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CONDUTOR DE TURISMO EM ESPAÇOS CULTURAIS LOCAISAugusto José Quirino

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Augusto José Quirino

Condutor de Turismo em Espaços Culturais Locais

1ª edição

Montes ClarosInstituto Federal do Norte de Minas Gerais

2015

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Condutor de Turismo em Espaços Culturais Locais

Augusto José Quirino

Montes Claros-MG2015

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Presidência da República Federativa do BrasilMinistério da EducaçãoSecretaria de Educação Profissional e Tecnológica

Instituto Federal do Norte de Minas Gerais

ReitorProf. José Ricardo Martins da Silva

Pró-Reitora de EnsinoAna Alves Neta

Pró-Reitor de AdministraçãoEdmilson Tadeu Cassani

Pró-Reitor de ExtensãoPaulo César Pinheiro de Azevedo

Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e InovaçãoRogério Mendes Murta

Pró-Reitor de Desenvolvimento InstitucionalAlisson Magalhães Castro

Diretor de Educação a DistânciaAntônio Carlos Soares Martins

Coordenadora de EnsinoRamony Maria da Silva Reis Oliveira

Coordenador de Administração e PlanejamentoAlessandro Fonseca Câmara

Revisão EditorialAntônio Carlos Soares MartinsRamony Maria Silva Reis OliveiraRogeane Patrícia Camelo Gonzaga

Coordenação Geral PronatecRamony Maria Silva Reis Oliveira

Coordenação Adjunta PronatecEdnaldo Liberado de Oliveira

ConteudistaAugusto José Quirino

Revisor do Eixo tecnológicoAngela Gama Oliva

Revisor de LegalidadeGabriela Matos Figueiredo

Revisor Especialista em AssuntosEducacionaisLidiane R. Brito

Revisão LinguísticaAna Márcia Ruas de Aquino Marli Silva Fróes

Coordenação de Produção de Material Karina Carvalho de Almeida

Projeto Gráfico, Capa e IconografiaTatiane Fernandes Pinheiro

Editoração EletrônicaAntonio Cristian Pereira BarbosaKarina Carvalho de AlmeidaTatiane Fernandes PinheiroWelington Batista Lessa

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Ícones Interativos

Utilizado para sugerir leituras, bibliografias, sites e textos para aprofundar os temas discutidos; explicar conceitos e informações.

Utilizado para auxiliar nos estudos; voltar em unidades ou cadernos já estu-dados; indicar sites interessantes para pesquisa; realizar experiências.

Utilizado para indicar atividades que auxiliam a compreensão e a avaliação da aprendizagem dos conteúdos discutidos na unidade ou seções do caderno; informar o que deve ser feito com o resultado da atividade, como: enviar ao tutor, postar no fórum de discussão, etc.

Utilizado para defininir uma palavra ou expressão do texto.

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SUMÁRIO

Unidade 1- O Condutor Cultural Local para o Norte de Minas 9

O Condutor Cultural 9

Unidade 2 - Cultura e Patimônio Cultural 11

O que é cultura? 11

Unidade 3 - Patrimônio Cultural – Metodologia e Pesquisa 19

Unidade 4 - O Norte de Minas: Geografia e História 21

Unidade 5 - A Ocupação do Norte de Minas 25

Os primeiros habitantes: os índios 25As missões jesuíticas e a chegada dos primeiros europeus 30Os Jesuítas no Norte de Minas 33Os bandeirantes no Norte de Minas 34Os quilombos como fator de ocupação no Norte de Minas 43

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Unidade 6 - Século XIX: o isolamento e a diferenciação 50

Unidade 7 - A Integração aos mercados e a modernização 58

Patrimônio Cultural no Norte de Minas:

Aspectos Históricos e Reflexões Antropológicas 60O Turismo no Norte de Minas 62

Referências Bibliográficas 72

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Pronatec

Unidade 1O Condutor Cultural Local para o Norte de Minas

O Condutor Cultural

De acordo com o Guia PRONATEC de Cursos FIC, o CCL (Condutor Cultural Local)1

Atua na condução de visitantes e turistas em locais de interesse cultu-ral existentes no lugar, desenvolvendo atividades interpretativas fun-damentadas na história e memória local e em aspectos profissionais como segurança, linguagem clara e cortês e princípios socioambientais, contribuindo, deste modo, para a valorização e conservação do patri-mônio existente.2

Tomando por base esse conceito, podemos concluir que os conceitos de cultura, o conhecimento de história e geografia, de meio ambiente e a fluência comunicativa são habilidades essenciais ao CCL. Mas é muito importante que essas habilidades sejam articuladas, pois, elas se sustentam mutuamente (figura 1).

Figura 1: Relação entre as habilidades do condutor cultural.

Fonte: Acervo Pessoal.

Partindo das considerações anteriores, falaremos agora do papel do CCL.

O CCL atua na condução dos visitantes em atrativos (sítios) turísticos culturais, desen-volvendo atividades interpretativas sobre o ambiente visitado, observando a preserva-ção e a manutenção dos patrimônios cultural e natural, no seu local de atuação.

As atribuições do CCL:

1. Informar sobre os aspectos socioculturais e ambientais dos bens, divulgando a importância da preservação do Patrimônio Cultural Local;

2. Informar sobre a relação do bem cultural com a identidade local;

1 O termo será utilizado com muita frequência nesta apostila. Por isso utilizaremos a sigla CCL.2 Em http://pronatec.mec.gov.br/fic/et_turismo_hospitalidade_lazer/et_turismo_hospitalidade_lazer.php#524

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Condutor de Turismo em Espaços Culturais Locais

3. Identificar os riscos e auxiliar no controle dos impactos decorrentes da visita-ção, contribuindo para a gestão do Patrimônio Cultural e Natural;

4. Receber e conduzir os visitantes com segurança durante a visitação de um bem cultural, promovendo interação com o local;

5. Orientar os visitantes de acordo com a legislação cultural referente à proteção e preservação do Patrimônio Cultural e de afins;

6. Comunicar-se com desenvoltura, hospitalidade, cordialidade e liderança, con-siderando o perfil dos visitantes, de forma a promover a integração de quem visita com o bem visitado e entre si;

7. Elaborar e negociar roteiros de visitação, atuando de forma articulada com os de-mais agentes envolvidos nas atividades de turismo ecológico e turismo cultural.

As atribuições do CCL exigem uma série de conhecimentos e habilidades entre as quais destacamos as que se seguem:

a) Conhecimentos sobre: cultura, patrimônio, tombamento local, história, folclo-re e população local.

b) Conhecimento sobre o Patrimônio Cultural e Natural local (Roteiros de Imigra-ção, Fortes e Fortalezas, Sítios Arqueológicos, Centros Históricos, Tombamen-tos, etc.);

c) Conhecimento sobre os órgãos preservacionistas do patrimônio (IPHAN, órgãos ambientais, Secretarias Estaduais e Municipais de Cultura e Meio Ambiente) bem como sobre os órgãos de preservação locais.

d) Conhecimentos sobre a História, atrativos turísticos, roteiros turísticos, sítios arqueológicos locais. História local (povoamento, colonização, urbanização);

e) Contextualização histórica do patrimônio cultural local (bens materiais e imateriais);

f) Informações sobre a relação do bem cultural com a identidade local;

1. Quais são habilidades essenciais ao CCL?

2. Como você entendeu a seguinte afirmação: “(...) é muito importante que essas habilidades sejam articuladas (...).”

3. Das atribuições do CCL, listadas no texto básico desta apostila, escolha e co-mente 2 (duas).

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Pronatec

Unidade 2Cultura e Patimônio Cultural

O que é cultura?

No portal eletrônico significados.com.br, encontramos a seguinte definição:

Cultura significa cultivar, e vem do latim colere. Genericamente a cul-tura é todo aquele complexo que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões ad-quiridos pelo homem não somente em família, como também por fazer parte de uma sociedade como membro dela que é.

Cada país tem a sua própria cultura, que é influenciada por vários fa-tores. A cultura brasileira é marcada pela boa disposição e alegria, e isso se reflete também na música, no caso do samba, que também faz parte da cultura brasileira. No caso da cultura portuguesa, o fado é o patrimônio musical mais famoso, que reflete uma característica do povo português: o saudosismo.

Cultura na língua latina, entre os romanos tinha o sentido de agricultu-ra, que se referia ao cultivo da terra para a produção, e ainda hoje é conservado desta forma quando é referida a cultura da soja, a cultura do arroz etc.

Cultura também é definida em ciências sociais como um conjunto de ideias, comportamentos, símbolos e práticas sociais, aprendidos de ge-ração em geração através da vida em sociedade. Seria a herança social da humanidade ou ainda de forma específica, uma determinada varian-te da herança social. Já em biologia a cultura é uma criação especial de organismos para fins determinados.

A principal característica da cultura é o mecanismo adaptativo que é a capacidade, que os indivíduos tem de responder ao meio de acordo com mudança de hábitos, mais até que possivelmente uma evolução bioló-gica. A cultura é também um mecanismo cumulativo porque as modifi-cações trazidas por uma geração passam à geração seguinte, onde vai se transformando perdendo e incorporando outros aspectos procurando assim melhorar a vivência das novas gerações.

Fonte: http://www.significados.com.br/cultura/

É pela cultura que se dão a existência e a identidade dos mais diversos grupa-mentos humanos. “(...) é o conjunto de soluções originais que um grupo de seres humanos inventa, a fim de se adaptar ao meio ambiente natural e social” (KASHI-MOTO; MARINHO; RUSSEFF, 2002, p. 35). Mas cada uma das diversas sociedades têm suas peculiaridades que as diferenciam umas das outras e lhes conferem uma identidade.

Claxton (1994) afirma que cultura é a composição de atributos simbólicos, ma-teriais e imateriais, que constituem a fronteira identitária e a distinção entre sociedades e outras formas de grupamentos humanos, acomodando modos de vida, sistemas de valores, tradições, crenças, abrangendo uma interpretação global da natureza, constituindo um sistema totalizante para a compreensão e a transforma-ção do mundo, e estabelecendo, por outro lado, relações sistemáticas entre todos os aspectos da vida humana, todas as expressões produtivas das comunidades, sejam elas tecnológicas, econômicas, artísticas ou domésticas.3

3 Em http://unesdoc.unesco.org/images/0009/000970/097070e.pdf

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Condutor de Turismo em Espaços Culturais Locais

Cultura local

Fruto das relações entre a comunidade local e o meio em que esta vive, manifesta-se em diversos aspectos da vida em tais comunidades:

podem-se considerar manifestações da cultura popular local a culiná-ria, o artesanato, o folclore, os idioletos e a paremiologia (ditados, pro-vérbios, ditos e aforismas), a literatura oral (lendas e mitos), a poesia popular, a história oral, a vestuária quotidiana, a música popular, os ins-trumentos musicais de uso local, a arquitetura espontânea, a fotografia incidental, os ritos de passagem, as manifestações religiosas, as festas populares, a farmacopeia extrativista, a meteorologia popular, as re-lações locais às modalidades de trabalho e de lazer, as relações locais aos elementos da Natureza, formas de distribuição e exercício do poder local, entre outros. (KASHIMOTO; MARINHO; RUSSEFF, 2002, p. 36).

Patrimônio Cultural

A Constituição de 1988, em seu artigo 216, define o patrimônio cultural brasileiro como:

(...) os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:

• as formas de expressão;

• os modos de criar, fazer e viver;

• as criações científicas, artísticas e tecnológicas;

• as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;

• os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arque-ológico, paleontológico, ecológico e científico.

A legislação que regula a questão se deu sob uma nova concepção de Patrimônio Cultural, que toma por base os processos culturais que regem as relações sociais humanas e que são constantemente recriados, baseados nas ideias de dinamicida-de e fluidez.

A Constituição Brasileira de 1998 define Patrimônio Cultural como a soma dos bens culturais de uma comunidade ou grupo. É o conjunto de bens cultu-rais portadores de valores que podem ser legados às gerações futuras.

De acordo com o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais – IEPHA/MG –,

O patrimônio cultural se apresenta sob diversas formas. Os bens ima-teriais, compreendem toda a produção cultural de um povo, desde sua expressão musical, até sua memória oral, passando por elementos ca-

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Pronatec

racterizadores de sua civilização. Os bens materiais se dividem em dois grupos básicos: bens móveis - são a produção pictórica, escultórica, material ritual, mobiliário e objetos utilitários - e bens imóveis - não se restringem ao edifício isoladamente, mas compreendem, também, seu entorno, garantindo sua visibilidade e fruição. No acervo de bens imó-veis, que constituem o patrimônio de um povo e de um lugar, incluem-se os núcleos históricos e os conjuntos urbanos e paisagísticos, impor-

tantes referências para as noções étnicas e cívicas da comunidade.

As categorias de PC:

Bens Intangíveis – O que não podemos pegar: celebrações, ritos, fazeres...

Bens Tangíveis – Bens imóveis e móveis: igrejas, casas, espaços urbanos...

Bens Naturais – Bens da natureza: serras, picos, parques, rios...

Patrimônio Cultural – legislação: aspectos gerais

O IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – é o órgão que se ocupa do patrimônio cultural no âmbito federal, ou seja, o IPHAN cuida do patri-mônio cultural importante para o Brasil. O tombamento é a principal forma para proteger legalmente o patrimônio cultural material e, a partir do ano 2000, há o registro do patrimônio imaterial, para a proteção deste patrimônio.

Em Minas Gerais o órgão responsável pela preservação do patrimônio é o EPHA/MG – Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais –, criado pela Lei Estadual N.º5.775, de 30 de setembro de 1971, alterada pelas Leis Estadu-ais N.º 8.828, de julho de 1985, e N.º11.258, de outubro de 1993.

Cabe ao IEPHA/MG, além da proteção dos bens por ele tombados, cuidar da difusão da consciência patrimonial e da criação de instrumentos e mecanismos que contri-buam, de maneira universal e eficaz, para a preservação da memória.

A Proteção do Patrimônio Cultural no Município

Plano Diretor: A Constituição Brasileira de 1988 estabeleceu, em seu artigo 182, a obrigatoriedade da elaboração de Plano Diretor para as cidades com mais de 20 mil habitantes. Trata-se do “instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana” (parágrafo 1º), o qual tem por objetivo “ordenar o pleno desen-volvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes”.

Lei de Uso e Ocupação do Solo: Instrumento normativo de implementação de uma política de desenvolvimento urbano. É constituído de um conjunto de leis e dire-trizes, explicitadas a partir do conhecimento específico de cada cidade, da identi-ficação de seus problemas relevantes e, principalmente, a partir da identificação de sua função no contexto regional.

Lei de Posturas Municipais: Define normas para a ocupação e uso de espaços públicos.

Código de Obras: Define as normas de construção e reforma de edificações.

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Condutor de Turismo em Espaços Culturais Locais

O Estatuto da Cidade – Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001. O “Estatuto da Cidade”:

• Define uma série de mecanismos urbanísticos para a gestão democrática das cidades, muitos deles com aplicação direta na preservação da memória.

• Prevê a proteção, a preservação e recuperação do meio ambiente natural e cons-truído, do patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e arqueológico.

• Fixa o prazo de cinco anos, a partir da sua vigência, para que os municípios com mais de 20 mil habitantes criem e aprovem o Plano Diretor.

a) Instrumentos do Estatuto da Cidade:

b) Transferência do direito de construir;

c) Operações urbanas consorciadas;

d) Desapropriação com pagamentos de títulos;

e) Direito de preempção;

f) Estudo de impactos de vizinhança.

O município precisa criar a proteção local e o seu conselho Municipal de proteção do patrimônio cultural. Esse Conselho é constituído para atuar na identificação, documentação, proteção e promoção do patrimônio cultural de um município. É formado por representantes do Poder Público e da sociedade civil, orientados pela perspectiva de melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. Define as ações, visan-do à proteção dos bens culturais. Tomba e registra bens culturais do município.

1. Quais são as definições de cultura, presentes no portal eletrônico www.signifi-cados.com.br, citadas no texto básico desta apostila?

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2. Escreva, com as próprias palavras, o seu entendimento de cultura.

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3. Copie do texto as definições para cultura, de acordo com Kashimoto; Marinho; Russeff (2002) e Claxton (1994).

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4. A definição de Cultura Local é óbvia; encontra-se no próprio nome. O que faremos, então, é uma discussão dialógica, procurando debater as relações da Cultura Local com a Cultura Global. Para começar, você deve identificar as relações entre as duas culturas, presentes no texto.

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5. Assinale o espaço correspondente à palavra citada na primeira coluna com a letra L, se ela se referir à Cultura Local e, com G, se se referir à Global.

Culinária e artesanatoDitados, provérbios, ditos e aforismasProgramas de televisão e internetHistória oral e vestuária quotidianaTelefone celularGrandes shows de músicaMúsica popularOlimpíadas e Copa do Mundo

6. Agora, cite outras manifestações de cultura global que você conhece.

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7. Observe as figuras que se seguem e escreva a categoria de Patrimônio Cultural a que pertencem.

Figura 2: Vapor Benjamin Guima-rães, em Pirapora.

Fonte: acervo IEPHA.

Figura 3: Igreja de Nossa Senho-ra do Barro Alto no Brejo do Am-paro, em Januária.

Fonte: arquivo pessoal.

Figura 4: Matriz de Nossa Senhora da Imaculada Con-ceição, em Matias Cardoso.

Fonte: impresso.em.com.br.

Categoria: ___________________________________________________________

Figura 5: Festas de Agosto, em Montes Claros.

Fonte: www.montesclaros.mg.gov.br.

Figura 6: Terno de congado na Festa do Divino Espí-rito Santo, em São Romão.

Fonte: BrazilPhotos.com/Alamy.

Categoria: ___________________________________________________________

Figura 7: Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, em Januária.

Fonte: http://www.aeroportoconfins.net/turismo/parque-na-cional-cavernas-do-peruacu.

Figura 8: Rio São Francisco.

Fonte: http://www.mariomartins.blog.br/2013/05/serra-talha-da-sedia-encontro-regional.html

Categoria: ___________________________________________________________

8. Agora, faça uma pesquisa (pode ser na internet) e diga o que são e o que fa-zem o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais – IEPHA/MG – e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN.

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9. Como se dá a proteção do Patrimônio Cultural, no município?

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Textos Para Discussão e Debate

Cultura ou Culturas?

Vanessa C. e Franceschi

Pense no lugar que você mais gosta de frequentar em seus horários livres. Pensou? Agora pergunte aos seus colegas de classe quais são os lugares que eles mais gos-tam de frequentar. Esses lugares são os mesmos? Muito provavelmente sua respos-ta é não, não é? Mas qual de vocês tem mais bom gosto? Não, não vale dizer que é você simplesmente por defender que os lugares que você gosta são melhores que os de seus amigos, afinal, esse é o seu ponto de vista. Que não é nem melhor e nem pior que o de seus amigos, mas simplesmente diferente, isto é, de acordo com as suas opiniões, preferências, costumes e valores, você preferiu escolher um certo lugar e não outro. Já uma outra pessoa, que tem outros costumes, outros gostos, outros valores e opiniões decidiu então escolher um local que tenha a ver com as preferências dele. Por serem pessoas e, portanto, costumes e gostos diferentes, não podemos definir quem é melhor ou pior, pois estaríamos comparando coisas diferentes que não podem ser medidas.

Esse exercício que fizemos agora sobre os lugares que você mais gosta pode ser muito útil para nós estudarmos sobre as diferentes culturas existentes.

E o que exatamente é essa tal de Cultura?

A Antropologia foi a primeira a estudar os fenômenos culturais de forma científica. Um antropólogo chamado Magnani nos explicou o significado de Cultura da seguin-te maneira:

Na tradição antropológica mais recente, o conceito de cultura é associado, por oposição, ao de natureza para ressaltar seu ca-ráter artificial, convencional e extrínseco. Enquanto os demais seres vivos, desde microorganismos até formas mais complexas têm seu comportamento determinado por orientações intrín-secas, fixadas e transmitidas pelo código genético, o homem é pobremente equipado de tais orientações, quando analisa seu comportamento tipicamente humano e sua vida em socieda-de. [...] o homem recebe de fora os códigos que regem seu comportamento, resultando daí, a maior dependência do [...] grupo social que pertence, num processo de aprendizado dos sistemas simbólicos que sob a forma de regras e normas regem a sua conduta coletiva. (MAGNANI, 1985; p.02)

Assim, podemos entender que a cultura faz de nós seres humanos, isto é, o que diferencia nosso comportamento dos outros animais, pois estes agem de acordo com seus instintos naturais e nós, agimos de acordo com o que é nos ensinado e transmitido ao longo de nossa vida.

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Condutor de Turismo em Espaços Culturais Locais

Então, a cultura pode ser a forma como falamos, nosso jeito de se vestir, nos-sos saberes, nosso modo de agir, práticas culinárias, danças típicas, entre muitas outras coisas.

Deu para entender como o seu gosto e o gosto de outras pessoas pode ser diferente de acordo com a cultura de cada um?

E quando as pessoas não aceitam outras formas de pensar e agir diferentes das que já estão habituadas?

Esse tipo de comportamento é considerado preconceituoso, pois acaba negando outras opiniões. Muitas vezes isso acontece porque a pessoa não tem conhecimen-to sobre o que é diferente do que ela sempre faz, e então, antes mesmo de saber sobre o outro e então acaba rejeitando tais atitudes.

Mas, infelizmente, algumas vezes as pessoas mesmo tendo conhecimento sobre outras formas culturais, acham que suas atitudes e costumes são melhores do que as de outras pessoas. Esse tipo de pensamento é chamado de etnocêntrico. Assim, quando um grupo considera como correta sua cultura, seus valores e costumes e a partir de então se posiciona com superioridade em relação aos demais grupos e suas culturas, ele está tomando um posicionamento etnocêntrico e que “é respon-sável, em seus casos extremos pela ocorrência de numerosos conflitos sociais”. (LARAIA, 2002, p.72).

Você percebeu como é realmente importante discutir sobre nossos comportamen-tos no dia-a-dia? E que tal repensar nossas atitudes? Como você está agindo com as pessoas a sua volta?

Agora que aprendemos várias coisas importantes, podemos agir e nos relacionar de forma consciente para respeitarmos os outros e para que os outros também nos respeite!

Referências

GEERTZ, C. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988.

MAGNANI, J. G. C. Patrimônio Cultural: notas para discussão. Curitiba, 1985.

LARAIA, R. B Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.

ROCHA, E. P. G. O que é etnocentrismo. São Paulo: Brasiliense, 1989.

SANTOS, J. L. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 1983.

In.: Silva. [et al.]. 2009. p. 91-93. Versão eletrônica disponível em http://www.uel.br/projetos/lenpes/pages/arquivos/LIVRO%20INTEIRO%20em%20PDF%20%20LENPES%20-%2002%20de%20dez-1.pdf

Pesquise e aprenda mais pela internet, em http://www.iphan.gov.br

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Unidade 3 Patrimônio Cultural – Metodologia e Pesquisa

O objetivo principal desta unidade é a indicação de alguns procedimentos e métodos de pesquisas sobre patrimônio cultural, mais especificamente no Norte de Minas Gerais, onde a identificação do patrimônio cultural tem como objeto, e ao mesmo tempo instrumento de pesquisa, um inventário de bens culturais, tangíveis e intan-gíveis, socialmente significativos. Para tal, sugerimos os seguintes procedimentos:

• Identificação dos bens culturais mais significativos socialmente para a comunidade;

• Análise e organização das informações e dados levantados;

• Compilação do inventário do Patrimônio Cultural.

A metodologia ocupa-se do estudo e eventual escolha dos métodos mais adequados à construção e transmissão do conhecimento científico, por isso constitui-se de uma série de diversificados procedimentos que auxiliam os trabalhos da pesquisa, pavimentando o percurso finalizado, quando são alcançados os objetivos da inves-tigação proposta.

O percurso de uma pesquisa é constituído de uma série de etapas que se iniciam com a formulação do problema e se encerram com a divulgação dos resultados, o que na verdade não um encerramento, e sim o início de uma nova fase na qual o trabalho é disponibilizado e submetido a críticas convergentes e divergentes da tese apresentada. A nossa investigação tem o objetivo principal de obter o conhecimento específico e estruturado sobre o Patrimônio Cultural do Norte de Minas Gerais.

A metodologia mais adequada em patrimônio cultural é a pesquisa de campo, com observações em locu e abordagens na população local, além de consultas a biblio-tecas especializadas e portais da internet.

As entrevistas aplicadas aos moradores/usuários locais vêm sendo o método pre-ferido pelos pesquisadores. O envolvimento da população local como sujeito nos trabalhos da pesquisa é uma estratégia para ampliar as discussões e o conhecimen-to do patrimônio cultural, restrito aos pesquisadores e técnicos dos Institutos de Proteção (IPHAN e IEPHA).

Quanto ao inventário do patrimônio cultural, este exige uma série de classifica-ções, categorizações e agrupamentos, de acordo com as características dos bens inventariados, contextualizados no conjunto do patrimônio cultural local. Não deve ser restrito aos bens tombados, evitando-se qualquer forma de hierarquiza-ção e valorizando seu potencial de atratividade e sua importância social.

No Norte de Minas, existem bens culturais bastante conhecidos. O rio São Francis-co, o barco fluvial a vapor Benjamim Guimarães e a ponte ferroviária Hermes da Fonseca, em Pirapora; as cavernas do Peruaçu, o pantanal de Pandeiros e a Igreja Nossa Senhora do Rosário, em Januária, entre outros, são alguns deles e serão tema de estudos desta apostila.

A pesquisa sobre o patrimônio cultural intangível, mais especificamente as mani-festações de caráter popular, festas e tradições populares ainda existentes, carece

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de levantamento mais criterioso. Como ponto de partida, serão estudadas as Fes-tas de Agosto, em Montes Claros, e o Terno de Congado, na Festa do Divino Espírito Santo, em São Romão. Sendo assim, a metodologia apoia-se em pesquisas biblio-gráficas, documentais e iconográficas pertinentes ao tema proposto. As fotografias e imagens adicionais servem de apoio para complementar o processo de pesquisa.

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Unidade 4O Norte de Minas: Geografia e História

Figura 9: Minas Gerais: mesorregiões.

Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/cc/MinasGerais_Mesorregions.svg.

1 - Campo das Vertentes

2 - Central Mineira

3 - Jequitinhonha

4 - Metropolitana de Belo Horizonte

5 - Noroeste de Minas

6 - Norte de Minas

7 - Oeste de Minas

8 - Sul e Sudoeste de Minas

9 - Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba

10 - Vale do Mucuri

11 - Vale do Rio Doce

12 - Zona da Mata

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São predominantes no Norte de Minas Gerais o bioma cerrado4 e o clima semiárido5.

O cenário natural regional é composto por ecossistemas distintos na área de tran-sição entre os Cerrados, a Caatinga, a Mata Seca e a Mata Atlântica. Enquanto nas chapadas e topos de serra, as diversas formações dos Cerrados conformam o espaço regional, a Caatinga, em sua formação arbórea e arbustiva, ocupa o vale do Rio Verde Grande, e a Mata Seca se estende pelas encostas da Serra Geral, em sua interface com o vale do mesmo rio e, finalmente, a Mata Atlântica localiza-se, como uma pequena mancha no interior da mata de galeria, entre a encosta cársti-ca existente na margem direita e o Rio São Francisco, na região dos municípios de Januária, Itacarambi, São João das Missões e Manga.

Conjugando chapadas, vales e serras, o cenário natural norte-mineiro diversifica-se em solos, vegetações, bacias hidrográficas, principalmente a do Rio São Fran-cisco, mas, também, a do Rio Pardo de Minas e, no seu limite, a margem esquerda do Rio Jequitinhonha, configurando-se como uma zona propícia à fixação do ser humano, com diversidade de formas em suas relações com o ambiente natural.

Figura 10: O cerrado.

Fonte: Acervo Pessoal.

O cenário cultural norte-mineiro resulta do encontro de uma série de movimentos populacionais e, através deles, do encontro de culturas diversificadas e diferentes entre si. Esses encontros ocorreram em momentos distintos, ao longo da história da região. Antes da chegada dos colonizadores europeus, era território de vários grupos nativos, cada qual com sua própria cultura que, de maneira geral, apre-sentava aspectos e práticas relativamente comuns e, ao mesmo tempo, peculiari-dades e particularidades que os diferenciavam. Por exemplo, a língua indígena se dava sobre uma estrutura mais ou menos comum. Ou seja, o universo linguístico apresentava similaridades em grupos diferentes, às vezes até rivais e inimigos de guerra. Veja o que relatou Pero de Magalhães de Gandavo, cronista português do século XVI, no livro História da Província de Santa Cruz, a que Vulgarmente Cha-mamos Brasil:

4 Ver características do bioma em http://www.mma.gov.br/biomas/cerrado. 5 Ver características em http://www.semiarido.org.br/texto/7/0/semiarido.

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A língua de que usam toda pela costa é uma [...]. Carece de três letras, convém a saber, não se acha nela F, nem L, nem R, cousa digna de espanto, porque assi não têm Fé, nem Lei, nem Rei: e desta maneira vivem desordenadamente sem terem além disto conta, nem peso, nem medido (História, cap. 10, fl. 33v.).

Essa situação foi brutalmente alterada com a chegada dos portugueses, que ocupa-ram os territórios onde viviam as populações nativas. A ocupação do Norte de Minas se deu, ao longo do chamado período colonial, através dos seguintes movimentos da história:

1. Ação missionária dos jesuítas: No Brasil, eles chegaram em 1549. Estabe-lecidos na Bahia, onde ajudaram na fundação da cidade de Salvador, com o objetivo de cristianizar as populações indígenas do território colonial. Com essa missão, fundaram as chamadas missões, onde organizavam as populações indígenas em torno de um regime que combinava trabalho e religiosidade.

2. Movimento Bandeirante: tanto o que se deu pelo combate aos negros aqui-lombados e aos grupos indígenas que não aceitavam a presença dos colonos quanto aquele que foi movimentado pela busca de ouro e metais preciosos que acreditavam existir em abundância nos sertões.

3. Fixação dos bandeirantes, que se tornaram criadores de gado, desenvolvendo a pecuária na região. Nesse movimento os criadores de gado alcançaram o rio São Francisco, apelidado de “rio dos currais”, e chegaram até o interior dos atuais estados nordestinos. Piauí, Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba foram ocupados pelas fazendas de gado.

4. União das coroas portuguesa e espanhola, de 1580 a 1640. Nesse período, co-nhecido como União Ibérica, o Tratado de Tordesilhas perdeu a validade. Afi-nal, se os dois reinos estavam unidos, não fazia sentido delimitar as terras da Espanha e de Portugal. As bandeiras infiltraram-se mais para o interior do Bra-sil, criando novos povoados. Durante a União Ibérica, os holandeses ocuparam uma parte do Nordeste do Brasil e fundaram uma colônia denominada Nova Holanda. Na Europa, o território holandês tinha sido dominado pelos espanhóis durante muito tempo. Depois de uma violenta guerra de independência, os holandeses estavam agora atacando os territórios portugueses da América, da África e da Ásia, uma vez que esses territórios tinham se tornado espanhóis. O domínio holandês no Nordeste brasileiro estendeu-se de 1630 a 1654.

5. Presença de considerável contingente de negros que abandonavam a condição de escravo e se estabeleciam em áreas ainda não afetadas pelo sistema por-tuguês de colonização, como era o caso do Norte de Minas, ou nos chamados quilombos.

6. A Mineração: finalmente, o tão desejado metal que os portugueses procu-ravam desde a precoce formação de seu Estado Nacional e da subsequente expansão marítima de que foram pioneiros, pelos fins do século XV e início do XVI. Deu-se a descoberta do ouro pelo bandeirante Antônio Rodrigues Arzão, em 1693. Pouco depois, Antônio Dias de Oliveira, em 1698, encontrou as minas de Ouro Preto. Iniciava-se uma espetacular “corrida do ouro. A notícia logo se espalhou pelo Brasil, chegou a Portugal e, daí, à toda a Europa, colocando em movimento, rumo às áreas onde o ouro foi encontrado, um considerável contingente humano. Sonhando com o enriquecimento rápido, estima-se que, a cada ano, cerca de 10 mil pessoas, durante sessenta anos, deslocaram-se de Portugal para o Brasil.

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1. Segundo o texto, quais os fatores principais que contribuíram para a ocupação do Norte de Minas, no período colonial?

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Unidade 5A Ocupação do Norte de Minas

Os primeiros habitantes: os índios

Os povos indígenas, primitivos habitantes do Norte de Minas, segundo Ribeiro (2005), foram do tronco linguístico macro-Jê e “se distribuem em três famílias deste tronco linguístico: Bororó, Cariri e Jê (línguas Akwen, Kayapó e Kaingang)” (RIBEIRO, 2005: p. 107). Já em 1555, o Padre João Aspicuelta Navarro, membro da expedição bandeirante de Francisco Bruzza de Espinoza, falava em “descobrir se havia alguma nação de mais qualidade, ou se havia na terra cousa porque viessem mais christãos a povoal-a, o que summamente importa para a conversão destes gentios” (NAVARRO, apud JOSÉ, 1987, p. 50). Navarro falou também de contato com “índios contrários” em uma “grande aldeia”, praticando um ritual em que “mandavam aos índios que não trabalhassem por que os mantimentos nasceriam por si, e que as frechas iriam ao campo matar a caça” (JOSÉ, op. cit., p. 51-52). Lembremos que os “índios contrários” eram os Tapuias.

Em seguida, Navarro nos diz, “fomos e passamos muitos despovoados especial-mente um de vinte e três jornadas por entre uns índios que chamam tapuyas, que é uma geração de índios bestiaes e feros” (idem, p. 52-53). E, prenunciando uma possível ocupação por gente “civilizada”, Navarro advertiu, diversíssimas gerações de índios muy barbaros e crueis. As terras que cercam este rio em trinta legoas são mui planas e formosas; parece-me que nascerá nellas bem quanto lhes plantarem ou semearem; porque do mantimento que usam os índios e de diversas fructas ha grandissima copia; o pescado não tem conta; assim neste rio como noutros mais pequenos, e em lagoas. (...) Ha muita caça assi de animaes, como de aves (idem ibdem, p. 54-55).

O padre conclui o seu relato dizendo: “o fructo solido desta terra parece que será quando se fôr povoado por christãos” (idem). Estava posto, os nativos eram inca-pazes de civilização, que deveria ser levada a cabo pelos cristãos colonizadores. O Padre Navarro, relata a diversidade de tribos e de costumes entre os nativos do sertão norte-mineiro, vistos pelos europeus como exóticos e incompreensíveis. Quanto ao meio, Navarro falou das riquezas naturais que, para os europeus, seriam mais bem aproveitadas, se fossem por eles.

Desses vários grupos indígenas tapuias, o primeiro a entrar em contato mais efe-tivo com os portugueses foi o dos Guaianás. De acordo com Gabriel Soares Souza (1971), vereador da Câmara Municipal da Bahia, entre 1565 e 1569, os Guainás assim eram definidos:

É gente de pouco trabalho, muito molar, não usam entre si lavoura, vivem da caça que matam e peixe que tomam nos rios, e das frutas silvestres que o mato dá; são grandes flecheiros e inimigos da carne humana. Não matam aos que cativam, mas aceitam-nos por seus escra-vos; se encontram com gente branca, não fazem nenhum dano, antes boa companhia, e quem acerta de ter um escravo guaianás não espera dele nenhum serviço, porque é gente folgazã de natureza e não sabe trabalhar (SOUZA, 1971, p. 115).

Podemos notar, nos dizeres do “homem bom”, que os guainás fugiam à regra da in-domabilidade, violência e intratabilidade dos Tapuias e, por isso mesmo, foram os

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índios com os quais os europeus estabeleceram contatos mais efetivos nos sertões do Norte de Minas. Porém, quando o assalto aos aldeamentos jesuítas não se mos-trava mais suficiente para o fornecimento de mão de obra indígena aos paulistas, os bandeirantes iniciaram a atividade de apresamento e impuseram o cativeiro aos guaianás, fazendo mudar o quadro de boas relações até então existente. Eviden-temente os guaianás reagiram e, por isso mesmo, passaram a ser vistos como os demais tapuias, como violentos e guerreiros: inimigos.

De acordo com Monteiro (1995), “em 1583, a Câmara Municipal de São Paulo acon-selhava os colonos a evitarem as aldeias guaianá pelos riscos envolvidos” e “deba-tia o perigo iminente de ‘haver aqui gentio guainá e assim a maior parte do gentio do sertão falar mal e estar alevantado...” (MONTEIRO, 1995, p. 54). Então o apre-samento e escravização de índios pelos bandeirantes detonaram os conflitos entre os adventícios e o gentio que habitava o Norte de Minas. A bandeira de Fernão Dias, ao chegar à região, liderando um grupo de mais de cinco mil guaianás captu-rados no Paraná, segundo Vasconcelos (1974a), “chamaram à confraternização os parentes sertanejos e com êles emergiu o foco civilizador mais antigo de Minas no Anhanhonhacanhuva” (VASCONCELOS, 1974a, p. 135-136, grifo nosso). Ou seja, os guainás foram escravizados e utilizados como mão de obra na colonização do ser-tão norte-mineiro. Dessa maneira, dominados e depois entendidos “como ‘índios mansos’ e ‘boa companhia’ dos colonizadores (...), constituíram, assim, parte das classes subalternas da sociedade sertaneja que se formava” (idem, apud, RIBEIRO, 2005, p. 113).

Outros povos indígenas dos sertões norte-mineiros

Os Cataguás: primeiros índios a entrarem em confronto com os bandeirantes. Vale a pena lembrar que as Minas Gerais, durante largo tempo, eram conhecidas como o “Sertão dos Cataguás”, como nos diz Oliveira (1953), “Sertão dos Cataguazes, nome que nos primeiros anos tiveram as chamadas Minas Gerais (...)” (OLIVEIRA, 1953, p. 95). A presença dos cataguás é também atestada pela arqueologia, que os associa às cerâmicas da Tradição Una, variedade A, encontradas em vários sítios arqueológicos, principalmente nas regiões norte e centro do atual Estado de Minas Gerais. Partindo desses estudos arqueológicos, supõe-se uma migração de nativos do tronco Jê, que teria subido os cursos dos rios São Francisco e Grande e ocupado o Norte de Minas.

De acordo com a descrição de historiadores como Nelson Senna, os cataguás eram “descendentes de uma das hordas tremembés, que do Jaguaribe (Ceará) vieram ter ao sul do paiz, nos valles do Alto-São Francisco e Rio Paranahyba (entre Goiaz, Minas e São Paulo, foram dominadores temidos da região da Minas Geraes, aquém do planalto da Mantiqueira” (SENNA, 1908, p. 187).

Conforme nos diz o Padre capuchinho francês, Ivo D’Evrex, os cataguás eram:

Índios de estatura regular, não gostavam de fazer casas, contentando-se tão somente com viver em choupanas; eram como seu nome indica, vagabundos, dotados de uma tal robustez que cada indivíduo segurava o inimigo, pelo braço, e o atirava ao chão. Foram irreconciliáveis inimigos dos Tupinambás e Tupiniquins: aquêles legítimos e bons e estes maus amigos dos Tupis. (D’EVREX, trecho citado em PONTES, 1970, p. 18).

A penetração do sertão norte-mineiro pelos tremembés é creditada a conflitos entre eles e os caiapós do alto Araguaia, que os expulsaram daquela região, levan-

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do-os a subir o rio Grande e a, finalmente, estabelecerem-se no Rio São Francisco. Segundo Pontes (1970), “os tremembés, vencedores, tomaram o nome catua-auá, corrompido em cataguá, ou gente boa, e os vencidos puxia-aua, ou gente ruim” (PONTES, 1970, p. 19).

O contato com o homem branco, especialmente pelas bandeiras dos séculos XVII e XVIII, em sua busca ansiosa pelos metais preciosos e por índios para o cativeiro, determinou o desaparecimento dos cataguás. Temos informações, das quais po-demos deduzir o fenômeno do extermínio como em Pontes (1970), para quem os cataguás eram

(...) uma tribu criteriosamente organisada, que manteve a integrida-de de seu território, onde explorador algum conseguiu entrar antes do anno de 1676 (...). Segundo Otaviano de Toledo ‘são pouco conheci-dos talvez pelo seu gênio pacífico e sociável’ e como tribo selvagem, desapareceram pelos seus vastos cruzamentos com o colono branco, conquistador da região (PONTES, 1970 , p. 19).

Vasconcelos (1974a), também nos dá notícias do extermínio. Segundo o autor, quando a bandeira de Lourenço Castanho Taques alcançou o sertão norte-mineiro, “encontrando uma horda, exterminou-a no lugar, que por isso recebeu o nome de conquista” (p. 96). No século XVIII, o território antigo dos cataguás estava quase que completamente dominado pelos bandeirantes.

Os Kayapó: tomando como referência Senna (1937), os kayapó habitavam um extenso território que se entendia do rio São Francisco ao atual triângulo mineiro. De acordo com o autor, “levaram suas correrias desde os sertões do São Francisco aos do Rio Grande, isto é, desde Januária até Paracatu, Uberaba e Fructal, durante o período colonial” (SENNA, 1937, p. 341). Os kayapó eram vistos como grandes guerreiros, tanto pelos portugueses como por outras tribos indígenas. Essa imagem persiste até os dias de hoje. No entanto, observando alguns relatos da época, podemos deduzir que eles não eram hostis ao homem branco. O padre Anchieta, por exemplo, assim falou deles: “se avantajam a todos estes no uso da razão, na inteligência e mansidão de costumes” (apud NEME, 1969, p. 138). Neste autor, encontramos também outros relatos sobre a sociabilidade dos kayapó, como o do Superior Padre Catalino que diz, “eram infiéis, ‘porém domésticos que se pode en-trar com toda segurança’” (idem, p. 140). Então por que a projeção da imagem de ferozes e hostis sobre os Kayapó? Ribeiro (2005) responde, assim, a essa questão: “desta forma, a ferocidade atribuída aos kayapó serviu para justificar a ação vio-lenta de Antônio Pires de Campos e outros colonizadores na guerra contra aqueles índios” (RIBEIRO, 2005, p. 119).

Neme (op. cit.) assinala que, até o início do século XVII, os kayapó viviam pacifi-camente com os paulistas chegantes, mantendo com eles inclusive um comércio regular e, mais que isso, chegando a fazer para eles uma série de serviços. Citando o bandeirante Belchior Dias Carneiro, Neme nos diz: “para o ‘sertão dos Bilreiros’, no noroeste de São Paulo, partiam expedições, como a de Belchior Dias Carneiro, em 1607, levando ‘para barganhas e presentes, quantidades de anzóis de ferro, cunhas, facões, escropos, cortes de tafetá azul e de outros panos e peças de fita encarnada larga” (NEME, 1969, p. 113). Segundo o autor, “essas mercadorias eram usadas para ‘resgatar os escravos, fazer barganhas e possivelmente comprar man-timentos e obter o concurso de guias para as andanças mais além” (idem).

Essa relação pacífica entre os kayapós e os bandeirantes rompeu-se quando a ex-pedição de Garcia Rodrigues Velho, entre 1608 e 1613, começou a preá-los para o cativeiro e, assim como acontecera com os guainanás, estabeleceu-se o conflito.

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Porém, enquanto os primeiros enfrentaram os bandeirantes, os segundos se re-tiraram para outras regiões. Mário Neme (op. cit) trabalha com a hipótese de os kayapó terem se retirado mais para o interior, para além do Paraná e Rio Grande. Contudo, quando os bandeirantes para ali afluíram em busca dos metais preciosos, os kayapó passaram a enfrentá-los.

Segundo Ribeiro (2005):

A partir de 1726, com a ocupação da área pela mineração e com o desenvolvimento do comércio com São Paulo e Minas Gerais, muitas povoações e estabelecimentos foram se formando em Goiás. Com eles, surgiram as tentativas de atrair e tornar cativos os vários povos indíge-nas da região, em cuja busca, o Governo da Província de São Paulo orga-niza diversas bandeiras. As ‘peças’ assim obtidas são vendidas em praça pública para cobrir as despesas, e as restantes são distribuídas entre os cabos e soldados participantes das bandeiras (RIBEIRO, 2005, p. 122).

Figura 11: Indígenas Xakriabá.

Fonte: http://3.bp.blogspot.com/-Ppa_JhbDNh8/VGVmtGh7W_I/AAAAAAAAA-A/BPgA8O0l2ag/s1600/movimento_xakriaba_morro_ver-melho_028.jpg.

Legenda: Os povos indígenas Xakriabá são a maior população remanescente do Estado de Minas Gerais. Atualmente vivem mais de 10 mil índios em 34 aldeias no município de São João das Missões. Entre elas, existe a Aldeia Morro Vermelho, que está localizada a cerca de 110 quilômetros.

Enfim, o Norte de Minas Gerais conheceu conflitos entre a população nativa e os bandeirantes chegantes e, para justificar a violência com que conquistavam esse território, os relatos daqueles projetaram sobre os índios a imagem de violentos e hostis. Contudo, um estudo mais cuidadoso da questão nos mostra que a violência dos índios não passou de uma reação à invasão do seu território e à sua escraviza-ção pelos bandeirantes.

Outras tribos indígenas que habitaram o Norte de Minas antes da chegada do ho-mem branco, foram os bororós que, apesar de guerreiros, ganharam a fama de “índios mansos”, e os xakriabá e akroá que resistiram por mais tempo à invasão branca. Até hoje, são encontrados, mesmo com a sua cultura violada, no Norte de Minas Gerais.

Os bandeirantes foram, então, os agentes da desestruturação das sociedades in-dígenas do sertão mineiro, no entanto suas ações pelo interior do Brasil seriam inimagináveis se não houvesse a contribuição da cultura desses povos que escravi-zavam e destruíam.

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Enfim, de forma esquemática, apenas para informar sobre a presença dos vários grupos indígenas do tronco tapuia no sertão norte-mineiro, apresentamos, base-ados nos estudos de Nimuendaju, citados em Pierson (apud Rodrigues, 2000), os principais grupos indígenas que habitavam o Vale do rio São Francisco, quando da chegada dos Bandeirantes e, também, posteriormente:

Abaeté, no tributário Abaeté, no século XII;

Tamoio e Cataguá, na área perto da junção do tributário rio das Velhas, em 1553;

Shacriabá, entre os tributários Paracatu e Urucuia, no século XVIII, e no alto Preto, afluente do tributário Rio Grande, em 1818;

Acroá, no trecho alto do tributário Corrente, no século XVIII, como outro grupo tributário Rio Grande;

Arirobé, perto do tributário Rio Grande, em 1774, e nas cabeceiras do rio Preto, afluente do tributário Rio Grande;

Tabajara, no tributário Paramirim, em 1594;

Amoipira, no próprio São Francisco, desde mais ou menos a área da atual cidade de Barra até a foz do tributário Salitre (sem data);

Tupirá, entre os tributários Jacaré e Salitre (sem data);

Ocren e Sacragrinha, ambos nos tributário Salitre e no próprio São Francisco, perto da confluência do Salitre, em 1739;

Tupinambá, à esquerda do trecho inferior do tributário Salitre, em

1759. (RODRIGUES et al., 2000, p. 110).

A essa lista de Nimuendaju, baseando-se nos estudos de Senna (1937), acrescen-tam-se, ainda, outros grupos, listados abaixo:

Abatirá, nas margens do São Francisco no Norte de Minas Gerais, assim chamados, de acordo com Senna (op. cit.), segundo o tupi, aba-tirá, por causa de sua grimpa levantada ou dos cabelos ríspidos e crescidos;

Candindé, que vivia no vale de um afluente do tributário Pará, do Alto São Francisco, e cujo nome se conserva no de uma localidade perto de Divinópolis;

Cariri, que migrou do Ceará para a área ao longo do São Francisco e principalmente para os arredores da atual cidade de Januária, onde se misturou aos Caiapós;

Catolé, que vivia no Vale do Rio Verde, tributário do São Francisco, no limite da Bahia e também mais a leste, e fora do vale, no Rio Pardo;

Caiapó, que levantaram suas “correrias desde o sertão do São Francisco aos sertões do Rio Grande, isto é, desde Januária até Paracatu, Ubera-ba, Frutal, durante o período colonial”, de acordo com as palavras de Senna (op. cit);

Guaíba, subgrupo dos Caiapós, que vivia na ilha de Guaíbas, no Rio São Francisco, perto da atual cidade de São Romão, e que foi reduzido, no século XVIII, pelos descendentes de Matias Cardoso de Almeida;

Crixá, que migrou de Goiás, especialmente para os vales do Paracatu e urucuia, tributários do São Francisco;

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Cururu, vivia no vale do tributário Carinhanha;

Goianá, que, originário de um grupo conhecido por Goiá, vivia no vale do tributário do Rio das velhas e aliou-se aos paulistas durante o tempo das primeiras bandeiras, por volta de fins do século XVII;

Kiriri, que migrou do Ceará para os sertões meridionais do São Francis-co, atingindo a área do tributário Urucuia e o sítio da atual cidade de Januária, durante o período colonial;

Tremembé, que migrou do Jaguaribe, no Nordeste, para o vale do tri-butário Paraopeba;

Tupi, inclusive os Tupinaem, no São Francisco, perto dos limites Minas-Bahia, durante o período colonial e outros grupos dispersos pelo vale do São Francisco, no Norte de Minas Gerais, durante os séculos XVI e XVII, de cuja língua derivam nomes usados hoje em várias localidades

(idem, p. 111).

1. Por que os portugueses consideravam os tapuias como “índios contrários”?

2. Preencha a tabela abaixo, de acordo com os estudos de Nimuendaju, citados em Pierson (apud RODRIGUES, 2000), informando os principais grupos indíge-nas que habitavam o vale do rio São Francisco, quando da chegada dos Bandei-rantes e, também, posteriormente.

Grupo indígena Onde viveu

As missões jesuíticas e a chegada dos primeiros europeus6

Desde os primeiros episódios da presença europeia no Brasil, os jesuítas já enfren-tavam o desafio de adentrar os “sertões” que faziam as imensas posses da Coroa portuguesa na América. As primeiras incursões jesuíticas nas terras que posterior-mente seriam as Minas Gerais datam do século XVI, acompanhando a expedição de Bruzza Espinoza, primeiro o padre Azpilcueta Navarro, em 1553, e, pouco depois, o padre João Pereira, em 1574, numa entrada capitaneada por Antônio Dias Adorno. Pereira falava sobre uma “Serra das Esmeraldas” e de uma aldeia chamada “Mar Verde”, onde erigiu uma igreja em 1574. Ambas as expedições alcançaram a região que viria a ser o Norte de Minas. Os objetivos dessas expedições eram o aldeamen-to e a catequese dos nativos, mas os padres da Companhia de Jesus também se empenharam em reencontrar o caminho da serra das Esmeraldas.

6 As considerações sobre os jesuítas estão baseadas no texto de: CATÃO, Leandro Pena. As andanças dos jesuítas pelas Minas Gerais: uma análise da presença e atuação da Companhia de Jesus até sua expulsão (1759). Horizonte, Belo Horizonte, v. 6, n. 11, p.127-150, dez. 2007.

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A aldeia jesuítica dos Reis Magos, localizada no Espírito Santo, foi o ponto de par-tida da maior parte das expedições coordenadas pelos jesuítas à região que viria a constituir a capitania das Minas Gerais. Antes da descoberta do ouro na região das Minas, os padres da Companhia de Jesus se deslocavam por aquela região com relativa desenvoltura e conhecimento geográfico do “caminho geral do sertão”. Desde o século XVII, os inacianos conheciam um roteiro que ligava São Paulo à Bahia, passando pela região que mais tarde constituiria o território da capitania das Minas Gerais, que era muito árido, segundo os seus próprios relatos. Partia-se da Bahia em direção às terras dos índios amoipiras, marchando sempre por terra. Eram mais de quatro meses de viagem:

Padecendo muitas necessidades assim de água, [...], como de comida. O que foi ocasião de que à volta se lhes tornassem para suas terras mui-tas das almas que consigo traziam [os jesuítas]. Pelo que pode agora ter por alvitre do céu achar-se que da vila de São Paulo se pode ir de canoa até os portos dos Amoipiras. (SERAFIM LEITE, 1937, p. 114)

No sentido oposto, para quem partia de São Paulo, o caminho transpunha, ao todo, uma distância de 400 léguas, até “o sertão do gentio chamado Amoipira”, que dista do rio São Francisco 20 léguas, localizado junto à barra de outro rio chamado Para-catu, onde vivem os índios com suas famílias. Os ditos índios amoipiras, apesar de viverem às margens do rio Paracatu, desciam constantemente às margens do São Francisco, em busca de suas riquezas naturais e abundantes peixes, não se fixando na região “por causa dos muitos mosquitos que há nos matos a ele visinhos” (SE-RAFIM LEITE, 1937, p. 114). O caminho, minuciosamente descrito pelos jesuítas, era o seguinte: embarcava-se no porto de rio Anhembi, que dista 25 léguas de São Paulo, as quais se vencem em três dias de jornada; “ao som de sua corrente irão demandar o Iguaçu, Rio Grande, no qual aquele se mete no que gastarão 12 dias”; contra a correnteza, dever-se-ia navegar até que à margem esquerda se encontrasse outro rio, chamado Aguapeí, “de trás de um salto, dito Pirapora, no que se gasta mês e meio”; entrando no rio Aguapeí, acima, são mais quatro dias de jornada até avistarem o primeiro porto. Dizem os padres que:

catando a terra do primeiro porto, onde se embarcaram, acharam grãos de ouro. [...] Deste porto, obra de algumas léguas, está o nomeado Rio de São Francisco, em demanda do qual irão, deixando sempre o dito porto nas costas e caminhando ao som do mesmo campo, e podem levar por ele as canoas, se não quiserem fazer outras (SERAFIM LEITE, 1937, p. 115).

Uma vez no rio São Francisco, eram mais 30 dias de navegação rio abaixo, até a barra de um rio chamado pelos índios Goiabií, que ficava na margem direita do São Francisco; adentrando o rio Goiabií, eram mais dois dias até a barra do rio Paraca-tu; da barra do rio Paracatu, são mais 15 dias de jornada até os portos dos índios amoipiras (SERAFIM LEITE, 1937, p. 116).

Não por acaso, já à época dos primeiros descobertos auríferos nas Minas Gerais, o vale do rio São Francisco se achava povoado e repleto de “currais”, onde se criava o gado, entre os quais alguns pertencentes aos jesuítas. A Companhia de Jesus parece não ter abandonado suas missões nas proximidades do sertão do rio São Francisco no contexto em que se intensificou a povoação das Minas Gerais e dos sertões adjacentes. Durante o século XVIII, os jesuítas mantiveram várias missões nos limites ou mesmo dentro da capitania de Minas. A primeira das povoações, de-nominada Lanhoso, localizava-se próxima à atual cidade de Uberaba. Mais ao norte e a oeste, localizava-se uma das maiores missões jesuíticas da região, denominada Santana, que, ao tempo da expulsão dos jesuítas dos domínios lusos, contava com 780 índios aldeados. É importante mencionar que esses aldeamentos estavam sob a responsabilidade do colégio da Companhia de São Paulo.

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A aldeia de Santana estaria relativamente próxima do rio das Velhas, onde esse deságua no São Francisco e também não muito distante da Vila de Paracatu, no caminho entre essa vila e as minas de Goiás (VIOTTI, s/d, p. 364-5). Existe ainda hoje na localidade de Barra do Guaicuí (denominada no século XVIII de Barra do rio das Velhas), região muito importante durante o século XVIII, uma igreja inacabada, cuja construção é atribuída aos padres da Companhia de Jesus. A igreja encontra-va-se em fase de edificação em 1755, mas não se sabe exatamente o ano em que se iniciou a construção da chamada “Igreja dos jesuítas.” Ao que tudo indica, a sua edificação não foi concluída devido à expulsão dos jesuítas, perpetrada em 1759.5 Em seus relatos sobre a expulsão dos jesuítas do Império português, o jesuíta José Caeiro faz menção a esses aldeamentos às margens do rio das Velhas, quando informa acerca da prisão de dois companheiros seus, “os padres Manuel Cruz e Francisco José que pastoreavam numa aldeia nas margens do chamado Rio das Ve-lhas” (CAEIRO, 1936, p. 61). Ambos os padres pedem dispensa dos votos feitos aos superiores da Companhia de Jesus e são poupados do degredo imposto aos jesuítas.

Em 3 de setembro de 1759, os membros da Companhia de Jesus foram declarados inimigos da Coroa portuguesa e expulsos de todas as suas possessões. Era o ápice do conflito entre o governo português e a Ordem. Em dezembro do mesmo ano, o conde de Bobadela recebeu um documento do Conselho Ultramarino especifi-cando a maneira como deveriam ficar aprisionados os padres da Companhia, no qual se demonstra, entre outras coisas, o quão importante era para a Coroa evitar todo e qualquer contato dos padres jesuítas com a população, o que atesta, sob determinado ponto de vista, o bom relacionamento e o prestígio gozados pelos jesuítas perante os povos de maneira geral. No entanto, o fato que mais interessa é a informação que dá conta de que foi instalada uma prisão para os membros da Companhia de Jesus em Minas Gerais, como mostra o cabeçalho do documento recebido pelo governador, referente aos cuidados que deveriam ser observados quanto à prisão e guarda dos jesuítas prisioneiros: “Ordens que se hão de observar nas guardas que bloquearem as casas em que devem ficar reclusos os Religiosos da Companhia de Jesus, nas Capitanias do Rio de Janeiro e Minas Gerais”. (AIHGB – Arquivo do Conselho Ultramarino – Cód. 1.3.8, fol. 170-171v).

A ordem para a reclusão dos jesuítas que atuavam e circulavam na capitania de Minas Gerais não seria necessária se o número deles fosse reduzido na diocese de Mariana. Tal documento também revela o quanto tal matéria era importante para a Coroa, tanto que deveriam ser muito bem guardados e permanecer incomuni-cáveis. Foi duro o tratamento que lhes foi dispensado, seja na colônia, seja na metrópole, sendo que muitos acabaram mortos devido aos maus-tratos.15

Existem vários registros da presença de jesuítas nas Minas Gerais e em seus ser-tões, nesse período, além daqueles relacionados diretamente ao bispo de Mariana. O jesuíta Anselmo Eckart, que atuava na América portuguesa por essa época, rela-ta a presença de vários deles nas imediações do que era então a região minerado-ra, confirmando também a existência de um cárcere provisório nas Minas. Eckart menciona a “saga” dos jesuítas Manuel da Silva e Pedro Tedaldi, que, “seguindo os passos gloriosos do P. Malagrida, percorreram as plagas imensas do Brasil [...]”. Manuel da Silva atuou nos vastos sertões margeados pelo rio São Francisco, sendo que no momento da expulsão encontrava-se “à margem do rio das Velhas, como lhe chamam [...]” (ECKART, 1987, p. 176).

Fonte: CATÃO, Leandro Pena. As andanças dos jesuítas pelas Minas Gerais: uma análise da presença e atuação da Companhia de Jesus até sua expulsão (1759). Revista Horizonte, Belo Horizonte, v. 6, n. 11, p.127-150, dez. 2007. Versão eletrônica disponível em http://periodicos.pucminas.br/index.php/horizonte/article/download/400/411.

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Os Jesuítas no Norte de Minas

Os jesuítas estiveram em Minas Gerais desde as primeiras conquistas exploratórias empreendidas no século 16. O padre João de Navarro Azpilcueta (c.1522 – 1557), juntamente com Francisco Bruza Espinosa, participou da expedição que buscava descobrir minas de ouro no interior do país recém-descoberto. Os dois partiram para Porto Seguro, em 1553, na expedição Espinosa-Navarro, no período conhecido como Entradas e Bandeiras, percorrendo a região do Vale do Mucuri e Norte de Minas. Carlos Affonso dos Santos, autor do livro Navarro, o primeiro apóstolo de Minas, considera Azpilcueta o primeiro geógrafo, cronista e naturalista de Minas Gerais, que descreveu as terras “em estilo singelo, alguns dos nossos rios e monta-nhas, a fauna, a flora e os aborígenes”.

Apesar de ainda estar distante o período da ocupação das terras com a fundação de cidades, o trabalho missionário de Azpilcueta foi cumprido nas aldeias da região. “Fizemos logo uma cruz grande e a colocamos na entrada da aldeia, e junto dela fizemos uma ermida (capela) onde fazia práticas de Nosso Senhor aos companhei-ros”, assinala o padre em carta datada de 1555. De acordo com Santos, essa seria a primeira vez que o território mineiro recebia uma cruz e uma humilde capela que, vinte anos depois, seriam substituídas por uma igreja e organização religiosa comandada pelos jesuítas padre João Pereira e irmão Jorge Velho.

Figura 12: A igreja de Nossa Senhora do Rosário do Brejo do Amparo.

Fonte: http://t3.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTD0Tu_OtL-pVN0ONd2_PWlsWo3ynXj3bBv4AeHf7YvVoBI43iE.

Legenda: A igreja de Nossa Senhora do Rosário do Brejo do Amparo é considerado o segundo templo mais antigo de Mi-nas Gerais. O local foi tombado pelo IEPHA, em 1989. Histori-adores afirmam que a sua construção foi iniciada em 1688 pelo sertanista Manuel Pires Maciel Parente,e que ela é um dos raros exemplares da arquitetura jesuítica no sertão mineiro do Rio São Francisco.

A presença de jesuítas na região é defendida por correntes de estudo que consi-deram a existência de missões na região norte do estado, principalmente ligada à fase de povoamento. Alguns bens culturais do norte de Minas são mencionados como fruto da influência jesuítica no estado. Em Januária, no distrito de Brejo do Amparo, está a Igreja de Nossa Senhora do Rosário. De acordo com o proces-so de tombamento estadual, algumas versões da história do templo remetem a construção da igreja ao período de formação de pontos avançados de catequese jesuítica na região abrangida pelo rio São Francisco. Ainda segundo o processo, as evidências jesuíticas estariam presentes no estilo rústico da construção e em seus elementos construtivos. A data inscrita na fachada, 1688, seria uma indicação de uma construção primitiva, que estaria ligada ao trabalho dos padres missionários.

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Outra edificação de destaque da região norte, cuja influência jesuítica não é des-cartada, é a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Matias Cardoso. A edificação apresenta traços de construções religiosas do recôncavo baiano, prin-cipalmente em seus aspectos severos da composição. A igreja se assemelha a uma fortaleza e suas paredes alcançam a espessura de um metro e meio. A matriz de Matias Cardoso e a igreja de Januária são consideradas as primeiras construções de templos religiosos no estado de Minas Gerais.

Figura 13: Matriz de Matias Cardoso.

Fonte: http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2012/10/30/interna_gerais,326347/igrejas-da-historia-religiosa-de-minas-serao-res-gatadas-em-duas-cidades.shtml.

Legenda: A história da Matriz de Matias Cardoso, na Região Norte, está ligada a incursões de bandeirantes paulistas no sertão mineiro, em busca de ouro e pedras preciosas. Constam como fundadores do Arraial de Morrinhos, hoje Matias Cardoso, os sertanistas Matias Cardoso de Almeida, seu filho, Januário Cardoso, e Antônio Gonçalves Figueiras, entre outros, que desbravaram o território entre o Morro do Chapéu e as vertentes do Rio Pardo, até a confluência do Rio das Velhas, afluente do São Francisco.

Os moradores mais antigos do distrito de Guaicuí, mais conhecido como Barra do Guaicuí, situado no encontro dos rios da Velha e são Francisco, em Várzea da Palma, atribuem aos jesuítas a iniciativa da construção da igreja do Senhor Bom Jesus de Matozinhos e também da igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso, no arraial de Porteiras. As ruínas da igreja inacabada do Senhor Bom Jesus atestam a expressividade da construção e características reforçam a suposta presença dos jesuítas, entre elas a adoção de características empregadas em ermidas e capelas construídas pela Companhia de Jesus.

Versão eletrônica do texto disponível em http://www.IEPHA.mg.gov.br/banco-de-noticias/1201-IEPHAmg-informa-conheca-um-pouco-sobre-a-companhia-de-je-sus-ou-jesuitas

Os bandeirantes no Norte de Minas

O primeiro momento da ocupação interior do Norte de Minas gerais pelos portu-gueses, de acordo com Pires (1979), deu-se com o que ele chamou de “baianos nas bandeiras” (PIRES, 1979: p. 63). Essa fase do movimento bandeirante no Brasil as-socia-se ao combate e preação do gentio e ao combate aos quilombos e recaptura de negros fugidos. Por outro lado, o advento das bandeiras baianas está associado à proibição da escravização indígena na América espanhola, após o memorável tribu-nal de Valladolid, de 1550, e tem também um aspecto de reconhecimento da terra.

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A proibição espanhola acabou por redirecionar o bandeirantismo para o interior do Brasil, onde a coroa portuguesa, a despeito da pretensa proteção jesuíta ao gentio contra a escravidão, vacilava entre tomar medidas contra isso ou permitir a utili-zação do índio como mão de obra para a colonização. O fato é que a indefinição da coroa acabou por, na prática, dar permissão ao apresamento de índios no Brasil. Sobre isso, permitimo-nos a transcrição do seguinte trecho de Abreu (2000):

(...) Os missionários esperavam ser mais felizes no além-mar e embar-caram Antônio Ruiz de Montoya para Madri, Francisco Dias Taño para Roma. Conseguiu este bulas e censuras fulminantes, trouxe aquele as ordens mais precisas e encarecidas para as autoridades coloniais. Tudo perdido. Conhecidas as letras pontifícias no Rio, alborotou-se a popu-lação, e a bula ficou suspensa. A irritação propagou-se pela marinha e intensificou-se serra acima. Defendidos por seu caminho inexpugnável, os paulistas expulsaram os jesuítas, que só voltaram anos depois, à força de negociações e concessões. Implantou-se, portanto, o siste-ma seguido nas terras espanholas de encomendas ou administração dos índios; algumas encomendas por testamento couberam finalmente à Companhia de Jesus (...). Montoya conseguiu licença para aparelhar os índios com armas de fogo e adestrá-los na arte militar. Em breve os bandeirantes perderam a superioridade: derrotados, procuraram con-quistas mais fáceis (...) (ABREU, 2000, p. 132-133).

A partir daí, as expedições ao interior do Brasil, partindo de Salvador, começaram a ganhar sentido e várias delas foram enviadas, abrindo caminho para a ocupação do sertão mineiro. Esses bandeirantes pioneiros, em sua maioria, eram originários de São Paulo. Porém, Pires (op. cit.) os chama de “baianos nas bandeiras”, pelo fato de essas primeiras expedições terem partido da Bahia, para apreamento de índios. As primeiras expedições ao sertão norte-mineiro foram:

• A de Francisco Bruzza Espinoza, conforme carta do Padre João Aspicuelta Navarro de 1555 (apud JOSÉ, 1987, p 50). De acordo com Navarro, essa ex-pedição percorreu “350 legoas”, penetrando o sertão pelo rio Jequitinhonha, alcançando o rio São Francisco e, depois, o rio Pardo, chegando a Ilhéus. O Padre Navarro também descreveu as espécies animais e vegetais e destacou a riqueza natural da região. Segundo ele, “o fructo sólido desta terra parece que será quando se for povoando de christãos” (apud JOSÉ, 1987, p. 54-55);

• A de Sebastião Fernandes Tourinho que, partindo de Ilhéus, percorreu todo o vale do rio Doce. Rugendas, em seu “Viagem Pitoresca através do Brasil” (1835) afirma: “Sebastião Fernandes Tourinho foi o primeiro português que, da costa, penetrou o interior do pais. Partindo, em 1573, de Porto Seguro, subiu o rio Doce até as proximidades de Vila Rica...” (p. 79). Passando, portanto e inevitavelmente – pela região que hoje corresponde ao Norte de Minas Gerais”;

• A de Antônio Dias Adorno, que, em 1574, partindo de Salvador por mar, pene-trou no Rio Caravelas e por terra chegou ao vale do Rio Mucuri, alcançando as terras do atual Estado de Minas Gerais.

Esses primeiros bandeirantes a adentrarem os sertões, aliás, diga-se de passagem, lembram o que era o sertão no imaginário português quando dessas primeiras ex-pedições. Tomemos emprestadas as palavras do Historiador Basco Estebe Ormaza-bal, que nos diz o seguinte sobre a questão:

Una correcta definición de “sertão” sería la siguiente: “abrupto ter-reno situado lejos de poblados y cultivos”. En la historia y cultura de Brasil, sin embargo, ha ido adquiriendo otras connotaciones: descono-cidas tierras del interior de Brasil, lejanas de la costa, inhóspitas... Al haberse iniciado la colonización desde la costa, las tierras del interior

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(sertão) eran por una parte territorio de indios, bestias, selvas, enfer-medades y de lo desconocido, y, por otra, tierras que prometían un fácil enriquecimiento, oro, piedras preciosas, esclavos y almas cristia-nizables. Las minas de oro, plata y de piedras preciosas, sobre todo de esmeralda y amatista, eran toda una obsesión para los colonizadores de Brasil, y estas ansias no hicieron sino aumentar cuando Brasil alcanzó el status de Gobierno General (Governo Geral). Era una atractiva forma de enriquecimiento rápido, tanto para el gobierno metropolitano como para los colonos. (ORMAZABAL. Versão eletrônica do texto disponível em http://www.euskonews.com/0337zbk/kosmo33701es.html).

Destacamos desse imaginário português acerca do sertão a visão do desconhecido, do inóspito, do distante e do selvagem, ao mesmo tempo, a visão das possíveis riquezas e possibilidades de enriquecimento fácil. Além de índios para o cativeiro, os tão sonhados metais preciosos apareciam para os portugueses como uma das grandes possibilidades do sertão. Esse sonho foi tão mais alimentando, e logo foi encontrada, em grande quantidade, a prata no lado espanhol do meridiano de Tordesilhas. As primeiras bandeiras acorreram aos sertões, também em busca da realização desse sonho. De acordo com Ormazabal (op. cit.):

A partir del año 1550, los habitantes de la Capitanía Porto Seguro em-pezaron a tener conocimiento de una preciosa y brillante cordillera del interior, Serra Verde, Serra Negra o Serra das Esmeraldas. Estos rumores fueron avivados por los indios del interior, quienes aseguraban que en la orilla del estanque de Vupabuçu (Laguna de Aguas Negras) se podían encontrar esmeraldas y zafiros (idem).

Associa-se a essa busca de riqueza fácil, característica da tradição ibérica já es-boçada por Holanda ([1936] 2003), a ideia da simples conquista de novas terras impulsionada pela obrigação de expandir a fé cristã que tomava conta do espírito lusitano àquela época. Para Lima ([1944] 2000):

As pedras e os metais preciosos serviram, é evidente, de imã para atrair os exploradores para regiões ignoradas e, uma vez ali, para fazê-los se afoitarem até os pontos menos acessíveis. De dez que partiam de além-mar, nove não sonhavam, bem entendido com os tesouros de Gol-conda. O ouro e a prata dos incas haviam confirmado a existência na América do Sul de riquezas minerais, que cada qual se apresta a des-cobrir antes de outro qualquer. Desde o século XVI tiveram lugar as ‘entradas’, principalmente, senão exclusivamente, na região compre-endida entre o rio São Francisco, a grande artéria fluvial brasileira em toda a sua extensão, e o Porto de São Vicente – a seção que forma o Brasil tradicional, a parte que foi o núcleo do Brasil histórico (...). Esses pioneiros do deserto, esses descobridores de um mundo novo, oculto aos navegadores, se sucediam, obscuros artífices de uma grande nação, sem que a fortuna e o renome fizessem brilhar seus nomes à maneira do dos combatentes do litoral (p. 86-87).

É claro que as colocações de Oliveira Lima são um tanto quanto controversas. Dar aos bandeirantes a imagem de heróis construtores da nação ou “obscuros artífices de uma grande nação”, nas palavras do próprio autor, é no mínimo um exagero. Seja como for, em busca de metais e de enriquecimento fácil ou do aumento dos territórios de El Rei ou de novos fiéis para a Santa Igreja, os primeiros bandeirantes abriram os caminhos para a ocupação portuguesa do interior brasileiro além-litoral. Em 1553, o Rei D. João III ordenou ao Governador Geral Tomé de Souza que exploras-se as fontes do rio São Francisco. Informado de que os espanhóis haviam encontrado ouro, prata e esmeraldas do outro lado de Tordesilhas, encomendou a organização de uma expedição ao castelhano Francisco Bruzza Espinoza, da qual fez parte o Padre João Aspicuelta Navarro.

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Assim, em outubro ou novembro de 1553, partia a primeira expedição para o interior que, em um ano e meio, percorreu cerca de 350 léguas (mais de dois mil e trezentos quilômetros). Partindo de Porto Seguro, atingiu, através do rio Jequitinhonha, a cor-dilheira da Serra do Mar, para em seguida alcançar o rio São Francisco, o rio Verde, e finalmente descendo o rio Pardo, desembocou no oceano Atlântico. A crônica da via-gem, as dificuldades do caminho, a descrição da natureza e os encontros com os índios foram narrados por Aspicuelta em carta enviada a Coimbra, em 24 de junho de 1555.

O que temos muito claro nos relatos de Aspicuelta é a forte intenção missionária cristã que era, de acordo com o jesuíta, compartilhada pelos outros membros da expedição. Parece que, nas sucessivas etapas da viagem, nem todos os índios fo-ram tão “selvagens”. Aspicuelta se referiu à beleza da paisagem, à fertilidade da terra e aos costumes indígenas (caça, pesca, organização social). Podemos deduzir que esses primeiros contatos foram pacíficos, o que deu a Aspicuelta um alento na sua luta pela conquista de almas para o mundo cristão.

Essas primeiras incursões portuguesas aos sertões foram, então, relativamente pa-cíficas. Porém, a partir do final do século XVI, após a fundação da vila de São Paulo de Piratininga, esse quadro iria mudar. A necessidade de mão de obra naquela vila que, pelas suas condições de isolamento em relação aos negócios agroexportado-res, impedia-lhe o acesso aos cativos africanos, levou os seus habitantes a recor-rer ao braço indígena. Iniciava-se o apreamento do gentio, tanto para o trabalho em São Paulo quanto para o comércio de escravos, e a consequência disso, como forma de resistência, foi uma atitude mais hostil dos índios. Estava iniciada, por-tanto, uma nova fase na penetração portuguesa para o interior do Brasil: o ban-deirantismo de apresamento de índios, bem como das guerras contra eles. Antes de tratarmos dessas guerras, falaremos de uma forma de ocupar o sertão que se desenvolveu desde então e que foi de fundamental importância nesse processo, a expansão da pecuária no vale do rio São Francisco.

Figura 14: As ruínas da igreja do Senhor Bom Jesus do Matozinhos, na Barra do Guaicuí, em Várzea da Palma.

Fonte: http://www.iepha.mg.gov.br/banco-de-noticias/1201-iephamg-informa-conheca-um-pouco-sobre-a-companhia-de-jesus-ou-jesuitas

Abertos os caminhos para o sertão norte-mineiro por essas primeiras bandeiras, outras incursões ganharam sentido no que diz respeito à prospecção mineral, ao combate aos índios que passaram a guerrear contra a sua escravização e aos qui-lombos para os quais os senhores de engenho perdiam a sua valiosa mão de obra do negro africano. Nesse contexto, outro fator de ocupação do sertão, a pecuária, impôs aos portugueses a necessidade de afastar as tribos indígenas que resistiam

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à colonização, levando as autoridades coloniais a utilizarem como estratégias de desocupação dessas terras a eliminação dos nativos que resistissem aos interesses colonizadores, especialmente os homens, já que as mulheres e crianças não eram mortas, pois poderiam servir aos interesses dos colonizadores. Não deixamos de lado o bandeirantismo, apenas, de acordo com a esquematização de Pires (1979), faremos agora a análise da pecuária como fator de ocupação do sertão norte-mi-neiro, já que tal ocupação suscitará futuramente novas incursões bandeirantes na Guerra dos Bárbaros.

Matias Cardoso e Antônio Figueira: os bandeirantes fazendeiros

Antes mesmo de sua ocupação pelos bandeirantes, e até mesmo pela sua apro-priação pela casa da ponte e do advento da mineração na região de Ouro Preto e Sabará, temos notícias da atividade criatória no sertão norte-mineiro. Como já colocamos alhures, a pecuária já se fazia presente na região desde a ocupação holandesa no Pernambuco (1624-1654). A historiografia brasileira nos informa so-bre a resistência aos holandeses, empreendidas principalmente a partir da Bahia, bem como levanta a hipótese dessa resistência ter ocorrido também nos sertões, para onde os batavos não ousavam penetrar. Para Pires (1979), “o invasor holandês temeu-o; ficava bem à distância dos seus navios e dos socorros da Holanda; era, além do mais, uma conquista rude e difícil; (...) eram homens de praia e não colo-nizadores; e mais, os portugueses tinham vindo antes e fincado raízes profundas” (p. 36). Para servir à luta contra os holandeses, desenvolveu-se nos sertões a pe-cuária. O gado vacum era de fundamental importância para servir de força motriz e para alimentar as tropas que se formavam na luta contra aqueles. Portanto, essa nova corrente bandeirista encontrou de pronto a atividade criatória nos sertões. Assim, Matias Cardoso e Antônio figueiras, não tendo encontrado as tão sonhadas esmeraldas acabaram por continuar a guerra contra o gentio, por se fixar na região e por se envolverem com a pecuária. De acordo com Paula (op. cit.):

Matias gostava de peixe, não temia as ‘carneiradas’: fixou-se às bar-rancas do São Francisco acompanhado de seu filho Coronel Januário Cardoso, solidificando suas situações e fundando Morrinhos, São Romão, Amparo, e outras menores povoações ribeirinhas (p. 5).

Matias Cardoso de Almeida nasceu em São Paulo, onde, segundo Costa (2003, p. 233), “ser bandeirante constituía-se um impulso tão irresistível que arrastava a toda a população paulista de forma tão intensa que até às crianças contagiava. Fi-lho do bandeirante Matias Cardoso de Almeida, o filho de mesmo nome foi lançado desde pequeno à carreira para “buscar a vida e ‘os modos de lucrar’, mal atinge dez anos e quase não sai mais do sertão, no arraial paterno” (TAUNAY, 1948, p. 90, t.7).

Desde 1613, várias bandeiras paulistas percorreram o rio São Francisco estabelecendo o chamado Caminho Geral do Sertão, que ligava a cidade de Salvador à vila fundada pelos jesuítas Manoel da Nóbrega e José de Anchieta, no planalto paulista. O conheci-mento adquirido sobre os caminhos do sertão e suas vitórias sobre índios e quilombolas levaram o Governo Geral a lançar mão das bandeiras paulistas, desde 1651, a fim de combater o gentio e escravos que, fugindo da escravidão, foram em busca de espaços onde pudessem viver a vida em liberdade, formando os seus quilombos.

Como um anônimo, Matias Cardoso de Almeida, após a morte do pai, em 1656, empreendeu bandeiras que, independentemente dos vínculos com a administração

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colonial, lançaram-se ao aprisionamento de índios e ao extermínio de quilombos, conforme informam Francisco Carvalho Pinto (1940) e Taunay (1948). Sua atuação nesse período ficou tão conhecida na vila de São Paulo que acabou por ser, em 1674, convocado para acompanhar Fernão Dias Pais, seu tio, na busca das esme-raldas. Como Capitão-mor e lugar-tenente de Fernão Dias, partiu em busca da len-dária lagoa Vapabuçu. Após tê-la encontrado, por motivo de doença, afastou-se da procura das pedras verdes, deixando escravos que conheciam a região na condução do seu tio bandeirante. Ao mesmo tempo, comprometeu-se a enviar alimentos de seu arraial nas margens do rio São Francisco (Morrinhos), para a bandeira do tio.

Matias Cardoso lançou-se, então, novamente ao aprisionamento dos índios mapaxó e ao extermínio de negros, até que foi indicado para acompanhar o Governador e Administrador Geral das Minas do Sertão de Sabarabuçu, Don Rodrigo del Cas-tel Blanco, emissário espanhol do rei. Nomeado tenente-general, o conduziu, em 1683, pela região, quando reencontrou a bandeira de Fernão Dias Paes – nesse momento já falecido. Por essa época ocorreu também a morte do governador es-panhol pelas mãos de Manuel de Borba Gato, que fugiu para a foz do rio das Ve-lhas, fundando, em 1684, um arraial que mais tarde ficou conhecido como Barra do Guaicuy. Nesse período, Matias Cardoso reconheceu, como nos informa Leme (1980, t.1), “a conveniência da organização militar nas expedições, dividindo as tropas em companhias dirigidas por um estado maior” (p. 271). Retornando ao seu arraial, após ser intitulado Governador e Administrador dos Índios na Capitania de Porto Seguro, sitiou aldeias indígenas na região do São Francisco, fato que levou os Kariri, Pimenteira, Icó e Amoipira a empreenderem uma ofensiva generalizada contra os colonos. Configurava-se a Guerra dos Bárbaros.

A partir de 1687, houve um recrudescimento dessa guerra, e o Governo Geral, diante de solicitações dos moradores dos vales do Jaguaribe e do Açu, no Ceará, e do Grande no Rio Grande do Norte, enviou pedido de auxílio à Câmara da vila de São Paulo. Matias Cardoso de Almeida recebeu, então, do Governo Geral, em 1689, a patente de Governador Absoluto da Guerra contra os Índios e uma sesmaria de oitenta léguas das cabeceiras do rio Pardo até as cabeceiras do rio Doce. Cardoso recebeu, assim, o comando absoluto da guerra, submetendo todas as companhias nordestinas que se encontravam no campo de batalha. Em correspondência do Go-vernador Geral para o Governador de Pernambuco, em 1690, encontramos: “o seu intento é consumá-la e extinguir os bárbaros quanto antes possa, seja assim pelo interesse de presa e da glória, como por haver trazido sua casa com muitas famílias para o rio de São Francisco, onde pretende fundar uma vila e tem já bastante po-voação” (Documentos Históricos da Biblioteca Nacional, transcritos por Fagundes e Martins, 2002, p. 61).

Cardoso organizou um exército com mil e duzentos homens, dividido em dois cor-pos de seiscentos homens cada um, e partiu no comando de um corpo, enquanto o outro foi comandado pelo Capitão-Mor João Amaro Maciel. Enquanto aguardava em seu arraial a chegado de um outro corpo militar que seria enviado de São Paulo, enviou feitores e escravos para plantarem roças, prepararem pousos em lugares adequados, ao longo do caminho, e avisar aos moradores dos arraiais existentes que prestassem auxílio ao seu exército, em sua passagem.

Enquanto se deslocava para o baixo São Francisco com o cuidado de deixar tropas protegendo o seu arraial no São Francisco, os terços ou regimentos no campo de batalha se reuniram, esperando a chegada do Governador Absoluto da Guerra. Nessa incursão, Matias Cardoso trocou correspondência com o Governador Geral informando sua intenção de terminar a guerra contra os indígenas o mais rápido

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possível, retornar ao seu arraial e trazer novos paulistas para tomarem conta da sesmaria que recebera e também para continuar a guerra contra os negros aqui-lombados em Palmares, diante de um possível fracasso de Domingos Jorge Velho.

Uma vez instalado em seu arraial, Matias Cardoso e seu exército iniciaram a luta contra os índios confederados. Com a diminuição das hostilidades, formaram-se dois acampamentos, um na foz do rio Jaguaribe e outro às margens do rio Açu, num ponto central da zona em conflito, o que facilitou o socorro rápido e imediato às demais. Para suprir a carência alimentar, foi enviado um grupo, que se integraria ao exército paulista, incumbido de trazer três mil cabeças de gado.

Resistindo à invasão, os índios invadiram a cidade de Natal, em 1693. Essa inva-são foi combatida pelas tropas de Cardoso que, vitorioso, aprisionou cerca cento e vinte índios, forçando os fugitivos a aceitarem um acordo de paz, que lhes foi concedido e solenemente outorgado por um tratado assinado em Salvador. Ocor-reram outras batalhas até que, em 1694, no Ceará, os índios capitularam. Daí, Matias Cardoso partiu em socorro a Domingos Jorge Velho, que estava com o seu acampamento cercado pelos quilombolas de Palmares. A ajuda de Cardoso a Velho é considerada de fundamental importância na debelação de Palmares.

Cardoso retornou ao seu arraial no médio São Francisco. Nesse momento, membros de sua bandeira foram buscar, em São Paulo, as suas famílias e convidaram outros paulistas a se fixarem no sertão do São Francisco, onde ampliaram o número de fazendas de criação de gado. Também vieram para o sertão outros parentes de Car-doso, como o seu cunhado Antônio Gonçalves Figueira, com os filhos Manoel Ângelo Gonçalves Figueira, Maria Gonçalves Figueira e seus irmãos Manoel Afonso de Gaia, Miguel Gonçalves Figueira e João Gonçalves Figueira, além de seus sobrinhos. Outros membros de sua bandeira também levaram parentes para o médio São Francisco, povoando a área, onde construíram fazendas da foz do rio das Velhas à foz do Rio Verde Grande e em seus afluentes como os rios Urucuia, Carinhanha, Paracatu e Verde Grande.

A partir daí, a região passou a ser conhecida como os “Currais da Bahia”, região que, de acordo com Leme (1980), “era país fértil, de grande opulência, concurso de negócios e de outras muitas utilidades” (p. 145, t. 1). Em 1695 o arraial de Ma-tias Cardoso foi elevado à condição de Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Morrinhos, quando foi construída a igreja da matriz. Enquanto isso, em 1697, a Guerra dos Bárbaros chegava ao fim, sob o comando do Capitão-Mor Bernardo Vieira de Mello, que forçou os índios restantes a se deslocarem para o Mearim e para o Itapicuru, no Maranhão.

Em reconhecimento à vitória na Guerra aos Bárbaros, El Rei D. Pedro concedeu a Matias Cardoso a independência político-administrativa, sem nenhuma subordina-ção ao Governo Geral do Brasil, conforme informa Leme (op. cit., p. 265, t. 1). A descoberta do ouro em Minas Gerais, em fins do século XVII, diante da autonomia de Cardoso, acabou por gerar novos conflitos, dessa vez com a administração colo-nial. Em carta ao Governador Geral, o governador da Capitania do Rio de Janeiro informa, em 1698, que “o fuão Cardoso, dono dos primeiros currais onde se reco-lhem índios que fogem dos moradores daquelas vilas” (apud. Fagundes e Martins, 2002, p. 69). Cardoso recusava-se a entregar os indígenas aprisionados ou reduzi-dos em seu arraial, com imenso prejuízo para a Fazenda Real.

Matias Cardoso de Almeida morreu em 1706. Para Taunay (1955), ele

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(...) foi a grande figura dos primeiros povoamentos dos currais da Bahia, cujas ações não precisamos encarecer, como lugar-tenente de Fernão Dias Pais e um dos três grandes governadores da Guerra dos Bárbaros.... Arrastara para lá, muitos parentes afim de se afazendarem como o fize-ram e do modo mais notável... Os Currais da Bahia, maximé os da zona lindeira do São Francisco, e as propriedades agrícolas deram as carnes e as farinhas que salvaram os mineiros e asseguraram a persistência da mineração (p. 333, t. 9).

Figura 15: Carne de Sol: tradição direta-mente relacionada à pecuária no Norte de Minas.

Fonte: http://2.bp.blogspot.com/-Fq15Np2e7BI/T4xi2ZOR5YI/AAAAAAAAAmg/hYy26v_2Oxg/s1600/carne1.jpg.

A bandeira de Matias Cardoso de Almeida e toda a sua linhagem, por sua atuação na ocupação do médio São Francisco, escravizando índios e combatendo quilombo-las, ao se converterem em criadores de gado, constituíram-se em elemento funda-mental na ocupação do Norte de Minas. A origem de várias cidades norte-mineiras está associada à formação de uma fazenda de criação de gado por um dos membros da bandeira de Cardoso. Podemos citar, a título de exemplo, Antônio Gonçalves Figueira, em Montes Claros; Manoel Afonso de Gaia, em São José do Gorutuba; Januário Cardoso de Almeida, em Januária, São Francisco e São Romão; Salvador Cardoso de Oliveira, em Pedras de Baixo de Maria da Cruz, entre outros.

O Currais complementam a economia mineradora

A atividade agropastoril no Norte de Minas Gerais precede a atividade mineradora. Sabemos que, pelo menos desde a época da invasão holandesa na região açucareira do litoral do nordeste, o gado já era criado nas terras de Guedes de Brito. Segundo Antonil (1976 [1711]):

Os currais desta parte hão de passar de oitocentos, e de todos estes vão boiadas para o Recife e Olinda e suas vilas e para o fornecimento das fábricas dos engenhos, desde o rio de São Francisco até o rio Grande, tirando os que acima estão nomeados, desde o Piauí até a barra de Igua-çu, e de Paranaguá e rio Preto, porque as boiadas destes rios vão quase todas para a Bahia, por lhes ficar melhor caminho pelas Jacobinas, por onde passam e descansam. Assim como aí também param e descansam as que à vezes vêm de mais longe. Mas, quando nos caminhos se acham pastos, porque não faltaram as chuvas, em menos de três meses che-gam as boiadas à Bahia, que vêm dos currais mais distantes. Porém, se por causa da seca forem obrigados a parar com o gado nas Jacobinas, aí o vendem os que o levam e aí descansa seis, sete e oito meses, até poder ir à cidade (p. 200).

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Para Abreu (2000 [1926]), “formou-se no trajeto do gado uma população relati-vamente densa, tão densa como só houve igual depois de descobertas as minas, nas cercanias do Rio” (p. 155). Após a descoberta do ouro nas margens do ribeirão Tripui e do ribeirão do Carmo, surgiram as Minas Gerais, onde a escassez de ali-mentos e animais de transporte colocou aos criadores de gado dos Currais da Bahia na posição de seus fornecedores para a nascente sociedade mineradora. De acordo com Antonil (op. cit), o preço dos animais de corte e de transporte, assim como os dos gêneros alimentícios, era bastante elevado. Segundo o Jesuíta,

(...) sendo a terra que dá ouro esterilíssima de tudo o que se há mister para a vida humana, e não menos estéril a maior parte dos caminhos das minas, não se pode crer o que padeceram ao princípio os mineiros por falta de mantimentos, achando-se não poucos mortos com uma espiga de milho na mão, sem terem outro sustento. Porém, tanto que se viu a abundância do ouro que se tirava e a largueza com que se pagava tudo o que lá ia, logo se fizeram estalagens e logo começaram os mercadores a mandar às minas o melhor que se chega nos navios do Reino e de outras partes, assim de mantimentos, como de regalo e de pomposo para se vestirem, além de mil bugiarias de França, que lá também foram dar. E, a este respeito, de todas as partes do Brasil, se começou a enviar tudo o que dá a terra, com lucro não somente grande, mas excessivo. E, não havendo nas minas outra moeda mais que ouro em pó, o menos que se pedia e dava por qualquer cousa eram oitavas. Daqui se seguiu mandarem-se às minas gerais as boiadas de Paranaguá, e às do rio das Velhas as boiadas dos campos da Bahia, e tudo o mais que os moradores imaginaram poderia apetecer-se de qualquer gênero de cousas naturais e industriais, adventícias e próprias (p. 169-170).

Decorre disso a transferência, via comércio de alimentos e de gado, de grande quantidade de ouro para o sertão do São Francisco e daí para Salvador. Entendendo tal transferência como “contrabando do ouro”, o governo da Capitania de São Pau-lo e Minas do Ouro sugere à coroa portuguesa a interdição dos caminhos da Bahia e o bloqueio do comércio dos produtos do sertão para a região mineradora. Segundo Costa (2003), “A resposta da sociedade pastoril veio de imediato, até desaguar-se na conhecida Guerra dos Emboabas, cujos líderes eram o procurador da Casa da Ponte, Manuel Nunes Viana e diversos sacerdotes e criadores de gado baianos” (p. 240). Ao final da Guerra dos Emboabas, iniciou-se um processo de “isolamento do sertão” e, contrariando a autonomia da região concedida por El Rei Dom Pedro a Matias Cardoso de Almeida por sua vitória na Guerra dos Bárbaros, em 1720, a re-gião foi subordinada à nascente Capitania de Minas Gerais. Esse fato que também significou a subordinação, ou pelo menos tentativa de subordinação, dos sertões à política fiscal abusiva praticada sobre a região mineira, que gerou conflitos entre os sertanejos e as autoridades coloniais. Entre eles destacamos os Motins do São Francisco ou do Sertão, em 1726.

Partindo de São Romão, após o encontro de grupos armados nessa localidade e durante o percurso, os sertanejos marcharam sobre Sabará, Cachoeira do Campo, Ribeirão do Carmo e, finalmente Vila Rica, para depor o governo e instaurar go-verno próprio. Esse movimento não logrou êxito, pois foi descoberto pela milícia colonial, em São Romão, e diversos líderes foram presos, entre eles Maria da Cruz e seu filho Pedro Cardoso.

A articulação da atividade agropastoril do Sertão com a atividade mineradora havia transformado os sertões em uma área bastante rica. De acordo com Lima Júnior, “A riqueza extraordinária desses territórios explica, como não obstante sua posição remota, a grande distância da Bahia e São Paulo, despertava tanto interesse aos que aqui haviam penetrado, atraindo-os para a fixação definitiva” (apud., PAULA

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1979, p. 7). Ao mesmo tempo, resistindo aos abusos tributários das autoridades coloniais, tudo isso associado ao seu relativo isolamento, a região se conformou em área de atração e fixação para diversos grupos que para ela afluíam em busca de riquezas, terras e liberdade, quais sejam: os negros que fugiam da escravidão e parte da população da região das minas, que buscava se livrar do peso do fisco português. A vinda dessa população deu aos sertões a representação do “Sertão dos facinorosos”, como disse Diogo de Vasconcelos. Para Pires (1979), a fuga para os sertões eram

(...) uma fuga humana agitada. Repetia a corrida tempestuosa dos seus afluentes torrenciais. Eram escravos negros em busca de liberdade. Fuga também do homem branco e do índio. Visavam todos a uma vida de aventuras honradas ou de assaltos, nos ermos distantes do poder real e de suas autoridades. Era o Sertão lenda. Bravio e de paixões (p. 35-36).

Enfim, o bandeirantismo, com a sua marca da adaptação às técnicas nativas de re-produção material da vida, articulado à pecuária com a sua marca do homem livre e a distância que guardavam os sertões em relação ao poder do Estado colonial, fizeram com que essa região tivesse a marca da liberdade em diversos aspectos, sejam eles políticos e econômicos, sociais ou culturais.

Os quilombos como fator de ocupação no Norte de Minas

A historiografia brasileira tem negado aos quilombos o papel de elemento forma-dor da sociedade brasileira. Durante muito tempo eles estiveram escassamente estudados. Porém, nos últimos anos, tais estudos têm se intensificado, permitindo muitas novas apreensões daquela prática negra, inclusive a da sua importância para a formação sócio-histórica brasileira. No bojo dessa monografia, pretendemos entender os quilombos também como um fator relevante na ocupação do interior do Brasil, especialmente no Norte de Minas Gerais, que é o objeto principal em nosso trabalho. É certo que os estudos sobre a escravidão no Brasil têm tido uma crescente preocupação por parte dos historiadores, sociólogos, antropólogos, eco-nomistas e outros, mas sempre com uma ênfase maior nas relações de produção, nos mecanismos de distribuição e nas eventuais e prováveis consequências desse período na nossa história atual. Acrescentam-se a esses estudos, mais atualmente, abordagens que envolvem questões culturais e do cotidiano como a família, o gê-nero, a língua, bem como surgem estudos que procuram dar aos quilombos o papel de fator de ocupação territorial do espaço brasileiro.

Costa (1999) nos diz que

(...) a presença dessas famílias morenas, entre extensas áreas de muito pasto e pouco gado, chama a atenção e remete à uma trajetória his-tórica comum que fala de escravidão, quilombos, igualitarismo, reci-procidade, comunidade, domesticação do sertão, conflitos, expulsões, resistência, lutas e marginalização: trajetória comum às comunidades negras rurais espalhadas, enquanto organizações negras, em espaços sociais brancos (p. 28).

Ao utilizar o termo “famílias morenas”, o autor está se referindo aos remanescen-tes quilombolas que hoje ocupam uma região conhecida como Brejo dos Crioulos, situada na divisa dos municípios de São João da Ponte e Varzelândia, ao longo das encostas do ribeirão Arapuim, no sertão doNorte de Minas Gerais. Ao utili-zar a “domesticação do sertão”, entendemos que o autor propõe que os espaços ocupados pelas populações negras remanescentes dos quilombos não são reco-

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nhecidos socialmente como ocupados, ficando entendidos, portanto, como livres para a colonização, especialmente por atores legitimamente reconhecidos pelo Estado como aptos para tal. Ou seja, atores que estejam vinculados e legitimados pelo estado de direito e pelas relações econômicas mercantis e, assim, entendidos como adequados para a ocupação do território em detrimento daqueles que já o ocupavam de longa data. Enfim, os espaços ocupados pelos negros quilombolas foram considerados espaços vazios. Em outras palavras, os quilombos não têm sido considerados como fatores legítimos de ocupação do território. É claro que, desde a Constituição de 1988, foram estabelecidas gestões no sentido de dar aos remanescentes de quilombos a legitimidade da posse de suas terras, porém isso tem se dado conflituosamente, pois aquelas terras continuam sendo invadidas, e os invasores têm conseguido com as autoridades legais o direito de posse.

No período colonial, Quilombo era entendido como, de acordo com resposta do Rei de Portugal à consulta do Conselho Ultramarino, em dezembro de 1740: “toda habitação de negros fugidos que passem de cinco, em parte despovoada, ainda que não tenham ranchos levantados nem se achem pilões neles” (apud. MOURA, 1987. p. 16). A formação de quilombos no Brasil colonial e depois na monarquia, até a abolição da escravidão, em 1888, não foi episódio esporádico, tanto no espaço, quanto no tempo. A presença de cidades, vilas, povoados, fazendas e acidentes geográficos com o nome de mocambo ou de quilombo, marcante na toponímia brasileira, pode nos servir para demonstrar a importância social, constância, inci-dência e permanência na consciência histórica e social. Assim, podemos concluir que os quilombos têm uma constante histórica, e sua importância social é muito maior do que a que tem sido dada pela historiografia brasileira.

A incidência espacial dos quilombos também nos permite falar de sua importância sócio-histórica. De acordo com Moura (1987), a formação de quilombos “não é um fenômeno circunscrito a uma área determinada, e sim pontilhado por todo o terri-tório brasileiro” (p. 17), enquanto existiu a escravidão formal. Os quilombos, além de terem sido muitos, tiveram vários tamanhos e se estruturaram em relação ao seu número de habitantes. Os grandes quilombos, como Palmares, chegaram a ter cerca de 20.000 habitantes (de acordo com números colocados por Moura [1997], op. cit., p. 17). Em Minas Gerais temos notícias de uma população de 10.000 habitantes, no Quilombo de Campo Grande, e o mesmo número para o Quilombo do Ambrósio.

Aparentemente os quilombos eram uma formação defensiva, porém, pela den-sidade populacional, tinha a necessidade de atacar para obter artigos e objetos como pólvora e sal, para a sua sobrevivência. Além de não terem sido uma orga-nização puramente defensiva, os quilombos nunca foram também organizações isoladas. Para eles, convergiam oprimidos na sociedade escravista, fugitivos do serviço militar, criminosos, índios, mulatos, negros marginalizados e outros. Man-tinham contatos com bandoleiros e guerrilheiros que infestavam as estradas e com os quais faziam alianças pelas quais se informavam de expedições organizadas para combatê-los. Eram auxiliados pelos escravos urbanos e das senzalas quando das suas incursões às cidades e às fazendas. Isso pode ser considerado um fator que deu longevidade aos quilombos. Não raramente os quilombolas se aliavam aos insurgentes negros, e mesmo brancos, nas cidades e isto constituía outro fator de interação dos quilombos com a sociedade escravista.

Em Minas Gerais, esse tipo de aliança com rebeldes urbanos é demonstrado pelos levantes negros de 1756 e de 1864, nas cidades do Serro e Diamantina. Tomando as palavras de Moura (op. cit.):

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No levante negro de 1756, em Minas – aliás, contestado por alguns his-toriadores –, a tática seria a união dos quilombolas com os escravos da cidade para executarem a revolta. Tática idêntica aplicaram, em 1864, também em Minas, numa revolta até hoje pouco estudada. Segundo depoimento de testemunhas e pessoas implicadas, a sua estrutura or-ganizacional e a dinâmica ficaram esclarecidas. Haviam marcado a data e esperavam, para o êxito do movimento, apoio dos quilombolas, ou, na expressão do documento que o registra, ‘a rapaziada sujeita das matas’. O seu objetivo era ‘a liberdade dos cativos, segundo declarou o escravo Adão, um dos seus líderes (p. 19).

A permanente conexão dos escravos com os quilombolas foi uma característica marcante das rebeliões negras ocorridas nas cidades do período colonial e do pe-ríodo da monarquia, no Brasil. Como dissemos alhures, os elementos oprimidos na sociedade escravista, tais como os pequenos proprietários, agricultores, comer-ciantes e mascates de um modo geral, também interagiam com os quilombos. Essa interação dará a vitalidade e a longevidade que caracterizaram os quilombos. Em Minas Gerais, o escravo fugido e o quilombola relacionavam-se de forma constante com o faiscador e com o contrabandista de diamantes através de um comércio clandestino que era duramente combatido pelas autoridades constituídas. Pelas vantagens comerciais que obtinham no seu relacionamento com os quilombolas, os contrabandistas lhes prestavam uma série de serviços, especialmente no que diz respeito às informações sobre as ações das autoridades em seu combate. “Ao garimpeiro – escreve Aires da Mata Machado Filho – se aliou o quilombola, pois, um outro fora da lei, ainda que por motivos diversos, não tardou se encontrassem solidários, buscando subsistência nas minerações furtivas” (apud. MOURA, op. cit., p. 28). Segundo Machado Filho:

Com estes, outro tipo interessante apareceu nas lavras, surgindo no meio dos contrabandistas de vária espécie, que aí havia em grande número. Foi o capangueiro, comerciante de capanga, pequeno comer-ciante que comprava do garimpeiro o produto de suas faisqueiras e o protegia, mandando-lhe avisos cautelosos quando as tropas de dragões saíam em batidas aos quilombos e garimpos (idem).

O que podemos inferir das palavras de Machado Filho é que a população quilombo-la, bem como outros tipos de marginalizados da sociedade colonial, interagiu entre si e também com aqueles tipos integrados àquela sociedade.

Entre os principais quilombos de Minas Gerais, podemos destacar o Quilombo do Campo Grande, que ocupava territórios onde seriam, hoje, os Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Goiás. O advogado e pesquisador da Histó-ria mineira, Tarcísio José Martins, em seu livro “Quilombo do Campo Grande – A História de Minas Roubada do Povo”, evidencia fatos, documentos e abordagens inéditas, não só sobre quilombos, mas também sobre a própria História das Minas Gerais colonial.

Segundo o pesquisador, o Quilombo do Campo Grande, tão importante quanto o de Palmares, não era um quilombo comum, como sempre imaginaram os historiadores que até hoje trataram do assunto. E destaca, por exemplo, que o Campo Grande era maior que Palmares, pois, enquanto aquele Estado-Quilombo nordestino tinha 9 núcleos ou vilas, o Campo Grande chegou a ter cerca de 25, e, em 1759/1760, ainda tinha mais de 18 povoações esparramadas pelo Alto São Francisco, Alto Para-naíba, Triângulo, Centro-Oeste e Sudoeste de Minas, e nos apresenta uma lista dos quilombos confederados, que citamos a seguir:

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1. Quilombo do Gondum: Localizado em território do atual município de Carmo da Cachoeira/MG;

2. Quilombo dos Trombucas: localizado a noroeste do atual município de Nepomu-ceno/MG; depois, teria se mudado para território do atual município paulista de Pedregulho/SP;

2.1 Quilombo do Calunga: Quilombo ou Povoado do Calunga, também localizado em território do atual município de Nepomuceno/MG; depois, teria se mudado para o nordeste do atual Estado de Goiás, onde até hoje sobrevive, conforme recentes descobertas;

3. Quilombo do Quebra-Pé: Quilombo ou Povoado do Quebra-Pé, a oeste do atual muni-cípio de Três Pontas. É provável que ficasse próximo à primeira Povoação do Cascalho.

3.1 Quilombo do Cascalho I:

4. Quilombo da Boa Vista I: Quilombo ou arraial da Boa Vista I, em território lo-calizado no extremo norte do atual município de Campos Gerais, entre Campo do Meio e Boa Esperança.

5. Paiol do Cascalho;

6. Quilombo do Cascalho II: localizado ao norte de Serrania, sul do atual território de Alfenas /MG. O povoado que deu origem a Alfenas, aliás, chamava-se “Cas-calho ou São José, e Dores”.

7. Palanque da Povoação do Ambrósio;

7.1 Primeira Povoação do Ambrósio: o Rei Ambrósio, mencionado nas Cartas Chi-lenas como Pai Ambrósio, já tinha o seu povoado onde, hoje, situa-se o município de Cristais/MG, margem direita do Rio Grande. O já mencionado Mapa do Campo Grande, realmente, aponta esse núcleo, em 1760, como “Primeira Povoação do Ambrósio – despovoada e não como “quilombo”.

8. Quilombo da Marcela: Localizava-se em território entre os atuais municípios de Campos Altos/MG e Santa Rosa da Serra/MG, ou entre Córrego Danta/MG e Luz/MG.

9. Quilombo da Pernaíba ou Paranaíba: com 70 casas, localizava-se em território do atual município de Rio Paranaíba/MG.

10. Quilombo da Indaá ou Indaiá: com 200 casas, localizava-se em território entre os atuais municípios de Santa Rosa da Serra/MG (nordeste), Estrela do Indaiá/MG (noroeste) e Serra da Saudade/MG (sudoeste).

11. Quilombo do Ajudá: localizava-se entre os municípios de Medeiros/MG e Bambuí/MG, especificamente “Fazenda D’Ajuda”, pertencente a esse último município.

12. Quilombo do Mammoí ou Bambuí: com 150 casas, localiza-se às margens do Rio Bambuí, entre os municípios Bambuí/MG (norte), Córrego Danta/MG (sul) e Tapiraí/MG (extremo leste).

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13. Quilombo de São Gonçalo I: localizava-se em território do atual município de São Gotardo/MG.

14. Quilombo do Ambrósio: apontado no Mapa de França, em 1760, como “despo-voado”. Esse fato é desmentido por documentos que revelam que esse quilom-bo, em 1759, estava “evacuado”, mas NÃO despovoado. Seus paióis, inclusive, foram encontrados abarrotados de alimentos: localizava-se em território do atual município de Ibiá/MG.

15. Quilombo do Fala: hoje município de Guapé/MG.

16. Quilombo das Pedras: provavelmente se localizava entre os territórios dos atu-ais municípios de Alpinópolis/MG (sudeste), ou Carmo do Rio Claro/MG (sudo-este) e/ou Nova Resende/MG (nordeste).

17. Quilombo das Goiabeiras: com 90 casas, provavelmente localizado nos atuais municípios de Franca/SP ou Capetinga/MG.

18. Quilombo da Boa Vista II: com 137 casas, sem dúvida localizava-se em territó-rio do atual município de Capetinga/MG (sul), entre São Tomaz de Aquino/MG e Pratápolis/MG, ao extremo norte de São Sebastião do Paraíso/MG.

19. Quilombo Nova Angola: com 200 casas, é provável que se localizava entre os atuais territórios dos municípios de São Sebastião do Paraíso/MG (noroeste) e São Tomás de Aquino/MG (sul).

20. Quilombo do Cala Boca: com 90 casas, localizava-se em território entre os atuais municípios de Guaranésia/MG e Guaxupé/MG.

21. Quilombo do Zondum ou Zundum: com 100 casas, localizava-se em território do atual município de Jacuí/MG.

22. Quilombo do Pinhão: com 90 casas, localizava-se em território do atual muni-cípio de Passos/MG (sul).

23. Quilombo do Caeté: localizava-se em território do atual município de Nova Resende/MG (sudeste).

24. Quilombo do Chapéu: com 70 casas, localizava-se em território do município de Monte Belo/MG (nordeste), distrito de Santa Cruz Aparecida/MG.

25. Quilombo do Careca: com 220 casas, localizava-se em território do atual mu-nicípio de Divinolândia, no Estado de São Paulo.

Outro ponto que esse pesquisador destaca é o de que os povoados do Campo Grande eram habitados, principalmente no seu início, por pretos forros e por brancos pobres que fugiam do sistema tributário da Capitação, e não apenas por escravos fugidos.

No Norte de Minas Gerais temos informações sobre a existência de uma série de quilombos, entre os quais podemos destacar: A Comunidade Quilombola dos Goru-tubanos que, no século XVIII, fugiu para o cerrado adentro, onde a malária impedia o branco de chegar. Formou uma sociedade composta por 27 povoados. Os gorutu-banos são cerca 6.500 descendentes de escravos fugidos ou libertos e ocupam hoje a região de Minas Gerais próxima à divisa com a Bahia.

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De acordo com Costa Filho (2006),

“(...) antes, os gorutubas formavam uma grande área comum de al-deias, de Francisco Sá ao Sul da Bahia, a 60 quilômetros da cidade mais próxima, que é Porteirinha. Deste tempo, o lavrador Marciano Fernan-des de Souza, 86 anos, um dos mais antigos da comunidade, ainda tem saudades. ‘Na minha época, tinha mais liberdade. Criava cabra, ovelha, boi, porco e galinha, sem cercas. Respeitando a frente da casa e o quin-tal da pessoa, qualquer um podia plantar uma roça de milho, uma rua de feijão, melancia. Hoje, quem não tiver comprado uma terrinha, não tem vaca para tirar leite nem cercado para plantar’”.

A Comunidade Quilombola do Brejo dos Crioulos, alocada nos municípios de São João da Ponte, Varzelândia e no Vale do Rio Verde Grande, a chamada região da Jaíba, conquistada por Matias Cardoso em carta de sesmaria. Essa região era considerada pouco estratégica para a Coroa Portuguesa e foi ocupada por negros advindos da Bahia e da zona de mineração e Minas Gerais. Também era uma região insalubre com alta incidência de malária e, por isso mesmo, evitada pelos coloni-zadores brancos. A comunidade do Brejo dos Crioulos é composta pelos grupos Ara-ruba, Arapuim, Cabaceiros, Carambu, Conrado e Furado-Seco, sendo habitada por cerca de 2000 pessoas, conforme o jornal Estado de Minas. Segundo Costa (1999), a extensão territorial do Brejo dos Crioulos vai além do Norte de Minas. Para o autor:

Em cada uma das genealogias que tive oportunidade de ter acesso, as relações de parentesco estendem-se para localidades espalhadas no interior dessa área, não apenas nas proximidades de Brejo dos Crioulos, mas de localidades situadas próximas a fronteira baiana, a aproxima-damente cerca de trezentos quilômetros de distância, como Macacos, Brejo dos Mártires, Gorutuba, Lagoa Grande, Jacaré Grande, Mocambi-nho, Jatobá Torto. Seus antepassados vieram fugidos e escondendo as crianças pequenas em bruacas, ainda no período de domínio escravista e posteriormente após o seu término (p. 20).

Para o mesmo autor, “Brejo dos Crioulos foi, como as outras localidades componen-tes da grande unidade negra da Jaíba, um reduto onde conviviam índios e negros, conforme o mito de fundação retido na memória coletiva de seus moradores” (p. 38-39). E, citando trecho de entrevista com o morador Clemente Batista, dá-nos notícia de que:

No tempo dos pretos, aqui era um quilombo de crioulos. Aqui era de-sabitado, só tinha um índio velho. Um tal de Arapuí já vivia por aqui. Por sua causa tem o nome de Arapuim. Mas o nome é errado, porque o nome é Arapuí. Esse índio habitava aqui na margem desse rio, desde o rio Verde até as suas cabeceiras. Então, ficou o rio com esse nome. Agora, o povo foi chegando e pôs o nome próprio, primitivo daqui, Brejo dos Crioulos… Aqui era um quilombo, veio preto da Bahia, de Espinosa, dessas cidades antigas, baianas, antiga Vila do Urubu, de Grão Mogol. Vieram, ninguém sabe. Então fugiam de casa, formavam aqueles qui-lombos de pretos e iam pra esses lugares onde tinha epidemia, que nin-guém queria morar. Nesses desertos. Eles chegavam e ocupavam. Assim é que eles chegaram aqui, como chegaram nos lugares por aí afora, no meio da Mata da Jaíba. Meu pai veio do Gorutuba. Meu pai veio por aqui em 1890, mas já estava aqui um bocado de crioulos. Ele veio para cá porque tinha um irmão aqui, que tinha vindo muito antes… Da Bahia vieram uns crioulos que habitaram aqui. Porque tinha uma tradição aí, desse povo da Bahia, de Espinosa, de Monte Alto, Monte Azul, de Malha-da, para o centro da Bahia, desses filhos da Bahia. Já tinha alguns aqui (Clemente Batista, Apud. COSTA, op. Cit., p. 41-42).

Temos também notícias de comunidades quilombolas em Januária, no Vale do rio Peruaçu; em São Francisco, na localidade de Buriti do Meio e na Serra das Araras; em Salinas, na região da matrona; no Serro, no lugarejo de Milho Verde, e em Dia-mantina, no Quartel de Indaiá.

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Figura 16: Comunidade de remanescentes quilombolas do Brejo dos Crioulos, na divisa dos municípios de Varzelândia e São João da Ponte.

Fonte: http://quilombobrejodoscrioulos.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html.

Faça um resumo descrevendo como se deu a ocupação do Norte de Minas:

1. Pelos Jesuítas:

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2. Pelos bandeirantes:

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3. Pela pecuária:

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4. Pelos Quilombos:

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

5. Pesquise outros bens culturais do Norte de Minas e os relacione ao processo da história que lhes deu origem.

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Unidade 6Século XIX: o isolamento e a diferenciação7

Ainda no século XVIII, alguns acontecimentos levaram, gradativamente, o Norte de Minas Gerais a uma situação de isolamento, tanto no quadro regional mineiro, quanto nos quadros mais amplos, nacional e internacional, especialmente no que diz respeito às relações comerciais com as regiões e nações consideradas mais de-senvolvidas. Muitos historiadores afirmam que o isolamento teve início com a trans-ferência da capital da colônia de Salvador para o Rio de Janeiro, em 1763. “Este novo caminho dividiu sua importância com a via do São Francisco e o superou. Era o início do isolamento da região são-franciscana (...).” (PEREIRA, 2004, p. 145).

Ao mesmo tempo, as atividades mineradoras entraram em decadência e a Re-volução Industrial marcava profundas alterações no sistema produtivo mundial, principalmente a partir do último quartel do Século XVIII. Na primeira etapa da revolução, segundo Furtado (1959, p. 111), se “a mecanização do processo manu-fatureiro da indústria têxtil e substituição nessa indústria da lã pelo algodão, (...) cuja produção podia se expandir facilmente”.

Essa transformação da indústria têxtil motivou o aumento do preço do algodão. E, por isso mesmo, houve, na concepção de Stralen (1980), um enorme crescimento em seu cultivo no Brasil, nas áreas que iam desde o Nordeste até o Norte de Minas, regiões propícias à cotonicultura. Nessa evolução da cultura algodoeira, surgiu uma importante área produtora, localizada na divisa de Minas Gerais com a Bahia, de onde procedia a maior parte do produto que era exportado pela Bahia, e parce-la daquela que era exportada pelo Rio de Janeiro. Entretanto, com o tempo, essa fase expansiva do algodão perde impulso, provocando uma substancial diminuição nas áreas cultivadas.

Pode-se dizer, inclusive, que as atividades ligadas ao algodão chegaram a integrar o conjunto de afazeres cotidianos de boa parte da população norte-mineira. A ex-pansão algodoeira provocou um crescimento mais acentuado de Montes Claros, na medida em que motivou a intensificação de suas relações comerciais tanto com a Bahia quanto com o Centro de Minas Gerais. De fato, pode-se dizer que até mesmo o prelúdio da experiência fabril da referida localidade esteve, em grande medida, relacionado à tradição algodoeira.

Nesse aspecto, um texto da Associação dos Municípios da Área Mineira da Sudene (AMAMS) (1993), em referência à atividade algodoeira, explicita que essa tradição, no caso de Montes Claros, veio a desembocar na primeira experiência fabril na região, com a instalação de sua fábrica de tecidos, na década de 1880. Em 1884, a Companhia Cedro Cachoeira resolve implantar um depósito de compra de algodão e venda de tecidos em Pirapora, muito embora, na época, Guaicuí fosse uma loca-lidade economicamente mais dinâmica.

Na realidade, a escolha da Companhia tinha por trás uma estratégia empresarial, considerando que Pirapora seria o local mais indicado para a passagem da linha férrea, que já era realidade em Sabará, na época. Essa decisão da Companhia Cedro Cachoeira provocou uma alteração na realidade econômica de Pirapora. Desencadeou um forte processo de crescimento, suficiente para que a localidade se tornasse um importante centro urbano regional.

7 O texto básico utilizado foi MOREIRA, Hugo Fonseca. ‘‘Se For Pra Morrer De Fome, Eu Prefiro Morrer De Tiro’’: O Norte de Minas e a formação de lideranças rurais. Rio de Janeiro, UFRJ: 2010. Dissertação de Mestrado.

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Vinte estabelecimentos têxteis se implantaram em Minas Gerais entre 1872 e 1899, sendo os mais importantes localizados nos municípios de Curvelo, Sete Lagoas e Santa Luzia, sendo essas indústrias abastecidas com algodão proveniente da região norte-mineira. É importante não esquecer, entretanto, que esses empreendimen-tos existiam também em outras regiões.

No caso do Norte de Minas, Paula (1957) comenta que, já em 1880, fundou-se em Montes Claros uma sociedade denominada Rodrigues, Soares, Bittencourt, Veloso & Cia., a qual montou uma fábrica destinada à produção de tecidos de algodão que entrou em operação no ano de 1881.

Outro produto que foi bastante explorado na região, e que representou relevante importância econômica no decorrer do seu ciclo, foi a borracha. A extração do látex, verificada no Vale do São Francisco, no último quartel do Século XIX, con-centrou-se entre os municípios de Januária e Remanso.

Assim como na Amazônia, onde a exploração da seringueira provocou um surto migratório sem precedentes, no Vale do São Francisco, entre Januária e Remanso, a extração do látex da mangabeira e da maniçoba inscreveu uma história em tudo semelhante: pequena duração do ciclo econômico, extração predatória e explora-ção da mão de obra nordestina. Já em 1817, Spix e Martius (1938, p. 225), viajando pelo Vale do Carinhanha, em direção à fronteira de Minas com Goiás, apontaram a utilidade da resina da mangabeira:

A mangabeira apresentava-se daqui em diante, cada vez em maior nú-mero, nas regiões quentes e secas do sertão, e é cultivada, não raro, como nas províncias da Bahia, Pernambuco e Ceará, da mesma forma que a goiabeira e o ananás. Contém suco leitoso, pegadiço, rico de resi-na, que, endurecida, talvez pudesse ser utilizada como a goma elástica comum. Com os frutos, costuma a gente do lugar preparar um refresco agradável e nutritivo.

A primeira referência à exploração da mangabeira no sertão mineiro, com o ob-jetivo de comercializar a borracha, encontra-se na obra de James Wells (1887, p. 254), Três mil milhas através do Brasil. Em nota de rodapé, o autor indicou o ano de 1885 como marco inicial da exportação do produto através da Bahia. A partir dessa época, com a introdução do pneumático e a ampla difusão do automóvel, o Brasil passou a ser um dos principais exportadores mundiais da borracha.

O anuário de Minas Gerais de 1918, organizado por Nelson de Senna, traz informa-ções valiosas sobre o ciclo da borracha em Minas. O autor publicou entrevistas com comerciantes de Januária, extraídas do jornal A Luz, que fornecem dados sobre a produção e comercialização do látex. Theodomiro Pimenta, negociante, informou que Januária exportou, entre 1902 e 1907, cerca de 300.000 quilos de borracha, sendo apenas 8% desse total com produção de Goiás. O restante era proveniente dos municípios norte-mineiros de Paracatu, Rio Pardo, Montes Claros, Tremedal, Brasília de Minas e São Francisco.

Conforme Mata-Machado (1991), a partir de 1907, a exploração na maniçoba fez subir para 30% a participação do município de Januária nas exportações. O ápice dessa produção se deu entre os anos de 1909 a 1912, tendo sido, nesse último, a exportação brasileira – 42.000 toneladas – a maior registrada e jamais supera-da. Em 1911, Januária exportou 8.000 toneladas para o Rio de Janeiro e 4.000 toneladas para a Bahia, ou seja, 12.000 toneladas. Se os dados fornecidos pelo comerciante estiverem corretos, Januária chegou a comercializar cerca de ¼ da produção brasileira para aquela época (MATA-MACHADO, 1991).

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Até 1909, o comércio era feito com a Bahia, via Juazeiro; a partir de 1911, passou a ser feito predominantemente com o Rio de Janeiro, via Pirapora. A demanda do produto nesses anos estimulou os fazendeiros locais a plantarem maniçoba, pois até então só a planta nativa era explorada. Entretanto, os plantadores e comer-ciantes veriam suas iniciativas frustradas por causa da concorrência da produção oriental (Ceilão e Malásia) que, organizada metodicamente, superou a borracha brasileira em quantidade e qualidade.

A produção da borracha de maniçoba e da mangabeira no Vale do São Francisco provocou êxodo nordestino para a área. Trabalhadores explorados, comerciantes desiludidos e plantadores frustrados foram o saldo da fugaz febre da borracha. Minas Gerais, embora em escala menor, também participou desse ciclo.

Esse curto período de exploração correspondeu, no tempo, ao declínio da Cidade de Januária, antes o grande empório comercial do sertão Noroeste de Minas. Senna (1918, p. 808) comenta que um comerciante, Theodomiro Pimenta, ao ser questio-nado das causas desse declínio, respondeu que,

(...) embora seja Januária uma cidade feita e que poderá viver inde-pendentemente, dada a importância do seu comércio e lavoura, sofreu, contudo, um corte de 60%, aproximadamente, em seu movimento ge-ral, de 1890 a 1910. A causa essencial do retrocesso é devida ao desen-volvimento dos municípios adjacentes e ao prolongamento da Estrada de Ferro Central até o porto de Pirapora.

A partir de 1911, Pirapora, através do desenvolvimento do comércio e da indús-tria, tomou o lugar de Januária como cidade-polo da região Norte de Minas.

A Navegação a Vapor8

Por volta de 1875, James Wells (1887) passou por Pirapora e vislumbrou um peque-no conjunto de 36 casinhas cobertas de palha e buriti e em ruínas. Teve do lugar uma impressão pior do que a do seu conterrâneo, o inglês Richard Burton (1977), que ali estivera dez anos antes. Julgou o povoado mais decadente que antes, pois não viu, como seu antecessor, nem diamantes, nem tropas, nem peixes secando ao sol. Naquela época, Guaicuí funcionava como entreposto comercial das merca-dorias que vinham do Norte em direção ao centro de Minas e ao porto do Rio de Janeiro. Também as mercadorias provenientes da Corte eram, ali, comercializa-das. Wells (1887) notou, na pequena cidade, duas lojas comerciais onde se encon-travam tecidos estampados de Manchester, vinhos portugueses, cerveja inglesa, gim holandês, fósforos suecos, além de produtos locais como carne seca, feijão, farinha etc. Em 1894, a Companhia Cedro e Cachoeira decidiu instalar um depósito de algodão e tecidos naquela região e optou pelo pequeno povoado de Pirapora, apesar de ser Guaicuí o centro comercial.

Praticamente todos os viajantes que passaram por Guairuí se referiram às febres que grassavam na vila entre os meses de janeiro e junho, que todos os anos dizi-mavam parte da população. A instalação do depósito de Cedro e Cachoeira, em Pirapora, deu início ao crescimento desse vilarejo que, mais tarde, como previram os diretores da Companhia, seria o local escolhido como ponto terminal da Central do Brasil, na junção com o rio São Francisco. Quando a estrada de ferro chegou, a localidade já era uma cidade próspera, com ruas traçadas a régua e compasso, a exemplo de Belo Horizonte, de acordo com uma planta encomendada pela Cedro e Cachoeira, e que previa uma população de 10.000 habitantes.

8 Idem nota de rodapé 7.

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Nelson Senna (1918) publicou, no Anuário de 1918 de Minas Gerais, texto escrito por A. Ramos César, datado de outubro de 1910, que se refere à Pirapora:

A população ali aumenta numa proporção notável. Diariamente chegam famílias imigrantes atraídas pela riqueza da região. Não se encontram uma única casa vaga, existindo inúmeros prédios em construção na margem direita, onde a população é mais densa e onde o movimen-to comercial já é grande, existindo duas fábricas de bebidas, padaria, casa de bilhares, duas farmácias, restaurantes, hotéis etc. Pelo porto são despachadas, mensalmente, para mais de 1.000 toneladas de mer-cadorias. Há um depósito de sal e uma agência filial do srs. Durish & Companhia, para compras e exportação de couros e artigos congêneres, regulando comprar, mensalmente, 2.000 couros verdes de rezes (SEN-NA, p. 1.152).

Portanto, o desenvolvimento de Pirapora foi anterior à chegada dos trilhos. Em 1911, quando foi inaugurada a estação férrea, Pirapora passou a centralizar o co-mércio de todo o sertão Noroeste de Minas e logo transformou-se no maior centro industrial da região. Em 1912 foi criada, por uma empresa de navegação baiana, a linha de Januária a Pirapora, e foi elevado para quatro o número de viagens entre Juazeiro e a nova cidade. Em 1918, rompendo um monopólio exercido, desde 1888, pela empresa baiana, formou-se a Companhia Indústria e Viação de Pirapora que, além da navegação, atuava em outros ramos de negócios.

Por ocasião da visita de Mello Viana, presidente do Estado de Minas Gerais, ao sertão do São Francisco (1925), a Companhia já atuava em várias frentes. Segundo informações de Victor da Silveira (1926), ela possuía dois descaroçadores e prensa de fardos de algodão com ligação férrea até a estação da Central; uma fábrica de óleos vegetais de algodão, coco de babaçu e mamona, com aproveitamento do bagaço da semente do algodão, na fabricação de farinha para o gado leiteiro; uma fábrica de sabão, com equipamentos franceses, para aproveitamento dos óleos ve-getais; dupla instalação elétrica, térmica e hidráulica, que fornecia energia para a fábrica e toda a cidade; e serviço de abastecimento d’água, com carneiros hidráu-licos importados dos EUA, que servia também à população urbana. Noraldino Lima (1925, p. 28), que acompanhou a comitiva de Mello Viana como repórter, escreveu sobre a Cia. Indústria e Viação de Pirapora:

Dessa visita tivemos todos a melhor impressão, já pelo aperfeiçoamen-to dos métodos por que é tratado ali o algodão, que atravessa des-caroçadores possantes e outras máquinas modernas, já pela beleza e resistência da fibra, tendo aquele ilustre profissional [Astúrio Lobo], nos informando ser do próprio vale, parte do mineiro, parte do baiano, todo o produto armazenado.

A ligação ferroviária com Belo Horizonte e, daí, com o Rio de Janeiro, além de transformar Pirapora em centro comercial e industrial, alterou os tradicionais vín-culos da região Noroeste de Minas com a Bahia. As mercadorias provenientes do Rio e da Capital mineira passaram a entrar com maior velocidade e quantidade, utilizando a estrada de ferro e a navegação a vapor.

Pirapora, que é a sede Sul da navegação do São Francisco, está se tor-nando, assim, o centro irradiador da economia do rio. De lá partem, carregados de objetos manufaturados, os vapores de várias companhias com pesar, eu vi toneladas de caldeirões e panelas de ferro sabarense enchendo os porões e matando irremediavelmente a cerâmica ribei-rinha tão original. Os tecidos mineiros e cariocas, a cerveja paulista, tudo isso sai de Pirapora para Minas, Goiás, (por Januária), Bahia, Piauí (pelo Porto de Remanso) e Pernambuco, por Petrolina. Pirapora fornece o sertão do São Francisco, dele recebendo quase tudo, exceto as peles, que têm seu mercado tradicional em Juazeiro. Só a Mineira transporta uma média de 25.000 quilos de produtos manufaturados para o sertão (CARVALHO, 1937, p. 79).

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Os esforços para implantar a navegação a vapor na bacia do rio São Francisco da-tam do Império. A primeira experiência foi feita no rio das Velhas, em 1833-34, que pretendia construir um vapor em Sabará. A segunda, também no rio das Velhas, re-alizou-se em 1869, quando o vapor Saldanha Marinho, sob o comando do engenheiro Henrique Dumont, pai de Santos Dumont, viajou entre Sabará e a fazenda Jaguará, sofrendo vários encalhes. O vapor importado de Bordéus foi construído em 1867, por meio de um contrato realizado entre o engenheiro e o governo de Minas.

A navegação a vapor desenvolveu-se regularmente no baixo São Francisco, ligando Piranhas a Peno, próximo do litoral. A navegação do trecho médio, entretanto, só seria efetivada com o advento da República. A preocupação maior do governo im-perial era a ligação com o litoral através da combinação entre o transporte fluvial e o ferroviário. Várias possibilidades foram aventadas, o que proporcionou suces-sivas viagens de reconhecimento pelo rio e seus afluentes, feitas por engenheiros contratados. A primeira delas foi empreendida pelo alemão Halfeld, entre 1851-54; além de fazer uma planta detalhada, ele deveria estudar a possibilidade de ligar as seções média e inferior do rio através de um canal que margearia o trecho encachoeirado, que impedia a livre navegação.

A obra foi considerada impraticável; a construção das estradas de ferro de Recife e Salvador até juazeiro foi a alternativa encontrada pelo governo. Ao mesmo tempo, foi feito o reconhecimento das possibilidades de navegação do rio das Velhas e do alto São Francisco, sendo o engenheiro francês Emmanuel Liais incumbido dessa fun-ção. Entre a desobstrução do alto São Francisco até a cachoeira de Pirapora e a do rio das Velhas, o engenheiro francês aconselhou a segunda opção, tendo ele mesmo obtido concessão do governo imperial para a realização das obras. Muito trabalho e muito dinheiro eram necessários, e o engenheiro, não conseguindo arrancar do Ministério da Agricultura condições contratuais favoráveis, abandonou a empresa.

Retardada durante muitos anos a construção das vias férreas de Salvador e Recife até o São Francisco, devido à insuficiência de recursos das empresas que se orga-nizaram para esse fim, na opinião de Elpídio Mesquita (s/d), o governo imperial decidiu retomar a ideia da desobstrução do trecho encachoeirado. Para tal, con-tratou, em 1868, o engenheiro hidráulico Carlos Krauss. Enquanto Krauss estudava a ligação entre o trecho inferior e o médio, Francisco Manoel Álvares de Araújo, em 1870, realizou novo reconhecimento das seções média e superior, navegando no Saldanha Marinho pelos rios das Velhas e São Francisco. Foi encarregado também de avaliar as condições dos rios Paracatu e Grande. Como se não bastassem tantas viagens exploratórias, outra comissão hidráulica, chefiada pelo engenheiro Milnor Roberts, foi contratada pelo gabinete Sinumbú, em 1879. Nesse ano, entretanto, a navegação do São Francisco já estava comprometida pela chegada dos trilhos da Baía-São Francisco até o Porto de Juazeiro, forçando a navegação fluvial a enfren-tar um trecho difícil entre Sento Sé e aquela cidade.

Não fosse a imposição do influente Conselheiro juazeirense, a atual Leste Brasilei-ro podia ter obedecido a outro traçado, rumando para o médio superior, livrando a navegação dos bancos e corredeiras que entulham o rio de Sento Sé até Juazeiro. Tendo de buscar, forçosamente, Juazeiro, que é o terminal da Leste, os vapores do São Francisco têm de ser os mais rasos possíveis, perdendo, assim, sua condição de veículo de transporte de cargas. Com pouco calado e tendo de vencer perigosos trechos encachoeirados, os vapores do São Francisco não proporcionam às merca-dorias do Vale um transporte seguro e barato (LINS, 1960, p. 209).

Geraldo Rocha (1940) sustentou posição idêntica, defendendo ainda que o trecho a ser utilizado pela navegação a vapor deveria ter sido menor. Todas essas idas e vin-

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das, incertezas e enganos da navegação do São Francisco refletiam a ausência de uma política cientificamente aplicada às necessidades econômicas do País. A fama de que os rios brasileiros, à exceção do Amazonas, não se prestavam à navegação a vapor, havia se espalhado. Burton (1977, p. 192) contestou:

A observação in loco, todavia, mostrou-me que os cursos inferiores de muitos rios podem ser ligados, por meio de estradas de ferro de peque-na extensão, aos cursos superiores, que deveriam ser aproveitados para comunicações fluviais e têm sido completamente desprezados.

O mesmo autor criticava a inclinação dos governos brasileiros aos projetos monu-mentais e defendia uma política de transportes que levasse em conta a comunica-ção entre as localidades através de pequenas obras. O Governo Imperial, entretan-to, além de dar prioridade às grandes obras, beneficiava o transporte ferroviário, concedendo privilégios a particulares, como a garantia de juros.

O deputado mineiro João da Mata Machado, entusiasta da navegação a vapor, lutou na Câmara do Império pela concessão de juros às companhias de navegação. Em 1883, o deputado alcançou seu objetivo. Ele próprio se beneficiou da garantia de juros, formando a Companhia Viação do São Francisco. Antes, porém, de colocar um vapor no rio, sua empresa foi colhida pelas malhas do encilhamento e veio à falência. O acervo da empresa, que incluía o Vapor Saldanha Marinho, foi arrema-tado pelo governo baiano.

A Empresa Viação Central do Brasil, depois Empresa Viação do São Francisco, go-zou, de 1888 a 1917, pelo Decreto Imperial n.º 9.964, de subvenção federal e monopólio da navegação no rio (BRASIL, 1973). Em 1917, a Empresa possuía onze vapores em tráfego, a saber: Pirapora, Saldanha Marinho, Rio Branco, Severino Vieira, Engenheiro Halfeld, Juazeiro, Antônio Olinto, Mata Machado, Carinhanha, Alves Linhares e Prudente de Morais.

A abolição do monopólio baiano estimulou a criação de outras companhias, como a Companhia Indústria de Pirapora que, embora de domínio particular, possuía concessão do governo federal. Em 1925, o Decreto n.º 16.562 transferiu o contrato dessa empresa ao Estado de Minas Gerais, que constituiu a Companhia Mineira de Navegação (BRASIL, 1973a). No mesmo ano, o Presidente do Estado, Fernando de Mello Viana, realizou excursão ao Rio São Francisco para tomar as providências necessárias ao funcionamento da nova empresa.

Desde 1920, na gestão de Raul Soares, o governo mineiro estava interessado em melhorar a navegação de rio, dando-lhe um cunho de serviço público e, segundo Mello Viana, “o afã do lucro dos interesses particulares dava lugar a abusos e quei-xas”. O presidente mineiro concebeu um vasto plano de incremento da economia da região Noroeste de Minas, associado ao transporte fluvial. O plano centrou-se no desenvolvimento das lavouras de algodão e mamona e no aparelhamento da indústria madeireira e da pesca.

A navegação a vapor no São Francisco e nos seus afluentes, Paracatu, Urucuia, Carinhanha e Verde Grande, seria articulada às estradas de rodagem que ligariam os portos às cidades inferiores. Assim, foram planejadas as estradas que ligavam Januária ao Porto de Cajueiro, no Carinhanha; Matias Cardoso à Espinosa, no Verde Grande; São Francisco à Brasília de Minas; Extrema de Montes Claros à Inconfi-dência; São Romão à Formosa. Em sua maioria, essas rotas já existiam, eram as estradas boiadeiras, caminhos estreitos e mal conservados.

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O plano previa ainda a construção de portos (especialmente em Pirapora), a ins-talação de colônias à margem do rio e de um campo de sementes para seleção e distribuição à população local. Esse plano foi realizado apenas em parte, e não surtiu o resultado esperado de integrar o “Vale do São Francisco na comunhão bra-sileira” (LIMA, 1925). A navegação do São Francisco, e de seus afluentes, dependia da desobstrução e da regularização dos seus leitos, obras difíceis e dispendiosas.

Em condições naturais, o rio São Francisco oferecia muitos obstáculos à navega-ção. Nas cheias, ele não atingia a profundidade necessária, porque se espraiava pelas margens; nas secas, tornava-se raso demais. Por esse motivo, tanto os vapo-res mineiros quanto os baianos sofriam diversos encalhes nas viagens. Alguns, mal planejados, ofereciam condições de tráfego durante apenas seis meses do ano.

As dificuldades naturais de navegação, a necessidade de vapores com porões rasos e a inadequação de alguns às dimensões do rio, impediram que os vapores cum-prissem a sua principal função econômica, provocando um aumento exorbitante no preço dos fretes. Carlos Lacerda (1964, p. 119-120), numa reportagem de 1937, anotou os altos preços do transporte de mercadorias e a incapacidade dos vapores para atender à demanda do mercado:

O preço do frete é exorbitante. Por toda a parte, em tempo de ex-portar, vêm-se fardos de algodão, fumo, couro, expostos ao tempo, a espera de lugar a bordo. (...). Na maior parte das cidades, não há portos estáveis; em nenhuma existem serviços de carga, descarga e armazenagem. Se ancorarem dez navios grandes no porto de Januária, saem carregados, dizia-nos um antigo morador da cidade.

Atualmente, dos mais de vinte vapores que sulcaram o rio, resta um, que serve de atração turística. A decadência da navegação a vapor e o descaso dos governos pelo seu desenvolvimento é um reflexo da dependência histórica do País à econo-mia de exportação. O desenvolvimento do mercado interno, através do estímulo às trocas pelo interior, foi sempre relegado a um segundo plano.

Figura 17:Vapor Benjamim Guimarães, em Pirapora.

Fonte: ambientevivo.blogs.sapo.pt.

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Figura 18: Ponte ferroviária Hermes da Fonseca, também em Pirapora.

Fonte: arquivo ALMG.

1. Identifique os bens históricos mais significativos dessa fase da história do Norte de Minas. Faça uma pesquise e descreva os bens que você identificou.

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Unidade 7A Integração aos mercados e a modernização9

Em finais do século XIX, Pirapora já havia conquistado posição de destaque na eco-nomia regional. Com a chegada da ferrovia, a cidade assumiu a condição de “ponta de trilhos”, e, por isso mesmo, a cidade passa a centralizar o comércio de todo o sertão Noroeste de Minas e logo se transforma no maior centro industrial da re-gião. Todavia, isso não significa que ela tenha se tornado, economicamente, mais importante que Montes Claros. Mas o avanço dos trilhos em direção à Pirapora, aliado à importância de sua via fluvial, tendia à transformação dessa localidade, na principal porta de entrada do sertão.

Lessa (1993) sugere que chegou a haver um considerável fluxo de mercadorias entre Montes Claros e Pirapora. Tal fluxo foi importante a ponto de fazer com que lideranças regionais, já por volta de 1908, intencionassem construir estradas, faci-litando a comunicação entre Montes Claros e o ponto final da via férrea, na época localizado em Várzea da Palma, nas proximidades de Pirapora. Essa perspectiva histórica corrobora os estudos de Paula (1957), quando este relata que, em 1916, importavam-se do Rio de Janeiro artigos estrangeiros, fazendas finas nacionais, ferragens e armarinho. Nessa ocasião as mercadorias vinham pela Central até Bue-nópolis ou Várzea da Palma, de onde tudo era transportado no lombo do burro ou carros de bois.

Nesse contexto, as relações inter-regionais se processavam tanto com o Nordeste quanto com os importantes centros comerciais do centro sul, como Belo Horizonte e Rio de Janeiro. A estrada de ferro ofereceu, na realidade, uma possibilidade para que Pirapora incrementasse suas relações mercantis e, por isso mesmo, passasse a se apresentar como um grande centro econômico no Norte de Minas.

Como fora explorado, anteriormente, a linha férrea que chegava a Pirapora trazia consigo propósitos muitos ambiciosos, uma vez que intencionava a promoção da interligação dos vales do rio das Velhas e do São Francisco com os mercados do Centro Sul de Minas Gerais, fazendo de Belo Horizonte o grande comercial redis-tribuidor de produtos de subsistência e de outras mercadorias e unindo os polos do estado, evitando o seu desmantelamento. Além disso, ainda pretendia formar um mercado consumidor no interior do País, onde a produção à margem do setor exportador pudesse ser realizada.

Nessa perspectiva a via férrea chegou a Curvelo (1904), avançando até as proxi-midades de um lugarejo conhecido como Palma Velha, no município de Pirapora, onde, em 1910, inaugurou-se a estação de Várzea da Palma. Segundo Neto (1982), com a inauguração dessa estação, houve um paulatino deslocamento do contingen-te populacional da pequena localidade de Palma Velha para as suas imediações, formando-se, assim, a cidade de Várzea da Palma, emancipada em 1953. Só em 1911, a via férrea chegou a Pirapora.

Posteriormente, conforme destaca Lessa (1993), ficou definido pelo Plano Fer-roviário de 193514 que a ferrovia deveria avançar em dois sentidos: um primeiro estendendo a ferrovia de Pirapora até Belém do Pará; um segundo ligando Minas Gerais à Bahia, através da construção de um ramal que viria da cidade de Corinto, passando por Bocaiúva, Montes Claros e seguindo em direção ao Nordeste.

9 Idem notas 7 e 8.

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De fato, os estudos para a construção da expansão da via férrea de Pirapora até Belém, chegaram a ser iniciados. Mas, conforme destaca Lessa (1993), apesar da euforia com que as lideranças regionais esperavam a obra, o declínio do Ciclo da Borracha na Amazônia fez com que, a partir de 1918, os interesses nacionais se alterassem. Dentro da nova realidade econômica que se apresentava, em nível nacional, tornou-se prioridade a ligação férrea de Minas Gerais com a Bahia, atra-vés da expansão da linha a partir de Corinto, passando por Montes Claros. Esse trecho tinha importância tal que, em 1925, assumiu a condição de Linha Centro da Estrada de Ferro Central do Brasil. Enquanto, na mesma data, aquele trecho que passava pelo município de Curvelo, seguindo até Pirapora, fora rebaixado à condição de ramal ferroviário.

Acredita-se que esse contexto influi bastante na realidade de algumas localidades regionais. No caso de Pirapora e demais localidades situadas nas proximidades da-quela linha ferroviária, a paralisação da obra provocou uma queda substancial no volume de negócios e uma paulatina perda de sua importância no cenário regional. O município de Montes Claros, todavia, reforçou sua importância, assumindo a condição de “Boca do Sertão”, consolidando-se como o grande coletador e distri-buidor de produtos regionais e extrarregionais.

Considerando as argumentações anteriores, pode-se concluir que, a partir do Sécu-lo XIX, vários fatores concorreram para alterar a realidade econômica que a região vinha apresentando. Segundo estudo da AMAMS (1993, p.10-11), “o aprofundamen-to destas transformações levaram as cidades ribeirinhas à perda de importância. Herança do movimento de ocupação, guiada pelo Rio São Francisco”, fazendo com que houvesse um paulatino deslocamento do eixo econômico das localidades pró-ximas ao rio São Francisco, que, até então, apresentava-se como a própria razão de ser do Norte de Minas, para áreas mais afastadas.

Para Cardoso (1996), a estrada de ferro foi um fator de fundamental importân-cia no processo de reorientação econômica da região. Com a ligação ferroviária, segundo ele, é que começa a ser rompido o isolamento ao qual a região fora sub-metida desde o início do Século XVIII. Teria representado, ainda, segundo Cardoso (1996), muito mais que uma possibilidade para o incremento das relações comer-ciais da Região: teria sido, na realidade, a via pela qual o Norte de Minas começa a integrar a dinâmica econômica do Centro-Sul do País.

Essa ideia se aproxima, de certa forma, daquela exposta por Stralen (1980, p.8), quando este discute as alterações nas relações inter-regionais do Norte de Minas. Conforme relata o referido autor, “todo o processo de ocupação econômica e de-mográfica ilustra bem a influência da Bahia e do Nordeste, que diminui somente a partir do momento em que a região Sudeste se torna hegemônica no processo de acumulação de capital e que as relações com o Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo se intensificaram”.

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Figura 19: Composições ferroviárias como o antigo “Trem do Sertão”, de Montes Claros a Monte Azul, e estações de embarque e desembarque ao longo da ferrovia são potenciais bens culturais.

Fonte: http://oblogferroviario.blogspot.com.br/2012/01/trem-do-sertao.html.

Pode-se dizer, também, ainda, que a expansão da rede ferroviária esteve inti-mamente associada à conjuntura política da época e não apenas à econômica. A esse despeito, Lessa (1993) destaca que a cidade de Belo Horizonte foi criada como centro estratégico e entroncamento de todas as vias férreas mineiras, plano somente concluído na década de 1930, quando seu prestígio como capital efetiva-mente se fortaleceu.

É perfeitamente perceptível, no decorrer des sa nossa discussão acerca da evolu-ção econômica do Norte de Minas, que algumas localidades se manifestaram como importantes centros comerciais e/ou produtores. Essas, no entanto, assumiram uma maior ou menor importância econômica em função de uma série de fatores estruturais, conjunturais e geográficos. Por essa perspectiva, acredita-se (afir-mação de Cardoso, com a qual eu concordo) que Pirapora, localidade que havia desfrutado de um momento extremamente fértil, sob o ponto de vista econômico, com a chegada da estrada de ferro, perdeu grande parte desse impulso, especial-mente por causa da paralisação das obras de expansão de sua linha ferroviária. En-quanto isso, outras localidades passaram a desfrutar das vantagens proporcionadas pela expansão da linha férrea, que se tornou prioridade para o governo.

Patrimônio Cultural no Norte de Minas: Aspectos Históricos e Reflexões Antropológicas

A sociedade norte-mineira é caracterizada e reconhecida nacional e internacional-mente como uma sociedade sertaneja. Do século XIX e XX até hoje, outras dinâmi-cas culturais interagiram eficazmente com a vida pastoril, propiciando à sociedade norte-mineira construir sua especificidade cultural distinta de outras sociedades. Essas dinâmicas são decorrentes dos diversos processos de territorialização e de territorialidades que propiciaram a articulação de diferenças, sem, contudo, ocor-rer o apagamento de qualquer uma delas.

As relações que subordinam e, ao mesmo, excluem o Norte de Minas Gerais, não apenas da identidade mineira, mas, também, de projetos e de políticas públicas, são produtos de uma hierarquização da diferença, da concentração de poder sim-bólico na região das Minas Gerais pelo obliteramento discursivo da formação histó-

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rica dos currais do São Francisco e pelo poder de criar carisma para os mineiros da gema. O ponto crucial para a compreensão dessa relação diz respeito aos recursos de poder. Através desses recursos, as diferenças são hierarquizadas pelos mineiros, que afirmam sua superioridade, apoiados no monopólio das fontes de poder, na identificação coletiva e no carisma grupal. Há que considerar que os dois polos da configuração possuem tais recursos de poder.

Em razão notadamente dos incentivos oferecidos na área de abrangência da SUDE-NE, indústrias e empresas extrativas instalaram-se na região, visando, no entanto, seus interesses particulares e desconhecendo as necessidades de desenvolvimento social das zonas rurais e urbanas. O crescimento econômico tem-se realizado de for-ma desordenada, descontínua e privatista, ocasionando a concentração das riquezas e a dilapidação dos recursos naturais. Um panorama geral de estagnação social ali-menta o êxodo rural e mantém a região como fornecedora de braços para o corte da cana-de-açúcar e outras atividades sazonais, no sul do Estado e em São Paulo.

Considerando-se as últimas décadas, dois processos vêm transformando profunda-mente a região: de um lado, a degeneração ambiental, motivada pela apropriação, retenção e destruição dos recursos hídricos e vegetais, bases do já frágil equilíbrio ecológico do cerrado. Quando não tem dono, a água é absorvida indiretamente pelo represamento dos córregos e extensas plantações de eucaliptos que substi-tuem os espécimes nativos. Por sua vez, o desmatamento desordenado interfere no regime das chuvas. Nesse contexto, o sistema tradicional de preparo e plantio das terras – especialmente a queimada, que os grandes proprietários praticam, talvez com efeitos ainda mais desastrosos – apenas faz exaurir os solos e comprometer os mecanismos necessários à sua recomposição, o que vem diminuindo o grau de fer-tilidade e inviabiliza a economia da imensa maioria dos pequenos produtores, que dispõem de ínfimas parcelas para suas culturas de subsistência. De outro, a intro-dução de novas relações econômicas consentâneas com a apropriação das riquezas – sobretudo do solo – e com o aproveitamento dos recursos humanos segundo uma lógica trazida pelo avanço indelével do grande capital em toda a região.

Diante desse quadro, as populações rurais e aquelas que já se dirigiram para as periferias urbanas se encontram não apenas em uma situação de penúria e de incertezas quanto à sobrevivência material, pois o abalo é também cultural, diz respeito a um modo de vida, de proceder e de dar sentido à existência que se torna caduca e deixa esses trabalhadores empobrecidos numa posição, no mínimo, ambígua: a maioria destes reconhece que há mais “civilidade”, mais recursos e facilidades das quais se pode, em parte, usufruir, não sendo, por isso, de todo vã a esperança em dias melhores, ao mesmo tempo em que lembram como, no passado, seu trabalho valia mais, os solos eram melhores, a pobreza era uma condição digna e a prosperidade dependia do empenho de cada um.

Dessa maneira, compreendemos que o sertão sanfranciscano possui um poder simbólico incomensurável no pensamento social brasileiro. O lugar que ocupa, na centralidade da nação brasileira, deve-se à obra ficcional construída por Guima-rães Rosa, internacionalmente conhecida, cujo valor simbólico permite dirimir e inverter a inferiorização regional na hierarquização da diferença em Minas Gerais. Se o sertão tem sido tratado no pensamento social brasileiro como o lugar da alma brasileira, o Norte de Minas, como parte do Sertão e como cenário ficcional da obra rosiana, não tem a inferioridade que os mineiros lhe imputam, principalmen-te porque a afirmação de Minas Gerais como o coração do Brasil pressupõe o im-bricamento entre as duas formações históricas distintas, que são seu fundamento sócio-histórico e cultural: as minas e os currais.

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O Turismo no Norte de Minas

A formação histórica e socioeconômica dos municípios da Mesorregião Norte de Minas, bem como a sua infraestrutura natural, qualifica um grande número de mu-nicípios a ela pertencentes a potencializar o turismo enquanto negócio.

Microrregião de Bocaiúva: possui uma riqueza natural composta por rios, pisci-nas naturais, cachoeiras, que podem ser mais bem desenvolvidas para atrair mais turistas. Em relação a sua riqueza histórica, a estação ferroviária preserva sua arquitetura e algumas cidades preservam algumas construções do barroco colonial. Outro potencial refere-se ao carnaval e festas religiosas.

Microrregião de Grão Mogol: possui uma riqueza natural e histórica que represen-ta um grande potencial turístico. A região é composta por serras, rios, cachoeiras (atrativos turísticos que representam possibilidades para o desenvolvimento de ati-vidades ligadas ao ecoturismo e a prática de esportes de aventura como o trekking, cavalgadas, rapel e escalada), o Lago de Irapé e toda uma diversidade cultural associada ao artesanato. As serras, unidades de conservação e biodiversidade da fauna, e a flora exótica (com suas orquídeas e bromélias) são elementos importan-tes para práticas de turismo ecológico, acampamentos e pesquisas. Em relação a sua riqueza histórica, algumas cidades preservam as ruas com seu traçado original e suas calçadas de pedra. Além disso, é possível observar trilhas e construções em pedras (como igrejas) que foram feitas pelas mãos dos escravos. As festas religio-sas e as manifestações populares (feiras, rodeios e carnaval), juntamente com a culinária típica e o artesanato (casinhas de pedra sabão, produtos de palha de milho e capim campestre, mantas bordadas com fibras de buriti, artesanato em sementes e pedras), são fatores relevantes e de atratividade do turismo cultural.

Microrregião de Janaúba: possui uma riqueza natural que representa um grande potencial turístico. A região é cortada pelos rios São Francisco, Gorutuba e Rio Ver-de, compondo um grande complexo hídrico, com suas cachoeiras, barragens, lago-as, aspectos esses que estimulam desde esportes aquáticos até a pesca como lazer. As serras, unidades de conservação e biodiversidade da fauna, e a flora exótica são elementos importantes para práticas de turismo ecológico. As festas religiosas e as manifestações populares (exposições agropecuárias, vaquejadas e carnaval), juntamente com a culinária típica (biscoitos, beiju, doces fabricados com as frutas típicas do Cerrado, pratos com peixe como principal ingrediente, queijo, rapa-dura, cachaça, carne de sol) e o artesanato sertanejo (esculturas em madeira e cerâmica, tapeçaria) são fatores relevantes e de atratividade do turismo cultural.

Microrregião de Januária: localizada em grade parte ao longo do rio São Fran-cisco, a microrregião é composta por uma diversidade de recursos naturais (como exemplo, a riqueza da fauna e flora do Parque Nacional Grande Sertão Veredas e do Parque Estadual da Mata Seca e Cavernas do Peruaçu). Assim, aqueles municí-pios banhados pelo rio São Francisco, com suas praias de água doce, cachoeiras e grutas, fazem parte do Circuito do Velho Chico e, por isso, são próprios para a prá-tica de esportes, ecoturismo e passeios pelas trilhas das veredas e visitas às gru-tas. Além disso, o artesanato, folclore, as festas típicas como carnaval, romarias, vaquejadas e rodeios são importantes atrativos de turistas para essa microrregião.

Microrregião de Montes Claros: possui uma série de riquezas naturais, tais como: lagoas, cachoeiras, grutas, cavernas, sítios arqueológicos, parques florestais. Um exemplo dessa diversidade natural que pode ser encontrado no município de Mon-tes Claros é o complexo da Lapa Grande, que inclui: sítios arqueológicos, a Lapa

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D’água e a Lapa da Nascente, em que se destacam as cachoeiras. Além disso, destacam-se na região as comidas típicas, artesanato e suas festas populares e re-ligiosas como: carnaval, micaretas, vaquejadas, exposições agropecuárias, festas folclóricas (catopês, reinados, marujos e caboclinhos).

Microrregião de Pirapora: possui uma riqueza natural que representa grande po-tencial turístico, com as suas atividades ao longo do rio São Francisco, a vegetação do cerrado e seu patrimônio histórico. Assim, localizam-se nessa microrregião as Cachoeiras das Almas, do Jucurutu, Santa Marta, Grande, Chupador, Cachoeirão, Prainha, Praia da Biquinha, Cachoeira das Andorinhas, Véu das Noivas, mas, tam-bém, a Lapa Pintada, o Curral de Pedras, as Cataratas do Sítio, o pico do Itacolomi. Além disso, o vapor Benjamim Guimarães é um importante atrativo turístico, com seus passeios ao longo do rio São Francisco. O turismo rural também é outro atra-tivo, oferecendo passeios a cavalo pelos caminhos das veredas e cachoeiras. Uma manifestação artística importante do município são as carrancas, mas também as festas de Folia de Reis, São Gonçalo, Teatro Arte Sacra, festa da Imaculada Concei-ção, Arraial dos Buritis, Rodeios, entre outras. Em relação ao patrimônio histórico, destacam-se: as ruínas da Igreja de Pedra, da Igreja Nossa Senhora de Bom Suces-so, a Igreja Senhor Bom Jesus do Matozinhos, sítio arqueológico, ponte Marechal Hermes (que liga Buritizeiro a Pirapora) e o prédio da Fundação Educacional Caio Martins e as antigas estações ferroviárias.

Microrregião de Salinas: apresenta alguns atrativos naturais como a Reserva eco-lógica Serra do Anastácio, piscinas naturais e fontes termais. Além disso, são en-contrados vales, paredões rochosos e sítios arqueológicos que podem ser explora-dos pelo ecoturismo. As representações culturais como festival de inverno, festas religiosas, feiras regionais, festa do pequi e festas juninas também se destacam como atrações turísticas importantes, além da tradição na fabricação de cachaças conhecidas dentro do País e internacionalmente.

O Norte de Minas possui oficialmente cinco Circuitos Turísticos:

Figura 20: Lago de Irapé, em Grão Mogol.

Fonte: http://www.graomogol.mg.gov.br/index.php/turismo/detalhe/56.

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Figura 21: Serra do Cabral, em Várzea da Palma.

Fonte: http://portalserradocabral.blogspot.com.br/2012/03/serra-do-cabral.html.

Figura 22: Serra Geral do Norte de Minas, em Janaúba.

Fonte: http://serrageraldeminasgerais.blogspot.com.br/p/a-serra-geral-de-minas.html.

Figura 23: Sertão Gerais, em Gorutuba.

Fonte: http://static.panoramio.com/photos/original/40902749.jpg.

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Figura 24: O rio São Francisco – o Velho Chico.

Fonte: http://www.calangopunk.xpg.com.br/januaria/atrativos/images/Rio%20Sao%20Francisco.jpg.

Rio São Francisco – Patrimônio Cultural

O rio São Francisco é um dos mais importantes do País. Trata-se de um rio de pe-netração, que cruza áreas paisagisticamente diferentes como a mata Atlântica, o cerrado, a caatinga e o litoral, e articula uma ampla porção territorial tanto do Su-deste quanto do Nordeste do Brasil e, por esse motivo, é conhecido como “o rio da integração nacional”. Historicamente ele foi navegado em todas as suas porções, promovendo o intercâmbio cultural entre as populações residentes à sua margem.

Por se tratar de uma extensa área geográfica, nesse caso, trabalhou-se com dois níveis de recortes territoriais: um para o rio como um todo, e outro para cada unidade de paisagem.

A riqueza cultural do rio São Francisco foi catalogada num inventário produzido pe-los técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Com o documento, vai ser mais fácil preservar as manifestações folclóricas e religiosas das comunidades ribeirinhas. O resultado da pesquisa foi apresentado em Petroli-na, no Sertão de Pernambuco.

Foram necessários três anos de pesquisa para percorrer cerca de 1,6 mil quilôme-tros do São Francisco. O percurso, que começou em Minas Gerais, onde ele nasce, passou pela Bahia e por Pernambuco, até chegar à foz, entre Alagoas e Sergipe. Várias manifestações artísticas foram registradas nas mais de 90 localidades visita-das, como as carrancas das cidades mineiras.

No roteiro, os estudiosos encontraram ricas paisagens naturais, como os cânions localizados na cidade alagoana de Delmiro Gouveia. Eles catalogaram, também, patrimônios arquitetônicos, arqueológicos e religiosos, entre eles o município de Bom Jesus da Lapa, conhecido como a capital baiana da fé.

Participaram do encontro representantes de empresas e instituições públicas e privadas, além de organizações não governamentais e universidades que integram a bacia hidrográfica do São Francisco. “É o primeiro passo na defesa dos valores culturais do São Francisco. O primeiro passo é o reconhecimento”, afirma o coor-denador do Iphan, Carlos Fernando de Moura.

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Além de compartilhar as informações do inventário, a reunião também serviu para começar a traçar estratégias para a preservação do patrimônio cultural e natural do rio São Francisco. “Ele é um rio muito extenso, então, para ter mais objetividade, vamos trabalhar por setores”, diz o diretor do Depam/Iphan, Dalmo Vieira Filho.

Segundo ele, outra discussão importante foram as salvaguardas. “Os tombamen-tos, as salvaguardas do patrimônio imaterial, os registros, o patrimônio arqueoló-gico, quer dizer, a consequência na proteção vai ser imediata”, ressalta.

Fonte: http://www.globo.pe/diversao/diversao/variedades/2011/06/16/NWS,534777,2,606,DIVERSAO,884-RIQUEZA-CULTURAL-RIO-FRANCISCO-CATALOGADA-INVENTARIO-IPHAN.aspx

Conheça o inventário: http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=1324

Rio São Francisco como Patrimônio Cultural:

http://dspace.almg.gov.br/xmlui/bitstream/handle/11037/59/59.pdf?sequen-ce=3

Vapor Benjamin Guimarães – Pirapora

O decreto estadual nº 24.840, de 1º de agosto de 1985, protegeu um dos bens cul-turais mais emblemáticos ligados à paisagem do rio São Francisco. Pelo ato legal, Minas Gerais reconheceu o Vapor Benjamin Guimarães como patrimônio cultural. Tendo por localização a cidade de Pirapora, o vapor teve sua inscrição lançada no Livro I, do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico.

A história do vapor está intimamente ligada à história da navegação do rio São Francisco e à cidade de Pirapora. Localizado na margem direita do Alto Médio São Francisco, o município foi a base para a construção do primeiro estabelecimento naval no estado, determinado pelo Ministério da Marinha, em março de 1910. Com o título de Escola de Aprendizes Marinheiros de Pirapora, o prédio foi inaugurado em 1913, quando o porto fluvial já contava com grande frota de barcos, lanchas e rebocadores a vapor – particulares e de propriedade do Serviço Oficial da Estrada e da Marinha Nacional.

Os planos de navegação do rio São Francisco, datados da segunda metade do século XIX, foram decisivos para a vocação marinheira, cujo personagem principal foi o vapor Saldanha Marinho, que atuou no trecho de navegação do Rio das Velhas até a Barra do Guaicuí e, daí em diante, já nas águas do São Francisco, alcançou o destino de Boa Vista, em Pernambuco.

Com o objetivo de explorar ainda mais a navegação do rio São Francisco, foi criada a Companhia de Navegação Mineira do São Francisco, com sede em Pirapora. Com a formação da empresa e estímulos financeiros, vapores eram encomendados e chegavam desmontados pelos trilhos da Estrada de Ferro Central do Brasil. Entre

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os primeiros vapores, destacam-se o Melo Viana, posteriormente chamado Raul Soares, e o Halfed, construído na Alemanha, em 1926.

O desenvolvimento da região e suas funções de entreposto comercial proporcio-naram o surgimento de companhias particulares de transportes fluviais, como a Companhia Indústria e Viação de Pirapora, a Empresa Júlio Mourão Guimarães e a Companhia Comércio e Navegação, essa última subsidiária da firma Wilson, Sons e Co. Ltda.

Adquirido pela Companhia Indústria e Viação de Pirapora para fazer o percurso de Pirapora a Juazeiro, o vapor São Francisco tinha por objetivo o transporte de cargas e passageiros de primeira e segunda classes. Já o Benjamin Guimarães atenderia a demanda de um vapor possante para o transporte de mercadoria da recém-criada Empresa Júlio Mourão Guimarães. Unidade mista, o vapor receberia passageiros de primeira e segunda classes, além de puxar lanchas de cargas a reboque.

Esses dois vapores são originários do rio Mississipi, nos Estados Unidos, e tiveram sua construção empreendida pelo armador James Rees Sons & Co., em 1913. Che-garam ao Brasil para serviços na Amazon River Plate Company, no rio Amazonas. Montados em Pirapora, no final da década de 1920, os vapores logo passaram a desempenhar suas funções de transporte de carga e passageiros. Com o passar do tempo e o desenvolvimento do transporte rodoviário, os vapores passaram a de-sempenhar intenso papel ligado à atividade turística, realizando o percurso entre Pirapora e Barra do Guaicuí, e, vez ou outra, o percurso completo até a Bahia.

O Benjamin Guimarães é o último dos vapores originários do rio Mississipi e, após ter ficado mais de dez anos parado, voltou às águas lendárias do São Francisco em 2004, realizando viagens turísticas. Seu similar, o São Francisco, foi destruído por um incêndio em janeiro de 1984, quando já tinha sido preparada a documentação para seu tombamento federal.

Informações técnicas

Segundo informações constantes na ata de criação da Companhia de Navegação do São Francisco, de 1963, e mencionadas no Processo de Tombamento Estadual: “o ‘Benjamin Guimarães’ possui casca de ferro, caldeira do tipo locomotiva com pressão de 175 libras e máquina a vapor de 60 HP. Mede 43,80 m de comprimento, 8,00 m de boca, 1,20 m de pontal, 9,25 m de contorno e calados máximo e mínimo de 1,00 m e 0,60 m. A tonelagem bruta é de 142,00 e a capacidade de carga é de 78 toneladas, enquanto a velocidade econômica é 6,5 milhas/h e, a máxima, de 8 milhas/h. Comporta 132 passageiros, sendo 100 na segunda classe” (pág.15).

Informações do Processo de Tombamento Estadual do Vapor Benjamin Guimarães, elaborado pelo IEPHA/MG.

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Figura 25: Vapor Benjamim Guimarães.

Fonte: http://www.iepha.mg.gov.br/banco-de-noticias/1168-IEPHAmg-apresenta-vapor-benjamin-guimaraes-pirapora.

Patrimônio histórico-cultural no Brejo do Amparo – Januária

A Igreja de Nossa Senhora do Rosário é datada de 1688, construída por trabalho escravo, sob a orientação de jesuítas, e considerada o segundo templo mais antigo construído em Minas Gerais. Está situada no Brejo do Amparo, atualmente distrito de Januária.

Figura 26: Igreja de Nossa Senhora do Rosário - Januária.

Fonte: http://fotosigrejasmineiras.blogspot.com.br/.

O seu interior tem aspectos característicos da época em que a igreja foi constru-ída, como desenhos no teto de madeira, no estilo rococó, e o piso é também de madeira. Este serviu de cemitério para a nobreza da época; para as demais classes sociais, foi criado um cemitério ao lado da igreja.

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Figura 27:Pintura no estilo rococó.

Fonte: http://pingosdiarte.blogspot.com.br/2011_10_01_archive.html.

O motivo pelo qual Nossa Senhora do Rosário foi escolhida como padroeira do local deve-se ao fato de ela ser considerada pela comunidade católica como a padroeira dos negros. A igreja foi tombada em 1989 pelo IEPHA (Instituto Estadual do Patri-mônio Histórico e Artístico de Minas Gerais), entretanto as medidas de restauração e preservação desta só foram tomadas por volta de 2012. Atualmente o projeto de restauração está em andamento. As manifestações culturais realizadas na igreja não abalaram o seu estado e ainda são realizados festejos culturais no local.

Fonte: http://cultjanu.blogspot.com.br/2013/11/patrimonio-historico-cultural-no-brejo.html (Texto e fotos).

O Parque Nacional do Peruaçu

O Parque Nacional Cavernas do Peruaçu abriga mais de 140 cavernas, uma tribo indígena, os Xacriabás, e mais de 80 sítios arqueológicos catalogados. Toda a área se desenvolveu ao longo do rio Peruaçu, que é afluente do rio São Francisco.

Localização: O Vale do Peruaçu está localizado no baixo curso do rio Peruaçu, no estado de Minas Gerais, no município de Januária.

Acesso: O acesso é feito pela rodovia Montes Claros/Januária; chegando a Januá-ria, siga por 45 km, através da MG-135, até o povoado de Fabião I, onde fica loca-lizado o posto de fiscalização do IBAMA. Desse povoado, segue-se por mais 2 km, em estrada de terra, até chegar ao vale do rio Peruaçu. A cidade mais próxima da unidade é Januária, que fica a uma distância de 600 km da capital.

Aspectos culturais e históricos: A região do parque era anteriormente denomi-nada Fazenda Retiro/Morro do Angu. Há registro da presença humana no vale, de aproximadamente 11.000 anos atrás. Pesquisadores da UFMG já encontraram vários esqueletos humanos nessa região.

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O local foi habitado por populações pré-históricas há 11.000 anos, deixando ins-crições rupestres nas grutas e cavernas. Logo após, vieram os índios xacriabás, cultivadores de fumo, milho, mandioca e feijão e que até hoje vivem na região.

Aspectos naturais: A região do parque era anteriormente denominada Fazenda Retiro/Morro do Angu. Há registro da presença humana no vale, de aproximada-mente 11.000 anos atrás. Pesquisadores da UFMG já encontraram vários esqueletos humanos nessa região. As maiores atrações são as inscrições rupestres nas grutas e cavernas encontradas no parque, que foram deixadas pelas populações pré-his-tóricas há 11.000 anos.

Infraestrutura: O parque não está aberto à visitação púbica, apenas para fins de pesquisa ou com uma autorização prévia do IBAMA. Nas cidades próximas como Itacarambi (15 km) e Januária (45 km), é possível encontrar boas pousadas.

Objetivos específicos da unidade: Proteger o patrimônio geológico e arqueológico, amostras representativas de Cerrado, Floresta Estacional e demais formas de vege-tação natural existentes, ecótonos e encraves entre essas formações, a fauna, as paisagens, os recursos hídricos e os demais atributos bióticos e abióticos da região.

Fonte: http://ecoviagem.uol.com.br/brasil/minas-gerais/parque-nacional/cavernas-do-peruacu.

Figura 28: Cavernas do Peruaçu pt.1.

Fonte: http://www.meuvelhochico.blogspot.com.

Figura 29: Cavernas do Peruaçu pt.2.

Fonte: http://www.meuvelhochico.blogspot.com.

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Figura 30: Cavernas do Peruaçu pt.3.

Fonte: http://www.meuvelhochico.blogspot.com.

Para finalizar

É claro que esta apostila não encerra o assunto. Nela, apontamos apenas alguns as-pectos essenciais a uma boa condução cultural local. Ressaltamos a importância do conhecimento histórico, da antropologia cultural, da cultura local e da geografia para dar substância, potencializar e tornar mais eficiente e agradável o trabalho de um condutor cultural local.

Para complementar o seu curso de CCLNM (Condutor Cultural Local – Norte de Mi-nas), sugerimos a seguinte atividade de pesquisa:

• Escolha uma cidade de sua preferência, na qual você já tenha notícias sobre a existência de um bem cultural.

• Caracterize esse bem cultural e explique por que ele merece ser classificado como tal.

• Descreva o contexto histórico desse bem cultural.

• Identifique e registre uma história, acontecimento ou curiosidade envolvendo esse bem cultural.

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