coreografando para atores: idiossincrasias de um coreógrafa
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COREOGRAFANDO PARA ATORES
Idiossincrasias de uma Coreógrafa
COREOGRAFANDO PARA ATORESIdiossincrasias de uma Coreógrafa
ALBUQUERQUE, Carlota. Coreografando para atores: Idiossincrasias de uma coreógrafa / Carlota Albuquerque. Porto Alegre, RS: Terpsí Teatro de Dança, 2014. On line. Disponível em: http:// www.terpsiteatrodedanca.wordpress.com
1.Pesquisa2.Idiossincrasias3.Coreografia4.Atores
2014
Pesquisadora:Carlota Albuquerque
Orientadora:Sayonara Pereira
Organização:Francine Pressi
Capa:“Casa das Especiarias”Terpsí Teatro de Dança
Foto da Capa:Claudio Etges
Arte e Diagramação:Francine Pressi
Fotos:Claudio EtgesBernardo RibeiroRaul KrebsSilvia MachadoVilmar CarvalhoFrancine Pressi
Contato:Terpsí Teatro de Dança51 - [email protected]
Financiamento: Apoio:
Este caderno registro integra o Projeto “Coreografando para atores: Idiossincrasias de uma coreógrafa” contemplado pelo Edital 21/2012 CONCURSO DÉCIO FREITAS – SMC na categoria de Artes Cênicas.
Porto Alegre, 2014
COREOGRAFANDO PARA ATORESIdiossincrasias de uma Coreógrafa
O corpo existe e pode ser pego.
É suficientemente opaco para que se possa vê-lo.
Se ficar olhando anos você pode ver crescer o cabelo.
O corpo existe porque foi feito.
Por isso tem um buraco no meio.
O corpo existe, dado que exala cheiro.
E em cada extremidade existe um dedo.
O corpo se cortado espirra um líquido vermelho.
O corpo tem alguém como recheio.
(Arnaldo Antunes)
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Quando recebi o resultado da bolsa Décio Freitas para a registrar minha pesqui-sa sobre coreografia para atores, iniciei a reconstrução desse processo e de seus pontos departida: duas ricas e diferentes experiências; uma com o grupo Stravaganza (com a peça Estremeço, de Joël Pommerat, sob direção de Camila Bauer); e a outra com uma monta-gemdapeçaTerroreMisérianoTerceiroReichdeBrecht,paraconclusãodocursodeForma-çãodeAtoresnível IIdaCasadeTeatrodePortoAlegre, sobdireçãodeGraçaNuneseorien-tação de Zé Adão Barbosa. Estas duas experiências juntaram-se ao meu trabalho comodiretora-coreógrafadaCia.TerpsíTeatrodeDança,ondeexercia funçãodecoreógrafa.Essescontatos cadavezmais colocava-meemestadodeatençãopara responderperguntasquehámuito vinham, de certa forma, povoando meu pensamento. Além de respondê–las, gosta-ria tambémdedeclararminhaadmiraçãopelo trabalhoao ladodeatoresediretores teatrais.
Antes de tudo, como registro, é importante reconhecer que o título dado ao projeto Idiossincrasias de uma coreógrafa (e talvez a coragem de mergulhar no processo para trans-crevê-lo) surge a partir de um colega diretor, figurinista de teatro que me fez olhar para assingularidades de minha criação.Acredito que o relato desse processo seja importante paraqueoutrosartistaspesquisadores,artistasestesqueficaram focadosemsuaprática, semde-dicarem-se completamente à descrição teórica de suas metodologias e processos, possamtambém compor e registrar seus métodos de pesquisa e de processos de criação. Uma cer-ta ansiedade juntou-se à minha pouca experiência de descrever meus processos e ao dese-jodeunirestasmúltiplasvivênciasdoanode2012aos trabalhos jáprogramadosde2013, fo-cos da pesquisa. Como não poderia deixar de ser, meu jeito de sentir, agir, etc, estavam aíembutidosnasquestõeschaves-ou“chaveiro”,dadaadimensãodashipóteses-dapesquisa.
Porémomaismagníficodevivereregistraroprocessoédar-secontaquemesmoem26anos de carreira, sempre estamos em euforia criativa, transformando e renovando nosso olhar so-breacena,sobreaobraesobrenósmesmos.Oquetornaespecialacriaçãocoreográficaé,princi-palmente,arelaçãopessoalestabelecidaacadadiacomnúcleosdeartistadeformaçõesvariadas.
Apesquisaemsitrata-sedeumolharaopassadoparaessesdoisprojetosespecíficoscitadosacima,masprincipalmenteemobservar-comumolharespecífico,voltadoparaasquestõesdapes-quisa - nos trabalhos na época presentes: O BALCÃO,deJeanGenet,realizadopelaCasadeTeatrodePortoAlegre,soborientaçãodeZéAdãoBarbosa,direçãodeGraçaNunesedireçãocoreográficadeCarlota Albuquerque e UnterWEG(s) [NO CAMINHO], nova obra ainda em processo do do Labo-ratóriodePesquisaeEstudosemTanztheater(LAPETT),sobdireçãodeSayonaraPereira .
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COREOGRAFIA
O que leva o diretor a procu-rar o coreógrafo quando o contato não se restringeunicamente a coreografar
as partituras musicais? Qual é o papel/espaço do coreógrafo na cena teatral? Quaissãoassingularidadesdoproces-so de criação com atores? Existe umcoreógrafo do ator e um coreógrafo do bailarino? Através de observações demeupróprioprocessodecriaçãoedas reações acendidas nos corpos de atores, será possível criar um corpusde procedimentos que defina a rela-çãoentreocoreógrafoeoatorequepossa auxiliar e, principalmente, ins-tigar coreógrafos e diretores a buscar a união extraordinariamente cons-trutiva entre esses corpos com vivên-cias, técnicas e provocações distintas?
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“Casa das Especiarias”Foto: Bernardo Ribeiro
PROCESSOPESQUISACRIAÇÃO
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O Balcão de Jean GenetDireçãodeGraçaNunes
OrientaçãodeZéAdãoBarbosaDireçãoCoreográfica:CarlotaAlbuquerque
Foto: Raul Krebs10
Coreografiaé...
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#CASA DAS ESPECIARIAS
Terpsí Teatro de Dança
Sinopse:A nova obra “Casa das Especiarias” da Cia Terpsí Teatro de Dança é um convite a um lugar onde o público visitante é instigado a envolver-se em experimentações despertadas inicialmente pelo olfato e paladar. Um espaço “casa” repleto de cheiros, sabores, amores e dores. Um lugar de visitas. Ao se apropriar do espaço, a obra traz, além do seu lado acolhedor e provocador de lem-branças, uma mistura de linguagens, onde dan-ça, música e projeções se unem. A obra emerge justamente dessa interação simultânea entre oreal e o virtual, provocadores de muitas imagens.
Ficha Técnica:Intérpretes Colaboradores: Angela Spiazzi, Edson Ferraz,FrancinePressi,GelsonFarias,NatáliaKaram,Raul Voges / Direção e Concepção: Carlota Albuquer-que / Trilha Original: Vagner Cunha/ Trilha Pesqui-sada: Terpsí Teatro de Dança / Edição e mixagem da trilha pesquisada: Murilo Assenato / Figurinos: Anderson de Souza/ Cenário: Raul Voges e Terpsí Te-atro de Dança / Iluminação e Operação de Luz: GutoGreca / Produção: Terpsí Teatro de Dança / Interfe-rências visuais: DarjáCardozo/Equipe de Produção: Cia. Terpsí Teatro de Dança / Cenotécnico: Paulinho Pereira / Criação de Imagens e Fotos: Claudio Etges
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#O BALCÃO DE JEAN GENETCasa de Teatro
O Balcão, peça escrita em mea-dos da década de cinquenta, pelo fran-cês JeanGenet é uma mordaz crítica àsinstituições de poder - Igreja, poder Ju-diciário, policial e político.A peça é per-meada pelo poder mágico dos símbo-los e dos rituais, sendo Antonin Artaud uma das grandes influências do autor.Fugindo do realismo, a peça trata da ar-tificialidade e da falsidade das relaçõesestabelecidas na sociedade. Num bordel, comandado pela Madame Irma, um con-junto de tipos sociais exerce suas fantasias de poder através do sexo. A peça é como um grande jogo de espelhos, onde a fan-tasia é a maior de todas as realidades.
MontagemdeconclusãodoCursodeFormaçãodeAtoresNível02/2013.
Direção: GraçaNunesOrientação: ZéAdãoBarbosa
Direção Coreográfica: Carlota Albuquerque
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Foto: Raul Krebs
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A Cia Stravaganza pres-tes a completar 25 anos de trajetó-ria, traz ao público seu novo trabalho: "ESTREMEÇO". A peça tem texto de Joel Pommerat, autor francês inédito no Brasil e queédestaquenadramaturgiaeencenaçãodoteatrocontemporâneoeuropeu.Adire-çãoédeCamilaBauer,diretoraconvidada.A montagem integra o projeto "Diálo-gos Contemporâneos ll" e tem financia-mento do Programa Municipal de Fo-mento ao trabalho Continuado em Artes Cênicas de Porto Alegre, e o Prêmio Fu-narte Myriam Muniz. O espetáculo teveestreia dia 22 de novembro de 2012.
Ficha Técnica:
Elenco: LauroRamalho,SofiaSalvatori,Fernanda Petit, Duda Cardoso, Cassiano Ranzolin, Adriane Mottola, Janaina Peli-zzon e Rodrigo MelloDireção: Camila BauerAssistente de Direção: Matheus Mel-chionaCenário: Elcio RossiniFigurino:CássioBrasilIluminação: Luiz AcostaTrilha sonora original: Nico NicolaiewskyEfeitos sonoros: Paulo ArenhartDireção de vídeo:BrunoGularteBarretoDivulgação: Lauro RamalhoProgramação visual: Rodrigo Mello by KIZAProdução: Adriane Mottola & Duda Car-doso & Fenando K. Barbosa
#ESTREMEÇOCia Stravaganza
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#LAPETTLaboratório de Pesquisa e Estudos em Tanztheater
OLaboratóriodePesquisaeEstudosemTanztheater(LAPETT),doDepartamentodeArtesCênicas(CAC)daEscoladeComunicaçõeseArtes(ECA)daUSP,coordenadopelaprofessora Dra. Sayonara Pereira, após 19 anos pesquisando o tanztheater, na Alemanha, procuraintroduziradançateatral,atravésdepesquisasteóricaseespetáculoscênicos.
Em São Paulo no dia 30 de novembro houve um encontro com o LA-PETT e sua mais recente produção, UnterWEG(s) [NO CAMINHO].O grupo realizou duas apresentações com o intuito de compartilhar com o públi-cooscaminhosqueogrupotemseguidonacriaçãodanovaobra,aindaemprocesso.
Ficha Técnica:
Direção Geral, Criação & Pesquisa Musical: Sayonara PereiraAtores dançarinos: Letícia Araújo, Marcela Paez, Nadya Moretto e Rafael SertoriAssistência Cênica: Letícia Olivares Cenografia Sonora:OtávioCoelhoNeto Arantes do Nascimento Assistência Sonora: Ametonyo SilvaDesenho de Luz: Felipe Boquimpani
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Foto: Silvia Machado
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EncontrOcom
LAPETT A Observação: Apartirdestemomentodediscussãocom diretores e coreógrafo, encontrei-me com o grupo LAPETT, dirigido por minha orienta-doraProfa.Dra.SayonaraPereira(ECA-USP).
O trabalho do LAPETT, desde sua criação, tem me chamado atenção comoobjeto de estudo, não só por sua pesquisaem dança teatral, mas por realizar um tra-balho de dança direcionado exclusivamente aosatoresdaEscoladeComunicaçãoeAr-tes (ECA-USP). A tudo, junta-se a admira-çãopelacarreiradesuadiretoraProfa.Dra.Sayonara Pereira. Um dos aspectos que sa-lientorefere-seapreparaçãofísicadosato-res. Observei que muito da singularidade do resultadoartísticodoespetáculoestavarela-cionadoàeficazpreparaçãotécnica,nocaso,através da técnica da dança moderna. Sayo-naraPereiranãoeraapenasdiretoraecore-ógrafa da nova obra mas também respon-sável pela preparação física desses atores.
Mas que diferença é esta a qual me refiro?A distinção é, primeiramente, base-adanaobservaçãodosmovimentos,daflui-dez dos movimentos, das sutilezas e da cla-rezadeexecuçãodaspartituras,semesforçodesnecessário.Aoquestionarentreosatorese a própria coreógrafa, descreveram proces-so como colaborativo, como resultado de provocações a partir de textos, músicas, etc.
A coreografa com todo mate-rial criou partituras coreográficas paraos corpos desses atores/bailarinos tãobem preparados que se tinha duvida de sua formação (de ator ou bailarino).
A diretora Sayonara Pereira ressalta, então, aspectos de sua prepa-ração física para com os atores; aspec-tosdaorigemdesuapreparaçãotécnica:
“Poderão ter suas matrizes juntoaos gestos do cotidiano, em diferentes direções– planos – extensões do espaço, nas formas de movimentos, ou ainda em diferentesimpulsosedinâmicastrabalha-dasempequenaspartiturascoreográficas.Nossa vivência aponta para o fato de que onde há um corpo há uma voz;ou silêncio, que também é um tipo de voz, e onde há uma voz há um movi-mento, ou um estado de imobilidade, que também é um tipo de movimento.Tendo em vista esta unidade existente en-trecorpoevoz,édeextremaimportânciaque ao longo do curso sejam desenvolvidas ferramentas para que os participantes pos-sam realizar as suas investigações cênicas e criações. Tais ferramentas formam uma técnica, que não deve mais ser pensadaisoladamente, a técnica corporal e a técni-ca vocal, mas sim como um fato só, como parte integrante da pedagogia que inte-gra o corpo, a voz e suas expressividades.”
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“Osprocedimentosqueserãoempregadosnasaulasderivamdetodaumaexperiênciacomprofessoresdalinhaalemãdedançacontemporânea,paísondeaministranteestu-doueatuoudurante19anos(1985-2004).ApartirdestaexperiênciafoielaboradaumaestruturaprópriadeaulasquejáforamministradasemdiferentesCompanhiasdeDan-ça, Universidades, Escolas de Dança e em Workshops tanto no Exterior como no Brasil.Contempla: qualidades expressivas do movimento. Estas qualidades podem ter suas matrizes até junto aos gestos do cotidiano e quando nos orientamos no espaço em di-ferentes direções – planos – extensões – caminhos e formas de movimentos, ou ainda quandotrabalhamosdiferentesimpulsosedinâmicasatravésdeexercíciosespecíficos.”
Fotos: Silvia Machado 19
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MesA
REDONDA Para debater sobre questões relativas à core-ografia para atores e assim, quem sabe, responder al-gumas das perguntas incitadas na pesquisa - ou criar outras múltiplas, o que ocorre quando remexe-se no processo criativo -, foi criada uma mesa redon-da com diretores e coreógrafos que estiveram aber-tos para uma discussão a partir das perguntas-guia:
O que leva o diretor a pro-curar o coreógrafo quando o con-tato não se restringe unicamente a coreografar as partituras musicais? Qual é o papel/espaço do co-reógrafo na cena teatral?Quais são as singularidades do processo de criação com atores? Existe um coreógrafo do ator e um coreógrafo do bailarino?
A mesa redonda, que teve o completo apoio da Faculdade de Dança da UFRGS, realizada naESEF – Centro de Dança teve me-diação da Profa. Dra.MônicaDan-tas. Participaram da mesa os dire-tores: Camila Bauer, Graça Nunes,Marcelo Restori; E os coreógrafos: Diego Mac, Sibele Sastre, Flavia Valle e minha orientadora Sayo-naraPereira.OSeminário foi aber-to para o público em geral e estu-dantes de dança da universidade.
Fotos: Francine Pressi 21
Para melhor compreender a pesquisa realizada por Carlota Albuquerque, é neces-sário conhecer os caminhos que a trouxe-ram até aqui. É preciso pensar sobre o modo comoelaésensibilizadaapartirdainfluenciade diferentes agentes, e o que resulta dessa sua maneira de ver, sentir e reagir a estes diferentes estímulos, suas idiossincrasias.
Carlota além de sua graduação emDança e FormaçãoClássica na Escola JoãoLuiz Rolla, também cursou Psicologia duran-te cinco anos naPUC-RS (incompleto). Fezcurso de aperfeiçoamento na Ecolle BESSO de Danse Classique em Toulouse – França. Participou como convidada do encontro “A Arte de Estudantes Estrangeiros”, Toulouse –França.Foiprofessoradedançavoluntária,nabasedecooperaçãodogovernoFrancêsem Ouagadougou, na África, ministrando au-las de dança para crianças. Foi co-fundadora ebailarinadeTerraCia.deDançadoRioGran-dedoSul(1982-1984).ProfessoradaFunda-ção de Artes de Montenegro (1883-1988).Cia que recebeu vários prêmios sendo suatrajetória reconhecida nacionalmente e constando no currículo da rede pública de ensinodoEstadodeSãoPaulonoscadernosde artes utilizados por alunos e professo-res. Carlota Albuquerque é diretora e core-ógrafa da Cia Terpsí Teatro de Dança e di-retora do Centro de Estudos do Movimento do Terpsí Teatro de Dança (CEM-TERPSÍ).
Tem ministrado cursos e ofi-cinas sobre dança contemporânea ecriação em dança em universidadescomo Unicamp, USP entre outras. Pensaremcriaçãoquandosefalade Carlota Albuquerque, é pensar em um eterno e constante processo. A obra parece nunca esgotar-se. Quando você imagina ter chegado a um suposto re-sultadofinal, aCarlota surge comnovosquestionamentos, novas possibilidades de experimentações. Ela provoca, ins-tabiliza, desassossega seus bailarinos/intérpretes, para que busquem sempre novos caminhos que os instiguem a criar, àseentregar,poisosmesmosnãoestãosóàfavordaobra,elesemsisãoaobra.Estar sob o olhar atento de Carlota Albu-querque exige entrega e disposição, oucomo ela mesma gosta de dizer, é preci-so estar “esperto e desperto”. “Esperto” ou atento para o espaço, para o outro, para a música, para o silêncio, para as sensações... E “desperto” para reagir ou interagir com tudo isso, para perce-ber o corpo em diferentes espaços com diferentes estímulos. E partir disso se permitir despertar para ações calcu-ladas ou impulsivas. (FERRAZ, 2009).
RastroSde
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Enquanto bailarina/intérprete da Cia. Terpsí Teatro de Dança, digo que trabalhar com a Carlota, é nunca saber quando um gesto ou movimento descuidado durante uma conversainformalpodeounãovirarumapartituracoreográfica...Eousodizerqueesteintenso estado de “esperto e desperto” é capaz de romper a quarta parede do teatro, fazendocomqueoprópriopúblicotambémsecoloqueemumestadodeatençãototal.
Por Francine Pressi
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QUEM É Terpsí Teatro de Dança?
Terpsí Teatro de Dança é uma companhia de Dança Contemporânea, de Porto Alegre/RS/Brasil,criadaem1987pelauniãodealgunsartistasgaúchos.Sua trajetória tem sido dedicada à pesquisa de uma linguagem, que resgata as experiências humanas e rompe a barreira que separa os intérpretes da obra, pois eles são a obra.Tendo, seus processos e resulta-dos identificados muitas vezes como dança teatral.
Através de sua pesquisa em “Teatro de Dan-ça”, como traz em seu nome, vem tecendo processos artísticos e articulações com diferentes áreas atravésde colaborações que são fundamentais para suas ex-perimentações, processos e possíveis resultados. Nos seus 26 anos de trabalho bem caracterizado em suamaturidade cênica e profissionalismo, está sempreem fase de reinvenção e reconstrução. Pois os diálo-gos estabelecidos embasam sempre novos discursos incorporados pelaCia, o que a faz sempre jovemnãose fixando a um resultado cênico. Mas sim, semprena busca de muitas e atuais referências que podem ser observadas através da subjetividade em cena.
Ao longo de sua trajetória, acumulou prêmios e reconhecimentos, sendo considerada pela crítica es-pecializada do centro do país como “uma renovado-ra da dança brasileira”. Foi uma das duas companhias a representar o Brasil no Carlton Dance Festival em 1990, ao lado de companhias como Nikolais and Mur-rais Louis e Tanztheater Wuppertal de Pina Bausch.
“Criado em 1987, na cidade de Porto Alegre, reuniu artistas com experiências diversas em dança, muitos em algum mo-mento de suas trajetórias in-dividuais já tinham trabalhado juntos. Este coletivo formado inicialmente por mulheres tra-zia o desejo de criar um traba-lho que rompesse com que o tradicional deixava encoberto numa forma de não dito. Na-quele momento nossa energia criadora estava direcionada a formação de um grupo que pu-desse dialogar com a dança e o teatro sem barreiras estéticas. Uma cena em constante cons-trução, como observa Wagner Ferraz (2009) que além de pes-quisador do grupo, participou como bailarino colaborador da Terpsí nos anos de 2006/2007. Segundo ele, Terpsí segue uma linha que busca ultrapassar estéticas formatadas, não re-produzindo códigos de certos meios (da dança e do teatro), mas utilizando informações vindas do teatro e da dança re-significadas em cada trabalho”.
Por Carlota Albuquerque
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Ordem do Mérito Cultural
Carlota Albuquerque, diretora e coreógrafa da Terpsí Teatro de Dan-ça (POA/RS) foi agraciada na 16ª Edição da Ordem do Mérito Cultural em cerimô-nia no Theatro Municipal do Rio de Janeiro promovida pelo Ministério da Cultura.
A entrega do prêmio foi na noite de 02/12/2010 onde 40 personalida-des da cultura brasileira receberam esta homenagem na presença do então Pre-sidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, do ministro da Cultura, Juca Fer-reira, do governador do estado do RJ, Sérgio Cabral Filho, e do prefeito do Rio, Eduardo Paes. A OMC é o maior reconhecimento do Governo Federal a persona-lidades que contribuem para o desenvolvimento da identidade cultural brasileira.
“Para receber a Ordem do Mérito Cultural foram escolhidas pessoas que exprimem a nossa tradição, a nossa vanguarda, as diferentes correntes de criação cultural e artísti-ca do nosso povo”, conta Juca Ferreira. “Muitos dos agraciados não se conhecem entre si e isto é mais uma mostra de que o Brasil é múltiplo, é plural, e que cabe aos brasilei-ros revelar uns aos outros o país que estão criando em conjunto”, comemora o ministro.
Fonte: http://www.cultura.gov.br/site/2010/12/01/ordem-do-merito-cultural-2010-5/
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Este caderno registro integra o Projeto “Coreografando para atores: Idiossincrasias de uma coreógrafa” contemplado pelo Edital 21/2012 CONCURSO DÉCIO FREITAS – SMC na categoria de Artes Cênicas.
Terpsí Teatro de Dança
51- 9194.1112 / [email protected]
Museu do Trabalho – Rua dos Andradas, 230, Centro – Porto Alegre/RS/Brasil
Apoio:Financiamento: