madeira construção civil

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Alternativas sustentáveis de uso da madeira na construção civil janeiro/2013 1 Alternativas sustentáveis de uso da madeira na construção civil Rosanne Teixeira de Araújo | [email protected] Master em Arquitetura Instituto de Pós-Graduação e Graduação IPOG Manaus, AM, 11/03/2012 Resumo Na atual realidade em que vivemos, uma das maiores preocupações da humanidade é o futuro do nosso planeta. Grande parte dessa preocupação origina-se do desmatamento indiscriminado das florestas brasileiras, das queimadas em extensas áreas verdes e da exploração ilegal de madeiras de lei. Este artigo visa mostrar a opinião dos profissionais e indústrias de madeira para construção sobre a origem da matéria-prima e a sustentabilidade. Foram questionados arquitetos, engenheiros e industriários do setor, de várias regiões do país e suas respostas foram avaliadas e agrupadas por conteúdo. Constatou-se a necessidade do controle desde o manejo até o produto final e que a busca por novas alternativas e tecnologias deve ser contínua, de forma a minimizar os impactos ambientais e suprir as características de resistência, requinte e nobreza que a madeira proporciona. Palavras-chave: Madeira. Sustentabilidade. Construção civil. 1. Introdução Muito se tem falado sobre sustentabilidade nos dias de hoje, porém, pouco se conhece ou se põe em prática esse conceito. A sustentabilidade nada mais é do que a utilização racional de recursos naturais para satisfazer as necessidades atuais, sem que esse recurso comprometa as futuras gerações. Na vida moderna, todos os setores da economia dependem de um fluxo constante de materiais, em um ciclo que começa na extração de matérias-primas naturais, e segue em sucessivas etapas de transformações industriais, transporte, montagem, manutenção e desmontagem final. (AGOPYAN E JOHN, 2011, p.74). A madeira é um produto presente em quase todas as etapas das obras de construção civil. Seja em fôrmas, estruturas, escoramentos, esquadrias, pisos, forros, revestimentos até a mobília final, o uso da madeira ainda é indispensável para muitos arquitetos e engenheiros, por ser um diferencial de beleza e sofisticação. A questão é: como aliar o uso da madeira com a sustentabilidade? Na tentativa de poupar o corte de árvores, buscam-se alternativas que muitas vezes são mais prejudiciais ao meio-ambiente. Optar pelo uso de alumínio, plástico ou outros derivados do petróleo, por exemplo, é um grande engano, pois estes produtos não são renováveis e nem biodegradáveis.

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Page 1: Madeira Construção Civil

Alternativas sustentáveis de uso da madeira na construção civil janeiro/2013 1

Alternativas sustentáveis de uso da madeira na construção civil

Rosanne Teixeira de Araújo | [email protected]

Master em Arquitetura

Instituto de Pós-Graduação e Graduação – IPOG

Manaus, AM, 11/03/2012

Resumo

Na atual realidade em que vivemos, uma das maiores preocupações da humanidade é o

futuro do nosso planeta. Grande parte dessa preocupação origina-se do desmatamento

indiscriminado das florestas brasileiras, das queimadas em extensas áreas verdes e da

exploração ilegal de madeiras de lei. Este artigo visa mostrar a opinião dos profissionais e

indústrias de madeira para construção sobre a origem da matéria-prima e a sustentabilidade.

Foram questionados arquitetos, engenheiros e industriários do setor, de várias regiões do

país e suas respostas foram avaliadas e agrupadas por conteúdo. Constatou-se a necessidade

do controle desde o manejo até o produto final e que a busca por novas alternativas e

tecnologias deve ser contínua, de forma a minimizar os impactos ambientais e suprir as

características de resistência, requinte e nobreza que a madeira proporciona.

Palavras-chave: Madeira. Sustentabilidade. Construção civil.

1. Introdução

Muito se tem falado sobre sustentabilidade nos dias de hoje, porém, pouco se conhece ou se

põe em prática esse conceito. A sustentabilidade nada mais é do que a utilização racional de

recursos naturais para satisfazer as necessidades atuais, sem que esse recurso comprometa as

futuras gerações.

Na vida moderna, todos os setores da economia dependem de um fluxo constante de

materiais, em um ciclo que começa na extração de matérias-primas naturais, e segue

em sucessivas etapas de transformações industriais, transporte, montagem,

manutenção e desmontagem final. (AGOPYAN E JOHN, 2011, p.74).

A madeira é um produto presente em quase todas as etapas das obras de construção civil. Seja

em fôrmas, estruturas, escoramentos, esquadrias, pisos, forros, revestimentos até a mobília

final, o uso da madeira ainda é indispensável para muitos arquitetos e engenheiros, por ser um

diferencial de beleza e sofisticação. A questão é: como aliar o uso da madeira com a

sustentabilidade?

Na tentativa de poupar o corte de árvores, buscam-se alternativas que muitas vezes são mais

prejudiciais ao meio-ambiente. Optar pelo uso de alumínio, plástico ou outros derivados do

petróleo, por exemplo, é um grande engano, pois estes produtos não são renováveis e nem

biodegradáveis.

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A devastação das florestas traz não só a perda da biodiversidade e outros danos à fauna e à

flora, mas reduz as áreas do planeta com grande potencial para contribuir com o combate ao

aquecimento global. Uma das formas de devastação da floresta é a extração de madeira ilegal.

Estima-se, através de imagens de satélite, que para cada hectare de madeira extraída segundo

um plano de manejo sustentável, outros 100 são desmatados ilegalmente.

Além da questão do aquecimento global é importante garantir que na sua cadeia produtiva a

madeira seja extraída de forma sustentável, com respeito aos direitos dos trabalhadores e a

identidade das comunidades. Em outras palavras, existe a responsabilidade de garantir que a

madeira exista sempre, que a riqueza que ela produz não empobreça as comunidades de onde

ela é extraída e que haja sustentabilidade em toda a cadeia produtiva.

Na região norte do Brasil, ainda é muito comum a utilização de madeira de lei, proveniente de

árvores centenárias da floresta. Pesquisas realizadas pelo Instituto Brasileiro do Meio

Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA indicam que entre 43% e 80% da

produção madeireira da região amazônica seja ilegal, advinda de áreas desmatadas ou

exploradas de forma predatória, sem o manejo adequado das áreas nativas.

Isso faz com que a produção de madeira no estado tenha um perfil bastante

semelhante ao dos demais estados da região: é oriunda, principalmente, do

desmatamento e do corte seletivo não sustentável, e desconhece-se quanto dela é

produzido legalmente. (MENEZES, 2005, p.11)

Ao se optar pela escolha de um produto, deve-se levar em conta várias características que

comprovam seu respeito ao meio-ambiente: disponibilidade da matéria-prima, impacto

ambiental na extração, transporte, utilização e demolição, eficiência na energia embutida,

durabilidade, manutenção, reutilização, reciclabilidade e os aspectos humanos. LEE (1998),

analisando o trabalho de Severiano Mário Porto, observa que o arquiteto desenvolvendo um

comportamento coerente com suas obras, teve a preocupação em aproveitar a potencialidade

da região, considerando as técnicas contemporâneas para buscar alternativas tecnológicas

mais adaptadas ecológica e socialmente à realidade regional.

Enfim, a sustentabilidade é a forma de promover uma busca de maior igualdade social,

valorização dos aspectos culturais, maior eficiência econômica e um menor impacto

ambiental, nas soluções adotadas nas fases de projeto, construção, utilização, reutilização e

reciclagem da edificação, visando à distribuição equitativa da matéria-prima, garantindo a

competitividade do homem e das cidades.

2. A madeira na construção civil

A madeira é um recurso insubstituível. Desde os primórdios da civilização ela sempre

desempenhou papel decisivo em todos os aspectos da vida. Através da construção de casas,

silos, estradas, pontes, teatros, templos e barragens, a humanidade desde a antiguidade vem

moldando a natureza de forma a desenvolver sua capacidade em edificar.

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As características únicas de beleza, charme, conforto térmico e acústico, fácil manuseio e

usinagem, leveza, fonte renovável, grande resistência mecânica, estabilidade e durabilidade

que só a madeira proporciona, fazem desde recurso uma opção indispensável em qualquer

projeto.

A tradição em arquitetura pode ser descrita como um conjunto de precedentes

conhecidos e de uso consagrado, parcialmente repetidos, parcialmente modificados,

dos quais o arquiteto se utiliza quando projeta um edifício. (...) que torna possível a

quem projeta ir direto às prioridades, poupando-lhe o trabalho de reinventar o que já

foi inventado. (STROETER, 1986, p.109)

Várias civilizações fizeram da madeira uma referência de sua história. Temos como exemplo

a arquitetura japonesa, com seus tradicionais pagodes e templos que fazem amplo uso desse

recurso. O templo budista Horyu-ji construído no ano 607 é considerado a construção de

madeira mais antiga do mundo.

Figura 1 – Templo Horyu-ji construído em 607 - Japão

Fonte: Wikipédia

A arquitetura dos países europeus também apresenta um vasto repertório. Fazia-se uso da

arquitetura vernacular, com madeira extraída dos vastos bosques da região. Tinham por

característica uma estrutura maciça e robusta, sem transparências, com a junção de troncos

empilhados.

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Figura 2 – Igreja da Dormição de 1674 - Rússia

Fonte: BDM

Nos Estados Unidos é quase unânime o uso do wood frame em residências. Trata-se de um

método construtivo industrializado que utiliza perfis de madeira reflorestada em sua estrutura

e destaca-se pela rapidez na sua execução.

Figura 3 – Sistema wood frame – Estados Unidos

Fonte: Wikipédia

No Brasil, os primeiros relatos de construções em madeira referem-se às malocas indígenas. A

arquitetura evoluiu para o uso predominante do concreto e aço e com isso criou-se a cultura

do preconceito com as casas de madeira, remetendo à populações de baixa renda, sendo bem

comum o seu uso em favelas da região sudeste, nos sertões do nordeste ou em casas

ribeirinhas no norte do país.

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Figura 4 – Moradias ribeirinhas da região amazônica – Brasil

Fonte: Gilberto Costa - Panoramio

3. Certificadoras

A grande necessidade do uso dos recursos naturais advindos da madeira, já se tornou alvo de

estudo de muitos órgãos ligados a estas indústrias. Diante dessa necessidade cada vez maior

em se buscar alternativas sustentáveis e da ânsia das grandes construtoras pela obtenção do

selo verde em suas obras, o mercado tem tornado indispensável a existência de certificadoras

que garantam tais atributos, indicando que não só o produto tem qualidade, mas que o

ambiente de onde ele foi extraído continua saudável.

A certificação florestal tem como fundamento a garantia dada ao consumidor de que

determinado produto é originário de manejo florestal ambientalmente adequado, socialmente

justo e economicamente viável. Ou seja, os produtos que têm o selo de certificação são

aqueles produzidos com madeira de florestas certificadas. Não cabe ao consumidor o

conhecimento e exigências técnicas de uma produção sustentável, ele precisa de uma

instituição confiável que garanta que aquele produto chegou até ele respeitando o meio

ambiente.

3.1 Selo FSC

O selo FSC – Forest Stewardship Council (Conselho de Manejo Florestal) é uma das

primeiras etapas na busca de um produto sustentável. Trata-se de uma organização

internacional não-governamental fundada em 1993, que objetiva o manejo correto e

responsável das florestas, garantindo a preservação dos recursos naturais e a sobrevivência

das comunidades locais. O FSC não emite certificados e sim credencia certificadoras no

mundo inteiro, garantindo que os certificados destas obedeçam aos seus princípios e critérios

de qualidade, adaptando-o para a realidade de cada região ou sistema de produção.

Apesar de ser um selo voluntário, 100% das grandes empresas nacionais fabricantes de

produtos provenientes de madeira já possuem esse certificado, o que demonstra a preocupação

das mesmas com a sustentabilidade, desde a busca de sua matéria-prima. É uma certificação

onerosa, mas que gera um amplo custo-benefício, pois o FSC já pode ser visto pelos

consumidores como um indício básico de que a empresa tem essa preocupação com o meio-

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ambiente. Já é possível inclusive, ver o selo FSC em embalagens de papel nas prateleiras de

supermercados, indicando que essa preocupação com a origem e preservação dos recursos já é

um diferencial na escolha de um produto pelo consumidor.

3.2 Cerflor

Fundado em 1996 pela Sociedade Brasileira de Silvicultura (SBS) em parceria com outras

entidades, o Cerflor – Programa Brasileiro de Certificação Florestal, também é um programa

voluntário desenvolvido em parceria com a ABNT e o Inmetro, que visa à certificação do

manejo florestal e da cadeira de custódia, segundo o atendimento dos critérios e indicadores,

aplicáveis para todo o território nacional.

3.3 PNQM

O PNQM – Programa Nacional de Qualidade da Madeira é um certificado desenvolvido pela

Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente – ABIMCI, que

visa o controle do processo produtivo, desde o recebimento da matéria-prima (toras e lâminas)

até a embalagem do produto final, sendo definidos parâmetros a serem verificados e critérios

de aceitação. O objetivo deste controle é disponibilizar ao mercado produtos com

especificações conhecidas, fabricados dentro de parâmetros controlados.

3.4 Marcação CE

O Certificado de Conformidade Européia (Marcação CE) é uma marca que indica que o

produto ao qual está afixada está em conformidade com as Diretivas de Segurança de

Produtos da União Européia. Desde 2004 a certificação CE está sendo exigida para painéis de

madeira, em todo o Espaço Econômico Europeu. É regido pela Norma Européia 13986 que

garante que os painéis de madeira aos quais se refere, podem ser utilizados em construção

como elementos estruturais. A diretiva estabelece requisitos essenciais para esses produtos,

com o objetivo de atender a determinados níveis de resistência mecânica, estabilidade,

durabilidade da colagem, baixas emissões de gás formaldeído, tolerâncias rigorosas quanto ao

tamanho e durabilidade da própria madeira.

3.5 ISO 14001

Criada para controlar os resíduos e evitar a poluição, permitindo uma convivência responsável

entre as empresas e o meio-ambiente, a ISO 14001 é um reconhecimento mundial de que uma

empresa cumpre rigorosos padrões para promover a proteção ambiental.

Com a ISO 14001, as empresas comprovam ter um compromisso ainda maior com a

conservação da biodiversidade. O primeiro passo é determinar a Política Ambiental da

empresa. O segundo é um processo contínuo de investimentos em ações para minimizar os

impactos ambientais, otimizar a utilização de fertilizantes químicos, reduzir a utilização de

agrotóxicos, recompor a vegetação dos fragmentos florestais, promover a conscientização nas

unidades vizinhas e estabelecer indicadores e verificadores de conservação da biodiversidade.

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3.6 Teco Tested

Os painéis com esta marca indicam que eles foram certificados de acordo com as exigências

do código de construção dos Estados Unidos para aplicações industriais e estruturais.

Portanto, arquitetos, engenheiros e construtores podem ter certeza de que quando os painéis

tiverem o selo da agência Teco, eles atendem às exigências da norma adequada.

4. Metodologia

A pesquisa foi feita com profissionais e indústrias do setor, com a intenção de conhecer e

analisar a preocupação e as ações desenvolvidas por ambos, na busca da sustentabilidade

direcionada à construção civil. Foi adotado o método de questionário, distintos para

profissionais e indústrias, enviado por e-mail, com quinze perguntas sobre o tema.

A escolha desses grupos se justifica pela representatividade dos mesmos para a construção

civil. Conforme critérios descritos por Levin (1985), a amostra escolhida é não-casual, do tipo

julgamento ou conveniência. As respostas foram categorizadas pela técnica de análise de

conteúdo e apresentaram os resultados relatados a seguir.

4.1 As Indústrias e a Sustentabilidade

Foram coletados os dados de vinte empresas nacionais, das variadas regiões do país, desde

multinacionais a pequenas empresas que trabalham com qualquer material proveniente do uso

de madeira.

32%

17%17%

17%

17%

Painéis e compensados Madeira ecológica

Madeira beneficiada Esquadrias

Madeira de demolição

Figura 5 – Ramo de atividade das indústrias pesquisadas

Foi comprovada a preocupação das empresas com a obtenção da matéria prima. Todas as

grandes fábricas de painéis e compensados possuem sua própria área de reflorestamento,

todas com certificação do selo verde FSC, garantindo o manejo correto de suas florestas e

comprovando o estudo de Zenid (2009), de que o Brasil tem a maior área certificada da

América Latina. Algumas empresas possuem mais de um certificado, demonstrando ainda

maior interesse e total comprometimento com o meio ambiente, conforme gráfico abaixo.

Apenas as pequenas empresas não possuem certificação, mas garantiram exigi-lo de seus

fornecedores.

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45%

11%11%

11%

11%11%

FSC CERFLOR CE TECO PNQM Não possui

Figura 6 – Certificação das indústrias

Dentre os fatores considerados impeditivos para a aceitação do mercado pelos produtos

alternativos aliados à sustentabilidade, os mais citados foram o custo e a cultura. O processo

de certificação, o manejo e o controle de poluentes na produção aumenta significativamente o

custo desses materiais, o que muitas vezes acarreta na escolha de produtos ilegais menos

onerosos. A cultura de muitas regiões tende a rejeitar a idéia de uso de madeiras ecológicas,

como a substituição de madeiras de lei por reflorestadas como o pinus e o eucalipto.

Infelizmente, muitos profissionais ainda acreditam que somente as madeiras nobres possuem

qualidade e resistência, mas já é possível encontrar no mercado espécies geneticamente

modificadas, que apresentam características semelhantes, sem agredir as florestas nativas.

De um modo geral, observa-se que o mercado já exige das indústrias de madeira um produto

com o diferencial da sustentabilidade. A empresa que deseja manter-se competitiva no

mercado, precisa obrigatoriamente, procurar a certificação e garantir aos seus clientes que os

impactos ambientais provenientes do processo de fabricação de seus produtos não agridem o

meio-ambiente e agregam valor ao seu projeto.

4.2 Os Profissionais e a Sustentabilidade

Foram coletados os dados de dezessete profissionais, entre arquitetos e engenheiros, das

regiões norte e sul do país, nos percentuais indicados na Tabela 1. O principal objetivo era

conhecer a opinião dos mesmos sobre sustentabilidade e de que forma estes profissionais

estão incorporando esse conceito em seus projetos e obras.

Tabela 1 – Grupo de profissionais pesquisados

Profissionais Quantidade Percentual

Arquiteto

Engenheiro Civil

9

7

53%

41%

Engenheiro Florestal 1 6%

Total 17 100%

Fonte: Rosanne Araújo (2012) Felizmente a consciência da sociedade sobre esta questão tem avançado bastante. Por conta

disso, os clientes tendem a solicitar cada vez mais dos arquitetos e engenheiros, alternativas

sustentáveis para aplicação em seus projetos. Esse número ainda é pequeno se considerarmos

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a importância do assunto. Alguns órgãos públicos já têm optado pela adoção desse sistema, o

que estimula a população ao ver que o conceito pode dar certo.

A construção civil utiliza basicamente materiais não renováveis, logo, por si só não é

sustentável. O que se pode trabalhar é a redução dos desperdícios, o controle desde a origem

do processo produtivo de cada produto utilizado, a busca de materiais ecologicamente

corretos e certificados e a eficiência energética.

A grande maioria dos profissionais consultados têm consciência da importância da

sustentabilidade para a construção civil, mas também concordam que na prática, pouco tem

sido feito. Muitos atribuem essa escassez ao elevado custo dos produtos com rótulo

sustentável, outros admitem que as alternativas disponíveis no mercado, não garantem a

mesma qualidade que os produtos de origem nativa.

Ao serem questionados sobre os fatores que os influenciam a especificar um produto para seu

projeto ou obra, foi constatado que os arquitetos se preocupam mais com a sustentabilidade e

a estética, enquanto os engenheiros valorizam a qualidade e o preço. Ainda nesse quesito, foi

possível identificar que os profissionais da região sul têm maior preocupação com a

sustentabilidade, enquanto os da região norte priorizam a qualidade dos produtos. O estudo

indica que esse posicionamento se deve ao fato de a região sul do país disponibilizar uma

gama maior de produtos no mercado e da proximidade com as grandes indústrias. No oposto,

a região norte sempre fez uso das madeiras nobres e resistentes. Segundo Espósito (2007), em

função das dificuldades de cada região, os arquitetos tendem a aproveitar os recursos naturais

e materiais locais, bem como a mão de obra típica, adaptados ao contexto onde a obra está

inserida.

19 18 20 1913 11

1813

9

2024

16

0

5

10

15

20

25

30

Qualidade Preço Sustentab. Estética Marca Outros

Arquitetos Engenheiros

Figura 7 – Grau de importância para a escolha de um produto (%)

Fonte: Rosanne Araújo (2012)

Os profissionais fizeram questão de frisar que a madeira é um item indispensável em qualquer

obra. Seja pela beleza, qualidade, durabilidade, propriedades térmica e acústica,

trabalhabilidade e custo, a madeira se adapta às mais variadas formas de uso. Com base nesses

aspectos, os profissionais esperam das indústrias novidades e tecnologias constantes, que

favoreçam a aplicação em novos projetos, como destacado por Agopyan e John (2011) ao

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afirmarem que a inovação é imprescindível para a sustentabilidade na construção civil.

5. Produtos de madeira sustentável

As indústrias já disponibilizam no mercado diversas opções de produtos derivados de madeira

certificada, que podem adaptar-se aos mais variados projetos e usos. Abaixo segue relação

com alguns materiais de uso mais comum.

Painéis de MDF (Medium Density Fiberboard) e derivados: amplamente usados na

indústria moveleira, substituindo com extrema qualidade e resistência a madeira maciça.

São fabricadas através da aglomeração de fibras de madeira com resinas sintéticas e outros

aditivos. Apresentam inúmeras opções de acabamento. São fabricadas obedecendo

rigorosos critérios de qualidade e utilizam 100% de madeira certificada como matéria-

prima.

Figura 8 – Painéis de MDF

Fonte: Portal da Madeira

Madeira ecológica: produto rotulado ecologicamente correto, pois tem como matéria-prima

principal resíduos plásticos descartados pela indústria e lascas de madeira oriundas de

serrarias legalizadas. Possui alta resistência e dispensam manutenção. São utilizadas em

revestimentos externos, fachadas, rodapés, decks e paisagismo.

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Figura 9 – Madeira ecológica

Fonte: Madeplast

Laminados: revestimentos para aplicação nos painéis de MDF, com textura e padrões

imitando madeira, de fácil aplicação e com maior durabilidade e resistência que as lâminas

naturais. Dispensa aplicação de pintura e podem ser aplicados em áreas externas, sem

comprometer sua qualidade e aparência.

Figura 10 – Laminados de madeira

Fonte: Formica

Painéis estruturados: revestimentos laminados compactos, autoportantes, indicados para

uso em prateleiras, divisórias convencionais e sanitárias, portas, móveis, entre outros.

Possui estabilidade dimensional, alta resistência ao desgaste, umidade, impacto, calor e

manchas. Já vem sendo empregadas em banheiros públicos de shoppings, aeroportos e

áreas de grande público.

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Figura 11 – Divisórias em painéis estruturados

Fonte: Neocom

Pisos laminados: material de grande durabilidade e resistência, excelente acabamento,

conforto ambiental, fabricado com madeira de reflorestamento, não degrada o meio

ambiente e proporciona sofisticação aos ambientes. Indicados para áreas internas, quartos,

salas e escritórios, conservam a sensação térmica dos cômodos.

Figura 12 – Pisos laminados

Fonte: Eucatex

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Esquadrias: fabricadas com madeira laminada certificada, ótimo padrão de acabamento,

mais leve que as esquadrias maciças e com excelente resistência.

Figura 13 – Esquadrias laminadas

Fonte: Fuck SA

Nota-se que é bem extensa a gama de produtos com apelo ecológico que o mercado dispõe

aos seus clientes. Boa parte desses produtos já vêm sendo incorporados pelos profissionais,

mas muitos ainda esbarram no custo elevado.

É imprescindível que haja a cobrança cada vez maior dos arquitetos e engenheiros para com

as indústrias, forçando a certificação de mais empresas e ampliando o universo de

possibilidades aprimoradas tecnologicamente para aplicações no uso da madeira, que possam

agregar valor aos projetos e torná-los cada vez mais sustentáveis.

6. Conclusão

A exploração de recursos florestais, notadamente de madeiras, assume especial importância

no contexto da sustentabilidade. A maior parte da madeira extraída no Brasil de modo

sustentável é exportada. Internamente, o país carece de políticas de incentivo direto ao

consumo de produtos da indústria madeireira, produzidos com base em práticas que

conjuguem as atividades econômicas e a preservação ambiental. Em geral, o consumidor

interno prefere comprar madeira mais barata, o que fomenta uma cadeia produtiva predatória,

com efeitos negativos sobre o meio ambiente.

É preciso que haja mudança de hábitos, de padrões e de políticas na forma de tratar o meio

ambiente, que cada um faça a sua parte para alcançarmos os resultados necessários.

Embora as legislações ambientais sejam razoavelmente adequadas, faltam normas que

incentivem o consumo de bens e serviços elaborados segundo práticas ambientalmente

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sustentáveis, socialmente justas e, ainda assim, economicamente viáveis. Nesse contexto, é

inegável o papel dos arquitetos e engenheiros na indução de comportamentos sintonizados

com o imperativo do desenvolvimento sustentável.

Os dados obtidos mostram que a indústria tem sido a grande responsável pela mudança de

comportamento, ao disponibilizar no mercado produtos certificados e ecologicamente

corretos. Cabe aos profissionais optar pela inclusão desses produtos em seus projetos e obras,

apresentando aos clientes as vantagens de se adotá-los, contribuindo para o bem estar geral do

planeta e das futuras gerações. É imprescindível a realização de mais estudos sobre o assunto,

estimulando um conhecimento mais aprofundado e abrangendo um maior número de

profissionais, que são os responsáveis por aplicar na prática todo esse conceito.

Referências

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Disponível em: http://www.abimci.com.br/certificacao_ce/certificacao_ce.html . Acesso em:

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