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CONTEÚDO ESTRUTURANTE ESPORTE: AS POSSIBILIDADES INTERDISCIPLINAR DO VOLEIBOL NO PROJETO DE INTERVENÇÃO
PEDAGÓGICA NO COLÉGIO ESTADUAL PROFESSOR DARCY JOSÉ COSTA DE CAMPO MOURÃO.
Rosângela Maria Pombo Koch1
RESUMO
O objetivo do presente trabalho foi avançar no conhecimento do voleibol, enquanto subunidade do conteúdo esporte na educação física e apontar suas possibilidades interdisciplinar considerando os demais componentes curriculares do Colégio Estadual Professor Darcy José Costa de Campo Mourão. Partiu-se da idéia de que no trabalho docente os professores enfrentam problemas de toda ordem que dificultam muito o tratamento do conteúdo de forma interdisciplinar, ainda que seja uma necessidade e desejo dos professores: limitação do conhecimento, dificuldade de transferir o conhecimento acadêmico para prática pedagógica, dilemas para fundamentar política e filosoficamente os diferentes conteúdos do ensino, conforme determina as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná/2006, entre outros aspectos. Essa preocupação nos levou ao interesse em desenvolver a temática bem como elaborar e organizar um trabalho coletivo de intervenção pedagógica (alunos e professores) contando com um ciclo de 55 aulas. As possibilidades interdisciplinares do conteúdo do voleibol neste primeiro momento de trabalho ficaram por conta dos aspectos históricos, geográficos, artísticos, lingüísticos, matemáticos e da ciências, onde o técnico, o político, o histórico cultural e o científico, se fizeram presentes enquanto dimensões do conhecimento. Com isso os alunos puderam perceber que as disciplinas não são isoladas em sua formação.
Palavras-chave: Projeto Interdisciplinar, Esporte, Voleibol.
ABSTRACT
The objective of this work was progressing on knowledge of volleyball, as subunit of the sport content of physical education and in pointing their chances considering the other interdisciplinary curriculum components in the State School Professor Darcy Jose Costa de Campo Mourão. It came from the idea that the daily work of the teachers are faced through problems of all order that turn the handling of the content of an interdisciplinary way, even still it is a need and desire of teachers: limitation of knowledge, difficulty of transferring academic knowledge to practical educational, political dilemmas and philosophical reasons for the different content of education, set out the Curriculum Guidelines of the State of Paraná/2006, among other things. This concern led us to develop an interest in the subject as well as develop and organize a collective work of pedagogical intervention (students and teachers) on a course of 55 lessons. The possibilities of interdisciplinary content of volleyball in the first moment of work were on account of the historical, geographical, artistic, linguistic, mathematical and science, where the technical aspects of the political, cultural and scientific history, were present while dimensions of knowledge. This way, students could realize that the disciplines are not isolated in their education.
Key words: Interdisciplinary project, Sports, Volleyball
1 Professora da Rede Estadual da Educação do Estado do Paraná, participante do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE/2007-2008.
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INTRODUÇÃO
“Viva e trabalhe, mas não esqueça de brincar de achar graça na vida, de realmente aproveitar”.
(autor desconhecido)
Inicio este trabalho com a frase de autor desconhecido acima exposta,
relacionando-a com a educação física, considerando que o papel da escola e do
professor não é brincadeira, ainda que nesta área de conhecimento atuemos com o
conteúdo jogos e brincadeiras. Saliento aqui que o ensino dos conteúdos, entendido
pelas diretrizes curriculares como manifestação da cultura corporal deve ser sim
prazeroso e recíproco, nem por isso, o professor deve entendê-la como um
passatempo dos alunos e tão pouco descomprometida da transmissão da cultura,
uma vez que o trabalho pedagógico diz respeito ao conhecimento do movimento
histórico, político e social do homem bem como do movimento físico e atitudinal,
frente às coisas (PIROLO, 2006).
A esse respeito, Pirolo (1995, p. 3) explica que o movimento do homem
(histórico) em movimento no mundo (físico) vai além do entendimento do aspecto
motor/físico. Numa visão de totalidade significa que o homem é um ser “político
social interventor do processo de transformação da realidade e que possui uma
leitura critica frente às relações que são estabelecidas no seu meio e que conhece
as razões que o levam a expressão/ação”. Normalmente na área de educação física
nos utilizamos de um sentindo restrito de movimento, compreendendo-o unicamente
enquanto biológico, geneticamente determinado e pragmático.
Por isso, esse componente curricular torna-se complexo exigindo
conhecimentos específicos e estratégias de ação para que a aula de educação física
tenha sentido técnico, político, histórico e científico na formação do aluno, sem
perder a dimensionalidade lúdica, prazerosa.
Se entendermos a educação como apropriação do saber historicamente
produzido (SAVIANI, 1989) e que independente da sociedade que estamos inseridos
ela não segue um modelo, um padrão mundial, ou seja, está relacionada com a
cultura social de um povo (BRANDÃO, 1995) será possível perceber que necessita
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de políticas publicas que a sustente no sentido da conservação daquilo que está
posto ou da transformação.
No Brasil, muitas discussões a respeito da educação e suas políticas vêm
acontecendo. Políticas estas que por um lado são necessárias considerando o
movimento das coisas e as necessidades produzidas nos diferentes momentos
históricos. Porém por outro lado, quando são formuladas desconsiderando a
categoria profissional, suas lutas, dificuldades e necessidades, tornam-se
complicadas, porque não tem como pano de fundo alcançar o objetivo da qualidade
da educação no país e tão pouco priorizar a formação humana (PIROLO, 2004).
Desta forma afetam os docentes deixando-os em uma posição de conflito entre seu
saber e as mudanças pretendidas.
Uma intervenção externa, como uma política publica para o setor educativo,
fora do contexto ou vivências dos professores, acaba por não se legitimar e não sair
do papel, mas trás como resultado uma desestabilização, uma desreferenciação dos
professores que ficam entre seus saberes e rotinas pedagógicas e aquilo que está
sendo exigido. O que acontece é que geralmente não são dadas as condições
concretas para que as mudanças aconteçam e normalmente a maioria das
instituições de ensino não conseguem dar conta dos programas de governo,
sobretudo quando se trata de investir na formação dos professores, até mesmo pela
falta de incentivos fiscais, e vontade política da administração central (PIROLO,
2008).
Posso dizer que a relação entre a prática educativa e as políticas impostas de
cima para baixo, influenciam negativamente o processo de ensino aprendizagem.
Esse por sua vez tem se apresentado de forma exclusivamente técnica, reduzindo a
formação humana a uma preparação para o mercado com caráter de instrução, de
treinamento. Gadotti (2004) nos alerta que a educação é muito mais do que
instrução, do que treinamento ou a simples repetição. A educação é eminentemente
transformadora, deve se enraizar na cultura dos povos.
Nesta perspectiva, “a educação sempre foi, o prolongamento de um projeto
político” (GADOTTI, 2004, p. 22) e esta relação acompanha todo o desenvolvimento
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histórico das práticas pedagógicas. Conforme Gadotti (1987), a educação para ser
transformadora e libertadora, precisa construir entre educadores e educando uma
verdadeira consciência histórica. E isso demanda tempo.
Por isso, entendemos que a educação deve ser transformadora, a escola
deve funcionar como uma instituição que promove a formação humana, cabendo ao
poder público estabelecer políticas que realmente possibilitem o cumprimento desta
função.
Com o intuito de avançar nesta direção, o Estado do Paraná elaborou as
Diretrizes Curriculares Estaduais, (documento oficial), que teve como colaboradores
na sua construção os professores e pedagogos das escolas da Educação Básica,
equipe pedagógica dos núcleos regionais de educação e técnicos pedagógicos da
Secretaria de Estado da Educação.
Este documento traz, em si, o chão da escola e traça estratégias que visam
nortear o trabalho do professor e garantir a apropriação do conhecimento pelos
estudantes da rede pública. (DIRETRIZES CURRICULARES ESTADUAIS, 2006)
Para tanto, estas foram fundamentadas no materialismo dialético, visando
delinear o perfil político pedagógico da comunidade escolar, cujos princípios
apresentam reflexão e crítica a respeito das estruturas sociais e suas desigualdades,
inerentes ao funcionamento da sociedade. (DIRETRIZES CURRICULARES
ESTADUAIS, 2006). Organizam-se, por isso, a partir de disciplinas que compõem
uma base nacional comum e uma parte diversificada, da educação básica.
No que diz respeito ao segundo item, destaco neste momento, as diretrizes
voltadas à educação física, na qual propõe “uma reorientação das concepções da
disciplina na formação do aluno, de modo que identifiquem as múltiplas
possibilidades de intervenção pedagógica, conforme o lugar onde esteja situada a
escola e de acordo com os seus traços peculiares da cultura” (DIRETRIZES
CURRICULARES ESTADUAIS, 2006).
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A educação física, antes muito criticada pelo seu caráter de atividade na
escola em detrimento ao de disciplina curricular, Castellani Filho (1988) comenta que
é preciso ser reorganizada de modo a superar esse entendimento de práticas físicas
e desportivas para a saúde; sua visão exclusivamente biologicista, tecnicista
psicologicista (BRACHT, 1992); seu caráter ideológico em promover a manutenção
das relações de poder e favorecer a alienação ao modo de produção capitalista
(TAFFAREL, 1993), propalada pelos cursos de formação profissional; o reforço à
ótica mecanicista e à formação de sujeitos para a competitividade (CARMO, 1985),
entre outros aspectos.
Diante de tantos desafios, no âmbito da Educação Física, muitos profissionais
têm sentido dificuldade na prática pedagógica incluindo limitações de conhecimento
e dificuldades de transferir o conteúdo acadêmico para o processo de ensino
aprendizagem, bem como sente a problemática da influência externa de leis que
interferem no seu trabalho cotidiano (CAPARROZ, 1997; PIROLO, 2004).
Nessa direção, as práticas pedagógicas de educação física no Ensino
Fundamental, objeto do nosso estudo, têm como conteúdos estruturantes, o esporte,
jogos e brincadeiras, ginásticas, dança e lutas, que devem estar comprometidos com
uma educação física transformadora, em que o homem é visto como um sujeito
histórico, que interfere no meio social (DIRETRIZES CURRICULARES ESTADUAIS,
2006).
Neste contexto, ressalto o esporte, que de uma maneira geral e de senso
comum, está subdividido como escolar ou educacional[2], participativo e de alto
nível. Pode-se dizer que, cuidadosamente este conteúdo da cultura sofreu e vem
sofrendo uma evolução em todos os sentidos, na medida em que foi se tornando
espetáculo e produto de consumo na sociedade. Machado (1997, p.23) postula que
“a universalização do esporte como fenômeno social caracterizante de todas as
2 Especifico aqui, que não concordamos com essa terminologia e tão pouco com seu sentido dentro da escola. Pirolo (2008, mimio) afirma que é no mínimo incoerente definir desta maneira. Primeiro porque o esporte é uma manifestação da cultura corporal, e por isso justifica como um dos conteúdos ou unidades de ensino da educação física. Assim também é a redação no português; a adição e subtração na matemática; a historia do Brasil, na disciplina história; o estudo dos seres vivos na disciplina de ciências sociais, entre outros aspectos. Seria muito estranho que disséssemos existir uma redação educacional ou redação escolar; uma adição e uma subtração educacional ou escolar; um estudo dos seres vivos educacional ou escolar, entre outros aspectos.
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sociedades do nosso tempo” é um fato e querendo ou não acaba se refletindo na
escola e assumindo os códigos da instituição desportiva, sem uma reflexão
pedagógica e educativa (SOARES, et al., 1992).
O voleibol, sendo parte deste processo evolutivo, passou por transformações
consideráveis, pois na atualidade é um esporte muito praticado e divulgado
mundialmente, e no Brasil ocupa um lugar de destaque na cultura desportiva, por ser
um dos desportos mais praticados e aceitos pela população e comunidade esportiva,
juntamente com o futebol.
Enquanto um elemento da cultura corporal de um povo, no processo de
ensino-aprendizagem o voleibol é uma subunidade em várias escolas do ensino
fundamental, por isso, o professor não pode se eximir de um embasamento científico
e planejado que venha contribuir na transformação crítica e reflexiva dos alunos.
Assim sendo, a partir de um projeto de intervenção pedagógica, o presente
trabalho, procurou contribuir com os professores no sentido de avançar no
conhecimento do voleibol enquanto subunidade do Esporte na educação física e sua
relação interdisciplinar com os demais componentes curriculares.
O PROCESSO DE TRABALHO
É fato que os professores de educação física, bem como os de outras áreas
do conhecimento e que atuam na Educação Básica Paranaense, têm diferentes
entendimentos a respeito do ensino do conteúdo esporte no âmbito escolar.
Independentemente das abordagens que o professor de educação física se utiliza
(critica ou não), não é possível dizer que o esporte não tem sido um conteúdo
predominante nas aulas de educação física e o mais apreciado pelos alunos, sem a
devida noção de conhecimento crítico em relação ao seu teor político pedagógico.
Certamente isso requer que a educação física seja entendida como parte de
um processo educativo, e não à parte dele, e que esta manifestação se inter-
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relacione com os demais componentes curriculares/eixos do ensino, em detrimento
do seu aspecto mecanicista e isolado.
O esporte em nossa sociedade tem se apresentado como um fenômeno de
massa, utilizando-se de regras, técnicas e táticas que o deixam estético e dinâmico.
Torna-se prazeroso para quem o domina e também para quem o assiste, entretanto,
quando sua prática é destituída de criticidade, ou seja, é alienada a um caráter de
competência, competitividade e rendimento, exigindo muitos sacrifícios, acaba
induzindo ao doping, ao desprazer, à busca da vitória a qualquer custo, que podem
acarretar problemas de saúde.
Na escola, seu tratamento pedagógico deveria estar imbuído da transmissão
dessa cultura de forma a possibilitar um conhecimento critico e ampliado do
fenômeno, entendendo suas relações e determinações.
Entendendo a escola desta maneira ao planejar a intervenção na escola junto
com professores e alunos, procurei também levar em consideração a proposta
educacional do estado do Paraná a fim de colaborar no avanço do ensino
aprendizagem deste conhecimento (Voleibol) em sua inter-relação com as demais
áreas da formação do aluno.
Neste caso elaborei um ciclo de aulas específicas, porém de forma
interdisciplinar, sem esquecer a concepção teórica do Projeto Político da escola e as
Diretrizes Curriculares de Educação Física do Paraná (2006).
Minhas preocupações giraram em torno dos seguintes questionamentos: que
atitude tomar nas aulas de educação física em relação ao esporte, de forma que
seja uma abordagem diferente da essencialmente tecnicista/de competição e ao
mesmo tempo tornar o assunto interessante para os alunos? Como auxiliar os
alunos no entendimento desta manifestação cultural se a cultura escolar tem sido
voltada à prática pela prática? Quais as possibilidades interdisciplinares do conteúdo
desportivo voleibol, considerando a cultura escolar dita e o que pede as diretrizes
curriculares do Paraná?
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E como estamos falando de aulas de educação física, de alunos e da
sociedade, não podemos deixar de assumir um papel significativo ou postura em
relação a tudo que está em constante mudança, ou melhor, em transformação, para
que as atividades propostas por nós professores tenham objetivos críticos e
mostrem sua lógica no contexto social.
Segundo Libâneo (1985, 39) não basta que os conteúdos sejam apenas
ensinados, é preciso que se liguem de forma indissociável da sua significação
humana e social.
A intervenção ocorreu por meio de encontros com os alunos e professores da
8ª série, turma “A” do Colégio Estadual Professor Darcy José Costa - EFM de
Campo Mourão, onde discutimos e apresentamos textos pertinentes à proposta do
programa de intervenção em busca de uma compreensão e participação coletiva dos
mesmos, na construção da prática interdisciplinar.
Quando apresentei aos nossos alunos o conteúdo de trabalho, inicialmente
não encontrei resistência e mencionei a necessidade de estabelecermos uma
relação com a nossa realidade. Procurei mostrar como um simples conteúdo ou
temática pode estar presente em todos os segmentos do contexto social das
instituições, inclusive nas demais disciplinas.
Na seqüência apresentei aos professores esta idéia e ficou decidido que o
estudo, a organização e o planejamento dos conteúdos interdisciplinares seriam
realizados por meio de encontros, nas horas atividades. Se dispuseram, então, a
participar os professores de matemática, ciências, artes, educação física, história,
geografia, língua portuguesa e estrangeira moderna.
APRESENTANDO A PROPOSTA
No primeiro destes encontros, atendendo a sugestão da coordenação do
PDE, foi realizada a leitura, debate e análise do texto “A pesquisa participante na
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docência e a busca do diálogo na construção do saber” (BRANDÃO, 1988), que
resultou na seguinte síntese realizada pelos participantes:
A pesquisa envolve sempre pessoas, que são desiguais, mas não diferentes na essência, e
que retratam o mundo e a sociedade em que estamos inseridos. A revisão dos métodos de pesquisa
é uma necessidade constatada diante das possíveis interferências causadas tanto na escolha dos
métodos utilizados quanto nos resultados apresentados, quando o pesquisador se deixa envolver,
consciente ou inconscientemente pela realidade social em que vive no transcorrer do processo, o que
coloca em dúvida a total neutralidade das conclusões e dados apresentados. Também devemos
refletir sobre a maneira fria e subjetiva com que são apresentados relatos de idéias e opiniões de
pessoas e histórias vividas, coletados de uma forma e que posteriormente se transformam em
simples números, dados, classes e categorias, projetados meramente como índices e gráficos, com
descrições efetuadas por meio de frases feitas, muito distantes da realidade das pessoas e
comunidades envolvidas. O texto aborda a questão em relação à dificuldade de dissociar a vida e a
opinião do pesquisador, pois, qualquer que seja o motivo da pesquisa, sempre haverá relação entre
este motivo e o pesquisador, seja pelas diferenças, semelhanças ou pela identificação com algum
aspecto envolvido. E desta forma o autor faz uma série de abordagens sobre os verdadeiros objetivos
e as reais intenções e necessidades das pesquisas, que devem estar verdadeiramente voltadas para
encontrar caminhos e esclarecimentos que possam nos levar a uma felicidade por meio dos
conhecimentos adquiridos, divulgados ou descobertos e que esta felicidade estará mais próxima
quando as ciências, apropriadas destes conhecimentos, obtiverem respostas às necessidades
humanas, para o alívio da miséria e privilegiem a pessoa acima da mercadoria e da produção,
levando estas conquistas e conhecimentos para a educação por meio das várias estruturas e formas
de manifestação, para que ocorram as transformações necessárias nos demais segmentos da
sociedade, o que pode constituir-se num processo longo, porém, que depende de todos e inicia-se
pela busca do diálogo na construção do saber. (grupo de trabalho, encontro do dia 10/04/2008)
No segundo momento foram elencados os conteúdos a serem trabalhados em
cada área do conhecimento, utilizando-se da temática do voleibol. Aqui os
professores definiram que a sua aplicabilidade deveria acontecer no mesmo período
para todos os envolvidos no processo.
A partir disso, cada professor implementou os conteúdos e as estratégias de
ação nas suas respectivas disciplinas.
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AS POSSIBILIDADES INTERDISCIPLINAR DO VOLEIBOL: OS CONTEÚDOS DESENVOLVIDOS PELOS PROFESSORES
Inicio esta temática, comentando sobre o trabalho desenvolvido pela
professora de educação física que não poupou esforços para que o projeto de
intervenção fosse possível. Foi necessário toda uma nova estrutura de trabalho e
organização, passo a passo, dos conteúdos da disciplina em sintonia com as
demais, requerendo horas de reflexão e preparação.
A responsabilidade da professora era tal que atuou no sentido de possibilitar
ao aluno um conjunto de conhecimentos, para além do técnico, contemplando as
dimensões políticas, históricas, sociais, econômicas, técnicas e culturais, ampliando
e transformando os conteúdos recebidos na escola para que os mesmos, a partir
dessas práticas, pudessem contribuir na formação social crítica e autônoma do
sujeito, conforme pregam as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (2006).
(Quadro 1)
Quadro 1 - Disciplina de Educação Física: ensino dos elementos constitutivos do
voleibol
Conteúdo Atividades desenvolvidas1. História e evolução do voleibol
correlacionando com períodos/marcos
históricos fatos marcantes que
aconteceram no mundo e no Brasil;
2. Gesto técnico dos fundamentos e os
ângulos que o corpo faz no momento
da sua execução;
2.1. A movimentação dos alunos em
quadra e os ângulos derivados dos
deslocamentos;
3. Legislação pertinente ao voleibol: regras
regulativas e constitutivas;
3.1. conceitos e palavras tipicamente
estrangeiras;
• Júri Simulado;
Com a temática o jogador líbero no
contexto escolar;
• Aulas práticas e teóricas dos
fundamentos técnicos do jogo e
seus elementos históricos;
• Game turma contra turma;
Utilizando do vocabulário das línguas:
portuguesa e estrangeira com a
modalidade de voleibol;
• Exposição de painéis;
Confecção de cartazes com a postura
básica dos fundamentos do voleibol e
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3.2.O jogador líbero e suas regras;
4. Os jogadores brasileiros de voleibol
que já se utilizaram de substâncias
nocivas ao organismo;
5. A história da Mascote do voleibol
brasileiro;
6. O jogo de voleibol e sua relação com os
aspectos da vida cotidiana;
7. Preparação dos atletas para a
competição em outros países e sua
relação com os aspectos geográficos e
espaciais.
os ângulos do corpo;
• Discussão com os alunos sobre as
dimensões política, social,
históricas do esporte voleibol.
A professora de educação física abordou conteúdos sobre a história e
evolução, fundamentos (BOJIKIAN, 2005) e regras do voleibol, utilizando-se de
aulas práticas e teóricas, júri simulado e de jogo entre os alunos, buscando, desta
forma, realizar uma análise e reflexão crítica do tema proposto. O assunto gerou
muitas discussões e debates a respeito da abrangência interdisciplinar do voleibol. A
professora expunha, por exemplo, que os gestos técnicos como o toque, manchete,
cortada, bloqueio e saque, tinham uma relação direta com a matemática em relação
aos os ângulos que forma o corpo (ARAÚJO, 1994) ao posicionar-se para executar o
movimento.
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Foi tomado o cuidado de tratar o conteúdo específico da disciplina salientando
que era preocupante na formação do aluno a aquisição de um conhecimento
somente técnico e a realização de uma prática para vivenciar uma modalidade
esportiva. Por isso, a necessidade de contribuir na formação social de um aluno
critico e autônomo. Ao colocar dessa maneira os alunos ficaram menos resistentes e
se dispuseram a colaborar mais.
O quadro 2, na seqüência mostra a inter-relação educação física e história
desenvolvida entres as professoras das duas disciplinas. Os encontros aconteceram
em momento das horas atividade onde ficou determinado que as professoras não se
limitassem a historia de fatos e datas, senão da discussão a respeito do contexto
político e social, da gênese do voleibol (USA) e sua trajetória no Brasil. Este fato
tornou-se muito difícil, e exigiu maior tempo de trabalho para se aproximar mais de
nossas expectativas. Entretanto vale comentar que foi interessante quando da
aceitação dos alunos, pois os mesmos comentaram que a aula de História, por tratar
de conteúdos relacionados à Educação Física, nem parecia aula de História.
Quadro 2 - Disciplina de História: relações culturais
Conteúdo Atividades desenvolvidas
1. Abordagem comparativa dos períodos/
marcos que constitui os processos
históricos em geral e correlacionar com
a evolução do voleibol.
• Debates
As diferentes interpretações de um
mesmo acontecimento histórico.
• Confecção de cartazes;
• Painel
Com fontes históricas do voleibol e
da história construindo um diálogo
entre o passado e o presente.
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Percebe-se no quadro 2, acima exposto, que o tratamento pedagógico
utilizado nas aulas de história também buscou suscitar reflexões a respeito de
aspectos políticos, econômicos, culturais, sociais entre o ensino da história do
voleibol e do Brasil, de forma que o aluno pudesse compreendê-lo em suas raízes
históricas, e seu sentido e significado na realidade contemporânea, marcada por
conflitos e contradições que determinaram nossa vida em sociedade. Essa
perspectiva objetivou que os alunos percebessem que não existe uma verdade
histórica e sim verdades produzidas em determinado período por interesses em jogo
e suas relações de poder para manter o status quo. (DIRETRIZES CURRICULARES
ESTADUAIS, 2006).
Desta forma para ter sentido para o aluno a professora provocou o debate
aproximando o conteúdo da realidade do aluno, além de procurar desenvolver a
capacidade científica por meio de confecção de cartazes e apresentação de painéis.
Os alunos relataram um pouco da história da humanidade paralela ao período de
evolução do voleibol e demonstraram que a história desta modalidade faz parte de
um contexto geral e em que pese as suas abrangências locais, regionais, nacionais
e mundiais, nada existe ou ocorre de forma isolada. Sempre estará relacionada a
outros fatos que determinaram que a história se apresentasse tal como se apresenta
hoje. Além do mais, a lógica do trabalho interdisciplinar era dar a conhecer que as
disciplinas curriculares também não são isoladas na formação dos alunos. Possuem
uma relação entre si, uma relação de existência e muitas vezes de dependência e
influência mútua.
O fato do voleibol se apresentar da forma como se apresenta hoje, com altos
índices de performances, com alto grau de violência, problemas relacionados ao
marketing e à produção de desejos consumistas, ao doping, à especialização
precoce, entre outros aspectos requer explicar/ ensinar que há interesses
mercantológicos em jogo e que este produto histórico foi sendo determinado para
manutenção desses interesses (PIROLO, 2006).
Caminhando na mesma direção interdisciplinar, a disciplina geografia
objetivou que os alunos pudessem ampliar seus horizontes quanto aos
conhecimentos culturais e demográficos, sócio-ambientais e políticos,
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proporcionando uma abordagem de conceitos, básicos que contribuísse na
formação do aluno para intervenção social de maneira critica e consciente
((DIRETRIZES CURRICULARES ESTADUAIS, 2006).
Quadro 3 - Disciplina de Geografia: dimensão cultural e demográfica do espaço
geográfico
Conteúdo Atividades desenvolvidas
1. O voleibol nas olimpíadas;
2. Os mapas e as bandeiras, referentes às
questões culturais e demográficas
mundiais e as relações econômica e
política nos espaços geográficos dos
paises que foram sede das olimpíadas;
3. Os impactos corporais em competidores
em relação às mudanças climáticas e
atmosféricas.
• Pesquisa na internet dos países
que sediaram as olimpíadas a
partir de 1964;
• Trabalhos em grupos:
• Confecção de bandeiras dos
países que sediaram as
olimpíadas a partir de 1964;
• Confecção de mapas dos países
que sediaram as olimpíadas a
partir de 1964;
• Confecção de cartazes;
• Discussão sobre os fatores
culturais e demográficos dos
países, distâncias percorridas,
aspectos sócios ambientais e
políticos dos países que sediaram
as olimpíadas a partir de 1964;
• Painel expondo toda produção
feita pelos alunos;
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O entendimento de espaço geográfico correlacionado ao tema voleibol
aconteceu por meio de pesquisas sobre os países que sediaram as olimpíadas os
quais o voleibol brasileiro participou. Obviamente a professora de educação física
em seu momento específico de trabalho, enunciava o assunto apontando a
participação do Brasil, seu êxito, quadro de medalhas, valores gastos, investimentos
e o ranking da modalidade em cada olimpíada.
Também discutia a contradição de todo esse processo, como por exemplo, a
falta de investimento para saneamento básico em locais e regiões específicas do
Brasil e as doenças decorrente da falta de vontade política para solucionar temas
como estes, fome, falta de moradia e de uma política habitacional que contemple as
camadas mais pobres deste país, em detrimento ao montante de dinheiro destinado
e gasto com infra-estrutura para sediar olimpíadas e copa do mundo, entre outras
coisas.
Em geografia, a realização de trabalhos em grupo, confecções de cartazes,
painel e pesquisas via internet, foi sendo proporcionado aos alunos para
compreender as diferenças culturais e demográficas entre diversos países, bem
como as distâncias percorridas e as respectivas localizações em relação ao Brasil e
ao mundo.
Estas atividades proporcionaram aos alunos uma viagem têmporo-espacial
em relação ao voleibol pelo mundo: noções de tempo em relação à realização das
Olimpíadas e de espaço em relação à localização, diferenças dos países que as
sediaram, entre outros aspectos.
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O quadro 4, abaixo exposto mostra outra possibilidade de trato com o
conteúdo voleibol. Foi um trabalho realizado na disciplina artes, a qual figura nas
Diretrizes Curriculares do Paraná (2006) como aquela cujos conteúdos devem ser
selecionados a partir de uma análise histórica e de maneira crítica, permitindo aos
alunos uma percepção da arte em suas múltiplas dimensões cognitivas.
Para abordar o sub-tema as “artes visuais”, nesta disciplina, a professora
optou em estudar as mascotes das olimpíadas de Beijing - China e a mascote do
voleibol brasileiro (CONFEDERACÃO BRASILEIRA DE VOLEYBALL, 2008), sua
gênese, significados, estabelecendo uma correlação com seu conteúdo específico,
por meio de desenhos, apresentações de painéis, trabalho em grupo e leitura de
textos relacionado com o tema.
Quadro 4 - Disciplina de Arte: artes visuais
Conteúdo Atividades desenvolvidas
1. História das mascotes olímpicas;
2. Abordar os aspectos econômicos
envolvidos na divulgação e consumo deste
aparato esportivo.
• Elaboração de desenhos e
discussões das mascotes dos
Jogos Olímpicos Beijing – China;
• Painel
• Produção e exposição das
mascotes das olimpíadas de
2008, do vôlei brasileiro e dos
símbolos olímpicos;
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Desta forma foi possibilitado estabelecer um grau de interdisciplinaridade com
um conteúdo que numa visão conservadora e aparente não faria parte do voleibol,
porém a forma de tratamento favoreceu aos objetivos específicos tanto de uma
quanto de outra disciplina.
Quanto ao ensino da matemática, as Diretrizes Curriculares do Paraná (2006)
explicita que no ensino fundamental é necessário que o processo pedagógico em
matemática contribua para que o estudante tenha condições e apropriação de uma
linguagem adequada para descrever e interpretar fenômenos matemáticos,
favorecendo o diálogo entre as pessoas, entre os estados, entre diferentes países e
entre instituições internacionais. A disciplina visa auxiliar sujeito/aluno na resolução
de problemas presentes no seu cotidiano, abrindo assim espaço para práticas e
tomada de decisões com real significado no processo ensino aprendizagem da
disciplina e de outras áreas do conhecimento.
Numa inter-relação com a educação física, a matemática utilizou-se do tema
voleibol para analisar os ângulos do corpo de quem joga, dos ângulos e medidas e
circunferências da quadra, rede e bola e ainda, observou também os ângulos e
direções percorridos pela bola conforme as jogadas efetuadas, bem como os
deslocamentos dos jogadores (Quadro 5).
Quadro 5 - Disciplina de Matemática: Grandezas e medidas
Conteúdo Atividades desenvolvidas1. medidas de comprimento da quadra e da
rede de voleibol;
2. medidas de ângulos dos gestos técnicos
dos fundamentos de voleibol;
3. medidas derivadas: da área e volume da
bola de voleibol;
4. Os ângulos nos deslocamentos dos
jogadores em relação aos sistemas
defensivos e ofensivos e trajetória da bola.
• Trabalho em grupo;
• Confecção de cartazes;
• Maquetes sobre o deslocamento
dos jogadores em quadra.
• Exposição “Matemática e o corpo
humano”:
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A professora desenvolveu trabalhos individuais e em grupo, confeccionou
cartazes e maquetes junto aos alunos e realizaram uma exposição para outras
turmas explicando as relações da matemática com o mundo esportivo. As atividades
foram desenvolvidas de forma lúdica envolvendo estudos e pesquisas em grupo e
esse procedimento levou a um outro olhar sobre a matemática e a educação física,
passando a ter outro significado para os alunos.
A questão da interdisciplinaridade demonstrou aos alunos que todas as
disciplinas e conteúdos, ainda que tenham suas especificidades, fazem parte do
processo de formação dos alunos e por isso integralizam o currículo escolar. No
ensino, de forma geral, isso deveria ser uma prática constante, mesmo porque em
determinados momentos fique difícil evidenciar uma correlação entre os
componentes do ensino. Se almejarmos superar a tão criticada fragmentação no
âmbito educativo é importante desenvolver projetos que estudem e explorem as
possibilidades de inter-relação e ou atuem no sentido da intervenção.
Outra disciplina que se propôs a discutir a questão com os alunos e trabalhar
em conjunto foi a de ciências (Quadro 6).
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Quadro 6 - Disciplina de Ciências: Sistemas biológicos
Conteúdo Atividades desenvolvidas
1. O doping no meio esportivo;
2. As diferentes classes de doping;
3. Os casos de doping no voleibol
Brasileiro.
• Debate: Você é a favor ou contra
o uso de anabolizantes?
• Elaborar leituras de textos e
discussões sobre doping no meio
esportivo;
• Demonstrar e definir as diferentes
classes de doping;
Conforme as Diretrizes Curriculares, nas aulas de ciências os conteúdos não
podem ser dissociados de outras áreas do conhecimento, ficando a cargo do
professor selecionar e estabelecer a interdisciplinaridade com o propósito de levar o
entendimento de seu objeto, além de permitir uma aproximação entre o saber e os
problemas reais dos estudantes (DIRETRIZES CURRICULARES ESTADUAIS,
2006). Na disciplina de ciências, já há algum tempo, vinha se preocupando com a
questão, procurando formas estratégicas de trabalho com essa finalidade.
Esta situação levou o professor a perceber a relação de alguns conteúdos na
educação física e definir pelo assunto do doping esportivo, exemplificando com os
casos existentes no voleibol. Os assuntos tratados nesta disciplina, em síntese
foram: o primeiro caso de doping no Brasil e os casos de doping no voleibol
brasileiro, entre outros aspectos. As atividades desenvolvidas, nesse sentido,
incluíram leituras e trabalhos em grupos, com posteriores debates sobre o assunto.
21
Esta foi uma forma diferente de realizar a análise do tema proposto,
considerando que podia ter sido especificado uma avaliação crítica dos benefícios
da prática da modalidade. Neste caso específico, o uso do doping e as
conseqüências para o organismo dos usuários tiveram a preferência do professor.
É importante que os alunos tenham a oportunidade de se informar, debater e
se posicionar sobre qualquer tema. Neste caso as conseqüências não são benéficas
para a saúde e isso é fundamental que se entenda. As crianças também devem
adquirir o senso crítico, na perspectiva de mudança de atitude social cotidiana,
reconhecendo que o uso do doping é um problema de ordem social. A imposição
oculta de padrões de perfeição tem levado o atleta a submeter seu organismo a uma
auto destruição pelo uso de substâncias nocivas, em nome da melhoria da
performance. Assim também deve ser tratado o aspecto das drogas, do consumo
desenfreado de ter para ser mais nessa sociedade.
A disciplina Língua Portuguesa (Quadro 7) e a de Língua estrangeira moderna
(Quadro 8), também assumiram o trabalho coletivo interdisciplinar com a educação
física3 de maneira a tornar o seu trabalho mais efetivo quanto à aprendizagem do
aluno e o salto qualitativo que estes devem dar (no sentido empregado por
Vigotsky).
Quadro 7 - Disciplina de Língua Portuguesa: prática da escrita
Conteúdo Atividades desenvolvidas1. A produção de textos sobre o meio
esportivo;
2. Os conhecimentos lingüísticos, a
oralidade, a leitura e a escrita;
3. As linguagens utilizadas nos jogos;
4. O saber esportivo no caso o voleibol, e
a experiência de vida dos alunos.
• Leitura e analise critica dos textos
esportivos;
• Redação relacionando a sua
experiência de vida com o jogo de
voleibol;
3 Não estou querendo dizer que o fato das diferentes disciplinas interdisciplinarem com a educação física é que as tornam mais efetivas e válidas em relação ao ensino aprendizagem. Pelo contrario.
22
Na sala de aula ou em outros espaços de encontros com os alunos, os
professores de língua portuguesa planejavam as atividades para o domínio
discursivo/oralidade, da leitura e da escrita. O objetivo cria possibilidades para que o
aluno pudesse valer-se de argumentação fundamentada, rompendo com o senso
comum, com a submissão/alienação de valores e conceitos pré-estabelecidos, bem
como com a aceitação da relação de imposição/poder. Esperava-se que o aluno
desenvolvesse o senso de problematização, superasse conceitos e opiniões à base
do senso comum, caminhando para uma linguagem mais filosófica; se apropriasse
da prática da investigação; e revisse sua visão de mundo e sociedade.
Num primeiro momento, o tema voleibol não se encaixava no trabalho,
ficando um pouco difícil estabelecer essas relações, entretanto com um pouco de
estudos sobre os temas da educação física, o exercício de discussão e reflexão com
os professores, foi surgindo à possibilidade de trabalhar com a escrita/produção de
textos a partir da leitura sobre o flair play, o voleibol e a relação com os aspectos
sociais e políticos, o rally point system, entre outros aspectos. Dessa maneira, os
alunos foram levados a refletir e analisar criticamente o voleibol, suas derivações e
seus componentes constitutivos.
Os alunos foram incentivados, também, a escrever sobre um conteúdo o qual
gostariam de estar praticando e ao escrever, lhes foi oportunizado refletir sobre esta
atividade social. A experiência foi inusitada e remeteu os professores a pensar sobre
23
os êxitos do projeto quanto aos aspectos de interpretação e aprofundamento de
conhecimentos.
Sem dúvida nenhuma, esse processo de ensino aprendizagem visou uma
reflexão crítica demonstrando que, tanto a escrita como a oratória devem ser
dominadas, pois são necessárias para o convívio e para o processo de intervenção
e transformação social. Por exemplo: os alunos, enquanto sujeitos de história,
podem redigir projetos e leis, com argumentos consistentes e reflexivos, e
encaminhar para os órgãos públicos, em nome do coletivo.
Quanto à disciplina de Língua Estrangeira Moderna, (inglês), foi proposto que
o professor despertasse o aluno para que reconheça e compreenda a diversidade
lingüística cultural bem como os seus benefícios para o desenvolvimento e
transformação na construção das práticas sociais. Na questão da nova ordem
global, e a respeito do papel das línguas na sociedade, estão previstas nas
Diretrizes Curriculares do Paraná.
A educação física, tomando como enfoque o tema do voleibol e este sendo
analisado sob o prisma da disciplina de língua estrangeira moderna – inglês, pode
contribuir aproveitando-se de terminologias que se encontram nas regras oficiais,
bem como durante os jogos transmitidos pela TV. Os alunos realizaram pesquisas
sobre as palavras e seus significados, chegando a questionar o “por que”, no Brasil
não assumimos uma terminologia própria como foi o caso do “saque viagem ao
fundo do mar”, por exemplo. Sempre temos que estar assumindo os modelos
importados e descaracterizando aquilo que é próprio de nossa cultura. A TV tem
servido a essa lógica cultural americana, divulgando, enfaticamente, suas
terminologias.
Quadro 8 - Disciplina de Língua Estrangeira Moderna (Inglês): práticas discursivas
Conteúdo Atividades desenvolvidas1. As palavras inglesas e as regras de
voleibol; • Game: Boys x Girls
• Game: turma x turma
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2. A linguagem em atividades individuais e
coletivas no voleibol;
Para desenvolver a oralidade, escrita e leitura, a professora utilizou-se da
tradução das palavras do inglês para o português e vice versa, além de fomentar
atividades lúdicas com a turma onde meninos e meninas se manifestaram em forma
de exposição e apresentação de trabalhos realizados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É possível dizer que anteriormente a década de 70 em nosso país, a
educação era mais globalizada onde o aluno aprendia os conteúdos, sobre diversos
assuntos, sem um distanciamento em relação ao todo, recomendado em sua
formação. Talvez isso ocorresse dado ao número reduzido de professores existentes
naquela época que possibilitava maior inter-relação entre as temáticas. É fato,
entretanto, que com o advento da industrialização, e com a divisão social do
trabalho, preconizada pelo sistema fordista de produção, a escola passou a seguir
uma lógica semelhante, principalmente pela determinação, expressa na lei 5692/71,
de formação de mão de obra para o mercado.
Com o passar do tempo, a velocidade das mudanças, o surgimento de novas
tecnologias, a evolução de uma sociedade cada vez mais individualista, entre outros
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aspectos, iniciou-se um processo de especialização, ou seja, passou-se a valorizar
mais a especialidade, em detrimento do conhecimento geral. Quanto mais
especializado fosse o sujeito, mais qualificado seria para assumir esse mercado
emergente. Porém, esta mesma especialização, que deveria torná-lo detentor de um
saber aprofundado e de um conhecimento específico (ensino técnico), tem sido
bastante criticada por privar/limitar o sujeito dos conhecimentos gerais,
desqualificando-o inclusive para o mercado.
Esta situação da valorização de conhecimentos técnicos para a formação do
especialista, em detrimento de conhecimentos políticos, econômicos, filosóficos e
histórico-culturais acabou por ser uma cultura no processo educacional, cuja
educação, que deveria objetivar a transmissão da cultura e a complementação e
valorização dos seus conhecimentos historicamente desenvolvidos, acabaram por
ser um processo de repasse de conteúdos e informações fragmentadas e
individualizadas/fechadas nas distintas disciplinas que compõe o currículo
(FAZENDA, 1993).
Para que esta prática possa ser mudada, e não venha a diminuir as
possibilidades de ampliar o conhecimento geral dos alunos, penso que devemos
aproveitar os momentos de curiosidade ou mesmo de necessidade para partilhar as
idéias e conhecimentos de uma disciplina para outra, dando-lhes outro significado.
Estabelecer uma correlação entre os mesmos, possibilita uma noção
ampliada de seu sentido e significado social levando o aluno a interpretar o mundo,
por meio da descoberta de que o conhecimento foi produzido historicamente com
base e interesses em jogo, conflitos e contradições que o determinaram.
O projeto desenvolvido no Colégio Estadual Professor Darcy José Costa de
Campo Mourão permitiu aproximar os conhecimentos e penso que ainda podemos ir
além. A educação física, neste momento, foi à disciplina que se propôs desencadear
um projeto deste caráter, porém entendo que esta deve ser uma atitude constante
em todas as disciplinas e em toda a escola. Para tanto é necessário que aconteçam
reuniões pedagógicas a fim de que toda a escola discuta, no coletivo, os temas do
ensino, estratégias de trabalho, troquem experiências e coloquem em prática as
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idéias que possam surgir dos debates que forem travados. Quero acreditar que a
escola, a partir desta experiência não será mais a mesma.
Também é importante salientar que assim como a Educação Física tomou
essa iniciativa e procurou organizar um processo de trabalho tomando como base o
aspecto interdisciplinar, existe muito para ser abordado, nesta perspectiva, em todas
as áreas do conhecimento, em prol de uma melhor qualificação do aluno. Em outras
palavras, esse aspecto não é prerrogativa da educação física, nem de um assunto
tão específico dentro de uma área, como foi o caso do voleibol.
A proposta que ora foi descrita, não seguiu um caminho sem problemas. Vale
dizer que houve muitas dificuldades no percurso, muitas dúvidas de como tratar os
temas específicos e conciliá-los com as outras áreas. Também surgiram muitas
curiosidades sobre vários conteúdos que, num primeiro momento, se apresentavam
como exclusivos de uma ou de outra disciplina. O trabalho coletivo nos fez perceber
que o conhecimento não é propriedade de uma ou de outra disciplina ou área, mas
existem as especificidades inerentes a elas que por sua vez não devem se perder no
isolamento e devem oferecer uma visão de totalidade.
O conhecimento foi conduzido tomando por base uma análise do tema
voleibol no Brasil em consonância com os pressupostos teóricos das diversas
disciplinas. Cada uma delas desenvolveu suas atividades demonstrando que é
possível estudar um conteúdo tão específico como o voleibol, na matemática, no
português, no inglês, nas ciências, nas artes, na história, na geografia. Assim
também acontece com as outras áreas cujos conteúdos também podem ser
ilustrados e incrementados na educação física.
Neste processo, ainda saliento a seriedade do professor, que ao atuar como
um mediador fez toda diferença além de constantemente buscar incentivar os alunos
à curiosidade, à necessidade de refletir e analisar criticamente os conteúdos.
É a partir desta postura do professor em relação à interdisciplinaridade que os
alunos adquirem uma nova visão e possibilidades ampliadas de aproveitamento do
seu conhecimento e do conhecimento adquirido, para provocar transformações,
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tanto no meio em que vivem como em si próprios e por que não dizer, também nas
pessoas com as quais convivem.
No meu entender essas são algumas das possibilidades interdisciplinar do
voleibol, enquanto conhecimento didático pedagógico. A atitude dos professores foi
de acreditar nessas possibilidades de trabalho tornando-o concreto por meio de
muitas reflexões e estratégias de ação. Posso dizer, neste sentido que os alunos
aos poucos foram vencendo uma cultura da prática pela prática que prevalecia na
escola, na medida em que foram entendendo os elementos da cultura corporal e
relacionando-os em suas dimensões científicas, técnicas, políticas, histórico-
culturais e filosóficas, a partir dos elementos interdisciplinares.
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