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JULIANA CAETANO NETO CORPO E MÁQUINA: O PAPEL DA MÍDIA TERCIÁRIA NA PERDA DA CORPOREIDADE São Paulo 2003

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JULIANA CAETANO NETO

CORPO E MÁQUINA: O PAPEL DA MÍDIA TERCIÁRIA NA PERDA DA

CORPOREIDADE

São Paulo 2003

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JULIANA CAETANO NETO

Corpo e Máquina: O papel da mídia terciária na perda da corporeidade

Monografia apresentada como exigência parcial para a conclusão

do curso de Graduação em Comunicação em Multimeios da

Faculdade de Comunicação e Filosofia da Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo – PUC/SP

Orientador: Prof°. Ms. Milton Pelegrini

São Paulo 2003

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Banca Examinadora: Nome: Prof°. Ms. Fábio Valverde Rodrigues Bastos Filho Instituição: PUC-SP Nota:___________________________________ Assinatura: _____________________________

Nome: Prof°. Ms. Milton Pelegrini Instituição: PUC-SP Nota:___________________________________ Assinatura:______________________________

Nome: Prof°. Ms. Múcio Whitaker Instituição: PUC-SP Nota:____________________________________ Assinatura:_______________________________

Titulo: CORPO E MÁQUINA: O PAPEL DA MÍDIA TERCIÁRIA NA PERDA DA CORPOREIDADE Autora: JULIANA CAETANO NETO Local e Data: São Paulo, 2003

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A Rodrigo Gontijo

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Agradecimentos A meus pais, pelo apoio não só nessa fase mas durante todo o processo. A Milton Pelegrini, pela orientação e viabilização desse estudo. A Edna Camille Blumenschein, pela dedicação, apoio e excelentes conselhos permitindo a viabilização desse trabalho. Aos professores Taïs Bressane, Elisabete Alfeld, Rosangella Leote, Mauricio Ribeiro da Silva e Lucia Leão pela atenção dada e pelas discussões enriquecedoras. A Júlia Blumenschein, Daniela Giorno e Victor Gaio pela amizade.

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RESUMO Este trabalho pretende investigar os aspectos que permeiam a simbiose corpo e

máquina. O corpo nesse contexto é visto como um texto cultural, com sua linguagem

própria e depositário da cultura que o circunda. Além de tudo, será visto como mídia

primária, considerando-o o marco zero dos processos comunicativos e a base para a

implantação dos novos media. Ao tratarmos da máquina, remeteremos a mídia

terciária em suportes digitais o que aponta para a contemporaneidade. Nesse caso,

o estudo do vínculo entre corpo e máquina permitirá posteriormente, a abordagem

da perda da corporeidade em prol da existência num suporte imagético, o que

definirá o desvinculo, o qual relacionamos com a escalada da incomunicação.

Palavras-chave: Corpo, máquina, media, cultura, incomunicação, comunicação, abstração, sentidos,

imagem.

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ABSTRACT

This work intends to investigate the aspects that exist in the symbiosis body and

machine. The body in this context is seen as a cultural text, with its proper language

and depositary of the culture that surrounds it. Beyond everything, it will be seen as

primary media, considering it the landmark zero of the communication and base for

the implantation of the new media. When dealing with the machine, we will send the

tertiary media in digital supports what pointing with respect to the contemporaries

aspects.The study of the bond between body and machine it will allow later, the

boarding of the loss of the body in its real existence in favor of the existence in a

imagetic support, what it will define a disconnection, which we relate with the

communication lack.

Keywords Body, machine, media, culture, communication, abstraction, senses, image.

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO............................................................................................... 9 1 CORPO, MÍDIA E CULTURA.................................................................... 14 2 AS DIMENSÕES DA MÍDIA TERCIÁRIA.................................................. 21 3 MORRE O CORPO FICA A IMAGEM....................................................... 29 CONCLUSÃO................................................................................................ 35 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................. 38

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INTRODUÇÃO

“ Sem a existência dos meios comunicativos, desde os órgãos sensoriais, atravessados ao longo da nossa história pelos dispositivos comunicacionais que são as linguagens e as escritas, até as mais recentes próteses da imagética técnica, eletrônica e informática, não poderíamos sequer falar de sociedades, nem de trocas simbólicas ou outras possíveis entre grupos humanos, menos ainda imaginar sonhar com a emergência das culturas humanas.” (WINKIN, 1998, p. 9)

Impensável falar em sociedade sem falar de comunicação. A necessidade do

homem em comunicar-se é inerente a sua sobrevivência e ao seu desenvolvimento

no ambiente. Da mesma forma, é impensável falar de comunicação sem falar do

corpo, marco zero de todos os processos comunicativos e base para a

implementação do que hoje se constitui na base da sociedade contemporânea e das

relações humanas, a mídia terciária.

A linha de raciocínio e pesquisa planejada visa extrair das origens da

comunicação corporal o advento das mídias atuais, através da busca por extensões

comunicacionais com aparatos técnicos que amplificassem o poder do homem em

se comunicar. Tais extensões levaram a outras mídias e a anulação do corpo

enquanto meio primário de comunicação. Situado o corpo no atual contexto de

anulação, pretende-se colocá-lo em contato com as mídias terciárias atuais para

fornecer um diagnóstico quanto aos efeitos dessa evolução no corpo, na sociedade

e no terreno da comunicação. E especialmente, no papel que cada um ocupa

atualmente valendo-se dessa simbiose. Nesses vínculos e desvínculos

comunicativos muito há para ser desvendado, principalmente quando se pensa em

ausência ou presença de (in) comunicação.

Para isso, dividi a pesquisa em três capítulos de forma que os dois pólos em

questão - corpo e máquina - num primeiro momento, fossem tratados de forma

separada, com o intuito de enfatizar suas características próprias quando situados

na complexidade dos sistemas, sejam eles culturais, políticos, econômicos e sociais.

Posteriormente, ambos serão postos juntos visando a reflexão quanto à simbiose

entre eles, acarretando na perda da corporeidade em prol da existência num suporte

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imagético.

No primeiro capítulo comecei situando o corpo no universo da cultura e da

comunicação humana buscando algumas bases necessárias para prosseguir com a

evolução midiática. Nada mais adequado para falar em novas mídias do que colocá-

las em relação direta com o seu gerador.

São várias as terminologias e abordagens do corpo. Este corpo complexo e

cheio de significados é tratado aqui como um texto cultural, depositário da cultura

que o circunda e passível de transformações advindas desse universo cultural. Ao

mesmo tempo em que transmite as informações do mundo, sofre mudanças com tais

informações.

No atual contexto, quando se pensa em novas mídias e amplitude

comunicacional, este corpo torna-se objeto de ação e reação e impreterivelmente,

objeto primordial na existência de qualquer mídia hoje utilizada e quando tratado

como um texto cultural, abre espaço para abordar a evolução que nos levou à atual

mídia terciária.

Acompanhando a tentativa inerente do homem em superar-se na vida, em

buscar a sua sobrevivência e sua amplitude no universo, o corpo, enquanto mídia

primaria, é palco de sobreposições de aparatos amplificadores que visam aumentar

o raio de alcance da comunicação. Num primeiro momento, o aparato se instala do

lado do emissor da mensagem, caracterizando o que denominamos de mídia

secundária, para num segundo momento migrar também para o lado do receptor,

instalando-se a mídia terciária. Como exemplo principal temos a imagem e a escrita,

caracterizando a secundária, e a atual mídia digital, caracterizando a terciária.

No segundo capítulo, após passar pelos processos que levaram ao

surgimento da mídia terciária, pretende-se focar nas mudanças paradigmáticas que

ocorreram na sociedade com a disseminação das novas mídias digitais e de que

forma novos conceitos foram introduzidos para levar posteriormente ao que

chamaremos de perda da corporeidade.

Para isso, parte-se da premissa de que a técnica tem uma ligação importante

com o homem há muito tempo, e evolui junto com ele ou em função dele. O apego

excessivo a essa técnica conduz a mudanças que influem na condição humana de

existência, de sobrevivência, levando, entre outras coisas, a uma crise de percepção

com o mundo. No tocante a corporeidade a aos processos comunicativos, o advento

das novas tecnologias leva a uma abstração dos espaços comunicativos do homem

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caracterizado pela renúncia das três dimensões corpóreas em prol da nulodimensão

das imagens digitais, diagnóstico feito por Vilém Flusser. Essa perda de dimensões

terá uma abordagem contemporânea, levando às características que hoje movem a

sociedade e o homem, como a crescente aceleração, o tempo/espaço sintético e a

tentativa de reconstrução do mundo em suportes artificiais, o que embasa a

discussão seguinte sobre a tentativa de reconstrução do corpo em suportes

imagéticos.

No terceiro capitulo, o foco é o corpo e a imagem. Por ser um corpo cultural e

existente através de vínculos com o mundo, sua transformação é inevitável e os

novos paradigmas de tempo/espaço para uma tentativa de sobrevivência no mundo,

já abordados nos capítulos anteriores, conduzem a discussão que levará a

abordagem do corpo enquanto imagem, negando seu caráter imortal como se supõe

e enfatizando sua perda quando se propõe viver enquanto imagem.

Transformar o corpo em imagem visando uma imortalidade, a perda das

dimensões corpóreas, assim como a necessidade de "representar algo não-corpóreo

como se precisa incorporar algo não-representável"1 são fatos que permeiam a

simbiose corpo/máquina e direcionam a uma análise contemporânea dos efeitos

diretos na (in)comunicação. O corpo sofre transformações sob a influência do tempo,

lugar, relações sócio-culturais e familiares, assim como sofrerá dos adventos

tecnológicos visto que os mesmos influem na sociedade e na cultura. Há ainda, nas

raízes mais remotas da imagem e do corpo, elementos importantes que incitam

pensar em morte e sobrevivência, e de forma geral, contribuirão para fundamentar a

análise.

Ademais, é necessário abordar a emergência dos sentidos de distância, no

caso a visão e audição, como forma de adentrar o que chamaremos de crise da

visibilidade, esta diretamente relacionada com os paradigmas que fundamentam a

sociedade contemporânea como aceleração, necessidade de integração no novo

tempo e espaço, o ser observado e principalmente, a busca pela “pseudoeternidade”

proposta pela máquina.

O que se propõe, no entanto, é traçar um panorama evolutivo que coloca o

corpo em seu local primordial, enquanto mídia essencial ao processo comunicativo,

e logo após fazê-lo dialogar com a excessividade com que se usam os meios digitais

1 KAMPER, Dietmar. As máquinas são tão mortais quanto as pessoas. Disponível em: <http://www.cisc.org.br/biblioteca/mortais.pdf>.

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na sociedade contemporânea. A simbiose corpo/máquina é complexa, e deve ser

tratada com base na complexidade dos sistemas que circundam o homem.

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1 CORPO, MÍDIA E CULTURA

A Metafísica do Corpo Carlos Drummond de Andrade

A metafísica do corpo se entre mostra nas imagens

A alma do corpo modula cada fragmento sua música

De esferas e de essências além de simples carne e

simples unhas

Em cada silêncio do corpo identifica-se a linha do

Sentido universal que à forma breve transitiva

Imprime a solene marca dos deuses e do sonho

Entre folhas, surpreende-se na última ninfa o que

Na mulher ainda é ramo e orvalho e, mas que natureza

Pensamento da unidade inicial do mundo: mulher

planta

Brisa mar, o ser telúrico, espontâneo, como se um

galho

Fosse da infinita árvore que condensa o mel, o sol

O sal, o sopro acre da vida.

Do êxtase e tremor banha-se a vista ante a luminosa

nádega opalescente, a coxa, o sacro ventre prometido

ao ofício de existir, e tudo o mais que o corpo resume

de outra vida, mais florente, em que todos fomos terra,

seiva e amor.

Eis que se revela o ser, na transparência do invólucro

perfeito.

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1 CORPO, MÍDIA E CULTURA

No ano de 1972, Harry Pross fala pioneiramente num estudo da mídia, de

forma a dividí-la em três grupos: mídia primária, secundária e terciária2. O livro,

denominado "Medienforschung”, em português "Investigação da Mídia", tornou-se a

base para estudos relativos aos aparatos mediadores e aos processos

comunicativos como um todo complexo e múltiplo. É interessante lembrar que a

palavra mídia vem do latim medium e significa meio, canal ou vínculo entre dois

pontos de forma a caracterizar a existência da comunicação.

Para prosseguir o estudo da evolução midiática, no qual falaremos das três

mídias citadas acima, é necessário falar do corpo e dos sentidos no universo da

cultura e da comunicação humana.

O corpo, considerado como a primeira mídia do homem, é imprescindível a

qualquer interação de um indivíduo com outro. Todo processo comunicativo tem

suas raízes nessa demarcação espacial, e é com ele, gerando vínculos, que alguém

se apropria do espaço e do tempo de vida, assim como do tempo/espaço de vida do

outro. É através dos vínculos que o ser humano aprende e transmite informações,

tornando-as duráveis, e também constrói a diversidade, riqueza da comunicação

social. Norval Baitello Jr. sobre a comunicação corporal, diz que:

“ Na diplomacia e no cerimonial, também é o corpo e seu portar-se que prioritariamente deve ser regulamentado, que se senta ao lado de quem, quem cumprimenta quem, onde ficar, como andar, para que lado olhar, que gestos são permitidos e quais são proibidos. Eis a mídia primária. Impensável qualquer interação de um individuo com outros sem o corpo e suas muitas e múltiplas linguagens, os sons, os movimentos, os odores, os sabores e as imagens que se especializam em códigos, conjuntos de regras com seus significados, "frases" e "vocábulos" corporais” 3.

Os vocábulos corporais caracterizam o início de toda comunicação

humana4podendo ser explicado pelo próprio nascimento. Para o recém-nascido não

há qualquer outro objeto a não ser seu corpo e é ele que transmite as mensagens

através da respiração, do choro, da temperatura etc. de forma que os sentidos

2 Segundo PROSS, apud BAITELLO. A Mídia Antes da Máquina. São Paulo: Cisc - Centro Interdisciplinar de Semiótica da Cultura e da Mídia,1999. Disponível em <http://www.cisc.org.br/biblioteca/maquina.pdf>. 3 BAITELLO Jr, Norval. A Mídia Antes da Máquina. Disponível em http://www.cisc.org.br/biblioteca/maquina.pdf>. 4 Segundo Harry Pross, toda comunicação nasce e morre no corpo: “toda comunicação humana começa na mídia primária, na qual os indivíduos se encontram cara a cara, corporalmente e imediatamente , e toda comunicação retorna para lá”. PROSS, apud BAITELLO. Tempo Lento e Espaço Nulo. Disponível em : <http://www.cisc.org.br/biblioteca/tempolento.pdf>.

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receptores sejam o tato e propriocepção5 e não os sentidos de distância (audição e

visão) que hoje dominam, e que serão tratados com maior profundidade

posteriormente. É a partir da inteligência tátil e proprioceptiva que o recém-nascido

desenvolverá a consciência do corpo e este constituirá o objeto fundante para o

processo comunicativo.

Entretanto, o corpo abordado aqui não é apenas o corpo físico-biológico, mas

também, um texto da cultura com seus subtextos, "um corpo depositário da cultura

que o circunda" (CAMPELO,1997, p.16), que se transforma e se altera com a

história, visto que dialoga com os demais textos, com os demais códigos da

comunicação humana. A palavra “texto” não se restringe apenas ao universo das

palavras e da escrita verbal, mas abrange todo código da comunicação humana e

torna-se algo vivo no sentido semiótico.

A hipótese desenvolvida neste trabalho é que o corpo carrega a identidade

cultural do indivíduo e suas informações, estampando e transmitindo a cultura que o

circunda através de suas linguagens6. Tal hipótese, segundo o conceito do

semioticista Iuri Lotman e analisada por Cleide Campelo, legitima a pretensão em

abordar o corpo como texto cultural e portador de inúmeros subtextos, tendo em

vista que o texto, como unidade mínima da cultura, tem um início, um fim e uma

organização interna que lhe é inerente e carrega em si, por sofrê-las, as

transformações do mundo. É uma unidade que se complexifica e que tem registrado

uma enorme quantidade de informações, desde a história da vida no universo até a

própria história cultural.

Para Campelo (1997), o corpo é um sítio arqueológico, um ser de cultura,

moldado pela ação conjunta de todos os outros corpos que a cultura lhe confere.

São essas características, juntamente com os sensores humanos - os sentidos - que

caracterizam a mídia primária. Ao depositá-las no conceito de cultura permite-se

uma abordagem que adentra o mundo que nos cerca e sua complexidade sistêmica,

de forma que importantes conexões possam ser feitas no âmbito comunicacional,

como o desenvolvimento das mídias secundária e terciária e suas ligações com a

sociedade e, num outro momento, o advento da imagem como base para a

sociedade contemporânea e suas implicações no corpo humano.

5 O sentido do corpo para a percepção de si mesmo. Ashley Montagu em Tocar – O significado Humano da Pele. 6 Linguagem, segundo Ashley Montagu, é qualquer sistema de comunicação entre indivíduos. No caso, a fala é a forma verbal da linguagem.

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A cultura, macrossistema comunicativo, é formada basicamente por símbolos

e vem com o intuito de superação dos mais rígidos parâmetros da vida. Como parte

desse macrossistema, encontra-se a segunda realidade7, composta pelas

contribuições individuais, de grupos, classes, e diversas esferas, ou seja criações

humanas que contém leis e regimentos próprios, sendo assim tão eficientes ao

romper com as barreiras impostas pela vida. De acordo com Ashley Montagu, no seu

livro “Introdução a Antropologia” (1969), assim como os instrumentos ampliam e

estendem a capacidade da mão, a cultura acentua as capacidades da vida. A cultura

é a criação conjunta do indivíduo e da sociedade e representa a resposta do homem

às suas necessidades básicas. É com ela que ele se coloca à vontade no mundo. As

roupas, o vestir, os gestos, o andar, a arte, tudo faz parte de uma segunda realidade

vinculada à cultura. Essas criações humanas constituem a ligação inerente do

homem com o mundo que o circunda e é o maior exemplo da busca incessante da

espécie humana por uma constante expansão. É o modo principal de adaptação do

homem ao meio total, controlando-o, transformando-o.

Nesse contexto, é coerente dar uma atenção especial para o “caráter

destrutivo”8 que move o homem nas suas criações visto que a força destrutiva esta

no cerne da criação da segunda realidade. Renovar é preciso para a evolução da

espécie, e a destruição está intrínseca no processo de ampliar fronteiras, pois

permite um rejuvenescimento e “tira do caminho as marcas da nossa própria idade”9

(BENJAMIN,1931). Em todos os animais, a mudança evolutiva se processa por

mutação e armazenagem genética dessas mutações adaptativas. No homem, a

mudança é acrescida da aprendizagem no próprio meio criado por ele, como afirma

Montagu:

“ Essas mudanças culturais ou de comportamento, não genéticas, não estão armazenadas nos genes, porém na parte do meio feita pelo homem, na parte aprendida, na cultura, nos instrumentos, nos costumes, nas instituições, nas baladas, etc. e nas lembranças dos homens, assim como em outros dispositivos não genéticos de armazenamento e recuperação de informação. A natureza humana é o que se aprende do meio feito pelo homem; não é alguma coisa com que se nasce.” (MONTAGU,1969, p.132)

A expansão da cultura, visando a sua sobrevivência e a tentativa de

superação das barreiras intransponíveis da vida, é a introdução perfeita para

7 Segundo o semioticista Ivan Brystina, a segunda realidade surge para superar as amarras da realidade físico-biológica do homem, denominada de primeira realidade. 8 Walter Benjamin em Caráter Destrutivo de 1931.

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justificar o surgimento dos meios de comunicação secundário e terciário. O homem

tem a necessidade de interação com o mundo como forma de assegurar sua

sobrevivência material, “ o homem cria, sua criação o estimula e lhe modifica as

habilidades e as capacidades, transforma-lhe a vida enfim” (BAITELLO, 1997,p.19).

A comunicação, processo de receber e transmitir mensagens, sinais e informações

de um corpo e outro através da linguagem, surge como resposta cultural às

necessidades dos seres humanos que vivem em sociedade ao mesmo tempo em

que é gerada como fruto da vida comunicativa. Há uma alimentação e reciclagem

constante dos conteúdos fundantes da condição humana como coloca Edgard

Morin10 :

“... por intermédio da linguagem, do símbolo, do mito e do totem, as participações humanas libertas pela regressão dos instintos específicos mostram-se abertas a quem quer que seja. Essas participações, essas identificações, são também projeções, alienações, em que o homem fixa a sua realidade fora de si. No encontro desse ‘humano’ com esse ‘cósmico’ efetua-se a apropriação do mundo e do homem pelo homem.” (CONTRERA, 1996,p.18)

Da necessidade de comunicar-se surge uma outra, aumentar o raio de ação

dos processos comunicativos. Aparatos técnicos surgiram como catalisadores de

comunicação e amplificadores da mídia anterior; o corpo. Nesse contexto

encontram-se quaisquer objetos extra-corpóreos que "colaboram" com o envio da

mensagem de um corpo a outro instalando-se a mídia secundária. Tais objetos

amplificadores, segundo Harry Pross, transmitem a mensagem ao receptor sem que

este necessite de um aparato para recebê-la. Podemos citar como exemplo, as

pinturas, adereços corporais, roupas, fotografia, e principalmente, a imagem e a

escrita.

O destaque dado à escrita deve-se ao fato de que existe um avanço na

relação do homem consigo mesmo com o advento da mídia secundária, e a escrita

vem para legitimar e introduzir um elemento importante nessa evolução: o tempo.

No tocante a velocidade e aceleração, a escrita inaugura o tempo lento, que

“possibilita decifrar enigmas e alongar a percepção do tempo da vida”11. Inaugura, e

assim se estende a toda mídia secundária, uma permanência simbólica após a

9Segundo BENJAMIN, apud BAITELLO, O Animal que Parou os Relógios,1999. 10 MORIN,apud CONTRERA. O Mito na Mídia, p.18. A autora aborda o mito como fonte básica a partir da qual os textos/tramas da cultura são tecidos. Posteriormente, nesse mesmo livro, a discussão adentra o universo midiático onde os mitos são analisados. 11 BAITELLO JR., Norval. Tempo Lento e Espaço Nulo: Mídia Primária, Secundária e Terciária. Disponível em: <http://www.cisc.org.br/biblioteca/tempolento.pdf>.

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presença do corpo. A mídia primária requer uma presença em tempo e espaço de

emissor e receptor, requer um outro tempo, o imediato, o sensorial, enquanto a

mídia secundária apóia-se na sobrevida da comunicação primária. A sobrevivência

simbólica da escrita pode ser associada à tentativa de permanência do homem no

mundo através da superação da morte. A gravação de imagens em suportes

duráveis permite a perpetuação do tempo de vida do homem e sua ligação com o

mundo que o cerca.

Como continuação do processo evolutivo e de superação do homem surge a

mídia terciária, advinda da mesma condição de amplificação que surgiu a

secundária, só que munida de aparatos em ambos os lados (emissor e receptor),

característica necessária pra existência de uma comunicação. Temos aí, a telefonia,

o telégrafo, o vídeo, os materiais para tais aparelhos como fitas, cd´s, e claro,os

computadores.

O que se percebe ao tratar da evolução dos meios de comunicação é a

constante sobreposição. A mídia secundária é a acumulação da primária mais um

aparato amplificador, assim como a terciária é a secundária com um outro aparato,

disposto também ao lado do receptor da mensagem. Pode-se, a partir disso tratar da

complexificação do sistema comunicativo em conjunto com a complexificação da

sociedade, de forma que os desenvolvimentos mais recentes na área da tecnologia

da informação tenham que ser tratados com certa profundidade quando se almeja

uma análise mais profunda quanto às conseqüências de tais evoluções,

principalmente no corpo, marco zero de todos esses processos.

Graças à eletricidade foi possível desenvolver as ferramentas de

comunicação terciária. Os sistemas comunicacionais contemporâneos caracterizam-

se por uma aceleração do tempo, visando um presente interminável que se assegura

com a desmaterialização dos suportes que enviam ou recebem as mensagens,

produzindo a falsa sensação de estar presente em todos os lugares, participando de

uma “pseudoeternidade”12. “A desmaterialização através da representação”13, é um

indicativo importante quando se pensa em espaços de comunicação. Há uma perda

e tentativa de re-construção das dimensões do espaço comunicativo do homem, que

12 Kamper utilizou-se desse termo para tratar da falsa promessa de eternidade que as máquinas propiciam ao homem e que ele tanto busca. Em: As Máquinas são tão Mortais quanto as Pessoas. Disponível em: <http://www.cisc.org.br/biblioteca/mortais.pdf>. 13 Ibid. Kamper acrescenta: “ Precisa-se representar algo não-corpóreo como se precisa incorporar algo não-representável”.

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segundo Vilém Flusser, passou das três dimensões do corpo para a nulodimensão

das produções digitais.

Tal afirmação propicia a entrada num campo ainda mais intrigante quando se

pensa em vínculos e desvínculos na comunicação, que é a existência de uma

“incomunicação”. A perda da corporeidade, cedendo espaço a nulodimensão dos

novos meios de comunicação, gera uma perda de vínculos, uma renúncia à

comunicação, ou seja, uma abertura para a “incomunicação”. Por sermos sistemas

abertos e irremediavelmente relacionais e interdependentes, estamos sujeitos a

constantes interferências ambientais, sociais, que resultam em crises que levam a

reorganização. Ou seja, a vinculação é necessária ao desenvolvimento e

sobrevivência humana, constituindo a complexidade do homem e garantindo sua

adaptação. Sobre a dependência do vínculo, Contrera diz que:

“Precisamos de uma enorme quantidade e variedade de vínculos biofisioquímicos

para viver, e de uma quantidade e variedade maiores ainda de vínculos sociais para continuarmos vivos; vínculos capazes de nos nutrir, que possam alimentar suficientemente nosso sistema. Esses vínculos, como sabemos, são a matéria-prima de toda comunicação humana, as veias por onde circulam as informações, e que garantem a sobrevivência do indivíduo e do grupo.” (CONTRERA,2002, p.41)

O desvincular leva a incomunicação, e a perda de dimensões do espaço

comunicativo está, entre outras coisas, no cerne desse processo. Tendo isso em

vista, além de garantir a sobrevivência humana e a adaptação da espécie, de uma

forma importante, também regem as mudanças nos sistemas. Como foi dito

anteriormente, ao nos vincularmos as coisas, sendo sistemas abertos, estamos

sujeitos a modificações. Nesse caso, é necessário pensar na evolução das mídias

como parte de um processo maior e múltiplo, que delimite também aspectos sociais

e culturais e não apenas ontológicos, enfrentando a complexidade “antropossocial”

(MORIN,1990) sem dissolvê-la ou ocultá-la.

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2 AS DIMENSÕES DA MÍDIA TERCIÁRIA

Ode Triunfal Álvaro de Campos, 1914. “ Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r eterno!

Forte espasmo retido dos maquinismos em

fúria!

Em fúria fora e dentro de mim,

Por todos os meus nervos dissecados fora,

Por todas as papilas fora de tudo com que

eu sinto!

Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos

modernos,

De vos ouvir demasiadamente de perto,

E arde-me a cabeça de vos querer cantar

com um excesso

De expressão de todas as minhas

sensações,

Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!

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2 AS DIMENSÕES DA MÍDIA TERCIÁRIA

“ Não foi a declaração dos direitos do homem e do cidadão nas revoluções de 1776 e 1789 que determinaram os avanços e recuos da revolução mundial na qual vivemos hoje. Foi a patente da máquina a vapor de James Watt em 1769 e a teoria do teólogo escocês da moral Adam Smith sobre a riqueza das Nações de 1776. (...) Logo se falava de uma locomotiva do progresso. A palavra locomotiva representava a força da aceleração, a palavra progresso significava ‘pro-fit’,obter ganhos(...)” Harry Pross em Aceleração e Perda.

As sobreposições de aparatos amplificadores de comunicação no corpo,

gerando as denominadas mídias secundárias e terciárias, produziram, ao mesmo

tempo em que influenciadas por elas, mudanças no espaço comunicativo do homem.

Vilém Flusser embasa tal discussão afirmando que há uma perda, seguida de uma

tentativa de reconstrução, das dimensões do espaço comunicativo, de forma que as

três dimensões existentes na comunicação primária, calcada no corpo, cedem

espaço para a “nulodimensão”, fundada nas novas tecnologias.

A imagem e a escrita são postas por Flusser como bidimensionais e

unidimensionais, respectivamente, e fazem parte desse processo de perda e

incomunicação. Ainda abordando a questão das dimensões do espaço

comunicativo, Dietmar Kamper nos fornece relações significativas com o

espaço/tempo e com os sentidos. Nesse caso, o corpo possuidor de três dimensões

está vinculado diretamente ao espaço e aos sentidos do falar e ouvir, enquanto a

imagem, com sua bidimensionalidade, se vincula a superfície e ao sentido da visão.

O que se pode observar nessas relações é o fato da abstração.

A perda das dimensões acarreta numa perda de espaço, tempo e sentidos na

comunicação. Podemos complementar, com Harry Pross, dizendo que vivemos na

era do verticalismo, com a obsessão “da vertical transformada em vida e da vida

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transformada em vertical” 14, como tentativa de atingir o ponto mais elevado da vida,

aquele que se compara aos deuses. Tal obsessão em transformar corpos em traços

verticais destruindo sua tridimensionalidade é a definição para o que Flusser chama

de nulodimensão. O verticalismo não abrange somente o corpo, mas também os

espaços que o abrigam e os vínculos entre eles, fundamentais para a existência da

comunicação. Ou seja, a perda dos vínculos com outros seres possibilita a renúncia

ao poder comunicativo.

Sobre a perda do espaço, tempo e sentidos advindos com a nulodimensão

das imagens digitais, Kamper nos fornece um panorama “evolutivo” das abstrações.

Como já foi dito anteriormente, o corpo – mídia primária com suas três dimensões –

requer uma presença em tempo e espaço de emissor e receptor, de forma que a

transmissão das informações ocorra no âmbito sensorial, dando ênfase ao uso dos

sentidos da fala e da audição. Ao passar para as duas dimensões das imagens, o

espaço é diminuído para a superfície do suporte no qual se instala a imagem,

habilitando automaticamente o uso do sentido da visão. Com a escrita, na sua única

dimensão, o olho e a mão ocupam lugar primordial no processo de escrever,

utilizando-se de um espaço ainda menor: a linha. Finalmente, a nulodimensão das

imagens digitais, propicia a redução drástica de tudo o que antes existia na

comunicação pelo corpo. Não há mais corpo, nem sentidos e muito menos espaço;

apenas o pixel (ponto). TABELA 1 - ESCALADA DA ABSTRAÇÃO

3D 2D 1D 0D Corpo Vivo Corpo Imagem Escrita Cálculo

Sentidos Falar/ouvir Ver Escrever Calcular

Pele Ouvido Olho Olho/mão Cérebro

Espaço/tempo Espaço Superfície/suporte Linha Ponto (pixel)

NOTA: Tabela esquematizada durante a aula do Professor Milton Pelegrini, PUC/SP.

Prolongando tal discussão para o contexto socioeconômico das nações,

pode-se pensar numa seqüência de abstração partindo dos avanços técnicos

advindos das revoluções industriais e das modificações ocorridas no setor urbano a

14 BAITELLO JR., Norval. As Irmãs Gêmeas: Comunicação e Incomunicação”. Disponível em:

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partir de tais evoluções. Segundo Kamper, o período da Idade Média e,

posteriormente, o advento da sociedade burguesa, relacionam-se diretamente com a

abstração do corpo e a abstração do valor de uso, enquanto a terceira revolução

industrial, estendida aos dias de hoje, promoveu uma “fabricada paixão do homem

por signos”, caracterizando uma abstração referente à materialidade das coisas.

Com tal conceito podemos prosseguir com uma reflexão maior voltada para

os efeitos da mídia terciária sobre o mundo e sobre o tempo/espaço comunicacional,

partindo do pressuposto de que a incomunicação caminha lado a lado com a

comunicação. Tal vínculo é diretamente relacionado à evolução das técnicas

comunicacionais tão almejadas pelo homem e a incapacidade do mesmo de livrar-se

de entraves referentes a tais “maravilhas tecnológicas”. A incomunicação está

onipresente e se mostra nos excessos, estes responsáveis pela mudança no tempo

e no espaço, influenciando inumeráveis áreas da vida humana. “Vivemos (e

morremos) nos excessos do tempo e no tempo dos excessos” 15 e isto proporciona

desocupação, estresses, tempo esvaziado e aceleração.

Pensando o processo evolutivo da sociedade e dos meios de comunicação,

pode-se pensar em aspectos referentes à política e a economia para introduzir

algumas características especificas que permeiam a sociedade atual e legitimam de

alguma forma a existência da incomunicação. Segundo Harry Pross, o espírito do

nosso tempo tem a aceleração como base da existência social. Com o advento da

máquina a vapor e da eletricidade, mudanças ocorreram no tocante à produção,

consumo e tempo/espaço de trabalho, assim como possibilitaram o incremento dos

meios de transporte. Tais mudanças constituíram a sociedade dos séculos XIX e XX

e atualmente servem de base imprescindível para o entendimento da sociedade

contemporânea, fundada mais do que nunca na aceleração e excessividade que

fundaram a sociedade moderna.

Prolongando o conceito de abstração proposto por Kamper, visando um

enfoque na sociedade contemporânea, pode-se pensar na estreita relação existente

entre o desenvolvimento urbano advindo das revoluções industriais com a busca

pela “imaterialidade” alimentada pela mídia terciária.

<http://www.cisc.org.br/biblioteca/gemeas.pdf>. 15 Ibid.

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“Aos tambores das portas sucedem-se os dos bancos de dados, tambores que marcam os ritos de passagem de uma cultura técnica que avança mascarada, mascarada pela imaterialidade de seus componentes, de suas redes, vias e redes diversas cujas tramas não mais se inscrevem no espaço de um tecido construído, mas na seqüência de uma planificação imperceptível do tempo na qual a interface homem/máquina toma o lugar da fachada dos imóveis, das superfícies dos loteamentos...” (VIRILIO,1993,p.10)

A noção de setor urbano mudou com o surgimento das imagens digitais. A

nulodimensão do espaço comunicativo insere-se na cidade, transformando o tempo

e o espaço, até então pautados em acontecimentos temporários reais, em um

“espaço-tempo tecnológico” (VIRILIO,1993) que instaura o tão sonhado presente

permanente. O que caracteriza tal espaço/tempo sintéticos é a imaterialidade dos

componentes que até então conduziam e segregavam as cidades e muito do que se

refere às atividades socioeconômicas como o trabalho, a moradia, a produção e num

âmbito maior, a comunicação. A representação da cidade contemporânea deixou de

ser feita pela fachada, pelas ruas e avenidas, pela diferenciação entre urbano e rural

e sim pela inserção no tempo das telecomunicações, pela fachada “imaterial” da

interface eletrônica. O mesmo é observado no tocante a moradia e local de trabalho.

Já escrevia Paul Valéry em 193616:

“Assim como a água, o gás e a corrente elétrica vêm de longe para nossas casas a fim de responder as nossas necessidades mediante a um esforço quase nulo, assim seremos alimentados de imagens visuais e auditivas nascendo e se esvanescendo ao mínimo gesto, quase a um sinal”.

A distinção entre local de moradia e o local de trabalho também de esvaeceu.

O cômodo que caracterizava a separação cedeu lugar para a tela, transformando-o

num “escritório-visor” (VIRILIO,1993). Nesse caso, observa-se tanto a junção de

moradia e trabalho como, num âmbito maior, a perda das dimensões do espaço

tridimensional do escritório em prol de um telelocal.

Quanto mais nos inserimos no tempo das telecomunicações, menos

adentramos no espaço que caracteriza nosso instante presente. Velocidade,

individualidade, inércia, não-ocupação, desconstrução, transparência, retransmissão

instantânea, tudo isso que caracteriza a sociedade contemporânea a as relações

humanas, advém de questões maiores que envolvem o imaginário humano e os

simulacros presentes na tentativa de perpetuação da espécie através da

representação. Cabe aqui uma retomada da questão semiótica que permeia o

16 VALERY, apud VIRILIO. O Espaço Crítico, 1993, p. 57.

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campo da comunicação e caracteriza o homem em sua existência. “Deveríamos

definir o homem como um animal symbolicum e não como animal rationale”, já dizia

Ernst Cassirer (1997), e isto é extremamente relevante para direcionar o estudo para

a simbologia em voga atualmente e o papel que a mesma ocupa na vida do homem.

O homem não vive em um mundo com a realidade nua a crua. Seu imaginário

repleto de sonhos, ilusões, medos, sentimentos diversos, também caracterizam o

universo simbólico que fortalece e forma a experiência humana. Pode-se dizer ainda,

que os signos adentram o universo humano como forma de segurança e

sobrevivência a morte e as demais incertezas da própria existência. É partindo

também dessa premissa que se pode falar da invisibilidade frente à simulação do

real e a falsa disponibilidade existencial do homem na sua simbiose com as

máquinas, e, de forma geral, na sua existência atual calcada nos meios de

comunicação terciários. Da mesma forma que é essencial uma abordagem

contemporânea das mídias, é importante uma abordagem contemporânea do

vínculo entre signo/realidade.

Jean Baudrillard nos fala de simulacros e simulação, além da geração de

modelos de um real “sem origem nem realidade: hiper-real” (1981, p. 8). A simulação

surge em oposição à representação e é caracterizada pela negação de toda a

referência real, pela negação do signo, sem deixar aparecer o princípio da realidade.

Nesse contexto de assassinato do real e de toda a forma simbólica, surge uma

alucinação da verdade. Tudo no mundo acompanha tal simulação e emaranha-se

nesse simulacro, de forma que lutar contra ele e até mesmo detectá-lo, passa a ser

impossível. Sobre a invisibilidade do simulacro, Baudrillard exemplifica:

“ Organize-se um falso assalto. Verifique-se bem a inocência das armas e faça-se o refém mais seguro para que nenhuma vida humana fique em perigo. Exija-se um resgate e proceda-se de maneira que a operação tenha toda a repercussão possível - em suma , imite-se o mais possível a ‘verdade’ a fim de testar a reacção do aparelho a um simulacro perfeito. Não será possível: a rede de signos artificiais vai-se imbricar inextricavelmente com os elementos reais ( um polícia vai realmente disparar à vista, vai ser realmente pago o resgate fingido), em suma, ser-se-á devolvido imediatamente, sem o querer, ao real, uma das funções do qual é precisamente devorar toda a tentativa de simulação, reduzir tudo a real (...)” (BAUDRILLARD,1981,p. 30)

A busca incessante por uma reciclagem das faculdades perdidas, seja no

corpo, nos sentidos, na sociabilidade, na economia, vem na forma de simulação que

liquida os referenciais e os ressuscitam artificialmente, utilizando-se dos novos

meios de comunicação. O grande perigo está justamente na impossibilidade de

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isolar o processo real da sua simulação e da importância dos novos meios na

construção da sociedade pós-moderna. Dietmar Kamper coloca que os meios de

comunicação atuais se constituem pela imanência e pela introdução de uma nova

realidade. Obviamente, a questão do tempo/espaço abordada até então, juntamente

com a busca humana pelo presente interminável, levam ao envolvimento

despercebido nesse simulacro.

Uma outra crise associada a telematização é a questão da visibilidade

relacionada diretamente com a exacerbação das imagens. Os processos de

simulação dos meios comunicacionais são extremamente eficazes no tocante ao

anseio pela “atenção pública” 17, facilmente notado nas enxurradas de Reality

Shows, narrativas ao vivo que confirmam a confusão existencial que surge do duplo

(vida real e vida na tela), web cams registrando intimidades, câmeras de circuito

interno, a indústria da moda e a publicidade, entre outras. Inerente a esses

exemplos encontra-se a questão da satisfação e auto-realização em ser observado e

transformar-se numa imagem de ser humano, alimentando não apenas o sonho de

eternidade, permanência, mas também propiciando significação que nenhum outro

sistema (trabalho, lar, estudo etc.) conseguiria no atual momento, tendo em vista a

perda de referência interna (real), de finalidade, de importância e, principalmente, de

impossibilidade de troca. Segundo Baudrillard:

“ Todos os nossos sistemas convergem num esforço desesperado para escapar à incerteza radical, para conjurar essa fatalidade de troca impossível. Todos fracassaram, mas, dessa vez, parece que teríamos a solução final, o equivalente definitivo: a Realidade e a Inteligência Virtuais sob todas as formas.” (BAUDRILLARD, 2002, p. 20)

Quando tratamos dessa troca impossível, remetemos diretamente a condição

de incerteza do mundo em todas as suas esferas. No âmbito biológico, vivo, a

incerteza é imensa e a busca pelo princípio de equilíbrio, de troca, de finalidade é

dada pela construção artificial do mundo.

Uma enquete feita entre jovens na Alemanha, sobre suas exigências sociais,

constatou algo interessante: a maioria dos homens demonstraram interesse em

tornar-se designer ou artista, e as mulheres tenderam para profissão de modelo. Há

aqui a indicação dessa busca por uma existência dentro de um ambiente digital

17 Dietmar Kamper considera a atenção pública um grande problema presente na transformação eletrônica da metrópole : “ nada pior do que ser-explorado é não ser-observado.” Imanência dos Media e Corporeidade Transcendental . Disponível em: <http://www.cisc.org.br/biblioteca/imanencia.pdf>.

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através de produção ou da própria transformação na forma imagética. É a busca

pela atenção pública, por uma “pseudoeternidade”, e pela possibilidade de troca com

o mundo. Tal existência programada no ambiente digital, assim como no meio

urbano tomado pela mídia, é a prova da mortalidade de Deus e seu controle sobre o

mundo, saudando uma nova fase: o surgimento do mundo construído pelo homem.

Aqui nada foi doado e sim construído por ele e as possibilidades de troca e controle

são inúmeras. Como Kamper já dizia: “Deus sonha os homens; o homem sonha as

máquinas; as máquinas sonham Deus. Todos os três sonhos são fundamentais;

todos seguem juntos. Eles esgotam a imaginação e deixam ao mundo uma órbita de

detritos imaginários.”18

18 E complementa: “ O homem como sonho de Deus é o real, o corpo. A máquina como sonho do homem é o simbólico, a linguagem. Deus como sonho da máquina é o imaginário, a imagem. As correspondentes modalidades são transmitidas, encadeadas pelo impossível: o necessário, o real, o possível.” KAMPER, Dietmar. As Máquinas são tão Mortais quanto as Pessoas. Disponível em: http://www.cisc.org.br/biblioteca/mortais.pdf

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3 MORRE O CORPO FICA A IMAGEM

A Morte Absoluta Manuel Bandeira

Morrer. Morrer de corpo e de alma.

Completamente.

Morrer sem deixar o triste despojo da carne,

A exangue máscara de cera,

Cercada de flores,

Que apodrecerão - felizes! - num dia,

Banhada de lágrimas

Nascidas menos da saudade

do que do espanto da morte.

Morrer sem deixar porventura uma alma

errante...

A caminho do céu?

Mas que céu pode satisfazer teu sonho de

céu?

Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma

sombra,

A lembrança de uma sombra

Em nenhum coração, em nenhum

pensamento,

Em nenhuma epiderme.

Morrer tão completamente

Que um dia ao lerem o teu nome num papel

Perguntem: "Quem foi?..."

Morrer mais completamente ainda,

Sem deixar sequer esse nome

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3 MORRE O CORPO FICA A IMAGEM

“Nos media só sobrevive a apoteose do eu em sua queda programada.” 19

A premissa principal que sustentará este capítulo já foi posta por Dietmar

Kamper e refere-se a transformação do corpo em uma imagem do corpo,

substituindo-o em sua realidade pela sua existência virtual. Para tanto, faz-se

necessário a retomada de alguns conceitos postos nos capítulos anteriores como o

papel do corpo na comunicação, a condição humana de sobrevivência frente a

morte e os efeitos no homem do uso indiscriminado da mídia digital.

Com a mesma importância com que depositamos o corpo e a própria

evolução técnica das mídias num contexto complexo, depositaremos a imagem

nesse mesmo universo, visando o resgate das suas origens e relacionando-as com

as questões que regem a sobrevivência do homem e da sociedade.

Edgard Morin, ao relacionar o homem e a morte, afirma que o surgimento da

consciência gerou no homem uma angústia e ansiedade, visto que o colocou em

contato direto com a finitude da sua vida , com a sua mortalidade:

“ Portanto, tudo nos indica que o Homo sapiens é atingido pela morte como por uma catástrofe irremediável, que vai trazer consigo uma ansiedade específica, a angústia ou o horror da morte, que a presença da morte passa a ser um problema vivo, isto é, que trabalha a sua vida. Tudo nos indica igualmente que esse homem não só recusa essa morte, mas que a rejeita , transpõe e resolve, no mito e na magia.” ( MORIN, 1991, p. 95)

Quando chama a atenção para importância dos mitos, da magia e dos ritos de

morte, Morin dá ênfase ao ritual fúnebre e a sepultura dos neanderthaleses que

colocam o morto numa posição fetal, referindo-se a um renascimento e a

continuação da vida num outro plano.

Tal exemplo está relacionado diretamente com a questão do duplo abordada

no capitulo anterior à luz de Baudrillard, só que agora relacionada diretamente com

as raízes da imagem e do imaginário. A existência do duplo é certificada pelo

desdobramento da pessoa num sonho, na sombra, no reflexo, e na sua capacidade

imaginativa, sendo tudo isso, poderosas armas para a luta humana contra a finitude

19 KAMPER, Dietmar.Imanência dos Media e Corporeidade Transcendental. Disponível em: <http://www.cisc.org.br/biblioteca/imanencia.pdf>.

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imposta pela vida.

“ Desde então, a imagem não é só uma simples imagem, mas contém a presença do duplo do ser representado e permite, por seu intermédio, agir sobre esse ser; é esta acção que é propriamente mágica: rito de evocação pela imagem, rito de invocação à imagem, rito de possessão sobre a imagem (enfeitiçamento)..” (MORIN, 1991, p.98)

No ritual mágico, o Homo sapiens não recorre apenas aos seres que podem

fornecer resposta, mas também recorrem as imagens, aos símbolos pois supõe que

as mesmas tenham as respostas requeridas, tendo em vista que carregam o duplo

do ser representado. Este duplo opera como ligação imaginária com o mundo. Tal

imaginário é considerado uma segunda existência, visto que sua presença se dá

fora da percepção empírica sob a forma de uma imagem mental, análoga a imagem

do objeto.

Ainda com Morin, conclui-se que a ligação imaginária com o mundo através

dos sinais, símbolos, figuração, ou seja, na forma imagética, não vem apenas para

re-apresentar os seres e coisas do mundo exterior, mas sim invadir o mundo com

suas imagens mentais e este ponto é de extrema relevância quando pretende-se

adentrar na denominada “crise da visibilidade”.

O duplo tratado por Morin é re-interpretado à luz de Baudrillard, de forma que

ênfase seja dada ao poder imagético num suporte digital, e num contexto mais

amplo, em suportes que caracterizem a mídia terciária de massa. Nesse novo

contexto, o advento das mídias terciárias, principalmente as tecnologias digitais,

vieram esvaecer a noção da existência do duplo tratado até então, visto que a

distância abolida pela velocidade do suporte e sua capacidade de “interação”

aproximam o espectador a ponto de causar-lhe uma confusão quanto a sua

existência:

“Nada mais de separação, de vazio, de ausência: entramos na tela, na imagem virtual sem obstáculos. Entramos na vida como numa tela. Vestimos a própria vida como um conjunto digital.” (BAUDRILLARD,1999, p. 146)

Há uma imersão na substância fluida da imagem visando a modificação na

mesma. O ambiente virtual exige essa imersão sem limites prometendo interação,

inúmeras possibilidades de existência quando no fim, perde-se a referência e

interage-se com o vazio. Aqui se pode retomar os conceitos de perda das

dimensões, posta por Flusser, e a abstração dos sentidos analisada por Dietmar

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Kamper.

Sobre a mesma imersão que emite a falsa sensação de existência, controle e

interação, Baudrillard prossegue falando da perda da transcendência do olhar e da

escrita , visto que os objetos externos que poderiam realmente ser tocados , não

existem mais. Não há relação tátil física, ou sequer um olhar com a tela visto que ela

não existe enquanto objeto externo, assim como tudo que nela existe, no caso, a

imagem. Há uma perda da materialidade das coisas, do espaço comunicativo

humano e principalmente, há uma perda do seu próprio corpo e da capacidade do

mesmo em comunicar-se, em ter sensações, em utilizar seus sentidos perceptivos

visto que há muito se predomina os sentidos de distância.

Dietmar Kamper e Vilém Flusser, como visto no capítulo anterior, explicam a

diminuição da capacidade comunicativa do homem após a perda dos sentidos de

proximidade (tato, olfato, paladar e propriocepção) em prol dos sentidos de distância

(audição e visão) e devido a perda dos espaços comunicativos externos (das três

dimensões corpóreas a nulodimensão digital). A dominância do “audio-visual”,

refiro-me aos sentidos de distância mencionados, atuam no momento como

determinantes de um processo denominado de “crise da visibilidade”20. O triunfo

desses sentidos sobre os demais vem com intuito de adaptação à velocidade das

informações dispostas pelos meios de comunicação, visto que as mesmas são

fundamentais na vinculação/agregação do corpo social21 e compartilhar tais imagens

está no cerne do processo de integração. Nesse caso, o distanciamento sensorial

que decorre da disseminação da mídia terciária aumenta a medida em que é

estimulada por ela.

A exacerbação das imagens e das máquinas de produzir imagens dificulta a

percepção da profundidade do mundo. Percebe-se apenas superfícies iluminadas,

de forma que se possa falar de uma invisibilidade advinda da visibilidade reinante.

Kamper acrescenta:

“Ver permanece superficial. A profundidade do mundo não é para o olho. E quando o olho penetra, apenas aumentam novamente as superfícies e superficialidades. A era óptica já o provou ex negatio. Seu lema ‘Tornar visível todo o invisível’ era duplamente enganoso. Não se acercou do invisível e produziu uma nova invisibilidade”.22

20 BAITELLO Jr. Norval. O Olho do Furacão, a Cultura da Imagem e a Crise da Visibilidade. Disponível em: <http://www.cisc.org.br/biblioteca/visibilidade.pdf>. 21 CONTRERA, Malena Segura. Mídia e Pânico, Saturação da Informação, Violência e Crise Cultural na Mídia , 2002, p. 65. 22 Segundo KAMPER, apud BAITELLO. O Olho do Furacão, a Cultura da Imagem e a Crise da Visibilidade. Disponível em: <http://www.cisc.org.br/biblioteca/visibilidade.pdf>.

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Uma parte cada vez maior das coisas que existem ocorrem apenas no olhar,

sendo este um alimento para as imagens. Baitello nos coloca em contato com o

circulo vicioso formado entre corpo e imagem, visto que o olhar que alimenta o

mundo imagético é um gesto corporal, podendo afirmar então que o corpo é um

alimento para as imagens. Sendo assim ele conclui: “ Quanto mais vemos, menos

vivemos, quanto menos vivemos, mais necessitamos de visibilidade”.

Ao reduzir o corpo em mero observador e em dependente da visibilidade,

adentramos ao universo da perda do corpo em sua existência real em prol de uma

existência virtual, imagética, retornando ao conceito posto por Flusser de

nulodimensão. A desmaterialização do corpo nessa perda de dimensões , ou seja,

na perda da consciência corporal e dos sentidos de proximidade , fazem com que

não haja mais vínculo com nada pois abdicamos também da lentidão do tempo

presente e adentramos sem barreiras ao mundo “eterno” e veloz das imagens. O

corpo, com seu ritmo próprio, não consegue acompanhar o tempo ditado pelas

imagens eletrônicas o que acarreta na sua substituição. Substituído por não ser mais

útil, por não ser mais diferenciado (fim do duplo), por não sentir mais e por só

enxergar quando é visto.

Cabe, no entanto, ressaltar que a fascinação pelo virtual e suas

“possibilidades” está relacionada diretamente com o que Kamper chama de

“imanência midiática”, ou seja, as máquinas entraram na sociedade com pretensões

totalitárias e não como meras ferramentas, de forma que o usuário fique totalmente

fora de qualquer percepção. As próprias revoluções industriais já provaram isso,

como foi visto no capítulo anterior, visto que a técnica contribui não apenas para

mudanças no âmbito econômico e político das nações, mas sim, introduziu novos

paradigmas que mudaram definitivamente a visão de mundo do homem. A violência

com que se inserem na sociedade determina em muito a maneira como o homem

se vincula a ela. O que quer dizer que a crise da visibilidade ,o olho emancipado e a

busca pelo ser-observado, está de forma direta ligado ao poder da mídia eletrônica e

a genealogia das ferramentas. O que hoje chamamos de emancipação do olhar está

intrinsecamente ligado à tentativa de civilização humana tão bem pretendida pelos

avanços técnicos.

Kamper nos fornece um exemplo memorável quando aborda a questão da

violência humana e a tentativa de pacificação pretendida com os avanços técnicos.

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O padrão de raciocínio até então era de que o homem é um animal, com um corpo

violento e detonador das inúmeras barbáries existentes até hoje. Em contrapartida

temos a civilização e a disciplina como apaziguadoras e criadoras de um espírito

pacífico. Ou seja, destruindo o corpo violento, com seus sentidos de proximidade os

quais não se pode civilizar, e permitindo a emergência do novo corpo com seus

sentidos de distância, com seu olhar emancipado, tudo estaria resolvido e a

humanidade poderia atingir a paz tão sonhada. Nesse caso, aprisiona-se o corpo

numa tela permitindo-o a existir enquanto imagem, anula-se as diferenças naturais

de um indivíduo e outro e impossibilite a manifestação de qualquer ato violento

advindo do corpo enquanto objeto sensível para poder se falar em paz. O que

Kamper conclui, no entanto, é que a violência atual não indica, nem sutilmente,

mudanças favoráveis no caminho para a pacificação e sim demonstram o aumento

da mesma, agora determinadas pelo olhar.

O controle e a vigilância que antes existiam por meio de instituições,

presídios, manicômios, escolas, etc. hoje se fazem pela mídia das imagens e

pretende da mesma forma, a padronização, a civilização. As pessoas se sujeitam ao

controle para participar do processo de visibilidade ampliada e aceitam perder sua

corporeidade existindo apenas na tela, almejando atingir a “pseudoeternidade”

prometida pelas mídias eletrônicas. O corpo não existe no interior dos novos meios

de comunicação, mas ainda é necessário a sua permanência na medida em que

consome, produz, sustenta e carrega as imagens.

O que percebe-se com essa transformação do corpo em imagem do corpo, é

que além da busca pela atenção pública , pela existência duradoura ,

pseudeoeterna, ainda há algo que remete de forma inerente a condição de

sobrevivência humana. Instala-se num suporte o sonho de sobreviver a morte

natural, procura-se uma existência com bases irreais. No cerne da palavra imagem ,

como Kamper detectou, há o significado de essência, forma, sinal , cópia,

reprodução e também , de forma significativa, quando originária do alemão Bild, tem

o significado de ‘poder mágico’, aquele que possibilita uma transcendência e que

representa a morte. O corpo por si, carrega as mazelas da morte e da sexualidade,

sabe do seu caráter transitório e desde seus primórdios busca sua eternidade. Esta

encontrada nas imagens.

O que se observa, no entanto, é que da busca pela imortalidade na mágica da

imagem , com a construção do duplo no imaginário, visando um renascimento em

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outro espectro, hoje foi substituída pela busca da eternidade com a total destruição

da base. Não se pode sobreviver quando não se vive mais. O que assistimos hoje, é

a destruição de um corpo para transformá-lo numa imagem com a ilusão de mantê-

lo vivo, inaugurando o que Kamper denominou de “Estética da Ausência”: o rastrear

da pista do corpo destruído só pode ocorrer corporalmente e por não ter controle da

situação, deve ser requerido. E acrescenta:

“A contradição crescente culmina com o sacrifício da vida em suas manifestações

mais perceptíveis. O corpo e suas relações próximas são pouco a pouco destruídos. Transformado em uma imagem, o corpo perde sua “essência” natural e histórica, abrindo espaço para uma das formas mais sutis de violência simbólica: a perda do momento presente e da capacidade do presente.”23

O que nos resta descobrir, é onde há comunicação quando já perdemos o

tempo presente, renegamos o corpo e o espaço, e da pior forma, não percebemos

isso.

23 KAMPER, apud BAITELLO. O Olho do Furacão: a Cultura da Imagem e a Crise da Visibilidade. Disponível em: <http://www.cisc.org.br/biblioteca/furacao.pdf>.

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CONCLUSÃO

Estamos constantemente conectados a diversos aparelhos eletrônicos. Cada

dia mais necessitamos de uma boa conexão e rapidez para acompanhar o ritmo

frenético da sociedade moldada nos novos meios de comunicação. Vivemos, sem

muitas vezes perceber, no tempo dos excessos.

Este estudo pretendeu, basicamente, questionar o que está presente no

vínculo corpo/máquina que nos leva a uma perda de percepção e total dependência

dessas novas tecnologias. O que as máquinas nos promete que vem ao encontro

das nossas necessidades? E o que nos retiram após ter-nos iludido com sua

mágica?

O trabalho foi estruturado de forma que fosse feito um panorama particular de

cada pólo da simbiose em questão, destacando sua existência enquanto parte de

um todo complexo e múltiplo. O corpo foi tratado como um texto da cultura, com sua

linguagem própria, sinais e vocábulos, constituindo o que denominamos de mídia

primária. Sua importância, no entanto, dá-se ao fato de ser o marco zero dos

processos comunicativos e a base de sustentação para os novos media, o que o

leva, posteriormente, a ser renegado em prol do que hoje domina na sociedade.

Quando tratamos da escalada rumo a abstração do corpo, com Vilém Flusser

e Dietmar Kamper, propiciamos uma entrada no campo dos desvínculos

comunicativos que levam a uma “incomunicação”. A perda do corpo e dos sentidos,

essencial ao processo comunicativo, abriu brechas para que a incomunicação se

instalasse, tornando cada vez mais ilusória a sensação de conectividade que tanto

se fala atualmente e que são delegadas aos novos media.

O que nos encanta em existir enquanto imagem? São vários os aspectos que

permeiam esse encantamento, existentes não apenas nas raízes mais remotas da

imagem e da natureza humana, mas visivelmente dispostas no progresso das

sociedades através das técnicas.

É inerente ao homem a busca pela superação da morte, e num âmbito geral,

aos limites da realidade físico-biológica. De uma maneira geral, através de rituais e

magias o homem introduziu em sua vida terrena uma outra oportunidade de

existência através da “vida após a morte” e da crença na continuação em outro

espectro criando, para isso, imagens que perdurassem o corpo na terra. A paixão

pela imagem pode ser inserida nesse contexto de sobrevivência simbólica. “Breve é

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a vida e longa é a arte”24 diz o médico grego Hipócrates, e Baitello analisa da

seguinte forma:

“‘breve é a vida’, o homem, o ser biológico, que inevitavelmente é levado um dia

pela morte, o mais implacável componente do percurso vital; ‘longa é a arte’, aquela que, criada pelo mortal, tem a finalidade de vencer a morte, de sobreviver aos tempos e, com isto, imortalizar seu criador. E o consegue. A criação humana (...) desafia e vence não apenas a morte, mas todas as dificuldades e os limites impostos pela breve vida. (...) Seu mais eficaz e abrangente instrumento são os símbolos.” (BAITELLO, 1999, p. 17)

Percebe-se com isso, que o vínculo entre homem e imagem, há muito já

ocorre, estando presente em todo o percurso do desenvolvimento humano, como

analisou Edgard Morin sobre as sepulturas neanderthalesas no capítulo três. A

promessa de eternidade sobre um suporte imagético é o que leva o homem,

atualmente, a contentar-se com sua existência numa tela.

Entretanto, quando tratamos do uso das imagens relacionando-as com o

desenvolvimento da sociedade moderna e na seqüência, com a sociedade

contemporânea, podemos dar um outro enfoque a discussão, agora pautada nos

avanços técnicos.

Dietmar Kamper afirma que as máquinas foram introduzidas na sociedade

com pretensões totalitárias e não como simples ferramentas. Isso pode ser

observado se levarmos em conta as modificações ocorridas na sociedade e no

próprio homem com as revoluções industriais. Produção em série, urbanização,

desenvolvimento econômico, transporte, tudo isso que os avanços técnicos

propiciaram são acompanhados de uma característica fundamental: a aceleração,

hoje no cerne das sociedades contemporâneas e causadora de inúmeros efeitos na

vida humana.

A aceleração introduz a busca pela imaterialidade das coisas. Tanto na

sociedade como no homem, analisamos o quão imaterial tornaram-se as coisas que

pertencem a nossa existência. No tocante a sociedade, a velocidade dos novos

media produziram uma seqüência de abstrações que envolvem a economia, a

política, a urbanização, ou seja, áreas que constituem o ambiente no qual o corpo

vive.

Paul Virilio fala de uma “topologia eletrônica” (1993, p.10) na qual se insere o

espaço comum. Atualmente, não é mais possível perceber a diferenciação entre

24 HIPÓCRATES, apud BAITELLO. O Animal que Parou os Relógios, 1999, p.17.

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público/privado, local de trabalho, moradia e circulação, tendo em vista que a

imaterialidade dos componentes toma conta dessa reorganização de espaço/tempo.

Hoje o desafio da sociedade é acompanhar a aceleração imposta pelo

espaço/tempo tecnológico, que não apenas modifica a estrutura das cidades e da

sociedade, mas também modifica o próprio homem estando ele imerso nela.

O corpo humano tem um ritmo próprio que inevitavelmente não acompanha a

velocidade da sociedade e dos novos media. O que ocorre é a abdicação do tempo

presente em prol do tempo instantâneo das imagens digitais; a negação do corpo

em sua temporalidade e espacialidade em função do tempo/espaço maquínico.

Se perdermos a lentidão do tempo presente, anularmos nossas dimensões

comunicativas perderemos, como já foi dito, nossa consciência corporal, nossos

sentidos, e, ao perdermos esses sentidos de proximidade, “passamos pelas coisas

sem sermos capazes de nos vincularmos a elas” (CONTRERA, 2002, p. 63).

Renunciando a capacidade de vincular, renunciamos, automaticamente, o poder de

nos comunicar, abrindo espaço para a escalada na incomunicação.

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