forumdeconcursos.com · 02/01/1993 · capÍtulo 4 – aquisiÇÃo, conservaÇÃo e perda da posse...

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  • A EDITORA FORENSE se responsabiliza pelos vcios do produto no que concerne sua edio (impresso e apresentao a fim de possibilitar ao consumidor bem manuse-lo e l-lo). Nem a editora nem o autor assumem qualquer responsabilidade por eventuais danos ou perdas a pessoa ou bens, decorrentes do uso da presente obra.

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    Impresso no Brasil Printed in Brazil

    Direitos exclusivos para o Brasil na lngua portuguesa Copyright 2016 by EDITORA FORENSE LTDA. Uma editora integrante do GEN | Grupo Editorial Nacional Travessa do Ouvidor, 11 Trreo e 6 andar 20040-040 Rio de Janeiro RJ Tel.: (21) 3543-0770 Fax: (21) 3543-0896 [email protected] | www.grupogen.com.br

    O titular cuja obra seja fraudulentamente reproduzida, divulgada ou de qualquer forma utilizada poder requerer a apreenso dos exemplares reproduzidos ou a suspenso da divulgao, sem prejuzo da indenizao cabvel (art. 102 da Lei n. 9.610, de 19.02.1998). Quem vender, expuser venda, ocultar, adquirir, distribuir, tiver em depsito ou utilizar obra ou fonograma reproduzidos com fraude, com a finalidade de vender, obter ganho, vantagem, proveito, lucro direto ou indireto, para si ou para outrem, ser solidariamente responsvel com o contrafator, nos termos dos artigos precedentes, respondendo como contrafatores o importador e o distribuidor em caso de reproduo no exterior (art. 104 da Lei n. 9.610/98).

    1 edio 2006 / 2 edio 2008 / 3 edio 2009 / 4 edio 2010 / 5 edio 2013 / 6 edio 2014 / 7 edio 2016

    Capa: Danilo Oliveira Produo digital: Geethik

    Fechamento desta edio: 01.12.2015

    CIP Brasil. Catalogao na fonte. Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.

    N13c

    Nader, Paulo

    Curso de direito civil, volume 4: direito das coisas. / Paulo Nader. 7. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2016.

    Inclui bibliografia ISBN 978-85-309-6869-4

  • 1. Responsabilidade (Direito). 2. Direito civil Brasil. I. Ttulo II. Ttulo: Responsabilidade civil.

    08-1609 CDU 347.51(81)

  • s Monjas Beneditinas da Abadia de Santa Maria, em So Paulo, em

    permanente viglia de oraes pela harmonia nas famlias e paz na Terra, a

    fraterna homenagem do autor. Reverncia especial Senhora Abadessa,

    Madre Maria Tereza Amoroso Lima, e s Irms Irene Moyss (in

    memoriam), Estefnia Moyss e Genoveva Moyss (in memoriam)

    queridas tias Julieta, Adlia e Virginie de minha infncia!

  • Nota da Editora: o Acordo Ortogrfico foi aplicado integralmente nesta obra.

  • NDICE SISTEMTICO

    Prefcio

    Nota do Autor

    Parte 1

    INTRODUO AO DIREITO DAS COISAS

    CAPTULO 1 INTRODUO AO DIREITO DAS COISAS

    1.Consideraes prvias

    2.Terminologia, conceito e objeto do Direito das Coisas

    2.1.Terminologia

    2.2.Conceito e objeto

    3.Noo de direito real

    3.1.Ad rubricam

    3.2.Teoria clssica ou romana

    3.3.Teoria personalista

    3.4.Teoria ecltica

    4.Classificao e caracteres dos direitos reais

    4.1.Classificao

    4.2.Caracteres

    4.2.1.Tipicidade

    4.2.2.Oponibilidade erga omnes

    4.2.3.Direito de sequela

    4.2.4.Publicidade

    4.2.5.Preferncia

    4.2.6.Princpios da elasticidade e da consolidao

    5.Paralelo entre direitos reais e obrigacionais

    6.Os direitos reais no Direito Internacional Privado

    7.Aes reais

    8.Direito real e obrigao Propter Rem

    Reviso do Captulo

    Parte 2

    DA POSSE

    CAPTULO 2 NOO DE POSSE

  • 9.Aspectos gerais

    10.Terminologia

    11.Antecedentes histricos

    12.As teorias de Savigny, Ihering e Saleilles

    12.1.Ad rubricam

    12.2.A teoria subjetiva de Savigny

    12.3.A teoria objetiva de Ihering

    12.4.A teoria ecltica de Saleilles

    13.Natureza da posse

    14.Posse dos direitos pessoais

    15.Conceito de posse no Cdigo Civil

    16.A posse no Direito Comparado

    17.Deteno

    Reviso do Captulo

    CAPTULO 3 CLASSIFICAO DA POSSE

    18.Delimitao do tema

    19.Posse direta e indireta

    20.Posse exclusiva e composse

    21.Posse justa e posse injusta

    22.Posse de boa-f e de m-f

    23.Princpio de permanncia do carter da posse

    24.Outras classificaes

    Reviso do Captulo

    CAPTULO 4 AQUISIO, CONSERVAO E PERDA DA

    POSSE

    25.Ad Rubricam

    26.Aquisio

    26.1.Aspectos gerais

    26.2.Modos de aquisio

    26.3.Constituto possessrio e traditio brevi manu

    26.4.Atos de mera permisso ou tolerncia

    26.5.Atos de violncia e clandestinidade

    26.6.Transmisso causa mortis

    26.7.Presuno de posse da coisa mvel

    27.Conservao

    28.Perda

  • Reviso do Captulo

    CAPTULO 5 EFEITOS DA POSSE

    29.Consideraes prvias

    30.Autotutela da posse

    31.Aes possessrias

    31.1.Os interditos no Direito Romano

    31.2.Manuteno provisria da posse polmica

    31.3.A proteo possessria e as servides no aparentes

    31.4.Manuteno da posse

    31.5.Reintegrao de posse

    31.6.Interdito proibitrio

    31.7.Outras aes de interesse do possuidor

    31.7.1.Ao de nunciao de obra nova

    31.7.2.Embargos de terceiro

    31.7.3.Usucapio

    32.Direito aos frutos

    33.Alguns efeitos da posse de boa ou de m-f

    33.1.Perda ou deteriorao da coisa

    33.2.Quanto s benfeitorias

    Reviso do Captulo

    Parte 3

    DA PROPRIEDADE

    CAPTULO 6 A PROPRIEDADE EM GERAL

    34.Aspectos sociais e filosficos

    35.A propriedade entre os antigos

    36.Noo geral de propriedade

    37.Conceito e caracteres da propriedade

    37.1.Conceito

    37.2.Caracteres

    38.Funo social da propriedade

    38.1.Ad rubricam

    38.2.Proteo natureza e ao patrimnio cultural da

    sociedade

    38.3.Desapropriaes

  • 38.4.Posse-trabalho

    39.Abrangncia da propriedade do solo

    40.Descoberta

    Reviso do Captulo

    CAPTULO 7 AQUISIO DA PROPRIEDADE IMVEL

    41.Distines Fundamentais

    41.1.Titulus e modus adquirendi

    41.2.Aquisio originria e derivada

    41.3.Aquisio inter vivos e causa mortis

    41.4.Aquisio a ttulo singular e universal

    41.5.Aquisio a ttulo gratuito e oneroso

    42.Usucapio

    42.1.Consideraes prvias

    42.2.Direito Romano

    42.3.Conceito

    42.4.Requisitos

    42.4.1.Persona habilis

    42.4.2.Res habilis

    42.4.3.Possessio

    42.4.4.Tempus

    42.5.Fundamentos da usucapio

    42.6.Usucapio extraordinria

    42.7.Usucapio pro labore

    42.8.Usucapio habitacional

    42.9.Usucapio ordinria

    42.10.Usucapio coletiva

    42.11.Usucapio por abandono do lar

    42.11.1.Objeto e propriedade

    42.11.2.Abandono do lar

    42.11.3.Usucapiente

    42.12.Ao de usucapio procedimento

    43.Registro do ttulo

    43.1.Generalidades

    43.2.Direito Romano

    43.3.Presuno de domnio

    43.3.1.Sistema brasileiro

  • 43.3.2.Sistema alemo

    43.4.Processo do registro

    43.5.Matrcula, registro, averbao e cancelamento

    43.6.Sntese dos princpios do sistema registral

    43.7.Responsabilidade civil dos oficiais

    44.Acesso

    44.1.Consideraes gerais

    44.2.A accessio no Direito Romano

    44.3.Espcies

    44.4.Ilhas

    44.5.Aluvio

    44.6.Avulso

    44.7.lveo abandonado

    44.8.Construes e plantaes

    44.8.1.Acesso e superfcie

    44.8.2.Presuno em favor do titular do terreno

    44.8.3.Semeadura, plantao ou construo com

    matria-prima alheia

    44.8.4.Incorporao de coisa mvel em prdio

    alheio

    44.8.5.Construo ou plantao com material

    alheio e em solo alheio

    44.8.6.Construo parcialmente em terreno alheio

    Reviso do Captulo

    CAPTULO 8 AQUISIO DA PROPRIEDADE MVEL

    45.Consideraes gerais

    46.Usucapio

    47.Ocupao

    48.Tesouro

    48.1.Conceito

    48.2.Disposies legais

    49.Tradio

    50.Especificao

    50.1.Conceito

    50.2.Hipteses e solues do Direito ptrio

    50.3.O Direito ptrio em face do Direito Romano e Direito

    Comparado

  • 51.Confuso, comisto e adjuno

    51.1.Conceitos

    51.2.Solues legais

    Reviso do Captulo

    CAPTULO 9 PERDA DA PROPRIEDADE

    52.Consideraes prvias

    53.Alienao

    54.Renncia

    55.Abandono

    56.Perecimento da coisa

    57.Desapropriao

    57.1.Consideraes prvias

    57.2.Competncia para desapropriar

    57.3.Bens desapropriveis

    57.4.Direito de preferncia e retrocesso

    57.5.Instrumentos legais

    57.6.Causas permissivas da expropriao

    57.7.Processo desapropriatrio

    57.8.Desapropriao indireta

    Reviso do Captulo

    CAPTULO 10 DIREITO DE VIZINHANA

    58.Conceito e fundamentos

    59.Uso anormal da propriedade

    60.rvores limtrofes

    61.Passagem forada

    62.Passagem de cabos, tubulaes e outros condutos

    63.Das guas

    63.1.Escoamento natural de gua pluvial ou de nascente

    63.2.Escoamento de guas artificialmente acumuladas

    63.3.Aproveitamento compartilhado

    63.4.Poluio de guas

    63.5.Represamento de gua

    63.6.Passagem de aqueduto em prdio alheio

    64.Direito de tapagem

    65.Direito de construir

  • 65.1.Consideraes prvias

    65.2.Interesses gerais tutelados

    65.3.Tutela da privacidade

    65.4.Direito de travejar

    65.5.Direito do confinante que primeiro constri

    65.6.Condomnio de parede-meia

    65.7.Alteamento de parede divisria

    65.8.Instalaes proibidas junto parede divisria

    65.9.Obras acautelatrias

    Reviso do Captulo

    CAPTULO 11 CONDOMNIO GERAL OU TRADICIONAL

    66.Noo de condomnio

    67.Espcies de condomnio geral

    68.Condomnio voluntrio ou convencional

    68.1.Direitos e deveres dos condminos

    68.2.Diviso da coisa comum

    68.3.Administrao do condomnio

    69.Condomnio necessrio

    Reviso do Captulo

    CAPTULO 12 CONDOMNIO EDILCIO OU HORIZONTAL

    70.Consideraes prvias

    71.Conceito

    72.Relao de acessoriedade

    73.Natureza jurdica

    74.Formao

    75.Conveno

    76.Direitos e deveres dos condminos

    77.Realizao de obras no condomnio

    78.Administrao

    79.Extino

    Reviso do Captulo

    CAPTULO 13 PROPRIEDADE RESOLVEL

    80.Consideraes gerais

    81.Resoluo com efeitos ex tunc

  • 82.Revogao com efeitos ex nunc

    Reviso do Captulo

    CAPTULO 14 PROPRIEDADE FIDUCIRIA

    83.Consideraes prvias

    84.Origem Romana

    85.Conceito

    86.Alienao fiduciria de coisa mvel

    86.1.Ad rubricam

    86.2.Objeto

    86.3.Registro

    86.4.O contrato

    86.5.Obrigaes do fiduciante

    86.6.Inadimplncia e procedimento

    86.7.Priso civil

    86.8.Pacto comissrio

    86.9.Pagamento por terceiro

    87.Alienao fiduciria de coisa imvel

    88.O Cdigo de Defesa do Consumidor

    Reviso do Captulo

    Parte 4

    DOS DIREITOS REAIS SOBRE A COISA ALHEIA

    CAPTULO 15 INTRODUO AOS DIREITOS REAIS SOBRE A

    COISA ALHEIA

    89.Generalidades

    90.Conceito

    91.Definio e caracteres

    92.Direito Romano

    93.Direitos reais de gozo, garantia e aquisio

    94.Numerus Clausus

    Reviso do Captulo

    CAPTULO 16 SUPERFCIE

    95.Generalidades

    96.O Direito Romano

  • 97.Conceito

    98.O Direito Comparado

    99.Superfcie e institutos afins

    100.O Cdigo Civil de 2002

    100.1.Abrangncia

    100.2.Formao

    100.3.Transferncia do direito

    100.4.Obrigaes do superficirio

    100.5.Extino

    101.Enfiteuse

    101.1.Ad rubricam

    101.2.O Direito Romano

    101.3.Conceito e regras bsicas

    Reviso do Captulo

    CAPTULO 17 SERVIDES

    102.Conceito

    103.Servido acessria

    104.Servido e direito de vizinhana

    105.Caracteres

    105.1.Jus in re aliena

    105.2.Conexo entre prdios diversos e prximos

    105.3.Titularidades distintas

    105.4.Inseparabilidade

    105.5.Permanncia

    105.6.Indivisibilidade

    105.7.Obrigao non facere

    105.8.Intransmissibilidade

    105.9.Formalidade

    106.Classificao

    106.1.Ad rubricam

    106.2.Positivas e negativas

    106.3.Contnuas e descontnuas

    106.4.Aparentes e no aparentes

    106.5.Servides coativas

    107.O Direito Romano

    108.Regras bsicas do Cdigo Civil

  • 108.1.Ad rubricam

    108.2.Definio

    108.3.Modos de constituio

    108.4.Direito execuo de obras

    108.5.nus financeiro das obras

    108.6.Dever jurdico do titular do praedium serviens

    108.7.Remoo da servido

    108.8.Exerccio civiliter da servido

    108.9.Indivisibilidade das servides e seus efeitos

    108.10.Extino das servides

    108.10.1.Desapropriao

    108.10.2.Extino da servido de prdio dominante

    hipotecado

    108.10.3.Renncia

    108.10.4.Perda de utilidade ou comodidade

    108.10.5.Resgate

    108.10.6.Confuso

    108.10.7.Supresso das obras

    108.10.8.No uso contnuo durante dez anos

    109.Servides administrativas

    Reviso do Captulo

    CAPTULO 18 USUFRUTO

    110.Conceito

    111.Institutos afins

    111.1.Servido

    111.2.Anticrese

    111.3.Enfiteuse e superfcie

    111.4.Locao

    111.5.Propriedade

    111.6.Fideicomisso

    112.Caracteres

    112.1.Temporariedade

    112.2.Divisibilidade

    112.3.Inalienabilidade

    112.4.Conservao da forma e substncia

    112.5.Posse de usufruto

    113.Regras bsicas do Cdigo Civil

  • 113.1.Objeto

    113.2.Constituio

    113.2.1.Por fora de lei

    113.2.2.Por declarao de vontade

    113.2.3.Por usucapio

    113.2.4.Por sentena judicial

    113.3.Alcance

    113.3.1.Acessrios e acrescidos

    113.3.2.Usufruto de florestas e de minas

    113.3.3.Usufruto sobre a universalidade ou quota-

    parte

    113.3.4.Cesso do exerccio

    113.4.Direitos do usufruturio

    113.4.1.Regra geral

    113.4.1.1.Posse

    113.4.1.2.Uso

    113.4.1.3.Administrao

    113.4.1.4.Percepo dos frutos

    113.4.2.Usufruto sobre ttulos de crdito

    113.4.3.Frutos naturais pendentes

    113.4.4.Frutos naturais animais

    113.4.5.Frutos civis vencimento e titularidade

    113.4.6.Fruio pessoal ou por arrendamento

    113.4.7.Outros direitos

    113.5.Deveres do usufruturio

    113.5.1.Inventrio

    113.5.2.Cauo

    113.5.3.Deterioraes naturais

    113.5.4.Encargos do usufruturio

    113.5.5.Encargos do nu-proprietrio

    113.5.6.Seguro da coisa fruturia

    113.5.7.Destruio de edifcio usufruturio

    113.6.Direitos do nu-proprietrio

    113.6.1.Alienaes pelo nu-proprietrio

    113.6.2.Obras ou melhoramentos

    113.6.3.Novas servides

    113.6.4.Diviso da nua-propriedade

    113.6.5.Reserva de uso pelo nu-proprietrio

  • 113.7.Extino do usufruto

    113.7.1.Pela renncia ou morte do usufruturio

    113.7.2.Pela verificao do termo ad quem ou

    verificao de condio

    113.7.3.Extino da pessoa jurdica

    113.7.4.Pela cessao do motivo de que se originou

    113.7.5.Pela destruio da coisa

    113.7.6.Pela consolidao

    113.7.7.Por culpa do usufruturio

    113.7.8.Pelo no uso ou no fruio

    113.7.9.Usufruto simultneo

    Reviso do Captulo

    CAPTULO 19 USO

    114.Conceito

    115.Caracteres

    116.Constituio

    117.Direitos e deveres do usurio

    118.Direitos e deveres do instituinte

    119.Extino

    120.Disposies do Cdigo Civil

    Reviso do Captulo

    CAPTULO 20 HABITAO

    121.Conceito

    122.Regras do Cdigo Civil

    122.1.Conceito legal

    122.2.Coabitao

    122.3.Integrao do instituto

    Reviso do Captulo

    CAPTULO 21 DIREITO DO PROMITENTE COMPRADOR DO

    IMVEL

    123.Consideraes prvias

    124.Conceito e requisitos

    124.1.Conceito

    124.2.Requisitos

    124.2.1.Formalidade

  • 124.2.2.Irretratabilidade

    124.2.3.Objeto imobilirio

    124.2.4.Pagamento

    124.2.5.Registro

    124.2.6.Outorga uxria

    124.2.7.Cessibilidade

    125.Efeitos

    126.Clusula cum amico eligendo

    127.Resoluo contratual por inadimplemento

    128.Extino

    129.Regras do Cdigo Civil

    129.1.Formao do direito real

    129.2.Escritura pblica ou adjudicao compulsria

    Reviso do Captulo

    CAPTULO 22 INTRODUO AOS DIREITOS REAIS DE

    GARANTIA

    130.Consideraes prvias

    131.Importncia

    132.Funo

    133.Excusso

    134.Direito Romano

    135.Conceito, constituio e natureza jurdica

    135.1.Conceito

    135.2.Constituio

    135.3.Natureza jurdica

    136.Caracteres

    136.1.Imediatidade

    136.2.Validade erga omnes

    136.3.Acessoriedade

    136.4.Especialidade

    136.5.Indivisibilidade

    136.6.Preferncia

    Reviso do Captulo

    CAPTULO 23 PENHOR

    137.Notas preliminares

    138.Penhor e penhora

  • 139.Dados histricos

    140.Penhor comum ou convencional

    140.1.Conceito

    140.2.Direitos do credor pignoratcio

    140.3.Obrigaes do credor pignoratcio

    140.4.Extino do penhor

    141.Penhor Rural

    141.1.Ad rubricam

    141.2.Disposies gerais

    141.3.Penhor agrcola

    141.4.Penhor pecurio

    142.Penhor Industrial e mercantil

    143.Penhor de direitos e ttulos de crdito

    144.Penhor de veculos

    145.Penhor legal

    Reviso do Captulo

    CAPTULO 24 HIPOTECA

    146.Consideraes prvias

    147.Aspectos sociais

    148.Conceito e elementos

    149.Disposies gerais

    149.1.Objeto da hipoteca

    149.2.Subsistncia de nus reais

    149.3.Alienao de imvel gravado

    149.4.Pluralidade de hipotecas

    149.5.Garantia hipotecria de dvida futura ou condicionada

    149.6.Cdula hipotecria

    150.Hipoteca Legal

    151.Registro da hipoteca

    152.Extino da hipoteca

    153.Hipoteca de vias frreas

    Reviso do Captulo

    CAPTULO 25 ANTICRESE

    154.Conceito e formao

    155.A permanncia do instituto no Cdex

  • 156.Disposies do Cdigo Civil

    156.1.Ad rubricam

    156.2.Normas conceituais

    156.3.Administrao do imvel

    156.4.Direitos e deveres do credor

    Reviso do Captulo

    BIBLIOGRAFIA

  • PREFCIO

    O advento do to esperado novo Cdigo Civil em 2002 gerou, como

    no poderia deixar de ser, o surgimento de uma vasta produo jurdica

    tendente, de um lado, a colmatar a perplexidade originria do perodo

    de vacatio legis, que antecede os novos sistemas codificados, e, de outro,

    uma enorme expectativa a agitar o esprito dos estudiosos, com vistas a

    determinar as novas tendncias exegticas que passaro a dominar o

    cenrio jurdico do pas.

    No caso brasileiro, especificamente, essas duas tendncias se revestem

    de fundamental importncia e assombrosa expresso se considerarmos a

    dimenso do pas e as tendncias regionais que sempre coloriram e

    pontuaram as mais brilhantes manifestaes culturais de nossos

    intelectuais. que o brilho espontneo dos juristas, aliado

    heterogeneidade do pensar de cada regio, apesar da natural e esperada

    diversidade axiolgica, sempre acabou se direcionando no delinear de um

    escopo comum, capaz de resgatar o perfil tipicamente nacional, a maneira

    de ser do povo brasileiro, suas expectativas e valores, suas atitudes e

    pensamentos.

    Esta aparente (ou superficial) diversidade nos coloca em posio

    privilegiada, na medida em que cria ambiente propcio discusso,

    investigao e contestao, to decisivas e to imantadas de valor, quando

    se trata de produo, gerao e avaliao de cultura.

    No sem razo a crescente ateno aliengena despertada pelas nossas

    mais variadas manifestaes culturais. No cenrio jurdico, que nos

    interessa mais de perto, a curiosidade intelectual aliada profunda simpatia

    pela maneira de pensar e de ser do brasileiro, reproduzida em um sistema

    codificado, tem provocado as mais diversas reaes dos segmentos cultos

    americanos e europeus, mas sempre de perplexidade e admirao em face

    da capacidade de o homem brasileiro se inventar e reinventar, em prova

    inquestionvel de nossa inesgotvel capacidade de versatilidade.

    Prova disso o surgimento do novo Cdigo Civil, que, apesar de suas

    eventuais imperfeies e lacunas (nem haveria necessidade de perfeio, j

    que a mutabilidade da prpria essncia da condio humana), conseguiu

    aliar, e de forma magistral, o praticamente impossvel, isto , a passagem

    de uma sociedade tipicamente patriarcal, assimtrica e dominantemente

    rural, a uma sociedade global, neoliberal, cosmopolita e urbana.

    Como j tivemos oportunidade de afirmar e contrariamente ao que

    alardearam os detratores do novo sistema codificado (muito mais presos a

    ideologias do que a qualquer convico de carter cientfico) , o que

    impressiona, na nova proposta codificada, exatamente a adaptao de

    institutos e tendncias seculares aos ditames da nova ordem social, sem

    ruptura do sistema tradicional, sem quebra de princpios, para ns,

  • fundamentais e que nos guindam categoria de modernos, mas sem

    comprometimento dos nossos mais caros valores, de, ainda que inseridos

    no contexto mundial, no termos abandonado nossa mais autntica e

    veemente identidade.

    Como diria Miguel Reale, com sua natural serenidade e sbia

    profundidade, h todo um saber jurdico acumulado ao longo do tempo,

    que aconselha a manuteno do vlido e do eficaz, ainda que em novos

    tempos.

    Este resgate do vlido e do eficaz, esta permanente e inexorvel

    manuteno do bom senso e da razoabilidade, este ponto de equilbrio,

    prprio dos doutos, em face das situaes extremas e das posturas

    radicalmente opostas, a virtude primeira que pontua toda a produo

    jurdica de Paulo Nader, na sua mais recente proposta de anlise do novo

    Cdigo Civil, materializada no Curso de Direito Civil, publicado pela

    renomada Editora Forense.

    Antes mesmo do Curso, Paulo Nader j encantara e ensinara geraes

    de alunos e estudiosos com dois livros de leitura obrigatria: a Introduo

    ao Estudo do Direito (j na 22 edio) e o seu no menos famosoFilosofia

    do Direito (ora na 12 edio), obras que conseguem resgatar, de forma

    magistral, a exuberncia do jusfilsofo, sem perder de vista a perspectiva

    fundamental da constante aspirao de concretitude jurdica que caracteriza

    o verdadeiro jurista.

    Contudo, como era de se esperar, a curiosidade intelectual de Paulo

    Nader, aliada ao seu intenso labor no ensino universitrio e riqussima

    experincia adquirida no exerccio da magistratura, no podia se limitar

    mera investigao filosfica; o cadinho valioso destas vivncias e

    experincias, que, reconhea-se, poucos mortais tm o privilgio de

    vivenciar, estava a exigir uma forma de manifestao mais ampla, mais

    intensa, mais voltada multifacetria realidade cotidiana e que, agora, se

    materializa em obra de dimenso perene, oCurso de Direito Civil, como

    desdobramento impecvel da materialidade da norma jurdica.

    O que encanta e esta a segunda virtude da obra de Paulo Nader a

    forma repleta de naturalidade, porque calcada na vivncia de toda uma vida

    de rica experincia e conhecimento, como consegue aliar a doutrina com a

    prxis, em transposies da ordem subjetiva (dos standards jurdicos)

    ordem objetiva, com uma facilidade e espontaneidade, nem sempre

    encontrveis em obra do gnero.

    No se pense, porm, que esta virtude, intrnseca sua produo,

    compromete em qualquer momento a intensidade e a profundidade no trato

    dos institutos jurdicos, como se poderia imaginar, ou suspeitar, em face

    desta virtude estilstica. Ao contrrio, a leitura de todos os captulos

    do Direito das Coisas impressiona o estudioso, desde as primeiras pginas

    at as propostas doutrinrias derradeiras, pela preciso dos contedos, pelo

  • rigorismo impecvel do desdobramento dos tpicos e pela intensa

    preocupao em fazer obra til, capaz de elucidar, esclarecer, ensinar e

    orientar os estudiosos e profissionais do Direito.

    Talvez a resida a terceira virtude do Direito das Coisas, que, sem se

    perder na horizontalidade estril das Aulas que pouco ou quase nada

    acrescentam, capaz de motivar e desencadear a investigao cientfica

    jurdica e o gosto pelo Direito, quer na escala nacional (sempre empregada

    em primeiro lugar, como pano de fundo), quer na esfera internacional, pelo

    recurso de um direito comparado, bem dosado, vivel e adequado

    realidade estudantil brasileira, sem os excessos da pura erudio, que a

    nada conduzem.

    que Paulo Nader, enquanto magistrado, tem a exata dimenso do

    quanto difcil transpor a proposta terica ao mundo da realidade e do

    quanto complexo o exerccio da deslocao do mundo das ideias ao

    mundo da vivncia concreta; enquanto professor, sabe avaliar

    perfeitamente o desafio do ato didtico que s se aperfeioa quando se

    estabelece um canal de perfeita comunicao entre o mestre e o discpulo;

    e, enquanto autor, s descansa quando consegue materializar, em toda sua

    integralidade, a validade de uma mensagem cognitiva.

    Todas estas qualidades j se haviam manifestado no primeiro volume

    do Curso, como prognstico inquestionvel da grandeza de uma obra

    anunciada; ganharam relevo expressivo no terceiro volume, dedicado

    aos Contratos, e atinge plenitude, confirmadora do que j prevramos ao ler

    os volumes anteriores, neste novo tomo dedicado ao Direito das Coisas.

    O volume, como j se visualizara nos trabalhos anteriores, vem

    imantado de uma intensa preocupao de ensinar, tornar claros contedos

    nem sempre bvios (especialmente para os estudantes da graduao),

    aprofundando a doutrina, quando a temtica exige, e estabelecendo os

    devidos paradigmas entre a proposta de 1916 e a atual sistemtica.

    Claro est, e Paulo Nader tambm o reconhece, sem excessos e

    posturas radicais, mas com a serenidade dos doutos, que o novo Cdigo

    Civil apresenta incorrees e impropriedades, no comprometedoras,

    entretanto, da validade da nova proposta, superadora de muitos problemas e

    dificuldades anteriormente existentes. Compete ao jurista sempre resgatar e

    revalorizar a ordem jurdica, especialmente diante da excepcional situao

    histrica vivenciada, agora, pela sociedade brasileira: o advento de um

    novo sistema codificado.

    No bastasse a intensa preocupao em apresentar a melhor doutrina,

    nacional e estrangeira, o novo volume do Curso de Direito Civil vem

    acompanhado de rica e atualssima jurisprudncia, permitindo ao leitor

    fazer as devidas transposies do direito desejado ao direito vivenciado.

    que, como o prprio autor reconheceu, a ordem jurdica no evolui e

  • alcana a estabilidade cientfica sem o apoio de uma segura orientao

    doutrinria e esta no faltou no campo do Direito das Coisas.

    O trabalho fecundo, detalhista, quase artesanal, apresentado pelo autor,

    vai conduzindo o leitor, paulatinamente, no mundo dos direitos reais, desde

    as noes mais singelas at as mais complexas, desvendando os mistrios e

    sutilezas de um ramo do Direito Civil, de nem sempre fcil abordagem. O

    perfil especfico deste complexo universo civilista vai se delineando pelas

    articulaes lgicas, ticas e fticas, como reconheceu Paulo Nader, num

    crescendo, inaltervel, de premissas, raciocnios e concluses, por meio de

    atividade criadora das mais fecundas e imantada do mais veemente

    humanismo: que, no obstante tratar a matria das coisas, o autor jamais

    negligencia a dimenso do Homem e a sua funo de minorar a

    materializao inexorvel da sociedade moderna.

    A proposta doutrinria e didtica de Paulo Nader, j manifestvel em

    obras de flego, que lhe garantiram respeito e admirao no mundo jurdico

    nacional, com o incondicional aplauso dos alunos e dos doutos, certamente

    est fadada ao sucesso e perenidade, em mais uma manifestao

    expressiva do quanto pode a sensibilidade e o conhecimento aliados ao

    trabalho srio e rigoroso dos verdadeiros cientistas.

    Apraz-me e honra-me, sobremaneira, ser o arauto primeiro deste

    volume do Direito das Coisas, convicto de que os elogios aqui

    pronunciados sero constantemente reafirmados por esta e pelas geraes

    vindouras de operadores do Direito.

    Junho de 2005

    Eduardo de Oliveira Leite

    Doutor e Ps-Doutor em Direito. Professor

    Titular na Faculdade de Direito da UFPR e Advogado no Paran.

  • NOTA DO AUTOR

    Estudado cientificamente, o Jus Positum exerce verdadeiro fascnio

    sobre o pesquisador, pois o seu objeto retrata interesses bsicos das pessoas

    humanas, algo que lhes toca diretamente a sensibilidade. Ao aprofundar a

    sua anlise, o jurista depara-se com um quadro incompleto, que exige o seu

    esforo exegtico, a fim de depurar as imperfeies das fontes normativas.

    que a ordem jurdica no se expe sem impor desafios, conjeturas,

    articulaes lgicas, ticas e fticas. Em seu trabalho e sob certo aspecto, o

    jurista reconstri o objeto para dar aos documentos legislativos o sentido de

    verdadeira ordem jurdica.

    O Jus Civile, como parte do Direito Positivo, possui tais predicados.

    Seus institutos despertam os juristas, atraindo-lhes a ateno e aguando-

    lhes a curiosidade cientfica. Cada sub-ramo do Direito Civil, ao regular

    uma parte da realidade social, envolve o pesquisador numa teia particular

    de interesses, motivando-o para a definio e o aperfeioamento da ordem

    jurdica. Na Parte Geral, o sistema fornece os conceitos estruturais, que

    do embasamento ao raciocnio jurdico. As noes de pessoa, bens e fatos

    jurdicos se projetam no apenas em toda a extenso do Direito Civil, mas

    no ordenamento jurdico como um todo, fornecendo-lhe paradigmas. Como

    aferir a regularidade de um contrato, por exemplo, sem a prvia noo de

    capacidade e de fatos jurdicos? As Obrigaes, por suas partes geral e

    especial, favorecem a circulao das riquezas, pois do ao mundo dos

    negcios amplos modelos e frmulas para as mais variadas convenes. A

    importncia da famlia estruturada, seja pela solidariedade econmica ou

    moral de seus membros e estabilidade emocional que proporciona, seja

    pelo seu insubstituvel papel na formao da juventude, d a medida do

    significado do Direito de Famlia, que a expresso normativa dos elos

    que a compem. Sucesses sub-ramo que basicamente se atrela famlia,

    pois, ao cuidar da destinao post mortem do patrimnio, direciona os bens

    para os membros da unidade familiar, a par da relativa liberdade dos atos

    de ltima vontade.A sucesso patrimonial atua, via de regra, como estmulo

    ao trabalho e produo de bens. A importncia das Sucesses est ligada

    ao significado dos bens em geral.

    Quanto ao Direito das Coisas, a sua relevncia advm do valor das

    coisas mveis e imveis em geral. Pelo que estas possuem de bsico, so

    indispensveis aos seres humanos. Embora a posse, a propriedade e osjus in

    re aliena sejam apenas instrumentos para a realizao dos fins que a pessoa

    humana busca alcanar, so valores que a ordem jurdica deve tutelar.

    Como os demais sub-ramos do Jus Civile, o Direito das Coisas se originou

    em Roma, pela obra dos jurisprudentes e dos pretores, e conserva, ainda, de

    um modo geral, os princpios ali cultivados, como se pode inferir do cotejo

    das codificaes atuais com o Corpus Juris Civilis.Nestes dois milnios

  • que os separam, todavia, importante evoluo se operou. O Direito

    contemporneo reconhece a dignidade inerente aos seres humanos,

    indistintamente; a propriedade, embora compreenda ainda os princpios

    do jus utendi, fruendi e abutendi, j no constitui um direito absoluto do

    qual o seu titular possa desfrutar ilimitadamente. Avulta de importncia,

    neste incio de milnio, a funo social da propriedade. Esta se condiciona

    ao bem-estar social. Mecanismos importantes so introduzidos na ordem

    jurdica, para evitar que o egocentrismo prevalea nas relaes sociais em

    detrimento da fora de trabalho. A usucapio pro labore, a habitacional e

    a coletiva so exemplos do novo sentido social da propriedade. Igualmente,

    as desapropriaes por interesse social, que objetivam o bem-estar da

    coletividade.

    A ordem jurdica no evolui e alcana a estabilidade cientfica sem o

    apoio de uma segura orientao doutrinria e esta no faltou no campo do

    Direito das Coisas. Historicamente vem ocorrendo, tanto no Direito

    Comparado quanto em nossa experincia, uma renovao nos quadros

    da Juscivilstica. No passado, brilhantes juristas adaptaram os princpios da

    cincia ao nosso Direito das Coisas, destacando-se as figuras exponenciais

    de Augusto Teixeira de Freitas, Clvis Bevilqua, Lacerda de Almeida,

    Lafayette Rodrigues Pereira, Virglio de S Pereira, Ddimo Agapito da

    Veiga, J. M. de Carvalho Santos, Eduardo Espnola, Astholfo Rezende,

    Tito Fulgncio, entre outros. As lies desses eminentes autores so

    imperecveis e no h como dizer as instituies atuais sem a remisso s

    suas obras. Seguiram-se as lies inolvidveis de Pontes de Miranda, San

    Tiago Dantas, Caio Mrio da Silva Pereira, Orlando Gomes, Washington

    de Barros Monteiro, Antnio Chaves, Slvio Rodrigues, Arnoldo Wald e

    Darcy Bessone. Uma casta de notveis valores se desponta nesta poca de

    reinterpretao do Direito Civil. Tantos so os seus nomes que seria uma

    temeridade a sua indicao, pois fatalmente haveria imperdoveis

    omisses. Tal fato nos d a certeza de que a atual gerao se desincumbir

    no apenas de dizer a ordem jurdica vigente, mas tambm de colaborar

    com o seu aprimoramento, acudindo o legislador com oportunas

    comunicaes e proposies legislativas, uma vez que doutrina cumpre

    igualmente desenvolver uma atividade criadora.

    Ao elaborar as presentes lies de Direito das Coisas, procuramos no

    apenas dizer as instituies vigentes, mas contribuir, ainda, com a anlise

    crtica, apontando falhas e inadaptaes de

    natureza lgica,ftica e axiolgica, das regras ou princpios consagrados

    pelo Cdigo Reale. A nossa ateno esteve voltada, igualmente, para a

    tcnica legislativa adotada, na qual, no raro, se constatam impropriedades.

    As incorrees que o novo Cdex apresenta no impedem o

    reconhecimento de que houve, com ele, a superao de muitos problemas e

    dificuldades anteriormente existentes. O fato que as codificaes, por

  • maior esmero cientfico e tcnico de seus artfices, no so suscetveis de

    perfeio, mas de aperfeioamento. Em nossa experincia e no Direito

    Comparado!

    Aos Professores Eduardo de Oliveira Leite e Almir de Oliveira, que

    escreveram, respectivamente, o prefcio e a matria de quarta capa, o

    agradecimento especial do autor. So dois nomes que se impem nas letras

    jurdicas nacionais, merc de sua produo cientfica e fecunda

    participao em congressos, em que se discute a metodologia do ensino

    jurdico e traam-se os rumos da Cincia do Direito.

  • INTRODUO AO DIREITO DAS COISAS

  • INTRODUO AO DIREITO DAS COISAS

    Sumrio: 1. Consideraes prvias. 2. Terminologia, conceito e objeto do Direito das Coisas. 3. Noo de direito real. 4. Classificao e caracteres dos direitos reais. 5. Paralelo entre direitos reais e obrigacionais. 6. Os direitos reais no Direito Internacional Privado. 7. Aes reais. 8. Direito real e obrigao propter rem.

    1.CONSIDERAES PRVIAS

    A pessoa humana, ser imperfeito que , depende do reino da natureza e

    do mundo da cultura para lograr a sobrevivncia e realizar o

    desenvolvimento de suas potncias ativas. Em seu atuar e fazer, necessita

    de exercer o poder sobre as coisas que lhe so essenciais, como a

    indumentria, os alimentos, a habitao, os instrumentos de trabalho. Como

    a sua vida desenrola-se em sociedade, onde concorre com pessoas

    animadas por iguais interesses, indispensvel o surgimento de regras

    bsicas sobre a posse, propriedade e relaes anlogas, alm de princpios

    gerais de Direito. A justificativa do Direito das Coisas est ligada

    carncias primrias do ser humano.1 De acordo com J. W. Hedemann, o

    Direito das Coisas serve dominao dos bens terrenos, sem a qual a vida

    do homem impossvel. medida que o ser humano evolui

    culturalmente,o Direito das Coisas se refina, convertendo-se em objeto de

    estudos cientficos e de uma frondosa jurisprudncia.2

    Afirmar que o Direito das Coisas regula importante matria de ordem

    social redundncia, verdadeiro trusmo, pois o Jus Positum cuida

    exclusivamente de questes relevantes, seja para prevenir ou solucionar

    conflitos interpessoais. Ocorre, porm, que esta ramificao do Direito

    Civil possui por ncleo a posse, propriedade e os direitos reais sobre

    coisas alheias, em torno dos quais agigantam-se os interesses e na

    proporo dos diferentes graus do capitalismo vigente.

    O Direito das Coisas domnio do Direito Civil que se mostra

    receptivo mudanas culturais, especialmente s que se operam na esfera

    poltico-ideolgica, e revela um coeficiente de princpios e regras de carter

    nacional.3 Seu campo legislativo marcado por normas de ordem pblica,

    que se sobrepem aos interesses particulares. Lacerda de Almeida, aps

    empreender uma pesquisa aprofundada nesta provncia do conhecimento

  • jurdico, confessou o quanto se surpreendeu com o carter evolutivo do

    Direito das Coisas. Parecia-lhe, anteriormente, que este sub-ramo

    constitusse a sede das foras conservadoras na dinmica geral do

    Direito, a parte mais refratria transformaes e ao progresso, a mais

    acentuadamente histrica... Reconheceu o seu equvoco, diante

    da preponderncia cada vez maior do interesse pblico sobre o interesse

    particular no Direito Privado, os progressos do socialismo do Estado...,

    alm de registrar o alargamento do Direito das Coisas, ao aambarcar

    matrias ento consideradas do mbito do Direito das Obrigaes.4 E o

    depoimento do emrito civilista clssico foi h um sculo, quando a

    histria ainda reservava uma grande projeo do interesse coletivo na

    esfera da propriedade privada!

    Ludovico Barassi aponta o exerccio efetivo do direito real como ato

    discricionrio do titular, uma vez que o direito subjetivo o senhorio da

    vontade.5 Realmente no h norma que imponha o uso e o gozo, por

    exemplo, da propriedade, mas a inrcia do seu titular pode trazer-lhe

    resultado negativo, especialmente em face da valorizao crescente do

    princpio da funo social da propriedade. Conforme as peculiaridades do

    caso concreto, o titular sujeita-se usucapio em menor prazo e ao

    processo desapropriatrio.

    Alguns autores julgam o Direito das Obrigaes conservador em seus

    princpios superiores, alm de apresentar uma tendncia universalizao.

    Aquela caracterstica era levada em considerao no paralelo que se fazia

    com o Direito das Coisas, pois os seus institutos eram dominados pelo

    princpio da autonomia da vontade. Hodiernamente, o Direito das

    Obrigaes rene um acervo de regras cogentes, que fixa limite s

    convenes. Os princpios da funo social do contrato e boa-f

    objetiva, somados aos balizamentos doCdigo de Defesa do Consumidor,

    submetem as relaes obrigacionais normas de ordem pblica. De certo

    modo, parte dos direitos obrigacionais conduz formao de direitos reais,

    como ocorre na compra e venda. Ao firmar o contrato, o vendedor se

    obriga a transferir a propriedade ao comprador, o que se efetiva com a

    tradio. No h como se quantificar o carter dinmico do Direito das

    Coisas, comparativamente ao do Direito das Obrigaes. Ambos esto

    abertos modernidade, seja para alcanar o aperfeioamento cientfico ou

    abrigar o novo sentido de justia, mais social e humana.

    A funo social da propriedade,6 reconhecida no plano

    constitucional,7 direciona o legislador para adaptar o instituto s condies

    econmicas do momento histrico, movendo-se no apenas pela justia

    comutativa, mas sensvel aos imperativos da justia social. A realidade

    nacional cria especiais desafios. Os grandes centros urbanos esto cercados

    por habitaes precrias em todos os sentidos, ao mesmo tempo em que

    aumenta a reivindicao de terra por grupos politicamente organizados,

  • visando a obter condies de trabalho no campo e moradia familiar. A

    questo social gera a chamada contracultura, que se coloca antagnica

    aoDireito Oficial. Diante de um quadro como este, natural que o Direito

    das Coisas deste incio de milnio no conserve os paradigmas que deram

    sustentao ao Cdigo Civil de 1916, o qual retratou uma sociedade agrria

    dominada pela filosofia individualista. O Cdigo Bevilqua,8 pelo art. 524,

    assimilou a orientao romana de propriedade: Ius utendi, fruendi et

    abutendi re sua quatenus iuris ratio patitur.9 O atual, embora transcreva

    o caput do citado artigo, pelos pargrafos do art. 1.228 se abre

    modernidade, condicionando o exerccio do direito de propriedade aos

    mltiplos valores essenciais vida, ao progresso e cultura, como

    oequilbrio ecolgico e o patrimnio histrico e artstico. O Cdigo Reale

    no chegou a adotar a filosofiacoletivista, mas um transpersonalismo, que

    visa a conciliar os valores individuais e os coletivos, dando preeminncia a

    um ou a outro de acordo com a situao prevista. Consoante a Exposio

    de Motivos, pertinente ao Direito das Coisas, foi possvel satisfazer aos

    superiores interesses coletivos com salvaguarda dos direitos individuais.10

    2.TERMINOLOGIA, CONCEITO E OBJETO DO

    DIREITO DAS COISAS

    2.1.Terminologia

    No mbito doutrinrio, dividem-se as preferncias sobre a

    nomenclatura da ramificao civilista. Alguns a denominam Direito das

    Coisas, enquanto outros a designam por Direitos Reais. Tanto o Cdigo

    Civil de 1916 quanto o de 2002 optaram pelo primeiro nomen iuris.11 A

    expresso Direito das Coisas mais abrangente, uma vez que a posse no

    se acha catalogada entre os direitos reais, embora a matria envolva

    dissdio doutrinrio. Para alguns constitui puro e simples direito real e para

    outros seria um direito real provisrio.12 Acresce, ainda, que a

    palavra direito, colocada no plural, via de regra meno aos direitos

    subjetivos, sendo certo que a denominao deve ser pertinente ao jus

    norma agendi. Por outro lado, Carlos Alberto da Mota Pinto, embora

    considerando sinnimas as expresses, aponta uma impropriedade

    em Direito das Coisas, pois dentro de uma rigorosa viso lgica deveria ser

    o estatuto das coisas, ou seja, o conjunto de regras que dispe sobre o

    conceito, espcies e outras noes ligadas s coisas.13 Tendo em vista a

    equivalncia das expresses, acompanhamos a terminologia do Cdigo

    Civil de 2002. A frmula legislativa, no sendo inconveniente, deve ser

    prestigiada pela doutrina, a fim de se alcanar a padronizao da linguagem

    jurdica.14

  • 2.2.Conceito e objeto

    O Direito das Coisas a parte do Direito Civil que regula os poderes da

    pessoa sobre bens materiais mveis e imveis e imateriais. Tais poderes

    envolvem a submisso do objeto e a capacidade de produzir efeitos

    jurdicos. Exemplificando com o direito de propriedade, o Direito das

    Coisas confere ao titular do direito subjetivo a possibilidade de uso, gozo e

    disposio do bem, com excluso de outrem e nos limites da lei. Para

    Massimo Bianca, poder jurdico a capacidade do sujeito de produzir

    determinados efeitos jurdicos.15 Na realidade o poder jurdico no se

    restringe produo de resultados jurdicos, como o de alienao da coisa,

    mas tambm o de uso e gozo, alm do exerccio da pretenso, que a

    possibilidade de exigir de terceiros, judicialmente, a tutela de um direito. O

    possuidor, vtima de esbulho, pode no apenas requerer judicialmente a

    eficcia de seus direitos, como reagir incontinenti, manu militari, a fim de

    impedir a consumao do ato. O Direito das Coisas dispe basicamente

    sobre os chamados direitos reais, entre os quais destaca-se o direito de

    propriedade.

    No pacfico o entendimento que estende o objeto do Direito das

    Coisas aos bens imateriais ou incorpreos. Alguns autores identificam

    a propriedade literria, cientfica e artstica com os direitos de

    personalidade. O Cdigo Civil austraco, de 1811, estabeleceu

    que propriedade de uma pessoa se chama tudo o que lhe pertence, todas

    suas coisas corporais e incorporais. Os direitos autorais, durante a

    vigncia do Cdigo Bevilqua, foram descodificados e hoje so objeto da

    Lei n 9.610, de 19.02.1998. Em realidade, nos direitos autorais devemos

    distinguir os direitos morais, que so o elo irrenuncivel, no transmissvel,

    fora de comrcio, existente entre o autor e a sua produo, e os direitos

    patrimoniais,16 que so passveis de comercializao.17 A citada Lei n

    9.610/98, pelo art. 3, considera esses direitos patrimoniais bens mveis,

    para efeitos legais.

    A fim de situar e dar compreenso rea de estudo, impe-se a

    definio de alguns conceitos bsicos. A matria em questo no se

    apresenta uniforme no campo doutrinrio. Bem, em sentido filosfico,

    tudo o que promove a pessoa em sentido integral e integrado.18 Abrange o

    campo da matria e do esprito. Os alimentosconstituem um bem, pois

    induzem a sobrevivncia; a paz um bem inestimvel para a humanidade,

    pois permite o exerccio do direito vida e o de liberdade; o dio valor

    negativo, um desvalor, dado que aniquila as relaes e no promove a

    pessoa. H quem atribua maior abrangncia ao sentido filosfico, como

    Demolombe, para quem a palavra compreende tudo o que pode

    proporcionar ao homem uma satisfao qualquer, moral ou

  • material.19 Pensamos que no plano filosfico o bem deve estar,

    necessariamente, harmnico Moral, pois seu valor especfico.

    Em sentido jurdico, bem qualquer ser, material ou imaterial, objeto

    de proteo jurdica. Ao indagar o sentido jurdico da palavra bem,

    Demolombe responde: Sob a palavra bens, na linguagem dos

    jurisconsultos, designam-se as coisas suscetveis de proporcionarem ao

    homem uma utilidade exclusiva e de tornar-se objeto do direito de

    propriedade. Quanto ao vocbulo coisa, o membro da Escola da Exegese

    atribui conotao ampla: comprend tout ce qui existe, alcanando no

    apenas os seres passveis de apropriao, mas tudo que se encontra no

    mundo natural, como o sol, o ar, o mar etc. A coisa seria o gnero e o bem,

    a espcie.20

    As coisas constituem bem jurdico, desde que suscetveis de

    apropriao, o que significa controle, dominao, e apresentem contedo

    econmico. Este pressupe existncia limitada, o que no ocorre, por

    exemplo, com a luz do sol, as guas do oceano, o ar atmosfrico. Enquanto

    os bens podem ser corpreos ou incorpreos, as coisas se compem apenas

    de matria. Massimo Bianca conclui neste sentido: ... bens so todas as

    entidades fsicas ou ideais, idneas para constituir em geral objeto de

    direito, enquanto as coisas so bens corporais.21 Coisas corporais, no

    sentido romano, eram identificadas como quae tangi possunt, ou seja,

    desde que alcanveis pelos sentidos humanos. Tal noo, ao ver de

    Roberto de Ruggiero, ainda pode ser considerada, desde que

    por tangibilidade se admita inclusive a matria de consistncia etrea,

    como o gs, a eletricidade e a radioatividade.22

    Na sntese de Alberto Trabucchi, se direito tutela de interesses, ser

    a aptido das coisas para satisfazer um interesse humano... o que qualifica

    a mesma coisa como bem, isto , como objeto da tutela

    jurdica.23 Classificam-se as coisas em objetos naturais e culturais. Os

    primeiros so os fornecidos pela natureza, como os peixes, frutos, animais.

    Os objetos culturais resultam da experincia, da atividade da pessoa, como

    o livro, a casa, o computador. Nos exemplos citados, o suporte material

    fornecido pela natureza.

    De acordo com a sistematizao do Cdigo Civil, a teoria geral dos

    bens configura o Livro II, da Parte Geral, razo pela qual foi objeto de

    estudo no primeiro volume deste Curso de Direito Civil. Tivemos a

    oportunidade de assinalar o acerto do legislador ptrio, uma vez que a

    matria no pertinente apenas ao Direito das Coisas, mas de interesse

    amplo, atingindo reas jurdicas de contedo econmico.

  • 3.NOO DE DIREITO REAL

    3.1.Ad rubricam

    A expresso direito real (jus in re) inexistiu no Direito Romano

    clssico, sendo atribuda aos glosadores, na Idade Mdia. Ulpiano utilizou-

    se da terminologia personales actiones como referncia s aes ligadas

    aos direitos obrigacionais. No obstante, o Direito Romano distinguiu os

    direitos reais dos obrigacionais, tanto pelos critrios de criao quanto

    pelos de transmisso.24 O termo direito real pode ser

    considerado objetiva ousubjetivamente. Sob o primeiro aspecto, equivale

    terminologia Direito das Coisas, correspondendo ao conjunto de normas

    que organiza os institutos da posse, propriedade e direitos sobre a coisa

    alheia (jura in re aliena). Subjetivamente considerado, direito real o

    poder jurdico da pessoa sobre a coisa, independente de intermedirio,

    tendo a coletividade como sujeito passivo da relao. Direito real por

    excelncia o depropriedade, pois consiste no amplo domnio do titular

    sobre a coisa, dele derivando os demais direitos reais. Alguns autores

    tomam o vocbulo propriedade como sinnimo de domnio, enquanto a

    maior parte reserva este ltimo apenas para os bens incorpreos.25 Com

    apoio na lio de S Pereira, o civilista Carvalho Santos esclarece que a

    palavra domnio geralmente empregada em sentido subjetivo e como

    referncia ao poder de atuar sobre a coisa, enquanto o

    vocbulo propriedade seria mais utilizado em sentido objetivo e como

    exteriorizao desse poder no vincular a coisa pessoa.26

    Como todo direito subjetivo, o direito real se origina de um fato

    jurdico nico. No possvel a sua criao por mais de uma causa jurdica,

    como preleciona Von Thur. Se duas causas se apresentam, apenas uma

    alcana eficcia real. Caso o titular de um direito de propriedade tenha a

    seu favor, alm da tradio da coisa, a usucapio, o seu direito nasceu

    apenas de um deles. Diz o eminente jurista alemo: ... ou o proprietrio

    adquiriu a coisa imediatamente, por efeito da tradio, e ento no se

    produziu a usucapio; ou a tradio no teve tal efeito e ento a

    propriedade foi adquirida por usucapio. Von Thur, com fulcro no art.

    1.239 do BGB, acusa uma nica exceo: a compra, pelo proprietrio, da

    coisa empenhada. A hiptese retrata efetivamente duas causas, mas a

    ocorrncia da segunda exclui a eficcia da primeira: Quando o credor

    pignoratcio adjudica a coisa ao proprietrio, este perde o seu direito

    anterior e adquire como qualquer terceiro uma propriedade nova.27 A

    rigor, no se trata de exceo, pois os ttulos de domnio no se acumulam,

    sucedem-se.

    O conceito mais amplo de direito real (jus in re) alcanado na anlise

    de sua relao jurdica e no paralelo com o direito obrigacional (jus ad

  • rem), tambm designado pessoal28 ou de crdito. Ambos apresentam

    contedo patrimonial, mas, como destaca Carlos Alberto da Mota Pinto,

    enquanto o direito obrigacional promove a mobilidade do circuito

    econmico, como no contrato de compra e venda, o direito real

    desempenha um papel oposto: disciplina a esttica patrimonial, ao definir

    os poderes do titular do direito. Para o jurista portugus, pode dizer-se que

    os direitos reais so relaes de manuteno e defesa do statu quo e no,

    ao contrrio das obrigaes, direitos de prestao....29 Em relao ao

    direito de crdito, mais simples a identificao de um direito real, pois

    basta a indicao da coisa e sua titularidade, enquanto o de crdito requer

    ainda a individuao do sujeito passivo.30

    Embora haja controvrsia no mbito doutrinrio, prevalece a opinio de

    que os direitos reais so numerus clausus, no existindo fora do elenco

    reconhecido pelo ordenamento jurdico. o princpio

    da tipicidade oulegalidade dos direitos reais. Os particulares no podem,

    assim, criar outros tipos de direitos reais. No Direito ptrio insustentvel

    a tese oposta numerus apertus , que toma a relao legal apenas como

    enumerativa ou exemplificativa.31 Antes de discrimin-los, o art. 1.225 do

    Cdigo Civil peremptrio em sua redao:So direitos reais:....32 O

    princpio da legalidade foi consagrado, explicitamente, pelo Cdigo Civil

    peruano: Artculo 881. Son derechos reales los regulados en este Libro y

    otras leyes. Em contrapartida, o elenco dos direitos obrigacionais

    ilimitado. Ao lado dos contratos tpicos, por exemplo, h os atpicos,

    desenvolvidos por iniciativa das partes e nos limites da lei. A opo pelo

    princpio da legalidade ou numerus clausus no se faz por simples acaso,

    mas por motivos de ordem pblica. Como Anbal Torres Vsquez ressalta,

    com a limitao as legislaes pretendem evitar que se creen

    vinculaciones que impidan la circulacin de los bienes por largo tiempo

    sin que generen riqueza o que se retorne a la forma feudal de organizacin

    de la propiedad.33 No Direito Romano, os direitos reais limitados

    subordinavam-se aoprincpio da tipicidade, no podendo os interessados

    criar outros modelos alm dos previstos no ordenamento: enfiteuse,

    superfcie, servides, direitos de garantia.34

    Em uma relao jurdica h sempre o direito subjetivo, cujo titular

    denominado sujeito ativo, o dever jurdico, ao qual se liga o sujeito

    passivo e o objeto, sobre o qual recai o poder do sujeito ativo. O objeto

    sempre uma coisa ou um fato. No direito obrigacional, o objeto se compe

    de um fato e a doutrina pacfica no sentido de conceber o vnculo entre

    pessoas: o sujeito ativo o credor (reus credendi) e o passivo (reus

    debendi), o devedor. O poder do sujeito ativo no recai diretamente sobre a

    coisa, mas em face de algum determinado ou determinvel e do qual se

    exige um fato. Esse direito prev uma prestao de dar, fazer ouno

    fazer. No direito real h um poder sobre a coisa exercido diretamente pelo

  • titular, sem a mediao de algum. Embora prevalea o entendimento de

    que nele a relao se opera tambm apenas entre pessoas, h, contudo,

    divergncias doutrinrias.

    3.2.Teoria clssica ou romana

    Para os adeptos desta concepo, no direito real existe uma relao

    direta e imediata entre o sujeito e o objeto do direito. Compete s leis

    estabelecer o elenco das faculdades de que o sujeito se acha investido em

    relao s coisas. As atitudes, por exemplo, que o usufruturio de um

    imvel pode ter so dimensionadas pelo ordenamento jurdico. De acordo

    com a teoria, inexiste um vnculo que ligue o titular a outra pessoa. A teoria

    se funda na distino romana entre a actio in rem e a actio in personam.

    Nas aes reais (actio in rem) o nome do demandado no figurava

    na intentio, uma vez que se concebia a relao entre o titular e a coisa,

    enquanto nas pessoais (actio in personam), a ao era ajuizada em face de

    determinada pessoa. Em sua definio, Baudry-Lacantinerie bem sintetizou

    a orientao da teoria clssica: O direito real o que temos direta e

    imediatamente sobre uma coisa... A coisa se encontra submissa

    diretamente ao e vontade de uma pessoa. A seguir o jurista francs

    discrimina os dois elementos do direito real: 1 Une personne, sujet actif

    du droit, titulaire du droit, par exemple le propritaire dans le droit de

    propriet; 2 Une chose objet du droit.35 Entre ns, de forma direta e em

    termos francos, Clvis Bevilqua sustentou a teoria: Basta-me afirmar

    que a relao entre a pessoa e a coisa manifesta e irrecusvel, para

    quem no se deixe dominar por preconceitos....36

    Modernamente a teoria ainda atrai adeptos, embora em minoria,

    figurando Massimo Bianca entre os seus seguidores na

    atualidade: Direitos reais so os direitos que nos conferem um poder

    imediato e absoluto sobre uma coisa.37 Como observa Marcel Planiol, esta

    concepo exclui da relao jurdica um elemento que lhe essencial: o

    sujeito passivo.38

    3.3.Teoria personalista

    Para os seus defensores, o direito real apresenta uma relao jurdica

    entre o seu titular e a coletividade, portadora do dever jurdico. Se o direito

    real de propriedade, no polo passivo da relao e com deveres omissivos

    estariam todas as pessoas, indeterminadamente. No haveria, destarte, uma

    relao jurdica entre o titular do direito e a coisa. Esta seria apenas o

    objeto sobre o qual o titular exerceria o seu poder. A teoria personalista

    surgiu ao final do sc. XIX, na doutrina do Sistema Continental de

    Direito, e exposta, entre outros autores, por Windscheid, na Alemanha, e

    Planiol, na Frana.39 O direito real apresenta efetividade erga omnes, ou

  • seja, contra todas as pessoas, da dizer-se que ele absoluto. A teoria

    personalista coloca em destaque o lado externo do direito real, que a

    relao do sujeito ativo com todos aqueles que tm o dever jurdico

    negativo, isto , a coletividade. Deixa, todavia, de colocar em destaque o

    lado interno, que o poder direto e imediato do sujeito ativo sobre o objeto.

    Quem teria dado as condies para o surgimento da teoria personalista, na

    opinio de Pontes de Miranda, seria Savigny, ao excluir, em seus estudos

    sobre as relaes jurdicas, a possibilidade de um vnculo entre pessoa e

    coisa.40

    A doutrina que se contrape teoria clssica, na anlise de Luiz da

    Cunha Gonalves, uma concepomonista, que se divide em correntes

    personalistas e objetivistas, todas eliminando a dualidade direitos

    reais eobrigacionais. Enquanto para as primeiras todas as relaes

    patrimoniais configuram direitos reais, para as segundas s haveria direitos

    obrigacionais.41

    3.4.Teoria ecltica

    Atuando como verdadeira sntese da dialtica hegeliana, a teoria

    ecltica se apresenta como frmula conciliadora das correntes que se

    contrapem. Seus expositores tomam por lado interno do direito real o

    ncleo da teoria clssica poder imediato e direto sobre a coisa e como

    lado externo o ncleo da teoria personalista oponibilidade erga omnes,

    sustentando a tese de que a imediatidade deriva do carter

    absolutoou oponibilidade contra todos.42 Atualmente, esta a teoria

    predominante entre os juristas.43 A identificao do direito real apenas pela

    composio do polo passivo, formado pela universalidade de pessoas,

    insuficiente, pois esta caracterstica comum aos direitos subjetivos

    absolutos. A face externa do direito real apenas parte de sua estrutura, que

    se compe ainda do poder direto e imediato que o sujeito ativo detm sobre

    a coisa.

    4.CLASSIFICAO E CARACTERES DOS DIREITOS

    REAIS

    4.1.Classificao

    Em razo de sua diversidade tipolgica, os direitos reais so

    classificados, doutrinariamente, segundo critrios no uniformes e que se

    justificam na medida em que favorecem a compreenso da categoria

    jurdica e sua aplicabilidade.

    Quanto amplitude de poderes concentrados, o direito real pode

    ser pleno ou limitado. A primeira classe (in re potestas plena) integrada

  • pela propriedade, cujo direito confere ao seu titular o poder de usar, gozar

    e dispor da coisa, com excluso de outrem e nos limites da lei. O conceito

    da outra classe deriva de uma comparao entre algumas modalidades de

    direitos reais com o de propriedade. Afora este, os direitos reais so

    limitados, pois no outorgam aos seus respectivos titulares a extensa gama

    de poderes que se irradiam do direito de propriedade. Estes direitos

    possuem por objeto a coisa alheia. luz do Direito ptrio, consoante o art.

    1.225 do Cdex, so direitos reais limitados: a superfcie, as servides, o

    usufruto, o uso, a habitao, o direito do promitente comprador do

    imvel,44 o penhor, a hipoteca e a anticrese. O critrio distintivo se explica,

    ainda, segundo Tupinamb M. C. do Nascimento, pelo fato de a

    propriedade ser perptua, pois nem a morte de seu titular extingue o direito

    real, que se transmite, imediatamente, aos sucessores, enquanto os demais

    direitos reais so temporrios.45

    Considerando-se a titularidade do objeto, o direito pode recair sobre a

    coisa prpria (jus in re propria) ou alheia (jus in re aliena). No primeiro

    caso, temos o direito de propriedade e, nos direitos reais sobre a coisa

    alheia, os direitos de fruio e os direitos de garantia. Os de fruio

    habilitam o seu titular a tirar proveito direto e imediato do objeto,

    beneficiando-se de sua utilidade funcional ou serventia. So eles: a

    superfcie, as servides, o usufruto, o uso, a habitao. Os direitos reais de

    garantia, que incidem naturalmente sobre a coisa alheia, so: o penhor, a

    hipoteca, a anticrese. Existem apenas onde houver dvida e visam a

    garantir o credor. Embora a classificao dos direitos reais de garantia

    esteja assente na doutrina, j houve quem a contestasse. Na opinio de Jos

    Tavares, para que a hipoteca fosse considerada direito real seria necessrio

    que tivesse existncia autnoma, prpria, como no sistema germano-suo;

    no sistema latino, em que se apresenta inteiramente dependente do crdito,

    constitui, ao lado do penhor, meros acessrios dum direito de

    crdito.46 Quem mais se ops classificao da hipoteca como direito real

    foi o jurista francs Marcad, que a considerava tanto um jus ad rem

    direito a uma prestao quanto um jus in rem, ou seja, um direito sobre a

    coisa, no contra uma pessoa.47

    Sob o ngulo da autonomia, o direito real pode

    ser principal ou acessrio. O primeiro existe por si, como o direito de

    propriedade, o usufruto, enquanto o segundo necessariamente se atrela a

    uma relao obrigacional. Constitui, no dizer de Arnoldo Medeiros da

    Fonseca, uma afetao de um bem determinado segurana do

    credor.48 Direitos reais acessrios so, portanto, os direitos reais de

    garantia: penhor, hipoteca, anticrese. No dizer de Mazeaud e

    Mazeaud, eles reforam a situao do credor, permitindo-lhe ser pago.49

    Uma outra classificao que apresenta implicaes prticas a que

    distingue os direitos reais emmobilirios e imobilirios, segundo incidam

  • sobre coisas mveis ou imveis. Os arts. 1.226 e 1.227 do Cdigo Civil

    dispem, respectivamente, sobre a forma de aquisio dos direitos reais

    mobilirios e imobilirios.

    4.2.Caracteres

    Entre os traos distintivos dos direitos reais, figuram:

    4.2.1.Tipicidade

    Para que um direito se qualifique como real, indispensvel que figure

    no elenco legal dos direitos reais. a conditio si ne qua non. Sem a

    tipicidade, poder-se- ter direito, no um direito real. A prescrio do

    citado art. 1.225 do Cdex no inibe o surgimento, na legislao

    extravagante, de outros direitos reais. Entendo ainda que estes podem

    emergir, mais amplamente, da ordem jurdica como um todo, desde que se

    d determinada categoria o tratamento especfico dos direitos reais. O que

    o princpio da tipicidade veda a criao de um direito real pelos

    particulares, na gesto de seus interesses e com fulcro na autonomia da

    vontade.

    4.2.2.Oponibilidade erga omnes

    Os direitos reais apresentam carter absoluto, erga omnes, pois valem

    contra todas as pessoas. Em relao a eles a coletividade possui dever

    negativo ou omissivo, devendo respeit-los na forma da lei. Tal

    caracterstica, contudo, no exclusiva dos direitos reais, porm comum

    aos direitos absolutos, como os direitos da personalidade.

    4.2.3.Direito de sequela

    O direito real acompanha a coisa, aderindo-a, independentemente de

    onde se encontre e de quem a possua. Se o direito for de garantia, a coisa

    poder mudar de proprietrio sem qualquer prejuzo para o credor, uma vez

    que o nus real segue o objeto. Da o carter de aderncia,

    de ambulatoriedade do direito real. A sequela o poder de que se acha

    investido o titular do direito real de o fazer prevalecer em todos os lugares.

    Seu direito contra todos (ubi res mea invenio, ibi vindico). A sequela,

    ou jus persequendi, uma consequncia da oponibilidade erga omnes.50

    vista do sistema jurdico italiano, Pietro Perlingieri no reconhece no

    direito de sequela uma caracterstica exclusiva dos direitos reais, pois

    estaria presente tambm na esfera dos direitos relativos, exemplificando

    com a relao locatcia. No obstante a transferncia da titularidade da

  • coisa locada, o inquilino mantm os seus direitos em face do novo

    senhorio.51

    4.2.4.Publicidade

    Como nos direitos reais a coletividade participa do polo passivo da

    relao, cabendo-lhe o dever negativo, natural que o conhecimento da

    existncia e titularidade daquele direito lhe seja acessvel. Tratando-se de

    coisa imvel, a regra geral que o direito se adquire mediante registro em

    Cartrio de Registro de Imveis. A qualquer pessoa, portanto, dado saber

    a identidade do titular de um direito real imobilirio, bem como se inteirar

    da existncia de qualquer nus real sobre a coisa imvel. Relativamente aos

    mveis, a aquisio se opera com a tradio, mas em favor do possuidor

    existe a presuno juris tantum de domnio.

    4.2.5.Preferncia

    Pertinente aos direitos reais de garantia, a preferncia consiste na

    prioridade que desfruta o titular em relao aos credores simples ou

    quirografrios, para o recebimento de seu crdito com os recursos gerados

    pela coisa gravada. Messineo se refere hierarquia de poderes,

    prevalecendo os que emanam de um direito real, que vencem, assim, os

    derivados de um direito de crdito.52

    4.2.6.Princpios da elasticidade e da

    consolidao

    O primeiro se refere possibilidade de desmembramento dos poderes

    contidos no direito de propriedade (uso e gozo). O direito real de

    propriedade contm elasticidade, pois comporta o desmembramento dos

    poderes que lhe so inerentes. Este princpio atua como causa do princpio

    da consolidao, que a possibilidade de reunificao dos direitos

    desmembrados. Elasticidade e consolidao atuam como foras

    opostas: centrfuga e centrpeta.

    5.PARALELO ENTRE DIREITOS REAIS E

    OBRIGACIONAIS

    O exame em separado dos direitos reais conduz o estudioso,

    forosamente, ao paralelo com os direitos obrigacionais e vice-versa.

    Assim, no volume II deste Curso de Direito Civil, dedicado s Obrigaes,

    cotejamos as duas modalidades de direitos subjetivos patrimoniais e, ao

    longo do presente captulo, embora dispersamente, delineamos os

  • principais pontos distintivos. Com objetivos didticos, sintetizamos alguns

    itens do paralelo, no sem antes advertir que as diferenas existem na

    generalidade das relaes jurdicas, podendo apresentar-se uma ou outra

    exceo, conforme o tipo de direito real ou obrigacional.53 H situaes

    fticas que no se identificam, claramente, ao primeiro exame, devendo o

    analista considerar a hiptese sob os vrios critrios que distinguem as duas

    espcies de direitos subjetivos patrimoniais. O simples uso da coisa, por

    exemplo, no suficiente para classific-la como direito real. O direito de

    uso de linha telefnica, por exemplo, no configura um direito real, mas

    obrigacional, pois no h imediatidade entre o poder do usurio e a coisa.

    Entre ambos h a empresa de telefonia, em face da qual o usurio exerce o

    seu direito. Inexiste, igualmente, o direito de sequela. Advertimos, ainda,

    que a distino entre os direitos reais e os obrigacionais vai alm de

    consideraes acadmicas, pois o regime jurdico a que se subordinam

    diferenciado, especialmente quanto sua aquisio e transmisso. Os

    aspectos destacados a seguir, por outro lado, limitam-se aos principais

    pontos de contato e distintivos.

    A) Ambos constituem direitos subjetivos patrimoniais. O objeto de sua

    relao jurdica de natureza econmica, suscetvel de quantificao

    monetria.

    B) As relaes jurdicas renem os elementos: sujeito ativo, sujeito

    passivo e objeto. Enquanto nos direitos reais o sujeito passivo universal,

    composto pela coletividade, nos obrigacionais especfico, determinado ou

    determinvel. O dever jurdico que os direitos reais estabelecem negativo,

    de absteno, e nos direitos de crdito pode ser positivo

    (obrigao de dar ou de fazer) ou negativo (no fazer).

    C) Os direitos reais so absolutos, uma vez que se opem erga

    omnes (contra todos), e os obrigacionais so relativos, pois exigveis

    apenas de quem figure na relao como debitor. Os direitos reais podem ser

    exercidos contra qualquer pessoa, embora, conforme o tipo de relao,

    algum possa ser diretamente alcanado no momento, como, por exemplo,

    o possuidor da coisa alheia.54

    D) Enquanto os direitos reais existem numerus clausus, sendo vedada a

    criao de tipos inominados, os obrigacionais so numerus apertus,

    podendo as partes amoldar o acordo aos seus interesses concretos, criando

    contratos inominados ou atpicos, observados os limites da lei.

    Considerando-se que o contrato somente obriga as partes, inadmissvel

    supor que pudesse criar um direito real, dada a oponibilidade deste a todas

    as pessoas.

  • E) Os direitos reais se extinguem com o perecimento da coisa,

    enquanto os obrigacionais, em sua generalidade, permanecem ainda que o

    objeto da prestao deixe de existir.

    6.OS DIREITOS REAIS NO DIREITO

    INTERNACIONAL PRIVADO

    As indagaes ligadas ao conflito de leis no espao, relativas aos

    direitos reais, esto previstas na Lei de Introduo s normas do Direito

    Brasileiro art. 8. A qualificao dos bens e a sua disciplina legal devem

    obedecer a lei do pas onde se encontrem. Assim, a lex rei sitae que

    define se um determinado bem mvel ou imvel.

    Preleciona Roberto Barsotti que em todas as pocas e em quaisquer

    sistemas jurdicos... as legislaes adotam o princpio lex rei sitae para a

    disciplina dos direitos reais.55 Tratando-se de bem mvel, porm, aplica-se a

    lei do domiclio do proprietrio, desde que o bem esteja em poder da

    pessoa ou deva ser transportada para outro lugar. Quanto ao objeto em

    trnsito, a justificativa, segundo Roberto Barsotti, resulta da dificuldade

    de determinar a localizao atual, e sobre o carter casual e temporrio

    do contato entre eles e o Estado de passagem.56 Quanto ao penhor, a

    legislao aplicvel a do domiclio de quem se encontre na posse da coisa

    empenhada. Por fora do comando do citado art. 8, os imveis esto

    sujeitos a lex rei sitae.

    7.AES REAIS

    Os direitos reais so protegidos por um grande elenco de aes reais,

    do mesmo modo que a tutela dos direitos pessoais se processa mediante as

    aes pessoais. Entre as aes reais, algumas visam a restabelecer ou a

    manter a posse, da receberem a designao de aes possessrias, as quais

    compreendem as aes de reintegrao de posse, de manuteno de posse e

    o interdito proibitrio. A ao real que tem por finalidade o

    reconhecimento e tutela da propriedade denomina-se ao reivindicatria.

    A proteo judicial aos direitos reais de gozo (usufruto, uso, habitao,

    entre outros) no se distingue substancialmente da que dispensada ao

    direito de propriedade, pois aqueles direitos se compem de algumas

    faculdades compreendidas no poder do proprietrio, conforme anota Ugo

    Rocco.57 O autor italiano, que nega uma forma especfica de tutela para

    aqueles direitos, aponta-lhes uma peculiaridade: a possibilidade ftica de

    uma violao partir do prprio titular do direito de propriedade. Em relao

    aos direitos reais de garantia, estes no so passveis de violao e sim os

    direitos respectivos de crdito, que so protegidos pelo penhor,

    hipoteca ou anticrese.

  • Uma diferena importante entre as aes reais e as pessoais consiste no

    fato de que, satisfeita a obrigao pelo reus debendi, extingue-se o direito

    pessoal, enquanto que, operando-se a prestao jurisdicional nas aes

    reais, os direitos reais subsistem e suscetveis a novas violaes.

    8.DIREITO REAL E OBRIGAO PROPTER REM

    Como a prpria terminologia revela, a obrigao propter rem, ou

    simplesmente in rem, no constitui direito real, mas obrigao. Existe em

    funo do direito real e seu titular (sujeito passivo da relao obrigacional)

    o prprio titular do direito real. Diz-se que possui natureza ambulatria

    (ambulat cum domino), pois a sua titularidade acompanha a do direito real.

    Assim, sempre que a coisa for alienada as obrigaes propter

    rem preexistentes transferem-se ao adquirente. Exemplo tpico a

    obrigao da taxa condominial, que sempre da responsabilidade do

    condmino atual. , tambm, a obrigao que possui o proprietrio de

    terreno limtrofe de contribuir, com a metade do custo, para a construo

    do muro divisrio. O Superior Tribunal de Justia tem entendido que a

    obrigao de demarcar, averbar e restaurar a rea de reserva legal nas

    propriedades rurais configura dever jurdico (obrigao ex lege) que se

    transfere automaticamente com a mudana do domnio, podendo, em

    consequncia, ser imediatamente exigvel do proprietrio atual (AgR no

    REsp 2012/0004929-3, DJe 12.03.2014).

    Ocorrendo a transferncia da coisa, a obrigao passa ao novo titular. A

    obrigao propter rem, no importando a poca de seu fato gerador,

    pertence ao atual titular do direito real. Eventual renncia a um direito real

    teria o condo de liberar o renunciante da obrigao propter rem? Entendo

    que no, em face do princpio de que nenhuma obrigao pode ficar ao

    arbtrio exclusivo do devedor.

    REVISO DO CAPTULO

    Generalidades. Dada a importncia que as coisas mveis e imveis tm na vida das pessoas, so elas objeto de disciplina jurdica, constituindo o Direito das Coisas ou Direitos Reais, parte integrante do Direito Civil. Dada a sua importncia, tambm, para a sociedade em geral, a disciplina contm muitas normas de ordem pblica, embora seja Direito Privado por excelncia. O princpio da funo social da propriedade se afirma cada vez mais no contexto social. O atual Direito das Coisas no se alinha filosofia individualista, norteadora do Cdigo Civil de 1916, elaborado vista de uma sociedade agrria. O atual Cdex visa conciliar os valores individuais e os coletivos.

    Terminologia, conceito e objeto do Direito das Coisas. As denominaes Direito das Coisas e Direitos Reais se referem ao

  • mesmo objeto: a disciplina da posse, da propriedade e dos direitos sobre a coisa alheia. Entre os autores, a preferncia terminolgica varia. Optamos por Direito das Coisas seguindo a orientao do Cdigo revogado e do atual. Podemos definir o Direito das Coisas como o sub-ramo do Direito Civil que regula os poderes da pessoa sobre bens materiais, mveis e imveis, e imateriais. Quanto incluso dos bens imateriais, h divergncia doutrinria. Para alguns, a propriedade literria, cientfica e artstica se identifica com os direitos de personalidade. Os direitos autorais, anteriormente inclusos no Cdigo Civil de 1916, passaram a ser regulados pela Lei n 9.610/98. Tais direitos abrangem um contedo moral e outro, patrimonial. Aquele um vnculo indissolvel entre o autor e a obra, enquanto este passvel de comercializao. Os direitos patrimoniais so considerados, pela lei especfica, bens mveis. Do ponto de vista jurdico, bem qualquer ser, material ou imaterial, protegido pela ordem jurdica. Coisa tudo que existe, seja til ou no ao ser humano. A coisa gnero e o bem, espcie.

    Noo de direito real. Objetivamente considerado, o termo direito real equivale ao Direito das Coisas; subjetivamente, o poder jurdico da pessoa sobre a coisa. O direito real, como os direitos subjetivos em geral, nasce de uma causa nica. Na doutrina prevalece o entendimento de que os direitos reais so numerus clausus, pois se limitam aos tipos considerados no ordenamento. o princpio da tipicidade oulegalidade dos direitos reais.

    Teorias. Para a teoria clssica ou romana, no direito real h uma relao entre o sujeito do direito e o objeto. Na teoria personalista, a relao sempre entre pessoas: de um lado, o titular do direito real e, de outro, a coletividade com o dever jurdico. Pela teoria ecltica, internamente, o titular possui um poder imediato e direto sobre a coisa; externamente, o direito real se ope coletividade, ou seja, possui oponibilidade erga omnes.

    Classificao dos direitos reais. Quanto aos poderes concentrados, o direito real se divide em pleno ou limitado. A primeira modalidade se compe da propriedade, que o direito de usar, gozar e dispor da coisa com excluso de outrem. Diz-se que o direito real limitado quando, comparado com o direito de propriedade, no oferece esse amplo conjunto de poderes que o proprietrio detm. Nesta segunda modalidade, temos: a superfcie, as servides, o usufruto, o uso, a habitao, entre

  • outras. Sob o aspecto da titularidade do objeto, o direito real pode recair sobre a coisa prpria ou alheia. No primeiro caso, tratado por jus in re propria; no segundo, por jus in re aliena. Naquele, temos o direito de propriedade; no outro, os direitos de fruio (superfcie, servides, usufruto, uso, habitao) e os de garantia (penhor, hipoteca, anticrese). Sob o aspecto da autonomia: principal ou acessrio. Os direitos reais dividem-se, ainda, em mobilirios e imobilirios.

    Caracteres. Tipicidade: O direito real pressupe enquadramento em determinado tipo previsto em lei. Leis novas podem criar outras modalidades de direitos reais. Oponibilidade erga omnes: o direito real oponvel a todas as pessoas. Direito de sequela: o direito real acompanha a coisa permanentemente e na posse de quem se encontre. Publicidade: relativamente a bem imvel, a titularidade de um direito real se prova mediante certido do registro imobilirio. Preferncia: o titular de um direito real de garantia possui prioridade ou preferncia para receber o seu crdito em face dos credores simples ou quirografrios. Princpios da elasticidade e da consolidao: o primeiro uma referncia capacidade de desdobramento dos poderes contidos no direito de propriedade (uso e gozo). O segundo consiste na possibilidade da unificao daqueles poderes desmembrados.

    Paralelo entre direitos reais e obrigacionais. Entre ambos h pontos em comum e outros distintos. Assim, um e outro existem em relaes jurdicas cujo objeto possui contedo econmico. Na relao obrigacional, o sujeito passivo determinado ou determinvel, enquanto nos direitos reais esse polo ocupado pela coletividade. Os direitos reais so absolutos, pois se impem a todas as pessoas, j os obrigacionais so relativos. Enquanto os reais so numerus clausus, ou seja, existem tipificados, os obrigacionais so numerus apertus, j que comportam modalidades no previstas pelo ordenamento. Quando o objeto de uma relao se extingue, tem-se que o direito real cessa, enquanto o obrigacional, de um modo geral, permanece.

    Os direitos reais no Direito Internacional Privado. Relativamente aos direitos reais, havendo conflito de leis no espao quanto natureza do bem, se imvel ou mvel, aplica-se a lei do pas onde o bem se encontre. Quanto aos bens mveis, a disciplina legal deve ser a do pas do domiclio do proprietrio. Em relao ao penhor, a lei a do domiclio de

  • quem esteja na posse da coisa empenhada. A lei disciplinadora dos imveis a do pas onde se encontrem.

    Aes reais. Quando a tutela a posse, a ao denomina-se possessria, dividindo-se em reintegrao de posse, manuteno de posse einterditos possessrios. Quando se tem em mira o reconhecimento e tutela da propriedade, a ao adequada a reivindicatria.

    Direito real e obrigao propter rem. Obrigao propter rem ou in rem um nus que recai sobre o titular de um direito real. Assim, havendo mudana de titularidade, automaticamente os nus preexistentes se transferem ao novo titular. Exemplo: as taxas condominiais.

    _______________ 1A justificativa do direito de propriedade foi objeto do art. 2.167, do Cdigo Civil portugus, de 1867, criticado por Antunes Varela e Pires de Lima por seu contedo filosfico e impreciso do ponto de vista jurdico. Eis o teor do dispositivo: Diz-se direito de propriedade a faculdade, que o homem tem, de aplicar conservao da sua existncia, e ao melhoramento da sua condio, tudo quanto para esse fim legitimamente adquiriu, e de que, portanto, pode dispor livremente. Em Noes Fundamentais de Direito Civil, 1 ed., Coimbra, Coimbra Editora, Ltda., 1945, vol. II, 60, p. 3. 2Tratado de Derecho Civil Derechos Reales, 1 ed. espanhola, Madrid, Editorial Revista de Derecho Privado, 1955, vol. II, p. 7. 3Na expresso de Arnoldo Wald, ... o direito das coisas se caracteriza por um colorido profundamente nacional, sendo marcado por sua poca, enquanto o direito obrigacional se afirma pela sua universalidade no tempo e no espao. Curso de Direito Civil Brasileiro Direito das Coisas, 5 ed., So Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 1985, p. 2. 4Francisco de Paula Lacerda de Almeida, Direito das Coisas, 1 ed., Rio de Janeiro, J. Ribeiro dos Santos Livreiro-Editor, 1908, p. 8. 5Diritti Reali e Possesso, 1 ed., Milano, Dott. A. Giuffr-Editore, 1952, vol. II, p. 1. 6A conscincia em torno da funo social da propriedade no fato contemporneo, embora seja crescente a afirmao do princpio. A ideia advm de Toms de Aquino, quando afirmava que a propriedade era um feudo divino e que ao homem estava reservado no o domnio superior, mas o til. De acordo com Jos Tavares, coube a Augusto Comte a formulao do princpio, e o seu desenvolvimento a Leon Duguit, em sua obra Transformations Gnrales du Droit Priv. Os Princpios Fundamentais do Direito Civil, 2 ed., Coimbra, Coimbra Editora, Ltda., 1929, vol. I, 184, p. 629. 7Sob o Ttulo I, Dos Princpios Fundamentais (art. 5, XXIII), a Constituio Federal estabelece que a propriedade atender a sua funo social. O princpio foi introduzido pela Constituio de 1946 (art. 147) e mantido na de 1967 (art.157) e Emenda n 1, de 1969 (art. 160), cf. anota Caio Mrio da Silva Pereira,Direito Civil Alguns Aspectos da sua Evoluo, 1 ed., Rio de Janeiro, Editora Forense, 2001, p. 72. 8Na redao de Clvis Bevilqua, segundo depe Orlando Gomes, a definio de propriedade continha a expresso limites legais, suprimida em razo do liberalismo e da estrutura agrria existentes, em uma poca que vigorava a

  • Constituio de 1891. Escritos Menores, 1 ed., So Paulo, Edio Saraiva, 1981, p. 40. 9Direito de usar, de gozar e de dispor da coisa prpria at onde a razo do direito o permitir. Esta noo oriunda de romanistas da Idade Mdia, pois o Direito Romano no nos legou uma definio do direito de propriedade. 10Anteprojeto de Cdigo Civil, Braslia, Ministrio da Justia, 1972, p. 25. 11Acatando a sugesto do jurista Joel Dias Figueira Jr., o Deputado Ricardo Fiza apresentou projeto (PL 6.960/02) em que prope a substituio da denominao do Livro III da Parte Especial do Cdigo Civil Do Direito das Coisas para Da Posse e dos Direitos Reais. 12Para o eminente jurista portugus Carlos Alberto da Mota Pinto, trata-se de um direito real provisrioPorque os seus efeitos so independentes da circunstncia de se saber quem o titular do direito real sobre a coisa que est na esfera do possuidor. A proteo possessria provisria, porque s atua enquanto no for definitivamente apurado quem o autntico titular do direito real sobre a coisa. Direitos Reais, segundo anotaes efetuadas por lvaro Moreira e Carlos Fraga do curso ministrado nos anos de 1970-71, 1 ed., Coimbra, Livraria Almedina, s/d., 42, p. 128. San Tiago Dantas a considera direito real, pois o direito do possuidor oponvel a qualquer pessoa, tratando-se de um direito absoluto, que no se identifica com os direitos de personalidade. Programa de Direito Civil, revisto e anotado por Jos Gomes de Bezerra Cmara e atualizado por Laerson Mauro, 3 ed., Rio de Janeiro, Editora Rio, 1984, vol. III, p. 20. 13Op. cit., p. 23. 14Entre os cdigos mais novos, o brasileiro (2002) e o portugus (1966) adotam a terminologia Direito das Coisas, enquanto o peruano (1984) optou por Direitos Reais. Os clssicos, em nossa literatura, preferiam a primeira denominao (Lafayette Rodrigues Pereira, Francisco de Paula Lacerda de Almeida, Clvis Bevilqua, San Tiago Dantas), utilizada primeiramente por Savigny (Sachenrecht) e incorporada no famoso BGB. Modernamente, publicam-se obras sob um e outro ttulo. Enquanto, por exemplo, Orlando Gomes e Caio Mrio da Silva Pereira optaram por Direitos Reais, Washington de Barros Monteiro e Slvio Rodrigues adotaram a linguagem do Cdex. Conclusivamente: na prtica, as duas expresses se equivalem. O vocbulo reais, consoante assinala Melhim Namem Chalhub, provm do latim res, rei, que significa coisa. Curso de Direito Civil Direitos Reais, 1 ed., Rio de Janeiro, Editora Forense, 2004,Introduo A, p. 2. C. Massimo Bianca optou pela denominao La Propriet, embora desenvolvendo, com abrangncia, os institutos de Direito das Coisas, em Diritto Civile La Propriet, 1 ed., Milano, Giuffr Editore, 2001, vol. VI. 15Op. cit., vol. VI, 4, p. 5. 16Tal distino tambm feita por Domenico Barbero: Ildiritto dautore ha due aspetti: un aspetto essenzialmente personale, ed uno patrimoniale. Referindo-se ao primeiro, aduz: uno diritto che nasce pel fatto stesso della creazione, e resta inseparabile dal soggetto, perpetuo, inalienabile e imprescrittibile, come un attributo della sua stessa personalit (art. 2.577, 2 comma). Quanto ao aspecto patrimonial, declara o seu carter transfervel. Sistema del Diritto Privato Italiano, 6 ed., Torino, Unione Tipografico-Editrice Torinese, 1962, vol. I, 537, p. 811. 17Ao final do sc. XIX, Pietro Cogliolo registrava que as propriedades literria, artstica e industrial tm sido objeto de vivas disputas, porque a muitos repugnava que se pudesse ter uma qualquer propriedade sobre as ideias. Mas so disputas econmicas e no jurdicas. Quand