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Controlo da qualidade na execução de elementos não estruturais exteriores de um edifício – alvenaria de tijolo Manuel Gaspar de Sousa Tafula Dissertação para a obtenção do grau de Mestre em Engenharia Civil Júri Presidente: Professor Doutor António Heleno Domingues Moret Rodrigues Orientador: Professor Doutor Luís Manuel Alves Dias Co-Orientador: Engenheiro Nuno Gonçalo Cordeiro Marques de Almeida Vogal: Professor Doutor Manuel dos Santos Fonseca Outubro de 2009

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Controlo da qualidade na execução de elementos não estruturais exteriores de um edifício – alvenaria de tijolo

Manuel Gaspar de Sousa Tafula

Dissertação para a obtenção do grau de Mestre em

Engenharia Civil

Júri

Presidente: Professor Doutor António Heleno Domingues Moret Rodrigues

Orientador: Professor Doutor Luís Manuel Alves Dias

Co-Orientador: Engenheiro Nuno Gonçalo Cordeiro Marques de Almeida

Vogal: Professor Doutor Manuel dos Santos Fonseca

Outubro de 2009

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AGRADECIMENTOS

Ao Professor Doutor Luís Manuel Alves Dias pela sua orientação, apoio, sugestões e críticas;

Ao Senhor Engenheiro Nuno Gonçalo Cordeiro Marques de Almeida pela sua co-orientação, ajuda

na recolha de bibliografia e discussão construtiva no decurso desta dissertação;

A todos os colegas, professores e funcionários do Técnico que contribuíram para que guarde boas

memórias desta etapa;

A Lisboa, a Benagil, a Imbassay, a todos os lugares sem nome que me deixaram sem palavras e à

Trapa que me ensinou que lugares são pessoas.

Às Marias e ao João que, por justaposição ou feliz aglutinação, são minha-vida e vidafeliz.

Se o agradecimento tem na sua raiz a graça de agradar, pois que tenha no tronco a verdade, nos

ramos a liberdade e nas folhas a sinceridade de quem homenageia com um sorriso sincero.

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RESUMO

Apesar do grande esforço de investigação desenvolvido nas últimas décadas no domínio da

construção, verifica-se que a patologia não estrutural dos edifícios é um fenómeno crescente em muitos

países.

Esta dissertação pretende aprofundar o conhecimento da actual situação portuguesa no controlo da

qualidade na fase de execução de elementos não estruturais exteriores de um edifício - alvenarias de

tijolo, apresentando-se sugestões com vista a contribuir para uma melhoria da qualidade dos edifícios.

O trabalho teve como suporte, para além da bibliografia existente nesta matéria, entrevistas

realizadas com profissionais ligados à área da qualidade na actividade da construção em Portugal e

ainda as experiências francesa e espanhola neste domínio.

Cumprindo o principal objectivo do trabalho desenvolve-se uma metodologia de controlo da

qualidade na execução de alvenarias de tijolo.

Retira-se como conclusões do trabalho que as alvenarias de tijolo, sendo um elemento por natureza

sobrepostos por camadas de acabamento, reboco e pintura, só através do conhecimento das

características dos materiais e correctos procedimentos de execução, acompanhado pela sua

normalização e controlo da qualidade, poderão aumentar a qualidade da construção, no que respeita ao

seu desempenho funcional. A metodologia desenvolvida deu uma contribuição parcelar para este vasto

domínio de investigação, definindo as etapas a controlar, a forma como cada interveniente de controlo

deve proceder e sugerindo modelos de documentos de acompanhamento para a integração dos

diferentes agentes de controlo.

Por último, apresentam-se algumas recomendações que poderão contribuir para a melhoria da

qualidade na execução de alvenarias de tijolo em Portugal com base na metodologia desenvolvida.

Palavras Chave: Alvenaria de Tijolo; Controlo da qualidade na execução; Metodologia de controlo

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Abstract

Despite the large research effort developed in the last decades in the construction field, it appears

that the non structural condition of buildings is a growing phenomenon in many countries.

The aim of this dissertation is the profound knowledge of the actual Portuguese situation in the quality

control, during the execution of non-structural elements outside of a building - the brick masonry,

presenting suggestions and therefore contributing to the improvement of buildings’ quality.

The work had as a support, in addition to the literature in this area, interviews with professionals

working on the quality of the construction business in Portugal and the French and Spanish experiences in

this field. In order to deliver the main objective of this work it is developed a methodology of the quality

control in the implementation of the brick masonry.

The main conclusion taken from this work is that only through knowledge of the characteristics of the

material and correct procedures for implementation, accompanied by their standardization and quality

control, may increase the quality of construction, in regard to their performance. The developed

methodology gave a partial contribution to this vast research field, defining the steps to control, the way as

each intervenient of the control should proceed and giving suggestions of models of documents to

accompany the insertion of the different control agents.

Finally, some recommendations are presented which could contribute to the improvement of the

quality in the execution of brick masonry in Portugal based on the methodology developed.

Keywords: Brick’s masonry; Quality control in the execution; Quality control method

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INDICE

AGRADECIMENTOS __________________________________________________________________________ II

RESUMO ___________________________________________________________________________________ III

1 INTRODUÇÃO ___________________________________________________________________________ 1

1.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS ________________________________________________________________ 1

1.2 OBJECTIVOS E METODOLOGIA ____________________________________________________________ 2

1.3 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO __________________________________________________________ 2

2 GARANTIA DA QUALIDADE NA CONSTRUÇÃO EM PORTUGAL _________________________________ 6

2.1 INTRODUÇÃO __________________________________________________________________________ 6

2.2 INSTRUMENTOS DE APOIO À GARANTIA DA QUALIDADE NA CONSTRUÇÃO COM CARÁCTER OBRIGATÓRIO __ 7

2.2.1 Textos legislativos e regulamentares ________________________________________________ 7

2.2.2 Directiva dos Produtos da Construção e a Marcação CE ______________________________ 7

2.2.3 Homologação de Produtos _______________________________________________________ 12 2.2.4 Certificação e classificação obrigatória de produtos __________________________________ 13

2.3 INSTRUMENTOS DE APOIO À GARANTIA DA QUALIDADE NA CONSTRUÇÃO COM CARÁCTER VOLUNTÁRIO __ 14

2.3.1 Textos técnicos _________________________________________________________________ 14 2.3.2 Certificação de produtos – Marca Produto Certificado ________________________________ 15 2.3.3 Decréscimo de Documentos de Homologação - Acréscimo de Documentos de Aplicação _ 18

2.4 INSTRUMENTOS DE APOIO À GARANTIA DA QUALIDADE APLICÁVEIS A ALVENARIAS DE TIJOLO __________ 20

2.4.1 Introdução _____________________________________________________________________ 20 2.4.2 Normalização ___________________________________________________________________ 20 2.4.3 Certificação e controlo da qualidade _______________________________________________ 22

3 GARANTIA DA QUALIDADE NA CONSTRUÇÃO EM OUTROS PAÍSES ____________________________ 24

3.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS_______________________________________________________________ 24

3.2 A SITUAÇÃO EM FRANÇA ________________________________________________________________ 24

3.2.1 Introdução _____________________________________________________________________ 24 3.2.2 Referência para a implementação do controlo da qualidade na execução de alvenarias - DTU 20.1 _____________________________________________________________________________ 25 3.2.3 Prescrições relativas à execução de alvenarias de tijolo (DTU 20.1) ____________________ 27 3.2.4 Norma francesa complementar da EN 771-1 – NF 12-021-2 __________________________ 30 3.2.5 Benefícios indirectos associados à existência do seguro-construção ___________________ 32

3.3 A SITUAÇÃO EM ESPANHA ______________________________________________________________ 33

3.3.1 Considerações gerais ____________________________________________________________ 33 3.3.2 Uma referência para a implementação do controlo da qualidade – CTE_________________ 33 3.3.3 Controlo da qualidade na execução de alvenarias (DB- SE-F) _________________________ 34

4 METODOLOGIA DE CONTROLO DA QUALIDADE NA EXECUÇÃO DE ELEMENTOS NÃO ESTRUTURAIS EXTERIORES DE UM EDIFÍCIO – ALVENARIA DE TIJOLO __________________________________________ 40

4.1 INTRODUÇÃO _________________________________________________________________________ 40

4.2 AUTO CONTROLO DA QUALIDADE – EMPREITEIRO ____________________________________________ 42

4.2.1 Considerações gerais ____________________________________________________________ 42 4.2.2 Programação da execução das alvenarias no plano da obra __________________________ 42 4.2.3 Recepção e armazenamento dos materiais em obra _________________________________ 44 4.2.4 Argamassas de assentamento ____________________________________________________ 45 4.2.5 Assentamento do tijolo ___________________________________________________________ 47 4.2.6 Colocação de materiais de isolamento térmico ______________________________________ 48

4.3 CONTROLO DA QUALIDADE INTERNO AO DONO DE OBRA – FISCALIZAÇÃO _________________________ 50

4.3.1 Introdução _____________________________________________________________________ 50 4.3.2 Procedimento Específico de Produção (PEP) _______________________________________ 50 4.3.3 Plano de Inspecção e Ensaio (PIE) ________________________________________________ 51 4.3.4 Ficha de Verificação e Controlo (FVC) _____________________________________________ 51

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4.4 CONTROLO DA QUALIDADE EXTERNO – CONTROLADOR TÉCNICO _______________________________ 52

4.4.1 Introdução _____________________________________________________________________ 52 4.4.2 Primeira inspecção ______________________________________________________________ 52 4.4.3 Segunda inspecção _____________________________________________________________ 52 4.4.4 Terceira inspecção ______________________________________________________________ 53

4.5 INTEGRAÇÃO DOS DIFERENTES NÍVEIS E AGENTES INTERVENIENTES NO PROCESSO DE CONTROLO DA

QUALIDADE DE EXECUÇÃO ___________________________________________________________________ 53

4.5.1 Fluxograma do processo de controlo da qualidade de execução _______________________ 55

5 CONCLUSÕES E DESENVOLVIMENTOS FUTUROS ___________________________________________ 57

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ______________________________________________________________ 59

DOCUMENTOS LEGISLATIVOS ________________________________________________________________ 60

NORMAS E ESPECIFICAÇÕES _________________________________________________________________ 61

ENDEREÇOS NA INTERNET CONSULTADOS NO ÂMBITO DAS ALVENARIAS DE TIJOLO: _______________ 62

ANEXOS ___________________________________________________________________________________ 63

ÍNDICE DE FIGURAS

FIGURA 1 - SÍMBOLO DA MARCAÇÃO CE ________________________________________________________ 8

FIGURA 2 - RELAÇÃO ENTRE AS EXIGÊNCIAS DAS OBRAS E A MARCAÇÃO CE DOS PRODUTOS ________ 9

FIGURA 3 - SÍMBOLO DE PRODUTO CERTIFICADO EMITIDO PELA CERTIF ___________________________ 14

FIGURA 4 – SÍMBOLO DE MARCA EMITIDO PELA CERTIF (À ESQUERDA) E APCER (À DIREITA) PARA UMA EMPRESA CERTIFICADA POR TER EM PRÁTICA UM SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE - ISO 9001 - (*) 17

FIGURA 5 – ESTRUTURA TIPO DE UM CCT ______________________________________________________ 27

FIGURA 6 – DESENCONTRO DE JUNTAS VERTICAIS EM DIFERENTES FIADAS DE UMA PAREDE ________ 35

FIGURA 7 – TOLERÂNCIAS DE DESAPRUMO (À ESQUERDA) E AXIALIDADE (À DIREITA) PARA ELEMENTOS DE ALVENARIA __________________________________________________________________ 37

FIGURA 8 – OS TRÊS NÍVEIS HIERÁRQUICOS DE CONTROLO DA QUALIDADE DA METODOLOGIA DESENVOLVIDA _____________________________________________________________________________ 40

FIGURA 9 – DEFORMAÇÃO DA ESTRUTURA SOB A ACÇÃO DE CARGAS E CONSEQUENTE FISSURAÇÃO DAS ALVENARIAS ___________________________________________________________________________ 43

FIGURA 10 – DESENCONTRO DE JUNTAS NO ASSENTAMENTO DOS TIJOLOS ________________________ 48

ÍNDICE DE QUADROS

QUADRO 1 – SISTEMAS DE COMPROVAÇÃO DE CONFORMIDADE COMO BASE PARA A MARCAÇÃO CE _ 11

QUADRO 2 – SISTEMAS DE CERTIFICAÇÃO PREVISTOS NA DIRECTIVA CNQ 5/94 _____________________ 16

QUADRO 3 – CARACTERÍSTICAS E TOLERÂNCIAS ESPECIFICADAS NA NORMA EN 771-1:2003, [B.17]. ___ 21

QUADRO 4 – CATEGORIAS EM FUNÇÃO DO TEOR EM SAIS SOLÚVEIS EN 771-5 [N.10]_________________ 21

QUADRO 5 – CARACTERÍSTICAS A DECLARAR PELO FABRICANTE CONSOANTE A APLICAÇÃO, NORMA EN 771-1 ___________________________________________________________________________________ 23

QUADRO 6 – VALORES DO FACTOR ∆ __________________________________________________________ 36

QUADRO 7 – ACTUAÇÃO DOS TRÊS AGENTES DE CONTROLO DA QUALIDADE ______________________ 53

QUADRO 8 – INTEGRAÇÃO DOS DIFERENTES NÍVEIS E AGENTES INTERVENIENTES NO PROCESSO DE CONTROLO ________________________________________________________________________________ 54

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1 INTRODUÇÃO

1.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS

A qualidade na construção é um motivo de preocupação social em Portugal há muitos anos. O I

Encontro Nacional sobre Qualidade na Construção, realizado pelo LNEC em 1986, promoveu o debate

sobre o tema e constituiu um marco importante no seu desenvolvimento.

Nos últimos anos, tem-se assistido a profundas evoluções, políticas e económicas, tanto ao nível

europeu como mundial, evoluções essas que conferem à Qualidade um papel de cada vez maior relevo.

Num cenário de globalização, a crescente diversificação dos mercados, e o acréscimo da

concorrência internacional, são desafios da maior importância para o desenvolvimento económico do

nosso País. Estamos a assistir hoje, por isso, a uma recolocação da Qualidade na agenda, para

responder, de forma acrescida, às exigências dos consumidores.

Por outro lado, a construção, segundo dados de 2006 [I.7], representa 16,2% do Produto Interno

Bruto do país e as alvenarias de tijolo foram e continuam a ser a solução construtiva mais utilizada para

a realização do elemento parede, demonstrando ter potencialidades para satisfazer as exigências

funcionais que lhes são impostas. No entanto, o seu desempenho continua a ser condicionado por

diversos defeitos.

Apesar do grande esforço de investigação desenvolvido nas últimas décadas no domínio da

construção, verifica-se que a patologia não estrutural dos edifícios é um fenómeno crescente em muitos

países. Não obstante as justificações conjunturais da evolução do sector, com a alteração das

exigências do mercado, da organização da produção e do tipo de mão-de-obra e dos materiais, o

fenómeno tem sempre origem em falhas técnicas objectivas, cuja oportunidade de investigação se

mantém [B.19]. Acrescenta-se que até à data não existe no nosso país informação disponível com a

sistematização das principais patologias que afectam os edifícios.

Estes fenómenos patológicos levam ao descontentamento de muitos utilizadores e trazem

repercussões ao nível da segurança, conforto e salubridade do dia-a-dia. Assim, surge a necessidade

de prevenir estas anomalias, [B.16] controlando a sua execução de uma forma objectiva e rigorosa,

para que os edifícios apresentem o desempenho e a durabilidade esperada.

A metodologia de controlo da qualidade na execução de alvenarias de tijolo proposta pretende dar

uma contribuição para este vasto domínio de investigação, que se encontra em situação de carência no

nosso país.

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1.2 OBJECTIVOS E METODOLOGIA

A presente dissertação tem como principal objectivo desenvolver uma metodologia de controlo da

qualidade na execução de elementos não estruturais exteriores de um edifício (alvenarias de tijolo).

A metodologia da investigação adoptada, para concretizar este objectivo, envolveu as seguintes

acções:

� Enquadramento legal e normativo em Portugal relativos à garantia da qualidade na construção

em geral e das alvenarias de tijolo em particular;

� Identificação do estado actual de conhecimentos na área do controlo da qualidade de alvenarias

de tijolo em Portugal, França e Espanha;

� Revisão da tecnologia construtiva para alvenarias e identificação das principais exigências da

qualidade para esta solução construtiva;

� Organização e documentação de uma metodologia de controlo da qualidade na execução de

elementos exteriores não estruturais de um edifício.

1.3 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO

A presente dissertação encontra-se dividida em 5 capítulos, conjuntamente com referências

bibliográficas e anexos.

No primeiro, e presente capítulo, é feito um enquadramento geral do assunto e relevância da

análise do problema.

O capítulo 2 aborda a garantia da qualidade na construção, analisando os instrumentos de apoio

existentes para esta com diferentes perspectivas. Ao longo deste capítulo, exploram-se quatro desses

instrumentos que possuem carácter obrigatório, designadamente:

1. Textos legislativos e regulamentares, provenientes do nosso País bem como da União Europeia;

2. Directiva dos Produtos de Construção (DPC), inserida no grupo de directivas da Nova

Abordagem publicada pela comissão europeia, explorando os seis sistemas de comprovação da

conformidade que esta estabelece como base para a marcação CE dos produtos;

3. Homologação de produtos desde a sua origem em 1951, que se apoiava no artigo 17º do RGEU

[L.14] e remetia a pareceres do LNEC renováveis, passando pela sua tradução em 1963 para

Documentos de Homologação em moldes semelhantes, até à actualidade, em que o LNEC pode

conceder homologação com certificação sem prazo finito, enquanto se mantiverem as condições

de produção com respectivo controlo interno e satisfatórias as conclusões do seu controlo

externo;

4. Certificação e classificação obrigatória de produtos por algum texto legislativo e regulamentar,

focando o caso dos materiais cerâmicos que o DL n.º 304/90 [L.4] obriga a certificação.

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Com carácter voluntário exploram-se três dos instrumentos existentes, cada vez com maior

importância no panorama da garantia da qualidade, pelo intuito crescente de transmitir confiança ao

cliente/utilizador da qualidade do produto ou serviço adquirido, consequência da crescente

diversificação de mercados e acréscimo da concorrência. Assim, começa-se por analisar textos

técnicos, como normas e especificações passando pelos sistemas de certificação previstos na Directiva

CNQ 5/94 [I.12] que podem levar à aposição da Marca Produto Certificado; e por fim efectua-se uma

análise cuidada do fenómeno crescente de emissão de Documentos de Aplicação e decréscimo de

Documentos de Homologação a que hoje se assiste.

Finaliza-se o capitulo 2 com uma abordagem aos instrumentos que mais se aplicam ao objecto de

estudo (alvenarias de tijolo) com especial relevância para a norma europeia EN 771-1 [N.1] e as

características e tolerâncias nesta especificadas para os sistemas de comprovação da conformidade

estabelecidos.

O capitulo 3 explora as experiências Francesa e Espanhola no domínio do controlo da qualidade na

execução e, em particular, na execução de alvenarias de tijolo.

Em França existe um seguro-construção de carácter obrigatório que propicia, como benefício

directo, a distribuição de riscos e consequente protecção dos diferentes intervenientes e, como

benefício indirecto, a garantia da qualidade na construção resultante das exigências da prática

seguradora, apoiando-se para tal em documentos técnicos de referência DTU “Documents Techniques

Unifiés”.

No caso das alvenarias o DTU 20.1 é abordado como uma referência que se revela imprescindível

para a implementação do controlo da qualidade na execução em França. Analisam-se também algumas

das prescrições mais pertinentes relativas à execução de alvenarias de tijolo que esse DTU publicado

em Outubro de 2008, apresenta.

Observa-se ainda a resposta francesa às limitações da norma europeia EN 771-1 quanto a valores

limite e classes de desempenho para a maioria das características nela contidas, ou seja, a NF 12-021-

2, Norma Francesa complementar que assegura duas importantes funções da EN que por si só não se

encontram satisfeitas: constituir um documento de suporte para a aplicação dos DTU 20.1 e um

referencial de exigência a satisfazer pelos tijolos para atribuição da marca NF de certificação voluntária.

Por fim, foca-se a possibilidade que a existência do seguro-construção cria na recolha e análise

estatística de sinistros declarados, utilizado como potencial elemento na avaliação da importância da

patologia da construção.

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Em Espanha com a entrada em vigor em 2000 da “Ley de Ordenación de la Edificación” (LOE), foi

aprovado o “Código Técnico de la Edificación” (CTE), surgindo como uma referência na implementação

do controlo da qualidade através de; por um lado disposições e condições gerais de aplicação do

próprio CTE, e por outro pelos Documentos Básicos (DB) que dele fazem parte, para o cumprimento

das exigências físicas que nele se definem. Analisa-se ainda sumariamente o DB-SE-F, destinado a

alvenarias estruturais. Este é demasiado exigente no conteúdo face ao contexto não estrutural em que

este estudo se integra, mas rico na forma. Assim, para além de ser usado como exemplo no modelo

formal, dele foram retirados valores e métodos, pertinentemente apontados como limites superiores na

exigência metodológica.

O capítulo 4 centra-se na elaboração de uma metodologia de controlo da qualidade na execução de

alvenarias. Esta metodologia privilegia a operacionalidade de actuação através de três hierarquias de

controlo: Na sua base encontra-se o controlo interno pelo Empreiteiro, seguindo-se o controlo da

qualidade interno ao dono-de-obra executado pela Fiscalização e no topo da hierarquia, o controlo da

qualidade externo, efectuado pelo Controlador Técnico, podendo este ser, à imagem de França,

inserido na cadeia de controlo pela imposição de um seguro-construção de carácter obrigatório.

Uma vez que actualmente o seguro-construção não é obrigatório, a metodologia desenvolvida

abordará, por um lado e de uma forma técnica e, sempre que possível melhorada, os métodos de

controlo já implementados em muitas empresas de construção, sugerindo por outro lado a integração

deste novo agente (Controlador Técnico) no processo.

É já prática no nosso país a intervenção do empreiteiro e da fiscalização no panorama do controlo

da qualidade. O empreiteiro para evitar os custos inerentes à correcção de defeitos e o dono de obra

para verificar que a obra se encontra nas condições convencionadas. A figura do controlador ainda não

se encontra implementada no nosso país, mas esta entidade devidamente credenciada para o efeito,

pode auditar os documentos de acompanhamento de execução criados pelo empreiteiro e aprovados

pela fiscalização, no âmbito das responsabilidades que lhe competem, e efectuar as inspecções que se

revelem necessárias, para atestar e validar os trabalhos realizados por estes agentes hierarquicamente

inferiores no processo de controlo, conforme se aborda no subcapítulo 4.4 e 4.5.

Por uma questão funcional, procura-se a maior aderência possível aos preceitos do referencial

normativo ISO 9001 para a Qualidade, tendo-se por isso adoptado Documentos de Acompanhamento

de Execução de um Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ) de uma empresa de construção nacional.

O desenvolvimento da metodologia de controlo da qualidade na execução de alvenarias de tijolo

inclui cinco fases, correspondentes aos subcapítulos 4.2 a 4.5 que se sumarizam a seguir.

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No subcapítulo 4.2 mostra-se que ao nível do Empreiteiro, o bom entendimento do processo

construtivo, associado a um trabalho bem definido e coordenado, resultará num aumento da qualidade.

Desta forma, e consciente de que não é objectivo principal deste trabalho aprofundar o processo

construtivo, mas que, em última análise, é este que se encontra a montante de todo o processo de

controlo, apresenta-se e descreve-se as diferentes etapas do processo construtivo de alvenarias de

tijolo alvo de controlo. Este subcapítulo terá uma índole de referencial tecnológico, servindo de

base para a realização de uma Ficha de Verificação e Controlo (FVC) modelo, suporta a componente

tecnológica de um Procedimento Específico de Produção (PEP) modelo, de um Plano de Inspecção e

Ensaio (PIE) modelo e encontra-se convenientemente bibliografado para algum esclarecimento

adicional que os documentos de acompanhamento por si não resolvam.

No subcapítulo 4.3 mostra-se que ao nível da Fiscalização, é importante para o Dono da Obra que

se assegure que os trabalhos e fornecimentos da responsabilidade do Empreiteiro cumprem os

requisitos pré-definidos no contrato e nos documentos legais aplicáveis e nos casos omissos, cumpram

os padrões e as normas de boa e segura execução que forem exigíveis. Apresentam-se modelos para

cada documento de acompanhamento de execução de alvenarias de tijolo que devem ser

elaborados pelo empreiteiro e sobre os quais a fiscalização ficará responsável após aprovação, sendo

estes:

1- PEP na execução de alvenarias de tijolo em geral e todos os trabalhos preparatórios e acessórios

que esta actividade pressupõe.

2- PIE organizado pela sequência cronológica das etapas construtivas, fazendo corresponder a

cada etapa um item de inspecção, que por sua vez se encontra associado a:

� um ponto do subcapítulo 4.2 de referência tecnológica;

� uma FVC que deve ser usada para o controlo da qualidade de execução desse item;

� critérios de aceitação que devem ser utilizados no decorrer da inspecção;

� um tipo de inspecção e a função do responsável que a executa, para a respectiva etapa.

3- FVC estruturada com base na informação constante do PIE e tão sintética e objectiva quanto

possível, no sentido de se adaptar ao ambiente que se vive em obra no decorrer da execução.

No subcapítulo 4.4 introduz-se a figura de controlo externo, a ser executado pelo Controlador

Técnico e elabora-se uma Ficha de Controlo Técnico na óptica do Controlador.

No subcapítulo 4.5 explora-se a integração dos diferentes níveis e agentes intervenientes no

controlo da qualidade e com a consciência que cada obra tem características únicas, que cada agente

interveniente na construção de um edifício tem as suas especificidades e que cada contrato se deve

adaptar a estas realidades, também a metodologia desenvolvida terá que ser interpretada como um

modelo flexível, ainda assim elabora-se um Fluxograma que sistematiza todo o processo de

controlo no âmbito dos modelos considerados.

O capítulo 5 condensa as principais conclusões do trabalho desenvolvido e sugere formas de se lhe

dar continuidade.

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2 GARANTIA DA QUALIDADE NA CONSTRUÇÃO EM PORTUGAL

2.1 INTRODUÇÃO

Qualidade, por definição, trata-se do conjunto das características de uma entidade (p.ex. processo,

produto, organização) que lhe conferem aptidão para satisfazer necessidades explícitas ou implícitas

[N.4].

Por definição e princípio, garantir a qualidade de um produto ou serviço consiste na adopção de

acções planeadas e sistemáticas que assegurem uma adequada confiança de que os níveis de

qualidade pretendidos serão alcançados [N.4].

A qualidade no processo construtivo passa por uma boa definição das exigências conceptuais do

projecto e na sua transposição para a fase de execução, na selecção de processos e técnicas, na

qualidade intrínseca dos materiais e dos componentes a incorporar na obra e na adequada qualificação

dos diversos intervenientes [B.7]. Salvaguarda-se ainda a importância de uma visão integrada de todo o

processo que levem a uma correcta gestão do mesmo [B.6].

A definição de níveis da qualidade é de extrema importância, pois permite fazer uma quantificação

e avaliação técnica precisas da qualidade pretendida e dos objectivos definidos para cada situação.

Correntemente é no caderno de encargos que se encontram expressas pela equipa de projecto, de uma

forma técnica e quantificável, os níveis da qualidade exigidos pelo cliente. Não menos importante é a

forma de garantir um vínculo entre as intenções (definição de níveis da qualidade baseados nos critérios

de segurança, normas, regulamentos, requisitos, etc.) e a sua materialização na realidade, ou seja, a

garantia da qualidade [B.8].

Existem já várias iniciativas e metodologias de apoio à implementação de acções de garantia de

qualidade ao longo do processo construtivo, nomeadamente e separados pelos distintos carácteres,

encontram-se [B.11]:

� Com carácter obrigatório: Textos legislativos e regulamentares,

Directiva comunitária relativa aos produtos de construção,

Homologações do uso das novidades na construção,

Certificação e classificação obrigatória de produtos;

� Com carácter voluntário: Actividades de elaboração de textos técnicos ,

Certificação de produtos,

Certificação de sistemas da qualidade de empresas,

Documentos de aplicação.

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2.2 INSTRUMENTOS DE APOIO À GARANTIA DA QUALIDADE NA CONSTRUÇÃO COM

CARÁCTER OBRIGATÓRIO

2.2.1 TEXTOS LEGISLATIVOS E REGULAMENTARES

A garantia da qualidade do processo construtivo passa por garantir a conformidade deste com as

regras técnicas aplicáveis ao sector da construção.

Um regulamento é um documento que contém regras de carácter obrigatório e que foi adoptado por

uma autoridade. Diz-se técnico quando contém requisitos técnicos quer directamente quer por

referência a uma norma, especificação técnica ou código de boas práticas, ou ainda, que os integra no

seu conteúdo [N.4].

Ao dispor dos diversos intervenientes no sector, existem então um conjunto de regulamentos

provenientes das entidades governamentais, do parlamento, das entidades camarárias e da

comunidade europeia, que orientam e regulam métodos de trabalho tendo em vista a defesa dos

interesses dos cidadãos. No sentido de facilitar a consulta e a divulgação da legislação aplicável ao

sector, O Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) publica anualmente, um relatório com a

Relação das Disposições Legais Aplicáveis ao Projecto e à Execução [B.10].

Actualmente, devido à integração de Portugal na União Europeia, a legislação proveniente desta

assume um papel importante no sector da construção, que pode assumir diversos contornos,

sumariamente [B.11]:

� Regulamentos que são aplicados directamente a todos os estados membros sem transcrição no

direito nacional;

� Directivas que fixam um dado objectivo a atingir dentro de uma determinada data, mas deixam aos

estados membros a oportunidade e a forma de transpor para regulamentos nacionais;

� Decisões que são obrigatórias em todos os seus elementos para os destinatários que ela visa, que

podem ser um ou vários estados membros, empresas ou particulares;

� Recomendações e opiniões que não têm um carácter obrigatório.

Particularmente importante para o sector da construção, foi a publicação da Directiva 89/106/CEE

relativa aos Produtos da Construção (DPC) [L.1], que estabelece, como objectivo, a convergência das

disposições legislativas, regulamentares e administrativas dos Estados Membros relativas aos Produtos

da Construção.

Cabe a cada Estado-membro, segundo os princípios gerais da legislação comunitária, estabelecer

o modo de cumprimento das disposições das directivas no seu território. O nosso país tem optado por

fazê-lo por via de Decretos-Lei.

2.2.2 DIRECTIVA DOS PRODUTOS DA CONSTRUÇÃO E A MARCAÇÃO CE

Page 14: Controlo da qualidade na execução de elementos não ... · Esta dissertação pretende aprofundar o conhecimento da actual situação portuguesa no controlo da ... 3.2.4 Norma francesa

8

A correntemente designada Directiva dos Produtos de Construção corresponde à Directiva

Comunitária 89/106/CEE, transposta para a ordem jurídica portuguesa em 1993 com a publicação de

dois diplomas: o Decreto-Lei n.º113/93 [L.5], e a Portaria n.º 566/93 do Ministério da Indústria e Energia

[L.6] para a qual o Decreto-Lei remeteu o desenvolvimento de alguma matérias que na DPC são

tratadas em anexos: as exigências essenciais das obras, a marca CE e os sistemas de comprovação de

conformidade. Posteriormente, o referido Decreto-Lei foi alterado pelo Decreto-Lei n.139/95 [L.8], que

por sua vez foi rectificado pelo Decreto-Lei n.º 374/98 [L.6], não influindo estas alterações no âmbito do

que aqui se visa, a não ser a substituição do anterior termo “marca CE” por “marcação CE”, permitindo

a aposição simultânea de outras marcas nos produtos, na condição de não prejudicarem nem a

visibilidade nem a legibilidade da marcação CE (figura 1). Por fim, a 8 de Janeiro de 2007, após as

sucessivas alterações que o Decreto-Lei n.º113/93 sofreu e tendo presente a experiência da sua

aplicação, verificou-se a necessidade de proceder a novos ajustamentos com vista à actualização do

mesmo às terminologias actuais e às competências dos organismos envolvidos, surgindo assim o

Decreto-Lei n.º 4/07, [L.10], que vigora.

A DPC integra o grupo das Directivas da Nova Abordagem publicada pela Comissão Europeia,

distinguindo-se contudo das restantes por um conjunto de particularidades, de que se destacam [B.14]:

� Cobre um universo muito maior e mais complexo de produtos

� Define as exigências essenciais relativamente às obras de construção e não aos produtos;

� Cria a figura da Aprovação Técnica Europeia como uma das especificações técnicas em que se

baseia a marcação CE, em paralelo com as Normas Europeias harmonizadas.

Figura 1 - Símbolo da Marcação CE

A DPC refere o objectivo de assegurar que, no território dos diferentes estados membros, as obras

de construção civil e de engenharia civil, sejam concebidas e realizadas de modo a que não

comprometam a segurança das pessoas, animais domésticos e bens, respeitando ao mesmo tempo,

exigências fundamentais de: resistência mecânica e estabilidade; segurança em caso de incêndio;

higiene, saúde e meio ambiente; segurança de utilização; protecção contra o ruído e; economia de

energia e isolamento térmico. Visa também eliminar, no que toca aos produtos de construção, os

entraves técnicos existentes [L.1].

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9

A ligação entre estas exigências aplicáveis às obras e as características harmonizadas relativas

aos produtos, estabelecidas nas especificações técnicas, é feita em Documentos Interpretativos (figura

2), um por cada exigência essencial, publicados pela Comissão Europeia [B.15].

A aposição da marcação CE nos produtos evidencia a sua conformidade com as especificações

técnicas aplicáveis, comprovada através de procedimentos apropriados, e confere-lhes presunção de

aptidão ao uso e de cumprimento das disposições da Directiva, permitindo a sua livre circulação no

espaço comunitário europeu, a menos que haja suspeitas fundadas de incumprimento daquelas

disposições.

Entre as exigências essenciais das obras, que estão a montante de todo o processo e a marcação

CE dos produtos de construção encontram-se as especificações técnicas previstas na DPC que podem

ser de três tipos [B.12]:

� Normas nacionais correspondentes à transposição de normas harmonizadas

� Aprovações Técnicas Europeias (ETA- “European Technical Approval”);

� Especificações técnicas nacionais reconhecidas a nível comunitário, desde que não existam

normas harmonizadas.

Em face das reservas da CE em autorizar a adopção desta terceira via, as vias normais para o

acesso à marcação CE têm sido apenas as duas primeiras. [B.12], (figura 2).

Figura 2 - Relação entre as exigências das obras e a marcação CE dos produtos

Page 16: Controlo da qualidade na execução de elementos não ... · Esta dissertação pretende aprofundar o conhecimento da actual situação portuguesa no controlo da ... 3.2.4 Norma francesa

10

As normas harmonizadas são normas de características de produto elaboradas pelo Comité

Europeu de Normalização (CEN), sob o mandato da Comissão Europeia. Na grande maioria dos casos,

essas normas de características contêm partes voluntárias ou não harmonizadas, referentes a

características dos produtos não regulamentadas em nenhum Estado-Membro. Por esse motivo, em

todas as normas harmonizadas elaboradas no âmbito da DPC inclui-se um anexo informativo ZA, no

qual se identificam os requisitos objecto de regulamentação e as cláusulas da norma onde eles são

tratados, que constituem assim a parte harmonizada da norma a partir da qual a marcação CE é

atribuída.

A marcação CE para uma dada família de produtos coberta por uma Norma Europeia harmonizada

só é possível após a publicação da referência da norma em questão no Jornal Oficial da União Europeia

(JOUE). No momento dessa publicação, a Comissão Europeia define, para cada norma, as datas de

início e final do período de coexistência, ou seja, respectivamente, a data a partir da qual a marcação

CE já é possível mas em que ainda podem circular produtos sem aquela marcação e a data em que

todos os produtos por ela abrangidos deverão ter aquela marcação [B.14].

As Aprovações Técnicas Europeias são apreciações técnicas favoráveis da aptidão ao uso de

produtos e destinam-se, quer aos produtos inovadores, para os quais não existam normas europeias

harmonizadas publicadas ou cuja publicação não esteja prevista num espaço de tempo razoável, quer

ainda a produtos que se afastem significativamente daquelas normas. A título de exemplo tem-se os

produtos sob a forma de kit em que será necessário ter em conta as respectivas regras de montagem.

As ETA têm um período de validade de cinco anos e são publicadas por organismos designados

para o efeito pelos respectivos Estados Membros, que, por sua vez, formam a Organização Europeia de

Aprovação Técnica (EOTA – “European Organization for Techincal Approvals”, criada em 1990, em

cumprimento da DPC. Portugal encontra-se representado na EOTA pelo LNEC.

A comprovação da conformidade dos produtos de construção com as especificações técnicas para

a marcação CE deve fazer-se utilizando um conjunto de métodos de controlo de conformidade definidos

na DPC, que vão desde o ensaio de tipo inicial do produto pelo fabricante ou por um Organismo

notificado, passando pelo controlo interno de produção pelo fabricante, até ao acompanhamento,

avaliação e apreciação permanentes de esse controlo interno por um Organismo notificado.

A DPC estabelece, a partir desses métodos e da sua adequada combinação, seis sistemas de

comprovação de conformidade distintos (1+, 1, 2+, 2, 3 e 4) que se caracterizam no quadro 1 [B.13].

O controlo interno da produção realizado pelo fabricante deve garantir que todos os elementos,

requisitos e disposições adoptados por este, serão sistematicamente documentados sob a forma de

normas e procedimentos escritos. Essa documentação do sistema de controlo da produção deve

assegurar uma compreensão comum das garantias de qualidade e permitir verificar a obtenção das

características exigidas do produto e a funcionalidade efectiva do sistema de controlo da produção.

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11

Quadro 1 – Sistemas de comprovação de conformidade como base para a marcação CE

Sist. Tarefas do fabricante Tarefas do Organismo Notificado Base para a

marcação CE

1+

� Controlo interno da produção � Ensaio de amostras segundo programa prescrito

Certificação do produto com base em:

� Ensaios de tipo iniciais � Inspecção inicial do controlo

interno da produção � Acompanhamento permanente

do controlo interno da produção � Ensaio aleatório de amostras

Declaração de

conformidade pelo

fabricante com base

num certificado de

conformidade do

produto

1

� Controlo interno da produção � Ensaio de amostras segundo programa prescrito

Certificação do produto com base em:

� Ensaios de tipo iniciais � Inspecção inicial do controlo

interno da produção � Acompanhamento permanente

do controlo interno da produção

2+

� Ensaios do tipo iniciais

� Controlo interno da produção

� Ensaio de amostras segundo

programa prescrito

Certificação do controlo interno da produção com base em:

� Inspecção inicial do controlo interno da produção

� Acompanhamento permanente do controlo interno da produção

Declaração de

conformidade pelo

fabricante com base

num certificado de

conformidade do

controlo interno da

produção

2

� Ensaios do tipo iniciais

� Controlo interno da produção

� (Ensaio de amostras

segundo programa prescrito)

Certificação do controlo interno da produção com base em:

� Inspecção inicial do controlo interno da produção

3 � Controlo interno da produção � Ensaios do tipo iniciais

Declaração de

conformidade pelo

fabricante 4 � Ensaios do tipo iniciais

� Controlo interno da produção —

É de salientar da análise aos vários sistemas de comprovação de conformidade que:

� Todos os sistemas integram um controlo interno da produção, de carácter permanente, de

responsabilidade do fabricante, e ensaios de tipo iniciais, a cargo do fabricante ou de um

Organismo notificado consoante os sistemas.

� Em todos eles os procedimentos incluem uma declaração de conformidade emitida pelo

fabricante. Esta declaração tem por base um certificado de conformidade do produto emitido

por um organismo notificado em dois dos sistemas (sistema 1+ e 1) e um certificado de

conformidade do controlo interno da produção emitido também por um organismo notificado em

outros dois sistemas (sistemas 2+ e 2).

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12

� O sistema de comprovação de conformidade relativo a cada família de produtos tem em conta

vários factores ligados designadamente à relevância desses produtos para a satisfação das

exigências essenciais das obras, à sua natureza, à variabilidade das suas características e à

sua susceptibilidade em relação a defeitos de fabrico.

� A não ser no sistema 4, onde a responsabilidade das tarefas incumbe apenas ao fabricante, em

todos os sistemas intervêm Organismos notificados, que podem ser de três tipos, em função

das tarefas a efectuar: Organismos de certificação (designados consoante os casos, para

funções de certificação de conformidade dos produtos ou para funções do controlo interno de

produção), Organismos de inspecção e ainda Laboratórios de ensaios.

As tarefas a desempenhar pelo fabricante estão referidas sucintamente no Anexo ZA das Normas

Europeias harmonizadas ou no Capítulo 8 dos ETAG. No caso dos sistemas 1+, 1, 2+ e 2, em que é

necessária a intervenção de um organismo notificado para avaliar esse controlo, tem vindo a ser

preparado pelo Grupo Europeu dos Organismos Notificados, um conjunto de documentos orientadores

(Position Papers) sobre esta matéria. Sendo de particular interesse para os fabricantes de produtos de

construção para alvenarias o – NB-CPD/SG10/03/006r1 (23 May 2006): GNB-CPD position paper from

SG10 - EN 771-1 to EN 771-5. Certification of factory production control of masonry units (Category I).

No nosso País, a qualificação e consequente notificação dos Organismos Notificados à Comissão

Europeia é da responsabilidade do Instituto Português da Qualidade (IPQ). Por sua vez, a Comissão

Europeia criou uma base de dados onde se encontram registados todos os Organismos Notificados

designados pelos Estados-Membros, com indicação, para cada um deles, da família de produtos a que

se refere a notificação e da função por ele desempenhada. Note-se que, apesar disso, a definição do ou

dos sistemas de comprovação a aplicar a cada família de produtos é objecto de uma Decisão da

Comissão Europeia, publicada no JOUE.

2.2.3 HOMOLOGAÇÃO DE PRODUTOS

As origens da homologação de produtos, sistemas ou processos fundamentam-se no Regulamento

Geral das Edificações Urbanas [L.14], de 1951, que no seu artigo 17º estabelece que a aplicação de

novos materiais ou processos de construção para os quais não existem especificações oficiais nem

suficiente prática de utilização será condicionada ao prévio parecer do LNEC.

Em 1963, e na sequência da criação da UEAtc (“Union Européene pour l’Agrémant Technique dans

la Construction” – de que o LNEC foi um dos fundadores em 1960), esses pareceres passaram a ser

traduzidos em Documentos de Homologação (DH).

Ao longo dos anos a actividade da UEAtc desenvolveu-se essencialmente segundo duas vertentes

complementares: por um lado, a criação e o desenvolvimento das confirmações de homologação –

tendentes a facilitar a concessão da homologação a produtos importados que já a detenham no país de

origem – e, por outro, a elaboração de Directivas comuns de homologação e, actualmente, de Guias e

Relatórios Técnicos – tendentes a uniformizar nos vários países os critérios de apreciação para a

homologação de uma mesma família de produtos [B.14].

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13

A emissão de um Documento de Homologação relativo a um produto ou a um sistema não-

tradicional pressupõe que uma entidade independente e idónea, analisando quer o seu fabrico e

respectivo controlo de qualidade quer a sua aplicação em obra, considerou que as características do

produto ou do sistema, comprovadas experimentalmente, são adequadas para a utilização prevista e

definida explicitamente naquele DH.

Um documento de homologação de um produto ou sistema inclui, para além da Decisão de

Homologação, uma descrição geral, a enumeração das suas características, o campo de aplicação, a

apreciação – efectuada tendo em conta os resultados dos ensaios realizados e as observações

decorrentes de visitas às instalações de fabrico, a obra em curso e a construção em uso -, regras para o

seu armazenamento, transporte e aplicação em obra, e as características e respectivas tolerâncias a

avaliar no âmbito da realização de eventuais ensaios de recepção. O período de validade de um DH é

normalmente de três anos, findo o qual haverá lugar à revisão da homologação, caso o fabricante

manifeste interesse e sejam satisfatórios os resultados da reapreciação efectuada pelo LNEC, que inclui

a realização de novos ensaios e a verificação das condições de fabrico e de aplicação, bem como a

avaliação da aptidão ao uso.

Desde há alguns anos, o LNEC passou a conceder também homologações com certificação. Neste

caso, a produção dos produtos ou sistemas é submetida a controlo interno permanente da

responsabilidade do fabricante, efectuando o LNEC um controlo externo, onde se inclui a realização de

visitas anuais, sem aviso prévio, às instalações de fabrico para auditar as condições de produção e os

resultados do controlo de qualidade do fabricante e para proceder à eventual recolha de amostras para

posterior ensaio no LNEC. Nestas situações, o DH não tem prazo de validade previamente definido,

considerando-se válido enquanto se mantiverem as condições de produção e forem satisfatórios os

resultados dos ensaios e verificações promovidas pelo LNEC no âmbito da certificação [B.11].

Nos casos de importação de produtos ou sistemas homologados pelo instituto homologador do país

de origem e desde que esse Instituto seja membro da UEAtc, será, de acordo com as regras definidas

pela próprias UEAtc, realizado um estudo pelo LNEC para confirmação de homologação que, sendo

favorável, dará origem a um DH. O prazo de validade destes DH é normalmente condicionado ao da

homologação inicial, caducando a confirmação quando caduca a homologação que lhe deu origem.

2.2.4 CERTIFICAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO OBRIGATÓRIA DE PRODUTOS

A qualificação de produtos tem, de uma forma geral, um carácter voluntário. No entanto, para

determinados produtos existem textos legislativos e regulamentares que tornam obrigatória a sua

certificação ou classificação. É o caso, por exemplo, dos materiais cerâmicos para construção e dos

cimentos para argamassas [B.11].

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14

O Decreto-Lei n.º 304/90 [L.4] tornou obrigatória a certificação dos materiais cerâmicos de

construção – telhas, tijolos e abobadilhas – quer sejam de produção nacional quer sejam importados. A

certificação é efectuada pela CERTIF – Associação para a Certificação de Produtos -, de acordo com

metodologias estabelecidas para o efeito e recorrendo para a realização dos ensaios necessários, a

laboratórios de qualificação reconhecida. De uma forma geral, a certificação desta categoria de

produtos é comprovada através de certificados de conformidade com as normas ou especificações de

acordo com as quais foram executados os ensaios e as verificações dos produtos. No entanto, para

esta categoria de produtos abordados pelo Decreto-Lei supra-citado, encontra-se definido, com carácter

voluntário, um sistema de certificação mais exigente e que permite a aposição da Marca Produto

Certificado (figura 3) que será abordada em pormenor no capítulo 2.3.2..

Figura 3 - Símbolo de Produto Certificado emitido pela CERTIF

2.3 INSTRUMENTOS DE APOIO À GARANTIA DA QUALIDADE NA CONSTRUÇÃO COM

CARÁCTER VOLUNTÁRIO

2.3.1 TEXTOS TÉCNICOS

Os principais textos técnicos de grande utilização no sector da construção encontram-se agrupados

em normas e em especificações LNEC.

As normas são documentos, em geral de utilização voluntária, que reflectem e tornam do domínio

público conhecimentos validados e metodologias estabelecidas, praticamente sobre todas as

actividades relacionadas com a permuta de produtos e serviços, sendo periodicamente actualizadas,

permitindo a sua simplificação, uniformização e especificação.

Estes documentos permitem racionalizar os processos industriais, incluindo o processo da

construção e definir níveis aceitáveis de qualidade, preços e prazos de execução. Permitem a

simplificação da cooperação tecnológica industrial e a eliminação de barreiras às trocas comerciais.

Podem-se agrupar em três níveis segundo a sua proveniência: nacional (normas portuguesas NP),

regional europeu (normas europeias EN) e internacional (normas internacionais ISO) [B.11].

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15

A actividade normativa enquadra-se, a nível nacional, na actividade desenvolvida pelo Sistema

Português da Qualidade (SPQ), que visa apoiar a elaboração de normas e outros documentos a eles

relativos, no âmbito nacional, regional e internacional. O Instituto Português de Qualidade (IPQ) é a

entidade portuguesa que, sendo responsável pela coordenação, gestão geral e desenvolvimento do

Sistema Português da Qualidade (SPQ), tem como competência a sua difusão e tradução em Portugal.

As normas elaboradas pelo Comité Europeu de Normalização (CEN), organismo encarregado de

produzir a generalidade das normas, quando aprovadas, são normas portuguesas, devendo-se anular

as normas nacionais em vigor divergentes.

Apesar do uso das normas ser, de uma forma geral, voluntário, existem situações em que se

podem tornar de aplicação obrigatória, na medida em que, tal pode ser imposto contratualmente ou

constar de textos legislativos e regulamentares. Quanto a este último caso, tem-se verificado que existe

cada vez mais legislação específica obrigando a que determinados produtos satisfaçam os requisitos

impostos por determinadas normas.

A ISO (International Organization for standardization) é uma federação mundial de organismos

nacionais de normalização, integrando Comités Técnicos, envolvendo organizações governamentais e

não governamentais. As normas ISO abarcam todas as áreas, à excepção da eléctrica e electrónica e

das telecomunicações.

As Especificações LNEC são documentos que estabelecem as características dum produto ou de

um serviço, tais como, os níveis de qualidade e padrão de comportamento, segurança e dimensões.

Este tipo de documentos pode também, ou apenas, estabelecer terminologia, simbologia, ensaios a

realizar e técnicas de ensaio e prescrições relativas à embalagem, marcação e rotulagem [I.3].

2.3.2 CERTIFICAÇÃO DE PRODUTOS – MARCA PRODUTO CERTIFICADO

Os processos de certificação e controlo da qualidade quando utilizados pelo fabricante, permitem

transmitir confiança ao cliente/utilizador da qualidade do produto ou do serviço adquirido. Este tipo de

certificação tem, salvo excepção (por exemplo, casos de certificação obrigatória estabelecidos

regulamentarmente) carácter voluntário e é realizado de acordo com um dos 8 sistemas de certificação

da conformidade definidos pela Organização Internacional de Normalização, quadro 2.

De acordo com a Directiva 5/94, a comprovação de conformidade conduz, em todos os 8 sistemas

estabelecidos, à emissão de um certificado de conformidade com as normas ou especificações em que

se apoiam os ensaios e as verificações do produto; no entanto, só o sistema nº.5 , por ser aquele que

fornece ao organismo de certificação um nível adequado de confiança, pode conduzir à emissão de

uma licença para o uso da Marca Produto Certificado (MPC) – figura 3.

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16

Quadro 2 – Sistemas de certificação previstos na Directiva CNQ 5/94

Sist. Designação Ensaios Auditoria Acompanhamento

1 Exame de tipo √

2 Exame de tipo seguido de posterior acompanhamento através de ensaios de amostras colhidas no comércio

√ √

3 Exame de tipo seguido de posterior acompanhamento através de ensaios de amostras colhidas na fábrica

√ √

4 Exame de tipo seguido de posterior acompanhamento através de ensaios de amostras colhidas no comércio e/ou na fábrica

√ √

5

Exame de tipo e aceitação do sistema da qualidade da fábrica, seguido de acompanhamento que compreende ensaios de amostras colhidas no comércio e/ou na fábrica, bem como auditorias ao sistema da qualidade

√ √ √

6 Certificação do sistema da qualidade do fornecedor √ √

7 Certificação de lote √

8 Certificação a 100% √

Apresenta-se seguidamente uma breve descrição dos diferentes sistemas de certificação [I.12];

atente-se em especial nos mais utilizados e pertinentes para este trabalho: certificação pelo sistema 3,

pelo sistema 5 e pelo sistema 6.

Certificação pelo sistema 1: Consiste em verificar e certificar a conformidade do tipo com

determinadas normas ou outras especificações; o tipo é ensaiado de acordo com o método de ensaio

considerado adequado ou avaliado de acordo com os métodos considerados adequados. Este modo de

avaliação e comprovação não dá lugar, por si só, a uma marca de conformidade, nem à divulgação em

lista de produtos certificados.

Certificação pelo sistema 2: Consiste no exame de tipo e posteriores acompanhamentos periódicos,

para verificação de que a produção se mantém conforme. Os ensaios de acompanhamento são

realizados em amostras, colhidas no comércio, do mesmo tipo de produto que foi certificado. Dá lugar a

um certificado emitido por um organismo de certificação e, de uma maneira geral, á divulgação em lista

de produtos certificados.

Certificação pelo sistema 3 – certificação do produto: permite evidenciar que o produto foi analisado

por uma entidade independente e que os resultados obtidos se enquadram dentro dos limites

estabelecidos nas normas de especificação de produto aplicáveis.

Certificação pelo sistema 4: Consiste no exame de tipo e posteriores acompanhamentos periódicos,

para verificação de que a produção se mantém conforme. Os ensaios de acompanhamento são

realizados em amostras, colhidas na fábrica e/ou no comércio, do mesmo tipo de produto que foi

certificado. Dá lugar a um certificado emitido por um organismo de certificação e, de uma maneira geral,

à divulgação em lista de produtos certificados.

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Certificação pelo sistema 5 – Consiste no exame de tipo e avaliação e aceitação do sistema da

qualidade do fabricante e posteriores acompanhamentos periódicos, para verificação de que a produção

se mantém conforme, compreendendo auditorias ao sistema da qualidade. Dá lugar, de uma maneira

geral, à marcação do produto com uma marca de conformidade e à divulgação em lista de produtos

certificados; o uso da marca deve respeitar as regras definidas para o efeito.

Certificação pelo sistema 6 – Consiste na avaliação e aprovação dos sistema da qualidade do

fornecedor, de modo a garantir a sua capacidade para fornecer um produto de acordo com requisitos

especificados e posteriores acompanhamentos periódicos, normalmente anuais, para verificação de que

a conformidade do sistema da qualidade se mantém e dá origem a um certificado e à utilização de uma

marca denominada : Empresa Certificada (figura 4).

Certificação pelo sistema 7: Consiste na realização de ensaios em amostras representativas de um

lote, com base nos quais se certifica a conformidade desse lote de um produto com determinadas

normas ou outras especificações, tendo em conta princípios estatísticos estabelecidos. Este sistema

não dá lugar à marcação nem à divulgação em lista de produtos certificados.

Certificação pelo sistema 8: Consiste na realização de ensaios a todas as unidades fabricadas, com

base nos quais se certifica a conformidade de cada unidade com determinadas normas ou outras

especificações. Dá lugar, de uma maneira geral, à marcação e à divulgação em lista de produtos

certificados.

Figura 4 – Símbolo de marca emitido pela CERTIF (à esquerda) e APCER (à direita) para uma Empresa Certificada

por ter em prática um Sistema de Gestão da Qualidade - ISO 9001 - (*)

(*) Os Organismos de certificação de Sistemas de Gestão da Qualidade ISO 9001 em Portugal, são os seguintes

[I.11]: Associação Portuguesa de Certificação; SGS ICS – Servições Internacionais de Certificação, Lda.; Lloyd’s

Register Quality Assurance; Bureau Veritas Certification Portugal, Unipessoal, Lda.; EIC – Empresa Internacional

de certificações, S.A.; TUV Rheinland Portugal, Inspecções Técnicas, Lda.; Q.S.C.B – Quality Systems Certification

Bureau, Certificação de Sistemas ISO, Lda.; Associación Española de Normalización y Certificación

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2.3.3 DECRÉSCIMO DE DOCUMENTOS DE HOMOLOGAÇÃO - ACRÉSCIMO DE DOCUMENTOS DE

APLICAÇÃO

Por razões inerentes à própria definição de homologação – apreciação favorável da aptidão ao uso

de produtos e sistemas de construção inovadores ou que se desviem significativamente das normas –

não são objecto de homologação os produtos e sistemas que:

� São cobertos por Normas Portuguesas/Europeias não-harmonizadas adoptadas em Portugal;

� Dispõem de regras de aplicação em obra bem dominadas e divulgadas no nosso País;

� São objecto de certificação obrigatória

Entretanto, a publicação da Directiva dos Produtos de Construção, veio alterar o campo de

aplicação da homologação. Com efeito, esta Directiva permite a aposição da marcação CE aos

produtos de construção, desde que se verifique a sua conformidade com as especificações técnicas

aplicáveis, neste caso Normas Europeias harmonizadas ou Aprovações Técnicas Europeias. Os

produtos detentores daquela marcação, como referido, presumem-se aptos ao uso, sendo permitida a

sua livre circulação no espaço comunitário europeu, a menos que surjam suspeitas fundadas de

incumprimento das referidas especificações [B.14].

Assim, a homologação obrigatória do LNEC à luz do já citado artº 17º do RGEU, deixa de poder

aplicar-se aos produtos objecto desta marcação CE. Com efeito, pretendendo-se com esta marcação

permitir a livre circulação dos produtos de construção no espaço comunitário europeu, não teria sentido

– e seria naturalmente objecto de contestação junto da Comissão Europeia, impor que um determinado

produto portador daquela marcação tivesse a sua utilização em Portugal condicionada à obtenção de

uma apreciação favorável do LNEC, traduzida na emissão de um DH.

Por esta forma, para os produtos já abrangidos pela marcação CE e a partir da data do termo do

período de coexistência para eles definida, o LNEC cessou a emissão de DH, mantendo-se em vigor os

DH emitidos anteriormente àquela data, que não serão entretanto renovados, quando o respectivo

prazo de validade expirar. Esta situação estende-se progressivamente aos produtos e sistemas que o

LNEC vinha homologando até agora, à medida que a data do termo do período de coexistência da

norma europeia aplicável vai sendo atingida, levando a um decréscimo substancial de DH em vigor

[B.14].

Perante este novo quadro e tendo em atenção a natureza de que a marcação CE se reveste, o

LNEC passou a emitir novos documentos de apreciação técnica de produtos de construção, estes com

carácter voluntário, designados Documentos de Aplicação, na linha do que se tem estado a verificar em

alguns países europeus.

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Estes Documentos de Aplicação pretendem dar resposta a características que se consideram

relevantes para um adequado desempenho de muitas famílias de produtos de construção em obra e

que não são contemplados no âmbito da marcação CE – tais como, por exemplo, as condições para a

sua correcta colocação em obra, as regras para uma adequada manutenção, as características que

devem ser objecto de eventuais ensaios de recepção em obra e as tolerâncias a satisfazer e a

consideração de eventuais especificidades nacionais. Convirá ter presente que a marcação CE foi

concebida para ser um passaporte para a livre circulação de produtos, não configurando uma marca de

qualidade [B.14].

Os Documentos de Aplicação têm um carácter voluntário e, salvo casos de espécie, só serão

emitidos para produtos que tenham aposta a marcação CE.

A emissão de Documentos com este teor é uma prática já estabelecida em alguns organismos que,

à imagem do LNEC, eram anteriormente responsáveis pela concessão de homologações nacionais,

como sucede, por exemplo, em França, pelo Centre Scientifique et Technique du Bâtiment [I.5] e em

Espanha, pelo Instituto de Ciências de la Construccíon Eduardo Torroja [I.6].

Verifica-se ainda que diversos países europeus, com sistemas de certificação voluntária de

produtos prestigiados e há muito tempo utilizados pelo meio técnico desses países, mantêm e reforçam

as suas marcas de qualidade voluntárias, complementares á marcação CE. Nalguns desses países será

provavelmente difícil de aceitar que um produto seja posto no mercado sem qualquer intervenção de

uma terceira parte independente que comprove as suas características e avalie a sua adequabilidade

ao uso [B.14].

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20

2.4 INSTRUMENTOS DE APOIO À GARANTIA DA QUALIDADE APLICÁVEIS A

ALVENARIAS DE TIJOLO

2.4.1 INTRODUÇÃO

Até aqui procurou-se dar uma ideia geral dos intervenientes e instrumentos existentes em Portugal

e no estrangeiro para a garantia da qualidade na construção. Analisa-se agora para a execução de

alvenarias de tijolo, quais os suportes normativos, de certificação e controlo da qualidade existentes.

2.4.2 NORMALIZAÇÃO

Em Portugal, à data de publicação da DPC, em 1989, existia um muito reduzido número de normas

portuguesas para produtos de alvenaria de tijolo e, em qualquer caso, todas elas antigas e

desactualizadas. Em termos concretos, existiam duas normas e uma especificação LNEC para tijolos de

barro vermelho (NP 80:1964 relativa a características e ensaios, NP 834:1971 relativa a formatos e

Especificação LNEC E 309:1975 relativa a características e ensaios de recepção de tijolos duplex). [B.2]

Na sequência do programa normativo levado a cabo no âmbito da DPC, surgem vários documentos

normativos para produtos de alvenaria; de entre normas EN de especificação de características, normas

EN de ensaios e relatórios técnicos CEN (TR- Technical Reports) e normas EN contendo regras gerais

de aplicação em obra (estas últimas somente para um leque restrito de produtos de revestimento de

paramentos interiores e exteriores de paredes com base em gesso e cimento/cal).

A EN 771-1:2003 – Especificações para elementos de alvenaria [N.1], define as características

(quadro 3) e os ensaios aplicáveis aos tijolos cerâmicos (ANEXO 4). Para a generalidade das

características, esta norma não apresenta critérios de aceitação, mas apenas tolerâncias. Não pode por

isso constituir: nem um referencial de classificação comum para prescritores, utilizadores e fabricantes

com vista à especificação e selecção de produtos com características adequadas face ao seu campo de

aplicação, nem um instrumento para a implementação de sistemas de certificação voluntária que

poderão coexistir com a marcação CE de carácter obrigatório [B.2].

A ausência na norma europeia de valores limites ou classes de desempenho para a maioria das

características nela contempladas é compreensível no intuito de aumentar a flexibilidade de acordo com

a produção e exigência de cada país. Tal intuito pode ser comprovado quando nesta se refere que “a

especificação das propriedades dos tijolos cerâmicos de alvenaria pode ser feita por referência a

sistemas de classificação, desde que tais sistemas se baseiem apenas em propriedades incluídas na

norma e não constituam por si um obstáculo ao comércio”.

A EN 771-1:2003 que se destaca, atingiu em 2006 a data limite do período de coexistência, pelo

que as normas nacionais em vigor, divergentes, foram obrigatoriamente anuladas, para além de se ter

tornada obrigatória a marcação CE dos produtos para a sua livre circulação no Espaço Económico

Europeu, cuja experiência colhida é ainda recente.

Aguarda-se, no nosso país, publicação de documentos complementares que dêem resposta à

inexistência nas normas europeias de um referencial de qualidade para os tijolos em particular e,

analogamente, para as restantes matérias-primas de alvenarias.

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Quadro 3 – Características e tolerâncias especificadas na norma EN 771-1:2003, [B.17].

Ensaio Exigências Tolerâncias/Classes/Categorias

Determinação da resistência mecânica Resistência mecânica e categoria a declarar pelo fabricante

Categoria I ou II

Determinação do volume líquido e percentagem de vazios por pesagem hidrostática

- -

Determinação do teor em sais solúveis activos

Teor em sais solúveis activos a declarar pelo fabricante

S0, S1 ou S2

Determinação da absorção de água fervente para tijolos isolantes da humidade

Limites da absorção de água e limites a declarar pelo fabricante

-

Determinação da taxa inicial de absorção de água

Limites da taxa inicial de absorção de água a declarar pelo fabricante

-

Determinação da densidade líquida e bruta Densidade a declarar pelo fabricante Densidade a declarar pelo fabricante

Determinação de dimensões Dimensões médias e limites a declarar pelo fabricante

T1, T2 ou T0 R1, R2 ou R0

Determinação da expansão por humidade para tijolos de grande formato e furação horizontal

Inferior a 0,6 mm/m -

Determinação da resistência ao gelo/degelo Categoria a declarar pelo fabricante F0, F1 ou F2

Determinação da resistência inicial ao corte Resistência de adesão do tijolo à argamassa a declarar pelo fabricante

-

Método para a determinação dos valores térmicos declarados e de projecto

Propriedades térmicas a declarar pelo fabricante

-

Classificação ao fogo de produtos de construção – Parte 1: Classificação usando resultados de ensaios de reacção ao fogo

Classe a declarar pelo fabricante Classe A1 (sem ensaios) ou outra classe

Legenda:

Categoria I – Elementos com tensão de compressão com um nível de confiança superior a95%;

Categoria II – Elementos que não cumprem o nível de confiança previsto para a categoria I;

S0, S1 e S2 – Teor de sais solúveis de acordo com o quadro 4

Tolerância D1 – máximo de 10 %;

Tolerância D2 – máximo de 5 %;

Tolerância D0 – desvio em percentagem declarado pelo fabricante;

Tolerância T1 – ± 0,4 dimensão de fabrico mm, e no máximo 3 mm;

Tolerância T2 – ± 0,25 dimensão de fabrico mm, e no máximo 2 mm;

Tolerância T0 – desvio em mm declarado pelo fabricante;

Tolerância R1 – ± 0,6 dimensão de fabrico mm;

Tolerância R2 – ± 0,3 dimensão de fabrico mm;

Tolerância R0 – limites em mm declarados pelo fabricante;

Categoria F0 – Exposição passiva – Alvenaria ou elementos de alvenaria que não serão expostos à humidade e condições de gelo;

Categoria F1 – Exposição moderada – Alvenaria ou elementos de alvenaria que estão expostos à humidade e ciclos de gelo e degelo;

Categoria F2 – Exposição severa – Alvenaria ou elementos de alvenaria que estão sujeitos à saturação com água, combinada com ciclos frequentes de gelo e degelo, devido às condições climáticas e ausência de elementos de protecção;

Classe A1 – Os elementos que contenham homogeneamente distribuídos materiais orgânicos até um máximo de 1,0 % da sua massa ou volume, são classificados na classe A1 de resistência ao fogo sem necessitarem de ensaios.

Quadro 4 – Categorias em função do teor em sais solúveis EN 771-5 [N.10]

% da massa não superior a Categoria Na+ + K+ Mg2+

S0 Requisitos não especificados

Requisitos não especificados

S1 0,17 0,08 S2 0,06 0,03

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2.4.3 CERTIFICAÇÃO E CONTROLO DA QUALIDADE

Como referido anteriormente, no âmbito da DPC e com carácter obrigatório surge, o Decreto-Lei n.º

304/90 [L.4] que tornou obrigatória a certificação dos materiais cerâmicos de construção – telhas, tijolos

e abobadilhas – de produção nacional ou importados. Complementarmente, para o caso dos elementos

de alvenaria, foi publicada a decisão 97/740/CE [L.12] que define os níveis de comprovação da

conformidade aplicáveis aos tijolos cerâmicos (quadro 4) de acordo com a directiva 89/106/CE, [B.17]

Quadro 4 – Sistemas de comprovação da conformidade aplicáveis a tijolos cerâmicos,

Categoria de tijolos

Sistema Atribuições do fabricante Atribuições de um organismo aprovado

Controlo da produção

Ensaio inicial

Ensaios de acompanhamento

Inspecção inicial Inspecção de acompanhamento

I 2+ Sim Sim Sim Sim Sim II 4 Sim Sim - - -

Para os elementos de alvenaria de categoria I, prevista na norma EN 771-1, (tijolos com resistência

mecânica média cuja probabilidade de falha não exceda 5%) foi atribuído o sistema de comprovação de

conformidade 2+ que consiste em:

� Controlo da produção da fábrica da responsabilidade do fabricante;

� Ensaios iniciais para caracterização do produto e ensaio periódicos de acompanhamento, da responsabilidade do fabricante;

� Inspecção inicial da fábrica e de acompanhamento para verificação na realização do controlo da produção e dos resultados dos ensaios, por uma entidade independente.

Para os elementos de alvenaria de categoria II (tijolos que não cumprem o nível de confiança

previstos para a categoria I) foi atribuído o sistema de comprovação da conformidade 4 que consiste na

“declaração do fabricante”. O fabricante necessita de:

� Possuir um sistema de controlo da produção da fábrica;

� Realizar ensaios iniciais de caracterização do produto para poder declarar os valores de referência das características dos seus produtos, relativamente à norma EN 771-1.

Em ambos os sistemas o produto deverá ser marcado com a marcação CE.

Para dar resposta à directiva 89/106/CE o fabricante deverá declarar as características dos seus

produtos, baseadas em ensaios e tratamento estatístico, que poderão ser realizados pelo próprio

fabricante ou recorrendo a laboratórios independentes. As características a declarar pelo fabricante e as

exigências que a norma EN 771-1 impõe apresentam-se no quadro 5.

Realça-se o facto de a norma EN 771-1 apenas definir classes ou tolerâncias para grande parte

das características mas não definir limites de aceitação para os elementos cerâmicos de alvenarias. A

certificação ou a marcação CE terão sempre por base a declaração do fabricante, devendo este

demonstrar o seu cumprimento através dos registos do controlo da produção, quadro 4. O cliente, para

garantir a qualidade dos fornecimentos, poderá proceder ao controlo de recepção em amostras iniciais e

em amostras colhidas ao longo dos fornecimentos.

Os critérios de amostragem e os limites de aceitação poderão ser os indicados em cadernos de

encargos ou ter por base a declaração do fabricante. Os ensaios a efectuar são apresentados no

ANEXO 4 e os laboratórios a utilizar poderão ser do cliente, do fabrico ou independentes.

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De qualquer forma, e sabendo que os tijolos cerâmicos representam grande parte das unidades de

alvenaria em Portugal, aguarda-se, no nosso país, publicação de documentos complementares que

constituam um instrumento para a implementação de sistemas de certificação voluntária que poderão

coexistir com a marcação CE de carácter obrigatório.

Quadro 5 – Características a declarar pelo fabricante consoante a aplicação, norma EN 771-1

Característica Observações Aplicação Norma de ensaio

Unidades

Resistência à compressão

Valor declarado e categoria I ou II

Para elementos sujeitos a requisitos de resistência estrutural

EN 772-1 N/mm2

Estabilidade dimensional

Expansão por humidade declarada

Para elementos sujeitos a requisitos de resistência estrutural

EN 772-19 mm/m

Adesão à argamassa

Valor inicial declarado de resistência ao corte

Para elementos sujeitos a requisitos de resistência estrutural

EN 1052-3 N/mm2

Absorção de água

Taxa inicial declarada de absorção de água

Para elementos sujeitos a requisitos de resistência estrutural

EN 772-11 kg/(m2.min)

Teor em sais solúveis activos

Declaração do teor de sais solúveis com base nas classes S0, S1, S2

Para elementos sujeitos a requisitos de resistência estrutural

EN 772-5 -

Reacção ao fogo

Declaração da reacção ao fogo com base nas classes A-F (com base em ensaios) ou A (sem necessidade de ensaios)

Para elementos sujeitos a requisitos de resistência ao fogo

EN 13501-1 -

Emissão de radioactividade

(a estabelecer) Para elementos sujeitos a Requisitos de radioactividade

(a estabelecer)

-

Absorção de água

Valor declarado da absorção de água

Para elementos sujeitos a requisitos de impermeabilidade e uso no exterior

EN 772-7 %

Permeabilidade ao vapor de água

Coeficiente de difusão do vapor de água

Para elementos sujeitos a uso no exterior

(a estabelecer)

-

Densidade e configuração

Valor declarado da densidade bruta e classe de tolerância

Para elementos sujeitos a requisitos de isolamento Acústico

EN 772-13 kg/m3

Geometria declarada, formato e funcionalidade, definidas ou ilustradas com dimensões

EN 772-16 mm

Dimensões declaradas e tolerâncias

EN 772-16 mm

Resistência térmica

Resistência térmica ou densidade e configuração

Para elementos sujeitos a requisitos de isolamento térmico

EN 1745 m2K/W

Durabilidade ao gelo e degelo

Categoria de resistência ao gelo/degelo

EN 772-22 -

* Os tijolos cerâmicos comuns são classificados na classe A de resistência ao fogo, sem necessidade de

ensaios segundo a Decisão 96/603/CE [L.13]

Constata-se para finalizar que não existe em Portugal, até há data, nenhuma norma ou

especificação que aborde directamente o controlo da qualidade na fase de execução de alvenarias.

Aguarda-se então que esta temática seja motivo de atenção num futuro breve à imagem do que já

acontece noutros países, como se descreve em seguida.

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3 GARANTIA DA QUALIDADE NA CONSTRUÇÃO EM OUTROS PAÍSES

3.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS

No domínio da garantia da qualidade na construção, os países vizinhos seguem a tendência de

procurar nos seguros dois tipos de benefícios:

� Benefícios Directos – distribuição de riscos e consequente protecção dos diferentes intervenientes.

� Benefícios Indirectos – garantia da qualidade na construção resultante das exigências da prática seguradora.

Encontra-se ainda como preocupação comum a de, paralelamente à prática dos seguros, se fazer

entender que a qualidade resulta melhor quando é voluntariamente executada e quando assenta no

princípio de que é preferível evitar os erros a corrigi-los.

Apresenta-se em seguida as situações em França e em Espanha no intuito de com elas enriquecer

a metodologia de controlo da qualidade que se desenvolve, uma vez que para além de serem países

vizinhos, são largamente mais experientes no domínio da qualidade em geral e no controlo técnico em

particular.

3.2 A SITUAÇÃO EM FRANÇA

3.2.1 INTRODUÇÃO

Em França, contrariamente a Portugal neste momento, existe um seguro–construção de carácter

obrigatório, através do qual se consegue que exista sempre uma entidade que dê garantias do produto

edifício, mesmo nos casos em que o empreendedor ou a construtora “desapareça” do mercado porque,

em último caso, existe a seguradora. Todos os intervenientes no produto edificado necessitam, devido à

obrigatoriedade do seguro, de uma apólice que, naturalmente é calculada em função do risco que a

actividade de cada um pode introduzir no produto final e do comportamento histórico do agente [B.3].

É então necessária a realização de um controle técnico rigoroso que garanta que todo e qualquer

agente interveniente desempenhe o seu papel como previsto ao longo da obra, garantindo a entrega

desta segundo as especificações e minimizando a ocorrência de patologias. No entanto, para que tal

seja possível, é necessário que se identifique com precisão o que se está a controlar e com que

referencial técnico. É precisamente neste ponto que a documentação técnica de referência: “Documents

Techniques Unifiés” (DTU) se revela imprescindível, a par com a normalização e complementados pelas

declarações de certificação de conformidade dos produtos, tornando possível a introdução generalizada

das medidas de seguro da qualidade e sua certificação dentro do amplo sector da concepção e

execução dos edifícios.

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Percebe-se então que o sistema caracterizado pelos DTU, não sendo obrigatório, está

efectivamente inserido e consolidado no sector da construção civil em França, principalmente como

consequência da obrigatoriedade do seguro-garantia exigido por lei.

Explora-se a experiência francesa com base nos seus dois documentos directamente relacionados

com alvenarias:

� Publicado no passado mês de Outubro de 2008, o NF DTU 20.1 [N.7] referente a alvenarias,

resultante de uma revisão para se tornar eurocompatível, não se conhecendo qualquer outro

trabalho internacional ou europeu tratando o mesmo assunto.

� O complemento francês da EN 771-1, relativas a tijolos cerâmicos “low density” (LD) e “high

density” (HD), NF 12-021-2:2004, que estabelece de forma objectiva os níveis de exigência a

satisfazer pelos tijolos cerâmicos tendo em conta o uso a que se destinam.

3.2.2 REFERÊNCIA PARA A IMPLEMENTAÇÃO DO CONTROLO DA QUALIDADE NA EXECUÇÃO DE

ALVENARIAS - DTU 20.1

Os DTU são compostos por uma série de documentos que registam as boas práticas profissionais,

para a execução dos mais diferentes serviços na construção de edifícios em França, com destaque para

as entidades envolvidas na execução [B.3].

Um DTU não deve procurar ser um curso de técnicas de construção e não pode conter disposições

sob forma de recomendações que não sejam úteis sob o ponto de vista contratual. O objectivo do DTU

não é definir meios, mas qualidades que se exigem na obra terminada. Quando essas qualidades são

facilmente verificadas na obra, torna-se desnecessário fazer-se referência aos meios pelos quais esta

se atinge.

No entanto, quando a conformidade final de uma obra ou serviço, não pode ser simplesmente

constatada ou verificada por uma inspecção de recebimento de obra, mas que se possa identificar as

condições que são indispensáveis ao bom resultado das mesmas, o DTU deve conter essas condições,

sendo dessa forma impostas contratualmente pelo empreendedor.

Um DTU especifica de uma maneira padronizada uma categoria de serviço/obra repetitivo,

podendo servir de base para a definição de procedimentos de garantia da qualidade das empresas

construtoras envolvidas com esse tipo de serviço/obra, mas não deve por si ser um manual de garantia

de qualidade, uma vez que este último diz respeito a uma dada organização e aos processos que essa

implemente para o seu sistema de produção.

Objectivos dos DTU

Os DTU podem ser divididos em dois pontos segundo os seus usos/objectivos. Por um lado são

documentos padrão destinados a serem inseridos nos editais de escolha de empresas construtoras em

obras de edifícios; por outro lado são documentos destinados a serem inseridos nos contratos.

Distinguem-se três tipos de cláusulas nos DTU: Caderno de Cláusulas Técnicas (CCT), Caderno de

Cláusulas Administrativas especiais (CCS) e Guias com distintos objectivos [B.3]

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O CCT tem o objectivo de apontar algumas prescrições técnicas de execução, (não muito

conhecidas e frequentemente desrespeitadas), a fim de garantir que a obra/serviço atenda o melhor

possível às expectativas do cliente, evitando-se problemas danosos às duas partes.

O CCS destina-se a definir obrigações mútuas entre as partes, assim como os deveres para com os

outros participantes.

Os guias funcionam, principalmente, como regras de concepção, detalhes de execução e exemplos

de solução; regras de adaptação ao terreno e conselhos aos redactores dos documentos particulares do

contrato. Podem ter valor normativo ou informativo.

Os CCT servem de texto base para os controladores técnicos e como foram estabelecidos em

comum acordo e com a participação destes, dificilmente serão por eles contestados. Os CCS serão

inseridos nas cláusulas administrativas do contrato, com as vantagens decorrentes da redacção comum

e da unificação. Caso se queiram impor cláusulas distintas das do CCS, estas devem aparecer nos

documentos como excepções ao CCS.

Logicamente que em caso de conflitos entre as partes, se recorrerá ao CCT e ao CCS uma vez que

estes fazem parte do contrato, facilitando, se correctamente elaborados, o processo de resolução da

divergência, na grande maioria dos casos [B.3].

Estrutura de um CCT

Um DTU deve ter um campo de aplicação bem definido. As cláusulas técnicas e próprias à

organização do contrato e as cláusulas administrativas quanto à relação entre os agentes devem, em

geral, estar separadas.

Tendo até aqui sido descrito os vários aspectos de um DTU, faz-se a partir deste momento uma

abordagem mais específica e atenta à parte que destes é relevante para o tema em causa, a execução.

Limita-se então a abordagem à estrutura do caderno de cláusulas técnicas, passando posteriormente ao

conteúdo deste que se relacione com a execução, já que as CCS e os guias têm objectivos que não têm

interesse directo para a abordagem que se pretende neste trabalho. Apresenta-se na figura 5 a

estrutura do caderno de cláusulas técnicas de um DTU, que deve ser organizada conforme um plano-

padrão, relativamente flexível [B.3].

Conteúdo das prescrições relativas à execução de um CCT

O conteúdo das prescrições relativas à execução, relacionadas directamente com a abordagem

deste trabalho, é também o núcleo do DTU [B.3].

As prescrições relativas à execução, 5º item de um CCT, devem essencialmente tratar dos pontos

usualmente mal abordados na prática, utilizando uma linguagem sempre clara e precisa, do tipo: “é

necessário”, “deve-se”, “é proibido” e não: “dever-se-ia”, “pode-se”, “geralmente”.

Em relação à qualificação da mão-de-obra, ou seja, dos que vão executar a obra ou serviço, a

posição francesa, em especial no Comité Europeu de Normalização (CEN), é a de que não se deve fixar

a qualificação dos intervenientes nas prescrições técnicas [B.3].

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Quando a obra ou serviço objecto do DTU for composto por vários subserviços independentes,

impõe-se subdividir o presente item em x sub-items, sendo x o número de subserviços.

Por fim, se o CCT propuser várias maneiras para a execução dos serviços ou obras, deve-se prever

que os documentos particulares possam ter imposto uma de entre elas. Querendo-se fundamentadas

nas mesmas bases as propostas das empresas, os aspectos de projecto relativos a cada modo de

execução devem ser claros e completos.

DTU

Caderno de Cláusulas Técnicas

1) Campo de aplicação

2) Referências normativas

3) Definições

4) Materiais

5) Prescrições relativas à execução

6) Ensaios (quando aplicável)

7) Condições de início de uso (quando aplicável)

8) Condições de manutenção

Figura 5 – Estrutura tipo de um CCT

3.2.3 PRESCRIÇÕES RELATIVAS À EXECUÇÃO DE ALVENARIAS DE TIJOLO (DTU 20.1)

O DTU 20.1 apresenta no seu Caderno de Clausulas Técnicas desde regras de execução comuns

a todos os tipos de alvenarias, a regras de execução para pontos singulares, a prescrições particulares

segundo o tipo e a realização do muro, do material deste, até tolerâncias na execução. Não sendo do

domínio deste trabalho a exaustiva exploração desta norma francesa, opta-se por apresentar em

seguida algumas destas prescrições com maior relevância para o contexto do controlo da qualidade na

execução de elementos exteriores não estruturais de um edifício e para a compreensão da forma e

linguagem utilizada nesta norma [N.7].

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Protecção dos trabalhos em curso

Em temperaturas superiores a 30ºC deve-se proteger a argamassa da dissecação, empregando

procedimentos adaptados ao local e à secagem, tais como humidificação, uso de capas ou coberturas

mantidas húmidas.

Para temperaturas inferiores a 5ºC, as precauções devem ser tomadas para se prevenir contra o

gelo. As partes da obra parcialmente geladas devem ser demolidas até à parte sã.

Para tempos de fortes chuvadas ou de neve deve-se proteger as alvenarias com coberturas,

permitindo este procedimento reduzir o risco de gelar assim como os atrasos de secagem necessários à

persecução dos trabalhos.

Interrupções e recomeços

A montagem da alvenaria deve ser executada de forma a que a estabilidade esteja garantida no

decurso da construção. Em particular:

� A montagem não deve ser interrompida seguindo um plano vertical contínuo, salvo no caso de

juntas de dilatação ou fraccionamento;

� Em caso de interrupção da montagem, a argamassa não deve ser previamente aplicada.

� A superfície de assentamento onde se retoma deve permitir a realização de ligações devendo-

se com esse fim, se necessário, limpar e humidificar no momento de recomeço dos trabalhos

de assentamento.

Protecção contra a humidade ascensional

Quando as paredes se encontram em contacto com o solo, as alvenarias devem ser executadas,

tendo em conta a humidade ascensional. Neste caso, deve ser executado um lintel em betão armado,

como base da primeira fiada de tijolo, com uma altura livre de pelo menos 5 cm, para garantir a

protecção necessária (figura 6a.). No caso de uma parede que separa uma varanda do interior, este

lintel deve ter uma altura de pelo menos 15 cm, e a cota da laje interior deve ser no mínimo 2 cm

superior à da laje exterior (figura 6b)

Tempo de presa da argamassa

Certas disposições devem ser tomadas conforme as condições climáticas aquando da montagem.

Um tempo ventoso e quente exige uma retenção de água elevada da argamassa. Em tempo frio,

com possibilidade de gelo, é necessário adicionar aceleradores de presa ou escolher um cimento de

classe de resistência superior.

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Desencontro de juntas verticais

De um modo geral, o desencontro das juntas verticais de duas fiadas de tijolo, deve ser pelo menos

igual a 1/3 do comprimento do tijolo, de preferência 1/2.

Legenda:

1- Alvenaria em elevação

2- Lintel de betão armado

3- Laje da varanda

4- Parede em contacto com o solo

Figura 6– Protecção contra a humidade ascencional

Espessura das juntas

Os elementos de alvenaria tendo um coeficiente de absorção de água por capilaridade, devem ser

humidificados antes do assentamento, sobretudo em caso de tempo ventoso ou quente.

As faces dos elementos sobre os quais a argamassa é aplicada devem estar limpas.

Em todos os casos a espessura da junta será compreendida entre 1e 2 cm.

Alvenarias de revestimento

As juntas horizontais e verticais devem ser executadas de forma a garantir que não exista qualquer

descontinuidade na argamassa entre elas.

Deve ter-se em conta a concepção global da parede para atender a características como:

isolamento acústico, resistência ao fogo e desperdícios térmicos, de grande importância para este tipo

de alvenaria.

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3.2.4 NORMA FRANCESA COMPLEMENTAR DA EN 771-1 – NF 12-021-2

A resposta francesa à inexistência nas normas europeias de valores limites ou classes de

desempenho para a maioria das características nelas contempladas, como referido no capítulo 2.4.3,

consiste na elaboração de documentos, designados por complementos nacionais de cada EN,

materializados como normas francesas.

Para a EN 771-1, relativas a tijolos cerâmicos “low density” (LD) e “high density” (HD), o

complemento francês designa-se NF 12-021-2:2004. Esta norma que estabelece de forma objectiva os

níveis de exigência a satisfazer pelos tijolos cerâmicos tendo em conta o uso a que se destinam, visa

essencialmente assegurar duas importantes funções a que a EN, por si só não dá resposta, e que são

as seguintes [B.2]:

� Constituírem documentos de suporte, em linha com as normas europeias, para a aplicação do

DTU 20.1

� Constituírem o referencial de exigências a satisfazer pelos tijolos e blocos para efeitos de

atribuição da marca NF de certificação voluntária (**).

A organização do texto da norma NF P 12-021-2, seguiu de perto a da EN correspondente (foi, por

exemplo, adoptada igual numeração para os itens sobre o mesmo assunto), ficando desta forma

facilitada a necessária articulação entre a norma francesa e europeia, dada a complementaridade dos

seus conteúdos.

Para uma melhor percepção das exigências de desempenho especificadas nesta norma francesa,

focam-se em seguida, a titulo de exemplo, algumas das características nela contidas:

TIJOLOS CERÂMICOS [B.2]:

Características gerais de aspecto

Sob esta designação, a norma NF, considera os defeitos associados ao aspecto, que, neste caso

são essencialmente as fissuras resultantes do processo de produção. Os tijolos em que este problema

tem maior significado, são os tijolos furados horizontalmente, com elevada percentagem de furação

(LD), correspondentes aos tijolos de uso corrente no nosso país.

A norma EN 771-1 é omissa em relação a estas características.

(**) – A marca NF é uma marca francesa de certificação voluntária concedidas pela Associação Francesa de Normalização (AFNOR), introduzida pelo Decreto n º 84-74 de 26 de Janeiro de 1984 com o objetivo de certificar a conformidade dos produtos com as normas francesas, europeias e internacionais que dizem respeito, e se apropriado, a adicionais especificações definidas em regulamentos específicos. Esta marca pode ser aplicável a todos os produtos e, eventualmente, a prestação de serviços associados a esses produtos [I.5]

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A norma NF P 12-021-2 estabelece para estes tijolos, numa percentagem limitada de produtos, um

número máximo de fissuras transversais e longitudinais (fissuras essas contadas separadamente e na

sua totalidade), sendo esse número função da quantidade de fiadas verticais de alvéolos, por exemplo,

para tijolos com 3 ou mais fiadas de alvéolos o número máximo de fissuras transversais, longitudinais é

de, respectivamente, 1, 2, e 2. O máximo de fissuras estabelecido na norma poderá afectar apenas uma

percentagem de produtos, a qual varia consoante se trate de tijolos de resistência garantida ou de tijolos

ordinários, para os primeiros estabelece-se 15% e para os segundos um máximo de 30%.

Resistência à compressão

A norma francesa NF P 12-021-2 complementa a norma europeia estabelecendo três sistemas de

classificação baseados na resistência à compressão média dos tijolos aplicáveis, respectivamente, aos

seguintes tipos de tijolos: tijolos de furação vertical de massa volúmica aparente inferior a 1000kg/m3;

tijolos de furação horizontal de massa volúmica aparente inferior a 1000Kg/m3; tijolos maciços ou de

furação vertical ou horizontal de massa volúmica aparente superior a 1000Kg/m3.

A título de exemplo, para os tijolos de furação horizontal de massa volúmica inferior a 1000Kg/m3,

RC 50, RC 60, RC 70 e RC 80, em que a parte numérica dá indicação da resistência média da amostra

(ou seja, RC 40 significa que a resistência média é de 4MPa).

Adicionalmente é exigido que a resistência individual mínima seja igual ou superior a 80% da

resistência média.

Crateras resultantes de inclusões de cal viva

Os nódulos de cal viva eventualmente existentes nos tijolos em resultado do processo de produção,

ao hidratarem-se sob o efeito da humidade, sofrem um grande aumento de volume, provocando,

especialmente se estiverem localizados um pouco abaixo da superfície do produto, a expulsão de uma

porção superficial de material (e do revestimento aplicado) dando origem ao aparecimento de crateras

nos paramentos das paredes.

A susceptibilidade dos tijolos para o aparecimento deste efeito pode ser avaliada através de

ensaios, que se baseiam na hidratação acelerada dos nódulos de cal viva neles presentes.

A norma NF 12-021-2 estabelece exigências relativamente ao número e diâmetro das crateras

resultantes de inclusões de cal viva, as quais são mais severas para os tijolos face à vista do que para

os tijolos a serem revestidos (por exemplo, conforme se trate de tijolos face à vista lisos ou de tijolos

para serem rebocados, são admitidas, respectivamente, o máximo de 1 cratera com diâmetro ≤ 3mm e

3 crateras com 3mm ≤ diâmetro ≤ 10mm por unidade de superfície em dm2, das faces exteriores dos

tijolos).

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Gráfico 2- D istribuição das principa is causas das pato lo gias detectadas

10%

12%

78%

Defeitos de execução

Defeitos deconcepçãoOutros

Expansão com a humidade

A NF P 12-021-2 estabelece um limite superior para a expansão com humidade de todos os tipos

de tijolos de 0,6mm/m.

Durabilidade

A norma francesa define dois métodos de ensaio distintos para a determinação ao gelo/degelo,

consoante o tijolo seja LD ou HD, respectivamente para tijolos destinados a serem protegidos contra a

penetração da água e para tijolos destinados a ficar à vista. Para cada um destes, estabelece os

critérios para avaliação dos resultados desses ensaios, em termos da deterioração e da perda de

massa dos tijolos e, eventualmente, da sua resistência à compressão após os ciclos de gelo/degelo. É

ainda indicada a correspondência entre as classes de exposição F0, F1, e F2, definidas na EN 771-1 e

os resultados obtidos nos ensaios efectuados segundo a norma francesa (por exemplo, os tijolos HD

destinados a ficar à vista respondem à classificação F2 de exposição severa se, após ensaio,

satisfizerem as seguintes exigências: não apresentam alterações significativas de aspecto; a perda de

massa não ultrapassa 1% da inicial; a resistência à compressão da amostra não é inferior à que

corresponde à classe de resistência declarada pelo fabricante, sendo que a avaliação da resistência só

é exigida quando, pelo menos, um provete fica fissurado após o ensaio.

3.2.5 BENEFÍCIOS INDIRECTOS ASSOCIADOS À EXISTÊNCIA DO SEGURO-CONSTRUÇÃO

Em França, a “Agence Qualité Construction” (AQC), organismo responsável pela apreciação e

implementação da qualidade na construção, criou um mecanismo de recolha e análise dos sinistros

declarados às companhias seguradoras – sistema SYCODÉS, no âmbito da garantia decenal e dos

seguros obrigatórios inerentes (reparação de danos e de responsabilidade decenal). Estes dados

constituem um elemento fundamental na avaliação da importância da patologia da construção.

Segundo registos dos sinistros analisados entre 2002 e 2004, a fachada dos edifícios é o elemento

mais afectado pelas patologias, atingindo 21% dos sinistros declarados. Entre as patologias mais

frequentes (gráfico 1), encontram-se os problemas de estanquidade à água da envolvente dos edifícios

com 57% do total. Como principais causas que estiveram na origem dos problemas analisados (gráfico

2), destacam-se os defeitos de execução que totalizam 78% dos registos [I.13].

Gráf ico 1 - D ist r ib uição das p rincip ais pat o log ias det ect ad as em ed if í cio s

57%

2%

39% 2%

Problemas deestanquidade à água

Condensações eproblemas deestanquidade ao arInsuf icienteisolamento térmico ouacusticoOutros

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3.3 A SITUAÇÃO EM ESPANHA

3.3.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS

A partir do ano 2000, com a entrada em vigor da Lei 38/1999 de 5 de Novembro, “Ley de

Ordenación de la Edificación” (LOE), que tem como objecto regular os aspectos essenciais do processo

de edificar, estabelecendo as obrigações e responsabilidades dos agentes que intervêm neste

processo, assim como as garantias necessárias para o adequado desenvolvimento do mesmo, com o

fim de assegurar a qualidade mediante o cumprimento de requisitos básicos dos edifícios e da

adequada proteção dos interesses dos utilizadores, aprovou-se em Espanha o Código Técnico de la

Edificacíon (CTE). O CTE surge assim como um marco normativo que estabelece as exigências que

devem cumprir os edifícios em relação aos requisitos de segurança e estabilidade pela LOE, [L.11],

estabelecendo objectivos e a forma de os alcançar, sem obrigar ao uso de procedimentos ou soluções

determinadas. Desta forma, as prestações surgem como um conjunto de características, qualitativas ou

quantitativas, do edifício, identificáveis objectivamente que contribuem para determinar a sua aptidão

para responder às diferentes funções para que foram projectados.

3.3.2 UMA REFERÊNCIA PARA A IMPLEMENTAÇÃO DO CONTROLO DA QUALIDADE – CTE

O Código Técnico de la Edificacíon (CTE), deverá aplicar-se a todas as construções, com excepção

daquelas que para além de não possuírem carácter residencial ou público, seja de forma eventual ou

permanente, se desenvolvam num só piso e não afectem a segurança de pessoas.

O CTE divide-se em duas partes distintas, a saber:

� A primeira contém as disposições e condições gerais de aplicação do próprio CTE e as

exigências básicas que devem cumprir os edifícios [N.8]

� A segunda é formada por Documentos Básicos (DB), para o cumprimento das exigências

básicas do CTE. Os DB são baseados no conhecimento consolidado das distintas técnicas

construtivas, encontram-se preparados para se actualizarem em função dos avanços técnicos e

as necessidades sociais, tendo sido aprovados regulamentarmente.

Os DB contém:

- por um lado a caracterização das exigências básicas e a sua quantificação, na medida que o

desenvolvimento científico e técnico permite, mediante o estabelecimento dos níveis ou valores limite de

prestação do edifício ou de uma parte deste específica, entendendo-se esta prestação como o conjunto

das características qualitativas ou quantitativas, identificadas objectivamente, que determinam a sua

aptidão para cumprir as exigências básicas correspondentes e,

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- por outro lado, procedimentos cuja utilização acredita o cumprimento daquelas exigências

básicas, concretamente em forma de métodos de verificação ou soluções comprovadas pela prática.

Podem ainda remeter ou referenciar instruções, regulamentos ou outras normas técnicas para efeito de

especificação e controlo dos materiais, métodos de ensaio e dados ou procedimentos de cálculo, que

devem ser tidos em conta na realização do projecto e na sua construção.

Relativamente a alvenarias de tijolo, o CTE dedica um DB ao tema, denominado Documento Básico

SE-F, que, pela relevância para o trabalho que se desenvolve, se explora em seguida.

3.3.3 CONTROLO DA QUALIDADE NA EXECUÇÃO DE ALVENARIAS (DB- SE-F)

O Documento Básico SE-F, destina-se a alvenarias estruturais, pelo que se encontrará no decorrer

deste capítulo, exigências que podem ser demasiado limitativas daquelas que se esperam no contexto

não estrutural do objecto de estudo deste trabalho. Ainda assim, e uma vez que se joga do lado da

segurança, decide apresentar-se, de uma forma bastante fiel ao DB em causa, o conteúdo deste

relativo à execução e ao seu controlo.

Para que se saiba, o DB- SE-F, [N.9], encontra-se dividido em 9 itens+anexos, sendo o primeiro

introdutivo. Os nºs 2, 3, 4, 5 e 6 encerram, respectivamente, as bases de cálculo, durabilidade,

materiais, comportamento estrutural e soluções construtivas. O sétimo capítulo dedica-se à execução e

o oitavo ao controlo desta, pelo que recairá nestes a análise seguinte. O nono trata de aspectos ligados

à manutenção.

EXECUÇÃO DE ALVENARIAS DE TIJOLO SEGUNDO O DB-SE-F

Humidificação dos tijolos

Os tijolos serão humedecidos antes da sua aplicação na execução da alvenaria, por rega ou

imersão, durante uns minutos. A quantidade de água embebida de cada tijolo deve ser a necessária

para que não varie a consistência da argamassa quando entrar em contacto com ela.

Colocação dos tijolos

O tijolo deve ser colocado sempre por esfregação, sobre uma camada de argamassa, até que a

argamassa flua pelas juntas horizontal e vertical. Não se moverá nenhum tijolo após efectuada a

operação de esfregação.

Se for necessário corrigir a posição de um tijolo, retira-se este, retirando também a argamassa.

Preenchimento das juntas

A argamassa deve preencher totalmente as juntas. O assentamento deve realizar-se com a

argamassa no estado fresco. Sem autorização expressa, em paredes de espessura inferior a 200mm,

as juntas não se rebaixarão a uma profundidade maior que 5mm. Ao aproveitar-se a argamassa em

sobra, deve garantir-se que as propriedades desta é a mesma que a inicial, devendo-se adicionar, se

necessário água.

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Elevação da parede

As paredes devem ser elevadas por filadas horizontais em toda a extensão desta, sempre que

possível. Quando duas partes de uma parede se tenham que elevar em épocas distintas, a que primeiro

se executa deverá deixar-se escalonada. Se tal não for possível, deixar-se-á alternadamente saliências

e vazios.

Nas filadas consecutivas de uma parede, os tijolos serão dispostos para que esta se comporte

como um elemento estrutural único. Para tal, o desencontro entre juntas deverá ser de pelo menos de

0,4 vezes a altura do tijolo e não menos que 40mm (figura 6).

Figura 6 – Desencontro de juntas verticais em diferentes fiadas de uma parede

CONTROLO DA EXECUÇÃO DE ALVENARIAS DE TIJOLO SEGUNDO O DB-SE-F

Recepção de materiais

1. Tijolos

1.1. Os tijolos são fornecidos para a obra com uma declaração do fornecedor com a sua

resistência e categoria de fabrico.

1.2. Os tijolos terão uma resistência declarada, com uma probabilidade de não ser alcançada

inferior a 5%. O fabricante terá a documentação que acredita que o valor declarado de

resistência à compressão foi obtido a partir de amostras segundo a EN 771 [N.1], ensaiadas

como indicado no ANEXO 4 – ilustração 1, e a existência de um plano de controlo de

produção em fábrica que garanta o nível de confiança citado.

1.3. O valor médio da compressão declarada pelo fornecedor, multiplicado por o factor δ

(quadro 6), não deve ser inferior ao valor usado nos cálculos como resistência normalizada.

d

Desencontro de juntas ≥ 0,4 d e nunca inferior a 40 mm

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1.4. Quando no projecto seja especificado directamente o valor de resistência normalizada com

esforço paralelo à maior dimensão da peça, no sentido longitudinal ou transversal, será

exigido ao fabricante, por intermédio do fornecedor, o valor declarado obtido mediante

ensaios, procedendo-se segundo os pontos anteriores.

1.5. Se não existir valor declarado pelo fabricante para o valor de resistência à compressão na

direcção do esforço aplicado, recolher-se-ão amostras em obra segundo a EN 771 [N.1] e

ensaiar-se-ão como indicado no ANEXO 4 (Ilustração 1), aplicando-se o esforço na

direcção correspondente. O valor médio obtido, será multiplicado pelo valor δ do quadro 6,

não superior a 1,00, e se comprovará que o resultado obtido é maior ou igual que o valor da

resistência normalizada especificada no projecto.

1.6. O armazenamento em obra deverá efectuar-se evitando o contacto com substâncias ou

ambientes que prejudiquem física ou quimicamente os tijolos

Quadro 6 – Valores do factor δ

Altura do tijolo (mm)

Menor dimensão horizontal do tijolo (mm) 50 100 150 200 ≥250

50 0,85 0,75 0,7 - - 65 0,95 0,85 0,75 0,7 0,65 100 1,15 1,00 0,9 0,8 0,75 150 1,30 1,20 1,10 1,00 0,95 200 1,45 1,35 1,25 1,15 1,10 ≥250 1,55 1,45 1,35 1,25 1,15

2. Areias

2.1. Cada remessa de areia que chegue à obra deverá ser descarregada numa zona de solo

seco, convenientemente preparada para o fim, que possa conservar-se limpa.

2.2. As areias de diferentes tipos serão armazenadas em separado.

2.3. Realizar-se-á uma inspecção visual de características e, se se julgar necessário, realizar-

se-á uma recolha de amostras para comprovação dessas em laboratório.

2.4. Pode-se aceitar areias que não cumpram alguma condição, se se proceder à sua correcção

em obra através de lavagem, crivagem ou mistura, e após correcção cumpram as

condições exigidas.

3. Ligantes

3.1. Durante o transporte e armazenamento proteger-se-á os ligantes do contacto com água,

humidade e ar.

3.2. Os distintos tipos de ligantes serão armazenados separadamente.

4. Ligantes preparados

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4.1. Na recepção de misturas preparadas comprovar-se-á que a dosagem e resistência que

figuram na embalagem correspondem ao solicitado.

4.2. A recepção e o armazenamento ajustar-se-á ao assinalado para o tipo de material

4.3. As argamassas preparadas e secas empregar-se-ão seguindo as instruções do fabricante,

que incluirão o tipo e o tempo de amassadura e a quantidade de água.

Controlo da parede

Em qualquer caso, ou quando seja especificado directamente a resistência da parede, poderá

utilizar-se para determinar essa variável directamente a EN 1052-1 [N.11].

Se alguma das provas de recepção de tijolos falhar, ou não se encontrarem as condições de

categoria de fabrico supostas, ou não se alcançar o tipo de controlo de execução previsto no projecto,

deve proceder-se a um recálculo da estrutura a partir de parâmetros constatados, e consoante o caso,

do coeficiente de segurança apropriado.

Quando o projecto não defina tolerâncias de execução de paredes verticais, utilizar-se-ão os

valores constantes no quadro 5, tendo em conta a figura 7.

Quadro 5 – Tolerâncias para elementos de alvenaria Posição Tolerância [mm]

Desaprumo Por andar Na altura total do edifício

20 50

Axialidade 20

Planeza (*) Em 1 metro Em 10 metros

5 20

(*)- A planeza mede-se a partir de uma linha recta que une dois quaisquer pontos da alvenaria

Figura 7 – Tolerâncias de desaprumo (à esquerda) e axialidade (à direita) para elementos de alvenaria

Categorias de execução:

Estabelecem-se três categorias de execução A, B e C, segundo as seguintes regras:

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Categoria A:

� Empregam-se tijolos detentores de certificação das suas especificações sobre tipo e grupo,

dimensões e tolerâncias, resistência normalizada, absorção, retracção e expansão por

humidade.

� A argamassa deverá dispor de especificações sobre a sua resistência à compressão e à flexão

a 7 e a 28 dias.

� A alvenaria dispõe de um certificado de ensaio prévio à compressão segundo a norma EN 1052-

1 [N.11], à tracção e ao corte segundo a norma EN 1052-4 [N.12].

� Durante a execução realiza-se uma inspecção diária à obra executada, assim como o controlo e

a supervisão continuada por parte do construtor.

Categoria B:

� Os tijolos estarão dotados das especificações correspondentes à categoria A, excepto no que se

refere às propriedades de absorção, de retracção e expansão por humidade.

� A argamassa deverá dispor de especificações sobre a sua resistência à compressão e à flexão

a 28 dias.

� Durante a execução realiza-se uma inspecção diária à obra executada, assim como o controlo e

a supervisão continuada por parte do construtor.

Categoria C:

Quando não se cumpra algum dos requisitos para a categoria B.

Argamassas de assentamento

Só se admite a fabrico manual para projectos com categoria de execução C. A argamassa não se

sujará durante a sua manipulação posterior.

A argamassa de assentamento aplicar-se-á antes de se iniciar a presa. A argamassa cuja presa se

inicie antes de ser aplicada deve desperdiçar-se e não ser reutilizada.

Ao dosear as componentes da argamassa deve considerar-se a absorção dos tijolos que podem

reduzir a seu conteúdo em água.

Não se adicionará nenhum componente à argamassa depois de esta ser amassada.

Quando se estabeleça a determinação mediante ensaios da resistência da argamassa, utilizar-se-á

a EN 1015-11 [N.10].

Protecção das alvenarias em execução

As alvenarias recém construídas serão protegidas contra perigos físicos (por exemplo, colisões) e

contra acções climáticas (por exemplo, geadas).

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O topo das paredes deverá ser coberto para impedir a lavagem da argamassa das juntas por efeito

das chuvas e evitar eflorecências ou malefícios aos materiais higroscópicos.

Tomar-se-ão precauções para manter a humidade da alvenaria até ao final da presa,

especialmente face a condições desfavoráveis, como baixa da humidade relativa, altas temperaturas ou

fortes correntes de ar.

Limitar-se-á a altura da parede de alvenaria que se executa por dia para evitar instabilidades e

incidentes enquanto a argamassa se encontra fresca. Para determinar o limite adequado ter-se-ão: a

espessura do muro, o tipo de argamassa, a forma e a densidade dos tijolos e o grau de exposição ao

vento.

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4 METODOLOGIA DE CONTROLO DA QUALIDADE NA EXECUÇÃO DE

ELEMENTOS NÃO ESTRUTURAIS EXTERIORES DE UM EDIFÍCIO –

ALVENARIA DE TIJOLO

4.1 INTRODUÇÃO

A designação de alvenaria, processo de aglutinação de materiais de construção, com formas e

dimensões condicionadas pela sua natureza, dispondo-se convenientemente de modo a constituírem

maciços com uma determinada espessura, onde os elementos são travados por sobreposição e, em

regra, ligados entre si por argamassa, deriva de antigamente se chamar “alvenel” ou “alvener” ao

operário que a executava, actualmente conhecido por pedreiro [B.8] ou trolha.

Entre os vários tipos de alvenaria, conforme a natureza do material que a constitui e o ligante

usado, em regra, todas elas apresentam uma boa resistência a esforços de compressão e uma fraca

aptidão para suportarem os restantes tipos de esforços [B.8]; a forte sismicidade presente em extensas

regiões de Portugal, e as solicitações horizontais que a caracteriza, limitam muito o uso de paredes

resistentes de alvenarias, razão pela qual se direcciona a análise do trabalho que se desenvolve para

elementos não estruturais de edifícios. Ainda assim, grande parte da metodologia que agora se

descreve pode facilmente ser adaptada para elementos de alvenaria estrutural, ou outros, com o devido

cuidado de adaptar o seu conteúdo técnico ás exigências particulares desse novo objecto.

A metodologia de controlo da qualidade na execução de alvenarias de tijolo que se desenvolve

privilegia a operacionalidade de actuação através de três hierarquias de controlo (figura 8).

Figura 8 – Os três níveis hierárquicos de controlo da qualidade da metodologia desenvolvida

Sendo do conhecimento geral que um contrato de empreitada se celebra entre dois agentes,

empreiteiro e dono de obra, é já prática no nosso país a intervenção destes agentes no panorama do

controlo da qualidade. O empreiteiro para evitar os custos adjacentes da constatação de defeitos pelo

dono de obra e este para verificar que a obra se encontra nas condições convencionadas. A figura do

controlador, pelo contrário, não se encontra implementada no nosso país, e acredita-se que estará

dependente (à imagem de França e Espanha), da obrigatoriedade legal do seguro-construção ou de

qualquer outra forma de garantia específica do produto construído.

Controlador (Controlo da qualidade externo)

Fiscalização (Controlo da qualidade interno ao dono de obra)

Empreiteiro (Controlo da qualidade interno ao empreiteiro)

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O seguro-contrução obrigatório levará os donos de obra a assegurarem a empreitada por uma

terceira parte (seguradora) e esta condicionará o preço e emissão da apólice ao risco eminente (como

forma de protecção). Naturalmente que, na grande maioria dos casos, será exigido pela seguradora

uma figura especializada, idónea e independente – Controlador Técnico, para atestar a qualidade da

obra e recomendar com as suas condições a emissão da apólice. O principal interessado deste agente

de controlo (em última análise) é o consumidor final, cliente, comprador do edificado. A

responsabilidade pela contratação desse controlador técnico deve ser alvo de um estudo profundo e

específico, não se encontrando, por isso, no contexto do trabalho que agora se desenvolve.

Uma vez que actualmente o seguro-contrução não é obrigatório, a metodologia desenvolvida

abordará, por um lado e de uma forma técnica e, sempre que possível melhorada, os métodos de

controlo já implementados em muitas empresas de construção, sugerindo por outro lado a integração

deste novo agente (Controlador Técnico) no processo.

Por uma questão funcional, procura-se a maior aderência possível aos preceitos do referencial

normativo ISO 9001 para a Qualidade, tendo por isso sido estruturada com base em Documentos de

Acompanhamento de Execução de um Sistema de Gestão da Qualidade da Obra (SGQ) de uma

empresa de construção nacional. Estes documentos, que fornecem a evidência objectiva da qualidade

final e da conformidade das tarefas desenvolvidas com os requisitos definidos, por hierarquia,

consideram-se:

� PEP – Procedimentos Específicos de Produção - respeitam as condições do Caderno de

Encargos, impostas pelo Cliente e são utilizados em obra para a realização de actividades

produtivas críticas, com impacto na qualidade final da obra, que representem impactes

ambientais significativos ou riscos elevados associados. Descrevem a sua forma de execução,

os recursos necessários, as fases de trabalho e os respectivos pontos relevantes no que se

refere à qualidade final do produto.

� PIE – Planos de Inspecção e Ensaio - são os que respeitando os critérios definidos para o PEP,

são estabelecidos para controlo das actividades da obra, que incluem a identificação dos

responsáveis, pontos e métodos de inspecção, monitorização e ensaio para controlo da

qualidade do produto.

� FVC – Fichas de Verificação e Controlo - são documentos onde se regista o estado em que se

encontram desenvolvidas as actividades e se cumprem com os requisitos definidos pelo

caderno de encargos. No fundo, relatam o estado das inspecções feitas à execução dos

trabalhos.

A filosofia de actuação das três hierarquias envolvidas na metodologia de controlo da qualidade

que se desenvolve, será descrita no subcapítulo 4.5, após análise detalhada do papel de cada agente,

respectivamente, Empreiteiro no subcapítulo 4.2, Fiscalização no subcapítulo 4.3 e do Controlador

Técnico no subcapítulo 4.4.

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4.2 AUTO CONTROLO DA QUALIDADE – EMPREITEIRO

4.2.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS

O controlo interno por parte do Empreiteiro em relação à qualidade constitui o objectivo principal a

implementar através da monitorização e controlo do seu próprio trabalho e do que for realizado pelos

seus subempreiteiros. Para o efeito, o Empreiteiro deve identificar e planear os trabalhos a executar e

submeter aqueles planos à aprovação da Fiscalização.

Para a estruturação deste capítulo partiu-se inicialmente dos conceitos contidos no Manual de

Alvenaria de Tijolo [B.4], tendo este sido desenvolvido com a cooperação de entidades que dispõem de

conhecimento nesta matéria, tal como o Centro Tecnológico de Cerâmica e do Vidro, o Departamento

de Engenharia Civil da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, do

Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, e através de

docentes que têm dedicado à construção e aos produtos cerâmicos que nela intervêm, o seu esforço de

investigação.

As etapas de execução de alvenaria de tijolo apresentam-se como um modelo que pode ser

seguido com segurança, mas não imposto. Há seguramente outras formas de abordar a execução que

atingem o objectivo final – executar com qualidade. Para tirar o maior partido possível das capacidades

do Empreiteiro, impõe-se o respeito pelos seus processos construtivos desde que estes conduzam a

resultados compatíveis com os requisitos estabelecidos no respectivo contrato e na estrita observância

da legislação e regulamentação em vigor.

O presente capítulo apresenta-se como um documento de referência de carácter técnico para cada

uma das etapas de execução, tendo como fim, por um lado, servir de base para a realização dos

documentos de acompanhamento que se sugerem no capítulo seguinte. Devido à ausência de

normativas portuguesas de vários indicadores de relevante importância na execução de alvenarias,

recorreu-se á consulta dos mesmos na normativa francesa e espanhola, que foram respectivamente

explorados nos capítulos 3.2 e 3.3 do presente trabalho, sempre que esta revelou utilidade.

4.2.2 PROGRAMAÇÃO DA EXECUÇÃO DAS ALVENARIAS NO PLANO DA OBRA

4.2.2.1 Introdução

Durante a execução de qualquer elemento de um edifício, a organização dos trabalhos assume

grande importância. Este facto deriva da capacidade que a organização possui de bem coordenar e

gerir os recursos ao longo do tempo em que a construção se desenvolve. Assim, existem planos de

trabalho, cronogramas, em tempos manuais, hoje, vulgarmente informatizados, que permitem adequar a

cada semana, dia ou hora, consoante a necessidade de detalhe e a complexidade do trabalho a fazer, o

número de homens, de equipamentos, de matérias-primas para que a obra se desenvolva

continuamente.

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Imagine-se o prejuízo que pode advir de uma actividade crítica, leia-se, actividade de cujo final

depende o início de todas as que, cronologicamente, lhe são posteriores, se atrasar dias ou semanas.

As alvenarias representam geralmente uma actividade crítica. Da sua conclusão dependem o início de

muitas actividades: revestimentos, canalizações, instalações eléctricas, pinturas, entre outras.

Este facto leva a que frequentemente se assista à tentativa de acelerar a sua execução e encurtar

a duração final da obra. No entanto, as exigências técnicas levam a considerar esta tendência um grave

problema.

Tecnicamente é aconselhável que se retarde o início das alvenarias devido a dois fenómenos: a

deformação das estruturas sob a acção de cargas e a retracção das estruturas e das paredes que

podem levar à fissuração das alvenarias (figura 9) [B.4].

Figura 9 – Deformação da estrutura sob a acção de cargas e consequente fissuração das alvenarias

4.2.2.2 Início da execução das alvenarias

As estruturas sob a acção do seu peso próprio sofrem deformações imediatas que são acrescidas a

médio e longo prazo devido às sobrecargas e a fenómenos de fluência. Estas deformações são as

responsáveis mais habituais de fissuração nas alvenarias devido à incompatibilidade entre a

deformação da flecha activa dos elementos estruturais de betão armado. Mesmo quando estas flechas

se cifram em valores aceitáveis, na ordem de L/500 a L/750, continuam a ser incompatíveis com a

rigidez dos tijolos de barro vermelho [B.5]. Assim, a única forma de prevenir a fissuração das alvenarias

eficazmente é aceitar as deformações de flecha activa, e adequar a forma de execução.

4.2.2.3 Fecho superior das alvenarias

Não só o betão armado da estrutura em pórtico que apoia as alvenarias, como a argamassa,

ligante desta, sofre fenómenos de retracção de três tipos: plástica, antes da presa e que resulta da

evaporação da água à superfície do betão; autogénea, após a presa e resultado da hidratação do

cimento que consome a água livre na massa do betão; secagem, após a presa originada pela

evaporação da água que não foi consumida pela hidratação do cimento. A retracção de secagem é a

que tem maior significado para a diminuição total da peça devido ao fenómeno de retracção.

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44

4.2.2.4 A controlar

É então da responsabilidade do empreiteiro controlar que o inicio da execução se dá depois de

terminada a estrutura e por ordem inversa, de cima para baixo, ou seja num edifício de 3 pisos, se

começa o assentamento de alvenarias no 3º, seguido pelo 2º e terminando no piso térreo. Em situações

em que o prazo da obra o exigir e se o porte da obra o justificar, aponte-se a titulo indicativo, mais que 5

pisos, pode-se, em alternativa começar a execução das alvenarias do 3º para o 1º, depois do 6º para o

4º e assim sucessivamente.

O fecho superior das alvenarias também deve ser alvo de controlo, devendo ser iniciado

unicamente quando estiverem executadas pelo menos 50% destas e de cima para baixo.

4.2.3 RECEPÇÃO E ARMAZENAMENTO DOS MATERIAIS EM OBRA

4.2.3.1 Introdução

A recepção dos materiais em obra visa a garantia das exigências estabelecidas no projecto. Para

que esta recepção seja eficaz deve focar o estado dos materiais à chegada, verificando que estes

possuem todas as características definidas pelo projecto, não tendo sofrido nenhuma deterioração

durante o transporte.

Este controlo, na maioria dos casos, é visual, podendo em obras de maior envergadura ou casos

especiais necessitar de procedimentos laboratoriais, in loco ou em instalações auxiliares para

caracterizar, por amostragem, os materiais, garantindo que estes respeitem as normas e exigências

estabelecidas no caderno de encargos. Para além do referido, a recepção deve ser feita paralelamente

a um correcto e responsável armazenamento [B.4]

Os materiais a aplicar em obra serão recebidos pelo empreiteiro, devendo este notificar a

Fiscalização quanto à data da sua chegada.

4.2.3.2 Recepção dos tijolos

O empreiteiro deve restringir a recepção aos tijolos portadores de documentação que acredite as

suas características ensaiadas segundo a norma 771-1 e o seu recebimento será condicionado por

estas satisfazerem integralmente as exigências expressas no caderno de encargos [N.1].

4.2.3.3 Armazenamento dos tijolos

Armazena-se os tijolos em pilhas não superiores a dois metros, sobre uma superfície plana, em

estrados de transporte (“palettes”) ou sobre pavimentos limpos (não pulverulentos), em armazéns, ou

protegidos das intempéries com filme plástico [B.4].

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4.2.3.4 Recepção dos ligantes

Recepciona-se os ligantes após verificar que dispõem de documentação que acredite que se

encontra legalmente fabricado [N.2] e comercializado e inspeccionar a integridade dos sacos que não

deverão apresentar sinais de humidade que possam constituir indícios de que se deu o início da

hidratação [B.4].

4.2.3.5 Armazenamento dos ligantes

Armazena-se os ligantes em pilhas não superiores a dez metros de altura e um metro e quarenta

de largura, com espaço de circulação entre elas, depositados sobre estrados de madeira com ventilação

inferior ou em silos, se fornecidos a granel, protegidos das intempéries em armazéns [B.4].

4.2.3.6 Recepção da areia

A areia recebida em obra não pode ter indícios da presença de matéria orgânica ou argilosa após

se realizar a sua análise granulométrica.

4.2.3.7 Armazenamento da areia

O armazenamento da areia deve ser efectuado em baias, com o cuidado de não misturar diferentes

tipos e proveniências

4.2.4 ARGAMASSAS DE ASSENTAMENTO

4.2.4.1 Introdução

Para o fabrico das argamassas de assentamento é necessário compreender qual o seu papel no

conjunto final que integra, alvenarias, e de que forma é que os seus componentes – areias, ligantes,

água potável e eventuais adições e adjuvantes – se devem relacionar para que este papel seja

desempenhado com sucesso.

As argamassas de assentamento servem para unir os vários tijolos, distribuir uniformemente as

cargas verticais, absorver deformações, resistir a esforços laterais e selarem juntas impedindo a entrada

de águas. Para que estes objectivos sejam devidamente cumpridos, os seus componentes devem ser

ajustados às necessidades de cada caso, baseando-se este ajuste no estudo aprofundado da

capacidade resistente à flexão e à compressão, módulo de elasticidade, retracções, aderência,

trabalhabilidade e retenção de água que, teoricamente, os componentes trarão à argamassa de

assentamento e por sua vez ao produto final em que esta participa, alvenarias. Este estudo

aprofundado é fundamentalmente efectuado ao nível do projecto, não se encontrando, portanto, visado

no trabalho que agora se desenvolve [B.4].

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4.2.4.2 Argamassas produzidas no local

Se a argamassa for produzida no local, deve procurar-se que o tamanho da betoneira/misturadora

tenha em conta o volume de argamassa possível de assentar no período dormente, período que

antecede a presa, sabendo desde já que os trabalhos de assentamento têm baixos consumos, na

ordem de 10 a 15 litros de argamassa por m2 de alvenaria [B.4]

Deve confirmar-se que o local onde a argamassa é preparada estará limpo e desobstruído e que se

colocam os constituintes definidos em projecto na misturadora ou betoneira, amassando o tempo

necessário para obter misturas homogéneas.

Determinar-se-á a trabalhabilidade da argamassa utilizando uma mesa de espalhamento (flow test)

ou, em alternativa, um Cone de Adams, periodicamente para se assegurar que esta se mantém com

uma consistência entre os limites estabelecidos no caderno de encargos.

4.2.4.3 Argamassas industriais

Encontra-se no domínio deste trabalho encontrar uma forma de assegurar que as características

das argamassas de assentamento definidas no projecto e as que se poderão medir no final da

execução sejam concordantes. Pela importância desta concordância tem-se tornado comum o uso de

argamassas industriais que evitam os cuidados na produção in loco.

4.2.4.4 A controlar

A argamassa de assentamento utilizada deve apresentar boa trabalhabilidade, medida através de

uma mesa de espalhamento (flow-test) e constante ao longo de todo o elemento.

Deve saber-se que é possível, no estado endurecido, controlar-se parâmetros como a resistência à

flexão e compressão, retracção, arranque (pull-off) e módulo de elasticidade (dinâmico) e que são estes

que, em última análise, influenciam o comportamento das alvenarias, não para os verificar sempre que

se produzir uma argamassa, mas para fazer escolhas racionais dos produtos mais adequados. Os

ensaios que permitem controlar os parâmetros citados podem ser aprofundados na consulta de [B.1].

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4.2.5 ASSENTAMENTO DO TIJOLO

4.2.5.1 Introdução

Antes de dar inicio ao assentamento, torna-se necessário realizar diversas verificações para

minimizar a ocorrência de problemas durante esta etapa. Destacam-se as verificações do estado da

estrutura (geometria, desempeno e alinhamentos); da eventual necessidade de reparação pontual da

estrutura com, no mínimo, três dias de espera entre o finalizar de esta tarefa e dar início ao

assentamento; da limpeza e nivelamento dos pavimentos com régua de 2 metros; da eventual

existência de ferros de espera na estrutura para ligação das alvenarias se estes constarem no projecto;

da implementação das medidas que assegurem o fornecimento de material no piso e das medidas de

segurança colectivas necessárias à execução das alvenarias.

Terminadas as verificações e resolvidas as eventuais incongruências de projecto, chega-se ao

momento de definir as etapas de assentamento. Estas não são alheias ao tipo de parede, que pode ser

dupla ou simples, e à espessura que se pretende. A espessura é definida pela dimensão do tijolo,

medida perpendicularmente ao paramento vertical desta, designando-se por paredes a um quarto de

vez, a meia vez e a uma vez, conforme o tijolo é assente com a sua menor dimensão, largura ou

comprimento, perpendicularmente à face da parede. A combinação de posicionamentos de mais que

um tijolo na mesma fiada resulta em paredes de uma vez e meia, duas, etc. [B.4].

Existe, ainda assim, um padrão na execução do assentamento de tijolo independente do tipo e

espessura da parede. A execução inicia-se com a marcação e realização da primeira fiada, seguindo-se

a marcação em altura e nivelamento, após a qual se passa para a elevação da parede e culmina com o

fecho superior. Apresenta-se no ANEXO 5 a descrição detalhada de uma forma de execução do

assentamento.

4.2.5.2 A controlar

Implantação das paredes de alvenaria

Antes de dar inicio ao assentamento verificar-se-á:

� A limpeza e nivelamento dos pavimentos com régua de 2 metros

� Que a superfície de assentamento se encontra rugosa e húmida.

Os panos de alvenaria deverão ser marcados de acordo com o projecto de execução com uma

tolerância de ±5mm e deve proceder-se à marcação das fiadas em altura com o objectivo de, sempre

que possível, minimizar o número de fiadas a realizar com tijolo cortado.

Assentamento de alvenarias/ elevação da parede

O tijolo deve ser colocado sempre por esfregação, sobre uma camada de argamassa, até que a

argamassa flua pelas juntas horizontal e vertical.

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Não se moverá nenhum tijolo após efectuada a operação de esfregação. Se for necessário corrigir

a posição de um tijolo, retirar-se-á este, retirando também a argamassa.

O desencontro entre juntas deverá ser de pelo menos 1/3 do comprimento do tijolo,

preferencialmente 1/2 (figura 10).

Figura 10 – Desencontro de juntas no assentamento dos tijolos

A espessura das juntas será constante em todo o elemento com aproximadamente 10mm.

Execução de caleira com argamassa em quarto de circulo com pendente no sentido longitudional

com aplicação de tubos de drenagem espaçados de 2 metros, salientes em relação ao revestimento de,

no mínimo, 15mm e protecção desta com um material maleável.

Os paramentos encontrar-se-ão aprumados, desempenados com um desvio máximo de 5mm por

metro e alinhados com precisamente 90º entre paredes perpendiculares.

4.2.6 COLOCAÇÃO DE MATERIAIS DE ISOLAMENTO TÉRMICO

4.2.6.1 Introdução

A colocação de materiais de isolamento térmico é cada vez mais importante. A promoção do

conforto térmico, traduzido num controlo mais eficiente da temperatura ambiente interior, irá traduzir-se

na necessidade de melhorar o isolamento da envolvente exterior dos edifícios. O reforço do isolamento

das paredes exteriores pode ser alcançado por 3 vias: exterior, interior ou na caixa de ar da parede.

Limita-se a abordagem ao Isolamento térmico na caixa de ar, por este, ao contrário dos restantes,

interferir directamente com a construção das paredes de alvenaria, e portanto se encontrar directamente

implicado com a metodologia que se desenvolve.

De entre os vários materiais de isolamento térmico na caixa de ar limita-se a abordagem aos

materiais rígidos, por serem a solução que mais vantagens apresenta para a maioria das situações.

Pode consultar-se em [B.4] as várias soluções existentes, desde materiais injectados, a granel,

projectados e materiais de isolamento térmico flexíveis.

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4.2.6.2 Isolamento térmico na caixa de ar com recurso a materiais rígidos

Os materiais destinados ao isolamento térmico complementar das paredes podem apresentar-se

sob a forma de placas rígidas com espessuras correntes de 3 a 5 cm. A colocação deste tipo de placas

na caixa de ar de uma parede dupla deve obedecer às seguintes exigências gerais:

� O material deve ser imputrescível e indeformável quer nas condições de aplicação como de

serviço, e apresentar, de preferência, uma reduzida absorção de humidade (uma vez que em

geral não está garantida a total estanquidade da parede exterior, que os fluxos de vapor de

água que atravessam a parede podem ser significativos e que a resistência térmica diminui com

o aumento do teor de humidade);

� As placas de isolamento térmico devem ser aprumadas, encostadas à parede interior ( com uma

caixa de ar livre remanescente de 2 a 7 cm) e cobrir toda a sua superfície;

� As placas devem constituir uma barreira contínua sem juntas verticais ou horizontais abertas

entre elas, de modo a impedir fenómenos de convecção entre as duas faces.

Para que seja possível responder a estas exigências e garantir um bom desempenho da parede e

da fachada onde esta se integra, é necessário garantir ainda:

� A adequada correcção das pontes térmicas, quando o isolamento é interrompido nos elementos

estruturais, padieiras, etc.;

� Espaçadores ou fixadores das placas isolantes ao pano interior, para garantir que se mantêm

encostadas a este pano;

� Desempeno da face exterior da parede interior ( que estará em contacto com o isolante), para

evitar a circulação de ar e facilitar a aplicação do isolamento.

A colocação das placas rígidas do isolamento deve ser coordenada com a sequência de operação

da execução das alvenarias, uma vez que inviabiliza, por exemplo, o levantamento simultâneo dos 2

panos de parede (exterior e interior). Como se refere no ANEXO 5, quanto à execução de paredes

duplas, procede-se, em geral, à marcação e 1ª fiada dos 2 panos de parede e à execução da caleira de

drenagem, à qual se segue a elevação do pano exterior. É então possível colocar as placas de

isolamento exterior através de um dos seguintes processos:

� Atravessamento do isolamento pelos grampos de ligação das duas paredes, previamente

fixados nas juntas da parede exterior e que serão posteriormente inseridos nas juntas

horizontais a construir depois da colocação do isolante;

� Utilização de espaçadores metálicos ou de plástico, ligados ou não à parede exterior, com um

batente (anilha) de posicionamento do isolante, com eventual ajuste através de rosca;

� Utilização de calços fabricados no local, colados à placa pela face exterior.

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As placas de material isolante não hidrófilo podem ser aplicadas entre os dois panos de parede

sem caixa de ar. Verifica-se todavia que a contribuição da caixa de ar remanescente (com largura livre

mínima de 2 cm) traz significativas vantagens do ponto de vista da prevenção de problemas

relacionados com humidade, quer no que respeita às infiltrações exteriores, quer às eventuais

condensações devidas à difusão do vapor de água proveniente do interior do edifício.

Do ponto de vista da produtividade na execução é vantajosa a utilização de placas com a altura do

piso e com encaixe lateral, uma vez que são de mais fácil colocação, aprumo e que se torna mais

simples garantir a sua posição durante a execução dos restantes trabalhos, a eliminação da circulação

de ar entre as duas faces das placas pelas juntas e a limpeza final da caixa de ar, que com mais certeza

não ficará sujeita a derrames de argamassa.

4.2.6.3 A controlar

A colocação das placas de isolamento térmico deve fazer com que estas se encontrem aprumadas,

encostadas à parede interior, com uma caixa de ar livre remanescente de 2 a 7 cm. As placas devem

cobrir toda a sua superfície. Devem aplicar-se espaçadores ou fixadores das placas isolantes ao pano

interior, para garantir que se mantêm encostadas a este.

4.3 CONTROLO DA QUALIDADE INTERNO AO DONO DE OBRA – FISCALIZAÇÃO

4.3.1 INTRODUÇÃO

A fiscalização deverá assegurar que os documentos de acompanhamento de execução elaborados

pelo Empreiteiro cumpram os standards pré-definidos no contrato e, nos casos omissos, cumpram os

padrões e as normas de boa e segura execução que forem exigíveis. Apresenta-se então,

seguidamente, um exemplo mais formal do que prático, de cada documento de acompanhamento.

Estes devem ser tidos em função do contexto deste trabalho e não como um exemplo a seguir em

qualquer execução de alvenarias de tijolo.

4.3.2 PROCEDIMENTO ESPECÍFICO DE PRODUÇÃO (PEP)

O procedimento específico de produção será, por definição, adequado à especificidade de cada

projecto, contrato, obra. Deverá ser aplicável à execução de alvenarias de tijolo e todos os trabalhos

preparatórios e acessórios que esta envolve. No ANEXO 7 apresenta-se o modelo de um PEP

elaborado.

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4.3.3 PLANO DE INSPECÇÃO E ENSAIO (PIE)

Não obstante os cuidados a ter a montante do processo construtivo, nomeadamente em fábrica e

em projecto, o plano de inspecção e ensaio que se propõe incide sobre os aspectos relacionados com a

fase de execução em obra.

O PIE que se apresenta no ANEXO 1, referente á execução de alvenarias, encontra-se organizado

pela sequência cronológica das etapas que esta actividade pressupõe. A cada etapa faz corresponder

um item de inspecção, que por sua vez se encontra associado a:

� um ponto do subcapítulo 4.2 de referência tecnológica;

� uma FVC que deve em obra ser usada para o controlo da qualidade de execução desse item;

� critérios de aceitação/ observações que devem ser utilizados no decorrer da inspecção;

� um tipo de inspecção e a função do responsável que a executa, para a respectiva etapa.

O subcapítulo 4.2 tem a função de referencial tecnológico, encontra-se convenientemente

bibliografado e servirá para algum esclarecimento adicional que o PIE por si não resolva perante algum

agente interveniente interessado.

A FVC que se associa explora-se no sub-capítulo 4.3.4.

Os critérios de aceitação, são objectivos e sintéticos para cada item, procurando simultaneamente

ser esclarecedoras e adequar a sua exigência à etapa de execução.

As inspecções podem ter ou não carácter suspensivo, ser de recepção ou de ensaio, consoante o

carácter de cada item de execução.

Resta acrescentar que o dono de obra deve ser responsável pela nomeação/contratação do

inspector.

4.3.4 FICHA DE VERIFICAÇÃO E CONTROLO (FVC)

A ficha de verificação e controlo proposta, ANEXO 2, foi estruturada com base na informação

constante do PIE, com a preocupação de se adaptar ao ambiente que se vive em obra no decorrer da

execução, salientando-se duas particularidades:

� Preocupação de reunir a informação de uma forma sintética em apenas uma folha.

� Permitir que o empreiteiro e fiscal intervenientes no processo de controlo anotem na mesma

FVC os seus pareceres

A reunião de informação de uma forma sintética, em apenas uma folha, destinada a ser controlada

e inspeccionada possivelmente por mais de um agente (definido no PIE), resulta da consciência de que

com o avanço da tecnologia, em especial, informatização de processos, poderá com benefícios vários

utilizar-se para a verificação e controlo da execução em obra.

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52

Estes benefícios vão desde evitar a perda de documentos, passando pela possibilidade de

actualização da sua informação para espelhar o andamento dos trabalhos, até ao controlo ser partilhado

em tempo real com outros agentes de direito interessados. Assim, pensa-se que a tendência será de

condensar a informação essencial em documentos simples e práticos e é nesta linha de raciocínio que a

FVC- Execução de Alvenarias se apresenta, no ANEXO 2.

O facto de permitir que os dois agentes intervenientes no processo de controlo anotem os seus

pareceres na mesma FVC contribui para uma boa integração das suas formas de actuação, sugerindo

para o empreiteiro um campo onde este deve registar o resultado da sua inspecção e itens de

inspecção com a possibilidade de assinalar a Conformidade (C) ou Não Conformidade (NC). Para a

fiscalização sugere um campo específico onde este deve assinalar a Conformidade (C) da sua

inspecção, ou a Não Conformidade (NC), devendo nesta situação indicar o código do Relatório de Não

Conformidade (RNC) que deve emitir. Apresenta-se no ANEXO 3 um modelo do RNC que deve ser

preenchido.

4.4 CONTROLO DA QUALIDADE EXTERNO – CONTROLADOR TÉCNICO

4.4.1 INTRODUÇÃO

A figura do Controlador Técnico não se encontra consolidada no nosso país, desta forma, após a

realização dos vários modelos de fichas de controlo, elabora-se por último uma Ficha de Controlo

Técnico – FCT (ANEXO 6), destinada ao Controlador, que este deverá preencher nas inspecções que

realize à obra. Esta ficha, após ponderada a importância da sua presença define-se ser três o número

de inspecções relevantes que se descrevem em seguida.

4.4.2 PRIMEIRA INSPECÇÃO

Verificar que só se inicia a execução de alvenarias quando terminada a estrutura e por ordem

inversa, de cima para baixo ou, em alternativa, a construção piso sim, piso não, ou ainda, começando

do 3º para o 1º, depois do 6º para o 4º e assim sucessivamente [B.4].

4.4.3 SEGUNDA INSPECÇÃO

Verificar que a caleira executada em quarto de circulo terá pendente no sentido longitudinal, tubos

de drenagem espaçados de 2 metros, salientes em relação ao revestimento de pelo menos 15mm e

estará limpa e desobstruída no final da elevação.

Verificar que as placas de isolamento térmico se encontram aprumadas, encostadas à parede

interior com uma caixa de ar livre remanescente de 2 a 7 com e cobrem toda a sua superfície.

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4.4.4 TERCEIRA INSPECÇÃO

Verificar que o fecho superior no remate à viga é executado quando todas as alvenarias estiverem

executadas ou, pelo menos 50% destas e se inicia pelo fecho pelas alvenarias do piso mais elevado até

ao piso térreo.

Verificar que o desencontro entre juntas é de pelo menos 1/3 do comprimento do tijolo [N.7].

Verificar que a espessura das juntas é constante em todo o elemento e inferior a 15mm.

Verificar que o preenchimento das juntas é total em todo o elemento [N.7].

Verificar que os panos de alvenaria se encontram verticais e desempenadas com um desvio

máximo de 5mm por metro.

Verificar que foi aplicada pintura betuminosa nas três primeiras fiadas na execução de paredes em

pavimento térreo ou em contacto com o terreno.

4.5 INTEGRAÇÃO DOS DIFERENTES NÍVEIS E AGENTES INTERVENIENTES NO

PROCESSO DE CONTROLO DA QUALIDADE DE EXECUÇÃO

Como referido no inicio do capítulo 4 (figura 8), os três responsáveis pelo controlo da execução

encontram-se em três hierarquias e possuem diferentes papeis no processo de controlo.

Para que o Controlo da Qualidade seja eficiente estes três níveis (Empreiteiro, Fiscalização e

Controlador) devem estar bem coordenados, as suas funções no processo devem ser claras e devem

trabalhar de uma forma integrada e complementar (quadro 7). Assim:

Quadro 7 – Actuação dos três agentes de controlo da qualidade

AGENTE DE CONTROLO ANTES DA EXECUÇÃO NO DECORRER DA EXECUÇÃO

EMPREITEIRO Elabora PEP FVC PIE

Emite parecer na FVC

FISCALIZAÇÃO Aprova PEP FVC PIE

Emite parecer na FVC preenchendo, sempre que necessário RNC

CONTROLADOR TÉCNICO Audita PEP FVC PIE

Emite parecer na FCT, preenchendo, sempre que necessário RNC

O Empreiteiro elabora os documentos de acompanhamento de execução e apresenta-as à

fiscalização para aprovação. Após aprovação dá início aos trabalhos de execução, servindo-se da FVC

para auto-controlar a qualidade de execução que deve imperativamente respeitar o PEP aprovado.

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54

A fiscalização respeitando o PIE que aprovou, realizará, com a periodicidade neste definida, as

inspecções que desta constam, utilizando como base para tal as evidências recolhidas pelo empreiteiro,

devidamente assinaladas nas FVC. Caso encontre alguma discrepância entre o previsto e o executado

deve assinalar no campo da FVC adequado a não conformidade e preencher no campo previsto para tal

o relatório de não conformidade (RNC).

O RNC anotado servirá para retroalimentar os procedimentos de execução pela parte do

empreiteiro, findo os quais se solicitará uma nova Inspecção e, se tudo se encontrar conforme, se dará

continuação aos trabalhos.

O controlador técnico baseado nas evidências recolhidas pela fiscalização e pelo empreiteiro (FVC,

RNC, PIE, PEP), bem como em observações de sua autoria, com o objectivo de garantir que a

execução se encontra com os padrões de qualidade desejados e que estes agentes do processo de

controlo da qualidade estão a desempenhar correctamente as suas funções, efectuará as inspecções

que se revelem necessárias, que devem ser definidas contratualmente, auxiliando-se de uma ficha de

controlo técnico (FCT) como a que se apresenta no ANEXO 6.

Caso encontre alguma discrepância entre o previsto e o executado deve assinalar no campo da

FCT adequado a não conformidade e preencher o relatório de não conformidade (RNC), também com o

intuito de retroalimentar os procedimentos de execução. A periodicidade deste controlo deve ser

definida contratualmente, apoiada em documentos técnicos de referência.

Na inspecção final que leve à evidência da conformidade de todo o processo de execução e de

controlo da qualidade, o Controlador técnico assina a FCT no campo adequado e dá-se por terminado o

processo. O quadro 8 põe em evidência os conceitos agora expressos:

Quadro 8 – Integração dos diferentes níveis e agentes intervenientes no processo de controlo

ENTIDADE

RESPONSÁVEL OBJECTIVO MÉTODO

DOCUMENTOS

DE SUPORTE DOCUMENTO ONDE

EMITE O PARECER

Seguradora ou Dono de Obra

Controlo técnico

Auditar evidências recolhidas pela fiscalização/empreiteiro e realizar inspecções por amostragem de controlo

FVC PIE PEP

FCT

Dono de Obra Fiscalização

Aprovar Documentos de Acompanhamento de Execução. Fiscalizar através de inspecções a execução da obra e as evidências recolhidas pelo empreiteiro

FVC PIE PEP

FVC

Empreiteiro Auto-controlo da qualidade

Elaborar Documentos de Acompanhamento. Preencher FVC no decorrer dos trabalhos

Capitulo 4.2 PEP PIE FVC

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55

4.5.1 FLUXOGRAMA DO PROCESSO DE CONTROLO DA QUALIDADE DE EXECUÇÃO

O fluxograma 1 que se propõe tem o objectivo de seguir todo o processo de execução, apontando

quais as etapas em que se deve proceder a inspecções ou Ensaios e o que fazer nas situações de

estas verificarem a conformidade ou não conformidade dos trabalhos executados. Trata-se pois de um

fluxograma indicativo do andamento do processo de controlo da qualidade.

Como se pode analisar pela observação do fluxograma 1 que se apresenta em seguida, realizar-se-

ão obrigatoriamente, durante o processo, 5 inspecções, devendo-se, no caso de não se constatar

conformidade entre a execução e os critérios de aceitação definidos, proceder-se ao preenchimento do

campo destinado na FVC para o Relatório de Não Conformidade (RNC) que servirá para retroalimentar

o processo de execução até que se constate a conformidade e se avance para a seguinte etapa.

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LEGENDA: I – Inspecção C – Conforme NC - Não Conforme RNC – Relatório de Não Conformidade FVC - Ficha de Verificação e Controlo 56

I1

I2

I3

I4

I5

Fluxograma 1 – Controlo da qualidade na execução de parede dupla de alvenarias de tijolo com aplicação de

placas rígidas de isolamento térmico interpostas na caixa de ar.

INÍCIO

FIM

Execução do pano exterior de alvenaria Fecho superior das alvenarias (quando 50% pronto)

Execução da primeira fiada dos panos Execução da caleira da caixa de ar

Preparação das superfícies

Marcação dos panos de alvenaria

Recepção e armazenamento dos tijolos

Recepção e armazenamento dos ligantes

Recepção e armazenamento da areia

Inicio da execução das alvenarias

Execução dos pano interior de alvenaria Execução de isolamento térmico na caixa de ar

I 1: � Estrutura terminada e iniciar de cima para baixo � Documentação dos materiais � Correcto Armazenamento

I 3:

� Consistência da argamassa

� Pendente, limpeza e Impermeabilização da caleira

I 4: � Largura livre da caixa � Posicionamento das placas

I 5: � Espessura das juntas � Desempeno � Perpendicularidade � Verticalidade � Fecho superior

I 2:

� Marcação dos panos

NC

C

RNC

NC

C

RNC

NC

C

RNC

NC

C

RNC

NC RNC C

FVC – 01

FVC – 01

FVC – 01

FVC – 01

FVC – 01

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57

5 CONCLUSÕES E DESENVOLVIMENTOS FUTUROS

Em Portugal, escasseiam as formas de controlar a qualidade do produto final, o edifício, em

particular pela inexistência do ponto de vista legal de instrumentos direccionados para as diferentes

etapas de execução. Mais se realça o facto da norma EN 771-1, relativa a tijolos cerâmicos, apenas

definir classes ou tolerâncias para grande parte das características, mas não definir limites de aceitação

que possibilitem o seu uso como um referencial da qualidade.

Em França existe um complemento à EN 771-1. Designa-se NF 12-021-2, e estabelece de forma

objectiva os níveis de exigência a satisfazer pelos tijolos cerâmicos tendo em conta o uso a que se

destinam, constituindo-se, por um lado como documento de suporte, em linha com as normas

europeias, para a aplicação do documento técnico de referência francês neste domínio, DTU 20.1, e por

outro como referencial de exigências a satisfazer pelos tijolos para efeitos de atribuição da marca NF de

certificação voluntária. A organização do texto da norma NF 12-021-2, seguiu de perto a da EN

correspondente (foi, por exemplo, adoptada igual numeração para os itens sobre o mesmo assunto),

ficando desta forma facilitada a necessária articulação entre a norma francesa e europeia, dada a

complementaridade dos seus conteúdos.

Sabendo que os tijolos cerâmicos representam grande parte das unidades de alvenaria em

Portugal, aguarda-se, no nosso país, publicação de documentos complementares que constituam um

instrumento para a implementação de sistemas de certificação voluntária que poderão coexistir com a

marcação CE de carácter obrigatório.

Das experiências Francesa e Espanhola conclui-se que a par com a normalização e declarações de

certificação de conformidade dos produtos, estes países têm implantado um controlo técnico detalhado,

apoiado em documentação técnica de referência, não obrigatória, mas efectivamente inserida e

consolidada no sector da construção, que identifica o que se está a controlar e com que referencial

técnico, garantindo a entrega do edifício segundo as especificações e minimizando a ocorrência de

patologias.

É desejável a implementação em Portugal deste tipo de documentos, bem definidos e de consenso

entre os agentes envolvidos na cadeia produtiva, que incorporem as boas práticas construtivas e

contribuam para uma imagem mais clara dos seus conteúdos. Estes documentos, deverão possuir uma

forte componente referente à execução onde devem ser citados os aspectos essenciais para a boa

execução do serviço ou elemento, podendo ou não ser citadas determinadas características exigidas

para a mão-de-obra que o vai executar.

Page 64: Controlo da qualidade na execução de elementos não ... · Esta dissertação pretende aprofundar o conhecimento da actual situação portuguesa no controlo da ... 3.2.4 Norma francesa

58

Os elementos não estruturais exteriores dos edifícios compostos por alvenaria de tijolo, sendo por

natureza sobrepostos por camadas de acabamento, reboco e pintura, devem ser alvo de um estrito

controlo da qualidade na sua fase de execução para garantir o seu bom desempenho funcional.

A existência do seguro-construção decenal em França e a recolha de dados dos sinistros

participados nos últimos anos permitem concluir, através de uma análise estatística (dados de 2002),

que as patologias mais frequentes nos edifícios estão relacionadas com a sua fachada e também que a

sua maioria se deve a defeitos na execução. É de todo desejável que estudos estatísticos deste tipo

sejam realizados em Portugal para que se tomem acções preventivas correctamente direccionadas.

A metodologia de controlo da qualidade na execução de alvenarias de tijolo apresentada neste

trabalho pretendeu contribuir para este vasto domínio de investigação, que se encontra em situação de

carência no nosso país, sob duas vertentes:

� Formal – integração de três níveis hierárquicos (Empreiteiro, Fiscalização e Controlador

Técnico) no processo de controlo da qualidade na fase de execução com competências e

obrigações bem definidas.

� Conteúdo – Definição das exigências da qualidade construtiva para alvenarias de tijolo, modelos

de um Plano Específico de Produção, de um Plano de Inspecção e Ensaio, de uma Ficha de

Verificação e Controlo e de uma Ficha de Controlo Técnico. Estas fichas revelam uma elevada

preocupação com o controlo da qualidade de execução, definindo como será feito o controlo,

estipulando os seus critérios e citando quem fará o controlo, qual a periodicidade das vistorias e

inspecções e qual deve ser o procedimento caso sejam constatadas não-conformidades nessa

etapa. As não-conformidades servem para retroalimentar os procedimentos de execução

Como continuidade deste trabalho propõe-se:

� Aplicação prática e melhoria contínua da metodologia desenvolvida no controlo da execução de

alvenarias em diferentes obras com vista à sua validação e eventuais melhorias

� Estudos para medir a viabilidade e benefício da adopção legal em Portugal de um seguro-

garantia na construção e a melhor forma de introduzir o controlo externo na panorama de

controlo que este seguro implicará.

� Estudo das competências técnicas a exigir a um controlador técnico e qual a entidade

resposável pela sua contratação.

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59

Referências Bibliográficas

[B.1] BOTELHO, Patrícia Cláudia Nunes Ferreira, ARGAMASSAS TRADICIONAIS EM

SUPORTE DE ALVENARIA ANTIGA: COMPORTAMENTO EM TERMOS DE ADERÊNCIA

E DURABILIDADE, IST, Fevereiro 2008.

[B.2] CARVALHO, Fernanda R. – A NORMALIZAÇÃO EUROPEIA DE TIJOLOS E BLOCOS

PARA ALVENARIA, excerto de ENCONTRO NACIONAL SOBRE QUALIDADE E

INOVAÇÃO NA CONSTRUÇÃO QIC2006, LNEC, 2006.

[B.3] CLETO, Fabiana, REFERENCIAIS TECNOLÓGICOS PARA A CONSTRUÇÃO DE

EDIFÍCIOS, São Paulo, 2006.

[B.4] APICER, MANUAL DE ALVENARIA DE TIJOLO. Coimbra, Centro Tecnológico da

Cerâmica e do Vidro, 2000.

[B.5] CÁNOVAS, J.M. Luzon, etc., CADERNOS INTEMAC Nº44, Madrid, 2002.

[B.6] COSTA E SILVA, Sónia R. – QUALIDADE NA GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS DA

CONSTRUÇÃO (Norma ISO 10006). 1º Congresso Nacional da Qualidade 2000. Lisboa:

IPQ,2000.

[B.7] LABORATORIO NACIONAL DE ENGENHARIA CIVIL – ENCONTRO NACIONAL SOBRE

QUALIDADE NA CONSTRUÇÃO. Lisboa: LNEC, 1986. 3 volumes

[B.8] ALMEIDA d’EÇA, ASPECTOS GERAIS NA CONSTRUÇÃO DE PAREDES DE

ALVENARIA, Curso de Promoção Profissional CPP 510, LNEC, Lisboa, 1988

[B.9] INSTITUTO PORTUGUÊS DA QUALIDADE (IPQ) – VOCABULÁRIO DA QUALIDADE.

TERMOS E DEFINIÇÕES. 2ªed. Monte da Caparica: IPQ, 1998. ISBN 972-730-006-5.

[B.10] LABORATORIO NACIONAL DE ENGENHARIA CIVIL – DISPOSIÇÕES LEGAIS

APLICÁVEIS AO PROJECTO E À EXECUÇÃO DE OBRAS, 31 DEZ 2006, 1ª ed. LNEC,

2007

[B.11] COSTA E SILVA, Sónia R. – PLANOS GERAIS DE GARANTIA DA QUALIDADE DE

EMPREENDIMENTOS DA CONSTRUÇÃO Contributo para a sua elaboração, IST, Lisboa,

2000

[B.12] PAIVA, J. VASCONCELOS., APROVAÇÃO TÉCNICA EUROPEIA A via para a marcação

CE dos produtos de construção inovadores, Comunicação ao seminário “Normas

harmonizadas e marcação dos produtos de construção”, Porto, Outubro de 2004. Lisboa,

2005

Page 66: Controlo da qualidade na execução de elementos não ... · Esta dissertação pretende aprofundar o conhecimento da actual situação portuguesa no controlo da ... 3.2.4 Norma francesa

60

[B.13] PAIVA, J. VASCONCELOS., DIRECTIVA DOS PRODUTOS DE CONSTRUÇÃO. Presente

e Futuro, Comunicação ao seminário “Qualidade na construção. Estado actual e

tendências”, Faro, Universidade do Algarve, Junho de 2002. Lisboa, LNEC, 2002.

Comunicação COM 94

[B.14] PONTÍFICE, PEDRO; CARVALHO, Fernanda R; VEIGA, MARIA R. – OS NOVOS

DOCUMENTOS DE APLICAÇÃO DO LNEC. In ENCONTRO NACIONAL SOBRE

QUALIDADE E INOVAÇÃO NA CONSTRUÇÃO QIC2006, LNEC, 2006. VOL 1 - pp.241.

[B.15] COMUNICAÇÃO DA COMISSÃO A PROPÓSITO DOS DOCUMENTOS

INTERPRETATIVOS DA DIRECTIVA 89/106/CEE DO CONSELHO. COMUNICAÇÃO 94/C

62/01. Jornal Oficial das Comunidades Europeias, Bruxelas, C 62, de 28 de Fevereiro de

1994.

[B.16] GONÇALVES, A., BRITO, J., BRANCO F., TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO EM PAREDES

DE ALVENARIA DE EDIFÍCIOS RECENTES, Engenharia e Vida nº48, Lisboa, 2008 pp.38-

44

[B.17] DIAS, A. BAIO., CONSTRUÇÃO EM TIJOLO CERÂMICO: DAS EXIGÊNCIAS

NORMATIVAS DO PRODUTO À PRÁTICA DE APLICAÇÃO, Seminário sobre Paredes de

Alvenaria, P.B. Lourenço & H. Sousa (Eds.), Porto, 2002

[B.18] DIAS, L. ALVES., QUALIDADE, SEGURANÇA E AMBIENTE NA CONSTRUÇÃO, IST,

Documento de apoio ás aulas, Setembro 2007

[B.19] SILVA, J. A. R. MENDES; ABRANTES, VITOR, AVALIAÇÃO DO RISCO DE

FISSURAÇÃO DE ALVENARIAS DE TIJOLO SOB ACÇÕES DE CARÁCTER TÉRMICO,

Congresso Latino-Americano de Tecnologia e Gestão na produção de Edifícios, São Paulo,

Novembro de 1998.

Documentos Legislativos

[L.1] DIRECTIVA 89/106/CEE. JORNAL OFICIAL DAS COMUNIDADES EUROPEIAS. L40(89-

02-11) p.0012-0026. Relativa à aproximação das disposições legislativas, regulamentares e

administrativas dos estados-membros no que respeita aos produtos da construção.

[L.2] DIRECTIVA 93/68/CEE. JORNAL OFICIAL DAS COMUNIDADES EUROPEIAS. L220(93-

08-30) p.220/1-220/22. Altera (entre outras) a Directiva 89/106/CEE de 11 Fevereiro de

1989.

[L.3] DECRETO-LEI N.º 38382. DG Ι Série. 166 (51.08.07) pág. 715. Aprova o Regulamento

Geral das Edificações Urbanas (RGEU).

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[L.4] DECRETO-LEI N.º 304/90. D.R. Ι Série. 224 (90.09.27) 4021-4021. Obrigatoriedade de

certificação dos materiais cerâmicos de construção (telhas, tijolos e blocos de cofragem),

quer de produção nacional, quer importados.

[L.5] DECRETO-LEI N.º 113/93. D.R. Ι Série-A. 84(93.04.10) p. 1803-1806. Transpõe para o

direito interno a Directiva do Conselho nº89/106/CEE, de 21 de Dezembro de 1988, relativa

aos produtos da construção, tendo em vista a aproximação das disposições legislativas dos

Estados membros..

[L.6] DECRETO-LEI N.º 374/98. D.R. Ι Série-A. 272 (98.11.24) p. 6457-6460. Altera (entre

outros) o Decreto-Lei n.º 113/93 de 10 de Abril, que estabelece, as prescrições mínimas de

segurança a que devem obedecer os materiais de construção.

[L.7] PORTARIA 566/93. D.R. Ι Série-B. 128 (93.06.02) p. 2963. Regulamenta as exigências

essenciais das obras susceptíveis de condicionar as características técnicas de produtos

nela utilizados, assim como as inscrições relativas a marca de conformidade e respectivos

sistemas de comprovação.

[L.8] DECRETO-LEI N.º 139/95. D.R. Ι Série-A. 136 (95.06.14) p. 3834-3846. Altera (entre

outros) o Decreto-Lei n.º 113/93 de 10 de Abril.

[L.9] DECRETO-LEI N.º 139/96. D.R. Ι Série-A. 189 (96.08.16) p. 2552-2553. Estabelece as

condições de fabrico e de colocação no mercado dos cimentos para argamassas e betões

de ligantes hidráulicos. (Certificação obrigatória dos cimentos).

[L.10] DECRETO-LEI N.º 4/07. D. R., I série (07.01.08). Altera o Decreto-Lei n.º 113/93 de 10 de

Abril.

[L.11] LEY N.º 38/1999 de 5 de noviembre, BOE n.º 266 de 6-11-1999. de Ordenación de la

Edificación.

[L.12] Decisão 97/740/CE “Produtos de alvenaria”. J. O. nº L 299 de 4 de Novembro de 1997

[L.13] Decisão 96/603/CE “Classificação dos produtos ao fogo”. J.O. nº L 267 de 19 de Junho de

1996

[L.14] Regulamento Geral das Edificações Urbanas - Decreto n.º 38382, de 7 de Agosto de

1951 e posteriores alterações.

Normas e Especificações

[N.1] EN 771-1:2003/A1:2005 – Specification for masonry units – part1: Clay masonry units.

Brussels: European Committee for Standardization (CEN).

Page 68: Controlo da qualidade na execução de elementos não ... · Esta dissertação pretende aprofundar o conhecimento da actual situação portuguesa no controlo da ... 3.2.4 Norma francesa

62

[N.2] NBE-FL-90 : Muros resistentes de fábrica de ladrillo – Madrid : Ministério de Fomento.

Centro de Pubicaciones, 2004

[N.3] Eurocode 6 “Design of masonry structures – Part 1-1: General Rules for Buildings.

Rules for reinforced and unreinforced masonry”. CEN, prENV 1996-1-1, 1995

[N.4] NP EN ISO 8402. 1997, Gestão da qualidade e garantia da qualidade – Vocabulário.

Lisboa:IPQ.

[N.5] NP EN ISO 9001. 2000, Sistemas de gestão da qualidade – Requisitos. Lisboa:IPQ.

[N.6] EN 998-2:2003– Specification for mortar for masonry– part2: Masonry Mortar. Brussels:

European Committee for Standardization (CEN).

[N.7] NF DTU 20.1– Ouvrages en maçonnerie de petits elements – Parois et murs. Octobre 2008

[N.8] Código Técnico de la Edificación – Parte I. Ministério de Vivienda, Madrid, Marzo 2006

[N.9] Documento Básico SE-F – Seguridad estructural: Fábrica, com corrección de Janero 2008

[N.10] UNE EN 1015-11- Métodos de ensaio de argamassas para alvenaria

[N.11] EN 1052-1- Métodos de ensaio de alvenarias – Parte 2: determinação da resistência à

flexão

[N.12] EN 1052-4- Métodos de ensaio de alvenarias – Parte 4: determinação da resistência ao

corte

Endereços na Internet consultados no âmbito das alvenarias de tijolo:

[I.1] www.certif.pt

[I.2] www.cenorm.be

[I.3] www.lnec.pt

[I.4] www.ipq.pt

[I.5] www.cstb.fr

[I.6] www.ietcc.csic.es

[I.7] www.ordemengenheiros.pt

[I.8] www.codigotecnico.org/

[I.9] www.dre.pt/

[I.10] www.eur-lex.europa.eu/

[I.11] www.ipac.pt

[I.12] www.esb.ucp.pt

[I.13] www.qualiteconstruction.com

[I.14] www.apfac.pt

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Anexos

Page 70: Controlo da qualidade na execução de elementos não ... · Esta dissertação pretende aprofundar o conhecimento da actual situação portuguesa no controlo da ... 3.2.4 Norma francesa

Anexo 1

Page 71: Controlo da qualidade na execução de elementos não ... · Esta dissertação pretende aprofundar o conhecimento da actual situação portuguesa no controlo da ... 3.2.4 Norma francesa

EXECUÇÃO DE ALVENARIAS PIE – PLANO DE INSPECÇÃO E ENSAIO

DESTINADO AO AUTO-CONTROLO PELO EMPREITEIRO E

FISCALIZAÇÃO DO DONO DE OBRA CÓDIGO : PIE - 01

Legenda: INS -. Inspecção sem carácter suspensivo IS - Inspecção com carácter suspensivo IR/E Inspecção de recepção /Ensaio S- Supervisão 1/3

ITEM

Nº ITEM DE INSPECÇÃO / EXECUÇÃO

SUBCAPÍTULO DE

REFERÊNCIA

DOCUMENTOS DE ACOMPANHAMENTO

TIPO DE INSPECÇÃO / FUNÇÃO RESPONSÁVEL

CRITÉRIOS DE ACEITAÇÃO/ NOTAS

Empreiteiro Fiscalização/ Dono

de Obra

1 – PROGRAMAÇÃO DA EXECUÇÃO DAS ALVENARIAS, RECEPÇÃO E ARMAZENAMENTO DOS MATERIAIS

1.1 Programação do inicio da execução das alvenarias 4.2.2 FVC – 01 IS IS

Inicio da execução depois de terminada a estrutura e por ordem inversa, de cima para baixo, ou, em alternativa, a construção piso sim, piso não, ou ainda, começando do 3º para o 1º, depois do 6º para o 4º e assim sucessivamente

1.2 Programação do fecho superior das alvenarias 4.2.2 FVC – 01 IS IS

Fecho superior das alvenarias só quando estiverem executadas pelo menos 50% destas e de cima para baixo

1.3 Recepção e armazenamento dos tijolos 4.2.3 FVC – 01 / FRM – 01 IR IS

Existência de certificação do produtor, ausência de defeitos aparentes. Armazenados em pilhas não superiores a dois metros, sobre uma superfície plana, limpa e protegidos das intempéries

1.4 Recepção e armazenamento dos ligantes 4.2.3 FVC – 01 / FRM – 01 IR IS

Ausência de sinais de humidade. Armazenados em pilhas não superiores a dez metros de altura e um metro e quarenta de largura, com espaço de circulação entre elas, depositados sobre estrados de madeira com ventilação inferior ou em silos protegidos das intempéries.

1.5 Recepção e armazenamento da areia 4.2.3 FVC – 01 / FRM – 01 IR IS

Ausência de matéria orgânica ou argilosa nas areias após análise granulométrica. Armazenada em baias, sem misturar diferentes tipos e proveniências protegidas com plástico.

2 – FABRICO DAS ARGAMASSAS DE ASSENTAMENTO

2.2 Estado da argamassa imediatamente antes da sua aplicação

4.2.4 FVC – 01 E /S IS

Apresentar boa trabalhabilidade, medida através de uma mesa de espalhamento (flow-test) e constante ao longo de todo o elemento.

Page 72: Controlo da qualidade na execução de elementos não ... · Esta dissertação pretende aprofundar o conhecimento da actual situação portuguesa no controlo da ... 3.2.4 Norma francesa

EXECUÇÃO DE ALVENARIAS PIE – PLANO DE INSPECÇÃO E ENSAIO

DESTINADO AO AUTO-CONTROLO PELO EMPREITEIRO E

FISCALIZAÇÃO DO DONO DE OBRA CÓDIGO : PIE - 01

Legenda: INS -. Inspecção sem carácter suspensivo IS - Inspecção com carácter suspensivo IR/E Inspecção de recepção /Ensaio S- Supervisão 2/3

ITEM

Nº ITEM DE INSPECÇÃO / EXECUÇÃO

SUBCAPÍTULO DE

REFERÊNCIA

DOCUMENTOS DE ACOMPANHAMENTO

TIPO DE INSPECÇÃO / FUNÇÃO RESPONSÁVEL

CRITÉRIOS DE ACEITAÇÃO/ NOTAS

Empreiteiro Fiscalização/ Dono

de Obra

3 – ASSENTAMENTO DO TIJOLO

3.1 Preparação das superfícies 4.2.5 FVC – 01 IS IS As superfícies de assentamento de betão serão limpas de poeiras e sujidades e deverão estar rugosas e húmidas

3.2 Marcação dos panos de alvenaria 4.2.5 FVC – 01 IS IS De acordo com o Projecto de Execução, com uma tolerância de ± 5mm

3.3 Marcação em altura e andamento dos trabalhos

4.2.5 FVC – 01 IS IS

Marcação das fiadas a realizar com o objectivo de minimizar o número de fiadas a realizar com tijolos cortados com recurso a fita e compasso.

3.4 Execução dos panos de alvenaria 4.2.5 FVC – 01 IS IS

Juntas desencontradas de pelo menos 1/3 do comprimento do tijolo, totalmente preenchidas de argamassa e espessura constante de aproximadamente 10mm.

3.5 Verticalidade e ortogonalidade das paredes. 4.2.5 FVC – 01 IS IS

Panos verticais e desempenados com um desvio máximo de 5mm por metro Precisamente 90º entre paredes perpendiculares

3.6 Execução da caleira da caixa de ar em paredes duplas 4.2.5 FVC – 01 IS IS

Após assentamento de uma fiada no pano interior e exterior, executa-se uma caleira em quarto de círculo e com pendente no sentido longitudinal, aplicando-se tubos de drenagem espaçados de 2metros e salientes em relação ao revestimento, no mínimo 15mm.

3.7 Execução de paredes em pavimento térreo ou em contacto com o terreno

4.2.5 FVC – 01 IS IS Aplicação de argamassa com aditivo hidrófugo e três demãos cruzadas de pintura betuminosa nas três primeiras fiadas

3.8 Vãos e corte do tijolo e abertura de roços

4.2.5 FVC – 01 IS IS Uso de moldes ou pré-aros indeformáveis na execução de vãos e abertura de roços com recurso de meios mecânicos

Page 73: Controlo da qualidade na execução de elementos não ... · Esta dissertação pretende aprofundar o conhecimento da actual situação portuguesa no controlo da ... 3.2.4 Norma francesa

EXECUÇÃO DE ALVENARIAS PIE – PLANO DE INSPECÇÃO E ENSAIO

DESTINADO AO AUTO-CONTROLO PELO EMPREITEIRO E

FISCALIZAÇÃO DO DONO DE OBRA CÓDIGO : PIE - 01

Legenda: INS -. Inspecção sem carácter suspensivo IS - Inspecção com carácter suspensivo IR/E Inspecção de recepção /Ensaio S- Supervisão 3/3

ITEM

Nº ITEM DE INSPECÇÃO / EXECUÇÃO

SUBCAPÍTULO DE

REFERÊNCIA

DOCUMENTOS DE ACOMPANHAMENTO

TIPO DE INSPECÇÃO / FUNÇÃO RESPONSÁVEL

CRITÉRIOS DE ACEITAÇÃO/ NOTAS

Empreiteiro Fiscalização/ Dono

de Obra

4 – COLOCAÇÃO DE MATERIAIS DE ISOLAMENTO TÉRMICO

4.1 Execução de isolamento térmico na caixa de ar com recurso a materiais rígidos

4.2.6 FVC – 01 IS IS

Uso de espaçadores ou fixadores das placas isolantes ao pano interior, para garantir que As placas se encontrem aprumadas, encostadas à parede interior ( com uma caixa de ar livre remanescente de 2 a 7 cm) e cobrir toda a sua superfície que de forma a evitar a circulação de ar entre as duas faces das placas pelas juntas e assegurar a limpeza final da caixa de ar

Page 74: Controlo da qualidade na execução de elementos não ... · Esta dissertação pretende aprofundar o conhecimento da actual situação portuguesa no controlo da ... 3.2.4 Norma francesa

Anexo 2

Page 75: Controlo da qualidade na execução de elementos não ... · Esta dissertação pretende aprofundar o conhecimento da actual situação portuguesa no controlo da ... 3.2.4 Norma francesa

ACTIVIDADE: EXECUÇÃO DE ALVENARIAS FVC – Ficha de Verificação e Controlo Código: FVC - 01

OBRA:

Descrição do elemento:

DATA DE INICIO DA EXECUÇÃO : __ / __ /__ DATA DE FIM DA

EXECUÇÃO : __ / __ / __ DATA DE INICIO FECHO SUPERIOR: __ / __ / __ DATA DO FIM DO

FECHO SUPERIOR : __ / __ / __

Legenda : C – Conforme NC – Não Conforme

CAMPO DESTINADO AO PREENCHIMENTO PELO EMPREITEIRO OBSERVAÇÕES (registar defeitos corrigidos de imediato):

Data: Assin.: DEFEITOS : MÉTODO DE CORRECÇÃO:

CONTROLADO POR: NOME : ASSIN.: DATA: CAMPO DESTINADO AO PREENCHIMENTO PELA FISCALIZAÇÃO

OBSERVAÇÕES (registar defeitos corrigidos de imediato):

Data: Assin.: RESULTADO DA INSPECÇÃO

Conforme: Não conforme: RNC emitido:________

Data: Assin.: Data: Assin.: CONTROLADO POR: (NOME )

ITEM Nº

INSPECÇÕES C (√)

NC (√)

CRITÉRIOS DE ACEITAÇÃO

1.1 Programação do inicio da execução das alvenarias

Inicio da execução depois de terminada a estrutura e por ordem inversa, de cima para baixo, ou, em alternativa, a construcção piso sim, piso não, ou ainda, começando do 3º para o 1º, depois do 6º para o 4º e assim sucessivamente

1.2 Programação do fecho superior das alvenarias Fecho superior das alvenarias só quando estiverem executadas pelo menos 50% destas e de cima para baixo

1.3 Recepção e armazenamento dos tijolos Existência de certificação do produtor, ausência de defeitos aparentes. Armazenados em pilhas não superiores a dois metros, sobre uma superfície plana, limpa e protegidos das intempéries

1.4 Recepção e armazenamento dos ligantes

Ausência de sinais de humidade. Armazenados em pilhas não superiores a dez metros de altura e um metro e quarenta de largura, com espaço de circulação entre elas, depositados sobre estrados de madeira com ventilação inferior ou em silos protegidos das intempéries.

1.5 Recepção e armazenamento da areia

Ausência de matéria orgânica ou argilosa nas areias após análise granulométrica. Armazenada em baias, sem misturar diferentes tipos e proveniências protegidas com plástico.

2.1 Estado da argamassa imediatamente antes da sua aplicação

Apresentar boa trabalhabilidade, medida através de uma mesa de espalhamento (flow-test) e constante ao longo de todo o elemento.

3.1 Preparação das superfícies As superfícies de assentamento de betão serão limpas de poeiras e sujidades e deverão estar rugosas e húmidas

3.2 Marcação dos panos de alvenaria De acordo com o Projecto de Execução, com uma tolerância de ± 5mm

3.3 Marcação em altura e andamento dos trabalhos Marcação das fiadas a realizar com o objectivo de minimizar o número de fiadas a realizar com tijolos cortados com recurso a fita e compasso. Montar andaime após 1.40m e não exceder 1.60 por dia de trabalho

3.4 Desencontro, preenchimento e espessura das juntas

Juntas desencontradas de pelo menos 1/3 do comprimento do tijolo, totalmente preenchidas de argamassa e espessura constante de aproximadamente 10mm

3.5 Verticalidade e ortogonalidade das paredes. Panos verticais e desempenados com um desvio máximo de 5mm por metro Precisamente 90º entre paredes perpendiculares

3.6 Execução da caleira da caixa de ar em paredes duplas

Após assentamento de uma fiada no pano interior, executa-se uma caleira em quarto de círculo e com pendente no sentido longitudinal, aplicando-se tubos de drenagem espaçados de 2metros e salientes em relação ao revestimento, no mínimo 15mm, após o que se executa a primeira fiada no pano exterior e se protege a caleira.

3.7 Execução de paredes em pavimento térreo ou em contacto com o terreno

Aplicação de argamassa com aditivo hidrófugo e três demãos cruzadas de pintura betuminosa nas três primeiras fiadas

3.8 Vãos e corte do tijolo e abertura de roços Uso de moldes ou pré-aros indeformáveis na execução de vãos e abertura de roços com recurso de meios mecânicos

4.1 Execução de isolamento térmico na caixa de ar com recurso a materiais rígidos

Uso de espaçadores ou fixadores das placas isolantes ao pano interior, para garantir que as placas se encontrem aprumadas, encostadas à parede interior (com uma caixa de ar livre remanescente de 2 a 7 cm) e cobrir toda a sua superfície de forma a evitar a circulação de ar entre as duas faces das placas pelas juntas e assegurar a limpeza final da caixa de ar

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Anexo 3

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RELATÓRIO NÃO-CONFORMIDADE N.º

INSPECÇÂO:

ACTIVIDADE: RESPONSÁVEL:

TAREFA NÃO CONFORME:

PROBLEMA (S) IDENTIFICADO (S):

ANÁLISE DAS CAUSAS DO PROBLEMA:

CAUSAS FUNDAMENTAIS

PLANO DE AÇÃO

MEDIDAS ADICIONAIS RESPONSÁVEL PRAZO

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Anexo 4

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MÉTODOS DE ENSAIO PARA ELEMENTOS DE ALVENARIA, [B.17]:

Resistência mecânica

O objectivo deste ensaio, realizado de acordo com a norma EN 772-1 é

determinar a resistência mecânica nos tijolos. É aplicada uma carga

uniformemente distribuída com intensidade crescente até à rotura. Não se

encontram definidos valores mínimos mas apenas duas categorias I e II,

sendo a categoria I destinada aos tijolos de resistência mecânica garantida e

a categoria II destinada a tijolos normais.

Volume líquido e percentagem de furação

O objectivo deste ensaio, realizado de acordo com a norma NP EN 772-

3, é determinar o volume líquido dos elementos de alvenaria por pesagem ao

ar e pesagem em água e subtrair ao volume total, obtido pelas suas

dimensões. Também se podem obter o volume e percentagem de vazios.

Teor em sais solúveis activos

O objectivo deste ensaio, realizado de acordo com a norma EN 772-5, é determinar o teor em

sais solúveis. É baseado na extracção de água de uma amostra moída,

de elementos cerâmicos de alvenaria, e determinação da quantidade de

magnésio solúvel e iões de sódio e potássio, libertados durante o

ensaio, os quais podem ser responsáveis, em determinadas condições,

por efeitos nocivos nas argamassas ou nos próprios elementos.

Absorção de água

O objectivo deste ensaio, realizado de acordo com a norma NP EN

772-7, é determinar a percentagem de absorção de água. Os provetes,

após secagem até massa constante, são pesados e subsequentemente

imersos em água em ebulição durante 5 h, escorridos e pesados. É

calculada a razão entre o aumento de massa devido à saturação e a sua

massa em seco.

Ilustração 3 – Análise do teor em sais

solúveis segundo a norma EN 772-5

Ilustração 1- Determinação da

resistência mecânica segundo

a norma EN 772-1

Ilustração 2 – Pesagem

hidrostática segundo a norma

NP EN 772-3

Ilustração 4 – Determinação da

absorção de água por imersão

segundo a norma EN 772-7

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Ilustração 8 - Determinação da

expansão por humidade

segundo a norma EN 772-19

Taxa inicial de absorção de água

O objectivo deste ensaio, realizado de acordo com a norma EN 772-11, é determinar a taxa

inicial de absorção de água por capilaridade. Após secagem até massa

constante, a face de assentamento dos elementos é imersa em água

durante um determinado período de tempo e registado o aumento de

massa. No caso dos elementos cerâmicos é medida a taxa inicial de

absorção de água.

Massa volúmica

O objectivo deste ensaio, realizado de acordo com a norma EN 772-

13, é determinar a massa volúmica absoluta seca e a massa volúmica

aparente seca dos elementos de alvenaria. Após secagem até massa

constante e determinação dos volumes absolutos e aparentes, são

calculadas as massas volúmicas secas absolutas e aparentes dos

elementos de alvenaria.

Dimensões

O objectivo deste ensaio, realizado de acordo com a norma EN 772-

16, é determinar as dimensões dos elementos de alvenaria. Após

preparação das faces, através da eliminação de rebarbas nas arestas que

possam prejudicar a medição, são medidos o comprimento, a largura e a

altura dos provetes, bem como a espessura das paredes exteriores e

septos interiores, com auxílio de um dispositivo apropriado.

Expansão por humidade

O objectivo deste ensaio, realizado de acordo com a norma EN 772-19,

é determinar a expansão por humidade de elementos cerâmicos de

alvenaria de furação horizontal de grande dimensão. Este ensaio mede a

alteração de comprimento dos provetes provocada pela acção da água

fervente, durante um período de 24 h.

Ilustração 5 – Determinação da

absorção de água por imersão

segundo a EN 772-11

Ilustração 6 – Determinação da

massa volúmica segundo a

norma EN 772-13

Ilustração 7 – Determinação da

massa volúmica segundo a

norma EN 772-16

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Resistência ao gelo

O objectivo deste ensaio, realizado de acordo com a norma EN 772-22, é determinar a

resistência ao gelo/degelo de elementos cerâmicos de alvenaria. É montado um painel de

elementos cerâmicos de alvenaria que tenham sido previamente imersos em água durante um

período de tempo determinado.

Os elementos são separados uns dos outros por meio de uma junta de borracha ou por meio de

argamassa de endurecimento rápido que após estar suficientemente dura

é imersa em água durante um determinado período de tempo. Este painel

é subsequentemente arrefecido até que toda a água que tenha sido

absorvida se encontre congelada e a água próxima da superfície é

repetidamente descongelada e congelada. A deterioração provocada

pelas acções de congelamento e descongelamento é avaliada e usada

para determinar a resistência dos tijolos ao gelo/degelo.

Determinação da resistência ao corte

O objectivo deste ensaio, realizado de acordo com a norma EN 1052-3,

é determinar a tensão inicial ao corte das alvenarias. Os provetes são

ensaiados ao corte sob uma carga de quatro pontos, com pré-compressão

perpendicular às juntas de assentamento. São considerados quatro modos

diferentes de falha para que os resultados se considerem válidos. A tensão

de corte inicial é definida pela curva de regressão linear para uma tensão

normal nula.

Ilustração 9 – Determinação da

resistência ao gelo segundo a

norma EN 772-22

Ilustração 10 – Determinação

da resistência ao corte

segundo a norma EN 1052-3

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Anexo 5

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DESCRIÇÃO DA EXECUÇÃO DO ASSENTAMENTO DE TIJOLO

MARCAÇÃO E PRIMEIRA FIADA

Para realizar a marcação, de acordo com o projecto de execução (plantas alçados e cortes),

aplica-se uma fina camada de argamassa de cimento e areia com largura compatível com a

espessura pretendida. Sobre esta implanta-se a primeira fiada, começando pelo ângulos,

frequentemente através de dois tijolos em esquadria, a partir dos quais se traçam os alinhamentos

rectos, ou curvos, quer por “batimento” de um fio pigmentado bem esticado, quer por utilização de

régua e riscador de aço, deixando-se livre a localização das aberturas, estas com uma tolerância de

5mm. A ortogonalidade deve ser verificada, usando por exemplo um esquadro rígido, não devendo

apresentar desvios superiores a 2 mm/m. [B.4]

MARCAÇÃO EM ALTURA E NIVELAMENTO

Terminada a primeira fiada, marca-se as fiadas subsequentes, garantindo a sua horizontalidade

e a verticalidade do paramento, em “fasquias”. Esta divisão deve ser executada com o objectivo de

minimizar o número de fiadas a realizar com tijolos cortados sendo por isso um processo que

necessita de uma fita e compasso, realizado por tentativas sucessivas, condicionada pelas alturas

dos peitoris das janelas, padieiras dos vãos e pelo pé-direito da parede.

Definidas as fasquias, estica-se um “cordel” entre cada uma delas, que permite uma constante

verificação do nivelamento das juntas horizontais e inicia-se o espalhamento de leito de argamassa

com largura do pano e assentamento do(s) tijolo(s), começando pelo primeiro e último da fiada. Este

processo não dispensa o uso do nível, para garantir a horizontalidade de cada fiada. Para garantir a

verticalidade do pano da parede, deve sistematicamente recorrer-se ao fio de prumo.

Face ao peso próprio da alvenaria e ao ritmo de presa da argamassa, por dia de trabalho não

deve executar-se uma altura superior a 1,60m de parede, o que corresponde a cerca de 4 fiadas por

período de trabalho (meio dia).

ELEVAÇÃO DA PAREDE

O procedimento necessário para a elevação da parede é influenciado pelo estado climatérico, já

que o tijolo, como elemento cerâmico poroso que é, absorve com facilidade humidade. Se esta

característica, em ambientes relativamente húmidos, pode não trazer qualquer problema, quando

em ambientes secos, traz sérias complicações derivadas da rápida absorção da água de

amassadura da argamassa necessária para a hidratação dos ligantes, podendo criar cristais de

argamassa nos poros capilares do tijolo na face de ligação.

Assim, é possível determinar através de ensaios laboratoriais, a “taxa inicial de absorção do

tijolo” e definir se a molhagem prévia deste é ou não benéfica em função do clima. Na prática,

verifica-se que a melhor aderência entre tijolo e argamassa se obtém com teores de humidade

médios, sendo recomendado uma articulação cuidada, face ao clima e ás características do tijolo,

da molhagem prévia deste e o uso de retentores de água nas argamassas de assentamento.

Acrescenta-se que, no procedimento apresentado no final deste capítulo, se assume a molhagem

prévia, uma vez que a maioria dos assentamentos de paredes exteriores se realizam em tempo

seco.

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O assentamento do tijolo, para qualquer espessura de parede, deve ser realizado de modo que

as juntas verticais e horizontais (estas no caso de paredes com espessura superior a uma vez)

fiquem desencontradas de pelo menos 1/3 do comprimento do tijolo (“matar a junta”). Este factor

tem extrema importância para uma correcta distribuição das cargas verticais/horizontais no

desenvolvimento da parede, evitando empenos indesejáveis e não constância na espessura das

juntas de argamassa.

As juntas com espessura final de cerca de 10mm devem ser realizadas com argamassa pouco

consistente preenchendo completamente o intervalo entre tijolos.

Apesar da pouca contribuição do preenchimento das juntas verticais com argamassa para o

aumento da resistência da parede à compressão, acredita-se que apesar de menos económico, este

procedimento se deve manter pela importância deste preenchimento na eventualidade de

solicitações horizontais, sejam estas sísmicas, devido a cargas excêntricas ou por deficiente

confinidade.

A elevação da parede vai então resultar na repetição dos seguintes passos:

� Assentamento de tijolo sobre o leito de argamassa, carregando, esfregando e precutindo

(maço ou cabo da colher), de modo a garantir o posicionamento desejado;

� Raspagem e reaproveitamento da argamassa em excesso que possa refluir pelas juntas de

ambos lados da parede;

� Molhagem da superfície de tijolo da camada inferior com pincel de pedreiro;

� Aplicação de leito de argamassa sobre superfície humedecida da fiada inferior;

� Assentamento sobre leito de argamassa da fiada inferior (junta horizontal) “chapando e

distribuindo com colher argamassa no topo (junta vertical).

SALVAGUARDAS NA EXECUÇÃO

Qualquer erro no posicionamento inicial do tijolo que não possa ser corrigido com ligeira

percussão, deve ser corrigido mediante o levantamento deste, retirando completamente a

argamassa das juntas e tornando a executar a operação com argamassa fresca, para evitar o

abaulamento transversal da junta de argamassa e consequente redução do desempenho desta quer

a nível de resistência como isolamento térmico/acústico, impermeabilização, etc…

Deve haver especial cuidado nos cunhais e ângulos das paredes de modo que os tijolos fiquem

bem travados entre si, usando para tal meio tijolo ou três quartos de tijolo para atingir o desencontro

vertical das juntas. Nos cunhais das paredes de fachada, ombreiras e outras extremidades de

parede em contacto com o exterior, é fundamental que o tijolo não fique com furos voltados para o

exterior, pelo que, na ausência de tijolos de formato especial, deve usar-se o tijolo furado corrente

ao alto, cortado para as dimensões convenientes.

Nos cunhais, como nos restantes cruzamentos de paredes é muito vantajoso que as fiadas das

duas direcções estejam niveladas, para permitir um adequado travamento. Nos casos em que se

pretenda uma maior rigidez da ligação, podem aplicar-se grampos metálicos na junta horizontal

ligando as duas paredes.

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Terminada a execução de cada pano de parede é necessário proceder às seguintes

verificações:

� Alinhamento das fiadas;

� Verticalidade, planeza e ortogonalidade das paredes;

� Alinhamento da parede com as paredes confinantes do mesmo piso e com a estrutura;

� Alinhamento com as paredes dos outros pisos, em particular nas fachadas;

� Aspecto geral das juntas que se pretende sem rebarbas nem irregularidades e com

espaçamento regular;

� Dimensão das juntas horizontais com uma tolerância de 3mm;

� Completo preenchimento das juntas verticais de ligação à estrutura de betão armado;

� Confirmação das características necessárias à aplicação do revestimento previsto em

termos de porosidade, rugosidade e aprumo.

ASPECTOS SINGULARES DA EXECUÇÃO

Vãos e corte do tijolo

As paredes de alvenaria adequam-se ao espaço definido pela estrutura e acessórios suspensos

ou embutidos definidos pelo projecto. Desta forma, é raro tratarem-se de paredes contínuas e

uniformes, necessitando frequentemente de tijolos com formato particular para remate às estruturas

de betão e remate junto aos vãos e acessórios.

Para obter os formatos adequados a cada situação de remate utilizam-se frequentemente dois

métodos. O recurso manual com pequenos golpes de martelo ou por meios mecânicos (serra

circular com arrefecimento a água), mais rentáveis e com menor desperdício de material, permitindo

o total desempeno da face de corte. De uma ou outra forma, deve sempre colocar-se a zona de

corte virada para o interior, ou seja, a zona cortada deve prefazer a última junta e não a ligação ou

extremidade.

Na execução de vãos devem usar-se moldes ou pré-aros indeformáveis que permitam a

execução da parede nas dimensões exactas, evitando posteriores demolições ou enchimentos.

Roços para alojamento de cabos e tubagens

A execução de roços enfraquece as paredes sobre diversos pontos de vista: mecânicos,

acústicos, térmicos, acção da humidade, etc.. O enfraquecimento pode ser maior ou pior consoante

a sua execução planeada e cuidada ou desleixada.

Para minimizar o enfraquecimento, as tubagens embutidas nas paredes devem ser

exaustivamente previstas em projecto, incluindo as zonas de cruzamento e atravessamento. Em

obra, o planeamento dos traçados e a sua marcação devem ser rigorosos e a abertura limitada ao

mínimo indispensável, sem deteriorar os tijolos e juntas confinantes.

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A abertura dos roços por meios mecânicos, com rebarbadoras de dimensão adequada, pode

permitir uma maior rentabilidade e racionalização desta tarefa. Uma outra solução que cada vez

mais deve ser ponderada trata-se da adopção de tubagens à vista ou em calhas técnicas

apropriadas, sendo esta solução, quase sempre a mais interessante, quando, por algum motivo, a

implantação de cabos e tubagens é posterior ao acabamento final das paredes.

A par da adopção crescente de tubagens à vista ou em calhas, assiste-se também, nalguns

países, à divulgação de tijolos com cortes criteriosos, realizados de fábrica, para evitar ou diminuir a

abertura de roços em obra, o que implica um rigoroso planeamento da execução das alvenarias e

uma total coordenação com as restantes especialidades.

Em paredes de reduzida espessura deve evitar-se a execução de roços, especialmente

horizontais, podendo estes comprometer seriamente a estabilidade da parede. Em qualquer parede,

os roços não devem afectar mais do que um alvéolo do tijolo, tendo o cuidado, todavia, de recobrir

convenientemente as tubagens para evitar a fissuração do revestimento posterior. Na necessidade

eminente de abrir roços de maior dimensão, pode ser útil preencher o roço com argamassa e

pequenos fragmentos de tijolo, reduzindo a quantidade da primeira e, consequentemente os riscos

de fissuração por retracção.

Correcção das pontes térmicas

A correcção das pontes térmicas consiste, na maior parte dos casos, na protecção – exterior ou

interior – da estrutura de betão armado e outros pontos singulares da construção que apresentem

menor resistência térmica do que as paredes de alvenaria, com uma forra de tijolo furado (com um

ou dois furos, espessura entre 4 cm e 11 cm), sendo frequente a utilização de tijolo furado de 7cm,

para esse efeito.

O facto de a estrutura (vigas e pilares) serem forrados, na maior parte dos casos, com tijolo de

7, não significa que o pano de parede em que se insere tenha essa espessura, mas sim, que, com

espessura corrente de 15 ou 22cm, venha a estreitar nestas zonas mantendo a adequada travação

e aparelho, ilustração 11.

Ilustração 11 – Forragem da estrutura com alvenaria de tijolo

Sendo da competência do projecto a definição do tipo de correcção da ponte térmica a executar

e criar as condições necessárias à compatibilização entre os diversos elementos estruturais e

construtivos afectados por essa decisão, do ponto de vista da execução, as correcções interiores

são as mais fáceis de executar, embora tenham a desvantagem de limitar a largura das vigas e

pilares e serem responsáveis, por vezes, por caixas de ar com largura excessiva.

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Nas protecções exteriores, as condicionantes são maiores, começando pela dificuldade de

suporte (apoio) do pano exterior saliente e eventual diminuição da estabilidade global da parede,

passando pelas limitações arquitectónicas relativas à largura das vigas, pilares e caixas de ar e

terminando na necessidade de conhecer e adoptar técnicas especiais de assentamento do tijolo

nessas zonas.

No caso das protecções exteriores, é frequente que a laje de piso tenha uma aba saliente

(rebordo) em relação ao alinhamento exterior dos pilares e das vigas, que permite o apoio total ou

parcial da referida forra da estrutura em alvenaria. Este apoio deve ser no mínimo de 2/3 da sua

largura, podendo ter que ser maior em função do peso do revestimento exterior.

Nas protecções exteriores é particularmente delicada a colocação de tijolo na face exterior da

viga, abrangendo também o topo da laje. Este tijolo não pode naturalmente ser considerado como

um apoio do pano superior.

Na regulamentação francesa exige-se que estes elementos cerâmicos sejam inseridos dentro

da cofragem das peças de betão armado e com elas solidarizados no acto da betonagem, no

entanto este processo é bastante complexo pelas seguintes razões:

Dificuldade de garantir o posicionamento do tijolo na cofragem do betão e o adequado

recobrimento das armaduras de aço;

� Necessidade de garantir a manutenção da posição exacta dos tijolos durante a betonagem e

vibração das vigas;

� Exigência de molhagem prévia do tijolo para evitar a absorção excessiva da água necessária

às reacções químicas do betão;

� Eventual segregação do betão na zona de contacto com o tijolo, com perda de calda rica em

ligante, se se optar por uma forra não argamassada.

Na zona dos pilares, as dificuldades são menores, desde que se planeie correctamente o

travamento da parede e a transição da dimensão corrente para a dimensão da protecção. Não é

aceitável a colocação desta forra depois de concluídas as alvenarias, uma vez que ela poderia

constituir um factor de descontinuidade grave na parede com grande probabilidade de fissuração

posterior.

Existem ainda outras técnicas de correcção das pontes térmicas, com recurso a material

isolante, que transcendem o âmbito desta abordagem.

TIPOS DE PAREDE

Paredes Duplas

Tratando-se de uma parede, no geral, todos os procedimentos referidos anteriormente para

paredes simples são válidos. Descrevem-se em seguida os aspectos particulares de execução para

paredes duplas.

A execução inicia-se pela marcação dos dois panos de alvenaria, seguindo-se a primeira fiada

interior.

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Finalizada a primeira fiada interior, executa-se uma caleira que remate o fundo da caixa de ar e

assenta-se a primeira fiada exterior, com aplicação de tubos de drenagem (em plástico), salientes

para o exterior e espaçados de cerca de 2 metros.

Os tubos de drenagem devem recolher as águas do fundo da caleira, correctamente

impermeabilizada e inclinada, conduzindo-as para o exterior, com uma saliência não inferior a 15mm

em relação ao revestimento final.

É extremamente importante assegurar a limpeza da caixa de ar e respectiva caleira, sendo para

isso aconselhável seguir um de três procedimentos:

� Protecção da caleira com forra de papel, a retirar posteriormente por aberturas provisórias

na 1ª ou 2ª fiada exteriores, consoante a inclinação;

� Utilização de régua horizontal, com a largura da caixa de ar, suspensa, que recolherá os

restos de argamassa que nela caem, mantendo a caleira limpa;

� Execução da parede interior depois de executada a parede exterior e limpa a caixa de ar, de

encontro a isolante térmico rígido contínuo que protege a caixa de ar.

Se forem aplicados grampos de ligação entre as duas paredes, estes devem ser aplicados com

uma ligeira inclinação para a parede exterior ou dotados de pingadeira.

A elevação dos dois panos da parede dupla pode ser feita em simultâneo ou de forma

sequencial. A execução simultânea dos 2 panos facilita a eventual aplicação de grampos de ligação,

mas apresenta, em geral, maiores dificuldades de execução.

Se forem utilizadas soluções de isolamento, por vezes estas impõem uma determinada ordem

de execução, podendo, inclusivamente, ter de se recorrer à construção a partir de andaime exterior.

Nesta situação, deve-se prestar cuidada atenção às medidas de segurança regulamentares, que

podem ser consultadas em [B.18].

Na execução de paredes duplas da envolvente, é de salientar que o pano do lado em que o

operário está a trabalhar fica, quase sempre mais cuidado, leia-se, mais regular e bem aprumado.

Paredes em pavimento térreo ou em contacto com o terreno

As paredes executadas sobre pavimento térreo ou em contacto com o terreno encontram-se

particularmente expostas à acção da humidade e assentamentos de fundações, devendo a sua

execução, por isso, ser especialmente sensível aos aspectos que de seguida se indicam.

Devem ser criados lintéis ou sapatas contínuas quando construídas sobre o terreno, garantindo

a indeformabilidade ao longo do tempo da sua base. Quando em pavimento térreo, deve ter-se em

atenção a eventual necessidade de aplicação de lintéis de reforço.

Quer contactem directamente com o terreno ou com elementos que o façam directamente,

devem colocar-se barreiras contra a humidade ascensional, numa das primeiras fiadas acima do

terreno, tornando-se este procedimento imprescindível quando o nível freático é elevado ou as

condições de infiltração no solo junto á parede são eminentes. Se a parede for enterrada deve ser

impermeabilizada em todas as superfícies em contacto com o terreno.

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Anexo 6

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ACTIVIDADE: EXECUÇÃO DE ALVENARIAS FCT – Ficha de Controlo Técnico Código: FCT - 01

OBRA:

Descrição do elemento:

DATA DE INICIO DA EXECUÇÃO : __ / __ /__ DATA DE FIM DA

EXECUÇÃO : __ / __ / __ DATA DE INICIO FECHO SUPERIOR: __ / __ / __ DATA DO FIM DO

FECHO SUPERIOR : __ / __ / __

Legenda : C – Conforme NC – Não Conforme RNC – Relatório de Não Conformidade

ITEM Nº

CONTROLO C (√)

NC (√) CRITÉRIOS DE ACEITAÇÃO

PRIMEIRA INSPECÇÃO

1.1 Programação do inicio da execução

das alvenarias

Verificar que só se inicia a execução de alvenarias quando

terminada a estrutura e por ordem inversa, de cima para

baixo ou piso sim, piso não, ou ainda, começando do 3º

para o 1º ; 6º para o 4º , etc.

SEGUNDA INSPECÇÃO

3.6 Execução da caleira da caixa de ar em

paredes duplas

Verificar que a caleira executada em quarto de círculo terá

pendente no sentido longitudinal, tubos de drenagem

espaçados de 2metros, salientes em relação ao revestimento

pelo menos 15mm e estará limpa e desobstruída no final da

elevação

4.1

Execução de isolamento térmico na

caixa de ar com recurso a materiais

rígidos

Verificar que as placas de isolamento térmico se encontram

aprumadas, encostadas à parede interior com uma caixa de

ar livre remanescente de 2 a 7 cm e cobrem toda a sua

superfície

TERCEIRA INSPECÇÃO

1.2 Programação do fecho superior das

alvenarias

Verificar que o fecho superior das alvenarias (remate à viga,

p. ex.) é executado quando todas as alvenarias estiverem

executadas ou, pelo menos, 50% destas, e se inicia de cima

para baixo.

3.3 Verticalidade e ortogonalidade das

paredes.

Verificar que os panos de alvenaria se encontram verticais e

desempenados com um desvio máximo de 5mm por metro,

com precisamente 90º entre si.

3.4 Desencontro, preenchimento e

espessura das juntas

Verificar que as juntas desencontradas de pelo menos 1/3

do comprimento do tijolo, totalmente preenchidas de

argamassa e espessura constante de aproximadamente

10mm, no máximo 15mm.

3.7 Execução de paredes em pavimento

térreo ou em contacto com o terreno

Verificar que foi aplicada pintura betuminosa nas três

primeiras fiadas.

RESULTADO DA PRIMEIRA INSPECÇÃO

Conforme: Não conforme:

RNC emitido:________ Data: Assin.: Data: Assin.:

CONTROLADO POR: (NOME ):

RESULTADO DA SEGUNDA INSPECÇÃO

Conforme: Não conforme:

RNC emitido:________ Data: Assin.: Data: Assin.:

CONTROLADO POR: (NOME ):

RESULTADO DA TERCEIRA INSPECÇÃO

Conforme: Não conforme:

RNC emitido:________ Data: Assin.: Data: Assin.:

CONTROLADO POR: (NOME ):

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Anexo 7

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Procedimento Específico de Produção (PEP)

Âmbito

Aplicável à execução de alvenarias de tijolo e todos os trabalhos preparatórios e acessórios que

esta envolve.

Documentos de Referência

DOCUMENTOS CONTRATUAIS / LEGAIS:

� Caderno de Encargos

� Projecto de Execução

DOCUMENTOS DE ACOMPANHAMENTO DE EXECUÇÃO ESCRITOS:

� PIE – Execução de Alvenarias

� FVC –Execução de Alvenarias

Recursos

EQUIPAMENTOS:

� Betoneira

� Carrinho de mão

� Equipamento de pedreiro

� Andaimes

� Ferramentas diversas

PESSOAL:

� Encarregados

� Agente de fiscalização

� Pedreiros

� Serventes

Materiais

� Tijolos

� Ligantes

Descrição da execução

FASES DA EXECUÇÃO:

1- Programação da execução das alvenarias, recepção e armazenamento dos materiais

2- Fabrico das argamassas de assentamento

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3- Implantação das paredes de alvenaria

4– Assentamento de alvenarias/ elevação da parede

DESCRIÇÃO GERAL:

1- Programação da execução das alvenarias, recepção e armazenamento dos materiais

O início da execução das alvenarias decorrerá depois de terminada a estrutura e por ordem

inversa, de cima para baixo, ou, em alternativa, a construção piso sim, piso não, ou ainda,

começando do 3º para o 1º, depois do 6º para o 4º e assim sucessivamente.

O fecho das alvenarias efectuar-se-á só quando estiverem executadas pelo menos 50% destas

e de cima para baixo.

Recepciona-se os tijolos portadores de documentação que acredite as suas características

ensaiadas segundo a norma 771-1 e o seu recebimento será condicionado por estas satisfazerem

integralmente as exigências expressas no caderno de encargos.

Armazena-se os tijolos em pilhas não superiores a dois metros, sobre uma superfície plana, em

estrados de transporte (“palettes”) ou sobre pavimentos limpos (não pulverulentos), em armazéns,

ou protegidos das intempéries com filme plástico

Recepciona-se os ligantes após verificar que dispõem de documentação que acredite que se

encontra legalmente fabricado e comercializado e inspeccionar a integridade dos sacos que não

deverão apresentar sinais de humidade que possam constituir indícios de que se deu o início da

hidratação.

Armazena-se os ligantes em pilhas não superiores a dez metros de altura e um metro e

quarenta de largura, com espaço de circulação entre elas, depositados sobre estrados de madeira

com ventilação inferior ou em silos, se fornecidos a granel, protegidos das intempéries em

armazéns.

2- Fabrico das argamassas de assentamento

O local onde a argamassa é preparada estará limpo e desobstruído.

Colocam-se os constituintes definidos em projecto na misturadora ou betoneira, amassando o

tempo necessário para obter misturas homogéneas.

Determinar-se-á a trabalhabilidade da argamassa utilizando uma mesa de espalhamento (flow

test) ou, em alternativa, um Cone de Adams, periodicamente para se assegurar que esta se mantém

com uma consistência entre os limites estabelecidos no caderno de encargos.

3- Implantação das paredes de alvenaria

Antes de dar inicio ao assentamento verificar-se-á:

Page 94: Controlo da qualidade na execução de elementos não ... · Esta dissertação pretende aprofundar o conhecimento da actual situação portuguesa no controlo da ... 3.2.4 Norma francesa

� O estado da estrutura ao nível da geometria, desempeno e alinhamentos e caso algum

destes parâmetros não se encontre conforme, efectuar-se-á a reparação da estrutura e

retardar-se-á o assentamento na zona de intervenção, no mínimo, três dias após o finalizar

de esta tarefa.

� A limpeza e nivelamento dos pavimentos com régua de 2 metros

� Que a superfície de assentamento se encontra rugosa e húmida.

Marcar-se-á os panos de alvenaria de acordo com o projecto de execução com uma tolerância

de ±5mm.

Proceder-se-á à marcação das fiadas em altura com o objectivo de, sempre que possível,

minimizar o número de fiadas a realizar com tijolo cortado.

4– Assentamento de alvenarias/ elevação da parede

O tijolo deve ser colocado sempre por esfregação, sobre uma camada de argamassa, até que a

argamassa flua pelas juntas horizontal e vertical. Não se moverá nenhum tijolo após efectuada a

operação de esfregação. Se for necessário corrigir a posição de um tijolo, retirar-se-á este, retirando

também a argamassa.

O desencontro entre juntas deverá ser de pelo menos 1/3 do comprimento do tijolo,

preferencialmente ½.

A espessura das juntas será constante em todo o elemento e inferior a 15mm.

Assentamento da primeira fiada do pano interior e exterior devidamente alinhada por meio de fio

próprio (quando aplicável).

Execução de caleira com argamassa em quarto de circulo com pendente no sentido

longitudional com aplicação de tubos de drenagem espaçados de 2 metros, salientes em relação ao

revestimento de, no mínimo, 15mm e protecção desta com um material maleável.

Assentamento das fiadas seguintes do pano interior sem fecho superior

Colocação das placas de isolamento térmico, aprumadas, encostadas à parede interior, com

uma caixa de ar livre remanescente de 2 a 7 cm, a cobrir toda a sua superfície. Aplicar-se-ão

espaçadores ou fixadores das placas isolantes ao pano interior, para garantir que se mantêm

encostadas a este pano.

Assentamento das fiadas seguintes do pano exterior, deixando na segunda fiada com um

espaçamento de 2 metros vazios para possibilitar retirar os plásticos protectores da caleira.

O fecho entre o coroamento da parede e a viga de betão ou a laje do tecto, será executado com

argamassa quando pelo menos 50% das alvenarias estiverem elevadas, começando de cima para

baixo.

Os Paramentos encontrar-se-ão aprumados, desempenados e alinhados (verificação com fio de

prumo, régua e fio).