concurso-perda do prazo para a posse
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Perdi o prazo para a posse. E agora?Salvar • 4 comentários • Imprimir • Reportar
Publicado por Paulo Victor Sena - 1 dia atrás
Não é incomum encontrarmos concurseiros aprovados e nomeados nos certames,
mas que, por não tomarem conhecimento da nomeação, acabam perdendo o prazo
para a posse no cargo público.
Três são os fatores que levam a essa circunstância.
O primeiro, de ordem legal, é prazo de 30 (trinta) dias, contados da nomeação, para
que o candidato tome posse, previsto no Estatuto dos Servidores Públicos Civis da
União (Lei Federal n. 8.112/90), e, normalmente, reproduzido pelos estatutos
estaduais e municipais.
O segundo refere-se às previsões editalícias, que, em regra, impõem à
administração o dever de publicar o ato de provimento (nomeação) apenas no
Diário Oficial ou, quando benevolentes, no Diário Oficial e na internet.
O terceiro é o entendimento, consolidado no âmbito dos Tribunais pátrios, de que a
administração pública não está obrigada a preencher imediatamente os cargos
disponibilizados no concurso, podendo fazê-lo, mesmo para os candidatos
aprovados dentro do número de vagas, até o término do prazo do certame, que
pode durar até 04 (quatro) anos, contando-se com a prorrogação.
Assim, na prática, o que normalmente ocorre é o seguinte: o candidato estuda
muito, se prepara, é aprovado no concurso público, ou, pelo menos, classificado,
mas não é imediatamente nomeado. Como não pode aguardar, de braços cruzados,
a sua nomeação, que, como dito, pode demorar até 04 (quatro) anos, começa a se
preparar para outros certames, voltando todas suas energias a nova empreitada de
estudos.
É óbvio que esse candidato, mesmo ciente de sua aprovação, não conseguirá
acompanhar diariamente, durante anos, as publicações em Diário Oficial realizadas
pelo órgão ou entidade para o qual foi aprovado, especialmente porque, como é
cediço, o ritmo de estudos do candidato a concurso público lhe impõe quase que
dedicação exclusiva, quando não tem de conciliar com outras obrigações
inafastáveis, como família, trabalho etc.
Até que, após alguns anos da aprovação, toma conhecimento de que foi nomeado
para o cargo pretendido, já tendo, contudo, perdido o prazo para tomar posse. E
agora, o que fazer?
Há alguns anos, poderia dizer a esse concurseiro que estudasse mais e se
preparasse para o próximo certame, pois, com base em uma interpretação literal da
norma, posicionava-se a jurisprudência pela impossibilidade de dilatação do prazo
para a posse, considerando desidiosa a conduta do candidato que não acompanhou
sua nomeação no Diário Oficial.
Felizmente, contudo, os Tribunais pátrios têm modificado o entendimento,
realizando uma leitura desses casos sob a ótica do princípio da razoabilidade, para
considerar inviável a exigência de que o candidato acompanhe diariamente os atos
publicados pelo órgão ou entidade no Diário Oficial, mormente quando a nomeação
ocorre anos após a aprovação.
Além do mais, tem se ampliado a compreensão do princípio da publicidade para
considerar insuficiente a publicação mediante Diário Oficial e, até mesmo, por meio
dainternet, impondo à administração o dever de intimar pessoalmente o candidato
do ato de sua nomeação.
[...] Caracteriza violação ao princípio da razoabilidade a convocação para
determinada fase de concurso público, mediante publicação do chamamento em
diário oficial e pela internet, quando passado considerável lapso temporal entre a
homologação final do certame e a publicação da nomeação, uma vez que é inviável
exigir que o candidato acompanhe, diariamente, durante longo lapso temporal, as
publicações no Diário Oficial e na internet. 4. Mesmo não havendo previsão
expressa no edital do certame de intimação pessoal do candidato acerca de sua
nomeação, em observância aos princípios constitucionais da publicidade e da
razoabilidade, a Administração Pública deveria, mormente em face do longo lapso
temporal decorrido entre as fases do concurso (mais de 1ano e sete meses),
comunicar pessoalmente a candidata acerca de sua nomeação. [...] (STJ - MS:
15450 DF 2010/0115933-5, Relator: Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, Data de
Julgamento: 24/10/2012, S1 - PRIMEIRA SEÇÃO, Data de Publicação: DJe
12/11/2012)
A nomeação em concurso público após considerável lapso temporal da
homologação do resultado final, sem a notificação pessoal do interessado, viola o
princípio da publicidade e da razoabilidade, não sendo suficiente a convocação para
a fase posterior do certame por meio do Diário Oficial, conforme recente
jurisprudência desta Corte. Súmula 83/STJ. Agravo regimental improvido. (STJ -
AgRg no AREsp: 345191 PI 2013/0151979-7, Relator: Ministro HUMBERTO MARTINS,
Data de Julgamento: 05/09/2013, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe
18/09/2013).
O Tribunal de Justiça da Bahia, malgrado possua precedente em sentido contrário,
tem se inclinado no sentido de acompanhar o posicionamento do Superior Tribunal
de Justiça, restituindo o prazo para que o candidato apresente-se para a posse:
A nomeação decorrente de Concurso Público e respectiva posse, objeto do
mandamus, é da competência privativa do Governador do Estado. Afigura-se ilegal
e arbitraria a convocação de candidatos habilitados em Concurso Público apenas
mediante publicação em Diário Oficial, ante o longo decurso de tempo decorrido
desde a aprovação. No caso concreto, ela não atingiu o seu objetivo e não atendeu
aos princípios da publicidade e da razoabilidade. Demonstração de ofensa a direito
líquido e certo merecedor do amparo através do writ para restituir o prazo para
apresentação dos documentos e realização de exames médicos. (TJ-BA - MS:
00143139720138050000 BA 0014313-97.2013.8.05.0000, Relator: João Augusto
Alves de Oliveira Pinto, Data de Julgamento: 22/01/2014, Tribunal Pleno, Data de
Publicação: 23/01/2014).
O louvável entendimento jurisprudencial não premia o candidato omisso. Não é um
salvo-conduto para que o candidato aprovado simplesmente esqueça-se do
certame, ou, propositadamente, não tome posse, condicionando esse ato ao
interesse do concurseiro.
Até porque, como dito, não se trata de uma regra, mas sim de uma interpretação
principiológica, cuja conclusão, naturalmente, só ocorrerá se presente a
razoabilidade no caso concreto.
No entanto, caso presente, essa solução apresenta-se verdadeiramente como uma
luz para o candidato esforçado, que logrou êxito na aprovação, mas que por conta
da insuficiência na publicação do ato de provimento, tomou conhecimento
tardiamente de sua nomeação.
Portanto, se você perdeu o prazo para a posse, não se desespere. Saiba que o
Poder Judiciário já julgou casos semelhantes ao seu e, com base no princípio da
razoabilidade, vem determinando que a administração pública deva reabrir o prazo,
convocando novamente o candidato para que se apresente à posse.
Paulo Victor SenaAdvogado
Advogado atuante nas áreas de Direito Eleitoral e Municipal. Graduado em Direito pela
Universidade do Estado da Bahia –UNEB. Pós-graduado em Direito Empresarial e Advocacia
Empresarial pela Rede LFG/Universidade Anhaguera-Uniderp. Membro da Comissão de
Direitos Humanos da OAB/BA.
Fonte: http://paulovictorsena.jusbrasil.com.br/artigos/143922083/perdi-o-prazo-para-a-posse-e-agora?utm_campaign=newsletter-daily_20141008_171&utm_medium=email&utm_source=newsletter
Data: 08/10/2014