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Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 Vivências. Vol. 12, N.22: p.95-106, Maio/2016 95 CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: UM PASSAPORTE PARA O IMAGINÁRIO DA LITERATURA INFANTIL Storytelling: A Gateway to the Children's Literature Imaginary Natana FUSSINGER 1 Alessandra Tiburski FINK 2 RESUMO O presente artigo é oriundo do projeto de extensão “Contação de Histórias: arte, magia e encantamento” que objetivou conhecer como a contação de histórias pode contribuir para o processo de construção do conhecimento, bem como a formação do indivíduo enquanto leitor crítico. Buscou-se, ainda, aprofundar o conhecimento acerca da contribuição da contação de histórias para a formação de leitores, abrangendo desde a educação infantil até os anos iniciais. O projeto de extensão de cunho qualitativo auxiliou nas atividades realizadas pelo Grupo de Contação de Histórias do Curso de Pedagogia da URI - Câmpus de Frederico Westphalen/RS, aprofundando os conhecimentos em torno da arte de contar histórias, bem como elaborando os protocolos de práticas realizadas pelo grupo nas instituições de ensino. Os estudos teóricos e as ações desenvolvidas mostram que a presença da leitura na formação da criança é essencial e a contação de histórias, o ato de declamar poesias, a brincadeira com trava-línguas e cantigas, entre outros, desperta na criança o prazer pela narrativa. Portanto, o projeto ocasionou aos professores envolvidos com esses momentos de contação de histórias e aos acadêmicos voluntários do grupo, a oportunidade de adquirirem conhecimentos e habilidades para contar histórias. Por fim, constatou- se que a contação de histórias é de suma importância no processo de aprendizagem do ser humano, pois além de transformar em magia a história escrita no livro, o contador de histórias encanta a criança com seu jeito alegre e expressivo, tornando-o assim, um leitor assíduo e que reconhece a importância da leitura. Palavras-chave: Literatura infantil. Contação de histórias. Formação do leitor. ABSTRACT The present article is originated from the extension project "Storytelling: art, magic and enchantment" and it aimed to understand how storytelling can contribute to the knowledge construction process and to the formation of the individual as a critical reader. It also aimed to deepen the knowledge about the storytelling’s contribution for the formation of readers, ranging from kindergarten to the initial years. The qualitative extension project sought to assist the activities done by the Storytelling Group that belongs to the Pedagogy Course of URI - Campus of Frederico Westphalen, deepening the knowledge about the storytelling art, as well as elaborating the practices protocols done by the Group in educational institutions. Both theoretical studies and developed actions demonstrate that reading is fundamental to the child’s formation, and they show that 1 Acadêmica do Curso de Pedagogia da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - URI, Campus de Frederico Westphalen/RS. Bolsista do projeto de extensão “Contação de Histórias: arte, magia e encantamento”. E- mail: [email protected] 2 Professora do Departamento de Ciências Humanas da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI, Campus de Frederico Westphalen/RS. Mestre em Educação e Orientadora do Projeto de Extensão “Contação de histórias: arte, magia e encantamento”. E-mail: [email protected]

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Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636

Vivências. Vol. 12, N.22: p.95-106, Maio/2016 95

CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: UM PASSAPORTE PARA O IMAGINÁ RIO DA LITERATURA INFANTIL

Storytelling: A Gateway to the Children's Literature Imaginary

Natana FUSSINGER1 Alessandra Tiburski FINK 2

RESUMO O presente artigo é oriundo do projeto de extensão “Contação de Histórias: arte, magia e encantamento” que objetivou conhecer como a contação de histórias pode contribuir para o processo de construção do conhecimento, bem como a formação do indivíduo enquanto leitor crítico. Buscou-se, ainda, aprofundar o conhecimento acerca da contribuição da contação de histórias para a formação de leitores, abrangendo desde a educação infantil até os anos iniciais. O projeto de extensão de cunho qualitativo auxiliou nas atividades realizadas pelo Grupo de Contação de Histórias do Curso de Pedagogia da URI - Câmpus de Frederico Westphalen/RS, aprofundando os conhecimentos em torno da arte de contar histórias, bem como elaborando os protocolos de práticas realizadas pelo grupo nas instituições de ensino. Os estudos teóricos e as ações desenvolvidas mostram que a presença da leitura na formação da criança é essencial e a contação de histórias, o ato de declamar poesias, a brincadeira com trava-línguas e cantigas, entre outros, desperta na criança o prazer pela narrativa. Portanto, o projeto ocasionou aos professores envolvidos com esses momentos de contação de histórias e aos acadêmicos voluntários do grupo, a oportunidade de adquirirem conhecimentos e habilidades para contar histórias. Por fim, constatou-se que a contação de histórias é de suma importância no processo de aprendizagem do ser humano, pois além de transformar em magia a história escrita no livro, o contador de histórias encanta a criança com seu jeito alegre e expressivo, tornando-o assim, um leitor assíduo e que reconhece a importância da leitura. Palavras-chave: Literatura infantil. Contação de histórias. Formação do leitor. ABSTRACT The present article is originated from the extension project "Storytelling: art, magic and enchantment" and it aimed to understand how storytelling can contribute to the knowledge construction process and to the formation of the individual as a critical reader. It also aimed to deepen the knowledge about the storytelling’s contribution for the formation of readers, ranging from kindergarten to the initial years. The qualitative extension project sought to assist the activities done by the Storytelling Group that belongs to the Pedagogy Course of URI - Campus of Frederico Westphalen, deepening the knowledge about the storytelling art, as well as elaborating the practices protocols done by the Group in educational institutions. Both theoretical studies and developed actions demonstrate that reading is fundamental to the child’s formation, and they show that

1 Acadêmica do Curso de Pedagogia da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - URI, Campus de Frederico Westphalen/RS. Bolsista do projeto de extensão “Contação de Histórias: arte, magia e encantamento”. E-mail: [email protected] 2 Professora do Departamento de Ciências Humanas da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI, Campus de Frederico Westphalen/RS. Mestre em Educação e Orientadora do Projeto de Extensão “Contação de histórias: arte, magia e encantamento”. E-mail: [email protected]

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storytelling, reciting poetry, playing with tongue twisters and songs, among other activities, awake the child to the pleasure of Reading. Therefore, this project provided, to the teachers involved with it and to the group’s volunteers academicians, the opportunity to acquire skills and knowledge to tell stories. Finally, it was observed that the storytelling is very important to the human learning process, because it turns stories into magic and the storyteller delights children with his cheerful and expressive way of communicating, making them assiduous readers, recognizing the importance of reading. Key Words: Children’s literature, Storytelling, Readers Formation.

INTRODUÇÃO

Estimular crianças para que gostem de ler e, consequentemente, torná-los leitores assíduos, para que reconheçam a importância da leitura em tempos que a cibercultura vem ganhando cada vez mais força, é uma grande preocupação que se acentua na área educacional. Além disso, sabe-se que ao ler a criança desenvolve a sua imaginação, amplia o vocabulário, obtém informação, melhora a escrita, compreende aspectos relacionados ao seu cotidiano e, além disso, encontra o prazer que uma boa leitura pode lhe proporcionar.

Pensando nisso, surgiu a necessidade de conhecer como a contação de histórias pode contribuir para o processo de desenvolvimento do conhecimento, bem como a formação desse indivíduo enquanto leitor crítico. Procura-se também, compreender como a contação de histórias pode possibilitar uma aprendizagem prazerosa, interessante e significativa para a criança, bem como um espaço para que ela permita-se brincar, fantasiar e divertir-se com o mundo mágico da leitura.

Sendo assim, o presente artigo traz os resultados que foram sendo construídos ao longo do projeto de extensão “Contação de histórias: arte, magia e encantamento”, que teve como objetivos específicos promover a integração entre a universidade e a comunidade; compreender como a contação de histórias pode dar início a formação do leitor, para que esse se torne um leitor crítico, bem como desenvolver o gosto pela leitura desde cedo; realizar estudos teórico-práticos, que possam vir a auxiliar e dar embasamento teórico no planejamento de atividades relativas ao Grupo de Contação de Histórias do Curso de Pedagogia da URI – Campus de Frederico Westphalen; ampliar o acervo de recursos e materiais para a prática de contação de histórias do Grupo de Contação de Histórias; oportunizar a organização e aplicação de atividades de extensão do grupo já existente, fortalecendo assim sua formação acadêmica. O grupo realizou todo esse trabalho por aproximadamente 5 anos e 6 meses nas instituições de ensino com crianças de Educação Infantil e Anos Iniciais e ainda em eventos da comunidade local e regional, através deste projeto e de outros projetos de extensão, os quais foram ganhando força e conquistando uma demanda significativa de momentos de contação de histórias para o Grupo de Contação de Histórias.

Acredita-se que a arte de contar histórias foi e sempre será um meio importante em nossa sociedade, por transmitir de geração em geração tradições e culturas encontradas presentemente através da Literatura Infantil escrita nos livros e também em meios digitais. De fato a prática de contar histórias não foi esquecida, pois atualmente, permanece encantando os pequenos leitores com sua maneira expressiva, alegre e dinâmica de traduzir o enredo que está escrito nos livros de Literatura Infantil. Isso tudo, desperta o gosto pela leitura desde cedo, o que consequentemente, possibilita a formação de leitores, que reconhecem através dos momentos de contação de histórias a literatura como encanto, prazer e magia e não como obrigação ou simples tarefa escolar.

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DESENVOLVIMENTO

O desenvolvimento da arte milenar de contar histórias tem grande importância para a humanidade. Antes da existência do livro impresso, era através dessa prática que era possível difundir histórias e culturas passadas de geração em geração. A contação de histórias “muito provavelmente tenha sido a primeira manifestação artística surgida depois da linguagem articulada ao longo da história do homem” (CORTES 2006, p. 116).

Desde os tempos mais longínquos o ser humano conta as suas histórias: caçadas, conquistas, encontros, desencontros, lendas, fábulas, causos, anedotas... Enfim, muita coisa boa vem sendo narrada a cada dia, há milênios, nos mais diversos recantos da Terra, em inúmeras línguas, e dialetos, por pessoas de culturas distintas, cada uma expressando uma visão de mundo própria e singular que torna a produção do texto verbalizado um evento único e original. A esse evento chamarei narração ou ato de contar histórias. (MORAES, 2012, p.14)

O contador de histórias do passado contava histórias verídicas para fortalecer as lutas do seu

povo, associada a casos envolvendo a família ou o cotidiano do local que habitavam. Contavam histórias que aprendiam por intermédio de outros contadores, ou até mesmo aquelas que inventavam momentaneamente. Contavam, também, mitos e lendas, utilizados na época para responder aquilo que não poderiam comprovar cientificamente ou que não obtinham explicação. Já os contadores de histórias que atuam em escolas ou, até mesmo, as famílias atualmente, utilizam-se de aparatos literários para esta atividade, resumindo histórias de autores brasileiros ou estrangeiros, não mais no intuito de seguir uma tradição familiar, mas no objetivo de aproximar as crianças cada vez mais do mundo da leitura.

Estudos realizados por Mainardes (2014, p.03) apontam que primeiramente o “[...] contato da criança com o texto acontece oralmente, através da voz de algum familiar, contando contos de fada, histórias bíblicas, histórias inventadas, lembranças da infância e tantas outras.” Isso pode ser feito continuadamente depois nas escolas, no teatro e principalmente pelos contadores de histórias, fazendo com que a criança sinta-se repleta de fatos e acontecimentos que por vezes lhe chama a atenção e desperte em sua vida o hábito, o gosto e o prazer que uma boa história pode lhe proporcionar desde pequena.

A voz tem o poder de seduzir, envolver aqueles que se encontram ao alcance de seu timbre, fazendo-os viajar nas palavras emitidas pela boca de um contador de histórias. A cultura oral existente mundialmente permanece em constante evolução e desenvolvimento, presente em diversas regiões, culturas ou povos, como elemento de informação e transformação das relações humanas. O mundo das oralidades, aliado ao mundo escrito e aos meios de comunicação de massa e novas tecnologias permite que as vozes ou as transcrições atinjam um maior número de pessoas, de mais contadores de histórias e com isso fortalece o poder da voz, da oralidade de onde se originaram as maravilhosas narrativas. (SANTOS, 2010, p.120)

Neste sentido, o contador de histórias tornou-se popular pelo prazer que suas histórias proporcionam. “A criança e o adulto, o rico e o pobre, o sábio e o ignorante, todos, enfim, ouvem com prazer as histórias – uma vez que essas histórias sejam interessantes, tenham vida e possam cativar a atenção.” (TAHAN apud SOUZA, BERNARDINO, 2011, p.237). Essa arte narrativa faz-se necessária sempre, pois transforma o momento lúdico da leitura em uma mistura de aprendizagem e satisfação pela história contada, fazendo deste, um espaço para a apreciação da palavra bem articulada, do vocabulário novo e ainda, um momento de descoberta e realização para a criança. Villardi (1997, p.2) faz uma colocação muito interessante no que tange a formação de leitores críticos, envolvendo significativamente a arte de contar histórias: “[...] para formar grandes

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leitores, leitores críticos, não basta ensinar a ler. É preciso ensinar a gostar de ler. [...] com prazer, isto é possível, e mais fácil do que parece.”

Então, antes mesmo de ensinar a leitura e a escrita, é necessário que a criança seja apresentada à Literatura Infantil de maneira prazerosa e estimulante através da contação de histórias, fazendo-a perceber que mais do que apenas ler para se informar sobre os fatos e sobre o mundo, ela poderá ler para se divertir, se encantar e viajar por tempos e espaços inimagináveis.

Envolvidos pelo encantamento, magia e emoção que a Literatura Infantil proporciona às crianças e demais participantes dos momentos de contação de histórias, o Grupo de Contação de Histórias vem por muitos anos favorecendo momentos de valorização da literatura, cultura, criação e imaginação das crianças de toda a região do Médio Alto Uruguai e ainda, em alguns municípios do estado de Santa Catarina. O grupo, composto por cerca de 15 acadêmicos do Curso de Pedagogia, realizou um belo e significativo trabalho, com o intuito de desenvolver o gosto pela leitura através da contação de histórias.

É importante salientar que o Grupo de Contação de Histórias possui uma identidade própria criada pela orientadora e idealizadora deste, professora Ms. A.T.F, que possui formação no Curso de Pedagogia e Letras e estudos envoltos da área da Literatura Infantil, que são de extrema importância, contribuindo significativamente para a consolidação do mesmo.

Fazendo referência aos aparatos literários, é essencial que estes sejam utilizados de forma lúdica e atrativa. O Grupo de Contação de Histórias é muito elogiado neste quesito pela forma como conduz o seu planejamento e sua apresentação, nos quais são envolvidos vários elementos, que vão além das histórias, abrangendo também cantigas, brincadeiras, poesias, adivinhas, quadrinhas, trava-línguas e muitos outros subsídios que a Literatura Infantil oferece. Tudo isso é apresentado de uma forma lúdico-interativa, organizada dentro de um protocolo interdisciplinar, utilizando-se de vários recursos.

Para comprovar esta afirmação, descreve-se aqui o planejamento para contar histórias, construído pelo grupo, nomeado “Protocolo O Mágico de Óz”. O momento de contação de histórias inicia-se com os contadores um a um subindo ao palco, declamando a poesia “Convite”, escrita por José Paulo Paes. Feito isso, um dos contadores diz que brincar de poesia é muito bom e pede para declamar outra, chamada “Admiração” do autor Kalunga, que é recitada e dramatizada dando vida aos versos.

Logo após, outro contador interrompe falando que conhece uma história escrita pelo autor Ziraldo, em que a professora não tinha um ar muito sério e que era muito, mas muito maluquinha. Ela adorava contar histórias e declamar poesias parecidas como estas ouvidas anteriormente. Fala ainda, que paraos alunos dessa professora, ela parecia entrar voando na sala de aula, como um anjo, e que fazia encantamentos por onde passava. Era maravilhosa, impecável... E assim por diante. Ao final, conta-se que ela trouxe para a sala de aula a história do “Mágico de Óz”.

Neste momento, outro contador se põe a contar a história “O Mágico de Óz” do escritor Lyman Frank Baum, utilizando-se do auxílio do flanelógrafo e imagens referentes à história construída E.V.A3. Na sequência, um novo contador questiona as crianças se gostaram da história e já os convida para a brincadeira do “Boneco de lata” da autora Bia Bedran. Todos devem gesticular seu corpo conforme a sequência da brincadeira.

Terminado a atividade anterior, outro contador, convida o público para conhecer uma história ginasticada que se chama “Boneco de borracha” autor desconhecido. Ao final da história, o mesmo contador convida a todos para cantar e dançar a música “A dança do macaco” dos autores Patati e Patata, proporcionando momento de participação do público ouvinte com os contadores de histórias.

Logo em seguida, um novo contador questiona se o público gostou da música e já começa a falar do amigo espantalho da história “O Mágico de Óz”. Então, para que todos possam o conhecer

3 A borracha E.V.A. é uma mistura de Etil, Vinil e Acetato. É uma borracha não-tóxica que pode ser aplicada em diversas atividades artesanais e, no caso do projeto de extensão, ele é utilizado para a confecção de histórias, máscaras e os mais diferentes recursos para contar histórias.

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melhor, são convidados a brincar de “Meu amigo espantalho”. O contador solicita que cada gesto que ele fizer, todos também façam. As crianças de divertem usando o corpo para gesticular os movimentos.

No próximo momento, outro contador interage, falando que perto do milharal onde o amigo espantalho morava, havia uma fazenda em que uma avó adorava bordar. Então, convida a todos para conhecer esta história em sequência. Para desenvolvê-la é utilizada a música “A avó a bordar” escrita por Helio Zinskind e cantada pelo grupo Cocoricó. São usadas também, imagens coloridas dos personagens em palitoches, tais como a mosca, a aranha, o rato, o gato, o cachorro, a galinha.

Dando continuidade, outro contador interage, convidando a todos para cantar a música “Dona aranha” da coleção Galinha Pintadinha. O público canta e dança, divertindo-se com os contadores no palco. Em seguida, pergunta-se quem gostou da música e pede-se para quem gostou mais ainda, bater o pé no chão e o contador aproveita este momento de alegria e convida a todos para cantar mais uma música que fale de animais. Ela é adaptação da cantiga “Atirei o pau no gato” aonde além do gato, há outros animais como o pato, a vaca, a cabra, o leão e o porco, adaptação essa, muito usada pelo autor Kalunga.

No último momento, um dos contadores entra em cena falando que chega de cantar músicas, que agora é hora de poesias. Poesias estas, preferidas da professora maluquinha. Então, declama a poesia “O peru” de Vinícius de Moraes, depois “O elefantinho” também de Vinícius de Moraes e por último “Passarinho fofoqueiro” de José Paulo Paes. Neste momento, os contadores agradecem ao público e saem dando tchau.

Em relação à arte de histórias, destacam-se as seguintes palavras de Ramos (2011, p. 28):

As palavras proferidas pelo autor são como as linhas desenhadas pelo ar. Enquanto o contador liberta as palavras presas no texto, o ouvinte, leitor indireto do texto narrado, vai criando e interpretando os desenhos, adentrando-se em um mundo mágico e tornando-se co-autor da história.

Para que os momentos de contação de histórias se tornassem ainda mais interativos, foram construídos vários materiais utilizados para contar histórias, tais como: histórias ilustradas em E.V.A., livros seriados, TV pedagógica, flanelógrafos, palitoches, histórias e materiais ilustrativos em tecido, pinturas, E.V.A, bichos de pelúcia, caracterização de personagens, coletânea de músicas infantis que contemplem os temas das histórias, quadrinhas, adivinhas e trava-línguas em cartões, caixas surpresas, fantasias, macacões e bonés bordados e pensados especialmente para o Grupo de Contação utilizar nos momentos de contação de histórias.

Em face ao que foi relatado, o Grupo de Contação de Histórias vem desenvolvendo suas atividades a aproximadamente 5 anos e 6 meses através de projetos de extensão, atendendo um número significativo de crianças e adultos e abrangendo vários municípios da região de Frederico Westphalen/RS. O projeto de extensão aqui em questão, atendeu no seu primeiro ano aproximadamente 2.500 crianças da educação infantil e anos iniciais e cerca de 500 adultos, totalizando 15 momentos de contação, percorrendo dentro disso, 9 municípios da região, tais como São Pedro das Missões/RS, Trindade do Sul/RS, Rio dos Índios/RS, Pinheirinho do Vale/RS, Gramado dos Loureiros/RS, Rodeio Bonito/RS, Pinhal/RS, dentre outros, além de estar presente no Encontro das escolas do Curso Normal em Frederico Westphalen, Sabadão dos Negócios em Frederico Westphalen, Feira do Livro de Frederico Westphalen, Mateada da URI em Frederico Westphalen, no PROMENOR em Frederico Westphalen e na Ação Social do Exército também em Frederico Westphalen, além de escolas do município de Frederico Westphalen/RS. Desde o início do segundo ano do projeto, de agosto de 2014 até julho de 2015, foi possível constatar que o Grupo realizou 19 momentos de contação de histórias, abrangendo mais de 1.600 crianças e cerca de 150 adultos que acompanharam as crianças durante estes momentos, percorrendo o município de Frederico Westphalen/RS e região, tais como Caiçara/RS, Tenente Portela/RS, Vista Alegre/RS,

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Palmitinho/RS, Taquaruçu do Sul/RS, Redentora/RS, Caíbi/SC dentre outros, também marcando presença na Expofred 2014 em Frederico Westphalen/RS, Feira do Livro em Frederico Westphalen/RS, Feira do Livro em Redentora/RS , Casa de Acolhimento Lar São Francisco em Frederico Westphalen/RS e desenvolvendo atividades de Ação Social na URI em parceria com a Brinquedoteca também da Instituição de ensino. Portanto, em dois anos de projeto, contabilizamos aproximadamente 34 momentos de contação de histórias, envolvendo aproximadamente 4.850 sujeitos em vários municípios da região.

É importante mencionar a questão de um novo leitor que vem se construindo, não só leitor de livros e textos, mas um leitor navegador, que tem colocado novos desafios para a escola e para quem se propõem a trabalhar com a área da formação do leitor. É nesse cenário, que trazemos a arte de contar histórias, que ao contrário do que possa parecer, vem ganhando força nos tempos atuais, com um novo jeito, novas roupagens, dinâmicas e recursos, vem ocupando espaços em escolas, eventos, feiras, congressos entre outros. Para Busatto (2006) os contadores de histórias contemporâneos se manifestam de várias maneiras, com recursos variados, com roupas coloridas e o momento da contação se torna muitas vezes uma espécie de espetáculo.

Eles chegam de todas as partes: Norte, Sul, Leste, Oeste. Vêm vestidos de vermelho, azul e amarelo; fitas coloridas penduradas pelo corpo; vêm com jeito de palhaço ou de princesa; outros vestidos de si próprios. Alguns trazem consigo instrumentos sonoros, músicos e cantores; outros são eles próprios músicos e cantores; alguns portam malas, bonecos, fantoches, panos, chapéus, tapetes, bonés, caixas de fósforos, mímica, humor; outros nada trazem, apenas vão chegando, contando, cantando, deixando leitura, múltiplas leituras aos seus ouvintes hipnotizados. Eles estão por toda parte: escolas, bibliotecas, creches, asilos de idosos, abrigos de crianças, de jovens, hospitais, feiras, congressos. Organizam-se em encontros, festivais, associações e rodas. Fundam espaços, ministram cursos, mantêm páginas da web, fórum de discussão virtual e cobram, muitas vezes, altos preços pela sua atuação. Eles são contadores de histórias do século XXI. Estão presentes nos quatro cantos do mundo. (BUSATTO, 2006, p. 26)

Então, partindo dessa perspectiva, consideramos que discutir e aprofundar os conhecimentos dessa arte milenar e que vem renascendo a cada época, também é atual e relevante, pois quando a criança é apresentada por meio das práticas de contação de histórias, ao mundo das palavras através da literatura infantil e da maneira expressiva de contar histórias, de forma lúdica e prazerosa, participando do texto, da história, sentindo emoções, transportando-se para o mundo imaginário, sem distanciar-se do real, esta com certeza encontra sentido para as palavras, passando a ver que a leitura é mais do que ler um amontoado de palavras, é magia, é prazer, fantasia e realidade. (FINK, 2001, p. 17).

Contar histórias é despertar o gosto pela narrativa, é fazer brotar no ouvinte a imaginação de símbolos que lembram sua relação com o mundo e a sociedade em que estão inseridos. Abramovich (2001, p. 24) em seus estudos expõe que:

Ouvir histórias é viver um momento de gostosuras, de prazer, de divertimento dos melhores... É encantamento, maravilhamento, sedução... O livro da criança que ainda não lê é a história contada. E ela é (ou pode ser) ampliadora de referenciais, poetura colocada, inquietude provocada, emoção deflagrada, suspense a ser resolvido, torcida desenfreada, saudades sentidas, lembranças ressuscitadas, caminhos novos apontados, sorriso gargalhado, belezuras desfrutadas e as mil maravilhas mais que a história provoca... (desde que seja boa). Contar histórias é uma arte... e tão linda!!! É ela que equilibra o que é ouvido com o que é sentido, e por isso não é nem remotamente declamação ou teatro... Ela é o uso simples e harmônico da voz.

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Além de um momento de prazer, divertimento e ludicidade, a contação de histórias também é um momento de aprendizagem, uma vez que, quando a criança ouve uma história ela é capaz de perceber que esta possui início, meio e fim, o que a auxiliará mais tarde a elaborar um texto em suas estruturas. Além disso, o desenho, o teatro, a escrita, a criatividade, etc. podem nascer da audição de uma história bem contada.

Em seguida, algumas fotos das práticas realizadas pelo Grupo de Contação de Histórias da URI/FW neste último ano do projeto:

Tenente Portela/RS Taquaruçu do Sul/RS

URI – Frederico Westphalen/RS Redentora/RS

Frederico Westphalen/RS Feira do Livro – Frederico Westphalen/RS

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Além da proposta de aprendizagem para as crianças na formação de leitores críticos, durante a realização dos momentos de contação de histórias, foi possível contribuir com a formação acadêmica da bolsista e dos alunos voluntários contadores de histórias do Curso de Pedagogia da URI/FW. Também, o grupo serviu de exemplo e motivação para muitos professores da rede pública e privada de ensino, mostrando que o ato de contar histórias é muito importante e precisa ser bem elaborado.

O contador de histórias através de sua maneira expressiva de narrar, estimula na criança o prazer e o encantamento que uma boa história pode lhe proporcionar. Além disso, cativa entre o seu público o gosto pela leitura, permitindo que eles se tornem sujeitos cada vez mais ativos e responsáveis pela construção de seus conhecimentos. Nesse aspecto, pontua-se que:

Antes que possam ler sozinhas as crianças devem escutar histórias, a fim de desenvolver o interesse pelos livros e conscientizar-se da variedade de livros disponíveis. Quando estão aprendendo a ler, a escuta de histórias funciona como uma influência modelizadora para a leitura. Essa atividade possibilita a experiência com o fluxo das palavras para formar os significados. As crianças vivenciam o prazer e os sentimentos criados pela leitura. Por outro lado, a leitura tem como finalidade a formação de escritores, não no sentido de profissionais da escrita, mas de pessoas capazes de escrever adequadamente. Assim, ela fornece a matéria – prima para a escrita (o que escrever), além de contribuir para a constituição de modelos (como escrever). (KUHLTHAU apud BARBOSA, SANTOS, 2009, p.26)

Neste sentido, a escolha do enredo que será contado é muito importante para que a prática de contar histórias seja um sucesso. E que, além de um momento de prazer, divertimento e ludicidade, a contação de histórias seja também um momento de aprendizagem. Quanto a isso, Sisto (2012, p. 25) escreve que:

O momento de escolher uma história pra contar é muito importante. Critério indispensável é o que leva em conta a qualidade literária (o trabalho com a linguagem escrita) do texto que vai ser contado. Então, abrir espaço para o lúdico, para o humor, sem deixar de observar a força e a coerência dos personagens, atentar para a magia e a fantasia ou o real entremeando os diálogos fluidos e ricos. É sempre bem-vinda a sugestão poética perpassando o texto e tocando a sensibilidade do ouvinte!

Na escolha da história, devem-se observar alguns aspectos importantes antes de ocorrer a contação de histórias. O primeiro aspecto a ser considerado na escolha de uma história é a motivação do contador em contá-la, pois não há como mostrar ao ouvinte amor pelas histórias se não transmitir isso através do sentimento que tem ao contar. Outro aspecto é a adequação da história à faixa etária de quem ouve e, para que isto seja possível, o contador deve saber qual será o seu público no momento em que irá preparar-se para contar a história. Deve ser considerado, ainda, qual é a mensagem que se quer passar ao contar determinado enredo. A credibilidade é mais um aspecto importante, pois quando se conta uma história é necessário que o ouvinte acredite que ela realmente aconteceu, seja com o próprio contador ou que ele tenha sido testemunha ocular do ocorrido.

Neste sentido, atenta-se ao perfil dos contadores de histórias, pois para que a magia tome conta do momento, é preciso haver olho no olho, intimidade e cumplicidade com o ouvinte de uma história bem contada, reconhecendo sempre que “O bom contador de histórias conhece a sua história de cor e salteado.” (BARRETO, 2003, p.4). Deve-se ainda atentar-se aos detalhes gerais do local de contação, que são essenciais para que o momento torne-se ainda mais mágico.

[...] um ambiente arejado, aconchegante, silencioso, tranquilo, isento de elementos que dispersem a atenção dos ouvintes, [...] e com espaço e luminosidade adequados tanto ao que

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se deseja apresentar como ao número de ouvintes e aos objetivos que se almeja alcançar [...]. (MORAES, 2012, p.43)

Além disso, para que o encantamento com a arte de contar histórias aconteça, o contador deve ter alguns cuidados essenciais, tais como: transpor sentimento, ter expressividade, segurança no que conta, cuidar com a tonalidade da voz, ter habilidade de improviso, observar o clima, o local, a luminosidade, o ritmo da história e marcar o clímax, ficar atento aos vícios de linguagem, às pausas e ao silêncio na hora de contar histórias, ceder espaço para que a criança participe e prestar atenção na escolha dos recursos que irá utilizar.

Então, quando se fala em uma contação de histórias que seja atraente e que envolva a participação da criança, fala-se também da escolha de recursos para contar. A narração de uma história poderá ter diversas técnicas como suporte, envolvendo também “o movimento, a música, o riso e o lúdico” (RAMOS, 2011, p.35), cada qual se constituindo em um novo olhar para a história ampliando o mundo imaginário da criança.

O autor e contador de histórias Sisto (2012, p. 23) escreve sobre o público ouvinte de uma história bem contada:

[...] vamos experimentar convidar algumas pessoas. Sim, pessoas! Aquelas que ainda podem ouvir algo mais que suas próprias vozes e que são capazes de acolher palavras, no silêncio preenchido por uma pausa, um gesto, um olhar. Juntá-las em semicírculo e ficar bem próximo a elas - a distância necessária para que cada uma sinta-se única sem prescindir do grupo - e, então, deixar o olhar fitar o avesso e ir-se derramando, palavra por palavra, no córrego da emoção. É esse o primeiro passo para acordar a imaginação. Então contar de reis e rainhas, príncipes e princesas, gnomos e duendes, meninos e meninas, animais falantes e coisas de outro mundo e coisas desse mesmo mundo, só que contadas com jeito de quem viu ou viveu o que fala e repete a história com emoção renovada a cada vez. Sim, porque contar histórias depende muito também de quem ouve. As crianças se encantam com o possível e o impossível. Os adultos se encantam em vislumbrar um caminho que lhes devolva o sonho.

O contador deve aproximar o público desse momento, o qual é rico de imaginação, fantasias e encantamento, proporcionando à criança uma interação com o enredo abordado, despertando seu interesse pela atividade e estimulando o interesse em ouvir. Para que o contador tenha essa habilidade é preciso de muito estudo, leitura e dedicação, pois é necessário conhecimento teórico-prático, buscando novos recursos e novas formas de contar histórias.

Ainda, quanto a contar histórias e fazer interações em grupo, Sisto (2012, p. 63) argumenta que

Para quem está ouvindo, é sempre superbenéfico ouvir histórias em diferentes vozes, com maneiras diferentes de quem conta, com ritmos diferentes, com expressões gestuais de plasticidades diferentes, o que renova a atenção da plateia e mantém a dinâmica de uma apresentação.

A dinâmica entre os contadores diante do público infantil deve acontecer de maneira uniforme. Para que isso possa ser possível, é necessário que haja muito ensaio entre o grupo, preparação teórica no que se refere ao ato de contar histórias, ter domínio do conteúdo da parte que vai apresentar às crianças, escolher o que se sente mais seguro em realizar, seja contando uma história ou conduzindo uma brincadeira, o que vem se percebendo ao longo das práticas realizadas pelo Grupo de Contação de Histórias aqui descritas e construídas através deste projeto de extensão.

É importante ressaltar aqui, que mesmo sendo sujeitos que vivem numa sociedade com inúmeros estímulos tecnológicos e midiáticos, é nítida a reação de tristeza das crianças quando se

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anuncia o término de um protocolo de contação de histórias. Esse tem sido um ponto marcante de nossas experiências, pois contamos histórias, brincamos com elas, cantamos, usamos recursos literários, simplistas se comparados aos meios televisivos e tecnológicos e mesmo assim somos presenteados com plateias grandes, entusiasmadas e vibrantes com as histórias que ali vão ganhando vida. Esse também tem sido um ponto de reflexão teórica, pois evidencia a importância do contador de histórias preparar-se para desenvolver a contação de histórias e possibilitar com ela momentos em que as crianças possam divertir-se, fantasiar, imaginar, descobrir palavras novas, deparar-se com os vários tons e alterações de voz que há durante a prática, objetivando estimular o interesse da criança pela leitura e buscando qualificar a formação dela enquanto leitor e admirador de uma história bem contada.

Ah, como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias... Escutá-las é o início da aprendizagem para ser um leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo. (ABRAMOVICH apud BARBOSA, SANTOS, 2009, p. 24)

Foi possível perceber durante os momentos de contação de histórias o brilho no olhar das crianças, o seu encantamento pelas atividades realizadas, a alegria com as brincadeiras e histórias, a participação quando eram convidadas, a imaginação aflorada quando acreditavam que aqueles personagens estavam ali presentes, que as mágicas realmente aconteciam. Pode-se relatar, ainda, a tristeza estampada no rosto do público infantil no momento em que se encerrava o protocolo de contação. Todos estes aspectos observados nas crianças também foram percebidos nos adultos que acompanhavam estas crianças nos momentos de contação de histórias.

Todos estes estudos têm contribuindo efetivamente tanto nas práticas realizadas pelo grupo quanto para a bolsista e demais integrantes voluntários do grupo de contação de histórias enquanto acadêmicos do Curso de Pedagogia, aprimorando a sua prática docente, no intuito de que tragam para a sala de aula os conhecimentos encontrados através das leituras teóricas, bem como os recursos para contar histórias, as histórias novas e, principalmente, o entusiasmo de poder proporcionar às crianças momentos maravilhosos de descontração, fantasia, magia e encantamento.

CONCLUSÃO

Através da realização dos objetivos propostos, analisou-se que os estudos e práticas realizadas mostram que a presença da leitura na formação da criança é essencial. A contação de histórias, o ato de declamar poesias, a brincadeira com trava-línguas e cantigas, entre outros, abre espaço para que a criança possa adquirir novos conhecimentos, sentir emoções e viajar por mundos conhecidos e desconhecidos e, principalmente, incentiva a criança a querer ler cada vez mais.

Neste sentido, tornou-se oportuno para o contador de histórias, estimular na criança o desenvolvimento de habilidades que envolvam, a oralidade, o vocabulário, a criticidade, dentre outras, que resultaram em uma imaginação mais rápida e consciente por parte deste público ouvinte. Sendo assim, foi possível que através desta magia e encantamento, as crianças pudessem vivenciar e interagir com as histórias e demais recursos, ampliando seu repertório literário e linguístico.

Assim, cabe ao exímio contador de histórias, transpor para a criança a beleza, a magia, o prazer e a satisfação que a boa leitura pode proporcionar, e aliar tudo isso a um aprendizado, inicialmente não formal, mas que incentive o gosto pela leitura e pela contação de histórias, tanto no ambiente escolar quanto fora dele.

O tempo do contador de histórias é mágico, não pode ser mensurado com o relógio ou pelas areias de uma ampulheta. Neste tempo mágico, o contador de histórias faz com que as

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pessoas que ouvem a sua voz esqueçam de seu próprio tempo. Relógios e areias se perdem e se quebram, enlouquecidos com as palavras, os gestos e a voz que lhes chega aos ouvidos mecânicos das engrenagens ou cheios de areia da ampulheta. Quando a voz do contador de histórias traz a oralidade para os públicos atuais faz com que as pessoas se desliguem do ritmo alucinado e frenético que tomou conta de nossa sociedade. (SANTOS, 2010, p.117)

No decorrer do aprofundamento teórico do projeto e das práticas de contação de histórias nos permitimos refletir o apontamento de Benjamin (1994, p. 197) quando fala que “[…] a arte de narrar está em vias de extinção. São cada vez mais raras as pessoas que sabem narrar devidamente”, concluindo que apesar da época em que estamos vivendo, de leitores que já nascem em uma sociedade tecnológica, repleta de estímulos midiáticos, visuais e que o contado deles não é mais apenas como o texto escrito, mas com outros tipos de textos, visualizamos com alegria e entusiasmo que o que Benjamim (1994) anunciava em seus estudos, que poderia estar delimitando uma possível extinção da arte narrativa, ao contrário, vem se configurando um novo tempo na arte de contar histórias e um novo perfil de contadores de histórias vem se construindo.

Portanto, o essencial é assumir realmente o papel de contador de histórias, sem medo, sem inseguranças e, acima de tudo, ser expressivo ao extremo e ter amor pelo que faz, dando à criança o seu testemunho de que ler é algo prazeroso, gostoso, divertido e extremamente encantador.

E, para isso, quem conta tem que criar o clima de envolvimento, de encanto... Saber dar as pausas, o tempo para o imaginário da criança construir seu cenário, visualizar os seus monstros, criar os seus dragões, adentrar pela sua floresta, vestir a princesa com a roupa que está inventando, pensar na cara do rei e tantas coisas mais. (CORTES, 2006, p. 82)

Sabe-se da relevância da leitura para a vida das pessoas nesse mundo complexo e globalizado que se vive hoje. Acredita-se que a prática da contação de histórias, seja o primeiro passo para a formação do leitor, tomando-se as possibilidades que a Literatura Infantil oferece, como um meio para iniciar a talhar os caminhos da leitura desde cedo e os prazeres e oportunidades de aprendizagem que ela pode oferecer.

Por fim, pode-se afirmar que os tempos mudaram. Os leitores não são mais os mesmos, o processo de formação desse leitor se dá em diferentes espaços e não mais apenas com o texto e o livro impresso, mas que contar histórias continua sendo uma arte e das melhores e mais significativas, que fica marcada tanto para quem conta quanto para quem ouve, principalmente quando a história é boa e capaz de emocionar. Como é gratificante para o contador de histórias perceber o encanto na expressão das crianças, como é perfeito mexer no imaginário delas e observar como isso traz efeitos positivos, transformando o momento lúdico da leitura em uma mistura de aprendizagem e satisfação pela história contada, fazendo deste, um espaço para a apreciação da palavra bem articulada, do vocabulário novo e ainda, um momento de descoberta e realização para a criança.

Por mais tecnologia que exista à nossa volta, o poder mágico das histórias ainda permanece. Contar histórias ainda é uma atividade que envolve as pessoas que se encontram ao redor do contador de histórias. Por mais atentas aos meios de comunicação de massa ou ao uso de computadores, quando iniciamos a contação, utilizando vozes, corpo, sons, cantigas, etc. até aquele mais resistente, aos poucos se vê fisgado pelas tramas da história. (SANTOS, 2010, p.120)

Avanços tecnológicos e midiáticos, ciberespaços, leitor-navegador? Uma ameaça ao “Era uma vez”? Ao “E viveram felizes para sempre”? Pensamos que não, mas novos espaços, novos recursos,

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que podem se tornar aliados, fonte de estudo e pesquisa teórico-prática para os contadores de histórias da atualidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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