construção e teste de um protótipo de conversor matricial

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Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial Luís Miguel Rosa Colaço Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Electrotécnica e de Computadores Júri Presidente: Prof. Paulo José da Costa Branco Orientadores: Prof. José Fernando Alves da Silva Prof(a). Sónia Maria Nunes dos Santos Paulo Ferreira Pinto Vogal: Prof. Joaquim José Rodrigues Monteiro Outubro de 2011

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Page 1: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

Construção e Teste de um Protótipo de Conversor

Matricial

Luís Miguel Rosa Colaço

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Electrotécnica e de Computadores

Júri

Presidente: Prof. Paulo José da Costa Branco

Orientadores: Prof. José Fernando Alves da Silva

Prof(a). Sónia Maria Nunes dos Santos Paulo Ferreira Pinto

Vogal: Prof. Joaquim José Rodrigues Monteiro

Outubro de 2011

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Page 3: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

Agradecimentos

Agradeço a todas as pessoas que me apoiaram e ajudaram no decorrer da execução deste

trabalho de dissertação.

Quero começar por agradecer aos professores que me orientaram e acompanharam na

realização desta tese de mestrado, pois sem eles tudo teria sido muito mais difícil. Um muito

obrigado ao Prof. Fernando Silva, à Prof. Sónia Pinto e ao Prof. Joaquim Monteiro, pela

constante disponibilidade, dedicação e paciência que sempre demonstraram para comigo.

Em segundo lugar, quero agradecer à D. Noémia pelo apoio e pela disponibilidade na resolução

dos assuntos administrativos e ainda ao Sr. Duarte que sempre disponibilizou as ferramentas

necessárias para a execução do trabalho laboratorial.

Um obrigado muito especial a todos os meus colegas do Instituto Superior Técnico, pelo

companheirismo e amizade partilhada durante todos os anos do meu percurso académico.

Por último e não menos importante, queria deixar um especial agradecimento à minha família,

pelo apoio prestado durante a execução deste trabalho de dissertação.

A todas estas pessoas o mais sincero obrigado!

Page 4: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

II

Page 5: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

III

Resumo

O objectivo deste trabalho é projectar, construir e testar um protótipo laboratorial de um

conversor de potência AC/AC directo, designado por Conversor Matricial (CM). Espera-se que

protótipo tenha maior rendimento do que os actuais conversores AC/AC indirectos, reduzindo o

custo, volume e peso.

Durante este trabalho, foi dimensionado e construído um conversor matricial composto por um

circuito de potência que engloba: os módulos de potência que realizam os interruptores

bidireccionais (IB), os circuitos de disparo dos semicondutores de potência, circuitos de

protecção contra sobretensões com díodos zener e varistores do tipo MOV e um filtro LC passa-

baixo de ligação à REE. De forma a garantir que as comutações dos semicondutores são

realizadas em segurança é utilizado um processo de comutação a quatro passos, baseado no

sinal das correntes de carga, implementado numa FPGA. O circuito de controlo digital,

implementado num DSP, executa a técnica de modulação PWM de Venturini. Para garantir o

adequado funcionamento do conversor é efectuada a aquisição das correntes de carga,

necessárias ao processo de comutação a quatro passos, e das tensões de entrada, necessárias

ao processo de modulação.

O CM construído foi testado, alimentando uma carga indutiva a partir da REE. Dos resultados

obtidos conclui-se que este funciona de acordo com o esperado, apresentando na saída tensões

comutadas e correntes sinusoidais típicas de um Conversor Matricial.

Palavras-Chave: Conversor Matricial, Semicondutores de Potência, Interruptores

Bidireccionais, Modulação PWM de Venturini.

Page 6: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

IV

Abstract

The aim of this work is to design, build and test a prototype of a direct AC/AC power converter,

usually known as Matrix Converter (MC). When compared to an AC/AC indirect converter, it is

expected that the efficiency of this converter is higher, guaranteeing at the same time reduced

cost, volume and weight.

In this work the power module of the matrix converter is sized and built. This module includes the

association of power semiconductors performing as bidirectional switches, the semiconductors

driving circuits, the over voltage protection circuits using zener diodes and MOV varistors and a

low pass filter used to connect the converter to the grid. To guarantee the semiconductors safe

switching, a four step commutation strategy based on the load currents signals is used and

implemented in a FPGA. The digital control circuit is implemented in a DSP, using the Venturini

PWM modulation strategy. To guarantee the converter adequate operation, the load currents and

the grid voltages are measured as they are necessary to guarantee the semiconductors

commutation process, and necessary to the high frequency modulation strategy.

The matrix converter was tested feeding an inductive load from the grid. The obtained results are

according to the expected, showing the load switched voltages and nearly sinusoidal currents.

Keywords: Matrix Converter, Power Semiconductors, Bidirectional Switches, Venturini PWM

Modulation.

Page 7: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

V

Índice

1. Introdução ........................................................................................................................................ 1

1.1 Enquadramento do tema de dissertação .............................................................................. 2

1.2 Objectivos da dissertação .................................................................................................... 3

1.3 Organização da dissertação ................................................................................................. 3

2. Dimensionamento de um Conversor Matricial .............................................................................. 4

2.1 Esquema Geral do Conversor Matricial ................................................................................ 4

2.1.1 Circuito de Potência ...................................................................................................... 5

2.1.2 Circuito de Comando .................................................................................................... 7

2.1.3 Circuito de Controlo ...................................................................................................... 8

2.1.4 Circuitos de Aquisição................................................................................................. 10

2.2 Dimensionamento .............................................................................................................. 12

2.2.1 Semicondutores de Potência ...................................................................................... 12

2.2.2 Dissipador ................................................................................................................... 13

2.2.3 Filtro de Entrada ......................................................................................................... 14

2.2.4. Circuitos de Protecção Contra Sobretensões ............................................................ 18

2.2.5 Dimensionamento do Circuito de Disparo ................................................................... 20

2.2.6 Fontes de Alimentação Comutadas ............................................................................ 25

2.2.7 Circuitos Auxiliares de Aquisição de tensões e correntes ........................................... 26

3. Circuito Impresso para o Conversor Matricial ............................................................................ 28

3.1. Esquema Geral da Placa de Circuito Impresso ................................................................. 28

3.2. Medidas a considerar para redução do ruído EMI............................................................. 29

3.3. Determinação da largura das pistas .................................................................................. 30

3.4. Determinação do espaçamento entre pistas ..................................................................... 32

3.5. Circuito de disparo ............................................................................................................ 32

3.6. Circuito do filtro de entrada e circuito de protecção .......................................................... 35

3.7. Layout global da placa de circuito impresso ...................................................................... 38

4. Ensaios Laboratoriais do Conversor Matricial ........................................................................... 39

4.1 Introdução .......................................................................................................................... 39

4.2. Teste de validação do circuito de disparo ......................................................................... 39

Page 8: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

VI

4.3. Teste de validação do circuito de aquisição das correntes ................................................ 42

4.4. Teste do funcionamento global do Conversor Matricial ..................................................... 43

5. Conclusões e Perspectivas de Trabalho Futuro ......................................................................... 45

5.1 Conclusões ......................................................................................................................... 45

5.2 Perspectivas de trabalho futuro .......................................................................................... 45

Referências ......................................................................................................................................... 47

Anexos ................................................................................................................................................ 48

A: Lista de Componentes ......................................................................................................... 48

B: Datasheet do Módulo Integrado DANFOSS 1200V/25A (Interruptores Bidireccionais) ....... 50

C: Datasheet do Acoplador Óptico TLP250(INV) ..................................................................... 51

D: Datasheet das Fontes de Alimentação Comutadas NMV0515SC ....................................... 52

E: Datasheet do Módulo Integrado (dispositivo similar considerado no cálculo de perdas dos

módulos de potência) ............................................................................................................... 54

F: Programa de cálculo dos parâmetros do filtro de entrada .................................................... 55

G: Datasheet do Transdutor de Corrente (LA 25-NP) .............................................................. 57

H: Datasheet do Transdutor de Tensão (LV 25-P) ................................................................... 58

I: Datasheet do Varistor (V420LA20AP) ................................................................................... 59

J: Datasheet do Díodo de Zener (1N4647A) ............................................................................ 60

K: Layout do circuito impresso das camas “top layer” e “bottom layer” .................................... 62

K1 – Camada “top layer” ...................................................................................................... 62

K2 – Camada “bottom layer” ................................................................................................ 63

L: Fotografia do Conversor Matricial construído ....................................................................... 64

M: Condensadores do filtro de entrada e Circuito de Protecção .............................................. 64

Page 9: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

VII

Lista de Figuras

Figura 2.1 – Esquema geral do Conversor Matricial ...................................................................... 4

Figura 2.2 – Esquema do circuito equivalente do Módulo Integrado (MI) – Interruptores

Bidireccionais (extraído do anexo B). ............................................................................................. 5

Figura 2.3 – Circuito de protecção da porta de comando do SP, com diodos de Zener em anti-

série. ............................................................................................................................................... 7

Figura 2.4 – Comutação entre dois IB (sentido positivo da corrente) ............................................ 9

Figura 2.5 – Comutação entre dois IB (sentido negativo da corrente). ........................................ 10

Figura 2.6 - Esquemático do circuito de aquisição de correntes (extraído de [Anibal Menido e

José Antunes, 2002]) .................................................................................................................... 11

Figura 2.7 – Esquema monofásico do filtro LC à entrada do Conversor Matricial, com resistência

de amortecimento representada por ZRf, em paralelo com a bobine. ........................................... 14

Figura 2.8 – Resistências de descarga colocadas em paralelo com os condensadores do filtro de

entrada. ........................................................................................................................................ 17

Figura 2.9 – Representação do Circuito de Protecção a Varistores à entrada e saída do

Conversor Matricial. ...................................................................................................................... 18

Figura 2.10 – Curva característica do díodo de Zener. ................................................................ 20

Figura 2.11 – Circuito de disparo dos semicondutores de potência (extraído do datasheet do

integrado com a referência TLP250(INV), 2009). ......................................................................... 21

Figura 2.12 – Circuito de entrada do acoplador óptico. ............................................................... 21

Figura 2.13 – Resistência porta-emissor, RGE, para descarga das capacidades parasitas na

porta de comando do SP. ............................................................................................................. 22

Figura 2.14 – Circuito de análise do regime transitório do semicondutor de potência IGBT (J.

Silva, 2009)................................................................................................................................... 23

Figura 2.15 – Circuito RLC na porta de comando do IGBT. ........................................................ 24

Figura 2.16 – Esquema representativo dos pontos de emissor comum entre os semicondutores

de potência de cada um dos MI de potência. ............................................................................... 25

Figura 3.1 – Esquema Geral do Conversor Matricial. .................................................................. 28

Figura 3.2 – Diagramas para determinação das larguras das pistas do CI (extraído da norma

IPC-IC2221, 1998: 38) .................................................................................................................. 30

Figura 3.3 – Esquemático do circuito de disparo de um dos módulos de potência. .................... 33

Figura 3.4 – Layout do circuito de comando (face superior). ....................................................... 34

Figura 3.5 – Layout do circuito de comando (face inferior). ......................................................... 34

Figura 3.6 – Esquemático das fases de entrada e saída do Conversor Matricial ........................ 35

Figura 3.7 – Esquemático do circuito do filtro de entrada com resistências de descarga, RD, e

circuito de protecção com varistores. ........................................................................................... 36

Figura 3.8 – Layout do circuito do filtro de entrada com resistências de descarga, RD, e circuito

de protecção com varistores......................................................................................................... 37

Figura 3.9 – Layout global da placa de circuito impresso do Conversor Matricial (dupla camada).

..................................................................................................................................................... 38

Page 10: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

VIII

Figura 4.1 – Esquema da montagem laboratorial realizada para teste do CM............................. 39

Figura 4.2 – Esquema genérico do circuito de disparo (extraido do datasheet do acoplador óptico

com a referência TLP250(INV) da TOSHIBA). .............................................................................. 40

Figuras 4.3 – Sinal de entrada do circuito de disparo, fornecido pelo circuito de controlo. .......... 40

Figura 4.4 – Sinal de comando imposto pelo circuito de disparo na porta de comando do

semicondutor de potência IGBT. ................................................................................................... 41

Figura 4.5 – Sinal de entrada (CH1) e sinal de comando (CH2). ................................................. 41

Figura 4.6 – Teste do circuito de identificação do sentido e da localização das correntes de

carga. ............................................................................................................................................ 42

Figura 4.7 - Tensão simples de saída. ......................................................................................... 43

Figura 4.8 - Tensão composta de saída. ...................................................................................... 44

Figura 4.9 - Corrente de saída do Conversor Matricial. ............................................................... 44

Page 11: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

IX

Lista de Tabelas

Tabela 1 – Resultados obtidos no dimensionamento do filtro. ..................................................... 16

Tabela 2 - Resistências de amortecimento das oscilações. ......................................................... 25

Tabela 3 – Quadro resumo do número de fontes de alimentação. .............................................. 26

Tabela 4 – Conversões de unidades. ........................................................................................... 31

Tabela 5 - Níveis de afastamento entre as diversas pistas segundo diversos níveis de tensões

(tabela 6-1 Electrical Conductor Spacing página 39). ................................................................... 32

Page 12: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

X

Lista de Símbolos

Factor de amortecimento

C Constante de tempo de carga/descarga do condensador

Resistência equivalente interna do conversor

Frequência natural das oscilações não amortecidas

C Capacidade

C Capacidade equivalente (ligação em triângulo)

CCE Capacidade equivalente parasita colector-emissor

CCG Capacidade equivalente parasita colector-porta

Ceq Capacidade equivalente

Cf Condensador do filtro de entrada (capacidade)

CGE Capacidade equivalente parasita porta-emissor

CISS Capacidade de entrada

COSS Capacidade de saída

CRSS Capacidade de transferência inversa

Cs Capacidade parasita equivalente

CY Capacidade equivalente (ligação em estrela)

fC Frequência de corte

FP Factor de potência

frede Frequência da rede

fS Frequência de comutação

ICC Corrente de Curto-Circuito

Ief Valor eficaz da corrente

IF Corrente de Threshold de entrada

Io Corrente de saída

IPN Corrente nominal no primário

Is Corrente na fase do Conversor Matricial

ISN Corrente nominal no secundário

IZ Corrente de zener

Lf Bobine do filtro de entrada (indutância)

Page 13: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

XI

LS Indutância parasita equivalente

Po Potência de saída

PRd Potência da resistência de descarga

PVA Potência (Volt-Ampere)

PW Potência (Watt)

PZ Potência dissipada no díodo de zener

Q Factor de qualidade

Rd Resistência de descarga (do condensador do filtro de entrada)

Rf Resistência de amortecimento do filtro de entrada

RG Resistência de amortecimento das oscilações de porta

RG2 Resistência de amortecimento das oscilações de porta

RGE Resistência de descarga porta-emissor

RIN Resistência de entrada do circuito de disparo

Rths-a Resistência térmica dissipador-ambiente

Tj Temperatura de junção

VCA Tensão de circuito aberto

VCC Tensão de curto-circuito

VCC Tensão de alimentação do fotodiodo

VDC Tensão da fonte DC

Vef Valor eficaz de tensão

VLED Tensão de polarização do LED

VLSTTL Tensão de polarização da porta inversora

Vo Tensão de saída

Vs Tensão composta nas fases do Conversor Matricial

VV Tensão de trabalho do varistor

VZ Tensão de Zener

Zcarga Impedância de Carga

ZCf Impedância do condensador (filtro de entrada)

Zf Impedância característica do filtro de entrada

ZLf Impedância da bobine (filtro de entrada)

Page 14: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

XII

ZRf Impedância da resistência de amortecimento (filtro de entrada)

Zth Impedância de Thévenin

Page 15: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

XIII

Lista de Acrónimos

AC Alternating Current

CI Circuito Impresso

CM Conversor Matricial

DC Direct Current

DIR Direction Control Input

DSP Digital Signal Processor

EMI Electromagnetic Interference

FPGA Field Programmable Gate Array

GND Ground

GS Gerador Síncrono

IB Interruptor Bidireccional

IGBT Insulated Gate Bipolar Transistor

LED Light Emitting Diode

MC Matrix Converter

MIDA Máquina de Indução Duplamente Alimentada

MOV Metal Oxide Varistor

OE Output Enable

PWM Pulse Width Modulation

REE Rede de Energia Eléctrica

SEE Sistema de Energia Eléctrica

SP Semicondutor de Potência

SPC Semicondutor de Potência Comandado

SVM Space Vector Modulation

Page 16: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial
Page 17: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

1

1. Introdução

Os conversores electrónicos de potência AC-AC permitem transferir energia de uma fonte

alternada sinusoidal para uma carga, sob a forma de grandezas eléctricas alternadas sinusoidais,

com tensões, correntes ou frequência diferentes da fonte. De uma forma genérica, estes

conversores são constituídos por semicondutores de potência que operam em comutação, a uma

frequência que deverá ser muito superior à frequência fundamental das grandezas (tensões e

correntes) de entrada e de saída do conversor.

Os conversores AC-AC podem ser classificados em dois grupos distintos: os conversores

indirectos (AC-DC-AC) e os conversores AC-AC directos. De um modo geral, os conversores

indirectos são constituídos pela associação de dois conversores: um rectificador (conversão AC-

DC) e um inversor (conversão DC-AC). Estes dois conversores são ligados através de um andar

intermédio DC de armazenamento de energia, habitualmente constituído por condensadores

electrolíticos, que aumentam de forma considerável o peso e as dimensões do conversor,

originando também perdas adicionais, com consequente redução do rendimento global.

Nas últimas décadas, o desenvolvimento da indústria de semicondutores tem permitido a sua

operação a tensões, correntes e frequências de comutação mais elevadas. Simultaneamente, o

aparecimento de módulos integrados de semicondutores de potência, que permitiram o aumento

de densidade de potência e a redução de efeitos parasitas, associado à melhoria dos circuitos de

comando e controlo, têm tornado cada vez mais atractiva a utilização dos conversores AC/AC

directos.

Os Conversores Matriciais ou conversores AC/AC directos, não têm andar DC intermédio de

armazenamento de energia, podendo garantir rendimentos elevados, maior densidade de

potência, com consequente diminuição do peso, dimensões e custo. Têm, no entanto, a

desvantagem de serem mais sensíveis às perturbações das tensões / correntes de entrada e de

saída do conversor. Esta desvantagem é minimizada através da utilização de filtros, circuitos de

protecção e controladores adequados.

Os Conversores Matriciais são também conhecidos por conversores directos de frequência sem

restrições, uma vez que são caracterizados por permitir a variação da frequência fundamental

das tensões de saída, sem qualquer restrição em relação à frequência da fonte sinusoidal de

entrada (as limitações são impostas unicamente pela frequência de comutação dos

semicondutores e pelos circuitos de comando e de disparo utilizados). Estes conversores

permitem ainda regular o valor eficaz das tensões aplicadas na carga e o factor de potência de

entrada e de saída (Pinto, 2003), garantindo o trânsito bidireccional de energia (à semelhança

dos conversores AC-DC-AC usuais). A comutação a frequências elevadas permite que o ruído de

comutação seja superior à banda de frequências áudio.

Page 18: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

2

O sistema de potência que constitui o conversor tem de ser comandado e é necessário utilizar

uma estratégia de comutação que permita colocar, em segurança, os semicondutores no estado

de funcionamento pretendido (ao corte ou à condução). Existem algumas técnicas de comando,

sendo a técnica de modulação PWM de Venturini uma das mais utilizadas, uma vez que

apresenta bons desempenhos e o algoritmo de controlo pode ser facilmente implementado em

DSP (Watthanasam et al, 1996). Por esse motivo, será esta a técnica de modulação utilizada nos

ensaios de teste deste Conversor Matricial.

Os conversores matriciais têm uma vasta gama de utilização, nomeadamente em sistemas de

velocidade variável, como são os sistemas de centrifugação, elevadores, escaladores e ainda, os

sistemas de geração de energia eólica, baseados em geradores síncronos e máquinas de

indução duplamente alimentadas (MIDA) (http://www.yaskawa.com/site).

É com o objectivo de estudar e de adquirir competências relacionadas com a Conversão Matricial

que, neste trabalho de dissertação, se irá construir e testar um protótipo laboratorial de um

conversor matricial para posterior avaliação de desempenho e análise de resultados.

1.1 Enquadramento do tema de dissertação

Nos últimos anos, o aumento da carga eléctrica aliado ao facto dos combustíveis fósseis

(petróleo, carvão, o gás natural, e produtos nucleares) serem uma fonte de energia poluente e

não renovável, têm motivado um aumento substancial do interesse em fontes de energia

alternativas. Tem crescido, assim, a aposta no desenvolvimento de soluções tecnologicamente

inovadoras, aplicáveis aos processos de conversão de energia eléctrica, a partir de matérias-

primas não poluentes e renováveis.

As melhorias tecnológicas dos equipamentos têm possibilitado aumentar a integração e melhorar

a eficiência de novos centros de produção, no Sistema de Energia Eléctrica (SEE), tendo como

base as energias renováveis, não poluentes e baratas.

Este trabalho de dissertação vai ao encontro desta nova orientação adoptada pelas sociedades

actuais, em que se pretende o desenvolvimento de competências e de soluções tecnológicas que

potenciem a área das energias renováveis, obtendo-se resultados cada vez mais satisfatórios e

benéficos às sociedades que nelas apostam.

É neste contexto actual, que se pretende, neste trabalho de dissertação, projectar, construir e

testar um protótipo laboratorial de Conversor Matricial (conversor electrónico de potência AC/AC

directo), que em desenvolvimentos futuros, possa ser aplicado e testado nesta situação.

Page 19: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

3

1.2 Objectivos da dissertação

Este trabalho, tem como principal objectivo a construção e validação de um protótipo laboratorial

de um conversor electrónico de potência AC/AC directo, normalmente designado por Conversor

Matricial, o que inclui:

- o projecto, dimensionamento e construção do Conversor Matricial;

- implementação laboratorial do Conversor Matricial;

- teste, avaliação de desempenho do protótipo laboratorial e respectiva análise de

resultados.

1.3 Organização da dissertação

Esta dissertação está organizada em seis capítulos, bibliografia e anexos.

No Capítulo I é realizada a introdução ao tema deste trabalho de dissertação. É feito um

enquadramento do tema de dissertação como sendo uma inovação tecnológica que poderá

potenciar a área das energias renováveis, tema este que tem sido bastante debatido pelas

sociedades actuais. São ainda revelados os objectivos deste trabalho e a sua organização;

No capítulo II, que constitui o capítulo fundamental desta tese, é apresentado o esquema geral

do Conversor Matricial. De seguida, são explicados todos os dimensionamentos realizados para

os diferentes circuitos do conversor, tendo sempre como objectivo optimizar o seu

funcionamento.

No Capítulo III são apresentados os esquemáticos e respectivo layout para construção da placa

de circuito impresso, que será a base para a construção do Conversor Matricial. São indicados

os cuidados tidos em conta na concepção das placas de circuito impresso de forma a minimizar o

ruído resultante das interferências electromagnéticas entre as pistas dos diferentes circuitos.

No Capítulo IV são descritos os ensaios laboratoriais realizados e apresentados os respectivos

resultados obtidos.

No Capítulo V são apresentadas as conclusões resultantes do trabalho desenvolvido e ainda as

perspectivas de trabalho futuro.

Page 20: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

4

2. Dimensionamento de um Conversor Matricial

Neste capítulo é apresentado o esquema geral do Conversor Matricial, com uma breve descrição

do mesmo. De seguida, são apresentados todos os dimensionamentos referentes aos circuitos

do conversor a construir.

2.1 Esquema Geral do Conversor Matricial

A figura 2.1 apresenta a composição geral do Conversor Matricial a construir, incluindo uma

perspectiva geral da interligação dos diferentes circuitos.

S11

S12

S13

S23

S21

S22

S31

S32

S33

R

S

T

W

U

V

Semicondutores de Potência

(Interruptores Bidireccionais)

Dissipador

Filtro de Entrada

1 ... 18

Fontes de

Alimentação

Comutadas

+15V

0V

-15V

1 ... 18

1 ... 18

Circuito de Comando

(Acopladores Ópticos)

Estratégia de

Comutação a Quatro

Passos

(FPGA)

Circuito de Controlo

Modulação PWM de

Venturini

(DSP)

R

S

T

W

U

V

Circuito de

Protecção

(entrada)

Circuito de

Protecção

(saída)

Circuitos de

Aquisição de

Tensões

Circuitos de

Aquisição de

Correntes

Isolamento Galvânico

Circuito de

detecção do

sinal de

corrente

Figura 2.1 – Esquema geral do Conversor Matricial

Page 21: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

5

No esquema geral do conversor, há quatro tipos de circuitos a destacar. São eles o circuito de

potência, o circuito de comando, o circuito de controlo e os circuitos auxiliares de aquisição.

2.1.1 Circuito de Potência

Do circuito de potência fazem parte: os semicondutores de potência, o filtro de entrada LC e os

circuitos de protecção dos semicondutores.

Semicondutores de Potência

No Conversor Matricial pretende-se que o processamento de energia eléctrica seja efectuado de

forma bidireccional, ou seja, tanto da REE para a carga como da carga para a REE. Para que

isto seja possível têm de ser utilizados dois semicondutores de potência comandados ligados em

anti-série, com dois diodos em anti-paralelo (Fig. 2.2), de modo que as correntes com sentidos

diferentes atravessem transístores e diodos diferentes. Formam-se assim Interruptores

Bidireccionais, ou seja, com comando à condução e ao corte e a possibilidade de ser percorridos

por correntes e suportar tensões nos dois sentidos, garantindo o trânsito bidireccional de energia.

Neste trabalho, para realização dos IB, utilizaram-se módulos integrados de potência da

DANFOSS (anexo B). Cada um destes módulos inclui três Interruptores Bidireccionais, estando

os respectivos semicondutores comandados, transístores IGBT, ligados em colector comum, de

acordo com a figura 2.2.

Figura 2.2 – Esquema do circuito equivalente do Módulo Integrado (MI) – Interruptores Bidireccionais

(extraído do anexo B).

Page 22: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

6

A utilização destes módulos integrados de potência traz vantagens na implementação prática do

Conversor Matricial, pois permitem reduzir significativamente o volume do circuito de potência,

reduzindo substancialmente o tamanho do protótipo laboratorial.

Filtro de Entrada

No interface entre a Rede de Energia Eléctrica (REE) e os semicondutores de potência que

compõem os interruptores bidireccionais, utilizou-se um filtro passa-baixo LC. Com este filtro

pretendem minimizar-se as harmónicas de alta frequência das correntes de entrada, que

resultam do processo de comutação dos semicondutores dos IB, de forma a preservar a

qualidade da energia do SEE. Por isso, é necessário realizar um dimensionamento criterioso do

filtro, de forma a que este contribua para uma melhoria significativa do desempenho do conversor

matricial a construir.

De entre várias topologias possíveis, escolheu-se a topologia LC com resistência de

amortecimento em paralelo com a bobine (Fig. 2.1) porque, apesar de outras soluções

permitirem igualmente reduzir o conteúdo harmónico das correntes de entrada, em geral, esta

topologia com a resistência de amortecimento em paralelo com a bobina é a que permite

minimizar as perdas (Pinto, 2003). Consequentemente, consegue obter-se um maior rendimento

do Conversor Matricial.

Circuitos de Protecção

O circuito de protecção tem como finalidade proteger os semicondutores de potência de

sobretensões aos seus terminais. Durante o processo de comutação dos semicondutores, no

caso de ocorrer uma falha de comutação entre os IB que leve ao corte das correntes de carga

indutivas (variação muito rápida da corrente na carga, ou seja, derivada de corrente de valor

elevado), existe um crescimento abrupto da tensão aos terminais dos semicondutores. Estes

crescimentos de tensão podem levar a que sejam ultrapassados os valores máximos suportáveis

pelos IGBT (sobretensões), e consequentemente dar origem à sua destruição.

No protótipo laboratorial utilizam-se varistores de potência, como circuito de protecção contra

sobretensões. Os varistores de potência são componentes electrónicos, normalmente utilizados

para protecção de dispositivos semicondutores de potência, e são caracterizados por limitarem

tensões ao valor definido pelo fabricante. Caso a tensão aos seus terminais exceda o valor para

o qual foi dimensionado, essa sobretensão é dissipada na forma de calor pelo varistor, dando-se

um aquecimento da sua cápsula. Caso a sobretensão permaneça, o varistor limita o valor de

tensão funcionando como uma fonte de tensão com uma resistência interna e o dispositivo a

proteger é salvaguardado. Os varistores utilizados neste trabalho, têm a referência V420LA20AP

e são varistores do tipo MOV (Metal Oxide Varistor). Com estes varistores de potência, é

Page 23: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

7

possível reduzir significativamente o volume do circuito de protecção diminuindo, de igual forma,

as dimensões do Conversor Matricial.

Por outro lado, em caso de ocorrência de sobretensões na porta do IGBT, sobretudo devido à

existência de indutâncias parasitas nas pistas entre o circuito de disparo e os semicondutores, é

aplicada uma tensão na porta do semicondutor superior ao admissível o que pode causar a sua

destruição. Tratando-se, neste caso, de tensões bastante menores, a protecção do terminal de

comando do IGBT pode ser realizada colocando entre os terminais porta-emissor do

semicondutor dois diodos de zener dispostos em anti-série, em ligação de ânodo comum. Os

diodos de zener criam um caminho alternativo para a corrente sempre que ocorre uma

sobretensão entre os seus terminais, limitando e estabilizando a tensão na porta de comando

dos IGBT.

RGE

Figura 2.3 – Circuito de protecção da porta de comando do SP, com diodos de Zener em anti-série.

2.1.2 Circuito de Comando

O circuito de disparo tem como função colocar à condução ou ao corte os semicondutores dos

IB, utilizando a informação que é fornecida pelo circuito de controlo. Este circuito é, basicamente,

constituído por acopladores ópticos que garantem o isolamento galvânico entre o circuito de

potência e o circuito de controlo.

Acoplador Óptico

Os acopladores ópticos são dispositivos constituídos por um diodo emissor de luz LED e por um

fotodiodo ou fototransistor. As entradas e saída dos acopladores ópticos encontram-se isoladas

electricamente. O funcionamento deste dispositivo baseia-se na energia libertada pelo LED sob a

forma de fotões que, atravessando o meio electricamente isolante, colocam o fotodíodo ou

fototransistor em condução (J. Silva, 2009).

Page 24: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

8

Uma vez que no circuito de potência existem tensões elevadas não referenciadas ao mesmo

ponto de massa que o circuito de comando, com a utilização destes acopladores ópticos

consegue-se promover um isolamento galvânico entre os dois circuitos.

O acoplador óptico utilizado neste trabalho, tem a referência TLP250(INV) (anexo C).

Fontes de Alimentação Comutadas

Estas fontes de alimentação são isoladas, isto é, os terminais de polarização (primário) estão

galvanicamente isolados dos terminais de saída (secundário). Têm como objectivo alimentar os

circuitos de disparo e o número de fontes de alimentação necessárias depende da topologia dos

IB e é dimensionado no capítulo 2.2.

As fontes de alimentação isoladas utilizadas neste trabalho têm a referência NMV0515SC (anexo

D).

Octal Bus Transciever

Estes dispositivos funcionam como buffers dos sinais provenientes do circuito de controlo (FPGA

+ DSP).

2.1.3 Circuito de Controlo

O circuito de controlo é constituído por um DSP, onde estão implementados os algoritmos de

modulação, e por uma FPGA programada para realizar a estratégia de comutação a quatro

passos, garantindo que a comutação entre os semicondutores de potência é feita em segurança.

Modulação PWM de Venturini

Nos processos de modulação a alta frequência existentes para o Conversor Matricial, os

algoritmos que apresentam melhores desempenhos são: a modulação PWM de Venturini

(Alesina et al, 1981) e a modulação vectorial SVM (Huber, Borojevic, 1992). Ambos os processos

de modulação podem ser facilmente implementados em DSP (Watthanasarn et al,1996)

permitindo velocidades de processamento adequadas.

Em ambos os processos de modulação as tensões pretendidas na saída são obtidas a partir de

fracções das tensões de entrada do conversor. As correntes pretendidas na entrada são obtidas

a partir de fracções das correntes de saída do conversor.

Neste trabalho utiliza-se o método de modulação PWM de Venturini, uma vez que apresenta

baixos conteúdos harmónicos tanto nas tensões de saída como nas correntes de entrada e

permite um factor de potência quase unitário (ou ajustável) na ligação à REE (J. Monteiro, 2010).

Page 25: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

9

Estratégia de Comutação a 4 Passos

Esta estratégia de comutação pode ser baseada na detecção do sentido da corrente de carga ou

na detecção do sinal das tensões compostas de entrada aplicadas aos IB envolvidos no

processo de comutação.

A estratégia utilizada neste trabalho foi a de comutação a quatro passos, baseada no sentido da

corrente na carga e implementada em FPGA (Monteiro, 2010). Esta escolha deve-se ao facto de

ser a estratégia que garante maior segurança nas transições e ainda evita a circulação de

corrente entre os IB que se encontram em comutação (Monteiro, 2010).

Quando é dada ordem a um IB para conduzir, ambos os IGBT que o constituem estão à

condução, independentemente do sinal de corrente na carga. Supondo que se pretende comutar

a corrente do IB1 para o IB2 e que o sentido da corrente de carga é positivo, a comutação

realizada em quatro passos, correspondentes a quatro ciclos de relógio (quatro ciclos

temporizados pela FPGA) (Monteiro, 2010), é feita da seguinte forma:

Figura 2.4 – Comutação entre dois IB (sentido positivo da corrente)

1º - O semicondutor T1, que não participa no processo de condução, é desligado;

2º - Para se garantir a continuidade da corrente, o semicondutor T4 do IB2, é colocado à

condução;

3º - De seguida, coloca-se o semicondutor T2 do IB1, que estava no estado de condução, ao

corte;

4º - Por fim, coloca-se o semicondutor T3 do IB2, à condução;

Page 26: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

10

Se o sentido da corrente de carga for negativo a comutação é também realizada em quatro

passos, no entanto a sequência destes é diferente da realizada para o caso com corrente de

carga com sentido positivo, ou seja:

Figura 2.5 – Comutação entre dois IB (sentido negativo da corrente).

1º - O semicondutor T2, que não participa no processo de condução, é desligado;

2º - Para se garantir a continuidade da corrente, o semicondutor T3 do IB2, é colocado à

condução;

3º - De seguida, coloca-se o semicondutor T1 do IB1, que estava no estado de condução, ao

corte;

4º - Por fim, coloca-se o semicondutor T4 do IB2, à condução;

Quando o sentido da corrente de carga se alterada durante o processo de comutação, este é

finalizado considerando o sinal inicial da corrente. Só no ciclo de comutação seguinte é que se

irá actualizar o sinal da corrente.

2.1.4 Circuitos de Aquisição

Os circuitos de aquisição, designados também por circuitos auxiliares, têm a função de obter

imagens das tensões e correntes, na entrada e saída do conversor. É com base nesta

informação que se torna possível realizar o controlo das comutações dos semicondutores de

potência do CM.

Page 27: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

11

Circuito de Aquisição de Correntes

É com base no circuito de aquisição das correntes que é possível identificar as zonas das

correntes de saída e determinar o sentido das correntes de carga, necessário ao processo de

comutação a quatro passos.

Para leitura das correntes são utilizados transdutores de corrente LEM, cuja referência é LA 25-

NP. Este componente permite realizar a medição electrónica de correntes, em circuitos de

potências elevadas, garantindo o isolamento galvânico entre o circuito de potência e o circuito de

comando. Na entrada é ligado o circuito de potência, onde está a grandeza a medir, e a saída

liga-se ao circuito electrónico, que no caso deste trabalho, é o circuito de controlo.

A partir da leitura realizada pelo transdutor de corrente, utiliza-se o circuito de acondicionamento

de sinal (Menino, Antunes, 2002) representado na Fig. 2.6 e descrito de seguida.

Figura 2.6 - Esquemático do circuito de aquisição de correntes (extraído de [Anibal Menido e José

Antunes, 2002]).

De seguida, descrevem-se os blocos do circuito que implementa as funções de identificação do

sentido e de localização das correntes de carga. Assim, temos:

- No bloco 1, o circuito apresentado realiza o cálculo de uma tensão cujo valor é

proporcional ao valor da corrente que o percorre. Os díodos colocados em anti-paralelo permitem

adicionar uma tensão, positiva ou negativa de acordo com o sinal da corrente adquirida, de forma

a tornar mais acentuadas as transições da corrente entre o sentido negativo e o positivo,

tornando-se mais fácil detectar a passagem por zero;

Bloco 1 Bloco 2

Bloco 3

Page 28: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

12

- No bloco 2 está realizado o circuito onde são calculadas as tensões proporcionais às

correntes;

- No circuito do bloco 3 são determinados os sinais das correntes e os sinais das diferenças das

correntes, adquiridas pelos blocos 1 e 2 através de comparadores regenerativos não inversores.

Circuito de Aquisição de Tensões

Com o circuito de aquisição de tensões, pretende-se adquirir uma imagem das tensões

compostas entre as fases de entrada do conversor. O valor desta imagem irá servir para realizar

o processo de modulação do Conversor Matricial, segundo a estratégia de comando PWM de

Venturini.

Para aquisição das tensões de entrada, utilizam-se transdutores de tensão LEM, com a

referência LV 25-P. Este componente, permite realizar a medição de tensões, em circuitos de

potências elevadas, garantindo o isolamento galvânico entre o terminal primário (tensões

elevadas) e o secundário (baixas tensões). No primário é ligado o circuito de potência e no

circuito secundário, o circuito electrónico, que no caso deste trabalho, é o circuito de controlo.

2.2 Dimensionamento

Neste subcapítulo são realizados todos os dimensionamentos necessários à construção do

conversor de potência. Nos dimensionamentos efectuados são indicadas as aproximações

consideradas os resultados obtidos.

2.2.1 Semicondutores de Potência

Os semicondutores a escolher para realização dos Interruptores Bidireccionais do circuito de

potência são escolhidos tendo em consideração as condições de funcionamento pretendidas

para o conversor de potência, que são:

- Correntes nominais IN = 10A;

- Tensão nominal de entrada UN = 400VAC;

- Frequência de comutação da ordem de fS = 5kHz.

Page 29: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

13

Tendo em conta estes valores e, de modo a garantir menor volume do conversor e melhor

desempenho, escolheram-se módulos integrados de potência da DANFOSS de 1200V, 25A, que

permitem obter frequências de comutação na gama pretendida. Estes módulos integram

transístores IGBT, com ligação em colector comum e respectivos díodos em anti-paralelo,

formando três interruptores bidireccionais.

Para construir um Conversor Matricial Trifásico, são necessários três destes módulos de potência

(1 braço de potência por cada uma das fases).

2.2.2 Dissipador

O dimensionamento do dissipador a utilizar é realizado considerando as perdas dos

semicondutores do Conversor Matricial. Sabendo que tipicamente os semicondutores de

potência IGBT suportam temperaturas de junção, Tj, de 125ºC antes da sua destruição, é

imperativo que o dissipador possua uma resistência térmica Rths-a (dissipador - meio ambiente)

que permita dissipar a potência de perdas resultante dos processos de comutação e condução

dos semicondutores de potência existentes em cada um dos módulos de potência.

Uma vez que o conversor foi dimensionado para uma potência de saída de 6kVA, admitindo que

o conversor tem um rendimento mínimo de 90%, ou seja, um máximo de 10% de perdas, entre

os dissipadores disponíveis no mercado selecciona-se um que permita dissipar este valor de

perdas sem que seja atingido a temperatura máxima admissível para o correcto funcionamento

dos semicondutores de potência, ou seja, sem que ocorra a sua destruição.

Assim, considerando um dissipador disponível no mercado com uma resistência térmica de

0,075ºC/W, o aumento de temperatura a que os semicondutores estarão sujeitos é obtida de

acordo com (2.1), onde PW representa a potência de perdas, PVA é a potência aparente e FP é o

factor de potência do conversor.

(2.1)

Considerando-se um factor de potência do conversor aproximadamente unitário, podemos dizer

que a potência activa de perdas tem o mesmo valor da respectiva potência aparente:

(2.2)

assim,

600 0.075º / 45ºW C W C (2.3)

Page 30: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

14

Tendo em conta uma temperatura laboratorial ambiente de 25ºC, uma elevação de temperatura

de 45ºC fará com que o dissipador fique a uma temperatura máxima de 70ºC, permitindo o

funcionamento dos semicondutores até à temperatura de junção máxima admissível, ou seja,

125ºC.

Consultando-se o catálogo de fabrico do módulo integrado de um dispositivo similar (anexo E),

verifica-se que as perdas de comutação mais as perdas de condução, por módulo de potência,

para as condições nominais de funcionamento do módulo (VCE = 1200V, I = 25A, fs = 5 kHz), são

de 180W, ou seja:

(2.4)

Como são necessários três módulos de potência, no total teremos 540W de perdas, o que

permite confirmar que são esperadas sensivelmente 10% de perdas, tal como referido

anteriormente.

2.2.3 Filtro de Entrada

O filtro de entrada utilizado no Conversor Matricial é idêntico ao filtro LC representado no

esquema monofásico da figura 2.2.

Conversor Matricial

ri

ZRf

ZLf

ZCfU V0

I0

Figura 2.7 – Esquema monofásico do filtro LC à entrada do Conversor Matricial, com resistência de

amortecimento representada por ZRf, em paralelo com a bobine.

As impedâncias representativas de cada um dos componentes do filtro são descritas pelas

equações (2.5), (2.6) e (2.7), onde :

(2.5)

(2.6)

(2.7)

Page 31: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

15

Para determinação dos parâmetros do filtro é necessário determinar a sua função de

transferência, que se obtém fazendo:

(2.8)

Tendo em conta que se trata de um filtro passa baixo de segunda ordem, os seus parâmetros

podem ser determinados igualando os quocientes do polinómio denominador da equação (2.8)

com os quocientes da equação canónica de segunda ordem, dada por (2.9).

; (2.9)

O filtro LC pode ser caracterizado pela frequência das oscilações não amortecidas (2.10) e pela

impedância característica (2.11):

(2.10)

(2.11)

Para se garantir o amortecimento desejado, a resistência de amortecimento será dada por:

; (2.12)

Consequentemente, de (2.10) e (2.11) obtêm-se os outros parâmetros do filtro:

(2.13)

(2.14)

Para além destes parâmetros, podemos calcular ainda o factor de qualidade que caracteriza o

filtro de entrada através da seguinte expressão:

(2.15)

De forma a obtermos um filtro de segunda ordem à entrada do Conversor Matricial, é necessário

realizar o dimensionamento de garantindo que o filtro consegue atenuar as harmónicas de alta

frequência introduzidas pela comutação dos semicondutores. Para isto, a frequência de corte

Page 32: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

16

escolhida para o filtro em questão deverá estar uma década acima da frequência da rede

( ) e uma década abaixo da frequência de comutação dos semicondutores, que é

:

(2.16)

Ou seja,

(2.17)

Assim, foi escolhida para o filtro LC uma frequência de corte de .

Para determinação da resistência equivalente do conversor, , considera-se que o sistema de

controlo do Conversor Matricial impõe um factor de potência quase unitário, ou seja:

(2.18)

(2.19)

Obtendo-se para resistência equivalente do conversor:

; (2.20)

Para o correcto funcionamento do filtro de entrada, a impedância característica deste deverá ser

muito inferior à impedância equivalente do conversor .

(2.21)

Dimensionando o filtro de entrada para uma potência de saída de 2 kW (

, com

uma tensão composta de 400V e considerando um factor de potência aproximadamente unitário,

os valores calculados para os parâmetros são os apresentados na tabela 1:

Valores Considerados Resultados

0.5 500 2000 8 13.3 2.5

Tabela 1 – Resultados obtidos no dimensionamento do filtro.

Estes resultados foram obtidos por intermédio de um programa realizado em MATLAB,

realizando-se a simulação dos resultados da tabela 1 para diversos valores de potência de saída

do Conversor Matricial (anexo F).

Page 33: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

17

É preciso ter em atenção que os valores obtidos pelo programa são referentes a um filtro ligado

em estrela. Para se determinar o valor de capacidade referente à ligação em triângulo é

necessário dividir o valor obtido no programa (anexo B), por três, ou seja:

(2.22)

Paralelamente aos condensadores de polipropileno do filtro de entrada (Fig. 2.8), é necessário

introduzir uma resistência adicional, denominada por resistência de descarga, que tem como

finalidade dissipar a energia armazenada no condensador depois do conversor ser desligado.

RD

RD

RD

R

S

T

Figura 2.8 – Resistências de descarga colocadas em paralelo com os condensadores do filtro de

entrada.

A resistência de descarga é dimensionada considerando que, no processo de descarga, o

condensador atinge a tensão residual aos seus terminais em 20 segundos.

A constante de tempo de descarga de um condensador é dada por:

(2.23)

De forma a dimensionar a resistência, define-se que:

(2.24)

Considerando os resultados obtidos para o condensador do filtro, a resistência de descarga é

dada por (2.25):

(2.25)

Para o cálculo da resistência, para além do tempo de descarga do condensador também é

necessário calcular a potência que a resistência terá de dissipar quando ligada aos terminais do

Page 34: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

18

condensador do filtro de entrada. Essa potência de perdas é dada por (2.26), onde Vef representa

o valor eficaz da tensão composta aos terminais da resistência RD.

(2.26)

Assim, as perdas na resistência de descarga são dadas por (2.27):

(2.27)

Tendo em conta as resistências existentes no mercado, selecciona-se uma resistência de

descarga com o valor de 1,5M, de potência 0,5W.

2.2.4. Circuitos de Protecção Contra Sobretensões

Varistores

Para protecção dos semicondutores de potência contra sobretensões são ligados três varistores

entre as fases de entrada do conversor e também são ligados três varistores entre as fases de

saída do conversor (figura 2.9).

Circuito de

protecção

(entrada)

Circuito de

protecção (saída)

Conversor

Matricial

Is

Vs

Figura 2.9 – Representação do Circuito de Protecção a Varistores à entrada e saída do Conversor

Matricial.

Para a correcta escolha dos varistores a utilizar, estes devem ser dimensionados tendo em conta

os seguintes critérios (J. Silva, 2009):

- A tensão de trabalho do varistor, , deve ser superior à tensão máxima da fonte de

alimentação;

Page 35: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

19

- Deve suportar, durante a duração , o transitório mais desfavorável com a tensão de

trabalho , a corrente , que resulta desse transitório;

- Deve poder dissipar a energia do transitório mais gravoso:

(2.28)

De acordo com as condições referidas anteriormente, para realizar dimensionamento dos

varistores calcula-se a quantidade de energia susceptível de ser dissipada, num ciclo de rede,

em caso de sobretensão entre fases de entrada ou saída do conversor matricial. Assim, seja a

tensão composta entre cada duas fases:

(2.29)

Sabendo que nos ensaios experimentais as correntes nas fases não excederão , a

energia que os varistores terão de dissipar num ciclo da rede, será dada por (2.30):

(2.30)

Tendo em conta o valor de energia a dissipar, com base nos valores dos catálogos fornecidos

pelos fabricantes (anexo I), selecciona-se um varistor com a capacidade de dissipação de

energia logo acima de .

Diodos de Zener

Os diodos de zener devem ser escolhidos de acordo com os seguintes critérios:

- A tensão de zener, VZ (Fig. 2.10) cujo valor é especificado no respectivo datasheet

(anexo J) para uma determinada corrente de zener de teste, IZT;

- A corrente de zener, IZ;

- E a sua potência de dissipação, PZ, dada por:

(2.31)

Para assegurar que o diodo de zener não é destruído, é necessário garantir que a sua potência

de dissipação não é ultrapassada.

Page 36: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

20

Figura 2.10 – Curva característica do díodo de Zener.

Uma vez que se irá aplicar na porta de comando do IGBT uma onda quadrada de amplitude

15V , deve escolher-se um díodo com uma tensão de zener que assegure a protecção do

IGBT, ou seja, que limite a tensão na porta do IGBT para um valor inferior ao admissível por este

e um pouco superior à amplitude máxima da onda quadrada.

Relativamente ao valor de potência de dissipação a escolher para o diodo de zener, uma vez que

se pretendem limitar tensões baixas, na ordem dos 15V , e tendo em conta que na porta do IGBT

as correntes são bastante baixas, da ordem dos mA , podem escolher-se diodos zener de sinal

com potências de dissipação de 1W .

2.2.5 Dimensionamento do Circuito de Disparo

Resistência limitadora da corrente de entrada do acoplador óptico

Nesta secção é realizado o dimensionamento da resistência de entrada do acoplador óptico.

Pretende-se que esta resistência limite a corrente de funcionamento do LED, em regime de

comutação, a 8mA.

Page 37: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

21

Figura 2.11 – Circuito de disparo dos semicondutores de potência (extraído do datasheet do

integrado com a referência TLP250(INV), 2009).

Consultando o datasheet do fabricante do integrado do acoplador óptico, verifica-se que a

resistência a colocar na entrada do pino 2 (LED ANODE) do acoplador óptico tem o valor de

390. No entanto, esta resistência pode ser calculada tendo em conta o esquema da figura 2.11,

detalhado na figura 2.12.

IF

5V

Vcc

NOT

2

3

LED

RIN

Figura 2.12 – Circuito de entrada do acoplador óptico.

Realizando a malha deste circuito, obtém-se:

CC F LED LSTTLV I R V V (2.32)

Consultando o datasheet do acoplador óptico, verifica-se que em regime de comutação o LED

necessita de uma corrente de IF=8mA. Sabe-se ainda que o LED é polarizado por uma tensão de

5V.

Considerando uma tensão típica no LED e na porta inversora LSTTL (NOT), respectivamente, de

1.5V e 0.5V obtém-se;

5 1.5 0.5375

0.008

CC LED LSTTL

F

V V VR

I

(2.33)

Page 38: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

22

Resistência de descarga porta-emissor, RGE

Durante o processo de comutação dos semicondutores de potência, as capacidades parasitas

nos terminais dos semicondutores realizam processos de carga e descarga de energia. Para

dissipar a energia resultante dos processos de descarga da capacidade parasita de entrada do

semicondutor, é necessário colocar em paralelo com esta, uma resistência de descarga,

denominada por RGE.

RGE

CISS

Figura 2.13 – Resistência porta-emissor, RGE, para descarga das capacidades parasitas na porta de

comando do SP.

A determinação do valor desta resistência é realizado de forma aproximada, pois não dispomos

dos valores de catálogo correctos da capacidade de entrada e do tempo máximo de comutação

dos semicondutores. Devido a este facto, consultando o catálogo de um semicondutor similar,

admite-se para capacidade de entrada um valor típico para este parâmetro, ou seja,

2.5ISSC nF .

Em relação à constante de tempo de descarga da capacidade, considera-se também uma

constante de tempo típica máxima de .

Considerando que a constante de tempo do condensador é:

(2.34)

O valor da resistência é de:

(2.35)

Escolheu-se para implementação prática, um valor de resistência, uma grandeza acima do valor

dimensionado, ou seja, .

Page 39: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

23

Resistência de amortecimento das oscilações do circuito LC parasita

O dimensionamento da resistência de amortecimento na porta do transístor de potência IGBT é

sempre necessário, pois não podemos desprezar os fenómenos capacitivos e de depleção que

interferem no comportamento dinâmico do transístor em regime de comutação. O processo de

comutação do IGBT é influenciado pela carga e descarga das capacidades equivalentes que o

transístor possui intrinsecamente aos seus terminais (J. Silva, 2009).

Para este dimensionamento, é necessário ter-se em consideração as capacidades equivalentes

transitórias que estão presentes nos terminais do IGBT, em regime dinâmico (figura 2.14).

CGE

CCG

CCE

Figura 2.14 – Circuito de análise do regime transitório do semicondutor de potência IGBT (J. Silva,

2009).

Para efeito de cálculo, ao consultarmos o catálogo de características dos semicondutores de

potência, as capacidades fornecidas pelo fabricante são a capacidades de entrada, C ISS, a

capacidade de transferência inversa, CRSS, e a capacidade de saída, COSS, que equivalem a:

CISS = CGE + CCG (2.36)

CRSS = CCG (2.37)

COSS = CCE + CCG (2.38)

A resistência a dimensionar tem como objectivo realizar o amortecimento do circuito LC que se

cria na porta de comando do semicondutor, devido às indutâncias parasitas das ligações de porta

das ligações de porta e às capacidades anteriormente referidas.

Page 40: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

24

Ls RG

VG

Cs

Figura 2.15 – Circuito RLC na porta de comando do IGBT.

Assim, tendo em conta que o circuito RLC da figura 2.15 possuí um factor de qualidade dado por:

;S

G

LQ

R

(2.39)

onde,

1

s sL C ; (2.40)

A indutância do circuito RLC parasita, criado aos terminais do semicondutor, é estimada

dependendo do tipo de condutor em questão. Para um circuito impresso cujos condutores são

pistas de comprimento l , largura w e distanciados de d a indutância é dada por (J. Silva,

2009):

0 10.1 /2

SL dnH cm

l

; (2.41)

A capacidade equivalente de entrada do IGBT é estimada através de:

CGS eq ISS RSS

GE

VC C C C

V

; (2.42)

Considerando um factor de amortecimento óptimo de

, a resistência de amortecimento é

dada por:

2 SG

S

LR

C

(2.43)

As resistências obtidas para cada uma das gates dos semicondutores de potência encontram-se

na tabela 2.

Page 41: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

25

Módulo de

Potência RG2 [] RG4 [] RG8 [] RG10 [] RG12 [] RG22 []

1 4.43 4.10 3.96 3.56 3.41 4.41

2 4.35 4.08 3.83 3.59 3.59 4.67

3 4.44 4.21 3.90 3.41 3.48 4.64

Tabela 2 - Resistências de amortecimento das oscilações.

Para implementação prática foi escolhida uma resistência de 6.2 para todas as situações.

2.2.6 Fontes de Alimentação Comutadas

Neste subcapítulo, é dimensionado o número de fontes de alimentação comutadas necessárias

para alimentar os dezoito acopladores ópticos dos dezoito semicondutores de potência

comandados (seis por cada um dos três módulos integrados de potência).

Tendo em conta que os IGBT que compõem os IB estão montados segundo a topologia colector

comum, o número de fontes de alimentação comutadas necessárias para os acopladores ópticos

será determinado segundo o número de pontos ligados em emissor comum.

Figura 2.16 – Esquema representativo dos pontos de emissor comum entre os semicondutores de

potência de cada um dos MI de potência.

Considerando a figura 2.16, em cada uma das fases de carga (uma por módulo de potência)

temos três IGBT ligados em emissor comum (círculo a vermelho). Para cada um destes

semicondutores utiliza-se um circuito de disparo, sendo os três circuitos de disparo alimentados

pela mesma fonte de alimentação, uma vez que o ponto de referência (o emissor) é equipotencial

Page 42: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

26

para os três semicondutores. Como temos três fases de carga (W, U, T), para alimentar os nove

circuitos de disparo serão necessárias três fontes de alimentação.

Na fase de entrada R1 (círculo a amarelo), o IGBT, denominado na figura por T1, está em

emissor comum com os homólogos das fases de entrada (R2 e R3) dos outros dois módulos de

potência. Para alimentar os três circuitos de disparo destes semicondutores é necessária uma

única fonte de alimentação.

Para os IGBT em emissor comum nas fases de entrada S (círculo a verde) e T (círculo a azul),

aplica-se o mesmo raciocínio da fase R, sendo igualmente necessário apenas uma fonte de

alimentação para alimentar cada conjunto de três circuitos de disparo.

Pontos em Emissor

Comum

Nº de Fontes

Comutadas

Nº de Circuitos de

disparo

R1, R2, R3 1 3

S1, S2, S3 1 3

T1, T2, T3 1 3

W 1 3

U 1 3

V 1 3

TOTAL 6 18

Tabela 3 – Quadro resumo do número de fontes de alimentação.

Conclui-se então, que no total, são necessárias 6 fontes de alimentação para alimentar os

dezoito circuitos de disparo referentes aos dezoito IGBT do circuito de potência.

2.2.7 Circuitos Auxiliares de Aquisição de tensões e correntes

Circuito de Aquisição de Correntes

Por consulta do catálogo de fabricante (Anexo G), as ligações efectuadas nos terminais do

transdutor de corrente foram realizadas de forma a alcançar uma corrente nominal no primário de

. Obtém-se assim, as seguintes características do transdutor:

- Número de espiras no primário, 2;

- Corrente nominal de saída (secundário), ;

- Relação de Transformação, ;

Page 43: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

27

- Tensão de isolamento, ( entre primário e secundário).

Respeitando a gama de valores recomendada para a resistência de medição do transdutor, e

considerando os dados anteriormente referidos, esta resistência toma o valor de 180.

Circuito de Aquisição de Tensões

Na montagem do transdutor de tensão, é necessário considerar uma resistência de medição.

Esta resistência é calculada segundo os seguintes dados de catálogo (Anexo H):

- Corrente nominal no primário, ;

- Corrente nominal secundária, ;

- Relação de transformação, ;

- Tensão de isolamento, (entre primário e secundário).

Tendo em conta os valores pretendidos para os parâmetros anteriores, dentro da gama de

valores a considerar para a resistência de medição, escolheu-se uma resistência também de

180Ω.

Page 44: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

28

3. Circuito Impresso para o Conversor Matricial

Neste capítulo, apresentam-se os esquemáticos e as placas de circuito impresso que constituem

o Conversor Matricial. Apresentam-se ainda todas as medidas a ter em conta no desenho do

circuito impresso do conversor, nomeadamente na redução do ruído EMI (Electromagnetic

Interferences), de modo a garantir bons desempenhos do conversor.

Posteriormente, são apresentados todos os esquemas de ligações a realizar para concretização

do layout de fabrico da Placa de Circuito Impresso (PCI).

3.1. Esquema Geral da Placa de Circuito Impresso

Na figura 3.1 apresenta-se uma perspectiva geral da distribuição dos circuitos que constituem o

Conversor Matricial (CM), na placa de circuito impresso. Este esquema serve de base para o

desenho do layout da placa de circuito impresso.

A PCI é de dupla camada (1 por face da placa), de espessura 1.6mm e possui as dimensões

referidas na figura. Estas dimensões correspondem a um circuito impresso com uma área de 516

cm2.

Circuito de Comando

(Módulo 1)Circuito de Comando

(Módulo 2)

Circuito de Comando

(Módulo 3)

Módulo de Potência 1 Módulo de Potência 2 Módulo de Potência 3

Circuito de Comando

Fases de EntradaFases de Saída Filtro de Entrada LC

Circuito de Potência (Circuito de Protecção,

Filtro de Entrada, Semicondutores)

24.6 cm

21 cm

Figura 3.1 – Esquema Geral do Conversor Matricial.

Page 45: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

29

Com esta disposição, pretende-se compactar ao máximo as dimensões do Conversor Matricial,

sendo necessário ter cuidados adicionais na definição das pistas de ligação dos diferentes

componentes, tanto do circuito de potência como do circuito de comando.

Teve-se ainda o cuidado de dispor de forma distinta o circuito de potência e o circuito de

comando. Com isto, pretende-se proteger o circuito de comando de possíveis interferências

electromagnéticas causadas pelo processo de comutação dos semicondutores de potência.

3.2. Medidas a considerar para redução do ruído EMI

As interferências electromagnéticas são processos de transmissão de energia electromagnética

entre circuitos eléctricos/electrónicos susceptíveis de degradarem significativamente o

funcionamento dos circuitos (J. Silva, 2005).

O fenómeno de EMI é bastante crítico nos conversores electrónicos comutados devido às

elevadas frequências de comutação dos seus semicondutores. Considerando-se este facto,

desenhou-se o layout do circuito impresso do Conversor Matricial tendo em consideração um

conjunto de medidas adequadas para minimizar este fenómeno e optimizar o funcionamento do

conversor. As medidas consideradas para reduzir o efeito do ruído EMI foram:

- usar condensadores de desacoplamento, para filtrar o ruído de alta frequência presente

nas pistas dos sinais de comando;

- garantir pistas o mais curtas e largas possível, as que transportem maiores valores de

corrente, de forma a reduzir as indutâncias parasitas inerentes a estas;

- afastar o circuito de potência dos circuitos de controlo;

- colocar os circuitos de comando dos semicondutores o mais próximo possível dos

semicondutores e afastá-los dos circuitos de controlo;

- usar resistências para amortecer os circuitos LC parasitas;

- usar planos de massa;

- usar linhas de alimentação diferentes para as várias zonas da PCI;

- não usar pistas com ângulos rectos.

Todas estas medidas contribuem para a melhoria da compatibilidade electromagnética do

Conversor Matricial, permitindo que os circuitos operem sem degradação do seu funcionamento.

Page 46: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

30

3.3. Determinação da largura das pistas

A definição correcta da largura de cada pista, permite melhorar significativamente o

funcionamento do circuito, pois assim minimizam-se as indutâncias parasitas das mesmas,

contribuindo para uma redução do ruído EMI.

A largura das pistas do circuito impresso foi determinada tendo em conta a espessura da pista, o

valor da corrente que é susceptível conduzirem e a elevação de temperatura da pista ao conduzir

essa corrente.

Figura 3.2 – Diagramas para determinação das larguras das pistas do CI (extraído da norma IPC-

IC2221, 1998: 38)

Page 47: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

31

Para consulta dos diagramas da figura anterior é necessário ter a noção que a espessura das

pistas de cobre pode ser dada nas seguintes unidades:

Tabela 4 – Conversões de unidades.

Por consulta das especificações de produção do fabricante do circuito impresso

(http://www.circuitotal.com/pt/info.htm), considerou-se para o cálculo da largura das pistas, uma

espessura da pista em cobre de 35m.

Foi considerado ∆t = 10ºC para elevação de temperatura admitida para as pistas. Isto significa

que para uma temperatura ambiente laboratorial de 25ºC, as pistas atingirão uma temperatura de

35ºC.

Por exemplo, se quisermos calcular a largura das pistas relativas às fases de entrada ou saída

do circuito de potência, considerando que se espera ter nas fases correntes com cerca de 10 A

observando os diagramas da figura anterior verifica-se que para uma elevação de 10ºC e uma

espessura de pista de 35m, obtém-se uma largura de pista de 0,3 polegadas, ou seja, uma

largura mínima de pista de 7,63mm.

1OZ/ft2 = 305.152 g/m

2 = 35m

1 OZ (onça) = 35m = 1.4mils

1 polegada = 2.54cm = 1000mils

Page 48: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

32

3.4. Determinação do espaçamento entre pistas

O espaçamento entre pistas deverá ser maximizado na mesma camada de circuito impresso,

pois quando numa mesma camada existem diferentes níveis de tensões e para além disso,

tensões alternadas, como é o caso deste trabalho, é necessário garantir um afastamento

suficiente entre as pistas de forma a minimizar a interferência electromagnética.

Tabela 5 - Níveis de afastamento entre as diversas pistas segundo diversos níveis de tensões (tabela

6-1 Electrical Conductor Spacing página 39).

O espaçamento entre as pistas do circuito impresso é determinado considerando a norma IPC-

2221, segundo a qual o espaçamento entre duas pistas vizinhas é determinado segundo os

níveis de tensão entre elas.

3.5. Circuito de disparo

Na figura 3.3, é apresentada o esquemático de ligações do circuito de disparo relativo a um dos

módulos de potência. No protótipo laboratorial existem três módulos de circuitos de disparo,

todos iguais ao representado na Fig. 3.3.

Page 49: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

33

Figura 3.3 – Esquemático do circuito de disparo de um dos módulos de potência.

Em relação ao esquemático do circuito de comando existem aspectos a realçar. Por consulta do

catálogo do fabricante, colocou-se aos terminais de saída (+15V e -15V), das fontes de

alimentação comutadas:

- 1 condensador cerâmico, de capacidade 1F, com tensão nominal, no mínimo, três

vezes a tensão de saída;

- 1 condensador de tântalo, de capacidade 10F, com tensão nominal, no mínimo, uma

vez e meia a tensão de saída;

Para além disto, colocaram-se próximo dos terminais de polarização, de todos os circuitos

integrados, condensadores cerâmicos de 0.1F. Este facto deve-se à necessidade de filtrar ruído

provenientes da fonte de alimentação originados por indutâncias inerentes às pistas de

alimentação.

Por último, colocaram-se no circuito, condensadores de desacoplamento de 0,1F.

Page 50: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

34

Figura 3.4 – Layout do circuito de comando (face superior).

Figura 3.5 – Layout do circuito de comando (face inferior).

Tendo em conta que as fontes de alimentação comutadas garantem um isolamento galvânico

entre os terminais de polarização (primário) e os terminais de potência (secundário), estas devem

Page 51: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

35

ser dispostas na placa de circuito impresso com os terminais do primário mais próximos do

circuito de comando, enquanto os terminais do secundário deverão estar localizadas mais

próximos do circuito de potência, realizando-se assim, tal como acontece com os acopladores

ópticos, um isolamento entre o circuito de potência e de comando. Assim consegue-se filtrar

algum do ruído EMI proveniente do circuito de potência.

3.6. Circuito do filtro de entrada e circuito de protecção

Neste subcapítulo, apresentam-se os esquemáticos e respectivo layout, referente às ligações do

filtro de entrada e das fases (de entrada e saída) do Conversor Matricial. Engloba-se ainda as

ligações relativas aos circuitos de protecção nas fases do conversor.

Figura 3.6 – Esquemático das fases de entrada e saída do Conversor Matricial

Page 52: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

36

Figura 3.7 – Esquemático do circuito do filtro de entrada com resistências de descarga, RD, e circuito de

protecção com varistores.

Uma vez que não existem disponíveis no mercado condensadores com a capacidade e tensões

nominais desejadas (capítulo 2.2.3), foi necessário recorrer à associação série de

condensadores, para obter os valores pretendidos. Por esta razão, em vez de se usarem três

condensadores de polipropileno (um entre cada duas fases) de capacidade 13F e com tensão

nominal alternada de 400VAC, foram utilizados seis condensadores de polipropileno (dois em

série entre cada duas fases) de capacidade 20uF, de tensão nominal alternada de 305VAC. Com

esta associação de condensadores obtemos uma capacidade equivalente entre fases de 10F.

Os condensadores utilizados, têm a referência B32926E3206M.

Page 53: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

37

Figura 3.8 – Layout do circuito do filtro de entrada com resistências de descarga, RD, e circuito de

protecção com varistores.

No layout do conversor, teve-se o cuidado de colocar o filtro de entrada o mais próximo possível

dos módulos de potência, isto é, dos semicondutores de potência que constituem os

Interruptores Bidireccionais. Com esta medida, pretende-se diminuir ao máximo o comprimento

das pistas, cujas indutâncias parasitas são susceptíveis de originar sobretensões aos terminais

dos semicondutores, podendo causar a sua destruição.

Em relação aos varistores de protecção, fez-se com que estes ficassem colocados o mais

próximo possível dos semicondutores de potência, porque ao diminuir o tamanho das pistas

reduzem-se também as indutâncias parasitas, permitindo que os varistores realizem uma

protecção mais eficaz. Pela mesma razão, os diodos de zener foram colocados próximos das

portas de comando dos transístores IGBT.

Page 54: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

38

3.7. Layout global da placa de circuito impresso

Na figura 3.9 apresenta-se o layout da placa de circuito impresso onde ficam alojados os circuitos

de disparo dos transistores IGBT (em baixo, na zona a vermelho, que representa um plano de

massa), os três módulos de potência M1, M2 e M3 com todos os semicondutores de potência (no

total 18 IGBT e 18 díodos) e os condensadores e resistências do filtro de entrada. É também

nesta placa que são ligados os varistores e díodos zener de protecção do conversor.

Figura 3.9 – Layout global da placa de circuito impresso do Conversor Matricial (dupla camada).

No anexo D, apresentam-se individualmente o layout de ambas as camadas (superior e inferior)

da placa de circuito impresso do conversor de potência.

Page 55: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

39

4. Ensaios Laboratoriais do Conversor Matricial

Neste capítulo é apresentado o esquema relativo à montagem implementada em laboratório para

teste do Conversor Matricial. Posteriormente são apresentados os resultados experimentais

obtidos através dos testes laboratoriais do Conversor Matricial.

4.1 Introdução

Apresenta-se na figura 4.1, o esquema da montagem laboratorial utilizada para realização dos

testes ao funcionamento do conversor.

...S1 S18

TransformadorR

S

T

Circuito de Controlo

(FPGA + DSP)

Carga RL

W

U

V

Circuio de

aquisição de

correntes

Circuio de

aquisição de

tensões

REE

Auto-

Transformador

Figura 4.1 – Esquema da montagem laboratorial realizada para teste do CM.

O Conversor Matricial é ligado à rede eléctrica através de um auto-transformador que, permite

variar a tensão composta aplicada ao conversor, e um transformador adicional que garante

isolamento galvânico (Fig. 4.1). Na saída do CM encontra-se ligada uma carga RL ligada em

triângulo, com L=11mH e R variável de 0Ω a 22Ω. A frequência de comutação considerada para

este teste foi de 5kHz.

4.2. Teste de validação do circuito de disparo

Teste de validação do circuito de disparo (acoplador óptico)

O acoplador óptico testado tem a referência TLP250(INV) e apresenta a seguinte configuração:

Page 56: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

40

Figura 4.2 – Esquema genérico do circuito de disparo (extraido do datasheet do acoplador óptico

com a referência TLP250(INV) da TOSHIBA).

Para que o acoplador óptico forneça a onda desejada é necessário polarizar o LED do acoplador

com uma tensão de 5V através do pino 2, impondo no pino 3 o sinal de entrada correspondente à

comutação com a frequência desejada. Este sinal de entrada é fornecido pelo circuito de

controlo, que realiza a comutação dos semicondutores, segundo a técnica de modulação PWM

de Venturini. O sinal de entrada do acoplador óptico, fornecido pelo circuito de controlo, tem a

forma representada na figura 4.3.

Figuras 4.3 – Sinal de entrada do circuito de disparo, fornecido pelo circuito de controlo.

O sinal de entrada tem uma amplitude que varia entre 0V (sinal lógico 0) e 5V (sinal lógico 1).

Tal como se pode verificar na figura 4.4, o acoplador óptico do circuito de disparo, aplica uma

onda quadrada de amplitude na porta de comando dos semicondutores IGBT do circuito de

potência. Esta forma de onda foi obtida colocando os terminais da ponta de prova entre a gate e

o emissor do semicondutor. A tensão de coloca o IGBT à condução e a atensão de

coloca o IGBT ao corte.

Page 57: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

41

Figura 4.4 – Sinal de comando imposto pelo circuito de disparo na porta de comando do

semicondutor de potência IGBT.

Figura 4.5 – Sinal de entrada (CH1) e sinal de comando (CH2).

Durante o teste do circuito de disparo, verificou-se que o sinal de entrada coloca os

semicondutores de potência ao corte quando este apresenta o valor lógico 1 e à condução

quando apresenta o valor lógico 0. Durante os testes do funcionamento global do Conversor

Matricial é necessário ter cuidado com este aspecto, pois se eventualmente o circuito de controlo

deixar de fornecer, repentinamente, sinais de entrada aos circuitos de comando, isto será visto

pelo mesmo como uma imposição do sinal lógico 0, colocando todos os semicondutores à

condução, o que dá origem a um curto-circuito entre as fases do conversor. Este problema levará

à destruição do circuito de potência do Conversor Matricial.

O problema descrito no parágrafo anterior pode ser resolvido utilizando o octal bus tranciever

inverter. Este componente tem a referência SN74ABT640 e pode ser aplicado para impor, ao

acoplador óptico, o sinal de entrada invertido. Consultando o respectivo datasheet, a função de

Page 58: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

42

inversão de sinal é realizada colocando os inputs do integrado da seguinte maneira: (pino 19)

a Low, ou seja, ligado a GND e DIR (pino 1) a High, ou seja, ligado a VCC.

Neste trabalho, o problema foi resolvido utilizando o octal bus non inverting, de referência

SN74LS245, sendo a inversão do sinal de entrada realizada por software, no programa de

controlo (Monteiro, 2010).

4.3. Teste de validação do circuito de aquisição das

correntes

Na figura 4.6 apresenta-se o teste realizado ao funcionamento do circuito de aquisição de

correntes, que implementa as funções de identificação do sentido das correntes de carga. As

formas de onda sinusoidais, referentes aos canais CH2 (azul) e CH3 (violeta), representam as

correntes de saída do Conversor Matricial.

Figura 4.6 – Teste do circuito de identificação do sentido e da localização das correntes de carga.

O circuito de aquisição das correntes de carga, dependendo da alternância da sinusóide, gera na

sua saída uma onda quadrada, que indica qual o sentido da corrente de carga. A alternância

positiva da onda quadrada (correspondente ao sinal lógico 1 do ponto de vista do DSP) indica

que temos correntes de carga no sentido positivo e a alternância negativa (correspondente ao

sinal lógico 0 do ponto de vista do DSP) indica que temos correntes de carga negativas.

O teste realizado ao circuito de aquisição de correntes, permitiu verificar o seu correcto

funcionamento, pois quando as tensões na carga do CM estão numa alternância positiva da

sinusóide, estamos numa alternância positiva da onda quadrada o que significa que é gerado o

sinal lógico 1 para o DSP. Em relação às alternâncias negativas das correntes na carga verifica-

Page 59: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

43

se que corresponde às alternâncias negativas da onda quadrada, ou seja, é gerado para a FPGA

o sinal lógico 0.

4.4. Teste do funcionamento global do Conversor

Matricial

Nesta fase, são apresentados os resultados experimentais obtidos no teste do funcionamento

global do Conversor Matricial. De entre os testes realizados laboratorialmente, obtiveram-se as

formas de onda das tensões (compostas e simples) de saída e ainda a forma de onda de uma

das correntes de carga do conversor.

Na figura 4.7 está representada a tensão simples obtida numa das fases de saída do conversor.

Figura 4.7 - Tensão simples de saída.

Page 60: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

44

Na figura 4.8, encontra-se representada a tensão composta, obtida entre duas das fases de

saída do conversor.

Figura 4.8 - Tensão composta de saída.

Na figura 4.9, está representada a corrente de carga numa das fases de saída do CM.

Figura 4.9 - Corrente de saída do Conversor Matricial.

Das figuras 4.7, 4.8 e 4.9 verifica-se que as tensões de saída do conversor são comutadas e as

correntes na carga RL são aproximadamente sinusoidais.

Page 61: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

45

5. Conclusões e Perspectivas de Trabalho Futuro

5.1 Conclusões

Neste trabalho construiu-se e testou-se em laboratório um conversor matricial. No processo de

construção foi necessário fazer o dimensionamento dos circuitos de disparo, dos circuitos de

aquisição das tensões de entrada (rede eléctrica) e das correntes de saída (carga trifásica)

necessárias ao processo de modulação PWM e de comutação dos semicondutores. Foram ainda

dimensionados os circuitos de protecção contra sobretensões dos semicondutores de potência,

assim como do dissipador onde ficaram alojados todos os semicondutores.

Foi apresentado e dimensionado o filtro de alta frequência LC de ligação à REE, que permite

garantir conteúdos harmónicos reduzidos nas correntes.

O desenho da placa de circuito impresso teve em conta a minimização do tamanho das pistas

(para reduzir indutâncias parasitas e reduzir o tamanho do conversor), utilização de planos de

massa, minimizando o ruído EMI.

Da análise de resultados, é possível concluir que o conversor construído tem o comportamento

típico de um Conversor Matricial, comandado segundo a técnica de modulação PWM de

Venturini. As tensões de saída são comutadas e as correntes são sinusoidais.

5.2 Perspectivas de trabalho futuro

Neste trabalho, apesar de se obterem na saída do conversor as formas de onda esperadas,

estas foram obtidas abaixo do regime nominal de funcionamento do conversor. No entanto, o

trabalho realizado nesta tese de mestrado servirá para que no futuro sejam melhoradas as

metodologias de projecto e construção de novos Conversores Matriciais, permitindo a operação

com tensões e correntes mais elevadas, com a perspectiva de propor novas aplicações para

estes conversores.

Com o trabalho aqui desenvolvido é assim facilitado o desenvolvimento de conversores matriciais

com características adequadas para poderem ser ligados, por exemplo, a máquinas eléctricas,

em vez de simples cargas RL, utilizando tensões de trabalho mais elevadas. Será também

possível simular, em laboratório, sistemas de velocidade variável representativos dos sistemas

de geração eólica, baseados em geradores síncronos (GS) ou em máquinas de indução

duplamente alimentadas (MIDA). Uma outra aplicação que também pode ser desenvolvida

laboratorialmente é a utilização do Conversor Matricial em aproveitamentos solares fotovoltaicos.

Page 62: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

46

Nestas e noutras aplicações, a utilização destes conversores directos AC/AC poderá permitir

obter sistemas de conversão com maior rendimento, menor custo, volume e peso.

Page 63: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

47

Referências

[1] Pinto, S., “Conversores Matriciais Trifásicos: Generalização do Comando Vectorial

Directo”, Tese de Doutoramento, Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de

Lisboa, Julho de 2003;

[2] Monteiro, J., “Conversão Matricial Trifásica no Condicionamento do Trânsito de Energia

Eléctrica”, PhD Thesis, Insituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa,

Julho de 2010;

[3] Silva, J. F., “Input LC filters for Power Converters”, Sistemas de Energia em

Telecomunicações Lecture Notes,

https://dspace.ist.utl.pt/bitstream/2295/681499/1/input%20LC%20filters.pdf, Cie3, IST,

TULisbon, 2010;

[4] Silva, J. F., “Dispositivos Semicondutores de Potência”, Textos de Apoio de Electrónica de

Regulação e Comando, IST, Lisboa, 2009;

[5] Menino, A.; Antunes, J., “Processamento Electricamente Não Poluente de Energia

Eléctrica: Conversor Matricial Trifásico”, Trabalho Final de Curso, Instituto Superior

Técnico, Lisboa, Julho 2002;

[6] Silva, J. F., “Noções de Compatibilidade Electromagnética”, Textos de Apoio de Sistemas

de Energia em Telecomunicações, IST, Lisboa, 2005;

[7] Fullwood L., Neves B., Underwood R., ANSI/ IPC-2221, “Generic Standard on Printed

Board Design”, IPC-Association Connecting Electronics Industries, Illinois, 1998;

[8] PRODUCT GUIDE (2009), “Photocouplers and Photorelays”, Toshiba;

[9] Alesina, A.; Venturini, M; “Analysis and Design of Optimum Amplitude Nine-Switch Direct

AC/AC Converters”; IEEE Trans. On Power Electronics, Vol. 4, N.1, pp.101-112; January

1989;

[10] Huber, L.; Borojevic, D.; Burany, N.; “Analysis, Design and Implementation of the Space-

Vector Modular for Forced Commutated Cycloconverters”; IEE Procedding-B Electric Power

Applications, Vol.139, N.2, pp.103-113, March 1992;

[11] Watthanasam, C., Zhang, L., Liang, D.; “Analysis and DSP-based Implementation of

Modulation Algorithms for AC/AC Matrix Converters”, Proc. PESC’96 June 1996, Baveno,

Italy pp.1053- 1058.

Web

http://www.circuitotal.com/pt/info.htm

http://www.circuitcalculator.com/wordpress/2006/01/31/pcb-trace-width-calculator/

http://pt.farnell.com/

http://pt.rs-online.com/web/

http://www.semicon.toshiba.co.jp/eng/

http://www.yaskawa.com/site

Page 64: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

48

Anexos

A: Lista de Componentes

Descrição do Componente

Fabricante Referência Quantidade

Dissipador (0.07ºC/W) - - 1

Módulo de Potência (25A/1200V)

DANFOSS DP 25M1200 101502

IGBT 3

Condensadores de polipropileno do filtro de entrada (VAC = 305 V, C

= 20uF)

EPCOS B32926E3206M

6

Resistências de Descarga

YAGEO (PHYCOMP)

HHV-50JT-52-1M 6

Varistor (VAC = 420 V, 90J)

LITTELFUSE V420LA20AP 6

Diodos de Zener VISHAY 1N4746A-TAP 18

Drivers de Comando (Optocouplers)

TOSHIBA TLP250(INV) 18

Resistências de entrada dos drivers de Comando

(R = 390 )

- - 18

Resistências de amortecimento das

oscilações (R = 6.2 )

- - 18

Fontes de Alimentação Comutadas

MURATA POWER

SOLUTIONS

NMV0515SC

6

Condensadores de tântalo na saída da

fonte de alimentação comutada (C = 10uF, Vn

= 35V)

- - 3

Condensadores cerâmicos na saída da fonte de alimentação

comutada (C = 1uF, Vn

= 50V)

- - 3

Octal Bus Transciever TEXAS

INSTUMENTS

SN74LS245N

3

Octal Bus Transciever (Inversor)

TEXAS INSTUMENTS

SN74ABT640N

3

Sockets (20 Pinos) - - 3

Sockets (8 Pinos) - - 18

Condensadores de desacoplamento (C =

0.1uF, Vn = 50V) - - 36

Page 65: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

49

Condensadores cerâmicos para

alimentações dos integrados (C = 0.1uF,

Vn = 50V)

- - 36

Flat Cable - - 1

Conectores DB15 (Fêmea a 90º)

- - 3

Conectores DB15 (Macho)

- - 3

Cola térmica (para instalação dos módulos

de potência no dissipador)

Arctic Silver - 1

Digital Signal Processor (DSP)

dSPACE DS 1103 1

Field Programmable Gate Array (FPGA)

Xilinx - 1

Page 66: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

50

B: Datasheet do Módulo Integrado DANFOSS 1200V/25A

(Interruptores Bidireccionais)

Page 67: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

51

C: Datasheet do Acoplador Óptico TLP250(INV)

Page 68: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

52

D: Datasheet das Fontes de Alimentação Comutadas

NMV0515SC

Page 69: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

53

Page 70: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

54

E: Datasheet do Módulo Integrado (dispositivo similar

considerado no cálculo de perdas dos módulos de

potência)

Page 71: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

55

F: Programa de cálculo dos parâmetros do filtro de

entrada

%%%%%%%%%%%%%%%%%FILTRO DE ENTRADA DO CONVERSOR

MATRICIAL%%%%%%%%%%%%%%%%%% % %Objectivo: DIMENSIONAMENTO DO FILTRO LC COM RESISTÊNCIA DE

AMORTECIMENTO % EM PARALELO COM A BOBINA % %Autor: Luís Colaço % %%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%

%%%

clc clear all

disp('DIMENSIONAMENTO DO FILTRO LC COM RESISTENCIA R DE AMORTECIMENTO EM

PARALELO');

%Gama de valores i_min = 1; passo_i = 1; i_max = 28;

for i=i_min:passo_i:i_max P(1)=600; P(i+1) = P(i)+200; end

Vef= 400; %V Ief= 10; %A

F=10; %F-Factor de grandeza, Zf << ZL

Qsi=0.5; %Factor de amortecimento

fn=500; %Hz (frequência de corte) Wn=2*pi*fn; %Frequência de ressonância do filtro

for i=i_min:i_max ZL(i)=(Vef)^2/P(i); end

fprintf('\n');

for i=i_min:i_max Zf(i) = ZL(i)/F; end

for i=i_min:i_max

Page 72: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

56

R(i) = Zf(i)/(2*Qsi);

% R(i)=(ZL(i)*Zf(i))/(2*Qsi*ZL(i)-Zf(i)); end

for i=i_min:i_max L(i) = Zf(i)/Wn; end

for i=i_min:i_max C(i) = 1/(Wn*Zf(i)); end

%%%%RESULTADOS%%%%%%

fprintf('DADOS:\n Vef = %gV\n Factor de amortecimento = %g\n Frequencia

de Ressonância = %gHz\n Zf<<ZL:%g vezes\n\n', Vef, Qsi, fn,F);

disp(' P ZL Zf R

L C') fprintf('\n');

for i=i_min:passo_i:i_max fprintf(' %2g W %-6.2f Ohm %6.2f Ohm

%6.3f Ohm %0.4f H %0.6f F\n', P(i), ZL(i), Zf(i), R(i),

L(i), C(i)); end

Output do programa para diversos valores de potência

DIMENSIONAMENTO DO FILTRO LC COM RESISTENCIA R DE AMORTECIMENTO EM PARALELO

DADOS: Vef = 400V Factor de amortecimento = 0.5 Frequencia de Ressonância = 500Hz Zf<<ZL:10 vezes P ZL Zf R L C 600 W 266.67 Ohm 26.67 Ohm 26.667 Ohm 0.0085 H 0.000012 F 1000 W 160.00 Ohm 16.00 Ohm 16.000 Ohm 0.0051 H 0.000020 F 1400 W 114.29 Ohm 11.43 Ohm 11.429 Ohm 0.0036 H 0.000028 F 1800 W 88.89 Ohm 8.89 Ohm 8.889 Ohm 0.0028 H 0.000036 F 2000 W 80.00 Ohm 8.00 Ohm 8.000 Ohm 0.0025 H 0.000040 F 2200 W 72.73 Ohm 7.27 Ohm 7.273 Ohm 0.0023 H 0.000044 F 2600 W 61.54 Ohm 6.15 Ohm 6.154 Ohm 0.0020 H 0.000052 F 3000 W 53.33 Ohm 5.33 Ohm 5.333 Ohm 0.0017 H 0.000060 F 3400 W 47.06 Ohm 4.71 Ohm 4.706 Ohm 0.0015 H 0.000068 F 3800 W 42.11 Ohm 4.21 Ohm 4.211 Ohm 0.0013 H 0.000076 F 4200 W 38.10 Ohm 3.81 Ohm 3.810 Ohm 0.0012 H 0.000084 F 4600 W 34.78 Ohm 3.48 Ohm 3.478 Ohm 0.0011 H 0.000092 F 5000 W 32.00 Ohm 3.20 Ohm 3.200 Ohm 0.0010 H 0.000099 F 5400 W 29.63 Ohm 2.96 Ohm 2.963 Ohm 0.0009 H 0.000107 F 5800 W 27.59 Ohm 2.76 Ohm 2.759 Ohm 0.0009 H 0.000115 F

Page 73: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

57

G: Datasheet do Transdutor de Corrente (LA 25-NP)

Page 74: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

58

H: Datasheet do Transdutor de Tensão (LV 25-P)

Page 75: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

59

I: Datasheet do Varistor (V420LA20AP)

Page 76: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

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J: Datasheet do Díodo de Zener (1N4647A)

Page 77: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

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Page 78: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

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K: Layout do circuito impresso das camas “top layer” e “bottom layer”

K1 – Camada “top layer”

Page 79: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

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K2 – Camada “bottom layer”

Page 80: Construção e Teste de um Protótipo de Conversor Matricial

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L: Fotografia do Conversor Matricial construído

M: Condensadores do filtro de entrada e Circuito de

Protecção