correlaÇÃo entre o escore de gleasonrecet.org.br/edicoes/2017/ed2/vol4n2_2017.pdfdiferentes faces...

27
REVISÃO SOBRE VIGILÂNCIA ATIVA PARA CÂNCER DE PRÓSTATA Artigo de Revisão COMO ESTÁ O SEU RELACIONAMENTO COM AS MÍDIAS SOCIAIS? Como organizar meu cosultório? FELLOWSHIP EM LAPAROSCOPIA Do treinamento à vida real. Relatos reais do jovem urologista. Fellows: Quais os tipos? Figure 1 e 2. pag 15 e 16 Porcentagem de comprometimento extracapsular distribuído pelo escore de Gleason. Porcentagem de comprometimento de margens cirúrgicas distribuído pelo escore de Gleason. REVISTA ELETRÔNICA DA COMISSÃO DE ENSINO E TREINAMENTO DA SBU CORRELAÇÃO ENTRE O ESCORE DE GLEASON E MARGENS CIRÚRGICAS COMPROMETIDAS EM PACIENTES SUBMETIDOS À PROSTATECTOMIA RADICAL RETROPÚBICA

Upload: others

Post on 28-Sep-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: CoRRElAÇÃo ENTRE o ESCoRE DE GlEASoNrecet.org.br/edicoes/2017/Ed2/vol4n2_2017.pdfdiferentes faces da prática médica, tenho a oportunidade de realizar atendimento privado fora do

REvIsãO sObRE vIGIlÂNCIa aTIva PaRa CÂNCER DE PRÓsTaTaArtigo de Revisão

COmO EsTÁ O sEu RElaCIONamENTO COm as mÍDIas sOCIaIs?

Como organizar meu cosultório?

FELLOWSHIP Em laPaROsCOPIaDo treinamento à vida real. Relatos reais do jovem urologista.

Fellows: Quais os tipos?

Figure 1 e 2. pag 15 e 16

Porcentagem de comprometimento extracapsular distribuído pelo escore de Gleason.

Porcentagem de comprometimento de margens cirúrgicas distribuído pelo escore de Gleason.

R E V I S T A

E l E T R Ô N I C A D A

CoMISSÃo DE ENSINo E

T R E I N A M E N T o D A S B U

CoRRElAÇÃo ENTRE o ESCoRE DE GlEASoNE MARGENS CIRÚRGICAS CoMPRoMETIDAS EM PACIENTES SUBMETIDoS À PRoSTATECToMIA RADICAl RETRoPÚBICA

Page 2: CoRRElAÇÃo ENTRE o ESCoRE DE GlEASoNrecet.org.br/edicoes/2017/Ed2/vol4n2_2017.pdfdiferentes faces da prática médica, tenho a oportunidade de realizar atendimento privado fora do

EDITOR CHEFE

Marcelo Wroclawski

VICE-EDITOR

Fernando Meyer

COmIssãO EDITORIal

Wilson Busato Junior

Antonio Jose Serrano Bernabé

Arilson de Souza Carvalho Jr.

Bruno Santos Benigno

Carlos Benedito Verona

Evandro Falcão do Nascimento

Fabio Sepúlveda Lima

Fabrício Borges Carrerette

Fernando Meyer

Flávio Lobo Heldwein

Fransber Rondinelle Araújo Rodrigues

Humberto Montoro Chagas

José Vaz da Silva Júnior

Luiz Figueredo Mello

Nancy Tamara Denicol

Samuel Saiovici

Silvio Henrique Maia de Almeida

EXPEDIENTE

Patrícia Gomes / Secretária

Bruno Nogueira / Designer gráfico

Ricardo Gomes / Editor Auxiliar

EDITORIalArchimedes Nardozza Junior

COmO mE INsERIR NO mERCaDO DE TRabalHO?mODElOs DE aTuaçãOModelos de Trabalho do urologistaMarcelo de Q. Cerqueira

FEllOWs: quaIs Os TIPOs? Fellowship em Laparoscopia | Do treinamento à vida real. Relatos reais do jovem urologista. Bruno Santos Benigno

COmO ORGaNIZaR mEu CONsulTÓRIO?Como está o seu relacionamento com as mídias sociais?Rodrigo Krebs

COmO FuNCIONa a CETNancy Denicol

aRTIGO DE REvIsãORevisão sobre vigilância ativa para câncer de próstata

Paulo Roberto Salustiano de Carvalho, Arthur Sanchez, Rui

Teófilo e Figueiredo Filho, Ronaldo Damião

aRTIGO ORIGINalCorrelação entre o Escore de Gleason e margens cirúrgicas comprometidas em pacientes submetidos à prostatectomia

radical retropúbica

Fernando Meyer; José Maurício Frehse; Vinicius Bruce Souza;

Pâmella Rafaella Chimiloski Beltrame; Luis Felipe Costa

RElaTO DE CasOsDocumentação tomográfica de reperfusão renal espontânea após 24h de trauma renal grau V

Marco Aurelio Cruciol Rodrigues, Marco Aurelio de Freitas

Rodrigues, André Ricardo Lopes Garcia, Luis Gustavo Crippa de

Almeida, Priscila da Silva Taguti, Rafael Agostinho Maioli, Silvio

Henrique, Maia de Almeida

R E V I S T AE L E T R Ô N I C A D A

C O M I S S Ã O D E E N S I N O ET R E I N A M E N T O D A S B U

Vol. 4 | N. 2 | 2017

Í N D I C E

12

4

6

1112

19

23

Page 3: CoRRElAÇÃo ENTRE o ESCoRE DE GlEASoNrecet.org.br/edicoes/2017/Ed2/vol4n2_2017.pdfdiferentes faces da prática médica, tenho a oportunidade de realizar atendimento privado fora do

Vol. 4 (2): 1-1 | 2017REVISTA ELETRÔNICA DA COMISSÃO DE ENSINO E TREINAMANTO DA SBU

1

O papel das sociedades médicas transcende a esfera da educação

continuada, influenciando em nossas condutas e na relação médico-

paciente. O avanço do conhecimento médico ocorre de forma muito

rápida e nos impõe uma atualização constante; além de uma análise

criteriosa da literatura internacional.

A escolha da conduta e a informação aos nossos pacientes devem ser

prioridade absoluta na nossa prática diária.

Preocupada com a formação do médico residente, a Sociedade

Brasileira de Urologia abre mais este espaço importante, que irá auxiliar

aos residentes tanto do ponto de vista prático como do científico.

Sem dúvida, este projeto vem se consolidando junto às outras

atividades de educação continuada e à valorização profissional da SBU.

Agradecemos o esforço de todos os envolvidos neste projeto.

Editorial

Editorial

ArchimedesNardozza Junior

Presidente da Sociedade Brasileira de UrologiaGestão 2016-2017

Page 4: CoRRElAÇÃo ENTRE o ESCoRE DE GlEASoNrecet.org.br/edicoes/2017/Ed2/vol4n2_2017.pdfdiferentes faces da prática médica, tenho a oportunidade de realizar atendimento privado fora do

Como me inserir no mercado de trabalho?

Modelos de atuação

Vol. 4 (2): 2-3 | 2017REVISTA ELETRÔNICA DA COMISSÃO DE ENSINO E TREINAMENTO DA SBU Como me inserir no

mercado de trabalho? Modelos de atuação

2

por Marcelo de Queiroz Cerqueira

Modelos de trabalho

do urologista

uitos Urologistas, recém egressos da residência médica ou com algum tempo de

militância no mercado, se identificam com o trabalho de docência, seja no ensino em

escolas médicas, em preceptoria de residência, ou até mesmo em ambos.

A nobreza do árduo trabalho de contribuir para os ensinamentos urológicos de alunos de

cursos médicos, bem como na formação do urologista propriamente dito, como preceptor de PRU

(programa de residência em Urologia) muitas vezes não é recompensada com a devida remuneração

ou reconhecimento, quando se compara ao exercício da especialidade no âmbito privado.

O preceptor do PRU deve sempre ser dotado de uma versatilidade tal que permita contribuir,

da maneira mais plena possível, na formação de gerações de urologistas ao longo do tempo. A este

muitas vezes é vedada a opção de militar apenas numa subespecialidade, de se abster de participar

de casos complexos ou de desconhecer um assunto por simples desinteresse. Na condição de

“professor”, pesa sob as suas costas não só o compromisso soberano com o paciente, mas também

a responsabilidade de preparar o novo urologista que ali está se formando.

Mas, como se adequar à realidade de mercado e exercitar este raro dom de se dedicar ao

ensino médico?

Convidamos para este número o Dr. Leonardo Reis, , Professor Titular de Urologia PUC-

Campinas, Mestre e Doutor em Urologia, Unicamp, Urology Fellow, Columbia University, New York,

NY (American Urological Association, 2011) e Postdoctoral Fellow, The Johns Hopkins University,

School of Medicine, Baltimore, MD, USA (CAPES, 2014-2015), Bolsista Produtividade em Pesquisa

CNPq., para nos ajudar neste entendimento.

m

Page 5: CoRRElAÇÃo ENTRE o ESCoRE DE GlEASoNrecet.org.br/edicoes/2017/Ed2/vol4n2_2017.pdfdiferentes faces da prática médica, tenho a oportunidade de realizar atendimento privado fora do

MODELOS DE TRABALHO DO UROLOGISTA

RE.CET

RE.CET | 3

RE.CET: O senhor de fato dedica toda a sua ati-vidade profissional à área de ensino? Pode nos detalhar essas atividades?

Dr. Leonardo Reis: Descobri cedo minha vocação, e convicto da importância de vibrar com o que se faz, aprendi a viver com pouco e não priorizar a parte financeira, de modo que pude me organizar e planejar minhas atividades visando realização pessoal.

Neste cenário, reconheço a importância do contexto assis-tencial no qual atuo entre 20 a 30 % de minha jornada de trabalho, permitindo ensinamentos e exercício do cuidado ao semelhante.

Nele, o médico tem o prazer e a oportunidade únicas de compartilhar vivências das mais diversas, mesmo sem tê--las vivido na pele, se envolvendo com seu semelhante na árdua tarefa de superar os maiores desafios da humanidade, aqueles que cerceiam a saúde seja física, mental, ou moral, no mais amplo entendimento do indivíduo e do coletivo.

Contudo, confesso que, mesmo em atividades es-sencialmente assistenciais, vejo a profissão médica e a uro-logia pelo prisma do ensino, da pesquisa e da extensão. Este ambiente permite um refinamento sem igual no crescimento, no desenvolvimento e na visão do homem médico.

RE.CET: Já teve consultório ou trabalhou em instituições privadas fora do contexto do ensino médico? Caso positivo, há algum aspecto, diferente do que faz hoje, que merece destaque?

Dr. Leonardo Reis: Considerando a importância das diferentes faces da prática médica, tenho a oportunidade de realizar atendimento privado fora do contexto do ensino médico a partir do último ano a cada 15 dias (fazia a cada 7 dias), o que me permite vivência diferente das relatadas anteriormente.

RE.CET: Como aconselharia ao jovem urologista a seguir este caminho? Qual o papel da capacitação

profissional nesse contexto? Mestrado e doutorado são essenciais?

Dr. Leonardo Reis: Se realizar e se entusiasmar com o que faz é fundamental. E isso é muito pessoal. Não tenho dúvida de que os valores agregados em processos como Mestrado e Doutorado não se limitam à capacitação nos contextos do ensino e da pesquisa; outrossim, refinam a prática médica implicando no modo de entender processos e se comunicar seja com pares, seja com pacientes.

RECET – Como considera a remuneração do pro-fessor / preceptor no cenário nacional geral? E as con-dições de trabalho? Vislumbra alguma mudança para o futuro?

Dr. Leonardo Reis: Dificilmente um trabalho bem feito e sustentado não será reconhecido. A remuneração deve ser justa, mas não um atrativo que deturpe os valores. Não são incomuns as escolhas que visem ganhos secundários e consequências como status e salários em detrimento da ati-vidade em si.

Em relação ao futuro, vislumbro uma tendência clara no ensino superior de desenvolvimento das instituições priva-das que têm descoberto a importância da pesquisa e exten-são como fatores fundamentais e complementares ao ensino, em oposição à deterioração do sistema público, infelizmente. Sintoma da falta de meritocracia entre outras mazelas que extrapolam os limites das questões aqui abordadas.

RE.CET: Qual o papel da SBU para o professor de urologia?

Dr. Leonardo Reis: O papel da SBU, em última aná-lise, está em garantir a qualidade nos mais diversos contextos da urologia, o que inclui mas não se limita ao ensino, a pes-quisa, a extensão, e a assistência.

Marcelo de Queiroz CerqueiraMembro titular da SBU

Médico do Serviço de Urologia, Instituto Cardiopulmonar da Bahia

Diretor-Presidente da Cooperuro-BABiênio 2016-2017

E-mail: [email protected]

Page 6: CoRRElAÇÃo ENTRE o ESCoRE DE GlEASoNrecet.org.br/edicoes/2017/Ed2/vol4n2_2017.pdfdiferentes faces da prática médica, tenho a oportunidade de realizar atendimento privado fora do

fELLOWS:qUAIS OS TIPOS?

Vol. 4 (2): 4-5 | 2017REVISTA ELETRÔNICA DA COMISSÃO DE ENSINO E TREINAMENTO DA SBU fELLOWS:

qUAIS OS TIPOS?

4

a transição da fase de residência para o mercado é um desafi o enfrentado

por todos nós e nem sempre é um processo suave.

Urologistas do Brasil inteiro enfrentam uma série de obstáculos, independente

do cenário que venham a escolher no serviço público, no privado ou na

saúde complementar.

Apostar no aprimoramento com um Fellowship em laparoscopia pode

representar um diferencial em determinadas regiões do país e tornar a inserção

no mercado de trabalho mais rápida para alguns.

Fellowshipem

laparoscopia

por Bruno Santos Benigno

Contudo, o nível de treinamento elevado adquirido em centros especializados com maior abundância de

recursos financeiros e tecnológicos, por vezes, encontra barreiras de infraestrutura, limitação de acesso a materiais

e uma falta de familiaridade e treinamento por parte das equipes de apoio técnico em alguns hospitais pelo Brasil.

Transpor essas barreiras e colocar em prática técnicas minimamente invasivas é um desafio à maioria dos

jovens urologistas que iniciam a sua vida no mercado de trabalho.

Para falar mais sobre esse cenário, Dra. Marilia Buenosaires (TiSBU) e Dr. Diego Capibaribe (TiSBU) compar-

tilham suas impressões de conquistas após o término do Fellowship em laparoscopia e oncologia. Falam também so-

bre a influência e o impacto que o treinamento em cirurgia minimamente invasiva teve em sua adaptação ao mercado.

Do treinamento à vida real. Relatos reais do jovem urologista.

Page 7: CoRRElAÇÃo ENTRE o ESCoRE DE GlEASoNrecet.org.br/edicoes/2017/Ed2/vol4n2_2017.pdfdiferentes faces da prática médica, tenho a oportunidade de realizar atendimento privado fora do

FELLOWSHIP EM LAPAROSCOPIA | DO TREINAMENTO À VIDA REAL. RELATOS REAIS DO JOVEM UROLOGISTA

RE.CET

RE.CET | 5

Bruno Santos BenignoMembro titular da SBU

Membro da CETTitular do Núcleo de Urologia do Hospital

AC Camargo Câncer Center - SPMestre em Oncologia pela

Fundação Antonio Prudente – SPE-mail: [email protected]

Os principais desafios que encontrei operando em algumas cidades no interior do estado de São Paulo

foram semelhantes. A falta de material laparoscópico especí-fico como a óptica de zero grau para cirurgia pélvica, as pin-ças de apreensão adequadas, a falta de bons porta-agulhas e os aspiradores foram os primeiros e os mais difíceis obstácu-los para serem superados no início. Muitas vezes foi preciso comprar do próprio bolso ma-teriais caros necessários para que as cirurgias, como prostatec-tomia e nefrectomia parcial, fossem realizadas com segurança. O segundo obstáculo foi melhorar o entrosa-mento da equipe cirúrgica. A falta de instrumentadores(as) treinados(as) em cirurgias laparoscópicas complexas e a pouca experiência dos auxiliares tornavam as cirurgias mais desafiadoras, quase impossíveis.

O material consignado descartável foi o terceiro obs-táculo. Planos de saúde pequenos, hospitais de baixo volume cirúrgico pouca familiaridades com procedimentos laparoscó-picos tornavam a busca por materiais descartáveis uma aven-tura diária. Fio V-lok, bisturi ligasure, spacemaker, eram palavras ouvidas pela primeira vez na maioria dos hospitais nas em cidades menores. Nem tudo foi guerra. Apesar dos lamentos, ter o próprio material nos deixou mais independentes dos hospi-tais. As equipes auxiliares, apesar de serem pouco treinadas, tinham sempre uma vontade muito grande de aprender e fa-cilmente se surpreendiam com os benefícios da laparoscopia.

No fellowship aprendemos também a realizar os procedimentos com pouco material descartável de alto custo, quando operando no SUS, o que nos manteve sempre flexí-veis e resolutos. Com o tempo fomos conseguindo contatos de fornecedoras de equipamentos que hoje nos atendem mui-to bem e com presteza.

Apesar das turbulências, ao perceber a evolução das equipes auxiliares, os melhores resultados e numero cada vez maior de pacientes beneficiados com técnicas minimamente invasivas, percebo que o esforço todo valeu a pena.”

Dra. Marília Buenosaires (TiSBU)

Após a extensa formação em Urologia, contabilizan-do ao menos 11 anos desde a entrada no curso de

Medicina, perguntei-me por várias vezes se ainda “aguenta-ria” mais um ano puxado de Fellow.

Felizmente tive a felicidade de passar no concorrido Fellow de Oncologia e Laparoscopia do AC Camargo e não havia dúvidas de que deveria cursar o mesmo. Sabia que sai-ria com uma formação de excelência, mas ainda assim me surpreendi positivamente. Além da segurança técnica e teórica que obtive em cirur-gias laparoscópicas avançadas, muitas oportunidades se abriram para mim, como poder ter sido integrada a serviços de referência na minha cidade de origem (Teresina - PI) após meu retorno. É claro que também vivi algumas difi culdades tais como: ausência de alguns materiais permanentes e descartá-veis a que estava acostumada, assim como também uma equi-pe de instrumentadores(as) já treinados(as) especifi camente em laparoscopia. Em pouco tempo fui me adaptando às dificuldades. Investi em alguns materiais próprios, treinamento da equipe auxiliar da forma que julgava melhor e desenvolvi alternativas para suprir a ausência de materiais descartáveis muitas vezes não autorizados pelos convênios.

Mas se havia alguma dúvida da importância do Fellow para o meu crescimento profissional antes de entrar no mesmo, hoje não existem mais. Foi extenuante, mas ao mesmo tempo muito gratificante. Não tenho dúvida de que realmente facilitou minha entrada no mercado de trabalho.”

Dr. Diego Capibaribe (TiSBU)

Page 8: CoRRElAÇÃo ENTRE o ESCoRE DE GlEASoNrecet.org.br/edicoes/2017/Ed2/vol4n2_2017.pdfdiferentes faces da prática médica, tenho a oportunidade de realizar atendimento privado fora do

COMO ORGANIZARMEU CONSULTÓRIO?

Vol. 4 (2): 6-10 | 2017REVISTA ELETRÔNICA DA COMISSÃO DE ENSINO E TREINAMENTO DA SBU COMO ORGANIZAR

MEU CONSULTÓRIO?

6

avanço das mídias sociais na vida das pes-soas é um fenômeno inegável. Facebook, Twitter, LinkedIn, WhatsApp entre outras, entraram no cotidiano das pessoas. O al-

cance de uma informação, de uma foto ou de um comentário são globais e instantâneos. Dominar o uso adequado das mídias sociais com o objetivo de informar e atualizar às pessoas dentro de preceitos éticos e morais pode ser um enorme desafio. Um comentário mal interpretado numa rede

O

por Rodrigo Krebs

Como está o seu

mídias sociais?relacionamento com as

social pode arranhar por completo sua reputação, ou até mesmo o levá-lo a um processo ético e disciplinar ou judi-cial. Por outro lado, saber manejar as redes sociais poderá ajuda-lo na divulgação do seu trabalho, ampliar seu “net-working” e por fi m orientar os pacientes.

Cada rede social tem um perfil específico de uso e com isso, nichos de usuários. Conhecê-los pode-rá ajudá-lo a direcionar um foco mais específico, seja na divulgação do que você faz ou na ampliação dos horizontes do seu consultório.

o Brasil e as redes sociais

Quando o assunto é redes sociais, o Brasil não se é de subestimar. Segundo dados da pesquisa de 2015, na Digital Future in Focus, o brasileiro passa cerca de 650 horas por mês nas redes sociais. Para se ter uma ideia, isso é quase 60% a mais que a média mundial. As redes sociais são mais acessadas do que o próprio Google ou outros sites de notícias.

Dados do site statista.com, os números impressionam. Estima-se que mais de 100 milhões de brasileiros tenham conta em alguma rede social hoje. Veja no gráfico-1 os números em milhões de usuários e sua projeção para os próximos anos. E ainda, uma pesquisa da PewResearch mostrou que, no Brasil, cerca de 58% dos usuários ativos da internet utilizam as redes sociais para pesquisar informações sobre sua saúde.

Page 9: CoRRElAÇÃo ENTRE o ESCoRE DE GlEASoNrecet.org.br/edicoes/2017/Ed2/vol4n2_2017.pdfdiferentes faces da prática médica, tenho a oportunidade de realizar atendimento privado fora do

COMO ESTÁ O SEU RELACIONAMENTO COM AS MÍDIAS SOCIAIS?

RE.CET

RE.CET | 7

oS uroloGIStAS E AS rEdES SoCIAIS

Não se dispõem de dados sobre a utilização de redes sociais entre os urologistas brasileiros até o momento. Mas, dados publicados em outros países já podem dar uma dimensão. Um exemplo vem da Sociedade Australiana e Neozeolandeza de Urologia que publicou um senso em 2015. Ao todo foram avaliados 705 urologistas deste dois países e os resultados mostraram que o LinkedIn é a rede mais utilizada com 51,3% da amostra tendo uma conta ativa nesta rede. Seguido pelo Twitter com 33,3% e Facebook (conta privada) 30,1%. Cerca da metade (49,8%) possui as contas privada e pública separadas. (Davies et al., 2015). Em 2014, o British Journal of Urology International publicou um estudo em que foram radomizados aletatoriamente 2000 urologistas e 2047 residentes e realizado um senso sobre o uso de mídias sociais. Neste estudo se observou que os urologistas com menos de 40 anos acham que o uso de mídias sociais é muito importante, frente a 56% dos urologistas com mais de 40 anos. Os dados também mostraram que o Facebook era a mídia mais utilizada em contas privadas, seguida pelo LinkedIn e Twitter. (Loeb, 2015) Veja no gráfi co-2 com os percentuais.

Facebook

O Facebook é atualmente a maior rede social do Brasil. Com cerca de 86 milhões de usuários e com uma expectativa

Gráfico 1. Numero de usuários mídias sociais no Brasil (em milhões)

de franco crescimento para os próximos anos, a rede de Mark Zuckerberg é uma fonte de grande projeção e visibilidade. Voltando aos números, a rede social americana alcança 78% dos usuários de internet no país, sendo que, aproximadamente 65% de todos os acessos feitos no Brasil são realizados no Facebook, isso ultrapassa o número de acessos diários ao Google no país. Veja no gráfi co-3 as projeções para número de usuários nos próximos anos para o Facebook.

Comparando os dois gráficos, com os números de usuários de redes sociais e com os números de usuários do Facebook, é possível ter uma ideia da dimensão das oportunidades possíveis.

Mas, para que você possa aproveitar as oportunidades do Facebook, será importante montar algumas estratégias para que a sua imagem não fi que desgastada ou associada negativamente na rede. Vamos então a algumas delas.

Separe sua conta privada de sua conta de médico. Pode parecer até meio óbvio, mas muitos médicos vinculam a divulgação do seu trabalho a sua conta privada e isso pode levar ao pior dos dois mundos. Os vínculos particulares como os antigos colegas de escola, os amigos de academia ou os parceiros do futebol de fi nal de semana criaram laços de amizade provavelmente pelas características pessoais, pela personalidade. Muitos não estar interessados no teu trabalho, assim como você pode não estar interessado no trabalho deles. Usar a “timeline” para divulgar assuntos do trabalho pode gerar uma sensação de arrogância e,

Fonte: statista.com

Adaptado de Loeb. (Loeb, 2015)

Fonte: statista.com

Page 10: CoRRElAÇÃo ENTRE o ESCoRE DE GlEASoNrecet.org.br/edicoes/2017/Ed2/vol4n2_2017.pdfdiferentes faces da prática médica, tenho a oportunidade de realizar atendimento privado fora do

COMO ESTÁ O SEU RELACIONAMENTO COM AS MÍDIAS SOCIAIS?

RE.CET

RE.CET | 8

Gráfico 3. Número de usuários do Facebook no Brasil(em milhões)

Gráfico 2

Adaptado de Loeb. (Loeb, 2015)

Fonte: statista.com

Adaptado de Loeb. (Loeb, 2015)

Fonte: statista.com

Adaptado de Loeb. (Loeb, 2015)

Fonte: statista.com

Adaptado de Loeb. (Loeb, 2015)

Fonte: statista.com

Adaptado de Loeb. (Loeb, 2015)

até mesmo arruinar os laços de amizade. Por outro lado, usar a conta privada para divulgar assuntos para os pacientes, fará com que sejam vinculados ao contexto particular. Com isso, muitos pacientes, mesmo os esporádicos, começam a ter acesso à intimidade das relações privadas. Conhecem os fi lhos, a escola onde estudam, as fotos das últimas férias ou o restaurante em que jantou no último fi nal de semana. Muito embora isto possa ser interessante de divulgar na sua linha

do tempo, permitir o acesso de pacientes pode em algumas situações quebrar a linha que separa sua pessoa do médico que você é. Um comentário de um paciente, mesmo que de forma despretensiosa, pode soar uma invasão da sua privacidade. A consequência pode ser a exclusão desta pessoa dos seus vínculos de amizade na rede social, o que pode criar uma situação constrangedora.

Outra grande vantagem de separar a conta privada e da profi ssional é que o Facebook oferece um maior número de ferramentas para a divulgação da página de prestadores de serviços, empresas ou clínicas. Estas ferramentas estão vinculadas aos serviços de buscas e por isso aumentam signifi cativamente as chances de maior visibilidade na internet. Além disso, as pessoas podem assimilar uma percepção de maior profi ssionalismo, contribuindo positivamente para a imagem do profi ssional.

Por fim, lembre que “sua reputa-ção muitas vezes chega antes de você aos lugares”. Desta forma, mesmo sua conta privada, utilize-a com bom senso. É acon-selhável que você evite postagens com ma-nifestações políticas, fotos pessoais muito íntimas, exposição de seus filhos menores de idade ou autopromoção.

twitter

Embora, comparativamente ao Facebook, os números do Twitter no Brasil são muito menores e girem ao redor de 18 milhões de usuários, seu alcance global é muito maior. Com cerca de 319 milhões de usuários no mundo, o Twitter tem ganho destaque pela agilidade no compartilhamento de informações. Atualmente, ele tem ganho destaque na Urologia, principalmente durante os congressos internacionais. No Congresso da AUA, EAU, SIU, Endourological Society é possível acompanhar os principais destaques do congresso pelo Twitter. De forma ágil e rápida, pequenas mensagens informam aos usuários sobre as últimas notícias do

Page 11: CoRRElAÇÃo ENTRE o ESCoRE DE GlEASoNrecet.org.br/edicoes/2017/Ed2/vol4n2_2017.pdfdiferentes faces da prática médica, tenho a oportunidade de realizar atendimento privado fora do

COMO ESTÁ O SEU RELACIONAMENTO COM AS MÍDIAS SOCIAIS?

RE.CET

RE.CET | 9

redes sociais. Muitas pessoas consideram esta ferramenta útil principalmente para quem não dispõe de tempo para manter um blog constantemente atualizado. E estes compartilhamentos acabam por fi m aumentando usa rede de pessoas, dando maior visibilidade aos seus serviços e ideias. Já os grupos de discussão, frequentemente são fechados aos profi ssionais de cada área. Neste espaço é permitido o compartilhamento de notícias, artigos, viabilizando a aproximação entre colegas de profi ssão.

WhatsApp

É uma plataforma utilizada por quase 90% dos médicos brasileiros (Cello Health Insight) para manter contato com os pa-cientes. Embora amplamente presente no dia-a-dia do médico, algumas regras devem ser seguidas e também as normativas elaboradas pelo Conselho Federal de Medicina devem ser co-

nhecidas, como será mais explicado no fi nal deste texto. Uma regra é básica: não se deve realizar consulta pelo WhatsApp pois ele não substitui uma consulta presencial.

Os pontos positivos dessa plata-forma são que pequenas dúvidas podem ser sanadas rapidamente e pequenas orien-tações a cerca de um tratamento proposto podem ser feitas. Outro ponto a favor é que através do WhatApp o médico pode entrar em contato com o paciente após um con-sulta ou cirurgia e obter um “feedback” do paciente, o que pode ser visto como uma forma de atenção extra ao paciente.

Aconselha-se que se há a dis-ponibilização do WhatsApp aos pacientes, alguns esclarecimentos devem ser dados previamente. Defi na os horários em que as mensagens podem ser enviadas e em que situações serão respondidas. É muito impor-

tante orientar o paciente que se o mesmo está tendo um proble-ma de saúde, o mesmo deve se dirigir a um pronto socorro ou unidade de referência

E o CoNSElHo FEdErAl dE MEdICINA

Em 2011, o CFM publicou o Manual de Publicidade Médica: Resolução CFM 1974/11. Este manual se encontra disponível para download e no item 4 no Anexo I estão os cri-térios específicos para a publicidade e para a propaganda em TV, rádio e internet. No item 3 no Anexo III estão os modelos

congresso, permitindo a interação inclusive com os experts que comentam os “tweets”.

Na Urologia, o Twitter tem sido uma ferramenta importante de interação entre os urologista. (Sternberg et al., 2017) Com uma forma mais intimista que o seu irmão maior Facebook, o Twitter tem permitido uma troca de informações e divulgação de eventos, dados e eventualmente casos devido a sua característica mais voltada a determinados nichos. O número de médicos aderindo a rede de Jack Dorsey (um de seus criadores e atual CEO) é crescente em várias especialidades além da urologia, como cardiologia e oncologia clínica. (Gouda et al., 2017) Um pouco diferente do Facebook, aconselha-se que no Twitter seu nome de usuário esteja mais ligado com sua atividade, como por exemplo: “dr_jose_uro” ou “dr_luiz_onco” por exemplo. Isto parece melhorar sua credibilidade e tanto para “seguir” um usuário quando para “ser seguido” (Gráfi co-4).

linkedIn

O LinkedIn é a segunda rede social mais utilizada pelo urologista. Para os profi ssionais de saúde, a rede de Santa Mônica na Califórnia tem dois grandes atrativos: a criação de grupos de discussão e uma ferramenta para publicação de artigos. Esta última permite que os textos escritos sejam publicados e compartilhados.Além de poderem ser vistos no próprio LinkedIn, eles podem ser disponibilizados em outras

Fonte: statista.com

Fonte: statista.com

Número de usuários do Twitter (Brasil X Mundo) (em milhões)

Fonte: statista.com

Fonte: statista.com

Número de usuários do Twitter (Brasil X Mundo) (em milhões)

Gráfico 4. Número de usuários do twitter (Brasil X Mundo)(em milhões)

Fonte: statista.com

Fonte: statista.com

Número de usuários do Twitter (Brasil X Mundo) (em milhões)

Page 12: CoRRElAÇÃo ENTRE o ESCoRE DE GlEASoNrecet.org.br/edicoes/2017/Ed2/vol4n2_2017.pdfdiferentes faces da prática médica, tenho a oportunidade de realizar atendimento privado fora do

COMO ESTÁ O SEU RELACIONAMENTO COM AS MÍDIAS SOCIAIS?

RE.CET

RE.CET | 10

de anúncios na internet com as regras incorporadas. É importante que estas regras sejam consultadas,

pois as mesmas poderão orientar para uma conduta apropria-da ao uso das mídias sociais.

Por fim, utilizar as redes sócias têm se tornado um

REDES PRÓS CONTRAS

Facebook Grande abrangência

Diferencia contas privadas e médicas

Superexposição

Exposição maior da intimidade

Twitter Divulgação de artigos e textos

Amplo uso pela AUA, EAU, Endourological Society

Número limitado de caracteres por mensagem, apenas 140

LinkedIn Publicação de artigos

Criação de fóruns

WhatsApp Permite dar atenção direta ao paciente

Rápido “feedback”

Necessidade de impor regras de uso por parte dos pacientes.

Orientar que a não resposta a uma mensagem não deve atrasar uma

procura à emergência em casos de agravamento do estado de saúde

hábito crescente. Sua facilidade de acesso, as múltiplas pla-taformas e os meios de interação vieram para ficar. Cabe ao médico o uso destas ferramentas de forma sábia, divulgando seu trabalho e serviços, mas preservando a ética e principal-mente promovendo o bem-estar dos pacientes.

rodrigo Ketzer KrebsProfessor Urologia da UFPR

Membro titular da SBU

• Ebook – Redes Sociais para médicos e profissionais de saúde. Disponível para download em http://blog.iclinic.com.br/redes-sociais-para-medicos-e-profissionais-da--saude/

• https://www.statista.com/statistics/278408/number-of--social-network-users-in-brazil/

• https://www.statista.com/statistics/244936/number-of--facebook-users-in-brazil/

• https://www.statista.com/statistics/558311/number-of--twitter-users-in-brazil/

• https://getreferralmd.com/2013/09/healthcare-social--media-statistics/

• DAVIES, N. et al. Online and Social Media Presence of Aus-tralian and New Zealand Urologists. BJU Int, v. 116, n. 6, p. 984-989, 2015.

• GOUDA, P. et al. The Impact and Implications of Twitter for Cardiovascular Medicine. J Card Fail, v. 23, n. 3, p. 266-267, 2017.

• LOEB, S. Social Media Makes Global Urology Meetings Truly Global.: The Influence of Twitter. BJU Int, v. 115, n. 2, p. 175, 2015.

• STERNBERG, K. M. et al. The Use of Twitter to Facilitate Sharing of Clinical Expertise in Urology. J Am Med Inform Assoc, v. n. p. 2017.

rEFErÊNCIAS

Page 13: CoRRElAÇÃo ENTRE o ESCoRE DE GlEASoNrecet.org.br/edicoes/2017/Ed2/vol4n2_2017.pdfdiferentes faces da prática médica, tenho a oportunidade de realizar atendimento privado fora do

Comofunciona

a CET

Comofunciona

a CET

11

Vol. 4 (2): 11-11 | 2017REVISTA ELETRÔNICA DA COMISSÃO DE ENSINO E TREINAMENTO DA SBU

CETComo funciona

por Nancy Denicol

Nancy denicolMédica urologista, Hospital de Clínicas de Porto AlegreResponsável pela Área Cirúrgica do Transplante Renal no Hospital de Clínicas e no Hospital Mãe de DeusComponente da Comissão de Ensino e Treinamento da SBUTesoureira da SBU Seccional RS, Membro da Câmera Técnica de Urologia do CREMERS

instrumento básico para avaliar um serviço durante a visita é o check list, o qual foi elaborado e é alterado conforme as atualizações na urologia. Sua criação foi baseada nos dados dos serviços junto a Comissão Nacional de Residência Médica e acrescido de necessidades específi cas da nossa especialidade. Nele

constam critérios que são exigência, ou seja, sua ausência é excludente. Alguns devem existir no hospital do serviço e outros podem ser fora desse local de residência. E outros critérios que são necessários mas não excludentes.

Na reunião semestral da CET todos os dados referentes ao staff são relatados pelos visitadores, materiais, programa de ensino, reuniões multidisciplinares , produtividade científi ca e cirúrgica. Após essa apresentação e discussão há uma classifi cação da residência dentro de um escore que determina o conceito. Está em fi nalização uma reforma nessa classifi cação para melhorar sua especifi cidade e espelhar melhor o status do serviço.

Até o momento, os serviços são classifi cados como Pleno de 5 anos, Pleno de 3 anos, Condicional e Descredenciado.

Na situação de Condicional, será estipulado um tempo em que se considera possível corrigir as pendên-cias avaliadas. Esse período de tempo depende do tipo de pendência e seu impacto na formação dos residentes. Em caso de descredenciamento, o serviço, quando tiverem corrigidos os problemas apresentados, deverá solicitar nova visita da CET.

a

Dando continuidade ao tema como funciona a CET vamos detalhar a avaliação dos serviços.

o

Page 14: CoRRElAÇÃo ENTRE o ESCoRE DE GlEASoNrecet.org.br/edicoes/2017/Ed2/vol4n2_2017.pdfdiferentes faces da prática médica, tenho a oportunidade de realizar atendimento privado fora do

Vol. 4 (2): 12-15 | 2016REVISTA ELETRÔNICA DA COMISSÃO DE ENSINO E TREINAMENTO DA SBU

12

ARTIGO de revisão

(1) Hospital Universitário Pedro Ernesto *, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Departamento de Urologia; (2) Professor Titular da Disciplina de urologia - Hospital Universitário Pedro Ernesto *, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

INtrodução

Vigilância Ativa (Active Surveillance) é o nome dado ao acompanhamento do paciente com diagnóstico de câncer de próstata (CaP) e que tem como objetivo evitar ou retardar tratamentos mais invasivos para casos de tumores de próstata classificados como de baixo risco (1).

O CaP é um enorme desafio mundial para a saúde do homem. As incidências norte-americana e européia são de, respectivamente, 85.6 e 59.3 casos por 100.000 (2).

Em virtude de uma grande parte desses pacientes terem uma evolução favorável da doença, muito se tem se es-tudado sobre outras formas de tratamento e de acompanhamento desses pacientes de forma que haja uma menor perda na qualidade de vida.

MAtErIAIS E MÉtodoS

Foi realizada uma pesquisa no PubMed utilizando as palavras-chave: Câncer de próstata e vigilância ativa.Os artigos de revisão e os de revisão sistemática foram selecionados e, dentre estes, foram relacionados os mais

relevantes que incluíam os principais estudos prospectivos realizados no mundo.

Paulo Roberto Salustiano de Carvalho (1)*, Arthur Sanchez (1), Rui Teófilo e Figueiredo Filho (1), Ronaldo Damião (2)

Revisão sobre vigilância ativa para câncer de próstata

Palavras chaves:

câncer de próstata, vigilância ativa

Artigo de revisão sobre a vigilância ativa para câncer de

próstata realizado com base na literatura médica existente

através da seleção dos estudos prospectivos mais relevantes

publicados no banco de dados do PubMed.

Resumo

Page 15: CoRRElAÇÃo ENTRE o ESCoRE DE GlEASoNrecet.org.br/edicoes/2017/Ed2/vol4n2_2017.pdfdiferentes faces da prática médica, tenho a oportunidade de realizar atendimento privado fora do

REVISÃO SOBRE VIGILÂNCIA ATIVA PARA CÂNCER DE PRÓSTATA

RE.CET

RE.CET | 13

rESultAdoS

Atualmente, com os programas de rastreamento, o CaP está sendo diagnosticado cada vez mais em fases ini-ciais da doença. Entretanto, a evolução da doença é variável. Enquanto para alguns pacientes o tumor apresenta cresci-mento rápido, para outros a sua evolução é bastante lenta, de forma que a doença progride muito pouco e o paciente quase não apresenta sintomas (1).

Quando se opta pelo tratamento curativo, deve-se lembrar dos efeitos colaterais que o mesmo pode acarretar; muitos estudos prospectivos e multicêntricos demonstram taxas significativas de disfunção sexual e urinária (3).

Embora hoje se entenda se que a neoplasia da próstata tenha uma evolução natural favorável na maioria das vezes, e que muitos desses tumores ameaçam pouco a expectativa de vida em de certos pacientes, a maioria desses homens com o diagnóstico de CaP são submetidos a formas agressivas de tratamento, apesar do risco.

Além disso, o uso excessivo do PSA no rastreamen-to da neoplasia, trouxe à tona uma nova questão: uma gran-de quantidade de diagnóstico de câncer - “overdiagnosis” e que leva a uma grande quantidade de pacientes submetidos a tratamentos invasivos - “overtreatment” (3).

Isto é, o risco de detecção de tumores latentes, que não evoluem para doença agressiva, aumentou significativa-mente e passamos a diagnosticar e tratar homens que não necessitariam de tratamento por apresentarem doença não letal. E, como já dito, as complicações advindas do tratamen-to invasivo podem afetar de forma significante a qualidade de vida desses homens (4).

Entre o tumor latente e o tumor clínico há uma gama de pacientes que, embora tenham a neoplasia diag-nosticada clinicamente, poderiam se beneficiar de apenas um seguimento ativo (Active Surveillance) que poderia ser definitivo ou postergar um tratamento curativo mais mórbido. Esses pacientes são portadores de tumores ditos “tumores insignificantes” ou “tumores mínimos” ou até mesmo “tumo-res indolentes” (4).

Os critérios mais utilizados nos estudos para sele-ção de pacientes para vigilância ativa são:

• PSA <10ng%• Tumor não palpável (T1c)• Gleason ≤3na biópsia (Gleason ≥4→critério de

exclusão).• Escala de Gleason ≤6.

• ≥2 biópsias de próstata; a biópsia deve ter no mínimo 6 fragmentos e nenhum dos frag-mentos pode haver comprometimento ≥50% por células neoplásicas, tamanho do câncer <3mm no fragmento da biópsia e o número de fragmentos positivos tem que ser menor que 3.

• Densidade do PSA ≤0.10ng/ml por grama

• observação: Alguns trabalhos utilizaram cri-térios ligeiramente diferentes, como:

• Densidade do PSA ≤0.15ng/ml por grama• Escala de Gleason até 7 (3+4)• Estágio clínico ≤T2a

Nas maiores séries, o número de pacientes com câncer de próstata que apresentaram todos os critérios para a vigilância ativa foi de aproximadamente 9% (2).

A taxa de sobrevida dos pacientes submetidos à vigilância ativa em 5 e 10 anos foram respectivamente de 99.7% e 97.2% (3).

A maioria dos estudos não utilizou a idade do pa-ciente como critério de inclusão ou exclusão. Contudo, há uma aceitação de que os pacientes mais idosos são bons candidatos ao “Active Surveillance” (3).

Embora alguns estudos apresentassem critérios de inclusão mais rígidos que outros, na estimativa geral de au-sência de recidiva bioquímica em 5 anos não houve diferença estatística entre os grupos (3).

Uma vez selecionado para a vigilância ativa, o pa-ciente deverá seguir um protocolo que inclui: PSA a cada 6 meses, toque retal a cada 6 meses, uma nova biópsia em um ano e outras biópsias a cada 3 anos (5).

Mas existem muitos outros protocolos de acompa-nhamento.

É de suma importância diferenciar o “Active Sur-veillance” do “Watchful Waiting”; neste último, o paciente só recebe tratamento após o início dos sintomas da doença (obstrução urinária, dores ósseas e etc.), com intenção pa-liativa. Na vigilância ativa o tratamento deverá ser instituído se houver progressão nos critérios estabelecidos. Portanto, o “Active Surveillance” tem como finalidade retardar um trata-mento curativo ou, não havendo progressão, evitar tratamen-tos desnecessários (1).

Na presença de alterações que sugiram que o tu-mor está em atividade, podendo crescer e causar sintomas, é recomendado o tratamento da doença. A intervenção nesses pacientes poderá ocorrer quando (3):

Page 16: CoRRElAÇÃo ENTRE o ESCoRE DE GlEASoNrecet.org.br/edicoes/2017/Ed2/vol4n2_2017.pdfdiferentes faces da prática médica, tenho a oportunidade de realizar atendimento privado fora do

REVISÃO SOBRE VIGILÂNCIA ATIVA PARA CÂNCER DE PRÓSTATA

RE.CET

RE.CET | 14

• PSA aumentar acima de 0.75ng/ano ou o tem-po de duplicação for inferior a 3 anos;

• Quando houver alteração no toque retal;• Quando a re-biópsia revelar progressão dos

critérios: Gleason >6≥3 fragmentos positivos, fragmento >50% de tumor ou presença de in-filtração perineural;

Vantagens da Vigilância Ativa (5):• Menor morbidade (maior vantagem em relação

aos tratamentos curativos)• Não interfere na atividade diária;• Pode retardar ou evitar os tratamentos mais

agressivos que podem prejudicar a qualidade de vida do paciente.

• Desvantagens (5):• Existe uma pequena chance de o tumor apre-

sentar um crescimento mais rápido do que o esperado e, dessa forma, dificultar um trata-mento posterior;

• Necessidade de acompanhamento e de exames periódicos; no caso, as re-biópsias, muitas ve-zes, não são bem aceitas pelo paciente;

• Nos casos em que o tumor apresenta cresci-mento e que, por isso, deve ser tratado, este tratamento pode ser mais difícil comparado

com o tratamento realizado no momento do diagnóstico em razão de o tumor ter crescido, o paciente ter envelhecido e, em muitas vezes, ter sido realizada múltiplas biópsias, acarretan-do maior tecido cicatricial no local;

• Ansiedade e preocupação: alguns homens tornam-se bastante ansiosos e preocupados com a possibilidade de mudança da atividade tumoral;

CoNCluSão

É provável que a vigilância ativa venha a ocupar mais espaço dentro das condutas para o câncer de prós-tata, principalmente quando tivermos melhores marcadores moleculares que possam predizer a evolução da doença (1).

Nos dias de hoje, a decisão sobre a forma de tra-tamento deve ser feita em conjunto com o paciente, após esclarecimento pelo médico dos riscos e dos potenciais benefícios de todas as condutas possíveis para o caso. Já em relação aos resultados, a taxa de mortalidade nas prin-cipais séries continua pequena, com pouca necessidade de intervenção nos primeiros anos. Mas, todas enfatizam que a seleção do paciente para a vigilância ativa deve ser precisa, senão resultados semelhantes não serão factíveis (2).

Page 17: CoRRElAÇÃo ENTRE o ESCoRE DE GlEASoNrecet.org.br/edicoes/2017/Ed2/vol4n2_2017.pdfdiferentes faces da prática médica, tenho a oportunidade de realizar atendimento privado fora do

REVISÃO SOBRE VIGILÂNCIA ATIVA PARA CÂNCER DE PRÓSTATA

RE.CET

RE.CET | 15

1. Heidenreich A, Bellmunt J, Bolla M, Joniau S, Mason M,

Matveev V, et al. EAU guidelines on prostate cancer. Part 1:

screening, diagnosis, and treatment of clinically localised

disease. Eur Urol. 2011;59:61-71.

2. Center MM, Jemal A, Lortet-Tieulent J, Ward E, Ferlay J,

Brawley O, et al. International variation in prostate cancer

incidence and mortality rates. Eur Urol. 2012;61:1079-92.

3. Huang GJ, Sadetsky N, Penson DF. Health related quality

of life for men treated for localized prostate cancer with

long-term followup. J Urol. 2010;183:2206-12.

rEFErÊNCIAS

Autor CorrESPoNdENtE:

Paulo Roberto Salustiano de Carvalho, MDHospital Universitário Pedro Ernesto,

Dpto de Urologia Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Avenida 28 de Setembro nº 77 / 5º andar

Vila Isabel, Rio de Janeiro, RJTel.: + 55 (21) 2868-8135

CEP: 20551-030E-mail: [email protected]

4. Mohler J, Bahnson RR, Boston B, Busby JE, D’Amico A, Eastham

JA, et al. NCCN clinical practice guidelines in oncology:

prostate cancer. J Natl Compr Canc Netw. 2010;8:162-200.

5. Thompson I, Thrasher JB, Aus G, Burnett AL, Canby-

Hagino ED, Cookson MS, et al. AUA Prostate Cancer

Clinical Guideline Update Panel. Guideline for the

management of clinically localized prostate cancer:

2007update. J Urol. 2007;177:2106-31.

Page 18: CoRRElAÇÃo ENTRE o ESCoRE DE GlEASoNrecet.org.br/edicoes/2017/Ed2/vol4n2_2017.pdfdiferentes faces da prática médica, tenho a oportunidade de realizar atendimento privado fora do

ARTIGO ORIGINAL

16

Vol. 4 (2): 16-22 | 2016REVISTA ELETRÔNICA DA COMISSÃO DE ENSINO E TREINAMENTO DA SBU

(1) Hospital Nossa Senhora das Graças, Curitiba – PR; (2) Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba – PR

Correlação entre o Escore de Gleason e margens cirúrgicas comprometidas em pacientes submetidos à prostatectomia radical retropúbicaFernando Meyer (1); José Maurício Frehse (1); Vinicius Bruce Souza (1); Pâmella Rafaella Chimiloski Beltrame (2); Luis Felipe Costa (2)

INTRODuçãO: Os tumores de próstata apresentam padrões

estruturais variados e características citológicas próprias.

Para a avaliação desses foi criado o Sistema de Gleason, que

informa sobre a provável taxa de crescimento e disseminação

tumoral. Além disso, o estadiamento do câncer prostático leva

em consideração fatores prognósticos, como a dosagem do

PSA pós-operatório, a determinação do escore de Gleason e a

avaliação do comprometimento de margens cirúrgicas, pois são preditores de recidiva tumoral.

ObJETIvO: O presente estudo objetiva estabelecer a relação entre o escore de Gleason e margens cirúrgicas

comprometidas em pacientes submetidos à prostatectomia radical.

mÉTODOs: Estudo observacional retrospectivo da análise de 656 laudos anatomopatológicos de pacientes do

Hospital Nossa Senhora das Graças de Curitiba, admitidos entre 2005 e 2015, diagnosticados com adenocar-

cinoma prostático. As variáveis foram: idade, valor do escore de Gleason, comprometimento extracapsular,

margens cirúrgicas, vesícula seminal e linfonodos.

REsulTaDOs: 615 prontuários foram analisados. A idade média foi de 67,04 anos e a presença de invasão

da cápsula prostática em relação ao escore de Gleason ficou assim distribuída: Gleason 6 (31,8%), Gleason 7

(3+4) (50%), Gleason 7 (4+3) (60,3%), Gleason 8 (67,3%) e Gleason 9 (82,8%). Com relação às margens com-

prometidas houve um aumento de 24,3% para 65,5% do Gleason 6 ao Gleason 9, para o comprometimento da

cápsula houve variação de 31,8% a 82,8% (p<0,05).

CONClusãO: Constatou-se que quanto maior o valor obtido do escore de Gleason maior é a probabilidade de

acometimento de margens cirúrgicas, invasão extracapsular e/ou comprometimento da vesícula seminal.

Palavras chaves:

câncer de próstata, adenocarcinoma, prostatectomia radical, margens cirúrgicas

Resumo

Page 19: CoRRElAÇÃo ENTRE o ESCoRE DE GlEASoNrecet.org.br/edicoes/2017/Ed2/vol4n2_2017.pdfdiferentes faces da prática médica, tenho a oportunidade de realizar atendimento privado fora do

CORRELAÇÃO ENTRE O ESCORE DE GLEASON E MARGENS CIRÚRGICAS COMPROMETIDAS EM PACIENTES SUBMETIDOS À PROSTATECTOMIA RADICAL RETROPÚBICA

RE.CET | 17

Considerando que os tumores de próstata apresen-tam padrões estruturais variados e características citológicas próprias, foram criados alguns sistemas de graduação, onde o mais utilizado é o Sistema de Gleason. Esse tem como base a diferenciação glandular e o padrão de crescimento em re-lação ao estroma, sendo obtido por meio do estudo anatomo-patológico da biópsia prostática. Funciona baseando-se numa graduação crescente de indiferenciação do adenocarcinoma prostático (variando entre 2 e 10). O escore é definido por meio de dois padrões: o Gleason primário representa o padrão glandular mais observado no tumor (deve ser maior que 50% do padrão total observado); o Gleason secundário está relacio-nado com a minoria do tumor (deve ser menos que 50%, mas no mínimo 5% do padrão total do câncer observado). Esses escores são então somados para obter o escore final de Glea-son.(1) A definição desse escore irá informar sobre a provável taxa de crescimento do tumor e sua tendência à dissemina-ção, além de ajudar na determinação do melhor tratamento para o paciente.

No ano de 2014 a International Society of Urological Pathology (ISUP) desenvolveu um consenso baseado no escore de Gleason (EG) a fim de aprimorar tal classificação, devido a deficiências implícitas ao mesmo. A nova classificação da ISUP proporcionou uma estratificação dos tumores com mais acurácia, simplificou o número de categorias para no máximo 5 (categoria 1, EG 3+3; categoria 2, EG 3+4; categoria 3, EG 4+3; categoria 4, EG 8; categoria 5, EG 9 – 10) e tornou a menor categoria como número 1 e não 6, tendo assim uma menor chance de sobretratamento para tumores indolentes. Esta nova classificação já foi aceita pela Organização Mundial da Saúde em 2016 e deverá ser utilizada em conjunto com o escore de gleason.(2)(3) Estudos recentes demonstram uma superioridade da nova classificação da ISUP de 2014 em re-lação ao MGS (modified Gleason system) de 2005 quanto a previsão de desfecho clínico.(4)

A determinação do estadiamento do câncer de prós-tata não ocorre somente por meio de exame clínico, salienta--se que é de suma importância avaliar os fatores prognósti-cos, como a dosagem do PSA pós-operatório, a determinação do escore de Gleason e a avaliação do comprometimento de margens cirúrgicas, pois esses são preditores de recidiva tu-moral.(5)

Assim o objetivo deste estudo é identificar a correla-ção do escore de Gleason com margens cirúrgicas comprome-

tidas (margens, extracapsular, vesícula seminal e linfonodos) de pacientes atendidos em um hospital particular da cidade de Curitiba – PR.

MAtErIAIS E MÉtodoS

Estudo retrospectivo realizado no período de abril de 2015 a maio de 2016, analisando o laudo anatomopatológico de 656 pacientes com diagnóstico prévio de adenocarcinoma prostático submetidos à prostatectomia radical, no Hospital Nossa Senhora das Graças de Curitiba.

Foram inclusos no estudo pacientes com diagnóstico de adenocarcinoma de próstata localizado e localmente avan-çado confirmados por biópsia transretal guiada por ultrasso-nografia e submetidos à prostatectomia radical, no período de janeiro de 2005 a novembro de 2015.

Visto que alguns dos pacientes obtiveram o laudo anatomopatológico com escore de Gleason 5, hiperplasia prostática benigna ou prostatite crônica, os mesmos foram excluídos da análise por não se enquadrarem na população pesquisada. Especificamente, o escore de Gleason 5 foi des-cartado pela justificativa de que quando o escore de Gleason primário ou secundário for igual a 2, esse não representa um tecido cancerígeno e sim uma proliferação atípica. Já o esco-re de Gleason 10 foi excluído da análise devido a sua baixa incidência na amostra. Além desses critérios para exclusão, também foram desconsiderados os pacientes que foram sub-metidos a tratamento prévio para câncer prostático. Dessa forma, foram analisados os laudos de 615 pacientes.

Através da análise dos laudos do anatomopatológico da peça cirúrgica coletou-se os seguintes dados: idade, data do procedimento, Gleason da amostra, e a identificação do comprometimento de margens, extracapsular, vesícula semi-nal e linfonodos.

Vale ressaltar que não houve entrevista direta com os pacientes, prezando o anonimato e a confidencialidade das informações coletadas.

Para o armazenamento dos dados foi utilizado o programa Microsoft Excel e posterior análise pelo programa computacional Statistical Package for Social Science (SPSS) versão 23.0, através do teste de Qui-quadrado de Pearson buscando uma significância assintótica quando comparados escores de Gleason com comprometimento extracapsular, margens cirúrgicas e vesícula seminal. Valores de p<0,05 fo-ram considerados significativos.

Este estudo foi conduzido de acordo com os preceitos éticos determinados pelo conselho Nacional de Saúde do Minis-

INtrodução

Page 20: CoRRElAÇÃo ENTRE o ESCoRE DE GlEASoNrecet.org.br/edicoes/2017/Ed2/vol4n2_2017.pdfdiferentes faces da prática médica, tenho a oportunidade de realizar atendimento privado fora do

CORRELAÇÃO ENTRE O ESCORE DE GLEASON E MARGENS CIRÚRGICAS COMPROMETIDAS EM PACIENTES SUBMETIDOS À PROSTATECTOMIA RADICAL RETROPÚBICA

RE.CET | 18

tério da Saúde. O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, sendo aprovado pelo CAAE: 53434616.5.0000.0020, com parecer n° 1.444.777.

rESultAdoS

Dentre os pacientes analisados houve uma variação de idade dos 34 aos 94 anos, com uma média de 67,04 anos (desvio padrão 8,8 anos). A distribuição do escore de Gleason nessa amostra ficou determinada de acordo com as diferentes classificações: Gleason 6 (43,4%), Gleason 7(3+4) (33,5%), Gleason 7(4+3) (9,4%), Gleason 8 (8,9%) e Gleason 9 (4,7%), conforme apresenta a tabela-1.

Os resultados encontrados em relação ao compro-metimento de margens cirúrgicas, invasão extracapsular e comprometimento de vesícula seminal distribuídos pelo es-core de Gleason estão demonstrados na tabela-2. Um total de 209 dos 615 laudos analisados tiveram comprometimento de margens cirúrgicas, dando relevância aos casos encontrados distribuídos pelo escore de Gleason. Para aqueles com escore 6 houve o comprometimento em 24,3% dos casos, já para os pacientes com escore 9 o número se mostrou maior, totalizan-do 65,5%. Estes resultados estão demonstrados na figura-1. A invasão extracapsular mostrou um mesmo comportamento, com a sua incidência chegando a um total de 82,8% dos ca-sos nos pacientes com Gleason 9, como pode ser verificado

na figura-2. Já para o acometimento de vesícula seminal, de-vido ao menor número amostral, houve uma diminuição de incidência nos pacientes com Gleason 9, porém o número de casos aumentou de maneira significativa quando comparados entre os escores 6, 7 (3+4), 7 (4+3) e 8, conforme demonstra a figura-3.

De maneira geral, as margens mostraram-se com-prometidas em 34% da amostra total, o acometimento extra-capsular em 46,2% e o comprometimento da vesícula seminal em 5,5%.

Dentre as análises realizadas foi encontrada uma di-ferença significativa (p <0,05) comparando comprometimen-to extracapsular, margens cirúrgicas e a invasão de vesícula seminal entre os valores de Gleason da patologia, mostrando que, quanto maior o Gleason maior a incidência de acometi-mento destas estruturas, como mostra a tabela 02.

dISCuSSão Há mais de 40 anos, desde o desenvolvimento da

gradação histológica de Gleason, vários foram os avanços no diagnóstico precoce, estadiamento e prognóstico do câncer de próstata, sendo que o escore de Gleason permanece como um dos mais importantes dados para estes fins. Quanto mais indiferenciado o tumor, mais agressivo o seu comportamento biológico.(6) Por essa razão, dada a sua inestimável utilidade no prognóstico do câncer de próstata, o escore de Gleason deve ser um procedimento diagnóstico com alta acurácia.(7)

Nos resultados obtidos a média de idade dos pacien-tes foi de 67,04 anos, sendo que dos 615 pacientes apenas 11 foram submetidos à prostatectomia radical antes dos 50 anos. A média de idade encontrada no presente estudo se mostrou maior do que no trabalho realizado por Gupta et al. e Cambruzzi et al. (62,8 anos e 63,86 anos respectivamente), sendo justificada devido à menor amostragem dos estudos ci-tados. Cambruzzi e colaboradores também constataram um pequeno número de pacientes prostatectomizados com menos de 50 anos.(8)(6)

Diversos estudos buscam definir os fatores prognós-ticos que seriam capazes de estabelecer o tempo de sobrevida livre de doença e/ou prognóstico em casos de adenocarcinoma de próstata. Alguns desses estudos relatam que o prognóstico dos pacientes está associado a parâmetros histopatológicos, incluindo a avaliação do comprometimento das margens cirúr-gicas, da invasão extracapsular e também do acometimento de vesícula seminal.(5,9–11)

tabela 1. descrição do escore de Gleason na amostra da pesquisa

Escore de Gleason n %

6 267 43,27

7(3+4) 206 33,39

7(4+3) 58 9,40

8 55 8,91

9 29 4,70

Total 615 100%

Page 21: CoRRElAÇÃo ENTRE o ESCoRE DE GlEASoNrecet.org.br/edicoes/2017/Ed2/vol4n2_2017.pdfdiferentes faces da prática médica, tenho a oportunidade de realizar atendimento privado fora do

CORRELAÇÃO ENTRE O ESCORE DE GLEASON E MARGENS CIRÚRGICAS COMPROMETIDAS EM PACIENTES SUBMETIDOS À PROSTATECTOMIA RADICAL RETROPÚBICA

RE.CET | 19

tabela 2. Comparação do Comprometimento de Margens, Extracapsular e Vesícula Seminal de acordo com o escore de Gleason

Comprometimento

Escore de Gleason

Valor de p

6 7 (3+4) 7 (4+3) 8 9

n % n % n % n % n %

Margens

Positivo 65 24,30# 72 35,00# 24 41,40# 29 52,70# 19 65,50#

<0,05

Negativo 202 75,70 134 65,00 34 58,60 26 47,30 10 34,50

Extracapsular

Positivo 85 31,80# 103 50,00# 35 60,30# 37 67,30# 24 82,80#

<0,05

Negativo 182 68,20 103 50,00 23 39,70 18 32,70 5 17,20

VVSS

Positivo 2 0,70# 6 2,90# 5 8,60# 16 29,10# 5 17,20#

<0,05

Negativo 265 99,30 200 97,10 53 91,40 39 70,10 24 82,80

Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Teste do Qui-quadrado# Valores em % que demonstram o aumento da incidência da variável analisada de acordo com o escore de Gleason.

Figura 1. Porcentagem de comprometimento de margens cirúrgicas distribuído pelo escore de Gleason.

Page 22: CoRRElAÇÃo ENTRE o ESCoRE DE GlEASoNrecet.org.br/edicoes/2017/Ed2/vol4n2_2017.pdfdiferentes faces da prática médica, tenho a oportunidade de realizar atendimento privado fora do

CORRELAÇÃO ENTRE O ESCORE DE GLEASON E MARGENS CIRÚRGICAS COMPROMETIDAS EM PACIENTES SUBMETIDOS À PROSTATECTOMIA RADICAL RETROPÚBICA

RE.CET | 20

Figura 2. Porcentagem de comprometimento extracapsular distribuído pelo escore de Gleason.

Figura 3. Porcentagem de comprometimento de vesícula seminal distribuído pelo escore de Gleason.

Quando analisada a distribuição do escore de Glea-son na amostra, este estudo encontrou resultados semelhan-tes a Kweldam et al. Em ambos os estudos houve o predomínio de pacientes com escore de Gleason 6 e 7(3+4), somando 76,9% no presente estudo e 81% para Kweldam et al., res-tando, respectivamente, 9,4% contra 9% para o escore de Gleason 7(4+3) e 13,93% versus 11% para os escores de 8 a 10.(12)

. Estudos prévios revelaram uma associação estatís-tica significativa entre o escore de Gleason e lateralidade, e invasão capsular(6). Da mesma forma, o presente estudo evi-denciou um aumento gradativo do acometimento das margens cirúrgicas à medida que o escore de Gleason progredia, bem como do comprometimento da invasão extracapsular, tendo para essas análises um valor estatisticamente significativo.

Oderda e colaboradores também constataram um aumento de acometimento de margens cirúrgicas para escores de Gleason 8 a 10 se comparados aos escores 6 e 7. (13)

É possível inferir que também ocorreu um aumen-to de acometimento da vesícula seminal, porém devido ao menor número de pacientes com este comprometimento, o aumento demonstrado não foi linear, havendo uma redução do número de casos dos pacientes com escore de Gleason 8 para aqueles com Gleason 9. Apesar disso, o aumento do acometimento de vesícula seminal se mostrou estatistica-mente significativo quando comparado os grupos de Gleason 6 a 8. Para Fischer et al. o acometimento de vesícula seminal nos escores de Gleason 8 a 10 foi de 23%, mostrando um resultado similar ao presente estudo, onde foi obtido 25% de invasão para o referido intervalo. Já quando analisado o

Page 23: CoRRElAÇÃo ENTRE o ESCoRE DE GlEASoNrecet.org.br/edicoes/2017/Ed2/vol4n2_2017.pdfdiferentes faces da prática médica, tenho a oportunidade de realizar atendimento privado fora do

CORRELAÇÃO ENTRE O ESCORE DE GLEASON E MARGENS CIRÚRGICAS COMPROMETIDAS EM PACIENTES SUBMETIDOS À PROSTATECTOMIA RADICAL RETROPÚBICA

RE.CET | 21

escore de Gleason 6 exclusivamente, por Anderson et al., re-ferem não ter encontrado em sua amostra a invasão de vesí-cula seminal, diferentemente do encontrado neste estudo, que demonstra uma incidência de 2 casos (0,7%). Sendo assim, por mais que o câncer prostático receba uma graduação de Gleason baixa, o acometimento de vesícula seminal não pode ser descartado.(14)(15)

Há de se levar em conta que somente 13 pacientes (2,1%) apresentaram acometimento de linfonodos, sendo as-sim esta variável foi dispensada da análise por não representar uma quantidade significativa para a obtenção de relevância. Nesse sentido, houve concordância com Maron et al, os quais relataram que após o uso do PSA como vigilante do câncer de próstata reduziu-se consideravelmente o número de pacientes que apresentam acometimento linfonodal no estadiamento, corroborando com a pequena amostra com linfonodos posi-tivos, porém o PSA não foi analisado no presente estudo.(5)

O escore de Gleason representa um dado fundamen-tal e relevante na avaliação do adenocarcinoma prostático. Muitos estudos revisados estabelecem uma relação significa-tiva desse grau histológico com outras características morfoló-gicas(6). Dessa forma, como evidenciado no presente estudo,

o comprometimento de margem cirúrgica, o acometimento extracapsular e a invasão da vesícula seminal se mostrou mais significativo nos casos com escore de Gleason igual ou superior a 7. Sendo assim, é possível que haja uma previsão sobre a invasão de estruturas adjacentes a próstata, sugerin-do ao cirurgião urológico que nos casos com Gleason elevado, a prostatectomia radical tenha margens ampliadas e busca ativa por invasão tecidual.

CoNCluSão O presente estudo mostra uma relação entre o esco-

re de Gleason da peça cirúrgica com a invasão de estruturas adjacentes à próstata, podendo-se afirmar que quanto maior o valor obtido do escore de Gleason maior é a probabilidade de acometimento de margens cirúrgicas, invasão extracapsular e/ou comprometimento da vesícula seminal.

CoNFlItoS dE INtErESSE

Não há conflitos a declarar.

rEFErÊNCIAS

1. Cóser VM, Barbosa N, Neto F, Aparecida G. Avaliação do Es-

core de Gleason como fator prognóstico em pacientes com

câncer de próstata em hormonioterapia. Revista Brasileira

de Oncologia Clínica [Internet]. 2012;8(5):21–3. Available

from: http://sboc.org.br/revista-sboc/pdfs/27/artigo2.pdf

2. Shen MM, Abate-Shen C, Kregel S, Kiriluk KJ, Rosen AM, Cai

Y, et al. The 2014 International Society of Urological Pa-

thology (ISUP) Consensus Conference on Gleason Grading

of Prostatic Carcinoma: Definition of Grading Patterns

and Proposal for a New Grading System. PLoS One [In-

ternet]. 2013;8(2):244–52. Available from: http://www.

ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26492179%5Cnhttp://www.

pubmedcentral.nih.gov/articlerender.fcgi?artid=4215833

&tool=pmcentrez&rendertype=abstract%5Cnhttp://www.

pubmedcentral.nih.gov/articlerender.fcgi?artid=3939071

&tool=pmcentrez&rendertype=abstract%5Cn

3. Epstein JI, Zelefsky MJ, Sjoberg DD, Nelson JB, Egevad L,

Magi-Galluzzi C, et al. A Contemporary Prostate Cancer

Grading System: A Validated Alternative to the Gleason

Score. Eur Urol [Internet]. European Association of Uro-

logy; 2016;69(3):428–35. Available from: http://dx.doi.

org/10.1016/j.eururo.2015.06.046

4. Delahunt B, Egevad L, Srigley JR, Steigler A, Murray JD, Atkin-

son C, et al. Validation of International Society of Urological

Pathology (ISUP) grading for prostatic adenocarcinoma in thin

core biopsies using TROG 03.04 “RADAR” trial clinical data. Pa-

thology [Internet]. 2015;47(6):520–5. Available from: http://

linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0031302516300514

5. Maron PEG, Vieira MP, Costa-matos A, Korkes F, De R. Fatores

anatomopatológicos preditivos para recorrência bioquímica

do câncer de próstata após prostatectomia radical. Arq Med

Hosp Cienc Med St Casa São Paulo. 2010;55(2):48–51.

Page 24: CoRRElAÇÃo ENTRE o ESCoRE DE GlEASoNrecet.org.br/edicoes/2017/Ed2/vol4n2_2017.pdfdiferentes faces da prática médica, tenho a oportunidade de realizar atendimento privado fora do

CORRELAÇÃO ENTRE O ESCORE DE GLEASON E MARGENS CIRÚRGICAS COMPROMETIDAS EM PACIENTES SUBMETIDOS À PROSTATECTOMIA RADICAL RETROPÚBICA

RE.CET | 22

6. Cambruzzi E, Teixeira SL, Gleason G De. Relação entre es-

core de Gleason e fatores prognósticos no adenocarcinoma

acinar de próstata. J Bras Patol e Med Lab. 2010;46:61–8.

7. Nepple KG, Wahls TL, Hillis SL, Joudi FN. Gleason score and

laterality concordance between prostate biopsy and pros-

tatectomy specimens. Int Braz J Urol. 2009;35(5):559–64.

8. Gupta R, O’Connell R, Haynes AM, Stricker PD, Barrett W,

Turner JJ, et al. Extraprostatic extension (EPE) of prostatic

carcinoma: Is its proximity to the surgical margin or Glea-

son score important? BJU Int. 2015;116(3):343–50.

9. Bahnson RR, Dresner SM, Gooding W, Becich MJ. Incidence

and prognostic significance of lymphatic and vascular in-

vasion in radical prostatectomy specimens. Prostate [In-

ternet]. 1989;15(2):149–55. Available from: http://www.

ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2798232

10. Thompson L. World Health Organization classification of

tumours: pathology and genetics of head and neck tu-

mours. Ear Nose Throat J. 2006;85(2):74.

11. Epstein JI, Allsbrook WCJ, Amin MB, Egevad LL. The 2005 In-

ternational Society of Urological Pathology (ISUP) Consensus

Conference on Gleason Grading of Prostatic Carcinoma. Am J

Surg Pathol [Internet]. 2005;29(9):1228–42. Available from:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26492179

12. Kweldam CF, Wildhagen MF, Bangma CH, Van Leenders

GJLH. Disease-specific death and metastasis do not oc-

cur in patients with Gleason score ≤ 6 at radical prosta-

tectomy. BJU Int. 2015;116(2):230–5.

13. Oderda M, Gontero P, Marra G, Sanchez-Salas R, Walz

J, Bastian P, et al. Mp77-03 Gleason Score Upgrading

To 8-10 Predicts Biochemical Recurrence in Men Un-

dergoing Radical Prostatectomy: Analysis on 7310

High-Risk Patients From the Empact Database. J Urol

[Internet]. Elsevier Ltd; 2015;193(4):e992–3. Availa-

ble from: http://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/

S002253471500854X

14. Fischer S, Lin D, Simon RM, Howard LE, Aronson WJ, Terris MK,

et al. Do all men with pathological Gleason score 8 - 10 pros-

tate cancer have poor outcomes? Results from the SEARCH

database. BJU Int. 2016;118(2):250–7.

15. Anderson B, Razmaria A, Choy B, Zagaja G, Shalhav A,

Paner G, et al. Extra-Prostatic Extension and Seminal

Vesicle Invasion Are Exceedingly Rare At Radical Pros-

tatectomy for Gleason 6 Prostate Cancer Using Isup

Modified Scoring Criteria. J Urol [Internet]. Elsevier;

2016;195(4 Pt 1):e992. Available from: http://www.

jurology.com/article/S0022-5347(16)02052-8/fulltext

Autor CorrESPoNdENtE:Fernando MeyerServiço de Urologia

Hospital Nossa Senhora das Graças,R. Portugal, 307. São Francisco, Curitiba, PR

CEP: 80510-280Telefone: (41) 3074 7478

E-mail: [email protected]

Page 25: CoRRElAÇÃo ENTRE o ESCoRE DE GlEASoNrecet.org.br/edicoes/2017/Ed2/vol4n2_2017.pdfdiferentes faces da prática médica, tenho a oportunidade de realizar atendimento privado fora do

Documentação tomográfica de reperfusão renal espontânea após 24h de trauma renal grau VMarco Aurelio Cruciol Rodrigues (1), Marco Aurelio de Freitas Rodrigues (1), André Ricardo Lopes Garcia (1), Luis Gustavo Crippa de Almeida (1), Priscila da Silva Taguti (1), Rafael Agostinho Maioli (1), Silvio Henrique Maia de Almeida (1)

RElatoS de casos

23

Vol. 4 (2): 23-25 | 2017REVISTA ELETRÔNICA DA COMISSÃO DE ENSINO E TREINAMENTO DA SBU

INtrodução

O trauma renal é o mais comum no aparelho gênito-urinário (1), ocorre entre 1 a 5% de todos os traumas (2, 3) e entre 8 a10% dos traumas abdominais fechados ou penetrantes (4, 5). Hoje, para a maioria dos casos, adota-se a conduta não operatória para o seu acompanhamento. Os resultados mostram menor morbidade e preservação glomerular com manutenção da função renal a longo prazo (6-8). Poucas vezes, entretanto a reperfusão renal espontânea é documentada após traumas extensos como nesse relato de caso.

rElAto dE CASo

Paciente masculino, 22 anos, vítima de colisão motocicleta automóvel. Deu entrada no pronto-socorro hemodinamica-mente estável, com indícios de trauma abdominal fechado. Após a avaliação primária sem achado de lesões com necessidade imediata de cirurgia foi realizada a sondagem vesical de demora que não encontrou hematúria. Foi encaminhado à tomografia computadorizada abdominal que evidenciou laceração hepática de grau III e lesão renal direita de grau V, sem captação de contraste por trombose artéria renal. A classificação utilizada foi da American Association for the Surgery of Trauma modificada, que define lesão renal de grau V como aquela limitada às lesões da artéria renal e/ou veia principal, incluindo laceração, avulsão e trombose (9). Após conduta inicial conservadora não operatória, o paciente evoluiu com instabilidade hemodinâmica 24 horas após o trauma creditada à lesão hepática, necessitando de abordagem cirúrgica na qual não houve manipulação retroperitoneal ou renal.

No primeiro pós-operatório, no segundo dia de internação em regime de terapia intensiva, apresentou quadro de distensão abdominal e nova instabilização hemodinâmica, sem novos achados no exame físico urológico ou aparecimento de hematúria. Foi realizada uma nova tomografia computadorizada de abdome em busca de complicações hemorrágicas da lesão hepática, que, surpreendentemente, evidenciou reperfusão completa do rim direito, previamente não captante.

(1) Departamento de Cirurgia Universidade Estadual de Londrina - Disciplina de Urologia

Page 26: CoRRElAÇÃo ENTRE o ESCoRE DE GlEASoNrecet.org.br/edicoes/2017/Ed2/vol4n2_2017.pdfdiferentes faces da prática médica, tenho a oportunidade de realizar atendimento privado fora do

DOCUMENTAÇÃO TOMOGRÁFICA DE REPERFUSÃO RENAL ESPONTÂNEA APÓS 24H DE TRAUMA RENAL GRAU V

RE.CET | 24

dISCuSSão

O tratamento conservador do trauma renal fecha-do foi proposto inicialmente em 1940 (10). Desde então, os benefícios desta abordagem tornaram-se cada vez mais no-táveis em decorrência das reduções dos índices de nefrecto-mia, complicações e permanência hospitalar (10-12). Isso foi possível com o aprimoramento do diagnóstico por imagem, do manejo dos pacientes críticos e do desenvolvimento e im-plementação de métodos de radiologia intervencionista (13).

Existe o consenso na literatura para a recomenda-ção de tratamento não cirúrgico em traumas renais de grau I a III, e um número crescente de estudos vêm sendo pu-blicados apoiando a mesma abordagem para traumas renais de graus IV e V (14). Há forte evidência da preservação da função renal a longo prazo e da recuperação espontânea de lacerações e hematomas (15).

O guideline da American Urological Association re-comenda conduta inicial conservadora em todos os pacientes estáveis hemodinamicamente e intervenção imediata através de cirurgias ou angioembolização em pacientes instáveis e não responsivos à ressuscitação (16).

Constituem contraindicações absolutas para o início do tra-tamento conservador: hemorragia com risco de vida, avulsão do pe-dículo renal e presença de hematoma grande, pulsátil e em expansão (17-19). Em casos de rins funcionantes únicos ou lesões bilaterais preconiza-se, sempre que possível, a conduta conservadora (20).

Estudos sugerem que, em casos de lesão renal da grau V tratados com conduta conservadora, deve ser considerada ne-frectomia quando há persistência de dor, diminuição da hemoglo-bina ou febre inexplicável (14).

São poucos os registros em literatura de reperfusão rápida e evidente como no caso descrito, o qual reforça que a conduta deve se concentrar na preservação do parênquima renal quando for possível, mesmo que os exames radiológicos mostrem lesões graves. Portanto, o tratamento cirúrgico fi ca reservado apenas para os casos de instabilidade hemodinâmica decorrente exclusivamente do trauma renal.

CoNCluSão

Este raro registro de reperfusão renal espontânea cor-robora com as condutas preconizadas nos últimos guidelines internacionais sobre trauma renal. A abordagem conservadora, quando há estabilidade hemodinâmica, é uma opção segura, que permite a preservação de néfrons mesmo em pacientes com le-sões renais extensas.

Figura 1 - Corte tomográfi co do atendimento inicial do paciente, do dia 11/06/2014, mostrando líquido peri hepático, rim d sem captação de contraste (A), com fl uxo sanguíneo interrompido na artéria renal (B).

Figura 2 - Corte tomográfi co realizado após 48h do trauma, 13/06/2014, rim direito com captação de contraste (A).

Page 27: CoRRElAÇÃo ENTRE o ESCoRE DE GlEASoNrecet.org.br/edicoes/2017/Ed2/vol4n2_2017.pdfdiferentes faces da prática médica, tenho a oportunidade de realizar atendimento privado fora do

RE.CET | 25

DOCUMENTAÇÃO TOMOGRÁFICA DE REPERFUSÃO RENAL ESPONTÂNEA APÓS 24H DE TRAUMA RENAL GRAU V

1. Baverstock R, Simons R, McLoughlin M. Severe blunt renal

trauma: a 7-year retrospective review from a provincial

trauma centre. Can J Urol. 2001;8:1372-6.

2. Gormley EA, Lightner DJ, Burgio KL, Chai TC, Clemens JQ,

Culkin DJ, et al. American Urological Association; Socie-

ty of Urodynamics, Female Pelvic Medicine & Urogenital

Reconstruction. Diagnosis and treatment of overactive

bladder (non-neurogenic) in adults: AUA/SUFU guideline.

J Urol. 2012;188(6 Suppl):2455-63.

3. Summerton DJ, Kitrey ND, Lumen N, Serafetinidis E, Djako-

vic N; European Association of Urology. EAU guidelines on

iatrogenic trauma. Eur Urol. 2012;62:628-39.

4. Alonso RC, Nacenta SB, Martinez PD, Guerrero AS, Fuentes

CG. Kidney in danger: CT findings of blunt and penetrating

renal trauma. Radiographics. 2009;29:2033-53.

5. Gillenwater JY, Howards SS, Grayhack JT, Duckett JW. Adult

and pediatric urology. 3 edition. St Louis: Mosby; 1996. p.

539-36.

6. Morey AF, Brandes S, Dugi DD 3rd, Armstrong JH, Breyer

BN, Broghammer JA, et al. American Urological Assoca-

tion. Urotrauma: AUA guideline. J Urol. 2014;192:327-35.

7. Lynch TH, Martínez-Piñeiro L, Plas E, Serafetinides E,

Türkeri L, Santucci RA, et al. European Association of

Urology. EAU guidelines on urological trauma. Eur Urol.

2005;47:1-15.

8. Runyon MS, Moreira ME, Barchur RG, Grayzel J. Blunt ge-

nitourinary trauma: Initial evaluation and management.

Review. UptoDate, Wolters Kluwer, 2014.

9. Buckley JC, McAninch JW. Revision of current American As-

sociation for the Surgery of Trauma Renal Injury grading

system. J Trauma. 2011;70:35-7.

10. Santucci RA, Fisher MB. The literature increasingly sup-

ports expectante (conservative) management of renal

trauma--a systematic review. J Trauma. 2005;59:493-

503.

11. Al-Qudah HS, Santucci RA. Complications of renal trauma.

Urol Clin North Am. 2006;33:41-53.

12. Broghammer JA, Fisher MB, Santucci RA. Conservati-

ve management of renal trauma: a review. Urology.

2007;70:623-9.

13. CHAMORRO, C. Blanco et al. 51 Renal trauma. Analysis in

our series of conservative versus surgical treatment: Ma-

nagement and complications. European Urology Supple-

ments, [s.l.], v. 15, n. 3, p.51-51, mar. 2016. Elsevier BV.

14. Lanchon C, Fiard G, Arnoux V, Descotes JL, Rambeaud JJ,

Terrier N, et al. High Grade Blunt Renal Trauma: Predic-

tors of Surgery and Long-Term Outcomes of Conservative

Management. A Prospective Single Center Study. J Urol.

2016;195:106-11.

15. WEIN, Alan J. et al. Campbell-Walsh Urology. Saunders:

Elsevier, 2014.

16. Morey AF, Brandes S, Dugi DD 3rd, Armstrong JH, Breyer

BN, Broghammer JA, et al. American Urological Assoca-

tion. Urotrauma: AUA guideline. J Urol. 2014;192:327-35.

17. Summerton DJ, Djakovic N, Kitrey ND, Kuehhas FE, Lumen

N, Serafetinidis E, et al. EUA Guidelines on urological trau-

ma. European Association of Urology. 2014.

18. Santucci RA, Wessells H, Bartsch G, Descotes J, Heyns CF,

McAninch JW, et al. Evaluation and management of renal

injuries: consensus statement of the renal trauma sub-

committee. BJU Int. 2004;93:937-54.

19. Heyns CF. Renal trauma: indications for imaging and surgi-

cal exploration. BJU Int. 2004;93:1165-70.

20. Broghammer JA, Fisher MB, Santucci RA. Conservati-

ve management of renal trauma: a review. Urology.

2007;70:623-9.

Autor CorrESPoNdENtE:Marco Aurelio Cruciol Rodrigue

Rua Pio XII, nº 588, ap 6Londrina - Paraná

Fone: 43 3322-0537CEP: 86020-380

E-mail: [email protected]

rEFErÊNCIAS