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Consumo de Substâncias Psicoactivas no Local de Trabalho: a perspectiva da saúde ocupacional Prof. Doutor Carlos Silva Santos Dr. Nuno Simões Lisboa, 20 de Outubro 2016

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Consumo de Substâncias Psicoactivas no Local de Trabalho: a perspectiva da saúde

ocupacional

Prof. Doutor Carlos Silva SantosDr. Nuno Simões

Lisboa, 20 de Outubro 2016

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Substâncias Psicoactivas

Depressoras – Álcool, Opiáceos e Fármacos sedativo -hipnóticos

Estimulantes – Anfetaminas, Cocaína, Nicotina e Cafeína

Perturbadoras – LSD e Canabinóides

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Padrões de Consumo de SubstânciasConsumo de Risco – Pode ser ocasional ou continuado. Aumenta a probabilidade de ocorrência de doenças, acidentes, lesões transtornos mentais ou de comportamento.

Consumo Nocivo – Provoca danos à saúde física e mental mas não preenche os critérios de dependência.

Dependência– Doença primária, crónica, progressiva e potencialmente fatal.Caracteriza-se por perda de controlo do consumo, permanente ou temporária e acompanha-se de distorções cognitivas, com particular ênfase para a negação.

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Consumos no Local de TrabalhoFactores inerentes a determinadas condições de trabalho são susceptíveis de afectar negativamente a saúde dos trabalhadores, comportando múltiplos factores de risco e potenciando o consumo de substâncias psicoactivas.

Consequências:

•Prejudicam a aptidão para o desempenho;

•Colocam em risco a integridade física dos trabalhadores e do equipamento;

•Geram um fardo administrativo e ocasionam problemas financeiros;

•Criam uma imagem negativa, desacreditando e desprestigiando a organização.

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Alertas para a necessidade de intervenção do SST/SSO

Perda de produtividade e diminuição da qualidade do trabalho;

Falta de pontualidade e absentismo inexplicável;

Indisciplina, comportamentos desadequados ou conflitos laborais;

Situações de risco que ponham em causa a segurança do próprio e/ou de terceiros;

Aumento da sinistralidade laboral;

Nº de casos observados superior ao esperado;

Situações críticas identificadas pelos trabalhadores ou chefias.

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Intervenção do Serviço de Saúde Ocupacional

Em situações de consumo de risco ou abusivo, a empresa, através do SST/SSO deve organizar um programa de prevenção específico constante do Plano do SST da empresa, com as seguintes componentes:

•Caracterizar as situações problema;

•Estabelecer regras de encaminhamento de casos para tratamento secundário;

•Estabelecer medidas efectivas de melhoria das condições de trabalho na empresa;

•Em situações justificáveis elaborar um regulamento interno de rastreio e prevenção do consumo de substâncias psicoactivas.

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Princípios orientadores da intervenção em meio laboral

•Levar a cabo programas de sensibilização, informação, educação e formação sobre substâncias psicoactivas;

•Prevenir e tratar os problemas ligados ao consumo de substâncias psicoactivas;

•Tratar a dependência como uma doença no que respeita a incapacidade temporária, subsídio de doença e outros benefícios sociais;

•Promover a aceitação voluntária do trabalhador relativamente ao tratamento e reabilitação;

•Assegurar a confidencialidade.

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Prevenção do consumo de substâncias

• Da responsabilidade dos serviços de saúde do trabalho da empresa;• Deverá ser executada nas instalações dos serviços de saúde do trabalho existentes na empresa ou da empresa prestadora externa;• A efectuar pelo médico ou enfermeiro;•Com conhecimento e cooperação do trabalhador;

O Programa de prevenção deverá incluir:

• Sessões formativas rápidas, dirigidas aos trabalhadores, com informação relativa ao uso e abuso de substâncias psicoactivas;

• Constituição de comissões paritárias alargadas de trabalhadores, SSO e representantes da administração, para desenvolver e acompanhar o programa de prevenção.

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Como devem ser encarados estes problemas pelo empregador?

•É importante assegurar que os trabalhadores que desejem ser alvo de intervenção clínica:

Não sejam objecto de discriminação por parte do empregador;

Tenham garantias de manutenção do posto de trabalho enquanto estiverem em tratamento, ou seja garantida a sua transferência para outras funções, que não constituam risco para a sua segurança ou de terceiros, sem perda de direitos ou regalias;

Gozem das mesmas oportunidades de promoção dos seus pares.

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Auto-avaliação de consumo de álcool

Teste Audit C (Alcohol Use Disorders Identification Test – Consumption)

A quem recorrer?

Médico do trabalho ou médico de família > Unidades de alcoologia ou Centros de Respostas Integradas

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Actuação do médico do trabalho perante um caso agudo

•Após tomada de conhecimento de situação suspeita ou declarada, o exame médico é efectuado pelo médico do trabalho.

•Caso se verifique, através de avaliação clínica, tratar-se de um caso de abuso, poderá ser feito eventual teste, no sentido de comprovar o consumo de determinada substância e com a finalidade de avaliar a sua interferência na capacidade de trabalho e nas condições de segurança.

• A decisão sobre a aptidão para o trabalho é tomada pelo médico do trabalho após a avaliação da capacidade de trabalho.

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Actuação do médico do trabalho perante um caso ou situação diagnosticada de abuso

Em situação crónica/continuada ou aguda repetitiva:

• Estabelecer o diagnóstico da situação do trabalhador em questão;

• Elaborar plano individual de adesão para tratamento na empresa (se a empresa tiver meios) ou;• Referenciar os casos de doença (consumidor excessivo ou dependente) para o médico assistente/serviços especializados;

•Acompanhar o tratamento, que pode exigir ausência temporária ao trabalho;

•Aumentar a frequência de exames de saúde em casos específicos;

• Se necessário propor a mudança para posto de trabalho que não comporte risco para o próprio ou para terceiros;

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Resultados dos exames de saúde/aptidão em situação de uso ou abuso

O trabalhador é considerado: apto, apto condicionalmente, inapto temporariamente ou inapto,

segundo critérios próprios da medicina do trabalho, que levem em conta as características próprias de cada trabalhador e as características de cada posto de trabalho.

A decisão deve ser dada a conhecer ao trabalhador.

O médico do trabalho comunica esta decisão à administração nos termos da ficha de aptidão.

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• As situações de abuso devem ser encaradas como situações de doença, garantindo-se a confidencialidade das mesmas.

• O SSO deverá desenvolver, perante estas situações, amplas campanhas de sensibilização, formação e informação a todos os trabalhadores, particularmente junto das chefias, por forma a serem elo de ligação entre os SSO e os trabalhadores.

• Há necessidade de elevar o conhecimento e o saber para a acção, nesta matéria, tanto dos médicos como dos enfermeiros do trabalho, pois a complexidade do problema dos consumos abusivos de substâncias psicoactivas exige conhecimento técnico específico e qualificado para intervir com sucesso, sendo imperativo o reforço da formação aos profissionais desta área.

• Sem uma adequada rede de apoio e referenciação em matéria de consumo de substâncias psicoactivas, o médico do trabalho poderá sentir-se isolado e incapaz de responder adequadamente ao problema.

Conclusões

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Conclusões

Na perspectiva da SO que valor atribuir aos regulamentos de controlo de substâncias psicoactivas no local de trabalho?

Os regulamentos devem ser instrumentos tripartidos (Administração, Trabalhadores e SSO) de actuação sobre o problema.

•Em situações muito graves, que necessitem de uma intervenção alargada.

•O eventual regulamento de controlo dos consumos será sempre COMPLEMENTAR ao plano de prevenção do consumo de substâncias psicoactivas.

•O regulamento deverá traduzir sempre um compromisso entre as partes e a garantia da entidade patronal ser parte activa nos custos de diagnóstico, tratamento e reabilitação dos trabalhadores.

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Bibliografia

•Direcção-Geral da Saúde (2013) . Intervenção dos Serviços de Saúde do Trabalho no âmbito da prevenção do consumo de substâncias psicoactivasem meio laboral. Informação Técnica 5/2013.

•Regulamento nº 18/2016 de 7 de Janeiro. Diário da República, 2ª série – Nº 4. Lisboa

•CASTRO, Mário Ferreira et al. Segurança e Saúde do Trabalho e Prevenção do Consumo de Substâncias Psicoactivas: Linhas Orientadoras para Intervenção em Meio Laboral. SICAD: Lisboa, 2014.

•Consumo de Substâncias psicoactivas: Reflexos em Meio Laboral. Guia Prático para a Intervenção em Micro, Pequenas e Médias Empresas. GRIML/SICAD, Doc mimeografado, s/d.