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CONSUMIR SIM! MAS DE MANEIRA CAUTELOSA, CUIDADOSA E SUSTENTÁVEL

Autora: Clarice Isabel de Carvalho1

Orientadora: Jeane Delgado Paschoal Moura2

RESUMO

O consumo está presente nas sociedades humanas e consequentemente em nossos alunos, levados pelo modismo vigente, independentemente de classes sociais, sem, muitas vezes, atrelar o mesmo à finitude dos recursos naturais e também à destinação correta dos resíduos gerados, colocando-o numa situação conflitante entre o “ser” e o “ter”. Pretendeu-se com este projeto que os alunos fossem sensibilizados a pensar e questionar sobre suas ações com relação a estes recursos. Para tal, foram realizadas atividades como: leituras e discussões de textos, análises de vídeos abordando as temáticas citadas, visita a uma fábrica de tecidos e a uma confecção de roupas de bebês, visita e entrevista com associados da coleta seletiva, levantamento dos resíduos produzidos na escola e ainda, a realização de uma pesquisa extraclasse sobre o preço de uma lista de material escolar, observando as diferenças entre três tipos (o simples, o médio e o mais sofisticado). Todos os resultados foram tabulados e transformados em gráficos. No encerramento do projeto foi realizada a apresentação pelos alunos participantes, onde puderam relatar e explicar suas experiências, expondo os gráficos, tabelas, vídeos e fotografias para a comunidade escolar e para os envolvidos com o projeto. Apresentação esta que, levou ao aluno participante a possibilidade de colocar em prática a sua consciência crítica, refletindo sobre os limites do consumismo, sobre a necessidade do consumo consciente, as relações sociais e de trabalho, a necessidade de se evitar toda e qualquer forma de desperdício, demonstrando seu conhecimento prático.

Palavras-chave: consumo; consumismo; produção; sustentabilidade.

1 Pós- graduação: Especialização em Didática e Metodologia do Ensino (pela UNOPAR), Graduação em Ciências Sociais (pela UEL), Professora QPM de Geografia na Escola Estadual Anastácio Cerezine. Ensino Fundamental II. 2 Pós-graduação- Mestrado e Doutorado pela (UNESP) Presidente Prudente; cargo: Professora adjunta do Departamento de Geociências (UEL); Disciplina: Estágio Supervisionado.

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1 Introdução

Observou-se que o consumismo está muito presente na sociedade e

consequentemente nos alunos, no caso da escola Estadual Anastácio Cerezine

Ensino Fundamental II, localizada à Rua Natal Búfalo de Moraes, 513, Alvorada do

Sul, Norte do Paraná, à 70 Km de Londrina, não é diferente (figura 1). Cadernos

de capa dura, com personagens da mídia, canetas coloridas, etc, estes mesmos

alunos arrancam as folhas dos cadernos para fazer bolas que jogam nos colegas e

para brincar, desenham e escrevem “coisas” desnecessárias, quebram carteiras,

rasgam e rabiscam livros e dicionários, riscam paredes, quebram portas, destroem

seus materiais particulares e públicos sem “culpa”, como se fosse natural destruir o

que é produzido para o seu próprio bem e conforto.

Figura 1

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Não pensam em como este bem material chegou até as suas mãos, no

complexo sistema que vai desde a extração passando pela produção, distribuição e

consumo, e por fim nos resíduos que podem ser reaproveitados.

As rápidas transformações do Espaço Geográfico resultam do atual

processo de globalização, do avanço do neoliberalismo e dos meio técnicos

científicos, as tecnologias que, contribuem para o aumento da produção e do fluxo

de mercadorias, pessoas, informações e serviços, também aumentam as

diferenças políticas, econômicas e sociais tanto nas escalas globais quanto locais.

E o ser humano é levado a consumir, não avaliando suas reais necessidades.

Ao trabalhar os conteúdos de Geografia sobre a questão socioambiental,

percebe-se que boa parte dos alunos não consegue refletir sobre a necessidade de

evitar toda e qualquer forma de desperdício, pois os recursos naturais são finitos e

a maioria dos alunos não tem esta consciência. Portanto, levou-se a questionar: É

possível nas aulas de Geografia levar o aluno a refletir sobre os limites do

consumismo? Como elaborar atividades pedagógicas para que o aluno reflita

sobre: Consumo, propaganda, consumismo, relações sociais e de trabalho?

Aprender sobre os sistemas complexos da produção coletiva pode

contribuir para que o aluno reconheça a finitude dos recursos naturais,

sensibilizando-o e conscientizando-o da necessidade de evitar toda e qualquer

forma de desperdício?

O resgate dos valores sócio-culturais e de preservação dos recursos

naturais podem propiciar a prática da cidadania?

Pretendeu-se com este projeto, que os alunos fossem sensibilizados a

pensar e questionar sobre suas ações e objetos que utilizam no espaço escolar,

como: do que foram feitos, como ocorreu o processo de produção, as

transformações do espaço, a comercialização, valorizando cada momento da

produção e as pessoas que estiveram envolvidas desde a produção da matéria-

prima até o consumo final, produção e reaproveitamento dos resíduos sólidos.

Buscou-se melhorar a aprendizagem dos conteúdos de Geografia e

contribuir para a criação de uma consciência crítica em relação à preservação da

natureza e do meio ambiente, assegurando melhorias na qualidade de vida no

ambiente escolar e social. Procurou-se reconhecer a finitude dos recursos naturais,

por meio de conscientização da necessidade de evitar toda e qualquer forma de

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desperdício. Discutiu-se com os educandos o regimento interno da escola, para o

seu bom funcionamento. Discutiu-se sobre a destinação dos resíduos sólidos.

Buscou-se resgatar valores socioculturais necessários ao desempenho da

cidadania. Propôs-se cuidar e valorizar os objetos e espaços escolares.

Proporcionando um ambiente agradável e favorável aos estudos por meio de

atitudes e conscientização da importância do respeito ao meio ambiente.

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2 Desenvolvimento

2.1 Aspectos Teóricos da Educação Ambiental

Observou-se que o consumismo está muito presente nas sociedades

humanas e consequentemente em nossos alunos, que possuem objetos

desnecessários para a aprendizagem, mas o modismo é presente, independente

de classes sociais.

Ao trabalhar conteúdos de Geografia, sobre a questão socioambiental,

percebeu-se que uma boa parcela de nossos alunos não consegue refletir sobre a

necessidade de evitar toda e qualquer forma de desperdício, seja dos recursos

naturais, ou até mesmo de produtos finais.

O ser humano historicamente, foi criando instrumentos, símbolos de

linguagem e cultura, ao se colocar em situações de sobrevivência, criando assim

necessidades de se alimentar, de se proteger do frio, de se comunicar e de se

socializar.

Portanto, estas necessidades foram definindo a vida em coletividade e

cada vez mais criando novos instrumento e técnicas de produção e assim, por meio

do trabalho, criaram e criam novos bens de consumo, já não são apenas

necessidade e bens para sua sobrevivência, nos tempos de hoje vai muito além

disso, busca-se o lucro a qualquer custo.

Segundo Projeto Araribá, em 1940, o filósofo Alemão Theodor Adorno

contestou a idéia de que, com a abertura comercial e a expansão das

comunicações mundiais, haveria a formação de uma “cultura popular” planetária

harmoniosa.

Pare ele, a expansão da produção industrial somada ao crescimento da

produção cultural e a propaganda, estaria vinculada à criação de uma “indústria

cultural”.

A indústria cultural busca, por meio da propaganda, estimular o desejo de

consumir os chamados “artigos da moda”, além de incentivar a troca constante dos

produtos antigos, tornando-os “obsoletos”. Essa propaganda é veiculada pela

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televisão, rádio, cinemas, artes, livros, revistas, outdoors, etc, que mostram estilos

de vidas e hábitos consumistas.

As rápidas transformações do Espaço Geográfico resultam do atual

processo de globalização, das avançadas tecnologias, que contribuem para o

aumento da produção e circulação de mercadorias, pessoas, informações e

serviços, aumentando cada vez mais as diferenças econômicas, políticas e sociais

desde as escalas locais até as globais.

Para efeito de sensibilização, tem filmes/documentários que podem ser

trabalhados nesta faixa escolar. As questões acima levantadas são bem definidas

no filme Ilhas das Flores que mostra desde a produção de um tomate, até chegar

ao lixo que vai para um local servir de alimento para os porcos ou para seres

humanos que não tem como se alimentar, filme este que aborda os três setores da

economia.

Já o filme a História das Coisas, trata também da extração, produção,

distribuição, consumo e tratamento do lixo, mais destacando a importância do ser

humano como parte importante em todo esse processo.

E no filme “1,99 um supermercado que vende palavras”, onde toda a

história passa em um supermercado que vende palavras, nos leva a uma reflexão

sobre os limites do consumismo. Mostra pessoas tristes, desanimadas, infelizes e

indiferentes.

Assim, no ensino fundamental, é parte do currículo de Geografia abordar o

conteúdo estruturante a questão sócio-ambiental.

De acordo com as Diretrizes Curriculares de Geografia, considera-se que:

O ensino deve subsidiar os alunos a pensar e agir criticamente, buscando elementos que permitam compreender e explicar o mundo(Callai,2001),cabendo assim,à Geografia a função de preparar o aluno para uma leitura crítica da produção social do espaço,negando a naturalidade”dos fenômenos que imprimem uma certa passividade aos indivíduos (Casseti,2002);(apud D C Geog p.19,2006).

Para alcançar esse objetivo, cabe ao professor buscar encaminhamentos

metodológicos que ultrapassem a visão tradicional trabalhando os conteúdos

específicos de uma forma critica e dinâmica, interligando teoria, prática e realidade,

mantendo uma coerência dos fundamentos teóricos, sendo possível observá-los

em diferentes escalas espaciais, ou seja, do local ao global e vice-versa.

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Dessa forma, espera-se que seja possível levar o aluno a refletir sobre os

limites do consumismo; refletir sobre consumo, propaganda, relações sociais e de

trabalho; reconhecer que os recursos naturais são finitos, conscientizando-se da

necessidade de evitar toda e qualquer forma de desperdício; resgatar valores

sócio-culturais necessários ao desempenho da cidadania.

A globalização forneceu novos “prazeres” ao homem, dando-lhe “conforto e

ilusões” de desfrutar das conquistas do progresso. E assim fica numa situação

conflitante entre o “ser” e o “ter”.

Precisa-se de bens de consumo para suprir as necessidades básicas, mas

o que se vê nos dias atuais é a produção de bens descartáveis, os produtos se

tornam obsoletos, “cai de moda” ficam ultrapassados, e as propagandas tratam

isso como normalidade, trocar os produtos que funcionam muito bem por novos

modelos, “mais modernos”.

Como diz Chiavenato:

A cibernética e a tecnologia eletrônica tornaram obsoletas as técnicas e as máquinas antigas. A mudança foi tão rápida que a língua portuguesa nem teve tempo de criar os nomes da nova onda. No dia a dia usamos expressões estrangeiras, geralmente do inglês para comunicar idéias e nomear objetos (Chiavenato, J.J 2004 p. 12).

Com a evolução tecnológica do século XIX a industrialização possibilitou

mais conforto à sociedade, pelo consumo de produtos que lhes forneciam “prazer”.

Os padrões de comportamento foram modificados e substituídos por outros mais

modernos que facilitam o consumo, dando a idéia de que é muito mais importante

o “ter” do que o “ser”.

Com a globalização destaca-se a democratização do consumo. Em

qualquer “lugar” do mundo pode-se comprar os mais variados produtos, desde que

se tenha dinheiro.

Não se pode esquecer que a globalização ou o neoliberalismo é a

conseqüência da expansão do sistema capitalista. E o objetivo do capitalismo é o

lucro, travado nesta “luta” entre o “ser e o ter”.

Destaca-se a fala de Chiavenato:

O processo de globalização subverteu a discussão ideológica, substituindo a visão política pelas “necessidades de consumo”. Os meios de comunicação eletrônicos, principalmente, contribuíram para criar o “novo” ser humano que prefere ter a ser. Assim, o cidadão transforma-se em

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consumidor, submetendo-se aos condicionamentos de estruturas sociais alienantes (Chiavenato, J.J 2004 p 27).

Logicamente, o que satisfaz um cidadão rico e o que satisfaz um cidadão

pobre é bem diferente, o produto a ser adquirido está atrelado a sua classe social

e necessidades reais.

Para Chiavenato:

A globalização criou a ilusão de que o bem estar social pode ser alcançado pelo consumo. Isso levou a falsa identificação ideológica entre os muitos ricos e os pobres. A concentração de renda aumentou o poder de compras dos ricos; a expansão do consumo de inutilidades de baixo preço deu a sensação de posse aos pobres (Chiavenato, J.J 2004 p 50).

Nesse mundo globalizado dá-se à ideia de que somos igualmente livres,

todos são iguais e têm as mesmas oportunidades. E para a maioria da população

ser livre, igual e ter oportunidades significa “consumir”. Assim, por intermédio das

propagandas se apropriam do falso conceito de liberdade e igualdade, perdendo-se

o real conceito de cidadania.

Nas últimas décadas, comenta-se muito sobre o desenvolvimento

sustentável e sustentabilidade, órgãos preocupados com a exploração dos

recursos naturais e o destino dos resíduos sólidos que são cada dia produzidos

mais e mais.

Devido à preocupação com as futuras gerações, em apontar algumas

soluções, para a conscientização da sociedade e sua sustentabilidade, são

lançadas algumas práticas imediatas, outras de caráter, ainda que, a longo prazo,

para que aproveitam de forma segura os recursos naturais com menor agressão

ao meio ambiente.

Percebe-se que muitos resíduos acabam sendo depositados de forma

irregular, sem a separação devida, e os cuidados necessários.

“De nada serve ao homem de conquistar a Lua se acaba por perder a

Terra”, essa é uma frase conhecida do escritor francês François Mauriac, e que nos

faz refletir sobre a devastação da natureza pelo progresso egoísta e capitalista do

chamado homem moderno. Tudo que a natureza criou e todos os recursos naturais

que ao longo do tempo serviu para a sobrevivência da espécie humana, vem

sendo aniquilados como uma plantação no deserto.

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Diante de tudo isso, necessita-se de ações por parte do poder público, da

sociedade organizada para que criem e estabeleçam condições de intervenções,

ainda que não sejam imediatas, mas que amenizem a problemática da destruição e

devastação da natureza.

Uma proposta interessante, segundo Daniel Pereira, é a da teoria dos “três

erres”: reduzir, reutilizar e reciclar onde a aplicação destes pode fazer um bem

enorme ao meio ambiente, mas para tal, é necessário conscientização e vontade.

Reduzir significa avaliar o que consumismo, o que realmente é importante

e o que é supérfluo. Observar a qualidade do produto e se a quantidade a ser

comprada não é excessiva. Além de reduzir os produtos, também se deve pensar

na quantidade de embalagens que vão ser jogadas fora, ou ainda produtos que

funcionam e são trocados por outros mais sofisticados, ou ainda comprar produtos

por que estão na promoção.

Reutilizar significa dar um novo uso para coisas, evitando que estas virem

lixo. Há muito tempo a reutilização vem sendo aplicada, apesar de muitos acharem

“brega”, muitas pessoas utilizam o conceito de reutilização para desenvolver novos

objetos, peças de decoração, por exemplo, podendo vendê-las inclusive, evitando o

excesso de produção de lixo. A água e o resto de alimentos também podem ser

reaproveitados ou reutilizados.

Existe o reaproveitamento de materiais e entulhos de construção, por

meio de uma máquina onde elementos são triturados e separados para serem

reutilizados em 100 %, diminuindo os custos na construção e os entulhos nos

lixões.

Por fim o reciclar, os materiais que não podem ser reutilizados são

recolhidos, separados e levados para as indústrias de reciclagem como por

exemplo, o alumínio.

Portanto, colocar em prática os três erres do consumo consciente é

fundamental para a sustentabilidade, uma vez que evitando o desperdício também

estaremos construindo uma sociedade mais consciente e cidadã.

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2.2 Descrição da Aplicação da Proposta Didático-Ped agógica

Propôs-se trabalhar, estudar e pesquisar juntos aos alunos sobre o

sistema complexo de produção de um bem que vai da extração, passa pela

produção, distribuição, consumo e acaba no lixo e ou reciclagem. Destacando-se

alguns aspectos importantes como as pessoas que participam desse círculo

produtivo e os limites impostos pela natureza.

Planejou-se atividades que foram implementadas na Escola Estadual

Anastácio Cerezine, com os alunos de 6ª séries (sétimo ano.). Foi proposto para a

Produção Didática a elaboração de um caderno Pedagógico com leituras,

discussões e compreensão de textos variados abordando as temáticas já citadas;

exibição de filmes/documentários que abordam as temáticas de produção,

consumo, consumismo, propaganda, conformismo, como Ilha das Flores, 1,99 um

supermercado que vende palavras; A História das Coisas, entre outros; visitas

técnicas a uma fábrica de roupas de bebês, para observação das diferentes etapas

de produção e divisão de trabalho.Visita ao barracão, onde ocorre a separação do

material que é recolhido na coleta seletiva, para melhor entender a importância da

reciclagem, e reaproveitamento dos resíduos sólidos; envolvimento da comunidade

escolar: realizando-se o levantamento da quantidade dos resíduos sólidos

produzidos pela comunidade escolar, por turmas, na cozinha, no pátio, e outros.

pesquisas de preços de material escolar em diferentes estabelecimentos

comerciais da cidade e via internet, apresentação e exposição dos resultados da

Proposta Didático-pedagógica para a comunidade escolar.

A ideia inicial era que se escolhesse um dos objetos como o caderno,

usado pelos alunos no seu dia a dia escolar, para estudar as diferentes etapas de

produção, mas como isso não estava ao alcance, optou-se pelo o que era

possível e acessível, conhecer as etapas de produção da confecção de roupas de

bebês, que localiza-se próxima à escola, a qual agendou-se uma visita, que

resultou em informações importantes e esclarecedoras sobre cada momento da

produção.

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2.3 Colocando a Proposta Didático-Pedagógica em prá tica

Iniciou-se com a apresentação do Projeto para os alunos, em seguida

lançou-se as questões iniciais de diagnóstico. Foi entregue a cada aluno uma folha

com as questões diagnósticas, pediu-se que as respondessem de acordo com a

realidade de cada um, que fossem sinceros e verdadeiros em suas respostas, e o

resultado foi exatamente igual ao que havia sido observado antes (quando

elaborada proposta do projeto): cadernos de capa dura, com personagens da

mídia, muitas canetas coloridas, a maioria possui celular, disseram que os pais

compram com cartão de crédito, a maioria respondeu que é influenciável, pois

compram o que está na moda, preferem assistir à programas de entretenimento ao

de informação e educação. A internet é usada com mais freqüência para o lazer e

pouco para pesquisas e estudos. Alguns ajudam nos afazeres de casa.

No próximo encontro realizou-se leitura e discussões dos textos

adaptados para esta atividade: O ser humano se reinventa (Cirurgia de

lipoaspiração de Herbert Viana), A busca pelo imediato (DO cidadão imperfeito ao

consumidor mais que perfeito, de Milton Santos) e Sentir-se globalizado (Países

periféricos e globalizados de Júlio J. Chiavenato), textos que encontram-se na

Produção Didática a qual este artigo é referente.

Os textos foram lidos, um a um, no primeiro momento foi feita uma leitura

individual, depois cada aluno lia um parágrafo, e juntamente com os demais

colegas, faziam os comentários e discussões sobre os mesmos, idéias e opiniões

iam surgindo no decorrer das leituras dos textos. Comentou-se sobre reportagens

que viram em programas de TV e notícias em jornais, contaram de experiências

vividas pelas próprias famílias, como por exemplo: tomar remédios para

emagrecer; comentou-se também de produtos que compram e logo estragam,

quebram, e ainda em como a mídia e a moda interferem em seus gostos, como no

exemplo: comprar os relógios que trocam as pulseiras, entre outros.

Na próxima atividade, realizou-se a exibição dos vídeos e documentários,

Ilha das Flores, um curta metragem de Jorge Furtado, que descreve a trajetória de

um tomate desde a produção no campo, passando pelo comércio, servindo como

alimento ou sendo descartado como lixo, este mesmo tomate servirá de alimento

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para os porcos, ou para pessoas que sobrevivem dos restos descartados pelos

porcos. Este filme aborda questões sociais, econômicas, ambientais e relações de

trabalho, perfazendo o caminho dos três setores da economia. A História das

Coisas, é um filme americano de animação de Annie Leonard, que aborda desde a

extração dos recursos naturais, transformação e produção destes recursos,

distribuição e consumo, produção e tratamento do lixo, destacando a importância

do ser humano como parte importante de todo este processo. E ainda mostra a

relação de produção e exploração entre os países chamados de desenvolvidos e

subdesenvolvidos. E o não menos importante, 1,99 Um Supermercado Que Vende

Palavras, filme de Marcelo Masagão que combina imagens e textos de impactos.

Toda a história passa em um ambiente de um supermercado totalmente branco,

que vende não objetos, mas sim palavras, conceitos, e idéias: como amor, sucesso

e família, todos dispostos em prateleiras. Confrontando o homem moderno, que

não se define pelo que é, mas pelo que possui, Masagão faz um análise sobre uma

sociedade devotada ao consumo, pois compramos estilo de vida, sonhos nem

sempre alcançados. O filme explora a falência dos valores sociais onde as pessoas

se mostram confusas, tristes, desanimadas, infelizes, indiferentes, angustiadas e

até mesmo compulsivas no ato da compra.

Foi feita a exibição ininterrupta do vídeo, depois no segundo momento foi

sendo pausado para que os comentários pudessem ser feitos. A reação dos alunos

foi muito interessante, porque ao final alguns disseram sentirem-se culpados pelo

que consomem e pelo que desperdiçam. No segundo e terceiro vídeos usou-se a

mesma estratégia referente ao primeiro.

O filme 1,99 Um Supermercado Que Vende Palavras, foi o que mais

surpreendeu, por ser um filme que mexe com as emoções e sentimentos, pensou-

se que seria rejeitado pelos alunos, por ser mais complexo, mas aconteceu o

contrário, eles (alunos) já iam relacionando-o com os textos lidos da segunda

atividade. Ao final da exibição de cada vídeo e após as discussões realizou-se

relatórios.

Após as atividades dos textos e dos vídeos, foi proposto relacioná-los,

respondendo as questões que foram entregues para cada grupo. Ao confrontar os

textos e vídeos através de questões que foram entregues aos grupos para

respondê-las relacionando-as com o cotidiano de seus familiares, a maioria

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respondeu que o consumo em suas casas é elevado, outros responderam que são

controlados pelos pais. Afirmaram que se não houvesse a busca pelo corpo

perfeito e pela beleza as pessoas seriam mais felizes, que a mídia influencia as

pessoas a serem consumistas, pensando mais no “ter” do que no “ser”,

comentaram sobre anorexia e o exagero pela busca do corpo perfeito em que as

pessoas parecem ser fabricadas em laboratórios. As propagandas transmitem a

idéia da família feliz comprando os produtos, influenciando as pessoas para

comprar os produtos que já têm ou para obter “coisas” que não funcionam direito.

As pessoas que consomem desenfreadamente ficam endividadas cada vez mais,

perdendo o controle. E o que leva a pessoa a comprar é a “necessidade” de estar

na moda, de se sentir feliz, de fazer parte “do grupo”, tendo como conseqüência o

endividamento, perda de crédito, não se percebem como consumistas, mas apenas

como consumidores, se vêm com “status” que se destacam pelo carro que têm,

pela roupa que usam, pelos lugares que freqüentam, mas que tudo isso só faz

parte da aparência.

Ao comparar o que as pessoas viviam no passado e o que vivem hoje,

concluíram que no passado eram mais felizes por valorizarem as coisas simples e

pequenas, e que a felicidade de hoje é apenas momentânea, quando suprem

aquele desejo, imediatamente surge outro, e a infelicidade toma conta do ser, pois

tudo é válido a curto prazo. E ainda o consumo é necessário, mas o consumismo é

o excesso, o exagero; o dinheiro pode comprar quase tudo, mas a felicidade se

conquista diariamente. As próximas atividades foram as visitas técnicas. No primeiro momento

visitou-se e conheceu-se a fábrica de tecidos (figura 1), que depois de pronto é

encaminhado para Santa Catarina para ser tingido, retornando então, para ser

usado na confecção.

No segundo momento, visitou-se a confecção (figura 2), onde foi mostrado e

explicado o passo a passo da produção, tudo foi registrado por fotografia e

filmagens pelos alunos, por meio de celulares e câmeras fotográficas.

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Figura 2: Visita à Fábrica de Tecidos

Fonte pessoal: Clarice Isabel de Carvalho; 2011.

Figura 3: Visita à Confecção Estilinho

Fonte pessoal: Clarice Isabel de Carvalho; 2011.

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Voltando para sala de aula, foi feito um relatório coletivo, segue abaixo

alguns trechos:

Relatório sobre a visita à Fábrica de tecidos:

“Fomos à fábrica de tecidos que produz malhas que são usadas para produzir roupas de bebês da Confecção Estilinho. Lá podemos conhecer as máquinas que são utilizadas no processo de fabricação dos tecidos, cada máquina tem o custo aproximado de cento e cinqüenta mil reais (R$ 150.000,00) importada da China, cada máquina produz por hora um rolo de tecido que pesa vinte quilos, por dia são produzidos quatorze rolos. Observamos que lá existem máquinas que estão desativadas, pois são muito lentas, tecnologia ultrapassada (demoram muito tempo para fazer a mesma produção), não compensando seu custo/beneficio. A fábrica tem uma parceria com uma empresa em Santa Catarina, onde toda produção de tecido é levada para ser tingida. São produzidas as malhas simples e as malhas duplas, trabalhando dois funcionários em dois turnos (sendo um operário e um técnico)” (por A, aluna da 6º série 2011).

Relatório sobre a visita à Confecção:

Nesta visita conhecemos como se faz a estamparia das máquinas ( que é manual), a sala de criação (temas, slogan e desenhos da coleções), os modelos passam para um computador, depois para impressoras gigantes em seguida para a cortadeira que corta várias peças ao mesmo tempo, as peças são separadas por lotes e numeradas, passa para a costura, cada operário costura uma parte, outros tiram as linhas, outros fazem a arrumação, outros pregam botões, outros trabalham na máquina termo colante, depois passam para o códigos de barras onde contém toda as informações sobre as peças, como se fosse o seu RG. Toda essa informação fica registrada em um computador. Depois de todas essas etapas a produção vai para um estoque de onde são destinadas para o Brasil todo, sendo que mais de cinqüenta por cento da produção é destinado para o Rio de Janeiro. A distribuição é feita via transportadora, os retalhos é vendido para uma pessoa que o retorno o fio mais grosso; outros são doados para a APAE3, que fazem tapetes. A água que usam é doada pela SAAE4. A fábrica existe a vinte e um anos, sendo os últimos dez em Alvorada do Sul, hoje conta com cem funcionários, quando começou aqui (Alvorada do Sul) eram apenas nove funcionários. A idade mínima para trabalhar é de dezesseis anos, trabalham oito horas e quarenta e oito minutos diários com uma hora e meia de almoço; a produção média mensal é de cento e vinte mil peças por mês (por B, aluna da 6º série 2011).

3 Associação de Pais e Amigos de Excepcionais 4 Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Alvorada do Sul

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Visitou-se o barracão, onde puderam conhecer esse importante trabalho

(figura 4). Os alunos entrevistaram os coletores quando, além das questões

presentes na proposta outras foram formuladas pelos alunos e muitas outras foram

surgindo no momento da visita; tudo foi registrado por fotografia e filmagens e

ainda, por relatórios.

Figura 4: Barracão da Coleta Seletiva.

Fonte pessoal: Clarice Isabel de Carvalho; 2011.

Segue abaixo o relatório:

Fomos ao barracão da coleta seletiva onde nos mostraram a prensa que é usada para prensar as embalagens de produtos de limpeza, papelão e outros materiais descartados. Fizemos algumas perguntas e descobrimos que a associação existe a quatro anos, no momento são sete associados que trabalham neste importante trabalho, os materiais selecionados são: papelão, pet, papel misto, papel branco (folhas de caderno) sucatas, cobre, alumínio, jornal, pda (que é o plástico das embalagens de limpeza);descobrimos o porque não recolhem o isopor, porque aqui por perto não existe empresa que compre esse material, mas que ele pode ser reutilizado e reaproveitado em maquetes por exemplo. Os coletores estão atualmente recolhendo o material uma vez no mês, na quarta-feira porque é o dia que o caminhão da prefeitura está disponível. Trabalham seis dias por semana das sete as dezessete horas de segunda à sexta-feira, e das sete às doze horas aos sábados. A média mensal de material recolhido é de sete a oito mil quilos. A ideia de fazer a coleta partiu de uma pessoa que já desistiu, mas outros que começaram

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com ele persistiram e estão até hoje.O material recolhido é levado para a cidade de Rolândia, de onde é distribuído para as fábricas . A média mensal bruta varia entorno de dois mil reais, mas os coletores gastam com a manutenção e impostos. Segundo os coletores a atuação da comunidade está muito fraca, pois há pessoas que colocam lixo orgânico junto com o material reciclável. Para eles a coleta é importante porque lhes dá emprego e faz bem para o meio ambiente;disseram que gostariam, mas não fizeram nenhum curso para trabalhar com reciclagem. A proteção que usam são tênis, sapatos fechados, calça. Perguntamos se gostariam de ter mais máquinas para ajudá-los, disseram que sim, pois aumentariam os lucros. Além do material reciclável, algumas pessoas colocam roupas e calçados usados, os quais aproveitam ou doam para quem servir. Perguntamos sobre a detetização do local, disseram que a realizam uma vez por mês. Tiramos algumas fotografias com eles, e os agradecemos por nos receber e pelo trabalho que realizam (por C, aluna da 6º série 2011).

Após todas essas atividades e descobertas realizadas pelos alunos,

chegou o momento da participação e envolvimento da comunidade escolar. Entre

os dias sete e onze de novembro realizou-se o levantamento do que foi produzido

de resíduos na escola (figura 5), sendo o resultado registrado em tabelas, e

relatado o que era encontrado no “lixo” de cada turma e no pátio.

A participação das funcionárias da limpeza foi de suma importância para a

realização desta etapa da proposta. Percebeu-se que, durante uma semana, na

escola produz muito “lixo” (resíduos) e que não se tem consciência desta realidade.

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Figura 5: Pesagem e Anotações dos Resíduos

Fonte pessoal: Clarice Isabel de Carvalho; 2011.

Também, realizou-se uma tarefa extraclasse, para a implementação do

trabalho.

Os alunos divididos em equipes fizeram uma pesquisa de preço de uma

lista de material escolar. Observaram a diferença entre os três tipos de materiais: o

mais simples, o médio e o mais “sofisticado”. Cada grupo ficou responsável por um

estabelecimento comercial local diferente e, um grupo simulou uma compra via

internet. Observou-se a discrepância dos preços, principalmente, em relação às

diferentes marcas e ou em relação ao que está em destaque na mídia. Os

resultados foram tabulados e transformados em gráficos.

Paralelo a aplicação da Proposta Didático-Pedagógica, estava sendo

realizado o GTR (Grupo de Trabalho em Rede) que tinha como objetivo promover

uma discussão sobre o Projeto de Intervenção Pedagógica, para que houvesse

interação entre os participantes do GTR e o professor PDE, o que contribuiu para a

ampliação das idéias relacionadas à temática proposta.

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Participação esta que foi de grande importância, pois os professores do

GTR puderam avaliar, questionar, propor e sugerir outras atividades relacionadas à

proposta. Além de sugestões, houve relatos de experiências e até da aplicação de

algumas atividades da proposta discutida. Foram sugeridos outros vídeos, poemas,

letras de músicas, enfim muita idéias e ótimas sugestões que podem ser

aproveitadas não só nas aulas de Geografia, mas em outras disciplinas também.

Dentre as discussões no GTR uma colega professora relata a sua

experiência de mudança de comportamento, onde ela descreve que estava

pensando em trocar o seu sofá por um novo e repensou, resolvendo reformá-lo,

assim a proposta estava alcançando não só os alunos da Escola Estadual

Anastácio Cerezine, mas já estava colhendo frutos com os colegas professores

participantes do GTR.

Outra colega (GTR) cita a relevância do projeto na escola, sendo o aluno o

porta voz para a família e sociedade, levando-os a mudança de postura. E ainda

outra colega (GTR) cita João Paulo II para uma reflexão: “o mundo vai mal porque

o homem moderno conquistou o Universo, mas perdeu o domínio de si mesmo.

Sente-se hoje ameaçado por aquilo que ele mesmo criou com a sua inteligência e

construiu com suas mãos”.

O encerramento do trabalho aconteceu com a apresentação dos

resultados para a comunidade escolar e para os envolvidos com os trabalhos de

campo, por meio de uma exposição de vídeos, fotografias, relatos, tabelas e

gráficos confeccionados pelos alunos.

Segue abaixo algumas fotografias de gráficos, tabelas, apresentação do

trabalho e relatos de alguns alunos sobre o desenvolvimento das atividades da

Proposta Didático-Pedagógica. (figura 6, 7,8).

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Figura 6: Representação Gráfica de Resíduos Recolhidos

Fonte pessoal: Clarice Isabel de Carvalho; 2011.

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Figura 7: Tipos de Resíduos e Diferentes Preços de Material Escolar

Fonte pessoal: Clarice Isabel de Carvalho; 2011.

Relatos de alguns alunos participantes do projeto:

Este projeto foi importante para todos os participantes, pois ele mudou a nossa perspectiva, porque agora, pensamos antes de consumir, pensamos nas pessoas que trabalharam para que ele estivesse em nossas mãos. Agradecemos a professora pelo maravilhoso curso! (aluno 01).

O trabalho ao se desenvolver mudou bastante a minha rotina, pois agora antes de comprar algo penso bem e me pergunto “preciso disso mesmo” e antes comprava sem pensar, comprava só porque a mídia mostrava e dizia que estava na moda e agora vejo que o que importa não é a aparência mais sim o conforto. E também percebo o quanto é trabalhar para comprar e gastar, como é que eu gastava antes sem pensar, e o projeto me ajudou bastante, pois compro o necessário e não o que quero, aprendi também que o querer é bem diferente de poder e o ter. As visitas a alguns lugares como fábricas, associação da coleta seletiva, também ajudou a ver o mundo como é, como gastamos e desperdiçamos sem termos nenhuma preocupação. Quando compro algum objeto penso o quanto de trabalho alguém teve para produzi-lo, e não o desperdício, pois sei que além de poluir o ambiente eu gasto sem precisar. Ao todo o projeto mudou a minha vida para melhor, sem dúvidas!!! (aluno 02).

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Achei o projeto legal, aprendi sobre o meio ambiente, no início do projeto respondemos algumas perguntas, lemos e discutimos textos, assistimos vídeos e fizemos relatórios, fomos a algumas fábricas e fizemos perguntas, tiramos fotos, gravamos vídeos, vimos como é a produção de tecidos e o processo de confecção de roupas e o quanto de trabalhadores precisam, também aprendemos o quanto é importante reciclar, fizemos pesquisas, textos, relatórios e gráficos. Aprendemos a consumir de maneira moderada, quando vou comprar alguma coisa, penso se preciso mesmo desta coisa (aluno 03). De agosto por diante eu e os outros alunos começamos a fazer o projeto de geografia da professora Clarice Isabel, ela começou dando umas questões vídeos e os alunos discutiam sobre eles e nós também fizemos uma visita há Confecções Estilinho e vimos que eles fabricam seu próprio tecido , mandam para Santa Catarina tingir porque aqui não há “ rede de esgoto ” , e de lá volta para a confecção e é fabricada as roupas para as crianças do Brasil inteiro . Quando nós fomos visitar a coleta seletiva lá aprendemos muitas coisas sobre o lixo e o que nós esperávamos é que poucos eram reutilizados , mas na verdade é que a grande maioria é reutilizada . Isso fez com que mudasse muitas das minhas ações, meu jeito e muitas outras coisas. (não jogar lixo da janela no carro) (aluno 04).

No mês de agosto, a professora Clarice Isabel convidou os alunos para participar de seu projeto, alguns desses alunos fui eu, desde ai comecei a participar do projeto, foi muito bom porque aprendi a não gastar tanto, coisas que não são necessárias, alguns meses atrás fui a Londrina com meu pai e minha mãe, fazer compras, comprei um monte de coisas que guardei e não consumi, isso foi antes de começar o projeto, algum tempo depois quase no fim do projeto, fui a Londrina novamente, e me lembrei de tudo que aprendi, tudo que minha professora me falou, e consumi muito menos, o preço que deu me surpreendeu, tinha dado muito pouco, fiquei feliz, meu pai e minha mãe, falaram que consumi muitos menos, desde que comecei o projeto, no projeto visitas, um deles foi na coleta seletiva, que nos trataram com muito respeito, nos receberam e explicaram como funciona o trabalho deles foi muito legal,também fomos a Estilinho, uma fabrica de roupas foi muito legal; a professora também nos mostrou vídeos, um deles foi Ilha das flores;outro A história das coisas, e também o filme 1,99 um supermercado que vende palavras, foi muito bom assistir a esses vídeos, nós fizemos atividades em grupo e sozinhos, depois fizemos uma pesquisa sobre o lixo que consumimos na escola , graças a tudo isso nós aprendemos a consumir menos ,fui ao mercado e vi um esmalte pensei bem se eu precisava daquele esmalte e eu não precisava , deixei de comprar, quando cheguei em casa vi que já tinha um monte de esmalte e não precisava de mais um, mas eu não aprendi tudo isso sozinha, claro que meus amigos(as) me ajudaram muito, mas ,quem nos ajudou foi a minha professora, ela é muito amorosa, sempre nos tratou muito bem,além de ensinar bem é o tipo de professora que eu nunca vou esquecer , pois ela me ensinou uma coisa que eu vou usar para o resto da minha vida,que muitas vezes vai me ajudar. Mais uma vez quero agradecer a Clarice porque foi ela quem me fez pensar em tudo isso, nunca vou me esquecer desse projeto que foi muito bom (aluno 05).

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Figura 8: Apresentação dos Resultados

Fonte pessoal: Clarice Isabel de Carvalho; 2011.

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4 Conclusão

O presente material tem por objetivo sensibilizar os alunos sobre a

importância de pensar sobre o consumismo e também sobre o que este

consumismo pode gerar em uma sociedade. Sendo assim, propomos várias

atividades que levassem o nosso aluno a ter a possibilidade de colocar em prática

a sua consciência crítica, refletindo sobre os limites do consumismo, as relações

sociais e de trabalho, sobre a necessidade de evitar toda e qualquer forma de

desperdício, levando- o ao conhecimento prático.

Uma das estratégias utilizadas foi as visitas técnicas, onde os educandos

puderam conhecer o trabalho realizado em uma fábrica, destacando os vários

setores e etapas de produção, em que também, puderam observar não só os bens

materiais necessários, mas o “material humano” que é parte fundamental para o

sistema produtivo.

Outro encaminhamento foi a oportunidade que os alunos tiveram de

conhecer o trabalho dos coletores de resíduos sólidos, como importante trabalho

de resgate e preservação dos recursos naturais e do meio ambiente, além de

reconhecer a prática da cidadania por parte dos coletores.

Os alunos também puderam vivenciar na prática, a experiência de coletar

e pesar os resíduos sólidos produzidos na escola, por turma e no pátio, fizeram

gráficos, tabelas e relatórios, trocaram idéias entre eles e relataram as experiências

vividas.

Para realizar as atividades propostas foi necessário o apoio da comunidade

escolar, (pedagogas, direção, serviços gerais entre outros) e ainda das empresas

que se dispuseram para que as visitas técnicas fossem possíveis. Um aspecto que

favoreceu este encaminhamento é o fato de que a escola está localizada num

município de pequeno porte, onde as relações sociais e os contatos pessoais são

mais próximos facilitando o agendamento das visitas e o acolhimento nesses

locais. Não necessitando de transporte, apenas de pessoas para ajudar

acompanhar os alunos para estes locais para visitas. Sabemos que num município

maior esta estratégia implica em demanda de transporte para alunos e

professores e um tempo maior para a realização da atividade que pode ocasionar

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necessidade de alteração de horário na escola. No caso deste projeto várias

atividades foram realizadas em contra turno.

O mais importante é que, a maioria dos participantes atingiu os objetivos

propostos pelo projeto. Sendo uma experiência que envolveu uma turma de 7º ano,

pudemos perceber que a “semente foi plantada” e como pode ser observado nos

próprios relatos dos alunos, durante o desenvolvimento da proposta didático-

pedagógica, eles mesmos questionavam suas posturas diante dos produtos que

adquiriam. É muito gratificante para nós professores ver que mudanças positivas

estão acontecendo, a partir de nossos objetivos propostos e que os conteúdos de

Geografia contribuem para a formação social do aluno. Dificuldades existem, mas

não nos deixemos abater por elas, se conseguirmos germinar uma semente já

valerá a pena.

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Referências

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DANIELLI, Sonia Cunha de S. Projeto Araribá - Geografia: Ensino Fundamental . São Paulo: Editora Moderna, 2007.

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Ilha das flores. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=Hh6ra-18mY8 Acesso em: 20 de outubro de 2010.

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Os três R’s (erres) do consumo consciente. Disponível em: http://www.sermelhor.com/artigo.php?artigo=71&secao=ecologia Acesso em: 11 de abril de 2011.

PARANÁ. SEED. Secretária de Estado da Educação do Estado do Paraná. Diretrizes Curriculares de Geografia para Educação Básica. Curitiba - Pr. Julho de 2006.

SANTOS, Milton. O espaço do cidadão São Paulo: Nobel, 1987 (Coleção espaços).

SEED/SUDE: Retorno da semana pedagógica de fevereiro de 2009: Perfazendo o caminho do currículo CGE/SEED.