contrato de suprimento

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Dto contratos comerciais

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Page 1: Contrato de Suprimento

Contrato de suprimento Arts.243º a 245º CSC e art.777ºCC

Nos termos do nº1, 2 e 6 do art.243º CSC, considera-se contrato de suprimento o contrato pelo qual o sócio empresta à sociedade dinheiro ou outra coisa fungivel, ficando aquela obrigada a restituir outro tanto do mesmo género e qualidade desde que se estipule um prazo de reembolso superior a um ano, sendo que a validade do contrato não depende de qualquer forma especial, pelo que não terá, forçosamente, de ser reduzido a escrito. Vale a regra da liberdade de forma para todas as modalidades do contrato de suprimento, o que significa que nenhuma tem que constar de qualquer documento escrito e muito menos de escritura pública quando ultrapasse certo valor (como acontece no contrato de mutuo, art.1143ºCC). Na prática, os sócios entregam o dinheiro à sociedade, fazendo-se apenas uma rúbrica contabilística onde se encontram os seus créditos/suprimentos. Para estarem submetidos ao contrato de suprimento, os créditos têm que estar na sociedade há pelo menos 1 ano (só nesse caso são considerados suprimentos).A celebração deste contrato, de acordo com o nº3 do art.244º CSC não depende de prévia deliberação dos sócios, salvo disposição contratual em contrário. Do ponto de vista do sócio, os suprimentos revelam-se muito aliciantes na medida em que permitem obter um juro remunerador do investimento e não implicam um incremento da responsabilidade, uma vez que o sócio pode exigir a restituição das quantias mutuadas. Por outras palavras, através deste financiamento, os sócios pretendem obter não só uma remuneração por esse investimento na sociedade, mas tambem evitar os riscos empresariais, pois têm a pretensão de surgir como credores antes que a sociedade entre em insolvencia, podendo exigir o reembolso desses emprestimos, art.1148ºCC. Assim, exige-se a qualidade de sócio no momento da celebração do contrato, podendo esse momento ser o da entrada ou mesmo o da saída do socio, além de que, se deixar de o ser, os créditos do sócio não perdem a qualidade de suprimentos.Nos termos do artº 243º do Código das Sociedades Comerciais o contrato de suprimento é definido e regulado como figura negocial autónoma em relação ao contrato de mútuo, quando o crédito do sócio tenha carácter de permanência, pelo que o prazo de 30 dias para o reembolso exigido no contrato de mútuo não tem aplicação neste contrato. O tribunal, na fixação do prazo, deve atender às consequências que o reembolso acarretará para a sociedade: por isso deve informar-se sobre o volume de dívidas da sociedade (capital alheio) e confrontá-lo com o capital próprio, isto é, deve ter em conta a situação ou solidez financeira da sociedade e perceber se existe desproporção entre o capital próprio e o capital alheio. Quanto menor for o capital próprio quando comparado com o capital alheio, mais se justifica a fixação de um prazo mais longo. Deve atender ainda à visão global da sociedade, nomeadamente à posição dos credores, de modo a perceber se a sociedade está na iminência de satisfazer créditos de terceiros e, por isso, estabelecer um prazo mais longo, sob pena de se estar a retirar as verbas necessarias para pagar aos credores. O juiz pode fixar o reembolso dos suprimentos fraccionadamente.

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O método de avaliação das empresas passa pela análise do seu “cash flow”, isto é, da capacidade da sociedade para gerar dinheiro. Quanto maior essa capacidade, maior é a facilidade em assumir compromissos e investir em obter crédito bancário. Este método de avaliação tem em conta os custos financeiros da sociedade e as taxas de juro. O ideal é a sociedade usar o seu próprio capital e não capital alheio porque sobre o primeiro não incidem juros. Art.245ºCSC. A competência para celebrar estes contratos é da gerência e da administração da sociedade. É a gerência e a administração que decidem o modo de financiamento dos contratos de suprimento.Regime do contrato de suprimento na falencia: O eventual conflito de interesses entre os sócios-credores e os credores sociais verificar-se-á em caso de falência da sociedade, na medida em que o património social poderá não ser suficiente para satisfazer todos os créditos. Mas, atendendo à diferente posição de uns e outros, a lei prevê um conjunto de limitações à cobrança dos sócios-credores.Em primeiro lugar, os credores de suprimentos (sócios ou nao) não podem requerer a insolvência da sociedade pelo não cumprimento desses creditos. Esta regra justifica-se pela função intrínseca da realização de suprimentos: se em vez de efetuar o suprimento, o sócio tivesse realizado uma entrada em capital social, também não teria direito a requerer a insolvência. O contrato de suprimento visa, por isso mesmo, proteger os credores sociais.O que o legislador procura evitar é que um socio da sociedade apareça na veste de credor em igualdade com os outros credores (terceiros à sociedade). Para o evitar, o sócio não pode requerer a falência da sociedade. Nos termos do art.245º nº3 al a), os suprimentos só podem ser reembolsados depois das dividas sociais, em caso de falência. A sociedade está insolvente quando o passivo da sociedade é maior do que o seu ativo, perdendo a capacidade de gerar riqueza.São nulas as garantias reais relativamente ao reembolso dos suprimentos (ser pago com preferencia sobre outros credores). As compensações também são nulas porque permitiriam que os sócios pudessem ficar em posição de igualdade com outros credores. Precavendo a possibilidade de os sócios fazerem reembolsos, a lei estabelece que os reembolsos de suprimentos no ano anterior à falencia são resoluveis, arts.245º nº5 e 121º nº1 al i) CIRE, para evitar os reembolsos súbitos dos socios.

CASO PRÁTICOAlberto, sócio da Lisbon Hair Stylist lda, após desavenças com os seus sócios, veio exigir o reembolso de 50.000€ de suprimentos, que havia deixado na sociedade, no prazo de 30 dias. Pronuncie-se sobre a pretensão de Alberto e diga se este pode compensar o seu crédito com uma dívida de 10.000€ que tem face à sociedade.

Estamos perante um contrato de suprimento, nos termos do art.243º CSC, para o qual vigora a liberdade de forma, ao abrigo do art.243º nº6.

Relativamente à pretensão de Alberto, entendo que a mesma não procede porque a sociedade tem a possibilidade de pedir a fixação de um prazo ao tribunal, nos termos do art.245º nº1. O

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prazo de 30 dias já não vigora porque o contrato de suprimento já tem um regime autónomo, não se aplicando o regime do mútuo.

O tribunal, na fixação do prazo, deve atender à situação financeira da sociedade (se existe desproporção entre o capital proprio e o capital alheio: quanto menor capital proprio quando comparado com o capital alheio, mais se justifica a fixação de um prazo mais longo) e atender à visão global sobre a estabilidade ou solidez financeira da sociedade (se tem que realizar pagamentos significativos a credores e até que ponto o pagamento a esse sócio destabilizará as contas da sociedade).

Quanto à compensação do crédito com a divida, tal não é possivel pelo disposto no art. 245º nº3 al b), que determina que não é admissivel compensação de creditos da sociedade com creditos de suprimentos, uma vez que se tutela a posição dos credores sociais. (Para evitar que os socios sejam tratados de forma previligiada em relação aos demais credores. ) Mas o artigo aplica-se somente nos casos em que tenha sido decretada a insolvencia! Se a compensação fosse efetuada no periodo de um ano anterior à insolvencia, então a compensação seria ilicita. Em geral, durante a vida da sociedade, as compensações não são proibidas.