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VISITA DE ESTUDO A MAFRA – Guia de visita NOTA: este guia é constituído por duas partes. Na parte A (p.1-5), encontra-se uma contextualização histórica, com referências ao Memorial do Convento. Na parte B (p.6-15), encontra-se um breve guia descritivo dos principais espaços do Palácio Nacional de Mafra. A – Contexto histórico da construção do Convento de Mafra, ficcionado no Memorial do Convento Fonte: http://www.portoeditora.pt/conteudos/emanuais/emanuais2014/41281/recursos/nteha11_visit_maf.pdf 1 O voto de um rei que o povo cumpriu O romance de José Saramago, Memorial do Convento, começa com a história verídica do voto de D. João V a um frade franciscano: “Prometo, pela minha palavra real, que farei construir um convento de franciscanos na vila de Mafra se a rainha me der um filho no prazo de um ano a contar deste dia em que estamos, e todos disseram, Deus ouça vossa majestade” (p. 14). Porém, torna-se um “ludíbrio” (p. 266) contar apenas a versão do rei, e não a do povo que construiu o convento. A palavra memorial significa o registo de factos memoráveis: ora, muito mais do que a história de um rei de poder absoluto que se perpetua nos tempos através de uma obra faraónica (ou, melhor dizendo, joanina), o Memorial do Convento é a história da gente anónima que viveu nesse Portugal do século XVIII, que acompanhou procissões, que se deleitou com touradas de morte, que gerou filhos e os perdeu em epidemias e que, além de todos os seus afazeres, ainda construiu um convento: “Todos os homens são reis, rainhas são todas as mulheres, e príncipes os trabalhos de todos” (p. 74). 2 Um país pobre a nadar em ouro A vontade de expansão dos franciscanos por meio de um convento em Mafra arrastava-se “desde mil seiscentos e vinte e quatro, ainda estava o rei de Portugal um Filipe espanhol” (p. 25) e havia sido indeferida em mil setecentos e cinco. Porém, não bastaria o pedido dos arrábidos para se chegar à construção de um convento imenso como o que se erigiu. A promessa coincidiu com um dado económico fundamental: a exploração do ouro do Brasil que permitiu superar a crise financeira do século XVII e investir na arte, tornada espelho e suporte do poder régio. A Mafra chegavam os melhores artistas europeus. Do desafogo económico, que se prodigalizou em dádivas aos grandes e em esmolas ao povo, brotou o cognome O Magnânimo. No Memorial do Convento descreve-se como “el-rei, chegado a Mafra, se pôs, ele, a distribuir moedas de ouro, assim, com esta mesma facilidade com que o contamos” (p. 138). Critica-se, no romance, afinal, o (des)governo de Portugal sob a monarquia absoluta, um país que não faz contas a despesas porque “está longe daqui o fundo dos nossos sacos, um no Brasil, outro na Índia, quando se esgotarem vamos sabê-lo com tão grande atraso que poderemos então dizer, afinal estávamos pobres e não sabíamos” (p. 293). B – A visita Vamos imaginar que somos parte do imenso povo que acorreu a Mafra no dia da sua sagração: “Enfim chegou o mais glorioso dos dias, a data imorredoira de vinte e dois de outubro do ano da graça de mil setecentos e trinta, quando el-rei faz quarenta e um anos e vê sagrar o mais prodigioso dos monumentos que em Portugal se levantaram […]” (p. 365).

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VISITA DE ESTUDO A MAFRA – Guia de visita

NOTA: este guia é constituído por duas partes. Na parte A (p.1-5), encontra-se uma contextualização histórica, com referências ao Memorial do Convento. Na parte B (p.6-15), encontra-se um breve guia descritivo dos principais espaços do Palácio Nacional de Mafra.

A – Contexto histórico da construção do Convento de Mafra, ficcionado no Memorial do Convento Fonte: http://www.portoeditora.pt/conteudos/emanuais/emanuais2014/41281/recursos/nteha11_visit_maf.pdf

1 O voto de um rei que o povo cumpriu

O romance de José Saramago, Memorial do Convento, começa com a história verídica do voto de D. João V a um frade franciscano: “Prometo, pela minha palavra real, que farei construir um convento de franciscanos na vila de Mafra se a rainha me der um filho no prazo de um ano a contar deste dia em que estamos, e todos disseram, Deus ouça vossa majestade” (p. 14). Porém, torna-se um “ludíbrio” (p. 266) contar apenas a versão do rei, e não a do povo que construiu o convento. A palavra memorial significa o registo de factos memoráveis: ora, muito mais do que a história de um rei de poder absoluto que se perpetua nos tempos através de uma obra faraónica (ou, melhor dizendo, joanina), o Memorial do Convento é a história da gente anónima que viveu nesse Portugal do século XVIII, que acompanhou procissões, que se deleitou com touradas de morte, que gerou filhos e os perdeu em epidemias e que, além de todos os seus afazeres, ainda construiu um convento: “Todos os homens são reis, rainhas são todas as mulheres, e príncipes os trabalhos de todos” (p. 74).

2 Um país pobre a nadar em ouro

A vontade de expansão dos franciscanos por meio de um convento em Mafra arrastava-se “desde mil seiscentos e vinte e quatro, ainda estava o rei de Portugal um Filipe espanhol” (p. 25) e havia sido indeferida em mil setecentos e cinco. Porém, não bastaria o pedido dos arrábidos para se chegar à construção de um convento imenso como o que se erigiu. A promessa coincidiu com um dado económico fundamental: a exploração do ouro do Brasil que permitiu superar a crise financeira do século XVII e investir na arte, tornada espelho e suporte do poder régio. A Mafra chegavam os melhores artistas europeus. Do desafogo económico, que se prodigalizou em dádivas aos grandes e em esmolas ao povo, brotou o cognome O Magnânimo. No Memorial do Convento descreve-se como “el-rei, chegado a Mafra, se pôs, ele, a distribuir moedas de ouro, assim, com esta mesma facilidade com que o contamos” (p. 138). Critica-se, no romance, afinal, o (des)governo de Portugal sob a monarquia absoluta, um país que não faz contas a despesas porque “está longe daqui o fundo dos nossos sacos, um no Brasil, outro na Índia, quando se esgotarem vamos sabê-lo com tão grande atraso que poderemos então dizer, afinal estávamos pobres e não sabíamos” (p. 293).

B – A visita

Vamos imaginar que somos parte do imenso povo que acorreu a Mafra no dia da sua sagração: “Enfim chegou o mais glorioso dos dias, a data imorredoira de vinte e dois de outubro do ano da graça de mil setecentos e trinta, quando el-rei faz quarenta e um anos e vê sagrar o mais prodigioso dos monumentos que em Portugal se levantaram […]” (p. 365).

1 A fachada

A visão exterior do monumento é esmagadora: ao centro, ergue-se a basílica com as suas torres sineiras e a cúpula imponente; de cada um dos lados, o corpo do edifício estende-se para terminar em torreões de quatro faces. No total, a fachada virada a poente mede 232 metros de comprimento. É visível a inspiração do ourives/arquiteto Ludovice na basílica de S. Pedro do Vaticano, pelo neoclassicismo assumido: no pórtico, as colunas jónicas marcam o ritmo dos arcos e portas que acedem ao átrio ou galilé, enquanto o frontão apresenta, no tímpano, imagens da Virgem com o Menino e Santo António (a quem o convento é dedicado), do mestre escultor italiano Giuseppe Lironi. Escutemos: somos recebidos por um concerto! Os dois carrilhões de Mafra, encomendados por D. João V aos melhores artesãos de Antuérpia e Liège, tocam pela primeira vez a 22 de outubro de 1730. Subiremos, depressa, os degraus que conduzem ao vestíbulo, também chamado galilé.

2 A galilé

Seguimos, com o olhar, os volteios que os mármores policromos fazem no chão: enlaçam-se o branco com o amarelo, o vermelho, o azul, o cinzento e o preto. Quando levantamos o olhar, impõe-se a presença das esculturas de santos importadas de Itália. Vimos quatro na fachada e agora temos não menos do que catorze! Saramago imaginou as está- tuas conversando em círculo na véspera do dia em que seriam colocadas nos seus nichos: “O luar ilumina de frente as duas grandes figuras de S. Sebastião e S. Vicente, as três santas no meio deles, depois para os lados começam os corpos e os rostos a encher-se de sombras, até ao completo negrume em que se escondem S. Domingos e Santo Inácio, e, injustiça grave se já o condenaram, S. Francisco de Assis, que merecia estar em luz plena, ao pé da sua Santa Clara […]” (p. 343) “Fosforesciam como sal. Apurando o ouvido, percebia-se daquele lado um rumor de conversação, seria um concílio, um debate, um juízo, talvez o primeiro desde que partiram de Itália, metidos em porões, entre ratos e humidades, atados violentamente nos conveses, porventura a última fala geral que poderiam ter, assim à luz da lua, porque não tarda que sejam metidos em seus nichos […].” (p. 345). Para termos uma ideia da importância que a escultura virá a assumir em Mafra, basta referirmos que, mais tarde, no reinado de D. José I, será criada a Escola de Escultura de Mafra, dirigida por Alexandro Giusti. A coleção de arte sacra do palácio exibe aos visitantes algumas das melhores produções da Escola de Mafra.

3 A Basílica de Nossa Senhora e de Santo António de Mafra

D. João V fez coincidir a sagração da basílica com o dia do seu quadragésimo primeiro aniversário, que calhava a um domingo de 1730. Esta decisão obrigou a recrutamentos forçados de mão de obra, concentrando em Mafra cerca de quarenta mil trabalhadores que Saramago compara a “um gigantesco dragão deitado, respirando por quarenta mil foles” (p. 344).

Entramos dentro da igreja com planta em cruz latina e caminhamos pela nave central. Chegados ao transepto, observamos a capela-mor. Por cima do altar, permanece o retábulo do pintor italiano Trevisani, pintura a óleo datada do segundo quartel do século XVIII, que representa a Virgem mostrando o menino a Santo António. Olhemos ainda mais acima e temos um crucifixo de jaspe com mais de quatro metros de altura. De cada um dos lados, varandas e colunas. Se, no exterior, toda a vila de Mafra ressoava com os sinos, aqui, dentro da basílica, os fiéis podiam deleitar-se com os concertos dos seis órgãos que D. João V encomendou na Itália. Deterioraram-se e aqueles que vemos, hoje em dia, datam do reinado de D. João VI.

A basílica tem, ao todo, onze capelas. No cruzeiro da basílica (cruzamento da nave central com o transepto) olhemos para o alto: deslumbre! Um zimbório com 65 metros de altura ilumina a igreja. Não estava completo no dia de anos do rei: “a sagração é já no domingo e todos os cuidados e trabalhos serão poucos para dar à basílica um ar composto de obra acabada, está concluída a casa da sacristia, mas sem reboco nas abóbadas, e, como ainda conservam o simples, se mandarão cobrir com pano de brim engessado, a fingir de guarnição de cal, para parecer com mais asseio, e à igreja, como falta o zimbório, do mesmo modo se disfarçará a ausência” (p. 341). Tal como acontece na cúpula da basílica de São Pedro, em Roma, e na da Catedral de Santa Maria das Flores, em Florença, foram construídas duas cúpulas concêntricas, com espaço entre si. A cúpula de Mafra é rematada por um bloco com oito janelas redondas.

Se olharmos, neste momento, para a zona acima da porta de entrada, vemos a sala da Bênção que, tal como acontece na Igreja de São Pedro, no Vaticano, tem janelas quer para o interior, quer para o exterior da igreja.

Saímos da basílica pelas naves laterais, protegidas por arcaturas, para vermos a fiada de capelas, três de cada lado. Aqui existiam pinturas a óleo, como se descreve no romance aquando do dia da sagração: “Este foi o dia de se benzerem as cruzes, os quadros das capelas, os paramentos e mais objetos de culto, e depois o convento e todas as suas dependências.” (p. 364). Porém, a deterioração fez com que se substituíssem as pinturas (algumas das quais se encontram no palácio) por retábulos em mármore de Carrara esculpidos em baixo-relevo. Esta alteração data do tempo em que o convento foi entregue aos cónegos regrantes de Santo Agostinho, no reinado de D. José I. A Basílica é, assim, o melhor local para estudar a escultura do século XVIII em Portugal.

4 O palácio

Sabemos que a intenção expressa por D. João V era a de construir um convento. No entanto, grande parte do edifício destinava-se à estadia temporária da família real e do patriarca de Lisboa. É, pois, uma “casa de campo” do rei, não muito distante de Lisboa, composta por 666 divisões! Estas ocupavam toda a fachada poente (excetuando a basílica mas incluindo os dois torreões) e o terceiro piso das frentes norte, sul e parte da frente nascente. Focaremos a nossa atenção nas seguintes:

1) Sala da Bênção.

Aqui encontramo-nos, já, em território secular, porém, os mármores policromos e as pilastras dóricas remetem-nos para a ornamentação da basílica. As duas frentes da sala reforçam essa ambivalência entre o sagrado e o profano: das três janelas que dão para a basílica o rei podia assistir à missa, enquanto das três outras que dão para o terreiro podia o monarca, ou o patriarca, mostrar-se ao povo em toda a sua magnificência: “Eram cinco horas quando o patriarca começou a missa de pontifical […] dali subiu à tribuna da casa de Benedictione para lançar a bênção ao povo que esperava cá fora, setenta mil, oitenta mil pessoas, que num grande sussurro de movimentos e vestes se derrubaram de joelhos no chão, momento inesquecível, por muitos anos que eu viva […]” (p. 366).

A varanda da janela central é feita de uma só pedra de “sete metros [de comprimento], três metros [de largura] e sessenta e quatro centímetros [de espessura]” (p. 253): partindo destes simples dados, Saramago construiu uma jornada épica descrevendo a viagem da pedra entre Pero Pinheiro e Mafra sobre um carro gigante, “espécie de nau da Índia com rodas” (p. 249), puxado por duzentas juntas de bois. No final da travessia: “Quando entraram no terreiro, foi como se estivessem chegando duma guerra perdida, sujos, esfarrapados, sem riquezas. Toda a gente se admirava com o tamanho desmedido da pedra, Tão grande. Mas Baltasar murmurou, olhando a basílica, Tão pequena.” (p. 274) De facto, pequena, se comparada com os quase quatro hectares de obra construída. E, afinal, para quê este esforço? Para que, nos nossos dias, um guia do monumento diga aos visitantes que “o peso da pedra da varanda da casa a

que se chamará de Benedictione é de trinta e um mil e vinte quilos, trinta e uma toneladas em números redondos, senhoras e senhores visitantes, e agora passemos à sala seguinte, que ainda temos muito que andar.” (p. 254) A História é um esforço da imaginação e não só uma série de factos. Imaginemos, pois, esses homens que trouxeram a pedra, pois que do rei D. João V temos o busto no centro da sala para supor as feições (realizado por Alexandro Giusti no reinado de D. José I).

2) Sala de Audiências ou Sala do Trono.

Nesta sala o rei receberia as figuras de maior destaque da sociedade absolutista. Observem-se as pinturas murais, de inícios do século XIX: Domingos António de Sequeira pintou os quadros com cenas de guerra e as alegorias às sete virtudes morais. Cirilo Wolkmar Machado pintou a Alegoria do Olimpo presente na abóbada (na Sala das Descobertas e na Sala dos Destinos podem observar-se outros trabalhos seus).

3) Outras salas merecem, ainda, especial atenção: a Sala de Jantar ou Sala da Caça, repleta de troféus de caça nas paredes, cadeiras e até no lustre; a Sala de Diana, também alusiva à caça; a Sala da Música e os oratórios reais.

4) Aposentos reais.

Os quartos dos reis situavam-se no terceiro piso do torreão sul (os quartos de D. Fernando constituem a exceção à regra) enquanto os das rainhas se localizavam no torreão norte. Separava os monarcas a galeria da fachada e a das frentes norte e sul. Em 1806-1807, estava próxima a invasão pelas tropas francesas, o príncipe regente D. João VI e a família real passaram grande parte do tempo em Mafra, acabando, como sabemos, por partir para o Rio de Janeiro, levando consigo grande parte da riqueza do palácio, talvez adivinhando que este iria servir de quartel-general para os soldados franceses. O Paço Real assistiu, também, ao fim da monarquia em Portugal: aqui dormiu D. Manuel II a última noite do seu reinado, antes de partir para o exílio, em Inglaterra. O palácio foi, então, transformado em museu.

5 O convento

A decisão de D. João V de que o Convento de Mafra, em construção, fosse ampliado para acolher 300 frades, em vez dos 80 previstos, é tomada por um capricho, no Memorial do Convento: “Enfim o rei bate na testa, resplandece-lhe a fronte, rodeia-o o nimbo da inspiração, E se aumentássemos para duzentos o convento de Mafra, quem diz duzentos, diz quinhentos, diz mil […] Sejam trezentos, não se discute mais, é esta a minha vontade” (pp. 291-292). Sendo o monumento composto por duas secções retangulares contíguas, o convento integra-se naquela situada por detrás da basílica, para onde a obra se teve de expandir à custa de duros trabalhos de rebentamento de pedra. Trata-se da parte menos exuberante da obra joanina. O claustro (Jardim do Buxo) constitui um bom exemplo de como a parte conventual da obra foi relegada para segundo plano, em favor do palácio. O convento compreende as celas dos frades, a enfermaria, uma farmácia, a cozinha e a biblioteca. Estava incompleto aquando do 41.° aniversário do rei (no Memorial do Convento refere-se que “antes da sagração se mudarão os noviços para duas casas já construídas por cima da cozinha […]” (p. 342).

1) A biblioteca

No lado nascente, no quarto piso, vale a pena determo-nos na biblioteca. Esta sala de 86 metros de comprimento só recebeu os livros no reinado de D. Maria I. Os mármores do pavimento e as estantes, em estilo rocaille (ou concheado, dada a profusão do motivo da concha empregue neste estilo), datam do reinado de D. José I (arquiteto Manuel Caetano de Sousa). Era aqui, na biblioteca, que os infantes praticavam um divertimento inédito: caminhar sobre patins.

As estantes, com medalhões que exibem os bustos de autores clássicos, albergam verdadeiras preciosidades, entre as quais uma primeira edição de Os Lusíadas, 22 incunábulos, cadernos de música e dois forais de D. Manuel I. No total, são 40 000 livros que os investigadores podem consultar. Uma curiosidade: a biblioteca é habitada por morcegos que contribuem para a conservação dos livros: é que a sua dieta diária inclui os parasitas que roem papel. Abençoados morcegos conventuais! Já não há frades em Mafra desde 1834, pois os liberais decretaram a extinção das ordens religiosas em Portugal. O Real Convento de Mafra passou, então, a fazer parte da Fazenda Nacional. A igreja passou, também, para o Estado e serve de paróquia à vila de Mafra. Atualmente, o espaço do convento é sede da Escola Prática de Infantaria.

6 A Tapada Real

Este terreno com mais de 1000 hectares foi adquirido por D. João V nos anos 40 do século XVIII. Era utilizado como reserva de caça (de javalis, gamos, aves), como local de passeio pelos seus pinhais e matos e como fonte de abastecimento de água. No meio desta reserva natural podemos, ainda, encontrar o Chalê d’El-Rei de D. Carlos e D. Amélia.

Em conclusão:

Depois da sagração, as obras continuaram sob a direção de Custódio Vieira, tendo terminado, oficialmente, em 1750, data da morte de D. João V. Apesar dos acrescentos em reinados posteriores, a obra de Mafra caracteriza-se pela unidade estilística. Resistiu ao terramoto de 1755 e às invasões francesas. De lá partiu a família real para o Brasil e num dos seus quartos dormiu D. Manuel II a última noite do seu reinado e de oitocentos anos de monarquia. Obra polémica pelo gigantismo, continua a dividir as opiniões de quem a visita: “montanhão de pedra” (p. 106) e “bisarma” (p. 306) foram alguns dos epítetos que Saramago lhe atribuiu. Mas, no final de contas, dedicou-lhe 373 páginas inesquecíveis, um monumento literário não menor do que o dito convento de que fez memória.

B – GUIA Fonte: http://www.palaciomafra.pt/

Palácio

O Paço Real ocupa todo o andar nobre do edifício de Mafra e os dois torreões, sendo o do Norte destinado a Palácio do Rei e o do Sul à Rainha, ligados por uma longa galeria de 232 m – o maior corredor palaciano na Europa – usada para o “passeio” da corte, tão ao gosto do séc. XVIII. Aqui se esperavam as audiências reais, se exibiam as joias e os vestidos ou se teciam as intrigas políticas e amorosas...

O Palácio do Rei e o da Rainha funcionavam separadamente, cada um com as suas cozinhas na cave, as despensas e ucharias no piso térreo, os quartos dos Camaristas ou das Damas no 1º piso, os aposentos reais no piso nobre e os criados nos mezaninos (sótãos).

Para os príncipes estava destinado um palacete na extremidade Nordeste do edifício e para as princesas outro a Sudeste. Ambos funcionavam também separadamente.

Primitivamente decorado com tapeçarias flamengas, tapetes orientais e mobiliário para aqui encomendado, o Paço irá sofrer uma profunda modificação na época de D. João VI que encomenda uma campanha de decoração mural em várias salas, sob a responsabilidade de Cyrillo Volkmar Machado. Muitas dessas tapeçarias, quadros e mobiliário serão levadas pela Família Real para o Brasil em 1807, de onde não regressaram.

Esta organização dos espaços manteve-se até à morte de D. Fernando de Saxe-Coburgo, marido da rainha D. Maria II, quando toda a Família Real passou a habitar apenas o torreão e a ala sul, ficando o torreão norte reservado a hóspedes importantes que visitavam Mafra.

A ala sul foi sofrendo algumas obras pontuais e de decoração, nomeadamente quando do casamento de D. Pedro V e D. Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringen, no reinado de D. Luís e D. Maria Pia de Sabóia e de D. Carlos e D. Amélia de Orleães.

Foi também no torreão sul, que D. Manuel II passou a última noite no reino, de 4 para 5 de Outubro de 1910, antes de partir para o exílio.

História

Por vontade real, o projecto inicial de um convento para 13 frades foi sucessivamente alargado para 40, 80 e finalmente 300 frades, uma Basílica e um Paço Real. No entanto, à data da sagração da Basílica, 22 de Outubro de 1730, apenas estavam abertos os alicerces do que viria a ser o Palácio, que apenas começou a ser construído nos anos seguintes, sendo dado como concluído perto de 1735.

A vida de Corte no Palácio de Mafra ao tempo de D. João V foi relativamente escassa, pois o Rei adoeceu gravemente em 1742 e morreu em 1750.

O seu filho D. José I manteve o hábito de vir a Mafra, quase sempre para caçar na Tapada. Mas, como desde o terramoto de 1755 não gostava de habitar em edifícios de pedra, toda a Família Real se instalava numa Barraca edificada junto ao Palácio.

Já no reinado de D. Maria I, as vindas da corte a Mafra prendiam-se com a celebração de festas religiosas ou com o gosto que a Rainha tinha por passear a cavalo na Tapada, hábito que manteve até adoecer, em 1792.

Primitivamente decorado com tapeçarias flamengas, tapetes orientais, o Paço irá sofrer uma profunda modificação por vontade de D. João VI, ainda Príncipe Regente, que encomenda a Cyrillo Volkmar Machado uma campanha de decoração mural em várias salas.

Aqui se instalou toda a Corte no ano de 1806/1807, na atribulada época que precedeu as Invasões Francesas. A necessidade de tornar mais habitáveis os grandes espaços do Palácio levou ainda à divisão de alguns dos grandes espaços em salas mais pequenas, divididas por tabiques de madeira do Brasil “ricamente pintados”.

A partida da Família Real para o Brasil, em 27 de Novembro de 1807, dias antes da chegada das tropas francesas a Lisboa, teve como consequência o empobrecimento de grande parte do recheio do Palácio, transportado para a colónia para serviço da Casa Real e aí tendo sido deixados quando a Corte regressou a Portugal, em Junho de 1821.

Em Dezembro de 1807, as tropas francesas alojaram-se no Palácio sendo, alguns meses depois, substituídos por uma pequena fracção do exército inglês que aqui ficou até Março de 1828.

Após o conturbado período das Lutas Liberais, no reinado de D. Maria II, a Corte retoma o hábito de voltar a Mafra. Seu marido, D. Fernando, verdadeiro pioneiro da defesa do património nacional, realizou diversas obras de recuperação no Real Edifício.

Também D. Pedro V vinha com sua mulher, a rainha D. Estefânia de Hoenzollern-Sigmaringen, passar algumas temporadas em Mafra. Fundou este rei neste Palácio uma Real Escola com o seu nome, para instrução pública, suportada pelo seu bolsinho.

D. Luís I, rei desde 1861, após a morte do irmão,manteve a real protecção à Escola criada por seu irmão, vindo também com frequência assistir aos exames, muitas vezes acompanhado da rainha D. Maria Pia de Sabóia. Para uma estadia em Mafra de seu irmão, o Rei Humberto de Itália, mandou a rainha instalar, entre o piso térreo e o andar nobre, um elevador manobrado por quatro homens, a que a gente do palácio chamava vaivém ou caranguejola. Este terá sido um dos primeiros elevadores no nosso país.

Também D. Carlos e D. Amélia, grandes apreciadores da caça, aqui fizeram estadias frequentes percorrendo a Tapada atrás de gamos e javalis ou pintando, passatempo a que ambos se dedicavam.

O Palácio de Mafra está também associado ao fim da monarquia em Portugal, pois acolheu o rei D. Manuel II na última noite que passou no reino antes da sua partida para o exílio.

Sala de Diana

A designação deve-se à pintura do tecto que representa Diana, a deusa da caça, acompanhada de ninfas e sátiros. Da autoria de Cirilo Volkmar Machado (1748-1823), faz parte da campanha decorativa executada a partir de 1796 por encomenda do então Príncipe Regente, futuro rei D. João VI. O pintor inspirou-se num quadro de Domenichino, intitulado "Caçada de Diana", existente na Galeria Borghese em Roma.

A pintura na parede norte, porta entreaberta em trompe-l'-oeil, representa a mesma deusa, também conhecida por Selene, a deusa da Lua, e Endimião, o pastor por quem se apaixonou.

Sala do Trono

Destinada às audiências régias. A pintura do tecto representa uma alegoria à "Lusitânia" e faz parte da campanha decorativa que

Cirilo Volkmar Machado executou no Palácio a partir de 1796 por encomenda do Príncipe Regente, futuro rei D. João VI.

Paredes decoradas com pinturas a fresco representando as oito Virtudes Reais, da autoria de Domingos Sequeira (1768-1837).

Torreão Norte

Aposentos privados do Rei, usados até à morte de D. Fernando de Saxe-Cobourgo (1816/1885), marido da rainha D. Maria II, ficando depois reservados a hóspedes importantes de visita a Mafra.

Cada um dos torreões do Paço Real, norte e sul, funcionava como um apartamento independente com as suas cozinhas na cave, as despensas e ucharias no piso térreo, os quartos dos Camaristas no 1º piso, os aposentos do Rei neste piso e os criados nos mezaninos (sótãos)

Galeria Principal

Um dos maiores corredores palacianos da Europa, com 232 m de uma extremidade à outra, liga o Torreão Norte, aposentos do Rei, aos aposentos da Rainha no Torreão Sul.

Sala das Descobertas

A pintura do tecto, da autoria de Cirilo Volkmar Machado, representa os feitos dos portugueses além-mar, como Vasco da Gama vencendo o Adamastor, Pedro Álvares Cabral, descobridor do Brasil, Cristóvão Colombo, descobridor da América e um retrato do Infante D. Henrique. As paredes estavam ornadas com quadros representando as façanhas dos Castros, Albuquerques, Almeidas e Mascarenhas na Índia. Estas telas foram com o rei D. João VI para o Brasil e não regressaram.

Sala dos Destinos

No tecto, da autoria de Cirilo Volkmar Machado, está representado o "Templo do Destino", destacando-se a figura da Providência que entrega a D. Afonso Henriques o Livro dos Destinos da Pátria. Em redor estão representados, para além de Hugo Capeto rei de França e do conde D. Henrique de Borgonha, pai de D. Afonso Henriques, todos os monarcas portugueses até D. João IV.

Sala da Guarda

Por aqui se fazia a entrada no Palácio e permanecia a Guarda Real - que dá o nome a esta sala - quando a Família Real estava em Mafra.

A pintura do tecto, de Cirilo Volkmar Machado, representa "O Precipício de Faetonte", personagem mitológica que tendo conseguido de seu pai Hélios o carro com que este iluminava o mundo, perdendo o domínio dos cavalos, pôs em perigo a Terra e o Céu. Zeus, guardião da ordem do Universo, fulminou-o com o seu raio lançando-o no rio Erídano.

Sala da Benção

Esta sala é o ponto central da fachada principal que se abre sobre a praça e a Basílica. Destes varandins podia a Família Real assistir às cerimónias religiosas e, da varanda que abre sobre o

Terreiro, D. João V aparecia ao povo. O Palácio de Mafra foi a principal escola de construção do século XVIII em Portugal. Aqui aprenderam

e trabalharam não só engenheiros e arquitectos, como operários especializados – entalhadores de pedra, marceneiros, vidraceiros e até escultores.

Para esta Real Obra se inventaram máquinas e guindastes que elevavam os grandes blocos de pedra que por vezes obrigavam à utilização simultânea de 30 ou até 50 juntas de bois. Foi esta grande experiência construtiva que permitiu a reconstrução de Lisboa depois do terramoto de 1755.

A pedra utilizada é da região de Sintra e Pero Pinheiro, como o Amarelo de Negrais, o Encarnadão “Chainette” e o St. Florien Rose do lugar de Lameiras, freguesia da Terrugem, o Liós Azulino, do lugar da Maceira, freguesia de Montelavar ou o Negro de Mem Martins.

Sala dos Camaristas

Sala onde permaneciam os camaristas quando a Família Real se encontrava em Mafra. A pintura do tecto, de finais do século XVIII, da autoria de Cirilo Volkmar Machado, representa ao

centro as "Quinas de Portugal" rodeadas por diversos deuses gregos e pela "Fecundidade", que tem em cada mão cornucópias da abundância, das quais saem crianças sustentando grinaldas de flores. É uma invocação à fecundidade da Princesa D. Carlota Joaquina de Bourbon, casada com o futuro rei D. João VI.

Torreão Sul

Aposentos privados da Rainha. Quarto de Cama de Sua Majestade

A decoração mural foi executada durante a campanha de obras de 1855/58, por ocasião da subida ao trono de D. Pedro V e do seu casamento com D. Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringen.

Foi no quarto deste Torreão que o rei D. Manuel II passou a última noite em Portugal, antes da sua partida para o exílio, aquando da implantação da República a 5 de Outubro de 1910.

Oratório Sul

Capela privada dos aposentos do Torreão Sul, originalmente destinados à rainha. Pintura do tecto de Cirilo Volkmar Machado, mandada executar pelos Príncipe Regente D. João

(futuro rei D. João VI) e sua mulher, D. Carlota Joaquina, em finais do século XVIII. Representa S. João Baptista, S. Carlos Borromeu e Sto. António prostrados diante da Santíssima Trindade pedindo descendência para o trono.

Sala de D. Pedro V

A presente divisão e decoração reflecte a vivência romântica do século XIX e data da campanha de obras realizada neste Palácio aquando da subida ao trono de D. Pedro V em 1855 e do seu casamento com D. Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringen em 1858.

Era também designada por Sala Vermelha ou Sala de Espera, pois aqui esperavam os convidados antes de serem anunciados pelo reposteiro para serem recebidos pela Família Real na Sala da Música.

Sala da Música

Também conhecida por Sala Amarela ou Sala de Recepção. A Família Real recebia aqui os seus convidados, substituindo a Sala de Audiências (do Torreão Norte) depois de D. Pedro V abolir o tradicional beija-mão real nas datas festivas.

Sala de Jogos

Aqui se encontram alguns jogos usados nos séculos XVIII e XIX, como por exemplo, o Bilhar Chinês, a mesa de bilhar ou "russiana” e o jogo do Pião.

Sala de Caça

O Palácio de Mafra era visitado regularmente pela Família Real que aqui vinha várias vezes ao ano, normalmente para caçar na Tapada. Todo o mobiliário e decoração desta sala é alusivo a este gosto dos reis.

Sala de Jantar

Casa de jantar de finais do século XIX. A mesa e cadeiras foram executadas na Penitenciária de Lisboa e oferecidas ao rei D. Carlos.

Salão Grande dos Frades

Recriação do espaço conventual feita com o mobiliário original do século XVIII, uma vez que o convento foi cedido ao Exército desde 1841. Destacam-se uma mesa oval com bancos que pertenceu a uma das Irmandades instituídas por D. João V em Mafra e um Candeeiro das Trevas do século XVIII em madeira, assim chamado por ser usado nas cerimónias da Semana Santa.

Cela Fradesca

Recriação de uma cela fradesca do convento, com o respectivo mobiliário do século XVIII.

Convento

Concebido inicialmente como um pequeno convento para 13 frades, o projecto para o Real Convento de Mafra foi sofrendo sucessivos alargamentos, acabando num imenso edifício de cerca de 40.000 m2, com todas as dependências e pertences necessários à vida quotidiana de 300 frades da Ordem de S. Francisco.

Foi preocupação de D. João V garantir o sustento do Convento, pagando as despesas do seu “bolsinho”. Assim, eram dadas propinas a cada frade duas vezes por ano, no Natal e no São João. Constavam de tabaco, papel, pano de linho e ainda burel para os hábitos, tendo cada irmão direito a dois, um para usar e outro para lavar. Tinham ainda de remendar cada um a sua própria roupa.

No convento gastavam-se e anualmente, por exemplo, 120 pipas de vinho, 70 pipas de azeite, 13 moios de arroz (cada moio equivale a 828 litros) ou 600 cabeças de vaca. Junto ao Convento ficava o Jardim da Cerca, com a horta, pomar, vários tanques de água e para se distraírem, sete campos de jogos, quatro da bola, um do aro e dois de laranjinha.

Ocupado pelas tropas francesas e depois inglesas na época das Guerras Peninsulares, o Convento foi incorporado na Fazenda Nacional quando da extinção das ordens religiosas em Portugal, a 30 de Maio de 1834 e, desde 1841 até aos nossos dias, foi sucessivamente habitado por diversos regimentos militares, sendo desde 1890 sede da Escola Prática de Infantaria

De destacar como espaços conventuais mais significativos o Campo Santo e a Enfermaria para além da Sala Elíptica ou do Capítulo, a Sala dos Actos Literários (Exames), a Escadaria e o Refeitório, estes últimos hoje pertencentes à Escola das Armas e visitáveis sob marcação.

Núcleo Conventual

Campo Santo e Capela

O corredor do Campo Santo era destinado à sepultura dos frades do Convento e a Capela era destinada às exéquias dos que aqui morriam.

Na Capela, sobre o altar uma tela de Pierre-Antoine Quillard, A Última Ceia, 1730. Aos doentes, impossibilitados de se deslocarem, era dada a possibilidade de assistir aos ofícios a

partir das tribunas laterais.

Botica

Antes da extinção das ordens religiosas (1834) existiam no convento várias dependências destinadas à preparação e armazenamento dos medicamentos. Alguns dos instrumentos e utensílios utilizados estão aqui expostos.

No século XVIII, os medicamentos eram preparados a partir de ervas e raízes provenientes da horta conventual. Abóbora, erva doce, hortelã, sementes de melão, vinagre, cera, resina, açúcar e mel eram pesados e moídos nos almofarizes pelo frade-boticário e guardados em mangas e boiões de cerâmica.

Na cozinha da enfermaria e no convento usava-se louça de faiança branca vidrada com a inscrição MAFRA.

Enfermaria / Hospital

Enfermaria destinada aos doentes graves. Os doentes eram aqui assistidos por frades-enfermeiros, recebendo a visita diária do médico e do sangrador. Sobre cada cama fixava-se a receita deixada pelo o médico para que o doente soubesse se o enfermeiro seguia correctamente as suas instruções. Daqui sai uma escada para o Campo Santo, pela qual desciam os defuntos.

As camas ficavam viradas para o altar, ao fundo da sala, para que os doentes pudessem assistir à celebração da missa.

Cozinha

Aqui se preparavam as refeições para os doentes e frades-enfermeiros. Tem anexa uma pequena sala onde se guardavam a carne, o peixe e os frescos.

Cela do Frade Louco

Recriação de uma cela destinada a doentes loucos ou com delírios ou febres altas, com uma cama de abas do séc. XVIII. Este sistema de abas articuladas permitia que se cuidasse do doente sem ele cair da cama.

Basílica

A Basílica ocupa a parte central do edifício, ladeada pelas torres sineiras. Foi feita segundo o desenho de João Frederico Ludovici ourives de origem alemã que, após a sua

longa permanência em Itália, a concebeu ao estilo barroco italiano.

Tem a forma de cruz latina com o comprimento total 58,5 m e 43 m de largura máxima no cruzeiro, sendo toda em pedra da região de Sintra, Pêro Pinheiro e Mafra.

O zimbório, com 65 m de altura e 13 m de diâmetro, foi a primeira cúpula construída em Portugal.

Na capela-mor encontra-se uma tela de Francesco Trevisani representando A Virgem, o Menino e S. António, a quem a Basílica é dedicada.

Os retábulos das duas capelas no cruzeiro, Sagrada Família (lado sul) e Santíssimo Sacramento (lado norte), bem como da capela lateral sul, Nossa Senhora da Conceição, e das seis capelas colaterais são da autoria de Alessandro Giusti da Escola de Escultura de Mafra e seus discípulos.

De destacar ainda a escultura italiana de encomenda real, a mais significativa colecção de escultura barroca existente fora de Itália e o conjunto único de seis órgãos históricos encomendados por D. João VI aos organeiros Machado Cerveira e Peres Fontanes, em substituição dos primitivos que estavam degradados.

Órgãos

O projecto organístico da Basílica de Mafra, concebido de raiz, é verdadeiramente inovador ao considerar um conjunto integrado de seis órgãos, em vez de dois instrumentos de grandes proporções e três secções, geralmente ligados ao coro alto das igrejas, como era então usual.

Desde o início que o projecto arquitectónico da basílica contempla a colocação de seis órgãos na zona do altar-mor e do cruzeiro, no entanto sabemos que na Sagração Solene da Basílica, e não estando concluída a obra, tenham sido igualmente utilizados seis órgãos portativos.

Os actuais seis instrumentos foram encomendados durante a regência de D. João VI para substituir os primitivos que estavam degradados. Foram construídos pelos dois mais importantes organeiros

portugueses do tempo – António Xavier Machado e Cerveira e Joaquim António Peres Fontanes – tendo sido terminados entre 1806 e 1807.

Os 6 instrumentos são em pau-santo, com aplicações de ferragens de bronze executadas no Arsenal de Lisboa representando flores, festões, colunas e capitéis e ainda diversos instrumentos musicais, como trompas e violinos, penas de escrever, tinteiros e pautas de música. O escultor Carlo Amattuci foi responsável pelo medalhão com a efige de D. João VI, no órgão da Epístola.

Lord Byron, nas suas cartas, referindo-se a este conjunto de órgãos, escreve: “... os mais belos que ainda vi, quanto a decoração”.

Na Biblioteca existe um importante núcleo de partituras de importantes músicos portugueses como João de Souza Carvalho, Marcos Portugal ou ainda João José Baldi, que apenas aqui podem ser tocadas.

Carrilhões

O Real Convento de Mafra possui um conjunto de dois carrilhões ou seja uma série de sinos afinados musicalmente entre si. No caso de Mafra são noventa e oito sinos, o que os torna uns dos maiores carrilhões históricos do mundo.

Segundo a tradição, a mando d'El- Rei o Marquês de Abrantes procurou informar-se do preço de um carrilhão tendo-lhe sido indicado o valor de 400.000$00 réis, quantia tida como demasiado elevada para um país tão pequeno. Ao que D. João V, ofendido - era o monarca mais rico do seu tempo - terá respondido: “Não supunha que fosse tão barato; quero dois!” Assim, foi executado em Liége, nas oficinas de Nicolau Levache, o carrilhão da torre norte e, em Antuérpia, na fundição de Willem Witlockx, o da torre sul.

Cada torre sineira tinha cinquenta e oito sinos, pertencendo a cada carrilhão quarenta e nove. Os sinos de primeira grandeza pesam cada um 625 arrobas [1 arroba = 14,688 kg] ou seja mais de 9.180 kg. Os de segunda grandeza pesam cada um 291 arrobas ou seja 4.270 kg cada, os de terceira 231 arrobas o que corresponde a 3.392 kg cada, os de quarta 99 arrobas pesam 1.454 kg. cada e assim vão diminuindo até sinos de 1 de arroba, os mais pequenos, com cerca de 15 kg cada um. Finalmente as rodas e engenhos dos carrilhões pesam 1.420 quintais [1 quintal = 58,752 kg] ou seja 83.427,84 kg .

Ambos os carrilhões são compostos simultaneamente por dois sistemas: - O sistema mecânico funciona como um órgão de Barbieri, com dois enormes cilindros de bronze

onde se colocam cavilhas representando notas musicais. Quando accionado pelo mecanismo dos relógios, o movimento dos cilindros faz as cavilhas baterem em teclas metálicas ou papagaios, movendo os martelos dos sinos de acordo com a melodia programada. O carrilhão mecânico tocava a todas os quartos, meias e horas certashoras, do nascer ao pôr- do-sol.

- O sistema manual é accionado por um carrilhanista, tocando com as mãos e os pés num teclado que faz accionar os badalos dos sinos.

Outros sinos pontuavam a vida do convento, como caso do Sino das Aulas, que marcava o início destas, o Sino da Enfermaria ou da Agonia, assim chamado pois era tocado quando algum frade estava próximo da morte, o sino do refeitório que tocava para assinalar as horas das refeições por fim o sino da Féria, também chamado o sino do bacalhau, porque tocava apenas nos dias de jejum, às matinas, vésperas e horas da missa, como nos diz Frei João de Santa Ana.

Sacristia

A Sacristia é ligada à igreja por um corredor onde estavam colocados os confessionários dos homens. Ao fundo da sala está uma capela dedicada a S. Francisco que tem, sobre o altar, uma tela do pintor

Inácio de Oliveira Bernardes, bolseiro de D. João V em Roma, representando As Chagas de S. Francisco.

De cada lado da porta estão armários em madeira do Brasil destinados a guardar o garrafão de vinho de missa, as caixas das hóstias e “outras coisas semelhantes” necessárias ao culto, para além dos relicários que eram colocados nos altares nos dias de festas solenes.

Nas paredes de ambos os lados encontram-se os arcazes em pau-santo entalhado e com pegas e fechaduras de bronze dourado e o banco-chaveiro. São da autoria de Félix Vicente de Almeida, Mestre-Entalhador da Casa Real. Nestes arcazes se guardavam os paramentos dos sacerdotes.

A instalação da Sacristia foi precedida por diversos pedidos de informação detalhados por parte do monarca, que pretendia saber como eram “as sacristias mais modernas e de melhores cómodos... não só pelo que pertencem guardar... mas também pelo que respeita ao uso dos sacerdotes...”, onde se colocavam os confessionários, o lugar destinado à arrumação das diferentes alfaias religiosas nos armários e outras informações afins, sempre com a preocupação de se seguirem os usos da Capela Papal.

Sala dos Lavabos

A Sala dos Lavabos, servia de apoio à Sacristia e à Basílica.

Aqui se guardavam, em 2 armários embutidos na parede, as almofadas de missal e os missais e, em gavetinhas etiquetadas com o nome da cada irmão, o amito e os sapatos que cada um usava no Ministério do Altar.

A parte inferior deste armários era destinada à roupa suja. Nas paredes, quatro grandes pias em pedra trabalhada “com muito lavor” com motivos vegetalistas e

concheados, destinadas à lavagem das mãos. Cada pia tem uma grande bacia em forma de concha e três torneiras em bronze. As 4 pias são alimentadas por depósitos de água embutidos nos vãos das portas e janelas.

De cada lado das pias, dois grandes toalheiros em pau-santo para as toalhas de mão. Ao centro existe outro armário em pedra, onde se colocavam os cálices, as píxides, as galhetas e as campainhas para a celebração eucarística.

Ao fundo desta sala, uma porta dá acesso à escada para as Casas da Fazenda, onde ainda hoje se guardam, em armários de madeira do Brasil, os paramentos vindos da França e de Itália.

Escultura Italiana

Para a Real Basílica de Mafra D. João V vai encomendar aquela que será a mais significativa colecção de escultura barroca existente fora de Itália, num total de 58 estátuas em mármore de Carrara.

Esta encomenda significa por parte do Rei Magnânimo, não apenas um desejo de magnificência e um efeito prestigiante a nível internacional, mas também uma tentativa de renovação de uma forma de arte de que não havia grande tradição em Portugal e que que, mais tarde, servirá de modelo para a formação de artistas nacionais.

Assim, a falta de grandes escultores nacionais ao tempo, obriga o Rei a recorrer à sua encomenda em Itália, a grande Escola de Artes do tempo. Para Mafra trabalham, por exemplo, Carlo Monaldi, Pietro Bracci ou Giuseppe Lironi.

A colecção inclui os modelos em terracota das estátuas, enviados de Roma para aprovação real antes da execução final das mesmas.

Biblioteca

O Palácio Nacional de Mafra possui uma das mais importantes bibliotecas portuguesas, com um valioso acervo de aproximadamente 36.000 volumes, verdadeiro repositório do Saber.

De destacar algumas obras raras como a colecção de incunábulos (obras impressas até 1500) ou a famosa “Crónica de Nuremberga” (1493), bem como diversas Bíblias ou a primeira Enciclopédia (conhecida como de Diderot et D’Alembert), os Livros de Horas iluminados do Séc. XV e ainda um importante núcleo de partituras musicais de autores portugueses e estrangeiros, como Marcos Portugal, J. de Sousa, João José Baldi, entre outros, especialmente escritas para o conjunto dos seis órgãos históricos da Basílica.

A atestar a importância desta colecção, uma Bula concedida pelo Papa Bento XIV em 1754, para além de proibir sob pena de excomunhão, o desvio ou empréstimo de obras impressas ou manuscritas sem licença do Rei de Portugal, concede-lhe autorização para incluir no seu acervo os livros proibidos pelo Index.