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Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo 446 EIXO TEMÁTICO: ( ) Biogeografia e a Paisagem ( ) Biogeografia e as Mudanças Climáticas ( ) Biogeografia e a Educação Ambiental ( ) Biogeografia e Saúde ( ) Biogeografia Histórica ( X) Biogeografia e Conservação ( ) Biogeografia e Agronegócio ( ) Biogeografia e Agroecologia ( ) Biogeografia e SAFs Conservação e Reabilitação de Pinguins migratórios (Spheniscus magellanicus) nos litorais brasileiros. Conservation and Rehabilitation of Migratory Penguins (Spheniscus magellanicus) on Brazilian coastlines. Conservación y rehabilitación de pingüinos migratorios (Spheniscus magellanicus) en las costas brasileñas. Giorgio da Silva Grigio Graduando, UNINOVE, Brasil. [email protected] Rute Britto do Nascimento Graduando, UNINOVE, Brasil. [email protected] Vitor Florido Aragon Graduando, UNINOVE, Brasil. [email protected]

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EIXO TEMÁTICO: ( ) Biogeografia e a Paisagem ( ) Biogeografia e as Mudanças Climáticas ( ) Biogeografia e a Educação Ambiental ( ) Biogeografia e Saúde ( ) Biogeografia Histórica ( X) Biogeografia e Conservação ( ) Biogeografia e Agronegócio ( ) Biogeografia e Agroecologia ( ) Biogeografia e SAFs
Conservação e Reabilitação de Pinguins migratórios (Spheniscus magellanicus) nos litorais brasileiros.
Conservation and Rehabilitation of Migratory Penguins (Spheniscus magellanicus) on Brazilian
coastlines.
Giorgio da Silva Grigio Graduando, UNINOVE, Brasil.
[email protected]
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RESUMO Com o intuito de apresentar o desenvolvimento de metodologias de conservação e entender as migrações da espécie Spheniscus magellanicus, este trabalho, por meio do levantamento bibliográfico visará explicar o projeto e o programa nacional, responsáveis pelo monitoramento, preservação, tratamento, soltura e mitigação dos impactos antrópicos sob os encalhes e mortes de pinguins nos litorais brasileiros. Os Pinguins-de-Magalhães, espécie Spheniscus magellanicus, objeto de estudo deste trabalho, são endêmicos da região sul da América do Sul, e encontram-se quase ameaçados de extinção por prováveis causas antrópicas que interferem no seu habitat natural de modo direto ou indireto, e deste modo causam grandes perdas populacionais. Possuem hábitos migratórios em direção aos litorais sul e sudeste brasileiros, e são encontrados pelas populações costeiras debilitados ou até mesmo mortos, sendo assim, por necessitam de cuidados e atenção especial com objetivo de conservar e não causar mais danos populacionais e na cadeia trófica da espécie, faz-se necessário medidas de acompanhamento e monitoramento das rotas migratórias, causas dos encalhes e da mortes, e levantamento de dados quantitativos de ocorrências e aparecimentos por parte das agências governamentais, ONGs e empresas privadas do território brasileiro que exercem atividades costeiras e marítimas. PALAVRAS-CHAVE: Spheniscus magellanicus, Pinguins-de-Magalhães, conservação, pinguins, rotas migratórias. ABSTRACT In order to present the development of conservation methodologies and understand the migrations of the species Spheniscus magellanicus, this work, through the bibliographic survey will aim to explain the project and the national program, responsible for monitoring, preservation, treatment, release and mitigation of impacts humans under stranding’s and penguin deaths on Brazilian coastlines. The Magellanic Penguins, species Spheniscus magellanicus, object of study of this work, are endemic to the southern region of South America, and are almost threatened with extinction due to probable anthropic causes that interfere in their natural habitat in a direct or indirect way, and in this way, they cause great population losses. They have migratory habits towards the southern and southeastern coast of Brazil, and are found by coastal populations weakened or even killed, therefore, because they need special care and attention in order to conserve and not cause further damage to the population and the trophic chain of the species., measures to accompany and monitor migratory routes, causes of stranding’s and deaths are necessary, and a survey of quantitative data on occurrences and appearances by government agencies, NGOs and private companies in the Brazilian territory that exercise coastal and maritime activities. KEYWORDS: Spheniscus magellanicus, Magellanic Penguins, conservation, penguins, migratory routes. RESUMEN Con el fin de presentar el desarrollo de metodologías de conservación y comprender las migraciones de la especie Spheniscus magellanicus, este trabajo, a través del relevamiento bibliográfico, tendrá como objetivo explicar el proyecto y el programa nacional, responsable del monitoreo, preservación, tratamiento, liberación y mitigación de impactos. humanos varados y muertes de pingüinos en las costas brasileñas. Los pingüinos de Magallanes, especie Spheniscus magellanicus, objeto de estudio en este trabajo, son endémicos de la región sur de América del Sur, y se encuentran casi amenazados de extinción por probables causas antrópicas que interfieren en su hábitat natural de forma directa o indirecta., y de esta forma provocan grandes pérdidas de población. Tienen hábitos migratorios hacia la costa sur y sureste de Brasil, y son encontrados por poblaciones costeras debilitadas o incluso muertas, por lo tanto, necesitan cuidados y atenciones especiales para conservar y no causar mayores daños a la población y cadena trófica de la especie., son necesarias medidas de acompañamiento y seguimiento de rutas migratorias, causas de varamientos y muertes, y un relevamiento de datos cuantitativos sobre ocurrencias y apariciones de organismos gubernamentales, ONG y empresas privadas en el territorio brasileño que ejercen actividades costeras y marítimas. PALABRAS CLAVE: Spheniscus magellanicus, Pingüinos de Magallanes, conservación, pingüinos, rutas migratorias.
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1. INTRODUÇÃO
Atualmente é aceito que estão ocorrendo mudanças climáticas e que por consequência, está afetando
a biodiversidade da fauna e flora global. Por conta do crescimento da atividade humana, muitos
poluentes que são lançados na atmosfera acabam alterando a qualidade da vida marinha (DONEY, et
al, 2011). Além das mudanças climáticas causarem alterações na temperatura e química da água do
mar, tais fatores acabam por alterar as funções fisiológicas e comportamentais de muitas espécies
marinhas, além de causar efeitos demográficos em produtores primários, assim, desequilibrando toda
a cadeia trófica marinha (DONEY, et al, 2011).
Um grupo de animais altamente ameaçado pelas mudanças climáticas são as aves marinhas, pois
sofrem de estresse fisiológicos por conta de escassez de alimento e poluição, desenvolvimento
costeiro antrópico incluindo a pesca, perda e degradação de habitat por espécies invasoras (SYDEMAN,
et al, 2012). As aves aquáticas, como pinguins, são altamente dependentes da estabilidade nos
ecossistemas marinhos, em decorrência das correntes marítimas que são utilizadas para realizar as
migrações (SIMEONE, et al, 2003).
A espécie Spheniscus magellanicus, conhecida como Pinguim-De-Magalhães, faz parte da Red List da
International Union for Conservation of Nature – IUCN, o que evidencia seu decaimento populacional
devido aos impactos ambientais, antrópicos e climáticos.
Endêmica e distribuída por toda a região costeira sul da América do Sul e nas Ilhas Malvinas, realizam
migrações para se alimentarem e se protegerem do inverno (PÜTZ, et al, 2000). Colônias grandes de
Pinguins-de-Magalhães de Punta Tombo, Argentina, e das Ilhas Falkland/Malvinas, migram para o
norte no inverno, até chegarem às praias brasileiras (PÜTZ, et al, 2007).
2. OBJETIVO
O artigo tem como objetivo geral, compreender a biogeografia e as migrações da espécie Spheniscus
magellanicus e analisar as medidas de conservação e monitoramento das espécies nos litorais
brasileiros.
3. METODOLOGIA / MÉTODO DE ANÁLISE
A metodologia para o desenvolvimento deste trabalho foi baseada na pesquisa bibliográfica acerca do
tema de interesse, em artigos científicos, documentos, fotografias e informações disponíveis nas
plataformas digitais. Neste trabalho, sobre os Pinguins-de-Magalhães a sua migração anual e a
conservação a espécie no litoral brasileiro, a pesquisa bibliográfica foi realizada com a utilização das
palavras-chave: “Pinguins-de-Magalhães”, “Spheniscus magellanicus”, ”migrações”, “programas de
monitoramento Pinguins-de-Magalhães” com o objetivo de obter informações e dados relevantes para
demonstrar a importância da preservação da espécie Pinguim-de-Magalhães (Spheniscus
magellanicus), por meio de ações de acolhimento, triagem, tratamentos veterinários, alimentação,
anilhamento, e retorno a vida livre.
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O Pinguim-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus), é uma ave marinha da família dos Spheniscidae,
da ordem Sphenisciformes ou Ciconiformes. Derivada do grego, spheniskos (σφηνσκος, σηνσκος) e
significa cunha ou machado. Provavelmente pela forma da asa, similar a aleta, ou pelo formato do
corpo, ou ainda pela forma do mergulho, quando perfura o mar. A palavra pinguim deriva do latim
“pinguis” que significa gordura; ou de “pin-wing” asas pequenas. Conhecidos popularmente por pato-
marinho, vivendo em populosas colônias na Argentina, Ilhas Falkland (Malvinas), Uruguai, Peru e Chile,
mas realizam anualmente movimentos migratórios para o Brasil, durante o inverno sul americano
(MAFALDA, 2020 e STOKES, 2014).
Os Pinguins-de-Magalhães medem de 65 a 75 cm e 4,5 a 6 kg de peso e um corpo fusiforme. Recobertos
por um tipo modificado de pena, a maior parte dos exemplares apresenta na cabeça uma faixa branca,
que passa por cima das sobrancelhas, contorna as orelhas e se une anteriormente no pescoço; partes
inferiores brancas com uma faixa negra e fina contornando o peito e a barriga anteriormente. As patas
possuem membranas interdigitais, que auxiliam no nado, chegando a 40 km/h. Normalmente os
Pinguins-de-Magalhães vivem entre 15 e 20 anos (WIKIAVES, 2018).
Figura 1: Pinguins-de-Magalhães
Os Pinguins-de-Magalhães realizam anualmente movimentos migratórios para o Brasil, percorrendo
rotas pela plataforma continental, afastadas até 100km do continente, durante o inverno sul
americano, de maio a agosto, quando as temperaturas muito baixas atingem as áreas de nidificação.
Normalmente eles migram para o litoral do Rio Grande do Sul, podendo chegar até o Pernambuco. Em
2008, devido às águas mais frias e a escassez de alimento, foi registrado a arribada de Pinguins-de-
Magalhães quase na linha do Equador (WIKIAVES, 2018).
As migrações acabam sendo uma viajem cheia de problemas, pois o estado de conservação e os
impactos ambientais nos oceanos, impõem às populações de pinguins migratórios transtornos para a
saúde e bem estar dos indivíduos, como a falta de alimentos, excesso de poluentes (plásticos e papel),
trânsito de embarcações e principalmente os vazamentos de petróleo (PINTO, et al, 2006 e MÄDER, et
al, 2010).
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Fonte: ecosystemsentinels.org
Segundo Mäder (2010), que conduziu um estudo sobre as dietas dos Pinguins-de-Magalhães,
utilizando estômagos coletados em carcaças de animais encontrados mortos em praias do norte do
Rio Grande do Sul:
Foram analisados 65 conteúdos gástricos de pinguins jovens em boas
condições (carcaças frescas). Em torno de 18% não apresentam itens
alimentares, e estes apresentaram umas grandes quantidades de parasitos
estomacais. Em 6% das amostras havia a presença de petróleo no estômago.
Os itens antrópicos mais encontrados foram nibs e snips (partículas naturais
do plástico e produto utilizado para limpeza de navios) (49,4 %) e o plástico
que foi bastante presente nas amostras (19%). No total 62.3 % apresentavam
itens de origem antrópica (MÄDER, et al, 2010).
Percorrendo longas jornadas chegam ao território brasileiro em diferentes regiões do litoral, muitos
chegam debilitados, doente e alguns mortos, assim o governo brasileiro criou programas de
monitoramento e muitas instituições distribuídas ao longo do litoral brasileiro, recebem essas aves,
desenvolvem ações para a recuperação e retorno ao oceano Atlântico.
Atualmente possuímos dois programas de monitoramento dos Spheniscus magellanicus, sendo eles o
do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) do Ministério do Meio
Ambiente (MMA) chamado de Projeto Nacional de Monitoramento Do Pinguim-De-Magalhães e o
outro é o Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS), licenciado pelo Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) do Ministério do Meio
Ambiente, porém possui alguns projetos de empreendimentos com a Petrobras.
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O Projeto Nacional de Monitoramento do Pinguim-De-Magalhães tem por objetivo zelar pela
conservação da avifauna, e essa espécie de ave marinha está classificada como “Quase Ameaçada de
Extinção” (IUCN, 2018). Com intuito de ampliar o conhecimento da conservação em prol da
fomentação de pesquisas, reabilitação e soltura, e monitoramento, possibilitando a contribuição
cientifica biológica de uma espécie migratória (ICMBio e MMA). Este projeto desenvolveu cartilhas e
boletins para avaliação das atividades desenvolvidas através do monitoramento, de modo a incentivar
e demonstrar a importância da preservação da espécie uma vez que ela possui grande contato com os
humanos nas bacias e encostas marinhas dos estados do Sul e Sudeste do Brasil.
Os Boletins de Pinguins no Brasil 1 e 2, do projeto do ICMBio, publicado em abril e outubro de 2011,
apresenta detalhes do manual de campo desenvolvido para colheita e armazenamento de informações
e amostras biológicas dos Pinguins-de-Magalhães e do monitoramento das migrações e estado físico
dos animais. Trabalhos científicos desenvolvidos a partir de amostras sanguíneas dos pinguins,
possibilitou a identificação de hemoparasitoses que podem estar correlacionados com a não aptidão
reprodutiva, debilitação física e desta forma com a redução populacional e extinção da espécie, e
também trabalhos desenvolvidos com as amostras estomacais e dados físicos corpóreos dos animais
demonstraram que alguns indivíduos estão mudando seu comportamento migratório, predatório e
tendo bem mais contato com os humanos no decorrer de suas rotas migratórias, de modo a encontrar
partículas de plástico e petróleo no interior do estômago de alguns pinguins encalhados (MÄDER et al.
2010), além da perda de gordura e massa corpórea devido ao grande gasto energético pela competição
alimentar devido aos altos índices de pesca de anchoíta (Engraulis anchoita), principal fonte alimentar
dos pinguins. A publicação destes boletins providos pelo programa em conjunto com o ICMBio,
demonstra mais uma vez, que o monitoramento das migrações e resgate dos indivíduos atracados nos
litorais brasileiros é importante para acompanhamento e reabilitação das populações destes animais.
Todo e qualquer indivíduo resgatado deverão passar por exames e tratamentos e posteriormente
deverão ser direcionadas ao Centro de Recuperação de Animais Marinhos (CRAM) na cidade de Rio
Grande, que é gerenciada pela Universidade Federal do Rio Grande Sul – UFRG, um hospital dedicado
à reabilitação de animais como: pinguins, gaivotas, tartarugas, lobos e leões marinhos, e que está
diretamente ligada a reabilitação e reintrodução desta espécie de pinguins em vida livre (PROJETO
NACIONAL DE MONITORAMENTO DO PINGUIM-DE-MAGALHÃES, 2011).
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Fonte: Acervo CEMAVE, Boletim número 1 Pinguins no Brasil, 2011.
Figura 4: Carcaça petrolizada encontrada no Rio Grande do Sul em 2008 (Foto Aurélea Mäder).
Fonte: Boletim número 1 Pinguins no Brasil, 2011.
O Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS), possui por objetivo o
acompanhamento da interferência das atividades petrolíferas sobre a fauna marinha dos litorais dos
estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e do Rio de Janeiro, através do monitoramento das praias
e do atendimento veterinário aos animais vivos e mortos. O PMP-BS tem caráter regional e está
relacionado a alguns processos de licenciamento ambiental da Petrobras na Bacia de Santos
(PETROBRAS, 2020).
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Figura 5: Mapa de monitoramento e postos de atendimento PMP-BS.
Fonte: Comunicação Bacia de Santos, PETROBRAS, 2020.
As atividades realizadas pelo projeto da Bacia de Santos e a Petrobras, visa o resgate e atendimento
dos animais debilitados encontrados nos litorais, os animais vivos encontrados pelas equipes de campo
são avaliados, para que seja realizado diagnóstico preliminar dos indivíduos, caso necessidade de
atendimento veterinário os mesmos são direcionados para uma das 14 instalações da rede de
atendimento distribuídas entre Laguna (SC) e Araruama (RJ). As bases de atendimento oferecem
tratamento completo e reavaliações para atestar se os animais resgatados estão aptos a serem soltos,
e a soltura ocorrerá após marcação dos indivíduos, permitindo assim acompanhamento e histórico
clínico e migratório caso o animal reapareça nos litorais brasileiros (PETROBRAS, 2020).
As atividades voltadas para os animais que são encontrados mortos ou contaminados por petróleo, se
dá pela rede veterinária composta por sete Centros de Reabilitação e Despetrolização de Animais
Marinhos (CRD) localizados nos municípios de Araruama (RJ), Angra dos Reis (RJ), Ubatuba (SP),
Guarujá (SP), Cananéia (SP), Pontal do Paraná (PR) e Florianópolis (SC); seis Unidades de Estabilização
de Animais Marinhos (UE), localizados no Rio de Janeiro (RJ), São Sebastião (SP), Praia Grande (SP), São
Francisco do Sul (SC), Penha (SC) e Laguna (SC), além da base de apoio no Parque do Superagui (PR), e
uma Unidade de Necropsia de Mamíferos Marinhos, localizada no Rio de Janeiro (RJ), o objetivo do
monitoramento e necropsia, é para avaliar os impactos antrópicos sobre a avifauna marinha, de modo
a detectar se a pesca, embarcações e vazamentos de óleos estão interferindo nas rotas migratórias
dos animais, níveis populacionais e possível impacto que está correlacionado ao risco de extinção da
espécie (PETROBRAS, 2020).
Para viabilizar o monitoramento e compilar os resultados dos estudos realizados para conservação e
preservação da fauna marinha, o PMP-BS disponibiliza anualmente relatórios das atividades do
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projeto. O relatório de dezembro de 2019, 4° Relatório Técnico Anual do Projeto de Monitoramento
de Praias da Bacia de Santos – Área SC/PR, possui o período de referência de setembro/2018 a
agosto/2019, e o resultado do mesmo demonstra que o Pinguim-de-Magalhães é uma das espécies
alvo do projeto. O monitoramento tanto terrestre quanto embarcado demonstrou que 91,3% de todos
os animais encontrados estavam mortos, e que o acionamento do projeto para aves vivas em âmbito
geral foi frequente como nos demais anos, o que evidencia que as aves marinhas tiveram mais relatos,
sendo 9.667 exemplares de 43 espécies.
Foi registrada a alta presença dos Pinguins-de-Magalhães no litoral paranaense, durante o período do
monitoramento. Das ações tomadas pelos parceiros do projeto, foram realizadas 3.456 necropsias de
indivíduos das espécies alvo do projeto, onde 650 animais precisaram passar por reabilitação e dos
demais 2.806 indivíduos, 55,8% foram de aves já encontradas mortas nos litorais. Inúmeras análises
foram realizadas para constatar se as mortes foram por ações antrópicas ou naturais, porém do total
de indivíduos já encontrados mortos, somente em 738 indivíduos foi possível identificar a causa da
morte (PMP-BS, 2019), sendo a mais frequente a de morte natural (afogamento e parasitismo são as
principais causas encontradas). O relatório do PMP-BS explica que a impossibilidade de estabelecer
uma causa da morte dos demais animais, varia com o estágio de decomposição dos corpos
encontrados.
O relatório demonstra que ações antrópicas também influenciou no óbito das espécies alvo do
programa. Foram registrados 27 animais banhados a óleo, deste 24 eram aves, e deste total 14 eram
Spheniscus magellanicus, ou seja, Pinguins-de-Magalhães. A maior incidência de animais oleados
ocorreu em setembro de 2018 (n = 11), sendo que a maior parte ocorreu no Paraná (n = 8) e norte de
Santa Catarina (n = 3), e sendo todos pinguins-de-Magalhães (PMP-BS, 2019).
Figura 6: Pinguim coberto de óleo foi achado na Baía de Guanabara
Fonte: O Globo, 2012.
De acordo com o relatório de atendimento veterinário do Projeto de Monitoramento de Praias da
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Bacia de Santos, de animais vivos, mostrou diferenças nas taxas de reabilitação, variando de 32,9%
para aves, 25,5% em tartarugas marinhas e 47,1% em mamíferos marinhos, sendo estes últimos os
que responderam melhor a reabilitação. O relatório informa que a avaliação do Índice de Saúde - IS
(utilizado para indicar o estado geral de saúde dos exemplares necropsiados) mostrou que, ao
comparar todo o período do PMP-BS (2015 a 2019), é possível observar que para as três classes há
uma tendência de melhora (redução) dos valores médios de IS do Litoral Paranaense até o Litoral Sul
Catarinense, apesar de haver considerável sobreposição dos desvios padrões.
Possíveis causadores de encalhes e mortes em pinguins é a presença de Poluentes Orgânicos
Persistentes (POPs), que de acordo com o Ministério do Meio Ambiente são substâncias químicas
utilizadas como agrotóxicos e para fins industriais, com características de alta persistência no
organismo dos seres vivos. Um estudo salientou a presença de muitos POPs no organismo desta
espécie de pinguins encontrados no Brasil e Chile, fazendo que os animais ficassem em baixas
condições alimentares ou mortos (BALDASSIN et al. 2016). Todo o sistema de monitoramento
proporcionado por esses projetos e programas em conjunto com as diversas ONGs, permite uma
educação ambiental as populações humanas envolvidas, além da possibilidade do aprofundamento
científico e biológico para a conscientização, conservação, preservação e reabilitação das aves
marinhas como os Pinguins-de-Magalhães e outras espécies alvos dos projetos.
5. CONCLUSÃO
Ficou evidenciado por meio da presente pesquisa a importância que precisa ser dada aos Pinguins-de-
Magalhães (Spheniscus magellanicus), pois, se tratando de uma espécie em processo intermediário de
extinção, mesmo não sendo endêmica do Brasil, ela anualmente migra para os litorais brasileiros, em
busca de alimento e melhores temperaturas, merecendo receber os cuidados necessários à sua
sobrevivência.
Mesmo existindo programas específicos de monitoramento e muitas instituições trabalhando em prol
desses animais, é necessária a intervenção das políticas públicas na causa, no sentido de ampliar o
incentivo na criação de novas instituições tanto para pesquisa como para o recebimento desses
animais, bem como, a manutenção e o aprimoramento das existentes, por meio de investimentos
públicos e privados, não podendo esquecer também, o trabalho de conscientização da sociedade em
geral, sobre a preservação da espécie visitante.
Portanto, só com uma estrutura nacional preparada para a conservação da espécie, onde se realiza
ações de monitoramento, resgate, triagem, identificação, alimentação, cuidados veterinários e retorno
ao mar, que os Pinguins-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus), terão uma oportunidade melhor de
sobreviver e sair do atual perigo de extinção.
6. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
BIRDLIFE INTERNATIONAL. 2018. Spheniscus magellanicus. The IUCN Red List of Threatened Species 2018: e.T22697822A132605485.
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