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1 ABORDAGEM MORFOFUNCIONAL DO SISTEMA URINÁRIO Djanira Aparecida da Luz Veronez 1 Michele Patrícia Müller Mansur Vieira 22 INTRODUÇÃO O sistema urinário é composto pelos seguintes componentes: dois rins, dois ureteres, a bexiga e a uretra. As funções mais importantes deste sistema são: promover a excreção dos produtos da degradação do metabolismo e substâncias químicas nocivas ao organismo; fazer a regulação do equilíbrio acido-básico; propiciar a regulação da pressão arterial (sistema renina angiotensina); regular o equilíbrio hidroelétrico; regular a produção de eritrócitos (secreção de eritropoetina que estimula a produção de hemácias); regulação da produção de vitamina D. depurar o plasma sanguíneo; formar, transportar e eliminar a urina. 1 Biomédica. Doutora em Ciências Médicas área de concentração Neurociências pela Universidade Estadual de Campinas. Professora do departamento de anatomia da Universidade Federal do Paraná. 2 Tecnóloga em Radiologia pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Mestre em Saúde Pública pela University of Essex; Professora do Curso Técnico em Radiologia do Instituto Federal do Paraná.

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1

ABORDAGEM MORFOFUNCIONAL DO SISTEMA URINÁRIO

Djanira Aparecida da Luz Veronez1

Michele Patrícia Müller Mansur Vieira22

INTRODUÇÃO

O sistema urinário é composto pelos seguintes componentes: dois rins, dois

ureteres, a bexiga e a uretra.

As funções mais importantes deste sistema são:

• promover a excreção dos produtos da degradação do metabolismo e

substâncias químicas nocivas ao organismo;

• fazer a regulação do equilíbrio acido-básico;

• propiciar a regulação da pressão arterial (sistema renina angiotensina);

• regular o equilíbrio hidroelétrico;

• regular a produção de eritrócitos (secreção de eritropoetina que estimula a

produção de hemácias);

• regulação da produção de vitamina D.

• depurar o plasma sanguíneo;

• formar, transportar e eliminar a urina.

1 Biomédica. Doutora em Ciências Médicas área de concentração Neurociências pela Universidade Estadual de Campinas. Professora do departamento de anatomia da Universidade Federal do Paraná. 2 Tecnóloga em Radiologia pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Mestre em Saúde

Pública pela University of Essex; Professora do Curso Técnico em Radiologia do Instituto Federal do

Paraná.

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ANATOMIA DOS RINS

Os rins são órgãos pares, em número de dois, situados retroperitonealmente na

região lombar, localizados a cada lado da coluna lombar entre a 11ª vértebra

torácica (T11) e a 12ª vértebra torácica (T12) até a 3ª vértebra lombar (L3). Medem

aproximadamente 11 cm de espessura, pesando entre 120 e 170 g cada.

Devido à presença do fígado, o rim direito é um pouco mais baixo que o esquerdo.

Como está em íntima relação com os músculos da parede posterior do abdome, o

curto oblíquo do psoas maior produz discreto deslocamento lateral do polo inferior

de cada rim.

Os rins possuem a forma de um grão de feijão, com uma borda lateral convexa e

uma medial côncava, onde se observa uma depressão denominada hilo (Figura 1).

O hilo renal se abre no seio renal, onde estão localizados os vasos renais e a pelve

renal, além de pequena quantidade de gordura. No hilo renal, identifica-se a veia

renal, ventralmente; a artéria renal em posição intermediária e a pelve renal

dorsalmente.

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Figura 1. Vista anterior do rim esquerdo.

Uma glândula suprarrenal e seus vasos sanguíneos situam-se numa camada de

tecido conjuntivo inferomedialmente a cada rim, possuindo seu próprio apoio

aponeurótico, impedindo que as mesmas se movimentem junto com os rins durante

a respiração.

RELAÇÕES DOS RINS:

1. Relações anteriores: principalmente com o peritônio e algumas estruturas

retroperitoneais:

À direita: flexura hepática do cólon e duodeno

À esquerda: flexura esplênica do cólon e cauda pancreática.

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As áreas renais em contato com esses órgãos sem revestimento peritoneal são

chamadas “áreas desnudas”.

2. Relações posteriores: aproximadamente 2/3 de cada rim repousam sobre o

músculo quadrado lombar. O restante do hilo renal é formado medialmente pelo

músculo psoas maior e lateralmente pela aponeurose do músculo transverso do

abdome.

O rim direito é cruzado pela duodécima e o rim esquerdo pela undécima e

duodécima costelas.

FÁSCIA RENAL

O parênquima renal apresenta-se envolvido por uma membrana fibrosa denominada

cápsula renal. Externamente a essa cápsula renal, encontra-se uma cápsula adiposa

conhecida como gordura perirrenal, que possui espessura variável e é atravessada

por esparsas fibras de tecido conjuntivo.

Envolvendo a gordura perirrenal encontra-se uma fáscia renal fibrosa, geralmente

citada na literatura como “fáscia renal” (Figura 2). Esta fáscia separa a gordura

perirrenal da gordura extraperitoneal, denominada gordura pararrenal.

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Figura 2. Rim e fáscia renal.

A fáscia fibrosa renal consiste em um folheto posterior forte e um anterior mais

delicado, reunindo-se lateralmente ao rim, fundindo-se com os tecidos

retroperitoneais, à medida que se estendem. A fáscia renal ancora o rim na parede

posterior do abdome.

ANATOMIA INTERNA DOS RINS

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Na estrutura interna dos rins há três regiões distintas, o córtex renal, a medula renal

e a pelve renal.

O córtex renal corresponde à camada externa localizada logo inferiormente à

cápsula fibrosa do rim. Expansões do córtex, as chamadas colunas renais projetam-

se para a medula renal (Figura 3).

A medula renal encontra-se localizada abaixo do córtex e consiste em várias

estruturas triangulares, denominada pirâmides renais. A base dessas pirâmides

renais encontra-se revestidas pelo córtex renal e seus ápices, as papilas renais,

dirigidas para a pelve renal.

As pirâmides são separadas entre si pelas colunas renais. As estrias radiais visíveis

em cada pirâmide e acentuadas próximo da papila renal representam os túbulos

coletores, que se esvaziam em pequenos poros na superfície papilar, gotejando para

o interior de uma câmara em forma de funil, denominada cálice menor. Há,

normalmente, uma, duas ou três papilas renais projetando-se em cada cálice renal.

Dois ou quatro cálices renais menores se unem para formar um cálice renal maior.

Existem geralmente dois ou três cálices maiores e oito a treze cálices menores em

cada rim.

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Figura 3. Vista interna do rim.

Dois ou três cálices maiores juntam-se para formar a pelve renal - que se afunila e

se transforma no ureter. O ureter é responsável pelo transporte da urina dos rins

para a bexiga urinária.

UNIDADE MORFOFUNCIONAL DOS RINS

A unidade funcional do rim é o néfron. Cada rim contém aproximadamente um

milhão de néfrons, cada um deles capaz de formar urina. O néfron é dividido em

duas partes funcionalmente distintas, o corpúsculo renal e o túbulo renal.

1. Corpúsculo Renal

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É formado pelo glomérulo (rede capilar) e pela cápsula de Bowman, que envolve o

glomérulo. A pressão sanguínea no interior do glomérulo é de aproximadamente 60

mmHg, possibilitando que grande quantidade do líquido filtrado dos capilares

glomerulares flua para a cápsula de Bowman. Neste filtrado glomerular encontra-se

a maioria dos produtos finais do metabolismo, que deve ser eliminada dos fluídos

orgânicos. O filtrado glomerular sai da cápsula de Bowman por meio do túbulo renal.

2. Túbulo Renal

O túbulo renal recebe a urina primária, que é uma substância que será reabsorvida e

transporta para o sangue. Para este processo ser compreendido serão divididos em

quatro segmentos sequenciais:

• O túbulo proximal é um segmento contorcido que faz com que o líquido

da cápsula de Bowman flua;

• A alça de Henle se aprofunda no interior da medula sendo formada por

um ramo descendente e um ramo ascendente. As paredes do ramo

descendente e a parte inferior do ramo ascendente são denominadas

segmento fino da alça de Henle, pois suas paredes são muito finas.

Após a porção ascendente da alça ter retornado parcialmente ao

córtex, as paredes tornam-se espessas, sendo denominado segmento

espesso do ramo ascendente. No final do segmento espesso do ramo

ascendente há uma placa na parede do túbulo, conhecida como

mácula densa;

• O túbulo distal, também situado no córtex renal, assim como o túbulo

proximal;

• O tubo coletor, que drena para os túbulos coletores corticais, que

levam ao ducto coletor cortical – juntam-se para formar um único ducto

coletor medular, que se une para formar ductos profundamente

maiores que se esvaziam através das extremidades das papilas renais

nos cálices menores.

FILTRAÇÃO PLASMÁTICA

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A filtração de plasma no túbulo renal é o primeiro passo para a formação da urina. O

filtrado tem uma composição semelhante à do plasma e é composto apenas de água

e solutos dissolvidos. Não apresenta proteína.

A filtração ocorre no corpúsculo renal. As substâncias que saem do plasma precisam

passar por três barreiras que estão nas membranas dos capilares: 1 - endotélio do

capilar possui fenestras (poros); 2 - uma membrana basal impede a filtração de

proteínas; 3 - camada de células epiteliais (podócitos) que circunda a superfície

externa da membrana basal capilar.

Os podócitos são células especializadas que criam aberturas de filtração. As

substâncias filtradas devem passar através dos poros no endotélio do capilar, da

membrana basal e das aberturas de filtração antes de chegarem ao lúmen da

cápsula de Bowman. Essas barreiras permitem que as proteínas e células

sanguíneas não sejam filtradas. As proteínas negativas são mais difíceis de serem

filtradas que as positivas

A filtração total do plasma deixa para trás um depósito de células sanguíneas e

proteínas que não poderiam fluir para fora do glomérulo. Normalmente 1/5 do

plasma que flui ao longo dos rins é filtrado para dentro dos néfrons. Os demais 4/5

entram nos capilares peritubulares (em volta dos túbulos). O porcentual do volume

total de plasma filtrado é denominado fração de filtração. A fração de filtração é

cerca de 20% do volume do plasma.

As forças que influenciam a filtração glomerular são:

1- A pressão hidrostática no interior do capilares glomerulares que promove a

filtração;

2- A pressão hidrostática na cápsula de Bowman fora dos capilares, que se

opõe à filtração. Como é um espaço fechado, cria uma pressão e forma uma

resistência à entrada do líquido na cápsula de Bowman. O fluido filtrado para fora

dos capilares precisa deslocar o fluido que já se encontra no seu interior;

3- A pressão coloidosmótica das proteínas plasmáticas no interior dos capilares

glomerulares, que se opõe à filtração;

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4- A pressão coloidosmótica das proteínas na cápsula de Bowman favorece a

filtração.

O filtrado glomerular que penetra nos túbulos do néfron flui por um túbulo proximal,

pela alça de Henle, pelo túbulo distal, pelo ducto coletor cortical e ducto coletor para

o interior da pelve renal. Ao longo desse trajeto, as substâncias são reabsorvidas ou

secretadas seletivamente pelo epitélio tubular e o líquido resultante desse

processamento penetra na pelve renal sob a forma de urina. A reabsorção

desempenha papel muito mais importante do que a secreção na formação da urina,

porém o processo de secreção é especialmente relevante no sentido de determinar

as quantidades de íons-potássio, íons-hidrogênio e outras substâncias na urina. Em

geral, mais de 99% da água existente no filtrado glomerular são reabsorvidos

quando esse filtrado é processado nos túbulos.

Por conseguinte, se algum constituinte dissolvido do filtrado glomerular não for

reabsorvido ao longo de todo o trajeto dos túbulos, essa reabsorção de água irá

obviamente concentrar a substância por mais de 99 vezes. Por outro lado,

alguns constituintes como glicose e aminoácidos, são reabsorvidos quase que por

completo, de modo que suas concentrações caem para quase zero antes

de o líquido se transformar em urina. Dessa maneira, os túbulos separam as

substâncias que devem ser conservadas no organismo das que precisam ser

eliminadas na urina, sendo essa separação efetuada sem haver grande perda de

água pela urina.

À medida que o filtrado glomerular passa por este sistema tubular, as substâncias

essenciais ao organismo (glicose, H2O e a maior parte dos íons) são absorvidas dos

túbulos, voltando para os capilares peritubulares, situados em torno dos túbulos; as

que não são necessárias são eliminadas pela urina.

Embora os néfrons tenham todos os componentes anteriormente descritos, há

diferença entre eles, dependendo da profundidade onde se situam no parênquima

renal. Assim, os néfrons corticais (situados na zona cortical externa) possuem alças

de Henle curtas e são envolvidas por uma extensa malha de capilares peritubulares.

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E os néfrons justamedulares (localizados perto da medula renal) possuem alças de

Henle longas que mergulham profundamente no interior da medula, em direção às

papilas renais (constituem aproximadamente 20% a 30% de todos os néfrons). Estes

néfrons são supridos por estruturas vasculares diferentes, denominadas “vasa reta”,

e que se estendem para o interior da medula, acompanhando paralelamente as

alças de Henle. Esta rede capilar medular (“vasa reta”) possui um papel importante

na formação da urina concentrada.

A eficiência da filtração glomerular é conhecida como taxa de filtração glomerular

(TFG), que é a quantidade do fluido filtrado para dentro da cápsula de Bowman por

unidade de tempo. A TFG média é de 125 ml/min, ou seja, 180 l/dia lembrando que

o volume de plasma é de aproximadamente 3 l. Isso significa que os rins filtram todo

o plasma 60 vezes por dia ou 2,5 vezes por hora.

A TFG é influenciada pela pressão de filtração e pelo coeficiente de filtração. A

pressão de filtração é determinada pelo fluxo e pressão sanguínea renal. O

coeficiente de filtração possui dois componentes, a área superficial dos capilares

glomerulares disponíveis para a filtração e a permeabilidade capilar (cápsula do

glomérulo).

A pressão arterial causa a pressão hidrostática, que direciona a filtração glomerular.

É possível supor que, se a PA sobe, a TFG sobe também. Mas, na prática, não é

isso que ocorre. A TFG é muito constante - enquanto a pressão arterial média fica

entre 80 mmHg -180 mmHg, a TFG média é de 180l/dia.

O controle da TFG é obtido primeiramente pela regulação do fluxo sanguíneo por

meio das arteríolas renais. Se a resistência das arteríolas renais aumenta, o fluxo

sanguíneo renal diminui e o sangue é desviado para outros órgãos. O efeito do

aumento de resistência sobre a TFG depende, contudo, do local onde ocorre a

alteração da resistência.

Se a resistência aumentar na arteríola aferente, a TFG diminui; se aumentar na

eferente, A TFG sobe. O contrário acontece no caso de redução de resistência nas

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arteríolas aferentes ou eferentes. A maior parte da regulação ocorre na arteríola

aferente. Se a pressão arterial média cair abaixo de 80mmmHg, a TFG diminuirá

para diminuir a quantidade de plasma filtrado e a consequente perda de líquido.

A regulação também acontece no aparelho justaglomerular (túbulo distal); as células

da mácula densa, no túbulo distal, sentem o fluxo do fluido através do túbulo e

liberam substâncias parácrinas que afetam o aparelho justaglomerular e a s células

da musculatura lisa na arteríola aferente. Quando o fluxo de líquido ao longo do

túbulo distal aumenta em consequência da TFG, as células da mácula densa enviam

um sinal para a arteríola aferente. Essa se contrai diminuindo a TFG.

O sistema autônomo simpático inerva as arteríolas aferentes e eferentes. Se há uma

hipovolemia, a noradrenalina causa vasoconstrição. A angiotensina II

(vasoconstritor) e as prostaglandinas (vasodilatador) são hormônios que também

influenciam a resistência das arteríolas.

MECANISMO DE REABSORÇÃO Diariamente, 180 l de líquido passam dos capilares glomerulares para os néfrons,

mas apenas cerca de 1,5 l de urina são eliminados. Portanto, mais de 99% são

reabsorvidos. A maior parte da reabsorção ocorre no túbulo proximal. A reabsorção

regulada ocorre nos segmentos distais do néfron e permite que os rins devolvam

íons e água ao plasma de forma seletiva, conforme a necessidade do organismo.

A reabsorção pode ser ativa ou passiva. Quando há movimento a favor de gradiente

de concentração, tem-se a difusão facilitada; contra o gradiente de concentração,

tem-se transporte ativo primário ou secundário.

Reabsorção de sódio no túbulo proximal:

O sódio entra através de canais abertos na célula do túbulo proximal e passa para o

LEC através de bomba de Na+K+ ATPase.

Reabsorção de glicose e aminoácidos:

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A reabsorção de glicose e aminoácidos no túbulo proximal ocorre por meio do co-

transporte; o sódio e a glicose ou aminoácidos entram na célula do túbulo proximal.

A glicose e os aminoácidos passam para o LEC através de difusão facilitada e o

sódio através de bomba de Na+K+ ATPase

Reabsorção de ureia:

A reabsorção de ureia é passiva. Quando o sódio e os outros solutos são

reabsorvidos e a água sai por osmose do lúmen, a concentração de ureia aumenta

porque a mesma quantidade de ureia está contida em um volume menor. Uma vez

que existe um gradiente de concentração para a ureia, ela se difunde passivamente

para o líquido extracelular (LEC).

Reabsorção de proteínas:

Normalmente as proteínas não são filtradas, mas, se houver proteínas no lúmen,

elas são reabsorvidas no túbulo proximal. Elas são reabsorvidas por um processo de

endocitose - dentro da célula são digeridas e liberadas como aminoácidos para o

líquido extracelular.

Reabsorção da água:

A água é reabsorvida por osmose, mas a osmose só ocorre se a membrana das

células for permeável à água. No túbulo proximal, a permeabilidade à água é sempre

alta; no ramo ascendente da alça de Henle a permeabilidade da água é sempre

baixa. A permeabilidade à água nos túbulos distal e coletor pode ser alta ou baixa,

dependendo da presença ou ausência do hormônio antidiurético ou vasopressina.

OS RINS E OS LÍQUIDOS CORPORAIS: EXTRACELULAR E INTRACELULAR

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Em condições de equilíbrio dinâmico, como as exigidas para a homeostasia, o

volume total dos líquidos corporais e as quantidades totais de solutos e suas

concentrações permanecem relativamente constantes. A ingestão de água deve ser

cuidadosamente contrabalançada pelas perdas diárias que ocorrem a partir do

organismo.

A evaporação de líquido do trato respiratório e a difusão através da pele constituem

as denominadas perdas insensíveis através da pele. O restante das perdas ocorre

principalmente através das fezes, do suor e da urina excretada pelos rins,

constituindo as perdas sensíveis de água. Os líquidos corporais totais encontram-se

distribuídos em dois compartimentos principais: o líquido extracelular e o líquido

intracelular.

Por sua vez, o líquido extracelular é subdividido em líquido intersticial e plasma

sanguíneo. No ser humano adulto, a água corresponde a cerca de 60% da massa

corporal. À medida que o indivíduo envelhece, a porcentagem de líquido em relação

à massa corporal diminui gradualmente. O líquido contido em cada célula tem sua

própria mistura de diferentes constituintes; todavia, as concentrações destas

substâncias são razoavelmente semelhantes, de uma célula para outra. Os líquidos

intersticiais possuem aproximadamente a mesma composição, exceto pelas

proteínas - que são encontradas em maior concentração no plasma.

O sangue contém tanto líquido extracelular (o líquido no plasma) como líquido

intracelular (o líquido contido nos eritrócitos). Todavia, o sangue é considerado como

um compartimento líquido separado, uma vez que é contido numa câmara própria, o

sistema circulatório. O volume sanguíneo é especialmente importante no controle da

dinâmica cardiovascular. O hematócrito refere-se à fração do sangue constituída

pelos eritrócitos.

Como o plasma e o líquido intersticial são separados apenas pelas membranas

altamente permeáveis dos capilares, suas composições iônicas são semelhantes.

Entretanto, o plasma apresenta maior concentração de proteínas. O líquido

intracelular é separado do líquido extracelular por uma membrana celular seletiva

que é altamente permeável à água, mas não à maioria dos eletrólitos existentes no

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organismo. A membrana celular mantém uma composição líquida no interior das

células que é semelhante para as diferentes células do organismo.

Em contraste com o líquido extracelular, o líquido intracelular contém apenas

pequenas quantidades de íons sódio, cloreto e quase nenhum cálcio. Inversamente,

contém grandes quantidades de íons potássio e fosfato. Um problema

frequentemente observado no tratamento de pacientes gravemente enfermos reside

na dificuldade de manter líquidos adequados no compartimento intracelular, no

compartimento extracelular ou em ambos.

As quantidades relativas de líquido extracelular distribuída entre o plasma e os

espaços intersticiais são determinadas principalmente pelo equilíbrio das forças

hidrostática e coloidosmótica através da membrana capilar. Por outro lado, a

distribuição de líquido entre os compartimentos intracelular e extracelular é

determinada principalmente pelo efeito osmótico dos solutos que atuam através da

membrana celular. As membranas celulares são altamente permeáveis à água, de

modo que o líquido intracelular permanece isotônico em relação ao líquido

extracelular.

A osmose refere-se à difusão efetiva de água de uma região onde ela exista em alta

concentração, para uma região em que esta concentração de água for menor. O

número total de partículas numa solução é medido em termos de osmols. Um osmol

é igual a 1 mol de partículas de soluto. Se uma molécula sofrer dissociação em dois

íons, como ocorre com o cloreto de sódio ao sofrer ionização, uma solução contendo

1 mol/litro terá uma concentração osmótica de 2 osm/litro.

A concentração osmolar de uma solução é denominada osmolalidade quando

expressa em osmoles por quilograma de água; é denominada osmolaridade, quando

expressa em osmoles por litro de solução. A osmose de moléculas de água através

de uma membrana seletivamente permeável pode ser impedida pela aplicação de

uma pressão em sentido oposto ao da osmose.

A quantidade precisa de pressão necessária para impedir a osmose é denominada

pressão osmótica. Quando uma célula é colocada numa solução de igual

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concentração ou isotônica, o volume da célula permanece inalterado. Quando uma

célula é colocada numa solução de menor concentração, o volume da célula

aumenta. Quando uma célula é colocada numa solução de maior concentração, o

volume da célula diminui.

Quando uma solução salina isotônica é adicionada ao líquido extracelular, não

ocorre osmose através das membranas celulares. Quando se adiciona uma solução

hipertônica ao líquido extracelular, ocorre osmose de água das células para o

compartimento extracelular. Quando uma solução hipotônica é adicionada ao líquido

extracelular, parte da água extracelular difunde-se para o interior das células até que

os compartimentos intracelular e extracelular tenham a mesma osmolaridade.

SUPRIMENTO SANGUÍNEO DOS RINS

O fluxo sanguíneo renal para os dois rins corresponde a 22% do débito cardíaco ou

1.110 ml de sangue por minuto.

A arteria renal é geralmente única de cada lado e origina-se da parte abdominal da

arteria aorta, logo após a origem da arteria mesentérica superior (1,5 cm a 2,0 cm,

inferiormente) e entra pelo hilo renal, dividindo-se progressivamente em arterias

segmentares, artérias interlobares, arterias arqueadas, arteriadas interlobulares ou

radiais e arterias aferentes, que terminam nos capilares glomerulares. As

extremidades distais de cada glomérulo coalescem para formar a arteria eferente,

que por sua vez, forma uma segunda rede de capilares, chamadas capilares

peritubulares que circundam os túbulos renais.

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Figura 4. Parte abdominal da artéria aorta e veia cava inferior. Observar a artéria

renal acessória.

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Os capilares peritubulares esvaziam-se nos vasos do sistema venoso que correm

paralelamente aos vasos arteriolares e progressivamente formam a veia interlobular,

a veia arqueada, a veia interlobular e a veia renal, que deixa o hilo renal e

desemboca na veia cava inferior.

URETERES

A urina é transportada para a bexiga urinária pelos ureteres (Figura 5), um para cada

rim. São estruturas tubulares, retroperitoneais, que descem e se dirigem

medialmente, penetrando nas faces posterolaterais da bexiga, através do músculo

detrusor, abrindo-se nos óstios ureterais localizados na região do trígono vesical. A

contração da musculatura da bexiga comprime os ureteres prevenindo contra o

refluxo vesico ureteral. As contrações peristálticas ureterais são aumentadas pela

estimulação parassimpáticas e inibidas pela estimulação simpática.

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Figura 5. Rim e ureter.

BEXIGA URINÁRIA

A bexiga urinária (Figura 6) é uma câmara de músculo fino que tem como função

armazenar provisoriamente urina. Está localizada no assoalho da cavidade pélvica e

é um órgão retroperitoneal composto por duas partes, o corpo, no qual fica

armazenada a urina; e o colo, extensão afunilada do corpo que se conecta à uretra.

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Figura 6. Bexiga urinaria masculina e estruturas circunvizinhas.

A face anterior da bexiga está localizada posteriormente à sínsife púbica. Nos

homens, é anterior ao reto. Nas mulheres está situada anteriormente ao útero e à

porção inferior da vagina.

Na parede posterior da bexiga, em seu interior e imediatamente acima do colo

vesical, está localizada uma pequena área triangular chamada trígono vesical. No

ápice do trígono (porção mais inferior), o colo vesical se abre no interior da uretra

posterior, e os dois ureteres entram na bexiga, nos ângulos mais inferiores do

trígono vesical.

URETRA

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É um tubo muscular que sai da face inferior da bexiga urinária e transporta a urina

desta para o meio externo. Na junção do ureter com a bexiga, a musculatura lisa da

bexiga circunda a uretra e abre como esfíncter (esfíncter interno da bexiga)

tendendo a mantê-la fechada.

No sexo feminino a uretra é curta, medindo aproximadamente 4 cm de comprimento,

situando-se no exterior através do óstio externo da uretra que fica entre o clitóris e

óstio vaginal.

No sexo masculino a uretra possui aproximadamente 20 cm de comprimento e se

dirige ao óstio externo da uretra, localizado no ápice do pênis. É dividida em três

porções, a parte prostática, que atravessa a próstata e recebe os ductos

ejaculatórios; a parte membranácea curta, que atravessa o diafragma urogenital; a

parte esponjosa, porção mais longa, que se estende desde o diafragma urogenital

até o óstio externo da uretra, situado na glande peniana. Recebe o conteúdo das

glândulas bulbouretrais do tecido erétil que formam o órgão. A fossa navicular da

uretra é uma pequena dilatação da uretra esponjosa no interior da glande.

MICÇÃO

Micção corresponde ao ato de eliminação da urina.

A urina formada nos rins é transportada dos cálices renais até a uretra; entre essas

estruturas temos os ureteres e a bexiga. Os ureteres são os responsáveis por

conduzir a urina, por meio de uma dilatação distal e uma contração proximal, até a

bexiga. Esta é considerada como um reservatório. Quando este processo falha, o

volume pode refluir causando patologias que poderão ser investigadas em exames

contrastados específicos.

A bexiga pode conter de 600 a 800 ml de urina. À medida que esta se enche, as

paredes são distendidas, estimulando receptores a transmitir impulsos para a região

sacral da medula (S2 e S3). Fibras sensoriais detectam o grau de distensão da

parede iniciando reflexos que produzem seu esvaziamento. O sinal volta à bexiga

através de fibras neurais parassimpáticas pelos músculos neurais pélvicos (S2 e

S3).

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Como consequência, quando aproximadamente 300 ml de urina são acumuladas na

bexiga, os músculos pélvicos na parede se contraem, o esfíncter externo da uretra

relaxa e a bexiga esvazia (micção).

O reflexo da micção é totalmente autônomo, mas pode ser inibido ou facilitado por

centros localizados no tronco cerebral e no córtex cerebral. Como resultado, a

micção pode ser voluntariamente induzida ou transferida para um momento

oportuno. O indivíduo pós-miccional raramente, em condições fisiológicas, excede 5

a 10 mililitros.

A excreção de substâncias orgânicas é vital e muitas vezes, ao longo desse

processo de reabsorção de água e ou nutrientes, pode haver um desequilíbrio e é

neste momento que há um manejo, através de ações, dos meios intracelular e

extracelular. As ações de regulação de água (H2O) e sal (NaCl) estão diretamente

relacionadas a hormônios produzidos nos rins.

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES:

Eventuais dificuldades que estejam diretamente ou indiretamente associadas à

regulação, reabsorção ou excreção podem ocasionar afecções. Um exemplo

clássico é a litíase, que pode ser investigada por meio de exames contrastados.

Para saber mais, leia sobre a urografia excretora.

Dado o exposto sobre a fisiologia renal, é importante para você, técnico em

radiologia, verificar se o usuário faz uso de medicações em decorrência de uma

deficiência do sistema urinário, como por exemplo, se ele for hipertenso e fizer uso

de diuréticos. E na existência de outras patologias que comprometam os rins devem-

se estar atentas às contraindicações ao uso de meios de contrastes.

REFERÊNCIAS:

23

1. AIRES, Margarida M. Fisiologia. 3ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,

2008.

2. CURI, Rui; ARAÚJO FILHO, Joaquim P. Fisiologia Básica. Rio de Janeiro:

Guanabara Koogan, 2009.

3. DÂNGELO, J.G.; FATTINI, C.A. Anatomia Humana Sistêmica e Segmentar. 2ªed. Rio de Janeiro: Livraria Atheneu, 2005.

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