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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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ORALIDADE E ESCRITA DO ANÚNCIO PUBLICITÁRIO E DO

PANFLETO: linguagens que compõem o entorno social1

Magda Goretti Martins Bissotto2

Daniela de Maman3

Resumo: Este texto apresenta o trabalho realizado a partir da implementação de planejamentos

didático-pedagógicos elaborados para serem desenvolvidos nas aulas de língua portuguesa, sobre a

oralidade e a escrita dos anúncios publicitários e panfletos, numa perspectiva linguística textual,

identificando a influencia e predomínio da língua materna, tentando mostrar aos educandos a

percepção de forma significativa e participativa dessas diferenças linguísticas, para que possamos de

fato compreender o que lemos e como comunicamo-nos nos diferentes contextos de uso da língua.

Para tanto trabalhamos atividades diversas na oralidade e na escrita, fazendo concepções da

linguagem nos diferentes contextos de uso, sem esquecer o respeito às individualidades de cada um.

Palavras-Chave: Anúncio Publicitário. Panfleto. Linguagem Oral e Escrita. Sala de Aula.

1 INTRODUÇÃO

A língua riquíssima em sua forma nos possibilita buscar maneiras diferentes

de comunicação e expressão, o domínio de uma língua faz com que sejamos

autônomos e que compreendamos as coisas de uma forma mais clara e objetiva.

Levando em consideração o que diz Simões (2006, p. 19), “o ser humano é um ser

cultural, que no exercício de suas atividades culturais surge a função social, a de

estruturação da sociedade, que se sustenta na comunicação, a qual realiza-se pela

interação verbal e se materializa na fala,” podemos perceber assim a importância de

estudar e compreender o funcionamento da língua, no nosso caso a Língua

Portuguesa.

1 Texto produzido a partir dos estudos desenvolvidos no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE –

turma 2013;

2 Especialista em Língua Portuguesa e Comunicação, pela UNC, Graduada em Letras pela FACIPAL, professora

do quadro próprio da SEED, município de Dois vizinhos – PR. 3 Professora Orientadora Docente na Unioeste/ Campus de Francisco Beltrão/PR.

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Pensando desta forma buscamos um aprimoramento teórico-didático de

autores que falam sobre oralidade e escrita para o desenvolvimento deste trabalho,

bem como o estudo das partes afins para o desenvolvimento das atividades

propostas.

O referido artigo é resultado de um trabalho proposto em três etapas

apresentadas ao Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, sendo partes

integrantes às atividades da formação continuada da Rede Estadual de Educação

do Paraná.

A primeira etapa foi o estudo teórico a partir de uma problemática vivenciada

na escola, para laboração do projeto “Adequação da linguagem aos gêneros textuais

anúncio publicitário e panfleto: oralidade e escrita em foco”. Levando em

consideração o conteúdo estruturante de Língua Portuguesa que tem o Discurso

como Prática Social, implica dizer que o ensino de Língua Portuguesa necessita

fazer com que o aluno vivencie em sala de aula situações do seu contexto social.

Nesse sentido surgiu o questionamento central que direcionou este projeto de

intervenção e que parte da premissa de que os educandos precisam perceber a

necessidade de adequar a linguagem ao seu contexto de uso e observar que cada

gênero requer um comportamento linguístico e discursivo, pensamos em quais

seriam então os condicionantes/caminhos didáticos, para a elaboração de uma

proposta que priorize a oralidade e a escrita, mediante a utilização de Gêneros

Textuais, tais como, anúncio publicitário e panfleto?

A partir desta problemática decidimos que o caminho seria ter como objetivo,

possibilitar o desenvolvimento do uso da linguagem, nos diferentes contextos de

uso, a partir do trabalho com tais gêneros. Bem como propiciar aos alunos a

atividade de pesquisa sobre as características de variação e heterogeneidade

linguísticas, para perceber a língua como fenômeno situado, determinado, histórico,

dialógico e ideológico.

Segundo as DCEs (2008 p. 55) “a ação pedagógica referente à linguagem,

precisa pautar-se na interlocução em atividades planejadas que possibilitem o aluno

a leitura e a produção oral e escrita, bem como a reflexão e o uso da linguagem em

diferentes situações”. Trabalhar os conceitos de Gêneros Textuais como artefatos

culturais e, portanto, reveladores dos sujeitos produtores, de sua história e de suas

crenças, e desenvolver atividades de análise com os alunos a partir da interação

destes com anúncios publicitários e panfletos percebendo a adequação da

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linguagem a seu publico alvo, foi a segunda e a terceira etapas desse processo de

formação que desenvolvemos: a unidade didática, e a sua aplicação com os alunos

afins.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Pensar o espaço escolar, as aulas de português fazem com que professores

e alunos tenham posturas distintas, pois, segundo as Diretrizes Curriculares da

Educação Básica – DCEs (2008, p. 38) “é nos processos educativos, e notadamente

nas aulas de Língua Materna, que o estudante brasileiro tem a oportunidade de

aprimoramento de sua competência linguística, de forma a garantir uma inserção

ativa e crítica na sociedade”, sendo assim nossa intenção é colaborar para a

efetivação de práticas pedagógicas que qualifiquem o processo de ensino da

linguagem.

Sabemos que a escola tem um importante papel na democratização e

socialização do indivíduo, e é no processo de ensino-aprendizagem que este deverá

ter o maior contato possível, com a linguagem nas mais diversas formas das esferas

sociais, para assim poder refletir e compreender os diferentes textos e seus

segmentos, deste modo para Bach (1978):

Os alunos deviam aprender a língua portuguesa como instrumento de comunicação e expressão. Mas o que aconteceu? Muitos professores, sobretudo, os saídos (formados?) nos últimos anos, despejam sobre os alunos teoria da comunicação e não educam para capacidade comunicativa; teorias linguísticas (as mais diversas) e não formam a capacidade de expressão oral e escrita; nomenclaturas sobre nomenclaturas e não formam a capacidade de raciocínio; apresentam citações de autores estrangeiros e não formam os alunos na capacidade de integração social, com capacidade de aceitar ou rejeitar posições diferentes; dão esquemas e estruturas literárias, mas não formam a sensibilidade literária e artística do aluno (p.18).

Percebemos, assim, o quanto as aulas de Língua Portuguesa fogem as

propostas de oralidade e escrita, uma vez que a escola deve proporcionar o

conhecimento da língua na modalidade padrão, respeitando o falante e seus usos

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linguísticos, valorizando as variedades linguísticas que estão presentes nos

diferentes grupos sociais.

Pois segundo Bortoni-Ricardo (2009, p 23), “quando usamos a linguagem

para nos comunicar, também estamos construindo e reforçando os papéis sociais

próprios de cada domínio”, não importa o ambiente e nem com quem se está

interagindo, as relações sociolinguísticas estarão presentes, mostrando que a fala é

geradora de significados.

Ao lado dessa modalidade oral encontramos a modalidade escrita que

também tem seu desenvolvimento na competência discursiva uma vez que para

Serafim (2011):

o surgimento e aceitação da língua escrita na sociedade é uma tradição social que trouxe como principal consequência a transformação desta modalidade da língua em uma habilidade que historicamente tornou-se sinônimo de detenção de conhecimento, primeiramente literário, depois clássico e, finalmente, cientifico ( p. 27).

Deste modo à escrita é atribuída uma supervalorização, fazendo com que a

língua oral se tornasse menos valorizada pela sociedade. Conforme Marcuschi

(2005, p. 17), “oralidade e escrita são práticas e usos da língua com características

próprias, mas não suficientemente opostas para caracterizar dois sistemas

linguísticos”. É possível sim um ensino de qualidade, através do qual a oralidade e

escrita sejam vistas de forma homogênea.

Através da experiência profissional docente e de cidadão em convívio social é

possível afirmar que a língua está em movimento contínuo, por ser ela algo cultural e

inacabada sempre sofrerá alterações. Contudo podemos também dizer que ela

serve para nos organizar e dinamizar.

Ao pensarmos no processo de ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa,

temos a escola como ambiente educacional, que proporciona este conhecimento,

pois são nessas aulas que atividade de falar, ler e escrever como praticas

educativas do uso da língua deve ser objeto de reflexão. Pois segundo as DCEs do

Estado do Paraná (2008):

é na escola que um imenso contingente de alunos que frequentam as redes públicas de ensino tem a oportunidade de acesso à norma culta da língua, ao conhecimento social e historicamente construído e à instrumentalização que favoreça sua inserção social e exercício da

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cidadania. Contudo, a escola não pode trabalhar só com a norma culta, porque não seria democrática, seria a-histórica e elitista (p. 53).

Ao pensarmos em instituição escola para todos, precisamos estar preparados

para atender as mais diversas diversidades linguísticas, e o professor deve sim

aproveitar as metodologias para que o aprendizado flua com sucesso. Ensinar uma

língua requer muito mais que ensinar a ler e escrever, uma vez que a língua tem

suas normas fonológicas, morfológicas, sintáticas e semânticas, sem esquecer as

regras gramaticais, nomenclaturas e classificações.

Quando trabalhamos com textos, não importa a modalidade falada ou escrita,

não podemos esquecer de que como diz Koch e Elias (2010, p.13) “o texto é um

evento sócio comunicativo, que ganha existência dentro de um processo

interacional. Todo texto é resultado de uma coprodução entre interlocutores: o que

distingue o texto escrito do falado é a forma como tal coprodução se realiza,” então o

professor deverá fazer essa intermediação na linguagem usada em cada contexto,

mostrando para seus educandos as variações linguísticas existentes, uma vez que

fala e escrita são duas modalidades da língua e estas possuem características

próprias.

Para demonstrar estas características próprias de cada modalidade linguística

podemos perceber neste quadro as diferenças entre fala e escrita segundo Koch e

Elias (2010, p.16):

FALA ESCRITA

Contextualizada Descontextualizada

Implícita Explicita

Redundante Condensada

Não planejada Planejada

Predominância do modus

pragmático

Predominância do modus

sintático

Fragmentada Não fragmentada

Incompleta Completa

Pouco elaborada Elaborada

Pouca densidade

informacional

Densidade informacional

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Predominância de frases

curtas, simples ou

coordenadas

Predominância de frases

complexas, com

subordinação abundante

Pequena frequência de

passivas

Emprego frequente de

passivas

Poucas nominalizações Abundancia de

nominalizações

Menor densidade lexical Maior densidade lexical

Desta maneira podemos constatar então é que o texto falado está sempre em

construção, o planejamento e a verbalização ocorrem simultaneamente no momento

da interação, o contrário do texto escrito cuja elaboração envolve maior tempo para

a produção, revisão e correção, conforme Kock e Elias (2010) falam sobre o quadro

acima:

nem todas essas características são exclusivas de uma ou outra das duas modalidades; - tais características foram sempre estabelecidas tendo por parâmetro o ideal da escrita (isto é, costumava-se olhar a língua falada através das lentes de uma gramática projetada para a escrita), o que levou a uma visão preconceituosa da fala (descontínua, pouco organizada, rudimentar, sem qualquer planejamento) (p.16).

Ao assumirmos a postura de considerarmos a língua como prática discursiva

e social envolvendo dois ou mais interlocutores, sabendo que na oralidade contamos

com o face a face e as expressões corporais que muito nos dizem, a escrita sim

deve ser mais elaborada, porque quem escreve, expressa seu pensamento e suas

intenções, Antunes (2003) também expõe na mesma linha quando diz que:

não existem diferenças essenciais entre a oralidade e a escrita nem, muito menos, grandes oposições. Uma e outra servem à interação verbal, sob a forma de diferentes gêneros textuais, na diversidade dialetal e de registro que qualquer uso da linguagem implica. Assim, não tem sentido a ideia de uma fala apenas como lugar da espontaneidade, do relaxamento, da falta de planejamento e até do descuido em relação às normas da língua padrão nem, por outro lado, a ideia de uma escrita uniforme, invariável, formal e correta, em

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qualquer circunstância. Tanto a fala quanto a escrita podem variar, podem estar mais planejadas ou menos planejadas, podem estar mais, ou menos “cuidadas” em relação à norma-padrão, podem ser mais ou menos formais, pois ambas são igualmente dependentes de seus contextos de uso (p. 99-100).

Os professores de Língua Portuguesa, terão o dever de mostrar para os

educandos as peculiaridades de cada modalidade, respeitando as exigências e

recursos próprios tanto da oralidade quanto da escrita quanto a aquisição desta.

Seria interessante que os professores envolvidos com esta área do conhecimento

estivessem preparados e/ou manifestassem a iniciativa de conceber as práticas de

análise linguística como trabalhos sujeitos a análise e reflexão na organização dos

textos orais e escritos, sempre observando seus interlocutores para que assim o

ensino da gramática seja objeto de ensino, e não apenas pretexto para ensinar a

nomenclatura, relevando o que diz Antunes (2003):

A gramática compreende o conjunto de regras que especificam o funcionamento de uma língua. As pessoas, quando falam, não têm a liberdade total de inventar, cada uma a seu modo, as palavras que dizem, nem têm a liberdade irrestrita de colocá-las em qualquer lugar nem de compor, de qualquer jeito, seus enunciados. Falam, isso sim, todas elas, conforme as regras particulares da gramática de sua própria língua. Isso porque toda língua tem sua gramática, tem seu conjunto de regras, independentemente do prestígio social ou do nível de desenvolvimento econômico e cultural da comunidade em que é falada. Quer dizer, não existe língua sem gramática (p.85).

Isso não significa argumentar que todos os sujeitos falantes da língua saibam

as nomenclaturas e regras específicas, próprias da linguística, muitas vezes utilizam

as regras de uso para deixar o que dizem inteligíveis e interpretáveis sem ao menos

saber as classes a que pertencem. Mas quando esses falantes vão para a escola, e

terão aulas de língua portuguesa, os professores orientarão em suas práticas

pedagógicas as nomenclaturas existentes na língua padrão.

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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao implementarmos uma prática pedagógica sobre Gêneros Textuais, sendo

estes parte do conteúdo básico, e, partindo deste conteúdo para o Discurso como

Prática Social, podemos afirmar que este trabalho pedagógico possibilitou aos

educandos um contato mais íntimo com a língua tanto oral como escrita, e serão

nessas atividades didáticas que os professores propiciarão o desenvolvimento e

possíveis habilidades para essas práticas sociais de uso.

A partir do momento em que nos propomos a implementar planejamentos de

ensino voltados para o desenvolvimento/aprimoramento da oralidade e da escrita

estamos primeiramente nos baseando nas Diretrizes Curriculares Estaduais -DCEs

(PARANÁ, 2008, p.55) que segundo esta, “no processo de ensino-aprendizagem, é

importante ter claro que quanto maior o contato com a linguagem, nas diferentes

esferas sociais, mais possibilidades se tem de entender o texto, seus sentidos suas

intenções e visões de mundo”.

Desta forma, entendemos que a instituição escolar pode colaborar para a

qualificação do processo de ensino e aprendizagem, na medida em que propicia aos

seus professores autonomia para planejarem suas ações pedagógicas e, também ao

fornecer-lhes materiais necessários para o desenvolvimento das atividades, seja em

termos de livros e/ou materiais diversos.

Neste caso em específico, nos direcionamos as aulas de Língua Portuguesa,

as quais a nosso ver podem se tornar mais atrativas, com sentido para os alunos,

quando desenvolvidas a partir do que já conhecem da sua realidade e na medida em

que têm a oportunidade de conhecer a língua e suas variedades linguísticas. Além

de respeitar o modo de falar de cada um, entender a linguagem seja ela padrão ou

não fazendo o uso adequado desta, quer na oralidade, quer na escrita.

Desta forma a proposta que apresentamos também, possibilitou o

desenvolvimento do uso da linguagem com maior ênfase nos gêneros: anúncio

publicitário e panfleto. Acreditamos que trabalhando com gêneros discursivos, meios

de articulações entre as práticas sociais e os objetos escolares de produção,

possamos aprimorar a capacidade de escrita dos educandos, pois de acordo com

Bakhtin (2011, p.262) “a riqueza e a diversidade dos gêneros do discurso são

infinitas porque são inesgotáveis as possibilidades da multiforme atividade humana”.

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Tendo consciência de que os educandos precisam ser orientados quanto à

ação de perceber a necessidade de adequar também a linguagem ao seu contexto

de produção e observar que cada gênero requer um comportamento linguístico e

discursivo adequado, optamos por trabalhar, então os gêneros anúncio publicitário e

panfleto.

Este trabalho foi desenvolvido no Colégio Estadual Leonardo da Vinci, Ensino

Fundamental, Médio, Normal e Profissional– Dois Vizinhos/PR., com alunos do 9º

ano dos anos finais do Ensino Fundamental. O mesmo foi organizado em Módulos

com atividades diversas, tanto orais quanto escritas, com uma carga horária de trinta

e duas horas - aula.

No primeiro Módulo, os educandos escutaram uma música (Be a Ba)

interpretada por Toquinho, responderam algumas perguntas sobre a letra da música

e sobre a língua Portuguesa, depois fizeram uma pesquisa sobre língua, linguagem

e variação linguística, para (re)conhecer as diversidades linguísticas.

No segundo Módulo os educando tiveram contato com vários anúncios

publicitários e panfletos, fizeram análise do conteúdo apresentado nos anúncios e

panfletos expostos em um mural que foi confeccionado na sala de aula, e também

confeccionaram um anúncio com recortes de revista.

No terceiro Módulo foi apresentado diversos textos mostrando o conceito dos

gêneros em estudo, bem como sua função social, também fizeram análise detalhada

de um anúncio e um panfleto respondendo perguntas de inferência. Também foram

desenvolvidas atividades de análise linguística, para que os alunos pudessem

perceber e compreender a necessidade da adequação da linguagem a seu público

alvo.

O quarto Módulo caracterizou-se pelo momento em que os educandos

colocaram em prática o que aprenderam na teoria, produzindo primeiramente a

escrita juntamente com a professora, para depois partir para a prática dos anúncios

publicitários a partir de imagem, impressos, de áudio(spot), áudio visual (vídeo) e

panfletos.

Apresentamos dois gráficos para melhor demonstrar o envolvimento dos

educandos na realização das atividades orais e escritas.

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Primeiro gráfico:

Ao estabelecermos uma análise deste gráfico podemos perceber que nas

atividades escritas, os educandos tiveram um envolvimento maior na prática das

produções dos anúncios e dos panfletos, porque segundo Antunes (2003):

A atividade da escrita é, então, uma atividade interativa de expressão, (ex-, “para fora”), de manifestação verbal das ideias, informações, intenções, crenças ou dos sentimentos que queremos partilhar com alguém, para, de algum modo, interagir com ele. Ter o que dizer é, portanto uma condição prévia para o êxito da atividade de escrever (p.45).

Desse modo, os educandos quando incentivados nas práticas pedagógicas

de escrita, conseguiram interagir com o que já havia sido selecionado previamente,

alcançando assim os objetivos com mais envolvimento e clareza.

Segundo gráfico :

oralidade

escrita

70

75

80

85

90

95 oralidade

escrita

oralidade

escrita

75

80

85

90 oralidade

escrita

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Neste gráfico podemos observar que os educandos tiveram um domínio maior

na linguagem oral, para o desenvolvimento das atividades, nas gravações dos spots

e dos anúncios audiovisual, pois como diz Gomes (2009):

Temos a língua portuguesa como uma entidade social que todos nós, brasileiros, adquirimos como falantes nativos e que a nós pertence, como nos pertence a identidade de sermos brasileiros. É essa identidade que nos faz cidadãos do pleno direito neste país. Contudo, num país de dimensões continentais, com uma rica diversidade cultural, mas com enormes diferenças sociais, os falares se realizam de formas também plurais. A língua que falamos é a mesma, isto é, todos nós usamos o mesmo sistema linguístico chamado português brasileiro. A fala de cada um de nós, no entanto, é diversificada, individualizada, heterogênea (p.65).

Compartilhando com a ideia da autora, foi nas atividades orais, que pudemos

observar uma forte expressão das diferenças culturais e sociais de cada educando,

no desenvolvimento de cada tarefa realizada. Desta maneira, constatamos que na

prática da escrita os educandos tiveram um maior desempenho, mas não dominam

totalmente a língua padrão, cometem erros de concordância e de ortografia, já nas

apresentações orais dominam o discurso oral, mas ainda tem dificuldade de adequar

a linguagem ao contexto de uso.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao término do trabalho de implementação de planejamentos didático-

pedagógicos sobre gêneros textuais como parte das demandas do PDE podemos

argumentar a partir da problemática apresentada, sua discussão e estudo, perceber

que a prática pedagógica, o trabalho do professor diretamente na sala de aula tem

um papel importantíssimo para o crescimento e o desenvolvimento intelecto-social

do educando, poder este também transformador na vida de cidadão.

O uso da língua não serve apenas para comunicar, mas também para

transformar o indivíduo e o ambiente em que este se encontra, como diz Koch e

Elias (2010):

Todos nós falantes/ouvintes, escritores/leitores, construímos ao longo de nossa existência, uma competência metagenérica, que diz

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respeito ao conhecimento de gêneros textuais, sua caracterização e função. É essa competência que nos propicia a escolha adequada do que produzir textualmente nas situações comunicativas de que participamos (p.54).

Pensando desta forma as aulas de Português servem para a prática e trocas

de experiência da língua oral e escrita, proporcionando o aprendizado, a aquisição e

o domínio da Língua Materna. A dinâmica utilizada pelos professores para tais

práticas pedagógicas, é que fará diferença nesta aprendizagem, escolher o assunto,

o conteúdo, elaborar situações para a promoção do mesmo, levando em

consideração o público alvo e os objetivos a serem alcançados.

A sala de aula é o melhor lugar para o desenvolvimento de atividades

didáticas, pois são nas aulas práticas que os educandos colocarão em prática o que

aprenderam na teoria, desenvolvendo as habilidades discursivas tanto orais quanto

escritas nos diferentes contextos de uso, podendo assim o professor atuar como

mediador e transformador destas formas de comunicações.

Neste trabalho podemos perceber o quanto é válido os esforços do professor

para a promoção do conhecimento de seus educandos, o trabalho, ou a tarefa

educacional de ensinar e promover a aprendizagem é contínua, assim há ações que

se tornam permanentes, como a promoção do aprender, e deste modo, buscamos

meios, caminhos e conhecimentos necessários para a continuidade de práticas

pedagógicas que visem implementar qualidade ao processo de ensino e

aprendizagem.

5 REFERÊNCIAS

ANTUNES, Irandré. Aula de Português: encontro & interação. São Paulo: Parábola

Editorial, 2003.

BACK, Eurico. Fracasso do Ensino de Português: Proposta de Solução.

Petrópolis: Vozes, 1987.

BAKTHIN, Mikhail Mikhailovitch. Estética da criação verbal. Prefácio à edição

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São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011.

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BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Educação em Língua Materna: a

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GOMES, Maria Lucia de Castro. Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa.

São Paulo: Saraiva, 2009.

KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e Escrever: estratégias de

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MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a Escrita: atividades de retextualização.

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PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação – SEED. Diretrizes Curriculares da

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Feusp/Univ. Autònoma de Barcelona, 2011.

SIMÕES, Darcilia. Considerações sobre fala e escrita: fonologia em nova chave.

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