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  • Larissa Gomes Oliveira

    Contributos do Servio Social no Acolhimento, Acompanhamento e

    Preparao da Alta de Doentes Internados em Unidades de Cuidados

    Continuados Integrados

    Universidade Fernando Pessoa

    Porto, 2016

  • Larissa Gomes Oliveira

    Contributos do Servio Social no Acolhimento, Acompanhamento e

    Preparao da Alta de Doentes Internados em Unidades de Cuidados

    Continuados Integrados

    Universidade Fernando Pessoa

    Porto, 2016

  • Larissa Gomes Oliveira

    Contributos do Servio Social no Acolhimento, Acompanhamento e

    Preparao da Alta de Doentes Internados em Unidades de Cuidados

    Continuados Integrados

    Larissa Gomes Oliveira

    ______________________________

    Dissertao de Mestrado apresentada

    Universidade Fernando Pessoa como

    parte dos requisitos para a obteno do

    grau de Mestre em Servio Social sob a

    orientao do Professor Doutor Lus

    Santos.

  • i

    Resumo

    A ideia central do presente trabalho consiste em compreender quais so os

    contributos do Servio Social no acolhimento, acompanhamento, e preparao da alta

    de doentes internados em unidades de cuidados continuados integrados.

    Utilizando uma metodologia qualitativa e de carcter exploratrio, procurou-se

    responder aos objetivos definidos para esta investigao, com recurso a um guio de

    entrevista. Para tal, foram entrevistadas quatro Assistentes Sociais que trabalham nas

    unidades de convalescena; mdia durao e reabilitao; longa durao e manuteno e

    cuidados paliativos da RNCCI. O guio composto por cinco unidades de anlise,

    designadamente: a) caracterizao sociodemogrfica; b) na fase do acolhimento; c) no

    mbito da elaborao de plano individual de cuidados; d) no mbito e acompanhamento

    psicossocial; e) no mbito da preparao da alta e da continuidade dos cuidados.

    Em termos de resultados, destacam-se os contributos do/a Servio Social em todas as

    fases do internamento do doente. A misso do/a Assistente Social, ser sobretudo

    enfatizar a relevncia dos fatores psicossociais, determinantes no tratamento, na

    reabilitao, na readaptao e na reintegrao dos doentes/dependentes nos ambientes

    sociais, ajudando-os no desenvolvimento de todas as suas potencialidades. O Servio

    Social tem ainda como objetivo de interveno, estabelecer uma relao de entreajuda

    com o doente e/ou familiar cuidador, promovendo a minimizao de dificuldades da

    situao de doena, de forma a proporcionar bem-estar e qualidade de vida.

    Palavras-Chave: Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados; Contributos do

    Servio Social.

  • ii

    Abstract

    The central idea of this work is to understand what are the contributions of a Social

    Work on reception, monitoring, and preparation in the discharge of patients integrated

    in continuous care units.

    Using a qualitative and exploratory methodology, we tried to meet the goals set for

    this research, using an interview guide. For this, were interviewed four social workers

    working in convalescent units; medium term and rehabilitation; long-term, maintenance

    and palliative care in RNCCI. The script consists of five units analysis, namely: a)

    socio-demographic characteristics; b) in the reception phase; c) in the preparation of

    individual care plan; d) the scope and psychosocial support; e) as part of the high

    preparation and continuity of care.

    In terms of results, we highlighted the contributions of Social Service at all stages of

    the patient's hospitalization in RNCCI. The mission of a Social Worker, is especially to

    emphasized the importance of psychosocial, determining factors in treatment,

    rehabilitation, readaptation and reintegration of patients/dependents in social

    environments, helping them to develop their full potential. The Social Services also has

    the goal of intervention, establishing a mutual relationship with the patient and/or

    family caregivers, minimizing the difficulties of the disease situation in order to provide

    well-being and quality of life.

    Keywords: National Integrated Continuous Care Network; Contributions of Social

    Work.

  • iii

    Agradecimentos

    Ao Professor Doutor Lus Santos, orientador desta dissertao, por todo o seu apoio,

    empenho, motivao, dedicao, disponibilidade e pacincia na realizao deste estudo.

    Obrigada por todos os momentos de reflexo.

    minha famlia, em especial aos meus avs maternos, que estiveram sempre

    presentes, obrigada por todo o apoio e suporte para alcanar este objetivo.

    Aos meus amigos, que me motivaram e estiveram sempre presentes.

    A todas as participantes que despenderam do seu tempo para participarem nesta

    investigao.

  • iv

    Adoramos a perfeio, porque no a podemos a ter; repugna-l-amos, se a tivssemos.

    O perfeito desumano, porque o humano imperfeito

    Fernando Pessoa

  • v

    ndice Geral

    Introduo ................................................................................................................................... 10

    Parte I Enquadramento Terico .......................................................................................... 12

    Captulo I Caracterizao da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados ....... 13

    1.1 Introduo........................................................................................................ 13

    1.2 Cuidados Continuados e o Envelhecimento .................................................... 13

    1.3 Enquadramento da RNCCI .............................................................................. 16

    1.4 A Criao da RNCCI ....................................................................................... 18

    1.5 Misso e Objetivos de RNCCI ........................................................................ 20

    1.6 Estrutura de Gesto e Coordenao da RNCCI ............................................... 22

    1.7 Tipologias de Resposta da RNCCI .................................................................. 25

    1.7.1. Unidades de Internamento ........................................................................... 26

    1.7.2. Unidade de Ambulatrio ............................................................................. 29

    1.7.3. Equipa Hospitalar ........................................................................................ 29

    1.7.4. Equipas Domicilirias ................................................................................. 31

    1.8 Acesso RNCCI e o Processo de Sinalizao e Admisso ............................. 32

    1.9 O Assistente Social no mbito da Sade ........................................................ 33

    1.9.1. O Assistente Social na RNCCI .................................................................... 35

    1.9.2. Desempenho nas Unidades de Internamento ............................................... 36

    Parte II Estudo Emprico ..................................................................................................... 40

    Captulo II Metodologia .................................................................................................. 41

    2.1 Introduo........................................................................................................ 41

    2.2 Objetivos do Estudo ........................................................................................ 41

    2.3 Instrumentos e Procedimentos......................................................................... 41

    2.4 Caraterizao Scio-Demogrfica das Participantes ....................................... 45

    Captulo III Apresentao e Discusso dos Resultados ................................................... 48

    3.1 Introduo........................................................................................................ 48

    3.2 Fase de Acolhimento ....................................................................................... 48

    3.2.1. Suporte Emocional ...................................................................................... 48

  • vi

    3.2.2. Apoio Integrao ...................................................................................... 49

    3.2.3. Gesto de Expectativas ................................................................................ 50

    3.2.4. Apoio Adaptao Situao .................................................................... 50

    3.2.5. Recolha de Informao ................................................................................ 51

    3.2.6. No Gabinete de Trabalho ............................................................................ 52

    3.3 No mbito da Elaborao do Plano Individual de Cuidados .......................... 53

    3.3.1 Preparao com a Equipa ............................................................................ 53

    3.3.2 Elaborao como Doente e/ou Familiar Cuidador ...................................... 54

    3.4 No mbito e Acompanhamento Psicossocial ................................................. 55

    3.4.1 Junto ao Doente e/ou Familiar ..................................................................... 55

    3.4.2 No Gabinete ................................................................................................. 57

    3.5 No mbito da Preparao da Alta e da Continuidade dos Cuidados .............. 59

    3.5.1 Planeamento da Alta com a Equipa, o Doente e/ou Familiar Cuidador ...... 59

    3.5.2 Com o Doente e/ou Familiar Cuidador ....................................................... 60

    3.5.3 Relatrio Social ........................................................................................... 62

    3.6 Discusso ......................................................................................................... 63

    Concluso .................................................................................................................................... 68

    Referncias Bibliogrficas .......................................................................................................... 71

    Anexos......................................................................................................................................... 75

    Anexo A Guio de Entrevista ............................................................................................. 76

    Anexo B Termo de Consentimento Informado ................................................................... 81

    Anexo C Matriz Conceptual relativa 2 Unidade de Anlise do Guio de Entrevista ...... 82

    Anexo D Matriz Conceptual relativa 3 Unidade de Anlise do Guio de Entrevista ..... 91

    Anexo E Matriz Conceptual relativa 4 Unidade de Anlise do Guio de Entrevista ...... 96

    Anexo F Matriz Conceptual relativa 5 Unidade de Anlise do Guio de Entrevista .... 104

  • vii

    ndice de Figuras

    FIGURA 1 - PRINCIPAIS COMPETNCIAS DAS ECR .................................................................................. 24

    FIGURA 2 - PRINCIPAIS COMPETNCIAS DAS ECL ................................................................................... 25

    FIGURA 3 TIPOLOGIAS DE RESPOSTAS NA RNCCI................................................................................ 25

    FIGURA 4 - DESEMPENHO DO ASSISTENTE SOCIAL NA SADE EM DIFERENTES NVEIS .................................. 34

  • viii

    ndice de Tabelas

    TABELA 1 TAXA DE OCUPAO 2015 ............................................................................................... 19

    TABELA 2 CARACTERIZAO SOCIODEMOGRFICA DAS PARTICIPANTES .................................................. 46

  • ix

    ndice de Siglas e Abreviaturas

    AVDs Atividades de Vida Diria

    AVC Acidente Vascular Cerebral

    ARS Administrao Regional de Sade

    CP Cuidados Paliativos

    CS Centro de Sade

    CGA Caixa Geral de Aposentaes

    DGS Direo Geral de Sade

    EGA Equipa de Gesto de Altas

    ECR Equipas de Coordenao Regional

    ECL Equipas de Coordenao Local

    ECN Equipas de Coordenao Nacional

    MRNCCI Monitorizao da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados

    OMS Organizao Mundial de Sade

    PNS Plano Nacional de Sade

    RNCCI Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados

    SNS Servio Nacional de Sade

    SAD Servio de Apoio Domicilirio

    UC Unidade de Convalescena

    USF Unidade de Sade Familiar

    UMDR Unidade de Mdia Durao e Reabilitao

    ULDM Unidade de Longa Durao Manuteno

    UMCCI Unidade de Misso para os Cuidados Continuados Integrados

  • Contributos do Servio Social no Acolhimento, Acompanhamento e Preparao da Alta de Doentes

    Internados em Unidades de Cuidados Continuados Integrados

    10

    Introduo

    O presente estudo tem como objetivo geral compreender quais os contributos do

    Servio Social no acolhimento, acompanhamento e preparao da alta de doentes

    internados em unidades de cuidados continuados integrados.

    Este trabalho surge no contexto da implementao do Decreto-Lei n 101/2006 de 6

    de junho que enquadra normativamente a Rede Nacional de Cuidados Integrados em

    Portugal. Desta forma, entende-se que se trata de um momento oportuno para examinar

    esta questo numa perspetiva do Servio Social na RNCCI.

    O envelhecimento , atualmente, uma questo de grande relevncia social e

    cientfica. Vrias so as abordagens e tendncias. Neste trajeto existem alguns modelos

    explicativos para o envelhecimento saudvel, bem-sucedido, produtivo e ativo

    (Carbonnelle, 2012, cit. in Carvalho 2013).

    O servio Social na sade surge como um operador de criao de condies objetivas

    para a realizao de todo o processo coletivo de trabalho em sade. O/a Assistente

    Social viabiliza o acesso dos excludos aos servios existentes, apresentando-se com

    um elemento facilitador no acompanhamento de doentes internados em unidades de

    sade (Costa, 2000).

    No mbito das fases do internamento e continuidade dos cuidados ao doente, a

    famlia entendida como a mais direta e imediata fonte de apoio social ao doente

    incapaz de se auto-cuidar. A famlia , portanto, o maior suporte do doente que

    necessita de apoio e cuidados. Neste contexto, necessrio promover a colaborao do

    familiar cuidador como instituio fundamental na vida do doente (Augusto et al.,

    2002).

    O presente estudo encontra-se organizado em trs captulos. No primeiro captulo,

    intitulado caracterizao de rede nacional de cuidados integrados comea-se por fazer

    um breve enquadramento terico e normativo do estudo, para depois se contextualizar a

    temtica desta dissertao. No segundo captulo, designado por metodologia realizado

    o estudo emprico e apresentam-se os objetivos, o instrumento e os procedimentos

    utilizados, bem como a caraterizao sociodemogrfica das participantes. No terceiro

  • Contributos do Servio Social no Acolhimento, Acompanhamento e Preparao da Alta de Doentes

    Internados em Unidades de Cuidados Continuados Integrados

    11

    captulo, denominado a apresentao e discusso dos resultados apresentam-se os

    resultados e feita uma discusso dos mesmos. Para finalizar, so apresentadas as

    concluses da presente investigao, relevando-se os principais resultados, identificando

    algumas limitaes do estudo e dando pistas para posteriores investigaes.

  • Contributos do Servio Social no Acolhimento, Acompanhamento e Preparao da Alta de Doentes

    Internados em Unidades de Cuidados Continuados Integrados

    12

    Parte I Enquadramento

    Terico

  • Contributos do Servio Social no Acolhimento, Acompanhamento e Preparao da Alta de Doentes

    Internados em Unidades de Cuidados Continuados Integrados

    13

    Captulo I Caracterizao da Rede Nacional de Cuidados

    Continuados Integrados

    1.1 Introduo

    No presente captulo pretende-se expor as principais bases tericas e normativas que

    tm relevo no contexto deste trabalho. O captulo inicia-se com um breve

    enquadramento terico referente aos cuidados continuados, ao envelhecimento e

    famlia do doente. No final, feito um enquadramento normativo sobre a criao da

    RNCCI e a participao do/a Assistente Social na mesma.

    1.2 Cuidados Continuados e o Envelhecimento

    medida que a populao envelhece, as doenas crnicas aumentam e a necessidade

    de tratamentos e cuidados de sade tambm. Na atualidade, paralelamente a essas

    necessidades, surgem as crises financeiras atuais que alcanam um novo relevo (OMS,

    2010).

    O envelhecimento, se definido apenas numa perspetiva fisiolgica, diz respeito

    unicamente deteriorao dos sistemas orgnicos. No entanto, o envelhecimento um

    processo multidimensional influenciado pelas vivncias fisiolgicas, psicolgicas,

    sociolgicas e espirituais ao longo do passar dos anos. Este processo multidimensional

    facilitou a compreenso do envelhecimento um processo de crescimento e

    desenvolvimento (Stanhope & Lancaster, 2011).

    Em toda a histria do Homem, muitas tm sido as dvidas surgidas em volta do

    envelhecimento. Apesar de todas as pessoas envelhecerem, este processo ocorre em

    cada uma de maneiras diferentes, e em ritmos igualmente diferentes. O tempo e a

    qualidade de vida que cada um tem varia de pessoa para pessoa (Spirduso, 2005).

    Em 2050 e segundo as previses das Naes Unidas, poder atingir-se um ganho de

    dois anos na esperana mdia de vida. Contudo, atualmente, os sinais de

    envelhecimento da populao j so bem visveis, assim como as situaes da

    decorrentes, tais como o aumento dos problemas de dependncia, as consequentes

    necessidades e os custos da criao de respostas adequadas (Gomes, 2010).

    Por dependncia entende-se a situao em que se encontra a pessoa que, por falta ou

    perda de autonomia fsica, psquica ou intelectual, resultante ou agravada por doena

  • Contributos do Servio Social no Acolhimento, Acompanhamento e Preparao da Alta de Doentes

    Internados em Unidades de Cuidados Continuados Integrados

    14

    crnica, demncia orgnica, sequelas ps traumticas, deficincia, doena severa e ou

    incurvel em fase avanada, ausncia ou escassez de apoio familiar ou de outra

    natureza, no consegue, por si s, realizar as atividades da vida diria (Decreto-Lei n

    101/2006, de 6 de Junho).

    Quando as pessoas se encontram em situao de doena ou incapacidade os seus direitos

    tomam mais acuidade, dada a vulnerabilidade bio-psico-social a que est sujeita, assumindo

    respeito pela dignidade humana vital importncia na relao com o utente. Assim sendo ser

    garantido os cuidados apropriados ao seu estado de sade, sejam eles de natureza preventiva,

    curativa, de reabilitao ou terminais (Augusto et al., 2002).

    Os cuidados continuados de sade referem-se a todos os cuidados prestados pela

    sade na rea da dependncia, de forma articulada, independentemente do nmero de

    dias de prestao, os cuidados continuados um direito fundamental. Tal facto, exige

    uma resposta pronta e atempada dos diversos nveis de prestao de cuidados como a

    garantia e eficcia do atendimento ao utente que necessite dos cuidados (Augusto et al.,

    2002).

    A criao de unidades de cuidados continuados com equipas multidisciplinares, alm

    de ser uma determinante legal, tornou-se uma necessidade para as instituies, que

    procuram cada vez mais a humanizao e a afirmao na comunidade que esto

    inseridas.

    Segundo Stanhope & Lancaster (1999) os cuidados continuados so a componente de

    um continuidade cuidado de sade global em que os cuidados de sade so prestados

    aos doentes e/ou famlias com a finalidade de promover, manter ou recuperar a sade,

    ou de maximizar o nvel de independncia enquanto se minimiza os efeitos de

    dependncia e doena. De acordo com os autores devem ser planeados, coordenados e

    disponibilizados os cuidados adequados s necessidades do doente e/ou da famlia.

    Nesta perspetiva Eustquio & Cardoso (2000) afirmam que os cuidados continuados

    so de natureza multidisciplinar e intersectorial com reas especficas de articulao

    entre vrios nveis de cuidados de sade e de rede social de apoio, com projetos

    definidos de interveno e gesto.

  • Contributos do Servio Social no Acolhimento, Acompanhamento e Preparao da Alta de Doentes

    Internados em Unidades de Cuidados Continuados Integrados

    15

    1.3 Importncia da Famlia no Contexto da Continuidade dos Cuidados

    Segundo Marinheiro (2002) a definio de famlia tem vindo a alterar-se ao longo

    dos tempos, devido as vrias transformaes que a estrutura familiar tem sofrido. Este

    facto deve-se sobretudo as alteraes de papis sociais, fundamentalmente de a mulher

    ter de trabalhar fora de casa. Com o surgimento da urbanizao, o conceito de famlia

    passou a ser caracterizado por famlia nuclear, que constitui pai, me e filhos.

    No sentido de manter o seu equilbrio e integridade, as famlias procuram desenhar

    funes que possam responder s suas prprias necessidades enquanto clula global, s

    necessidades de cada membro individualmente, e em respostas s necessidades socias

    (Augusto et al., 2002).

    Cerqueira (2005, p 32), afirma que () considera-se famlia todas as pessoas que o

    doente reconhea como tal. Assim a famlia considerada uma instituio natural

    porque possibilita ao Homem o exerccio dos seus direitos essenciais como pessoa: o

    direito vida, o direito educao e o direito a completar o seu processo vital nas

    melhores condies.

    Entende-se por cuidar, o prestar ateno global e continuada a um doente, nunca

    esquecendo que ele antes de tudo uma pessoa situada num determinado tempo e

    espao e inserida numa famlia, sociedade e cultura (Pacheco, 2014).

    Para Cerqueira (2005), o cuidar , antes de mais, um assumir de uma

    responsabilidade social, envolvente e humanizada. Nesta perspetiva o autor refere que

    os cuidados familiares desempenham um papel crucial porque os mesmos assumem a

    responsabilidade de cuidar do seu familiar.

    Segundo Rebelo (1996) em Portugal sobretudo a famlia o centro da tradio da

    responsabilidade da prestao dos cuidados, tendo de facto de prestar os cuidados aos

    seus familiares, devido escassez de servios organizados na comunidade.

    A seleo da pessoa para assumir o papel de cuidador no uma escolha fcil.

    Apesar das ligaes pessoais terem um papel importante no explica satisfatoriamente a

    razo pela qual alguns membros da famlia assumem com maior frequncia que outros o

    papel de cuidadores. Aparentemente a escolha da pessoa para desempenhar o papel de

    cuidador depender da experiencia de vida e da estrutura familiar. O cuidador familiar

  • Contributos do Servio Social no Acolhimento, Acompanhamento e Preparao da Alta de Doentes

    Internados em Unidades de Cuidados Continuados Integrados

    16

    uma pessoa da famlia que presta os cuidados de sade, ao doente dependente em

    contexto domicilirio. Nesta realidade, quando se fala em cuidador familiar faz-se

    referncia a uma pessoa adulta, que realiza, presta cuidados de sade e apoio nas

    atividades da vida diria do doente que cuida, afim de minorar as dificuldades da pessoa

    em incapacidade funcional (Martns, 2005).

    1.3 Enquadramento da RNCCI

    A Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) tem como

    finalidade a implementao de um modelo especfico de prestaes de cuidados

    adaptados s necessidades do cidado e centrados no doente. O mesmo tem o direito aos

    cuidados necessrios, no tempo e locais definidos pelo prestador mais adequado sua

    necessidade. Atravs do desenvolvimento da RNCCI pretende-se estimular a reviso do

    papel do hospital e ainda reforar o papel dos cuidados primrios de sade do Servio

    Nacional de Sade (SNS). Desta forma pretende-se, ainda, apoiar a modernizao e

    adequao dos servios s necessidades de sade emergentes encontradas no pas

    (UMCCI, 2011).

    Segundo a Unidade de Misso para os Cuidados Continuados Integrados (UMCCI), a

    Rede pretende dar apoio pessoa em situao de dependncia que necessite de cuidados

    de sade e de apoio social, de natureza preventiva, reabilitativa, prestados atravs de

    unidades de internamento e de ambulatrio e ainda, de equipas hospitalares e

    domicilirias independentemente da idade.

    As redes de cuidados continuados so modelo de prestao de cuidados de sade.

    Esses mesmos modelos so criados no sentido de dar respostas s necessidades de

    cuidados continuados, em particular, de doentes que se encontram internados em

    servios hospitalares aps terem recebido alta clnica. No presente estudo, pretende-se

    descrever de forma mais detalhada a rede de cuidados continuados em Portugal

    (UMMC, 2011).

    A Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI ou Rede) surge na

    emergncia de uma resposta poltica a uma necessidade social que deriva de mltiplos

    fatores. O aumento do envelhecimento progressivo, o aumento da esperana mdia de

    vida, a diminuio da taxa de mortalidade e natalidade, so alguns dos fatores relevantes

    para a implementao deste modelo.

  • Contributos do Servio Social no Acolhimento, Acompanhamento e Preparao da Alta de Doentes

    Internados em Unidades de Cuidados Continuados Integrados

    17

    O processo de interveno sobre o problema social do envelhecimento tornou-se

    visvel por parte da sociedade contempornea sobre direito que todos os indivduos tm

    de usufruir de um sistema de garantias sociais que lhes permite ter espao na sociedade

    (Mouro cit. in Carvalho 2013).

    Este problema sociodemogrfico associa-se a novas condicionantes, tais como a

    emergncia e persistncia de situaes de doena. Nos casos que no so fatais, so no

    entanto debilitantes e condicionantes da autonomia e qualidade de vida dos indivduos

    que se encontram numa situao de dependncia. Neste contexto, tornaram-se

    imprescindvel encontrar-se uma resposta situao de dependncia e incapacidade, em

    situao de manuteno ou reabilitao, decorrentes das suas necessidades socias e de

    doena (PNS, 2013).

    Com o intuito de responder adequadamente a essas necessidades, foi importante

    desenvolver e implementar um modelo de prestao de cuidados sociais, e ainda de

    sade integrada. Foi igualmente fundamental que este modelo considere as vertentes de

    reabilitao, manuteno, preveno e necessidade paliativa (Decreto-Lei n. 101/2006

    de 6 de Junho).

    Independentemente das circunstncias do seu ciclo de vida, este novo modelo de

    prestao de cuidados, dever ser capaz de responder a diferentes grupos de indivduos,

    que se encontrem em diferentes estgios da sua doena. A ideia da implementao de

    um modelo com estas caractersticas e objetivos, ser de preencher o espao entre os

    cuidados hospitalares, e os cuidados comunitrios e primrios. Torna-se portanto

    indispensvel a criao de uma equipa multidisciplinar com capacidade e competncia

    para avaliar e responder s necessidades encontradas em cada pessoa. Este modelo

    pretende tambm garantir a qualidade dos cuidados prestados em todas as tipologias de

    respostas existentes na RNCCI, de acordo com o grau de dependncia, funcionalidade e

    carncia social (UMCCI, 2011; OPSS, 2009).

    O trabalho em equipa multidisciplinar pretende assegurar uma melhor qualidade dos

    servios prestados ao doente, mas sobretudo melhorar a qualidade de vida dos doentes e

    suas famlias. A articulao da equipa multidisciplinar pretende transformar o

    atendimento automtico num atendimento acolhedor e humanizado (Lopes et al., 2012).

  • Contributos do Servio Social no Acolhimento, Acompanhamento e Preparao da Alta de Doentes

    Internados em Unidades de Cuidados Continuados Integrados

    18

    O Decreto-Lei 101/2006 de 6 de junho, que institui a RNCCI, tem como finalidade

    poltica de sade e social, permitindo desenvolver aes mais prximas das pessoas em

    situao de dependncia. Pretende-se investir no desenvolvimento de cuidados de longa

    durao, promovendo a distribuio equitativa das respostas a nvel territorial, qualificar

    e humanizar tambm a prestao de cuidados e ainda potenciar os recursos locais

    existentes, criando servios comunitrios de proximidade.

    Conseguintemente, a implementao da RNCCI pretende conseguir responder s

    lacunas acima identificadas com o propsito da promoo em defesa, preveno e

    reduo das situaes de dependncia de carcter social e de sade, promovendo

    tambm a reabilitao da funcionalidade de cada indivduo. Deste modo tornou-se

    emergente a criao e implementao da RNCCI (Decreto-Lei n. 101/2006 de 6 de

    junho).

    1.4 A Criao da RNCCI

    A Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados foi criada pelo Decreto-Lei

    n. 101/2006, de 6 de junho, constitui-se como o modelo organizativo e funcional para o

    desenvolvimento de estratgias, tendo como objetivo a prestao de cuidados integrados

    a pessoas que se encontram em situao de dependncia. A Rede representa um

    processo reformador, desenvolvido por dois setores com responsabilidades de

    interveno no melhor interesse do cidado: O Servio Nacional de Sade (SNS) e o

    Sistema de Segurana Social.

    As alteraes demogrficas, com cada vez maior peso da populao idosa, assim como a

    alterao do tecido social, provocada pela ausncia do domiclio da mulher, cuidadora

    tradicional, levaram necessidade de encontrar respostas para apoio de pessoas em situao

    de dependncia. Reabilitar e reinserir, a par de polticas de envelhecimento ativo, so os

    desafios no momento, a nvel global. Houve, assim, a necessidade de definir uma estratgia

    para o desenvolvimento progressivo de um conjunto de servios adequados, nos mbitos da

    Sade e da Segurana Social, que respondessem crescente necessidade de cuidados destes

    grupos da populao, articulando com os servios de sade e sociais j existentes. A parceria

    estabelecida entre os Ministrios do Trabalho e Solidariedade Social e da Sade possibilitou

    as dinmicas de criao e fomento de respostas multissetoriais, com o objetivo de promover a

    continuidade da prestao de cuidados de Sade e Apoio Social a todo o cidado que

    apresente dependncia, com compromisso do seu estado de sade, ou em situao de doena

    terminal, sustentado por diversos stakeholders, como entidades pblicas (hospitais, centros de

    sade, centros distritais do Instituto da Segurana Social, I.P.) sociais e privadas (da Rede

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    Internados em Unidades de Cuidados Continuados Integrados

    19

    Solidria e da rede lucrativa), tendo o Estado por principal incentivador (UMCCI, 2011,

    p. 7).

    A RNCCI, de acordo com o Decreto-Lei 101/2006 de 6 de junho, constituda por

    unidades e equipas de cuidados continuados de sade devidamente preparadas para a

    interveno de necessidade de cuidados paliativos, ou de interveno social. A

    interveno poder ocorrer em diversos servios, tais como: os servios comunitrios de

    proximidade, os hospitais, os cuidados de sade primrios e servios socias que podem

    ser acionados atravs da rede solidria e autarquias locais.

    A RNCCI iniciou-se com um perodo de experincias piloto que decorreram entre

    outubro 2006 a abril de 2007. Para a implementao e desenvolvimento, foi realizado

    um estudo de anlise diagnstico da situao e planeamento de necessidades, para a

    definio do modelo de Cuidados Continuados Integrados (MRNCCI, 2015).

    A Tabela 1 diz respeito taxa de ocupao nas unidades UC, UCP, UMDR, ULDM

    e ECCI a nvel nacional. Salienta-se, de acordo com a Tabela 1, que as unidades de

    internamento contm uma taxa de ocupao elevada, onde se destaca a tipologia de

    longa durao e manuteno com 96% (95% em 2013).

    As unidades de cuidados paliativos possuem 90% da taxa de ocupao, sendo que em

    2013 ocupavam 86%. O Algarve representa a taxa de ocupao mais elevada para a

    unidade de convalescena, com 95%, igual a 2013. J as unidades de mdia durao e

    reabilitao, a taxa de ocupao por regio so superiores a 90%.

    Tabela 1 Taxa de Ocupao 2015

    Norte Centro LVT Alentejo Algarve Nacional

    UC 88% 93% 89% 85% 95% 90%

    UCP 86% 87% 92% 89% 95% 90%

    UMDR 94% 94% 92% 95% 95% 94%

    ULDM 95% 96% 97% 97% 97% 96%

    ECCI 65% 53% 68% 79% 68% 66%

    (Adaptado da Monitorizao da RNCCI, 2015)

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    20

    1.5 Misso e Objetivos de RNCCI

    Como j foi referido, segundo a UMCCI, a Rede tem por misso prestar os cuidados

    adequados de sade, e apoio social, a todas as pessoas que, independentemente da

    idade, se encontrem em situao de dependncia. No entanto essa misso concretiza-se

    atravs dos seguintes objetivos:

    a) A melhoria das condies de vida e bem-estar das pessoas em situao de

    dependncia, atravs da prestao de cuidados continuados de sade e de apoio

    social.

    b) A manuteno das pessoas com perda de funcionalidade, ou em risco de perder,

    no domiclio, sempre que possam ser garantidos os cuidados teraputicos e o

    apoio social, necessrios proviso e manuteno de conforto e qualidade de

    vida.

    c) O apoio, o acompanhamento e o internamento tecnicamente adequados

    respetiva situao.

    d) A melhoria contnua da qualidade na prestao de cuidados continuados de

    sade e de apoio social.

    e) O apoio aos familiares, ou prestadores informais, na respetiva qualificao, e na

    prestao dos cuidados.

    f) A articulao e coordenao em rede dos cuidados em diferentes servios,

    setores, e nveis de diferenciao.

    g) A preveno de lacunas em servios e equipamentos, pela progressiva cobertura

    nacional, das necessidades das pessoas em situao de dependncia em matria

    de cuidados continuados integrados.

    A UMCCI (2011), define tambm como objetivos estratgicos, fundamentais para a

    prossecuo da sustentabilidade do Servio Nacional de Sade, como garantia de acesso

    aos cuidados de sade por parte das populaes mais vulnerveis e estruturante para a

    reorganizao de servios e cuidados de sade, os seguintes:

    a) Diminuio da demora mdia de internamento em unidades hospitalares de

    agudos;

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    Internados em Unidades de Cuidados Continuados Integrados

    21

    b) Diminuio da taxa mdia de ocupao de camas hospitalares;

    c) Reduo do nmero de internamentos, e reinternamentos, de pessoas em

    situao de dependncia;

    d) Reduo dos custos das unidades hospitalares de agudos.

    A misso da RNCCI vem assim dar resposta ao conjunto de pressupostos

    internacionais definidos para o desenvolvimento dos cuidados continuados integrados,

    que so:

    a) Necessidade de diminuir internamentos desnecessrios, e o recurso s urgncias

    por falta de acompanhamento continuado;

    b) Reduo do reinternamento hospitalar ou internamento de convalescena dos

    idosos;

    c) Reduo do nmero de altas hospitalares tardias (i.e. acima da mdia de

    internamento definida);

    d) Aumento da capacidade da interveno dos servios de sade e apoio social ao

    nvel da reabilitao integral e promoo da autonomia;

    e) Disponibilizao de melhores servios para o apoio continuado s pessoas em

    situao de fragilidade ou com doena crnica;

    f) Disponibilizao de melhores servios de apoio recuperao da funcionalidade

    e continuidade de cuidados ps-internamento hospitalar;

    g) Flexibilizao da organizao e do planeamento dos recursos numa base de

    sistema local de sade, atravs da identificao, pormenorizada, das

    necessidades de cuidados da populao, a nvel regional;

    h) Maior eficincia das respostas de cuidados agudos hospitalares.

    Ser igualmente importante refletir nos restantes objetivos porque, considerando o

    mbito de execuo da RNCCI, expectvel que haja ganhos em sade para a

    populao de forma geral. Por conseguinte, a criao de respostas de sade e sociais,

    ajustadas s necessidades em situao de dependncia, permitir o aumento da cobertura

    de prestao de cuidados continuados integrados a nvel social. Produzindo igualmente

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    22

    um reforo da articulao entre os servios de sade e de apoio social, com vista

    manuteno e/ou reabilitao, sempre que possvel e adequado, das pessoas com

    dependncia no seu domiclio. Por outro lado, este aspeto permite potenciar a reduo

    da procura de servios hospitalares de agudos, por indivduos em situao de

    dependncia, uma vez que os cuidados a estes so privilegiados em contexto

    comunitrio, evitando situaes de internamento desnecessrias e garantindo uma

    melhoria da sua condio de vida e bem-estar (UMCCI, 2011; Decreto-Lei 101/2006 de

    6 de junho; PNS, 2013).

    1.6 Estrutura de Gesto e Coordenao da RNCCI

    Segundo a UMCCI (2011) a estrutura e coordenao da RNCCI estabelecem-se num

    modelo descentralizado, de modo a garantir a flexibilidade, o acompanhamento e

    monitorizao, e ainda, assegurar a gesto dos utentes. Existem trs nveis de

    coordenao:

    i. Nacional Coordenao Estratgica (UMCCI);

    ii. Regional Coordenao Operativa (ECR);

    iii. Local Coordenao Operativa (ECL).

    A Unidade de Misso para os Cuidados Continuados Integrados (UMCCI) uma

    estrutura de misso criada para conduzir e operacionalizar a implementao efetiva de

    um nvel intermdio de cuidados de sade e apoio social, entre os de base comunitria e

    os de internamento hospitalar, atravs de um modelo de interveno integrado e/ou

    articulado da sade e segurana social, de natureza preventiva, recuperadora e paliativa,

    envolvendo a participao e colaborao de diversos parceiros sociais, a sociedade civil

    e o Estado como principal incentivador (UMCCI, 2011).

    A nvel nacional, compete Equipa de Coordenao Nacional (ECN) da RNCCI

    coordenar e implementar as polticas de sade definidas para a RNCCI de acordo com

    os Ministrios da Sade e Segurana Social, competindo-lhe tambm a articulao entre

    a RNCCI, e as demais instituies dos sistemas sociais e de sade.

    Nas Equipas de Coordenao Regional (ECR), a coordenao da Rede assegurada

    por cinco equipas, constitudas de modo multidisciplinar, por representantes das

    administraes regionais de sade (ARS) e dos centros distritais de segurana social,

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    23

    nos termos definidos no Despacho Conjunto n. 19040/2006, dos Ministros do Trabalho

    e da Solidariedade Social e da Sade.

    A Equipa Coordenadora Regional, dimensionada em funo das necessidades e

    dos recursos existentes, e constituda por profissionais com conhecimentos e

    experincia nas reas de planeamento, gesto e avaliao.

    Os principais objetivos so a garantia da articulao e divulgao da informao,

    promoo da monitorizao e avaliao da qualidade dos cuidados prestados, promoo

    da formao dos profissionais, o acompanhamento, a avaliao e controlo da execuo

    dos contratos, a contratualizao, o diagnstico de necessidades e planeamento das

    respostas, e por fim assegurar o planeamento, a gesto, o controlo e avaliao da

    RNCCI a nvel regional.

    Como j foi dito anteriormente, compete a cada Equipa Coordenadora Local (ECL)

    determinar a admisso em Unidade ou Equipa de RNCCI, cada ECL responsvel pela

    apreciao da avaliao da situao da sade e social do doente, e pela verificao do

    cumprimento dos critrios da referenciao.

    O Despacho Conjunto n. 19 040/2006, de 19 de setembro, define tambm a

    constituio, organizao e as condies de funcionamento das equipas que asseguram a

    coordenao da Rede a nvel local.

    As ECL articulam com a ECR da respetiva regio, asseguram o acompanhamento e a

    avaliao da Rede a nvel local, bem como a articulao e coordenao dos recursos e

    atividades, tendo como principais objetivos, promover parcerias para a prestao de

    CCI, apoiar e acompanhar a utilizao dos recursos da RNCCI, assegurar a prestao de

    altas, atualizar o sistema de informao da RNCCI, assumir os fluxos de referncias dos

    utentes da RNCCI, apoiar e acompanhar o cumprimento dos contractos, e assegurar a

    articulao das unidades, e equipas, ao nvel local.

    Nas figuras seguintes, Figura 1 e Figura 2, podemos observar de forma resumida, as

    principais competncias atribudas a cada uma das equipas coordenadoras mencionadas

    anteriormente, ECR e ECL.

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    24

    Equipa de Coordenao

    Regional (ECR)

    Divulgao de informao

    populao sobre a RNCCI

    Anlise de propostas para

    integrao a Rede

    Acompanhamento e controlo da

    execuo financeira

    Garantia da qualidade dos

    cuidados prestados

    Monitorizao e controlo da

    atividade prestada

    Garantia da equidade e

    adequao no acesso Rede

    Formao dos Profissionais

    Plano Regional de implementao e

    previso oramental

    Garantia da articulao entre

    entidades e parceiros

    Figura 1 - Principais Competncias das ECR (Adaptado da UMCCI, 2011)

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    25

    Figura 2 - Principais Competncias das ECL (Adaptado da UMCCI, 2011)

    1.7 Tipologias de Resposta da RNCCI

    A RNCCI determina a prestao de cuidados de sade e de apoio social de acordo

    com quatro unidades destintas, que se dividem em unidades de internamento, unidades

    de ambulatrio, equipas hospitalares e equipas domicilirias que na Figura 3, se

    apresentam de forma esquemtica.

    Figura 3 Tipologias de Respostas na RNCCI (Adaptado de UMCCI, 2011)

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    Internados em Unidades de Cuidados Continuados Integrados

    26

    Conforme se pode observar, as unidades de internamento esto divididas em quatro

    principais unidades distintas, que so: as Unidades de Convalescena (UC), as Unidades

    de Mdia Durao e Reabilitao (UMDR), as Unidades de Longa Durao e

    Manuteno (ULDM) e ainda as Unidades de Cuidados Paliativos (CP). Em seguida

    temos as Equipas Hospitalares que so constitudas pelas Equipas Intra-hospitalares em

    cuidados Paliativos.

    Seguidamente encontramos a Unidade de Ambulatrio, onde esto inseridas as

    Unidades de Dia e Promoo de Autonomia e, por fim, temos as Equipas Domicilirias

    que divide-se em duas Equipas, as Equipas de Cuidados continuados Integrados e as

    Equipas Comunitrias de Suporte em Cuidados Paliativos (UMCCI, 2011).

    1.7.1. Unidades de Internamento

    A Unidade de Convalescena (UC), tem como finalidade clnica a recuperao

    funcional, avaliao e reabilitao integral da pessoa com perda transitria de

    autonomia, com potencial de recuperao e que no exige cuidados hospitalares agudos,

    tendo possibilidade do tempo de internamento, at 30 dias consecutivos por cada

    admisso.

    A unidade gerida por um mdico, tendo como objetivo assegurar os cuidados

    mdicos, de enfermagem (49h/semana), cuidados de fisioterapia, exames

    complementares de diagnstico, laboratorial e radiolgicos, prprios ou contratados, o

    apoio psicossocial, a administrao e prescrio de frmacos, higiene, conforto e

    alimentao, convvio e o lazer.

    Consideram-se critrios de referenciao especficos para a admisso nesta unidade,

    a situao de dependncia recente na sequncia de episdio agudo, suscetvel de

    melhoria, doentes que necessitam de cuidados mdicos e de enfermagem permanentes

    de, reabilitao por sonda nasogstrica, teraputica parentrica, alimentao por sonda

    nasogstrica, tratamento de lceras de presso e ou feridas e ainda medidas de suporte

    respiratrio.

    A Unidade de Convalescena (UC) uma unidade de internamento,

    independente, integrada num hospital de agudos ou noutra instituio se articulada

    com um hospital de agudos, para prestar tratamento e superviso clnica, continuada e

    intensiva, e para cuidados clnicos de reabilitao, na sequncia de internamento

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    Internados em Unidades de Cuidados Continuados Integrados

    27

    hospitalar originado por situao clnica aguda, recorrncia ou descompensao de

    processo crnico (Decreto-Lei n. 101/2006, de 6 de junho).

    S ingressam na UC os doentes com indicao para programas de reabilitao com

    durao previsvel igual ou menor que 30 dias.

    A Unidade de Mdia Durao e Reabilitao (UMDR) tem como finalidade a

    estabilizao clnica, avaliao, e reabilitao integral da pessoa que se encontra na

    situao prevista anteriormente, tendo possibilidade do tempo de internamento at 30

    dias consecutivos por cada admisso.

    Esta unidade de internamento vocacionada para a prestao de cuidados clnicos,

    de reabilitao, e de apoio psicossocial, por situao clnica decorrente de recuperao

    de um processo patolgico crnico.

    Os principais objetivos da UMDR, so assegurar os cuidados ao doente com perda

    transitria de autonomia potencialmente recupervel. Pretende-se tambm, assegurar os

    cuidados mdicos dirios (24h/semana), os cuidados de enfermagem permanentes,

    cuidados de fisioterapia e de tratamento ocupacional, apoio psicossocial, administrao

    e prescrio de frmacos, higiene, conforto e alimentao, convvio e o lazer.

    Consideram-se critrios para o ingresso nesta UMDR os doentes com necessidades

    de cuidados mdicos dirios, de enfermagem permanentes para a reabilitao intensiva,

    preveno ou tratamento de lceras. As medidas de suporte respiratrio, como

    oxigenoterapia, e aspirao de secrees e ventilao no invasiva, manuteno e

    tratamento do estmago, tambm so alguns dos critrios de admisso.

    A Unidade de Longa Durao e Manuteno (ULDM) tem como finalidade

    proporcionar cuidados que previnam e retardem o agravamento da situao de

    dependncia, favorecendo o conforto e a qualidade de vida, tendo possibilidade de

    tempo de internamento superior a 90 dias consecutivos. Esta pode proporcionar o

    internamento, por perodos inferiores a 90 dias em situaes temporrias, decorrentes de

    dificuldades de apoio familiar necessidade de descanso do principal cuidador, at 90

    dias por ano.

    Os principais objetivos da ULDM so assegurar atividades de manuteno, e de

    estimulao, cuidados de enfermagem dirios, cuidados mdicos (7h/semana),

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    Internados em Unidades de Cuidados Continuados Integrados

    28

    administrao e prescrio de frmacos, apoio psicossocial, animao scio-cultural,

    higiene, conforto e alimentao, cuidados de fisioterapia e terapia ocupacional, controlo

    fisitrico peridico e apoio no empenho das AVDs.

    Consideram-se critrios para a admisso nesta ULDM, os doentes que requeiram

    cuidados mdicos e de enfermagem. Os doentes com patologia aguda e/ou crnica

    estabilizada, que necessitem de cuidados de sade, e presente dfice de autonomia nas

    atividades da vida diria. Tambm so considerados critrios de admisso para aqueles

    doentes que se encontram com algum sndrome, como a depresso, confuso,

    desnutrio, problema na deglutio, deteorizao sensorial ou comportamento de

    eficincia e ou segurana da locomoo.

    Os doentes sem potencial de recuperao a curto e mdio prazo, e ainda os doentes

    com patologia crnica de evoluo lenta, com previso de escassas melhorias clnicas e

    funcionais tambm so admitidos nas ULDM.

    As ULDM podem tambm proporcionar o internamento a doentes com dificuldades

    de apoio familiar, e se o cuidador precisar de descanso, que chamado o Descanso do

    Cuidador. O internamento do doente pode ter a durao do limite mximo de 90 dias

    por ano.

    As Unidades de Cuidados Paliativos (UCP) so destinadas a doentes com doenas

    complexas com estado avanado, com evidncia de falha de teraputica dirigida

    doena de base, ou em fase terminal, que requeiram cuidados continuados em regime de

    internamento para orientao, ou aplicao do plano teraputico paliativo.

    Consideram-se critrios admisso aos doentes que possuam doenas graves, e/ou

    avanada em fase terminal, oncolgica ou no, sem resposta favorvel teraputica

    dirigida a patologia de bases. As unidades podem tambm proporcionar o internamento

    a doentes que se encontram nas condies que foram referidas anteriormente com o

    objetivo do descanso do cuidador.

    A unidade internamento, est normalmente localizada num hospital, para

    acompanhamento, tratamento e superviso clnica a utentes em situao clnica

    complexa e de sofrimento, decorrente de doena severa e ou avanada, incurvel e

    progressiva, nos termos do consignado no Programa Nacional de Cuidados Paliativos

    do Plano de Sade.

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    Internados em Unidades de Cuidados Continuados Integrados

    29

    A unidade de cuidados paliativos gerida tambm por um mdico, e assegura os

    cuidados mdicos dirios (70h/semana), cuidados de enfermagem permanentes, os

    exames complementares de diagnstico laboratoriais e radiolgicos, prprios ou

    contratados, consulta, acompanhamento e avaliao de utentes internados com outros

    servios ou unidades, cuidados de fisioterapia, acompanhamento psicossocial e

    espiritual, prescrio e administrao de frmacos, atividades e manuteno, higiene,

    conforto e alimentao, convvio e lazer.

    1.7.2. Unidade de Ambulatrio

    Esta unidade pretende promover a autonomia de doentes que requerem cuidados

    integrados de suporte, de promoo de autonomia e apoio social a pessoas, e, que ainda

    assim, no renam condies para serem cuidadas no domiclio.

    A Unidade de Dia e de Promoo da Autonomia tem como objetivo assegurar as

    atividades de manuteno e de estimulao, os cuidados mdicos e os cuidados de

    enfermagem peridicos, animao sociocultural, alimentao, higiene pessoal, quando

    necessria, apoio psicossocial e controle fisitrico peridicos.

    Consideram-se critrios de referenciao especficos para admisso nesta unidade, a

    situao de dependncia em que o doente rene condies para lhe serem prestados os

    cuidados necessrios em regime ambulatrio.

    1.7.3. Equipa Hospitalar

    A Equipa de Gesto de Alta faz a articulao dos recursos intra e extra hospitalares.

    Dever ser constituda por, no mnimo, 3 elementos, um mdico, um enfermeiro e um

    assistente social.

    O plano de alta hospitalar pretende garantir a continuidade dos cuidados de sade e o

    uso dos recursos hospitalares e da comunidade, a partir da identificao, e avaliao das

    necessidades dos doentes, de acordo com os parmetros previamente estabelecidos.

    As equipas de gesto de altas dos hospitais devem planear a alta dos doentes em

    colaborao com os servios de internamento do hospital, com os prprios doentes e

    famlias. O processo de planeamento da alta dever aplica-se a todos os doentes que

    previsivelmente, iro necessitar de cuidados de reabilitao e manuteno.

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    Internados em Unidades de Cuidados Continuados Integrados

    30

    A equipa hospitalar multidisciplinar tem como objetivo preparar e gerir a alta dos

    utentes em articulao com os servios de internamento de modo a que seja assegurada

    a continuidade de cuidados ao longo do processo de reabilitao e manuteno, que so

    acrescidos a todos os doentes que apresentem um grau de dependncia, que no lhes

    permita o regresso ao domiclio em condies de segurana.

    A transferncia da responsabilidade de prestao de cuidados ao doente, em

    resultado da alta do internamento, ou da sua transferncia para uma outra unidade

    dentro de RNCCI, implica decises e procedimentos que devem ser bem definidos,

    explicitados e devidamente registados, de forma a assegurar a qualidade e a

    continuidade de cuidados ao longo de todo o processo.

    A deciso de dar alta clnica a um doente da competncia e responsabilidade do

    mdico do doente, e a alta deve ser preparada desde a data do internamento, para

    garantir os melhores resultados para o doente.

    No contexto da RNCCI, o planeamento da alta dever aplicar-se a todos os doentes

    que necessitem de cuidados continuados integrados, imediatamente aps um

    internamento hospitalar, a todos os doentes que apresentem um grau de deficincia que

    no lhes permita o regresso ao domiclio em condies de segurana, ou aqueles em que

    seja necessrio uma avaliao mais precisa do grau de dependncia.

    No momento da alta hospitalar para uma unidade de Rede, o doente dever ser

    acompanhado da sua nota de alta. Deve ento acompanhar a nota de alta mdica, que

    inclui a situao clnica, bem como a medicao a fazer nessa data, a nota de alta da

    enfermagem, que deve incluir a avaliao das necessidades em cuidados de

    enfermagem, notas do/a Assistente Social, notas do nutricionista, psiclogo clnico. A

    nota da alta de apresentar tambm, registos do treino e educao do doente e familiares

    ou cuidadores, cpia dos exames complementares de diagnstico e informao sobre o

    programa de follow-up e sobre a marcao j feita das prximas consultas ao exames

    complementares, com identificao do responsvel pelo doente.

    As equipas intra-hospitalares de suporte em cuidados paliativos, so as equipas

    hospitalares multidisciplinares com formao em cuidados paliativos, com espao fsico

    para a sua coordenao, tendo como finalidade prestar aconselhamento diferenciado em

    CP aos servios hospitalares, podendo prestar cuidados diretos e orientados ao Plano

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    Internados em Unidades de Cuidados Continuados Integrados

    31

    Individual de Interveno dos utentes internados, para os quais seja solicitada a sua

    interveno.

    A equipa intra-hospitalar de suporte em cuidados paliativos assegura a formao em

    cuidados paliativos dirigidos s equipas teraputicas do hospital e aos profissionais que

    prestam cuidados continuados, cuidados mdicos e de enfermagem continuados,

    tratamento paliativos complexos, consulta e acompanhamento do utente internado,

    assessoria aos profissionais dos servios hospitalares, cuidados de fisioterapia, apoio

    psico-emocional a utentes e familiares ou cuidadores, incluindo no perodo do luto.

    1.7.4. Equipas Domicilirias

    As equipas de cuidados continuados integrados so equipas multidisciplinares da

    responsabilidade dos cuidados de sade primrios e das entidades de apoio social que

    prestam apoio domicilirio a pessoas em situao de dependncia funcional, em caso de

    doena terminal, ou em processo de convalescena cuja situao no requer

    internamento, mas que no podem deslocar-se do domiclio.

    Tem como objetivos assegurar o apoio na satisfao das necessidades bsicas, nas

    atividades instrumentais da vida diria, no desenho das atividades da vida diria, na

    coordenao e gesto de casos com outros recursos de sade e sociais, no apoio

    psicossocial e ocupacional envolvendo os familiares e outros prestadores de cuidados.

    Deve assegurar os cuidados de fisioterapia e a formao em cuidados domicilirios

    de enfermagem e mdicos de natureza preventiva, curativa, reabilitadora e aes

    paliativas, as visitas dos clnicos devem ser programadas e regulares, tendo por base as

    necessidades clnicas detetadas pela equipa.

    As equipas comunitrias de suporte em cuidados paliativos tm como finalidade

    prestar assessoria diferenciada em cuidados continuados paliativos s equipas

    prestadoras de cuidados no domiclio dos CS/UFS, unidade de internamento de mdia e

    longa durao.

    Desta forma, pretende-se assegurar a avaliao interna do utente, os tratamentos e

    interveno paliativas a utentes complexos, a assessoria aos familiares e ou cuidadores,

    a assessoria e apoio s equipas de cuidados continuados integrados, gesto e controlo

    dos procedimentos de articulao entre os recursos e os nveis de sade e sociais,

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    32

    formao em cuidados continuados paliativos dirigidos s equipas de sade familiares

    do CS, e os profissionais que prestam cuidados continuados domicilirios (UMCCI

    2011).

    1.8 Acesso RNCCI e o Processo de Sinalizao e Admisso

    No caso do doente se encontrar internado num hospital do servio nacional de sade,

    este deve contactar o servio onde est internado ou a Equipa de Gesto de Altas (EGA)

    desse hospital. A EGA do hospital onde o doente est internado, quem faz a

    referenciao para a RNCCI. A avaliao da necessidade de cuidados continuados

    realizada, de preferncia, logo no incio do internamento, porque preciso preparar,

    com tempo, a etapa que se segue alta clnica (UMCCI, 2011).

    No caso do doente se encontrar no domiclio, lar ou outra situao, este deve

    contactar o Centro de Sade atravs do mdico de famlia, enfermeiro, ou Assistente

    Social. A proposta de ingresso na RNCCI apresentada por estes profissionais do

    centro de sade Equipa de Coordenao Local (ECL). Em caso de dificuldade pode

    contactar diretamente a ECL sedeada no Centro de Sade da respetiva rea de

    residncia.

    A equipa de gesto de alta do hospital tem por objetivo preparar e gerir a alta

    hospitalar em articulao com outros servios, para os doentes que requerem

    seguimento dos seus problemas de sade e sociais (Decreto-Lei n. 101/2006, de 6 de

    junho).

    A equipa de Gesto de Alta, de acordo com Manual e Planeamento e Gesto de

    Altas, tem como objetivos:

    a) Garantir a existncia de um programa atempado e integrador dos cuidados

    necessrios no local adequado, para assegurar a mxima independncia do doente;

    b) Assegurar a continuidade dos cuidados ao doente;

    c) Criar registros adequados, referentes a todas as fases do processo de transferncia,

    como a identificao das aes, dos intervenientes, da situao do doente, e

    eventuais incidentes crticos;

    d) Garantir que o doente s fique no hospital o tempo necessrio aos procedimentos de

    avaliao, ou tratamento da sua situao clnica, que no possam ser feitos em

    ambulatrio ou outras unidades de internamento;

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    33

    e) Implementar o planeamento de alta.

    Todo o processo de referenciao prev a existncia de uma uniformidade de

    procedimentos, cuja finalidade ser garantir o fcil acesso dos indivduos aos servios

    da rede, de forma adequada e atempada.

    1.9 O Assistente Social no mbito da Sade

    A Organizao Mundial de Sade (1948) define a sade como o estado de bem-estar

    fsico, mental e social e no apenas a ausncia de doena ou incapacidade. Em 1984

    1994 a OMS afirma que a qualidade de vida ser um conjunto de recursos sociais,

    individuais, e fsicos, necessrios para a realizao dos objetivos de cada indivduo.

    Ramos (2004) acrescenta que a sade envolve vrias dimenses, as quais incluem

    diferentes reas que devero coexistir de forma equilibrada, e que agrupam a sade

    emocional, a sade intelectual, a sade social, a sade espiritual e a sade fsica.

    Vasconcelos (2006, cit. in Branco & Faradas 2012, p. 8) afirma que Ao Assistente

    Social que tem como objeto a questo social cabe organizar, aprofundar, ampliar,

    desenvolver, facilitar conhecimentos e informaes sobre todos os aspetos da histria e

    da conjuntura relativos sade e seus determinantes ().

    A institucionalizao de Servio Social em Portugal surge aps a Lei de organizao

    hospitalar (Lei n 2011, de abril de 1946), que estabelece a primeira consagrao da

    jurisdio profissional do Servio Social no mbito hospitalar. A mesma foi

    desenvolvida pelo regulamento geral dos hospitais (Decreto-Lei n 48358/68, de 27 de

    abril de 1968), a qual o Servio Social coordena o trabalho voluntrio e participa no

    conselho tcnico dos hospitais (Branco & Faradas, 2012).

    Segundo o Cdigo Deontolgico Internacional do Assistente Social, a conscincia

    tica imprescindvel na prtica profissional do/a Assistente Social. Os objetivos da

    Declarao Internacional dos princpios ticos passam pela formulao de um conjunto

    de princpios bsicos de Servio Social, os quais devem ser adaptados consoante as

    diferentes realidades socioculturais. A declarao internacional tambm prev a

    identificao de problemas ticos na prtica social, e ainda a elaborao de um guia

    metodolgico para lidar com as questes e problemas ticos.

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    34

    A interveno dos Assistentes Sociais desenvolve-se por referncia ao cdigo de

    tica adotado pela Federao Internacional dos Assistentes Sociais, o qual estabelece os

    direitos humanos, e a justia social, como princpios fundamentais da atuao destes

    profissionais (Associao dos Profissionais de Servio Social, 1994).

    A DGS (2006) considera que, em termos gerais, o Servio Social na Sade atua: Na

    avaliao dos fatores psicossociais que interferem na sade de pessoas, grupos e

    comunidades com especial ateno para situaes identificadas como de risco e

    vulnerabilidade; na avaliao dos fatores psicossociais envolvidos no tratamento da

    doena e reabilitao; na interveno psicossocial a nvel individual, familiar e grupal;

    no aconselhamento e interveno em situaes de crise por motivos mdicos e/ou

    sociais; na promoo da prestao de servios de qualidade centrados no doente e

    baseados em parcerias com o doente, a famlia e cuidadores informais, na advocacia

    social em favor do doente e famlia; na avaliao e criao de recursos sociais nas

    comunidades locais de referncia; na definio e realizao de programas de

    preveno e promoo da sade e comunitria; na educao e informao em sade;

    na mobilizao, organizao e coordenao das entidades e atores sociais relevantes

    para a prestao de cuidados de sade e sociais.

    Segundo a DGS (2006) Manual de Boas Prticas para os Assistentes Sociais da

    Sade na RNCCI, o desempenho dos Assistentes Sociais na sade passam por diferentes

    nveis:

    Figura 4 - Desempenho do Assistente Social na Sade em Diferentes Nveis (Adaptado de DGS, 2006)

    Avaliao dos factores psicossociais interferentes na sade de pessoas, grupos e comunidades em especial ateno a grupos e situaes identificadas como risco e vulnerabilidade;

    Avaliao dos factores de psicossociais envolvidos no tratamento da doena e reabilitao;

    Internveno psicossocial a nvel individual, familiar e grupal;

    Aconselhamento e interveno em sitaes de crise por motivos mdicos e/ou sociais;

    Promoo da prestao de servios de qualidade centrados no doente e baseados em parcerias com doente, a famlia e cuidadores informais;

    Advocacia social em favor do deonte e famlia;

    Educao e informao em sade;

    Mobilizao, organizao e coordenao das entidades e atores sociais relevantes para a prestao de cuidados de sade e sociais.

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    Internados em Unidades de Cuidados Continuados Integrados

    35

    1.9.1. O Assistente Social na RNCCI

    Desde o incio do sculo XX, os Assistentes Sociais passaram a integrar as equipas

    dos servios de sade. Com o aparecimento da RNCCI, surge um novo modelo que

    exigi-lhes que se vocacionem especificamente para Cuidados Continuados Integrados.

    Dentro do modelo de cuidados continuados integrados, a misso essencial destes

    profissionais passa, em grande, parte por enfatizar a relevncia e a centralidade dos

    fatores psicossociais, enquanto determinantes ou favorecedores do tratamento, da

    reabilitao, da readaptao e da reintegrao dos doentes nos ambientes sociais, que

    mais se lhes adequam, e favorecem o desenvolvimento de todas as suas potencialidades.

    O seu perfil orientado para a prestao de cuidados, a gesto personalizada da

    situao, e necessidades globais do cidado doente, bem como para o trabalho de

    organizao e educao de pessoas com interesses afins em matrias de sade e doena.

    Como gestor de caso e monitor da continuidade, integralidade e qualidade dos cuidados,

    visa promover a manuteno, o reforo ou o restabelecimento das relaes interpessoais

    do doente com a equipa, a famlia e as redes de sociabilidades (DGS, 2006).

    Como mediador e fomentador das redes de suporte social, o/a Assistente Social visa

    assegurar o apoio material e o suporte emocional famlia. Como provedor e

    conselheiro da famlia, visa potenciar a reinsero social do doente no seu meio habitual

    de vida, com qualidade, e suporte adequados. Como mediador da prestao de bens e

    servios ao doente e famlia, visa contribuir para a efetividade dos cuidados, e eficcia

    dos servios prestados pelas instituies do SNS. Como promotor da qualidade e

    humanizao dos cuidados e servios, visa motivar ou incentivar doentes, ex-doentes,

    familiares ou outros para a organizao de aes de autoajuda e/ou voluntariado. Como

    dinamizador de indivduos, e organizador de grupos, potenciar a consciencializao dos

    cidados sobre as necessidades e as responsabilidades na sade, e na doena, e fomentar

    a sua capacitao para uma participao ativa na melhoria dos servios, e dos cuidados.

    Segundo o Manual de Boas Prticas para os Assistentes Sociais da Sade na RNCCI:

    A interveno dos Assistentes Sociais nos servios de internamento, pela centralidade

    que coloca na dimenso psicossocial do adoecer e do estar doente, visa a humanizao

    e a qualidade dos cuidados, a satisfao dos doentes e famlias, e ainda a

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    Internados em Unidades de Cuidados Continuados Integrados

    36

    rentabilizao dos recursos de sade e sociais prprios de cada Unidade de

    Internamento (DGS 2006, p. 9).

    1.9.2. Desempenho nas Unidades de Internamento

    No Manual de Boas Prticas para os Assistentes Sociais da Sade na RNCCI so

    abordadas as prticas que os tcnicos devem desenvolver em cada uma das tipologias de

    servios existentes na rede. Estas prticas devem fazer parte da interveno em qualquer

    um dos tipos de internamentos existentes na RNCCI (DGS, 2006).

    Segundo o Manual, a interveno dos assistentes sociais nos servios de

    internamento centram-se na dimenso psicossocial do adoecer e do estar doente, por

    isso visa, essencialmente, a humanizao e a qualidade dos cuidados, a satisfao dos

    doentes e famlias, e ainda a rentabilizao dos recursos de sade e sociais, prprios a

    cada unidade de internamento.

    Mais especificamente, os tcnicos trabalham diretamente em quatro momentos

    metodolgicos durante o internamento dos doentes. So eles o acolhimento, a

    elaborao do plano individual de cuidados, o acompanhamento psicossocial e a

    preparao da continuidade dos cuidados.

    No Acolhimento, junto ao doente e/ou famlia, o/a Assistente Social funciona como

    suporte emocional, destes mesmos doente e familiares. Tem como intuito

    identificao e interpretao das perdas sofridas, facilitar a aceitao e capacitao para

    a superao. O/a Assistente Social, relativamente ao Apoio Integrao do doente e/ou

    famlia nas unidades de internamento, pretende facultar ainda informaes acerca de

    direitos e deveres. Na Gesto de Expetativas ser importante, nomeadamente durante

    todo o perodo internamento do doente, benefcios disponveis, condies de vida aps

    o internamento, visando a preparao da alta. No Apoio Adaptao ao contexto da

    doena e/ou dependncia do doente, ser importante esclarecer, e disponibilizar

    informaes sobre direitos sociais: subsdios na doena; isenes; acompanhamentos;

    transportes; alimentao; servios voluntrios; vida profissional/escolar. J na Recolha

    de Informao, ser pertinente para a preparao da alta e continuidade dos cuidados,

    por exemplo: a profisso, nacionalidade, os tipos de apoios que j beneficiavam antes

    do internamente, cultura, escolaridade, habitao, entre outros (DGS, 2006).

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    Internados em Unidades de Cuidados Continuados Integrados

    37

    Seguidamente ao acolhimento deve-se fazer uma anlise preliminar da situao e dos

    fatores de risco existentes, podendo posteriormente fazer uma recolha de referncias

    junto de todos os outros elementos da equipa, e da rede de apoio.

    No Plano Individual de Cuidados, o/a Assistente Social esclarece dvidas, e refora a

    informao sobre os direitos e deveres do doente e familiares, e acesso a servios e

    bens, informa sobre os tratamentos previstos para o doente. O/a Assistente Social

    elabora tambm um esquema do plano individual de cuidados, com tempos previstos e

    metas a atingir, orienta os doentes e familiares para os servios de apoio existentes na

    comunidade, nomeadamente aos centros de dia, lares, apoio domicilirio, entre outros

    (DGS, 2006).

    No Acompanhamento Psicossocial, cabe ao Assistente Social prestar ateno e

    acompanhamento junto do doente e da sua famlia, no processo de tratamento,

    reabilitao, readaptao e reintegrao social, prestando para isso.

    Serve de suporte emocional ao doente e/ou famlia, permitindo ou facilitando a

    expresso dos sentimentos e receios suscitados pela doena, pelo tratamento e as suas

    consequncias, ou pela previso da morte. Suporte ao prprio doente e/ou famlia,

    ajudando a enfrentar as mudanas provocadas pela doena e/ou tratamento nos diversos

    nveis da vida do doente, e daqueles que se envolvem diretamente nos seus cuidados.

    Suporte ao doente e familiar na coeso familiar, ou seja, na gesto de conflitos,

    redistribuies de papis, seleo de estratgias na melhoria da comunicao, e ainda na

    preveno da excluso do doente do seio familiar. Incentivo e estmulo adeso ao

    ensino/aprendizagem, tanto do doente como da famlia, tendo em conta a continuidade

    dos cuidados. Pretende-se nesta etapa: Orientar, informar e habilitar os doentes e

    familiares em contexto de proteo social na doena, na readaptao reabilitao e

    reinsero familiar, social e laboral. Capacitao do doente e/ou famlia para a gesto

    eficaz da doena, nomeadamente na maximizao dos recursos pessoais e comunitrios,

    e na integrao dos cuidados. Exerccio de advocacia em favor do doente e famlia

    relativamente ao acesso a prestaes sociais e/ou servios, pretende-se o fornecimento

    dos meios necessrios ao contato, regresso ou ingresso na unidade de sade em

    situaes programadas ou de urgncia. O incentivo reinsero profissional ou escolar

    do doente e/ou promoo da sua participao em atividades ocupacionais adaptadas ao

    seu estado de sade, a orientao dos doentes e familiares para servios de apoio

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    38

    especializado, nomeadamente jurdico, psiquitrico e ainda, Preparao para a morte e

    apoio no luto, quando apropriado, passam pela responsabilidade do/a Assistente Social

    (DGS, 2006).

    Na preparao da continuidade dos cuidados, sobretudo no planeamento da alta e da

    continuidade dos cuidados, este planeamento feito sempre entre toda a equipa

    multidisciplinar, e/o doente e familiar cuidador.

    O principal objetivo a preparao/capacitao do doente e/ou familiar cuidador

    para o ps alta. Pretende-se garantir uma alta com as melhores condies possveis. O

    planeamento feito entre a equipa, o doente e/ou cuidador, visa, essencialmente, alguns

    aspetos importantes.

    Identificao em equipa da necessidades de ordem mdica, de enfermagem, de

    nutrio, de reabilitao, de realizao de AVDs e outras, bem como das dimenses

    psicossociais individuais e familiares existentes (econmicas, emocionais, profissionais,

    etc.) decorrentes da situao de doena e/ou dependncia, e da necessidade de

    continuidade dos cuidados.

    Negociar com o doente e com o familiar cuidador, para a elaborao do plano

    individual de cuidados, e a organizao da prestao dos mesmos, passa por estabelecer

    metas e identificar atores profissionais e institucionais da prestao dos cuidados ou

    servios. E ainda identificar o elemento da equipa que ser referenciado como o

    elemento de ligao entre doente/familiar cuidador, e a equipa teraputica, se

    necessrio.

    No que respeita ao planeamento feito entre o/a Assistente Social e o doente/familiar

    cuidador, aquilo que se pretende passa por, verificar a existncia dos equipamentos

    necessrios transferncia segura do doente, e quando necessrio, a capacitao ou

    treino para o seu uso.

    Por outro lado, verificar o entendimento feito pelo doente e/ou familiar cuidador do

    plano de cuidados, principalmente se estiverem presentes servios mdicos, prestados

    por distintas especialidades mdicas ou instituies.

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    39

    Facilitar ao doente e/ou cuidador a elaborao de notas escritas sobre o plano,

    nomeadamente sobre os vrios profissionais, equipas, instituies, ou materiais que vai

    ter de ir contactando ou procurando durante o percurso de prestao de cuidados.

    Lembrar o doente e/ou o cuidador que o plano no rgido, mas flexvel, e que

    mudar com o evoluir das condies do doente e do funcionamento dos servios, tendo

    por isso de ir sendo atualizado, lembrar ainda, que podem sempre pedir esclarecimentos,

    ou outros apoios.

    Para alm deste planeamento da alta, funo do/a Assistente Social elaborar o

    relatrio social, que posteriormente constar no processo de sada do utente. Importa

    ainda referir que a entrega personalizada do caso ao Assistente Social, da equipa que

    continuar a prestao de cuidados, o procedimento que melhor potencia o trabalho j

    realizado, e que garante uma continuidade mais eficaz dos cuidados (DGS, 2006).

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    40

    Parte II Estudo Emprico

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    Internados em Unidades de Cuidados Continuados Integrados

    41

    Captulo II Metodologia

    2.1 Introduo

    Neste captulo pretende-se apresentar a metodologia realizada nesta investigao.

    Para tal, identificam-se os objetivos do estudo, o objetivo geral e objetivos especficos.

    Sero demostrados tambm o instrumento de recolha de dados utilizado, assim como, os

    instrumentos utilizados e procedimentos efectuados, caracterizando ainda scio

    demograficamente os participantes.

    2.2 Objetivos do Estudo

    O presente estudo, tem como principal objetivo geral e propsito Compreender quais

    so os Contributos do Servio Social no Acolhimento, Acompanhamento e Preparao

    da Alta de Doentes Internados em Unidades de Cuidados Continuados Integrados.

    Foram ainda definidos os seguintes objetivos especficos:

    a) Caracterizar os contributos do Servio Social a nvel do Acolhimento de doentes

    internados em unidades de cuidados continuados integrados;

    b) Caracterizar os procedimentos associados elaborao do Plano Individual de

    Cuidados, justificando a sua importncia;

    c) Mapear o processo de Acompanhamento Psicossocial desenvolvido pelo

    Assistente Social em doentes internados em unidades de cuidados continuados

    integrados;

    d) Explorar os procedimentos associados do planeamento da alta e preparao da

    continuidade dos cuidados dos mesmos na comunidade.

    2.3 Instrumentos e Procedimentos

    O nosso estudo, de natureza qualitativa e de carcter exploratrio, como j referimos

    foi projetado para compreender quais sero os Contributos do Servio Social no

    Acolhimento, Acompanhamento e Preparao da Alta de Doentes Internados em

    Unidades de Cuidados Continuados Integrados, a partir da perspetiva de algumas

    Assistentes Socias entrevistadas.

    Godoy (1995, p. 29) refere que a pesquisa qualitativa busca compreender os

    significados que as pessoas constroem sobre o seu mundo e as experincias nelas

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    Internados em Unidades de Cuidados Continuados Integrados

    42

    vividas, tendo o pesquisador como principal instrumento de obteno e anlise de

    dados.

    No mbito da recolha de informao foram realizadas quatro entrevistas com o

    objetivo de reunir toda a informao acerca dos conceitos sobre os quais este estudo se

    pretende debruar.

    Dentro deste mesmo contexto usou-se a entrevista semi-estruturada, aplicada de

    forma semi-diretiva, pois considerou-se a mais adequada ao estudo realizado, uma vez

    que permitido ao entrevistador alguma liberdade para desenvolver em cada situao

    mediante ao direcionamento pretendido, apesar de possuir os tpicos previamente

    definidos. O tipo de entrevista selecionado permite explorar as questes com mais

    amplitude.

    Concebemos, para tal, um guio de entrevista, tendo por base (Anexo A), o Manual

    de Boas Prticas para os Assistentes Sociais da Sade na Rede Nacional de Cuidados

    Continuados Integrados, da Direo Geral de Sade.

    O guio utilizado constitudo por cinco unidades de anlise, a saber:

    1) Caracterizao Scio-Demogrfica das Participantes;

    2) Acolhimento;

    3) Plano Individual de Cuidados;

    4) Acompanhamento Psicossocial;

    5) Preparao e Continuidade dos Cuidados.

    A primeira unidade de anlise, denominada caracterizao scio-demogrfica dos

    participantes, visou a recolha de dados sociodemogrficos das participantes,

    nomeadamente a idade, o sexo, estado civil, habilitaes acadmicas/profissionais,

    experincia profissional e experincia profissional na rea da RNCCI.

    A segunda unidade de anlise, denominada Na fase do acolhimento, teve como

    objetivo identificar todo o processo de acolhimento junto ao doente e/ou familiar, o

    suporte emocional, o apoio integrao, a gesto de expectativas, o apoio adaptao

    situao, a recolha de informao e por fim o trabalho em gabinete.

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    Internados em Unidades de Cuidados Continuados Integrados

    43

    A terceira unidade de anlise, denominada No mbito da elaborao do plano

    individual de cuidados, pretendeu explorar a elaborao do mesmo plano com a equipa,

    com o doente e/ou familiar cuidador.

    No que se refere quarta unidade de anlise, denominada No mbito e

    acompanhamento psicossocial, temos como objetivo indagar os tipos e as formas de

    acompanhamento junto ao doente e/ou familiar cuidador e a avaliao da situao em

    gabinete.

    A quinta unidade de anlise, denominada No mbito da preparao da alta e da

    continuidade dos cuidados, procuramos recolher informaes sobre o planeamento da

    alta com a equipa, com o doente e/ou familiar cuidador e por fim o relatrio social.

    As participantes foram contactadas por telefone e e-mail pela investigadora.

    Posteriormente as respostas afirmativas participao das mesmas na investigao, teve

    como objetivo explicar o nosso estudo e verificar a possibilidade destas participaram do

    mesmo. Ser importante referir que o pedido foi levado s comisses de tica e que as

    mesmas autorizaram. Estas entrevistas foram realizadas em quatro momentos diferentes

    no local de trabalho de cada participante.

    Aquando da entrevista, comemos por explicar mais detalhadamente os objetivos do

    estudo, tendo, seguidamente, facultado a cada participante a declarao de

    consentimento informado (Anexo B). Iniciamos com um pedido de um breve resumo

    sobre o percurso acadmico e profissional de cada participante, a fim de podermos

    proceder a uma caracterizao sociodemogrfica mais completa de todas as

    participantes, recolhendo, dessa forma, toda a informao necessria s questes

    colocadas na primeira unidade de anlise do guio de entrevista. Seguidamente,

    avanamos para as questes relativas ao acolhimento, plano individual de cuidados,

    acompanhamento psicossocial e, por fim a preparao e continuidade dos cuidados.

    Com a primeira participante, criou-se uma empatia imediata que levou um -vontade

    e uma entrevista com um ambiente bastante agradvel e fluda. Com uma outra

    participante voltou-se a criar-se uma empatia entre entrevistadora-entrevista, as questes

    foram respondidas de forma fluda. Com outra participante este ambiente no se formou

    de forma natural, mas foi-se desenvolvendo ao longo da entrevista. Por fim, com a

    quarta participante a entrevista desenvolveu-se de forma natural, sendo necessrio

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    44

    colocar mais que uma vez s questes previstas no guio que foram respondidas de

    forma voluntaria pela entrevistada.

    Interessa referir que a durao de cada entrevista, gravada com a devida autorizao

    das partes, oscilou entre 35 minutos a 1 hora e 3 minutos. As gravaes foram

    transcritas de forma integral, constituindo, deste modo, o nosso corpus de anlise. No

    que toca a durao aproximada da transcrio das entrevistas para o papel, a mais rpida

    teve uma durao aproximada de 2 horas e a mais extensa durou cerca de 4 horas.

    A anlise das entrevistas realizadas, foi atravs do mtodo qualitativo, seguindo o

    modelo interativo da anlise dos dados, proposto por Miles & Huberman (1984, cit. in

    Lessard-Hrbert et al., 1990). Este modelo baseia-se em trs componentes:

    i. A reduo de dados;

    ii. A presentao de dados;

    iii. A interpretao/verificao das concluses.

    No que toca reduo de dados, os autores explicam que a reduo de dados

    compreende a seleo, centrao, simplificao, abstrao e transformao do material

    compilado, que poder ser efetuado em trs fases distintas da investigao, como:

    Antes, durante e aps a recolha dos dados. J a organizao e apresentao dos dados,

    corresponde fase de tratamento dos dados como: a estrutura de um conjunto de

    informaes que vai permitir tirar concluses e tomar decises (Miles & Huberman,

    1984, cit. in Lessard-Hrbert et al., 1990, p. 118).

    Seguindo a linha orientadora dos autores referidos acima, nesta fase permite-se ao

    investigador uma melhor visualizao dos dados num espao reduzido, facilitando a sua

    comparao, assiste na planificao de outras anlises, e garante ainda a utilizao

    direta dos dados no relatrio final. Existem vrios modelos de proceder apresentao

    dos dados. Neste estudo utilizaram-se matrizes conceptuais, agrupando as variveis de

    acordo com as suas ligaes tericas, as unidades de anlise do guio de entrevista,

    como apresentadas em anexo.

    As matrizes conceptuais so constitudas por unidades de registo (formal e

    semntica) e unidades de contexto (Vala, 2003). No presente estudo, a unidade formal

    composta por uma frase, palavra ou expresso pronunciada pela participante durante a

    entrevista, embora, por outro lado, a unidade semntica contm a nossa interpretao a

  • Contributos do Servio Social no Acolhimento, Acompanhamento e Preparao da Alta de Doentes

    Internados em Unidades de Cuidados Continuados Integrados

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    partir do discurso do entrevistado(a). J a unidade de contexto, abrange expresses ou

    frases ditas pelo entrevistado(a) durante a entrevista (Vale, 2003).

    Aquando da interpretao e verificao das concluses, a componente de anlise

    entende-se como a fase da atribuio de significado, no caso do nosso estudo, atravs da

    anlise de contedo, formulao de ralaes ou de configuraes expressas em

    proposies aos modelos (Bardin, 2014).

    Ser importante referir, que esta fase, assim como a anterior podem ser elaboradas

    durante e aps corpus de anlise e recolha dos dados (Lessard-Hrbert et al., 1990).

    Para Bardin (2014, p. 11), a anlise de contedo um conjunto de instrumentos

    metodolgicos cada vez mais subtis em constante aperfeioamento, que se aplica a

    discusso (contedos e continentes) extremamente diversificados.

    A anlise de contedo segundo