construção civil

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1 NOTA TÉCNICA DO ILAESE: A EXPLORAÇÃO DO TRABALHADOR DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL E SUA EXPRESSÃO EM BELÉM DO PARÁ Nazareno Godeiro – coordenador do ILAESE Cristiano Monteiro – economista do ILAESE SP Gilberto Marques –economista do ILAESE PA MAIO DE 2010

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NOTA TÉCNICA DO ILAESE:

A EXPLORAÇÃO DO TRABALHADOR DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL

E SUA EXPRESSÃO EM BELÉM DO PARÁ

Nazareno Godeiro – coordenador do ILAESE Cristiano Monteiro – economista do ILAESE SP Gilberto Marques –economista do ILAESE PA

MAIO DE 2010

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Introdução Este texto caracteriza-se como uma nota técnica sobre a situação do setor da Construção Civil, em âmbito nacional e na cidade de Belém/PA. O método de análise incorpora as relações entre o nacional e o regional. O período analisado compreende de 2005 até 2010. O objetivo fundamental são as relações contraditórias entre o real crescimento econômico do setor da construção civil e as condições de trabalho e rendimentos dos trabalhadores envolvidos neste processo. A análise demonstra que está se operando profundas transformações no ramo da Construção Civil no Brasil. As empresas deram um salto na produção em larga escala, com aumento da produtividade do trabalhador, baseado na superexploração do trabalho, na precarização da mão de obra, através da informalidade e da terceirização. O alto nível de crescimento econômico do setor, em nível nacional e também na cidade de Belém/PA, não resultou em ganhos substanciais na vida dos trabalhadores. Nos últimos 5 anos se produziu uma verdadeira revolução no setor: as grandes empresas compraram as pequenas e médias em um poderoso processo de centralização de capitais, onde 8 (oito) empresas bilionárias dominaram todo o mercado nacional. Esta revolução adentrou em um aspecto não menos profundo: o controle familiar das empresas cedeu lugar a um controle de executivos e banqueiros e se combinou com a desnacionalização das empresas, que foram adquiridas por grandes fundos de investimentos estrangeiros, principalmente americanos. A abertura do capital destas empresas na Bolsa de Valores foi a expressão mais visível desta mudança. O governo Lula, através do Programa “Minha Casa, Minha Vida” e do PAC, além da isenção fiscal e do financiamento estatal, foi o “padrinho” da transformação da indústria da Construção Civil. Mostrou o Estado não como “indutor do desenvolvimento”, mas como veículo da monopolização do ramo da Construção Civil em gigantes empresariais, controladas por grandes bancos estrangeiros. Apesar de aparecer na mídia como o “pai dos pobres” e gerador de empregos, Lula fez o mesmo que todos os governos do mundo: repassou dinheiro público para salvar os balanços as grandes empresas e bancos. Isto é, tirou dinheiro dos trabalhadores para “doar” aos bilionários brasileiros e estrangeiros. Esta reestruturação geral na Construção Civil ainda está em seu começo em Belém do Pará. As gigantes do setor apenas iniciaram o controle do mercado paraense, atuando em “parceria” com as construtoras locais. Veremos nos próximos anos, a entrada das 8 grandes, comprando e subordinando as empresas locais. Este estudo do ILAESE demonstrará todas estas afirmações.

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O boom da Construção Civil no Brasil

A construção civil do Brasil em relação com outros países

A construção civil é um setor muito importante para as economias dos diversos países. É o maior empregador da indústria. Nos Estados Unidos e no Japão ocupa quase 10% de todos os trabalhadores do país. Por ser grande empregadora e utilizar poucas máquinas no processo produtivo é que se diz que a Construção Civil é “intensiva em mão de obra”, isto se demonstra no quadro abaixo:

TRABALHADORES OCUPADOS

TOTAL E CONSTRUÇÃO - 2005

em milhares

TOTAL CONSTRUÇÃO % ranking PAÍS TOTAL TOTAL

1 EUA 141.730,00 11.197,00 7,9% 2 Japão 63.560,00 5.680,00 8,9% 3 Brasil* 88.245,00 5.613,70 6,4% 4 México 40.791,80 3.181,10 7,8% 5 Espanha 18.973,20 2.357,20 12,4% 6 Nova Zelândia 18.973,20 2.357,20 12,4% 7 Reino Unido 28.165,60 2.201,70 7,8% 8 Itália 22.563,00 1.913,00 8,5% 9 Canadá 16.169,70 1.012,40 6,3%

10 Austrália 9.957,30 856,7 8,6%

11 República

Tcheca 4.764,00 459 9,6%

FONTE: International Labour Organization-ILO (OIT/ONU).

Elaboração: Banco de Dados-CBIC.

(*) Fonte: Sistema de Contas Nacionais Brasil: 2000-2005, dados para 2004.

A Construção Civil dos Estados Unidos produz 22% da produção mundial da Construção Civil.

Porém, o Brasil investe muito pouco na Construção Habitacional. O quadro abaixo mostra o Brasil na lanterna:

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Enquanto os Estados Unidos gasta mais de U$ 2.500 dólares por habitante com a Construção Civil, o Brasil gasta 10 vezes menos, apenas U$ 241 dólares por cabeça, em 2005. Porém, se poderia argumentar que os Estados Unidos é um país rico e que não se podem comparar as duas economias. Mesmo assim o Brasil continua atrás de boa parte dos países pobres:

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Neste gráfico acima, tanto o México quanto a Coréia, que na década de 70 investiam mais ou menos o que o Brasil investia, agora estão muito na frente do Brasil e conseguiram diminuir o déficit habitacional. O grande crescimento da construção Civil no Brasil, entre 2004 e 2008, como veremos adiante, não mudou esta situação. Em 2009, o Brasil chegou a gastar 3% do PIB (Produto Interno Bruto, mede tudo que é produzido em um país no ano) com investimentos em habitação porém, ficou muito abaixo do México que investiu 9%, da China que investiu 10%, da África do Sul que investiu 34%. O investimento com habitação no Brasil está estagnado em torno de U$ 200 dólares por habitante desde a década de 70. Em 35 anos, estes investimentos cresceram a uma taxa de 0,7%, enquanto o México cresceu mais de 5% ao ano, e a Coréia alcançou um crescimento habitacional de 15% ao ano neste período. Também do ponto de vista produtivo, a indústria da Construção Civil no Brasil está muito atrasada perante os países adiantados: uma pesquisa realizada pela McKinsey (1998) no Brasil demonstra que a produtividade da construção de residências no Brasil é de 1/3 da norte-americana. A indústria da Construção Civil é responsável por cerca de 10% do PIB dos países ricos, portanto éi o maior responsável pelo desemprego nestes países, durante a crise internacional, que teima em continuar.

“Além disto, as grandes empresas de engenharia penetraram nos mercados internacionais através de fusões e aquisições (INTERNATIONAL LABOUR ORGANIZATION, 2001). Estudos realizados pela International Labour Organization (2001) concluí ram que houve uma mudança em relação ao emprego, nas empresas de Construção Civil. Está ocorrendo uma queda no nível de emprego nas grandes empresas e um aumento nas pequenas firmas da Construção Civil. Na França e na Finlândia mais de 50% do pessoal empregado na Construção Civil está alocado em empresas com menos de 20 trabalhadores. Tal situação é similar em outros países da UE (PHILIPS, 2000).”

Uma mudança que está se operando na construção Civil dos países adiantados (e daí se espalhando para todo o mundo) é que as grandes empresas estão terceirizando a produção de imóveis e estão se tornando gerenciadoras dos empreendimentos, não metem a mão na massa, tarefa cada vez mais reservada para empresas pequenas. Estas pequenas empresas precarizam a mão de obra, super explora seus operários, fazendo-os trabalhar sem os direitos adquiridos pelo conjunto da classe trabalhadora. A utilização de contratações temporárias, que reflete na alta rotatividade da mão de obra no setor, é uma forma de precarizar a mão de obra, inclusive usando mão de obra imigrante nos EUA e na Europa e migrante no Brasil, como os peões nordestinos em São Paulo.

“Por outro lado, a utilização deste tipo de contratação tem levado a um aumento nos índices de acidentes e deterioração nas condições de trabalho. A International Labour Organization (2000) informa um crescimento na taxa de acidentes de 97 por 1000 trabalhadores, para 142 por 1000 trabalhadores, na Espanha no período 1992-2000. Byrne e Van der Meer (2000) concluíram, após pesquisas realizadas, que os terceirizados têm três vezes mais chances de se acidentar do que os trabalhadores com contratos permanentes, devido às seguintes razões: treinamento deficiente,menores

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salários com necessidade de mais horas de trabalho para melhorar o salário final, aumento de fadiga física, menores condições para rejeitar trabalhos perigosos, etc.”

Panorama da construção civil nos últimos 60 anos no Brasil

O Brasil até hoje não recuperou o nível de investimentos com a Construção Civil que tinha em 1980, quando existia o BNH (Banco Nacional de Habitação). O gráfico abaixo mostra a evolução percentual da produção da Construção Civil de 1947 até os dias de hoje:

-20

-15

-10

-5

0

5

10

15

20

25

1948195019521954195619581960196219641966196819701972197419761978198019821984198619881990199219941996199820002002200420062008

PIB - indústria - construção - valor adicionado - var. real anual - (% a.a.) - IBGE

% a.a.

Fonte: IBGE – elaborado pelo ILAESE

Aqui se demonstra que há uma estagnação de longo prazo na Construção Civil brasileira: em 2008, que foi o auge desta indústria não chegou perto dos índices alcançados em 1973 (crescimento chegou a 22%) ou 1986 (crescimento de 18%). Na década de 90 teve um pequeno crescimento no início do governo de FHC (que chegou a 9%) para cair em seguida. Já no governo Lula, tem um novo crescimento, de 2004 a 2008, entre 6% e 8%, mas sem retornar aos índices do passado. Para confirmar esta análise veremos outro gráfico que também demonstra esta estagnação da Construção Civil, só que mostrando a relação da Construção Civil com o conjunto da produção do Brasil (PIB):

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0,0

2,0

4,0

6,0

8,0

10,0

12,0

1947 1949 1951 1953 1955 1957 1959 1961 1963 1965 1967 1969 1971 19731975 1977 1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 2009

PIB - indústria - construção - valor adicionado - preços básicos - (% PIB) –IBGE 1947/2009

% CC no PIB

Fonte: IBGE – elaboração ILAESE

A Construção Civil no Brasil teve seu auge em 1988, onde sua produção correspondeu a 10,1% do PIB do Brasil. Para se ter uma idéia, agora em 2009, depois de quatro anos de boom imobiliário, chegou a 5,1% do PIB brasileiro.

“Os baixos investimentos em construção nos 15 últimos anos não têm sido suficientes para o atendimento crescente da demanda por habitação e infra-estrutura, implicando em corrosão do estoque construído em décadas anteriores e ampliação do déficit existente. Entre 1990 e 2004, a taxa média de crescimento do setor foi da ordem de 0,9% ao ano, bem aquém do seu crescimento potencial, estimado em 10% ao ano.”1

O gráfico abaixo mostra a evolução dos investimentos em construção por habitante no Brasil em 2005:

1 DÍVIDA PÚBLICA, JUROS REAIS E INVESTIMENTOS: UMA VISÃO CRÍTICA - Luciene Pires Teixeira* A importância dos investimentos em construção civil

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Depois de uma longa fase de crescimento da construção civil brasileira (que durou 20 anos, de 1960 a 1980), os investimentos em construção chegaram a R$ 1.400,00 por habitante em 1980. Daí em diante, houve uma queda até 2004, e uma nova subida que alcançou R$ 887,00 reais por habitante, em 2009. A Construção Civil brasileira está estagnada porque este setor só desenvolve se houver crédito, já que se compra imóvel com 20 a 30 anos para pagar. Os governos vêm diminuindo os investimentos com habitação, pressionados pelo crescimento da dívida pública e pela orientação neoliberal de gerar superávits fiscais cada vez maiores. Isto levou à diminuição no investimento público com habitação, saneamento e outros gastos sociais. O Brasil, como é sabido, tem as taxas de juros mais altas do mundo, para atrair capital estrangeiro que move a economia do país. Eles vêm para cá porque ganham mais que investindo nos países adiantados. Porém, isto gera um efeito na economia de estagnação. Por isso, o crédito é só para ricos. Isto começou a mudar nos últimos anos, principalmente no setor automobilístico e na construção civil porque as empresas multinacionais precisam vender muito aqui (e na China, Índia, Rússia, etc) já que seus mercados no primeiro mundo estão abarrotados de casas e automóveis que não se podem vender. Por isso, eles vêm com tudo agora, para dominar as empresas brasileiras, gerar crédito fácil e vender a rodo. É o boom da venda de casas e automóveis que veremos nos próximos anos, caso uma nova recessão mundial não estrague os planos imperialistas. Aliás, o governo Lula já está anunciando corte nos investimentos estatais para diminuir o déficit público. Isto pode influenciar diretamente na indústria da Construção. Apesar do momento ímpar para um salto na Construção Civil no Brasil, a condição de país semi colonial dependente dos

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capitais estrangeiros e da situação internacional, pode afetar o mercado brasileiro e acentuar a estagnação, que já vem de décadas. O gráfico seguinte evidencia que já houve um aumento do financiamento estatal à construção de casas, porém ainda não chegou aos patamares das décadas de 70 e 80: Este atraso do Brasil na Construção Civil e a queda da indústria da construção nos países ricos, durante a crise de superprodução mundial, são os dois elementos que permitem o Brasil ter um boom na Construção Civil nos próximos anos. Com um déficit habitacional enorme, um crescimento populacional acima da média mundial, não falta compradores para imóveis. Basta conseguir crédito para a população pobre, que se pode garantir um crescimento sustentado para a construção nos próximos 10 anos. Veremos que o boom da indústria da Construção Civil brasileira, de 2004 a 2008, e seu crescimento após uma breve pausa em 2009, já está em curso. Ele se apóia no financiamento do governo em um plano de obras públicas, que serve principalmente à indústria privada, em especial as 8 grandes construtoras que dominam o setor. É o que veremos adiante.

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O boom da Construção Civil entre 2004 e 2008

Se consideramos os índices desde 1947 até os dias de hoje, mostra uma estagnação da Construção Civil, em relação com a indústria brasileira. Porém, analisando o faturamento das empresas (e isto é o que importa para os empresários), houve um salto de 385% entre 1994 até 2009. Isto é, aumentou em 4 vezes o faturamento da indústria desde 1994, como evidencia o gráfico abaixo:

Fonte: IBGE – elaboração ILAESE

O crescimento nominal entre 2003 e 2009 foi de 100%, isto é, um índice chinês de 15% ao ano! Veremos que este crescimento foi alavancado pelas grandes construtoras, que se tornaram gerenciadoras de empreendimentos e compraram, se associaram ou quebraram milhares de empresas pequenas. A Indústria da Construção Civil propriamente dita é classificada nos seguintes sub-setores: (i) Sub-setor de Materiais de Construção; (ii) Sub-setor de Edificações; (iii) Sub-setor de Construção Pesada.

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O setor da Construção Civil ocupa um papel importante na economia brasileira, sendo responsável por 5,2% do PIB e 8 milhões de trabalhadores, 9% do pessoal ocupado (IBGE - PAIC, 2005). Estudaremos somente o setor de Edificações, cuja tabela abaixo mostra uma radiografia:

Esta tabela mostra as causas fundamentais deste boom da Construção civil entre 2004 e 2008.

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Por um lado se dá um salto no financiamento público, através da Caixa Econômica Federal e do BNDES, que juntos subsidiaram cerca de 65% do PIB da Construção Civil em 2008. Significa transferência de recursos públicos para grandes construtoras privadas. Por outro lado, se vê que enquanto a produção de riquezas cresceu a uma taxa de 5% ao ano, o emprego se arrastava a uma taxa de 3% ao ano. Isto significa que este boom do crescimento se apóia na superexploração do trabalhador, já que menos trabalhadores estão produzindo mais riquezas. Eles chamam isso de aumento da “produtividade”. Também evidencia que, neste período, se deu um salto na terceirização e na precarização do emprego na Construção Civil que é a base fundamental deste boom da indústria imobiliária. Basta ver que dos 7,9 milhões de trabalhadores da Construção, 5,8 milhões (75%) são trabalhadores informais, que trabalham sem direitos previdenciários e trabalhistas. Resumindo, pode-se dizer que o governo injeta dinheiro na construção Civil, porém, apesar da propaganda governamental, ela serve fundamentalmente para alavancar a riqueza das 8 grandes construtoras que dominam o mercado brasileiro. Em linhas gerais, as fontes de receita das empresas são obras do setor imobiliário e as obras públicas. Em ambos setores, o crescimento econômico do setor depende muito das políticas do Governo. No ano de 2009, durante a crise econômica, a ajuda governamental foi decisiva para garantir a sobrevivência da grande maioria das empresas do setor, como veremos em capítulo específico. A indústria da Construção Civil do Pará acompanhou este crescimento nacional.

A perspectiva do mercado da construção civil em 2010

O IBGE avalia que no Brasil, a cada ano, se constituem 1 milhão e meio de novas famílias, sem contar com o déficit habitacional de mais de 6,2 milhões de moradia, segundo a Fundação João Pinheiro. Além disso, existem cerca de 8 milhões de domicílios alugados no Brasil. As empresas oferecem apenas 300 mil imóveis novos por ano, quantidade insuficiente para suprir as necessidades habitacionais da população brasileira. Uma parte importante destas novas famílias vai adquirir imóvel e se a isto se juntar o financiamento fácil, como prevalece hoje, o ano de 2010 será recorde na produção e venda de imóveis, gerando um ciclo de crescimento da indústria da Construção nos próximos anos. O que pode impedir este salto é um novo mergulho recessivo da economia mundial, secando o crédito ao consumidor e corte de investimentos do governo, gerando uma quebra em cadeia no setor. O governo, como primeiro reflexo da recaída européia, já está cortando gastos e investimentos sociais, o que vai se refletir diretamente no setor.

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“Para o executivo da MRV, o mercado de imóveis novos no Brasil pode triplicar ao longo dos próximos anos em relação aos níveis de 2007 e 2008, chegando a 1 milhão de unidades anuais. "Uma das razões pelas quais acreditamos no nosso negócio é a demografia", diz Correa, referindo-se à formação de famílias próximas a 1,5 milhão por ano, superconcentrada na classe C.”

O financiamento de imóveis residenciais atingiu quase 700 mil unidades em 2009, comparado a cerca de 250 mil em 2004, o que foi possível pelo salto do financiamento governamental. Se prevê um crescimento de 20% nos investimentos do setor para 2010, alavancados pelos investimentos do PAC 2 e do programa Minha Casa, Minha Vida. Segundo Gary Garrabrant, um dos dono da GAFISA:

“Estamos entusiasmados com o Brasil por muitas razões. A escala do País, o tamanho da população, a juventude da população, o crescimento da classe média são algumas delas. No setor imobiliário, o Brasil é uma das estrelas. Pode haver 10 ou 20 anos de crescimento. Estou bastante animado com as possibilidades no setor de construção, porque a demanda é enorme, a população é jovem, as pessoas entendem a importância de ter sua própria casa...”

Os números do fechamento do ano 2009 foram fracos devido à crise da economia mundial e a retração do crédito ao consumidor, já que a maioria da população não compra imóvel à vista. Esta retração levou a que caísse a produção da indústria da construção em 6,3% no ano de 2009. O empresário questiona essa informação e, apoiados em números da FGV, dizem que houve um crescimento de 1% no setor em 2009. A perspectiva para 2010, segundo a análise da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), é de um crescimento de 9%, como pode se ver na figura abaixo:

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As vendas de imóveis nos três primeiros meses de 2010 cresceu 80%.2

.

Este será um ano de recordes no mercado imobiliário. Segundo o Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Comerciais e Residenciais de São Paulo (Secovi SP), em 2010 serão vendidos na cidade de São Paulo 38 mil imóveis novos, a maior marca em 30 anos.

“O programa do governo Minha Casa, Minha Vida é um dos principais fatores de aquecimento desse segmento e do mercado.”

Por isso, se analisa no setor que está se iniciando um longo período de crescimento da industria da construção, depois de décadas de estagnação. Espera-se também para 2010 um crescimento de 8% no número de empregados do setor, 180 mil novos postos de trabalho em 2010.

O domínio do mercado pelo G7: as 7 grandes construtoras do Brasil

A tabela abaixo demonstra o predomínio das grandes empresas da construção no Brasil:

2 OESP dia 25 de abril de 2010

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Entre 1996 e 2006, cinco mil empresas da construção ou foram compradas ou fecharam as portas. Em 10 anos, 800 grandes empresas foram compradas por outras maiores ainda. Este quadro também revela uma “modernização” da construção civil brasileira: diminui o núero de grandes empresas, enquanto aumenta as pequenas como parte da terceirização e da precarização da mão de obra do setor. As pequenas se tornaram “gatas” das grandes, As grandes empresas, sendo apenas 16% em número, elas empregam 60% dos trabalhadores do setor e produzem 63% de tudo que é feito na construção civil do Brasil. Por aí também se vê que as grandes construtoras têm alta dependência de financiamento do governo, já que 68% das obras realizadas por elas são para entidades públicas. As grandes têm super lucros, pois sua produtividade é 17% superior à média do setor. Isto quer dizer que seus trabalhadores são mais produtivos (geram mais riquezas) que os trabalhadores das pequenas e médias empresas. O gráfico a seguir mostra o peso das grandes construtoras e o salto do seu cresciemnto nos últmos 10 anos:

Fonte: O empreiteiro – julho de 2009 - Elaborado pelo ILAESE

As 10 maiores empresas da Construção Civil tiveram um crescimento de 53% entre 1998 e 2008. Já entre 2004 e 2008 seu crescimento foi espetacular, com índices chineses de 111%, quer dizer mais

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de 20% ao ano! As grandes empresas tiveram elevado crescimento nas vendas e nos lucros. Entre as maiores empresas, houve um crescimento alto e sustentado do lucro líquido. Essas empresas também têm muito dinheiro em caixa e um estoque bilionário de terrenos. Nos últimos 4 anos, houve uma grande compra de empresas, onde os investidores estrangeiros adquiriram as grandes construtoras brasileiras. O maior exemplo é o Sam Zell, magnata da construção norte-americana, que vendeu a maior construtora dos EUA e veio investir aqui e no México. No Brasil comprou a GAFISA e no México, adquiriu a maior construtora do mundo, a Homex. Injetou US$ 500 milhões de dólares em seis empresas brasileiras e diz, satisfeito: "O Brasil é o melhor lugar do mundo para investir. Em qualquer área." Seu sócio na GAFISA, Gary Garrabrant, completa: "Vamos apoiar Gafisa e Tenda com a maior quantidade de dinheiro possível. Não vamos comprar mais empresas residenciais, mas criar gigantes no setor".3

Eles vieram para o Brasil porque tem um mercado com mais de 190 milhões de habitantes, é rico em matérias primas, tem um governo que os ajuda e é estável, além de ter executivos confiáveis.

O presidente da PDG Realty analisa o mercado brasileiro e diz:

A disputa não é igual à de 2007, quando 21 empresas tinham acabado de lançar ações em Bolsa, estavam com R$ 12 bilhões no caixa, disputando o mesmo terreno e fazendo o mesmo tipo de produto, notadamente em São Paulo. Hoje você tem cinco ou seis empresas grandes ( Cyrela, Gafisa, PDG, MRV e Rossi), mas estão espalhadas pelo Brasil inteiro.

Esta mudança no ramo da Construção civil brasileira se operou entre 2006 e 2009: centralização de capitais nas mãos de 7 grandes empresas, que subordinaram o mercado brasileiro, obrigando as empresas pequenas e médias empresas a trabalhar junto com elas. A tabela abaixo mostra o salto no faturamento das 8 maiores: EMPRESA VENDAS 2009 R$ MI VENDAS 2008 R$ MI VENDAS 2007 R$ MI CYRELA 4.233.993 2.967.449 2.079.441 GAFISA 3.144.880 1.805.468 1.251.893 PDG REALTY 2.062.416 1.283.352 573.573 BROOKFIELD 1.875.660 835.091 482.904 MRV 1.783.515 1.221.346 432.629 ROSSI RESIDENCIAL 1.621.329 1.273.391 792.718 AGRE 1.590.000 1.349.908 683.764 EVEN 1.218.432 865.900 442.031

Fonte: relatório financeiros das empresas, disponíveis na Comissão de Valores Mobiliários – elaboração ILAESE As 8 maiores empresas tiveram um crescimento nas vendas de 60% ao ano! Se produziu um fenômeno tão grande aquisição e fusão que mudou a face do setor. Entre 2006 e 2009 houve 78 fusões entre empresas. Estas mesmas 8 empresas já viraram 7 , já que a PDG Realty comprou a Agre (que por sua vez já era resultado da fusão entre a AGRA, Klabin e Abyara). 3 O Estado de são Paulo, 8 de fevereiro de 2010.

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Em 4 anos, as 7 maiores se tornaram bilionárias. Em 2006, somente a Cyrela tinha um faturamento acima de R4 1 bilhão de reais. Em 2009 já tinha 8 empresas com faturamento acima de R$ 1 bilhão de reais. O faturamento saltou de 6 bilhões para mais de 17 bilhões de reais em apenas 3 anos! Para alcançar ritmos tão impressionantes de crescimento, estas empresas captaram entre 2006 e 2009 R$ 29 bilhões de reais na Bolsa de Valores, através de venda de ações. Na verdade, as empresas se venderam na bolsa e, como veremos mais adiante, quem adquiriu a maior parte destas ações foram os investidores estrangeiros. A tabela que apresentamos a seguir, faz uma comparação entre as 7 maiores empresas do setor:

2009

empresa vendas lucro liq total donos % banqueiros % governo % trabalhador % salários % sal. X fat dívida % div. X fat

Cyrela 4.233.993 729.349 1.366.489 826.898 60,5 87.064 6,4 264.679 19,4 187.848 13,7 187.848 4,4% 2.623.135 62,0

Gafisa 3.144.880 213.540 1.043.360 213.540 20,5 296.186 28,4 241.762 23,2 291.872 28,0 291.872 9,2% 3.122.132 99,3

PDG 2.062.416 338.132 562.028 338.132 60,2 28.302 5,0 119.009 21,2 76.585 13,6 76.585 3,7% 1.505.931 73,0

Brookfield 1.875.660 201.887 538.536 201.887 37,5 143.949 26,7 114.064 21,2 78.786 14,6 78.786 4,2% 1.181.067 63,0

MRV 1.783.515 347.422 753.250 374.182 49,7 77.720 10,3 165.302 21,9 136.046 18,1 136.046 7,6% 786.500 44,1

Rossi 1.621.329 218.099 532.892 218.099 40,9 124.753 23,4 99.430 18,7 90.610 17,0 83.617 5,1% 1.210.600 74,7

Agre 1.590.000 203.300 542.854 173.698 32,0 186.663 34,4 129.854 23,9 50.639 9,3 50.639 3,1% 1.233.000 77,5

Valor adicionado

O primeiro a se observar é que os salários representam apenas cerca de 5% do faturamento das grandes empresas. Isto significa que o que menos onera as grandes empresas é a folha de pagamento. Na divisão da riqueza produzida (valor adicionado) os empresários ficaram com 62% da riqueza, o governo com 21% e os trabalhadores com apenas 16%, mais uma vez demonstrando que os trabalhadores recebem muito pouco pela riqueza é toda ela, gerada pelo trabalhador. Há um endividamento generalizado destas empresas, já que suas dívidas representam 71% das suas vendas, sendo que suas dívidas, juntas, alcançam mais de 11 bilhões de reais mais de 5 vezes o lucro líquido das 7 empresas em 2009. Isto significa que os donos das construtoras estão pagando muitos juros para os banqueiros. O faturamento destas 7 empresas representa ____% do faturamento das _____ mil empresas da Construção Civil em 2009. Ao não dispor do número de funcionários de cada empresa não tem como fazer as contas da produtividade e da exploração de cada trabalhador destas empresas. A construtora Cyrela é a maior da América Latina e Estada Unidos, em valor de mercado, na construção residencial. Entre as dez maiores estão oito americanas e duas brasileiras (a outra brasileira é a MRV). Vamos mostrar aqui a modo de exemplo, a análise da exploração do trabalhador da Gafisa, segunda maior do ranking, porque dispomos do número de funcionários diretos e terceirizados. De forma geral, todas 7 maiores empresas, reproduzem mais ou menos os mesmos níveis de exploração da GAFISA.

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ano funcionários vendas salários % sal. X vendas

2007 1.251.893 93.275 13,4

2008 1.805.468 146.771 12,3

2009 12.119 3.144.880 291.872 10,8 No ano de 2009, a GAFISA faturou R$ 3.144.880.000,00 com 12.199 trabalhadores, dos quais, 7.738 terceirizados. Cada trabalhador rendeu para a empresa R$ 259.500,00, enquanto o gasto anual com este trabalhador foi de R$ 24.083,83. Cada trabalhador rendeu por mês, R$ 21.625,00 e por hora R$ 122,86, considerando uma jornada de 44 horas semanais. No entanto, a empresa gastou com este funcionário por mês R$ 1.852,60 e por hora R$ 10,52. Portanto, em 15 horas de trabalho o operário da Gafisa pagou seu salário em 2009. Em dois dias de trabalho, este trabalhador rendeu seu salário mensal. Portanto, trabalhou de graça para os donos da Gafisa 22 dias restante do mês. Desta exploração brutal do trabalhador da construção civil é que as 7 grandes empresas estão crescendo em ritmo chinês! Estas empresas estão todas direcionando a metade dos seus lançamentos para aproveitar o programa habitacional do governo Minha Casa, Minha Vida. É um filão de ouro para completar a lucratividade das grandes construtoras. A Cyrela era dedicada aos imóveis para os ricos, já está diversificando para atender aos pobres, através da construtora Living que atua no mercado da Minha Casa Minha Vida, pois este é o mercado que mais cresce. A Cyrela já teve 64% dos seus lançamentos em 2009 composto por imóveis para a baixa renda. Os principal empreendimento da Cyrela em Belém (que tem como sócia a Síntese Engenharia) é o Ecoparque, com 6 torres de 11 andares e com um valor de 82 milhões de reais, onde o m2 custa R$ 2.536,00. Os lançamentos da Cyrela no Pará em 2009 alcançaram R$ 179 milhões de reais e a empresa possui terrenos no Pará no valor de 455 milhões de reais. A Gafisa adquiriu a construtora Tenda, justamente para entrar no segmento de baixa renda. As principais formas de financiamento da Gafisa são financiamentos públicos, através da CEF. O grosso dos seus funcionários é terceirizado. A empresa tem um alto grau de endividamento. A Gafisa produz diretamente em Belém ou em sociedade com a construtora Azevedo Barbosa, e seus principais empreendimentos em Belém são FIT Mirante do Parque(em sociedade com Azevedo Barbosa), FIT Icoaraci(em sociedade com Azevedo Barbosa), Reserva Ibiapaba(em sociedade com Azevedo Barbosa), Parc Paradiso(em sociedade com Azevedo Barbosa), FIT Mirante do Lago(em sociedade com Azevedo Barbosa), FIT Giardino, Carpe Diem(em sociedade com Azevedo Barbosa), Horizonte, Mirante do Rio(em sociedade com Azevedo Barbosa), Mistral ((em sociedade com Azevedo Barbosa) e Residencial Tapanã. No final de 209 contava com 460 trabalhadores diretos no Pará e 296 terceirizados.

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A PDG Realty, terceira maior ao nível nacional é dona da maior imobiliária de Belém, a Chão e Teto. Foi uma das construtoras que mais lucrou com o programa habitacional do governo, já que tem foco na baixa renda, onde 81% dos seus lançamentos vai para esta faixa do mercado. Acabou de comprar a AGRE e se tornar a segunda maior construtora do Brasil. Ao comprar a AGRE, terá como sócia em Belém a construtora Leal Moreira. A MRV teve um faturamento de 2,8 bilhões em 2009 e é a maior construtora do país voltada para baixa renda. Tem planos para construir 70 mil casas por ano e ser a maior construtora do mundo. É a que mais fatura co o programa Mina Casa, Minha Vida. Segundo o dono da MRV, Rubens Menin: “Em três anos, veremos quem serão os grandes players do setor. MRV, Cyrela, Gafisa, PDG, Rossi, Brookfiel, Rodobens e Even devem ser as principais. Nós queremos ser os maiores.” A MRV depende em mais de 80% dos financiamentos do governo. Estas sete maiores construtoras do Brasil estão monopolizando o mercado da construção no Brasil, se “modernizaram” deixando de ser construtoras no verdadeiro sentido da palavra e se tornando “gerenciadoras de empreendimentos”, acentuando a utilização de serviços terceirizados e trabalhadores informais, como forma de aumentar sua lucratividade. A indústria da Construção brasileira dará um salto nos próximos anos, capitaneado por estas empresas. A grande demanda brasileira por moradias populares e o financiamento governamental projetarão estas grandes empresas, tornando-as maior ainda e agarrando a maior parte dos lucros do setor. Porém, este crescimento não ajudará os pobres do Brasil e muito menos a indústria brasileira já que estas empresas são de propriedade dos bancos americanos e europeus, como veremos a seguir.

A desnacionalização da indústria da Construção Civil Vêem-se as relações imperialistas inclusive no setor da Construção Civil. As grandes empresas de capital aberto (listadas na Bolsa de Valores) são controladas pelo capital financeiro internacional. No Brasil, junto com o neoliberalismo, implantado na década de 90, houve um aumento substancial do fluxo de capitais estrangeiros, destinado a vários setores da economia, inclusive a construção civil. Tal fenômeno trouxe mudanças importantes no que diz respeito às relações de propriedade e nas estratégias empresariais, na produtividade do trabalho, e, sobretudo, nas condições de desenvolvimento da sociedade brasileira. As empresas da Construção Civil, para sobreviver, tiveram que associar-se com o capital internacional. Para isso, promoveram a abertura de capital nas Bolsas de Valores e se uniram aos fundos de investimentos internacionais. No período de 1994 a 2007 foram realizadas aproximadamente 84 operações de fusões e aquisições entre as empresas.

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De 2006 a 2009, as grandes empresas venderam ações na bolsa no valor de R$ 29 bilhões de reais, através da BOVESPA no que se chama “Oferta Pública de Ações” (também conhecido pela sigla em inglês Initial Public Offering - IPOs). Esta abertura do capital destas empresas, antes com gestão familiar, foi o instrumento de desnacionalização das grandes construtoras brasileiras, já que os principais compradores das ações foram os fundos de investimentos americanos. As empresas se abriram na bolsa como forma de se valorizarem, antes de serem engolidas pelo capital internacional. Este formato de gerenciamento está disseminado no mundo. Os fundos de investimentos, ligados aos grandes bancos americanos e europeus, compram somente uma parte da empresa (tipo 20ou 30%) e a controlam mesmo sendo minoritário, já que o restante das ações estão diluídas na bolsa. Contratam um administrador, geralmente ligado ao sistema financeiro, que gerencia a empresa a serviço dos “acionistas”. Com isto, possuindo 30% das ações, o banco passa a controlar a empresa. A tabela abaixo demonstra que a oferta pública de ações na bolsa por parte das construtoras, teve como principal comprador o capital internacional:

PARTICIPAÇÃO DO INVESTIDOR ESTRANGEIRO NA ABERTURA DE CAPITAIS NAS EMPRESAS DA CONSTRUÇÃO

EMPRESA DATA DA

NEGOCIAÇÃO VALOR LANÇADO

R$ MIL PART INVESTIDOR

ESTRANGEIRO BRASCAN (AGORA BROOKFIELD) 20/10/2006 1.188.000 87,40%

CAMARGO CORREA D.I. 30/1/2007 522.000 55,60% COMPANY 1/3/2006 281.600 63,60%

CYRELA 1/7/2005 902.200 25,60% CYRELA 20/7/2006 839.900 75,50% EVEN 30/3/2007 460.000 52,20%

GAFISA 16/2/2006 927.000 72,20% GAFISA 19/3/2007 1.171.305 66,90% KLABIN 6/10/2006 557.200 65,10%

PDG REALTY 25/1/2007 648.395 93,40% RODOBENS 30/1/2007 390.000 67,00%

ROSSI 14/2/2006 872.500 80,30% TECNISA 31/1/2007 791.303 60,80%

Fonte: Bovespa 2007 Ao analisar os acionistas das 7 maiores construtoras, veremos que todas elas já tem controle estrangeiro e que a maioria dos antigos donos se transformaram em administradores a mando dos acionistas estrangeiros: Donos da AGRE: O nome vem de Amazon Group Real Estate (Agre) é resultado da fusão de três grandes construtoras: a Agra, Klabin Segall e Abyara. Com a fusão, o controle da empresa passou para o

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empresário espanhol Enrique Bañuelos, que adquiriu 24% do capital. Luiz Roberto Horst Silveira Pinto, fundador da Agra, ficará no comando da nova empresa. A Goldman Sachs é proprietária de 5% das ações da Agre. Este Bañuelos está processado pela justiça espanhola já que realizou maracutaias com ações das suas empresas, que terminaram por falir durante a crise econômica internacional. Ninguém sabe a origem da sua fortuna. Os antigos donos da Klabin Segall, Sérgio de Toledo Segall, Antonio Setin e Oscar Segall, atuais administradores da Klabin Segall, irão se dedicar exclusivamente às atividades da empresa até o final de 2014. O fundo imobiliário do banco Morgan Stanley, também é dono de parte da empresa. Alguns nomes de acionistas da AGRE, participantes da assembleia dia São Paulo, 05 de janeiro de 2010: BRF Investimentos e Participações Ltda.; J. P. Morgan; GAS Lotus Fundo de Investimento em Ações; GAS Blue Marlin Fundo de Investimento de Ações; GAS Flash Fundo de Investimento de Ações; Black Diamond Internacional LLC; Southern Solutions LLC; Mirae Asset Balanceado FIMM; Kookmin Bank Trustee of Mirae Asset Korbru; Shinhan Bank As a Trustee of Mirae S P E I Trust GI; Alpine Funds; Commonwealth of Pennsylvania Public School Emp; Findlay Park Latin American Fund; Fortis L Fund Equity Brazil; Fortis L Fund Equity Latin America; GMO Foreign Small Companies Fund; GMO Global Active Equity Fund, LP; IBM Savings Plan; Lord Abbett Securities Trust – Lord Abbett Int; Lord Abbett Internacional Dividend Income Fund; Lord Abbett Securities Trust – Lord A Int Core Eq; Lord Abbett Series Fund, Inc – Int Portfólio; MSCI Emerging Markets Small Cap Index Securities; Prudential Retirem Insurance and Annuity Comp; Russell Investment Company Emerging Markets Fu; San Joaquin County Employees Retirement Assoc; State of California Public Employees Ret Sys; State Street Emerging Markets; The Brazil Value And Growth Fund; The Emerging Markets Value and Growth Fund; The GMO Erisa Pool; The GMO Foreign Fund Series; The Honeywell Intl Inc Master Retirement Trust; The Master T B Of Japan Ltd RE MTBC400035147; Credit Agricole Asset Management; Inuvik Fundo de Investimento em Ações; Vinson Fund LLC; Safra Large Cap Fundo de Investimento em Ações; Credit Suisse First Boston – DI FIF; Donos da Brookfield A dona desta empresa é a Brookfield Brasil, detem 42% do capital da empresa e é uma subsidiária da Brookfield Asset Management Inc, que é um banco de investimento global de ativos e tem mais de US$ 100 bilhões sob gestão.

Donos da Cyrela

Um dos donos da Cyrela é o fundo de investimento americano BlackRock, que também é acionista da Petrobrás (6% das ações), Vale(9%), AmBev(5%) e Cyrela(6%). A BlackRock anunciou em junho a compra da Barclays Global Investors para criar o maior banco de investimentos do mundo, em um acordo de 13,5 bilhões de dólares. BlackRock tem cerca de 2,8 trilhões de dólares sob gestão. Além disso, participam como acionista o grupo eirenor (uruguaio) e o Carmignac (francês), além do BlackRock. A firma ainda tem como principal acionista a Elie Horn, fundador da empresa. Na abertura de capital na bolsa em 2006, onde a Cyreka arrecadou R$ 837.947.500,00, os compradores principais foram estrangeiros como mostra a tabela abaixo:

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Donos da Gafisa/FIT/Tenda:

O principal acionista da empresa é o grupo norte-americano Equity Group Investments, LLC, um dos maiores investidores no mercado imobiliário mundial, que possui diversos investimentos no setor imobiliário fora dos Estados Unidos, prioritariamente na América Latina. O dono da Equity é o multibilionário Sam Zell, que até 2007 era o principal empresário da construção dos Estados Unidos. Além da Equity, os outros acinistas da Gafisa são: BANK OF AMERICA, CITIBANK; MORGN STANLEY, N A ADR DEPARTMENT, CAAM FUNDS, COLLEGE RETIREMENT EQUITIES FUND, RUSSELL INTERNATIONAL DEVELOPED MARKET FUND,VANGUARD EMERGING MARKETS STOCK INDEX FUND, STATE OF CALIFORNIA PUBLIC EMPLOYEES RETIREMENT SYSTEM, STATE STREET EMERGING MARKETS, NEW HAMPSHIRE RETIREMENT SYSTEM, CAISSE DE DEPOT ET PLACEMENT DU QUEBEC, HANSBERGER INTERNATIONAL SERIES EMERGING MERKETS FUND, THE MASTERS T B OF JAPAN LTD RE MTBC400035147, ADVANCED SERIES TRUST - AST INTERNATIONAL GROWTH PORTFOLIO, COMMONWEALTH OF PENNSYLVANIA PUB. SCHOOL EMP RET S, THE BRAZIL MSCI EM MKTS INDEX COMMON TRUST FU, COLUMBIA MARSICO INTER OPPORTUNITIES FUND, VARIABLE SERIES, NATIXIS INTERNATIONAL FUNDS LUX I, WEST VIRGINIA INVESTMENT MANAGEMENT BOARD, CITIGROUP PENSION PLAN, EATON VANCE TAX-MANAGED EMERGING MKTS FUND, IBM SAVINGS PLAN,TEACHER RETIREMENT SYSTEM OF TEXAS, THE MARSICO INTL OPPORTUNITIES FUND, MUNICIPAL E ANNUITY A B FUND OF CHICAGO, NATIONS MARSICO INTL OPPORTUNITIES FUND, STATE ST B AND T C INV F F T E RETIR PLANS, BALENTINE INTERNATIONAL EQUITY FUND SELECT LP, JPVF-INTERNATIONAL EQUITY PORTFOLIO, TELCORDIA TECHNOLOGIES PENSION PLAN, ING MARISCO INTERNATIONAL OPPORTUNITIES PORTFOLIO, JOHN HANCOCK TRUST INTERN EQUITY INDEX TRUST B, NATIONS INTERNATIONAL EQUITY FUND, INDIANA STATE TEACHERS RETIREMENT FUND, PACIFIC LIFE FUNDS PL EMERGING MARKETS FUND, DIMENSIONAL FUNDS PLC, AT&T UNION WELFARE BENEFIT TRUST, T PRUDENTIAL SERIES FD, INC. - SP INTERNAT GROWTH PRTF,

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THE BOSTON COMPANY EMERGING MKTS CORE E FUND, EATON VANCE STRUCTURED EMERGING MARKETS FUND,SPDR S&P EEMRGING LATIN AMERICA ETF, DIMENSIONAL FUNDS II, PLC,SCHWAB GLOBAL REAL ESTATE FUND, GEUT EMERGING EQUITY PASSIVE 1, RUSSELL INSTITUTIONAL FDS,LLC - RI EQUITY FD, ARTISAN OPPORTUNISTIC GROWTH FUND,VANGUARD FTSE ALL-W EX-US SMALL-CAP INDEX FUND ASOVIEIF,FIDELITY FIXED-INCOME TRUST: FIDELITY SERIES GLOBAL EX U.S., T M T B O JP L RE FRANK RUSSELL INV (JP) L IT, MARSICO GLOBAL FUND, ROHM AND HAAS MASTER TRUST, COLUMBIA MARSICO GLOBAL FUND, FRANKLIN TEMPLETON INVESTMENT FUNDS, FRANKLIN TEMPLETON FUNDS, OPPENHEIMER DEVELOPING MARKETS FUND, NORGES BANK, VANGUARD INVESTMENT SERIES PLC, TEMPLETON GLOBAL INVESTMENT TRUST - TEMPLETON BRIC FUND, VANGUARD TOTAL INTERNATIONAL STOCK INDEX FD, A SE VAN S F, AUSTRALIAN REWARD INVESTMENT ALLIANCE. Donos da MRV: A MRV é sócia do Autonomy Capital LLC, que comprou 16,7% do seu capital. 35% das ações continuam nas mãos do seu fundador, Rubens Menin, associado com o Janus Capital Management Llc e tem como acionistas:

ABU DHABI RETIREMENT PENSIONS AND BENEFITS FUND; BARCLAYS GLOBAL INVESTORS, N.A. BGI EMERGING MARKETS STRATEGIC INSIGHTS FUND LTD; BLACKROCK GLOBAL FUNDS ; BRAZIL MSCI EMERGING MARKETS INDEX COMMON TRUST F; CAISSE DE DEPOT ET PLACEMENT DU QUEBEC; COLLEGE RETIREMENT EQUITIES FUND; COUNTY EMPLOYEES ANNUITY AND BENEFIT FUND OF THE COOK CO; EATON VANCE STRUCTURED EMERGING MARKETS FUND ; EMERGING MARKETS INDEX FUND E ; EP TISDALE LLC ; ETON PARK FUND, L.P. ; FIDELITY INVESTMENT TRUST: FIDELITY INTERNATIONAL; FORD MOTOR COMPANY DEFINED BENEFIT MASTER TR ; GEUT EMERGING EQUITY PASSIVE 1; IBM SAVINGS PLAN; ILLINOIS STATE BOARD OF INVESTMENT ; ISHARES MSC( BRAZIL (FREE) INDEX FUND; JANUS ADVISER INTERNATIONAL GROWTH FUND ; JOHN HANCOCK TRUST INTERNATIONAL EQUITY INDEX TRUST A; MERRILL LYNCH LATIN AMERICA FUND INC; MICROSOFT GLOBAL FINANCE; NORTHERN TRUST QUANTITATIVE FUND PLC; PYRAMIS GROUP TRUST FOR EMPLOYEE BENEFIT PLANS; RUSSELL INVESTMENT COMPANY EMERGING MARKET; STATE STREET EMERGING MARKETS; THE CALIFORNIA STATE TEACHERS RETIREMENT SYSTEM; THE FUTURE FUND BOARD OF GUARDIANS; THE MASTER TRUST BANK OF JAPAN, LTD. RE: MTBC40 THE NOMURA TRUST AND BANKING CO LTD RE; FIDELIT TREASURY GROUP INVEST SERV LTD AS RESPONSIBLE ENTITY FOR THE TEXAS EDUCATION AGENCY VARIABLE INSURANCE PRODUCTS FUND IV: EMERGIN VIRGINIA RETIREMENT SYSTEM; WILMINGTON MULTI-MANAGER INTERNATIONAL FUND Donos da PDG Realty O principal acionista é o BlackRock Inc, Vinci Partiners, Marsico Capital Management

Donos da Rossi Os principais acionistas da Rossi são os fundos de investimento Oficinalis Adm, Carmignac Gestion e Newton Investment. A operação no mercado financeiro que rendeu R$ 928,125 milhões a Rossi em 15 de outubro de 2009, os investidores estrangeiros ficaram com 72,54%, a maioria delas foram adquiridas pelo Credit Suisse Securities da Europa.

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Três conclusões se tornam evidentes: A primeira é que se provou exaustivamente a participação do capital financeiro internacional na propriedade das grandes empresas do setor. A segunda é que os empresários brasileiros venderam suas empresas para o capital estrangeiro e se tornaram gerentes dos fundos de investimentos estrangeiros. A terceira é que tanto o PAC quando o Plano Minha Casa Minha Vida, antes de servir para que os pobres tenham moradia, representa transferência de dinheiro público para banqueiros estrangeiros, que depois remete ao exterior na forma de lucros.

O boom da construção Civil se alicerçou na exploração dos trabalhadores

Toda esta riqueza que permitiu o boom da indústria da construção nos últimos foi produto da super exploração dos trabalhadores do ramo. Na tabela abaixo está resumidda a Pesquisa Anual da Indústria da Cosntrução (PAIC), realizada pelo IBGE, que é uma espécie de censo do setor. Analisamos até 2007, porque tem dados até este ano. Estes números demonstram o alto grau de precariedade e exploração dos trabalhadores:

PESQUISA ANUAL DA INDÚSTRIA DA COSNTRUÇÃO - IBGE - 2002 2007

ANO UF

EMPRESAS (QUANTIDADE EM MILHARES)

TRABALHADORES COM CARTEIRA ASSINADA (EM

MILHARES)

TRABALHADORES TOTAL NO

SETOR (EM MILHARES)

FATURAMENTO (EM

BILHÕES)

OBRAS PARA SETOR

PÚBLICO (EM %)

CONSUMO INTERMEDIÁRIO

(MATÉRIAS PRIMAS) EM

BILHÕES

GASTO COM PESSOAL (EM BILHÕES DE

REAIS)**

% DOS SALÁRIOS

FRENTE AO FATURAMENTO

SALÁRIO MÉDIO

NACIONAL MENSAL EM

REAIS

RENDIMENTO MÉDIO CC x

SALÁRIO MÍNIMO

PRODUTIVIDADE (PRODUÇÃO POR

TRABALHADOR EM R$ NO ANO)

VALOR ADICIO-NADO

BRASIL 122.890 1.478 5.608 86,223 48,4% 44,640 16,784 19,4% 449,61 2,2 58.337,61 33,730

PARÁ 405 19 885 514 173 19,5% 46.578,94 301

SÃO PAULO 8.473 343 29,290 17,242 6,095 20,8% 85.393,58 10,313

BRASIL 118.993 1.472 5.409 82,940 41,6% 37,930 18,425 22,2% 483,38 2 56.345,10 37,141

PARÁ 425 22 977 601 222 25,1% 40.272,72 494

SÃO PAULO 8.417 356 24,453 13,615 6,715 27,4% 68.688,20 11,110

BRASIL 109.499 1.539 5.613 100,098 43,4% 44,592 21,380 16,2% 514,69 1,9 59.690,83 51,038

PARÁ 430 21 1,063 484 248 16,1% 48.714,28 512

SÃO PAULO 7.878 373 30,618 14,569 7,187 16,1% 82.975,87 15,297

BRASIL 105.459 1.503 5.872 106,214 41,7% 47,012 22,154 20,9% 573,69 1,9 73.500,00 55,555

PARÁ 467 22 1,242 612 274 22,0% 70.900,00 617

SÃO PAULO 8.076 393 32,690 15,719 7,748 23,7% 84.300,00 16,316

BRASIL 109.144 1.555 5.932 113,834 42,6% 50,448 24,612 15,8% 608,92 1,7 55.700,00 61,156

PARÁ 507 27 1,385 650 318 16,1% 55.400,00 702

SÃO PAULO 8.315 380 36,568 17,769 5,939 16,8% 69.300,00 18,320

BRASIL 110.303 1.675 6.217 132,366 40,3% 61,940 29,025 16,1% 636,23 1,6 76,200,00 61,214

PARÁ 560 30 1,612 779 299 18,5% 67.500,00 723

SÃO PAULO 8.483 456 40,384 21,089 7,078 17,5% 85.400,00 17,5542007

2006

2005

2004

2003

2002

Fonte: IBGE Relatório PAIC 2002 a 2007 – elaborado pelo ILAESE

Este quadro demonstra que:

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- Os trabalhadores com carteira assinada representavam somente 27% do total de trabalhadores do setor. Isto significa que 2/3 da categoria ou são informais ou trabalham por conta própria, sem contribuir com a previdência social.

- Que as obras para o setor público desempenham um papel importante na indústria da construção, representando por volta de 40% do total das obras.

- Que os gastos com pessoal estão por volta de 15% do faturamento das empresas.

- Que o rendimento médio nacional do setor representava 2,2 salários mínimos em 2002 e caiu para 1,6 salário mínimo.

- Em base a este quadro podemos mostrar a exploração do trabalhador da construção do Brasil, do Pará e de são Paulo no ano de 2007:

Divide-se o gasto com pessoal e o número de trabalhadores formais, conseguindo o salário médio (com encargos) anual e mensal:

Brasil: anual R$ 17.328,35, mensal R$ 1.444,02 ou R$ 6,47 por hora

São Paulo: R$ 15.521,92, mensal R$ 1.293,49 ou R$ 5,80 por hora

Pará: 9.966,66, mensal 830,55 ou R$ 3,72 por hora

Agora podemos ver quanto cada 1 rendeu por ano, mês e hora para a empresa:

Brasil: R$ 76.200,00 anual, R$ 6.350,00 mensal ou R$ 36,07 por hora.

São Paulo: 85.400,00 por ano, mensal de R$ 7.166,66 ou R$ 40,71 por hora.

Pará: R$ 67.500,00 por ano, mensal de R$ 5.625,00 ou R$ 31,96 por hora.

Portanto, o trabalhador da construção civil brasileira paga seu salário em 6 dias de trabalho, considerando uma jornada de 44 horas semanais. Trabalha, portanto, 18 dias de graça no mês para o empresário.

O trabalhador paulista paga seu salário em 4 dias de trabalho, portanto, entrega grátis 20 dias de trabalho para seu patrão.

O trabalhador paraense leva 3 dias para pagar seu salário e trabalha 21 dias de graça para o patrão.

É preciso notar que estas contas foram feitas com os trabalhadores do setor formal, com carteira assinada. Os trabalhadores do setor informal tem uma produtividade de 25% da produtividade do setor formal. Isto significa que um trabalhador informal da CC no Brasil levava 16 dias de trabalho para pagar seu salário, enquanto em SP eram 12 dias e no Pará 9 dias.

Ao estudar a situação do emprego no setor, demonstrado no gráfico abaixo (do ano de 1983 até 2002) se percebe que:

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Fonte IBGE – elaboração ILAESE

Desde 1989 que a construção civil vem perdendo trabalhadores. Como vimos anteriormente que os lucros cresceram muito, isto significa que aumentou a produtividade do trabalhador, isto é, ele rendeu mais para o empresário, produzindo mais com menos colegas de trabalho. Este gráfico não está atualizado porque o IBGE mudou a metodologia a partir de 2002, não sendo possível relacionar com os dados dos anos seguintes. Veja abaixo a situação do emprego formal na Construção Civil sob o governo Lula:

A tabela seguinte (do DIESSE) mostra a situação do emprego na Construção Civil entre 2007 e 2009. Enquanto os lucros patronais cresceram de forma espetacular, o saldo o aumento do

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emprego entre 2007 e 2009 foi de apenas 430 vagas. Isso demonstra que a patronal está arrancando o couro dos peões, aumentando o ritmo de trabalho e precarização.

Saldo do emprego formal, por setor de atividade econômica

Brasil – 2007 – 2009 - DIEESE Setor de Atividade 2007 2008 2009Indústria Total 412.098 195.311 17.885

Extrativa mineral 9.762 8.671 2.036Indústria de transformação 394.584 178.675 10.865Serv. Ind. Util. Publ. 7.752 7.965 4.984

Construção civil 176.755 197.868 177.185Comércio 405.091 382.218 297.157Serviços 587.103 648.259 500.177Adm. pública 15.252 10.316 18.075Agropecuária(1) 21.093 18.232 -15.369Total 1.617.392 1.452.204 995.110Fonte: MTE. CagedElaboração: DIEESENota: (1) Inclui extrativa vegetal, caça e pesca

Além de aumentar a exploração dos trabalhadores, contratando menos que o necessário e aumentando o ritmo de trabalho, os empresários desenvolvem a informalidade e a terceirização, para explorar ainda mais um setor da classe trabalhadora. A tabela abaixo, também confeccionada pelo DIEESE mostra que, em 2008, os empregados com carteira assinada representavam apenas 28% do total de trabalhadores.

Número de ocupados na Construção Civil por posição na ocupação Brasil – 2008 DIEESE

POSIÇÃO NA OCUPAÇÃO OCUPADOSEmpregado com carteira 1.944.908Empregado sem carteira 1.701.648Conta própria 2.709.138Empregador 359.537Trabalhador na construção para o próprio uso 105.862Não-remunerado 63.892Outros (*) 19.755Total 6.904.740Fonte: PNAD/2008 - IBGEElaboração: DIEESENota: (*) posição na ocupação cujo o tamanho da amostra é insuficiente. Dados referente a semana de referência em setembro.

Portanto, 64% ainda trabalham sem carteira ou por conta própria, sem direitos previdenciários e trabalhistas. É uma verdadeira chaga nacional que o governo Lula vê e não faz nada. Ao contrário, financia o enriquecimento dos empresários do setor, ao invés de ordenar que se contrate todos os trabalhadores, pagando todos os direitos.

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Os números do estoque de trabalhadores da construção civil entre 2007 e 2008, entre contratações e demisssões, revela que há uma rotatividade de 100% no setor, elevando a precariedade do trabalho a níveis alarmantes:

No balanço da Gafisa de 2009, a empresa explica porque tem esta rotatividade, a informalidade e a terceirização no setor:

“Não possuímos equipamentos de construção pesada e empregamos, diretamente, apenas uma pequena parte da mão-de-obra necessária nas nossas construções. Atuamos como gerenciadores, supervisionando a construção enquanto empreiteiras executam atividades intensivas de mão-de-obra. Em geral, nossas obras são executadas por preço fixo por empreiteiras independentes. (...) A contratação de empreiteiras, ao invés de manter empregados próprios atuantes nesta área, apresenta algumas vantagens financeiras e logísticas. Por exemplo, não precisamos incorrer em custos decorrentes da manutenção de mão-de-obra especializada, que são fixos mesmo quando não estão ocupados em algum empreendimento, nem precisamos incorrer em despesas resultantes de freqüentes transferências da nossa mão-de-obra para diferentes canteiros de obras”.

É simples: os empresários aumentam seus lucros ao não ter que contratar mão de obra diretamente, com todos os direitos existentes no país.

Evidentemente, isto se reflete nas condições de saúde e segurança do trabalhador, no setor apresenta altos índices de acidente de trabalho, resultantes de condições precárias de trabalho.

Se analisamos o rendimento médio do trabalhador da construção civil, vemos que enquanto diminui relativamente seu rendimento salarial, aumenta sua produtividade, isto é, a riqueza que ele produz para o patrão:

A análise do salário médio das empresas de construção com 5 ou mais pessoas ocupadas mostrou que apesar da média salarial da atividade no Brasil ter aumentado, em termos nominais, de R$ 761,76, em 2003, para R$ 955,08, em 2007, em termos de número de salários mínimos houve decréscimo de 3,3 para 2,6.

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Esta tabela demonstra que o salário médio da construção civil no Brasil cresceu 3,8% entre 2003 e 2007, já descontada a inflação no período. Em São Paulo este crescimento foi de 2,9%. Na região Nordeste, o Ceará teve uma queda do salário médio de 6,2% enquanto no Norte, o salário médio dos trabalhadores da Construção Civil no Pará caiu 4,6%. Por outro lado, a produtividade (produção de cada trabalhador em R$) nas empresas de construção, entre 2003 e 2007, se expressa no quadro abaixo:

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A produtividade no Brasil entre 2003 e 2007 cresceu a uma taxa de 16,5%, já descontada a inflação do período (INPC de 20,8%). Em São Paulo a produtividade cresceu 2,4% neste período, enquanto no Ceará cresceu 17,5% e no Pará cresceu somente 1%. Se relacionamos estas duas tabelas, vemos que enquanto o salário médio do Brasil cresceu 3,8%, a riqueza criada pelo trabalhador avançou 16,5%, significando que aumentou a exploração do trabalhador. No Ceará, enquanto caiu o salário médio em 6%, a produtividade cresceu 17%! Significa lucros fabulosos para a patronal. No Pará, enquanto o salário médio caiu 4,8%, a produtividade aumentou 1%. Abaixo apresentamos uma tabela do DIEESE com os pisos salariais dos Estados:

Maior e menor piso salarial e piso salarial médio em unidades de negociação da construção e mobiliário, por região geográfica e Unidade da Federação - Brasil, 2008-2009

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Menor Maior Médio Menor Maior MédioNORTE R$ 430,00 R$ 500,00 R$ 464,38 R$ 473,08 R$ 575,00 R$ 520,51 6Amazonas R$ 500,00 R$ 500,00 R$ 500,00 R$ 575,00 R$ 575,00 R$ 575,00 1Pará R$ 430,00 R$ 500,00 R$ 464,08 R$ 473,08 R$ 570,00 R$ 515,77 4Roraima R$ 430,00 R$ 430,00 R$ 430,00 R$ 430,00 R$ 430,00 R$ 430,00 1NORDESTE R$ 415,00 R$ 504,90 R$ 436,50 R$ 465,00 R$ 552,20 R$ 487,11 9Bahia R$ 415,00 R$ 452,96 R$ 432,11 R$ 465,00 R$ 507,32 R$ 485,36 5Ceará R$ 428,00 R$ 428,00 R$ 428,00 R$ 475,00 R$ 475,00 R$ 475,00 1Pernambuco R$ 504,90 R$ 504,90 R$ 504,90 R$ 552,20 R$ 552,20 R$ 552,20 1Rio Grande do Norte R$ 415,00 R$ 415,00 R$ 415,00 R$ 465,00 R$ 465,00 R$ 465,00 1Sergipe R$ 420,00 R$ 420,00 R$ 420,00 R$ 465,00 R$ 465,00 R$ 465,00 1CENTRO-OESTE R$ 420,00 R$ 470,00 R$ 438,80 R$ 466,40 R$ 501,60 R$ 480,40 6Distrito Federal R$ 425,00 R$ 468,60 R$ 446,80 R$ 478,00 R$ 501,60 R$ 489,80 2Goiás R$ 424,60 R$ 470,00 R$ 439,73 R$ 466,40 R$ 500,00 R$ 477,60 3Mato Grosso do Sul R$ 420,00 R$ 420,00 R$ 420,00 R$ 470,00 R$ 470,00 R$ 470,00 1SUDESTE R$ 415,00 R$ 793,00 R$ 583,54 R$ 465,00 R$ 841,00 R$ 637,19 30Espírito Santo R$ 457,60 R$ 457,60 R$ 457,60 R$ 503,80 R$ 503,80 R$ 503,80 1Minas Gerais R$ 415,00 R$ 501,60 R$ 462,80 R$ 465,00 R$ 539,00 R$ 511,05 11Rio de Janeiro R$ 430,00 R$ 655,60 R$ 546,68 R$ 480,00 R$ 719,40 R$ 597,60 5São Paulo R$ 607,00 R$ 793,00 R$ 709,00 R$ 688,60 R$ 841,00 R$ 769,40 13SUL R$ 415,00 R$ 833,80 R$ 522,08 R$ 465,00 R$ 880,00 R$ 585,73 17Paraná R$ 480,48 R$ 833,80 R$ 576,86 R$ 547,80 R$ 880,00 R$ 636,90 8Rio Grande do Sul R$ 415,00 R$ 575,00 R$ 486,08 R$ 465,00 R$ 642,00 R$ 556,76 5Santa Catarina R$ 436,00 R$ 506,00 R$ 457,50 R$ 480,00 R$ 572,00 R$ 519,61 4TOTAL R$ 415,00 R$ 833,80 R$ 525,43 R$ 465,00 R$ 880,00 R$ 580,33 68Fonte: DIEESE. SAS-DIEESE - Sistema de Acompanhamento de Salários

2008 2009 PainelRegião/UF

Pelo que pudemos analisar acima, nota-se que a indústria da Construção Civil se utiliza da terceirização, da informalização e da precarização da mão de obra para aumentar seus lucros. As principais responsáveis são as grandes empresas que se reestruturaram nos últimos anos. A grande empresa contrata os subempreiteiros para deixar de pagar os custos sociais e terceirizar o risco com o trabalhador. Para o trabalhador significa precarização e flexibilização, a perda de direitos, até dos mínimos direitos sindicais. Como conclusão podemos dizer que:

Apesar de haver um pequeno crescimento da mão de obra no setor, os salários não acompanharam este crescimento. O salário médio do trabalhador diminuiu.

A rotatividade da mão de obra é gigantesca e alcança quase 100% ao ano. Isto quer dizer que a ampla maioria da categoria muda de emprego anualmente. Forma perversa de precarizar o emprego no setor.

A terceirização e a informalidade são usadas como forma de reduzir gastos e não pagar direitos trabalhistas, uma forma de burlar as leis trabalhistas do Brasil.

As jornadas de trabalho muitas vezes ultrapassa as 44 horas semanais, somado ao aumento do ritmo de produção, leva ao aumento das doenças profissionais e aos acidentes, inclusive fatais.

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Governo repassa dinheiro público para banqueiros americanos e europeus

Apesar do governo alardear que o PAC e o programa habitacional Minha Casa Minha Vida está ajudando a lavancar o desenvolvimento do Brasil e a garantir que os trabalhadrores tenham acesso a casa própria, os verdadeiros ganhadores com ests programas são as grandes construtoras. No relato abaixo, divulgado na imprensa, o dono da MRV, Menin, principal construtora beneficiária dos programas do governo relata:

“As novas metas de Menin começaram a ser delineadas em um fim de tarde de dezembro de 2008. "A Dilma está no telefone e quer falar com o senhor", avisou a secretária. Era a Rousseff, convidando-o para uma reunião em Brasília. Além dele, outros seis empresários da construção se sentaram à mesa para discutir o programa. O plano chegou meio torto: as construtoras teriam participação secundária e dependeriam das terras do poder público para construir. As empresas ajudaram a reformular o programa. "No dia do anúncio, fomos morrendo de medo para Brasília. Não sabíamos o que nos esperava", lembra Menin. "Acabou saindo melhor do que a encomenda." Todas as propostas das construtoras foram aceitas e o governo ainda decidiu subsidiar parte dos imóveis”.

Por isso, as grandes construtoras não se cansam de elogiar a atitude do governo, já que programas como o "Minha Casa, Minha Vida", do governo federal, foram vistos pelo mercado como um subsídio indireto às construtoras voltadas para a baixa renda. Se trata de combater o déficit habitacional com produção de novas casas exclusivamente pelas grandes construtoras. Esse é o elemento novo deste plano. As empresas mais voltadas para as habitações populares receberam recursos abundantes e baratos, quando estávamos em meio à maior crise internacional dos últimos 80 anos. Segundo o presidente da Gafisa, Wilson Amaral, “a intervenção do governo federal foi crucial para salvar o setor da crise”.

Estes programas favoreceram tanto às grandes cosntrutoras que o dono da PDG Realty, José Antônio Grabowsky disse: “Minha Casa, Minha Vida é a expressão que os gringos mais falam hoje".

O déficit habitacional no Brasil

O déficit habitacional brasileiro é estimado (números de 2007) pela Fundação João Pinheiro em 6,273 milhões de domicílios. A isso se deve somar que a cada ano se formam 1,5 milhão de novas famílias no Brasil.

O número total de moradias no Brasil é de 54.610.413.

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A carência de infra-estrutura (falta de energia elétrica, água, rede esgoto, coleta de lixo, etc) atinge 11,3 milhões de moradias ou 24,1% dos domicílios urbanos. Sendo 56,4% no Norte, 51,4% no Centro-Oeste e 40,8% no Nordeste.

Os investimentos públicos no setor da Construção Civil

O setor depende muito de financiamento de longo prazo. Já vimos anteriormente que os gastos no Brasil com financiamento de habitação é muito baixo, como mostra o gráfico abaixo:

No governo Lula, estes investimentos aumentaram um pouco, mas está longe de chegar aos níveis da década de 70 e 80.

O governo vem financiando e subsidiando o setor da Construção Civil. Por ora, aplica dois grandes programas. Um é o PAC – Programa de Aceleração do Crescimento, mais voltado para infraestrutura, que agora já está na sua segunda versão. E o outro é MINHA CASA MINHA VIDA, mais voltado aos imóveis para pessoas de baixa renda. Neste último caso, a proposta é alcançar 1 milhão de imóveis ao ano, a partir de 2011. A nova versão deste programa prevê a construção de mais 2 milhões de casas novas até 2014. O governo Lula vem incentivando o setor da Construção Civil mediante principalmente a expansão do financiamento imobiliário e programas de obras. No contexto da crise que se viu em fins de 2008, ele apostou em uma forma mais expansionista destas operações, tendo por objetivo incentivar o mercado interno, sobretudo com a participação das famílias de baixa renda.

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O governo, ao montar os programas PAC e Minha Casa Minha Vida, utilizou dinheiro do FGTS, da caderneta de poupança e do BNDES para financiar estes planos.

A tabela abaixo mostra o crescimento destes financiamentos por parte da CEF e do Sistema Financeiro de Habitação (SFH):

O grosso desse financiamento é público. Por exemplo, em 2009, do valor total de 59 bilhões de reais, somente 12 bilhões de reais foram créditos do setor privado. Isto é, o governo financiou mais de 70% do todo o crédito para construção de imóveis novos, como exemplifica o gráfico abaixo:

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É este salto no financiamento público que leva ao boom do setor imobiliário brasileiro e fortaleceu o processo de concentração do setor em poucas grandes construtoras. Porém, somente no ano de 2003 se chegou ao patamar de financiamento de 250 mil casas novas no ano.

O governo também financiou diretamente as construtoras, através do BNDES. Segundo informação da revista O Empreiteiro, os empréstimos para o BNDES em 2009 para a construção civil chegou a R$ 2 bilhões, uma expansão de 444% no ano (veja gráfico abaixo). De 2001 a 2008, o BNDES desembolsou R$ 17,8 bilhões de reais para as construtoras.

Fonte: Ministério das Cidades

Portanto, essas ações podem ser caracterizadas como incentivos financeiros a lucratividade das empresas atuantes no setor. E porque se pode dizer que são destinadas principalmente a lucratividade das empresas? Vejamos as observações seguintes:

a) As taxa de juros praticada para o consumidor são bem mais altas daquelas voltadas ao

financiamento da produção. Por exemplo, em todos os programas acima referenciados, o BNDES atua cobrando taxas de juros em torno de 0,5% ao ano e pagamento a perder de vista. Por outro lado, nos casos do programa MINHA CASA MINHA VIDA, no qual o financiamento é voltado para famílias de baixa renda, a taxa de juros praticada é em torno de 8% ao ano.

b) Não há controle sobre a política de preços das empresas. Elas recebem muito

financiamento a produção e mais financiamento voltado ao consumo, e ainda ficam livres para aumentar preços e lucros. Por exemplo. Vamos considerar o caso da empresa MRV ENGENHARIA, que tem foco na construção civil de baixa renda e forte participação do financiamento da CEF. A própria empresa apresenta a sua relação com a CEF. Note o gráfico seguinte:

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Em 2008 se financiou 585 mil novas casas. Em 2009 foram outras 710 mil unidades e se prevê para 2010, se mantiver o ritmo alcançado nos três primeiros meses do ano, se chegará ao recorde de 990 mil unidades. Porém, segundo a previsão da segunda fase do plano Minha Casa Minha Vida, o governo vai financiar 2 milhões de casas entre 2011 e 2014, isto é 500 mil moradias novas por ano, quantidade muito aquém do necessário, levando em conta o déficit habitacional e a formação de 1,5 milhão de novas famílias por ano no Brasil, sem falar no déficit habitacional estrutural.

Realizando um balanço da aplicação dos dois programas do governo (PAC e PMCMC) podemos concluir que os dados oficiais indicam que de 2007 a 2009 foram executados 63,3% do total previsto no PAC. Da meta do governo federal de contratar 1 milhão de casas até o fim de 2010, 41% foi cumprida no primeiro ano de vida do Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV). Foram contratadas 408.674 casas, que representam cerca de 5% do déficit habitacional do Brasil.

Ao final desta primeira fase podemos dizer que as maiores construtoras foram as mais favorecidas com estes planos. Algumas empresas chegaram a dobrar de tamanho neste período e saíram da crise mais fortalecidas e comprando outras firmas em dificuldades. Na primeira fase do programa MCMV as 13 maiores construtoras pegaram 35% de todo o financiamento público da CEF, no valor de R$ 22,8 bilhões de reais. A Gafisa, em 2009, faturou R$ 3,2 bilhões. R$ 1,3 bilhão deste faturamento veio do plano MCMV. No meio da crise, a PDG Ralty, se safou dos problemas com um empréstimo do BNDES de R$ 270 milhões. O filão habitacional de baixa renda movimenta R$ 550 bilhões por ano e as empresas eestão de olho nesta fortuna.

Para ajudar as empresas no meio da crise, o governo reduziu o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para alguns materiais de construção e liberou o saque do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para imóveis de maior valor, de R$ 300 mil para R$ 500 mil.

A perda do governo com a redução de IPI para materiais de construção alcançou a cifra de R$ 686 milhões em apenas 6 meses. Ele já decidiu que prorrogará até o final de 2010 tal isenção fiscal. Esse favorzinho do governo às empresas não garante que baixe o valor dos imóveis: ao contrário, os preços dos imóveis subiram somente nos três primeiros meses de 2010 em 80% em são Paulo

Que podia se poderia fazer com financiamento do governo

Segundo a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), a carência anual de investimento em infraestrutura no Brasil é da ordem de R$ 161 bilhões.

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Dados recentes divulgados pelo Instituto Trata Brasil, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), indicam que quase 50% dos brasileiros ainda não possuem acesso a rede de esgoto. Isso sem contar o déficit habitacional de cerca de seis milhões de moradias. A estimativa para acabar com o déficit habitacional é de R$ 350 bilhões de reais. O governo brasileiro está gastando mais com financiamento à iniciativa privada do que seria necessário para resolver os problemas graves do país, caso resolvesse fazer um plano de obras públicas, realizado por uma empresa estatal, prescindindo do lucro empresarial. Bastaria o governo nacionalizar e estatizar as 10 maiores construtoras, sob controle dos trabalhadores e utilizar o dinheiro público para fins públicos e não para enriquecimento privado. Objetivo muito fácil de alcançar caso o governo direcionasse o que gasta com banqueiros, financiando a dívida pública, e investisse em um plano de obras públicas. Em 2010, o governo gastará R$ 172 bilhões de reais somente com dispêndios financeiros. Dinheiro suficiente para acabar com o déficit habitacional do Brasil em dois anos.

SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHADOR Segundo a OIT, ocorrem anualmente no mundo 270 milhões de acidentes de trabalho, além de aproximadamente 160 milhões de casos de doenças ocupacionais. Essas ocorrências chegam a gastar 4% do PIB mundial. No Brasil, o ramo da Construção lidera as trágicas estatísticas, com um número expressivo de mortes, mutilações e lesões. A tabela abaixo mostra esse movimento:

Esse quadro mostra que, em 2000, aconteceram 88 acidentes por dia na Construção, com mais de um óbito diário. Em 2008 foram 49.191 acidentes, sendo 170 acidentes por dia. Aumentaram os acidentes na mesma proporção que se precarizou e terceirizou a mão de obra, fazendo saltar os acidentes em 93% entre 2000 e 2008.

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No Pará, como mostra a tabela seguinte, em 2000 teve uma média de quase 2 acidentes por dia e quase 1 óbito por mês. Estes números devem ser multiplicados porque boa parte dos acidentes não são informados e quando são não se divulgam.

Com a terceirização e a precarização da mão de obra, os acidentes deram um salto no Estado. Na edição de O Liberal de 6 de abril de 2010 o Sindicato da Construção Civil de Belém denunciou que aconteceu uma média de 100 acidentes do trabalho por dia em todo o Pará entre 2006 e 2008 e que só no segundo semestre de 2009, no Pará, foram sete vítimas fatais de trabalhadores da construção civil.

A construção civil em Belém (PA) O mercado da construção civil em Belém ainda não foi ocupado pelas 8 maiores empresas. Ainda predomina entre as maiores empresas paraenses a gestão familiar. Porém, deste 2008, as grandes empresas se preparam para ocupar este espaço: a INPAR atua em Belém, tendo como sócia a Zappi Construtora, A AGRA, agora pertencente a PDG Realty, é sócia da Leal Moreira e dona da maior imobiliária de Belém, a Chão & teto. A GAFISA/TENDA produz diretamente ou em sociedade com a construtora Azevedo Barbosa. A CYRELA é sócia da Síntese Engenharia e a DIRECIONAL é sócia da Êxito Engenharia. Em poucos anos, todas as maiores construtoras de Belém serão absorvidas pelas 7 grandes. É o que veremos no próximo período. A construção civil em Belém conta com 732 empresas na atualidade.

As condições de trabalho em Belém Em Belém, as condições de trabalho e renda na construção civil reproduzem, mais ou menos, o panorama nacional.

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Em 2009, 63% dos trabalhadores trocaram de emprego em 1 ano, como pode se ver na tabela abaixo:

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Rotatividade 55% 66% 81% 78% 62% 53% 68% 72% 53% 63% Fonte: CAGED Ministério do Trabalho e emrpego – elaborado pelo ILAESE Para analisar as condições de renda e trabalho em Belém, traçamos um quadro comparativo entre a Construção Civil no Brasil, em São Paulo capital, em Belém, em Manaus, em São Luís e em Fortaleza, para ter uma visão geral comparativa. A pesquisa utiliza dados do Ministério do Trabalho e está acessível no site. Compreende os anos de 2003 até 2009, relativo a todo o período do governo Lula. Os dados se referem somente ao setor formal, já que não se dispõe de dados para o setor informal. Analisaremos primeiro os dados relacionados com o emprego e logo depois com a renda: emprego e renda na construção civil de 2000 a 2009 - Brasil/Belém/SãoPaulo/Manaus/Ftza/São Luís

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2000/2009 %

Brasil emprego formal 1.048.251 1.118.570 1.245.395 1.438.713 1.647.483 1.987.131 2.164.316 106%

Belém emprego formal 10.772 11.498 11.674 13.355 13.318 18.489 19.398 80%

São Paulo emprego formal 129.298 127.230 143.174 168.340 199.094 240.293 256.547 98%

Manaus emprego formal 8.305 9.638 11.971 15.166 20.421 24.850 26.041 214%

Fortaleza emprego formal 20.501 20.641 21.774 27.429 29.081 36.523 45.705 123%

São Luis emprego formal 10.643 12.056 13.591 18.208 21.457 30.913 27.494 158% O emprego formal na construção civil brasileira dobrou entre 2003 e 2009. Em Manaus triplicou, em São Paulo dobrou e no Pará cresceu 80%. Belém representa cerca 1% da mão de obra da construção civil nacional, fortaleza é quase o dobro de Belém e São Paulo representa 12% da mão de obra nacional. Vejamos as informações comparativas sobre a renda média de admissão do servente de obra neste mesmo período e mesmas capitais:

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2003/2009 %

Sal. Médio Adm. Servente 276,31 346,68 319,78 364,56 392,8 444,44 523,99 89,6%

X Salário Mínimo Brasil 1,2 1,3 1,1 1,0 1,0 1,1 1,1

Sal. Médio Adm. Servente 463,91 493,8 531,29 565,00 600,45 651,25 718,93 54,9%

X Salário Mínimo Brasil 1,9 1,9 1,8 1,6 1,6 1,6 1,5

Sal. Médio Adm. Servente 354,12 422,20 445,57 475,76 492,29 532,25 615,08 73,7%

X Salário Mínimo Brasil 1,5 1,6 1,5 1,4 1,3 1,3 1,3

Sal. Médio Adm. Servente 260,52 282,51 315,93 359,66 394,34 428,29 482,69 85,2%

X Salário Mínimo Brasil 1,1 1,1 1,1 1,0 1,0 1,0 1,0

Sal. Médio Adm. Servente 243,2 274,61 306,35 356,46 390,22 432,85 477,08 96,2%

X Salário Mínimo Brasil 1,0 1,1 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0

Salário Mínimo Brasil 240,00 260,00 300,00 350,00 380,00 415,00 465,00 93,7%

INPC IBGE 10,4% 6,1% 5,1% 2,8% 5,2% 6,5% 4,1% 40,1%

Belém

São Paulo

Manaus

Fortaleza

São Luis

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Em primeiro pode-se notar que o rendimento médio de admissão do servente caiu em relação ao salário mínimo em todas as capitais, sendo que de forma mais acentuada em São Paulo. Em 2003, um servente em SP ganhava 1,9 salários mínimos. Em 2009 recebia somente 1,5 salários mínimos, uma queda proporcional muito forte. Isso significa que o salário médio do servente está se aproximando do salário mínimo, refletindo um achatamento geral do salário do servente, que é contratado cada vez mais para substituir ocupações mais especializadas. Onde mais cresceu o salário médio em comparação com outras capitais foi em São Luís (96%) entre 2003, e 2009. No Pará houve um crescimento de 89% neste mesmo período. O servente de São Paulo tem o salário mais alto do país (R$ 718,93) e é maior que o do Pará em 27%,. O salário médio de Manaus supera o de Belém que supera o de São Luís e o de Fortaleza. O salário médio de admissão do servente em Belém (R$ 523,99) não alcança nem para a cesta básica padrão para uma família padrão paraense, composta de dois adultos e duas crianças, que ficou em R$ 647,16 em abril de 2010. Quer dizer, o servente de obras gasta mais que seu salário somente para adquirir a cesta básica, somente com alimentação, sem levar em contas todos os outros gastos. Porém, analisando a evolução salarial do servente em Belém, entre 2006 e 2007 e o faturamento das empresas da região metropolitana de Belém, vemos que enquanto o salário (nominal) cresceu 8,05% entre um ano e outro, o faturamento das empresas de construção cresceu 80,88%! Ou seja, o lucro vai de avião, enquanto o salário vai de bicicleta! Pode-se notar também que o custo da cesta básica regional (apurada pelo governo do Pará na região metropolitana de Belém cresceu mais que o dobro do salário: 19,06% no mesmo período.

Região Metropolitana

UF:PA

Setor:Construção Civil

Evolução salarial 2007 2006

Evolução faturamento 2007 2006

Evolução INPC IBGE******

evolução Cesta Básica R.M.BELEM

GOV PARÁ*

Servente de obras 8,05% 388,68 359,72 80.88% 1.651.299.090,34 912.936.017,85 7,96% 19,06%

* Fonte: SEPOF/DIPLAN/GERIN GOVERNO DO PARÁ

**CAGED - MTE

***IDESP/SECR FAZENDA PARA

****SINDUSCON PARÁ

***** FGV

*****IBGE

Fatur. CC RMB em R$ mi***

Fatur. CC RMB em R$ mi***% 2006/2007CBO % 2006/2007 % 2006/2007 % 2006/2007

Sal.Médio Adm.(R$)**

Sal.Médio Adm.(R$)**

O déficit habitacional na região metropolitana de Belém Segundo reportagem do jornal O Liberal “Maiores déficit de habitações” de 7 de junho de 2009 se informa que o déficit habitacional em Belém é de aproximadamente 296 mil unidades de habitação. Além disso, Belém tem 120 mil domicílios com baixa infraestrutura e 50 mil domicílios

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sem banheiro. Enquanto isso, dentro do Plano Minha Casa Minha Vida, a pretensão do governo era de construir 50 mil moradias no primeiro estágio do plano, portanto plano muito distante das necessidades reais da população belenense.

As perspectivas para 2010 em Belém: No estado do Pará verifica-se a mesma dinâmica de crescimento visto na construção civil nacional. Segundo o Sinduscon – PA, a produção imobiliária de Belém cresceu em 27,31% no ano de 2009, comparativamente ao ano de 2008, quanto ao número de unidades produzidas e certificadas de “habite-se” emitidos pela Seurb/Prefeitura Municipal de Belém. Para o no de 2010 prevê-se um crescimento de 8,5% nos negócios relacionados ao setor. Esta previsão inclui a segunda versão do Programa Minha Casa Minha Vida, que segundo informações publicadas pelo Sinduscon- PA, poderá trazer a oferta de 3 milhões de unidades residenciais no Brasil. Portanto, entende-se que no próximo período haverá crescimento do setor muito em função dos programas habitacionais de baixa renda promovidos pelo governo federal. Segundo dados da SEPOF do Governo do Pará, o faturamento da Construção Civil na Região Metropolitana de Belém, no ano de 2007, foi de R$ 1.651.299.090,34 (Um bilhão, seiscentos e cinqüenta e um milhões, duzentos e noventa e nove mil, e noventa reais). Essa informação permite estimar a relação da Região Metropolitana de Belém (RMB) com o valor adicionado da Construção Civil em nível nacional, em aproximadamente 1,2% no valor adicionado nacional.

As bandeiras dos trabalhadores

Elencamos algumas bandeiras que acreditamos ser importante para uma campanha sindical e política:

1. Redução da jornada de trabalho: somente a redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais na Construção Civil de Belém, que emprega 19398 trabalhadores diretos, geraria 1.354 novos empregos, um aumento de 7% da mão de obra local. Reduzindo para 36 horas semanais acrescentaria mais 2.708 novas vagas.

2. Exigência ao Governo Federal e Estadual que acabe com a informalidade e a terceirização no setor como condição para financiar imóveis das construtoras privadas.

3. Exigência ao Governo Federal e Estadual para que pare de financiar as construtoras privadas, com isenções fiscais, já que os empresários se aproveitam desses benefícios para lucro privado já que o preço dos imóveis está subindo. Exigir dos governos o congelamento dos preços dos imóveis.

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4. Por uma campanha nacional unificada pelo Piso Salarial Nacional: a disparidade de salários ao nível nacional ajuda as grandes construtoras. Elas atuam no Estado do Pará e em Belém praticam o mesmo preço de São Paulo, com um custo mais baixo, assim estas empresas alcançam uma lucratividade superior.

5. Garantias de emprego. Fim da rotatividade.

6. Garantia de direitos. Fim da informalidade.

7. Aumento real de salários

8. Por uma campanha política nacional de exigência ao Governo Lula pela nacionalização e estatização das grandes construtoras e pela realização de um Plano de Obras Públicas que garanta casas e infra estrutura para toda a população trabalhadora, a preços subsidiados.