cooperativas de crédito solidário

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COOPERATIVAS DE CRÉDITO SOLIDÁRIO: CONSTITUIÇÃO E FUNCIONAMENTO Agência de Desenvolvimento Solidário ADS Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável CNDRS Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural NEAD Ministério do Desenvolvimento Agrário MDA 2001

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COOPERATIVAS DE

CRÉDITO SOLIDÁRIO:CONSTITUIÇÃO E FUNCIONAMENTO

Agência de Desenvolvimento Solidário ADS

Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural SustentávelCNDRS

Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento RuralNEAD

Ministério do Desenvolvimento Agrário MDA

2001

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO

Raul Belens Jungmann PintoMinistro de Estado do Desenvolvimento Agrário

José AbrãoSecretário-Executivo

Francisco Orlando Costa MunizSecretário de Reforma Agrária

Gilson Alceu BittencourtSecretário da Agricultura Familiar

Sebastião AzevedoPresidente do Incra

Luiz Fernando de Mattos PimentaSecretário-Executivo do Conselho Nacional de Desenvolvimento

Rural Sustentável

Juarez Brandão LopesCoordenador-Geral do Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural

Édson TeófiloCoordenador-Executivo do Núcleo de Estudos Agrários e

Desenvolvimento Rural

AGÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO SOLIDÁRIO - ADS

Remigio TodeschiniCoordenador-Geral

Francisco Dias BarbosaCoordenador Administrativo-Financeiro

Altemir TortelliCoordenador de Formação

Mônica ValenteCoordenadora de Pesquisa

Gilmar CarneiroCoordenador de Crédito

Jorge LorenzettiCoordenador de Relações Internacionais

Estudos NEAD 4

2a Edição - Revisada

COOPERATIVAS DE

CRÉDITO SOLIDÁRIO:CONSTITUIÇÃO E FUNCIONAMENTO

1 Agrônomo. Especialista em Análise de Políticas Públicas; mestrando em Desenvolvimento Econômico, Espaçoe Meio Ambiente - IE/Unicamp; membro da Plural Cooperativa – Consultoria e Assessoria; assessor técnico doDeser (1992/00); consultor do Sistema Cresol de Cooperativas de Crédito (1996/00); consultor da FAO (1995/99); bolsista da Fapesp (2000/01). E-mail: [email protected]

Gilson Alceu Bittencourt 1

Gilson Alceu Bittencourt

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Agradecimentos

A elaboração deste livro contou com a rica colaboração de AdrianoMichelon (Cresol/Baser), Egeu Gomez Furtado (Integração/CUT), Dulce Cazzuni(Desep/CUT), Gilmar Carneiro (Coordenador da Área de Crédito/ADS), PauloWataru (Bancredi), Mônica Schröder (Doutoranda IE–Unicamp), ReginaldoMagalhães (ADS), Ricardo Cifuentes (ADS), Roberto Vasques (ITCP/USP) eSelênio Sartori (Instituto Vianey de Educação Popular/SC), cujas contribuiçõesforam desde a proposição do conteúdo do livro até a leitura e sugestões de texto.

Aproveito para fazer um agradecimento especial ao Sistema Cresol deCooperativas de Crédito Rural, cuja vivência e acompanhamento que realizeinos últimos cinco anos forneceram os elementos centrais para a elaboraçãodeste livro. Agradeço ainda a Cresol-Baser, pelas constantes informações e dadosdisponibilizados sempre que requisitados.

Cooperativas de Crédito Solidário

5Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS)Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD)Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (CNDRS)

Prefácio - NEAD/MDA

Este livro apóia-se na experiência prática de um dos mais dinâmicosmovimentos sociais do Brasil contemporâneo. Ele é uma das expressões daforça que, durante os anos 90, os agricultores familiares souberam organizar epela qual eles puderam impor uma nova agenda para as políticas públicasvoltadas ao meio rural. Até então, imperavam generosas subvenções que explicammuito – mas não tudo é claro – da “eficiência” das grandes fazendas,acompanhadas timidamente por algum tipo de política compensatória. Anovidade dos anos 90 é que em vez de simplesmente lutar para que as políticascompensatórias – certamente necessárias – fossem ampliadas, os agricultoresfamiliares tiveram a sabedoria de recolocar os termos do problema: por querazão os temas de natureza econômica referentes à agricultura e aodesenvolvimento rural deveriam permanecer nas mãos da agricultura patronal?Afinal, eram cada vez mais evidentes os sinais de que os agricultores familiaresnão só constituíam a maior parte de energia vital do interior do país, mas suaexpressão econômica era muito mais importante do que o fazia crer a expressãocética consolidada no vocabulário nacional de “pequena produção”.

Foi uma verdadeira revolução copermicana do desenvolvimento ruralque imprimiu um novo estato à agricultura familiar: não mais um segmentomarginal, condenado, mais dia menos dia, ao desaparecimento e do qual umapolítica socialmente comprometida poderia, no máximo, tornar a morte menosdolorosa, mas um ator social capaz de encarnar um novo projeto para aagricultura e as regiões não-densamente povoadas do país. É como parte destenovo projeto que sugem novas organizações que se distinguem do sistemacooperativista até então existente por duas razões básicas.

Em primeiro lugar – e esta é das pedras de toque do sistema CRESOL,que acaba de completar cinco anos de vida e de cuja história o autor deste livroé um dos protagonistas – trata-se de formar um conjunto altamentedescentralizado, com forte controle local e que só possa existir em vistudes daconquista de uma certa coesão social que permita aos agricultores substituir, decerta forma, custos de transação bancária por laços interpessoais de confiança.

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Nada mais distante do espírito deste movimento que o endividamento em largaescala e a promiscuidade entre cooperativas de crédito e de produção quecaracterizaram em tantas ocasiões o cooperativismo tradicional. Mas estaestrutura local descentralizada só foi possível – e eis um dos desafios maisinteressantes que este movimento cooperativista hoje enfrente – pela clara opçãode restringir as cooperativas aos agricultores familiares. Eles é que tiveram queforma quadros, adquirir os conhecimentos, acumular o capital político necessáriopara estabelecer relações com o Banco Central e outros órgãos do governo,com os mais amplos segmentos da sociedade, em suma, para assumir tarefasdirigentes que não fazem parte – é o mínimo que se pode dizer – da tradiçãohistórica dos excluídos num país como Brasil.

Não é à toa então que este movimento vem de grupos ligados à CentralÚnica dos Trabalhadores. O interessante porém é que o próprio fato de seorganizar uma cooperativa de crédito já representa por si só um convite a quese ultrapasse o âmbito político definitivo em que o movimento se origina. Amarca inicial da CUT permanece nas aspirações sociais, na exigência com alisura do comportamento dos dirigentes, no espírito de descentralização etransferência de poder às bases: mas conforme o movimento se amplia, delevào participando os mais diferentes segmentos da sociedade o que resulta numasaudável diversificação de suas cores políticas.

Daí resulta a importância deste manual: a construção de cooperativasde crédito é talvez o mais importante desafio que têm hoje pela frente osagricultores familiares no Brasil. O sistema bancário – em que pese a presençados bancos estatais – é incapaz de atender às reais necessidades dos agricultoresfamiliares e quando o faz, os custos para o Tesouro são exorbitantes. A experiênciadas cooperativas mostra que estes custos podem ser reduzidos significativamentecom a tríplice vantegem de se atingirem mais agricultores, agricultores menosfavorecidos e, sobretudo, que o acesso ao crédito seja um fator de reforçoeducativo e político para as populações por ele beneficiadas.

Em outras palavras, o desafio cooperativista hoje não é mais da CUT,do governo ou do Sistema CRESOL. Ele está colocado para o conjunto dosatores voltados ao desenvolvimento rural. Este livro mostra que não é fácilformar uma cooperativa. Ele não vende a ilusão de que o cooperativismo por sisó pode resolver os grandes problemas sociais que afligem o interior do país.Mas ele oferece ao leitor a justa medida entre as dificuldades a serem enfrentadase os passos necessários para superá-las.

Escrito por Gilson Bittencourt, jovem pesquisador, militante extremamentecuidadoso no estudo da legislaçào e minucioso na exposição dos detalhesfundamentais para a atividade prática, este é um livro que contribui de maneiradecisiva para a construção da cidadania no campo brasileiro.

Ricardo AbramovayProfessor livre-docente do Departamento de Economia da FEA

Presidente do Programa de Ciência Ambiental da USP

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7Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS)Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD)Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (CNDRS)

Prefácio – ADS/CUT

O processo de debate promovido pela CUT nos últimos anos resultou naconstituição de uma Agência de Desenvolvimento Solidário. A Agência deDesenvolvimento Solidário (ADS) é uma organização criada em parceria entre aCUT, Unitrabalho e Dieese, articulada com diversas outras entidades nacionais eregionais, com o apoio de entidades de cooperação internacional. Está estruturadaa partir de um escritório nacional e de diversos escritórios regionais e estaduais.

O objetivo geral da ADS é gerar novas oportunidades de trabalho erenda em organizações de caráter solidário e contribuir com a construção dealternativas de desenvolvimento social e sustentável. Os seus princípios sãogestão democrática e solidária do trabalho e da produção; distribuição de renda;desenvolvimento social e sustentável; educação permanente dos trabalhadores;respeito à diversidade étnica, cultural, regional, ambiental e de gênero.

A ADS possui diversos programas em andamento, entre os quais os decrédito solidário, de educação, de pesquisa e de incubação e formação de redesde economia solidária, os quais desenvolvem e acompanham inúmeros projetose experiências de economia solidária.

O programa de crédito solidário procura recuperar o papel do créditocomo um instrumento potencializador do desenvolvimento local. Entre as açõesdesenvolvidas por este programa está o incentivo à criação de cooperativas decrédito, as quais deverão originar um sistema nacional de crédito solidário, naperspectiva de ampliar as possibilidades de captação de recursos financeirosjunto aos trabalhadores e aos fundos públicos e privados, visando aofinanciamento de empreendimentos solidários rurais e urbanos.

O Sistema de Crédito Cooperativo Solidário, compromissado com odesenvolvimento econômico e social, deverá conter os seguintes princípios:

1. gestão política democrática, participativa e solidária;

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2. gestão profissional com filosofia de viabilidade econômica, financeirae de qualidade dos serviços e com filosofia cooperativa (cooperação entre ostrabalhadores e cooperação entre cooperativas);

3. descentralização administrativa e flexibilidade quanto às condiçõeslocais, garantindo proximidade social, confiança e conhecimento mútuo entreo Sistema e os seus associados, a fim de estabelecer um sistema eficaz decontrole social e de valorização da comunidade;

4. promoção da elevação e da distribuição da renda, do desenvolvimentohumano e da cidadania, por meio de financiamento de empreendimentoseconômicos articulado a processos contínuos e permanentes de formação, deeducação integral e de qualificação técnica e profissional;

5. promoção do desenvolvimento local com ênfase no desenvolvimentosocial e sustentável e respeito à diversidade étnica, cultural, regional, ambientale de gênero.

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9Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS)Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD)Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (CNDRS)

Apresentação

COOPERATIVAS DE CRÉDITO SOLIDÁRIO: CONSTITUIÇÃO E FUNCIONAMENTO foielaborado visando contribuir para a formulação de diversos sistemas decooperativas de crédito que sejam acessíveis a todos e que promova odesenvolvimento econômico, com justiça social, cooperação e solidariedade.Ele fornece elementos básicos para que as organizações sociais possam criar decooperativas de crédito rural entre os agricultores familiares e de economia ecrédito mútuo entre os trabalhadores urbanos.

Este livro está organizado em quatro partes, além da introdução. Aprimeira está dividida em dois capítulos, contendo algumas informações sobreo Sistema Financeiro Nacional e apresentando as instituições de crédito noBrasil, com destaque para as que atuam com microcrédito. A segunda parteestá dividida em três capítulos, nos quais é apresentado um pouco da históriado cooperativismo de crédito no Brasil, destacando também alguns princípiosque devem nortear a criação e o funcionamento de uma cooperativa de crédito.Nesta parte também são apresentadas as principais legislações que regulamentama criação e o funcionamento das cooperativas de crédito no Brasil.

A terceira parte deste manual está dividida em quatro capítulos, ondesão apresentados o funcionamento de um sistema de cooperativas de crédito, aestrutura administrativa, os serviços e as operações que podem ser realizadaspor uma cooperativa de crédito. Em seguida são apresentados alguns exemplosde convênios realizados por cooperativas de crédito com instituições financeiras.

Por fim, na quarta e última parte do manual, dividida em três capítulos,são apresentadas diversas informações sobre a constituição e abertura de umacooperativa de crédito, tais como a necessidade de articulações com a sociedadecivil, a viabilidade econômica, a contabilidade e a estrutura operacional, adocumentação a ser encaminhada ao Banco Central e Junta Comercial, alémdas garantias, taxas de inadimplência, provisões, balanços e fundos existentesem uma cooperativa de crédito.

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Além das quatro partes acima descritas, o manual também apresentaum glossário de termos técnicos utilizados pelo cooperativismo de crédito, alémde diversos anexos, contendo modelos de documentos que devem serencaminhados ao Banco Central e/ou Junta Comercial quando da constituiçãode uma cooperativa de crédito.

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11Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS)Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD)Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (CNDRS)

PREFÁCIO NEAD/MDA

PREFÁCIO ADS/CUT

APRESENTAÇÃO

INTRODUÇÃO

PARTE I1 O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL2 AS INSTITUIÇÕES DE CRÉDITO NO BRASIL

2.1 Bancos2.2 Instituições não-bancárias de crédito e microcrédito

2.2.1 Cooperativas de crédito2.2.2 Sociedades de crédito ao microempreendedor – SCM2.2.3 Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público –OSCIP2.2.4 Banco do Povo2.2.5 Outras organizações de microcrédito

PARTE II3 A HISTÓRIA DO COOPERATIVISMO DE CRÉDITO

4 OS PRINCÍPIOS QUE DEVEM NORTEAR UMA COOPERATIVA DE CRÉDITO

5 A LEGISLAÇÃO QUE REGULAMENTA AS COOPERATIVAS DE CRÉDITO

5.1 Principais regulamentações e comentários sobre a Resolução nº2.771 do Bacen

5.1.1Constituição e funcionamento das cooperativas de crédito5.1.2 Tipos de cooperativas de crédito existentes5.1.3 Área de atuação5.1.4 Administradores5.1.5 Capital social e patrimônio líquido5.1.6 Cooperativas centrais de crédito

Sumário

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5.1.7 Operações – captação de recursos, financiamentos eendividamento5.1.8 Outras disposições gerais

PARTE III6 O FUNCIONAMENTO DE UM SISTEMA DE COOPERATIVAS DE CRÉDITO

6.1 Cooperativa de crédito singular (rural ou mútuo)6.2 Unidades administrativas desmembradas e postos de atendimento6.3 Cooperativa central de crédito6.4 Sistema Nacional de Cooperativas de Economia e Crédito Solidá-rio (Federação)6.5 Bancos cooperativos

7 ESTRUTURA ADMINISTRATIVA DE UMA COOPERATIVA DE CRÉDITO7.1 Assembléia Geral7.2 Conselho de Administração7.3 Conselho Fiscal7.4 Condições básicas para o exercício de cargos eletivos

8 OS SERVIÇOS E OPERAÇÕES DE UMA COOPERATIVA DE CRÉDITO8.1 Cooperativa de crédito rural

8.1.1 Serviços prestados e operacionalização dos financiamentos8.1.2 Crédito com recursos próprios8.1.3 Crédito rural com recursos oficiais de crédito

8.2 Cooperativa de crédito mútuo9 OS CONVÊNIOS COM INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

9.1 Cooperativas de crédito rural – o exemplo do Sistema Cresol9.2 Cooperativas de crédito mútuo – o exemplo do Bancredi

PARTE IV10 A CONSTITUIÇÃO DE UMA COOPERATIVA DE CRÉDITO

10.1 As premissas para a criação de uma cooperativa de crédito10.2 A viabilidade econômica de uma cooperativa de crédito

10.2.1 Cooperativa de crédito rural10.2.2 Cooperativa de crédito mútuo

10.3 A articulação política para a criação da cooperativa de crédito10.3.1 A articulação com outras entidades dos trabalhadores10.3.2 A articulação com o poder público local

10.4 A Assembléia Geral de constituição da cooperativa10.5 O Estatuto Social10.6 Os sócios fundadores10.7 Documentação necessária para a constituição da cooperativa

10.7.1 Documentos para o Banco Central10.7.2 Documentos para a Junta Comercial

10.8 A filiação a uma central de crédito ou de serviços10.9 A escolha de um banco para convênios de compensação10.10 A contabilidade da cooperativa10.11 O software para o gerenciamento e contabilidade

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13Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS)Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD)Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (CNDRS)

10.12 O capital social e o patrimônio líquido11 A ABERTURA DA COOPERATIVA

11.1 A sede da cooperativa – segurança e funcionalidade11.2 A estrutura operacional11.3 O quadro pessoal da cooperativa11.4 O cadastro socioeconômico11.5 Os empréstimos e as garantias11.6 As inadimplências e as provisões de créditos

12 O BALANÇO GERAL DA COOPERATIVA – FUNDOS, SOBRAS E PERDAS12.1 Fundo de Liquidez – a solidariedade entre as cooperativas

13 FUSÃO, INCORPORAÇÃO E DESMEMBRAMENTO DE COOPERATIVAS

GLOSSÁRIO DE TERMOS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANEXOS

Anexo 1 – EDITAL DE CONVOCAÇÃO DA ASSEMBLÉIA DE CONSTITUIÇÃOAnexo 2 – MODELO DO BACEN PARA ATA DE ASSEMBLÉIA GERAL DE

CONSTITUIÇÃOAnexo 3 – MODELO DO BACEN PARA ESTATUTO SOCIAL DE COOPERATIVADE CRÉDITO

Anexo 4 – REQUERIMENTO PARA A CONSTITUIÇÃO DA COOPERATIVAAnexo 5 – DECLARAÇÃO DE DESIMPEDIMENTOAnexo 6 – RECIBO DE DEPÓSITO PARA A CONSTITUIÇÃO

Anexo 7 – FORMULÁRIO CADASTRALAnexo 8 – DECLARAÇÃO DE RESPONSABILIDADE PARA O CONSELHEIRODE ADMINISTRAÇÃO

Anexo 9 – DECLARAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE PARENTESCOAnexo 10 – DECLARAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITOSAnexo 11 – DECLARAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITOS JUNTO AO CADIN

Anexo 12 – DECLARAÇÃO DE BENS DOS CONSELHEIROS DE ADMINISTRAÇÃOAnexo 14 – COMUNICAÇÃO AO BACEN DO ARQUIVAMENTO NA JUNTA COMERCIALAnexo 15 – COMUNICAÇÃO AO BACEN DO INÍCIO DAS ATIVIDADES

Anexo 16 – MODELO DO BACEN PARA EDITAL DE CONVOCAÇÃODE ASSEMBLÉIAAnexo 17 – MODELO DO BACEN PARA ATA SUMÁRIA DE

ASSEMBLÉIA GERALAnexo 18 – INFORMAÇÕES SOBRE O ATO DE ELEIÇÃO OU NOMEAÇÃO

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15Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS)Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD)Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (CNDRS)

Introdução

O Brasil entra no ano 2000 com uma situação social bastante precária.É visível o baixo grau de desenvolvimento social, principalmente quando seobservam os indicadores sociais e o nível de concentração de renda. Ocrescimento econômico ocorrido principalmente a partir dos anos 50 impulsionouum intenso processo de mobilidade social, mas, por outro lado, provocoutambém um processo de concentração de renda.

Nos anos 90, a situação social se agrava ainda mais em virtude daestagnação da economia nacional. A mobilidade social percebida antes perdesua força e o que se vê é um processo de degeneração do tecido social, ondeuma massa de pessoas é colocada a margem da economia e da própriasociedade. A concentração de renda continua, dividindo a sociedade basicamenteem dois grupos: a elite “moderna e globalizada”, que desfruta dos benefíciosdesta “modernidade” e os excluídos, um grupo numeroso que não tem acessoàs benesses da sociedade moderna e que, muitas vezes, não tem acesso nem àscondições básicas de sobrevivência.

Mesmo neste quadro adverso, ainda existe um desejo por construir umasociedade mais justa, que promova o acesso universal às condições básicas deuma vida digna e uma melhor distribuição de renda. Para isso, é necessário quea sociedade ofereça oportunidades de geração de renda a todos os estratossociais, principalmente para aquelas camadas marginalizadas.

Para atingir esses objetivos, um importante instrumento é o crédito. Ocrédito tem a função de promover uma melhor relação entre aquelas pessoasque tem recursos ociosos e as pessoas que querem investir na produção demercadorias ou serviços. Desta forma, o crédito funciona como uma molapropulsora do desenvolvimento econômico. Um exemplo disso ocorreu na Europado pós-guerra. Com um parque produtivo destruído e uma infra-estruturaeconômica bastante afetada pela guerra, a Europa encontrou no crédito umimportante elemento de recuperação da atividade econômica. Porém, em tempos

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mais recentes, o crédito inserido no sistema financeiro, acabou tendo um caráterexcludente e, em virtude de políticas econômicas restritivas, passou a ser ocentro do sistema econômico. O crédito deixou de ser um meio de gerar riquezaspor meio da produção e passou a ser um fim pelo qual se objetiva valorizar odinheiro investido, sem uma relação mais direta com a atividade produtiva.Dessa forma, as altas taxas de juros acabaram conferindo ao sistema financeiroum caráter altamente excludente.

O crédito é um dos pilares para o desenvolvimento econômico e socialde uma sociedade. Se o acesso ao crédito não for privilégio de uma pequenaparcela da sociedade, mas pelo contrário, for uma instituição à disposição detoda a sociedade, ele terá um poder de incentivar a atividade econômica e ageração de renda, desde que associado com algum nível de qualificaçãoprofissional e acompanhamento gerencial.

Entretanto, no Brasil este instrumento é altamente seletivo e excludente,tanto no meio rural como no meio urbano. Os bancos comerciais, privados eestatais, privilegiam os grandes investidores, deixando à margem da economiaum grande número de micros e pequenos empresários urbanos e rurais, formais einformais, além de populações inteiras, residentes em pequenos municípios oucomunidades (bairros) pobres das grandes cidades. Além disso, cerca de 34% dosmunicípios brasileiros não possuem nenhuma agência bancária. Em muitos outros,onde a presença bancária era restrita aos bancos estaduais, o crescente processode privatização tem provocado o fechamento de agências. O problema é agravadopelo enxugamento da máquina do Banco do Brasil, que também está fechandomuitas agências, principalmente nos pequenos municípios.

No meio urbano, muitas famílias de trabalhadores necessitam de créditopara financiar o próprio consumo ou para a realização de investimentos visandoà geração de emprego e renda, mas têm problemas para acessá-lo, passandonormalmente por três situações: a) ficam a mercê dos bancos, os quais além deserem seletivos, exigindo pesadas garantias e rígidos cadastros, cobram taxasabusivas por seus financiamentos; b) financiam-se por meio de agiotas oufinanceiras, os quais cobram taxas mais exorbitantes ainda; c) não têm acessoa financiamentos e nem aos serviços bancários. O acesso ao crédito para muitasdestas famílias pode passar pela constituição de cooperativas de crédito mútuo,seja de trabalhadores de uma mesma empresa ou de uma mesma categoriaprofissional, que também pode englobar os seus familiares.

Ainda para a população urbana, certas comunidades, bairros ou mesmopequenas cidades, a falta de crédito ou a dificuldade em obtê-lo, restringe oumesmo impossibilita o avanço econômico de inúmeras experiências produtivas

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e comerciais, geradoras de emprego e renda, sejam elas formais ou informais.A criação de cooperativas de crédito comunitárias, com área de ação limitadaa uma cidade ou bairro, com limitação de renda entre seus associados, emboranão permitida pela atual legislação, poderia ser uma alternativa, ajudando acriação de atividades produtivas e fomentando a economia local.

No meio rural, os problemas são ainda mais limitantes devido àinstabilidade e riscos inerentes à produção agropecuária. Apesar das organizaçõessindicais e associativas terem conseguido avanços com relação às políticas decrédito agrícola, estes benefícios têm tido dificuldades de chegar até os agricultoresfamiliares. O sistema de crédito rural estruturado na atual rede bancária nãotem atendido aos interesses dos agricultores familiares, pois os bancos não têminteresse em atender quem movimenta pouco dinheiro, tem poucas garantias edeseja fazer empréstimos de pequeno porte, pois estes apresentam custosoperacionais elevados para os seus padrões. Diante destes entraves, ascooperativas de crédito rurais de agricultores familiares podem proporcionarcanais de acesso ao crédito, além de uma melhor capacitação para sua utilização.

As cooperativas de crédito passam por constantes desafios na tentativade mantê-las voltadas à sua missão central. Estes desafios vão desde anecessidade de articulação e luta conjunta com outras organizações políticas erepresentativas, à busca de recursos mais baratos, à constante formação ecapacitação de seu quadro diretivo e associativo, à necessidade de melhoresserviços e controles internos e, principalmente, da transformação dos recursosfinanceiros em projetos de desenvolvimento sustentáveis e não em maisendividamento e empobrecimento da população.

Por fim, é preciso ter muito claro que o acesso ao crédito rural ou urbano,não é a solução final para o conjunto de seus problemas. É fundamental aarticulação com outras organizações que têm como eixo de atuação a promoçãoe o desenvolvimento social e econômico da população, tais como sindicatos,associações profissionais, associações de produtores, pequenas agroindústrias,micro e pequenos empresários, escolas de formação profissional, cooperativas deprodução e de trabalho, organizações não-governamentais (ONGs) e poder público.

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Parte I

1 O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

Um sistema financeiro é o conjunto de instituições que atuam no sentidode propiciar um fluxo de recursos adequados entre poupadores e investidores.O sistema financeiro é capaz de realizar a intermediação de forma que osrecursos disponíveis sejam distribuídos entre aqueles que têm a intenção deinvesti-los. Os poupadores, que fornecem os recursos, recebem o dinheiro devolta após um certo tempo, remunerado por uma determinada taxa de juros.Nesse sentido, o sistema financeiro pode ser um impulsionador do crescimentoeconômico, pois disponibiliza recursos para investimento.

O Sistema Financeiro Nacional (SFN) é composto por diversas instituições,sejam elas financeiras monetárias (que podem criar moeda bancária escritural,correspondente a lançamentos contábeis de débito e crédito), financeiras não-monetárias (que não criam moeda escritural), instituições financeiras auxiliares(somente intermediam operações entre poupadores e investidores) e instituiçõesnão financeiras, mas que participam do mercado financeiro.

O SFN é regulamentado, em grande parte, pela Lei de Reforma Bancária(Lei no 4.695, de 1964). Nesta lei, consideram-se instituições financeiras “as pessoasjurídicas públicas e privadas, que tenham como atividade principal ou acessóriaa coleta, intermediação ou a aplicação de recursos financeiros próprios ou deterceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor de propriedadede terceiros”. As instituições financeiras são aquelas que captam recursosdiretamente do público, emitem passivos e realizam financiamentos. As instituiçõesauxiliares não financeiras são aquelas que promovem a aproximação entrepoupadores e investidores, porém não realiza operações entre eles.

A estrutura da SNF tem um subsistema normativo (Bacen, 2000A), queestabelece regras de funcionamento e de operação do sistema, constituído por:

· Conselho Monetário Nacional (CMN): responsável pela fixação dediretrizes da política monetária, creditícia e cambial. Ele conta com sete comissões

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consultivas (normas e organização do sistema financeiro, mercado de valoresmobiliários e futuros, crédito rural, crédito industrial, endividamento público,política monetária e cambial e processos administrativos).

· Banco Central do Brasil (Bacen): é o órgão executivo central do sistemafinanceiro. Ele emite papel moeda e executa todos os serviços relativos ao meiocirculante. Além disso, recebe os empréstimos compulsórios dos bancos, realizaoperações de redesconto e empréstimo a instituições financeiras, regulacompensação de cheques, compra e vende títulos públicos federais, exerce ocontrole sobre o crédito e sobre os fluxos internacionais de capital, além decontrolar e fiscalizar as atividades de instituições ligadas ao sistema financeiro.

· Comissão de Valores Mobiliários (CVM): é uma unidade autônoma edescentralizada, mas vinculada ao governo. Tem como objetivo assegurar ofuncionamento das bolsas de valores e fiscalizar a emissão de ações, debênturese outros títulos privados nos mercados primário e secundário.

O outro componente do sistema financeiro, além do subsistemanormativo, é o de intermediação, que executa os serviços de intermediaçãofinanceira na sociedade. É formado pelas instituições financeiras que sediferenciam em relação aos seus objetivos, e conseqüentemente em relação aopúblico que pretendem atingir, e em relação às formas de captação de recursose atividades permitidas. Os componentes deste subsistema são (Bacen, 2000A):

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Além destes, existem ainda os bancos múltiplos, que são os bancos quepossuem, no mínimo, duas carteiras (comercial, investimento, crédito imobiliário,de aceite ou financiamento, de desenvolvimento ou de leasing). Pelo menosuma das carteiras deve ser comercial ou de investimento.

2 AS INSTITUIÇÕES DE CRÉDITO NO BRASIL

2.1 BancosOs bancos públicos e privados têm tido uma grande dificuldade em

trabalhar com a população de baixa renda, seja por meio de financiamentosprodutivos de pequeno porte ou no fornecimento de serviços (talão de cheques,cartões, poupança etc.). A recusa em atender esta camada da população éaplicada por meio do excesso de burocracias e exigências, bem como com aimposição de capital mínimo para operar com o banco. A exceção ocorre porparte de alguns bancos em relação à poupança, onde o interesse é do Banco,que busca captar os poucos recursos poupados sem fornecer nada em troca aestes poupadores, direcionando os recursos para outros setores econômicos.

No meio rural, mesmo os bancos públicos responsáveis pela gestão dosrecursos oficiais destinados à agricultura, têm pouco preparo, pouca estrutura e

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quase nenhum interesse na execução de contratos de crédito rural de pequenoporte (ABRAMOVAY & VEIGA, 1999). Pelo seu alto custo operacional e suaexcessiva burocracia, esses bancos normalmente preferem liberar os recursosdo crédito rural para os agricultores mais estruturados e que apresentam, pelalógica dos bancos, menores riscos para a aplicação e para o retorno dos recursos.As normas operacionais dos programas de crédito rural oficial, apesar daburocracia imposta pelo governo federal, são elaboradas e definidas pelos agentesfinanceiros por meio de normativos internos. Em função disso, os bancos optampor liberar os recursos do crédito rural preferencialmente para os agricultoresque produzem culturas tradicionais, e que utilizam a risca o “pacote” tecnológicocomposto por adubos químicos e agrotóxicos. Aquelas atividades que não seenquadram no padrão tradicional de produção e aqueles agricultores maisdescapitalizados que não preenchem as exigências do sistema financeiroconvencional, não têm acesso aos incentivos necessários para a sua capitalização,mantendo um círculo vicioso de exclusão social.

2.2 Instituições não-bancárias de crédito e microcrédito

O aparecimento de programas de crédito microcrédito popular no Brasil,além dos já operados pelas cooperativas de crédito constituídas no início doséculo XX, data do início da década de 80, com a experiência da Cáritas Brasil(1981), a criação da Rede Ceape (1987) e diversas outras experiências de fundosrotativos desenvolvidos por ONGs. Estes fundos eram mais comuns no meiorural, sendo viabilizados pelo apoio de entidades de cooperação internacional,não contando com a participação do poder público. O boom destas experiênciasocorreu na década de 90, com o aparecimento de iniciativas urbanas, envolvendoo poder público, e com o amadurecimento das ONGs já atuantes, além daconstituição de novas cooperativas de crédito.

Outro fator determinante para essa explosão foi os crescentes índicesde informalidade da economia, aumentando significativamente a parcela dapopulação excluída do setor formal de crédito, bem como originando milharesde microempreendimentos, carentes de recursos para alavancar suas atividades.Essas novas iniciativas que surgiram no Brasil trazem clara influência daexperiência latina, percebida na profissionalização dessas entidades, quepassam a contar com profissionais especializados em seus quadros, comestrutura enxuta e orientada para a auto-suficiência (resultando na utilizaçãode juros reais em suas operações).

No setor agrícola, o número de experiências aumentou em função daredução do crédito rural e das dificuldades enfrentadas para o seu acesso pelosagricultores familiares. Esta redução do crédito rural foi em função da significativa

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diminuição dos recursos disponibilizados pelo governo federal para o setor apartir da metade dos anos 80, e mais recentemente, pela redução da inflação edos subsídios. Em virtude da escassez de recursos, os bancos ampliaram aadoção de critérios mais rígidos na concessão de empréstimos, exigindo umgrande número de garantias, o que levou a uma forte seleção da clientela.

Buscando colaborar para a formação de experiências na área demicrofinanças, em 1996 o governo federal, via BNDES, criou um conjunto deprogramas com intuito de fortalecer e capitalizar as organizações que atuassemcom o crédito produtivo popular, prevendo no limite, a incorporação dessasatividades pelos bancos comerciais.

Do ponto de vista institucional, o governo federal também avançou umpouco, criando em 1999 a figura da Sociedade de Crédito ao Microempreendedor(SCM) e as organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip).Somando-se estas novas organizações às entidades e experiências informaisanteriores, existem atualmente como alternativa de institucionalização deoperações de microcrédito no país, as seguintes entidades: Cooperativas deCrédito, Sociedade de Crédito ao Micro Empreendedor (SCM), Organizaçõesda Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), Bancos do Povo e organizaçõesinformais de microcrédito.

2.2.1 Cooperativas de crédito

As cooperativas de crédito são instituições financeiras e sociedades depessoas, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, sem finslucrativos e não sujeitas à falência, constituídas com o objetivo de propiciarcrédito e prestar serviços aos seus associados.

Uma cooperativa de crédito é uma associação que presta basicamenteos mesmos serviços fornecidos pelos bancos: financia a produção e osinvestimentos, cobra contas, fornece talão de cheques e opções de aplicaçõespara seus associados. Por outro lado, é diferente de um banco, pois seusproprietários são os seus clientes, não precisando ter lucro para funcionar,bastando ser remunerada o suficiente para saldar suas próprias contas. Seuscustos são rateados entre o quadro social na forma de juros e de pequenastaxas, assim quanto menores forem os custos da cooperativa, menores podemser os juros e as taxas cobradas por estas.

Da mesma forma que os bancos, as cooperativas de crédito movimentamos recursos de seus associados, podendo também atuar no repasse de recursospúblicos por meio de programas oficiais de crédito, como o Pronaf (ProgramaNacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) e o Proger (Programa deGeração de Emprego e Renda).

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As diferenças em relação aos bancos começam no tamanho e nodestino dos rendimentos recebidos com as operações. Enquanto nos bancostais rendimentos são apropriados pelos donos, constituindo lucro, nascooperativas de crédito as taxas são menores e, quando existem sobras, sãodivididas entre os associados ou é utilizado para a capitalização dacooperativa, por meio da elevação do valor da cota capital dos associados.Além do baixo custo operacional das cooperativas, devido à sua menorestrutura física e de pessoal, elas podem fornecer empréstimos com jurosabaixo do praticado pelos bancos e ainda remunerar as aplicações de seusassociados com taxas superiores às do mercado.

Nas cooperativas de crédito, a maior parte do dinheiro dos associadostende a ficar no próprio município, contribuindo para o seu desenvolvimento.Além disso, enquanto os bancos precisam aplicar apenas 25% de seus “depósitosà vista” na agricultura, as cooperativas de crédito rural aplicam no mínimo60%, sendo que a maioria dos bancos prefere depositar no Banco Central ovalor referente aos “depósitos à vista” do que financiar a agricultura.

Entretanto, apesar dos avanços que uma cooperativa de crédito tem emrelação a um banco comercial, isto não significa que todas são agentes dodesenvolvimento. Algumas (e não são poucas) cooperativas de crédito no Brasilatuam meramente como agentes financeiros, visando apenas à sua sustentaçãoeconômica, independente de quem são os beneficiários do crédito e de seusserviços, ou melhor, fazem uma forte seleção de seu quadro social, e não estãovinculados ao desenvolvimento social, seja ele no meio rural ou no urbano.

As principais diferenciações entre as Cooperativas de Crédito e os bancos(BITTENCOURT, 1999) são apresentadas no quadro abaixo:

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As principais diferenças entre as cooperativas de crédito e as outras formasde organização do microcrédito estão no fato delas terem mais autonomia degestão administrativa (apesar de serem fiscalizadas pelo Bacen), poder captarrecursos de seus associados (depósitos à vista e a prazo), fornecer diferentesmodalidades de crédito e poder atuar como repassadores de recursos oficiais decrédito, especialmente as cooperativas de crédito rural.

2.2.2 SCMs - Sociedades de crédito ao microempreendedor

As sociedades de crédito ao microempreendedor foram autorizadas afuncionar em agosto de 1999, por meio da Resolução nº 2.627 e da Circularnº 2.915, ambas do Banco Central. Segundo esta resolução, as sociedadesde crédito ao microempreendedor têm como objetivo social exclusivo àconcessão de financiamentos a pessoas físicas, com vista à viabilizarempreendimentos de natureza profissional, comercial ou industrial de pequenoporte, bem como pessoas jurídicas classificadas como microempresas nostermos da legislação em vigor.

Estas sociedades somente podem ser constituídas sob a forma decompanhias fechadas nos termos da Lei nº 6.404, representado por, no mínimo,50% de ações ordinárias e sociedade por quotas de responsabilidade limitada.A criação de sociedades de crédito depende de prévia autorização do Bacen,que também fiscaliza e controla o seu funcionamento.

As SCMs precisam ter um limite mínimo de capital realizado e patrimôniolíquido ajustado de R$100.000,00. É proibida a participação societária, diretaou indireta, do setor publico no capital destas sociedades. Os seus recursospodem ser captados no país e no exterior, originários de:

a) organismos e instituições nacionais e internacionais de desenvolvimento;

b) orçamentos estaduais e municipais;

c) fundos constitucionais;

d) doações;

e) outras fontes, desde que autorizadas pelo Bacen.

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Em suas operações de crédito, as sociedades devem observar o limitede diversificação de risco de, no máximo, R$10.000,00 por cliente. Os seusempréstimos não podem ultrapassar cinco vezes o respectivo patrimôniolíquido ajustado (PLA), e os seus recursos não têm cobertura do FundoGarantidor de Crédito (FGC).

A resolução veda às sociedades de crédito a:

a) transformação em qualquer tipo de instituição integrante do SFN;

b) captação de recursos do público;

c) participação societária no capital de outras empresas;

d) contratação de depósitos interfinanceiros na qualidade dedepositante ou depositária;

e) concessão de empréstimos para fins de consumo;

f) cessão de créditos com co-obrigação.

Quando se iniciou o debate em torno das SCMs, o objetivo era ampliaras alternativas de microcrédito urbanas, mas a resolução do Bacen não avançoumuito neste sentido. As principais limitações estão no alto valor exigido para opatrimônio líquido e o impedimento para que as sociedades de crédito captemrecursos por meio de depósitos de seus associados. A restrição do uso do créditopara consumo também pode ser considerada como uma limitação para asatividades do microcrédito urbano. Como estas sociedades dependembasicamente de repasses de recursos de outras instituições, os recursos para oscréditos, além de serem muito limitados, apresentam condições de financiamentomuitas vezes proibitivas, pois normalmente estas são impostas pelas entidadesfornecedoras dos recursos.

2.2.3 Oscip - Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público

As Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público - Oscip sãoassociações civis, de direito privado, sem fins lucrativos, que conquistam juntoao Ministério da Justiça o “título” de Interesse Público. Tradicionalmenteconhecidas como ONGs, essas entidades que se caracterizaram pela proposiçãoe execução de diversas políticas públicas, poderão vir a desempenhar umimportante papel na construção das microfinanças e crédito popular no Brasil,conforme contempla a Lei nº 9.790, de 23 de março de 1999, regulamentadapelo Decreto nº 3.100, de 30 de julho de 1999.

A qualificação de uma organização como Oscip será conferida às pessoasjurídicas de direito privado e sem fins lucrativos, cujo princípio de universalizaçãodos serviços deve ser respeitado, e que os objetivos sociais tenham no mínimo

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uma das finalidades descritas pela lei, entre as quais destaca-se a“experimentação, não lucrativa, de novos modelos sócioprodutivos e de sistemasalternativos de produção, comércio, emprego e crédito”.

Deve-se destacar que a promulgação dessa lei, bem como a das SCMs,surgiram da pressão exercida por organizações sociais pela regulamentação daatividade de microcrédito.

Apesar das dificuldades de capitalização, às quais normalmente estãoexpostas, as organizações que têm conquistado o título de Oscip têm conseguidosucesso nas suas operações, que devido à sua natureza não-lucrativa, lhes permitebaixar os juros e assim, têm possibilidade de competir com instituições de outranatureza. Porém, se são beneficiadas pela não-distribuição de lucros e dividendos,devido ao seu caráter não-lucrativo, muitas destas Oscip acabam contandocom equipes não-profissionais, o que apesar de já ser percebido comofundamental, é oneroso.

Por outro lado, estas organizações incorrem em diversas dificuldades parasua legalização, apesar das exigências legais não parecerem tão complicadas.Os documentos exigidos pelo Ministério da Justiça são:

g) estatuto registrado em cartório;

h) data de eleição de sua atual diretoria;

i) balanço patrimonial e demonstração do resultado do exercício;

j) declaração de isenção do imposto de renda;

k) inscrição no Cadastro Geral de Contribuintes.

A constatação da dificuldade encontrada para obter o título de Oscippode ser notada pelo pequeno número de entidades que atuam com microcréditoa solicitar a qualificação junto ao Ministério da Justiça, bem como pelo númeroainda menor de pedidos deferidos. Deve-se destacar a necessidade de alteraçõesna lei que rege as Oscip, adaptando-a melhor à realidade brasileira.

2.2.4 Banco do Povo

Este tipo de instituição é normalmente limitado ao espaço urbano, poisnão atuam com repasses de créditos oficial para o meio rural, principal fonte derecursos para os financiamentos rurais de médio e longo prazos. Quanto à suanatureza jurídica, deve-se destacar que, apesar da influência direta do poderpúblico em suas constituições, os bancos do povo estão limitados àspersonalidades jurídicas de Oscip ou SCMs. Exemplo disso é o Banco do Povode Santo André, que desde janeiro de 2000, obteve a qualificação de Oscipjunto ao Ministério da Justiça.

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Estas instituições, apesar de ampliarem as alternativas de microcréditopara o meio urbano, são limitadas em relação às suas fontes de recursos,dificultando a sua sustentabilidade ao longo do tempo. O impedimento àcaptação de recursos da população atingida provoca duas importantesconseqüências. A primeira é em relação à limitada quantidade de recursoscolocados à disposição destas agências de microcrédito, pois está restrito, namaioria dos casos, aos recursos disponibilizados pelo poder público local, quesão escassos e limitados. Porém, cabe lembrar que a busca por novas fontes decapitalização tem sido uma preocupação constante nessas organizações, queutilizam o respaldo governamental para facilitar a viabilização desses fundos. Asegunda conseqüência está relacionada com o grau de comprometimento dopúblico alvo em relação ao Banco. Apesar de todo trabalho de formação quepossa ser realizado com os beneficiários, normalmente não existe umcompromisso econômico do beneficiário em relação aos recursos do banco, oque aumenta a inadimplência e a necessidade de fiscalização coletiva da utilizaçãodos recursos e do pagamento dos financiamentos. Nesse sentido, em algunscasos, as instituições vêm elaborando rigorosos procedimentos de concessão decrédito que se por um lado diminui a inadimplência, por outro restringe o númerode solicitações atendidas.

2.2.5 Outras organizações de microcrédito

São organizações não-regulamentadas e/ou não-reconhecidas pelogoverno federal, portanto, não-autorizadas a funcionar. Entretanto, estasorganizações de crédito existem, sendo que muitas delas prestamimportantes serviços ao desenvolvimento humano, por meio da concessãode pequenos créditos produtivos e créditos pessoais emergenciais. Alémdestas organizações informais de crédito, existem outras formas de obtençãode crédito pela população, as quais não serão trabalhadas neste texto,mas merecem ser destacadas. São elas o crédito por meio de amigos,parentes, agiotas, fornecedores de insumos e compradores da produção(comerciantes), entre outros.

2.2.5.1 Bancos comunitários informais

Um bom exemplo deste tipo de organização é o Banco Palmas (BancoPopular do Conjunto Palmeira), criado em 1998 na cidade de Fortaleza-CE. OBanco funciona no bairro Palmeira, que é constituído por uma população detrinta mil habitantes e caracterizado pela pobreza econômica, onde cerca de 80% da população têm renda familiar abaixo de dois salários mínimos e 95% dosmoradores possuem no máximo o 1º grau completo.

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O projeto surgiu a partir da Associação de Moradores, que implantouum projeto voltado para a geração de ocupação e renda, com um amplocomponente social de mobilização e organização dos moradores. O banco étotalmente administrado e gerenciado pelos líderes comunitários do bairro.

A filosofia central do banco está voltada para uma rede de solidariedadede produção e consumo local. O banco possui uma linha de microcrédito paraquem deseja criar ou ampliar um pequeno negócio e outra linha de crédito quefinancia aqueles que desejam comprar dos produtores do próprio bairro. Parafinanciar o consumo local, o banco criou o seu próprio cartão de crédito: oPalmaCard, que tem validade apenas no Conjunto Palmeira, estimulando asfamílias a comprarem os produtos produzidos e vendidos na própria comunidade.É importante destacar que todos os clientes do banco precisam ser sócios daAssociação e participarem das atividades comunitárias.

O banco trabalha com uma política pautada no controle social docrédito. Quando um morador solicita um crédito, ele é informado das regrasde funcionamento da rede de solidariedade. Em seguida um analista de créditovisita a casa do solicitante e conversa com os vizinhos. É o depoimento davizinhança que vai servir de aval para o futuro cliente. O Banco Palmas nãoexige fiador e não faz consultas ao SPC, Serasa ou Cadim. A partir domomento em que o cliente é aceito no banco, ele passa a ser acompanhadopor toda a rede de solidariedade. Esse controle social fiscaliza as ações dobanco e dos seus empreendedores, ajudando a manter um baixo índice deinadimplência (1% a 3%).

O banco adota a política de juros evolutivos, isto é, quanto maior for ocrédito solicitado, maior é a taxa de juros. Desta forma, quem tem mais recursossubsidia o juro de quem tem menos. Essa estratégia garante a distribuição derenda entre os produtores locais. O banco possui 870 clientes, que além doaspecto econômico, se articulam com o bairro por meio da participação ematividades comunitárias, tais como: acompanhamento às escolas e postos desaúde, mutirões de limpeza e manutenção dos equipamentos públicos, lutas emobilizações sociais por serviços e melhorias gerais para o bairro, participaçãonos grupos culturais, entre outras modalidades de participação.

O Banco Palmas não pode captar depósitos de seus associados, poisestá impedido pelo Bacen por não ser uma entidade reconhecida. Os recursosutilizados para os empréstimos têm sido originários nas entidades de cooperaçãointernacional. Atualmente existe uma negociação com o BNDES para arealização de repasses de recursos para os microcréditos.

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2.2.5.2 Fundos rotativos

Os fundos rotativos são caracterizados como uma organização informalde crédito, sendo mais comuns no meio rural. Têm sido criados normalmente poriniciativa de ONGs, governos municipais, movimentos populares e associaçõesde produtores. Estes fundos tornam o crédito mais acessível e democrático, dandooportunidades aos agricultores de participarem de sua gestão.

Estas experiências têm contribuído na construção de propostas de créditorural compatíveis com a realidade e diversidade dos agricultores familiares. Elestêm demonstrado a viabilidade da agricultura familiar e a importância do crédito,não como uma forma de transferir rendas para a agricultura, mas como um meiode potencializar e reestruturar as pequenas unidades de produção. Os fundosrotativos são um importante instrumento das organizações dos agricultores, jáque os financiamentos destinam-se prioritariamente a grupos e a associações.

Os principais limites destes fundos são a falta de uma maiorinstitucionalidade, o que em muitos casos provoca um descomprometimentopor parte dos beneficiários com o seu pagamento (como normalmente as fontesde recursos são entidades de cooperação internacional ou órgãos públicos, existeum “costume” de tratá-los como “fundo perdido” e não como fundos rotativos,além da dificuldade legal para realizar as cobranças dos inadimplentes); alimitada quantidade de recursos, frente a uma grande demanda (não captamrecursos da comunidade em que atuam e não repassam recursos oficiais decrédito) e a fraca profissionalização administrativa de seus gestores (o quecontribui para ampliar a inadimplência e amplia as possibilidades de clientelismo).

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Parte II

3 A HISTÓRIA DO COOPERATIVISMO DE CRÉDITO

As primeiras cooperativas de crédito foram organizadas na Europa apartir da segunda metade do Século XIX, principalmente na Alemanha e naItália. A idéia era permitir que as pessoas juntassem dinheiro e pudessem tomarempréstimos mutuamente, criando assim condições para que a população maispobre do campo pudesse ter alternativas para sair da miséria e melhorar devida. Por meio desta experiência, o cooperativismo de crédito expandiu-se porquase todo o mundo, sendo que atualmente existem 20.000 agências de créditocooperativo na Alemanha, 18.500 na Inglaterra e 3.000 na Holanda.

No Brasil, o cooperativismo de crédito surgiu no início do Século XX,trazido pelos imigrantes alemães e italianos. Eles implantaram um sistema decrédito cooperativo nos moldes das organizações que existiam em suas cidadese vilas de origem, na tentativa de resolver seus problemas de crédito, produçãoe consumo. A primeira cooperativa brasileira foi fundada em 1902 na cidadede Nova Petrópolis (serra gaúcha), funcionando até hoje. A partir desta iniciativa,outras organizações de crédito foram criadas no Rio Grande do Sul e difundidasnos demais Estados, principalmente das regiões Sul e Sudeste do país(SCHRÖDER, 1998). As primeiras cooperativas de crédito mútuo no Brasilsurgiram em 1959, com o apoio da Cuna - Associação Norte-Americana dasCooperativas de Economia e Crédito Mútuo.

As cooperativas de crédito tiveram um grande desenvolvimento até osanos 60, tornando-se a principal sustentação financeira em muitos municípiosbrasileiros. Contudo, os problemas administrativos enfrentados por muitas destascooperativas contribuíram para criar, a partir do final dos anos 50, uma situaçãode desconfiança e de desvirtuamento dos seus próprios propósitos iniciais.

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Nos anos 60, durante o regime militar, foi realizada uma reforma nosistema financeiro brasileiro, estabelecendo diversas exigências para ofuncionamento das cooperativas de crédito. Estas exigências acabaram por“liquidar” um grande número de cooperativas, principalmente as cooperativasdo tipo Luzzatti (aberta à população de uma ou mais cidades), obrigandooutras a se reestruturarem e limitarem sua atuação. Nos anos 70 e início dosanos 80, o cooperativismo de crédito no Brasil restringiu-se praticamente àscooperativas de crédito mútuo e às de crédito rural vinculadas às cooperativasde produção (BURIGO,1999).

A proposta de cooperativismo de crédito rural retornou no início dosanos 80, em função das mudanças na política de financiamento da agriculturabrasileira, que resultou em uma redução drástica no volume de recursosdestinados ao crédito rural e no fim dos subsídios via taxa de juros. A Organizaçãodas Cooperativas do Brasil (OCB) coordenou um movimento de constituiçãodas cooperativas de crédito (Credis) a partir das cooperativas agropecuárias,especialmente no Sul e Sudeste.

O vínculo das Credis às cooperativas de produção provocou um intensivoprocesso seletivo, resultando na exclusão de um grande número de agricultoresfamiliares, principalmente os mais descapitalizados, do quadro social dascooperativas. As cooperativas agropecuárias, incentivadas pelo Estado, haviamadotado um padrão de desenvolvimento rural baseado em um nível tecnológiconão compatível com as condições socioeconômicas e culturais vividas pelas unidadesde produção familiar (SCHRÖDER, 1998). Como conseqüência, de um instrumentopara o desenvolvimento rural e local, as Credis transformaram-se em algodesvinculado da realidade de um grande número de agricultores familiares.

Após a criação de várias cooperativas de crédito, o Banco Centralautorizou a criação de Cooperativas Centrais de Crédito. Estas centrais, alémde darem mais autonomia às cooperativas de crédito rural, contribuíram para acriação de cooperativas de crédito “mútuo” no meio urbano, mas sempremantendo a sintonia política com o cooperativismo agropecuário.

Em 1995, fruto das pressões da cúpula do movimento cooperativistabrasileiro, aqui entendido como a OCB, o CMN autorizou a organização debancos cooperativos. Diferente do BNCC (Banco Nacional de CréditoCooperativo), que era estatal-misto, estes bancos são privados, embora sejamcooperativos. Em 1996 é fundado o Bansicredi (Banco do Sistema SicrediS.A.), com atuação no Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso e MatoGrosso do Sul e em 1997 é fundado o Bancoob (Banco Cooperativo do BrasilS.A.), com atuação em vários Estados do Brasil. Esses bancos foram constituídos

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a partir de diversas cooperativas de crédito rurais “tradicionais” e de algumasde crédito mútuo (BURIGO, 1999).

Estes dois bancos são freqüentemente criticados por atuarem com umforte viés financeiro, preferindo aplicar mais no mercado financeiro que emempréstimos aos associados, ferindo um dos objetivos básicos das cooperativasde crédito. Além disto, uma das estratégias adotadas por estes bancos e pelascentrais de crédito a eles vinculadas têm sido a fusão de pequenas cooperativasde crédito, ou mesmo a incorporação das pequenas pelas grandes.

No meio rural brasileiro, os agricultores familiares e suas organizaçõesrepresentativas e de apoio, somente começaram a ver o cooperativismo decrédito como uma alternativa para ampliar e democratizar o acesso ao créditorural no início dos anos 90. Os projetos começaram a partir do trabalho deONGs e entidades dos agricultores familiares, por meio de fundos de créditorotativo, apoiados em recursos oriundos da cooperação internacional(BITTENCOURT, 1999).

A primeira experiência de cooperativas de crédito vinculadas aosagricultores familiares ocorreu em Santa Catarina, com a fundação daCrediquilombo, em 1993. Seguindo esse exemplo, foram criadas outras novecooperativas naquele Estado, todas desvinculadas de cooperativas de produção,mas filiadas ao Sicredi-SC (Sistema de Crédito Cooperativo).

O fornecimento do crédito não deve estar totalmente atrelado aosinteresses e investimentos das cooperativas de produção, pois a decisão sobrea liberação do empréstimo não deve ser tomada pela mesma pessoa (ougrupo) que define o investimento. A análise do ponto de vista do financiadordeve ser diferente de quem está fazendo ou propondo o investimento, namedida em que considera elementos normalmente não observados peloinvestidor. Além disso, o crédito não deve estar vinculado à venda de insumosou produtos pela cooperativa de produção, prática comum nas cooperativasde crédito e de produção vinculadas, pois com o tempo o crédito passa a serestringir a esta finalidade, passando a ser um mero financiador das vendasda cooperativa de produção, perdendo sua função de estimulador dosinvestimentos e do desenvolvimento.

No Paraná, os agricultores familiares e suas organizações iniciaram oprocesso de constituição das cooperativas de crédito em 1995, sendo a primeirainaugurada em 1996. Neste Estado, as cooperativas de crédito, formadasexclusivamente de agricultores familiares, criaram o seu próprio sistema,denominado Sistema Cresol de Cooperativas de Crédito com Interação SolidáriaLtda. A desvinculação das cooperativas de crédito das cooperativas de produçãofez parte da concepção inicial dos fundadores do Sistema Cresol.

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Em janeiro de 2001, o Sistema Cresol já tinha se expandido para os trêsEstados da região Sul, possuindo cerca de 15,5 mil agricultores familiaresassociados, organizados em 33 cooperativas de crédito rural e atuação emmais de 100 municípios da região. Entre as cooperativas filiadas a este sistemaestão cinco Credis de Santa Catarina formadas por agricultores familiares, quepor discordarem da forma de atuação do banco cooperativo, optaram por sedesvincular do Sicredi-SC e filiar-se ao Sistema Cresol.

Entre as cooperativas de crédito mútuo, muitas são as experiênciaspositivas no Brasil. A Bancredi – Cooperativa de Crédito dos Bancários deSão Paulo e Municípios Limítrofes é uma das cooperativas que está contribuindopara a construção do Sistema de Crédito Solidário. A Bancredi surgiu dosucesso obtido com a constituição da Bancoob – Cooperativa Habitacionaldos Bancários. Em meados de 1999, o Sindicado dos Bancários de SãoPaulo, representante da categoria profissional, constituiu a Cooperativa deEconomia e Crédito Mútuo, baseado no apoio mutuo, no sentido recíproco deunião e de responsabilidades conjuntas, para promoverem o progresso sociale econômico de seus filiados.

4 OS PRINCÍPIOS QUE DEVEM NORTEAR UMA COOPERATIVA DE CRÉDITO

Alguns princípios básicos devem nortear a constituição e o funcionamentode uma cooperativa ou sistema de cooperativas de crédito (LANCELIN, 1996).Inicialmente é importante considerar que um sistema de crédito é um sistemade financiamento monetário, portanto independente do tipo de crédito ele estáligado à evolução da moeda e a tudo a ela relacionado, como por exemplo, àinflação. Está também submetido às regras de regulação e de controle do mercadofinanceiro, portanto, existe a necessidade de reconhecimento institucional.

Em segundo lugar, uma cooperativa de crédito tem uma finalidade social,fator que pode diferenciá-lo dos sistemas de crédito tradicionais, dependendoda lógica e da prática de atuação adotada. As lógicas de ação mais comuns deuma cooperativa de crédito são:

· lógica financeira – o objetivo é ganhar dinheiro por meio do crédito,pouco importando quem é financiado. O importante é recuperar os recursosenvolvidos com o maior benefício possível – é o comércio de dinheiro;

· lógica de rentabilidade econômica – embora exista uma finalidadeeconômica, como financiar investimentos, o objetivo é obter a melhorrentabilidade possível. Para isto serão tomadas as melhores garantias, asmelhores taxas (para a cooperativa, é claro) e serão escolhidos os setores deatividades mais rentáveis;

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· lógica administrativa – comum entre os financiamentos públicos eprivados que são submetidos a normas restritivas. Preocupa-se mais com aburocracia e o respeito aos regulamentos, normas e controles, esquecendo-semuitas vezes da própria finalidade do crédito;

· lógica de desenvolvimento – o objetivo é contribuir para o crescimentoda riqueza nacional e individual, procurando soluções para o equilíbrio social eterritorial. Enfim, colocar o Sistema em função do desenvolvimento local, sempreassociado aos atores sociais que lutam pelo desenvolvimento sustentável.

Por isto, não basta que seja uma cooperativa de crédito para que cumprauma função social importante, mas é preciso que atue dentro de uma lógicade desenvolvimento.

Em terceiro lugar, uma cooperativa de crédito só pode funcionar esobreviver com recursos, portanto é preciso ter dinheiro para realizar asoperações de crédito. Os recursos podem ser dos próprios associados e deinstituições públicas ou privadas que emprestam para a cooperativa, ou mesmopor meio de repasses de recursos controlados pelo governo, sejam eles municipal,estadual ou federal. Entretanto, estes recursos têm dono e um custo (os jurospagos), além de uma duração que vai pesar sobre sua utilização emempréstimos. De acordo com cada uma das fontes de recursos será possíveldefinir um custo do dinheiro, prazos de financiamentos e prioridades em relaçãoao público e atividade financiada.

Por fim, uma cooperativa de crédito é um serviço para atores econômicos,devendo responder nas melhores condições possíveis às necessidades daquelesa quem se destina. Portanto, é imprescindível definir “a que e a quem ele deveservir”. A qualidade de seus serviços deve ser boa para que seus associados nãoa rejeitem, confiem nela e respeitem a disciplina e suas responsabilidadesenquanto participante ativo na cooperativa, seja como sócio ou como tomadorde crédito. Caso os serviços sejam ruins, com procedimentos pesados ecomplicados, e os empréstimos liberados depois do período que deveriam serutilizados, o sistema torna-se ineficaz e os associados vão procurar outrasinstituições, mesmo que o crédito seja mais caro.

Uma vez escolhida a lógica a ser adotada pela cooperativa, que para ocrédito solidário é necessariamente a do desenvolvimento, devem ser consideradosalguns princípios de funcionamento das cooperativas. As cooperativas de créditodevem ser autônomas em relação às atividades de outras cooperativas (seja deprodução, comercialização ou de serviços) e de organizações sociais, emboradeva ser muita bem articulada a estas. Uma atividade de crédito deve ser gerenciadadiferentemente de uma operação de venda de insumos, produtos ou serviços,pois um bom empréstimo é o resultado de uma “relação” social.

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Um sistema de cooperativas de crédito que vise fomentar odesenvolvimento deve buscar ter quatro princípios básicos de funcionamento(LANCELIN, 1996):

· confiança: o crédito, a partir de seu sentido original, significa “ter confiança”.Toda proposta de requerimento de crédito deve também ser objeto de uma troca deinformações para ajustar o financiamento à capacidade do requerente.

· proximidade espacial e social: quanto mais próxima uma instituição decrédito é do local onde vivem os beneficiários, melhor tendem a ser suasatividades e serviços prestados, e a confiança só é efetiva se existe umconhecimento mútuo.

· disciplina: é preciso que os participantes aceitem as regras dos financiamentos.Um empréstimo é um “contrato” onde cada participante se compromete a respeitaro acordo. Entretanto, é preciso considerar possíveis necessidades de renegociações,quando motivos fora do controle dos tomadores ocorrerem.

· projeto: o uso do crédito produtivo deve estar ligado a um projeto,portanto, ele é um instrumento de antecipação de renda futura. Quanto maisbem elaborado e organizado for o projeto, mais o crédito poderá beneficiar ousuário. O importante deste crédito é a perspectiva de aumento da renda queele deve provocar, produzindo um excedente para o tomador do empréstimo enão apenas para pagar o financiamento.

Em síntese, para a criação e funcionamento de um Sistema de Cooperativasde Crédito, ele deve ter os seguintes princípios gerais (LANCELIN, 1996):

· estar integrado a uma perspectiva de desenvolvimento econômico esocial. Não pode estar isolado nem ignorar as decisões de política geral;

· definir sua situação institucional em relação à legislação bancária e àsdiferentes instituições financeiras;

· estar próximo de seus usuários, sendo condição básica de sua eficáciao funcionamento descentralizado;

· ter qualidade nos serviços prestados e rigor no funcionamento, exigindopessoas competentes e que tenham ao mesmo tempo uma boa capacidadeprofissional e uma boa capacidade para escutar e empreender iniciativas locais;

· ser construído e sobreviver graças a uma política controlada dosrecursos financeiros;

· possuir normativos e regras que disciplinam seu funcionamento;

· possuir um controle administrativo ágil, eficiente e eficaz que consigamedir com precisão sua evolução e suas atividades diárias.

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LANCELIN (1996) reforça que a avaliação de um sistema de créditocooperativo normalmente é feita em função de seu “estatuto jurídico”, masesses estatutos não determinam o funcionamento e o cumprimento de seusobjetivos. Um estatuto jurídico é apenas a formalização, de acordo com a leiem vigor, de um projeto econômico ou social e das modalidades de suaimplementação, sendo comum encontrar bancos com estatuto cooperativo quefuncionam como bancos comerciais.

Uma cooperativa de crédito deve ser caracterizada por:

a) uma “sociedade de pessoas” voluntárias: é a escolha por uma formacomum de ação. Um sócio não é aquele que apenas integraliza o capital social,mas é aquele que adere aos objetivos da instituição;

b) um conjunto de indivíduos que aderem a um projeto comum: ocooperativismo supõe uma forte solidariedade econômica, repartida e admitidapelos membros. No momento em que esta solidariedade se dilui ou não érenovada, o funcionamento cooperativo desaparece e, ainda mais grave, aorganização pode decretar falência;

c) satisfazer às necessidades individuais: uma cooperativa está a serviçode seus membros e sua primeira regra é escutá-los e prestar atenção às suasreivindicações;

d) utilizar uma filosofia empresarial: uma cooperativa de crédito não éuma “obra de assistência social”, sobretudo em uma economia de mercado.Para sobreviver, ela tem necessidade de adotar instrumentos de gestão e degerenciar sua rentabilidade. Entretanto, não deve viver em função de si mesma,ou seja, apenas garantir a sobrevivência financeira de sua estrutura em detrimentodos seus associados;

e) deve ser administrada por responsáveis escolhidos pelos membros epor técnicos assalariados: trata-se de uma combinação entre voluntários eprofissionais qualificados, entretanto, com atribuições diferentes.

Portanto, uma cooperativa de crédito deve ser uma vontade coletiva derealizar um projeto comum baseado em regras concebidas ou aceitas por todos.Um sistema de crédito cooperativo deve aliar permanentemente um projeto dedesenvolvimento comum, uma solidariedade econômica rigorosa e modalidadesdescentralizadas de funcionamento e de responsabilidades.

5 A LEGISLAÇÃO QUE REGULAMENTA AS COOPERATIVAS DE CRÉDITO

As cooperativas de crédito são organizações financeiras amparadas pelaLei n.o 4.595/64, que dispõe sobre a política e as instituições monetárias, bancárias

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e creditícias, Lei n.o 5.764/71, que define a política nacional de cooperativismoe institui o regime jurídico das sociedades cooperativas e pela Lei n.o 6.981, quealtera a redação do artigo 42, da Lei n.o 5.764/71. Além destas leis, ascooperativas são regulamentadas por diversas resoluções, circulares e cartascirculares do Banco Central e pelo próprio estatuto social da cooperativa.Destaca-se que a atual Lei do Cooperativismo está sendo discutida e avaliadapelo Congresso Nacional e pelo governo federal, o que deve provocar a suaalteração no curto prazo.

No quadro a seguir, são apresentadas as principais resoluções e circularesdo Bacen que regulamentam as cooperativas de crédito no Brasil (BACEN, 2000c).

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De maio/1999 a agosto/2000, o cooperativismo de crédito foi regidopela Resolução nº 2.608 do CMN. Esta resolução, que foi revogada e substituídapela nº 2.771, dificultava ou mesmo inviabilizava a criação de pequenascooperativas de crédito, pois exigia um alto valor de patrimônio líquido (R$50.000,00) para a constituição de uma cooperativa de crédito.

A Resolução nº 2.771 foi uma conquista das organizações de agricultoresfamiliares, em especial do Sistema Cresol de Cooperativas de Crédito Solidárioe da Frente Sul da Agricultura Familiar, que com o apoio do Ministério doDesenvolvimento Agrário, conseguiram demonstrar ao Bacen que não é o valordo patrimônio líquido inicial que dá a garantia de credibilidade a uma cooperativaou sistema de crédito cooperativo, mas a sua gestão.

Estas organizações demonstraram que uma cooperativa de crédito precisater um patrimônio compatível com as necessidades e a realidade econômica deseus associados. Além disso, provaram que mesmo entre as cooperativas queatuam com a população mais pobre, e que iniciaram seu funcionamento combaixos valores de patrimônio líquido, é possível elevá-lo a patamares adequadosàs exigências do Bacen em determinado prazo de operação.

Quando da efetiva constituição de uma cooperativa de crédito, éfundamental que os técnicos e dirigentes coordenadores do processo deconstituição, bem como os futuros responsáveis pela contabilidade, tenhamacesso a todas as leis e resoluções que regulam a constituição e o funcionamentodas cooperativas de crédito no Brasil. Para um melhor acompanhamento dalegislação, sugere-se que a leitura comece pelas Leis do Cooperativismo e doSistema Financeiro Nacional, seguido pelas resoluções do Banco Central queregulamentam o cooperativismo de crédito. Como é muito comum que as

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resoluções, quando publicadas, revoguem artigos ou parágrafos de resoluçõesanteriores, ou mesmo resoluções inteiras, a leitura dessas deve começar damais nova para a mais antiga, observando as resoluções e/ou artigos de resoluçõesanteriores que foram revogados ou substituídos.

As cooperativas de crédito rural, além das resoluções do Banco Centralque regulamentam o seu funcionamento, deverão dispor de estruturaorganizacional específica para operar em crédito rural, devendo cumprir asdisposições contidas no Manual de Crédito Rural (MCR).

A seguir são apresentados os principais artigos da Resolução no 2.771,acrescidos de informações fornecidas pelo Bacen por meio do Roteiro deProcedimentos para Instrução e Análise de Processos de Cooperativas de Crédito(BACEN, 2000c) e de alguns comentários do autor.

5.1 Principais regulamentações e comentários sobre a Resoluçãono 2.771 do Bacen

5.1.1 Constituição e funcionamento das cooperativas de crédito

A constituição e o funcionamento de cooperativas de crédito mútuo e decrédito rural singulares e de cooperativas centrais dependem de prévia autorizaçãodo Banco Central, que é concedida sem ônus e por prazo indeterminado. Deveconstar no estatuto das cooperativas de crédito singulares as condições de associaçãode pessoas físicas que levem em conta, além das disposições legais pertinentes, aexistência de afinidades entre os associados, cabendo ao Bacen decidir sobre aadequação das correspondentes cláusulas estatutárias propostas à aprovação.

5.1.2 Tipos de cooperativas de crédito existentes

No Brasil, existem três tipos de cooperativas de crédito rural, mútuo e“Luzzatti”. Entretanto, a legislação em vigor não concede autorizações para ofuncionamento de novas cooperativas de crédito do tipo “Luzzatti”.

A) Cooperativas de crédito mútuo

Tipo I - Cooperativas de Crédito Mútuo de Empregados: pode ser formadapor empregados ou servidores e prestadores de serviço em caráter não-eventual de:

1) determinada entidade pública ou privada;

2) determinado conglomerado econômico;

3) conjunto definido de órgãos públicos hierárquica ouadministrativamente vinculado;

4) conjunto definido de pessoas jurídicas que desenvolvam atividadesidênticas ou estreitamente correlacionado por afinidade ou complementaridade.

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Nas cooperativas formadas por servidores de órgãos e entidades públicas,poderão associar-se os servidores públicos em geral, pertencentes aos três poderes(Executivo, Legislativo e Judiciário) e nas três esferas (federal, estadual e municipal),desde que lotados na área de ação da cooperativa. No caso de escolha de um oumais órgão/entidade, estes deverão ser especificados no estatuto social.

Tipo II – Cooperativas de Crédito Mútuo de Profissionais: é formada portrabalhadores de:

1) determinada profissão regulamentada (médico, advogado, engenheiro etc.);

2) determinada atividade, definida quanto à especialização (pedreiro,padeiro, caminhoneiro, feirante de produtos hortifrutigranjeiros etc.);

3) conjunto definido de profissões ou atividades cujos objetos sejamidênticos ou estreitamente correlacionado por afinidade ou complementaridade(médicos e odontólogos, engenheiros e arquitetos, profissionais da área de saúde,trabalhadores em artes gráficas etc.).

Nestas cooperativas o estatuto social deverá caracterizar o campo genéricode trabalho a que pertencem as atividades ou profissões exercidas, seguido daexpressão “conforme Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), divulgadapelo Ministério do Trabalho” (endereço na internet: http://www.mtb.gov.br).Preferindo a escolha de uma ou mais ocupações, desde que contidas na tabelado respectivo grupo de base de classificação, estas deverão ser especificadas noestatuto social (Bacen, 2000c). Pode ser constituída mais de uma cooperativade crédito em áreas de ação coincidentes ou não, independentemente do seutipo e desde que adotada denominação social diferenciada.

As cooperativas singulares de crédito mútuo também podem admitir aassociação de:

1) empregados da própria cooperativa de crédito, das entidades a elaassociadas e daquelas de cujo capital participem, e pessoas físicas prestadorasde serviços, em caráter não- eventual, a cooperativa de crédito e as referidasentidades, equiparadas aos primeiros no tocante aos seus direitos e deverescomo associados;

2) aposentados que, quando em atividade, atendiam aos critériosestatutários de associação;

3) pais, cônjuge ou companheiro, viúvo e dependente legal de associadoe pensionista de associado falecido.

Como se pode verificar, a legislação permite a associação de familiares deprimeiro grau e de aposentados nas cooperativas de crédito mútuo. Isso significaque é possível uma cooperativa de crédito mútuo atuar no financiamento de projetos

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produtivos que gerem renda e trabalho para os familiares dos associados empregadosou para os profissionais aposentados, desde que estejam filiados à cooperativa.Caso se concretize, esta prática será um grande avanço, pois estas cooperativasnormalmente atuam apenas com trabalhadores empregados, financiandobasicamente o consumo e a compra de bens duráveis por parte dos associados.

As cooperativas de crédito somente podem admitir associados nas condiçõesprevistas no seu estatuto social. Essa previsão poderá ser moldada segundo osinteresses da cooperativa, desde que respeitado o universo de possibilidades deassociação estabelecido nas normas legais ou regulamentares em vigor.

B) Cooperativas de crédito rural – Tipo III

A estas cooperativas permite-se associar pessoas (físicas e jurídicas) quedesenvolvam, na área de atuação da cooperativa, de forma efetiva epredominante, atividades agrícolas, pecuárias ou extrativas, ou se dediquem aoperações de captura e transformação do pescado.

Como as cooperativas de crédito mútuo, as cooperativas de crédito ruralsingulares também podem admitir a associação de:

a) empregados da própria cooperativa de crédito, das entidades a elaassociadas e daquelas de cujo capital participem, e pessoas físicas prestadorasde serviços, em caráter não-eventual, a cooperativa de crédito e as referidasentidades, equiparados aos primeiros no tocante aos seus direitos e deverescomo associados;

b) aposentados que, quando em atividade, atendiam aos critériosestatutários de associação;

c) pais, cônjuge ou companheiro, viúvo e dependente legal de associadoe pensionista de associado falecido.

As cooperativas de crédito podem criar mecanismos para limitar o seuquadro social, por meio de critérios estabelecidos em seus estatutos. O sistemaCresol, por exemplo, limita a associação aos agricultores familiares, permitindoapenas a filiação de pessoas que explorem, sob qualquer condição, área inferiora quatro módulos rurais, a força de trabalho utilizada no estabelecimento deveser majoritariamente familiar, variando de 51% a 100%. Algumas cooperativastambém estabelecem limites quanto à renda, incorporando os critérios do Pronaf,restringindo a associação a agricultores familiares que têm uma Renda BrutaAnual inferior a R$ 27.500,00.

C) Cooperativas de crédito Luzzatti

As cooperativas de crédito do tipo Luzzatti são abertas a toda a populaçãode um ou mais municípios limítrofes. Estas cooperativas cresceram muito até os

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anos 60, mas devido à pressão dos bancos, que receavam que estas cooperativasampliassem sua atuação junto ao público potencial dos bancos, além da utilizaçãode algumas destas cooperativas como instrumento de legalização da agiotagempor parte de oportunistas, este tipo de cooperativa vem sofrendo pesadas restriçõespor parte do Banco Central. Com a proibição do Bacen para a criação de novascooperativas Luzzatti desde a década de 60, e as fortes restrições ao seufuncionamento, o número deste tipo de cooperativa em funcionamento vem caindo,sendo que atualmente existem apenas nove delas em operação.

5.1.3 Área de atuação

É o Bacen que aprova a área de atuação das cooperativas de créditoprevista em seus estatutos, que deve estar limitada às possibilidades de reunião,controle, realização de operações e prestação de serviços por parte dascooperativas de crédito.

5.1.4 Administradores

É vedado aos membros de órgãos estatutários e aos ocupantes de funções degerência de cooperativas de crédito participarem da administração ou deter 5% oumais do capital das demais instituições financeiras, exceto de cooperativas de crédito.

5.1.5 Capital social e patrimônio líquido

Para melhor compreender os conceitos de capital social e patrimônio líquido,é preciso conhecer o significado do termo quota-parte utilizado no cooperativismo.

Quotas-partes são os recursos que os associados integralizam (depositam)na cooperativa. É uma participação em dinheiro para formação do patrimôniocomum, mas que continua sendo do associado. Estes depósitos visam formarum capital mínimo para dar suporte financeiro e garantias para o funcionamentoda cooperativa. A quota-parte é um instrumento legal e rege-se pelo estatutosocial da cooperativa, que determina o seu valor, prazo para o associado repassaros valores à cooperativa e o volume mínimo de quotas-partes que cada associadodeve subscrever e integralizar junto à cooperativa.

O capital social é a soma das quotas-partes de todos os associados deuma cooperativa. Quanto maior for o volume de recursos disponível em capitalsocial na cooperativa, que tende a aumentar ao longo dos anos, maior será ovolume de recursos que poderão ser utilizados em empréstimos. A legislaçãocooperativista limita a 1/3 a participação de um único sócio no capital socialtotal da cooperativa de crédito.

O patrimônio líquido (PL) é o capital social dos cooperados integralizadona cooperativa, somado às reservas que a mesma possui (a cooperativa pode

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ter vários fundos, mas no mínimo 10% das sobras obrigatoriamente devem serdestinados à reserva legal da cooperativa).

Patrimônio líquido ajustado (PLA) é o patrimônio líquido somado àsreceitas da cooperativa e subtraído as despesas em um determinado período.

Para constituição e funcionamento, as cooperativas de crédito devemobservar os seguintes limites mínimos, em relação ao capital social e ao PLAna forma da regulamentação em vigor:

I - Cooperativas centrais:

a) capital social de R$ 60.000,00, na data de autorização parafuncionamento;

b) PLA de R$ 150.000,00, após três anos da referida data;

c) PLA de R$ 300.000,00, após cinco anos da referida data.

II - Cooperativas singulares filiadas a centrais:

a) capital social de R$ 3.000,00, na data de autorização parafuncionamento;

b) PLA de R$ 30.000,00, após três anos da referida data;

c) PLA de R$ 60.000,00, após cinco anos da referida data.

III - Cooperativas singulares não-filadas a centrais:

a) capital social de R$ 4.300,00, na data de autorização parafuncionamento;

b) PLA de R$ 43.000,00, após dois anos da referida data;

c) PLA de R$ 86.000,00, após quatro anos da referida data.

As cooperativas de crédito autorizadas a funcionar anteriormente a30 de agosto de 2000, devem adequar-se aos limites estabelecidos neste artigo,contando-se os respectivos prazos:

a) a partir de 27/05/1999, para as cooperativas autorizadas a funcionaraté essa data;

b) a partir da data de autorização, para as demais cooperativas de crédito.

Para efeito de verificação do atendimento dos limites mínimos de capitale patrimônio líquido, deverão ser deduzidos do PLA das cooperativas de créditoos valores correspondentes ao patrimônio líquido mínimo fixado para asinstituições financeiras de que participem, ajustados proporcionalmente ao nívelde cada participação.

As cooperativas de crédito devem manter valor de patrimônio líquido compatívelcom o grau de risco da estrutura de seus ativos, passivos e contas de compensação

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(PLE), de acordo com o disposto no Anexo IV da Resolução nº 2.099, alterado pelaResolução nº 2.692, a partir das datas-base adiante especificadas:

a) cooperativas centrais de crédito: 30 de junho de 2001, inclusive;

b) cooperativas de crédito singulares: 30 de junho de 2002, inclusive.

Até estas datas-base, as cooperativas de crédito singulares devem observaro limite de endividamento estabelecido na Resolução nº 2.771, ficando vedadasàs cooperativas centrais à contratação ou renovação de operações que infrinjamos níveis mínimos de PLA a serem observados, ou que agravem eventuaisexcessos verificados com relação aos referidos níveis.

As cooperativas de crédito são proibidas de efetuar aumento de capitalmediante a retenção de parte do valor dos empréstimos ou conceder empréstimocom a finalidade de permitir a subscrição de quotas-partes de seu capital. Excetuam-se as cooperativas de crédito rural que estabelecerem em seus estatutos critériosde proporcionalidade, que podem incluir no orçamento de custeio agrícola,pecuário, de industrialização ou beneficiamento, verba necessária à elevação docapital do associado até atingir o mínimo exigido para a concessão do empréstimo.

Também é proibido que cooperativas de crédito adotem o capital rotativo,assim caracterizado o registro, em contas de patrimônio líquido, de recursoscaptados para a realização de depósitos à vista e a prazo.

5.1.6 Cooperativas centrais de crédito

As cooperativas centrais de crédito devem prever, em seus estatutos enormas operacionais, dispositivos que possibilitem prevenir e corrigir situaçõesanormais que possam configurar infrações a normas legais ou regulamentaresou acarretar risco para a solidez das cooperativas filiadas e do sistema cooperativoassociado, inclusive a possibilidade de constituição de fundo com objetivo degarantir a liquidez do sistema. Para atingir esses objetivos, as cooperativas centraisde crédito devem desempenhar, entre outras, as seguintes funções:

I - supervisionar o funcionamento e realizar auditoria em suas filiadas,podendo, para tanto, examinar livros e registros de contabilidade e outros papéisou documentos ligados às atividades daquelas cooperativas, mantendo àdisposição do Bacen os relatórios elaborados por seus supervisores e auditores;

II - supervisionar e coordenar o cumprimento das disposiçõesregulamentares referentes à implementação do sistema de controles internosde suas filiadas;

III - formar e capacitar membros de órgãos estatutários, gerentes eassociados de cooperativas filiadas, bem como seus próprios supervisores eauditores, mantendo departamento responsável por essas atividades;

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IV - promover, em relação às cooperativas singulares filiadas, a partir doano de 2001, auditoria de demonstrações financeiras relativas ao exercício social,inclusive notas explicativas exigidas pelas normas legais e regulamentares em vigor.

Na realização de auditoria de demonstrações financeiras de cooperativassingulares, as centrais devem atuar por meio de equipe própria, contando comauditores que atendam, no que couber, à regulamentação específica do ConselhoFederal de Contabilidade, ou mediante contratação de auditores independentesregistrados na Comissão de Valores Mobiliários.

As cooperativas centrais devem comunicar imediatamente ao Bacen,qualquer anormalidade detectada no desempenho de suas atribuições, e adotarprovidências para que seja restabelecida a regularidade do funcionamento dascooperativas filiadas. As cooperativas centrais devem designar um diretorestatutário responsável pelas atividades atribuídas a elas pelo Bacen.

5.1.7 Operações – captação de recursos, financiamentos e endividamento

As cooperativas de crédito podem praticar as seguintes operações:

I - Captação de recursos de:

a) associados, oriundos de depósitos à vista e depósitos a prazo sememissão de certificado;

b) instituições financeiras, nacionais ou estrangeiras na forma de empréstimos,repasses, refinanciamentos e outras modalidades de operações de crédito;

c) qualquer entidade, na forma de doações, de empréstimos ou repasses,em caráter eventual, isentos de remuneração ou a taxas favorecidas.

II - Concessão de créditos, exclusivamente a seus associados, incluídosos membros de órgãos estatutários, nas modalidades de:

a) desconto de títulos;

b) operações de empréstimo e de financiamento;

c) crédito rural;

d) repasses de recursos oriundos de órgãos oficiais e instituições financeiras.

III - Aplicações de recursos no mercado financeiro, inclusive depósitos aprazo, com ou sem emissão de certificado, observando eventuais restrições legaise regulamentares específicas de cada aplicação.

IV - Prestação de serviços:

a) de cobrança, de custódia, de correspondente no país, de recebimentose pagamentos por conta de terceiros e sob convênio com instituições públicas eprivadas, nos termos da regulamentação aplicável às demais instituições financeiras;

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b) a outras instituições financeiras, mediante convênio, para recebimentoe pagamento de recursos coletados com vistas à aplicação em depósitos, fundose outras operações disponibilizadas pela instituição convenente.

V - Formalização de convênios com outras instituições financeirascom vistas a:

a) obter acesso indireto à conta Reservas Bancárias, na forma daregulamentação em vigor;

b) participar do Serviço de Compensação de Cheques e Outros Papéis(SCCOP);

c) realizar outros serviços complementares às atividades fins dacooperativa.

VI - Outros tipos previstos na regulamentação em vigor ou autorizadospelo Bacen.

A cooperativa de crédito deve cientificar o associado, mediante documentoformal, que os depósitos não contam com garantia do Fundo Garantidor deCrédito - FGC.

Os recursos captados ou repassados de outras instituições financeirasdestinados ao crédito rural deverão ser integralmente aplicados em operaçõesvinculadas àquela finalidade, e os sem destinação específica, deverão serintegralmente aplicados em operações vinculadas a atividade principalprevista em estatuto.

As cooperativas devem observar os seguintes limites operacionais:

I - De diversificação de risco por cliente:

a) 25% do PLA, por parte de todas as cooperativas de crédito, emaplicações em títulos e valores mobiliários emitidos por uma mesma empresa,empresas coligadas e controladoras e suas controladas;

b) 20 do PLA, por parte de cooperativas centrais de crédito, em operaçõesde crédito e de concessão de garantias com uma única cooperativa filiada;

c) 10% do PLA, por parte de cooperativas singulares filiadas a centraisde crédito, e 5 % do PLA, por parte de cooperativas de crédito singulares não-filiadas a centrais de crédito, em operações de crédito e de concessão de garantiascom um único associado.

II - De endividamento, a ser utilizado na realização de quaisquer operaçõespassivas facultadas às cooperativas de:

a) dez vezes o PLA, no caso de cooperativas singulares filiadas a centrais;

b) cinco vezes o PLA, no caso de cooperativas singulares não-filiadas a centrais.

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As cooperativas de crédito singulares podem deduzir, das obrigaçõescomputadas para efeito da observância do limite de endividamento, os recursosaplicados em títulos públicos federais. Não estão sujeitos aos limites dediversificação de risco os depósitos e aplicações efetuadas nas cooperativascentrais de crédito pelas cooperativas filiadas, bem como os realizados no bancocooperativo pelas cooperativas acionistas.

As cooperativas de crédito rural singulares filiadas a centrais têm umtratamento específico quando realizam operações ao amparo do ProgramaNacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Entre essascooperativas, aquelas que apresentarem valor do PLA de até no máximo R$650.000,00 (seiscentos e cinqüenta mil reais), têm um limite de endividamentoadicional de dez vezes o respectivo PLA, a ser utilizado exclusivamente emoperações realizadas ao amparo do Pronaf.

As cooperativas de crédito rural singulares filiadas a centrais, na realizaçãode operações de crédito ao amparo do Pronaf em favor de associados pessoasfísicas, podem adotar limite de diversificação de risco de até 20% do PLAdurante o primeiro ano de funcionamento, e de até 10% após o referido prazo.

Para efeito de verificação dos limites de endividamento, será deduzidodo PLA o montante das participações no capital social de cooperativas centraisde crédito e de instituições financeiras controladas por centrais de crédito.

As cooperativas de crédito em funcionamento têm até 30 de junho de2001 para proceder à adequação de suas posições visando cumprir os limitesestabelecidos para o endividamento, sendo vedadas, durante esse prazo, acontratação ou renovação de operações que os infrinjam diretamente ou queagravem eventuais excessos verificados com relação aos referidos limites.

5.1.8 Outras disposições gerais

As cooperativas de crédito somente podem participar do capital de:

I - cooperativas centrais de crédito, no caso de cooperativas singulares;

II - instituições financeiras controladas por cooperativas centrais de crédito;

III - cooperativas, ou empresas controladas por cooperativas centrais decrédito, que atuem na prestação de serviços e fornecimento de bensexclusivamente ao setor cooperativo;

IV - entidades de representação institucional, de cooperação técnica oueducacional.

O Bacen poderá cancelar a autorização para o funcionamento decooperativa de crédito cujas atividades se achem paralisadas ou que esteja emregime de liquidação, o que ocorre por deliberação da assembléia dos cooperados

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no sentido da paralisação ou liquidação; pela apuração pelo Bacen, a qualquermomento, da paralisação, por mais de cento e vinte dias, das atividades dacooperativa, ou do envio dos demonstrativos financeiros, exigidos pelaregulamentação em vigor, daquela autarquia; ou pelo aviso espontâneo, dirigidopela cooperativa ao Bacen.

As infrações aos dispositivos da legislação em vigor e deste Regulamento,bem como a prática de atos contrários aos princípios cooperativistas, sujeitamos diretores e os membros de conselhos administrativos, consultivos, fiscais esemelhantes de cooperativas de crédito às penalidades da Lei nº 4.595, semprejuízo de outras estabelecidas na legislação.

As cooperativas de crédito singulares não-filiadas a centrais, a partir doano de 2001, devem ter suas demonstrações financeiras relativas a encerramentode exercício social, inclusive notas explicativas, exigidas pelas normas legais eregulamentares, submetidas à auditoria independente. Para a realização dessesserviços de auditorias, devem ser contratados auditores independentes, registradosna Comissão de Valores Mobiliários, ou cooperativas centrais de crédito.

Constatado o descumprimento dos limites de patrimônio líquidoestabelecido, o Bacen poderá exigir a apresentação de plano de regularizaçãocontendo medidas previstas para enquadramento e respectivo cronogramade execução. A implementação do plano de regularização deverá ser objetode acompanhamento por parte de auditor independente, que remeterárelatórios mensais ao Bacen.

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Cooperativas de Crédito Solidário

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Parte III

6 O FUNCIONAMENTO DE UM SISTEMA DE COOPERATIVAS DE CRÉDITO

6.1 Cooperativa de crédito singular (rural ou mútuo)

São constituídas pelo número mínimo de 20 pessoas físicas. Ascooperativas de crédito devem ter autonomia e vida própria, mas devem(preferencialmente) se integrar às outras cooperativas por meio de uma centralde crédito, que também deve ser uma prestadora de serviços para ascooperativas a ela filiada.

Cada cooperativa deve possuir uma agência para o atendimento aosseus associados no município sede da cooperativa, além de postos de serviçosdistribuídos estrategicamente nos demais municípios (ou empresas) onde tematuação. É fundamental que cada cooperativa singular e seus postos deatendimento estejam vinculadas entre si e com a cooperativa central, por meiode programa automatizado, via modem.

As cooperativas singulares devem ter, no mínimo, um dirigente liberadoem tempo integral, com pagamento de dias de serviços (por meio de cédulas depresença) para os demais diretores (quando necessário e requisitado seusserviços), inclusive para os membros do conselho fiscal.

As principais funções de uma cooperativa de crédito singular são:

a) organizar o quadro social, incentivando a cooperação entre os seus membros;

b) aplicar e analisar o cadastro entre os seus associados, atualizando-ofreqüentemente;

c) operacionalizar e controlar a liberação dos financiamentos;

d) fazer a contabilidade básica da cooperativa (que pode ser centralizadana cooperativa central ou base regional) e o controle administrativo e gerencial(arquivos, compensação; controle de contas, segurança e aplicações financeiras);

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e) formar seu quadro diretivo, funcional e associativo;

f) atender ao público e acompanhar seus associados;

g) negociar institucionalmente e articular com as organizações públicas,privadas, representativas e associativas do município;

h) comunicar-se com seu quadro social;

i) desenvolver linhas de crédito específico, adaptado à realidade doquadro social.

Para diminuir custos, facilitar o acompanhamento e o controle financeirodas cooperativas singulares, a contabilidade pode ser centralizada na cooperativacentral ou em unidades regionais de serviços (bases regionais) dependendo donúmero de cooperativas filiadas e o tamanho (movimento financeiro) dasmesmas. Caso a opção adotada seja a centralização da contabilidade, bastacriar condições para enviar diariamente para a central, via modem, todas asinformações sobre as finanças das cooperativas (saldo das contas, aplicaçõesfinanceiras, depósitos em conta corrente, retirada e pagamento de empréstimos).Com isto, a central de crédito também poderá acompanhar mais diretamente asituação administrativa e financeira das cooperativas, como a relação entrecapital social e empréstimos, custos e receitas, número e valor médio dosempréstimos, captação e aplicação etc.

6.2 Unidades administrativas desmembradas e postos de atendimentoAs cooperativas de crédito, com o objetivo de melhor atender seus

associados e desenvolver suas atividades, podem manter unidades administrativasdesmembradas (UAD) e instalar postos de atendimento cooperativo (PAC) epostos de atendimento transitório (PAT).

Unidade administrativa desmembrada (UAD)

É destinada a executar atividades contábeis e administrativas de naturezainterna, devendo ser instalada no município onde se situa a sede ou ondehaja PAC instalado, sendo vedado a atendimento ao público e a divulgaçãode seu endereço em impresso ou em qualquer tipo de propaganda. A instalaçãode UAD deve ser objeto de comunicação ao Bacen com antecedência mínimade 5 dias úteis.

Posto de atendimento cooperativo (PAC)

É a dependência da cooperativa destinada a prestar serviços em suaárea de ação. O atendimento deve ser executado exclusivamente por funcionáriosda cooperativa, podendo ter horário de atendimento ao público diferente dohorário de funcionamento da sede. Não pode ter contabilidade própria, devendoseu movimento diário ser incorporado ao da sede na mesma data em que

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ocorrer. A instalação de PAC está condicionada à prévia comunicação ao Bacene ao prévio atendimento, pela cooperativa, dos seguintes limites operacionais:níveis mínimos de capital realizado e patrimônio líquido ajustado; índice deimobilizações e limites de endividamento e de diversificação de risco.

A instalação deve ser objeto de comunicação ao Bacen comantecedência mínima de 5 dias úteis. A mudança de endereço e oencerramento devem ser objeto de comunicação no prazo máximo de 5dias, contados da data de sua ocorrência.

Posto de atendimento transitório (PAT)

Estes postos de atendimento somente podem ser instalados em recintos defeiras, de exposições, de congressos e de outros eventos de natureza semelhante ouem locais de grande afluxo temporário de público, na área de ação da cooperativa.Destina-se a prestar os serviços permitidos à instituição, vedado seu funcionamentopor mais de 90 dias, podendo ter horários diferentes para atendimento ao públicoe funcionamento da sede. Subordina-se à sede, cuja contabilidade de seu movimentodiário deve ser incorporado na mesma data em que ocorrer.

A instalação de PAT também está condicionada à prévia comunicaçãoao Bacen e ao prévio atendimento, pela cooperativa, dos seguintes limitesoperacionais: níveis mínimos de capital realizado e patrimônio líquido ajustado;índice de imobilizações e limites de endividamento e de diversificação de risco.O início de atividades deve ser objeto de comunicação ao Bacen comantecedência mínima de 5 dias úteis.

6.3 Cooperativa central de crédito

São constituídas por pelo menos 3 cooperativas singulares de crédito. Acooperativa central deve ter uma diretoria eleita pelos delegados representantesdas cooperativas associadas, com diretores liberados e funcionários treinadosnas áreas de contabilidade, finanças e projetos, normas técnicas eacompanhamento econômico, análise, avaliação e elaboração de projetos decrédito de investimentos, informática, auditorias e secretaria. Além destesprofissionais, pode contratar serviços de assessoria especializada.

As cooperativas centrais de crédito devem ter um caráter diretivo,normativo, fiscalizador e de desenvolvimento de seus sistemas cooperativos.Parte de suas funções são definidas pela Resolução nº 2.771 do Bacen, masalém destas, as centrais de crédito devem atuar como prestadoras de serviços asuas filiadas, destacando-se:

a) edição de normativos padronizados para as operações e serviçosprestados pelo sistema, em função das exigências legais e normativas aplicadasàs cooperativas pelo Bacen;

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b) contabilidade: padronização, normatização, execução (dependendode cada sistema) análise e coordenação;

c) relação com o Bacen para a criação e desmembramento decooperativas, atas de assembléias, balanço contábil e crédito rural;

d) negociação e representação junto às instituições estaduais e federais,e com as organizações da sociedade civil;

e) informática: desenvolvimento de software para padronizados deoperações, serviços, produtos, contabilidade e controle;

f) padronização dos procedimentos operacionais e administrativos;

g) comunicação e marketing para dentro e fora do sistema;

h) crédito rural: acompanhamento do Manual de Crédito Rural (MCR),títulos de crédito, plano de safra, normas internas, estratégias de investimentos etc.;

i) controle e fiscalização dos atos de gestão de todas as filiadas, pormeio de inspeções diretas e indiretas e auditorias, face à responsabilidade dopróprio sistema em se autocontrolar;

j) recursos humanos: formação e treinamento de monitores, dirigentes,técnicos e funcionários, além da definição de uma política de cargos e salários;

k) administrar o fundo de liquidez que deve ser criado pelascooperativas filiadas.

As centrais de crédito tradicionais centralizam uma parcela significativados recursos captados pelas cooperativas referentes aos depósitos à vista e aprazo, aplicando-os em uma agência do banco com a qual mantêm convênio,ou em um dos bancos cooperativos existentes, caso sejam filiadas.

Para evitar a concentração de poder por parte da cooperativa central,facilitar o relacionamento entre a cooperativa e a agência local do bancoconveniado e ampliar as fontes de financiamento no município, defende-se queos recursos não sejam centralizados pela central. Entretanto, defende-se que acentral de crédito unifique a negociação das taxas de juros a serem pagas àscooperativas pelos bancos, considerando o volume total de recursos aplicadospelas cooperativas que integram o sistema de crédito.

Como um dos principais objetivos das centrais de crédito é a prestaçãode serviços e o acompanhamento a suas filiadas, o número de cooperativassingulares a elas associadas deve depender da possibilidade de um atendimentoque qualitativo às demandas apresentadas, e de um número mínimo decooperativas que consigam garantir a viabilidade econômica da central.

As cooperativas centrais também podem criar bases regionais oumicrorregionais de serviços, visando à melhorar o atendimento às suas filiadas

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e garantindo um acompanhamento mais próximo da realidade das cooperativas.Estas bases regionais de serviços, criadas em função de um determinado númerode cooperativas que possa garantir a sua viabilidade econômica, podem assumirvárias funções das centrais, como a contabilidade das cooperativas a elasvinculadas, o acompanhamento e a manutenção dos equipamentos deinformática, a negociação e articulação com organizações e agentes regionaisde desenvolvimento etc. (Cresol-Baser, 2000).

Uma cooperativa central de crédito pode atuar com diferentes tipos decooperativas de crédito, sejam elas de crédito rural ou de crédito mútuo.Entretanto, para que o atendimento possa ser mais dirigido e corresponda àsdemandas das cooperativas filiadas, é importante considerar a possibilidade decriar centrais de crédito por tipo de cooperativa, o que não impede, em umprimeiro momento, a criação de centrais de crédito que possam atuar comtodos os tipos de cooperativas. Desta forma, será possível, dependendo decada região ou categoria profissional, a existência de diversas cooperativas centraisde crédito solidário, divididas por Unidade da Federação e/ou categoria profissionale/ou tipo de cooperativa (rural ou mútuo).

6.4 Sistema Nacional de Cooperativas de Economia e CréditoSolidário (Federação)

Um conjunto de cooperativas centrais de crédito (ou de sistemas decooperativas de crédito estaduais ou regionais) pode e deve se articular, formandoassim um Sistema Nacional de Cooperativas de Crédito Solidário. Esta articulaçãopode ser por meio da constituição de uma federação ou mesmo umaconfederação de cooperativas centrais e singulares de crédito

Uma Federação Nacional ou um Sistema Nacional de Cooperativas deCrédito Solidário pode ampliar o poder de negociação das cooperativas, alémde criar mecanismos e instrumentos para diminuir os custos das cooperativas ecentrais de crédito por meio do desenvolvimento de produtos e serviços nacionaisque possam ser utilizados pelo conjunto das cooperativas filiadas.

6.5 Bancos cooperativos

Os bancos cooperativos são bancos comerciais, constituídos sob a formade sociedades anônimas que se diferenciam dos demais bancos por terem comoacionistas, exclusivamente, as cooperativas de crédito. Para a constituição debanco cooperativo devem ser seguidos os procedimentos pertinentes para aconstituição de banco comercial.

Devem fazer constar, obrigatoriamente, de sua denominação a expressão“Banco Cooperativo” e têm sua atuação restrita às Unidades da Federação em que

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estejam situadas as sedes das pessoas jurídicas (cooperativas) controladoras. Podemfirmar convênio de prestação de serviços com cooperativas de crédito localizadasem sua área de atuação. É vedada a sua participação no capital social de instituiçõesfinanceiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Bacen (Bacen, 2000C).

A criação de um banco cooperativo não é inerente à constituição de umsistema nacional de crédito cooperativo. As relações que as cooperativas decrédito precisam ter com o sistema bancário, em especial para a participaçãono sistema nacional de compensação de cheques e para realização de seusdepósitos financeiros, podem ser concretizadas por meio de convênios e parceriascom bancos públicos ou privados existentes no país.

7 A ESTRUTURA ADMINISTRATIVA DE UMA COOPERATIVA DE CRÉDITO

As instâncias decisórias de uma cooperativa de crédito, definidas em leie que devem estar presentes no seu Estatuto Social, são:

· Assembléia Geral

· Conselho de Administração

· Conselho Fiscal

7.1 Assembléia Geral

Na assembléia geral são tomadas todas as decisões de interesse dacooperativa e dos associados, inclusive a eleição dos integrantes dos conselhosde administração e fiscal e a destinação das sobras do exercício contábil anterior.Porém, se formalmente, a assembléia geral é o órgão mais importante para aparticipação dos associados na gestão da cooperativa, na prática, o quenormalmente ocorre é que as decisões na assembléia ficam limitadas à eleiçãodos conselheiros e à aprovação das ações da diretoria anterior.

Para se contrapor a tais características, é preciso que as direções dascooperativas de crédito tenham em conta que a intensidade e a qualidade daparticipação dos associados são resultado, entre outras iniciativas, da forma comosão divulgadas, organizadas e conduzidas as assembléias. Deve-se evitar, por exemplo,que a participação dos associados fique restrita apenas à votação, dando-lhes condiçõesde resolver dúvidas e discutir os temas a serem votados, mesmo considerando-se quea assembléia geral tenha uma pauta parcialmente definida pelo Bacen.

Existem dois tipos de assembléias gerais, a ordinária e a extraordinária. Aassembléia geral ordinária (AGO) deve ser realizada anualmente, nos três primeirosmeses seguintes ao término do exercício social, devendo deliberar sobre:

· prestação de contas acompanhada de parecer do conselho fiscal,contendo relatório de gestão, balanço e demonstrativos de sobras ou perdas;

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· destinação das sobras ou rateio das perdas;

· eleição dos membros de órgãos estatutários;

· quando previsto, a fixação dos honorários, gratificações e cédulas depresença dos membros do conselho de administração ou da diretoria e doconselho fiscal; e

· outros assuntos de interesse social, tais como relatório de auditoria,programas de utilização do Fates etc. (que não sejam da competência dasassembléias extraordinárias).

A assembléia geral extraordinária (AGE) deve ser realizada sempre quenecessária e poderá deliberar sobre qualquer assunto de interesse social, desdeque mencionado no edital de convocação, sendo de sua competência exclusiva:

· reforma estatutária;

· fusão, incorporação ou desmembramento;

· mudança do objeto da sociedade;

· dissolução voluntária da sociedade e nomeação do liquidante;

· prestação de contas do liquidante.

Desde que observadas as formalidades legais necessárias à realização deAGE, inclusive as regras especiais de quorum legal, admite-se a realizaçãoconcomitante de AGO e AGE.

A divulgação da realização da assembléia geral deve ser ampla, devendo serrealizada nas cooperativas, nos locais mais freqüentados pelos associados, nosjornais e programas de rádio locais. Para o caso das cooperativas de crédito rural,a divulgação também pode ocorrer nos encontros e reuniões organizados na áreade abrangência da cooperativa pelas entidades de representação dos agricultores.

Uma forma de ampliar o debate e a democracia, facilitando uma maiorparticipação dos associados nos rumos da cooperativa é a realização de pré-assembléias - reuniões realizadas anteriormente a cada assembléia geral,organizadas em cada município ou comunidade abrangida pela cooperativa,dependendo da amplitude de sua área de atuação. Nelas, a direção dacooperativa de crédito, além de divulgar a data de realização da assembléiageral, fornece subsídios para que os associados possam analisar antecipadamenteos assuntos que serão discutidos nessa assembléia ou mesmo apresentar sugestõese propostas a serem encaminhadas à assembléia geral. As pré-assembléiastambém podem incluir a discussão de temas relacionados aos rumos dacooperativa de uma forma geral ou mesmo particularidades (problemas esoluções) da cooperativa de crédito em sua região.

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Nas cooperativas singulares com filiados residindo a mais de 50quilômetros da sede ou com mais de 3.000 associados, o estatuto social podeestabelecer que os associados sejam representados, nas assembléias gerais, pordelegados escolhidos dentre os associados que estejam em pleno gozo de seusdireitos sociais, disciplinando adequadamente essa forma de reunião de maneiraa garantir a sua efetividade. A partir do momento em que a cooperativa optarpor este tipo de representação, não é mais admitida decisão da assembléia coma participação dos sócios individualmente. Dessa forma, deverá constar dosestatutos que em não se conseguindo realizar assembléia geral de delegados,por falta de quorum, será reiterada a convocação para nova data e que,persistindo a impossibilidade de reunião nessa segunda tentativa consecutiva,será automaticamente convocada assembléia geral de associados para reformaro estatuto social, extinguindo o instituto da representação por delegados e,conseqüentemente, reduzindo a amplitude da área de ação de modo a possibilitara reunião dos associados (Bacen, 2000c).

Este tipo de representação nas assembléias (delegados) deve ser adotadosomente em último caso, pois limita a participação dos associados nas decisõesda cooperativa. Além disso, defende-se que as cooperativas de crédito tenhamuma área de abrangência pequena, de preferência municipal.

7.2 Conselho de Administração

O conselho de administração é responsável pelo planejamento, elaboraçãode normas internas e gerenciamento da cooperativa. É composto no mínimopor cinco e no máximo por 10 componentes. Os diretores, eleitos na assembléiageral, assumem os cargos definidos pelos estatutos, como: presidente, tesoureiro,secretário e mais dois a sete conselheiros, dependendo da cooperativa. Suasfunções são determinadas pelo Estatuto Social e pelo Regimento Interno,assumindo responsabilidade:

a) legal pela cooperativa perante o Banco Central;

b) política de representação perante a sociedade;

c) executiva, em que deve controlar e acompanhar diretamente a gestãoe a organização da cooperativa.

O presidente, o secretário e o tesoureiro formam a diretoria executiva,que assume também responsabilidades específicas. Os demais conselheirosassumem, juntamente com a diretoria executiva, a responsabilidade pelos atosadministrativos e cumprem o papel de democratizar o processo de tomada dedecisões na cooperativa, potencializar o controle e a gestão, fazendo circular asinformações para o quadro social sobre o andamento da cooperativa.

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O conselho de administração, ou diretoria, deve ser composto exclusivamentepor associados, com mandato nunca superior a quatro anos, sendo obrigatória arenovação de, no mínimo, 1/3 do quadro da administração. Apesar da legislaçãocooperativista não especificar questões relacionadas à reeleição dos membros dadiretoria executiva, para que o processo seja realmente democrático, é importanteque a reeleição esteja restrita a um determinado número de mandatos, o que deveconstar no Estatuto Social. Só assim é possível evitar a perpetuação de algunsdirigentes em seus cargos e a imagem de que alguns deles, ao acumularem largaexperiência na administração cooperativista, sejam insubstituíveis.

Deve-se observar que a concessão de crédito a membros de órgãosestatutários (diretoria) deverá observar critérios idênticos aos utilizados para osdemais associados.

7.3 Conselho Fiscal

É o órgão responsável pela fiscalização dos atos administrativos dacooperativa. É composto por seis membros, sendo três efetivos e três suplentes.Tem um papel fundamental no sentido de garantir e eficiência, solidariedade etransparência das cooperativas. São eleitos para um mandato de um ano, sendopermitida a reeleição, como efetivo ou suplente, de apenas um terço dos membrosefetivos e um terço dos membros suplentes.

Além destas estruturas decisórias, e importante que as cooperativassingulares e centrais criem conselhos consultivos, envolvendo as entidades parceirase de apoio, como sindicatos, associações e ONGs. A participação destas entidadesna discussão sobre a atuação e os rumos das cooperativas contribui para ampliaro debate, visando elaborar um conjunto de alternativas para os seus associados,pois muitos de seus problemas não se restringem ao crédito.

Para deliberar sobre a liberação de financiamentos, principalmente osfinanciamentos de maior valor e/ou para os créditos de investimento, é fundamentalque as cooperativas criem uma comissão ou comitê de crédito. Esta comissãodeverá ser composta por delegados eleitos ou designados pelo conselho deadministração, com a finalidade de acompanhar e auxiliar no controle e na boaaplicação dos créditos para os associados. As comissões de crédito, balizadapelas orientações da assembléia da cooperativa, definem as prioridades de linhasde financiamentos e auxiliam na definição dos associados contemplados porordem de prioridade, respeitando as normas internas de cada cooperativa.

7.4 Condições básicas para o exercício de cargos eletivos

A cooperativa pode criar exigências próprias para o exercício de cargoseletivos por meio do Regimento Interno ou Estatuto Social. Entretanto, para

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exercer um cargo nos órgãos estatutários de uma cooperativa o associado precisa,no mínimo, adequar-se às seguintes normas legais:

a) não estar impedido por lei especial, nem ter sido condenado por crimefalimentar, de sonegação fiscal, de prevaricação, de corrupção ativa ou passiva,de concussão, de peculato, contra a economia popular, fé pública, a propriedade,ou contra o Sistema Financeiro Nacional, ou condenado à pena criminal quevede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos;

b) não estar incluído no cadastro de emitentes de cheques sem fundo;

c) não ser declarado inabilitado para cargos de administração eminstituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Bacenou por outro órgão do Poder Público, aí incluído as sociedades seguradoras,entidades de previdência privada ou companhias abertas;

d) não haver sofrido protesto de títulos e nem ter sido condenado emação judicial de cobrança;

e) não participar da administração de qualquer outra instituição financeiranão-cooperativa;

f) não deter mais de 5% do capital de qualquer outra instituiçãofinanceira; e

g) não possuir parentes, até o 2º (segundo) grau, em linha reta ou colateral,ou cônjuge dentre os demais integrantes dos órgãos estatutários da cooperativa.

Um associado não pode ser ao mesmo tempo empregado da cooperativae integrante de órgão estatutário, assim como não podem compor o conselhofiscal os empregados de membros integrantes do conselho de administração.

Estas condições legais não devem ser os únicos elementos a compor operfil de um dirigente cooperativo. A representatividade política e social dosdirigentes junto aos associados são cruciais para o exercício do cargo, não sóporque conferem legitimidade, mas também porque, ao possuir maior vivênciacom os associados, os dirigentes tendem a apresentar maior compreensão darealidade socioeconômica e de suas demandas. Para garantir estarepresentatividade, a discussão e a escolha dos nomes dos dirigentes deve serfeita em espaços que garantam a participação dos associados, como a assembléiageral, pré-assembléias e reuniões com o conjunto das entidades de representaçãodos associados (sindicatos, associações, grupos coletivos etc.).

8 OS SERVIÇOS E OPERAÇÕES DE UMA COOPERATIVA DE CRÉDITO

O principal serviço de uma cooperativa de crédito é o de emprestar dinheiroa seus cooperados. Mas, para emprestar ela precisa primeiro captar dinheiro de

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seus cooperados ou de terceiros (organismos públicos, instituições financeiras,ONGs e entidades de cooperação internacional), por meio de convêniosespecíficos ou de doações. Entretanto, o atendimento às demandas não podeser superior à sua disponibilidade de recursos, precisando também respeitar alegislação e a curva de equilíbrio, a qual permite que a cooperativa de créditoempreste até 65% dos seus depósitos a prazo, 35% dos depósitos à vista, 100%dos repasses de recursos e 100% do seu patrimônio líquido (descontados osrecursos aplicados em materiais permanentes, tais como bens móveis, imóveis,equipamentos e investimentos).

8.1 Cooperativa de crédito rural

As cooperativas de crédito rural fornecem aos seus associados diversostipos de financiamentos, utilizando-se para isso recursos próprios ou de terceiros.Os principais financiamentos fornecidos por este tipo de cooperativa (em valore número de contratos) são os financiamentos agrícolas, cuja principal fonte definanciamento são os recursos oficiais de crédito.

8.1.1 Serviços prestados e operacionalização dos financiamentos

Como as cooperativas de crédito são instituições financeiras, elas podemfornecer uma série de serviços a seus associados, destacando-se:

· conta corrente, talão de cheques e limite em conta corrente(cheque especial);

· depósito a prazo cooperativo (espécie de poupança);

· recebimento de contas (água, luz, telefone, IPTU etc.);

· pagamento de funcionários de cooperativas, prefeituras etc.;

· crédito pessoal (CAC ou “papagaio”);

· crédito rural com recursos próprios (CRP);

· crédito rural com repasse de recursos oficiais (ou prestação de serviços);

· desconto de cheques;

· administração de fundos públicos e fundos rotativos privados.

As cooperativas praticam diferentes modalidades de empréstimos oufinanciamentos, com taxas de juros distintas. As taxas de juros dos financiamentoscom “recursos oficiais” são menores que as com “recursos próprios”, isto porqueo governo federal subsidia os empréstimos por meio da equalização de uma partedos juros. Os recursos de repasse não podem ser destinados para o crédito pessoal,sendo necessário cumprir as regras estabelecidas para cada programa e pelasinstituições intermediárias desses recursos.

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Por definição, todos os associados podem fazer financiamentos e utilizaremos demais serviços, porém é preciso estar em dia com suas obrigações perantea cooperativa e atender às exigências estabelecidas pelos agentes repassadoresdo crédito ou pelo conselho administrativo. Para a aprovação dos empréstimos,dependendo da cooperativa, da modalidade e do valor do crédito solicitado,existem três instâncias que podem deliberar sobre sua liberação: o diretor emexercício (ou gerente), o conselho administrativo ou as comissões de crédito.

Quanto maior for o volume de capital social integralizado, maior é o volumede recursos por empréstimo que o sócio pode captar junto à cooperativa. Porém,cada associado fica limitado pela legislação ao volume máximo de 5% do total doPLA da cooperativa. Caso a cooperativa seja filiada a uma central de créditoreconhecida pelo Bacen, este limite de diversificação de risco sobe para 10% do PLA.

8.1.2 Crédito com recursos próprios

Os recursos próprios de uma cooperativa são constituídos pelos depósitosà vista (conta corrente), depósitos a prazo (aplicações), pelos fundos de reservas,que podem ser constituídos das sobras (no mínimo 10%), ou outros fundos queo quadro social constituir junto à cooperativa, e pela integralização de capitalsocial dos associados. As três principais modalidades de crédito com estesrecursos, com base na realidade das cooperativas de crédito do Sistema Cresolem novembro de 2000 eram:

Contrato de abertura de crédito (CAC) - também conhecido como“papagaio”, é emprestado com um prazo máximo de quatro meses. A taxade juros era de 4,75% ao mês, sendo o valor médio dos empréstimos de R$776,00 por contrato.

Crédito rural com recursos próprios (CRP) - É um empréstimo de custeiocom prazos de até quatro meses. A taxa de juros era de 2,82% ao mês. É utilizadonormalmente para compra de insumos quando o desconto à vista é superior aesta taxa, sendo também utilizado como pré-custeio, permitindo que o agricultorconsiga descontos ao adquirir seus insumos antes da elevação dos preços, comumno período de plantio. O valor médio é de R$ 1.230,00 por contrato, sendo quenesta linha aplicam-se mais de 50% do total da carteira de recursos próprios.

Cheque especial - embora muito cara, é uma opção de crédito que deveser utilizada apenas para prazos curtos. A taxa de juros era de 6,5% ao mês,com um valor médio de R$ 365,00 por contrato, sendo que todo o quadrosocial possui um limite básico de valor igual a seu capital social integralizado.

Os financiamentos com recursos próprios são considerados como créditosemergenciais, destinados para cobrir eventuais imprevistos no orçamento familiar e

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no sistema produtivo. As taxas de juros referentes aos recursos próprios são definidascom base nos custos de captação (valor pago às aplicações dos associados, sendohoje uma média de 12% ao ano) e nos custos administrativos e operacionais,dependendo da linha de crédito e de sua forma de concessão. Essas taxas variamde acordo com o mercado, ou conforme mudanças governamentais nas taxas dejuros oficiais, mas sempre estão abaixo da média praticada pelos bancos.

8.1.3 Crédito rural com recursos oficiais de crédito

Os recursos oficiais de crédito são disponibilizados pelo governo federal,sendo captados pelas cooperativas de crédito por meio de convênios de repasseou de prestação de serviços com bancos públicos federais. As linhas de créditomais comuns com este tipo de recurso são o Pronaf e o Proger. Estas modalidadesde crédito são destinadas à:

a) custeio agrícola e pecuário;

b) investimento agrícola e pecuário;

c) investimentos em atividades não-agrícolas desenvolvidas pelosagricultores familiares em seus estabelecimentos agropecuários.

As taxas de juros destes financiamentos são definidas anualmente peloConselho Monetário Nacional (CMN), podendo existir taxas específicas para cadacategoria de produtor. Todos os agentes financeiros que operam com este tipo derecurso são obrigados a praticar as taxas definidas pelo CMN nos seusfinanciamentos. Entretanto, cada agente financeiro pode ter um tratamentodiferenciado do Tesouro Nacional em relação ao recebimento de taxas deadministração e spread por suas operações com recursos oficiais de crédito rural.

8.2 Cooperativa de crédito mútuo

Os serviços prestados pelas cooperativas de economia e crédito mútuo sãopraticamente os mesmos praticados pelas de crédito rural, excetuando as operaçõesinerentes a atividade rural, especialmente os de repasse de recursos oficiais decrédito. Basicamente, todos os tipos de financiamentos realizados aos associadossão com recursos próprios, ou seja, é formado pelo capital social e aplicação dosassociados na cooperativa (depósitos à vista e a prazo). Na Bancredi, por exemplo,as modalidades iniciais de eram, em setembro de 2000:

· Crédito Direto ao Cooperado (CDC) – empréstimo pessoal com jurosnominativos de 1% ao mês + TR + 2,5% de Taxa de Administração, cujo valorestá limitado a cinco vezes ao seu capital social e parcelado em quatro vezes.Na medida em que ocorrer o aumento do capital da cooperativa, esses limitesdeverão ser dilatados;

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· Financiamento de Bens ao Cooperado (FBC) - conforme o contrato deconvênio com as instituições e empresas conveniadas ou fornecedoras dos bens;

· Financiamentos Especiais aos Cooperados (FEC) – construção e reformade imóveis; seguros de veículos/ emergência medica e funeral.

Os depósitos a prazo (aplicações) dos associados são realizados por meiodo Recibo de Depósito Cooperado (RDC), onde a cooperativa capta recursosde seus cooperados, fornecendo uma remuneração equivalente ao CDB domercado financeiro.

No Brasil, como a maioria das cooperativas de crédito mútuo é formadapor funcionários de uma mesma empresa ou conglomerado econômico, ou porfuncionários públicos de determinados órgãos ou empresas estatais, os seusassociados geralmente estão empregados. Por isso, normalmente os serviçosprestados por estas cooperativas ficam limitados aos financiamentos de bensde consumo duráveis e empréstimos pessoais ou emergenciais. Assim, apesardessas cooperativas serem de grande importância para os seus associados,viabilizando e agilizando empréstimos a taxas de juros mais baixas que omercado, elas pouco contribuem para a geração de novos empregos e rendapara os demais trabalhadores.

Entretanto, esta realidade pode mudar, pois a legislação vigente abreespaço para que estas cooperativas possam atuar de forma mais efetiva noincentivo a economia solidária, potencializando investimentos que podem gerarnovos empregos e renda para os trabalhadores.

Como a legislação permite que as cooperativas de crédito mútuo aceitemno seu quadro social a participação de pais, cônjuges ou companheiro, viúvo edependente legal de associado, além de pensionista de associado falecido, elapode financiar investimentos produtivos nas áreas industriais, comerciais ou deserviços desenvolvidos por estas pessoas. Portanto, para que a cooperativa decrédito mútuo atue com associados não-empregados ou não-vinculadosdiretamente às empresas ou categorias profissionais que compõem a cooperativa,é preciso incentivar a associação dos familiares dos associados na cooperativa.

Outra forma de utilizar as cooperativas de crédito mútuo como uminstrumento para criar iniciativas de geração de emprego e renda, além depotencializar o desenvolvimento local, é a criação de cooperativas compostapor trabalhadores de determinada profissão regulamentada, determinadaatividade (definida quanto à sua especialização) ou então, conforme tambémpermite a legislação, por meio de trabalhadores de um conjunto definido deprofissões ou atividades cujos objetos sejam idênticos ou estritamentecorrelacionado por afinidade ou complementaridade. Desta forma é possível,

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por exemplo, criar cooperativas de crédito mútuo de costureiras, pedreirosou de outras profissões ou atividades, podendo associar tanto os profissionaisda categoria que estejam empregados como os que estejam desempregados,além de seus familiares.

Caso as cooperativas de crédito mútuo comecem a atuar mais intensamenteno financiamento de atividades produtivas de seus associados, visando à geraçãode emprego e renda, é possível que elas também venham a atuar comfinanciamentos oriundos de repasses de recursos oficiais de crédito, como porexemplo, o Proger Urbano (Programa de Geração de Emprego e Renda).

9 OS CONVÊNIOS COM INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

As cooperativas de crédito precisam estar conveniadas a um banco parapoderem ter acesso ao sistema de compensação de cheques e outros papéis.Para demonstrar como funciona a relação entre os bancos e as cooperativa decrédito rural e de crédito mútuo, serão utilizados como exemplo os convêniosrealizados com bancos pelo Sistema Cresol e pela Bancredi, respectivamente.

9.1 Cooperativas de crédito rural – o exemplo do Sistema Cresol

O Sistema Cresol, para acessar o sistema de compensação, é conveniadocom o Banco do Brasil, que também atua na forma intermediária de recursosoficiais de crédito rural, em especial para o crédito de custeio. Além do Bancodo Brasil, o Sistema Cresol mantém convênios para repasse de recursos oficiaisde crédito rural com o BNDES e o BRDE.

A) Banco do Brasil

O Sistema Cresol relaciona-se com o Banco do Brasil nas questões decompensação e aplicações de recursos das cooperativas, além da intermediaçãode recursos oficiais de crédito. As negociações são realizadas diretamente pelaCresol-Baser, que busca homogeneizar os critérios desta parceira, mas são ascooperativas singulares que assinam os convênios de compensação e repassecom as agências locais do banco.

Existem diferenças significativas na relação das Cresol com as agênciasdo Banco do Brasil, sendo que alguns gerentes tratam as primeiras comoparceiros, enquanto outros procuram dificultar a ação das cooperativas, pormeio de excesso de exigências e burocracia, tratando as cooperativas comoconcorrentes. Estas diferenças, embora ainda presentes, têm diminuído naproporção em que o Sistema cresce e se desenvolve, o que facilita a negociaçãodiretamente em Brasília, unificando os procedimentos.

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Para operar os recursos de seus associados, cada cooperativa possuino mínimo duas contas no banco, onde movimenta todos os depósitos deseus associados. Os recursos ficam em nome da cooperativa, que mantémpara seu controle, a discriminação dos valores depositados por seus associadosem contas específicas e individualizadas. Quando um cheque cai nacompensação do banco, este consulta a cooperativa para verificar o saldo doassociado. Com saldo suficiente, o banco desconta o cheque da conta dacooperativa. Em seguida, a cooperativa desconta o valor correspondente daconta do cooperado. Caso não tenha saldo, a cooperativa comunica o banco,que devolve o cheque ao depositante, e como esta atividade é realizada deforma informatizada, possibilita compensar 100, 500 ou 1.000 chequesdiariamente de forma ágil e eficiente.

O Banco do Brasil também atua na intermediação de recursos oficiaisde crédito para as cooperativas (Pronaf e Proger), que podem ser disponibilizadosde duas formas – repasse de crédito e prestação de serviços. No caso de repassede recursos, as cooperativas são as fornecedoras finais dos empréstimos aosagricultores, devendo organizar a demanda e os contratos e assumir todos osriscos das operações.

Na prestação de serviços ao banco, as cooperativas organizam ademanda e os contratos, mas não assumem (teoricamente) os riscos dosfinanciamentos. Neste caso, o financiador final ao agricultor é o banco e não ascooperativas. Entretanto, não é assim que ocorre na prática, pois as cooperativastêm um convênio com o Banco do Brasil avalizando as operações. O cooperadoque recebeu o Pronaf por intermédio da prestação de serviços da cooperativadeve quitar sua dívida junto à mesma, a qual reúne o volume total de pagamentose os repassa ao banco. Mesmo nos casos dos associados que não efetuaram opagamento, a cooperativa acaba quitando os financiamentos junto ao banco,pois caso contrário, ele não efetuará a liberação de crédito para os demaiscooperados na safra seguinte.

Até a safra 1998/99, a maioria das agências do Banco do Brasil operavacom as cooperativas do Sistema Cresol por meio de repasse de recursos. Paraos repasses de recursos, o Banco do Brasil pagou na safra 99/00 a título despread 1,5% ao ano sobre o valor financiado referente ao período de vigênciado financiamento, que é de no máximo 10 meses. Para os anos anteriores estepercentual foi de 0% na safra 96/97, 0,5% na de 97/98 e de 1,0% em 98/99.Destaca-se ainda que, por exigência do banco, a garantia destes empréstimosera dada pelos agricultores (por meio do penhor da safra), por avalistas e pelaprópria cooperativa, que avalizava todas as “cédulas-mãe” dos financiamentos,e em alguns casos, pelos bens dos diretores, que precisavam assinar como

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avalista das cédulas junto ao banco, sendo também necessário o aval dacooperativa central (BITTENCOURT, 2000).

Na safra 1999/00, o Banco do Brasil ampliou o uso da prestação deserviços pelas cooperativas como forma de liberar os financiamentos do PronafCusteio. Nesta safra, 45% do valor financiado de Pronaf Custeio pelo SistemaCresol foi por intermédio da prestação de serviços. Na safra 2000/01, todos osrecursos oficiais de crédito rural intermediados pelo Banco do Brasil foramliberados por meio da prestação de serviços pelas cooperativas.

Segundo o Banco do Brasil, esta alteração na forma de liberação dosrecursos deve-se a normas internas do banco, que exigem que os contratos comas cooperativas sejam feitos com análise de risco com limite de crédito. Istosignifica que os repasses de recursos dependeriam do PL das cooperativas.Como o PL das cooperativas é pequeno, o volume de recursos que poderiamser repassados também seria pequeno. Diferentemente dos anos anteriores,quando o banco não pagava nada para as cooperativas na prestação de serviçospara a liberação dos financiamentos de custeio, nesta safra foi pago 1,5% aoano sobre o valor dos contratos.

Uma situação polêmica acontece na maneira com que é remuneradoquem viabiliza o Pronaf Custeio. Na safra 2000/2001, o Banco do Brasil vaireceber do Tesouro Nacional, a título de spread, 8,48% sobre o valor doscontratos, além de receber uma taxa fixa de R$ 13,01 mensais para cadacontrato durante a sua vigência, a título de administração desses recursos. Detoda esta remuneração, o Banco do Brasil repassa para as cooperativas apenas1,5% ao ano sobre o valor financiado. Com este pequeno spread as cooperativasprecisam pagar todas as suas despesas operacionais, além das possíveisinadimplências de seus associados.

Por outro lado, o Banco do Brasil cobra muito caro pelos serviços prestadosàs cooperativas de crédito, além de remunerar pouco às aplicações de recursosali depositados. Apesar dos avanços obtidos nos últimos anos, os custos aindasão altos. Em 1996, era cobrado R$ 0,65 para cada lançamento efetuado naconta da cooperativa no banco e R$ 0,20 por folha de cheque emitido. Em2000, depois de muitas negociações, o custo da compensação caiu para R$0,25 por lançamento e R$ 0,10 por folha de cheque.

B) BRDE – Banco Regional de Desenvolvimento Econômico

A parceria com o BRDE restringiu-se ao Pronaf Investimento nos anosde 1997 e 1998. A relação atual é restrita aos contratos efetivados neste período,sendo substituída pela relação direta entre o Sistema Cresol e o BNDES.

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O BRDE recebia os recursos do BNDES e como não tem estrutura capazde atender à demanda (agências locais), utilizava os serviços das cooperativas.Na prática, o Sistema Cresol prestava um serviço para o BRDE, pois organizavaa demanda, fazia uma análise preliminar dos projetos, preparava os contratosde financiamentos (de acordo com formulário entregue pelo banco), registravaa documentação no cartório e os enviava para o BRDE, além de assumir orisco. O BRDE apenas fazia uma última análise nos projetos e contratos, liberandoem seguida os recursos que iam diretamente para as contas dos associados.

O limite do volume total dos financiamentos era previamente acertadoentre o BRDE e o Sistema Cresol, o qual era vinculado ao PLA dascooperativas. O BRDE recebia 3% de spread anual sobre o valor dofinanciamento do BNDES, repassando às cooperativas apenas 0,6% sobre osvalores das amortizações dos financiamentos. Para que os associados tenhamacesso ao crédito, as cooperativas assumiam todo o trabalho operacional eos riscos dos financiamentos.

Para o BRDE repassar os recursos oficiais dos financiamentos do PronafInvestimento, o agricultor necessitava apresentar garantias de seu pagamento(normalmente o penhor da atividade financiada) e avalistas. As cooperativas ea Cresol-Baser também precisavam avalizar os contratos. Ou seja, a garantiapara o BRDE era total e mesmo assim, ficava com quase a totalidade dospread dos financiamentos. Nos primeiros contratos realizados em 1997, osassociados também precisaram apresentar a hipoteca da propriedade para teremdireito ao financiamento.

C) BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

Esta parceria tem viabilizado um crescente repasse de recursos oficiaisde crédito rural aos programas Pró-solo e Pronaf Investimento. Na safra 2000/01 também serão repassados recursos para os programas Pró-leite e PronafAgregar. Para liberar estes recursos, o BNDES repassa os recursos para a Cresol-Baser o equivalente a 2% ao ano sobre o saldo devedor a título de spread. Alémdestas linhas de financiamento para investimento rural, neste ano o BNDES fezum convênio com o Sistema Cresol para trabalhar com uma nova modalidadede financiamento de crédito pessoal, denominada Microcrédito.

O convênio de repasse do BNDES é realizado com a cooperativa central.As cooperativas singulares organizam a demanda, fazem a seleção dos projetose preparam a documentação básica para a liberação do crédito, repassando-ospara a Central. A Cresol-Baser recebe os recursos do BNDES e os repassadiretamente para os associados das cooperativas.

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Nestes repasses, o Sistema Cresol assume todos os custos operacionaispara a liberação dos créditos e assume os riscos, por meio da garantia dosfinanciamentos ao banco. As garantias dadas ao BNDES são normalmente dequatro níveis, dependendo do tipo de financiamento. O primeiro nível pode sero aval solidário entre os tomadores de crédito ou o penhor do bem financiado,o segundo nível é representado pelo avalista, o terceiro pela cooperativa singular,e por fim a Cooperativa Central.

9.2 Cooperativas de crédito mútuo – o exemplo da Bancredi

A Bancredi está mantendo relacionamento com a Caixa EconômicaFederal, realizando abertura de conta corrente em nome da cooperativa einiciando operações de reciprocidade no sentido de obter menores taxas deserviços, além de buscar convênios gradativos na medida de sua necessidade.

Como a Bancredi somente atua com bancários, onde a maioria temconta corrente e talão de cheques disponibilizados pelos bancos onde trabalham,a cooperativa ainda não sentiu necessidade de fornecer talão de cheques a seusassociados. Essa situação é específica desta categoria profissional, o que diminuia necessidade de relacionamento mais intensivo com um banco, como é o casodas demais cooperativas de crédito, que precisam manter este vínculo para arealização da compensação, que, de acordo com a legislação, somente podeser realizado por um banco.

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Parte IV

10 A CONSTITUIÇÃO DE UMA COOPERATIVA DE CRÉDITO

10.1 As premissas para a criação de uma cooperativa de crédito

Para criar uma cooperativa de crédito não basta vontade política, épreciso existir uma demanda real das pessoas pelo crédito e pelos demais serviçosque poderão ser prestados pela cooperativa, além de condições organizativas eeconômicas da comunidade ou município que a demanda.

Antes da constituição de uma cooperativa de crédito é preciso verificarse existem potenciais associados na população (rural ou urbana) ou categoriaprofissional onde se deseja criá-la. Para isso, é preciso considerar que osassociados em potencial não são simplesmente aqueles que demandam créditopessoal ou produtivo, mas aqueles que terão condições de tomar determinadosfinanciamentos com as condições e encargos financeiros que a cooperativapoderá disponibilizar. Apesar de fornecer outros serviços além dosfinanciamentos, as cooperativas de crédito precisam de um determinado númerode associados ativos para que possa se viabilizar.

Dependendo do tipo e da extensão da demanda por crédito de umacomunidade ou município, a alternativa mais viável pode ser a organização dosdemandantes para que possam exigir o acesso a uma linha de financiamento jáexistente (ou a ser criada) em um banco ou agência de crédito pública.

Como as cooperativas de crédito atuam normalmente com um volumede recursos maior do que outras instituições de microcrédito, além de seremmais controladas e fiscalizadas pelo Banco Central, a sua administração precisaser mais qualificada, exigindo também um maior nível de organização de suabase. Assim, em alguns casos, dependendo do grau de organização dacomunidade, outras alternativas institucionais mais simples para viabilizar omicrocrédito podem ser recomendadas em preferência à criação de cooperativas

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de crédito. Estas instituições, formais ou não, podem atuar como bases para acriação de cooperativas de crédito no futuro, contribuindo tanto no processoformativo como na organização da economia local.

10.2 A viabilidade econômica de uma cooperativa de crédito

As cooperativas de crédito normalmente têm um baixo custo operacionale grandes chances de viabilizarem sua sustentação financeira ao longo do tempo.Entretanto, antes da criação de uma cooperativa, é preciso fazer uma análisede sua viabilidade econômica, considerando as reais condições existentes nolocal onde se deseja constituí-la.

Não existe um “modelo” único de gestão financeira e administrativa quepossa garantir a viabilidade econômica de uma cooperativa de crédito. Podemexistir diversas combinações entre o volume de recursos aplicados por modalidadede crédito e as respectivas taxas de inadimplência, o volume de depósitos àvista e a prazo, o valor do capital social e os custos operacionais e administrativosque poderão garantir a sua sustentação financeira.

Os custos de uma cooperativa de crédito singular rural ou mútua, tambémdependem muito de quais serão os serviços que ela venha a oferecer a seusassociados. Alguns desses serviços têm um alto custo operacional, além dedemandar maior capacitação e tempo dos dirigentes e funcionários dacooperativa, não gerando recursos suficientes para pagar os seus custos.

O fornecimento de talões de cheques aos associados, por exemplo, é umdos serviços que mais gera custos para uma cooperativa de crédito. Para forneceros cheques, a cooperativa precisa fazer um convênio de compensação com umbanco, o que aumenta a burocracia, pagam normalmente altas taxas ao bancoconveniado para o fornecimento dos talões de cheques e para a realização dacompensação, o trabalho dos funcionários e do contador da cooperativa éduplicado, a segurança precisa ser reforçada, além do limite do cheque especialser um dos financiamentos que apresenta maior taxa de inadimplência entre osrealizados pelas cooperativas.

Portanto, para a constituição de cooperativas de crédito em áreas ruraisde baixa renda ou com categorias mais pobres, é possível diminuirsignificativamente os custos da cooperativa, eliminando inicialmente algunsdos serviços a serem prestados, o que poderá garantir a sua viabilidadeeconômica. Com o tempo, na medida em que a cooperativa se capitalize e osdirigentes e funcionários adquiram mais experiência no gerenciamento dacooperativa, esta poderá ampliar os serviços fornecidos aos seus associados.

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A título de exemplo e com base na experiência de algumas cooperativasde crédito rural em funcionamento, é apresentado a seguir um modelo de gestãoeconômica. Para as cooperativas de crédito mútuo são apresentadas apenasalgumas considerações.

10.2.1 Cooperativa de Crédito RuralDe uma forma geral, segundo a Cresol-Baser, uma cooperativa de crédito

rural que forneça diversos serviços a seus associados, entre os quais o talão decheques, atinge seu ponto de equilíbrio quando atinge as seguintes metas:

a) Origem dos Recursos

Caso o número de associados seja maior, pode-se reduzir o valor docapital social por associado. Entretanto, as experiências demonstram que umacooperativa de crédito rural com muito mais de 500 a 600 associados começaa perder o controle e o conhecimento pessoal do quadro associativo.

b) Destinação dos Recursos

Esta combinação de modalidades de aplicação dos recursos dascooperativas pode alterar-se significativamente, dependendo da época do anoou da região onde a cooperativa atua, pois está intimamente vinculada aosperíodos da atividade agropecuária local.

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c) Projeção de Receita Mensal

As receitas de uma cooperativa de crédito rural são como operações decrédito (juros pagos pelos empréstimos com recursos próprios e de repasses oficiais),aplicações dos recursos excedentes no banco, prestação de serviços, recebimentode financiamentos já provisionados (reversões de provisões) e outras receitas gerais.

A participação de cada fonte na origem das receitas da cooperativatende a se alterar caso as taxas de juros venham a diminuir, o que tende aacontecer em curto prazo. Com a diminuição dos juros nos empréstimos comrecursos próprios, será necessário ampliar o volume de recursos emprestados,bem como aumentar a taxa de repasse do Pronaf (spread) cobrada junto aoBanco do Brasil pela cooperativa de crédito.

d) Projeção das Despesas Mensais

As despesas das cooperativas são com captação de recursos (juros pagosaos associados pelas suas aplicações na cooperativa), despesas com repasse eprestação de serviços, despesas administrativas (salários, aluguel de salas,telefones, carros, materiais de consumo, diárias dos dirigentes, depreciação etc.),despesas com o Banco do Brasil (taxas dos serviços de compensação), provisõespara créditos de liquidação duvidosa e outras despesas gerais.

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As despesas mensais variam de cooperativa para cooperativa, sendoque os gastos com remuneração dos depósitos a prazo e o pagamento depessoal (funcionários e dirigentes) são os responsáveis pelos maiores gastos.Os gastos com provisão de créditos, que são os recursos destinados a cobrirpossíveis inadimplências, também são significativos, representando cerca de15% das despesas mensais de uma cooperativa. Neste sentido, é possíveloferecer todos os serviços ao quadro social sem nenhum custo adicional,como taxas, serviços etc.

Este modelo de gestão permite que a cooperativa obtenha um superávitde cerca de R$ 935,00 mensais, além da remuneração do capital superior aosíndices de poupança. No início de funcionamento de uma cooperativa decrédito, tanto as receitas como as despesas tenderão a ser menores, o queequilibra, em parte o seu funcionamento. Entretanto, na maioria dos casos,as cooperativas apresentam um pequeno déficit mensal em suas contas nosprimeiros meses de funcionamento. Parte dessas despesas pode ser bancadapelas entidades e organizações que estão contribuindo para a criação dacooperativa, seja por meio da liberação do dirigente, como também para aliberação de carro, salas, telefone etc.

Como a realidade socioeconômica é distinta entre as regiões brasileiras,é possível criar modelos diferenciados buscando garantir a viabilidade econômicada cooperativa. Entretanto, é preciso considerar que normalmente ospagamentos da cooperativa singular para a central de crédito, referentes aosserviços de contabilidade, repasse de informações e normativos do Banco Centrale assessorias em geral, são fornecidos a preços mais baixos do que quandocontratados individualmente por uma cooperativa. Além disso, nem sempreesse tipo de serviço está disponível na região. Portanto, pode ser muito difícilviabilizar uma cooperativa de crédito rural, quando a experiência for isolada enão tiver acesso aos serviços de uma cooperativa central de crédito ou centralde serviços, ou mesmo de alguma outra entidade que possa fornecer este tipode serviço gratuitamente ou a baixos custos.

10.2.2 Cooperativa de Crédito MútuoA implantação de uma cooperativa de crédito requer apoio da

empresa ou do representante da categoria, cedendo espaço físico,funcionários e equipamentos para poder iniciar atividades e realizarem acapitalização, captação e imediatamente iniciar as concessões deempréstimos. A viabilidade econômica depende principalmente da definiçãoda taxa de juros dos empréstimos, da remuneração dos recursos captadose dos demais custos administrativos.

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Considerando que as taxas de remuneração do capital e aplicações giramde 1% a 1,5% ao mês, e que as despesas operacionais da cooperativa possamser subsidiadas pela empresa ou pela representante da categoria, as taxas deempréstimos conseqüentemente serão inferiores às taxas praticadas pelo mercado.

As capitalizações podem ser feitas mensalmente, por meio decontribuições vinculadas ao salário, podendo variar de 1% a 10% do salário doassociado. Também podem ser feitas por meio de capitalizações espontâneasou anuais, mas normalmente este tipo de contribuição diminui o valor médioanual capitalizado por cada associado, dificultando ainda mais que a cooperativaatinja o ponto de equilíbrio financeiro. Cada cooperativa de crédito, de acordocom as características de sua base social, deve buscar a forma mais adequadapara fazer a capitalização.

10.3 A articulação política para criação da cooperativa de crédito

A criação de uma cooperativa de crédito deve ser fruto da vontade e daação de diversas entidades de representação e assessoria de uma categoriaprofissional ou comunidade. É fundamental que o conjunto das entidades queestão participando do processo de criação da cooperativa conheçam aspotencialidades e os limites de uma cooperativa de crédito. Caso contrário, osaliados no processo de criação se tornarão inimigos ao longo do tempo.

No caso de cooperativas de crédito rural, a articulação para sua criaçãodeve buscar envolver os diversos atores sociais do município e, sempre quepossível, o poder público local.

10.3.1 A articulação com outras entidades dos trabalhadores

A garantia do controle social sobre o cooperativismo de crédito solidáriodepende de uma constante parceria com as organizações sociais, de forma alhe garantir a prática permanente dos seus princípios e a sua ação adequada àpopulação e ao desenvolvimento local. Os sindicatos em especial têm umimportante papel de organização dos trabalhadores e de defesa dos seus interessesnas políticas das cooperativas. A ação dos sindicatos e demais organizaçõessociais no desenvolvimento local é uma diretriz importante para a ação dascooperativas de crédito.

Os processos participativos e democráticos, que contam com apossibilidade de uma articulação positiva com a sociedade e com o Estado, sãoprocessos motivados principalmente por sindicatos, associações e organizaçõesnão-governamentais. Além disso, o fortalecimento do tecido social, a ampliaçãoda cidadania e da participação política direta propiciada pelas organizaçõessociais, é importantes fatores que contribuem com a eficiência das cooperativas

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de crédito. A degeneração política por que passou o cooperativismo de créditotradicional no Brasil se deve em grande medida à sua exclusiva vinculação comos interesses do Estado e do capital.

As entidades representativas dos trabalhadores normalmente encaramas cooperativas de crédito, quando de sua criação, como um instrumentodestinado a canalizar e ampliar o acesso ao crédito. Na medida em que ascooperativas se desenvolvem, provocam diferentes reações entre os dirigentes.Quando da cobrança dos financiamentos, muitos dirigentes das entidades derepresentação, buscando defender os interesses de seus associados, forçam paraque as cooperativas sejam mais maleáveis nas negociações. Já os diretores dascooperativas de crédito procuram garantir os interesses da cooperativa, pormeio do recebimento dos empréstimos.

Para muitos dos dirigentes de cooperativas de crédito falta uma melhorcompreensão da importância da luta política para a melhoria das condições devida dos trabalhadores e de que o crédito, principalmente nas atuais condiçõeseconômicas, não é suficiente para o desenvolvimento e capitalização de seusassociados. Com a intensificação deste conflito, a tendência, caso a criação dacooperativa não seja muito bem discutida, é ocorrer um afastamento em relaçãoàs demais entidades representativas, conseqüência de suas lutas e reivindicações,além da ampliação de uma visão economicista da sociedade.

Por outro lado, para muitos dirigentes de entidades representativas émais prático estar afastado da cooperativa de crédito, pois desta forma nãoprecisam assumir os problemas estruturais decorrentes das dificuldades dostrabalhadores (urbanos ou rurais) em seus investimentos, da falta de formaçãoprofissional e do conjunto das limitações decorrentes da política econômica,industrial e agrícola brasileira.

Com o tempo, caso não sejam tomadas atitudes enérgicas para mantera relação e cooperação entre as diversas entidades, entendendo o real papel ea importância de cada organização, é possível que ocorra um afastamento e oacirramento de posições, trazendo enormes prejuízos para o conjunto dostrabalhadores. É por isto que a atuação dos sindicatos e demais organizaçõessociais como agentes motivadores e parceiros destas novas estruturas éfundamental para a construção de um novo cooperativismo de crédito, maisdemocrático, sustentável e solidário.

Entretanto, é preciso considerar o crescimento da consciência de muitosdirigentes sindicais e cooperativistas da importância desta parceria para ofuturo de ambas as organizações. Para estes dirigentes, as cooperativas podemser um canal de acesso às políticas públicas de crédito, criar e ampliar as

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possibilidades de financiamentos pessoais, além de contribuírem para oconjunto das organizações dos trabalhadores.

10.3.2 A articulação com o poder público local

Para a criação e início de operação de cooperativas de crédito rural éfundamental o apoio do poder público local, principalmente nas pequenascidades. Este apoio pode ser financeiro, por meio do pagamento ou liberaçãode salas para as cooperativas, viabilizando linhas telefônicas, móveis e, emalguns casos, funcionários durante o primeiro ano de funcionamento.

As cooperativas também podem gerenciar os fundos de desenvolvimentomunicipal, quando estes existirem. A experiência tem demonstrado que nospequenos municípios, as cooperativas de crédito rural têm conseguido gerarmuito mais recursos, por meio dos recursos canalizados para o município e oconseqüente aumento da arrecadação tributária, que os governos locais investemnas cooperativas em seu período de implantação.

10.4 A Assembléia Geral de constituição da cooperativa

A cooperativa é constituída por deliberação de uma assembléia geral dossócios fundadores, inicialmente dirigida pelo coordenador da comissão de organização,que escolherá de imediato um dos demais integrantes para secretariar os trabalhos.

A primeira deliberação da assembléia deverá ser em relação ao EstatutoSocial, cuja proposta de minuta deverá ser levada para a assembléia pelacomissão organizadora. Portanto, o processo de constituição da cooperativadeve iniciar muito antes de sua assembléia. É preciso realizar reuniões com opúblico interessado, discutindo os objetivos da cooperativa, propostas de EstatutoSocial, além de possíveis composições da futura diretoria.

Durante a assembléia, a proposta de Estatuto Social deverá ser lida,artigo por artigo, realizando a sua avaliação e aprovação (ou reprovação, se foro caso). Depois de aprovado o Estatuto, a assembléia deverá ser suspensa paraque possa ocorrer a indicação dos nomes para a eleição do conselho deadministração, diretoria executiva e conselho fiscal.

Uma vez apresentados os nomes, os trabalhos da assembléia devem serretomados para a eleição dos membros. (caso exista apenas uma relação denomes, a votação poderá ser simbólica). Caso algum dos indicados não sejaaceito, a assembléia deverá substituí-lo.

Após a eleição, o coordenador declarará eleitos os membros do conselhode administração e do conselho fiscal, informando-os que a posse dependeráda homologação dos nomes pelo Bacen. A partir da eleição, o coordenadorpassará a direção da assembléia para o presidente eleito.

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A ata da assembléia geral de constituição deverá conter os nomes doseleitos para os cargos estatutários, observando a qualificação em ordemconstante no anexo próprio para este fim.

10.5 O Estatuto Social

O Estatuto Social é uma exigência do Bacen, que deverá ser lido eaprovado na assembléia de constituição da cooperativa. Deverá ser assinado,em todas as suas vias, pelos eleitos aos cargos estatutários e por todos osdemais sócios fundadores. A assinatura deverá ser feita em espaço próprio naúltima folha, cabendo aos signatários rubricar as demais folhas. O EstatutoSocial de uma cooperativa de crédito normalmente obedece a um padrão, emque estão os requisitos obrigatórios que constam na lei sobre cooperativismo ena lei do Sistema Financeiro Nacional, além de outras questões impostas pormeio de resoluções do Bacen.

Os sócios fundadores podem acrescentar ao Estatuto algumas questõesou propostas que acharem pertinentes, desde que mantenham os itens obrigatóriose que estas questões não sejam conflitantes em relação à legislação em vigor.

Ao disciplinar no Estatuto Social as condições de devolução do valordas quotas-partes no caso de saída de um associado, é permitido à cooperativaestipular salvaguardas para evitar traumas na efetivação do respectivopagamento. Isto porque em certos casos a saída de associados pode implicarna retirada de soma significativa de recursos, capaz de abalar a situaçãoeconômica da cooperativa (Bacen, 2000c).

Além do Estatuto Social, que trata de questões mais gerais e,principalmente, legais a cooperativa de crédito deve possuir um Regimento Internopara disciplinar o seu funcionamento. O objetivo desse Regimento Interno étratar de questões relacionadas ao dia-a-dia das cooperativas, como ocomportamento dos diretores e funcionários, fluxos de decisões e papéis(organograma gerencial), normas e controles internos para os créditos (emconsonância com a legislação) etc.

10.6 Os sócios fundadores

Para a constituição de uma cooperativa, o número mínimo de sóciosfundadores é de 20 pessoas físicas, sendo recomendado trabalhar inicialmentecom cerca de 30 pessoas para o caso de alguns não se enquadrarem nas normaslegais exigidas para os sócios fundadores.

Os sócios fundadores não podem:

· ter títulos protestados;

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· ter emitido cheques sem fundo;

· ter conta corrente encerrada por negligência ou má fé;

· ser analfabetos – precisam saber assinar o nome, ler e escrever.

Os documentos exigidos dos sócios fundadores são o RG, CPF, certidãode nascimento ou casamento e o endereço completo.

10.7 Documentação necessária para a constituição da cooperativa

Para a constituição e funcionamento de uma cooperativa de crédito énecessário encaminhar uma série de documentos ao Banco Central e à JuntaComercial. Após a liberação pela Junta Comercial, a cooperativa deverá tambémrequerer um alvará de licença à prefeitura municipal e uma vistoria sanitária daSecretaria Municipal de Saúde. É possível solicitar a isenção das taxas municipaiscomo contrapartida do poder público local ao processo de constituição da“cooperativa de crédito solidária”.

10.7.1 Documentos para o Banco Central

Todos os documentos a ser enviados ao Banco Central para homologaçãodos atos da Assembléia Geral de Constituição (AGC), precisam ser encaminhadosno prazo máximo de 15 dias a contar de sua instalação devidamente enumerados.Devem ser acompanhados de um requerimento (como capa doencaminhamento) dirigido ao Bacen (anexo 4).

Os documentos que devem ser enviados ao Bacen são:

a) edital de convocação da Assembléia Geral de Constituição - página dojornal contendo o Edital e cópia do convite encaminhado aos interessados (anexo 1);

b) quatro vias autenticadas da Ata da Assembléia Geral de Constituiçãoda cooperativa, devidamente assinada (pelos dirigentes e os demais sóciosfundadores - última folha e rubricas nas demais), com visto de um advogadodevidamente identificado com seu nome completo, número de inscrição naOAB e respectiva seccional, de acordo com a Lei n.o 8.906/94 (anexo 2);

c) duas vias autenticadas (com assinaturas identificadas na última folhae rubricas nas demais) da Ata da Reunião do conselho de administração queescolheu os ocupantes de cargos executivos, se for o caso;

d) quatro vias autenticadas do Estatuto Social da Cooperativa assinadapelos dirigentes e os demais sócios fundadores (assinatura na última folha e rubricasnas demais), com visto de um advogado devidamente identificado com o nomedo profissional, número de inscrição na OAB e respectiva seccional (anexo 3);

e) duas vias do requerimento solicitando a homologação da constituiçãoda cooperativa de crédito (anexo 4);

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f) uma via da Declaração de Desimpedimento de cada sóciofundador (anexo 5);

g) recibo de depósito do recolhimento do capital integralizado ao BancoCentral, devidamente autenticado (anexo 6);

h) uma via do Formulário Cadastral, de acordo com o modelo instituídopela Circular 1.958, de 10.05.91, contendo todos os dados dosadministradores (anexo 7);

i) declaração de responsabilidade para o conselheiro de administração(anexo 8);

j) duas vias da declaração de inexistência de parentesco entre os diretoresda cooperativa (anexo 9);

k) uma via da declaração de bens dos conselheiros de administração(anexo 12);

l) uma via da declaração de bens dos conselheiros fiscais (anexo 13);

m) duas vias da lista dos associados fundadores, os quais deverão ser nomínimo 20, assinadas pelo presidente e secretário da AGC (anexo 18);

n) duas vias do formulário de Cadastro de Pessoas Físicas e Jurídicascontendo as informações sobre o ato da eleição ou nomeação, conforme asCirculares 518/80, e 624/81 (Anexo 18);

o) ata da reunião da diretoria contendo a designação dos diretoresresponsáveis pela área contábil, pelas contas de depósito e pelocumprimento das medidas estabelecidas na Circular 2.852/98 (lavagem dedinheiro - Lei 9.613/98).

A autorização para o funcionamento será concedida, por um prazoindeterminado, por meio da emissão pelo Bacen de um formulário denominadoHomologação de Atos. Caso todos os documentos estejam em ordem e não fornecessário providenciar pedidos de informações por parte do Banco Central, aautorização é publicada no Diário Oficial da União, num prazo de até 60 dias,a contar do recebimento do pedido.

10.7.2 Documentos para a Junta Comercial

A documentação para o registro na Junta Comercial somente deverá serencaminhada após a homologação de atos, expedida pelo Banco Central,autorizando o funcionamento da cooperativa. O registro e arquivamento dosdocumentos na Junta Comercial e a sua respectiva publicação no diário Oficialda Indústria e Comércio, é que garantem personalidade jurídica à cooperativa,sendo então liberada para operar.

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Os documentos que deverão ser encaminhados a Junta Comercial são:

a) três vias da Ata da Assembléia Geral de Constituição daCooperativa (Anexo 2);

b) três vias do Estatuto Social (Anexo 3);

c) duas vias da Fichas de Cadastro Nacional / Identificação da Sociedade;

d) duas vias da Ficha de Cadastro Nacional dos Administradores;

e) três vias da ficha de inscrição do estabelecimento – CGC/MF;

f) três vias da guia Darf;

g) uma via da guia DIR para arquivamento e requerimento de certidão;

h) uma via da cópia autenticada do CPF e CI de todos os sócios fundadores;

i) uma via da Declaração de Desimpedimento de cada sóciofundador (Anexo 5);

j) uma via do comprovante de depósito de capital ao Bacen;

k) uma via da cópia da autorização prévia do Bacen;

l) página do jornal onde foi publicado o edital da AGC;

m) requerimento tarja amarela devidamente assinado – capa doencaminhamento dos documentos.

Após a entrega dos documentos para a Junta Comercial o prazo para oarquivamento é de 7 a 15 dias. Uma vez efetivado o arquivamento, é precisorequerer uma Certidão Simplificada, onde deve constar o Ato Inaugural dacooperativa no registro do comércio. De posse da certidão de arquivamento, épreciso solicitar a publicação no Diário Oficial da Indústria e Comércio do Estado.Com a circulação da edição do jornal com a publicação, a cooperativa ganhapersonalidade jurídica, devendo remeter ao Banco Central um comprovante depublicação da certidão de arquivamento expedida pela Junta Comercial.

A cooperativa terá, a partir deste envio, 90 dias, já descontados osdecorridos desde o arquivamento, para realizar a primeira operação. Casocontrário, os atos de constituição poderão caducar, resultando no encerramentodas atividades da cooperativa antes mesmo de iniciar o seu funcionamento.Depois de efetuar a primeira operação, a cooperativa deve comunicar o fato aoBanco Central, mediante formulário próprio, em até 15 dias.

10.8 A filiação a uma central de crédito ou de serviços

As cooperativas de crédito têm autonomia sobre sua filiação a umacooperativa central de crédito. As vantagens da filiação a uma central de créditoestão nos serviços que estas podem fornecer à cooperativa e na diminuição das

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exigências em relação a auditorias externas e no valor do patrimônio líquidoexigido pelo Bacen, além de assessoria no processo de constituição eoperacionalização da cooperativa.

Caso a cooperativa de crédito deseje filiar-se a uma cooperativa centralde crédito, ela deve aprovar a sua filiação em assembléia geral. Uma vezaprovado, a cooperativa deverá encaminhar um pedido de filiação para a central,que solicitará alguns documentos. Cada cooperativa central tem uma formadiferente de atuação, mas a grande maioria delas assume a responsabilidadede enviar a documentação necessária ao Banco Central e à Junta Comercial,facilitando o trabalho da cooperativa filiada.

10.9 A escolha de um banco para convênios de compensação

Para ter acesso à compensação de papéis (cheques, títulos etc.) e paramanter parte de seus recursos aplicados conforme determina a legislação, ascooperativas de crédito precisam manter um convênio com algum banco. Nocaso das cooperativas de crédito rural também é preciso fazer convênios combancos públicos para acessar os recursos oficiais de crédito, sendo que este tipode convênio pode ser realizado com vários bancos, não sendo exigido exclusividade.

A definição do banco “parceiro” é de livre escolha pelas cooperativas, mas éimportante que esta escolha esteja baseada na perspectiva de uma boa reciprocidadedo banco para com a cooperativa. Esta reciprocidade pode ser viabilizada por meiode menores custos cobrados pelo banco para a confecção de talões de cheque e paraa realização da compensação para as cooperativas, maiores taxas de juros para asaplicações da cooperativa junto ao banco, além da possibilidade de intermediaçãode recursos oficiais de crédito operacionalizados pelo banco.

10.10 A contabilidade da cooperativa

A contabilidade de uma cooperativa de crédito deve ser encarada commuita responsabilidade e cuidado, pois é muito controlada pelo Banco Central.Existe um plano de contas (Cosif) específico do Bacen que é o orientador parao enquadramento contábil de todas as operações de uma cooperativa de crédito,no qual devem ser enviados mensalmente os balancetes contábeis até o 5o diaútil de cada mês. Semestralmente, sempre até o dia 10 do mês subseqüente,também é preciso enviar os balanços mensais ao Bacen, além de outrasinformações contábeis adicionais.

Cada cooperativa tem autonomia para fazer a sua contabilidade, desdeque siga as normas do Bacen e os normativos contábeis. Entretanto, dependendodo tamanho e do volume de recursos administrados pela cooperativa, estaatividade pode ser muito onerosa. Para diminuir os custos, recomenda-se que

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as pequenas cooperativas vinculadas às centrais de crédito deleguem a essas aexecução de sua contabilidade, a qual poderá fazer este serviço a um menorcusto do que ocorreria caso a cooperativa contratasse um contador. Por outrolado, esta opção não elimina a responsabilidade de cada cooperativa emorganizar os seus documentos contábeis, bem como mantê-los atualizados noprograma de gestão da cooperativa. Os dados gerados pela contabilidade deuma cooperativa são bons instrumentos para a análise de sua gestão, e umimportante instrumento para a sua fiscalização.

10.11 O software para gerenciamento e contabilidade

A escolha e o desenvolvimento do software gestor da cooperativa éfundamental para o bom funcionamento de uma cooperativa de crédito. Alémde permitir uma integração direta com a cooperativa central, o programa precisaatender a todas as demandas operacionais da cooperativa. De uma formageral, o programa ou programas de gestão da cooperativa devem administraras seguintes demandas e serviços das cooperativas:

· cadastro do cooperado e da unidade produtiva (quando for o caso);

· contabilidade total (parcial, quando for desenvolvida pela central);

· controle patrimonial;

· capital social e patrimônio líquido;

· depósitos à vista e a prazo;

· gerenciador das aplicações;

· cobrança bancária;

· crédito com recursos próprios e crédito com repasse de recursos oficiais;

· folha de pagamento;

· análise financeira da cooperativa;

· terminal financeiro (caixa da cooperativa);

· terminal de extratos.

A elaboração destes programas requer muito investimento por parte dascooperativas de crédito e suas centrais, pois não existe um programa definitivoou acabado. A cada alteração nas regras dos financiamentos ou dofuncionamento das cooperativas aprovado pelo Conselho Monetário Nacional,o programa precisa ser atualizado. Por isso, são poucos os programas (software)de gestão de cooperativas de crédito disponíveis no mercado.

Os programas são normalmente controlados pelas centrais de crédito oumesmo pelos bancos cooperativos, sendo que muitas cooperativas, mesmo não

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estando vinculadas a centrais de crédito ou aos bancos cooperativos, “compram”deles o direito de uso dos programas. O “aluguel” é realizado por meio dopagamento de uma taxa mensal, sendo que a cooperativa recebe em troca,além do programa, suas atualizações e assistência técnica.

10.12 O capital social e o patrimônio líquido

Uma cooperativa de crédito normalmente inicia suas operações compouco capital e baixo volume de depósitos. O capital inicial, segundo a legislação,é de R$ 3.000,00 para cooperativas filiadas à central de crédito e de R$ 4.300,00para as não-filiadas. Apesar do valor dos depósitos e do capital social ser baixono início de funcionamento da cooperativa, aparentando uma situação de risco,esta característica tem seu lado positivo, pois nos primeiros meses de operaçãoda cooperativa os novos dirigentes estão aprendendo a trabalhar com o crédito.Assim, eles têm mais tempo para aprende a emprestar, a cobrar e a classificarmelhor o quadro social, sempre para saber de fato quando cada associadopode emprestar e quais são as melhores opções de crédito para cada caso.

Depois de seis meses de funcionamento a cooperativa já precisa avançarpara um planejamento que vise à alcançar um ponto de equilíbrio entre receitas,despesas, depósitos, carteira etc. Além disso, a cooperativa de crédito deverácriar mecanismos que possibilitem a ampliação de seu patrimônio líquido atéos patamares exigidos pela legislação em vigor, ou seja, R$ 30.000,00 no terceiroano e R$ 60.000,00 no quinto ano para as cooperativas filiadas à uma centralde crédito. Caso a cooperativa não esteja filiada a uma central de crédito, opatrimônio líquido ajustado deverá ser de R$ 43.000,00 no segundo ano e R$86.000,00 no quarto ano.

O nível de capitalização garante às cooperativas maior autonomia e apossibilidade de alavancar mais recursos para seu quadro social, pois os repassesde recursos oficiais, principalmente de investimento, são baseados na capacidadede endividamento da cooperativa, que é calculado pela soma das obrigaçõesda cooperativa dividido pelo PLA.

As cooperativas de crédito devem definir o valor da quota-parte de acordocom a realidade de cada comunidade ou cooperativa, respeitando o teto máximode 1 (um) salário mínimo, sendo que nenhum associado poderá subscrever maisde 1/3 do total das quotas-partes. O valor da quota-parte, o mínimo de quotas-partes a ser subscrito pelo associado, o modo de integralização das quotas-partes,bem como as condições para sua retirada nos casos de demissão, eliminação oude exclusão, devem estar especificados no estatuto social da cooperativa.

Na assembléia de constituição, o associado deverá integralizar no mínimo50% do total subscrito. O restante deverá, obrigatoriamente, ser integralizado

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no prazo máximo de um ano, contado da data da publicação no Diário Oficialdo despacho de aprovação do funcionamento da cooperativa. Além da quota-parte integralizada no momento da associação à cooperativa, o associado poderáaumentar o seu número de quotas-partes na cooperativa, o que ampliará ovolume máximo de recursos que ele poderá acessar via financiamento.

O valor do patrimônio líquido inicial (capital integralizado) deve serenviado ao Banco Central juntamente com o pedido de constituição dacooperativa no prazo de até cinco dias do seu recebimento. Ao aprovar o processode criação da cooperativa o Bacen devolve o dinheiro.

11 A ABERTURA DA COOPERATIVA

A abertura de uma cooperativa de crédito para os seus associados nãodeve coincidir com o período de constituição da mesma. Mesmo que a cooperativareceba a autorização para funcionar do Banco Central, ela precisa antes desenvolveruma série de atividades para que não tenha problemas em seu funcionamento.Caso contrário, a cooperativa terá despesas fixas antes mesmo de ter recursospara operar, além de restringir-se a um pequeno número de associados.

O primeiro passo é a formação de seus dirigentes e funcionários, quedevem receber a formação básica antes de abrir as portas aos associados,principalmente em relação à utilização do software de gestão da cooperativa.Os dirigentes também precisam trabalhar para ampliar o número de associados,pois inicialmente, apesar da possibilidade de ter tido um grande número depessoas no processo de debate para a sua criação, os sócios fundadores somamsomente 20 a 30 pessoas. Deve-se procurar atingir no mínimo 150 sócios parao início das atividades da cooperativa, o que deve ocorrer no máximo até 90dias após a aprovação da mesma pelo Banco Central.

11.1 A sede da cooperativa – segurança e funcionalidade

No início de suas operações ou mesmo permanentemente, muitascooperativas de crédito rural têm funcionado na sede de sindicatos de trabalhadoresrurais, em salas cedidas pela igreja ou pela prefeitura. As de crédito mútuo, poroutro lado, normalmente funcionam na sede da empresa onde se originam osseus associados e no sindicado ou associação da categoria profissional.

Estas alternativas, apesar de contribuírem para diminuir os custosoperacionais das cooperativas, devendo ser potencializadas, podem trazer algunsproblemas que precisam ser prevenidos. Apesar das cooperativas poderemfuncionar em espaços de terceiros, isso não pode significar que os membros dasentidades que forneceram as salas possam circular livremente pelo interior (espaço

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administrativo) da cooperativa ou venham a ter tratamento diferenciado, poisessa é uma entidade independente e, por trabalhar com dinheiro, necessitamais do que qualquer outra instituição, de privacidade, organização e segurança.

Apesar das limitações normalmente impostas pela disponibilidade deespaço para o funcionamento da cooperativa, é fundamental que esta tenhano mínimo quatro espaços distintos (pode ser por meio de divisórias), sendo umdestinado ao atendimento direto aos associados, um para a realização dereuniões e atendimento aos cooperados por parte dos dirigentes, um para ofuncionamento do caixa e o último destinado ao armazenamento e manipulaçãodos documentos administrativos.

Ainda em relação à sede da cooperativa, são necessários alguns cuidadosbásicos com sua segurança. Apesar da cooperativa manter pouco dinheiro em caixa,é preciso que todas as janelas possuam grades de segurança, as portas tenhamfechaduras especiais e que, quando possível, possua um sistema de alarme monitorado.

11.2 A estrutura operacional

Uma cooperativa de crédito precisa ter alguns equipamentos básicos paraoperar, que são imprescindíveis para a sua segurança e funcionalidade. Osprincipais equipamentos que uma cooperativa de crédito precisa para operar são:

· 2 linhas telefônicas;

· 2 microcomputadores potentes;

· 2 máquinas autenticadoras Bematec;

· 2 calculadoras;

· 1 cofre;

· 2 impressoras (HP e matricial);

· 1 no-breack;

· 1 balcão para o guichê de caixa;

· arquivos para pastas suspensas;

· mesas, cadeiras e escrivaninhas;

· outros materiais de consumo, a critério de cada cooperativa de crédito.

No início da operação das cooperativas alguns desses equipamentospodem ser emprestados ou mesmo adaptados. O importante é garantir asegurança e a funcionalidade.

11.3 O quadro pessoal da cooperativa

Uma cooperativa de crédito rural pode funcionar nos primeiros anoscom apenas um diretor liberado, mais duas pessoas, sendo um caixa e um

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estagiário, além de uma estrutura regional de apoio. Este número de pessoasdeve aumentar de acordo como o número de postos de serviços emfuncionamento e do número de sócios que a cooperativa possuir.

A administração de uma cooperativa de crédito demanda muitadedicação, responsabilidade e disponibilidade de tempo de seus diretores, poiso produto em questão é o dinheiro de seus companheiros de trabalho ou categoriaprofissional. A má gestão de uma cooperativa poderá causar sérias conseqüênciasà vida de um grande número de pessoas.

Além disto, não é apenas o dinheiro dos associados depositado nacooperativa ou mesmo o valor dos financiamentos tomados pelos associadosque está em jogo, mas também o conjunto dos investimentos realizados peloscooperados em suas unidades de produção, seja ela um estabelecimento agrícolaou uma microempresa urbana. Portanto, o próprio ato de emprestar um recursodestinado a um investimento produtivo demanda responsabilidade e seriedadepor parte dos dirigentes e funcionários da cooperativa.

Como a participação na direção e a constituição de cooperativas decrédito são práticas relativamente novas entre as organizações de trabalhadores,não é possível exigir dos dirigentes que estes sejam exímios gestores financeirosjá no início do funcionamento das cooperativas. Por outro lado, é possível enecessário selecionar muito bem as pessoas que deverão dirigir a cooperativa.Para isso, é preciso escolher dirigentes que sejam honestos, tenham vontade efacilidade para aprender novos temas (pois demandarão um intenso processoformativo), possuam disponibilidade de tempo e tenham responsabilidadeadministrativa e política.

11.4 O cadastro socioeconômico

O cadastro socioeconômico é um instrumento que visa fornecer umdiagnóstico dos associados, servindo para melhor definir e planejar as demandasde crédito, conhecer as principais atividades produtivas e a situação econômicados associados, além de fornecer informações úteis sobre a ação e os possíveisimpactos das cooperativas junto a seu quadro social, o que contribui nadivulgação e aceitação da proposta junto à sociedade e ao governo.

O cadastro pode fornecer informações aos diretores e às comissões decrédito sobre a capacidade de endividamento de cada associado, além de umdiagnóstico de sua atividade produtiva, o que pode contribuir para a busca dealternativas técnicas e econômicas para cada situação. A análise do cadastropermite chegar a conclusões que podem auxiliar na aprovação, reprovação ouproposição de alterações no projeto de investimento apresentado pelo associado.

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11.5 Os empréstimos e as garantias

Na origem de qualquer atividade de empréstimo existe potencialmenteuma assimetria de informação entre devedor e credor que leva necessariamentea cooperativa singular a avaliar o risco de cada operação. O caráter assimétricoe a conseqüente imperfeição da informação obtida traduzem-se no custo dopróprio empréstimo. O que está em jogo é, de um lado, a incerteza sobre aviabilidade do projeto e de outro a incerteza a respeito da disposição a pagar –mais até que sobre a capacidade de pagamento – do tomador de empréstimo(ABRAMOVAY,2000).

É fundamental que as cooperativas procurem trabalhar com uma políticapautada no controle social do crédito, além de definir limites para os empréstimosdos associados. No Sistema Cresol, por exemplo, os associados podem tomaremprestado até 12 vezes o valor de suas quotas-partes integralizadas,considerando a soma de todas as linhas de financiamento disponibilizadas pelacooperativa. Este percentual já foi de 25% no início do funcionamento doSistema, reduzindo posteriormente para 20%, 15% e agora para 12%. A reduçãodo nível de endividamento é fruto da experiência adquirida pelo Sistema Cresolao longo de cinco anos de operação.

As cooperativas podem adotar distintos mecanismos como garantia dosempréstimos. A confiança estabelecida e reconhecida pela idoneidade e peloscostumes de quem está pretendendo tomar o crédito é um importante mecanismo.O crédito grupal com aval solidário (quando um membro do grupo não quitasua dívida, o restante do grupo assume sua dívida) também é um instrumentobastante eficaz para aumentar o controle social sobre o crédito e diminuir asinadimplências. Os créditos pessoais de pequeno valor podem ser lastreadospelas próprias quotas-parte do associado. De uma forma geral, as cooperativasexigem como garantia o penhor da safra (rural), o penhor do bem financiado e/ou um avalista (BITTENCOURT, 2001).

11.6 As inadimplências e as provisões de créditos

As cooperativas podem buscar garantir-se de todas as formas, mas semprehaverá algum nível de inadimplência, por menor que seja. No caso do SistemaCresol, por exemplo, as taxas de inadimplências variam de acordo com amodalidade de crédito. Para os recursos próprios, as taxas giram em torno de4% para o cheque especial, 8% para o crédito pessoal e 3,5% para o créditorural com recursos próprios. Entre os financiamentos originários de recursosoficiais de crédito, a taxa de inadimplência na data de vencimento dos contratosé de 5%, mas 3% a 4% acabam sendo renegociados, o que significa umainadimplência de apenas 1% a 2%.

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As taxas de inadimplência nos créditos pessoais e rurais variam muitoentre as cooperativas pertencentes ao Sistema Cresol. Em algumas cooperativas,em especial as primeiras cooperativas criadas, a inadimplência é muito maisalta, concentrada em um pequeno número de tomadores. O principal motivodas altas taxas de inadimplência dessas cooperativas foi a inexperiência inicial.Estas cooperativas ainda carregam alguns problemas econômicos e políticosque resultam destes erros iniciais e que somente agora começam a ser superados.

Segundo avaliação do Sistema Cresol, em função da tentativa desuperação dos problemas, as taxas de inadimplência de uma forma geral vêmcaindo, devendo ser reduzidas à metade nos próximos dois anos. As açõesdesenvolvidas neste sentido são o maior controle sobre os financiamentos (divisãode responsabilidades para a liberação de valores mais elevados), melhoria dosoftware de gestão das cooperativas, redução do limites de financiamento porassociado (de 25 vezes o valor da quota-parte para 12), melhor seleção dasatividades financiadas (redução do financiamento a atividades de grande risco– trigo e feijão), ampliação dos mecanismos de conhecimento do quadro social,formação mais qualitativa dos conselhos fiscais e dos dirigentes das cooperativas(CRESOL-BASER, 2000).

Para que as cooperativas não sejam pegas de surpresa em relação àinadimplência, precisam fazer provisões dos créditos vencidos e não liquidados.Seguindo normas do Bacen, a partir de 15 dias de inadimplência de um contrato,a cooperativa deve provisionar 0,5% do valor financiado. Depois de 30 dias eladeve provisionar 3% e, a partir daí, o percentual provisionado vai aumentandoaté os seis meses após o vencimento do contrato, quando 100% do valor dofinanciamento deve estar provisionado.

Considerando ainda o exemplo do Sistema Cresol, em relação às provisõesrealizadas para os financiamentos, cerca de 20% a 25% são recuperadas. Parao crédito com recursos próprios, as taxas reais de inadimplência caem paracerca de 3% no cheque especial, 6% no empréstimo pessoal e 2,6% para oCRP (BITTENCOURT, 2001).

Para diminuir o impacto das inadimplências nos financiamentos comrecursos oficiais de crédito, algumas cooperativas do Sistema Cresol criaramuma espécie de fundo de aval. Este é controlado pelas próprias cooperativas,que retêm até 2% do valor financiado, dependendo da situação. As cooperativasque apresentam baixas taxas de inadimplência destes financiamentos nadarecolhem para o fundo. As cooperativas com taxas mais altas de inadimplênciarecolhem de 1% a 2% dos financiamentos para o fundo.

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A presença de assistência técnica deve ser considerada com atenção emrelação às taxas de inadimplência e do sucesso dos investimentos. Osfinanciamentos realizados pelas cooperativas do Sistema Cresol de contaramcom o acompanhamento efetivo de um técnico, não restrito a elaboração doprojeto, têm mostrado maiores índices de sucesso, ampliando a renda doagricultor e garantindo, na maioria dos casos, condições efetivas para opagamento dos empréstimos (BITTENCOURT, 2001).

12 O BALANÇO GERAL DA COOPERATIVA - FUNDOS, SOBRAS E PERDAS

A cooperativa deverá realizar dois balanços anuais, um em cada últimodia dos semestres civis. A apuração dos resultados do exercício social e olevantamento do balanço geral devem ser realizados no dia 31 de dezembro decada ano. Uma vez aprovado o balanço pela assembléia geral, as sobrasapuradas no final de cada exercício deverão ser distribuídas da seguinte forma:

a) 10% para o Fundo de Reserva, destinado a reparar perdas e atenderao desenvolvimento das atividades da cooperativa;

b) 5% para o Fundo de Assistência Técnica e Educacional (Fates),destinado à prestação de assistência aos associados e seus familiares;

c) o saldo restante ficará à disposição da assembléia geral, que decidirásobre a atribuição de juros ao capital integralizado, que não podem sersuperiores a 12% ao ano, a distribuição de sobras e a capitalização ou formaçãode novos fundos sociais.

O Fundo de Reserva e o Fates são indivisíveis entre os associados, mesmonos casos de dissolução ou liquidação da cooperativa. A assembléia geralordinária, mediante proposta e orçamento do conselho de administração,também pode criar fundos específicos, com caráter temporário, fixando o modode formação, aplicação e futura devolução aos associados que contribuírampara sua formação, a serem construídos mediante percentuais sobre resultadoslíquidos. É permitido, ainda, que a cooperativa de crédito participe conjuntamentecom outras cooperativas de crédito, da criação de fundos de liquidez que visemà contribuir para a garantia de liquidez dessas cooperativas.

As sobras ou perdas somente serão distribuídas ou rateadas aosassociados uma vez por ano, sempre após o encerramento do balanço realizadono último dia útil do ano civil. Quando, no exercício, se verificarem prejuízose o Fundo de Reserva for insuficiente para cobri-los, esses serão atendidospelos associados, mediante sistema de rateio diretamente proporcional aovalor e tempo dos empréstimos contraídos. Por outro lado, a legislação tambémpermite que a cooperativa estabeleça em seu Estatuto Social que o rateio das

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despesas seja feito em partes iguais entre os associados, quer tenham ou nãono ano usufruído dos serviços por ela prestados.

As sobras são rateadas entre os associados proporcionalmente aosencargos financeiros pagos nas operações creditórias ou de acordo com adeliberação da assembléia geral, podendo ser também, transformadas em novasquotas-partes de capital a critério da assembléia geral ordinária.

12.1 Fundo de Liquidez - a solidariedade entre as cooperativas

É fundamental que todos os sistemas de cooperativas de crédito criemfundos de liquidez com o objetivo de melhorar a liquidez das cooperativas e dossistemas a que pertencem. A criação deste tipo de fundo faz parte das funçõesde uma central de crédito atribuídas pela Resolução nº 2.771 do Banco Central,podendo ser constituído com uma contribuição mensal de cada cooperativa,por doações específicas, sendo elas externas ou do poder público.

O fundo deve ser indivisível e administrado pela central de serviços ou decrédito das cooperativas. Quando uma cooperativa estiver com dificuldades deliquidez (emprestou mais do que devia), ela poderá solicitar um empréstimo aesse fundo. Estes recursos devem ter um custo financeiro para as cooperativas,as quais devem ter um prazo pré-estabelecido para devolvê-lo.

É importante criar regras que permitam que as centrais de crédito possamter acesso às contas das cooperativas quando estas solicitem recursos do fundode liquidez, as quais deverão, depois de uma análise técnica, propor sugestõesvisando à contribuir para a recuperação da liquidez da cooperativa.

13 FUSÃO, INCORPORAÇÃO E DESMEMBRAMENTO DE COOPERATIVAS

As cooperativas de crédito podem, no interesse dos seus associados,proceder à fusão, incorporação ou desmembramento, cujas característicassão as seguintes:

a) fusão: é o processo pelo qual duas ou mais cooperativas de créditodecidem fundir seus patrimônios (direitos e obrigações), resultando em umanova sociedade e, em conseqüência, na extinção das sociedades queparticiparam da operação de fusão;

b) incorporação: é o processo em que uma cooperativa absorve opatrimônio, recebe os associados, assume as obrigações e adquire os direitos,de uma ou mais cooperativas participantes da operação de incorporação;

c) desmembramento: é o processo pelo qual a sociedade cooperativapoderá desmembrar–se em tantas sociedades quanto desejar ou foremnecessárias, para atender aos interesses de seus associados.

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Qualquer que seja a operação, as novas sociedades resultantes do processode fusão, incorporação ou desmembramento deverão, em especial, estarenquadradas nas condições legais e regulamentares referentes à formatação doquadro social e área de ação. Para obter aprovação dos atos de fusão,incorporação ou desmembramento, os interessados devem convocar e realizarassembléias gerais extraordinárias para deliberar e aprovar a operação, e instruirprocesso junto ao Bacen.

Posteriormente, as cooperativas envolvidas deverão convocar seusassociados para a realização de uma assembléia geral extraordinária paradeliberar sobre a operação e para indicar os membros que irão compor a comissãomista que procederá aos estudos necessários. Nos estudos a comissão procederáà avaliação do patrimônio (no caso de incorporação à avaliação poderá ficarrestrita à cooperativa incorporada) com base em balancete ou balanço, aoplano de distribuição de quotas-partes, ao destino dos fundos de reserva e aoprojeto do estatuto (caso seja alterado), dentre outros.

Posteriormente, as cooperativas envolvidas deverão convocar seusassociados para a realização de assembléia geral extraordinária conjunta coma finalidade de deliberarem sobre:

· aprovação do relatório da comissão mista;

· homologação da operação de fusão ou incorporação;

· alteração do Estatuto Social, se for o caso; e

· eleição de membros de órgãos estatutários, se for o caso.

A aprovação da operação implica cancelamento da autorização parafuncionamento da cooperativa incorporada ou das cooperativas fusionadas, econcessão de autorização para funcionamento das novas sociedades resultantesda fusão ou desmembramento. Em caso negativo, será recomendada, se for ocaso, a realização de assembléias gerais extraordinárias com a finalidade deretificar e ratificar as deliberações pretendidas.

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Glossário de Termos

CMN - Conselho Monetário Nacional

É composto por vários membros, dentre os quais o ministro da Fazendae o presidente do Banco Central. É o órgão de maior poder político sobre oSistema Financeiro Brasileiro, cuidando da relação Bacen - Poder Executivo -Sistema Financeiro. As suas funções são normalmente confundidas com oBacen, que regulamenta as suas decisões.

Quota-parte

Cota é um valor em dinheiro que o associado deposita (capitaliza) emseu nome na cooperativa. Ela visa formar um capital mínimo para dar suportefinanceiro para a cooperativa iniciar suas atividades e poder fazer empréstimospara seus associados. A quota-parte é um instrumento legal e rege-se peloestatuto social da cooperativa, que determina o seu valor, prazo para o associadorepassar os valores à cooperativa e o volume mínimo de quotas-partes quecada associado deve subscrever e integralizar junto à cooperativa.

Integralização e Subscrição de Quotas-Partes

Subscrição: a subscrição de quotas-partes é um volume de dinheiro queo associado promete ou deseja repassar à cooperativa num tempo determinado.

Integralização: a integralização de quotas-partes é a efetivação de entradade capital na cooperativa. É uma participação em dinheiro feita pelo associadopara formação do patrimônio comum, mas que continua sendo do associado,porém em uma conta individual em seu nome. A legislação financeira é flexívelquanto ao número de quotas-partes subscritas e integralizadas por cadaassociado, porém determina que no mínimo 50% das cotas subscritas sejam

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efetivamente integralizadas no ato de ingresso do associado junto à cooperativa.O restante pode ser integralizado no decorrer de um ano (contados a partir doato de ingresso de associado).

Capital Social

É a soma das quotas-partes de todos os associados de uma cooperativa.O capital social da cooperativa está voltado ao financiamento, em forma deempréstimos a seus associados. Quanto maior for o volume de recursos disponívelem capital social na cooperativa, maior será o número de associados que poderáutilizar-se dos serviços de empréstimos. A cooperativa de crédito funciona deacordo com a capitalização feita por cada associado. Ao longo dos anos essevolume de recursos vai aumentando, o que permite à cooperativa fazer cadavez mais em benefício de seu quadro social, o único limite é que nenhum sóciopoderá ter mais que 1/3 do capital social total da cooperativa.

Patrimônio Líquido - PL

É o capital social dos cooperados integralizado na cooperativa, somadoàs reservas que a mesma possui (10% das sobras obrigatoriamente têm que serdestinados à reserva legal da cooperativa). A cooperativa poderá possuir tambémoutros tipos de reservas.

Patrimônio Líquido Ajustado - PLA

É o patrimônio líquido somado às receitas da cooperativa, subtraídoàs despesas da mesma em um determinado período. É um referencial parauma série de índices, tais como grau de endividamento básico, capacidadede repasse etc.

Sobras

Sobras é um excedente de recursos acumulado ao final de um exercíciosocial. Em uma cooperativa de crédito as sobras são geradas de uma formadiferente das demais cooperativas. As bases de uma cooperativa de produçãosão os meios de produção (terra, capital, trabalho). Todas as sobras queporventura estas cooperativas vierem a ter são geradas pelo trabalho e pelaconjugação destes fatores de produção. Em uma cooperativa de crédito, abase de geração de sobra não provém de instrumentos de produção ou detrabalho, mas sim do capital.

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Depósito

Depósito é a importância em dinheiro que o associado entrega àcooperativa para guardar. O associado coloca seu dinheiro na cooperativa epode retirá-lo quando quiser. A conta depósito é de alta importância, poisaumenta a soma dos recursos que poderão ser emprestados aos associados.Existem dois tipos de depósitos, que são:

À vista: valor repassado à cooperativa para “guardar” e que permaneceem conta corrente do associado, disponível para ser sacado a qualquer dia,porém sem remuneração;

A prazo: valor repassado à cooperativa em forma de aplicação financeira,a qual rende juros variáveis de acordo com os índices estabelecidos pelo Conselhode Administração. Existe um prazo mínimo de permanência desses recursosdentro da cooperativa. A partir deste prazo, o associado pode retirar quandoquiser, dependendo da modalidade da aplicação financeira.

Aval solidário

O aval solidário é uma forma de incentivo à nucleação, à cooperação eà unidade entre os próprios associados. Na prática, é usado na forma deorganização de base, via núcleos, para que seja feito uma forma solidária decontrole da aplicação do crédito. Nesta forma de aval, os recursos definanciamento repassados a um membro do núcleo são avalizados pelos demaismembros, que se comprometem pelo ressarcimento à cooperativa, caso oadquirente não o faça. Para isto, todos devem ajudar para que ocorra uma boaaplicação do mesmo, sob pena de todo o grupo ter que cobrir o saldo devedorde um dos seus membros.

Spread

Diferencial entre o custo de captação dos recursos e as taxas cobradasnos financiamentos realizados. Também é chamado de spread o percentualrepassado pelo agente financeiro a título de remuneração pelos serviços realizadosem uma operação de crédito. Visa cobrir os custos operacionais do agenterepassador do crédito, aí embutidos os custos administrativos, os impostos euma determinada taxa de inadimplência.

Banco Múltiplo

É instituição financeira privada ou pública que realiza as operações ativas,passivas e acessórias das diversas instituições financeiras, por intermédio das

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seguintes carteiras: comercial, de investimento e/ou de desenvolvimento, decrédito imobiliário, de arrendamento mercantil e de crédito, financiamento einvestimento. Essas operações estão sujeitas às mesmas normas legais eregulamentares aplicáveis às instituições singulares correspondentes às suascarteiras. A carteira de desenvolvimento somente poderá ser operada por bancopúblico. O banco múltiplo deve ser constituído com, no mínimo, duas carteiras,sendo uma delas, obrigatoriamente, comercial ou de investimento e serorganizado sob a forma de sociedade anônima. Na sua denominação socialdeve constar a expressão “Banco” (ver a Resolução 2099/94).

Sisbacen

Sistema de Informações do Banco Central. É um complexo informacionaladministrado pelo Banco Central do Brasil que se caracteriza por permitir acessointerativo on line, tanto para a entrada quanto para a recuperação deinformações, além de disponibilizar consultas em tempo real.

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Referências Bibliográficas

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Banco Central do Brasil (2000b) - Resoluções e Circulares do ConselhoMonetário Nacional obtidas no site http://www.bcb.gov.br - Brasília/DF

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Gilson Alceu Bittencourt

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BITTENCOURT, Gilson A. e ABRAMOVAY, Ricardo (2001) - Inovaçõesinstitucionais no financiamento à agricultura familiar: o Sistema Cresol.Seminário de Economia Institucional - Campinas/SP

BURIGO, Fábio L (1999) - Cooperativa de Crédito Rural: Agente deDesenvolvimento Local ou Banco Comercial de Pequeno Porte? Dissertaçãode Mestrado. Centro de Ciências Agrárias da UFSC. Florianópolis/SC

Cresol-Baser (1999) - Regulamento de Concessão e Controle de Crédito.Francisco Beltrão/PR. Cresol-Baser (2000) - Diversos normativos e relatóriosinternos do Sistema Cresol. Francisco Beltrão/PR

LANCELIN, Marcel (1996) - Elementos de Reflexão para a Construçãode um Sistema de Crédito Cooperativo. Seminário de Crédito Rural Cooperativo:Perspectivas e Desafios. Cepagro, CCA/UFSC e Sicredi-SC. Florianópolis/SC

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Sicredi-RS (1998) - Manual de Constituição de Cooperativas de Economiade Crédito Mútuo. Sicredi/RS. Porto Alegre/RS

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ANEXOS

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Anexo 1 - Edital de convocação da assembléia de constituição

COOPERATIVA DE CRÉDITO .............................................................................................................................................................................................................

CONVOCAÇÃO DE ASSEMBLÉIA

Edital de Convocação para a Assembléia Geral de Constituição da Cooperativa de Crédito................................................................................................................................................................................................. Na condição de coordenador (a) do grupo indicado para promover a constituição da Cooperativade Crédito ...................................................................................., convido todos os................................................................. da área de abrangências do município de...................... para participarem da Assembléia Geral de Constituição a ser realizada............................................................, sito à ............................................................. – em.........., no dia ......... de ......... de ............, às ......... (.......) horas em única convocação paratratar da seguinte ordem do dia:

1o Discutir a proposta de Estatuto Social;

2o Acolher os pedidos para associar-se com: subscrição de quotas-partes e integralizaçãode no mínimo 50% das quotas partes subscritas;

3o Constituição da Cooperativa;

4o Eleição do Conselho de Administração para o triênio ........... ;

5o Eleição do Conselho Fiscal para o exercício de ............ ;

6o Assuntos gerais de interesse da nova sociedade.

O quorum mínimo para a Assembléia é de 20 (vinte)......................................... quevenham a subscrever e integralizar as quotas-partes.

................, ......... de .............. de ...........

.........................................................

Coordenador (a) da Comissão Pró-Constituição.

AOS INTERESSADOS

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Anexo 2 - Modelo do Bacen para Ata de Assembléia Geral de Constituição

ATA DA ASSEMBLÉIA GERAL DE CONSTITUIÇÃO DA COOPERATIVA ..... (denominaçãosocial completa).

Aos ... (data), às ... (hora), na ... (endereço completo do local), reuniram-se em assembléia geralcom o propósito de constituir uma sociedade cooperativa de crédito, nos termos da legislaçãovigente, as ... (número de associados fundadores) pessoas físicas relacionadas e qualificadas naLista dos Associados Fundadores e Subscritores do Capital Inicial que, para todos os efeitos, ficafazendo parte integrante da presente ata como seu Anexo I. Foi aclamado entre os presentes,para presidir os trabalhos, o senhor ... (nome completo), que convidou a mim, ... (nome completo),para lavrar a ata respectiva, tendo participado ainda da mesa o senhor ... (nome completo),representante da ... (sigla da cooperativa central de crédito, se for o caso), que usou a palavrapara explicar aos presentes alguns aspectos sobre o cooperativismo. O senhor presidente solicitouque fosse lido, explicado e debatido o projeto do Estatuto Social, anteriormente elaborado, o quefoi feito, artigo por artigo. Logo a seguir, o senhor presidente deixou a palavra livre para que ospresentes pudessem questionar suas dúvidas sobre o estatuto proposto, ou mesmo sugerirmodificações em seus dispositivos. Não havendo nenhuma modificação ou sugestão, o senhorpresidente colocou em votação o texto definitivo do estatuto proposto, o qual foi aprovadopelos associados fundadores presentes, por unanimidade, ficando, para todos os efeitos, fazendoparte integrante da presente ata como seu Anexo II. A seguir, foi procedida a eleição parapreenchimento dos cargos dos órgãos estatutários da cooperativa, apurando-se que dentre osnomes propostos foram eleitas as seguintes pessoas, todas já devidamente qualificadas nomencionado documento Anexo I à esta ata, as quais preenchem as condições previstas naResolução CMN nº 2.645, de 22.09.99, devendo ser empossadas após a homologação dos seusnomes pelo Banco Central do Brasil: para a Diretoria, com mandato de 3 (três) anos, ... (nome)- Diretor Presidente; ... (nome) - Diretor Administrativo; ... (nome) - Diretor Operacional; epara o Conselho Fiscal, com mandato de 1 (um) ano, ... (nomes) - Efetivos e ... (nomes) -Suplentes. O senhor presidente ressaltou que, conforme discriminado no documento Anexo I àesta ata, os sócios fundadores subscreveram o total de ... (quantidade total de quotas subscritas)quotas do capital inicial da cooperativa, no valor de R$ ... (valor unitário da quota) cada uma eintegralizaram no ato o valor total de R$ ... (valor total correspondente à metade ou mais dasquotas subscritas por cada um), devendo a parte restante das quotas subscritas ser integralizadano prazo de 1 (um) ano a contar desta data. Ato contínuo o senhor presidente declarou definiti-vamente constituída a COOPERATIVA ... (denominação social completa) e colocou em vota-ção proposta de filiação da sociedade à ... (sigla da cooperativa central de crédito), o que foiaprovado por unanimidade. Por fim, diante do elevado número de associados fundadores, aassembléia decidiu que a ata dos respectivos trabalhos seja assinada por todos, nomeando, porém,com a incumbência específica de rubricar todas as demais páginas da ata e os documentos queconstituem seus anexos inseparáveis, uma comissão de 6 (seis) fundadores, ... (nome completo decada um), também já qualificados no documento Anexo I à esta ata. Nada mais havendo a tratar,o senhor presidente deu por encerrados os trabalhos da assembléia geral e mandou lavrar apresente ata que, lida e julgada conforme, vai assinada pelos componentes da mesa e por todos osdemais associados fundadores, na forma acima deliberada.... (local e data)... (nome e assinaturade todos os associados fundadores).

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Anexo I à ata da Assembléia Geral de Constituição da Cooperativa ... (denominaçãosocial completa), realizada em ... (data da assembléia). LISTA DOS ASSOCIADOS FUNDADO-RES E SUBSCRITORES DO CAPITAL INICIAL... (nome por extenso; qualificação compreendendo a nacionalidade, idade, estado civil, profis-são, domicílio e residência; documento de identidade, seu número e órgão expedidor e número deinscrição no CPF; quantidade de quotas subscritas, valor de cada quota, quantidade de quotasintegralizadas no ato e valor pago no ato) ... (idem, para cada um dos associados fundadores)

Anexo II à ata da Assembléia Geral de Constituição da Cooperativa ... (denominaçãosocial completa), realizada em ... (data da assembléia). ESTATUTO SOCIAL ... (texto definitivodo estatuto aprovado pela assembléia geral de constituição)

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Anexo 3 - Modelo do Bacen para Estatuto Social de Cooperativa de Crédito

COOPERATIVA DE ............................................................ (denominação social completa)

ESTATUTO SOCIAL

CAPÍTULO I

DA NATUREZA, DENOMINAÇÃO, SEDE, FORO, ÁREA DE AÇÃO,PRAZO DE DURAÇÃO E EXERCÍCIO SOCIAL

Art. 1º A COOPERATIVA DE ... (denominação social completa – vide artigos específicosconforme o tipo de cooperativa, no final deste modelo), constituída ...

CAPÍTULO II

DO OBJETO SOCIALArt. 2º A cooperativa tem por objeto social ... (conforme o tipo da cooperativa – vide artigos

específicos ao final do documento).

CAPÍTULO III

DOS ASSOCIADOSArt. 3º Podem associar-se à cooperativa ... (conforme o tipo da cooperativa – vide artigos

específicos ao final do documento).Art. 4º Para associar-se à cooperativa o candidato preencherá proposta de admissão. Verificadas

as declarações constantes da proposta e aceita esta pelo órgão de administração, ocandidato integralizará, no mínimo, metade das quotas-partes de capital subscritas eserá inscrito no Livro ou ficha de Matrícula.

Art. 5º Não podem ingressar na cooperativa as instituições financeiras e as pessoas físicas oujurídicas que exerçam atividades que contrariem seus objetivos ou com eles colidam.

Art. 6º São direitos dos associados:I - tomar parte nas assembléias gerais, discutir e votar os assuntos que nelas forem tratados,

ressalvadas as disposições legais ou estatutárias em contrário;II - ser votado para os cargos sociais, desde que atendidas as disposições legais ou regula-

mentares pertinentes;III - propor medidas que julgar convenientes aos interesses sociais;IV - beneficiar-se das operações e serviços objetos da cooperativa, de acordo com este

estatuto e regras estabelecidas pela assembléia geral e pelo órgão de administração; V - examinar e pedir informações atinentes às demonstrações financeiras do exercício e

demais documentos a serem submetidos à assembléia geral;VI - retirar capital, juros e sobras, nos termos deste estatuto;VII - tomar conhecimento dos regulamentos internos da Cooperativa;VIII - demitir-se da cooperativa quando lhe convier.

Parágrafo único. A igualdade de direito dos associados é assegurada pela cooperativa, que nãopode estabelecer restrições de qualquer espécie ao livre exercício dos direitos sociais.

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Art. 7º São deveres e obrigações dos associados:I - subscrever e integralizar as quotas-partes de capital;II - satisfazer os compromissos que contrair com a cooperativa;III - cumprir as disposições deste estatuto e dos regulamentos internos e respeitar as

deliberações tomadas pelos órgãos sociais e dirigentes da cooperativa;IV - zelar pelos interesses morais e materiais da cooperativa;V - cobrir sua parte nas perdas apuradas, nos termos deste estatuto;VI - ter sempre em vista que a cooperação é obra de interesse comum ao qual não deve

sobrepor seu interesse individual;VII - não desviar a aplicação de recursos específicos obtidos na cooperativa para finalidades

não previstas nas propostas de empréstimos e permitir ampla fiscalização da aplicação.Art. 8º O associado responde subsidiariamente pelas obrigações contraídas pela cooperativa

perante terceiros, até o limite do valor das quotas-partes de capital que subscreveu.Esta responsabilidade, que só poderá ser invocada depois de judicialmente exigida dacooperativa, subsiste também para os demitidos, eliminados ou excluídos, até quandoforem aprovadas, pela assembléia geral, as contas do exercício em que se deu odesligamento.

Parágrafo único. As obrigações dos associados falecidos, contraídas com a cooperativa, e asoriundas de sua responsabilidade como associado em face de terceiros, passam aosherdeiros, prescrevendo, porém, após um ano contado do dia da abertura da sucessão.

Art. 9º A demissão do associado, que não pode ser negada, dá-se unicamente a seu pedido, porescrito.

Art. 10. O órgão de administração eliminará o associado que, além dos motivos de direito:I - venha a exercer qualquer atividade considerada prejudicial à cooperativa;II - praticar atos que desabonem o conceito da cooperativa;III - faltar ao cumprimento das obrigações assumidas com a cooperativa ou causar-lhe

prejuízo.Art. 11. A eliminação em virtude de infração legal ou estatutária será decidida em reunião do

órgão de administração e o fato que a ocasionou deverá constar de termo lavrado noLivro de Matrícula ou Ficha.

§ 1º - Cópia autenticada do termo de eliminação será remetida ao associado dentro de 30(trinta) dias, contados da data da reunião em que ficou deliberada a eliminação.

§ 2º - No prazo de 30 (trinta) dias, contados da notificação, o associado pode interpor recursopara a primeira assembléia geral que se realizar, que será recebido pelo órgão deadministração, com efeito suspensivo.

Art. 12. A exclusão do associado será feita por dissolução da pessoa jurídica, morte da pessoafísica, incapacidade civil não suprida ou perda do vínculo comum que lhe facultouingressar na cooperativa.

CAPÍTULO IV

DO CAPITAL SOCIALArt. 13. O capital social é dividido em quotas-partes de R$ ... (valor por extenso) cada uma, é

ilimitado quanto ao máximo e variável conforme o número de associados e a quantidadede quotas-partes subscritas, não podendo ser inferior a R$ ... (valor por extenso).

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Art. 14. O capital social será sempre realizado em moeda corrente nacional, sendo as quotas-partes de subscrição inicial e as dos aumentos de capital integralizadas no mínimometade no ato e as restantes em até 12 (doze) parcelas mensais.

§ 1º No ato de sua admissão, cada associado deverá subscrever no mínimo ... (quantidade porextenso) quotas-partes.

§ 2º Nenhum associado poderá subscrever mais de 1/3 do total das quotas-partes.

§ 3º As quotas-partes do capital integralizado responderão sempre como garantia das obrigaçõesque o associado assumir com a cooperativa.

Art. 15. Para o aumento contínuo do capital social, cada associado se obriga a subscrever eintegralizar mensalmente o mínimo de ... (numeral e por extenso) quotas-partes decapital.

Parágrafo único. O capital integralizado por cada associado deve permanecer na cooperativapor prazo que possibilite o desenvolvimento regular da sociedade e o cumprimento doslimites estabelecidos pela regulamentação em vigor, sendo que eventuais solicitaçõesde resgate poderão ser examinadas pelo órgão de administração, caso a caso.

Art. 16. O associado não poderá ceder suas quotas-partes de capital a pessoas estranhas aoquadro social, nem oferecê-las em penhor ou negociá-las com terceiros.

Art. 17. A devolução do capital - ao associado demitido, eliminado ou excluído - será feita apósa aprovação, pela assembléia geral, do balanço do exercício em que se deu o desligamento.

§ 1º Ocorrendo desligamento de associados em que a devolução do capital possa afetar aestabilidade econômico-financeira da cooperativa, a restituição poderá ser parceladaem prazos que resguardem a continuidade de funcionamento da sociedade, a critério doórgão de administração.

§ 2º Eventual débito do associado poderá ser deduzido do valor das suas quotas-partes.

§ 3º Os herdeiros ou sucessores têm direito a receber o capital e demais créditos do associadofalecido, deduzidos os eventuais débitos por ele deixados, antes ou após o balanço deapuração do resultado do exercício em que ocorreu o óbito, a juízo do órgão deadministração.

CAPÍTULO V

DAS OPERAÇÕES

Art. 18. A cooperativa poderá realizar as operações e prestar os serviços permitidos pelaregulamentação em vigor, sendo que as operações de captação de recursos oriundos dedepósitos à vista e a prazo, e de concessão de créditos, serão praticadas exclusivamentecom seus associados.

§1º As operações obedecerão sempre à prévia normatização por parte do órgão de administração,que fixará prazos, juros, remunerações, formas de pagamento e todas as demais condiçõesnecessárias ao bom atendimento das necessidades do quadro social.

§ 2º Somente podem ser realizados empréstimos a associados admitidos há mais de 30 dias.

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Art. 19. A sociedade somente pode participar do capital de:

I - cooperativas centrais de crédito:

II - instituições financeiras ou outras empresas controladas diretamente pelas cooperativascentrais;

III - entidades de representação institucional, de cooperação técnica ou educacional.

CAPÍTULO VI

DOS ÓRGÃOS SOCIAISArt. 20. A cooperativa exerce sua ação pelos seguintes órgãos sociais:

I - Assembléia Geral;II – Diretoria;III - Conselho Fiscal.

SEÇÃO I

DAS ASSEMBLÉIAS GERAISArt. 21. A assembléia geral, que poderá ser ordinária ou extraordinária, é o órgão supremo da

cooperativa, tendo poderes dentro dos limites da lei e deste estatuto para tomar todae qualquer decisão de interesse social.

§ 1º As decisões tomadas em assembléia geral vinculam a todos os associados, ainda queausentes ou discordantes.

§ 2 º A assembléia geral poderá ser suspensa, admitindo-se a continuidade em data posterior,sem necessidade de novos editais de convocação, desde que determinada a data, hora elocal de prosseguimento da sessão, e que, tanto na abertura quanto no reinício, contecom o “quorum” legal, o qual deverá ser registrado na ata.

Art. 22. A assembléia geral será convocada com antecedência mínima de 10 (dez) dias, emprimeira convocação, mediante edital divulgado de forma tríplice e cumulativa, daseguinte forma:

I – afixação em locais apropriados das dependências comumente mais freqüentadas pelosassociados;

II – publicação em jornal de circulação regular; eIII – comunicação aos associados por intermédio de circulares.

§ 1º Não havendo no horário estabelecido “quorum” de instalação, a assembléia poderá realizar-se em segunda e terceira convocações, no mesmo dia da primeira, com o intervalomínimo de uma hora entre a realização por uma ou outra convocação, desde que assimconste do respectivo edital.

§ 2º A convocação será feita pelo Diretor Presidente, pelo órgão de administração, peloConselho Fiscal, ou após solicitação não atendida no prazo de 5 (cinco) dias, por 1/5(um quinto) dos associados em pleno gozo dos seus direitos.

Art. 23. O edital de convocação deve conter (no caso de assembléia de delegados, seguir aseqüência de artigos específica para delegados):

I - a denominação da Cooperativa, seguida da expressão: Convocação da Assembléia GeralOrdinária ou Extraordinária;

II - o dia e hora da Assembléia em cada convocação, assim como o local da sua realização;

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III - a seqüência numérica da convocação;IV - a ordem do dia dos trabalhos, com as devidas especificações;V - o número de associados existentes na data da expedição, para efeito de cálculo de

quorum de instalação;VI - local, data, nome e assinatura do responsável pela convocação.

Parágrafo único. No caso de a convocação ser feita por associados, o edital deve ser assinado,no mínimo, por 4 (quatro) dos signatários do documento que a solicitou.

Art. 24. O “quorum” mínimo de instalação da assembléia geral, verificado pelas assinaturaslançadas no livro de presenças da assembléia, é o seguinte:

I – 2/3 dos associados, em primeira convocação;II – metade mais 1 (um) dos associados, em segunda convocação;III – 10 associados, em terceira convocação.

Art. 25. Os trabalhos da assembléia geral serão habitualmente dirigidos pelo Diretor Presidente,auxiliado pelo Diretor Administrativo, que lavrará a ata, podendo ser convidados aparticipar da mesa os demais ocupantes de cargos estatutários.

§ 1º Na ausência do Diretor Presidente, assumirá a direção da assembléia geral o DiretorAdministrativo, que convidará um associado para secretariar os trabalhos e lavrar aata.

§ 2º Quando a assembléia geral não tiver sido convocada pelo Diretor Presidente, os trabalhosserão dirigidos por associado escolhido na ocasião, e secretariados por outro convidadopelo primeiro.

Art. 26. Os ocupantes de cargos estatutários, bem como quaisquer outros associados, nãopoderão votar nas decisões sobre assuntos que a eles se refiram direta ou indiretamente,mas não ficarão privados de tomar parte nos respectivos debates.

§ 1º Na assembléia geral em que for discutida a prestação de contas do órgão de administração,o Diretor Presidente, logo após a leitura do relatório da gestão, das peças contábeis edo parecer do Conselho Fiscal, suspenderá os trabalhos e convidará o plenário a indicarum associado para dirigir os debates e a votação da matéria.

§ 2º O presidente indicado escolherá, entre os associados, um secretário para auxiliá-lo nostrabalhos e coordenar a redação das decisões a serem incluídas na ata.

§ 3º Transmitida a direção dos trabalhos, os membros dos órgãos estatutários deixarão a mesa,permanecendo no recinto à disposição da assembléia geral, para prestar osesclarecimentos eventualmente solicitados.

Art. 27. As deliberações da assembléia geral poderão versar somente sobre os assuntos constantesno edital de convocação.

§ 1º As decisões serão tomadas pelo voto pessoal dos presentes, com direito a votar, tendo cadaassociado um voto, vedada a representação por meio de mandatários.

§ 2º Em princípio, a votação será a descoberto, mas a assembléia geral poderá optar pelo votosecreto.

§ 3º As deliberações na assembléia geral serão tomadas por maioria de votos dos associadospresentes com direito de votar, exceto quando se tratar dos assuntos enumerados noartigo 46 da Lei nº 5.764, de 16.12.71, quando serão necessários os votos de 2/3 dosassociados presentes.

§ 4º Está impedido de votar e ser votado o associado que:I - tenha sido admitido após a convocação da assembléia geral;

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II - seja ou tenha sido empregado da cooperativa, até a aprovação, pela assembléia geral,das contas do exercício em que deixou o emprego.

§ 5º O que ocorrer na assembléia geral deverá constar de ata lavrada em livro próprio, a qual,lida e aprovada, será assinada ao final dos trabalhos pelo secretário, pelo presidente daassembléia e por, no mínimo, três associados presentes.

SEÇÃO II

DA ASSEMBLÉIA GERAL ORDINÁRIAArt. 28. A Assembléia Geral Ordinária será realizada obrigatoriamente uma vez por ano, no

decorrer dos três primeiros meses após o término do exercício social, para deliberarsobre os seguintes assuntos, que deverão constar da ordem do dia:

I - prestação de contas do órgão de administração, acompanhada de parecer do ConselhoFiscal, compreendendo: relatório da gestão; balanços levantados no primeiro e segundosemestres do exercício social; demonstrativo das sobras apuradas ou das perdasdecorrentes da insuficiência das contribuições para cobertura das despesas da sociedade;

II - destinação das sobras apuradas, deduzidas as parcelas para os Fundos Obrigatórios, ourateio das perdas verificadas;

III - eleição dos componentes do órgão de administração e do Conselho Fiscal;IV - a fixação do valor dos honorários, das gratificações e da cédula de presença dos

membros do órgão de administração e do Conselho Fiscal;V - autorizar a alienação ou oneração dos bens imóveis de uso próprio da sociedade;VI - quaisquer assuntos de interesse social, excluídos os enumerados no artigo 46 da Lei nº

5.764, de 16.12.71.Parágrafo único. A aprovação do relatório, balanços e contas do órgão de administração não

desoneram de responsabilidade os administradores e os fiscais.

SEÇÃO III

DA ASSEMBLÉIA GERAL EXTRAORDINÁRIAArt. 29. A Assembléia Geral Extraordinária será realizada sempre que necessário e poderá

deliberar sobre qualquer assunto de interesse da cooperativa, desde que mencionado noedital de convocação.

Art. 30. É de competência exclusiva da Assembléia Geral Extraordinária deliberar sobre osseguintes assuntos:

I - reforma do estatuto social;II - fusão, incorporação ou desmembramento;III - mudança de objeto social;IV - dissolução voluntária da sociedade e nomeação de liquidante;V - contas do liquidante.

Parágrafo único. São necessários os votos de 2/3 dos associados presentes com direito devotar, para tornar válidas as deliberações de que trata este artigo.

SEÇÃO IV

DA ADMINISTRAÇÃOArt. 31. A cooperativa será administrada por uma Diretoria composta de no mínimo três e no

máximo seis membros, todos associados, eleitos pela Assembléia Geral com mandato

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de três anos, podendo ser reeleitos, sendo um Diretor Presidente, um Diretor Adminis-trativo, um Diretor Operacional e até três Diretores.

§ 1º A assembléia geral poderá deixar de eleger membros da Diretoria, enquanto preenchido olimite mínimo de três diretores.

§ 2º Os membros da Diretoria, depois de aprovada sua eleição pelo Banco Central do Brasil,serão investidos em seus cargos mediante termos de posse lavrados no Livro de Atas daDiretoria e permanecerão em exercício até a posse de seus substitutos.

§ 3º A assembléia geral poderá destituir os membros da Diretoria a qualquer tempo.Art. 32. Nas ausências ou impedimentos temporários inferiores a 60 dias corridos, o Diretor

Administrativo substituirá o Diretor Presidente e o Diretor Operacional será substituídopor este.

Art. 33. Nos casos de vacância dos cargos de Diretor Presidente, Diretor Administrativo ouDiretor Operacional, ou de ausências ou impedimentos superiores a 60 dias corridos, aDiretoria designará o substituto, dentre os seus membros, “ad referendum” da primeiraassembléia geral que se realizar.

Art. 34. A Diretoria reunir-se-á ordinariamente uma vez por mês, em dia e hora previamentemarcados, e extraordinariamente sempre que necessário, por proposta de qualquer umde seus integrantes ou do Conselho Fiscal, observando-se em ambos os casos as seguintesnormas:

I - as reuniões se realizarão com a presença mínima de três diretores;II - as deliberações serão tomadas pela maioria simples de votos dos presentes, cabendo ao

Diretor Presidente, em caso de empate, o voto de qualidade;III - os assuntos tratados e as deliberações tomadas constarão de atas lavradas no Livro de

Atas da Diretoria, assinadas pelos presentes;IV - suas deliberações serão incorporadas ao Sistema Normativo da Cooperativa.

Parágrafo único. Estará automaticamente destituído da Diretoria o membro que deixar decomparecer a três reuniões consecutivas, salvo se as ausências forem consideradasjustificadas pela Diretoria.

Art. 35. Compete à Diretoria a administração e a gestão dos negócios sociais, podendo realizartodas as operações e praticar os atos e serviços que se relacionem com o objeto dasociedade, cabendo-lhe deliberar, em reunião colegiada, basicamente sobre as seguintesmatérias, observadas as decisões ou recomendações da assembléia geral:

I - fixar diretrizes e planejar o trabalho de cada exercício, acompanhando a sua execução;II - programar as operações, tendo em vista os recursos disponíveis e as necessidades

financeiras dos associados;III - fixar periodicamente os montantes e prazos máximos dos empréstimos, bem como a

taxa de juros e outras referentes, de modo a atender o maior número possível deassociados;

IV - regulamentar os serviços administrativos da cooperativa, podendo contratar gerentestécnicos ou comerciais, bem como o pessoal auxiliar, mesmo que não pertençam aquadro de associados, fixando-lhes as atribuições e os salários;

V - fixar o limite máximo de numerários que poderá ser mantido em caixa;VI - estabelecer a política de investimentos;VII - estabelecer normas de controle das operações e verificar mensalmente o estado

econômico-financeiro da cooperativa, por meio dos informes financeiros, balancetese demonstrativos específicos;

Gilson Alceu Bittencourt

Estudos NEAD 4

112

VIII - estabelecer dia e hora para suas reuniões ordinárias, bem como o horário de funcio-namento da cooperativa;

IX - aprovar as despesas de administração e fixar taxas de serviços, elaborando orçamentospara o exercício;

X - deliberar sobre a admissão, eliminação ou exclusão de associados;

XI - fixar as normas de disciplina funcional;

XII - deliberar sobre a convocação da assembléia geral;

XIII - decidir sobre compra e venda de bens móveis e imóveis não destinados ao uso próprioda sociedade;

XIV - elaborar proposta sobre aplicação do Fundo de Assistência Técnica, Educacional eSocial (FATES) e encaminhá-la com parecer à assembléia geral;

XV - elaborar e submeter à decisão da assembléia geral proposta de criação de fundos;

XVI - propor à assembléia geral alterações no estatuto;

XVII - aprovar a indicação de Auditor Interno;

XVIII - aprovar o Regimento Interno e os Manuais de Organização, de Normas Operacionaise Administrativas e de Procedimentos da Cooperativa;

XIX - propor à assembléia geral a participação em capital de banco cooperativo, constituídonos termos da legislação vigente;

XX - conferir aos diretores as atribuições não previstas neste estatuto;

XXI - avaliar a atuação de cada um dos diretores e dos gerentes técnicos ou comerciais,adotando as medidas apropriadas;

XXII - zelar pelo cumprimento da legislação e regulamentação aplicáveis ao cooperativismode crédito, bem como pelo atendimento da legislação trabalhista e fiscal;

XXIII - estabelecer regras para os casos omissos, até posterior deliberação da assembléiageral.

Art. 36. Compete ao Diretor Presidente:

I - supervisionar as operações e atividades da cooperativa e fazer cumprir as decisões daDiretoria;

II - conduzir o relacionamento público e representar a cooperativa em juízo ou fora dele,ativa e passivamente;

III - convocar a assembléia geral, cuja realização tenha sido decidida pela Diretoria, epresidi-la com as ressalvas legais;

IV - convocar e presidir as reuniões da Diretoria;

V - coordenar a elaboração do relatório de prestação de contas da Diretoria, ao término doexercício social, para apresentação à assembléia geral acompanhado dos balançossemestrais, demonstrativos das sobras líquidas ou perdas apuradas e parecer do ConselhoFiscal;

VI - desenvolver outras atribuições que lhe sejam conferidas pela Diretoria;VII - resolver os casos omissos, em conjunto com o Diretor Administrativo ou o Diretor

Operacional.Art. 37. Compete ao Diretor Administrativo:

I - dirigir as atividades administrativas no que tange às políticas de recursos humanos,tecnológicos e materiais;

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113Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS)Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD)Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (CNDRS)

II - executar as políticas e diretrizes de recursos humanos, tecnológicos e materiais;III - orientar e acompanhar a contabilidade da cooperativa, de forma a permitir uma visão

permanente da sua situação econômica, financeira e patrimonial;IV - zelar pela eficiência, eficácia e efetividade dos sistemas informatizados e de telecomu-

nicações;V - decidir, em conjunto com o Diretor Presidente, sobre a admissão e a demissão de

pessoal;VI - coordenar o desenvolvimento das atividades sociais e sugerir à Diretoria as medidas que

julgar convenientes;VII - lavrar ou coordenar a lavratura das atas das assembléias gerais e das reuniões da

Diretoria;VIII - assessorar o Diretor Presidente nos assuntos de sua área;IX - orientar, acompanhar e avaliar a atuação do pessoal de sua área;X - substituir o Diretor Presidente e o Diretor Operacional;XI - desenvolver outras atribuições que lhe sejam conferidas pela Diretoria;XII - resolver os casos omissos, em conjunto com o Diretor Presidente.

Art. 38. Compete ao Diretor Operacional:I - dirigir as funções correspondentes às atividades fins da cooperativa (operações ativas,

passivas, acessórias e especiais, cadastro, recuperação de crédito, etc.);II - executar as atividades operacionais no que tange à concessão de empréstimos, à oferta

de serviços e à movimentação de capital;III - executar as atividades relacionadas com as funções financeiras (fluxo de caixa, captação

e aplicação de recursos, demonstrações financeiras, análises de rentabilidade, de custos,de risco, etc.).

IV - zelar pela segurança dos recursos financeiros e outros valores mobiliários;V - acompanhar as operações em curso anormal, adotando as medidas e controles necessários

para sua regularização;VI - elaborar as análises mensais sobre a evolução das operações, a serem apresentadas à

Diretoria;VII - responsabilizar-se pelos serviços atinentes à área contábil da cooperativa, cadastro e

manutenção de contas de depósitos;VIII - assessorar o Diretor Presidente nos assuntos de sua área;IX - orientar, acompanhar e avaliar a atuação do pessoal de sua área;X - substituir o Diretor Administrativo;XI - desenvolver outras atribuições que lhe sejam conferidas pela Diretoria;XII - resolver os casos omissos, em conjunto com o Diretor Presidente.

Art. 39. Os cheques emitidos pela cooperativa, cartas e ordens de crédito, endossos, fianças,avais, recibos de depósito cooperativo, instrumentos de procuração, contratos comterceiros e demais documentos, constitutivos de responsabilidade ou obrigação dacooperativa, devem ser assinados conjuntamente por dois diretores ou por 1 um diretore um gerente técnico ou comercial.

Art. 40. Os administradores respondem solidariamente pelas obrigações assumidas pelacooperativa durante a sua gestão, até que se cumpram. Havendo prejuízos, aresponsabilidade solidária se circunscreverá ao respectivo montante.

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Art. 41. Os componentes do órgão de administração e do Conselho Fiscal, bem como oliquidante, equiparam-se aos administradores das sociedades anônimas para efeito deresponsabilidade criminal.

Art. 42. Sem prejuízo da ação que couber ao associado, a cooperativa, por seus administradores,ou representada por associado escolhido em assembléia geral, terá direito de açãocontra os administradores, para promover sua responsabilidade.

SEÇÃO V

DO CONSELHO FISCALArt. 43. A administração da sociedade será fiscalizada, assídua e minuciosamente, por um

Conselho Fiscal, constituído de três membros efetivos e três suplentes, todos associadoseleitos anualmente pela Assembléia Geral, sendo permitida a reeleição de apenas umdos efetivos e um dos suplentes.

§ 1º Os membros do Conselho Fiscal, depois de aprovada sua eleição pelo Banco Central doBrasil, serão investidos em seus cargos mediante termos de posse lavrados no Livro deAtas do Conselho Fiscal, e permanecerão em exercício até a posse de seus substitutos.

§ 2º No caso de vacância de cargo efetivo do Conselho Fiscal será efetivado membro suplente,obedecida a ordem de votação e, havendo empate, de antigüidade como associado à cooperativa.

§ 3º A assembléia geral poderá destituir os membros do Conselho Fiscal a qualquer tempo.Art. 44. O Conselho Fiscal reunir-se-á ordinariamente uma vez por mês, em dia e hora

previamente marcados, e extraordinariamente sempre que necessário, por proposta dequalquer um de seus integrantes, observando-se em ambos os casos as seguintes normas:

I - as reuniões se realizarão sempre com a presença dos três membros efetivos;II - as deliberações serão tomadas pela maioria de votos dos presentes;III - os assuntos tratados e as deliberações tomadas constarão de atas lavradas no Livro de

Atas do Conselho Fiscal, assinadas pelos presentes.§ 1º Na sua primeira reunião, os membros efetivos do Conselho Fiscal escolherão entre si um

coordenador, incumbido de convocar e dirigir os trabalhos das reuniões, e um secretáriopara lavrar as atas.

§ 2º Estará automaticamente destituído do Conselho Fiscal o membro efetivo que deixar decomparecer a quatro convocações consecutivas para reunião, salvo se as ausênciasforem consideradas justificadas pelos demais membros efetivos.

Art. 45. No desempenho de suas funções, o Conselho Fiscal poderá valer-se de informações dosdiretores ou funcionários da cooperativa, ou da assistência de técnico externo, quandoa importância ou complexidade dos assuntos o exigirem e às expensas da sociedade,cabendo-lhe entre outras as seguintes obrigações:

I - examinar a situação dos negócios sociais, das receitas e das despesas, dos pagamentos erecebimentos, operações em geral e outras questões econômicas, verificando sua adequadae regular escrituração;

II - verificar, mediante exame dos livros de atas e outros registros, se as decisões adotadasestão sendo corretamente implementadas;

III - observar se o órgão de administração vem se reunindo regularmente e se existemcargos vagos na sua composição, que necessitem preenchimento;

IV - inteirar-se das obrigações da cooperativa em relação às autoridades monetárias,fiscais, trabalhistas ou administrativas, aos associados e verificar se existempendências no seu cumprimento;

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115Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS)Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD)Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (CNDRS)

V - verificar os controles sobre valores e documentos sob custódia da cooperativa;VI - avaliar a execução da política de empréstimos e a regularidade do recebimento de

créditos;VII - averiguar a atenção dispensada às reclamações dos associados;VIII - analisar balancetes mensais e balanços gerais, demonstrativos de sobras e perdas,

assim como o relatório de gestão e outros, emitindo parecer sobre esses documentospara a assembléia geral;

IX - inteirar-se dos relatórios de auditoria e verificar se as observações neles contidas estãosendo devidamente consideradas pelo órgão de administração e pelos gerentes;

X - exigir, do órgão de administração ou de quaisquer de seus membros, relatórios específicos,declarações por escrito ou prestação de esclarecimentos;

XI - apresentar ao órgão de administração, com periodicidade mínima trimestral, relatóriocontendo conclusões e recomendações decorrentes da atividade fiscalizadora;

XII - apresentar, à assembléia geral ordinária, relatório sobre suas atividades e pronunciar-se sobre a regularidade dos atos praticados pelo órgão de administração e eventuaispendências da cooperativa;

XIII - instaurar inquéritos e comissões de averiguação mediante prévia anuência da assembléia geral;XIV - convocar assembléia geral extraordinária nas circunstâncias previstas neste estatuto.

Parágrafo único . Os membros efet ivos do Conselho Fiscal são sol idar iamenteresponsáveis pelos atos e fatos irregulares da administração da cooperativa, cujaprát ica decorra de sua omissão, displicência, fal ta de acuidade, de prontaadvertência ao órgão de administração e, na inércia ou renitência deste, deoportuna denúncia à assembléia geral.

CAPÍTULO VII

DO BALANÇO, SOBRAS, PERDAS E FUNDOS

Art. 46. O balanço e o demonstrativo de sobras e perdas serão levantados semestralmente, em30 de junho e 31 de dezembro de cada ano, devendo também ser levantado mensalmentebalancete de verificação.

§ 1º Das sobras líquidas apuradas no exercício, serão deduzidos os seguintes percentuais para osFundos Obrigatórios:

I - 10% para o Fundo de Reserva;

II - 5% para o Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social - FATES.

§ 2º As sobras líquidas, deduzidas as parcelas destinadas aos Fundos Obrigatórios, serão distribuídasaos associados proporcionalmente às operações realizadas com a cooperativa, salvodeliberação em contrário da assembléia geral, sempre respeitada a proporcionalidadedo retorno.

§ 3º Os prejuízos, verificados no decorrer do exercício, serão cobertos com recursos provenientesdo Fundo de Reserva e, se este for insuficiente, mediante rateio entre os associados, narazão direta dos serviços usufruídos.

Art. 47. Reverterão em favor do Fundo de Reserva as rendas não operacionais e os auxílios oudoações sem destinação específica.

Art. 48. O Fundo de Reserva destina-se a reparar perdas e atender ao desenvolvimento dasatividades da cooperativa.

Gilson Alceu Bittencourt

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Art. 49. O Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social - FATES destina-se à prestaçãode assistência aos associados e seus familiares, e aos empregados da cooperativa,segundo programa aprovado pela assembléia geral.

Parágrafo único. Os serviços a serem atendidos pelo FATES poderão ser executados medianteconvênio com entidades públicas ou privadas.

Art. 50. Os Fundos Obrigatórios constituídos são indivisíveis entre os associados, mesmo noscasos de dissolução ou liquidação da cooperativa, hipótese em que serão recolhidos àUnião na forma legal.

CAPÍTULO VIII

DA DISSOLUÇÃO E LIQUIDAÇÃOArt. 51. A cooperativa se dissolverá nos casos a seguir especificados, oportunidade em que

serão nomeados um liquidante e um Conselho Fiscal de três membros para proceder àsua liquidação:

I - quando assim o deliberar a assembléia geral, se pelo menos 20 associados não sedispuserem a assegurar a sua continuidade;

II - devido à alteração de sua forma jurídica;III - pela redução do número mínimo de associados ou do capital social mínimo, se até a

assembléia geral subseqüente, realizada em prazo não inferior a seis meses, eles nãoforem restabelecidos;

IV - pelo cancelamento da autorização para funcionar;V - pela paralisação de suas atividades por mais de 120 dias corridos.

§ 1º O processo de liquidação só poderá ser iniciado após a audiência do Banco Central doBrasil.

§ 2º Em todos os atos e operações, o liquidante deverá usar a denominação da cooperativa,seguida da expressão: “Em liquidação”.

§ 3º A dissolução da sociedade importará no cancelamento da autorização para funcionar edo registro.

§ 4º A assembléia geral poderá destituir o liquidante e os membros do Conselho Fiscal a qualquertempo, nomeando os seus substitutos.

Art. 52. O liquidante terá todos os poderes normais de administração, podendo praticar atos eoperações necessários à realização do ativo e pagamento do passivo.

CAPÍTULO IX

DAS DISPOSIÇÕES GERAISArt. 53. Dependem da prévia e expressa aprovação do Banco Central do Brasil os atos societários

deliberados pela cooperativa, referentes a:I – eleição de membros do órgão de administração e do Conselho Fiscal;II – reforma do estatuto social;III – mudança do objeto social;III – fusão, incorporação ou desmembramento;IV – dissolução voluntária da sociedade e nomeação do liquidante e dos fiscais.

Art. 54. Não pode haver parentesco até o segundo grau, em linha reta ou colateral, dentre o

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117Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS)Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD)Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (CNDRS)

agrupamento de pessoas componentes do órgão de administração e do Conselho Fiscal.Art. 55. É vedado aos membros de órgãos estatutários e aos ocupantes de funções de gerência

participar da administração ou deter 5% ou mais do capital de qualquer instituiçãofinanceira não cooperativa.

Art. 56. Constituem condições básicas, legais ou regulamentares, para o exercício de cargos doórgão de administração ou do Conselho Fiscal da cooperativa:

I – ter reputação ilibada;II - não ser impedido por lei especial, nem condenado por crime falimentar, de sonegação

fiscal, de prevaricação, de corrupção ativa ou passiva, de concussão, de peculato,contra a economia popular, a fé pública, a propriedade ou o Sistema Financeiro Nacional,ou condenado a pena criminal que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargospúblicos;

III – não estar declarado inabilitado para cargos de administração nas instituições financeirase demais sociedades autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil ou em outrasinstituições sujeitas à autorização, ao controle e à fiscalização de órgãos e entidades daadministração pública direta e indireta, incluídas as entidades de previdência privada, associedades seguradoras, as sociedades de capitalização e as companhias abertas;

IV – não responder, nem qualquer empresa da qual seja controlador ou administrador, porpendências relativas a protesto de títulos, cobranças judiciais, emissão de cheques semfundos, inadimplemento de obrigações e outras ocorrências ou circunstâncias análogas;

V – não estar declarado falido ou insolvente, nem ter participado da administração ou tercontrolado firma ou sociedade concordatária ou insolvente.

Parágrafo único. Da ata da assembléia geral de eleição de membros de órgãos estatutários,deverá constar, expressamente, que os eleitos preenchem as condições previstas nesteartigo, sendo que a comprovação desse cumprimento será efetuada, perante a cooperativae o Banco Central do Brasil, por meio de declaração firmada pelos pretendentes.

Art. 57. A filiação ou desfiliação da sociedade à cooperativa central de crédito deverá serdeliberada pela assembléia geral.

§ 1º A filiação pressupõe autorização à cooperativa central de crédito para supervisionar ofuncionamento da sociedade e nela realizar auditorias, podendo, para tanto, examinarlivros e registros de contabilidade e outros papéis, ou documentos ligados às suasatividades, e coordenar o cumprimento das disposições regulamentares referentes àimplementação de sistema de controles internos.

§ 2º Para participar do processo de centralização financeira, a sociedade deverá estruturar-seadequadamente, segundo orientações emanadas da cooperativa central de crédito.

§ 3º A cooperativa responderá solidariamente com o respectivo patrimônio, pelas obrigaçõescontraídas pela cooperativa central de crédito, exclusivamente em decorrência de sua participaçãono Serviço de Compensação de Cheques e Outros Papéis.

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Anexo 3 - continuação

Estatuto Social - ComplementosArtigos específicos, conforme o tipo da cooperativa

TIPO I

COOPERATIVA DE CRÉDITO MÚTUO DE EMPREGADOS (ou servidores)

CAPÍTULO I

DA NATUREZA, DENOMINAÇÃO, SEDE, FORO, ÁREA DE AÇÃO,PRAZO DE DURAÇÃO E EXERCÍCIO SOCIAL

Art. 1º A COOPERATIVA DE CRÉDITO MÚTUO DOS EMPREGADOS (ou servidores) DA.......... (denominação da entidade empregadora, ou conglomerado econômico, ouclasse de entidades de mesmo objeto social), constituída em ............ (data da assem-bléia geral de constituição), é uma instituição financeira, sociedade de pessoas, denatureza civil, sem fins lucrativos e não sujeita à falência. Rege-se pelo disposto nas Leisnºs. 5.764, de 16.12.1971, e 4.595, de 31.12.1964, nos atos normativos baixados peloConselho Monetário Nacional e pelo Banco Central do Brasil e por este estatuto, tendo:

I - sede social, administração e foro jurídico na cidade de ... (cidade/UF);II - área de ação circunscrita às dependências da (denominação da entidade empregadora,

ou conglomerado econômico, ou classe de entidades de mesmo objeto social, confor-me o caso específico), localizadas em ...... (um ou mais municípios/UF, ou microrregiãogeográfica, ou estado/UF);

III - prazo de duração indeterminado e exercício social de 12 meses, com término em 31 dedezembro de cada ano.

CAPÍTULO II

DO OBJETO SOCIALArt. 2º A cooperativa tem por objeto social:

I – o desenvolvimento de programas de poupança, de uso adequado do crédito e de prestaçãode serviços, praticando todas as operações ativas, passivas e acessórias próprias decooperativas de crédito;

II – proporcionar, por meio da mutualidade, assistência financeira aos associados em suasatividades específicas;

III – a formação educacional de seus associados, no sentido de fomentar o cooperativismo;Parágrafo único. A cooperativa é politicamente neutra e não faz discriminação religiosa, racial

ou social.

CAPÍTULO III

DOS ASSOCIADOSArt. 3º Podem associar-se à cooperativa todas as pessoas físicas que estejam na plenitude de sua

capacidade civil, concordem com o presente estatuto, preencham as condições neleestabelecidas e sejam empregados (ou servidores) da ... (denominação da entidadeempregadora ou conglomerado econômico, ou classe de entidades de mesmo objetosocial, conforme o caso específico).

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§ 1º Podem associar-se também:

I – empregados da própria cooperativa, das entidades a ela associadas e daquelas de cujo capitalparticipe;

II – pessoas físicas, prestadoras de serviço em caráter não-eventual a ... (denominação daentidade empregadora ou conglomerado econômico, ou classe de entidades de mesmoobjeto social);

III - pessoas físicas, prestadoras de serviço em caráter não-eventual à própria cooperativa;

IV - aposentados que, quando em atividade, atendiam aos critérios estatutários de associação;

V – pais, cônjuge ou companheiro (a), viúvo (a) e dependente legal de associado, e pensionista deassociado falecido;

VI - pessoas jurídicas sem fins lucrativos, exceto cooperativas de crédito.

§ 2º O número de associados será ilimitado quanto ao máximo, não podendo ser inferior a 20 )pessoas físicas.

Art. 4º ...

TIPO II

COOPERATIVA DE CRÉDITO MÚTUO DE PROFISSIONAIS

CAPÍTULO I

DA NATUREZA, DENOMINAÇÃO, SEDE, FORO, ÁREA DE AÇÃO,PRAZO DE DURAÇÃO E EXERCÍCIO SOCIAL

Art. 1º A COOPERATIVA DE CRÉDITO MÚTUO DOS ......... (designação da profissão exercidapelas pessoas físicas associadas, ou atividade específica, ou conjunto definido de pro-fissões ou atividades cujos objetos sejam idênticos, afins ou complementares ou campogenérico dessas profissões ou atividades) DE ......... (designação da localidade da áreade ação da cooperativa), constituída em ......... (data da assembléia geral de constitui-ção), é uma instituição financeira, sociedade de pessoas, de natureza civil, sem finslucrativos e não sujeita a falência. Rege-se pelo disposto nas Leis nºs. 5.764, de 16.12.1971,e 4.595, de 31.12.1964, nos atos normativos baixados pelo Conselho Monetário Naci-onal e pelo Banco Central do Brasil e por este estatuto, tendo:

I - sede social, administração e foro jurídico na cidade de ... (cidade/UF);

II - área de ação limitada a ... (município/UF, ou municípios/UF limítrofes, ou microrregiãogeográfica, ou estado/UF, conforme o caso específico);

III - prazo de duração indeterminado e exercício social de 12 meses, com término em 31 dedezembro de cada ano.

CAPÍTULO II

DO OBJETO SOCIALArt. 2º A cooperativa tem por objeto social:

I – o desenvolvimento de programas de poupança, de uso adequado do crédito e de prestaçãode serviços, praticando todas as operações ativas, passivas e acessórias próprias decooperativas de crédito;

Gilson Alceu Bittencourt

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II – proporcionar, por meio da mutualidade, assistência financeira aos associados em suasatividades específicas, buscando apoiar e aprimorar a produção, a produtividade e aqualidade de vida, bem assim a comercialização e industrialização dos bens produzidos;

III – a formação educacional de seus associados, no sentido de fomentar o cooperativismo.Parágrafo único. A cooperativa é politicamente neutra e não faz discriminação religiosa, racial

ou social.

CAPÍTULO III

DOS ASSOCIADOSArt. 3º Podem associar-se à cooperativa todas as pessoas físicas que estejam na plenitude de sua

capacidade civil, concordem com o presente estatuto, preencham as condições neleestabelecidas e exerçam, na área de ação da cooperativa, atividades pertencentes aoagrupamento dos ... (designação da profissão regulamentada, ou determinada atividadeespecífica, ou conjunto definido de profissões ou atividades cujos objetos sejam idênticos,afins ou complementares ou campo genérico dessas profissões ou atividades, conformeo caso específico), conforme Classificação Brasileira de Ocupações – CBO, divulgadapelo Ministério do Trabalho.

§ 1º Podem associar-se também:I - empregados da própria cooperativa, das entidades a ela associadas e daquelas de cujo

capital participe;II - pessoas físicas prestadoras de serviço em caráter não-eventual à própria cooperativa;III - aposentados que, quando em atividade, atendiam aos critérios estatutários de associação;IV – pais, cônjuge ou companheiro (a), viúvo (a) e dependente legal de associado, e pensionista

de associado falecido;V – excepcionalmente, pessoas jurídicas sem fins lucrativos, exceto cooperativas de crédito;VI – excepcionalmente, pessoas jurídicas que tenham por objeto as mesmas ou correlatas

atividades econômicas das pessoas físicas associadas.§ 2º O número de associados será ilimitado quanto ao máximo, não podendo ser inferior a 20

(vinte) pessoas físicas.Art. 4º ...

TIPO III

COOPERATIVA DE CRÉDITO RURAL

CAPÍTULO I

DA NATUREZA, DENOMINAÇÃO, SEDE, FORO, ÁREA DE AÇÃO,PRAZO DE DURAÇÃO E EXERCÍCIO SOCIAL

Art. 1º A COOPERATIVA DE CRÉDITO RURAL DE ... (designação da localidade da área deação da cooperativa), constituída em ... (data da assembléia geral de constituição), éuma instituição financeira, sociedade de pessoas, de natureza civil, sem fins lucrativos enão sujeita a falência. Rege-se pelo disposto nas Leis nºs. 5.764, de 16.12.1971, e 4.595,de 31.12.1964, nos atos normativos baixados pelo Conselho Monetário Nacional e peloBanco Central do Brasil e por este estatuto, tendo:

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I - sede social, administração e foro jurídico na cidade de ... (cidade/UF);II - área de ação limitada a ... (município/UF, ou municípios/UF limítrofes, ou microrregião

geográfica, ou estado/UF, conforme o caso específico);III - prazo de duração indeterminado e exercício social de 12 meses, com término em 31 de

dezembro de cada ano.

CAPÍTULO II

DO OBJETO SOCIALArt. 2º A cooperativa tem por objeto social:

I – o desenvolvimento de programas de poupança, de uso adequado do crédito e de prestaçãode serviços, praticando todas as operações ativas, passivas e acessórias próprias decooperativas de crédito;

II – proporcionar, por meio da mutualidade, assistência financeira aos associados em suasatividades específicas, buscando apoiar e aprimorar a produção, a produtividade e aqualidade de vida, bem assim a comercialização e industrialização dos bens produzidos;

III – a formação educacional de seus associados, no sentido de fomentar o cooperativismo.Parágrafo único. A cooperativa é politicamente neutra e não faz discriminação religiosa, racial

ou social.

CAPÍTULO III

DOS ASSOCIADOSArt. 3º Podem associar-se à cooperativa todas as pessoas físicas que estejam na plenitude de sua

capacidade civil, concordem com o presente estatuto, preencham as condições neleestabelecidas e desenvolvam, na área de ação da cooperativa, de forma efetiva epredominante, atividades agrícolas, pecuárias ou extrativas, ou se dediquem a operaçõesde captura e transformação do pescado.

§ 1º Podem associar-se também:I - empregados da própria cooperativa, das entidades a ela associadas e daquelas de cujo

capital participe;II - pessoas físicas prestadoras de serviço em caráter não-eventual à própria cooperativa;III - aposentados que, quando em atividade, atendiam aos critérios estatutários de associação;IV – pais, cônjuge ou companheiro (a), viúvo (a) e dependente legal de associado, e pensionista

de associado falecido;V – excepcionalmente, pessoas jurídicas sem fins lucrativos, exceto cooperativas de crédito;VI – excepcionalmente, pessoas jurídicas que tenham por objeto as mesmas atividades

econômicas das pessoas físicas associadas.§ 2º O número de associados será ilimitado quanto ao máximo, não podendo ser inferior a 20

(vinte) pessoas físicas.Art. 4º ...

Gilson Alceu Bittencourt

Estudos NEAD 4

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Anexo 3 - continuação

Estatuto Social - ComplementosArtigos específicos para cooperativas com voto por meio de delegados)

DELEGADOS

DISCIPLINAMENTO DO INSTITUTO DA REPRESENTAÇÃO DOS ASSOCIADOS NASASSEMBLÉIAS GERAIS POR MEIO DE DELEGADOS

Art. 23. Nas assembléias gerais os associados serão representados por 24 delegados eleitos paraum mandato de quatro anos, podendo ser reeleitos.

§ 1º Para efeito da representação de que trata este artigo o quadro social será dividido em gruposseccionais de 1/24 (um vinte e quatro avos) de associados distribuídos proporcionalmentepelas regiões da área de ação da cooperativa.

§ 2º Em cada grupo seccional serão eleitos um delegado efetivo e um delegado suplente, os doismais votados, respectivamente, entre os associados que estejam em pleno gozo de seusdireitos sociais. Para efeito de desempate, serão adotados os critérios de antigüidadecomo associado à cooperativa e de idade, nesta ordem.

§ 3º Mediante edital, no qual se fará referência aos princípios definidos no “caput” deste artigo,a cooperativa convocará todos os associados, concedendo prazo de 30 dias para inscriçãodos interessados em se candidatar. A seguir, divulgará para todo o corpo social os nomesdos candidatos inscritos por grupo seccional.

§ 4º A eleição dos delegados ocorrerá no último trimestre do ano civil e o mandato se iniciará noprimeiro dia do ano subseqüente.

§ 5º O processo eleitoral, até a apuração final, será acompanhado irrestritamente por umacomissão paritária, escolhida pelo órgão de administração e pelo Conselho Fiscal dacooperativa.

§ 6º Cada delegado disporá de um voto.§ 7º Durante o mandato os delegados não poderão ser eleitos para outros cargos sociais na

cooperativa, remunerados ou não.§ 8º Os delegados, para comparecimento às assembléias gerais, terão cobertura financeira da

cooperativa para passagens, diárias de hotel e traslados, não recebendo, entretanto,qualquer remuneração pela presença.

§ 9º Nos seus impedimentos ou ausências, o delegado efetivo será automaticamente substituídopelo respectivo suplente, devendo o substituído comunicar à cooperativa,tempestivamente, as circunstâncias do seu impedimento.

§ 10 Os associados que não sejam delegados poderão comparecer às assembléias gerais, sendo,contudo, privados de voz e voto.

§ 11 Os delegados efetivos e seus suplentes poderão ser destituídos a qualquer tempo pelosrespectivos grupos seccionais que os elegeram, por intermédio de comunicação formalao órgão de administração da cooperativa, firmada por, no mínimo, 10% dos associadosda seccional, com cópia endereçada ao delegado destituído. Poderão sê-lo, também, pelaassembléia geral, mediante proposta do órgão de administração ou de, pelo menos, cincodelegados efetivos.

Art. 24 Não se conseguindo realizar assembléia geral de delegados por falta de “quorum”, será

Cooperativas de Crédito Solidário

123Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS)Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD)Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (CNDRS)

reiterada a convocação para nova data. Persistindo a impossibilidade de reunião nessasegunda tentativa consecutiva, será automaticamente convocada assembléia geral deassociados para reformar o estatuto social da cooperativa, extinguindo o instituto darepresentação por delegados e, conseqüentemente, reduzindo a amplitude da área de açãode modo a possibilitar a reunião dos associados.

Art. 25 O edital de convocação deve conter:I - a denominação da Cooperativa, seguida da expressão: Convocação da Assembléia Geral

Ordinária ou Extraordinária;II - o dia e hora da Assembléia em cada convocação, assim como o local da sua realização;III - a seqüência numérica da convocação;IV - a ordem do dia dos trabalhos, com as devidas especificações;V - o número de delegados existentes na data da expedição, para efeito de cálculo de “quorum”

de instalação;VI - local, data, nome e assinatura do responsável pela convocação.

Parágrafo único. No caso de a convocação ser feita por associados, o edital deve ser assinado,no mínimo, por quatro dos signatários do documento que a solicitou.

Art. 26 O “quorum” mínimo de instalação da assembléia geral é o seguinte:I – 2/3 dos delegados, em primeira convocação;II – metade mais um dos delegados, em segunda convocação;III – 10 delegados, em terceira convocação.

Art. 27 (renumerar os artigos 25 e seguintes do texto original)

Gilson Alceu Bittencourt

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Anexo 4 - Requerimento para a constituição da cooperativa

A OBANCO CENTRAL DO BRASILDEP. DE ORGANIZAÇÃO E AUTORIZAÇÕES BANCÁRIASBRASÍLIA - DF

SENHOR CHEFE:Encaminhamos à consideração de Vossa Senhoria a documentação pertinente à

constituição da COOPERATIVA ...........................................................................................,sito a ............... solicitando, nos termos da Lei nº 5.764/71 e do Manual de Normas Internas(MNI) - 17 desse Banco Central, a competente Autorização de Funcionamento.

A documentação consta dos seguintes instrumentos:a) Edital de convocação:

! folha de jornal - 1 via;! afixado no sindicato da categoria - 1 via;! enviado aos interessados - 1 via;

b) Ata de Constituição da Cooperativa de Crédito - 4 vias;c) Estatuto Social consolidado - 4 vias;d) Lista nominativa dos associados fundadores - 2 vias;e) Formulários cadastrais - 1 via;f) Cadastro de informações sobre Ato de Eleição ou Nomeação - 2 vias;g) Terceira via de recibo de depósito do capital integralizado no valor de R$ ...

(........);h) Declaração de inexistência de grau de parentesco entre diretores da cooperativa-

1 via;i) Declaração de aptidão 1 via (Resolução nº 2.645);j) Ata da reunião da diretoria contendo a designação dos diretores responsáveis

pela área contábil, pelas contas de depósito e pelo cumprimento das medidasestabelecidas na Circular nº 2.852/98 (lavagem de dinheiro - Lei nº 9.613/98).

Tendo cumprido todas as exigências legais e normativas, esperamos a autorizaçãodesse Banco Central para darmos início às nossas atividades e, na oportunidade apresentamosa V. Sr.ª os nossos protestos de estima e apreço.

COOPERATIVA ........................................................................................................

........, ......de .................... de ...........

______________________________________

(nome)...........................................................

PRESIDENTE

______________________________________

(nome)...........................................................

SECRETÁRIO

Cooperativas de Crédito Solidário

125Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS)Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD)Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (CNDRS)

Anexo 5 - Declaração de desimpedimento

Gilson Alceu Bittencourt

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Anexo 6 - Recibo de Depósito para a Constituição

CÓDIGO CADOC 44.1.9.090

RECIBO DE DEPÓSITO PARA CONSTITUIÇÃO OU AUMENTO DE CAPITAL

NOME DA INSTITUIÇÃO: COOPERATIVA DE CRÉDITO...................................

.....................................................................................................

ENDEREÇO: .........................................................................................................

.....................................................................................................

Em cumprimento ao disposto no artigo 27, § 1º, da Lei nº 4.595/64, recolhemos aoBanco Central do Brasil a importância de R$ .... (.......), proveniente da quantia querecebemos dos subscritos, conforme lista de subscrição anexa.

..........................., .......... de .............. de .............

______________________________________

(nome)...........................................................

PRESIDENTE

______________________________________

(nome)...........................................................

SECRETÁRIO

Cooperativas de Crédito Solidário

127Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS)Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD)Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (CNDRS)

Anexo 7 - Formulário Cadastral

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Anexo 8 - Declaração de Responsabilidade para o Conselheiro de Administração

DECLARAÇÃO

O abaixo subscritor, tendo sido eleito para compor o cargo do Conselho de Administração- Conselheiro da Cooperativa de Crédito ................................................................................ ..........................................................................................., declara perante o Banco Centraldo Brasil que:

I - Preenche as condições estabelecidas no art. 2. da Resolução nº 2.645, de 22 desetembro de 1999, para exercício do cargo para que foi eleito;

II - Assume integral responsabilidade pela fidelidade das declarações ora prestadas,ficando o Banco Central do Brasil desde já autorizado a delas fazer, nos limites legais e em juízoou fora dele, o uso que lhe aprouver.

........................., ......... de ............. de .............

______________________________________(nome)..........................................................CPF............................................................

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129Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS)Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD)Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (CNDRS)

Anexo 9 - Declaração de Inexistência de Parentesco

Gilson Alceu Bittencourt

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Anexo 10 - Declaração de inexistência de débitos

Cooperativas de Crédito Solidário

131Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS)Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD)Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (CNDRS)

Anexo 11 - Declaração de inexistência de débitos junto ao CADIN

Gilson Alceu Bittencourt

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Anexo 12 - Declaração de Bens dos Conselheiros de Administração

Cooperativas de Crédito Solidário

133Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS)Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD)Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (CNDRS)

Anexo 13 - Declaração de Bens dos Conselheiros Fiscais

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Anexo 14 - Comunicação ao Bacen do Arquivamento na Junta Comercial

Cooperativas de Crédito Solidário

135Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS)Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD)Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (CNDRS)

Anexo 15 - Comunicação ao Bacen do Início das Atividades

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Anexo 16 - Modelo do Bacen para Edital de Convocação de Assembléia

Cooperativas de Crédito Solidário

137Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS)Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD)Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (CNDRS)

Anexo 17 - Modelo do Bacen para Ata Sumária de Assembléia

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Cooperativas de Crédito Solidário

139Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS)Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD)Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (CNDRS)

Anexo 18 - Informações Sobre o Ato de Eleição ou Nomeação

Gilson Alceu Bittencourt

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141Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS)Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD)Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (CNDRS)

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143Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS)Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD)Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (CNDRS)