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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO ESCOLA DE NUTRIÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE E NUTRIÇÃO CONSUMO DE ALIMENTOS ULTRAPROCESSADOS E PROTEÍNA C- REATIVA NO ESTUDO LONGITUDINAL DE SAÚDE DO ADULTO (ELSA-BRASIL) ALINE ESTER DA SILVA CRUZ OURO PRETO, MINAS GERAIS 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

ESCOLA DE NUTRIÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE E NUTRIÇÃO

CONSUMO DE ALIMENTOS ULTRAPROCESSADOS E

PROTEÍNA C- REATIVA NO ESTUDO LONGITUDINAL DE

SAÚDE DO ADULTO (ELSA-BRASIL)

ALINE ESTER DA SILVA CRUZ

OURO PRETO, MINAS GERAIS

2016

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ALINE ESTER DA SILVA CRUZ

CONSUMO DE ALIMENTOS ULTRAPROCESSADOS E

PROTEÍNA C-REATIVA NO ESTUDO LONGITUDINAL DE

SAÚDE DO ADULTO (ELSA-BRASIL)

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Saúde e Nutrição da Universidade

Federal de Ouro Preto, como requisito parcial para

obtenção do título de Mestre em Saúde e Nutrição.

Área de Concentração: Saúde Coletiva

Orientadora: Profa. Dra. Luana Giatti Gonçalves

OURO PRETO, MINAS GERAIS

2016

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AGRADECIMENTO

Agradeço ao meu amado e bondoso Deus por me conceder mais uma vitória na Terra,

cumprindo assim mais uma das muitas promessas que me fizeste. A Deus também sou

grata pela proteção durante essa caminhada e por ter me guardado no teu santo caminho.

Ao meu esposo, um homem sábio e prudente que não só apenas me apoiou em todos os

momentos, como também me motivou e aconselhou nos momentos de dificuldades e

tristezas, e não hesitou ao ter que abdicar de algo para que essa vitória fosse possível.

Aos meus pais e familiares, que me deram grandes exemplos de sabedoria e educação que

me fizeram chegar até aqui.

Aos meus irmãos em Cristo Jesus deixo os meus sinceros agradecimentos, pelas orações

e pela compreensão nos momentos de ausência.

À professora Luana Giatti Gonçalves, pela oportunidade de crescimento e aprendizado,

orientação, dedicação e imenso carinho.

Aos professores e colegas do Programa de Pós-Graduação em Saúde e Nutrição. Em

especial à Jacira Sá e Acácia Oliveira.

Aos pesquisadores, a equipe e os voluntários do ELSA-Brasil. Em especial à Drª. Larissa

Fortunato Araújo pelas orientações.

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“Tudo posso Naquele que me fortalece”

(Filipenses 4.13)

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RESUMO

INTRODUÇÃO: Os produtos alimentícios ultraprocessados são formulações

industriais, constituídos em sua maior parte de vários ingredientes, aditivos e

conservantes industriais. Além disso, os ultraprocessados possuem baixo teor de

micronutrientes e fibras, e elevada densidade de energia, gorduras saturadas, trans e

açúcares. Padrões alimentares e dietas, que possuem características nutricionais similares

aos ultraprocessados, têm sido associadas à maiores níveis de biomarcadores de

inflamação dentre os quais a Proteína C-reativa (PCR). É possível que a elevada ingestão

desses alimentos possa desencadear uma inflamação de baixo grau, que pode torna-se

crônica e eventualmente levar à fatores de risco para doenças cardiovasculares e o

diabetes tipo 2. Contudo, poucos estudos investigaram a associação entre o consumo

elevado de alimentos ultraprocessados e desfechos de saúde, sendo a sua associação com

marcadores inflamatórios ainda desconhecida. OBJETIVO: O objetivo da presente

dissertação foi investigar se o consumo elevado de alimentos ultraprocessados está

associado ao aumento nos níveis de Proteína C-reativa (PCR) independentemente de

potenciais fatores de confusão entre os participantes do Estudo Longitudinal Saúde do

Adulto (ELSA-Brasil). MÉTODOS: Realizou-se uma análise seccional com dados de

12.902 participantes da linha de base do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-

Brasil) (2008-2010). A associação entre a variável resposta (PCR) e a variável explicativa

de interesse (consumo elevado de ultraprocessados) foi estimada por meio de modelos

lineares generalizados (MLG), com distribuição gama e função logarítmica, cujo

exponencial do coeficiente de regressão fornece a Razão da Médias Aritméticas com

intervalo de 95% de confiança (RMA, IC95%). Foram considerados potenciais fatores de

confusão: sexo, idade, raça/cor, escolaridade atual, renda familiar per capta, atividade

física no lazer, tabagismo, mudança na dieta nos últimos seis meses, circunferência da

cintura, hipertensão arterial e diabetes tipo 2. RESULTADOS: A mediana e intervalo

interquartílico da PCR na população do estudo correspondeu a 1,43mg/l (0,71-3,23). A

mediana da PCR foi mais elevada entre as mulheres (1,63mg/L), aumentou com o

incremento da idade, da circunferência da cintura (p<0,0001), com a diminuição da

escolaridade e da intensidade da atividade física (p<0,0001). Na análise bruta, os

indivíduos que tinham consumo elevado de alimentos ultraprocessados apresentaram

média aritmética superior à média dos que não tinham consumo elevado desses alimentos

(p <0,05). A força da associação foi atenuada após ajustes sucessivos por potenciais

fatores de confusão, sendo o decréscimo mais acentuada após ajuste pela circunferência

da cintura [RMA: 1,05; (IC95%: 1,00-1,11)]. Após todos os ajustes, o consumo elevado

de alimentos ultraprocessados permaneceu independentemente associado a um aumento

de 6% na média aritmética de PCR [RMA: 1,06; (IC% 1,00-1,11)]. As associações não

foram alteradas após análises de sensibilidade com exclusão de participantes em uso de

corticoides, hipolipemiantes, de mulheres em uso de anticoncepcional ou reposição

hormonal e com níveis séricos de PCR acima de 10 mg/L. CONCLUSÃO: Nossos

resultados sugerem uma relação entre o consumo elevado de alimentos ultraprocessados

e a resposta inflamatória crônica. Contudo, novos estudos em outras populações e análises

longitudinais são necessários.

Palavras chaves: Alimentos industrializados, Proteína C Reativa, Inflamação.

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ABSTRACT

BACKGROUND: Ultra-processed foods are industrial formulations, consisting mostly

of ingredients, additives and industrial preservatives. Furthermore, ultraprocessados have

low micronutrient content and fiber, and high energy density, saturated fat, trans and

sugars. Eating patterns and diets that have similar nutritional characteristics to ultra-

processed foods, have been linked to higher levels of inflammation biomarkers, among

which C-reactive protein (CRP). A high intake of these foods can trigger a low-grade

inflammation, which can become chronic and eventually lead to risk factors for

cardiovascular disease and diabetes type 2. However, few studies have investigated the

association between high intake of ultra-processed foods and health outcomes, and its

association with inflammatory markers still unknown. The aim of this thesis was to

investigate whether the high consumption of ultra-processed food is associated with

increased levels of C-reactive protein (CRP) independently of potential confounders

among participants in the Longitudinal Study Adult Health (ELSA-Brazil). METHODS:

We conducted a cross-sectional analysis with data from 12,902 participants Baseline

Study of Adult Health Longitudinal (ELSA-Brazil) (2008-2010). The association

between the dependent variable (PCR) and the explanatory variable of interest (high

consumption of ultraprocessados) was estimated using generalized linear models (GLM),

with distribution range and logarithmic function, whose exponential regression

coefficient provides Reason Arithmetic average with 95% confidence interval (AMR,

CI:95%). They were considered potential confounders: age, sex, race / color, current

education, family income per capita, leisure physical activity, smoking, change in diet in

the past six months, waist circumference, artery hypertension and diabetes type 2.

RESULTS: The CRP median was 1.43 mg/L (Interquartile Range: 0.71-3.23). The CRP

median was higher among women (1.63mg / L) increased with increasing age, waist

circumference (p <0.0001), with the reduction of the schooling and intensity of physical

activity ( p <0.0001). In the crude analysis, those who had high intake of foods

ultraprocessados presented arithmetic average higher than the average of those without

high consumption of these foods (p <0.05). The strength of the observed association was

attenuated after adjustment for potential confounder. After all settings, high consumption

of food ultraprocessados remained independently associated with an increase of 6% on

the arithmetic mean of CRP [AMR: 1.06; (% CI 1.00 to 1.11)]. The associations were not

changed after sensitivity analyzes excluding participants in use of steroids, lipid-

lowering, of women using contraceptive or hormone replacement and serum CRP levels

above 10 mg / L. CONCLUSION: Our results suggest that there may be a link between

high consumption of ultraprocessados food and chronic inflammatory response.

However, further studies in other populations and longitudinal analyzes are need.

KEYWORDS: Industrialized Foods, C-reactive protein, Inflammation.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CC – Circunferência da cintura

CNS – Conselho Nacional de Saúde

CONEP - Comitê Nacional de Ética em Pesquisa

DCNT -Doenças Crônicas não Transmissíveis

ELSA - Estudo Longitudinal da Saúde do Adulto

TNFα - Fator de necrose tumoral – alfa

FIOCRUZ - Fundação Oswaldo Cruz

ICAM-1 - Molécula de adesão intercelular endotelial 1

VCAM-1 - Molécula de adesão celular vascular 1

IL-6 - Interleucina-6

IMC- Índice de Massa Corporal

IPAQ – International Physical Activity Questionnaire

MET – Equivalente Metabólico

MLG - Modelos lineares generalizados

NDSR - Nutrition Data System for Research

OMS - Organização Mundial da Saúde

POF - Pesquisa de Orçamento Familiar

PCR - Proteína C-Reativa

QFA - Questionário de Frequência Alimentar

RMA - Razão de médias aritméticas

TACO - Tabela Brasileira de Composição de Alimentos

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 8

2 REFERÊNCIAL TEÓRICO.......................................................................... 10

2.1 Epidemiologia das DCNT e determinantes alimentares................................. 10

2.2 Processamentos de alimentos......................................................................... 11

2.2.1 Conceito e classificação............................................................................... 11

2.2.1.1 Grupo 1: Alimentos in natura e minimamente processados..................... 12

2.2.1.2 Grupo 2: Ingredientes culinários processados.......................................... 13

2.2.1.3 Grupo 3: Alimentos Processados.............................................................. 13

2.2.1.4 Grupo 4: Produtos alimentícios ultraprocessados.................................... 14

2.2.1.4.1 Características nutricionais dos produtos ultraprocessados................... 15

2.2.1.4.2 Consumo dos produtos ultraprocessados............................................... 17

2.2.1.4.3 Consumo dos produtos ultraprocessados e seu impacto na saúde......... 18

2.3 Proteína C reativa (PCR)................................................................................ 19

2.3.1 PCR e associações com a dieta.................................................................... 21

3 JUSTIFICATIVA............................................................................................ 24

4 HIPÓTESE....................................................................................................... 25

5 OBJETIVOS.................................................................................................... 26

5.1 Objetivo geral................................................................................................. 26

5.2 Objetivos específicos...................................................................................... 26

6 MÉTODOS....................................................................................................... 27

6.1 Tipo de estudo................................................................................................ 27

6.2 População do estudo....................................................................................... 27

6.3 Coleta de dados............................................................................................... 28

6.4 Variáveis do estudo........................................................................................ 29

6.5 Potenciais fatores de confusão........................................................................ 30

6.6 Análises dos dados.......................................................................................... 32

7 RESULTADOS................................................................................................ 34

8 DISCUSSÃO.................................................................................................... 40

9 CONCLUSÃO.................................................................................................. 43

REFERÊNCIAS.................................................................................................. 44

ANEXOS.............................................................................................................. 52

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1 INTRODUÇÃO

As Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT) são consideradas um

importante problema de saúde pública, e constituem as principais causas de morte na

maioria dos países de baixa e média renda (SCHMIDT et al., 2011). O desenvolvimento

e a progressão destas doenças estão relacionados com fatores de risco modificáveis como

a dieta (WHO, 2013) e associados à níveis de marcadores inflamatórios como a Proteína

C-Reativa (PCR) (HIRATA et al., 2012; GALLAND, 2010).

Evidências mostram que as dietas e padrões alimentares composto por alimentos

de elevado índice glicêmico, elevado teor de gorduras saturadas e trans e reduzido teor

de fibras tem sido associado à aumentos nos níveis plasmáticos de PCR (KLOP et al.,

2012; CALDER et al., 2011; YE, KELLER, 2010; DANONA et al., 2010).

Mais recentemente, tem sido apontado o crescimento do consumo de alimentos

ultraprocessados (LOUZADA et al., 2015a). Estes produtos alimentícios são formulações

industriais, e na maioria das vezes são produzidos a partir de ingredientes industriais e

vários aditivos que são usados para agregar propriedades sensoriais desejáveis

(LOUZADA et al., 2015b; MONTEIRO et al., 2016). Os alimentos ultraprocessados

possuem composição nutricional desbalanceada e são deficientes em micronutrientes em

comparação a alimentos in natura ou minimamente processados (LOUZADA et al.,

2015a; MONTEIRO, MOUBARAC et al., 2013; MONTEIRO, LEVY et al., 2010).

Os estudos têm apontado um aumento da contribuição calórica desses produtos no

consumo das dietas das populações do Brasil (MARTINS et al., 2013), do Chile

(CROVETTO et al., 2014) e do Canadá (MOUBARAC et al., 2014). No Brasil dados da

Pesquisa de Orçamento Familiar que investiga a aquisição de alimentos (POF 2002-2003

e 2008-2009) mostram que o consumo de produtos alimentícios ultraprocessados

aumentou de 20,8% para 25,4% entre 2002-2003 e 2008-2009 (MARTINS et al., 2013).

Esse incremento se deveu, sobretudo aos produtos embutidos, bebidas açucaradas, doces,

chocolates e sorvetes (MARTINS et al., 2013). Até o momento, poucos estudos

investigaram a relação entre o consumo dos produtos alimentícios ultraprocessados e

desfechos de saúde, contudo, esses produtos já foram associados à obesidade (CANELA

et al., 2014), à síndrome metabólica em adolescentes (TAVARES, et al., 2011) e

dislipidemias em crianças (RAUBER et al., 2015).

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Assim, considerando o incremento do consumo dos produtos alimentícios

ultraprocessados, o seu potencial impacto à saúde e a evidencia em estudos de que os

componentes da dieta e padrões alimentares estão relacionados com os níveis elevados

de marcadores inflamatórios como a PCR, tornam-se relevante investigar a associação

entre o consumo elevado destes alimentos e os níveis de PCR.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Epidemiologia das DCNT e determinantes alimentares

Em grande parte do mundo tem-se observado a redução da mortalidade por

doenças infecciosas e aumentos contínuos da mortalidade por Doenças Crônicas não

Transmissíveis (DCNT), processo esse conhecido como transição epidemiológica

(FONSECA et al., 2015). Neste sentido, as DCNT são consideradas um problema de

saúde pública global, que coloca em risco a saúde e o desenvolvimento humano

(SCHMIDT, et al., 2011).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, em 2012, trinta e oito

milhões (68%) de mortes no mundo tiveram como causa as DCNT, principalmente as

cardiovasculares, câncer, doenças respiratórias crônicas e o diabetes (WHO, 2014). A

maior parte destas mortes, vinte e oito milhões, ocorreram em países de baixa e média

renda e entre indivíduos com idade inferior a 70 anos (WHO, 2014). No Brasil, no ano

de 2012, as DCNT foram responsáveis por aproximadamente 74% das mortes (WHO,

2014).

A carga destas doenças também têm resultado em uma perda econômica e

incapacidades, gerando efeitos adversos para as famílias, comunidades, sociedade em

geral e para o sistema de saúde do país (WHO, 2013).

Em linhas gerais, as mudanças no perfil epidemiológico está ligado ao aumento

da população idosa, a crescente mecanização e motorização (SWINBURN et al., 2011),

a urbanização (SCHMIDT, et al., 2011) e sobretudo ao aumento do acesso à alimentos de

alta densidade energética e processados (SWINBURN et al., 2011).

Neste contexto, as mudanças que ocorreram no sistema mundial de produção e

distribuição de alimentos, que estão intimamente relacionados as questões econômicas e

políticas, resultaram em uma crescente oferta de alimentos industrializados (SWINBURN

et al., 2011). Estes por sua vez, passaram a integrar a relação de agentes responsáveis

pelo ganho de peso (SWINBURN et al., 2011) e pelas DCNT (BRASIL, 2014).

A OMS, corroborada pela literatura científica, enfatiza a necessidade de reduzir o

consumo de alimentos altamente processados com grandes quantidades de energia, sódio,

gorduras saturadas e trans e carboidratos refinados (WHO, 2003). Os estudos apontam

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que o elevado consumo de gorduras saturadas e trans, está associado as doenças

cardiovasculares (MOZAFFARIAN, ARO, WILLETT, 2009; WHO, 2009) bem como o

baixo consumo de fibras (ZHANG et al., 2013) e o consumo elevado de carboidratos

refinados estão associados à maiores riscos de desenvolvimento do diabetes tipo 2

(MUELLER et al., 2010; SCHULZE, MANSON, LUDWIG, 2004), obesidade e

síndrome metabólica (MCKEOWN et al., 2004).

No Brasil, assim como em outros países economicamente emergentes, observa-se

mais recentemente do que nos países centrais, uma mudança no padrão alimentar, com a

substituição de alimentos de origem vegetal (arroz, feijão, mandioca, batata, legumes e

verduras) por produtos industrializados pronto para o consumo, determinando o

desequilíbrio na oferta de nutrientes e a ingestão excessiva de calorias (BRASIL, 2014).

Diante da crescente participação dos alimentos industrializados na alimentação,

Monteiro e colaboradores (2010) propuseram uma classificação com base na extensão e

no propósito do processamento dos alimentos, a fim de compreender de forma ampliada

as modificações no sistema alimentar e nos hábitos de consumo (MONTEIRO et al.,

2010). Recentemente, está classificação foi revista e ajustada e denominada de NOVA

classificação (MONTEIRO et al., 2016). A NOVA é reconhecida como um instrumento

válido para investigação em nutrição e saúde pública (MONTEIRO et al., 2016).

O processamento de alimentos foi considerado na elaboração da versão mais

recente do Guia Alimentar para a População Brasileira. Esta versão introduz o conceito

de alimentos ultraprocessados, permitindo assim que sejam identificados pela população

brasileira e assim possam optar por alimentos mais saudáveis (BRASIL, 2014).

2.2 PROCESSAMENTOS DE ALIMENTOS

2.2.1 Conceito e Classificação

O processamento industrial dos alimentos, um componente que impacta na saúde

da população conforme apontado pela OMS (2003), por muito tempo foi praticamente

ignorado nos estudos de avaliação do consumo alimentar, ainda que o consumo de

alimentos industrializados seja crescente e venha substituindo o consumo de alimentos in

natura (MARTINS et al., 2013).

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Processamento de alimentos é definido como todo método e técnica utilizados

pela indústria para transformar alimentos frescos inteiros em produtos alimentares

(MONTEIRO, LEVY, et al., 2010). Quase todo o alimento consumido é processado em

algum momento (MONTEIRO, 2009). O congelamento de hortaliças, a moagem de trigo

em farinha, a fritura da batata, o abate de animais para produção de carne são formas de

diferentes níveis de processamento de alimentos (MONTEIRO, 2009).

De acordo com Monteiro e colaboradores (2016) os alimentos são classificados

em quatros grupos distintos, com base na natureza, na extensão e no propósito do

processamento industrial aplicado para preservar, extrair, modificar ou criar alimentos:

alimentos in natura ou minimamente processados, ingredientes culinários processados,

alimentos processados e alimentos ultraprocessados.

2.2.1.1 Grupo 1: Alimentos in natura ou minimamente processados

Alimentos in natura são partes comestíveis de plantas (semente, folhas, frutos,

caules e raízes), ou de origem animal fornecido após o abate e retalhamento (músculo,

vísceras, ovos e leites), além de cogumelos, algas e água logo após sua separação da

natureza (MONTEIRO et al., 2016). Alimentos minimamente processados são aqueles in

natura submetidos a processos, principalmente físicos que não envolvem a adição de

substâncias como sal, açúcar ou óleos que alteram substancialmente as propriedades

nutricionais e o uso dos alimentos originais (MONTEIRO et al., 2016).

Formas mínimas de processamento incluem: lavagem, descascamento, corte, e

remoção de partes, secagem, porcionamento, ralar, descamação, refrigeração,

congelamento, pasteurização, fermentação não alcóolica, trituração, colocar em

recipientes ou embalagens à vácuo (MONTEIRO et al., 2016). Estes processos são usados

para estender a duração e o tempo de armazenamento dos alimentos não processados,

inibir o crescimento de patógenos e muitas vezes para reduzir o tempo e o esforço

envolvido na sua preparação (MONTEIRO, LEVY et al., 2010). Após a compra, os

consumidores podem cozinhar esses alimentos e misturá-los com outros ingredientes

como parte de sua preparação (MONTEIRO, LEVY et al., 2010).

São exemplos de alimentos desse grupo: carne fresca ou congelada, leite fresco,

pasteurizado ou em pó, iogurte natural sem açúcar ou adoçantes artificiais adicionados,

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grãos integrais, arroz parboilizado, integral ou branco, frutas frescas e congeladas ou

secas, sucos de frutas sem adição de açúcar, legumes frescos e congelados, inteiros ou

raízes, tubérculos descascados, nozes e sementes sem sal, chá, café, água entre outros

(MONTEIRO et al., 2016). Podem raramente conter aditivos utilizados para preservar as

propriedades do alimento original, como por exemplo os vegetais embalados a vácuo com

antioxidantes adicionados, e leite ultrapasteurizado com estabilizadores adicionados

(MONTEIRO et al., 2016).

2.2.1.2 Grupo 2: Ingredientes culinários processados

Ingredientes culinários processados são substâncias extraídas dos alimentos in

natura e minimamente processados, transformados por ações físicas e químicas, tais

como, prensagem, moagem, pulverização, secagem e refino (MONTEIRO et al., 2016).

Eles têm propriedades nutricionais e usos completamente diferentes dos alimentos

integrais originais (MONTEIRO et al., 2016). Esse processamento origina produtos

normalmente usados para cozinhar, temperar ou para a preparação dos alimentos do grupo

minimamente processados (MONTEIRO et al., 2016).

Este grupo inclui sal de cozinha extraído de minas ou da água do mar; açúcar,

melado e rapadura extraídos da cana de açúcar ou da beterraba, mel extraído de favos de

colmeias, óleos e gorduras extraídos de alimentos de origem vegetal ou animal (como

óleo de soja ou de oliva, manteiga, creme de leite e banha), amido extraído do milho ou

de outra planta (MONTEIRO et al., 2016). Estes itens podem conter aditivos usados para

preservar as propriedades originais como, antioxidantes usados em óleos vegetais,

antiumectantes adicionados ao sal de cozinha e conservantes adicionados ao vinagre que

impedem a proliferação de micro-organismos (MONTEIRO et al., 2016).

2.2.1.3 Grupo 3: Alimentos Processados

Os produtos processados são alimentos modificados pela adição de substâncias

como sal, açúcar ou óleo ou outras substancias do grupo 2 aos alimentos do grupo 1

(MONTEIRO et al., 2016). A maioria dos alimentos deste grupo contém dois ou três

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ingredientes e tem por principal finalidade aumentar o tempo de vida dos alimentos e

modificar ou melhorar suas qualidades sensoriais (MONTEIRO et al., 2016).

Os exemplos desses alimentos incluem as hortaliças ou leguminosas conservadas

na salmoura, castanhas adicionadas de sal ou açúcar, carnes salgadas, peixe conservado

em óleo ou água e sal, frutas em calda, queijos e pães (MONTEIRO et al., 2016). Bebidas

alcoólicas que são consideradas parte da alimentação, as produzidas por fermentação

alcoólica do Grupo 1, como cerveja, cidra e vinho, são classificados no grupo 3

(MONTEIRO et al., 2016).

2.2.1.4 Grupo 4: Produtos ultraprocessados

Produtos ultraprocessados são formulações industriais feitas a partir de cinco ou

mais ingredientes tais como açúcar, óleos, gorduras, sal, antioxidantes, estabilizantes e

conservantes (MONTEIRO et al., 2016). Porém, nos produtos ultraprocessados há

sustâncias e aditivos que não são comumente utilizados em preparações culinárias, cuja

finalidade é imitar as qualidades sensoriais dos alimentos do grupo 1 ou as preparações

feitas com esse grupo de alimentos ou para disfarçar as qualidades sensoriais indesejáveis

do produto final (MONTEIRO et al., 2016). Essas substâncias incluem aquelas extraídas

diretamente de alimentos, como a caseína, lactose, soro de leite e glúten, e alguns

derivados do processamento adicional de componentes de alimentos, como óleos

hidrogenados ou interestereficados, as proteínas hidrolisadas, proteína isolada de soja,

maltodextrina, açúcar invertido e xarope de milho (MONTEIRO et al., 2016). Os aditivos

adicionados aos produtos ultraprocessados e encontrados somente nesses são: corantes,

estabilizadores de cores, aromas, intensificadores de sabor, adoçantes não-açúcar e

auxiliares de processamento tais como agente de carbonatação, agente de firmeza, agentes

de massa, antiaglomerantes, espumantes, antiespumantes, glaceantes, emulsificantes,

sequestrantes e umectantes (MONTEIRO et al., 2016). Os ultraprocessados podem ser

produzidos por meio de procedimentos como a extrusão, moldagem e pré-processamento

para frituras (MONTEIRO et al., 2016).

A finalidade desse processamento é gerar produtos fáceis de carregar, prontos para

comer, beber ou aquecer, que podem ser consumidos em qualquer lugar (enquanto estiver

dirigindo, trabalhando no escritório e assistindo TV, por exemplo) (MONTEIRO, LEVY

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et al., 2010). Substituem em grande parte os alimentos in natura ou minimamente

processados, são hiperpalatáveis, atrativos e com embalagens sofisticadas (MONTEIRO

et al., 2016). Destaca-se ainda que são divulgados de forma intensa e agressiva por

campanhas de publicidade (MONTEIRO et al., 2016).

Exemplos desses alimentos incluem refrigerantes e pó para refrescos;

‘salgadinhos de pacote’; sorvetes, chocolates, balas e guloseimas em geral; pães de forma,

de hot-dog ou de hambúrguer, pães doces, biscoitos, bolos e misturas para bolo; ‘cereais

matinais’ e ‘barras de cereal’; bebidas ‘energéticas’, achocolatados e bebidas com sabor

de frutas; caldos liofilizados com sabor de carne, de frango ou de legumes; maioneses e

outros molhos prontos; fórmulas infantis e de seguimento e outros produtos para bebês;

produtos liofilizados para emagrecer e substitutos de refeições; vários produtos

congelados prontos para aquecer incluindo tortas, pratos de massa e pizzas pré-

preparadas; extratos de carne de frango ou de peixe empanados do tipo nuggets, salsicha,

hambúrguer e outros produtos de carne reconstituída; e sopas, macarrão e sobremesas

‘instantâneos’ e bebidas destiladas uísque, vodca, cachaça e rum (MONTEIRO et al.,

2016).

2.2.1.4.1 Características nutricionais dos produtos ultraprocessados

Devido à grande variedade de produtos ultraprocessados, é difícil generalizar o

valor nutricional dos mesmos (MONTEIRO et al., 2011). Estes alimentos são geralmente

fabricados, anunciados e vendidos por empresas de grande porte ou transnacionais

(MONTEIRO, MOUBARAC et al., 2013). Têm uma enorme vantagem comercial sobre

todos os alimentos frescos e perecíveis e minimamente processados, devido ao maior

tempo de validade, ao sabor agradável e por serem prontos para o consumo (MONTEIRO,

MOUBARAC et al., 2013). No entanto, na maioria das vezes, possuem alta densidade

energética, alta carga glicêmica, são pobres em fibras, em micronutrientes, em

fitoquímicos, em compostos bioativos de proteção, possuem pouca ou nenhuma água e

são ricos em tipos não saudáveis de gordura dietética, açúcares livres e sódio

(BIELEMANN et al., 2014; MONTEIRO, MOUBARAC et al., 2013; MONTEIRO,

LEVY et al., 2010).

Os estudos que avaliaram o teor dietético dos alimentos ultraprocessados na dieta

da população brasileira, observaram que os mesmos possuem menores teores de vitamina

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B12, vitamina C, vitamina D, vitamina E, niacina, piridoxina, cobre, magnésio, manganês

e zinco, sendo que estes teores foram pelo menos duas vezes menores em comparação

aos alimentos in natura e minimamente processados (LOUZADA et al., 2015a). Em

relação aos macronutrientes, os alimentos ultraprocessados foram 2,5 vezes mais denso

em energia, tiveram duas vezes mais açúcar livre, 1,5 vezes mais gorduras em geral e

gorduras saturadas e oito vezes mais gorduras trans, além de menores teores de fibras e

proteínas (LOUZADA et al., 2015b).

Estudos realizados em outros países como o Canadá e Chile mostraram que

produtos ultraprocessados, quando comparado com os alimentos in natura ou

minimamente processados combinados com ingredientes culinários processados

transformados em pratos e refeições, são mais densos em termos energéticos, têm maior

teor de gordura total e de gorduras saturadas, de açúcares e de sal e menores teores de

proteínas e fibras alimentares (CROVETTO et al., 2014; MOUBARAC, MARTINS et

al., 2013).

A comparação de dietas com ultraprocessados com dietas composta por alimentos

in natura ou minimamente processados segundo a classificação de Monteiro e

colaboradores (2010) apontou que os ultraprocessados contêm menos da metade da fibra

dietética, quase seis vezes a quantidade de açúcares livres, e muito mais sódio e gordura

(MOUBARAC, MARTINS et al., 2012; MONTEIRO, LEVY et al., 2011).

Outro estudo mostrou que a presença de maior proporção de açúcar nos produtos

ultraprocessados ocorre concomitantemente com grande proporção de gorduras

acarretando em aumento nas calorias de gorduras totais e ácidos graxos saturados e

diminuição das calorias de carboidratos do tipo não açúcar (LEVY, CLARO,

MONTEIRO, 2010). Essa é uma característica dos sorvetes, chocolates e biscoito doces,

produtos que representaram 31,7% do total das calorias de açúcar dos ultraprocessados

adquiridos pelas famílias brasileiras entre julho de 2002 e junho de 2003 (LEVY,

CLARO; MONTEIRO, 2010). Os sorvetes e chocolates continham entre 35% e 39% de

calorias de açúcar e entre 48% e 51% de calorias de gorduras, respectivamente, (sendo

cerca de 60% provenientes de ácidos graxos saturados), os biscoitos doces continham

cerca de 35% de calorias de açúcar e 25% de calorias de gorduras (LEVY, CLARO;

MONTEIRO, 2010).

Nos Estados Unidos, um estudo de corte transversal apontou que os alimentos

ultraprocessados possuíam cerca de cinco vezes maior teor de açúcares de adição em

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comparação ao grupo de alimentos in natura ou minimamente processados (STEELE et

al., 2016).

Quanto ao teor de sódio, entre os alimentos ultraprocessados comercializados no

Brasil cerca de 60% apresentaram alto teor de sódio (> 600mg/ 100g), as maiores

concentrações foram observadas nos grupos de temperos completos, caldos e pós de sopas

e pós para preparação de molhos (MARTINS et al., 2013).

2.2.1.4.2 Consumo dos produtos Ultraprocessados

Os alimentos ultraprocessados correspondem à mais da metade do consumo

calórico dos países desenvolvidos com menor tradição culinária (MONTEIRO, 2016). No

Canadá, em 2001, 25,6% de toda a energia comprada pelas famílias canadenses era

proveniente de alimentos in natura ou minimamente processados, 12,7%, de ingredientes

culinários processados e um total de 61,7%, de produtos ultraprocessados (MOUBARAC

et al., 2012). Para o grupo dos ultraprocessados as principais aquisições de energia eram

derivadas de pães (11,9%), de doces (confeitaria), chocolate, sorvetes e outros doces

(7,1%), de refrigerantes e sucos adoçados (6,3%), de açúcar (5,8%), pratos prontos para

o consumo (4,6%) e carnes processadas (4,6%) (MOUBARAC et al., 2012).

A aquisição de produtos ultraprocessados, expressa pelo percentual do total de

calorias adquiridas, tem aumentado continuamente. Entre 1998 e 2012, em todos os

grupos de países de alta, média ou baixa renda foram observados aumentos na venda de

produtos alimentícios ultraprocessados (MONTEIRO, MOUBARAC et al., 2013). O

maior consumo ocorreu nos países de alta renda, os maiores aumentos relativos e

absolutos no consumo desses alimentos ocorreu em países de baixa renda (MONTEIRO,

MOUBARAC et al., 2013). No Brasil, o percentual calórico proveniente desses alimentos

passou de 18,7% em 1987 para 26,1% em 2003 (MONTEIRO, MOUBARAC et al.,

2013). Em comparação ao Canadá, a participação dos produtos ultraprocessados é quase

duas vezes maior no Canadá do que no Brasil, mas o crescimento relativo foi superior no

Brasil (2,1% ao ano) do que no Canadá (1,3% ao ano) (MONTEIRO, MOUBARAC et

al., 2013).

Em torno de 75% dos alimentos comercializados no mundo são alimentos

ultraprocessados, cujos maiores fabricantes controlam mais de um terço do mercado

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global (MOODIE et al., 2013). Os tipos de produtos ultraprocessados consumidos

parecem variar entre os países (MOODIE et al., 2013). Nos países de alta renda como

Austrália, França, Estados Unidos, os pratos congelados foram mais comercializados,

enquanto nos países de média e baixa renda, como China, Índia e Bolívia, predominam

os produtos do tipo snack (doces e salgados, chips / batatas fritas, salgadinhos de milho,

castanhas salgadas, confeitaria) e sorvetes e iogurtes (MOODIE et al., 2013).

2.2.1.4.3 Consumo de alimentos ultraprocessados e seu impacto na saúde

Poucos estudos publicados investigaram a relação entre o consumo de produtos

ultraprocessados seguindo a classificação proposta por Monteiro e colaboradores (2016)

e a saúde. No entanto, os estudos que avaliaram os padrões alimentares de populações

identificaram associações entre o consumo de ultraprocessados e piores indicadores de

saúde.

No Brasil, os estudos que adotaram a classificação dos alimentos segundo o nível

e extensão do processamento evidenciaram que o maior consumo de produtos

alimentícios ultraprocessados apresentou associação com a maior prevalência de excesso

de peso e de obesidade em todas as faixas etárias da população brasileira maior de 10

anos (CANELA et al., 2014). Segundo os autores essa relação pode ser atribuída à

natureza dos produtos ultraprocessados e suas características intrínsecas: elevada

densidade energética e baixo conteúdo de micronutrientes (CANELA et al., 2014;

MOZZAFARIAN et al., 2011). Um estudo realizado com uma amostra de adolescentes

assistidos pelo Programa Médico de Família da cidade de Niterói (RJ), observou que o

maior consumo diário de alimentos ultraprocessados foi associado com maior prevalência

de síndrome metabólica (TAVARES et al., 2011). Outro estudo, uma coorte com 345

crianças de São Leopoldo, observou que um aumento de 10% no consumo de alimentos

ultraprocessados em idade pré-escolar foi preditor do aumento de até 3 mg/dl nos níveis

de colesterol total e LDL-colesterol em crianças da idade pré-escolar (3 a 4 anos de idade)

até a escolar (7 a 8 anos de idade) (RAUBER et al., 2015).

Um estudo ecológico conduzido na Suécia observou que as tendências temporais

crescentes no consumo de alimentos ultraprocessados foram correlacionadas com o

aumento da obesidade em adultos (JUUL, HEMMINGSSON; 2014). Já no Reino Unido,

estimou-se o potencial de redução de doenças cardiovasculares que ocorreria em função

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da redução do consumo desses alimentos (MOREIRA et al., 2015). Observou-se que se

a ingestão de sal, gorduras saturadas e gorduras trans presentes nos ultraprocessados

fossem reduzida para os níveis presentes nos outros grupos de alimentos como os

minimamente processados, poderia levar a uma redução de cerca de 22.055 mortes por

doenças cardiovasculares até 2030 (MOREIRA et al., 2015).

Outros estudos que investigaram o consumo isolado de alimentos

ultraprocessados mostram evidencias da relação entre o consumo dos mesmos e impactos

na saúde (MOZAFFARIAN, HAO, et al., 2011; ROMAGUERRA, et al., 2011). No

Brasil, um estudo transversal realizados no Rio de Janeiro com indivíduos adultos

observou que o consumo de um padrão alimentar composto em sua maior parte por

alimentos ultraprocessados (refrigerantes, bolos, biscoitos, doces, fast food) foi associado

com aumentos na circunferência da cintura entre as mulheres (CUNHA et al., 2010).

Outro estudo que utilizou dados da POF (2002-2003), evidenciou que o consumo de

refrigerante, alimentos fritos, fast food, refeições prontas, foi positivamente associado

com o excesso de peso e obesidade entre os homens (BEZERRA, SICHIERI; 2009).

Nos Estados Unidos, um estudo prospectivo observou que o aumento do consumo

de batata frita, bebidas açucaradas, carnes processadas, cereais refinado, doces e

sobremesas apresentaram associações positivas com o ganho de peso (MOZAFFARIAN,

HAO, et al., 2011). Na Europa, o maior consumo de carnes processadas, refrigerantes,

margarinas também foi associado com o aumento da adiposidade abdominal entre os

indivíduos adultos (ROMAGUERRA et al., 2011).

O maior consumo de refrigerantes e fast food também esteve associado à

obesidade e aumento da circunferência da cintura em adultos libaneses (NAJA et al.,

2011). Outros estudos apontaram associação desses alimentos, característicos do grupo

dos ultraprocessados com os biomarcadores de inflamação, dentre eles a PCR (CALDER

et al., 2011), que está correlacionada com eventos cardiovasculares (SILVA, LACERDA

et al., 2012).

Estes resultados fortalecem a necessidade de mais estudos que investiguem o

consumo de ultraprocessados e outros aspectos de saúde, visto que estes produtos tem

dominado o mercado alimentar de vários países e a associação com outros resultados de

saúde permanece desconhecida (CANELA et al., 2014).

2.3 PROTEÍNA C-REATIVA (PCR)

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A PCR é considerada um marcador de inflamação sistêmica (SILVA, LACERDA

et al., 2012). Foi descoberta em 1930 por Tillet e Francis, em um estudo que utilizou

sangue de indivíduos coletado durante a fase aguda de pneumonia pneumocócica

(TILLETT; FRANCIS JUNIOR, 1930). Este nome lhe foi dado pela ação de reagir com

o polissacarídeo C da cápsula de streptococcus pneumonia (TILLETT; FRANCIS

JUNIOR, 1930).

Esta proteína pertence à família das pentraxinas (ADUKAUSKIENĖ et al., 2016),

é sintetizada nos hepatócitos e em alguns tecidos extra-hepáticos, como o músculo liso

vascular, placas ateroscleróticas e recentemente descobertos nos tecidos intracardíacos

(ADUKAUSKIENĖ et al., 2016; SALAZAR et al., 2014; SILVA, LACERDA et al.,

2012; CALABRO, GOLIA, YEH, 2012). Embora a síntese seja principalmente hepática

e estimulada pela Interleucina-6 (IL-6) (SILVA, LACERDA et al., 2012) evidências têm

demonstrado que o tecido adiposo também tem implicação, particularmente a adiposidade

visceral, na secreção de certas substâncias como o fator de necrose tumoral – alfa (TNFα),

a interleucina-6, a adiponectina, a resistina e a leptina, que, por sua vez, atuam no

endotélio vascular e no metabolismo da glicose e dos lipídeos, desencadeando aumento

dos níveis de PCR (PICKUP, 2004).

Ao contrário de outros marcadores de fase aguda, os níveis de PCR permanecem

relativamente estáveis sem grande variação, permitindo sua correta quantificação

(SILVA, LACERDA et al., 2012). As concentrações de PCR em indivíduos saudáveis

geralmente não são superior a 10mg/l (média de 0,8mg/l) (ADUKAUSKIENĖ et al.,

2016; SALAZAR et al., 2014; SILVA, LACERDA et al., 2012; CALABRO, GOLIA,

YEH, 2012). Se estimulada, a síntese pode aumentar em até mais de 1000 vezes

(SALAZAR et al., 2014), porém as concentrações basais de PCR dependem de vários

fatores: sociais, comportamentais e patológicos (SALAZAR et al., 2014; CALABRO,

GOLIA, YEH, 2012).

A PCR aumenta em resposta a diversos tipos de lesões agudas, em particular

infecções bacterianas e situações clínicas que constituem estímulos inflamatórios

(SILVA, LACERDA et al., 2012). Na atualidade, os valores de PCR levemente

aumentados têm sido relacionados com prognósticos negativos para o risco futuro de

doenças cardiovasculares (SILVA, LACERDA et al., 2012), e os seus níveis têm sido

diretamente correlacionados com vários fatores de risco para estas doenças e de forma

inversa com os fatores protetores (SALAZAR et al., 2014; CALABRO, GOLIA, YEH,

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2012). Além de ser um marcador inflamatório, alguns estudos mostraram que esta

molécula participa ativamente do processo aterogênico (INOUE, KATO, UCHIDA et al.,

2005; SILVA, LACERDA et al., 2012).

É crescente o número de estudos que sugerem que os valores aumentados de PCR

estão associados com alguns desfecho e fatores de ricos para a saúde, tais como:

Hipertensão arterial (CACHOFEIRO et al., 2009), diabetes tipo 2 (MARGIORIS, 2009),

obesidade (CALDER et al., 2011), síndrome metabólica (SAH et al., 2016), índice de

massa corporal (HIRATA et al., 2012) e tabagismo (HIRATA et al., 2012; LAO, 2009).

2.3.1 PCR e associação com a dieta

A relação positiva entre o consumo de alimentos de elevada densidade energética,

gorduras saturadas e trans, carboidratos simples, baixo teor de fibras e micronutrientes

com aumentos nos níveis plasmáticos de PCR, mesmo após ajustes para fatores

confundidores é descrita na literatura (KLOP et al., 2012; CALDER et al., 2011; YE,

KELLER, 2010; LOPEZ-GARCIA et al., 2004).

A qualidade da dieta vem sendo estudada sob diferentes perspectivas e avaliada

objetivamente através de padrões dietéticos e componentes da dieta. Alguns padrões

alimentares compostos por alimentos de elevada densidade energética, gorduras saturadas

e trans e menores teores de fibras têm sido associados a pequenas alterações nos valores

de PCR (FUNG, et al., 2001; LOPEZ-GARCIA et al., 2004). No Irã, um estudo

transversal com mulheres saudáveis identificou que um padrão alimentar ocidental

caracterizado por alimentos (grãos refinados, carne vermelha, manteiga, carne

processada, produtos lácteos de alto teor de gordura, doces e sobremesas, pizza, batatas

fritas, ovos, gorduras hidrogenadas e refrigerantes) foi positivamente associado com

aumentos nos níveis de PCR e outros biomarcadores inflamatório, no entanto este padrão

não permaneceu associado com os níveis de PCR após ajustes por IMC e Circunferência

da cintura (ESMAILLZADEH et al., 2007). Outro estudo também com mulheres adultas,

observou que este mesmo padrão alimentar mostrou uma relação positiva com a PCR,

SE-selectina, ICAM-1 (Molécula de adesão intercelular endotelial 1) e sVCAM-1

(Molécula de adesão celular vascular 1), e mesmo após ajustamento por fatores de

confusão, os coeficientes permaneceram estatisticamente significantes (LOPEZ-

GARCIA et al., 2004). No Japão, um estudo realizado com homens e mulheres adultos

não encontraram associação entre o consumo de alimentos característico do padrão

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ocidental e concentrações aumentadas de PCR (NANRI et al., 2008). Por outro lado,

padrões alimentares como a dieta mediterrânea constituída por alimentos naturais, frutas

e vegetais, oleaginosas e peixes foi correlacionada inversamente com os níveis de

marcadores inflamatórios como a IL-6 e PCR (DAI et al., 2008; CHRYSOHOOU et al.,

2004).

Uma potente explicação para a relação entre o consumo de alimentos

hiperglicêmicos e hiperlipídicos e reduzidos em fibras e o aumento nos níveis de PCR,

pode ser a inflamação pós-prandial, que ocorre como uma reação aguda à ingestão desses

nutrientes, e caracteriza-se por um aumento na circulação sistêmica dos níveis de

marcadores inflamatórios (CALDER et al., 2011). O efeito da inflamação pós-prandial,

é uma resposta metabólica normal do organismo afim de regular o gasto de energia após

a ingestão de alimentos e resguardar a homeostase imunológica (YE, KELLER, 2010). A

resposta inflamatória pós-prandial pode durar em torno de 8 a 4 horas, e repetir várias

vezes aos dias após a ingestão de alimentos (HANSEN et al., 1997). Esta resposta

inflamatória pós prandial, sucedidas várias vezes e em níveis elevados pode induzir ao

estresse oxidativo e tem sido relacionada com a resistência à insulina e futuros eventos

cardiovasculares (KEEFE et al., 2008).

Refeições com elevado teor de glicose e de gorduras e baixo teor de antioxidantes

podem favorecer o estresse oxidativo (CALDER et al., 2011), aumentar as concentrações

pós-prandial de citocinas pró-inflamatória, IL-6 e TNF-α e aumentar a produção hepática

de proteínas de fase aguda, tais como a PCR (KLOP et al., 2012). O estresse oxidativo é

conhecido por induzir danos às membranas celulares, à estrutura do DNA, bem como a

induzir respostas inflamatórias (CALDER et al., 2011). O grau desta inflamação é

dependente do valor energético do alimento (YE, KELLER, 2010), da quantidade de

carboidrato e índice glicêmico (MARGIORIS, 2009) e da qualidade e composição dos

lipídeos (KLOP et al., 2012) e, embora seja considerada uma inflamação de baixo grau,

pode se tornar crônica e é reconhecidamente associada com a aterosclerose e o diabetes

tipo 2 (KLOP et al., 2012; MARGIORIS, 2009).

Evidencias apontam que dietas ricas em gorduras saturadas e trans podem

favorecer uma hiperlipemia pós-prandial que tem efeitos negativos e inflamatórios

(KLOP et al., 2012). Ademais, as refeições ou os alimentos também podem conter

componentes oxidados que iniciam o estresse oxidativo e ou a resposta inflamatória logo

após a absorção dos componentes (CALDER et al., 2011). Os alimentos com elevado teor

de carboidratos refinado, açúcares de adição e elevado índice glicêmico, favorecem a

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hiperglicemia (LEVITAN et al., 2008). Esta por sua vez, pode suprimir a capacidade

antioxidante do alimento e, portanto, a sua capacidade de conter uma reação inflamatória,

além disso, a hiperglicemia pode induzir a produção de radicais livres que iniciam uma

reação inflamatória (CALDER et al., 2011). Por outro lado, uma refeição rica em fibras,

frutas e vegetais não induz a inflamação ou o estresse oxidativo (CALDER et al., 2011;

DANONA et al., 2010). Os componentes específicos de alimentos naturais, como os

fitoquímicos, e antioxidantes podem contribuir para as atividade anti-inflamatórias

(CALDER et al., 2011).

Outro fator que pode influenciar na resposta inflamatória induzida por fatores

dietéticos é o processamento dos alimentos (BROWNLEE et al., 2010; MATEO et al.,

2011). Alguns estudos de intervenção, observaram que o processamento dos grãos de

trigo podem reduzir o efeito anti-inflamatório do alimento em comparação aos não

processados (BROWNLEE et al., 2010; MATEO et al., 2011). Os estudos sugerem que

mudanças no processamento de grãos inteiros podem ser relevantes para a atividade anti-

inflamatória presente no alimento (BROWNLEE et al., 2010; MATEO et al., 2011) e que

os tratamentos térmicos aos quais os alimentos são submetidos devido ao processamento

podem destruir os compostos polifenólicos, as vitaminas e os antioxidantes contribuindo

com efeitos adversos à saúde (CALDER et al., 2011).

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3 JUSTIFICATIVA

Diversos estudos têm investigado a associação entre os padrões alimentares,

específicos alimentos, micronutrientes e níveis de marcadores inflamatórios,

principalmente a PCR. Embora a literatura científica tenha avançado significativamente

na compreensão dos efeitos da dieta na inflamação crônica, pouco se sabe sobre o impacto

do consumo de alimentos especificamente ultraprocessados sobre a ação de marcadores

inflamatórios em adultos. Até o momento, um número limitado de estudos investigaram

o consumo de alimentos ultraprocessados considerando o nível e extensão e finalidade do

processamento e suas implicações na saúde. No que diz respeito ao Brasil, o consumo

de ultraprocessados já foi associado com a síndrome metabólica, obesidade e

dislipidemias.

Assim, considerando a baixa qualidade nutricional dos alimentos ultraprocessados

e o crescente aumento no consumo destes produtos alimentícios em vários países

inclusive no Brasil, e também que os níveis plasmático de PCR estão associados à vários

eventos de saúde, sobretudo as DCNT. Torna-se relevante a observação da associação do

consumo elevado de ultraprocessados com os níveis plasmáticos de PCR. Deste modo,

acredita-se que esta é uma proposta relevante que contribuirá para ampliação da

compreensão da relação entre o consumo desses alimentos e os desfechos de saúde.

O Estudo Longitudinal da Saúde do Adulto (ELSA-Brasil) é uma coorte

multicêntrica composta por 15.105 servidores públicos de instituições de ensino e

pesquisa de seis estados brasileiros que tem como objetivos principais investigar a

incidência e a progressão do diabetes e das doenças cardiovasculares; e examinar os

fatores biológicos, comportamentais, ambientais, ocupacionais, psicológicos e sociais

relacionados a essas doenças e a suas complicações, buscando compor um modelo causal

que contemple suas inter-relações (AQUINO et al., 2012).

O ELSA-Brasil apresenta uma oportunidade para investigar a associação do

consumo de alimentos ultraprocessados e níveis de PCR, considerando também a

classificação dos alimentos segundo os níveis de processamento, tanto na linha de base

quanto no seguimento.

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4 HIPÓTESE

A hipótese a ser investigada no presente estudo é que o consumo elevado de

alimentos ultraprocessados está relacionado com o aumento dos níveis séricos de PRC.

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5 OBJETIVOS

5.1 Objetivo geral

Investigar se o consumo elevado de alimentos ultraprocessados está associado ao

aumento dos níveis de PCR independentemente de potenciais fatores de confusão.

5.2 Objetivos específicos

Descrever os níveis de PCR segundo as características sociodemográficas,

comportamentais, antropométricas e de saúde.

Investigar a associação independente entre o consumo elevado de

alimentos ultraprocessados e aumento dos níveis séricos de PCR.

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6 MÉTODOS

6.1 Tipo de estudo

Trata-se de um estudo de corte transversal que utilizou dados da linha de base do

ELSA-Brasil.

6.2 População do estudo

A população do ELSA-Brasil foi constituída por 15.105 servidores públicos,

ativos ou aposentados, com idade entre 35 a 74 anos, de instituições de ensino superior e

pesquisa, de seis cidades brasileiras: Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Vitória,

Salvador e Porto Alegre. Foram considerados critérios de exclusão para participação no

ELSA-Brasil: mulheres grávidas (ou em período de até quatro meses após o parto),

aqueles que apresentavam dificuldade cognitiva ou de comunicação grave que impediria

a realização da entrevista, aqueles que tinham intenção de deixar o emprego em um futuro

próximo e os aposentados que residiam em cidade localizada fora da região metropolitana

das sedes do projeto (AQUINO et al., 2012; SCHMIDT et al., 2013).

Para o cálculo do tamanho da coorte do estudo foram realizadas estimativas

levando em consideração a incidência dos dois desfechos principais do estudo, diabetes

do tipo II e infarto agudo do miocárdio. Como essas incidências para a população

brasileira não são conhecidas, foram realizadas estimativas levando em consideração os

achados encontrados em estudos semelhantes realizados em outras populações.

Considerou-se uma probabilidade de erro alfa de 5%, um poder estatístico de 80%, uma

prevalência de exposição de 20% e um risco relativo de 2.0. Dessa forma, o tamanho da

amostra foi estimado em 6.400 participantes. Como se esperava poder apresentar

separadamente resultados para homens e mulheres, e considerando algumas perdas no

acompanhamento da coorte, optou-se por recrutar 15.000 participantes, sendo que ao final

da linha de base do estudo em 2010 foi alcançado o número total de 15.105 voluntários

membros da coorte (AQUINO et al., 2012; SCHMIDT et al., 2013).

Com finalidade de uma melhor distribuição, foram definidas metas de

recrutamento por sexo (50% de cada), idade (15% de 35-44, 30% de 45-54, 40% de 55-

64 e 15% de 65-74 anos) e categoria ocupacional (35% do nível de apoio, com ensino

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fundamental incompleto; 35% do nível médio e 30% do nível superior/docente)

(AQUINO et al., 2013).

O protocolo de pesquisa ELSA-Brasil atendeu à Resolução 196/96a e a outras

complementares – a Resolução CNS 346/05 Projetos multicêntricos e a Resolução CNS

347/05 Armazenamento de materiais biológicos. Foi aprovado nos comitês de ética em

pesquisa das instituições envolvidas. Por se tratar de um estudo multicêntrico foi

aprovado pelo Comitê Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). Todos os participantes

assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (AQUINO et al., 2013).

Para a presente análise, foram excluídos os participantes que apresentaram

consumo calórico total (kcal/dia) inferiores ao percentil 1 e superiores ao percentil 99

(n=439) pela possibilidade de subestimação e superestimação de consumo. Foram

excluídos também aqueles que tinham dados faltantes de PCR (n=115) e valores de PCR

> que o percentil 99, que correspondeu ao valor de 20,3mg/l (n=143). Os participantes

com idade acima de 64 anos idosos foram excluídos porque frequentemente alteram os

comportamentos relacionados à saúde, como a alimentação, em função de condições de

saúde (n=1506). Permanecendo um total de 12.902 indivíduos para análises.

6.3 Coleta de dados

Os dados da linha de base foram coletados entre agosto de 2008 e dezembro de

2010, por meio de entrevista face a face, aferição de medidas e exames realizados por

profissionais treinados e certificados (CHOR et al., 2013). Os questionários do ELSA-

Brasil abrangem características sociodemográficas, história médica pregressa,

comportamentos relacionados à saúde fatores psicossociais, entre outros (CHOR et al.,

2013).

Foram realizados exames como, eletrocardiograma, retinografia, ultrassonografia

abdominal e aferição em jejum da pressão arterial e medidas antropométricas (MILL et

al., 2013). Foram realizados, ainda, exames bioquímicos, como hemograma, glicemia,

colesterol total e fracionado, triglicérides, creatinina, ácido úrico e PCR, dentre outros. A

coleta de material de sangue foi obtida após jejum de 12 horas e o processamento exames

conduzido em um único centro de investigação (FEDELI et al., 2013). Os procedimentos

foram padronizados e os instrumentos de coleta de dados submetidos à pré-testes e

avaliados por estudos pilotos que antecederam o início da coleta de dados (AQUINO et

al., 2012).

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Detalhes sobre o desenho do estudo e perfil da coorte podem ser encontrados em

outras publicações (AQUINO et al., 2012; SCHMIDT et al., 2013).

6.4 Variáveis do estudo

A- Proteína C reativa

A variável resposta foi a Proteína C-reativa (PCR) medida no sangue em jejum de

12 horas, pelo método de ensaio de alta sensibilidade por imunoquímica - nefelometria -

(BN II; Siemens). Para os participantes que apresentaram níveis de PCR abaixo do limite

de detecção (<0,175mg/L) (n=369), considerou-se a metade do valor sérico mensurado

(0,0875mg/L). A PCR foi utilizada como variável contínua.

B- Consumo de Ultraprocessados

O consumo elevado de alimentos ultraprocessados (não, sim) foi a variável

explicativa de interesse do presente estudo. O consumo elevado de alimentos

ultraprocessados foi obtido a partir do agrupamento das calorias totais (kcal/dia)

provenientes desses alimentos em quintis. Aqueles indivíduos localizados no maior

quintil de consumo foram classificados como consumo elevado de alimentos

ultraprocessados e comparados aos demais indivíduos localizados nos quintis 1 a 4,

agrupados em uma única categoria.

O consumo alimentar foi avaliado por meio do Questionário de Frequência

Alimentar (QFA) semiquantitativo com 114 itens alimentares, desenvolvido com base em

estudo prévio nos seis centros de investigação e validado para avaliar o consumo habitual

nos 12 meses antecedentes ao preenchimento do mesmo. O QFA apresentou

confiabilidade satisfatória para todos os nutrientes, o Coeficiente de Correlação

Intraclasse (CCI) variou de 0,55 para proteína a 0,83 para vitamina E e validade relativa

razoável para energia, macronutrientes, cálcio, potássio e vitamina E e C, cujo CCI variou

de 0,20 a 0,72 (MOLINA et al., 2013b).

A quantificação dos nutrientes provenientes do QFA foi elaborada com base no

cálculo: (quantidade de porções consumidas por vez X peso da porção) / ( medida da

porção X frequência de consumo X composição nutricional da porção do alimento). Os

dados foram transformados em consumo diário, expresso em gramas ou mililitros. A

composição nutricional dos itens alimentares foi obtida com base nos dados do Nutrition

Data System for Research (NDSR), da Universidade de Minnesota e na Tabela Brasileira

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de Composição de Alimentos (TACO) da Universidade Estadual de Campinas –

UNICAMP (MOLINA et al., 2013a).

Posteriormente, os alimentos foram classificados de acordo com o nível de

processamento, como proposto por Monteiro et al. (2016), que define os seguintes grupos

de alimentos: alimentos in natura e alimentos minimamente processados, ingredientes

culinários processados, alimentos processados e alimentos ultraprocessados (Anexo).

Agrupamos alimentos in natura e alimentos minimamente com ingredientes culinários

em uma única categoria, denominada alimentos in natura e minimamente processados.

No questionário de frequência alimentar aplicado no nosso estudo, os alimentos

pão francês/ pão de forma/ pão sírio e pão torrado foram mensurados em um único item

alimentar. Segundo a classificação por níveis de processamento adotada no presente

estudo, o pão francês é um alimento processado e os demais ultraprocessados. Para

estimar a contribuição calórica do pão francês em nossa população, aplicou-se o

percentual calórico proveniente do pão francês obtido na Pesquisa de Orçamento Familiar

2008-2009 ao total de calorias proveniente de todos os pães, que foi incorporado ao

consumo calórico dos alimentos processados e o restante mantido no grupo dos alimentos

ultraprocessados.

6.5 Potenciais fatores de Confusão

Os potenciais fatores de confusão incluídos na presente análise foram agrupados

em:

A- Características sociodemográficas:

- Sexo: feminino e masculino.

- Idade: agrupada em faixas etárias, 35-44, 45-54 e 55-64.

- Raça ou cor autodeclarada: branca, parda, preta, amarela e indígena.

- Escolaridade atual: obtida com a pergunta “Qual seu grau de instrução?” agrupada em

superior completo, médio completo, fundamental completo e fundamental incompleto.

- Renda familiar per capita: variável contínua categorizada em quintis de renda,

considerou-se o maior quintil como categoria de referência.

B- Comportamentos relacionados à saúde

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-Tabagismo: obtido pelas perguntas “O(a) senhor(a) é ou já foi fumante, ou seja, já fumou

pelo menos 100 cigarros (cinco maços de cigarros) ao longo da vida? “O(a) senhor(a)

fuma cigarros atualmente?” Foram considerados tabagistas os participantes que

declararam terem fumado pelo menos 100 cigarros ao longo da vida e que continuavam

tabagistas. Aqueles que relataram terem fumado 100 cigarros ao longo da vida, mas não

fumavam no momento da entrevista foram classificados como ex-fumante.

- Atividade física no lazer: obtida do domínio relativo ao lazer na versão longa do

International Physical Activity Questionnaire-IPAQ (IPAQ, 2005) e categorizada a partir

da soma do tempo em cada tipo de atividade ponderando pela intensidade da mesma.

(Forte:≥3000 MET-min/semana, moderada:600-3000 MET-min/semana, fraca:<600

MET-min/semana).

- Mudança do hábito alimentar /dieta nos últimos seis meses (não, sim): obtido pela

pergunta “Nos últimos seis meses o(a) senhor(a) mudou os seus hábitos alimentares ou

está fazendo dieta por algum motivo?

Como o consumo de álcool foi incluído como um dos componentes dos alimentos

ultraprocessados, não foi incluído como covariável.

C- Medida Antropométrica

- Circunferência da cintura: aferido usando como referência a cicatriz umbilical e

estimada em centímetros e categorizada com pontos de corte específicos segundo

classificação proposta pelo WHO, (2008) para risco e complicações metabólicas: baixo

risco (<94 cm em homens e <80 cm em mulheres), risco moderado (>94 cm e <102 cm

em homens; >80 cm e <88 cm em mulheres) e risco elevado (>102 cm em homens e >88)

cm em mulheres.

D- Condições de saúde

- Diabetes tipo 2 (não, sim) definido por diagnóstico prévio auto referido de diabetes ou

uso de medicamento para o tratamento do diabetes ou glicemia de jejum ≥126 mg / dL

ou teste de tolerância à glicose ≥200 mg / dL ou hemoglobina glicada ≥6.5%.

- Hipertensão Arterial Sistêmica (não, sim) definida como pressão arterial sistólica ≥

140mmHg e/ou pressão arterial diastólica ≥ 90 mmHg e/ou que referiram uso atual de

medicamentos anti-hipertensivos serão considerados com hipertensão arterial prevalente.

A pressão arterial foi aferida após repouso de 5 de minutos na posição sentada, com os

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pés apoiados no chão, após esvaziamento vesical, com esfingmomanômetro

oscilométrico automático (Onrom 765CP Intelissense®), considerou-se a média das duas

últimas das três medidas realizadas com intervalo de um minuto.

O consumo calórico proveniente dos alimentos in natura ou minimamente

processados e processados foram utilizados para ajustes adicionais como variáveis

contínuas.

6.6 Análises dos dados

As características da população do estudo foram apresentadas por meio de

frequências ou de mediana (1º e 4º quartis). As medianas de PCR foram descritas segundo

as características sócio demográficas, comportamentos, medida antropométrica,

condições de saúde e consumo de alimentos ultraprocessados. A diferença das medianas

de PCR segundo essas variáveis foi avaliada pelos testes de Mann Whitney e Kruskal

Wallis, realizou-se teste de tendência de medianas quando pertinente.

Investigou a associação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e os níveis

de PCR por meio de modelos lineares generalizados (MLG). O MLG é uma classe de

modelos de regressão que generalizam o modelo linear com erros normais. A distribuição

gama é adequada para modelar dados positivos e contínuos que apresentam assimetria,

como o caso da PCR. Quando a função logarítmica é utilizada, o modelo resultante é um

modelo de efeitos multiplicativos para a média, assim, o exponencial do coeficiente de

regressão (β) representa a razão de médias aritméticas (RMA) ajustada pelas demais

variáveis explicativas. A principal vantagem do modelo de regressão gama com ligação

logarítmica é sua interpretação em termos de média aritmética, em contraponto com o

modelo de regressão linear com resposta log-transformada, em que a interpretação é feita

na média geométrica. Dessa forma, a magnitude das associações foi estimada pela razão

das médias aritméticas (RMA) e seu intervalo com 95% de confiança (IC 95%).

Inicialmente investigou a associação bruta entre o consumo de alimentos

ultraprocessados e a PCR (Modelo 0), em seguida, foram realizados ajustes sequenciais

com a inclusão das variáveis idade e sexo (Modelo 1); raça/cor, escolaridade atual e renda

familiar per capta (Modelo 2); tabagismo, atividade física e mudança na dieta (Modelo

3); circunferência da cintura (Modelo 4); hipertensão arterial sistêmica e diabetes tipo 2

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(Modelo 5). Por fim foi feito o ajuste pelo consumo calórico proveniente dos alimentos

in natura ou minimamente processados e processados (Modelo 6).

Análises de sensibilidade foram realizadas com a exclusão de participantes com

níveis séricos de PCR>10mg/L, que pode indicar inflamação aguda, embora esses níveis

possam ser observados em inflamação crônica (ISHII, 2012), exclusão de participantes

em uso de corticoide, hipolipemiantes e mulheres em uso de anticoncepcional ou em

reposição hormonal. As análises foram realizadas no Stata versão 12 (Stata Corporation,

College Station, EUA).

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7 RESULTADOS

Entre os 12.902 participantes deste estudo, 44% tinham entre 45 a 54 anos de

idade, a maioria era do sexo feminino, autorreferiu raça/cor branca, possuía nível superior

completo e 14,5% estavam no maior quintil de renda familiar per capita. Mais da metade

relatou nunca ter fumado e praticava atividade física de leve intensidade. Cerca de 32%

apresentaram hipertensão e quase 18% diabetes (Tabela 1).

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Tabela 1: Características da população de estudo. ELSA-Brasil (2008-2010).

N %

Sexo

Masculino 5.862 45,4

Feminino 7.040 54,5

Idade

35 a 44 anos 3.219 24,9

45 a 54 anos 5.674 43,9

55 a 64 anos 4.009 31,0

Raça/Cor

Branco 6.605 51,7

Pardo 3.673 28,7

Preto 2.055 16,1

Amarelo 298 2,3

Indígena 131 1,0

Escolaridade atual

Superior completo 6.812 52,8

Médio completo 4.635 35,9

Fundamental completo 810 6,2

Fundamental incompleto 645 5,0

Renda familiar per capita

5º quintil (maior) 1.832 14,2

4º quintil 2.942 22,8

3º quintil 2.741 21,3

2º quintil 2.179 16,9

1º quintil (menor) 3.164 24,6

Tabagismo

Não fumante 7.426 57,5

Ex-fumante 3.736 28,9

Fumante 1.740 13,4

Atividade física

Forte 909 7,1

Moderado 1.960 15,4

Leve 9.827 77,4

Mudança na dieta nos últimos 6 meses

Não 8.830 68,5

Sim 4.058 31,4

Circunferência de cintura

Baixo 4.929 38,2

Moderado 3.479 26,9

Elevado 4.494 34,8

Hipertensão arterial

Não 8.729 67,6

Sim 4.167 32,3

Diabetes tipo 2

Não 10.618 82,3

Sim 2.280 17,6

A mediana e intervalo interquartílico da PCR na população do estudo

correspondeu a 1,43mg/l (0,71-3,23). A mediana da PCR foi mais elevada entre as

mulheres, aumentou com o incremento da idade e com a diminuição da escolaridade e

apresentou valores mais altos entre os que referiram raça/cor preta. A mediana da PCR

também foi mais elevada entre os fumantes e os ex-fumantes, aumentou com a diminuição

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da intensidade da atividade física e com o incremento da circunferência da cintura e

mostrou-se mais elevada entre os que tinham hipertensão arterial e diabetes (Tabela 2).

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Tabela 2: Medianas de Proteína C-reativa (mg/L) e intervalo interquartílico segundo as

características sociodemográficas, comportamentos, medida antropométrica, condições

de saúde e consumo de alimentos ultraprocessados. ELSA-Brasil (2008-2010). Proteína C-reativa

Mediana Intervalo

interquartil

Valor de p

Sexo

Masculino 1,28 (0,66-2,63) 0,0000

Feminino 1,63 (0,76-3,75)

Idade

35 a 44 anos 1,24 (0,61-2,92) t 0,0001

45 a 54 anos 1,45 (0,73-3,32)

55 a 64 anos 1,53 (0,79-3,27)

Raça/Cor

Branco 1,37 (0,69-3,03) 0,0001

Pardo 1,47 (0,72-3,29)

Preto 1,71 (0,8-3,92)

Amarelo 1,01 (0,44-2,1)

Indígena 1,46 (0,83-3,41)

Escolaridade atual

Superior 1,28 (0,64-2,86) t 0,0001

Médio 1,57 (0,77-3,56)

Fundamental completo 1,77 (0,85-3,82)

Fundamental incompleto 1,96 (0,96-4,35)

Renda familiar per capita

5º quintil (maior) 1,28 (0,61-2,90) 0,0001

4º quintil 1,26 (0,66-2,76)

3º quintil 1,41 (0,7-3,25)

2º quintil 1,49 (0,75-3,27)

1º quintil (menor) 1,64 (0,8-3,84)

Tabagismo

Não fumante 1,33 (0,66-3,04) 0,0001

Ex-fumante 1,48 (0,74-3,24)

Fumante 1,85 (0,88-3,79)

Atividade física

Forte 1,02 (0,52-2,29) t 0,0001

Moderado 1,20 (0,62-2,65)

Leve 1,53 (0,76-3,42)

Mudança na dieta nos últimos 6 meses

Não 1,35 (0,68-3,07) 0,0000

Sim 1,62 (0,79-3,59)

Circunferência da cintura

Baixo 0,87 (0,47-1,78) t 0,0001

Moderado 1,39 (0,79-2,84)

Elevado 2,58 (1,28-5,03)

Hipertensão arterial

Não 1,24 (0,63-2,76) 0,0000

Sim 1,92 (0,95-4,17)

Diabetes tipo 2

Não 1,30 (0,66-2,91) 0,0000

Sim 2,26 (1,09-4,61)

Consumo de Alimentos Ultraprocessados

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1º ao 4º quintil 1,40 (0,69-3,18) 0,0002

5º quintil 1,57 (0,76-3,41) t teste para tendência das medianas, valor de p <0,05 .

As associações entre o consumo de alimento ultraprocessados e o aumento na

média aritmética da PCR após uma sequência de ajustamentos são apresentados na Tabela

3. A análise bruta mostrou que os que tinham consumo elevado de alimentos

ultraprocessados apresentaram média aritmética de PCR 6% superior à média dos que

não tinham consumo elevado desses alimentos (Modelo 0). A magnitude dessa associação

aumentou após ajuste por idade e sexo [RMA: 1,11; (IC95%: 1,05-1,16)] (Modelo 1),

sendo levemente reduzida após inclusão de raça/cor, escolaridade e renda familiar per

capita (Modelo 2) e após a inclusão de tabagismo, atividade física e mudança na dieta

(Modelo 3). Com ajuste pela circunferência da cintura (Modelo 4), houve atenuação da

força da associação [RMA: 1,05; (IC95%: 1,00-1,11)]. A magnitude da associação foi

mantida pós a inclusão de hipertensão arterial e diabetes (Modelo 5). Adicionalmente,

após ajuste pelo consumo calórico proveniente de alimentos in natura e minimamente

processados e processados (Modelo 6), o consumo elevado de alimentos ultraprocessados

permaneceu independentemente associado a um aumento de 6% na média aritmética de

PCR [RMA: 1,06; (IC% 1,00-1,11)].

As análises de sensibilidade com a exclusão de participantes com níveis séricos

de PCR>10mg/L, participantes em uso de corticoide, em uso de hipolipemiantes e de

mulheres em uso de anticoncepcional ou em reposição hormonal não levaram a alteração

na associação entre o consumo elevado de ultraprocessados e níveis aumentados de PCR.

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Tabela 3: Analise univariada e multivariada da associação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e os níveis séricos de Proteína C-reativa.

ELSA-Brasil (2008-2010).

1RMA: Razão de média Aritmética estimada por meio do Modelo Linear Generalizado. Modelo 0 = análise bruta; Modelo 1= ajustado por idade e sexo; Modelo 2= Modelo

1+ raça, escolaridade e renda; Modelo 3= Modelo2+ tabagismo, atividade física e mudança na dieta; Modelo 4= Modelo 3+ circunferência da cintura; Modelo 5= Modelo 4 +

hipertensão arterial e diabetes; Modelo 6=Modelo 5+ grupo dos alimentos in natura e minimamente processados e grupo dos alimentos processados. * valor de p <0,05; **

valor de p<0,01; ***valor de p<0,001

Proteína C-reativa

Modelo 0

RMA1 (IC 95%)

Modelo 1

RMA1 (IC 95%)

Modelo 2

RMA1 (IC 95%)

Modelo 3

RMA1 (IC 95%)

Modelo 4

RMA1 (IC

95%)

Modelo 5

RMA1 (IC 95%)

Modelo 6

RMA1 (IC 95%)

Consumo elevado de

Alimentos

Ultraprocessados

Não Referência Referência Referência Referência Referência Referência Referência

Sim 1,06(1,01-1,11)* 1,11(1,05-1,16)*** 1,10(1,05-1,16)*** 1,09(1,04-1,15)*** 1,05(1,00-1,11)* 1,06(1,01-1,12)* 1,06(1,00-1,11)*

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8 DISCUSSÃO

Os resultados do presente estudo sugerem que o consumo elevado de alimentos

ultraprocessados pode influenciar a resposta inflamatória evidenciada pelo aumento dos

níveis de PCR em adultos. A associação observada, embora de pequena magnitude, foi

independente de potenciais fatores de confusão.

Não identificamos outros estudos que investigaram a associação entre o consumo

de alimentos ultraprocessados e a resposta inflamatória. Contudo, nossos resultados são

consistentes com estudos prévios que encontraram relação entre o consumo de alimentos

do tipo grãos refinados, laticínio com alto teor de gorduras, gorduras hidrogenadas e

outras fontes de gorduras saturadas e trans e aumento nos níveis de biomarcadores

inflamatórios (DENG et al 2016; GALLAND, 2010, MEYER et al., 2011;

ESMAILLZADEH et al., 2007). O padrão de consumo alimentar ocidental, caracterizado

por alto consumo de carne vermelha, carne processada e produtos ricos em gorduras e

grãos refinados, tem sido relacionado com maiores níveis de PCR (KO et al., 2016;

NANRI et al., 2011; ESMAILLZADEH et al., 2007). Da mesma forma, dietas com

predomínio de componentes pro-inflamatórios, como colesterol e gorduras saturadas têm

sido associadas à maiores níveis de biomarcadores de inflamação, dentre os quais a PCR

(SHIVAPPA et al., 2015; TABUNG et al., 2014), embora resultados negativos também

tenham sido observados (ALKERWI et al., 2014). Alternativamente, a dieta Mediterrânea

rica em grãos integrais, vegetais verdes e peixes (MAIORINO et al., 2016; NEALE;

BATTERHAM; TAPSELL, 2016) e o consumo de frutas e vegetais (ESMAILLZADEH

et al., 2007) já foram associados à baixos níveis de PCR.

A associação observada no presente estudo foi independente dos potenciais fatores

de confusão como características sociodemográficas, comportamentos relacionados à

saúde e medida de adiposidade central. É reconhecido que a adiposidade pode induzir a

resposta inflamatória (LYONS, KENNEDY, ROCHE, 2016) e consequentemente

maiores níveis de PCR (CALDER et al., 2012), podendo atuar como mediador da relação

entre dieta e PCR, uma vez que o consumo de alimentos ultraprocessados está relacionado

à obesidade (CANELA et al., 2014). Apesar disso, optamos por realizar o ajuste por

indicador de adiposidade central e identificar associação independente. A dieta pro-

inflamatória está mais fortemente associada com a circunferência da cintura do que com

o IMC (RUIZ-CANELA et al., 2015) e a adiposidade central está relacionada à

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marcadores inflamatórios (HERMSDORFF et al., 2011) como à níveis elevados de PCR

(AHMADI-ABHARI et al., 2013). Observamos uma atenuação de 4% na força da

associação entre o consumo elevado de ultraprocessados e níveis de PCR após ajuste por

CC, indicando a relevância deste para o desenvolvimento de mecanismo inflamatório,

sem contudo perder a significância estatística. Ressalta-se que em estudos anteriores, o

padrão alimentar ocidental constituído em sua maior parte por alimentos classificados

como ultraprocessados e a PCR não se mantiveram associados após o ajuste por CC ou

IMC (KO et al., 2016; NANRI et al., 2011; ESMAILLZADEH et al., 2007).

No presente estudo, os grupos de alimentos in natura e minimamente processados

e alimentos processados foram usados como ajuste para considerar o restante do consumo

calórico. Contudo, estes grupos de alimentos não se mantiveram associados aos níveis

aumentados de PCR, embora tenham sido mantidos no modelo final.

As características nutricionais presentes nos alimentos ultraprocessados, tais

como alta densidade energética, alta carga glicêmica (STEELE et al., 2016) e elevadas

proporções de gorduras saturadas e trans (LOUZADA et al., 2015, BIELEMANN et al.,

2014; MONTEIRO, MOUBARAC et al., 2013) podem explicar o seu potencial

inflamatório. É reconhecido que a ingestão em elevadas concentrações destes nutrientes

podem desempenhar estímulos inflamatórios (KLOP et al., 2012) por favorecer o estresse

oxidativo, induzir a produção de radicais livres (CALDER et al., 2011) ou suprimir a

capacidade antioxidante dos alimentos e resultar em hipersecreção de citocinas pro-

inflamatórias (ALKERWI et al., 2014; SANTOS, OLIVEIRA, LOPES; 2013; CALDER

et al., 2011; GALLAND, 2010). Além disso, o próprio processamento de alimentos como

o refino dos grãos ou tratamentos térmicos podem destruir seus compostos polifenólicos,

vitaminas e antioxidantes podendo reduzir seu efeito anti-inflamatório original

(BROWNLEE et al., 2010).

Estudos com alimentos ultraprocessados são restritos e existem apenas evidencias

da sua associação na ocorrência de obesidade (CANELA et al., 2014), síndrome

metabólica (TAVARES et al., 2012) e dislipidemias (RAUBER et al., 2015), reforçando

a importância da presente investigação, uma vez que não identificamos estudos

anteriores. É possível que o efeito sobre a resposta inflamatória desses alimentos seja um

dos mecanismos por meio dos quais esses influenciam, por exemplo, as alterações

metabólicas. Níveis aumentados de PCR estão associados com alguns desfecho e fatores

de risco para a saúde, tais como a síndrome metabólica (SAH et al., 2016), diabetes tipo

2 (MARGIORIS, 2009) e doenças cardiovasculares (ADUKAUSKIENĖ et al., 2016).

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Foram realizadas análises de sensibilidade com a exclusão de participantes com

níveis séricos de PCR>10mg/L, participantes em uso de corticoide, hipolipemiantes e

mulheres em uso de anticoncepcional ou em reposição hormonal, e não foram observadas

diferenças na associação entre o consumo elevado de ultraprocessados e níveis

aumentados de PCR.

Os pontos forte do presente estudo incluem o tamanho da amostra, a qualidade

dos dados coletados e a possibilidade de ajustes para um grande número de potenciais

fatores de confusão da associação investigada. Ainda assim, com relação a este último

aspecto, como em qualquer estudo observacional, não se pode descartar a possibilidade

da existência de fatores de confusão não considerados em nossa análise. Destacamos

também a utilização do questionário de frequência alimentar validado que investigou o

consumo nos últimos 12 meses de uma ampla gama de alimentos. Utilizamos modelos

lineares generalizados para estimar a associação entre consumo de ultraprocessados e

níveis séricos de PCR que consideram a distribuição assimétrica da variável resposta e

não exigem sua transformação logarítmica, facilitando assim a interpretação dos

resultados.

Como limitação, ressalta-se que utilizamos um QFA que pode superestimar o

consumo, especialmente quando contém mais que 100 ítens alimentares (WILLET,

1994), como o utilizado no presente estudo. Além disso, embora o QFA seja

frequentemente utilizado para investigar o consumo alimentar, há instrumentos com

maior acurácia como o registro ou recordatório alimentar de 24 horas. Deve-se observar

também que o QFA não foi construído com o propósito de avaliar o consumo alimentar

segundo o nível de processamento, o que acarretou dificuldades para classificação dos

alimentos, podendo levar ao erro de classificação do alimento. Ressalta-se ainda que a

classificação de alimentos segundo o nível de processamento é ainda recente, suscetível

à atualizações e alterações futuras. O estudo também apresenta como limitação a natureza

transversal que não permite estabelecer uma relação temporal entre o consumo de

alimentos ultraprocessados e níveis de PCR, apesar do questionário aferir o consumo

alimentar nos últimos 12 meses anteriores a mensuração da PCR.

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9 CONCLUSÃO

Em resumo, os nossos resultados revelam que o consumo elevado de

ultraprocessados pode favorecer um aumento de 6% nos níveis de PCR, independente de

outros fatores de confusão e mediação. O presente estudo dá um apoio adicional à

evidencias anteriores que apontaram a importância da qualidade nutricional da dieta para

a inflamação crônica, além de reforçar a necessidade de promover a redução do consumo

de tais produtos, visando a prevenção de doenças e promoção da saúde. Salienta-se a

importância de estudos em outras populações, com outros tipos de dietas diferentes e

investigações prospectivas que poderão contribuir com novas evidências acerca do

consumo de ultraprocessados e resposta inflamatória, alterações metabólicas e outros

eventos relacionados com as DCNTs.

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52

ANEXOS – Classificação dos alimentos segundo o nível de processamento

Grupo de Alimentos Alimentos

Alimentos in natura ou minimamente processados -Frutas, fungos, raízes e tubérculosfrescos,

refrigerados, congelados , embalados a vácuo ,

legumes, grãos (cereais) em geral; feijão

congelados e secos e outras leguminosas; frutas

secas e sucos naturais ; frutos secos sem sal e

sementes; carnes, aves e peixes refrigerados,

congelados; leite fresco e leite pasteurizado; ovos ;

chás.

Alimentos processados Hortaliças ou leguminosas conservadas na

salmoura, frutas em calda, peixes conservados em

óleo, cortes de carnes salgados e eventualmente

defumados como presunto, bacon, peixes salgados,

queijos que recebem sal durante seu

processamento, pão francês, cerveja, vinho.

Alimentos ultraprocessados - Biscoitos; sorvete; chocolates ,doces , barras de

cereais , cereais matinais com adição de açúcar ;

batatas fritas, molhos ; lanches salgados e doces;

massa e pizzas congeladas; pré-preparados de

carne, aves, peixe ,vegetais ; carne processada

incluindo nuggets de frango, salsichas,

hambúrgueres, sopas desidratadas; fórmulas e

comidas infantis, bebidas destiladas.

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ANEXOS – Aprovação do ELSA-Brasil na Comissão Nacional de Ética e pesquisa

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ANEXO - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

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