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1 Camila Sayeg Humsi de Mello Espíndola CORRUPÇÃO E ESTADO: A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E OS MEIOS DE COMBATE CONTRA A CORRUPÇÃO PASSIVA NO BRASIL Centro Universitário Toledo Araçatuba SP 2018

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Camila Sayeg Humsi de Mello Espíndola

CORRUPÇÃO E ESTADO: A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E OS MEIOS DE

COMBATE CONTRA A CORRUPÇÃO PASSIVA NO BRASIL

Centro Universitário Toledo

Araçatuba – SP

2018

2

Camila Sayeg Humsi de Mello Espíndola

CORRUPÇÃO E ESTADO: A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E OS MEIOS DE

COMBATE CONTRA A CORRUPÇÃO PASSIVA NO BRASIL

A monografia apresentada como requisito para

conclusão do curso de graduação em Direito

pelo Centro Universitário Toledo, sob a

orientação do professor Dr. Pedro Luís

Piedade Novaes.

Centro Universitário Toledo

Araçatuba – SP

2018

3

Camila Sayeg Humsi de Mello Espíndola

CORRUPÇÃO E ESTADO: A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E OS MEIOS DE

COMBATE CONTRA A CORRUPÇÃO PASSIVA NO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção do título de Bacharel em Direito do Centro

Universitário Toledo – UniToledo.

BANCA EXAMINADORA

Orientador: ______________________________________________________

Prof. Pedro Luís Piedade Novaes.

2º Examinador:___________________________________________________

Prof. Carlos Paschoalik Antunes.

3º Examinador:___________________________________________________

Prof. Marcelo Yukio Misaka.

Araçatuba, 08 de outubro de 2018.

4

A toda minha família, em especial ao meu avô

Emerson Augusto de Mello (in memoriam)

que sempre me transmitiu inspiração e

confiança para a conclusão dessa minha

brilhante trajetória acadêmica.

5

AGRADECIMENTOS

Dedico este trabalho primeiramente, ao meu avô Emerson Augusto de Mello (in

memoriam), que infelizmente não pode estar presente neste momento tão feliz da minha vida,

mas que não poderia deixar de dedicar a ele, pois se hoje estou aqui, devo muitas coisas a ele.

Por seus ensinamentos, valores passados, confiança e inspiração a ponto de me despertar uma

paixão pelo curso de Direito.

A minha avó Ivone, a minha mãe Ivana e ao meu pai André, por sempre me apoiarem

em meus objetivos e me darem a oportunidade de concretizar mais uma caminhada da minha

vida. Sei que eles não mediram esforços para a realização desse sonho. Sem a compreensão,

ajuda e confiança depositada por eles em mim nada disso seria possível.

A minha irmã Bruna, que mesmo longe sempre me transmitiu calma e forças para

seguir em frente. Em muitos finais de semana me proporcionou seu carinho me fazendo

esquecer até das minhas ansiedades e angústias. Sou imensamente grata por ser minha melhor

amiga e irmã.

Não poderia deixar de dedicar também este trabalho a minha madrinha Luciana, aos

meus irmãos Amanda, Lívia e André, aos meus tios Eduardo e José Luiz, aos meus avós

paternos Aniete e Luiz Carlos, ao meu padrasto Deivi e minha madrasta Letícia que são

pessoas especiais e peças fundamentais em minha vida, sempre me escutando e apoiando.

Ao meu namorado João Pedro, por toda paciência, compreensão, carinho e amor, e por

me ajudar muitas vezes a achar soluções quando elas pareciam não existir. Você foi uma

pessoa que compartilhou comigo os momentos de tristezas e alegrias. Também dedico todo

meu amor a você.

Aos meus amigos, que me apoiaram e que sempre estiveram ao meu lado durante esta

longa caminhada. Em especial a Carolina, Mariana, Larissa, Maria Eduarda, Maira, Izadora,

Ana Carolina, Paloma, Murilo, Amanda, Melissa e Ana Lúcia, que muitas vezes compartilhei

momentos de tristezas, alegrias, angústias e ansiedade, mas que sempre permaneceram ao

meu lado me apoiando e me ajudando.

Por fim, só tenho a agradecer a faculdade Unitoledo de Araçatuba, por toda sua

estrutura e pelo magnífico grupo docente, em especial o professor Pedro Luís Piedade

Novaes, por toda sua paciência, dedicação e sabedoria transmitida, o qual me ajudou

diretamente na formação acadêmica.

6

Que todos os nossos esforços estejam sempre

focados no desafio à impossibilidade. Todas

as grandes conquistas humanas vieram

daquilo que parecia impossível

Charles Chaplin

7

RESUMO

O presente trabalho retrata sobre a corrupção passiva, a qual foi analisada sua origem histórica

desde os primórdios, com a vinda da família real ao Brasil até chegar aos recentes escândalos

que resultaram em prejuízos bilionários aos cofres públicos. O mencionado crime pertence à

tutela da Administração Pública e com isso aprofundou saber sobre ela, bem como seus

princípios vigentes, a definição de funcionário público e os crimes que ocorrem em seu

interior. Apesar disso, foram analisadas a estrutura do Poder Judiciário e a moralidade

pública, os efeitos negativos da corrupção e os movimentos e medidas de combate à

corrupção. A presente pesquisa analisará as medidas de combate existentes e utilizadas no

sistema brasileiro, a exemplo a reforma do Poder Judiciário para acabar com a morosidade

processual e pregar pela celeridade; a possibilidade de extinção do foro por prerrogativa de

função; a operação Lava Jato que é a maior e mais conhecida investigação de lavagem de

dinheiro e corrupção e as 10 medidas contra a corrupção. Tendo como finalidade encontrar

uma vertente de pensamento e buscar saídas para a diminuição e desnaturalização da

corrupção nas várias camadas do governo brasileiro.

Palavras chave: Corrupção passiva; Administração Pública; Meios de combate.

8

ABSTRACT

The present work depicts the passive corruption, which its historical origins were analyzed

since the beginning, with the coming of the royal Family to Brazil until the recent scandals

that gave the billionaire financial loss to the public coffers. The mentioned crime belongs to

the public administration judicial protection, so the present research did a funder study about

it, and also, on its principles and the definition of civil servant and the crimes that occur inside

it. Therefor, it was analyzed the Judiciary Branch and the public morality, the negative effects

of the corruption and the implement measures to combat corruption. The present research is

going to analyze the implement measures to combat corruption that exists and is used in the

brazilian system, for example the Judiciary Branch reform to end the slowness procedure and

stand for its promptness; the possibility of the legislative immunity extinction, the “Lava Jato”

operation, which is well-known and the biggest money laundering and corruption

investigation, and the 10 measures against corruption. It aims to find a way of thought and

searches for a way out so the desnaturalization and reduction of corruption can happen in all

the brazilian government layers.

Key-words: Passive corruption; Public administration; Measures of combat

9

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 11

1. CORRUPÇÃO ..................................................................................................... 133

1.1. CONCEITO DE CORRUPÇÃO ..................................................................... 14

1.2. ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA ......................................................... 14

1.3. CORRUPÇÃO PASSIVA ............................................................................... 16

1.3.1. Conceito e objetividade jurídica ............................................................... 17

1.3.2. Sujeitos do crime ...................................................................................... 18

1.3.3. Elementos objetivos e subjetivos do tipo ................................................. 18

1.3.4. Consumação e sua forma tentada ............................................................. 20

1.3.5. Espécies .................................................................................................... 21

1.3.6. As penas e distinções penais ..................................................................... 23

2. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ........................................................................... 25

2.1. CONCEITO DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA .......................................... 27

2.2. PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ........................................ 28

2.2.1. Princípio da Legalidade ............................................................................ 29

2.2.2. Princípio da Impessoalidade ..................................................................... 29

2.2.3. Princípio da Moralidade ........................................................................... 30

2.2.4. Princípio da Publicidade ........................................................................... 31

2.2.5. Princípio da Eficiência.............................................................................. 31

2.3. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PERANTE O CÓDIGO PENAL ................ 32

2.4. SERVIDOR PÚBLICO ................................................................................. 333

2.5. DOS CRIMES FUNCIONAIS DOS SERVIDORES PÚBLICOS ................. 34

2.6. CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.

35

2.6.1. Crimes cometidos por funcionário público contra a administração no

geral............... .......................................................................................................... 35

2.6.2. Crimes praticados por particular contra a administração em geral .......... 36

2.6.3. Crimes contra a administração da justiça ................................................. 36

2.6.4. Crimes contra as finanças públicas ........................................................... 37

3. A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E OS MEIOS DE COMBATE A CORRUPÇÃO

PASSIVA ....................................................................................................................... 38

3.1. O PODER JUDICIÁRIO E A MORALIDADE PÚBLICA ............................ 39

3.2. DOS EFEITOS NEGATIVOS DA CORRUÇÃO ........................................... 42

3.3. MOVIMENTOS E MEDIDAS DE COMBATE A CORRUPÇÃO ............... 45

10

3.3.1. A morosidade e a reforma do poder judiciário ......................................... 46

3.3.2. Extinção do foro por prerrogativa de função ............................................ 48

3.3.3. Operação lava jato .................................................................................... 54

3.3.4. As 10 medidas contra a corrupção ..................................................... 5656

CONCLUSÃO ............................................................................................................... 62

REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................... 63

11

INTRODUÇÃO

O presente trabalho visou estudar a relação entre o crime de corrupção passiva e a

administração pública, desde os primórdios, com a vinda da família real ao Brasil, até os

recentes escândalos, nos quais desencadearam prejuízos numerários altíssimos e mostrar

algumas soluções possíveis de combate.

Primeiramente, foi pesquisado sobre o tema corrupção, demonstrando sua importante

definição, seu surgimento e evolução histórica. Buscamos a fundo na história do Brasil o

marco inicial das práticas corruptas.

Ao observar o início do descobrimento do Brasil, bem como seu processo de

colonização foi possível identificar tais práticas. Um exemplo claro foi à vinda da família real,

a qual sempre objetivava extrair riquezas encontradas nas terras brasileiras, as levando até

Portugal para enriquecer ainda mais. Posteriormente, na fase imperial, havia a presença de um

quarto poder – o moderador – fazendo com que o imperador fosse titular de todos os poderes.

Com o surgimento da República teve como destaque a compra e venda de votos e os abusos

de poder. A corrupção que perdura atualmente foi inaugurada no governo de Juscelino

Kubitschek (1956 e 1961) com o superfaturamento de obras. A partir dos anos de 1985, a

democracia voltou, a corrupção se alastrou se tornando comum a todos e foram criadas as

CPIs (Comissões Parlamentares de Inquéritos).

Fechando este capítulo, nos aprofundamos no conhecimento sobre o crime da

corrupção passiva, previsto no artigo 317, do Código Penal, além de abarcar sobre os sujeitos

especiais que praticam esse delito, especificar os elementos objetivos e subjetivos do tipo e

explicitar as formas tentadas e consumadas. Assim como suas modalidades e espécies, ao todo

subdivididas em corrupção passiva qualificada em contratação pública, corrupção passiva

qualificada por desvio de poder de polícia e corrupção passiva privilegiada, finalizando

examinando as penas cabíveis a cada modo e prática do mencionado crime.

No segundo capítulo, buscamos entender a estrutura da máquina pública, sendo

realizada uma análise dos princípios que compõe a Administração Pública destacando-se a

legalidade, a impessoalidade, a moralidade, a publicidade e a eficiência, bem como a

definição de servidor público.

Na mesma oportunidade, foi analisado o estudo do título “DOS CRIMES CONTRA A

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA” e seus capítulos dentro do Código Penal. Especificando os

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crimes cometidos por funcionário e por particular contra a administração, os contra a

administração da justiça e os exercidos em face das finanças públicas.

Ademais, a pesquisa retratou no terceiro capítulo sobre a “A Administração Pública e

os meios de combate a corrupção passiva”. Iniciou o estudo sobre a moralidade do Poder

Judiciário e os efeitos negativos ocasionados pela corrupção, sem dúvidas são as famosas

crises econômicas, uma vez que muitas pesquisas comprovaram que quanto menor o índice de

desvios e atos corruptos maior é o Produto Interno Bruto (PIB) do País, sendo o Brasil um dos

países mais mal colocados no ranking mundial.

Mais adiante, aprofundamos sobre os meios e medidas de combate à corrupção. O

combate a corrupção mais eficaz é a mudança desse costume, tendo que ser iniciado dentro de

nossas casas e ter o incentivo do Estado, de modo que fiscalize e utilize seus meios

preventivos e repressivos.

Algumas das medidas explicitadas consistem na correlação da morosidade do Poder

Judiciário e a necessária reforma do sistema e, em seguida a extinção do privilégio do foro por

prerrogativa de função que ocasionou a imunidade de várias autoridades ocupantes de

determinados cargos públicos.

Na mesma oportunidade, a maior e mais conhecida investigação contra a corrupção e

lavagem de dinheiro do Brasil, a Operação Lava Jato. Ficou demonstrado o esquema que

envolvia empreiteiros, operadores financeiros, funcionários da Petrobras e agentes políticos.

Esse cenário deu ensejo à criação das 10 (dez) medidas contra a corrupção, as quais foram

criadas pelo Ministério Público Federal e com caráter de iniciativa popular, em razão do

recolhimento de mais de 2 milhões de assinaturas.

Por fim, a última parte ostenta a conclusão do presente trabalho, com a finalidade de

encontrar uma vertente de pensamento e buscar saídas para a diminuição e desnaturalização

da corrupção nas várias camadas do governo brasileiro.

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I. CORRUPÇÃO

O termo corrupção é amplo, difundido entre várias áreas e conhecimentos, para o

campo jurídico é explicitado e conhecido de forma criminal, compreendido como algo imoral

e ilícito.

O termo corrupção inclui uma enorme diversidade de atos: trapaça, velhacaria,

logro, ganho ilícito, desfalque, concussão, falsificação, espólio, fraude, suborno,

peculato, extorsão, nepotismo e outros. Isso cria razoável dificuldade para se chegar

a uma definição consensual. O fenômeno pode ser observado numa gradação quase

infinita. Vai de pequenos desvios de comportamento à total impunidade do crime

organizado, por parte das várias áreas e níveis governamentais. Pode ocorrer

suborno para a compra de um benefício legalmente previsto - e o que se compra é

maior rapidez ou precedência sobre outros interessados -, como pode haver compra

de um benefício ilegal. A natureza da ação, suas conseqüências e a punição prevista

serão totalmente diferentes (BREI, 1996, p. 65).

De acordo com o Dicionário Priberam, corrupção vem do latim corruptio e é um

substantivo feminino, o qual possui os seguintes significados:

Ato ou efeito de corromper ou de se corromper; deterioração física de uma

substância ou de matéria orgânica, por apodrecimento ou oxidação; decomposição,

putrefação, putrescência; alteração do estado ou das características originais de algo

= adulteração; comportamento desonesto, fraudulento ou ilegal que implica a troca

de dinheiro, valores ou serviços em proveito próprio; degradação moral =

depravação, perversão; sedução (PRIBERAM, 2013, p. 01)

O termo estudado neste trabalho – corrupção - é algo conhecido de forma cultural da

população brasileira. Para nós, os atos ilegais e imorais são comuns dentro da política; o povo

não se assusta e pratica os atos corruptos de seus representantes. Por isso, é indispensável

estudar a corrupção de uma forma interligada ao Estado. E para compreender um governo, é

preciso conhecer seu povo; assim, entendendo sua cultura, suas normas e seus hábitos, fica

fácil identificar e conhecer os governantes e governados.

Para identificar e conseguir conceituar tal assunto visou neste trabalho interpretar a

fundo o conceito de corrupção, o que será abordado no próximo tópico.

14

1.1. Conceito de Corrupção

Etimologicamente, a palavra corrupção está ligada a ideia de modificar, ou seja, a

ação de corromper pode ser entendida também ato ilegal, imoral e desonesto, bem como a

atitude de subornar. Entende-se por corrupção, como sendo um:

“ato de quebrar aos pedaços", ou seja, decompor, deteriorar algo. A corrupção é um

meio ilegal de se conseguir algo, sendo considerada grave crime em alguns países.

Normalmente, a pratica da corrupção está relacionada com a baixa instrução política

da sociedade, que muitas vezes compactua com os sistemas corruptos. A corrupção

na política pode estar presente em todos os poderes do governo, como o Legislativo,

Judiciário e Executivo. No entanto, a corrupção não existe apenas na política, mas

também nas relações sociais humanas, como o trabalho, por exemplo. Para que se

configure a corrupção, são precisos no mínimo dois atores: o corruptor e o

corrompido, além do sujeito conivente e o sujeito irresponsável, em alguns casos.

(SIGNIFICADOS, 2018, p.01).

Compreender a origem histórica da corrupção na sociedade brasileira não é fácil. Em

todo momento histórico há algum ato ilegal seja dos governantes ou da própria população,

mas como entender e identificar a naturalização destas improbidades na soberania nacional?

1.2. Origem e evolução histórica

Desde os primórdios da sociedade sempre existiram relatos de trapaças, mentiras e

roubos. Em via disto, é impossível compreender a origem real da falta de escrúpulos sociais,

mas, como isto é atrelado à sociedade brasileira? Como tornamos tal ato cultural em nossas

vidas?

A história do Brasil e a história da corrupção em terras brasileiras se confundem.

Desde o momento do “descobrimento” das terras tupiniquins pelos portugueses e

sua consequente colonização, diversos relatos corruptos começaram a ser

constatados. (MEDEIROS, 2015, p.16)

Os responsáveis por defender e representar a Coroa Portuguesa eram, na maioria,

bandidos enviados a colônia, estes, recebiam em troca cargos como garantia de prestígio

político e vantagens econômicas. “Durante o período colonial, o pagamento de propinas a

15

governantes e funcionários reais era uma prática tolerada e até regulamentada por lei” (NEHER;

WELLE, 2017, p. 01).

A corrupção é uma velha conhecida da sociedade brasileira, esteve presente na época

do Império, na República, na Era Vargas e até mesmo na Ditadura Militar, a qual é pouco

comentada e estudada devido à falta de liberdade de expressão, passando para os dias atuais.

A corrupção, apresentada e conhecida atualmente, surgiu durante o governo de

Juscelino Kubitschek (1956-1961), o plano de metas, conhecido pelo slogan 50 anos em 05,

superfaturou várias obras e disseminou a prática sistematizada de superfaturamento na

construção civil em todo o país, proporcionando lucros exacerbados a empreiteiras,

construindo o hábito do jeitinho brasileiro para o desenvolvimento de obras públicas no Brasil

(PONTUAL, H; D. p. 01).

A democracia voltou em meados do ano de 1985, momento em que os casos de

corrupção surgiram em grande proporção e no ano de 1988, com a nova Constituição Federal

foi possível criar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI da Corrupção) a fim de iniciar

investigações e cuidados com o governo (SANTOS, 2013, p.11).

Ademais, iniciou-se a redemocratização no Brasil tendo como presidente Fernando

Collor de Melo (1990 – 1992), o qual prometia o combate à corrupção e durante seu mandato

sofre um alto índice inflacionário que desencadeou a propositura do Plano Collor que

consistia em congelar os preços e aumentar os juros; corte de despesa pública e aumento da

tributação; a privatização das estatais; a redução dos impostos de produtos estrangeiros; e o

bloqueio de retirada de depósitos com valor superior a 50 mil cruzados novos. O plano foi um

fracasso e o presidente recebeu inúmeras acusações por desvio de dinheiro público, resultando

na renuncia do cargo presidencial

Após Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) a corrupção começou a se tornar mais

conhecida, principalmente por vir em uma época pós-autoritarismo e dar as pessoas o poder

da fala e buscar conhecer melhor sobre o governo. As privatizações das empresas estatais

tinham como objetivo a diminuição da corrupção, no entanto, seu governo ficou conhecido

exatamente pelas vendas das empresas públicas e pelos políticos ganhar uma parcela de lucro

por tais vendas (PIRES, 2010, p.50).

Os últimos anos de governo do Partido dos Trabalhadores (2010-2016) não ficaram

conhecidos por situações diferentes; os anos destes governantes foram recheados de

escândalos, Comissões Parlamentares de Inquéritos e caixas dois. Um grande exemplo foram

às declarações dadas por Duda Mendonça na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da

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Empresa de Correios e Telégrafos, quando admitiu ter recebido dinheiro indevido de

empresário para pagar despesas das campanhas políticas do partido sem registros e notas,

afirmando que “na verdade, esse dinheiro era claramente caixa dois” (BRASIL, 2005, p. 01).

Portanto, fica nítida em nossa sociedade a necessidade da mudança cultural para a

reversão de tais atos.

1.3. Corrupção passiva

Identificar os crimes contra a Administração Pública não é simples, muito menos fácil.

Todos os tipos de infrações acontecem nos órgãos que regem o Estado desde o período

Colonial. No entanto, por ser algo muitas vezes difundido entre os agentes responsáveis, por

comandar e cuidar da sociedade fica difícil desfazer estes hábitos e puni-los, uma vez que a

maioria dos funcionários públicos se rende ao caminho fácil e desonesto do ganho indevido.

“Trata-se de toda e qualquer vantagem obtida pelos agentes públicos nos exercícios das

funções que cause prejuízo aos bens, serviços e interesses do Estado.” (LIVIANU, 2014, p.

25).

O caráter do indivíduo é totalmente interligado à corrupção, ou seja, ser corrupto não é

só ganhar alguma quantia significativa de capital, mas qualquer benefício, em dinheiro ou

não. Portanto, corrupção é definida como o ato de corromper, ação que nos leva a agir de

forma indevida, e é o que vemos no dia a dia na mídia brasileira. Muitas investigações do

Ministério Público Federal e da Polícia Federal vêm desmascarando agentes públicos com

desvio de suas funções.

Os temas afetos ao direito penal tomaram conta das rodas de conversa, das

manchetes de jornal e das matérias televisivas. São divulgadas, quase que

diariamente, diversas notícias, falando e discutindo sobre os mais diversos tipos de

crime, mas, sem dúvidas, um deles se destaca: a corrupção. Vê-se e ouve-se falar em

corrupção passiva, ativa e até mesmo em corrupção sistêmica. (LIMA, 2018, p.01)

A corrupção passiva está presente no dia a dia dos órgãos públicos, é comum da

sociedade brasileira e cometido por qualquer pessoa que exerça uma ocupação pública, é um

dos delitos mais noticiados pela mídia brasileira, mas como identificar tal crime?

17

1.3.1. Conceito e objetividade jurídica

O artigo 317 do Código Penal1especifica as penas e características do crime de

Corrupção Passiva:

Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda

que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou

aceitar promessa de tal vantagem:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 8 (oito) anos, e multa.

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº

10.763, de 12.11.2003)

§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em conseqüência da vantagem ou

promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o

pratica infringindo dever funcional.

§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com

infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem:

Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

A diferenciação deste crime das outras violações é que este só pode ser praticado por

funcionários públicos, ou seja, “o agente público abusa da função, ou seja, usa irregularmente

a função, desvia a função de sua finalidade legal que é o interesse público” (ROGÉRIO, 2008,

p.24). Assim, o empregado de estatais públicas vende sua mão de obra a um particular,

praticando um ato ilegal e ilegítimo.

Há três verbos essenciais para distinguir tal ato, sendo eles, solicitar, receber e aceitar.

Este crime pode ser cometido com a pratica de três condutas diferentes, sendo elas:

solicitar, receber ou aceitar a promessa de que ira receber. Na solicitação o

funcionário pede a vantagem, esse pedido deve ser feito sem que fique constatado

ameaça, não é necessário que exista nenhum tipo de participação ou colaboração de

terceiro, basta para que fique configurado o crime o simples pedido do funcionário.

Na segunda hipótese da pratica do tipo penal o funcionário público recebe vantagem

indevida e essa para que fique configurada é necessária que advenha de um terceiro,

ou seja, deve vir acompanhada da prática da corrupção ativa. No terceiro caso o

funcionário recebe uma promessa de recompensa, para que configure a pratica do

delito basta que aceite tal recompensa, não sendo necessário o recebimento da

vantagem indevida. As três hipóteses da prática do tipo penal podem ser feitas por

intermédio de terceira pessoa, ou seja uma pessoa pode ser determinada em nome do

funcionário público a exigir a vantagem, ou uma pessoa pode ir até o funcionário

público e prometer ou oferecer vantagem indevida. (MENDONÇA, 2009, p.05).

As características deste crime são únicas, demarcando seus acontecimentos e sujeitos

de forma singular, ficando nítido o indivíduo envolvido nestes atos irregulares.

1 Todas as citações retiradas do Código Penal são da 5ª edição de Delmato, 2017.

18

1.3.2. Sujeitos do crime

O sujeito do crime geralmente é o funcionário público, pois este delito só ocorre em

razão de seu cargo ou função, por isso, qualquer ato indevido de um agente do governo pode

se encaixar dentro deste crime. Mas como identificar os elementos que configuram os

elementos objetivos e subjetivos deste tipo de ato ilícito?

Na corrupção passiva o agente público realiza uma ação, quando solicita ou a

recebe, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou

antes de assumi-la, mas sempre em razão dela, vantagem indevida, ou ainda, se

aceita promessa de tal vantagem. (FAZZIO JÚNIOR, 2003, p. 165)

Em casos de vários funcionários agirem de má-fé ou um único empregado se valer de

benefícios de particular, no qual este ofereça, receba ou aceite vantagens indevidas, os

sujeitos passivos serão o Estado e o particular que poderá sofrer algum dano. “O sujeito

passivo é o Estado, que sofre danos na administração pública em razão do pedido ou

oferecimento de vantagem indevida.” (MENDONÇA, 2009, p. 06).

Este crime pode ser praticado por cidadãos comuns sem ligação com a Administração

Pública; porém, para tal infração ser tipificada é essencial que ao menos uma pessoa esteja

ligada ao poder público. É necessário de ao menos duas pessoas: uma que dá e outra que

recebe a ação.

Em suma, independente de o funcionário agir em proveito próprio ou de outro, de

forma lícita ou ilícita, o delito descrito no artigo 317 do Código Penal deixa explicito a

necessidade da figura servidor público para a produção desta penalidade.

1.3.3. Elementos objetivos e subjetivos do tipo

De acordo com o Código Penal há cinco elementos que interagem entre si e

configuram o crime de corrupção passiva, sendo eles: ação de receber e solicitar para si ou

para terceiros, vantagem direta ou indireta, fora da função, ou antes, de assumir o cargo e

promessas de vantagens.

19

Solicitar é pedir, é manifestar que quer, ou deseja alguma coisa, a solicitação pode

ser expressa ou de forma cautelosa, tácita, dependendo da astúcia do corrupto e do

entendimento do corruptor, também depende de acordos firmados anteriormente, no

qual já se ajustam determinados procedimentos, por determinado tempo, caso em

que deve se verificar a continuidade do crime.Receber é tomar, obter, acolher, entrar

na posse; nesta modalidade, é condição essencial para sua existência que haja

anteriormente, o crime de corrupção ativa, ou seja, o oferecimento de vantagem

indevida, conduta tipificada no artigo 333 do Código Penal.Aceitar promessa de

vantagem é consentir, concordar, estar de acordo; nesta circunstância basta que o

funcionário concorde com o recebimento da vantagem, porém, deve haver

necessariamente uma proposta formulada pelo extraneus, requisito essencial para a

configuração desse delito, ou seja, também deve ter existido antes o crime de

corrupção ativa (MALICIA, 2015, p. 01)

O elemento objetivo demonstra que o funcionário público agiu com culpa, ou seja,

cometeu o crime, mas sem a intenção de cometer. Algumas dádivas, presentes, não

caracterizam corrupção, e algumas oferendas mínimas, sem grandes valores e importâncias

emocionais, podem ser encaixadas dentro do principio da insignificância. Apurar-se-á que não

há da parte do funcionário a consciência de estar aceitando uma dádiva em troca da mercancia

de um ato funcional, que é peculiar ao dolo de corrupção. (TORRES, 2004, p.26)

Segundo o entendimento de Rogério de Souza Alves Sobrinho:

Além disso, o Código ainda traz no §2º do artigo 317 uma atenuação da pena na

modalidade privilegiada da corrupção passiva. Destarte, caso o funcionário pratique,

deixe de praticar ou retarde ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo

a pedido ou influência de outrem, sua pena será de detenção de três meses a um ano,

ou multa. A justificativa para tal amenização é que, nesta situação, o agente público

não pratica um ato de venalidade, visando a um lucro seu ou de outrem, mas sim é

constrangido, diante da pressão de pessoas detentoras de poder e do temor de

represálias, a incorrer no delito (SOBRINHO, apud, COSTA, 2015, p. 29).

O elemento subjetivo é o dolo, qual seja, aceitar, receber e solicitar, direta ou

indiretamente uma vantagem indevida Tais atos ocorrem quando o agente reconhece a ação

ilícita, mas pratica mesmo conhecendo a ilegalidade.

O crime pode ser antecedente e subseqüente, sendo a primeira situação ocasionada

quando a vantagem indevida é entrega ao funcionário antes de sua ação ou omissão funcional;

já a ação subseqüente é quando o agente público recebe a vantagem depois de cometer a ação.

A corrupção passiva pode ocorrer por via direta ou indireta, quer dizer, nada impede

que seja interposta por uma terceira pessoa, um intermediário, que poderá solicitar,

receber, ou até mesmo aceitar a promessa da vantagem, que, em nome do

funcionário público, comunicará a concordância deste, ao extraneus. (MALICIA,

2015, p.01)

20

Independente de o ato ser objetivo ou subjetivo o objeto, ou seja, o resultado esperado

dentro deste crime é a vantagem indevida, ganhar alguma vantagem sobre o Estado,

aproveitando-se do cargo, função ou emprego público.

1.3.4. Consumação e sua forma tentada

A especificidade deste crime está interligada com sua consumação ou forma tentada,

por se tratar de um delito de simples conduta, independente de a intenção ser dolosa ou

culposa, já configura crime. Trata-se de um crime formal, de simples atividade que consuma

no momento em que a solicitação chega ao conhecimento do terceiro ou quando o funcionário

recebe a vantagem ou aceita a promessa de sua entrega, ainda que não haja sua concretização.

A tentativa é vista por dois vieses na doutrina: existente e inexistente. Para Nelson

Hungria a tentativa não existe, o ato de tentar já configura crime, pois a lei já pune o simples

esforço de solicitação de vantagens indevidas, assim, consumando a ação. De acordo com

Damásio de Jesus, a tentativa declarada por escrito é a única forma de configurar como

tentativa, pois entre o pedido e a consumação há uma separação, um intervalo para a

consumação do crime, tornado o delito incompleto. (MALICIA, 2015, p. 01).

Para Damásio de Jesus, o ato criminoso é consumado seja com a declaração por

escrito, a forma tentada, mesmo que não consumada já é incorporada como crime:

Quanto a aceitar promessa de vantagem: não é também admissível a tentativa, seja o

meio verbal ou por escrito. Ou ele aceita ou não aceita. Se remete ao corruptor uma

carta contendo a aceitação, ainda que ela não chegue ao seu conhecimento, o delito

está consumado (consumou-se no momento em que, na carta, fixou a aceitação).

(2007, p. 168).

O ato tentado ou consumado é punido da mesma maneira. Por isso, a tentativa é vista

por vários autores e colegiados como a forma consumada. Tem-se entendido que é impossível

não ocorrer o delito; além disso, o arrependimento posterior o ato irregular não desfaz a

responsabilidade do autor sobre o delito e nem o faz desaparecer.

21

1.3.5. Espécies

O crime é especificado de acordo com cada ato, podendo ser passiva qualificada e

subdivide-se em passiva qualificada em contratação pública, passiva qualificada por desvio de

poder de polícia e também pode ser de espécie privilegiada.

O § 1º, do art. 317, do Código Penal especifica a pena que deve ser aplicada ao

praticante desta espécie, em que diz que “a pena é aumentada de um terço, se, em

consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer

ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional”.

Na visão de Paula Rogério:

Trata-se, portanto, da corrupção passiva qualificada, consumada a corrupção,

continua o sujeito ativo na conduta ilícita. Há três hipóteses: retardamento, omissão

e prática de ato. Em primeiro lugar, pode retardar por um tempo significável a

realização de ato funcional a que está obrigado. Na segunda hipótese, é quando o

funcionário deixa de praticar determinado ato a que estava obrigado e na terceira

hipótese, é um delito comissivo, ou seja, pratica ato de forma indevida, violando o

dever da função. (2008, p.30)

As três hipóteses retardamento, omissão e prática do ato são irregulares para tal crime

ocorre após a solicitação, recebimento ou aceitação de promessa de vantagem, diferenciando

este crime dos demais; logo, o que pode extinguir os outros crimes naquele aumenta-se a

pena. Assim, a atuação do sujeito ativo vai além da aceitação da promessa de vantagem, ou

recebimento ou solicitação.

De acordo com Júlio Fabrinni Mirabete há exemplos jurisprudenciais que destacam

sua singularidade, sendo elas:

[...] na jurisprudência a respeito da forma qualificada são os seguintes: Recebimento

de propina por funcionário da secção de trânsito de delegacia de polícia para

fornecimento de carteira de motorista sem os necessários exames (RJTJESP 48/308;

RT 536/305; 520/356); recebimento de quantia qualquer por delegado de polícia

para colocar em liberdade quem se encontra preso (RT 522/438); recebimento de

propinas pelo policial rodoviário para abster-se de lavrar multas diante de

irregularidades comprovadas (RJTJESP 42/353); recebimento por chefe de Turmas

Julgadoras, da Delegacia Regional Tributária, de dinheiro de comerciantes a fim de

“quebrar galhos”, forçar situações e redistribuir processos (RJTJESP 45/352);

solicitação de dinheiro para relevar falha em carteira de motorista (RJTJESP

20/337); solicitação de vantagem indevida por escrevente de cartório criminal para

influir no andamento do processo, acenando com a eventual prescrição da ação penal

(RJTJESP 16/434). ( 2004, p. 328).

22

A corrupção passiva qualificada em contratação pública é de notório conhecimento de

empresários e ou particulares que fecham contratos com o Estado e buscam nestes negócios

um lucro superior ou alguma vantagem indevida sobre o governo, como observa Waldo

Fazzio Júnior:

Muitas vezes essa voracidade, faz com que o empresário extrapole a moral, a lei e os

bons costumes, impulsionando-o a subornar agentes públicos ou deixando-se

explorar por eles, dando-lhes vantagens, a fim de concretizar o pacto, obtendo desta

forma, altíssimos lucros em detrimento do Erário Público. Talvez seja essa a

modalidade mais freqüente de corrupção, abrangendo não só a esfera das

contratações magnas, mas também desce até o nível mais baixo de negociação.

Nesta seara, existe uma relativa cumplicidade entre o empresário e o agente público,

não existe um paradigma de procedimentos, sendo difícil apurar a responsabilidade.

(2003, p.205).

A qualificação desta espécie é a superfatura de preços, beneficiando o corrupto e

onerando os cofres públicos, por intermédio do agente público. Os proveitos ocasionados pelo

cargo facilitam o contrato. Em vez de proteger o erário, o agente o utiliza para avantajar-se,

configurando uma espécie de venda do interesse público.

Corrupção passiva qualificada por desvio de poder de polícia está interligada a

fiscalizações e imposições de sanções, o agente que negligencia ou é omisso nas suas funções

e, portanto, deixa de fazer algo que é natural do seu cargo.

Sendo assim, há de se raciocinar que o agente público não faz o que a lei prescreve

como obrigatório naquela determinada situação, obrigatoriamente tal atitude deveria

ser tomada pelo agente público, que em razão do exercício de poder de polícia, uma

forma discricionária da atividade administrativa, possui o dever de fiscalizar,

policiar, aplicar sanções. (FAZZIO JÚNIOR, 2003, p. 215).

Um comum exemplo deste delito é a cobrança de alimentos sem custos por policias

para vigiar restaurantes e lanchonetes, caracterizando uma conduta comissiva, na qual o

agente público sugere receber vantagem ilícita

A corrupção passiva privilegiada está exposta no § 2º, do artigo 317, do Código Penal,

onde o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de oficio, com infração de dever

funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem, geralmente, de cargo superior e

privilegiado ou que tenha influencia de pessoas que ocupem cargos altos no Estado.

23

Observa-se o que Edgard Magalhães Noronha descreveu:

Não há, agora, propriamente, venda do ato; o funcionário não é impelido pelo

interesse próprio de alcançar uma vantagem, mas bajulador ou tímido e frouxo,

procura agradar ou cede a pedido feito. É mister haver, em um caso, pedido e,

noutro, influência. No primeiro, há solicitação expressa; no segundo tal não ocorre,

mas no terceiro, que também pode ser funcionário, por seu prestígio, posição etc., é

o fator que leva o agente à conduta criminosa, ainda que se tenha mostrado alheio a

esta. É a deferência do funcionário para com outrem que gera o delito. (1998, p.198)

O sujeito atua em função de outro, por isso, tal delito é visto como uma

conduta de menor qualidade por não tratar de interesse próprio.

1.3.6. As penas e distinções penais

No caput do artigo 317 do Código Penal, está especificado que a pena é de reclusão de

dois a doze anos e multa. No parágrafo primeiro do mesmo artigo, sobre a corrupção passiva

qualificada, a pena é aumentada em até um terço por já ter consumado o crime. A corrupção

passiva privilegiada tem penas mais brandas, por ser um ato feito em função de outro,

geralmente chantagem:

Com relação às penas e ação penal no crime de corrupção passiva, ilustramos que o

tipo simples do artigo 317, caput, apresenta pena de reclusão, de dois a doze anos, e

multa. Na corrupção passiva qualificada, prevista no artigo 317, § 1º, as penas são

aumentadas de um terço. Nesse caso, o agente público já recebeu a vantagem ou

proporcionou-a a outrem, ou aceitou a promessa formulada pelo corruptor. O crime

do artigo 317, caput, já se consumou. Agora, cumpre o prometido, exaurindo esse

delito e, por isso, merecendo reprimenda maior. Na corrupção privilegiada, têm-se

penas alternativas: de detenção, de três meses a um ano, ou multa, o que estimula a

corrupção. Aqui, o agente não comercializa o ato funcional com o intuito de receber

uma vantagem, seja para si, seja para outrem. Infringe seus deveres funcionais,

cedendo a pedido ou influência de terceiro. E a ação penal é pública incondicionada.

(DELMANTO, 2016, p. 35).

Em 12 de novembro de 2003 adveio a Lei 10.763, a qual acrescenta artigo ao Código

Penal e modifica a pena cominada aos crimes de corrupção ativa e passiva, tornando este

crime mais rígido e sem suspensão condicional do processo. Lembrando que houve a

alteração da pena relativa ao delito de relação a qual tipifica do caput do art. 317 do Código

Penal, elevando-a de um a oito anos, para dois a doze anos de reclusão.

24

Assim, fica explicito que, tanto o crime de corrupção passiva descrita e pesquisada,

quanto o crime de corrupção ativa passam a ter um peso e fiscalização maior a fim de

evitarem-se tais atos impróprios e ilegais, buscando melhorar o funcionamento da

Administração Pública.

25

II. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Primordialmente, deve ser analisada a origem das palavras administração e público. O

vocábulo administração é derivado do latim administratione e tem como significado direção,

gerência, ação de conferir. Por outro lado, público vem do latim publicus e se refere à coisa

pública, ao povo, uso de todos. Com base nesses significados pode-se dizer que a

administração pública “trata-se de um poder de gestão atribuído ao Estado, que é exercido por

seus órgãos e instituições, sempre com o objetivo de atingir o serviço público efetivo, ou seja,

sua coletividade” (TUNES, 2017, p.25).

Para gerenciar os órgãos públicos criou-se um ramo específico no Direito a fim de

reger e controlar as instituições e funcionários governamentais, o Direito Administrativo,

portanto, a Administração pública é uma atividade que busca gerenciar os interesses públicos.

(CAIXETA, 2016, p. 12).

A Administração pública modificou-se muito com o passar dos anos no Brasil.

Atualmente está relacionada com servidores públicos, órgãos governamentais e agências do

governo mantidas através de fundos públicos, tendo como função encarregar-se do bem-estar

social e gestão da máquina pública, mas nem sempre foi assim.

No Brasil Colônia, o poder estava ligado às capitanias hereditárias, inicialmente com

um cuidado particular, mas com o fracasso da administração privada, a coroa portuguesa

tratou de assumir o comando, criando uma administração central, criando o governo geral:

A centralização de decisões na Coroa portuguesa, aparentemente, esvaziava o poder

dos governadores e juízes. Tudo era prescrito em regulamentos circunstanciados e

nada se excluía da alçada de competência de uma autoridade superior que poderia

decidir em primeira instância ou em grau de recurso. Mas a enorme distância da sede

do poder e a lentidão na troca de mensagens criavam um vazio de autoridade legal.

Tentava-se limitar a ação dos prepostos da Coroa com a minudência dos

regulamentos que eram repetitivos, superpostos, contraditórios e confusos. Como

estatuíam instituições simétricas às da administração da metrópole, pecavam pelo

artificialismo mimético que tornava as normas supérfluas e ineficazes. O formalismo

das regras, o braço curto da autoridade e a corrupção generalizada ensejavam o

autoritarismo daqueles que deviam se impor aos súditos entregues ao abandono, com

os próprios meios que deles conseguissem extrair. (COSTA; ZAMOT, 2010, p.46)

A vinda da família real, em 1808, junto com todo o conselho e acervo, de

funcionários, livros, arquivos e documentos, contribuíram para iniciar a vida pública

brasileira. No entanto, baseada nos moldes portugueses, este era configurado de acordo com a

vontade do rei e por tal, cargos podiam ser desfeitos ou criados a qualquer instante para

26

honrar os nobres a sua volta, assim, os cargos públicos eram dados a pessoas de confiança ou

de desejo do rei. (FAUSTO, 2010, p. 120-121).

Apesar dos cargos a mais do que o necessário a vinda da família real foi essencial para

o surgimento do Estado Nacional, fomentando a necessidade do aparato público e da

administração de tal nação. A volta da família real a Portugal abriu espaço para criação de um

país e assim, Dom Pedro I declarou a independência do Brasil e outorgou, em 1824, a

primeira constituição brasileira, a qual definiu as leis e aparatos legais para governar um país,

criando o primeiro código de conduta para reger um Estado.

Já no século XX, a partir de 1930, Getúlio Vargas buscou mecanismos para melhorar a

estrutura estatal. Reformando o Estado, o Governo e a Administração Pública do país, foi uma

ação para burocratizar o Estado, separar o público do privado, centralizando o aparelho

gerencial, tornando-o impessoal, hierárquico e reproduzindo o sistema de mérito, retirando os

cargos por indicação e contratando pessoas que tenham competência para a função

(SKDIMORE, 1969, p. 43-44).

O modelo conceitual, formulado através da reforma está baseada em três bases: formas

de propriedade, tipos de administração pública e níveis de atuação do Estado. A

Administração Pública é dividida em duas, direta e indireta, formulada em bases burocráticas,

buscando o bem-estar social.

Hely Lopes Meirelles deixa claro o funcionamento da modalidade formal e material da

Administração Pública:

Em sentido formal, é o conjunto de órgãos instituídos para consecução dos objetivos

do governo; em sentido material, é o conjunto das funções necessárias aos serviços

públicos em geral; [...] Numa visão global, a administração é, pois todo o

aparelhamento do Estado preordenado à realização de serviços, visando à satisfação

das necessidades coletivas (2003, p. 63).

A Administração Pública fica nítida quando conseguimos incorporar seu

funcionamento no nosso dia a dia, ou seja, é compreendida quando sua atuação se incorpora

aos nossos hábitos, para isso buscamos conceituar tal assunto.

27

2.1 Conceito de administração pública

A Administração Pública é responsável por cuidar dos interesses públicos. Devemos

entender seu conceito, no sentido amplo, para Diogo de Figueiredo Moreira Neto:

Administrar é atividade pela qual, pessoas geram recursos com o objetivo de

satisfazer determinados interesses. São, portanto, cinco elementos articulados neste

conceito de administração: atividades, pessoas, recursos, objetivos e interesses. Por

(1) atividades, deve-se entender a de planejamento, a de decisão, a de execução e a

de acompanhamento de atos racionalmente articulados atingirem o resultado

planejado; (2) as pessoas são os indivíduos ou entes de qualquer natureza que

manifestam a vontade geradora das atividades desenvolvidas; (3) os recursos são os

bens e serviços a serem empregados para a realização das atividades; (4) os

objetivos são alterações que essas atividades deverão introduzir na realidade para

que, em consequência; (5) os interesses, que constituem as finalidades da ação

administrativa a serem satisfeitas, uma vez alcançados os seus resultados. O

conceito de administração pública decorre da qualificação pública desses mesmos

elementos. As atividades são as funções públicas, cometidas ao Estado,

caracterizando-se por suas imanentes indisponibilidade e imperatividade e, assim,

pela possibilidade de serem executadas coercitivamente. As pessoas, incumbidas de

desempenhar essas funções, são entes públicos ou entes privados, atuando por seus

respectivos órgãos e agentes, que, para esse efeito, recebem competência própria ou

delegada. Os recursos, de diversa natureza, notadamente financeiros, empregados

para o desempenho dessas funções, serão, em princípio, também públicos e afetados

a finalidades igualmente públicas. Os objetivos a serem perseguidos serão todos

aqueles, integral ou parcialmente, previstos na Constituição e, em decorrência, nas

leis, aptos à satisfação dos interesses nelas especificamente definidos como públicos

(NETO, 2014, p. 190).

Portanto, tanto a Administração Direta – formada pela União, Estados, Distrito Federal

e Municípios– assim como a Administração Indireta – Autarquias, sociedade de economia

mista, empresas públicas e as fundações.

Compreender a Administração Pública não é tão simples. Seu conceito se interliga

com Estado e Governo, ficando entrelaçado com a burocracia e democracia, mas como

entender o que é burocracia e Administração e como diferenciá-los?

De acordo com o Dicionário da Língua portuguesa, burocracia é um substantivo

feminino que representa um tipo de estrutura organizada que se compõe a partir de regras e

procedimentos preestabelecidos; sistema de execução da atividade pública por funcionários

com cargos bem definidos, e que se pautam por um regulamento fixo; determinada rotina e

hierarquia com linhas de autoridade e responsabilidade bem demarcadas, portanto, um corpo

de funcionários; a classe dos burocratas, os responsáveis por comandar as entidades públicas.

Apesar desta definição, a palavra foi sendo interligada a termos pejorativos, perdendo

sua essência inicial, por isso, atualmente é comum encontrarmos este outro significado

28

depreciativo, no qual é reconhecido como um sistema com estrutura ineficiente, inoperante,

morosa na solução de questões e indiferente às necessidades das pessoas:

É cristalino que a percepção pejorativa é a mais difundida, uma vez que o conceito

de democracia é quase automaticamente associada à hipertrofia de estruturas

administrativas, ou à superposição de uma série de etapas desnecessárias ao longo

da execução de um processo ou procedimento administrativo. Por esse prisma,

burocracia é entendida como sinônimo de uma estrutura essencialmente descartável,

ineficiente e onerosa, pois absorve recursos financeiros e humanos que seriam mais

bem empregados em áreas produtivas e finalísticas, tanto nas empresas quanto na

Administração Pública. (TORRES, 2004, p.16)

A Administração Pública ficou associada à burocracia e seu significado insultuoso

visto pela população como algo desnecessário, caro e ineficiente. O conceito depreciativo é

ligado à história, aos cargos e chefias que eram criados ou dados a pessoas que não tinham um

currículo, uma formação ou conhecimento, mas por ser próximo ou ter alguém dentro do

Governo que o indicasse para o cargo. No avanço do gerenciamento social a administração

brasileira modificou-se, seguindo princípios para que esta condução fosse comum a todos e

sem privilégios para poucos.

2.2 Princípios da administração pública

Os princípios são os norteadores do Direito e são eles os responsáveis por mostrar

como algo deve funcionar e decorrer em dadas circunstâncias, proposições que servem de

base para toda a estrutura de uma ciência. Na Constituição Federal brasileira há os princípios

básicos da Administração Pública expostos no artigo 37, este artigo organiza a estrutura para

um bom gerenciamento dos bens comunitários.

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,

dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de

legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. (BRASIL, 1988,

p.01)

Em suma, os princípios são necessários para estruturar as normas básicas e típicas para

o funcionamento de agentes e órgãos sociais, ou seja, são padrões que pautam os atos e

atividades administrativas de quaisquer indivíduos que exerce uma função pública.

29

2.2.1 Princípio da Legalidade

Este princípio rege o conceito legal, ou seja, é necessário seguir o que está definido em

Lei, só pode ser exercido o que a lei comanda, portanto, só há ato funcional se este tiver

alguma legislação que o regule, desta forma, o agente só pode agir de acordo com o código de

conduta, sem abusos:

Na Administração Pública não há liberdade nem vontade pessoal. Enquanto na

administração particular é lícito fazer tudo que a lei não proíbe, na Administração

Pública só é permitido fazer o que a lei autoriza. A lei para o particular significa

“poder fazer assim”; para o administrador público significa “deve fazer assim.

(MEIRELES, 2000, p.82)

De acordo com este princípio, não há crime sem lei que o possa julgar. Deste modo, a

segurança estatal está em seguir a lei, ou seja, o poder do Estado é limitado pela ordem, além

de defender os Direitos Civis dos cidadãos, de modo geral, é permitido a todos realizarem

qualquer tipo de atividade, desde que esta não seja proibida ou esteja na lei.

Este princípio, juntamente com o de controle da Administração pelo Poder

Judiciário, nasceu com o Estado de Direito e constitui uma das principais garantias

de respeito aos direitos individuais. Isto porque a lei, ao mesmo tempo em que os

define, estabelece também os limites da atuação administrativa que tenha por objeto

a restrição ao exercício de tais direitos em benefício da coletividade. É aqui que

melhor se enquadra aquela idéia de que, na relação administrativa, a vontade da

Administração Pública é a que decorre da lei (DI PIETRO, 2010, p.63).

A base deste princípio, portanto, é barrar o poder dos agentes públicos e dar segurança

jurídica aos cidadãos, mostrando o limite do Estado.

2.2.2 Princípio da Impessoalidade

A função básica deste princípio é defender o interesse público de forma a não tornar

nada pessoal, impedindo privilégios a qualquer pessoa que esteja exercendo alguma função

administrativa em escala Federal, Estadual ou Municipal.

O princípio da impessoalidade, referido na Constituição de 1988 (art. 37, caput),

nada mais é que o clássico princípio da finalidade, o qual impõe ao administrador

30

público que só pratique o ato para o seu fim legal. E o fim legal é unicamente aquele

que a norma de direito indica expressa ou virtualmente como objetivo do ato, de

forma impessoal (MEIRELLES, 2000, p.95).

Tem como objetivo a não autopromoção do administrador por atuar em nome do povo,

bem como a não identificação do administrador atuante.

A impessoalidade visa cuidar do comum, incentivar os cuidados do interesse público,

evitando cuidar de qualquer assunto que seja de interesse de uma única pessoa, não podendo a

administração pública atuar com objetivo de beneficiar ou prejudicar pessoas determinadas.

2.2.3 Princípio da Moralidade

Este princípio representa a conduta ética e moral, a Administração Pública deve seguir

os parâmetros legais com honestidade, boa-fé, lealdade e probidade, seu objetivo é diminuir a

desonestidade e atos ilícitos, baseando-se nos princípios éticos sociais.

Em resumo, sempre que em matéria administrativa se verificar que o

comportamento da Administração ou do administrado que com ela se relaciona

juridicamente, embora em consonância com a lei, ofende a moral, os bons costumes,

as regras de boa administração, os princípios de justiça e de equidade, a idéia

comum de honestidade, estará havendo ofensa ao principio da moralidade

administrativa. É evidente que, a partir do momento em que o desvio de poder foi

considerado como ato ilegal e não apenas imoral, a moralidade administrativa teve

seu campo reduzido; o que não impede, diante do direito positivo brasileiro, o

reconhecimento de sua existência como princípio autônomo (DI PIETRO, 2010,

p.78).

A moralidade deve estar presente em todo ato administrativo praticado, deve-se

respeitar os princípios éticos e a justiça, o administrador deve ser regido sempre por tal

princípio. Um funcionário administrativo deve sempre agir de acordo com a moral e a

honestidade, realizando de forma ética uma boa administração, distinguir o que é lícito de

ilícito, o justo do injusto, garantindo um bom trabalho e funcionando do órgão público.

31

2.2.4 Princípio da Publicidade

Qualquer ato deve ser público dentro do administrativo comum, por isso, todos os

documentos, gastos, contratos, parcerias, funcionários devem ser divulgado e acessível a

qualquer cidadão, deixando a todos o direito à informação.

Publicidade é a divulgação oficial do ato para conhecimento público e início de seus

efeitos externos. Daí por que as leis, atos e contratos administrativos que produzem

conseqüências jurídicas fora dos órgãos que os emitem e exigem publicidade para

adquirirem validade universal, isto é, perante as partes e terceiros (MEIRELLES,

2010, p. 95 e 96).

Todas as esferas públicas devem publicar suas decisões e atos, para isso, nos tempos

atuais são necessários sites que deixem claras suas funções, como por exemplo, os Diários

Oficiais. Desta forma, busca-se manter a transparência das decisões tomadas em prol da

sociedade e da Administração pública.

2.2.5 Princípio da Eficiência

Está relacionado ao bom trabalho dedicar-se ao bom funcionamento das repartições

públicas, buscando sempre agir de forma eficaz.

O Princípio da eficiência apresenta na realidade, dois aspectos: pode ser considerado

em relação ao modo de atuação do agente público, do qual se espera o melhor

desempenho possível de suas atribuições, para lograr os melhores resultados; e em

relação ao modo de organizar, estruturar, disciplinar a Administração Pública,

também com o mesmo objetivo de alcançar os melhores resultados na prestação do

serviço público (DI PIETRO, 2010, p. 75)

Agir com eficiência não está ligado a agir com rapidez, mas, prestar seu papel de

forma a atender de maneira satisfatória, realizando os atos administrativos com qualidade,

competência e maior eficácia possível.

Todos estes princípios regulam o funcionamento da Administração Pública, norteando

e garantindo não só com o funcionamento, como a vida dos cidadãos. Seguir tais normas

32

garante o bom funcionamento e quando não respeitados ferem o código de conduta e

infringem as leis, responsabilizado o infrator de forma penal.

2.3 Administração pública perante o código penal

No Código Penal brasileiro há um título relacionado à Administração Pública, além

dos códigos de conduta e ético das repartições e dentro das Leis de Administração seja da

União, Estados ou Municípios também dispõe sobre as penas para as infrações dos códigos

legais e morais. Tratado dentro do título XI, no capítulo I fica descrito os crimes contra a

administração pública praticado por agente público. No capítulo II os crimes praticados por

particulares contra a administração pública, no Capítulo II-A dos crimes praticados por

particular contra a administração pública estrangeira. Qualquer indivíduo que exerça cargo,

função ou emprego público é considerado funcionário público e por tal pode responder

criminalmente por atos vetados legalmente.

O Código Penal leva em consideração todo e qualquer ato estatal, ou seja, aquele que

exerce função pública em qualquer âmbito pode responder penalmente caso fira o bem

comum, seja de forma culposa ou dolosa, isto é, para configurar o Direito Penal

Administrativo equivale a sujeito-administrativo que desempenhe uma atividade

administrativa.

Quando estivermos diante de crimes praticados por funcionários públicos, estes

deverão ser considerados como crimes funcionais, devendo ser divididos em: crimes

funcionais próprios e crimes funcionais impróprios. Os crimes funcionais próprios

são aqueles em que a qualidade de funcionário público é essencial à sua

configuração, não havendo figura semelhante que possa ser praticada por quem não

goza dessa qualidade, a exemplo do que ocorre com o delito de prevaricação,

tipificado no art. 319 do Código Penal. Por outro lado, há infrações penais que tanto

podem ser cometidas pelo funcionário público como por aquele que não goza desse

status, a exemplo do que ocorre com o peculato furto, previsto no art. 312, §1º, do

Código Penal, que encontra semelhança com o art. 155 do mesmo diploma legal,

denominando-os, aí, impróprios. (GRECO, 2015, p. 394)

Todo ato compreendido dentro todos estes são crimes praticados por qualquer pessoa

que exerça um serviço público.

33

2.4 Servidor público

Servidor Público é qualquer pessoa que exerça cargo, função pública ou emprego,

mesmo que transitoriamente ou sem remuneração. Quem trabalha em paraestatais, empresa

prestadora de serviço ou conveniada para execução de atividade típica da Administração

Pública, conforme os dizeres do doutrinador Fernando Capez:

No âmbito administrativo, é bastante restrito o conceito de funcionário público,

consistindo em mera espécie de agente administrativo, o qual por sua vez, também

pertence a um gênero mais amplo, denominado agente público. Desse modo, o

conceito mais amplo é o de agente público, entendendo-se como tal qualquer pessoa

que exerça, a qualquer título, ainda que transitoriamente e sem remuneração, função

pública [...]. Conforme se percebe, funcionário público é apenas uma das espécies

de agente administrativo, inserida no amplo rol de servidores pertencentes ao gênero

“agente público” (2015, p. 442 e 443).

De acordo com o Código Penal, a definição legal de servidor público seria:

Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora

transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.

Parágrafo único. Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou

função em entidade paraestatal. § 1º - Equipara-se a funcionário público quem

exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal. (Parágrafo único

renumerado pela Lei nº 6.799, de 1980)

§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em

entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada

ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública.

(Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos

neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou

assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista,

empresa pública ou fundação instituída pelo poder público. (Incluído pela Lei nº

6.799, de 1980)

É de suma importância saber que existem três espécies de servidores públicos, sendo

eles: os estatutários, servidores de entes governamentais de direito privado e os contratados

emergenciais ou temporários. Os estatutários são aqueles ocupantes de cargos que são

submetidos preferencialmente a um estatuto criado por Lei, com denominação própria, em

número certo, pago pelos cofres públicos e “estão sujeitos à mutabilidade do regime”,

somente se submeteria a contratação celetista no exercício de “funções materiais subalternas”.

Quanto aos servidores de entes governamentais de direito privado, são aqueles atuantes nas

34

Pessoas Jurídicas de Direito Privado da Administração Indireta, há contratação pela CLT

(Convenções das Leis Trabalhistas e “não possuem estabilidade”. Contratados emergenciais

ou temporários, possuem característica de transitoriedade, não são regidos por estatuto e CLT,

e sim por contratos próprios, se aproximam do regime celetista, conforme artigo 37, IX, da

Constituição Federal2 e em casos de conflitos serão resolvidos na Justiça Comum (GOMES,

2017).

Na ocorrência de desobediência ou inobservância das regras regentes, o servidor

público poderá ser responsabilizado na esfera civil, penal e administrativa. Nesse sentido,

Marcelo Alexandrino e Paulo Vicente salientam que “as infrações cometidas pelo servidor

público acarretam, para ele, conforme o caso, responsabilização nas esferas administrativa

(penalidades disciplinares), civil (indenização por danos patrimoniais ou morais) e criminal

(sanções penais)” (2015, p. 463).

Dentro desse capítulo, será estudado um pouco sobre os delitos que envolvem a

máquina pública, ou seja, quais são os crimes funcionais dos servidores públicos que estão

situados no capítulo XI do Código Penal nos artigos 312 até 359, bem como as classificações

existentes.

2.5 Dos crimes funcionais dos servidores públicos

O Capítulo XI do Código Penal especifica todos os crimes funcionais, ou seja, todos

os crimes praticados pelo corpo funcional do Estado nos 03 (três) poderes Executivo,

Legislativo, Judiciário e, em qualquer grau territorial, então que se encaixe como prestador de

serviço em qualquer grau para União, Estados ou Municípios. Dos artigos 312 até aos 359 do

código penal são específicos da administração pública.

Os crimes funcionais são todos os tipos de delitos cometidos por funcionários públicos

dentro ou fora de sua função contra a Administração Pública.

Quando estivermos diante de crimes praticados por funcionários públicos, estes

deverão ser considerados como crimes funcionais, devendo ser divididos em: crimes

funcionais próprios e crimes funcionais impróprios. Os crimes funcionais próprios

são aqueles em que a qualidade de funcionário público é essencial à sua

configuração, não havendo figura semelhante que possa ser praticada por quem não

2 Os artigos, incisos e citações da Constituição Federal foram retirados do próprio site do Planalto do Governo.

35

goza dessa qualidade, a exemplo do que ocorrem com o delito de prevaricação,

tipificado no art. 319 do Código Penal. Por outro lado, há infrações penais que tanto

podem ser cometidas pelo funcionário público como por aquele que não goza desse

status, a exemplo do que ocorre com o peculato furto, previsto no art. 312, §1º, do

Código Penal, que encontra semelhança com o art. 155 do mesmo diploma legal,

denominando-os, aí, impróprios. (GRECO, 2015, p. 394).

Os crimes funcionais próprios ou impróprios são classificações que nos ajudam a

compreender e identificar cada tipo de crime, conseguindo punir de forma certa o autor dos

delitos pelos crimes cometidos.

2.6 Classificação dos crimes contra a administração pública.

Os crimes praticados contra a Administração Pública são ações de má-fé de algum

servidor, mas há classificações para cada crime, estes são divididos entre quatro grupos: 1º)

crimes cometidos por funcionário público contra a administração no geral; 2º) crimes

praticados por particular contra a administração em geral; 3º) crimes contra a administração

da justiça; 4º) crimes contra as finanças públicas. Esta divisão é encontrada dentro do Título

XI do Código Penal, tendo também um capítulo específico sobre os crimes praticados por

particular contra a administração pública estrangeira, porém, como não há enfoque nesta área

neste trabalho, decidimos focar só nos capítulos que realmente nos importa.

2.6.1 Crimes cometidos por funcionário público contra a administração no geral

Estes crimes estão especificados no Capítulo I do Título XI do Código Penal,

abrangendo toda a atividade funcional dos estabelecimentos públicos, uma extensão de delitos

e penas voltados à proteção da atividade funcional do Estado e seus entes. Este capítulo cuida

dos art. 312 até o art. 327, sendo eles: Peculato; Peculato Culposo; Peculato mediante erro de

outrem; Inserção de dados falsos em sistema de informações; Modificação ou alteração não

autorizada de sistema de informações; Extravio, Sonegação ou inutilização de livro ou

documento; Emprego irregular de verbas ou rendas públicas; Concussão; Excesso de exação;

Corrupção passiva; Facilitação de contrabando ou descaminho; Prevaricação,

Condescendência criminosa; Advocacia administrativa; Violência arbitrária; Abandono de

36

função; Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado; Violação de sigilo

funcional; Violação do sigilo de proposta de concorrência e Funcionário público.3

Estes crimes só podem ser cometidos por funcionários públicos, ou um indivíduo sem

ligação direta com o Estado pode responder por tais crimes como coautor ao participar dos

crimes ou omitir o conhecimento deste crime ao conhecer o papel e desvio de conduta do

agente público.

2.6.2 Crimes praticados por particular contra a administração em geral

Estes atos estão explícitos no Capítulo II do Título XI do Código Penal, eles regem

uma gama de penitencias para qualquer pessoa que não esteja diretamente ligada a

Administração Pública, mas lese qualquer entidade governamental. Esta parte vai do art. 328

até ao art. 337, sendo eles: Usurpação de função pública; Resistência; Desobediência;

Desacato; Tráfico de influência; Corrupção ativa; Descaminho; Contrabando; Impedimento,

perturbação ou fraude de concorrência; Inutilização de edital ou de sinal; Subtração ou

inutilização de livro ou documento; Sonegação de contribuição previdenciária; Corrupção

ativa em transação comercial internacional; Tráfico de influencia em transação comercial

internacional; e Funcionário público estrangeiro4.

Qualquer ação que lese ou não o patrimônio, o Estado será um crime direto a

Administração Pública.

2.6.3 Crimes contra a administração da justiça

Esmiuçados dentro do Capítulo III do Título XI estes crimes vão do art. 338 ao art.

359, sendo eles:Reingresso de estrangeiro expulso; Denunciação caluniosa; Comunicação

falsa de crime ou de contravenção; Auto-acusação falsa; Falso testemunho ou falsa perícia;

Coação no curso do processo; Exercício arbitrário das próprias razões; Fraude processual;

Favorecimento pessoal; Favorecimento real; Exercício arbitrário ou abuso de poder; Fuga de

pessoa presa ou submetida à medida de segurança; Evasão mediante violência contra pessoa;

Arrebatamento de preso; Motim de presos; Patrocínio infiel; Patrocínio simultâneo ou

3Todas as citações retiradas do Código Penal são da 5ª edição de Delmato, 2017. 4 Todas as citações retiradas do Código Penal são da 5ª edição de Delmato, 2017.

37

tergiversação; Sonegação de papel ou objeto de valor probatório; Exploração de prestígio;

Violência ou fraude em arrematação judicial; e Desobediência a decisão judicial sobre perda

ou suspensão de direito5.

Estes artigos tratam da atuação do Poder Judiciário, bem como dos órgãos essenciais

para seu bom funcionamento.

2.6.4 Crimes contra as finanças públicas

O art. 359-A ao art. 359-H encontrados no Capítulo IV do Título XI esmiúça os crimes

contra as finanças, ou seja, sobre o uso irregular de verbas públicas, estes foram introduzidos

no Código Penal pela Lei n 10.028, de 19 de outubro de 2000, são eles:Contratação de

operação de crédito; Inscrição de despesas não empenhadas em restos a pagar; Assunção de

obrigação no último ano do mandato ou legislatura; Ordenação de despesa não autorizada;

Prestação de garantia graciosa; Não cancelamento de restos a pagar; Aumento de despesa total

com pessoal no último ano do mandato ou legislatura; e Oferta pública ou colocação de títulos

no mercado6.

Entre todas as formas de corrupções possíveis dentro da Administração Pública há

uma que nos interessa mais e passa a ser o ponto principal deste trabalho e presente no

primeiro grupo de crimes contra a administração, a Corrupção Passiva, já estudada

profundamente no capítulo anterior.

5Todas as citações retiradas do Código Penal são da 5ª edição de Delmato, 2017. 6Todas as citações retiradas do Código Penal são da 5ª edição de Delmato, 2017.

38

III. A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E OS MEIOS DE COMBATE A

CORRUPÇÃO PASSIVA

O cuidado e o bom funcionamento do Estado são intrínsecos a Administração Pública,

o servidor é o responsável por cuidar do ato público, por isso, a moralidade deve estar

nitidamente presente no órgão público, combatendo a morosidade e corrupção.

O Estado é formado pela junção da soberania, território e povo, sendo o primeiro a

relação de poder e governo. Para o bem estar social de forma ampla a República brasileira. O

termo república tem origem no latim e significa coisa pública. Sua estrutura é uma forma pela

divisão dos poderes, ou seja, todos os cidadãos participam de alguma forma do comando do

Estado e escolhem seus representantes para governar, assim, cada governo é o reflexo de cada

sociedade e por isso, para nós brasileiros, a corrupção se tornou algo comum ao governo

(FERNANDES, 2018, p. 01).

De acordo com o deputado federal Roberto Lucena:

A falta de respeito com a coisa pública, bem como com os recursos provenientes do

trabalho de todos os brasileiros, alastrou-se como um câncer, envolvendo desde os

altos escalões do governo federal até autoridades municipais que fiscalizam as

atividades diárias do cidadão. Esse desvio do dinheiro público tem consequências

funestas, pois todo o montante que é subtraído ou desviado deixa de ser aplicado em

atividades essenciais, como saúde, segurança e educação. Por essas razões,

entendemos que os crimes de corrupção têm um potencial lesivo à sociedade maior

do que outros crimes comuns, motivo pelo qual apresentamos o presente projeto de

lei de forma a incluir no rol dos crimes hediondos os crimes de concussão,

corrupção ativa e passiva, com o intuito de desestimular tais práticas nocivas que

prejudicam toda a nação brasileira. (LUCENA, 2011, p.02)

A noção de perda da coisa pública fere a população, a qual precisa se preocupar cada

vez mais com os cuidados e oportunidades, recebendo mais visibilidade e tornando a inserção

do privado no público inadmissível pela população brasileira. Por isso, o Deputado Federal

Roberto de Lucena, em 2011, apresentou um Projeto de Lei (PL) nº 2489, para tornar a

corrupção ativa e passiva em um crime.

Apesar do avanço e da discussão sobre o tema ter crescido, há quem julgue que a

mudança, no julgamento não exterminará a impunidade pelo sistema ser caracterizado pela

lentidão e ser repleto de falhas. O Ministro Gilmar Mendes deixou isto claro, após a

aprovação pelo Senado Federal que transformou a corrupção em crime hediondo, afirmou

que:

39

Já criamos outros crimes hediondos, até por iniciativa popular, e tudo mais, mas isso

não resulta claramente no combate à impunidade, porque nós estamos muitas vezes

a falar da funcionalidade do sistema, vamos chamar assim, de Justiça criminal, que

envolve polícia, envolve Ministério Público e envolve a própria Justiça. Então,

talvez, aqui um pacto contra a impunidade, inclusive contra os casos de corrupção,

devia se exatamente focar nesse amplo aparato. Maior especialização dessas áreas,

em suma, dedicação, prioridade. Como o CNJ já vem fazendo, por exemplo, nos

chamados crimes de improbidade administrativa ou atos de improbidade

administrativa (Conjur, 2013, p. 01)

Por outro lado, as condições socioeconômicas, culturais e históricas são grandes

responsáveis pela formação de nosso Estado; por isso, o cuidado com o público e a forma

como este funciona só podem mudar se a população no geral conseguir modificar e

implementar novas formas de encarar o mundo e aceitar as modificações sociais. A

modificação do modelo jurídico brasileiro é necessária e remodelar nosso sistema a fim de

intensificar o bom funcionamento e conseguir, mesmo que a longo prazo, terminar a

morosidade no judiciário brasileiro.

Dito isso, é essencial entendermos a relação de honestidade e moralidade em relação à

res pública e aos três poderes, entre eles ao judiciário.

3.1 O poder judiciário e a moralidade pública

O Brasil adota a teoria da tripartição de Poderes, ou seja, a nossa democracia está

dividida em três poderes políticos, sendo eles: Poder Executivo, Legislativo e Judiciário. Para

que não haja a concentração de poderes em um único centro, cada um dos poderes limita um

ao outro, evitando-se o comando autoritário e a perda de liberdade plena entre os cidadãos;

assim, os três poderes e a divisão destes servem para que a liberdade seja respeitada, de forma

a não fazer nada que não esteja previsto na lei. (BORDONI, 2014, p. 288).

Com o primeiro, o príncipe ou o magistrado cria leis por um tempo ou para sempre e

corrige ou anula aquelas que foram feitas. Com o segundo, ele faz a paz ou a guerra,

envia ou recebe embaixadas, instaura a segurança, previne invasões. Com o terceiro,

ele castiga os crimes, ou julga as querelas entre os particulares. Chamaremos a este

último poder de julgar e ao outro simplesmente poder executivo do Estado.

(MOSTESQUIEU, 1996, p.166)

A atuação de cada um dos poderes constituídos se dá de forma específica,

independente, harmônica, coesa e equilibrada. A Constituição Federal de 1988, em seu artigo

40

2º, explicitou o princípio da separação dos poderes, dizendo que: “São Poderes da União,

independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. O papel de

cada um é limitar o poder estatal, de forma variada e ampla, por isso cada um consegue ter

uma força única, garantindo o funcionamento de todas as funções do Estado. (BORDONI,

2014, p.289).

Nesse sentido, salienta José de Albuquerque Rocha:

As atividades fundamentais que o Estado desenvolve para realizar seus fins,

exercitando seu poder através de procedimentos jurídicos típicos e preordenados,

que denominamos de funções estatais são, tradicionalmente, de três tipos: a) editar

normas gerais e abstratas; b) administrar e c) decidir em caráter definitivo os

conflitos concretos de interesses mediante a aplicação do direito e, eventualmente,

executar as decisões. Daí a tradicional tripartição das funções do Estado,

respectivamente, em legislativa, administrativa e jurisdicional (1995, p. 12 e 13).

Dentre os poderes supracitados, destacamos a importância de se compreender mais

sobre o Poder Judiciário. A criação desse poder teve como objetivo o desempenho de algumas

funções. No entendimento de Eugênio Raúl Zaffaroni:

As três funções que contemporaneamente são assinaladas aos tribunais (decisão de

conflitos, controle de constitucionalidade e autogoverno), encontram-se quase

universalmente reconhecidas, embora às vezes de modo não formal e, em outras, em

face de deficiências funcionais do judiciário, são cometidas parcialmente a outros

órgãos não judiciais (1995, p. 55).

O Poder Judiciário possui como principal característica a moralidade administrativa.

Essa é considerada um princípio constitucional que tem previsão expressa no artigo 5º, inciso

LXXII, da Constituição Federal de 1988, o qual deveria ser empregado sempre. Acredita-se

que o emprego desse princípio seria um meio eficaz de prevenir o mal da corrupção dentro da

administração pública (ROGÉRIO, 2008, p. 47). Ademais, esse poder tem a responsabilidade

de controlar atos do Executivo, como à aplicabilidade das leis vigentes no Brasil. O Poder

Judiciário tem essa função de punir, principalmente as práticas corruptas. (SANTANA, 2017,

p.41)

Segundo o doutrinador Diógenes Gasparini ao citar Hely Lopes Meirelles diz que:

[...] a moralidade administrativa está intimamente ligada ao conceito do bom

administrador, aquele que, usando de sua competência, determina-se não só pelos

preceitos legais vigentes, como também pela moral comum, propugnando pelo que

for melhor e mais útil para o interesse público (2000, p.9).

41

Desse modo, é importante ressaltar os dizeres de Hely Lopes Meirelles, explicitados

por Mancuso:

O agente administrativo, como ser humano dotado da capacidade de atuar, deve,

necessariamente, distinguir o bem do mal, o honesto do desonesto. E, ao atuar, não

poderá desprezar o elemento ético de sua conduta. Assim, não terá que decidir

somente entre o legal e o ilegal, o justo e o injusto, o conveniente e o inconveniente,

o oportuno e o inoportuno, mas também, entre o honesto e o desonesto (2001 p.

100).

A corrupção passiva dentro da administração pública é, portanto, e como já analisado,

um ato ilícito praticado por um funcionário público, o qual possui a intenção de enriquecer

ilicitamente, causando lesão ao patrimônio público e aos princípios constitucionais,

principalmente ao da moralidade pública.

No desempenho de seus atos e funções, os funcionários públicos deveriam,

essencialmente, pregar pela honestidade, probidade, boa fé, ética profissional e, sobretudo a

moralidade. O princípio em questão deveria ser utilizado também pelos indivíduos que se

atrelam e convivem no meio administrativo. No entendimento de Maria Sylvia Zanella Di

Pietro:

Em resumo, sempre que em matéria administrativa se verificar que o

comportamento da Administração ou do administrado que com ela se relaciona

juridicamente, embora em consonância com a lei, ofende a moral, os bons costumes,

as regras de boa administração, os princípios de justiça e equidade, a ideia comum

de honestidade, estará havendo ofensa ao principio da moralidade administrativa

(2010, p.79).

Tendo em vista, os grandes escândalos envolvendo agentes públicos e a corrupção,

concluiu-se que a probidade e moralidade se tornaram exceção de um sistema onde deveriam

ser a regra.

Consoante se observa o entendimento de Juliana Ranucci Caires:

[...] o desrespeito dos governantes para com o povo, a menção à moralidade que

temos em nossa Constituição Federal em seu artigo 37, como um princípio expresso

do regime jurídico administrativo, trazendo a probidade como um dever dos agentes,

agentes esses que têm em mãos todo um funcionalismo e gestão de governar uma

estrutura tão grande quanto a de um País, tem que ser vista como uma regra, e não

como exceção, mas o que presenciamos hoje em dia é justamente o contrário, todos

esses valores sendo completamente invertidos, por pura ganância e interesse próprio,

onde a regra é a imoralidade e a improbidade, deixando de lado um outro princípio

que mesmo estando implícito na Constituição Federal é importantíssimo, que é o da

supremacia do interesse público em detrimento do interesse dos particulares (2016,

p.47 e 48).

42

Com a finalidade de alcançar o objetivo de compreender a fundo a importância do

mencionado princípio, conclui-se que não existirá corrupção onde houver moral, ética e

honestidade, ou seja, “defendemos que o princípio da moralidade administrativa consiste na

atuação imparcial da Administração Pública, que deve tratar a todos com igual consideração e

respeito” (DIAS, 2009, p. 64).

3.2 Dos efeitos negativos da corrupção

Apesar de ser um ato normal, muitas vezes são aceitos e repetidos pela população. A

corrupção, assim como qualquer ato, tem seus dois lados da história. Pode-se dizer que, em

alguns momentos, ela contribui – para quem é beneficiado com os atos – e simultaneamente

ela atrapalha.

Segundo o entendimento de Paula Rogério:

Sempre que casos de corrupção administrativa e política passam a constituir um

vício generalizado, provocam a indignação da opinião pública, pois cada indivíduo

se sente lesado pelo enriquecimento ilícito daqueles que mantêm conduta imprópria

no exercício de cargos ou funções públicas. A corrupção constitui violação das

normas éticas que devem orientar a conduta de quem exerce cargos ou funções

públicas, e sempre revela um baixo nível de moralidade, além de afetar diretamente

a normalidade funcional, probidade, prestígio, incolumidade e decoro da

administração pública, ferindo os princípios norteadores da legalidade,

impessoalidade, moralidade e eficiência. (2008, p.11).

O ranking internacional que mede a percepção da corrupção foi publicado pela

Organização Não Governamental (ONG) da Transparência Internacional de atuação dos

Governos, a qual mostrou que o Brasil ficou no ano de 2011 na colocação 69º de um total de

175 nações. Ademais, é dito que o Brasil continua estagnado, uma vez que ao serem refeitas

as pesquisas, no ano de 2014, continuou ocupando a mesma posição entre os 175 países no

total. A corrupção foi medida conforme o envolvimento dos servidores públicos na prática

desse delito e não com base no relacionamento com os partidos políticos. Percebe-se que as

colocações foram organizadas em razão de pontuações variantes de 0 a 10, ou seja, quanto

menor a pontuação significa que o país é mais corrupto e quanto maior demonstra o quanto é

transparente (ROSSI, M, 2014).

43

Figura 1 Transparência Internacional de atuação dos Governos

A corrupção pode agravar crises econômicas em um país, investimentos em áreas

essenciais são deixados de lado para encobrir e diminuir rombos causados por desvios e usos

indevidos do cofre público pelos governantes.

Ademais, os riscos políticos e econômicos são as principais considerações dos

investidores, tanto no âmbito doméstico quanto no internacional. Antes de qualquer aplicação,

em casos de altos riscos, muitos empreiteiros desistem de investir em determinado país por

medo, com isso, projetos e planos de investimentos são adiados ou até cancelados.

O fim de tais situações não é bem visto, podendo acabar em golpes de Estados e até

mesmo em guerras civis. Dessa forma, as riquezas dos países são afetadas negativamente

quando há uma redução da produção.

44

Observa-se o gráfico divulgado pela FIESP, a seguir:

Figura 2 Percepção da Corrupção e o PIB per capita

Fonte: World Economic Outlook e Transparência Internacional. Elaboração: Decomtec/FIESP.

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) relatou em uma recente

pesquisa interligando o desenvolvimento e crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) com a

corrupção. É percebido que quanto melhor o uso da Administração Pública menor o índice de

corrupção e maior o índice de desenvolvimento humano (IDH), ou seja, o contrário consiste

em países mais corruptos, por terem maior probabilidade de desvios de recursos, acabam por

obterem menor efetividade na educação e saúde, implicando menores níveis de IDH. É nítido

o dano que a corrupção gera nos países (FIESP; 2010, p.20)

Sem mais delongas, sabe-se que um país corrupto espanta o mercado internacional e

com isso inúmeros projetos são cancelados, fazendo com que tenha um baixo nível de

produção e levando seus governantes a cometerem atos ilícitos, a exemplo os golpes de

estado.

Portanto, conclui-se que a prática da corrupção atinge demasiadamente um país. Uma

má administração pode refletir inúmeros problemas, como um baixo Índice de

45

Desenvolvimento Humano, em razão do desvio de verbas públicas que deveriam ter como

destinação a educação e saúde. Logo, as condutas devem ser revisadas e melhor estudadas

para se alcançar um baixo percentual de corrupção. Dessa forma, vejamos as medidas

ofertadas e existentes no sistema brasileiro para combater as práticas corruptas, a seguir

delineadas.

3.3 Movimentos e medidas de combate à corrupção

O homem tornou intrínseco a si o hábito da corrupção; já o brasileiro criou dentre sua

cultura o jeitinho brasileiro, culminando em uma evolução no modo passar o outro para trás e

conseguir o que quer, sem pensar nas consequências. Portanto, a má condução dos governos é

consequência da corrupção em todos os ciclos da vida e sociedade brasileira. Este tema é

amplo, como já dito, há vários ângulos para tal estudo. E para nós, ficam como foco como

transformar a administração pública em algo unânime para todos: pensar no bem maior,

coletivo, não individual; portanto, uma forma de diminuir os atos de improbidade e corrupção

da Administração Pública brasileira.

Com início em 2013 ocorreram diversos movimentos sociais no Brasil contra

corrupção e ao aumento de taxas, impostos que tornavam o custo de vida praticamente

impossível para pessoas de classes baixas brasileiras. O Movimento Passe Livre (MPL) lutou

por um direito básico social: o direito civil, a liberdade de ir e vir, e ampliou as lutas para o

direito à saúde e à educação de qualidade, ganhando força e apoio nacional, resultando em

grandes protestos, passeatas e vários outros tipos de manifestação por toda unidade nacional.

Podemos buscar, nas razões para o comparecimento às manifestações de junho,

alguns indicativos das interpelações para a participação, onde os sujeitos aparecem

como cidadãos que reivindicam direitos e como contestadores de contradições da

própria ordem política a que estão submetidos (SCHERER-WARREN, 2014, p. 01).

O referido movimento ganhou tanta força que recebeu apoio para novas lutas, como o

combate à corrupção e novos grupos, como, por exemplo, o Movimento Contra Corrupção

(MCC), o Movimento Nas Ruas e o Movimento Brasil Livre (MBL). Grandes líderes de

movimentos nacionais contra a corrupção pediram a aprovação de uma legislação que

aperfeiçoe o combate ao desvio de recursos públicos.

46

Foi se construindo no desenrolar das manifestações de 2013, em torno do desejo de

promover modificações no campo institucional da política e buscar caminhos para a

ampliação no campo dos direitos humanos, ouvindo-se as vozes da cidadania.

(SCHERER-WARREN, 2014, p.01)

Mudar um costume social não é fácil; porém, não é impossível. Por isso, o combate

contra a corrupção é essencial e necessário, devendo começar dentro de nossas casas e passar

a um grau amplo: o Estado.

A luta contra a corrupção não é apenas o programa inicial de todos os nossos

governos, mas a promessa de todos os nossos candidatos, a divisa de todas as nossas

relações e a justificativa de todos os nossos golpes (CAVALCANTI, 1991, p. 17).

Fiscalização é essencial. Mudar o comportamento humano é complexo e, por isso, os

órgãos de cuidado e repressão contra abusos de poderes, junto com a sociedade civil no todo

devem exercer o papel de combate e principalmente de prevenção, de modo a buscar

resultados que vigie a si e ao outro, desnaturalizando a corrupção em nossa sociedade.

Agir de forma ilegal, ou seja, fora dos moldes burocráticos é mal visto por qualquer

cidadão. No entanto, a qualquer funcionário público tal situação é pior, por ser este estar

obrigado a agir conforme a lei. Por isso buscamos entender o que é e como funciona a

administração pública e todos que a servem.

As buscas por melhorias da Administração Pública são longas. Há anos, os cuidados

com a modificação e o fim de hábitos que lesam o Estado estão em andamento, apesar a

dificuldade nos últimos anos a luta por um melhor país vem crescendo e contribuindo para

mudar tal situação.

3.3.1 A morosidade e a reforma do poder judiciário

O Poder Judiciário é marcado por ser moroso, ou seja, a justiça tarda muito a ser feita.

Essa é a imagem que os cidadãos brasileiros possuem desse sistema que é de suma

importância para solucionar conflitos. Conforme o entendimento de Leonardo Vinicius

Santana “O sistema judiciário é ponto de críticas pela sua ausência de transparência e por sua

lenteza, tudo isso ocorre por conta da deformidade administrativa e legislativa que contem

imperfeições” (2017, p.27).

47

O profissional do Direito deve ser, antes de mais nada, um conciliador, já que

sabidamente a grande maioria das questões levadas à justiça poderia ser resolvida

previamente, mediante debates entre as partes. Em não sendo possível uma

conciliação prévia, partir-se-á, então, para outros métodos alternativos de solução de

controvérsias, tais como a mediação e a arbitragem [enquanto os processos levam

anos para atingirem uma conclusão perante o Judiciário, os processos de mediação

ou arbitragem apresentam-se como um caminho mais curto e menos penoso para os

que almejam chegar a uma resolução que tenha o mesmo valor legal e

fundamentação técnica sobre determinado assunto]. (LISBOA, 2011, p.01)

A justiça é a humanização do Direito. Busca trazer a paz, desenvolver um molde de

vida para evitar e solucionar conflitos.No entanto, na prática se tornou um instrumento

complexo, de difícil compreensão para o homem comum. Suas expressões, falas cultas e

termos técnicos não contribuírem para a popularização. Em contrapartida, a justiça e o Direito

selecionaram poucas pessoas, mostrando aos mais humildes a necessidade de acreditar no que

o outro, estudado lhe passa, assim, a saída para os menos afortunados é a confiança e

esperança da Justiça ser feita, através da atuação do outro, sem a compreendê-la.

(MANZI, 2004, p.01).

Desta forma a lentidão dos processos não era questionada, mas sim respeitada, por

achar que era parte do conjunto. Ao passar dos anos, a vagarosidade do ato julgado passou a

ser visto como má fé e trouxe a necessidade da transformação do Poder Judiciário ao todo:

combater a morosidade.

A insatisfação da sociedade brasileira no que concerne a prestação jurisdicional, a

cada dia vem aumentando gradativamente, em razão principalmente da morosidade

do poder judiciário, situação que tem preocupado a sociedade. Haja vista, que é

crescente o numero de conflitos que se originam na sociedade, e o Estado detentor

do poder jurisdicional, muita das vezes tem tardado para exercer o “IURIS DICTIO”

e compor os conflitos de forma célere. (SANTOS; MACHADO. S/D, p. 02)

Acabar com a morosidade é essencial para dar andamento aos processos e dar à

população brasileira a confiança na justiça. No entanto, o poder judiciário não tem conseguido

alcançar seu objetivo, contornando os conflitos sociais. A sociedade brasileira, de modo geral,

independente de classe social, evita necessitar da justiça por medo de ficar a mercê do Poder

Judiciário. Extinguir uma atitude danosa à população significa dar agilidade aos processos e

andamento judicial, sem perder a qualidade do trabalho a que se empenham tais profissionais.

48

3.3.2 Extinção do foro por prerrogativa de função

O foro por prerrogativa de função nada mais é do que o benefício pertencente

àqueles que ocupam determinados cargos públicos e consiste na diferenciação de competência

no processamento e julgamento pelo cometimento de infrações na esfera criminal. Conforme

o artigo 69, inciso VII, do Código Penal explicita “Art. 69. Determinará a competência

jurisdicional: VII - a prerrogativa de função” 7

De acordo com Orlando Carlos Neves Belém:

A natureza jurídica do foro por prerrogativa de função no Direito Brasileiro obedece

a uma circunstância ratione personae, ou seja, a sua concessão se estabelece em prol

das pessoas (agentes públicos), que dada a importância da atividade acabam

recebendo a prerrogativa de serem processados e julgados junto a órgão

constitucional não pertencente à estrutura da primeira instância ou do juiz singular,

bem como do Tribunal do Júri, nas hipóteses definidas no artigo 5º. inciso

XXXVIII, alínea d, da CRFB (2008, p. 105).

Os artigos 86 e 87 do Código de Processo Penal enumeram quais as pessoas que, por

possuírem certos cargos públicos, são privilegiadas pelo foro por prerrogativa de função:

Art. 86. Ao Supremo Tribunal Federal competirá, privativamente, processar e

julgar:

I - os seus ministros, nos crimes comuns;

II - os ministros de Estado, salvo nos crimes conexos com os do Presidente da

República;

III - o procurador-geral da República, os desembargadores dos Tribunais de

Apelação, os ministros do Tribunal de Contas e os embaixadores e ministros

diplomáticos, nos crimes comuns e de responsabilidade.

Art. 87. Competirá, originariamente, aos Tribunais de Apelação o julgamento dos

governadores ou interventores nos Estados ou Territórios, e prefeito do Distrito

Federal, seus respectivos secretários e chefes de Polícia, juízes de instância inferior e

órgãos do Ministério Público. (MENDONÇA; DUPRET, 2018, p. 253)

Além das autoridades supracitadas, a seguir são demonstradas outras que também

são detentoras de cargos públicos que se privilegiam com o foro por prerrogativa de função,

descritos na tabela abaixo:

49

Figura 3 Autoridades com Foro Privilegiado de acordo com o MPF

Acredita-se que existe essa diferenciação de competência por entender que seria mais

fácil corromper um juiz de primeira instância do que um desembargador ou ministro.

Importante ressaltar ainda que, essa competência existe em razão do cargo ou função pública

exercida e não tem como motivo a pessoa, sendo assim “o foro por prerrogativa de função é

50

uma proteção que o cargo exige e não a pessoa, por isso não viola a Constituição Federal”

(MANGANELLI NETO, 2015, p.01)

O discutido benefício é cessado quando o mandato da autoridade ocupadora do

determinado cargo público se encerra. Observa-se o mencionado julgado do Tribunal de

Justiça de Goiás TJ-GO DEN 01094144820168090000:

DENÚNCIA. EX-PREFEITO MUNICIPAL. PERDA DO FORO POR

PRERROGATIVA DE FUNÇÃO. INCOMPETÊNCIA. 1. A perda do foro por

prerrogativa de função cessa a competência do Tribunal de Justiça. 2-

Incompetência declarada. Remessa ao juízo de origem. (TJ-GO, 2018, p.01)

Ademais, o foro por prerrogativa de função possui inúmeras vantagens e

desvantagens, dentre elas são de destaque:

A grande vantagem do foro privilegiado, nesta situação, é o fato de não haver prisão

preventiva ou temporária na modalidade. O indivíduo só pode ser preso em casos de

condenação final, ou em flagrantes de crimes inafiançáveis. Em outras situações,

não será preso em caráter provisório.

A grande desvantagem, por outro lado, é que a existência de um foro privilegiado

significa menos instâncias superiores para recorrer. Um cidadão comum, a depender

do caso, pode recorrer de decisões até a última instância. Um ministro que já começa

seu julgamento na última instância, por outro lado, não terá como recorrer após a

sentença do STF. Isso faz com que ele tenha uma defesa que é, em certa medida,

menos ampla e deliberada ao longo do processo (DIREITO BRASIL, 2018, p.01)

Tendo em vista a problemática da corrupção passiva e a busca de encontrar meios que

a combatam, seria viável a extinção do foro por prerrogativa de função.

Considerando a finalidade deste privilégio que é a de proteção aos mandatos de

pessoas que ocupam determinados cargos públicos, como o exercício de “direito que políticos

e agentes públicos têm de só serem julgados nas instâncias superiores, mas tem sido usado

como instrumento da impunidade, de favorecimento e concessão de privilégios, se aliando à

corrupção” (ROGÉRIO, 2008, p. 46).

A impunidade refletida diante desse privilégio ficou estampada nos resultados obtidos

de um estudo realizado pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) no ano 2007,

nominado de Juízes Contra a Corrupção: diagnóstico do problema da impunidade e possíveis

soluções propostas pela AMB.

Os processos que, em sentido amplo, investigam corrupção de autoridades e lesão ao

patrimônio público, demandam, pela relevância dos bens protegidos, uma prestação

jurisdicional célere e eficiente. Ocorre que, infelizmente, a notória falta de estrutura

dos Tribunais brasileiros, aliada à dificuldade de implantação de políticas nacionais

de gestão eficiente do Judiciário, tem contribuído para a morosidade do julgamento

51

destas espécies de processo, em franco descrédito das instituições, sobretudo do

Poder Judiciário (AMB, 2007, p. 27).

A morosidade, junto com o excesso de poder e a falta de impunidade entre os

colegiados faz a população crer que entre os magistrados há uma comunidade fechada, a qual

encobre os erros dos colegas de mesmo cargo e função evitando o seu afastamento dos

cuidados públicos e que este mesmo não anda realizando. É o que observa Paula Rogério:

Alguns números reforçam a ideia da ligação entre o foro privilegiado e o

favorecimento de acusados, por exemplo, em dezoito anos, não tem a ocorrência de

nenhuma sentença penal condenatória, em um quadro de setenta e oito denúncias

sem uma única sentença condenatória é, no mínimo, suspeito. Contudo, é um

desrespeito ao princípio da igualdade. Os ministros dos tribunais superiores, tentam

justificar a demora de suas decisões, alegam excesso de trabalho, um número

enorme de demandas, excesso de normas recursais. Já se vê que não têm meios,

estrutura, nem tempo para promover os processos criminais, tudo isso, viabiliza a

impunidade. Concorda-se que é atraente para o povo ter seus representantes em

condições plenas de bem exercer suas funções, mas não é sensato colocar a defesa

do mandato acima do interesse da sociedade, que é o de possuir na administração

pública pessoas dignas de seus cargos (2008, p. 46).

Nos últimos anos é evidente o número de magistrados lutando contra a corrupção e

contribuindo para o funcionamento do sistema judiciário brasileiro, conforme as informações

e ações exercidas pela Associação dos Magistrados Brasileiros estudadas no decorrer do

presente trabalho.

Ademais, o Supremo Tribunal Federal, no dia 03 de Maio de 2017, decidiu restringir o

foro por prerrogativa de função para ocupantes de cargos públicos como deputados e

senadores. Deixando claro que “o foro por prerrogativa de função conferido aos deputados

federais e senadores se aplica apenas a crimes cometidos no exercício do cargo e em razão das

funções a ele relacionadas”

Nesse sentido, segue o julgamento do Supremo Tribunal Federal da Ação Penal nº

937, na qual foi restringido o foro por prerrogativa de função supracitada:

QUESTÃO DE ORDEM NA AÇÃO PENAL 937 (600) ORIGEM: PROC - 83529520096190000 - TRIBUNAL REGIONAL

ELEITORAL

PROCED. : RIO DE JANEIRO RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO

AUTOR (A/S)(ES) : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA

RÉU (É)(S) : MARCOS DA ROCHA MENDES

ADV.(A/S): CARLOS MAGNO SOARES DE CARVALHO (73969/RJ)

Decisão: Após o voto do Ministro Roberto Barroso (Relator), resolvendo questão

de ordem com a fixação das seguintes teses: “(i) O foro por prerrogativa de função

aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados

52

às funções desempenhadas; e (ii) Após o final da instrução processual, com a

publicação do despacho de intimação para apresentação de alegações finais, a

competência para processar e julgar ações penais não será mais afetada em razão

de o agente público vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo que ocupava,

qualquer que seja o motivo”, com o entendimento de que esta nova linha

interpretativa deve se aplicar imediatamente aos processos em curso, com a

ressalva de todos os atos praticados e decisões proferidas pelo STF e pelos demais

juízos com base na jurisprudência anterior, conforme precedente firmado na

Questão de Ordem no Inquérito 687 (Rel. Min. Sydney Sanches, j. 25.08.1999), e,

como resultado, no caso concreto, determinando a baixa da ação penal ao Juízo da

256ª Zona Eleitoral do Rio de Janeiro para julgamento, tendo em vista que (i) os

crimes imputados ao réu não foram cometidos no cargo de Deputado Federal ou

em razão dele, (ii) o réu renunciou ao cargo para assumir a Prefeitura de Cabo

Frio, e (iii) a instrução processual se encerrou perante a 1ª instância, antes do

deslocamento de competência para o Supremo Tribunal Federal, o julgamento foi

suspenso. Falaram: pelo Ministério Público Federal, o Dr. Rodrigo Janot Monteiro

de Barros, Procurador-Geral da República, e, pelo réu, Marcos da Rocha Mendes,

o Dr. Carlos Magno Soares de Carvalho. Presidência da Ministra Cármen Lúcia.

Plenário, 31.05.2017.

Decisão: Após o voto do Ministro Marco Aurélio, acompanhando em parte o

Ministro Relator, e os votos das Ministras Rosa Weber e Cármen Lúcia

(Presidente), acompanhando o Ministro Relator, pediu vista dos autos o Ministro

Alexandre de Moraes. Plenário, 1º.6.2017.

Decisão: Após o voto-vista do Ministro Alexandre de Moraes, acompanhando, em

parte, o Relator, nos termos de seu voto, e após os votos dos Ministros Edson

Fachin, Luiz Fux e Celso de Mello, acompanhando integralmente o Relator, pediu

vista dos autos o Ministro Dias Toffoli. Ausente, justificadamente, o Ministro

Ricardo Lewandowski. Presidência da Ministra Cármen Lúcia. Plenário,

23.11.2017.

Decisão: Após os votos dos Ministros Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski,

acompanhando em parte o Relator, nos termos de seus votos, o julgamento foi

suspenso. Presidência da Ministra Cármen Lúcia. Plenário, 2.5.2018.

Decisão: O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, resolveu

questão de ordem no sentido de fixar as seguintes teses: “(i) O foro por

prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício

do cargo e relacionados às funções desempenhadas; e (ii) Após o final da instrução

processual, com a publicação do despacho de intimação para apresentação de

alegações finais, a competência para processar e julgar ações penais não será mais

afetada em razão de o agente público vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo

que ocupava, qualquer que seja o motivo”, com o entendimento de que esta nova

linha interpretativa deve se aplicar imediatamente aos processos em curso, com a

ressalva de todos os atos praticados e decisões proferidas pelo STF e pelos demais

juízos com base na jurisprudência anterior, conforme precedente firmado na

Questão de Ordem no Inquérito 687 (Rel. Min. Sydney Sanches, j. 25.08.1999), e,

como resultado, no caso concreto, determinando a baixa da ação penal ao Juízo da

256ª Zona Eleitoral do Rio de Janeiro para julgamento, tendo em vista que (i) os

crimes imputados ao réu não foram cometidos no cargo de Deputado Federal ou

em razão dele, (ii) o réu renunciou ao cargo para assumir a Prefeitura de Cabo

Frio, e (iii) a instrução processual se encerrou perante a 1ª instância, antes do

deslocamento de competência para o Supremo Tribunal Federal. Vencidos: em

parte, os Ministros Alexandre de Moraes e Ricardo Lewandowski, que divergiam

do Relator quanto ao item (i); em parte, o Ministro Marco Aurélio, que divergia do

Relator quanto ao item (ii); em parte, o Ministro Dias Toffoli, que, em voto

reajustado, resolveu a questão de ordem no sentido de: a) fixar a competência do

Supremo Tribunal Federal para processar e julgar os membros do Congresso

Nacional exclusivamente quanto os crimes praticados após a diplomação,

independentemente de sua relação ou não com a função pública em questão; b)

fixar a competência por prerrogativa de foro, prevista na Constituição Federal,

quanto aos demais cargos, exclusivamente quanto aos crimes praticados após a

diplomação ou a nomeação (conforme o caso), independentemente de sua relação

53

ou não com a função pública em questão; c) serem inaplicáveis as regras

constitucionais de prerrogativa de foro quanto aos crimes praticados anteriormente

à diplomação ou à nomeação (conforme o caso), hipótese em que os processos

deverão ser remetidos ao juízo de primeira instância competente,

independentemente da fase em que se encontrem; d) reconhecer à

inconstitucionalidade das normas previstas nas Constituições estaduais e na Lei

Orgânica do Distrito Federal que contemplem hipóteses de prerrogativa de foro

não previstas expressamente na Constituição Federal, vedada a invocação de

simetria; e) estabelecer, quando aplicável a competência por prerrogativa de foro,

que a renúncia ou a cessação, por qualquer outro motivo, da função pública que

atraia a causa penal ao foro especial, após o encerramento da fase do art. 10 da Lei

nº 8.038/90, com a determinação de abertura de vista às partes para alegações

finais, não altera a competência para o julgamento da ação penal; e, em parte, o

Ministro Gilmar Mendes, que assentou que a prerrogativa de foro alcança todos os

delitos imputados ao destinatário da prerrogativa, desde que durante a investidura,

sendo desnecessária a ligação com o ofício, e, ao final, propôs o início de

procedimento para a adoção de Súmula Vinculante em que restasse assentada a

inconstitucionalidade de normas de Constituições Estaduais que disponham sobre

a competência do Tribunal de Justiça para julgar autoridades sem cargo similar

contemplado pela Constituição Federal e a declaração incidental de

inconstitucionalidade dos incisos II e VII do Art. 22 da Lei 13.502/17; dos incisos

II e III e parágrafo único do art. 33 da Lei Complementar 35/79; dos

arts. 40, III, V, e 41, II, parágrafo único, da Lei 8.625/93; e do

art. 18, II, d, e, f, parágrafo único, da Lei Complementar 75/93. Presidiu o

julgamento a Ministra Cármen Lúcia. Plenário, 3.5.2018

Assim, ante o julgamento apresentado, podemos o associar com o caso do ex

presidente Luiz Inácio Lula da Silva que não foi beneficiado pelo foro por prerrogativa de

função.

Sendo condenado pela Justiça Federal do Paraná pelo juiz Sérgio Moro, em primeira

instância, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro tendo como motivo o

triplex no Guarujá e recebendo a pena de 09 (nove) anos. A condenação foi firmada, após ter

recorrido e a votação unânime da 8ª Turma do Tribunal Regional Federal-4, em Porto

Alegre/RS, o tornando inelegível para as eleições 2018 (MORAES, 2018, p. 01).

Por fim, partindo desse novo posicionamento pode-se analisar que com o

restringimento do foro por prerrogativa de função ou o conhecido foro privilegiado, começou

a refletir mudanças, fazendo com que a imagem de impunidade comece a desaparecer e

somente se beneficiar quem realmente esteja no exercício do cargo público e

consequentemente deixando de sobrecarregar os órgãos judiciais de competência superior.

Outro grande movimento na atualidade é a Operação Lava Jato, na qual, o Ministério

Público juntamente com a Polícia Federal buscaram intervir no excesso de confiança e abuso

de poderes de servidores públicos e apropriação indevida de dinheiro público com

envolvimento de empreiteiras e operadores financeiros.

54

3.3.3 Operação lava jato

É importantíssimo entender o motivo da nomeação dessa operação, como iniciou e o

motivo de tamanha repercussão mundial.

A nomenclatura da operação “Lava Jato decorre do uso de uma rede de postos de

combustíveis e lava a jato de automóveis para movimentar recursos ilícitos pertencentes a

uma das organizações criminosas inicialmente investigadas”. É conhecida e reconhecida

como a maior investigação de lavagem de dinheiro já acontecida no Brasil, ou seja, é o caso

destaque de corrupção. Teve como marco inicial, o mês de março de 2014, por meio de uma

investigação realizada pela Justiça Federal do Paraná, a qual tinha como personagem, José

Janene, ex Deputado Federal ligado ao Partido Progressista (PP). Este havia praticado o crime

de corrupção na cidade de Londrina/PR. (MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, 2018, p.01).

Posteriormente, descobriram quatro organizações criminosas comandadas por

doleiros, ou seja, “operadores de mercados paralelos de câmbio. Depois o Ministério Público

Federal levantou provas de um imenso esquema criminoso de corrupção, o qual envolve a

Petrobras” (SANTANA, 2017, p. 50).

De acordo com o entendimento do Ministério Público Federal, o esquema funcionava

da seguinte forma:

[...] grandes empreiteiras organizadas em cartel pagavam propina para altos

executivos da estatal e outros agentes públicos. O valor da propina variava de 1% a

5% do montante total de contratos bilionários superfaturados. Esse suborno era

distribuído por meio de operadores financeiros do esquema, incluindo doleiros

investigados na primeira etapa.

As empreiteiras - Em um cenário normal, empreiteiras concorreriam entre si, em

licitações, para conseguir os contratos da Petrobras, e a estatal contrataria a empresa

que aceitasse fazer a obra pelo menor preço. Neste caso, as empreiteiras se

cartelizaram em um “clube” para substituir uma concorrência real por uma

concorrência aparente. Os preços oferecidos à Petrobras eram calculados e ajustados

em reuniões secretas nas quais se definia quem ganharia o contrato e qual seria o

preço, inflado em benefício privado e em prejuízo dos cofres da estatal. O cartel

tinha até um regulamento, que simulava regras de um campeonato de futebol, para

definir como as obras seriam distribuídas. Para disfarçar o crime, o registro escrito

da distribuição de obras era feito, por vezes, como se fosse a distribuição de prêmios

de um bingo.

Funcionários da Petrobras - As empresas precisavam garantir que apenas aquelas

do cartel fossem convidadas para as licitações. Por isso, era conveniente cooptar

agentes públicos. Os funcionários não só se omitiam em relação ao cartel, do qual

tinham conhecimento, mas o favoreciam, restringindo convidados e incluindo a

ganhadora dentre as participantes, em um jogo de cartas marcadas. Segundo

levantamentos da Petrobras, eram feitas negociações diretas injustificadas,

celebravam-se aditivos desnecessários e com preços excessivos, aceleravam-se

contratações com supressão de etapas relevantes e vazavam informações sigilosas,

dentre outras irregularidades.

55

Operadores financeiros - Os operadores financeiros ou intermediários eram

responsáveis não só por intermediar o pagamento da propina, mas especialmente por

entregar a propina disfarçada de dinheiro limpo aos beneficiários. Em um primeiro

momento, o dinheiro ia das empreiteiras até o operador financeiro. Isso acontecia em

espécie, por movimentação no exterior e por meio de contratos simulados com

empresas de fachada. Num segundo momento, o dinheiro ia do operador financeiro

até o beneficiário em espécie, por transferência no exterior ou mediante pagamento

de bens.

Agentes políticos - Outra linha da investigação – correspondente à sua

verticalização – começou em março de 2015, quando o Procurador-Geral da

República apresentou ao Supremo Tribunal Federal 28 petições para a abertura de

inquéritos criminais destinados a apurar fatos atribuídos a 55 pessoas, das quais 49

são titulares de foro por prerrogativa de função (“foro privilegiado”). São pessoas

que integram ou estão relacionadas a partidos políticos responsáveis por indicar e

manter os diretores da Petrobras. Elas foram citadas em colaborações premiadas

feitas na 1ª instância mediante delegação do Procurador-Geral. A primeira instância

investigará os agentes políticos por improbidade, na área cível, e na área criminal

aqueles sem prerrogativa de foro (MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, 2018).

Para o entendimento de forma clara e sucinta o Ministério Público Federal conseguiu

esquematizar em imagem os acontecimentos investigados, como observado na imagem a

seguir:

Figura 4 Esquema do Caso Lava Jato de acordo com MPF

56

A Procuradora da República Damaris Rossi Baggio presidiu uma palestra, na 1ª Igreja

Batista de Campo Grande/MS, sobre as 10 (dez) medidas contra a corrupção, relatou que a

operação lava-jato é uma espécie de sistema composto por “grandes empreiteiros

corrompendo altos diretores da Petrobras e políticos para obterem benefícios por meio dessa

corrupção”. Ademais, informou que o valor conhecido pela Petrobras das propinas chega a

aproximadamente 6,2 bilhões de reais, sendo que já ouviu dizer na quantia absurda de 200

bilhões de reais por ano. Dando continuidade, demonstrou que com o dinheiro desviado

poderia investir várias vezes na educação, saúde e segurança pública, comentou que “a

corrupção está enraizada de tal forma em nossa cultura que hoje em dia é, inclusive,

infelizmente, usada como justificativa”. Explicou que o caso lava jato por si só não

conseguirá obter todos os resultados imaginados e não será a transformação do Brasil. Aduziu

que “se nós considerarmos a corrupção um câncer, a lava jato é um tumor específico. O

problema é que o sistema é cancerígeno”. Dessa maneira, explicou que esse cenário deu

ensejo a criação das 10 (dez) medidas contra a corrupção. (BAGGIO, 2018) ³.

Portanto, como já analisado, a operação Lava Jato é um grande meio de combate à

corrupção e ganhou proporções enormes com a ajuda nacional, bem como pela garra do

Ministério Público Federal. Aliás, foi o viés para a criação de novas medidas preventivas, a

exemplo das 10 (dez) medidas contra a corrupção, a qual vem sendo estudada mais a fundo

adiante.

3.3.4 As 10 medidas contra a corrupção

O Ministério Público Federal apresentou propostas nominadas de as 10 (dez) medidas

contra a corrupção, as quais se tornaram no Projeto Lei 4850/2016, “lançado no dia 10 de

março de 2015, portaria PRG/MPF nº 50, dia 21 de janeiro de 2015, da Procuradoria-Geral da

República” (SANTANA, 2017, p. 42). O qual possuiu caráter de iniciativa popular devida à

coleta de mais de 02 (dois) milhões de assinaturas pelo citado órgão.

Segundo Ana Elisa Santana, as propostas tiveram como objetivo de criação os

escândalos nacionais de lavagem de dinheiro e os demais focos de corrupção alastrados no

País, ou seja, “o órgão elaborou as propostas no decorrer das investigações da Operação Lava

57

Jato, que há mais de dois anos apura uma série de desvios na Petrobras e em outras empresas

públicas”. (2016, p.01).

As 10 (dez) medidas contra a corrupção podem ser classificadas como: 01. Prevenção

a corrupção, transparência e proteção à fonte de informação; 02. Criminalização do

enriquecimento ilícito de agentes públicos; 03. Aumento das penas e crime hediondo para a

corrupção de altos valores; 04. Eficiência dos recursos no processo penal; 05. Celeridade nas

ações de improbidade administrativa; 06. Reforma no sistema de prescrição penal; 07. Ajustes

nas nulidades penais; 08. Responsabilização dos partidos políticos e criminalização do caixa

2; 09. Prisão Preventiva para assegurar a devolução ao dinheiro desviado; 10. Recuperação do

lucro derivado do crime (MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, 2018, p.01).

O estudo aprofundado das medidas é fundamental para o entendimento dos objetivos

que almejamos alcançar. Tendo em vista o rico material disponibilizado pelo Ministério

Público Federal passamos especificar um pouco sobre cada uma das 10 medidas contra a

corrupção:

01. Prevenção à corrupção, transparência e proteção à fonte de informação:

Em relação à prevenção, com o apoio da Organização das Nações Unidas e da

Transparência Internacional, foram propostos “testes de integridade, isto é, a simulação de

situações, sem o conhecimento do agente público ou empregado, com o objetivo de testar sua

conduta moral e predisposição para cometer crimes contra a Administração Pública”

(MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL 2018, p.01).

Ademais, o investimento de parte dos recursos de publicidade dos entes públicos para

programas de marketing com a finalidade de criar uma “cultura de intolerância à corrupção”,

mostrando à população os malefícios e as possíveis medidas de combate e prevenção,

juntamente com uma espécie de treinamento dos funcionários que desempenham atividade

pública (MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, 2018, p.01).

Para garantir a proteção à fonte de informação, o Ministério Público Federal certificou

um sigilo aos denunciantes, mas deixando claro que não poderá ocorrer condenação com base

somente em denuncias com autores confidenciais e na ocorrência de falsas denuncias, o

delator terá sua identidade revelada.

Por fim, a obrigação do Poder Judiciário e Ministério Público a prestar contas, em

razão da durabilidade processual com a finalidade de alcançar a eficiência e celeridade.

02. Criminalização do enriquecimento ilícito de agentes públicos:

58

Essa proposta tem como objetivo punir os agentes públicos que não conseguem

comprovar e justificar todo o seu patrimônio, tendo em vista que não comprovada a origem do

montante, presume-se enriquecimento ilícito mesmo sem provas da prática de atos específicos

de corrupção.

Dessa forma, a impunidade seria combatida. Ressalta-se que a pena proposta para

praticantes desse crime seria de três a oito anos e o ônus da prova pertence à parte da

acusação.

03. Aumento das penas e crime hediondo para corrupção de altos valores:

É prevista a transformação do crime de corrupção em crime de alto risco, a fim de que

seja aumentada a pena e diminuída as chances de prescrição.

As alterações previstas ficariam da seguinte maneira:

Com as alterações, as penas, que hoje são de 2 a 12 anos, passam a ser de 4 a 12

anos, lembrando que, no Brasil, as penas de réus de colarinho branco ficam

próximas ao patamar mínimo. Com isso, a prática do crime passa a implicar, no

mínimo, prisão em regime semiaberto. Esse aumento da pena também amplia o

prazo prescricional que, quando a pena supera 4 anos, passa a ser de 12 anos. Além

disso, a pena é escalonada segundo o valor envolvido na corrupção, podendo variar

entre 12 e 25 anos, quando os valores desviados ultrapassam R$ 8 milhões. Essa

pena é ainda inferior àquela do homicídio qualificado, mas é bem maior do que a

atual. A corrupção mata, como decorrência do cerceamento de direitos essenciais,

como segurança, saúde, educação e saneamento básico. Por isso, a referência

punitiva da corrupção de altos valores passa a ser a pena do homicídio. Por fim, a

corrupção envolvendo valores superiores a cem salários mínimos passa a ser

considerada crime hediondo, não cabendo, dentre outros benefícios, o perdão da

pena, integral ou parcial (indulto ou comutação) (MINISTÉRIO PÚBLICO

FEDERAL, 2018, p.02).

É visto que o crime de corrupção seria mais severo sendo equiparado ao do homicídio

e até poderia ser classificado como hediondo.

04. Aumento da eficiência e da justiça dos recursos no processo penal:

Para combater o fim de estratégias protelatórias nos processos de agentes corruptos,

foi lançada essa possibilidade em que altera uma Emenda constitucional e o Código de

Processo Penal, em 11 pontos.

05. Celeridade nas ações de improbidade administrativa:

Consiste em alterações na Lei nº 8.429/92, com a intenção de ser instaurado um

procedimento mais ágil, bem como a criação de repartições específicas para cuidar de

processos de improbidade administrativa e corrupção.

06. Reforma no sistema de prescrição penal:

59

Com o intuito de aumentar os prazos prescricionais e estabelecer como marco inicial

de contagem prescricional o transito em julgado para todas as partes foram sugeridas

alterações no Código Penal.

07. Ajustes nas nulidades penais:

Propõe alterações no Código de Processo Penal no capítulo que trata sobre as

nulidades e a inserção de novos parágrafos, para que aumente as hipóteses de preclusão de

teses de nulidade, o aproveitamento dos atos processuais e a extensão das causas de exclusão

de ilicitude chegando-se a um comportamento adequado da Administração Pública.

08. Responsabilização dos partidos políticos e criminalização do caixa 02:

Resume-se na responsabilização objetiva dos partidos políticos que se envolvam em

escândalos de corrupção, “a criminalização da contabilidade paralela (caixa 2) e a

criminalização eleitoral da lavagem de dinheiro oriundo de infração penal, de fontes de

recursos vedadas pela legislação eleitoral ou que não tenham sido contabilizados”

(MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, 2018, p.04).

09. Prisão preventiva para evitar a dissipação do dinheiro desviado:

A chamada prisão extraordinária tem como finalidade localizar o dinheiro desviado e

evitar que os acusados financiem as pretendidas fugas ou defesas. Alem do mais, existe o

projeto para que facilite o bloqueio e rastreamento dos ilícitos adquiridos.

10. Recuperação do lucro derivado do crime:

Essa última propositura divide-se em duas vertentes que visam evitar que o corrupto

consiga obter mais vantagens ilícitas. Uma trata-se da criação de um “confisco alargado” e a

outra “a ação civil de extinção de domínio, que possibilita dar perdimento a bens de origem

ilícita independentemente da responsabilização do autor dos fatos ilícitos” (MINISTÉRIO

PÚBLICO FEDERAL, 2018, p.04).

O presidente da Transparência Internacional José Carlos Ugaz, esteve na Câmara dos

Deputados, no dia 28 de setembro de 2016, com o objetivo de apoiar à aprovação das 10

medidas contra a corrupção e mostrar sua preocupação quanto à possibilidade de ser retirado

o caráter emergencial do projeto de lei nº 4850/16, aduziu que:

Transformar essa proposta em lei é fundamental para o combate contra os crimes

contra o patrimônio público, porque o Brasil ainda não tem leis realmente eficientes

na área.

Há rumores de que se estaria retirando a condição de urgência desse projeto e isso

seria realmente muito preocupante. Cremos que o Brasil está sendo observado pelo

mundo em sua capacidade de reagir frente a um caso imenso de corrupção

sistêmico-estrutural e esse esforço não deveria ser parado pela guerra política

60

A Câmara dos Deputados, no dia 30 de novembro de 2016, colocou no plenário o

projeto das 10 medidas contra a corrupção e o resultado foi chocante. Das 10 medidas contra a

corrupção 06 delas foram retiradas, sendo: acordos de leniência (as famosas delações

premiadas); enriquecimento ilícito de funcionários públicos; “reportante do bem” (incentivo

dos cidadãos a fazer denuncias contra crimes de corrupção); prescrição de penas; “confisco

alargado” (recuperação do lucro obtido em razão do crime); acordos entre defesa e acusação

(objetivava simplificar os processos) e a responsabilização dos partidos. Por outro lado

permaneceram somente 04 medidas: a tipificação do caixa dois; prevenção a corrupção e

transparência - a venda de votos; o aumento das penas e inserção de tipos na Lei de Crimes

Hediondos e regras para propor ações populares e recursos, as quais sofreram inúmeras

modificações para se chegar à aprovação do projeto das “10” medidas contra a corrupção e foi

incluído o abuso de responsabilidade a juízes e integrantes do Ministério Público como uma

nova medida (CALGARO, 2016, p. 01).

Com base na aprovação do referido projeto com as novas modificações, o procurador-

geral da república Rodrigo Janot esclareceu que o Ministério Público não apoia mais o

projeto, tendo em vista as novas alterações realizadas pelos deputados federais e suplicou

apoio da população brasileira para não se chegar à aprovação do Senado Federal. Reforçou

dizendo que:

As 10 Medidas contra a corrupção não existem mais. O Ministério Público brasileiro

não apoia o texto que restou, uma pálida sombra das propostas que nos

aproximariam de boas práticas mundiais. O Ministério Público seguirá sua trajetória

de serviço ao povo brasileiro, na perspectiva de luta contra o desvio de dinheiro

público e o roubo das esperanças de um país melhor para todos nós.

Um sumário honesto da votação das 10 Medidas, na Câmara dos Deputados, deverá

registrar que o que havia de melhor no projeto foi excluído e medidas claramente

retaliatórias foram incluídas. Cabe esclarecer que a emenda aprovada, na verdade,

objetiva intimidar e enfraquecer Ministério Público e Judiciário (JANOT;

RICHTER.2016, p. 01)

No entanto, pode-se concluir que o projeto de lei das 10 medidas contra a corrupção

foi o maior meio de combate a corrupção e lavagem de dinheiro criado em todo o País,

contendo várias medidas eficazes e que viabilizariam a punição dos corruptos, bem como a

diminuição da impunidade existente.

Se o nosso sistema não fosse corrompido, uma vez que por se tratar de um crime de

alto escalão no qual os praticantes são aqueles de grande poder econômico, ou seja, os

reconhecidos como “colarinhos brancos” que são ocupantes de cargos públicos dentro do

Legislativo e Executivo, as medidas teriam sido aprovadas no seu plano original.

61

A própria aprovação no plenário deixa explícito que os próprios deputados federais

removeram as propostas mais “pesadas” e mantiveram as mais amenas, ainda com

modificações, com objetivo de se protegerem, pois seriam os mais prejudicados e por serem

os maiores praticantes do crime de corrupção e lavagem de dinheiro.

Enquanto houver o ar de impunidade e a facilidade de praticar tais crimes sem a

devida punição, o Brasil nunca se desenvolverá de forma adequada. Só haverá mudança

quando medidas forem aprovadas e cumpridas como em sua originalidade, por força da

população, do Ministério Público Federal e de ocupantes políticos mais éticos, na busca por

justiça limpa.

Este trabalho teve como objetivo analisar a corrupção, em especifico a corrupção

passiva. Mais adiante sobre a estrutura da Administração Pública e ao final aprimorar o

combate a corrupção, demonstrando as medidas existentes e as capacidades de eficácia, a fim

de fortalecer a extinção e prevenção por meios da transparência e eficiência.

62

CONCLUSÃO

A sociedade brasileira vem a cada dia buscando mudar o sistema judicial e a

organização pública, intervindo e evitando o abuso de poderes de autoridades. A cúpula dos

poderes deixa de lado o interesse coletivo para buscar a melhoria individual, por isso, a busca

contra a corrupção anda ganhando cada vez mais espaço e crescendo entre todos.

No entanto, a mudança é algo que deve ser iniciada na base, não no topo. Modificar

uma estrutura social é transformar todo o cotidiano e cultura construída por uma sociedade.

Este trabalho buscou entender de que forma a corrupção se tornou parte do povo e da

soberania, como os cuidados e os interesses coletivos foram violados e aceitos.

Cuidar do sistema Judiciário é essencial para melhorar seu funcionamento e assim,

conseguir alcançar o apoio nacional e mostrar à população a eficácia da justiça e como eles

podem se apoiar, buscar e principalmente, confiar no sistema judiciário brasileiro. Só podendo

ser possível com o emprego de uma reforma para combater a morosidade processual e pregar

pela celeridade.

Mais adiante tratamos sobre o foro de prerrogativa de função que se tornou um marco

da impunidade nos casos de corrupção e que a melhor medida cabível seria a sua extinção.

Nos últimos anos novas lutas foram travadas para dar fim a ilicitude no Estado e

diminuir o número de representantes que lucram dentro de seus cargos de formas indevidas. O

Caso Lava Jato é recente, mas nos dá uma pequena proporção da profundidade do problema

brasileiro e da necessidade dos cuidados e amparos da população, principalmente do Poder

Judiciário, Polícia Federal e do Ministério Público Federal.

Por fim foram mostradas detalhadamente as 10 medidas contra a corrupção impostas

pelo Ministério Público Federal, as quais se transformaram em projeto de lei, após o

recolhimento de mais de 2 milhões de assinaturas e foram rejeitadas em sua maioria pelos

deputados federais que, na verdade, seriam os mais prejudicados com a aprovação. Sempre

devemos lembrar que por se tratar de um crime de alto escalão, os poderosos sempre farão o

impossível para que medidas eficazes entrem em vigor, sendo os principais titulares de cargos

do Legislativo e Executivo.

Com o estudo das maiores e melhores medidas existentes no sistema, existiu como

finalidade encontrar uma vertente de pensamento e buscar saídas para a diminuição e

desnaturalização da corrupção nas várias camadas do governo brasileiro.

63

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