cores, formas e letras

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cores, formas e LETRAS: exercícios literários da turma de Teoria da Literatura I (2014.1) - Letras Universidade Estadual de Feira de Santana Exercícios de Gêneros Literários - Estágio Docência Professor Responsável: Dr. Roberto Henrique Seidel Professoras Estagiárias: Calila das Mercês | Raquel Galvão Revisão e diagramação: Calila das Mercês {[email protected]} Raquel Galvão {[email protected]}

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Prezado leitor,

!!Esta coletânea de textos é fruto de um trabalho realizado com a turma do primeiro semestre de Letras Vernáculas da Universidade Estadual de Feira de Santana/BA. No estágio, ao trabalharmos os gêneros literários poesia, conto e crônica, percebemos um interesse dos alunos em exercitar a criatividade, ir além de teorias, conceitos e explanações.!!Então, todos juntos, firmamos o desafio de escolhermos um desses gêneros e produzirmos textos de autoria própria, uma espécie de convite para você, leitor, se debruçar em um pequeno universo literário. Lembre-se que são exercícios, por isso é mais interessante para quem os recebe percebê-los como uma ação despretensiosa, porém rica em criatividade.!!Agradecemos aos alunos e ao professor Roberto Seidel pela oportunidade, amizade, compreensão. E valorizamos o aprendizado e o intercâmbio de ideias.!!

Gratidão e Boa Leitura!!!!!!!Calila das Mercês e Raquel Galvão

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#VaiTerCopa !Ouço os batuques, as cornetas, os gritos. Uma alegria que contagia que faz os meus pêlos se arrepiarem. Pinto o rosto de verde e amarelo e sento na frente da televisão, rodeado de amigos e familiares conversando animadamente sobre o jogo que está prestes a começar. Enfio minha mão em um pote de pipocas amanteigadas e seguro um copo cheio de coca-cola. A alegria está no ar, tudo parou de funcionar, o que realmente importa é ver a seleção vencer, a bola balançando a rede.

“Cadê a Maria Luiza?”, minha mãe olha ao redor da sala e a sua testa se vinca, a minha irmã pequena passou dias e dias falando sobre a abertura, como ela queria ver a Claudia Leitte cantar, ela tem 10 anos e é a primeira copa que ela tem o desejo de participar de verdade, de torcer, de gritar.

“Não sei. Deixa que eu procuro”. Levanto-me do sofá e olho ao redor mais uma vez, meu avô está jogado na poltrona roncando e babando em sua camisa verde e amarela, sigo em direção ao corredor e abro a primeira porta da direita. O quarto da Malu está todo enfeitado, ela fez a minha mãe ir até a rua e comprar bandeiras e fitilhos para que ela deixasse o seu quarto no clima. Encontro a minha irmã sentada na frente do computador lendo uma matéria de jornal.

“Vamos Malu, já vai começar!”, fico da porta e ela vira-se lentamente, com aquele ar de superioridade que só ela tem. Sorrio, ela está muito séria.

“Não quero mais!”, ela vira-se rapidamente em direção a tela do computador e desata a falar de forma apaixonada “Eu fiz uma pesquisa sobre o Brasil no Google, e vi muitas pessoas falando que a copa gastou um monte de dinheiro, dinheiro que era para ter ido para outro lugar, tipo os hospitais. Tem um montão de gente morrendo, porque lá

!!!

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não tem dinheiro para compras as coisas. Luiz, você sabia que tem gente doente que fica deitada no chão? Eu vi no Google imagens...”

“Malu!”. Ela interrompe a sua linha de pensamento, seu rosto está vermelho como um tomate maduro. “Vamos pra sala, a família toda tá lá esperando você. A mamãe comprou sorvete, e tem uma vasilha cheia de pipocas como você pediu.”

“Mas Luiz... eu não posso apoiar o que tá errado! A minha professora disse que a gente tem que gastar dinheiro com as escolas e não com estádio de futebol!!”

“Tem muita coisa errada no Brasil, Malu, e você sozinha não vai conseguir resolver. Parar de assistir os jogos não vai fazer o dinheiro voltar, levanta, logo vai começar e nós vamos torcer e muito para que a seleção faça gol”. Ela se levanta e sai como um foguete em direção a sala. Fico ali mais alguns minutos, olhando para a matéria que ela estava lendo no computador. Tanta coisa errada, tanto para mudar, olho para a minha camisa verde e amarela e suspiro. Quem me dera...ah quem me dera ter orgulho da minha pátria sempre e não ter que esperar quatro anos para entoar o hino nacional. Fecho a porta do quarto e vou para a sala, a Malu se aboletou no sofá e está com a boca cheia de pipocas, seus pensamentos revolucionários foram afastados pelas cores e gritos que saem da televisão. De repente, eu não me sinto mais no clima para comemorar.

!Vanessa Barrêto Ribeiro Oliveira

!!!!!!

!

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!!Olha para mim: tu sabes que eu Não sou teu discípulo, não sou teu amigo, não sou teu cantor, Tu sabes que eu sou Tu.. Fernando Pessoa !!Deus! Tu eras tudo o que eu via, tudo o que eu ouvia, tudo o que eu sentia. O sujeito, o objeto, o passivo, o ativo. Tremo, pois observo em todas as coisas, uma parte tua. Tu em todas as coisas.Tu ave, peixe, homem, mulher.Tu liberdade, desespero, partida, ida. Tu liberto, desesperado, partido, ido. Tu destinatário, remetente.Tu carimbo em todas as cartas, nome em todos os endereços, mercadoria entregue, devolvida.Tu comboio de sensações a quilômetros por hora, minuto, segundo. Tu hora Tu minuto Tu segundoTu segunda-feiraTu saudades, tu saudoso, tu saúde (tim-tim) e brinde de ano novo.Tu engenheiro do meu prédio, tu canção do Roberto Carlos.Tu estranho com quem me bati na rua.Tu rua, avenida, viaduto. Tu o Paraná inteiro.Tu olhos vermelhos, tu lágrima caída.Tu chuva na janela, tu tatuagem na costela.Este e aqueleAqui e aliEm toda parte, Tu. ! Bruna Souza Rocha Oliveira !!

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!

Por que escrever? Eu não sou escritora. Na verdade sou uma menina que apenas escreve

alguns rabiscos no caderno. Você já escreveu? Eu já tentei escrever

vários livros, mas sempre amassava e jogava fora. Talvez tenha me

faltado maturidade para escrever.

Eu sempre gostei de diários. Inclusive comecei meu amor pela leitura

através deles. Toda vez que lia um livro ou assistia um filme que a

personagem tinha um diário me dava vontade de escrever.

Comecei com alguns diários pequenos. Escrevia tudo o que acontecia

no meu dia. Logo depois passei a escrever em cadernos maiores e, às

vezes, no computador. Quando estava mal, escrevia. Era um meio de

me libertar, desabafar e me sentir melhor. Muitas vezes, chorava

escrevendo.

Havia algum tempo que não escrevia. Até que ouve um concurso de

contos e crônicas na universidade. Escrevi meu primeiro conto. Não

ganhei o concurso, mas ganhei motivação. Estou motivada a continuar

escrevendo e agora não só o diário, como também contos e crônicas.

Quem sabe um dia você não compra um livro meu?

Por que eu gosto de escrever? Porque eu consigo desabafar através da

escrita. Porque é algo que me traz felicidade. Escrever me liberta. Foi

um método que eu achei para viajar na imaginação e desligar da vida

real. Escrever é incrível.

Carolina Neves

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!Apaixonado moço?

!Essa é a história de um cara que amava demais, talvez você se identifique com ele ou não, mas seu defeito fatal é amar e se entregar aos sentimentos. Por favor se você também é assim não leia esse conto, mas se a sua curiosidade não deixar você abnegar a leitura vá em frente, espero que goste.

Fui criado na igreja católica, desde cedo aprendi um dos princípios básicos do cristianismo, amar sem esperar nada em troca, amar incondicionalmente. Às vezes pergunto-me será que isso é possível, a vida a cada dia mostra-me que sim, amo muito as pessoas, mostro meu sentimento, entrego-me e não recebo o mesmo de volta? Já pirei muitas vezes por causa disso, e quando digo amar não precisa ser amor de namorado e namorada, amo os meus amigos professores, colegas de escola, minha família. Digo sempre que é meu defeito fatal, pois conhecer o amor é conhecer a dor, dizia uma cantora famosa. Eu concordo com ela, sofro demais, passo semanas na fossa que o amor me aprisiona, ou seria a dor? Sei lá. Meu primeiro amor de namorico foi uma prima, a Elisa, ela era gente boa comigo, ficávamos horas juntos, ela era meio antissocial e era em mim que ela depositava a confiança, tivemos muitas experiências amorosas juntos, coisa de adolescente, sabe? Nada além disso. Vou contar, nós fomos o primeiro um do outro, quero dizer, ela foi a primeira garota que transei. Chega! não quero falar mais disso.

Depois disso aconteceu várias paixões, sou um bobo apaixonado, por tudo ,como havia falado, mas até que um dia me apaixonei novamente. Dessa vez um cara. André e eu erámos amigos, a amizade passou para um outro nível e nos apaixonamos. Foi o meu primeiro relacionamento. Era escondido por que a sociedade recriminava um homem namorar com outro, na verdade, até hoje isso acontece. Vivemos coisas legais juntos, só que acabou. Como acabou? É um mistério até para mim, não sei exatamente o porquê. Já faz muito tempo que não o vejo e não tenho contato por e-mail ou telefone, não sei se ele ainda mora aqui na cidade. Cidade pequena essa que eu moro, não demorou muito e outra amizade se tornou um romance, porém esse até que durou mais, acredite não era apaixonado por ele ou coisa do tipo, era um sentimento louco de amizade e umas outras coisas, contudo era divertido. Bem lembrado, já havia me esquecido desse episódio em minha

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vida, eu tinha um certo tipo de relacionamento, que não me apaixonei. Isso deveria acontecer mais vezes, iria ser legal não sofrer tanto, ficar pensando que vou morrer sozinho, sem uma pessoa ao meu lado.

Quando conheço alguém e me apaixono é horrível, tenho um péssimo hábito de gostar de quem não me quer, droga! Pior é quando me apaixono por amigos, você nem vai querer saber. Enfim acho que pelas contas é o meu terceiro romance, certo? Esse foi louco viu, eu me apaixonei, vidrei fiquei todo bobo, foi muito bom, ficávamos horas abraçados, aquela coisa de casal meloso apaixonado, durou mais de um ano, até que um dia resolvi acabar. Calma, posso explicar: Não gosto de certos tipos de aventura, e olhe que sou bem aventureiro, mas tudo tem limite, eu era muito novo para viver aquilo e naquela época já tinha lido Onze Minutos de Paulo Coelho, sabia o que acontecia com Maria, realmente não queria viver daquele jeito. Acho que preciso ser mais claro, o cara lá, é aquele meloso romântico, começou a querer umas coisas estranhas, sinistras, quem leu o livro do Paulo sabe do que estou falando, então pensei: “Sei como essa história termina, quero isso não”. Falei com ele que não iria me submeter àquilo, não era o que eu gostava, e além disso eu respeitava os gostos dele. Mas o inesperado aconteceu, ele virou um louco perseguidor, por muito tempo não aceitou o fim. Queria voltar, mas eu era irredutível. Ele me vigiava, sabia todos os meus horários, me perseguia no caminho da escola, ligava o tempo todo. Para me ver livre eu voltava algumas vezes, fazia charminho, mas não dava esperança. Acho que foi a pior coisa que fiz. Certo dia chegando em casa de noite, ele estava dentro de uma construção na mesma rua, então eu ia tranquilamente andando até que... Até que ele apareceu me agarrou e me puxou para a construção, perguntou por que eu estava agindo assim, com quem eu estava, o que ele deveria fazer para eu aceita-lo novamente. Fiquei atordoado, de certo modo amedrontado também, nunca tinha visto ele daquele jeito antes, mas mantive a calma e disse, que o problema não era com ele, era comigo, eu não queria mais relacionamentos, estava cansado da vida a dois, queria ser livre. Claro que ele não aceitou. Continuei minha vida e o meu seguidor sempre na minha cola, mas o que eu podia fazer?

Depois de muito tempo nesse ritmo acho que ele cansou, percebeu que eu continuava solteiro. Após uns dois anos do fim, nos encontramos e ficamos, nada demais, para meu alívio percebi que ele tinha superado todo o acontecido, hoje não somos amigos ou coisa parecida, ele ainda é estranho e confiança quebrada é como um espelho, você pode até tentar juntar as partes, mas sempre verá a rachadura no reflexo. Ele superou, eu também. Passaram-se longos anos sem que um relacionamento acontecesse novamente, acho que involuntariamente tinha internalizado a ideia de ficar

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solteiro. Entretanto apaixonando-me sempre, costumo dizer que sou apolíneo por ser racional e individualista, e também filho de Afrodite, a deusa do amor, da paixão, da beleza. Exceto pela beleza, por que não sou bonito, pelo menos não me considero. Um namorinho hoje, outro amanhã, sofria, apaixonava-me, relutava e no fim sobrevivia. Até que certo dia ia pagar uma conta no centro da cidade e um cara num Honda Fit passou dizendo alguma coisa, não havia entendido e também não dei muita importância. Ele fez a volta no quarteirão e parou o carro em minha frente e perguntou:

-Você gosta de homem?

Fiquei assustando, ele aparentava uns 48 anos, pensei esse cara não é solteiro, deve ser algum homem casado que gosta de viver aventuras, comecei a sentir meu rosto vermelho, um desconforto no corpo. Ele era muito bonito. Engoli a saliva olhei para os lados para ver se alguém na rua prestava atenção na conversa, então respondi:

-Sim, por quê?

Fiquei morrendo de vergonha da situação, do modo como fui abordado por um estranho, deveria estar louco respondendo uma informação dessas assim.

-Você não quer uma carona? Para onde está indo?

Com essas perguntas percebi que aquele homem era encrenca. Pensei que ele podia ser um sequestrador. Ou um maluco qualquer. Como é que alguém faz essas perguntas? Ele não me conhece?

-Eu te conheço de algum lugar? – perguntei.

Nossa que pergunta idiota, estava me sentindo um completo tolo com essa pergunta, claro que não, de onde eu iria conhecê-lo? Enfim, ele responde:

- Não, mas pode conhecer. Vamos entre no carro.

Não, tudo menos entrar no carro, pensei.

- Não obrigado, preciso ir agora. – Respondi sentindo as orelhas arderem.

Segui adiante e ele me seguia, e perguntou se ele podia ao menos ter meu telefone, queria conversar comigo, e por fim reconheceu que aquela abordagem não era a melhor maneira de “abrir o canal”, não lembro exatamente as palavras dele. Por fim, dei o número, que mal podia haver nisso? Escrevi o número em um papel que ele me dera, cada um tomou seu rumo. Na tarde daquele mesmo dia ele me ligou, confesso que fiquei até surpreso, conversamos sobre gostos musicais, televisivos, entre outras

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coisas, tomando muito cuidado para não demostrar interesse. Certo dia ele perguntou se podíamos nos encontrar, fiquei muito desconfiado, vou ou não vou? Perguntava-me a todo momento, será que ele é um assassino, louco, psicopata? Afinal chega de loucos perseguidores em minha vida. Posterguei esse encontro o máximo possível, até que finalmente disse sim.

O encontro foi legal, conversamos, ele falara suas reais intenções comigo e perguntou se tínhamos chances juntos, principalmente pelo fato dele ter idade para ser meu pai. Disse que idade não representava muita coisa para mim além da experiência, claro. Por fim o namoro deu certo, ele era mais velho porém o mais irracional. Quantas loucuras fizemos juntos! Cansei de dizer em casa que ia dormir na casa de um colega da escola, quando na verdade estava na casa dele. Nosso namoro era secreto, e acima de qualquer suspeita, lembro de um dia que os empregados da casa dele ainda não tinham ido embora quando chegamos, então tive que ficar uma hora escondido agachado dentro do carro. A parte melhor de quando os funcionários dele foram embora foi vê-lo abrindo a porta do carro com um olhar de preocupação e ao mesmo tempo um pedido de desculpas, e foi o que de fato ele fez, me pediu desculpas e abraçou-me. Essas lembranças mexem comigo, principalmente com uma parte vulnerável de mim. O tempo passou, já tínhamos mais de um ano juntos e veio uma revelação.

-Você já me traiu?- ele perguntou.

-Não. Disse naturalmente.

De repente me vi possuído por uma curiosidade e medo, a pergunta formigava em minha boca. Senti um desconforto muito grande, contudo a coragem apareceu. Perguntei:

-E você, já me traiu? Naquele momento fui tomado por um arrependimento muito grande, meu espírito apolíneo detentor das previsões todas já sabia a resposta.

-Sim!- respondeu ele sem remorso

Naquele momento o meu mundo deu um giro de 360 graus. Como pôde? Ele sabia que eu o amava, daria minha vida por ele, faria qualquer coisa. Mas, como pôde? Passei uns dois minutos em êxtase, não sabia o que falar, tampouco se falava. O que mais me surpreendeu foi meu controle.

- Já? Quando? – perguntei morto de ciúmes.

- Faz alguns meses, mas vai me dizer que você nunca me traiu? Ele perguntara com aquele rosto mais lindo do mundo.

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Passados alguns dias, eu fui levando a relação adiante. Pensei: “Direito dado é direito adquirido”. Ele pôde fazer isso comigo, por que eu não? Eu o traí no final de semana seguinte, com um cara que ele conhecia, na segunda nos encontramos e eu dei a grande notícia. Exatamente naquele momento pude ver a cara que eu tinha ficado quando recebi a mesma novidade. E agora, você pode e eu não? Analisando esse episódio fui muito bobo em retribuir o favor que ele me fizera, são momentos que não voltam, eu tinha que fazer aquilo, se fosse hoje não faria. Pouco tempo depois desse espelho que se rachou, novamente, nós acabamos. Posso confessar que sofri, sofri como nunca, era o final do segundo ano do ensino médio e não sei como não perdi de ano, não tinha apetite, tudo me fazia lembrá-lo, eu usava o mesmo gel de cabelo que ele, não podia sentir aquele cheiro. Fiquei sem comer, sem estudar, sem ouvir música. Maldito! Por tantas vezes me perguntei, como pôde.

Passei de ano, passei pelas férias, passei...

E quando fui passando outras coisas aconteceram. Costumo dizer que em todo fim há um recomeço. Recomecei. Ano novo, mesma escola, alunos novos, já dá para perceber o que ia acontecer, isso é tão clichê. Conheci um colega novo, no início ele era todo quieto, inacessível, bonito que doía. Pensei comigo: “Por esse não corro riscos de me apaixonar”. Mesmo sendo um deus grego eu não sentia nada por ele, aliás sentia, medo. Conversamos uma vez ou outra, comecei a notar o que tinha por trás da beleza... Era beleza também. Nos tornamos amigos, de melhores amigos, sabe? Então começamos a fazer trabalhos juntos, ele se mostrou totalmente diferente do que eu achei que era. Passávamos horas juntos, trabalhos que não acabavam mais. Até que um dia, depois de um seminário que fizemos juntos já estava mais do que explícito em mim. Estava apaixonado por meu melhor amigo. Como posso eu fazer isso? Deixar que os sentimentos se misturassem. Tentei manter a calma, sabia que ia passar, aquela não era a primeira paixonite por amigos, sinto-me ridículo por isso, como posso? Eu achei que estava louco, ou coisa assim, pois o sentimento era muito forte, nunca havia sentido paixão tão forte, nem por meu antigo amor.

E agora? As festas juninas passaram as férias de inverno também, e eu já estava esperançoso de não sentir mais nada. Eis que depois de tanto tempo, nos encontramos novamente e aí foi real. Era real, eu estava realmente apaixonado, já fazia uns quatro meses. Reiterando o que havia dito, nenhuma paixão durou tanto como essa. Era algo surreal. Ao mesmo tempo repassava os fatos comigo mesmo: Por que me apaixonei? Por que estou apaixonado por meu melhor amigo? Eu sou louco? Sem juízo talvez? Como posso? E a cada indagação a razão e a emoção mais e mais entravam em choque, uma

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mostrava para outra quem era mais forte. A emoção estava vencendo, só que lembrei que li em algum lugar que a emoção nasce dos pensamentos, então passei a vigiá-los. Passaram-se três dias e eu não pensava nele, pelo menos não eram pensamentos longos, eram alguns, curtinhos. Quando apareciam não demoravam muito. Concluí que não pensava nele, ou se pensava não tinha consciência disso. Comecei a encarar o fato de que ele era heterossexual, claro, por que não pensei nisso antes? Minhas chances agora caem para 50% negativos, se é que isso existe, ou seja, sem chances. Estava certo que sim. Até que um dia tínhamos mais um trabalho para fazer, dessa vez desenhar em cartolina a tabela periódica, odeio química, mas ela muito paciente comigo. Comecei a ficar desastrado no meio da feitura do trabalho, não sei o porquê de sentir tremedeira quando se estar perto de quem amamos. Sim, usei o verbo certo, depois de quase um semestre lutando contra esse sentimento notei que não era mais paixão, tinha se tornado amor, ai amor, tinha de ser amor? Só não queria que virasse ódio, mas filhos de Afrodite não conseguem odiar, amar é tão bom, mesmo que não seja recíproco, o que posso fazer? É a vida.

Comecei a ficar mais aéreo nas aulas que de costume. Ele perguntava se estava tudo bem.

-Claro que está, é porque, às vezes, fico distraído. Mentia para ele, e fazia isso mal, sentia meu rosto ficar vermelho.

Ele passou a andar com uma galera da escola, afastou-se de mim. Fiquei triste, com ciúmes desse povo que roubara ele de mim. Mas fui forte. Porém no trabalho de português ele voltou, fiquei tão alegre, eu podia voar naquele dia, começamos a fazer o trabalho juntos. Muita conversa, eu ficava mais desatento ainda, não podia me concentrar, estava atrapalhado das ideias, não consegui encará-lo. Até que:

-Você está apaixonado moço? - Ele perguntou.

- Hãm, oi? Você falou o que? - Fiquei com o coração a mil, mil mesmo, pensei que teria uma parada cardíaca naquele momento.

- Na-não – Respondi com muito esforço.

- Sabe, eu nunca namorei sério, para valer, entende? Ele me perguntou com um olhar estanho, nessa hora felizmente consegui olhar em seus olhos.

- Hum, entendo. Então fui tomado pela coragem – Mas tem vontade, você gosta de alguém?

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- Gosto, mas não sei se tenho chances, tenho medo de não viver um “felizes para sempre.”

Felizes para sempre? Que ser perfeito, ele quer alguém para sempre, nossa! Ninguém mais pensa assim – pensei. Depois dessa fala dele, fiquei desesperado, era tudo ou nada, aquele diálogo iria nortear meus sentimentos com ele, ou iria partir meu coração ou era mais provável que meu coração virasse pó. Tomei muita coragem para fazer a pergunta que mudaria meu destino com relação a ele. Pergunto ou não? Pergunto ou não? Vou perguntar.

- Eu conheço essa pessoa? – Nessa hora já via sinos tocarem, os anjos batendo asas por perto, o túnel, juro que já podia enxergá-lo. A resposta estava por vir.

- Vem aqui mais perto que eu te conto. - Ele respondeu.

Vem aqui mais perto? É já estou na chuva, que venha a água, fui até ele que sussurrando disse no meu ouvido:

- A pessoa que eu gosto é....

!FIM

!Diogo Rammon

!!!!!!!!!!!!!!!!

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Intitulável.

Cheguei em casa uma hora antes do amanhecer. O carro em que estava havia parado bem em frente a garagem da casa completamente escura. O meu acompanhante me beijou a testa e depois que eu saí do carro, ele esperou até que eu estivesse com a porta principal aberta para então poder arrastar o carro e seguir pra casa. Acordei naquela manhã, não muitas horas depois, com alguém me chamando na porta do quarto. Era minha mãe avisando que sairia com minhas irmãs. Tentei voltar a dormir, sem sucesso, e então coloquei os fones nos ouvidos.

Algumas horas depois, com o intervalo de uma música para outra, me assustei com alguns barulhos vindos do andar de baixo. Desci ainda de pijama, coçando os olhos e parando na porta da cozinha meio zonza. Dei de cara com meu pai preparando algo para comer. Ele desligou o liquidificador e ficou me olhando. O avental todo sujo de farinha, leite e algo que me parecia ser chocolate. Me sentei em um dos bancos que ainda estavam limpos do outro lado do balcão, e ele ficou me encarando segurando o riso.

– Oi, pai! Bom dia! – Comecei a rir da sua expressão meio desconsertada.

Ele então desatou a rir. Fitava meu rosto e desviava o olhar para o avental. Deu a volta no balcão e beijou a minha testa, dando um sorriso e murmurando um “bom dia, filha”. Havia tanta coisa para se contar ao meu pai, mas era raro ele estar em casa e como então eu contaria sobre noite passada? Como contaria que havia chegado quase de manhã por ter passado a noite em uma festa com alguém tão próximo a ele? E outra, ele sempre fora tão ciumento comigo...

Decidi prolongar as novidades, mesmo ele tendo perguntado umas duas ou três vezes por elas. Passei a ajudá-lo na cozinha, para que ele fizesse menos bagunça e que eu pudesse fugir das perguntas. Fizemos o almoço e uma sobremesa. Estávamos terminando de limpar a cozinha quando minha mãe chegou. Cheia de sacolas, com um sorriso no rosto.

– Encontrei o David esta manhã! – Ela disse fitando o meu pai. – Estava com aquela cara de quem havia passado a noite inteira na festa, mas com aquele sorriso de que tinha passado com alguém incrível! –

Derrubei as vasilhas e ambos me olharam um tanto assustados. Rapidamente arrumei tudo e puxei o assunto sobre o que ela havia comprado. Logo depois, subi para fazer minha higiene e voltar para o meu almoço. Em meio a isso, a campainha tocou, porém, com o som alto que estava em meu quarto, eu nem

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havia notado. Só me dei conta quando encontrei com David parado ao pé da escada dando risada de alguma coisa que meu pai havia contado.

Ele vestia uma calça preta, igual aos tênis e o casaco, e uma blusa azul claro. Ajeitei o meu vestido e puxei o cabelo para o lado, descendo um pouco sem graça e o cumprimentando apenas com um sorriso. Nos sentamos para nosso almoço e logo depois me ofereci para lavar os pratos. O nosso convidado me acompanhou, como desculpa para agradecer pelo almoço incrível.

Eu nada falei. E ele também não. Apenas ficou me encarando com um sorriso meio bobo no rosto. Eu sentia meu rosto queimar, e sabia que ele podia notar facilmente o quanto eu estava corada. Quando ele tomou coragem para se aproximar, minha mãe invadiu a cozinha em risos, com meu pai bem atrás dela. Sentaram-se nos bancos encostados com o balcão e começaram a falar sobre negócios.

David era sócio do meu pai em uma grande multinacional de arquitetura. Haviam firmado sociedade logo depois da entrada de David na faculdade. Os dois haviam crescido no mesmo bairro, então meu pai conhecia bem o jeito de pensar e trabalhar do amigo. Eram inseparáveis desde criança e talvez tenha sido este o segredo da empresa dar tão certo.

Cresci tendo David ao meu lado, mas confesso que pouco gostava dele. Tinha um jeito metido, se achava o melhor de todos, e sempre parecia ter certeza que o mundo de qualquer mulher, girava em torno dele. Menos o da minha mãe, claro, que era também sua melhor amiga, que o tratava como irmão, da mesma forma que o meu pai.

E a relação dos três era tão forte que pra mim o David era um tio. Assim como os meus pais, morria de ciúmes de mim e não gostava nadinha se alguns dos moços do colégio se aproximavam. Como não tinha esposa, namorada ou qualquer coisa fixa do gênero, vivia em baladas, festas e shows. E era os olhos dos meus pais em mim e nas minhas irmãs em todas essas comemorações juvenis. Mesmo sendo uns quinze anos mais velho que eu, tinha uma conversa e mente abertas, e um espírito extremamente jovem, e pra alguns o que nem forçado ocorre, pra ele ser jovem era natural.

Saí da cozinha e fui conversar com as minhas irmãs, então não vi a hora que o nosso visitante saiu. Mais tarde, meu pai bateu na porta do quarto onde estávamos, nos chamando para ver um filme. Elizabeth, minha irmã do meio foi quem animou a mim e a Alexia para que saíssemos para o cinema.

Minha mãe, como sempre, estava a frente com Alexia e Liz enquanto eu caminhava atrás com meu pai, olhando as estrelas e conversando sobre suas

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viagens. De todas, eu sempre fora a mais apegada. Talvez tenha sido o fato dele ter começado as viagens pouco depois que eu nasci. Então, o tempo que tinha quando estava em casa, era divido entre minha mãe e minhas irmãs e eu. De início, foi meio complicado aturar o ciúme das meninas, mas com o tempo, entenderam que isso jamais mudaria.

Ouvíamos gargalhadas a nossa frente enquanto conversávamos sobre constelações e sobre o que é possível ver em cada canto do mundo. Sei lá como entramos em um assunto sobre festas, o baile anual da minha cidade que seria no dia seguinte, e eu tive que confessar que um amigo da faculdade havia me convidado.

– De jeito nenhum, Amanda! Eu não conheço esse rapaz, não conheço a família dele. Você não vai com ele! Vá com suas irmãs. Vocês podem ir juntas! – Ele sempre conversava de maneira calma comigo, mas sua voz trazia uma força, uma firmeza que só ele conseguia ter.

– Pai! As meninas vão com os namorados delas! Por que você não briga com elas? – Eu apenas falava por falar mesmo, sabia que aquilo não daria certo argumentar.

– Por que? Oras! Porque conheço os namorados das suas irmãs desde pequenos. Eu os vi nascer! – É, ele tinha razão. Meu pai conhecia Noah e Matthew desde o nascimento dos dois, então era melhor eu parar de tentar argumentar por uma folga. – Mary! Fala com a sua filha! Você está ouvindo isso? –

Minha mãe riu e parou no meio do caminho, com as minhas irmãs segurando gargalhadas. Ela soltou os braços das meninas e puxou meu pai pela mão. Foram caminhando de maneira tranquila pela calçada, enquanto eu voltava a caminhar com as minhas irmãs.

– Espere só ele descobrir que você saiu com o David... – Dei um tapa em Liz assim que a ouvi falar. Ele não poderia nem sonhar em algo do tipo.

– Eu não... Eu não saí com o David! Ele só me fez companhia em uma festa. Só isso. – Respondi gaguejando, falando o mais baixo possível para que Sr. e Sr.ª. Ransom nem ouvissem o que eu estava falando.

– Aham... Ele te fez companhia em uma festa e não conseguiu tirar os olhos de você todo o almoço. Tudo bem, Amanda. Tudo bem. – Revirei os olhos e bati em Alexia.

Era uma completa loucura o que estavam argumentando. Elas não poderiam ter notado nada. E uma loucura maior ainda era comentar algo do tipo com o

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nosso pai em nossa frente. Certo que ele sempre pede para o David ficar de olho em mim nas festas, mas se soubesse da festa de ontem, e de como as coisas estavam, provavelmente colocaria na cabeça que havia sido um encontro, e quando Ethan Ransom colocava algo na cabeça... Era problema.

– Ai meu Deus... – Parei de andar. – Imaginem se ele descobre que David tem estado presente em quase tudo? Não como um tio que ele sempre foi, mas como um... amigo? Me elogiando e olhando torto para os homens que chegavam perto? E nossa... Teve a briga dele com o Luke ontem... –

– O David o quê? – Alexia parou em minha frente com os olhos arregalados. – Ele brigou por sua causa? –

– Ele nunca fez isso antes! Por nenhuma de nós! – Elizabeth interrompeu nossa irmã mais velha tão espantada quanto, e ainda continuou. – Acha que ele gosta de você? –

– É claro que... – Alexia foi interrompida novamente, mas por nosso pai, que estava parado na porta do cinema esperando por nós. Respirei fundo, aliviada por não ter que contar nada para elas.

Pegamos uma sessão cheia, mas por sorte conseguimos sentar todos juntos. A questão não era nem o filme, era estarmos todos unidos. Era fazermos algo em família. Algo que pudesse ser lembrado quando a distância pesasse. Durante toda a duração do filme, ficamos quietos, juntinhos, comendo pipoca e tomando refrigerante.

Sempre fomos muito fãs desses programas em família. Mesmo quando estávamos crescendo. Muitos adolescentes largam as famílias para ir pra festas, mas as meninas Ransom sempre fizeram o contrário. Sempre programamos almoços, piqueniques, acampamentos e qualquer coisa que pudesse diferenciar da rotina. Largávamos festas, mas sempre que dava, levávamos nossos amigos, só para ver a festa ficar mais completa.

Já fora do cinema, peguei o celular visualizando a quantidade de notificações no mesmo. Ligações, mensagens e coisas do tipo. Voltamos pra casa rapidamente, e no alto da rua, vi o carro de David estacionado. Deixei que a família entrasse e dei uma desculpa de que passaria na casa de uma amiga ali da rua para saber sobre a festa, e fui ao encontro dele.

– Você já falou com seu pai que eu vou te levar ao baile amanhã? – Ele estava de braços cruzados na altura do peito, com uma bermuda marrom e uma blusa do Metallica.

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– Você só pode ter ficado louco, David! Como é que vou chegar para o meu pai e dizer que vou ao baile como acompanhante do melhor amigo dele? – Respirei fundo, colocando as mãos em meu rosto.

– Então você não vai contar pra ele nunca que nós temos saído? Que eu tenho te levado pra jantar, que eu tenho te levado para festas e passeios românticos? Estamos nisso faz dois meses, Amanda! – Ele respirou fundo, e cerrou os punhos.

Eu já tinha visto ele fazer aquilo diversas vezes. Se fosse com outra pessoa, ele com toda certeza teria explodido, estaria falando em voz alta, e quem sabe já teria partido para a agressão. Era um defeito dele. Se irritava fácil. O que lhe rendia brigas, socos e machucados. Mas não comigo. Não importava o quanto eu o irritasse, ele sempre me tratava da maneira mais linda possível. E foi assim que fui começando a gostar daquele que antes eu achava um babaca. Mas naquele momento, ele sabia que se tratava de uma situação extremamente complicada, e a insistência havia me deixado irritada. Revirei os olhos e falei com certa raiva.

– Eu não posso contar! Você acha que ele vai entender? A protegida e o melhor amigo? Ah, David! Fala sér... –

Não pude continuar. Ele me segurou, me abraçando forte, mas de maneira carinhosa e me beijou. Ele realmente sabia como me deixar sem jeito e como me fazer calar a boca de uma vez só. Eu sabia que ele conseguia sentir meu coração acelerado. Com o fim do beijo, ele me manteve em seus braços.

– Desculpa, eu realmente não consegui evitar. – Sussurrou dando um sorriso meio sem jeito.

– Eu vou falar com ele que vou com você amanhã. Claro que eu não vou dizer que vai ser um encontro. Ele vai matar nós dois. Mas eu darei um jeito. – Sussurrei de volta, perdida em meio aquele sorriso perfeito.

Eu sabia o quão seria difícil, mas eu precisava encarar meu pai para assumir o David. Eu nunca havia visto ele pensar em compromisso em parte alguma, mas já havia tocado no assunto comigo três vezes. Se ele estava disposto, por que eu não estaria?

– Ransom vai matar vocês se encontrar os dois desse jeito numa rua escura. – Olhamos assustados pro lado e demos de cara com dona Mary se aproximando com os braços cruzados. Nos afastamos com os olhos arregalados, mas uma das mãos de David permanecia em minha cintura, como se quisesse mostrar pra minha mãe que eu não estava sozinha. – Ele vinha procurar você, Amanda. Mas como eu vi a Angeline te cumprimentar na

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fila do cinema, eu percebi que não viria para casa dela. E ao julgar os olhares de vocês dois nos últimos dois meses, contando com as saídas, claro... Eu sabia que era com o David que você estaria.

– Mary, olha... – Minha mão levantou a mão, fazendo sinal para que ele parasse. Ele não precisava se explicar para ela. Se ela tinha notado havia mais de um mês, não haveria problema com ela. – Bom, melhor eu ir. Boa noite, Mandy, e boa noite... Sogra.

David se afastou gargalhando, enquanto minha mãe dava um sorriso discreto e balançava negativamente a cabeça. Sussurrei um “boa noite” e minha mãe me abraçou. Seguimos pela rua rapidamente até em casa, e quanto entramos, meu pai estava lendo jornal com as minhas irmãs vendo desenho. O resto da noite foi extremamente tranquila.

No dia seguinte, acordei já pela tarde. A casa estava uma loucura. As meninas zanzando pela casa fazendo cabelo, as unhas e procurando os acessórios. Quando desci as escadas, procurando algo pra comer David estava sentado sozinho em um dos bancos da cozinha mexendo no celular. Olhou-me de cima a baixo e mordeu o lábio. Fiquei sem graça, então nada falei, cortei um pedaço de bolo e comi.

Meu pai entrou na cozinha pouco depois, entregando uns papéis para David. Sentou ao lado dele, e mesmo com meu pai falando coisas sobre a Ransom Company, David não desgrudava os olhos de mim.

– Pai... – Respirei fundo, me aproximando. Meu pai levantou o olhar para mim. – Então, você disse que eu não podia ir com o meu amigo da faculdade para o baile, certo?

David olhou em minha direção um tanto furioso. Com toda certeza estava pensando em que história de amigo era essa que eu não havia contado para ele. Meu pai apenas balançou a cabeça assentindo.

– Então... Eu posso ir com o David então né? Já que as meninas vão com seus namorados, e o David não tem acompanhante. Nunca tem acompanhante. –

Meu pai olhou para o amigo que estava pálido e quieto. Desviou o olhar para mim e voltou logo depois para ele outra vez. Então se endireitou no banco e assentiu.

– Bom... Acho que pode. Se não houver problema para o David. – David balançou a cabeça negativamente, indicando que não havia problema e então meu pai prosseguiu. – Ótimo! Decidido!

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Se levantou carregando uns papéis e subiu para seu quarto. Respirei fundo encostando no balcão enquanto David se levantava para me abraçar. Beijou minha testa com um largo sorriso no rosto e então Alexia e Elizabeth chegaram na cozinha. Elas apenas riram enquanto nos afastávamos.

Já mais a noite, na festa nada poderia estar melhor. Uma perfeita harmonia. David, apesar de não gostar de dança, dançou comigo boa parte da noite. Quando cansei, fomos para o lado de fora do galpão, tomar um ar. Nos sentamos em uns bancos no meio da praça extremamente iluminada e ficamos conversando.

Ele segurava minhas mãos, enquanto eu fitava seus lindos olhos azuis. Então ele soltou uma das minhas mãos e voltou a me beijar. Esqueci até que estávamos em uma festa com a cidade toda, que poderíamos ser vistos por qualquer um na cidade, e pior... Pelo meu pai.

– David Gunner! – Ao ouvir aquela voz, nos afastamos rapidamente. Porém não tive coragem de mexer outra vez. David se levantou e se aproximou do meu pai e da minha mãe, mas eu continuei sentada.

Abri os olhos bem a tempo de ver o soco que meu pai dava no amigo, o mesmo cair ao chão. Só aí consegui me mexer, correndo em direção aos dois, ajudando David a levantar. Meu pai estava com os punhos cerrados, olhando com raiva para nós dois. Minha mãe estava assustada, imóvel pouco atrás do meu pai. David levantou, mas ao contrário do que eu imaginava, ele não revidou. Ficou parado, esperando pelo próximo passo do meu pai.

– A minha filha não, David! – Novamente socou o rosto do sócio, que cambaleou, mas não caiu porque o segurei. Meu pai me puxou pelo braço e me jogou para cima da minha mãe que me abraçou. – Você podia ter qualquer uma no mundo! Menos a minha Amanda! –

Vi uma movimentação na porta do galpão e logo em seguida minhas irmãs e seus namorados correndo em nossa direção. Minha mãe estendeu o braço para que eles parassem. Ela queria dizer que a briga era apenas dos dois, mas eu não achava justo, já que eu tinha metade da culpa naquela história.

Me soltei dos braços da minha mãe e corri em direção a briga, ficando entre meu pai prestes a dar um soco no melhor amigo, e o melhor amigo dele, o rapaz que até mais cedo eu não sabia, mas que eu amava.

– Ethan Ransom! Chega! – Ele parou com a mão no ar, assustado com o meu grito. Abaixou a mão e recuou um pouco. As mãos de David estavam em meus braços, para me tirar da frente, e então ele soltou meus braços, respirando fundo.

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– Amanda. Isso não é assunto seu! Pode sair da minha frente? Aliás... Saia! – Balancei a cabeça negativamente e segurei as mãos do David. – Amanda! –

Quando ele viu que eu não sairia, deu meia volta e caminhou até o carro. Minha mãe o seguiu e os dois foram para casa. Minhas irmãs correram em minha direção e Noah segurou David que ainda estava um pouco atordoado com o soco. Levei as mãos ao rosto e comecei a chorar. Alexia sugeriu que eu não voltasse para casa naquela noite. E Matthew complementou que David deveria ficar comigo onde quer que eu estivesse.

Decidi então que poderíamos ir para o apartamento que David tinha no centro da cidade. No caminho, fui agradecendo por ninguém ter visto aquela briga horrorosa enquanto meu mais novo amor segurava firme a minha mão. Eu respirava fundo, mas ao chegarmos no apartamento, desabei em choro. O dono da casa me fez um café, e ficou a meu lado todo instante. Passamos a noite em claro, juntinhos, e quando o sono chegou, dormi em sua cama enquanto ele havia dado um jeito de se acomodar no sofá.

No outro dia, acordamos quase no final da tarde. Ele me levou para casa, e minha mãe que esperava na porta, pediu que ele entrasse. Fomos direto para a cozinha, onde ela nos fez mais café. Segundo ela, meu pai havia ficado no quintal o dia inteiro, sentado, olhando pra cima.

Estávamos toda a família na sala quando ele entrou. David sentado no canto, comigo ao seu lado. Ele me abraçava por um braço só, me puxando para si. Ao ver meu pai, prontamente me afastei, indo para o outro canto do sofá. Ele fechou as mãos e suspirou. Sentou-se em sua grande poltrona e depois de um grande suspiro, disse de maneira calma.

– Vocês sabem que não concordo com isso né? – Ele nem olhava para mim. Olha para David. E eu sabia que se me olhasse, recuaria em sua decisão.

– Eu não arriscaria a nossa amizade se eu não gostasse mesmo dela. – David respondeu de maneira firme, olhando fixamente para meu pai.

Sr. Ransom se levantou e eu previ outra confusão começar, mas David levantou-se com a mesma rapidez, e todos naquela sala sabiam que daquela fez, Gunner revidaria. Me levantei logo depois, lentamente, um pouco sem jeito e dei alguns passos em direção aos dois. David me estendeu a mão e assim que eu segurei, ele me puxou lentamente para seu lado, mostrando para meu pai que havia algo ali.

– Papai... Aconteceu. Tenta entender. – Ele me olhou furioso, respirava fundo repetidamente, então deu meia volta e subiu as escadas, batendo a porta do quarto. – Ransom! –

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Minha mãe se aproximou para subir, mas eu a parei e subi as escadas. Ela voltou a se sentar entendendo que era entre nós dois. Entrei no quarto batendo a porta e ele se levantou da cama.

– Nem pense em falar! É minha vez! – Disse gritando. Ele voltou a se sentar, assustado com minha atitude. – Você não esteve aqui durante um mês e meio. Estou saindo com seu amigo faz dois meses e ele me fez um bem tão grande que acho que nunca me senti desse jeito na vida. Eu não me importo se você tem ciúmes, se ele é seu melhor amigo, ou se você acha que ele vai me machucar. Eu quero apenas que você se conforme que nós vamos lutar por isso e não vamos voltar atrás. –

Os olhos do meu pai estavam arregalados. Ele nunca tinha me visto falar de tal maneira. Nunca. Eu respirei fundo, tomei fôlego e então prossegui com meu discurso no mesmo tom

– David mudou. Eu o conheço desde que sou criança então eu posso dizer sim que ele mudou. E você não pode fazer nada enquanto a isso, pai. E agora que você já sabe o que está acontecendo, é bom que você saiba também que vamos assumir um compromisso nessa história. Um compromisso firme. Você aceitando, ou não. –

Ele apenas deu um suspiro cansado, um suspiro de quem havia sido vencido. Levantou da cama e saiu do quarto sem me dizer nada. Apenas desceu as escadas parando em frente ao amigo. Desci logo atrás enquanto minhas irmãs me olhavam assustadas. Com toda certeza todos da casa, e se duvidar da rua, haviam ouvido os gritos.

De frente para David, relutante, ele estendeu a mão. Aquilo não significava uma aceitação, nem muito menos que ele pensava em aceitar. Todos nós sabíamos que ele não queria perder o amigo e a filha em uma tacada só. Então ele apenas estava determinando uma trégua para o sócio. Me aproximei dos dois com um sorriso cansado, e então David me abraçou. Meu pai me olhou, deu um sorriso fraco e se sentou na poltrona. Logo foi abraçado por minha mãe.

As coisas dali a diante não seriam muito fáceis. Ele iria impor regras, seria mais duro com o sócio na empresa, e durante as viagens provavelmente tentaria achar um lugar para levar David, mas pelo menos ele havia entendido o que era importante para mim. Não seria um mar de rosas outra vezes, mas pelo menos seria o meu mundo encaixando-se em um eixo melhor.

Maria Luíza Borba

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!!

ANÔNIMO ANÔNIMO ANÔNIMO ANÔNIMO

ANÔNIMO ANÔNIMO ANÔNIMO ANÔNIMO

Hoje senti tanto sua falta que precisei ouvir uma música para acalmar meu coração Mas como acalmar um coração, que só sossega com sua presença? só fica quieto com o calor do seu corpo com seu sorriso, com sua boca colada na minha? Você consegue tirar-me do sério, me acalmar me fazer sorrir, me enlouquecer de paixão e amor me enlouquecer na cama; você realmente é parte de mim Quando penso em você, fico voando nas nuvens suspiro de amor; Você, mulher, é dona do meu coração cuide dele, ame-o que ele lhe dará toda felicidade e tu sentirás a mulher mais amada do mundo.

Sei que minha presença alegraria muito mais teu dia mas estarei presente dentro do seu coração sempre A saudade e o amor são recíprocos entre nós   Há o tempo... como ele nos maltrata; quando estamos juntos passa rápido quando estamos longe demora até nos vermos. Mas a intensidade do nosso amor é mais forte que tudo e supera todos obstáculos.... Em uma vida cheia de alegrias você é a maior de todas; Nunca alcançarei a felicidade sem te ver feliz... Que a chama do meu amor penetre dentro do seu coração aquecendo ele e unindo-o junto ao meu... meu eterno amor é você, mulher, e sempre será.....

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Diálogo ou Monólogo

(Conversa estranha entre pessoas esquisitas ou conversa esquisita entre pessoas estranhas)

Duas pessoas estão tendo uma conversa fiada quando uma delas para e diz:

- Cara, tô bolado com uma conversa que ouvi de um cara que se diz defensor da natureza. Papo estranho pra caramba.

- Quem? Aquele babaca? Ele disse que cascata? Aposto que foi baboseira.

- Vê bem: disse que fez uma excursão em umas cavernas, andou por várias trilhas fazendo faxina, pois estava um lixo só. Dizendo ele que tinha de tudo: garrafa pet e de vidro, resto de alimentos, garrafas e latas de cervejas e de refri, papel, roupa velha, guardanapo usado, talher, prato descartável, bitucas de cigarros, caixas e palitos de fósforos usados, fraldas descartáveis e recém usadas, enfim, meio mundo de coisas que (mesmo sendo pequenas fazem um estrago na natureza) e que deveriam ser descartadas em lugar apropriado.. Ou então guardadas em sacos plásticos para depois tomar outro rumo...

- Mas, cara, até parece que todo mundo é tão otário quanto ele.

- Você já reparou nestas pessoas que vivem falando da natureza, meio ambiente, poluição normal, visual e sonora, camada de ozônio, blá, blá,blá?Tá com nada né?

- KKKKKK. Não, e aqueles que vem com papo furado levantar do busu e dar lugar para mulher, deficiente físico, gestante ou idoso? Mãe que não tem o que fazer em casa e vai para rua com filho pequeno nos braços? É mole ou quer mais?

- Não sei quem tem nada a ver com isto. Eu gosto quando entram no ônibus aqueles velhos desocupados que parecem que não tem nada o que fazer em casa e saem para rua, e o motorista arranca antes deles se sentarem. Cara, dou risada até umas horas.

- kkkkkkkk, e quando eles estão no ponto fazem sinal e o motorista olha para outro lado e não para eles? Ficam com cara de suco de limão azedo com jiló, é muito legal!

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-Este negócio de poluição não me diz respeito, pois não fui eu que meti o dedo e furei a camada de ozônio, se joguei foi uma ou outra coisinha aqui

ou ali, que nem dá para sujar, ou se sujou foi só um pouquinho superficial, nada demais.

- É cara, eles agora estão cheios de ideias perdidas, é um tal de sustentabilidade, que eu nem sei o que é isto, economizar água, vê bem com tanta água por aí, não sei para que economizar…

- kkkkkkk, escovo os dentes com a torneira aberta até umas horas, tomar banho para mim é igual a chuva, não quero mais sair de baixo de chuveiro.

- Você viu aqueles japoneses, bando de otários, que vieram assistir aos jogos da copa? Eles catavam nos estádios o lixo que eles produziam e depois descartavam em local apropriado!

- Não vi o quê? Tô rindo até agora da cara de trouxa deles, são babacas mesmo.

- Bicho, uma coisa que me amaro mesmo é quando estou no busu e entra aquela babaca toda cheia de não me toques, ligo minha caixinha de música (nem coloco o fone de ouvido, pra quê ser educado?) bem alto, e fico ouvindo umas músicas tipo arrocha, axé, bem de zoeira que tenho certeza elas não gostam! Me amarro até dizer chega!

- Vou sair por aí procurando a quem zoar e tirar sarro.

-Tchau, vou fazer o mesmo, depois a gente se encontra para trocar ideias…

!Rizia Maria Souza Santos de Oliveira

!!

!

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retornar !retornar trás tanta coisa.

o pôr-do-sol da janela do carro. a fumaça da chaminé das fábricas. o cheiro de vinho da sua boca através do aroma de álcool na brisa de alguns quilômetros de estrada.

voltar trás tanta coisa.

banho gelado na sua casa depois do banho de mar, roupa suja no canto, saudade na mochila velha. ressaca por uma madrugada vivida, não dormida.

as cancelas brancas do caminho, que cercam o verde-mar no meio do cerrado. enquanto penso no que está fazendo, concentro-me num ditado popular que diz "falar é prata, calar é ouro". e derreto-me em cada olhar intenso das crianças que se apegam, brincam, riem e tem olhos iguais aos seus.

o retorno da viagem é capaz de me inspirar a tentar ser melhor que na ida, melhor do que como apareci para você. vista-se para um passeio, ao sonho mais belo e real que é o encontro de águas e flores, céu e gente. a gente azul turquesa. é a cor que mais faz lembrar você. não há nada mais azul turquesa que uma luz vinda do seu abraço. obrigada, pelo cartão postal.

!Calila das Mercês

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alforria Anoitece – sem fome.

Um olhar distante e estático

liberta o segredo de outro lugar

!falta algo?

!- ele toma corpo

na fumaça

do seu cigarro.

!!!!!!!!!!!!

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FEIRA DE SANTANA/BA - 2014

Teoria da Literatura I Exercícios de Gêneros Literários - Estágio Docência

Professor Responsável: Dr. Roberto Henrique Seidel

Professoras Estagiárias: Calila das Mercês | Raquel Galvão

Revisão e diagramação:

Calila das Mercês {[email protected]}

Raquel Galvão {[email protected]}