tempo envyaRey Recado a V. A. beyjo as Reaes maos de V. A. desta Vylla d amgra da Ylha 3ª ao

deradeiro de agosto de 1532 anos -

+

.QQares da cunha