conhecer para cuidar síndrome mão-pé

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Conhecer para Cuidar Síndrome Mão-Pé Raquel Caldeira Sanches Enfermeira Oncologista Centro Pauista de Oncologia CPO Membro do NEO - Unifesp [email protected]

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Conhecer para Cuidar

Síndrome Mão-Pé

Raquel Caldeira Sanches Enfermeira Oncologista

Centro Pauista de Oncologia – CPO

Membro do NEO - Unifesp

[email protected]

Definição Síndrome Mão-Pé “Hand-Foot Syndrome”

Eritrodisestesia Palmo-Plantar ou Eritema Acral

• Descrito em 1974, associada ao uso do Mitotano para tratamento de carcinoma renal.

• Escassez de literatura em lingua portuguesa sobre o tema.

Efeito adverso cutâneo induzido por alguns fármacos

quimioterápicos antineoplásicos e caracterizado por

eritema doloroso que atinge predominantemente

palmas das mãos e solas dos pés

Impacto

negativo na

qualidade de

vida

Prejuízo na qualidade de vida:

• Causa dor;

• Afeta diretamente atividades como

andar e segurar objetos;

• Reduz índices de aderência ao

tratamento antineoplásico.

Embora incomum, casos mais graves podem

levar a infecções locais e generalizadas,

gerando riso à vida do paciente.

Agentes Causadores

Ocorrências menos frequentes relacionadas à

Citarabina, Ciclofosfamida, Paclitaxel, Docetaxel, Etoposide, Vinorelbina,

Metrotexato, Daunorubicina, Mercaptopurina, Tegafur e Hidroxiureia

Agentes citotóxicos mais frequentemente associados ao desenvolvimento da HFS são:

Capecitabina, Doxorrubicina Lipossomal Peguilhada (DLP) e 5-fluorouracil (5-FU)

Dose

Limitante

Incidência • Varia de acordo com o fármaco, mas de modo geral

ocorre em 6 a 64% dos pacientes em quimioterapia.

o Capecitabina: maior número de casos, 50% a 60%

o 5-Fluoracil: 13% na infusão em bolus e 35% em

infusão continua

o Doxorrubicina Lipssomal Peguilhada: 40 a 60% dos

pacientes

o Sunitinibe e a Sorafenib (Inibidres de Tirosina

Quinase)foram reconhecidos como importantes

agentes causadores, com incidência de 10 a 28%

e 10 a 62%, respectivamente

Sabe-se que esta reação ocorre predominantemente nas

solas dos pés e palmas das mãos, porém, áreas como

axilas, virilhas, parte posterior de joelhos e cotovelos,

cintura, linhas de dobras do pulso, dobras dos seios e

região sacral podem ser acometidas.

Dose Dependente

Pico de concentração do fármaco citotóxico

Total de dose acumulada nas

consecutivas aplicações

Fisiopatologia

• A fisiopatologia não esta totalmente elucidada.

• Alterações histológicas similares independente do

agente causador:

o degeneração vacuolar das células da camada

basal,

o necrose de queratinocitos,

o dilatação dos vasos sanguíneos,

o edema papilar dérmico,

o espongiose discreta,

o infiltração linfo-histiocítica,

o separação parcial da epiderme e da derme

• Tais achados histológicos sugerem duas possíveis

teorias fisiopatológicas:

Relacionada somente ao metabolismo do 5-FU e da Capecitabina.

Propõe uma resposta “enxerto versus hospedeiro”.

Células cujas membranas forem alteradas pela droga seriam

reconhecidas como estranhas e atacadas pelo sistema imunológico

Mais aceita entre especialistas, sugere uma ação tóxica direta

em regiões especificas por diversos mecanismos:

• A elevada concentração de enzimas envolvidas no metabolismo dos quimioterápicos, nos queratinócitos, resulta

na inflamação da pele.

• As palmas das mãos e plantas dos pés têm grande

concentração de glândulas écrinas, sugerindo que o

acúmulo de drogas seja pelo transporte da droga ou seus

metabolitos através do suor, causando dano aos tecidos

locais.

• A rápida divisão celular da pele de regiões acrais, ausência

de folículos capilares ou glândulas sebáceas, elevado

numero de papilas dérmicas e a frequente pressão exercida

sobre essas áreas, resultariam em rupturas capilares,

extravasando quimioterápico no interstício

Sinais e Sintomas

Disestesia com ou sem eritema local simétrico

Prurido e formigamento

Sensação de queimação local dolorosa

Edema, rachaduras, descamação

Formação de placas de queratose, bolhas e ulceras

• São progressivos;

• Apresentação clinica semelhante,

independente do agente causador;

• Palmas das mãos são mais acometidas que

solas dos pés.

Avaliação

• A primeira avaliação deve ocorrer imediatamente

antes do início da administração da droga

cusadora, para que as condições dérmicas e

sensoriais do paciente sejam devidamente

avaliadas e registradas.

• A utilização de ferramentas de classificação está

preconizada nas boas práticas assistenciais.

Classificação Grau NCI (CTCAE* Version 3.0) OMS Achados Histológicos

1 Alterações cutâneas mínimas

ou dermatite (Ex: eritema)

indolor

Disestesia / parestesia,

formigamento em mãos e pés

Vasos sanguíneos do

plexo dérmico superficial

dilatados

2 Lesões cutâneas (Ex: bolhas,

sangramento, inchaço) ou

dor, que não interferem na

função

Desconforto ao segurar

objetos e ao caminhar,

inchaço indolor ou eritema

3 Dermatite ulcerativa ou

lesões cutâneas dolorosas

que interferem na função

Eritema doloroso e inchaço

nas palmas e solas, eritema e

inchaço periungueal

Necroses isoladas de

queratinócitos na camada

superior da epiderme

4 ________ Descamação, ulceração,

formação de bolhas, dor

intensa

Completa necrose da

epiderme

Tratamento • Dentre as possibilidades de tratamento,

são as que demonstraram maior eficácia por reduzir grau dos sintomas sem interferir na destruição tumoral, evitando a interrupção do uso do quimioterápico.

• Para cada grau de sintomas determinam-se ações distintas de tratamento e cada quimioterápico antineoplasico segue um padrão pré-determinado de redução de dose.

redução de dose do

quimioterápico

antineoplásico

aumento do intervalo

entre as aplicações

Grau 1

• Não altera dose

Grau 2

• Suspende a aplicação até regressão dos sintomas para grau 1, podendo manter ou reduzir dose (25% ou 50%) no ciclo seguinte

Grau 3 - 4

• Suspende aplicação até regressão dos sintomas para grau 1 e redução de 50% na dose, considerando suspensão do tratamento se mesmo grau de sintomas reaparecer

Tratamento

• Independente do grau sintomático desenvolvido

ou da droga utilizada, todo paciente precisa ser

orientado e educado quanto ao reconhecimento

dos sinais e sintomas e cuidados de suporte , além

de ter a progressão do quadro monitorado por

equipe multiprofissional.

Tratamento - Cuidados de Suporte

Cuidados de Suporte para Prevenção e Tratamento da HFS

Educar o paciente para que ele faça auto avaliação das mãos e dos pés e saiba reconhecer os

sintomas da HFS e comunicar á equipe médica e/ou de enfermagem.

Orientações - EVITAR Orientações - UTILIZAR

Exposição da pele, a elevadas

temperaturas

(Ex: Sauna, banhos quentes, vapor)

Roupas apertadas, tecidos ásperos e

sintéticos

Andar descalço ou usar sandálias abertas

Uso de curativos adesivos

Contato da pele com produtos químicos

como detergente e agua sanitária

Atividades repetitivas de atrito e pressão

das áreas de risco

Produtos com álcool em sua composição

Uso de cremes e loções na pele não intacta,

salvo produtos específicos com

recomendação médica

Exposição excessiva ao sol

Roupas e sapatos confortáveis

Luvas de borracha para manipular

produtos de limpeza

Protetor solar e cremes hidratantes

Meias e luvas de algodão ao dormir para

aumentar a absorção dos hidratantes

Hidratação (se não houver contraindicação)

– Ingerir 8 a 12 copos de líquidos por dia

Dieta equilibrada e rica em vitaminas B e C

Sempre que possível, deixar a pele

descoberta para evitar transpiração

excessiva

Manter a área acometida elevada

Analgésicos e antibióticos conforme

prescrição médica quando necessários

• É difundido entre os profissionais da oncologia a

utilização de cremes hidratantes, embora alguns

estudos se contradigam quanto sua atuação na

síndrome mão-pé.

• Pesquisas buscam encontrar a melhor formulação

para prevenção e tratamento, mas até o momento

sem resultados consistentes.

Tratamento - Hidratantes

Princípios ativos:

• Uréia

o Propriedades umectantes e queratolíticas,

o Atinge camadas mais externas do estrato córneo,

o Descamação,

o absorção de outras substancias aplicadas topicamente.

o Efeitos adversos foram observados como ardor e irritação,

o concentração ideal ainda não esta definida, vaiando entre

10 e 40%.

o Recomenda-se o uso em casos onde há placas de

queratose (grau 3).

Tratamento – Hidratantes (Uréia)

Princípios ativos:

• Lanolina

o Ácidos graxos derivados da secreção das glândulas

sebáceas dos carneiros e acumuladas em sua lã,

o Propriedade de penetração e manutenção da

hidratação da pele.

o Concentrção de 2% parece não afetar o processo de

cicatrização e nem apresentar efeitos tóxicos.

Tratamento – Hidratantes (Lanolina)

• Ácido Hialurônico

o capacidade de retenção de água,

o melhora na cicatrização

o potencial de estimular a regeneração celular.

• Alantoína

o controle do prurido devido ao seu efeito antiirrirante,

o facilita a penetração de outros agentes nas camadas mais

profundas da pele,

o ação queratolítica e retentora de umidade.

• Aloe Vera (babosa)

o reparação do tecido epitelial

o propriedades antiinflamatórias, antibióticas, adistringentes,

coagulantes, analgésicas e cicatrizantes,

o estimulando a ação e a proliferação dos fibroblastos e aumentando

a síntese de colágeno.

Hidratantes (Acido Hialurônico, Alantoína, Aloe Vera)

• Analgésicos para controle da dor é unânime entre

os especialistas.

• Inibidor da COX-2 (enzima envolvida no processo

inflamatório da pele)

o Esudos com Oxaliplatina e Capecitabina

o Redução de incidência em pacientes que utilizaram

Celecoxib 200mg duas vezes ao dia,

o Contraindicado para pacientes com doenças

cardiovasculares

o Não foi estudado com outros agentes causadores

Tratamento – Medicações

• Piridoxina (vit B6)

o Benficio no uso da Doxorrubicina Lipossomal Peguilhada

o Comprovadamente ineficaz no uso da Capecitbina

• Corticosteroides

o dados são insuficientes para recomendar o uso rotineiro dos

corticosteroides, principalmente devido seus conhecidos

efeitos colaterais.

• A Vitamina E

o efeito comprovdo na prevenção de úlceras dérmicas,

o ação sistêmica inibe a resposta inflamatória e síntese de colágeno,

o eficaz no tratamento da HFS ocasionada por Docetaxel e

Capecitabina, (resultado inconclusivo).

Tratamento – Medicações

• Formulações com 99% de DMSO

o eficazes para o tratamento de extravasamento de

Doxorrubicina,

o poderia transportar a DLP livre para circulação sistêmica ou atuar como antioxidante.

• Pó de Hena

o efeitos antioxidante e imunomodulador,

o misturado com água e transformado em argila

o envolto com bandagem e lavados após 5 a 6 horas

• Crioterapia

o utilização de luvas e sapatilhas de Elastogel®,

o imersão de mão e pés em água gelada

o envolvimento de punhos e tornozelos com

bolsas de gelo durante a infusão

Tratamento – Outros

Papel do Enfermeiro

• Prevenção e na avaliação da evolução dos

sintomas,

• Orientação dos pacientes,

• Atualizações sobre os medicamentos,

instrumentos de graduação e

avaliação, e intervenções baseadas

em evidencias, garantem a

qualidade dos cuidados prestados.

“Embora niguem possa voltar atrás

e fazer um novo começo,

Qualquer um pode começar agora

e fazer um novo fim”…

Chico Xavier

Obrigada !!!!!!

[email protected]

Referências • Nagore E., Insa A., Sanmartin O. Antineoplastic therapy induced palmar-plantar erythrodysesthesia ('hand-

foot') syndrome. Incidence, recognition and management. American Journal of Clinical Dermatology. 2000; 1,

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