construção científica e inovação teórica: um desafio para a ......provoca uma readaptação...

Construccedilatildeo Cientiacutefica e Inovaccedilatildeo Teoacuterica

Um Desafio para a Epidemiologia

DNA CZERESNA

Eacute crescente a preocupaccedilatildeo de refletir criticamente sobre os modelos hegemocircnicos na epidemiologia Habitualmente satildeo ressaltadas as contribuiccedilotildees que a disciplina trouxe ao entendimento dos problemas de sauacutede e doenccedila Algumas delas satildeo os achados sobre a relaccedilatildeo entre de um lado componentes da dieta o fumo a radiaccedilatildeo nuclear o consumo de determinados medicamentos o uso de substacircncias toacutexicas na induacutestria e de outro a incidecircncia de doenccedilas como cacircncer doenccedilas cardiovasculares malformaccedilotildees congecircnitas diabetes etc

No entanto permanece uma insatisfaccedilatildeo quanto ao alcance social dessas descobertas Que intervenccedilotildees foram geradas a partir delas e a que praacuteticas estiveram relacionadas Que concepccedilotildees de sauacutede e qualidade de vida orientam a loacutegica do discurso produzido pela epidemiologia

Inquietaccedilatildeo e insatisfaccedilatildeo denunciam por um lado a fragilidade e a inadequaccedilatildeo de teorias meacutetodos e praacuteticas por outro situam a necessidashyde de expandir horizontes e produzir novas praacuteticas

Toda teoria traz uma representaccedilatildeo de verdade Quanto mais ampla mais possibilidades se desenvolvem a partir dela Ainda assim algo que natildeo foi contemplado se revela de alguma maneira Satildeo falhas buracos

Departamento de Epidemiologia Escola Nacional de Sauacutede Puacuteblica - FIOCRUZ

78 PHYSIS - Revista de Sauacutede Coletiva Vol3 Nuacutemero 1 1993

que se assimilados possibilitam uma reorganizaccedilatildeo do conhecimento e a emergecircncia do novo

No processo de lidar com fronteira entre o conhecido e desconhe~

cido de compreender o que natildeo sido compreendido emergem as novidades Este eacute um importante campo da reflexatildeo epistemoloacutegica Em diferentes concepccedilotildees sobre o processo de construccedilatildeo da ciecircncia o novo surge erro fracasso anomalia

Kuhn por identificou como anomalias fenocircmenos insusshypeitados que surgem periodicamente no processo da pesquisa cientiacutefica orientada por um determinado paradigma A consciecircncia da anomalia provoca uma readaptaccedilatildeo conhecimento e era inicialmente anocircmalo transforma-se em previsto Isto daacute com dificuldade frentan do resistecircncias 2

Neste processo distinguem-se ciecircncia normal crises e revoluccedilotildees cienshytiacuteficas ciecircncia normal que resiste novidades acaba provocando crises e revoluccedilotildees as quais inauguram uma nova ciecircncia normal 3

Jaacute Bachelard formulou a noccedilatildeo de obstaacuteculo epistemoloacutegico O obstaacuteshyculo se refere a causas de estagnaccedilatildeo regressatildeo intriacutensecas ao ato conhecer O conhecimento constroacutei atraveacutes retificaccedilao do erro atraveacutes da consciecircncia de suas falhas histoacutericas A inovaccedilatildeo a descoberta eacute uma reforma radical do saber e evidencia a sua descontinuidade 4

Para Bachelard erro fracasso experimental tambeacutem resultam numa udanccedila profunda do conhecimento No a capacidade lidar com a surpresa a possibilidade de realizar outras associaccedilotildees e articulaccedilotildees se integra agrave investigaccedilatildeo cientiacutefica O espiacuterito cientiacutefico deveria preparar-se para receber novidades e se Eacute cessar tomar consciecircncia do earaacuteter completo do as oportunidades de extensatildeo prosseguir todas as dialeacuteticas5

A distinccedilatildeo entre ciecircncia normal e revoluccedilatildeo cientiacutefica como conceituou Kuhn deve considerada uma para desenvol~

vimento ciecircncia Mesmo natildeo sendo uma caracteriacutestica intriacutenseca do processo de conhecimento esta formulaccedilatildeo eacute rica na constataccedilatildeo socioloacuteshygica da dificuldade de ampliaccedilatildeo do espiacuterito cientiacutefico preconizada por 3acheJ

1 MORIN E Ciecircncia com consciecircncia Portugal Europa-Ameacuterica 1982 2 KUHN T S A estrutura das revoluccedilotildees cientificas Satildeo Paulo Perspectiva 1982 p QO

KUHN S op cit BACHELARD G FjJLvtemologia Janeiro 1983

5 BACHELARD G O novo espiacuterito cientiacutefico Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1968 p 127

Construccedilatildeo Cientiacutefica e Inovaccedilatildeo Teoacuterica 79

Se hoje vivenciamos uma crise de paradigmas ela eacute fruto da loacutegica que permeou o desenvolvimento cientiacutefico tecnoloacutegico e social Loacutegica que foi orientada pelo creacutedito a verdades cuja provisoriedade constitutiva natildeo foi considerada

As anomalias que enfrentamos natildeo se restringem a fenocircmenos obsershyvados em laboratoacuterios nem dizem respeito somente a um ou outro campo cientiacutefico Revelaram-se a partir de questotildees externas agraves concepccedilotildees e opccedilotildees da racionalidade cientiacutefica moderna

Na verdade esta racionalidade triunfal estaacute sub judice porque entre outras questotildees suas conquistas positivas foram contrapostas a possibilishydades terriacuteveis de aniquilamento

Perpetuam-se as desigualdades que mantecircm na miseacuteria a maior parte da populaccedilatildeo Apesar dos recursos tecnoloacutegicos a fome a mortalidade infantil as epidemias por doenccedilas transmissiacuteveis fazem parte do cenaacuterio mundial Mas aleacutem disso surgiram as questotildees que confrontam a condishyccedilatildeo humana e assim colocam em xeque a proacutepria sobrevivecircncia da espeacutecie

Destacam-se entre estas como possibilidade o uso da energia nuclear para destruiccedilatildeo em massa e a relaccedilatildeo predatoacuteria da espeacutecie humana com a Terra Enfim estatildeo presentes consequumlecircncias regressivas em termos amshybientais territoriais sanitaacuterios e culturais jamais vivenciadas pela histoacuteria humana Percebe-se nestes questionamentos a intenccedilatildeo de refazer o proacuteshyprio sentido da ciecircncia

Este eacute sem duacutevida um dos aspectos que estimulam um maior interesse na discussatildeo conceituai da epidemiologia Influecircncia de uma preocupaccedilatildeo mais ampla com a humanizaccedilatildeo da ciecircncia e com a reflexatildeo sobre seu alcance social

Outra possibilidade eacute de que este interesse na discussatildeo teoacuterica esteja inspirado na necessidade de conquistar maior legitimidade frente a outros campos cientiacuteficos correia tos buscando-se garantias de maior cientificishydade para um campo cuja autonomia ainda eacute fraacutegil

Pensar criticamente alternativas para a construccedilatildeo do conhecimento em epidemiologia pressuporia aprofundar o entendimento da loacutegica e de representaccedilotildees que se moldaram historicamente no nuacutecleo hegemocircnico da disciplina Que aspectos do desenvolvimento teoacuterico atual possibilitariam romper com os modelos fechados Quais alternativas teoacutericas para a disciplina incorporam as interrogaccedilotildees direcionadas ao nuacutecleo epistemoshyloacutegico da ciecircncia positiva

A epidemiologia surge no seacuteculo XIX atraveacutes de vaacuterios trabalhos considerados precursores da sua institucionalizaccedilatildeo como disciplina cienshy

80 PHYSIS - Revista de Sauacutede Coletiva Vo13 Nuacutemero 1 1993

tiacutefica Esta racionalidade eacute gerada a partir do desenvolvimento de outros campos de conhecimento

Certas opccedilotildees que caracterizam a ciecircncia moderna vatildeo orientar tambeacutem a racionalidade epidemioloacutegica a ciecircncia como possibilidade de dominashyccedilatildeo da natureza a verdade associada agrave utilidade a perspectiva de apreenshysatildeo objetiva dos fatos a separaccedilatildeo entre ciecircncia e filosofia a ciecircncia considerada como forma superior de conhecimento etc

O desenvolvimento da epidemiologia implicaraacute a utilizaccedilatildeo da mateshymaacutetica como instrumento de quantificaccedilatildeo e ordenamento da observaccedilatildeo da realidade Mas somente apoacutes o surgimento da medicina cientiacutefica no seacuteculo XVIII amadurecem as condiccedilotildees para o surgimento da epidemioshylogia Como afirmou Gonccedilalves a epidemiologia soacute pode loacutegica e historicamente suceder ao nascimento da c1iacutenica6

A compreensatildeo do conceito de doenccedila a partir da afirmaccedilatildeo do meacutetodo anatomocliacutenico da integraccedilatildeo da observaccedilatildeo e dissecaccedilatildeo do corpo morto para o entendimento do funcionamento do corpo vivo foi a condiccedilatildeo histoacuterica da medicina cientiacutefica 7 Tal opccedilatildeo epistemoloacutegica orientou a racionalidade epidemioloacutegica

Entretanto eacute necessaacuterio afirmar que a epidemiologia nasceu no contexshyto de predominacircncia da teoria miasmaacutetica que concebia a origem das doenccedilas a partir de emanaccedilotildees e efluacutevios ideacuteia posteriormente considerashyda superada e arcaica Poreacutem por estar relacionada agrave qualidade do ar e do ambiente esta teoria permitiu uma articulaccedilatildeo mais ampla do pensamento sanitaacuterio

Ancorados na teoria dos miasmas diversos trabalhos de medicina social relacionaram na eacutepoca situaccedilatildeo sanitaacuteria e vida social modo de vida e trabalho Cabe destacar que esta produccedilatildeo foi tambeacutem marcada pelos movimentos sociais da eacutepoca e pelo surgimento das ciecircncias sociais Exemplos importantes satildeo os trabalhos de Villeimeacute na Franccedila e Virchow na Alemanha8 A loacutegica da medicina social foi poreacutem subordinada Tanto pela racionalidade naturalizante da ciecircncia moderna como pelos interesshyses econocircmicos e poliacuteticos dominantes

Com a teoria do contaacutegio portanto a epidemiologia funda a sua especificidade caudataacuteria da razatildeo cientiacutefica positiva Ocorreu indubitashy

6 GONCcedilALVES R B M Reflexatildeo sobre a articulaccedilatildeo entre a investigaccedilatildeo epidemioloacutegica e a praacutetica meacutedica a propoacutesito das doenccedilascrocircnica-degenerativas ln Epidemiologia Teoria e Objeto De Costa (org) Satildeo Paulo Hucitec-Abrasco 1990 p 66

7 FOUCAULT M O nascimento da cliacutenica Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1977 8 BARRETO M L A Epidemiologia sua histoacuteria e crises notas para pensar o futuro ln Epidemioshy

logia Teoria e Objeto De Costa (org) op cit


velmente um estreitamento do pensamento sanitaacuterio que a partir de entatildeo se dirigiu agrave busca de causas verdadeiras e especiacuteficas deixando para traacutes a reflexatildeo sobre os diferentes aspectos que intervecircm na origem e no desenvolvimento dos problemas de sauacutede e doenccedila 9

Nesse sentido a obra de SnowlO eacute exemplar Num raciociacutenio extremashymente amplo ele articu lou inuacutemeras conexotildees a respeito de seu problema e ao mesmo tempo antecipou a reduccedilatildeo epistemoloacutegica que a revoluccedilatildeo pasteuriana mais tarde provocou

Sem duacutevida esta reduccedilatildeo influenciou a institucionalizaccedilatildeo da epideshymiologia como disciplina cientiacutefica A compreensatildeo de que para o novo campo o criteacuterio maior de cientificidade seria o das ciecircncias da natureza tendeu a radicalizar esta tendecircncia

Segundo Bourdieu um campo cientiacutefico se movimenta em torno da luta pela autoridade cientiacutefica Esta legitimidade se define inseparavelmente como capacidade teacutecnica e poder social Competecircncia cientiacutefica portanto significa poder falar e agir legitimamente 11 Tais caracteriacutesticas tambeacutem marcariam o discurso cientiacutefico produzido pela epidemiologia no seu processo de institucionalizaccedilatildeo

Os primeiros departamentos de epidemiologia surgiram nos EUA e Inglaterra na deacutecada de 1920 12 A construccedilatildeo do meacutetodo epidemioloacutegico herdando da racionalidade positiva a concepccedilatildeo de rigor utilizou a formushylaccedilatildeo jaacute trabalhada pela sociologia e a psicologia funciona listas que buscavam trazer para as ciecircncias sociais os mesmos rigor e objetividade das ciecircncias fiacutesicas Isto se deu a partir da elaboraccedilatildeo de desenhos de estudo escalas questionaacuterios com a preocupaccedilatildeo de evitar os diversos tipos de bias erros de medida e variaacuteveis de confusatildeo garantindo validade e confiabilidade aos desenhos e medidas 13

O campo cientiacutefico da epidemiologia cimentou-se em torno do meacutetodo O meacutetodo entendido como instrumento desenho de investigaccedilatildeo e natildeo como processo de elaboraccedilatildeo e explicitaccedilatildeo de teorias

Desde a publicaccedilatildeo do primeiro manual em 1960 ateacute hoje houve grande desenvolvimento e sofisticaccedilatildeo das teacutecnicas e dos desenhos 14 No

9 A YRES J R C M A epidemiologia e o projeto emancipador nas praacuteticas de sauacutede A criacutetica da razatildeo instrumental na constituiccedilatildeo histoacuterica da ciecircncia epidemioloacutegica Tese de Mestrado Universishydade de Satildeo PauloUSP 1991

10 SNOW l Sobre a maf1eira de transmissatildeo do coacutelera Satildeo Paulo Hucitec 1990 11 BOURIIEU P O campo cientiacutefico ln Pierre Bourdieu Coleccedilatildeo Grandes Cientistas Sociais Satildeo

Paulo Atica 1983 p 122-155 12 BARRETO ML op cito 13 SUSSER M Epidemiology in the United States After World War II the Evolution ofTechnique

Epidemiai Rev 1985 17147-177

PHYSIS - Revista Sauacutede Coletiva Vo13 1993

entanto os estudos mantiveram nos aspectos fundamentais a mesma loacutegica empirista e indutivista 15

Esta funccedilatildeo de normalizaccedilatildeo metodoloacutegica ressalta a influecircncia da dimensatildeo no processo institucionalizaccedilatildeo do A

de terrilorializaccedilatildeo de demarcaccediliacuteo do espaccedilo poder competecircncia outros que o

mesmo objeto sauacutede e doenccedila em populaccedilotildees humanas Mas a opccedilatildeo preferencial pela empiria foi criticada no interior da

disciplina Susser apontou a importacircncia de que o investigador explicite o sistema de referecircncia que o no processo investiga Para

os conceitos sistema referecircncia determinam as que procuramos 16

No entanto foi principalmente a partir da introduccedilatildeo do pensamento popperiano que a epidemiologia comeccedilou a buscar maior flexibilidade percchendo as fraacutegeis bases do indutivismo frente a concepccedilotildees mais elaboradas da da ciecircncia porque para a formu de

s precede observaccedilatildeo observaccedilatildeo eacute seletiva para descrevecirc-la eacute preciso empregar uma linguagem apropriada implicando similaridade e classificaccedilatildeo que por sua vez implicam interesses pontos de vista e problemas17

de cabendo cientistas rcsolvecircshyde teoria As teorias (conjecturas) seriam

livres imaginaccedilatildeo paixotildees os de vista Mas para ser demarcada como cientiacutefica a teoria deveria ser refutaacutevel Deveria ter alto conteuacutedo empiacuterico J8

Em relaccedilatildeo ao empirismo a constataccedilatildeo de que as teorias cientiacuteficas elementos natildeo se agrave acirco modificou popperiana objetividadc nenhum cientiacuteficas assegurariam objctividade progresso em agrave

verdade quando submetidas a tentativas de refutaccedilatildeo loacutegica e empiacuterica e ao serem confrontadas criticamente com outras teorias

Popper reconheceu que a histoacuteria da ciecircncia como a histoacuteria de todas ias humanas feita de sonhos irresponsaacuteveis erros e de obstinashy

uma das atividadcs humanas - a

14 BARRETO M L A epidemiologia sua histoacuteria e crises notas para pensar o futuro op cito 15 ALMEIDA FILHO N Epidemigia sem nuacutemeros Uma introduccedilatildeo criacutetica agrave ciecircncia epidemioloacutegishy

ca Rio de Janeiro Editora Cam pus 1989 SUSSER M Thiacutenking in theH~ilth Suacutence Nova York University POPPER KR e refutaccedilotildees Universidade de Brasiacutelia ]982 p 223 POPPERKR


uacutenica - em que os erros satildeo criticados sistematicamente (e com frequumlecircnshycia corrigidos) Por isso podemos dizer que no campo da ciecircncia aprenshydemos muitas vezes com nossos erros por isso podemos falar com clareza e sensatez sobre o progresso cientiacutefico Na maior parte dos outros campos de atividade ocorrem mudanccedilas mas raramente haacute progresso cientiacutefico - a natildeo ser dentro de uma perspectiva muito estreita dos nossos objetivos neste mundo Quase todos os ganhos satildeo neutralizados por alguma perda - e quase nunca sabemos avaliar as mudanccedilas19

A correccedilatildeo progressiva de erros permitiria uma aproximaccedilatildeo crescente agrave verdade objetiva Este rumo em direccedilatildeo agrave verdade tornaria a tradiccedilatildeo cientiacutefica capaz de formular enunciados universais mesmo que provisoacuteshyrios

o processo de demarcaccedilatildeo e legitimaccedilatildeo de teorias cientiacuteficas atraveacutes da refutaccedilatildeo possibilitaria a disjunccedilatildeo entre sujeito e objeto ainda conshyfundidos na etapa de elaboraccedilatildeo de conjecturas

Popper considerou que a observaccedilatildeo seria feita a partir de pontos de vista diferentes e de instrumentos que seriam histoacutericos Mas natildeo admitiu que o consenso criado pela tradiccedilatildeo criacutetica atraveacutes do confronto entre teorias conflitantes permaneceria histoacuterico e contingente Historicidade e presenccedila de condicionantes que marcariam o elo entre ciecircncia e interesse foram percebidos como irredutiacuteveis por vaacuterios outros autores como Hashybermas20 e Morin 21

Pensar que a ciecircncia natildeo estaria imune a perdas como qualquer outra atividade humana e que a noccedilatildeo de continuidade e progresso deva ser relativizada provocaria um deslocamento eacutetico na produccedilatildeo de verdades cientiacuteficas

Os cientistas seriam responsaacuteveis e assumiriam riscos na escolha e delimitaccedilatildeo de seus problemas Estariam constantemente pensando sobre a pertinecircncia de suas questotildees - as consequumlecircncias sociais ambientais e eacuteticas das suas opccedilotildees Nesse sentido a produccedilatildeo de conhecimento poderia tomar o caminho dialoacutegico com a perspectiva emancipatoacuteria qualificando o lugar do fazer cientiacutefico a partir da reflexatildeo

Este debate travado no plano da teoria do conhecimento teria implicashyccedilotildees para o desenvolvimento teoacuterico e desdobramentos praacuteticos da epideshymiologia A discussatildeo atual em torno da introduccedilatildeo da filosofia de Popper

19 POPPER KR op cit 20 HABERMAS 1 Conhecimento e interesse Rio de Janeiro Guanabara 1987 21 MORJN E bull op cit


na epidemiologia necessitaria registrar um elemento fundamental o seu conceito de verdade 22

A incorporaccedilatildeo de Popper se deteve em afirmar a loacutegica da refutaccedilatildeo versus verificaccedilatildeo da deduccedilatildeo versus induccedilatildeo e da elaboraccedilatildeo de teorias precedendo a observaccedilatildeo (ver por exemplo Buck23 MacIure24 e Weed25 versus Susser26 Pearce amp Crawford27 Ng Stephen28)

A introduccedilatildeo da filosofia de Popper na epidemiologia traria contribuishyccedilotildees no entanto para uma modernizaccedilatildeo do meacutetodo

Talvez seja possiacutevel detectar convergecircncias em alguns aspectos entre o pensamento popperiano e a contribuiccedilatildeo de Miettinem um dos mais radicais criacuteticos dos paradigmas e dogmas tradicionais da epidemiologia

Para ela as tradiccedilotildees metodoloacutegicas da epidemiologia aleacutem de terem dado origem a um malformado campo de estudo satildeo absolutamente inadequadas para o propoacutesito da pesquisa etioloacutegica29

Com efeito a crenccedila de que uma explicaccedilatildeo epidemioloacutegica pode surgir simplesmente de observaccedilotildees e natildeo a partir de um confronto com conceishytos e teorias levou a epidemiologia a realizar estudos monumentais com resultados pouco significativos frente ao dispecircndio enorme de recursos

A introduccedilatildeo do pensamento popperiano na epidemiologia poderia trazer maior racionalidade agrave execuccedilatildeo dos desenhos de estudo Num certo sentido romper-se-ia com a formalidade empirista e buscar-se-iam estushydos mais enxutos que definiriam e selecionariam os participantes em funccedilatildeo de objetivos precisos otimizando a possibilidade de trabalhar com uma teoria previamente formulada

Uma repercussatildeo possiacutevel deste pensamento poderia ser identificada na revalorizaccedilatildeo dos estudos de caso e controle (muito mais raacutepidos e baratos) em relaccedilatildeo aos estudos de coorte (demorados e caros) Constashy

tou-se que as diferenccedilas de rigor entre um e outro satildeo uma formalidade empirista

22 A YRES lRCM O problema do conhecimento verdadeiro em epidemiologia Revista de Sauacutede Puacuteblica 26(3) 1992

23 BUCK C Poppers Philosophy for Epidemiologists Int 1 Epidemiol 19754159168 24 MacLURE M Popperiao Refutatioo in Epidemiology Am 1 Epidemiol 1985 121343middot350 25 WEED D 00 the Logic of Causal Inference Am l Epidemiol 1986 123965middot979 26 SUSSER M The logic of Sir Karl Popper aod the practice of epidemiology Am J Epidemio

1986124711middot718 27 PEARCE N amp CRA WFORDmiddotBROWN D CriticaI Discussioo io Epidemiology Problems with lhe

Popperian Approach J Clin Epidemio 198942177middot184 28 NG STEPHEN K c Does Epidemiology need a new Philosophy Am J Epidemio 1991

1331073middot1077 29 MIETTINEN O The Clioical Trial as a Paradigm for Epidemiologic Research J Clin Epidemiol

42491middot61989

ConSlruccediliiacuteo Ciotiacutefica e Inovaccedilatildeo Teoacuterica 85

Poreacutem quaisquer que venham a ser as repercussotildees da leitura de Popper na epidemiologia elas sugerem uma tentativa de alcanccedilar maior racionashylidade sem alterar a loacutegica e as caracteriacutesticas fundamentais do meacutetodo epi demi oloacutegico

Por exemplo um aspecto importante que este desenvolvimento natildeo questiona - pelo contraacuterio radicaliza - eacute uma perspectiva naturalizante

universalizante do estudo epidemioloacutegico Ao se afastarem do empirismo convencional os desenhos de investigaccedilatildeo tenderiam a utilizar abstraccedilotildees conceituais que poderiam provocar uma maior descontextualizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave temporalidade espacializaccedilatildeo e caracteriacutesticas dos sujeitos

Esta uma das principais criacuteticas formuladas ao conceito epidemioloacuteshygico de risco Como observou Almeida Filho o conceito de risco no seu componente preditivo quebra os limites do tempo e do espaccedilo Isto retiraria a historicidade do conceito dolando-o de uma dimensatildeo generashyIizante que denuncia um entendimento empobrecido a respeito do sociaL30

O conceito de risco natildeo contemplaria as diferenccedilas a singularidade dos processos concretos de sauacutede e doenccedila O risco no discurso epidemioshyloacutegico situar-se-ia [ora do sujeito uma propriedade das populaccedilotildees A sua referecircncia seria coletiva No entanto a perspectiva individualizante das praacuteticas de sauacutede tenderia a tornaacute-lo preferencialmente um conceito auxiliar na cliacutenica Esta incorporaccedilatildeo do risco pelo discurso cI iacutenico proshyvocaria um processo de desumanizaccedilatildeo e dessuhjetivaccedilatildeo de sua praacutetica 31

Este desenvolvimento conceituaI produz praacuteticas sociais com orientashyccedilotildees eacuteticas muito distantes da pretensa neutralidade do discurso que fala cm nome da verdade cientiacutefica Isto resgata a questatildeo inicial deste texto Ateacute que ponto a discussatildeo teoacuterica na epidemiologia estaacute referida a uma busca de legitimaccedilatildeo da autoridade e competecircncia de acordo com os criteacuterios da racionalidade cientiacutefica dominante Ou se preocupa com a orientaccedilatildeo eacutetica o alcance social e a explicitaccedilatildeo mais ampla dos valores humanoacutes envolvidos no saber construiacutedo

De certo modo a criacutetica ao modelo naturalista e univcrsalizante da medicina que substancia tambeacutem racionalidade epidemioloacutegica hegeshymocircnica marcou o surgimento do pensamento criacutetico em sauacutede coletiva como apontou Birman Tornou-se necessaacuterio considerar a dimensatildeo de valor e relaccedilotildees forccedila presentes na vida social Compreender que as relaccedilotildees do sujeito com o seu corpo com os outros com as instituiccedilotildees

30 ALMEIDA FILHO N A Desconstruccedilatildeo do conceito de risco ln Avallccedilos cOllceituais em epidemiologia desafios para a deacutecada de 90 Rio de Janeiro ENSP 1992

3 L ALMEIDA flLIIO N op cil

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e com as praacuteticas sociais satildeo mediadas pela linguagem pelos coacutedigos culturais estabelecidos numa tradiccedilatildeo histoacuterica e linguumliacutestica permitiria orientar construccediluumlo do conhecimento outras hases epistemoloacutegicas32

Sem duacutevida o pensamento popperiano natildeo contemplou estas questotildees fundamentais Ele possibilitou alguns avanccedilos em relaccedilatildeo ao empiricismo mantendo poreacutem a tradiccedilatildeo epistemoloacutegica da ciecircncia positiva

Conclusatildeo

Que alternativas metodoloacutegicas se apresentaram diante dessas inuacutemeras questotildees

Almeida Filho apontou a necessidade de a epidemiologia expandir suas estrateacutegias de pesquisa tanto no sentido da profundidade quanto no da extensividade Colocou a perspectiva de maior integraccedilatildeo com estrashyteacutegias ciecircncias sociais especialmente com os meacutetodos qualitativos anaacutelise da antropologia 33 Esta opccedilatildeo certamente natildeo se restringiria agrave dimensatildeo metodoloacutegica Ela redefiniria o objeto epidemioloacutegico qualifishycando-o tambeacutem um das ciocircncias socia

Uma preocupaccedilatildeo a ser desenvolvida nesse acircmhito eacute por exemplo concepccedilatildeo de erro e validade dos estudos epidemioloacutegicos que inferem o risco a partir de informaccedilotildees dos indiviacuteduos Estas informaccedilotildees satildeo colhishydas regras de rigor precisatildeo que pressupotildeem o maacuteximo neutralidade Para isso satildeo izados estudos questionaacuterios instrumentos de medida padronizados e teacutecnicas que buscam evitar o vieacutes decorrente da relaccedilatildeo entrevistado-entrevistador Nesse sentido deixa-se de reconheeer o caraacuteter simboacuteliacuteeo do de corpo c coletivo que ele participa

Considerar a intersubjetividade da relaccedilatildeo entrevistado-entrevistador e natildeo tentar neutralizaacute-la talvez seja uma opccedilatildeo metodoloacutegica a ser introdushyzida Esta uma abordagem eacute desenvolvida ciecircncias sociais (ver Minayo34)

Integrar meacutetodos implica antes de tudo integrar a teoria Soacute a partir de uma mesma base teoacuterica de uma definiccedilatildeo clara do objeto de estudo poderemos ter condiccedilotildees de escolher estrateacutegia de pesquisa mais adequada para a apreensatildeo do nosso objcto

32 BIRMAN J A physis sauacutede coletiva Physis 7-1l ALMEIDA FILHO cito MINAY() M C de desafio cOl1hecimento Metodologia de pesquisa qualitativa em sauacutede Satildeo Paulo Hucitec 1989

Construccedilatildeo Cientiacutefica Inovaccedilatildeo Teoacuterica 87

Esta integraccedilatildeo esbarra entre outros problemas na questatildeo da compeshytecircncia Como um soacute investigador pode dar conta de tamanha abrangecircncia O trabalho eolctivo interdisciplinar por sua vez esbarra nos diferentes pontos de vista interesses relaccedilotildees de poder

Uma outra alternativa apontada por Breilh 35 e Almeida Filho36 propotildee a utilizaccedilatildeo de modelos matemaacuteticos dinacircmicos na anaacutelise de estudos epidemioloacutegicos Esta sugestatildeo permitiria superar linearizaccedilatildeo que os modelos de regressatildeo logiacutestica impotildeem por utilizarem o espaccedilo cartesiano propondo-se para isso funccedilotildees natildeo lineares atraveacutes do emprego de espaccedilos dinaacutemicos como por exemplo o fractal

Para utilizar este novo enfoque na epidemiologia numa perspectiva integrada esbarramos de novo na questatildeo da competecircncia Natildeo bastaria apenas conhecer profundamente matemaacutetica para dar conta desse desafio Desafio qUt seria fundamental para poder operacionalizar empiricamente abordagens teoacutericas de objetos totalizados dinacircmicos e processuais

Pensar a eficaacutecia explicativa de um campo refere7se sem duacutevida agrave sua capacidade de resolver problemas Torna-se necessaacuterio formular novas teacutecnicas e meacutetodos redimensionar os jaacute construiacutedos Mas soacute isso natildeo basta A reflexatildeo filosoacutefica eacute fundamental Os problemas vatildeo encontrando novas significaccedilotildees constantemente e soacute a introduccedilatildeo da reflexatildeo no cotidiano da praacutetica cientiacutefica e a elaboraccedilatildeo do sentido da mesma permitiriam soluccedilotildees com alternativas integrativas

Por ora a superaccedilatildeo da crise atual exige no miacutenimo pensar a organishyzaccedilatildeo da produccedilatildeo conhecimento cm hases mais cooperativas Alcanccedilar esse objetivo pode natildeo ser simples A organizaccedilatildeo da ciecircncia e a demarshycaccedilatildeo dos campos cientiacuteficos como vimos constituem tambeacutem relaccedilotildees de poder O universo puro da mais pura ciecircncia eacute um campo social como outro qualquer O campo cientiacutefico define-se indissociadamentc como capacidade teacutecnica (possibilidade) e como poder (dominaccedilatildeo)Y

Sem colocar cm um novo patamar a interlocuccedilatildeo e a capacidade de lidar com os conflitos interesses e contradiccedilotildees inerentes qualquer praacutetica humana seraacute muito difiacutecil criar uma base para qualquer compreensatildeo Elaborar novas regras para a produccedilatildeo cientiacutefica eacute uma tarefa talvez incontornaacutevel

35 BREILH J A reproduccedilatildeo social e a investigaccedilatildeo em sauacutede coletiva Construccedilatildeo do pensamento e debate ln Epidemiologia Teoria Objeto Costa (Olg) op cl

36 ALMEIDA FILHO N Paradigmas em Epidemiologia I Congresso Brasileiro de Epidemiologia Anais Rio Janeiro Abrasoo 1990

37 BOURDIEU P O Campo Cientiacutefico ln Pierre Bourdieu Coleccedilatildeo Grandes Cientistas Sociais op cil


Como reflexatildeo final cabe chamar atenccedilatildeo para o fato de que ainda hoje a polaridade criada entre teoria dos miasmas versus teoria do contaacutegio permanece como questatildeo natildeo solucionada epistemologicamente no inteshyrior do campo

Haacute na discussatildeo sobre a teoria do contaacutegio uma questatildeo que confunde uma tendecircncia a colocar no mesmo plano a positividade que este saber possibilitou na intervenccedilatildeo em determinadas doenccedilas e a reduccedilatildeo decorshyrente de sua assunccedilatildeo como explicaccedilatildeo maior a respeito da doenccedila e indiretamente da sauacutede

A radicalizaccedilatildeo da teoria do contaacutegio sem a preocupaccedilatildeo em resgatar as verdades que a teoria miasmaacutetica propocircs foi sem duacutevida consequumlecircncia de uma necessidade instrumental Se a teoria miasmaacutetica tornou-se arcaica apoacutes a descoberta de agentes especiacuteficos a teoria dos germes em vaacuterias outras dimensotildees tambeacutem falharia na sua possibilidade explicativa

A orientaccedilatildeo epistemoloacutegica que construiu os instrumentos e saberes que desaguaram na teoria do contaacutegio jaacute tinha sido gestada a partir do desenvolvimento da ciecircncia moderna e do nascimento da cliacutenica Esta orientaccedilatildeo produziu um saber de espetacular positividade na instrumentashyccedilatildeo das praacuteticas de sauacutede Retomar o esquecido e buscar novas alternativas dificilmente poderatildeo ser feitos sem os instrumentos da bacteriologia e da biologia molecular

Foucault percebeu como eacute forte e paradoxal a relaccedilatildeo de possibilidades e limites gestadas pelo positivismo Nos uacuteltimos anos do seacuteculo XIX a cultura europeacuteia construiu uma estrutura que ainda natildeo foi desatada comeccedilamos apenas a desembaraccedilar alguns de seus fios que nos satildeo ainda tatildeo desconhecidos que os tomamos de bom grado como maravilhosamente novos ou absolutamente arcaicos enquanto haacute dois seacuteculos constituiacuteram a trama sombria mas soacutelida de nossa experiecircncia38

Como desatar esses fios que teceram nossas representaccedilotildees de mundo Como nos libertar dos seus muros redimensionando as possibilidades Construir o novo certamente pressupotildee elaborar a experiecircncia com o velho Este eacute o desafio que nos provoca

38 FOUCAULT M o nascimento da cliacutenica op cito


RESUMO

Construccedilatildeo cientiacutefica e inovaccedilatildeo teoacuterica um desafio para a epidemiologia

Tem sido crescente a reflexatildeo sobre a construccedilatildeo do conhecimento em epidemiologia Ateacute que ponto este interesse teoacuterico estaacute referido a uma preocupaccedilatildeo mais ampla com a humanizaccedilatildeo da ciecircncia Ou se restringe agrave busca de legitimaccedilatildeo da autoridade e da competecircncia cientiacutefica de acordo com a racionalidade dominante

Este trabalho analisa o desenvolvimento da epidemiologia a sua instishytucionalizaccedilatildeo como disciplina cientiacutefica e a concepccedilatildeo hegemocircnica de meacutetodo construiacuteda nesse processo Analisa tambeacutem a introduccedilatildeo do penshysamento popperiano que se apresentou como criacutetico no debate interno da epidem iologia norte-americana

Finalmente refere-se a alternativas metodoloacutegicas apontadas por alshyguns autores frente a questotildees e impasses identificados no desenvolvimenshyto da disciplina

ABSTRACT

Scientific construction and theoretical innovation a challenge for epidemiology

The reflection upon the construction of knowledge in epidemiology is increasing To what extent this theoretical interest refers to a broader preocupation with the humanization of science Or is it restricted to the search of legitimation of authority and scientific competence according to the dominating rationality

This work analyses the development of epidemiology its institutionashyIization as scientific discipline and the methods hegemonic conception built within this processo It also analyses the introduction of the Popperian thought who was a critic in the internal debate of the american epidemioshylogy

Finally it refers to methodological alternatives mentioned by some authors in face or questions and impasses identified in the development of the discipline


RESUME

Construction scientifique et inovation theacuteorique un deacutefi pour Ieacutepideacutemiologie

Ce texte a comme but analyser le deacuteveloppement de Ieacutepideacutemiologie son processus dinstitutionalisation et la conception meacutethodologique qui a eacuteteacute eacutetablie comme heacutegeacutemonique dans ce processus Lartice discute les altershynatives meacutethodologiques qui ont eacutetecirc poseacutees par plusieurs auteurs face aux questions problecircmes et impasses produits dans le processus de deacutevelopshypement de leacutepideacutemiologie


que se assimilados possibilitam uma reorganizaccedilatildeo do conhecimento e a emergecircncia do novo

No processo de lidar com fronteira entre o conhecido e desconhe~

cido de compreender o que natildeo sido compreendido emergem as novidades Este eacute um importante campo da reflexatildeo epistemoloacutegica Em diferentes concepccedilotildees sobre o processo de construccedilatildeo da ciecircncia o novo surge erro fracasso anomalia

Kuhn por identificou como anomalias fenocircmenos insusshypeitados que surgem periodicamente no processo da pesquisa cientiacutefica orientada por um determinado paradigma A consciecircncia da anomalia provoca uma readaptaccedilatildeo conhecimento e era inicialmente anocircmalo transforma-se em previsto Isto daacute com dificuldade frentan do resistecircncias 2

Neste processo distinguem-se ciecircncia normal crises e revoluccedilotildees cienshytiacuteficas ciecircncia normal que resiste novidades acaba provocando crises e revoluccedilotildees as quais inauguram uma nova ciecircncia normal 3

Jaacute Bachelard formulou a noccedilatildeo de obstaacuteculo epistemoloacutegico O obstaacuteshyculo se refere a causas de estagnaccedilatildeo regressatildeo intriacutensecas ao ato conhecer O conhecimento constroacutei atraveacutes retificaccedilao do erro atraveacutes da consciecircncia de suas falhas histoacutericas A inovaccedilatildeo a descoberta eacute uma reforma radical do saber e evidencia a sua descontinuidade 4

Para Bachelard erro fracasso experimental tambeacutem resultam numa udanccedila profunda do conhecimento No a capacidade lidar com a surpresa a possibilidade de realizar outras associaccedilotildees e articulaccedilotildees se integra agrave investigaccedilatildeo cientiacutefica O espiacuterito cientiacutefico deveria preparar-se para receber novidades e se Eacute cessar tomar consciecircncia do earaacuteter completo do as oportunidades de extensatildeo prosseguir todas as dialeacuteticas5

A distinccedilatildeo entre ciecircncia normal e revoluccedilatildeo cientiacutefica como conceituou Kuhn deve considerada uma para desenvol~

vimento ciecircncia Mesmo natildeo sendo uma caracteriacutestica intriacutenseca do processo de conhecimento esta formulaccedilatildeo eacute rica na constataccedilatildeo socioloacuteshygica da dificuldade de ampliaccedilatildeo do espiacuterito cientiacutefico preconizada por 3acheJ

1 MORIN E Ciecircncia com consciecircncia Portugal Europa-Ameacuterica 1982 2 KUHN T S A estrutura das revoluccedilotildees cientificas Satildeo Paulo Perspectiva 1982 p QO

KUHN S op cit BACHELARD G FjJLvtemologia Janeiro 1983

5 BACHELARD G O novo espiacuterito cientiacutefico Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1968 p 127











































































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Conclusatildeo


























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Conclusatildeo


























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construção científica e inovação teórica: um desafio para a ......provoca uma readaptação...

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