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COMPRA DE MEDICAMENTOS PARA ATENÇÃO PRIMÁRIA: DESAFIOS E OPORTUNIDADES RICARDO ASSIS ALVES DUTRA FRANCISCO ANTÔNIO T AVARES JUNIOR M ARIANA CRISTINA PEREIRA S ANTOS FERNANDA DE OLIVEIRA ESTEVES

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COMPRA DE MEDICAMENTOS PARA ATENÇÃO

PRIMÁRIA: DESAFIOS E OPORTUNIDADES

RICARDO ASSIS ALVES DUTRA FRANCISCO ANTÔNIO TAVARES JUNIOR

MARIANA CRISTINA PEREIRA SANTOS FERNANDA DE OLIVEIRA ESTEVES

2

Painel 54/166 Diagnósticos e propostas em temas críticos das compras públicas

COMPRA DE MEDICAMENTOS PARA ATENÇÃO PRIMÁRIA:

DESAFIOS E OPORTUNIDADES

Ricardo Assis Alves Dutra Francisco Antônio Tavares Junior

Mariana Cristina Pereira Santos

Fernanda de Oliveira Esteves

RESUMO

Em decorrência de diversos fatores (licitação deserta, certificados Anvisa, etc.), sejam de mercado ou regulatórios, alguns medicamentos estão deixando de ser

fornecidos ao ente público, mesmo aos grandes compradores como São Paulo e Minas Gerais. Em 2013, este problema foi levantado pelo Conselho Nacional dos

Secretários de Saúde-CONASS, quando em abril de 2013, foi apresentada “Carta de Recife” elaborada no II Encontro de Secretários Estaduais de Saúde do Nordeste, à Comissão Intergestores Triparte e encaminhada ao Ministro da Saúde.

Posteriormente, o CONASS revive este assunto por meio da NT 15 de 2014, elaborada em agosto de 2014, e atualizada em outubro de 2014, na confecção da mesma foram colhidas informações juntos aos Estados, bem como, aos municípios

por meio do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde CONASEMS, onde se constatou dificuldade de compra em 140 medicamentos. Neste trabalho,

abordaremos propostas onde o poder público pode enfrentar estas dificuldades, por meio do seu poder de compra, em aquisições centralizadas por consórcios públicos, ou utilizar a estrutura de laboratórios oficiais, que estão capacitados para produzir

medicamentos.

3

Metodologia

Para desenvolvimento deste trabalho foi realizada uma revisão de artigos

referentes à assistência farmacêutica, processo regulatório dos medicamentos

similares, Consórcio Paraná Saúde e capacidade produtiva dos Laboratórios oficiais.

Objetivos

Levantar hipóteses para as dificuldades encontradas pelos gestores de

saúde na aquisição de medicamentos e apontar oportunidades para enfrenta-las.

INTRODUÇÃO

O gasto com medicamentos, no Brasil, subiu 11,6% em média, no período

de 2007 a 2009, mais que três vezes o crescimento médio do PIB no mesmo

período. A participação da União nos gastos públicos com medicamentos, nesse

período, aumentou de 88% para 90%.

Entretanto, a compra de medicamentos pelo poder público está cada vez

mais complexa e por diversos fatores, sejam de mercado ou regulatórios,

normatizados pela Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), alguns itens

estão deixando de ser fornecidos ao ente público, mesmo aos grandes compradores

como São Paulo e Minas Gerais.

Ainda em 2013, este problema foi levantado pelo Conselho Nacional dos

Secretários de Saúde (CONASS), quando em abril de 2013, após apresentação, na

sua reunião ordinária, da “Carta de Recife”, elaborada no II Encontro de Secretários

Estaduais de Saúde do Nordeste, ocorrido no Pernambuco. Em virtude da

abrangência do problema, a referida “Carta do Recife” foi apresentada à Comissão

Intergestores Triparte - CIT e encaminhada, por meio de ofício do CONASS, ao

ministro Alexandre Padilha, à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos

Estratégicos (SCTIE), ao Conselho Nacional de Saúde (CNS) e ao Conselho

Administrativo de Defesa Econômica (CADE).

4

Posteriormente, por meio da Nota Técnica n° 15 de 2014, elaborada em

agosto de 2014, e atualizada em outubro de 2014, o CONASS levanta nova

discursão sobre o tema. Na confecção desta nota técnica foram colhidas

informações juntos aos Estados, bem como, aos municípios por meio do Conselho

Nacional de Secretarias Municipais de Saúde CONASEMS, onde se constatou que

em 140 medicamentos os municípios apresentavam dificuldade de compras,

envolvendo 55 empresas fornecedoras e produtoras.

Dentre as dificuldades no processo de compras foram apontados os

seguintes problemas:

licitações desertas;

aumento desproporcional de preços em relação às compras

anteriormente realizadas;

descumprimento de exigências dos editais, como a apresentação de

Certificado de Boas Práticas de Fabricação e da Autorização de

Funcionamento e Autorização Especial (para os medicamentos sob

controle especial), ambos expedidos pela Anvisa;

dificuldades para a aplicação do CAP e desoneração tributária, o que

leva ao não cumprimento do PMVG estabelecido para os produtos a

ele sujeitos;

no caso de compra de produto de fabricação exclusiva, muitos estados

têm dificuldade de fazer a compra direta de fabricantes e fornecedores

exclusivos praticam preços superiores àqueles conseguidos por outras

SES em compras diretas junto ao fabricante;

existência de lobby entre distribuidoras regionais que deixam de

apresentar propostas de fornecimento quando o valor máximo a ser

pago pelo produto é estabelecido com base no valor praticado em

outros estados.

Especificamente sobre os medicamentos para o componente básico, a

referida Nota Técnica relata problemas no Espírito Santo, onde em 2013, 60% dos

processos de compras foram fracassados, e no Sergipe, que por 03 (três) anos

tentou sem sucesso formalizar ata de registro de preço de medicamentos básicos

para apoiar os municípios.

5

Em Minas Gerais houve dificuldade na aquisição de 20 (vinte)

medicamentos, sendo eles: ácido acetilsalicílico 100 mg comprimido; ácido fólico 5

mg comprimido; alopurinol 100 mg comprimido; amiodarona cloridrato 200 mg

comprimido; benzilpenicilina procaína+potássica 400000 ui pó para injetável;

carbonato de cálcio 1250 mg comprimido mastigável; clonazepam 2,5 mg/ml

solução oral; cloreto de sódio 30 mg/ml spray nasal; dexclorfeniramina maleato 2

mg comprimido; digoxina 0,25 mg comprimido; espiramicina 500 mg comprimido

revestido; fenitoína sódica 20 mg/ml suspensão oral; isossorbida dinitrato 5 mg

comprimido sublingual; levodopa+carbidopa 200+50 mg/mg comprimido; losartana

potassica 25 mg comprimido revestido; metronidazol 400 mg comprimido;

nortriptilina cloridrato 25 mg cápsula; nortriptilina cloridrato 50 mg cápsula;

prednisona 5 mg comprimido e sulfadiazina 500 mg comprimido.

Assim, em virtude dos problemas apontados nos processos de compra,

tais como, licitações desertas, aumento de preço e preços superiores ao Preço

Máximo de Vendo Governamental (PMVG), falta de certificados expedidos pela

Anvisa, levantamos duas hipóteses que podem estar contribuindo significativamente

para este problema: Concorrência entre dois programas de assistência farmacêutica,

o Programa Farmácia Popular do Brasil x Programa Farmácia Básica e, por outro

lado, o aumento da exigência regulatória com a obrigatoriedade de realizar estudos

de equivalência farmacêutica para o registro ou renovação do registro dos

medicamentos similares.

Discorremos mais sobre estas duas hipóteses, entretanto, em virtude do

tempo e complexidade não atreveremos em validá-la ou refutá-la, mas

fomentaremos a discussão para futuros trabalhos.

Programa Farmácia Popular do Brasil X Programa Farmácia Básica

Antes de entrar neste tema especificamente não podemos deixar de

ressaltar que na presente hipótese constata-se uma concorrência de ações para a

mesma finalidade, o que contraria o princípio da organização dos serviços públicos

de modo a evitar duplicidade de meios para fins idênticos, estabelecido no art. 7 XII,

da Lei 8.080 de 19 de setembro de 1990.

6

Feita esta ressalva, faremos breve contextualização sobre os dois

programas. Assistência Farmacêutica na Atenção Básica é financiada de forma

tripartite pelo Ministério da Saúde, Estados e Municípios, sendo a contrapartida

federal de R$ 5,10/habitante/ano, e as contrapartidas estadual e municipal devem

ser de no mínimo R$ 2,36/habitante/ano cada, conforme regulamenta a Portaria n°

1.555, de 30 de julho de 2013. Os recursos da Assistência Farmacêutica Básica

devem ser aplicados, por meio do Bloco da Assistência Farmacêutica1, no custeio

dos medicamentos destinados aos agravos prevalentes e prioritários da Atenção

Básica, presentes na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais – RENAME.

Por outro lado o Programa Farmácia Popular do Brasil, instituído pela a

Lei nº 10.858, de 13 de abril de 2004 e regulamentado pelo Decreto nº 5.090, de 20

de maio de 2004, visa disponibilizar medicamentos em todos os municípios e

regiões do território nacional para promover a universalização do acesso da

população aos medicamentos, e assegurando medicamentos básicos e essenciais a

população assistida pela rede privada e buscando diminuir o impacto causado pelos

gastos com medicamentos no orçamento familiar.

Traremos para complementar este artigo a dissertação2 apresentada ao

Programa de Pós Graduação em Medicamentos e Assistência Farmacêutica da

Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito para o título de Mestre,

elaborada por Garcia, Mariana Morgado (2014). O trabalho realizado pela mestranda

faz a avaliação econômica do Programa Farmácia Popular do Brasil em relação ao

Programa Farmácia de Minas, onde são adquiridos os medicamentos destinados à

atenção básica no âmbito do Estado de Minas Gerais.

Conforme expõe Garcia (2014) no trabalho supracitado, metade do

orçamento da assistência farmacêutica, aproximadamente R$ 1 bilhão de reais, é

utilizado na aquisição de 25 itens da Farmácia Popular, a outra metade (1 bilhão) é

partilhada entre Estados e Municípios, que são responsáveis pela aquisição de 343

medicamentos para dispensar a população.

1 Portaria MS n° 204 de 29/01/2007.

2 Garcia, Marina Morgado. Avaliação econômica dos Programas Rede Farmácia de Minas e Farmácia Popular do Brasil: estratégias para o acesso a medicamentos com financiamento do SUS / Marina

Morgado Garcia. – 2014. 77 f.: il

7

O supracitado trabalho apresenta a avaliação dos preços unitários

referentes aos medicamentos comuns disponibilizados em ambos os programas.

Conforme se observa Tabela 01, há uma grande diferença de preço praticado pelos

programas, sendo que o mesmo medicamento distribuído pela Rede Farmácia de

Minas aos municípios pode custar para o usuário no Programa Farmácia Popular

Rede Própria até 8,25 vezes mais caro, é o caso da azitromicina, usado para

diversas infecções. Somente em quatro produtos fornecidos pelo programa

Farmácia Popular os preços estavam abaixo ou semelhantes aos preços praticados

na Rede Farmácia de Minas.

Tabela 01 – Comparativo de preço Programa Farmácia Popular do Brasil x Farmácia

Básica

Item

Valor de aquisição Rede

Farmácia de Minas

Valor de dispensação

Programa Farmácia Popular -

Rede própria

Diferença em

número de vezes

Resultado

ACIDO FOLICO 5 MG COMPRIMIDO 0,01 0,05 3,62 mais caro

ALBENDAZOL 400 MG COMPRIMIDO MASTIGÁVEL

0,12 0,56 4,55 mais caro

ALENDRONATO SÓDIO 70 MG COMPRIMIDO

0,21 0,37 1,76 mais caro

ALOPURINOL 100 MG COMPRIMIDO 0,02 0,08 4 mais caro

AMIODARONA CLORIDRATO 200 MG COMPRIMIDO

0,09 0,2 2,15 mais caro

AMITRIPTILINA CLORIDRATO 25 MG COMPRIMIDO

0,06 0,22 3,44 mais caro

AMOXICILINA 50 MG/ML PÓ PARA SUSPENSÃO ORAL - Frasco com 60ml

0,89 1,96 2,2 mais caro

AMOXICILINA 500 MG CÁPSULA 0,05 0,19 3,86 mais caro

AZATIOPRINA 50 MG COMPRIMIDO 0,72 1,4 1,94 mais caro

ZITROMICINA 500 MG COMPRIMIDO 0,32 2,64 8,25 mais caro

BENZILPENICILINA BENZATINA 1200000 UI PÓ PARA INJETÁVEL

0,7 1,5 2,15 mais caro

BIPERIDENO CLORIDRATO 2 MG COMPRIMIDO

0,04 0,07 2,03 mais caro

CARBAMAZEPINA 200 MG COMPRIMIDO

0,06 0,13 2,16 mais caro

CEFALEXINA 50 MG/ML PÓ PARA SUSPENSÃO ORAL - Frasco com 60 ml

1,59 4,96 3,13 mais caro

8

CEFALEXINA 500 MG COMPRIMIDO 0,08 0,4 5,29 mais caro

CIPROFLOXACINO CLORIDRATO 500 MG COMPRIMIDO

0,08 0,38 5,07 mais caro

CLONAZEPAM 2 MG COMPRIMIDO 0,08 0,06 0,73 mais barato

CLORETO DE SÓDIO 9 MG/ML SOLUÇÃO NASAL

1,6 0,95 0,59 mais barato

CLORPROMAZINA CLORIDRATO 100 MG COMPRIMIDO

0,09 0,13 1,34 mais caro

CLORPROMAZINA CLORIDRATO 25 MG COMPRIMIDO

0,09 0,1 1,11 mais caro

DEXAMETASONA 1 MG/G CREME 0,37 1 2,74 mais caro

DEXCLORFENIRAMINA MALEATO 0,4 MG/ML SOLUÇÃO ORAL

0,64 2,07 3,25 mais caro

DEXCLORFENIRAMINA MALEATO 2 MG COMPRIMIDO

0,01 0,06 4,03 mais caro

DIAZEPAM 10 MG COMPRIMIDO 0,02 0,08 3,64 mais caro

DIAZEPAM 5 MG COMPRIMIDO 0,02 0,04 1,95 mais caro

DIGOXINA 0,25 MG COMPRIMIDO 0,02 0,06 3,66 mais caro

DIPIRONA SÓDICA 500 MG/ML SOLUÇÃO ORAL

0,29 0,7 2,41 mais caro

ERITROMICINA 500 MG COMPRIMIDO REVESTIDO

0,25 0,54 2,16 mais caro

ERITROMICINA ESTOLATO 50 MG/ML SUSPENSÃO ORAL

2,05 2,3 1,12 mais caro

FENITOÍNA SÓDICA 100 MG COMPRIMIDO

0,05 0,1 2,03 mais caro

FENOBARBITAL SÓDICO 100 MG COMPRIMIDO

0,03 0,06 1,89 mais caro

FLUCONAZOL 150 MG CÁPSULA 0,12 0,95 8,26 mais caro

FLUOXETINA CLORIDRATO 20 MG CÁPSULA

0,06 0,06 0,94 ~

HALOPERIDOL 2 MG/ML SOLUÇÃO ORAL

2 1,94 0,97 ~

HALOPERIDOL 5 MG COMPRIMIDO 0,03 0,12 4,53 mais caro

LORATADINA 10 MG COMPRIMIDO 0,03 0,05 1,47 mais caro

MEBENDAZOL 20 MG/ML SUSPENSÃO ORAL

0,42 1,1 2,62 mais caro

METOCLOPRAMIDA CLORIDRATO 4

MG/ML SOLUÇÃO ORAL - Frasco com 10 ml

0,6 0,75 1,25 mais caro

METRONIDAZOL 250 MG COMPRIMIDO

0,03 0,1 3,13 mais caro

METRONIDAZOL 40 MG/ML SUSPENSÃO ORAL

0,97 2,4 2,47 mais caro

9

MICONAZOL NITRATO 20 MG/ML LOÇÃO

0,85 1,86 2,19 mais caro

OMEPRAZOL 20 MG CÁPSULA 0,03 0,23 7,69 mais caro

PARACETAMOL 200 MG/ML SOLUÇÃO

ORAL - Frasco com 15 ml 0,36 1,27 3,54 mais caro

PARACETAMOL 500 MG COMPRIMIDO 0,02 0,09 5,49 mais caro

PREDNISONA 20 MG COMPRIMIDO 0,05 0,18 4 mais caro

PREDNISONA 5 MG COMPRIMIDO 0,02 0,08 4 mais caro

RANITIDINA CLORIDRATO 150 MG COMPRIMIDO

0,03 0,12 3,65 mais caro

SAIS DE REIDRATAÇÃO ORAL 3,5+1,5+2,9+20 G+G+G+G PÓ PARA

PREPARAÇÃO EXTEMPORÂNEA

0,24 0,6 2,5 mais caro

SULFAMETOXAZOL+TRIMETROPRIMA 40+8 MG/ML+MG/ML SUSPENSÃO ORAL - FRASCO COM 50 ml

0,6 1,45 2,42 mais caro

SULFAMETOXAZOL+TRIMETROPRIM

A 400+80 MG+MG COMPRIMIDO 0,03 0,08 2,35 mais caro

SULFATO FERROSO SULFATO 25 MG/ML SOLUÇÃO ORAL

0,74 0,75 1,02 mais caro

SULFATO FERROSO SULFATO 40 MG COMPRIMIDO

0,02 0,04 1,82 mais caro

VALPROATO SÓDIO 50 MG/ML

XAROPE 1,64 4,05 2,47 mais caro

Fonte: Garcia, Marina Morgado (2014)

A nota técnica n° 15 de 2014 do CONASS também aponta para a

concorrência entre os programas conforme transcrição abaixo.

Nem mesmo as quatro farmácias populares cadastradas no estado estariam

dando conta da demanda e os recursos da Fiocruz para sua manutenção também seriam insuficientes, demandando complementação de recursos pela SES. A situação é de tal gravidade que o cadastro de novas farmácias

privadas no “Aqui tem Farmácia Popular” foi visto com grande al ívio pelos gestores.

De um lado, o poder público não consegue adquirir o medicamento por

diversos problemas, e do outro o problema parece está na grande demanda e não

na falta do produto.

10

Ampliação da exigência regulatória para registro de medicamentos similares

Até o ano de 1999, a legislação brasileira permitia às próprias empresas

fabricantes indicarem o medicamento de referência para o registro de seus similares.

Entretanto, não havia exigência de comprovação da equivalência terapêutica do

similar em relação ao medicamento considerado como referência.

Em 1999, com a promulgação da lei 9 787 de 10 de fevereiro de 1999 (Lei

dos Genéricos) a normativa nacional estabelece a diferenciação entre o

medicamento genérico é um medicamento intercambiável com um produto de

referência ou inovador e o medicamento similar, não exigindo à época o estudo de

equivalência farmacêutica para este.

Entretanto, com a experiência adquirida com o registro dos medicamentos

genéricos, a Anvisa por meio da RDC 134/2003, passou a exigir dos fabricantes de

similares o cumprimento dos requisitos de equivalência farmacêutica e de

biodisponibilidade relativa, de acordo com o cronograma elaborado.

Segundo Araújo3, Lorena Ulhoa, et all (2010), até 2014 existiam dois tipos

de medicamentos similares no mercado brasileiro: aqueles cujos registros já estão

de acordo com a nova legislação e aqueles que ainda estavam no processo de

adequação, não qual ocorria quando da renovação do registro junto á Anvisa.

Como indício do impacto financeiro e de oferta de medicamentos em

virtude da ampliação da exigência regulatória para registro de medicamentos

similares, com a obrigatoriedade de cumprimento dos requisitos de equivalência

farmacêutica citamos o artigo “Aquisição de medicamentos genéricos em município

de médio porte4” publicado na Revista de Saúde Pública.

3

ARAUJO, Lorena Ulhôa et al. Genéricos Medicamentos no Brasil: panorama histórico. E Legislação Rev Panam Salud Publica , Washington, v 28, n.. 6, Dezembro de 2010.Disponível a

partir <http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1020 -49892010001200010&lng= en&nrm=iso>. Acesso em 27 abr 2015 http://dx.doi.org/10.1590/S1020-49892010001200010.

4 Bevilacqua, Gabriela; FARIAS, Mareni Rocha; BLATT, Carine Raquel. Aquisição de medicamentos

genéricos em município de Médio porte. Rev. Saúde Pública , São Paulo, v. 45, n. 3, p. 583-589, junho de 2011. Disponível a partir <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102011000300017&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 28 de abril de 2015. Epub 15 de abril de 2011.

http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102011005000020.

11

Neste artigo, Bevilacqua, Mareni e BLATT (2011) relatam as dificuldades

encontradas pelo município que, após ampla discussão entre gestores e

profissionais de saúde sobre a Política Nacional de Medicamentos, a Política

Nacional de Assistência Farmacêutica, a Política Nacional de Genéricos e a despeito

das dúvidas em relação à qualidade dos medicamentos similares, resolveu realizar

aquisição de medicamentos exigindo no edital de licitação que os medicamentos

ofertados apresentassem testes de bioequivalência e/ou de biodisponibilidade.

Segundo os autores o “objetivo deste estudo foi analisar o impacto

financeiro da aquisição de medicamentos com a exigência da apresentação de

testes de biodisponibilidade e/ou bioequivalência para o componente da Assistência

Farmacêutica Básica”. (Bevilacqua, Mareni e BLATT, 2011)

Apesar de não ser citado o nome do município de médio porte, o mesmo

está localizado no estado de Santa Catarina, possuía aproximadamente 170.000

habitantes e uma lista de medicamentos do componente da Assistência

Farmacêutica Básica composta de 171 itens em 2007, ampliada para 195 itens em

2008. A modalidade de aquisição utilizada em ambos os anos do estudo foi o pregão

presencial com registro de preço.

Conforme Bevilacqua, Mareni e BLATT (2011), as diferenças entre os

valores unitários estratificadas por aumento, diminuição e sem alteração de valor

observadas nas licitações de 2007 e 2008, são significativas, visto que dos 150 itens

analisados, 90 apresentaram valor unitário de aquisição superior em 2008, esse

aumento médio dos valores unitários foi de 246,98% (Desvio padrão – DP = 4,58),

chegando a 3.163% como no caso do medicamento fenobarbital 100 mg, adquirido

por R$ 0,03 cada comprimido em 2007 e R$ 0,88 em 2008. Em 2008, 44 itens

tiveram preço menor comparados a 2007, com uma média de 12,7% (DP = 0,09) na

redução, sendo o maior percentual de redução 34,0%.

De acordo com o artigo, em 2007, com a aquisição dos 150

medicamentos o município teve um custo de R$ 2.288.120,00. Porém, em 2008, os

mesmos medicamentos, nas mesmas quantidades, custariam R$ 4.270.425,00, o

que corresponde a aumento de aproximadamente 87% de aumento. (Bevilacqua,

Mareni e BLATT, 2011)

12

Outro resultado importante no trabalho de Bevilacqua, Mareni e BLATT

(2011) se refere ao índice de pregões fracassados visto que em 2007 foram

observados 2,6% de itens fracassados e em 2008 56,9%.

Para enfrentar estes desafios na aquisição de medicamentos no Brasil os

gestores devem se articular para fortalecer o poder de compra e regular o mercado.

Nesse sentido, este trabalho apresentará duas oportunidades, uma relacionada ao

poder de compra por meio da economia de escala e outra complementar que

abrange a uti lização da capacidade instalada dos laboratórios oficiais para regular o

mercado e garantir o medicamento para o Sistema Único de Saúde.

Das oportunidades

Consórcio Público

Com base no art. 241 da Constituição Federal de 1988, que autorizou a

gestão associada de serviços públicos, bem como a transferência total ou parcial de

encargos, serviços, pessoal e bens essenciais à continuidade dos serviços

transferidos; a competência estabelecida no inciso VII, do art. 18, da Lei n° 8.080 de

1990, para direção municipal do SUS formar consórcios administrativos

intermunicipais e, ainda, a edição da Lei n° 11.107 de 06 de abril de 2005, o

consórcio é atualmente a alternativa eficiente para gestão e governança de ações de

saúde, como por exemplo, a aquisição centralizada de medicamentos, ganhando

escala e diminuindo custos administrativos.

O consórcio é uma entidade que integra a administração indireta de todos

os municípios consorciados, o que atende a diretriz constitucional de comando único

em cada esfera de governo. Além disso, a sua instituição visa superar as

deficiências de escala, de disponibilidade de recursos materiais e humanos, atuando

na solução conjunta de problemas para alcançar objetivos comuns.

Neste sentido ensina a ilustre professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro

(2002):

13

Do exposto decorre que o chamado consórcio público passa a constituir -se

em nova espécie de entidade da Administração Indireta de todos os entes federados que dele participarem. Embora o art. 6º só faça essa previsão com relação aos consórcios constituídos como pessoas jurídicas de direito

público, é evidente que o mesmo ocorrerá com os que tenham personalidade de direito privado. Não há como uma pessoa jurídica política (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) instituir pessoa jurídica

administrativa para desempenhar atividades próprias do ente instituidor e deixá-la fora do âmbito de atuação do Estado, como se tivesse sido instituída pela iniciativa privada.

Nesse compasso, releva mencionar a forma de cooperação federativa

instituída pelo art. 2415 da Constituição Federal e pela Lei Federal 11.107/2005,

como instrumento de associação cuja finalidade consiste em prover e em gerenciar,

conjuntamente, ações e serviços públicos à população local, otimizando e

racionalizando o uso de recursos públicos.

Assim, com a edição da Lei de Consórcios Públicos 6, os gestores de

saúde ganharam um importante instrumento de gestão que atende as principais

características do Sistema Único de Saúde, quais sejam: a regionalização e a

hierarquização. Também, a existência de uma norma que legitima os Consórcios

Intermunicipais de Saúde como instituições públicas, faz o mesmo surge como

alternativa criativa para a solução dos problemas enfrentados pela maior parte de

municípios brasileiros, principalmente na área da saúde.

Portanto, não podemos olvidar que o Consórcio serve como base para

uma melhor ordenação das políticas de saúde, ao permitir a gestão associada de

ações e serviços públicos, bem como permitir a transferência total ou parcial de

encargos essenciais à continuidade dos serviços transferidos que, originariamente,

foram atribuídos aos municípios ou ao estado, como, por exemplo aquisição de

medicamentos.

No Brasil temos um caso bem-sucedido em relação à constituição de

Consórcio para aquisição centralizada de medicamentos para Atenção Básica, o

“Consórcio Paraná Saúde” que discorremos um pouco ilustrar as possibilidades.

5 Art. 241. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Munic ípios disciplinarão por meio de lei os

consórcios públicos e os convênios de cooperação entre os entes federados, autorizando a gestão associada de serviços públicos, bem como a transferência total ou parcial de encargos, pessoal e bens essenciais à continuidade dos serviços transferidos.

6 Lei Federal 11.107/2005

14

Com a transferência do incentivo à Assistência Farmacêutica Básica e

descentralização da competência para coordenar as ações e atividades relacionadas

à aquisição, distribuição e dispensação de medicamentos aos estados e/ou

municípios, houve um grande desafio de se buscar estratégias para superar

deficiência de escala e aumento da eficiência nos gastos dos recursos.

Assim, com a finalidade de otimizar os recursos da assistência

farmacêutica básica, em junho de 1999, os municípios do estado do Paraná, com

apoio da Secretaria de Estado da Saúde, constituíram o Consórcio Paraná Saúde,

que atualmente conta com 392 municípios associados dos 399 do Estado7.

Em um período de 13 anos (1999-2012) o Consórcio gerenciou 358

milhões e adquiriu mais de 7 bilhões de unidades de medicamento, e neste período

alguns medicamentos tiveram queda expressiva, conforme quadro 2 8.

Quadro 1 – redução de preço em 12 anos

Medicamento Valor em 2000* Valor em 2012**

Captopril 25mg 0,028 0,0111

PARACETAMOL 500mg 0,03 0,0225

Furosemida 40mg 0,018 0,0139

Glibenclamida 5mg 0,013 0,0089

*concorrência de março de 2000

**pregão elet rônico de agosto de 2012

Fonte: Consórcio Paraná Saúde

Conforme FERRAES, Alide Marina Biehl e CORDONI JUNIOR, Luiz

(2007) denominado “Consórcio de medicamentos no Paraná: análise de cobertura e

custos” com a implantação do consórcio, ainda em seu primeiro ano, os municípios

do estado do Paraná conseguiram adquirir medicamentos com preços inferiores à

média nacional. O citado artigo relata a análise de preços referente a 55 itens de

medicamentos constantes nas duas listas (Banco de Preços/MS e Concorrência nº 6

7 http://www.consorcioparanasaude.com.br/modelo1.asp?id=1

8 http://www.consorcioparanasaude.com.br/galerias/folder-2012.html

15

de dezembro de 2000 do Consórcio Paraná Saúde). Na análise se observou que os

preços praticados pelo Consórcio Paraná Saúde para aquisição dos medicamentos

são sistematicamente mais baixos do que os praticados pelo Banco de Preços do

MS. Dos 55 itens em 46, houve uma variação de 0,7% até 68,00%. Com a compra

centralizada pelo Consórcio Paraná Saúde os 55 itens custaram R$ 785.856,59. Se

esta compra fosse efetuada com os preços referenciados no BP/MS, o gasto seria

de R$ 1.118.254,2, para aquisição dos mesmos itens. Portanto, houve uma

diferença de R$ 332.397,70 corresponde a 29,7% a menos na compra do consórcio

em relação ao que custaria com os preços praticados pelo BP/MS.

Além da possibilidade de aquisições com melhores preços do que a

média nacional em virtude da escala outro ponto positivo é a economia em relação

aos processos administrativos, se a compra do medicamento fosse realizada

individualmente por cada município, todos teriam que suportar a despesas

administrativas com pessoal administrativo, jurídico, formalização de contrato,

equipe de licitação, publicações, dentre outras, no caso do consórcio do paraná

seria no mínimo 392 processos licitatórios.

Mister destacar que a possibilidade de formalizar consórcio não se limita

aos municípios de um estado, em regiões com baixa densidade populacional a área

de abrangência do consórcio poderá contemplar dois mais estados, conforme

regulamento o §º do art. 4º da Lei 11.107 de 2005.

Laboratórios Oficiais

Os laboratórios oficiais têm destaque especial na Lei 8.080 de 1990,

quando em seu o §1º do art. 4º o legislador destacou e ressaltou que as instituições

públicas federais, estaduais e municipais de controle de qualidade, pesquisa e

produção de insumos, medicamentos, inclusive de sangue e hemoderivados, e de

equipamentos para saúde constituem o Sistema Único de Saúde (SUS), “in verbis”:

Art. 4º O conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da Administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público, constitui o

Sistema Único de Saúde (SUS).

§ 1º Estão incluídas no disposto neste artigo as instituições públicas federais, estaduais e municipais de controle de qualidade, pesquisa e

produção de insumos, medicamentos, inclusive de sangue e hemoderivados, e de equipamentos para saúde.

16

Este dispositivo toma ainda maior destaque se for analisado em conjunto

com o art. 24 da Lei 8.080 de 1990, onde o legislador determina que o gestor de

saúde somente poderá recorrer a serviços da iniciativa privada quando houver

indisponibilidade da cobertura assistencial à população de determinada área. Apesar

do disposto legal remeter somente a serviços de saúde, não há como deixar de

aplica-lo às instituições produtoras de medicamentos, por tratar-se de um Sistema

Único de Saúde (art. 4º), os laboratórios oficiais não poderiam ser tratados de forma

diferente dos hospitais. Assim, os gestores públicos só deveriam adquirir

medicamentos da iniciativa privada se o mesmo não fosse fornecido pelos

laboratórios oficiais, ou se a oferta fosse insuficiente para atender à demanda.

Defendo ainda, que neste caso a aquisição seria por inexigibilidade de

licitação em virtude da inviabilidade de licitações a rt. 25 caput, da Lei 8.666 de 21 de

julho de 1993.

Para melhor contextualização deste trabalho é importante discorrer um

pouco sobre os laboratórios oficiais no Brasil, especialmente sobre a Rede Pública

de Laboratórios Farmacêuticos vinculados à Associação dos Laboratórios Oficiais do

Brasil (ALFOB). A mesma é composta de 21 laboratórios das esferas federal e

estaduais, vinculados ao Ministério da Saúde, às Forças Armadas, a Universidades

Públicas e às Secretarias de Saúde estaduais, sendo todos os medicamentos

destinados ao Sistema Único de Saúde (ALFOB, 2012). Abaixo citaremos estes

laboratórios, com breve descrição:

Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos): Criado em

1918 como unidade técnico-científica da Fundação Oswaldo Cruz

(Fiocruz);

Fundação Ezequiel Dias (FUNED): Fundada em agosto de 1907 na

capital mineira, vinculada à Secretária Estadual de Saúde ;

Fundação para o Remédio Popular (FURP): Inaugurado em março

de1974, vinculado a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo;

Laboratório Farmacêutico do estado do Rio Grande do Sul (LAFERGS):

Inaugurado em 1974;

17

Instituto Butantan: O Instituto, reconhecido como instituição autônoma

desde fevereiro de 1901, é vinculado à Secretaria de Estado da Saúde

de São Paulo;

Indústria Química do Estado de Goiás (IQUEGO): Uma empresa de

economia mista criada em novembro de 1962;

Instituto Vital Brazil (IVB): Criado em junho de 1919 na cidade de

Niterói, Estado do Rio de Janeiro;

Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco (LAFEPE): Criado

em 1966 na cidade de Recife;

Laboratório Industrial Farmacêutico de Alagoas (LIFAL): Criado em

dezembro de 1972, considerado uma sociedade de economia mista

estadual com sede na cidade de Maceió;

Laboratório Químico-Farmacêutico da Aeronáutica (LAQFA): Criado em

maio de 1971, é um laboratório federal vinculado à Aeronáutica;

Laboratório de Produção de Medicamentos (LPM): O Laboratório de

Produção de Medicamentos da Universidade Estadual de Londrina foi

criado em outubro de 1989;

Laboratório de Ensino e Pesquisa de Medicamentos e Cosméticos

(LEPEMC): Criado em 1993 no Estado do Paraná, o laboratório

pertencente à Universidade Estadual de Maringá;

Núcleo de Pesquisa em Alimentos e Medicamentos (NUPLAM): Criado

em abril de 1991, originário do Núcleo Industrial Químico Farmacêutico

(NIQUIFAR) existente desde 1972, o NUPLAN passou a integrar a

estrutura orgânica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

(UFRN);

Laboratório Químico Farmacêutico do Exército (LQFEx): Criado em

1808 na cidade do Rio de Janeiro, o laboratório federal é vinculado ao

Exército;

Laboratório Farmacêutico da Marinha (LFM): Criado em 1906, para

atender à marinha e aos órgãos públicos

18

Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem – Farmácia Escola

(FFOE): Criada em 1959, a missão da Farmácia-Escola é apoiar o

ensino farmacêutico aos níveis de graduação e pós-graduação;

Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Estado de Pernambuco

(HEMOPE): Criada em novembro de 1977, a Fundação é uma

organização de caráter científico, educacional e assistencial, vinculada

à Secretaria de Saúde do Governo do Estado de Pernambuco ;

Centro de Produção e Pesquisa de Imunobiológicos (CPPI): Criado em

1987no estado do Paraná;

Instituto de Tecnologia do Paraná - TECPAR: Empresa pública criada

em 1940 e vinculada à Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e

Ensino Superior do Paraná;

Laboratório de Tecnologia Farmacêutica (LTF): Criado em 1968 na

cidade de João Pessoa;

Laboratório Industrial Farmacêutico do Estado da Paraíba (LIFESA):

Criado no ano de 1974 (Souza, Ana Luíza Pimenta De – 2013).

Conforme BUSS; CARVALHEIRO; CASAS (2008), os laboratórios

públicos possuem capacidade instalada para fabricar aproximadamente 16,6 bilhões

de unidades farmacêuticas por ano, abrangendo mais de 145 princípios ativos e

aproximadamente 249 apresentações farmacêuticas.

Os laboratórios Farmanguinhos, FURP, LAQFEx, FUNED e LAFEPE são

os que possuem maior capacidade produtiva, com mais de 80% da capacidade total

da rede. Entretanto, as demandas do Ministério da Saúde e dos governos estaduais

e municipais não são suportadas com a produção apenas dos laboratórios para

atender todo o elenco da RENAME. Os laboratórios privados precisam

complementar com o restante da produção para atender toda a demanda

necessária.

Em relação à capacidade produtiva de medicamentos pelos laboratórios

oficiais é importante destacar algumas informações. Neste sentido, conforme o

Quadro 02, a produção principal é de medicamentos simples, com exceções como a

produção de anti-retrovirais, fruto do engajamento de alguns laboratórios públicos

(além de empresas privadas nacionais) no atendimento ao programa DST/Aids.

19

Tabela 02 - Produtos dos Laboratórios Oficiais Brasileiros e Número de fabricantes

Produtos dos Laboratórios Oficiais Brasileiros e Número de fabricantes

PRODUTO LABORATÓRIOS PRODUTORES

Ácido acetilsalicílico (analgésico/antitérmico) 13

Captopril (anti-hipertensivo) 13

Propanolol (anti-hipertensivo) 13

Sulfametoxazol+Trimetroprima (antimicrobiano) 12

Dipirona (analgésico/antitérmico) 11

Hidroclorotiazida (anti-hipertensivo) 11

Furosemida (anti-hipertensivo) 10

Mebendazol (anti-helmíntico) 10

Metronidazol (bactericida) 9

Paracetamol (analgésico/antipirético) 9

Cimetidina (antiulceroso) 7

Sulfato ferroso (antianêmico) 7

Amoxiciclina (antibiótico) 5

Estavudina (anti-retroviral) 4

Zidovudina (AZT) (anti-retroviral) 4

Benzilpenicilina (antibiótico) 3

Etambutol (antituberculose) 3

Didanosina (anti-retroviral) 3

Indinavir (anti-retroviral) 2

Mefloquina (antiinfeccioso/antimalárico) 2

Primaquina (antimalárico) 2

Antimoniato de meglumina (contra leishmaniose) 1

Cloroquina injetável (antimalárico) 1

Oxaminiquina (esquistossomose) 1

Praziquantel (esquistossomose) 1

Talidomida (tratamento de eritema nodoso de lepra)

1

Metformina (diabetes) 1

Artemeter (antimalárico) 1

Oxaciclina (antibiótico) 1

Fonte: Bastos, Valéria Delgado (2006).

20

Conforme Rodrigues, Mayara de Souza (2012) o número de

medicamentos produzido pelos Laboratórios Farmacêuticos Oficiais do Brasil variou

bastante, sendo que: cinco laboratórios produziam entre 31 e 78 medicamentos;

outros quatro laboratórios produziam entre 14 e 24 medicamentos; e cinco

laboratórios produziam até cinco medicamentos. A autora observou que 26,3% dos

fármacos e 42,5% das apresentações não pertenciam à Rename 2010; e também

que 34,8% dos fármacos e 53,3% das apresentações não pertenciam à 17ª Lista

Modelo de Medicamentos Essenciais da OMS. O número de medicamentos de cada

LFO, a presença dos fármacos e das apresentações na Rename 2010 e na 17ª Lista

Modelo de Medicamentos Essenciais da OMS pode ser vista na Tabela 03.

Tabela 03 – Conformidade dos medicamentos produzidos pelos LFO frente à Rename 2010

(Nov. 2010- Jan. 2011).

Laboratório

Número de

medicamentos/apresentação

Mesmo fármaco Mesma

apresentação

Biomanguinhos 5 0 0

Farmanguinhos 65 56 45

FFOE/UFC 3 2 1

Funed 78 50 38

Furp 48 37 31

Iquego 31 26 21

Lafepe 49 37 26

Lafesc 3 3 3

Lepemc/UEM 1 1 1

LFM 24 19 16

Lifal 21 12 11

LQFE 14 8 6

NTF 4 3 2

Nuplam 16 13 7

Fonte: Rodrigues, Mayara de Souza (2012).

21

O Ministério da Saúde, por meio da publicação da portaria GM/MS n.

2.438, de 7 de dezembro de 2005 (revogada 9), criou a Rede Brasi leira de Produção

Pública de Medicamentos (RBPPM), na referida portaria estão descritos no art. 3º os

objetivos fundamentais da rede, formada pelos laboratórios farmacêuticos oficiais do

Brasil. Sendo eles:

I – desenvolver ações que visem à reorganização do sistema oficial de

produção de medicamentos, com a adoção de estratégias para a

racionalização da produção oficial e para a sua aproximação às

necessidades e prioridades do Sistema Único de Saúde;

II – desenvolver ações coordenadas e cooperadas que visem ao

suprimento de medicamentos demandados pelo Sistema Único de

Saúde;

III – adotar, em seu âmbito, ações coordenadas que visem ao suprimento

regular e adequado de matérias-primas e de insumos necessários à

produção oficial de medicamentos;

IV – desenvolver ações que visem à garantia de fornecimento de

medicamentos aos programas públicos considerados estratégicos,

principalmente daqueles cuja produção envolve exclusivamente a

capacidade instalada do parque fabril oficial;

V – adotar, em seu âmbito, medidas estruturantes para os laboratórios

farmacêuticos oficiais integrantes da Rede, bem como estratégias

conjuntas para o aprimoramento e otimização da gestão;

VI – desenvolver ações que visem à capilarização das iniciativas de

fomento ao desenvolvimento tecnológico e das ações de pesquisa e

desenvolvimento;

VII – desenvolver ações voltadas à ampliação e à organização das

interfaces no âmbito dos acordos internacionais e de transferência de

tecnologia adotados pelo País, nos quais estejam envolvidos os

laboratórios farmacêuticos oficiais integrantes da rede; e

VIII – desenvolver ações de fortalecimento do desenvolvimento regional, nas

áreas de abrangência dos laboratórios farmacêuticos oficiais

integrantes da Rede.

9 Revogada pela Portaria Nº 374, de 28 de fevereiro de 2008.

22

Entretanto, no ano de 2008, o Ministério da Saúde revogou a portaria que

instituiu a Rede Brasileira de Produção Pública de Medicamentos (RBPPM), por

meio da Portaria Nº 374, de 28 de fevereiro de 2008, que institui no âmbito do

Sistema Único de Saúde - SUS, o Programa Nacional de Fomento à Produção

Pública e Inovação no Complexo Industrial da Saúde, alterando os seus objetivos

para os seguintes (art. 3º):

I – no Segmento Farmacêutico:

a) estimular a internalização da produção de farmoquímicos e

medicamentos de maior impacto para o Sistema Único de Saúde;

b) modernizar os Laboratórios Farmacêuticos Oficiais em termos

tecnológicos e organizacionais e capacitá-los para estabelecer

parcerias com o setor produtivo privado;

c) estimular a produção de medicamentos para doenças negligenciadas

e de suas matérias-primas, superando o hiato entre o esforço de

produção e inovação dos países desenvolvidos e as necessidades

nacionais; e

d) apoiar a implementação da Política Nacional de Plantas Medicinais e

Fitoterápicos.

II – no Segmento Biotecnológico (imunobiológicos, biofármacos,

hemoderivados e reagentes para diagnóstico):

a) capacitar os produtores públicos do País para a produção da matéria-

prima ativa com recursos às novas biotecnologias;

b) modernizar os produtores públicos em termos tecnológicos e

organizacionais e capacitá-los para estabelecer parcerias com o setor

produtivo privado;

c) estruturar o País para exportar produtos que atendam às demandas

articuladas pela Organização Mundial da Saúde para as regiões

menos desenvolvidas;

d) implementar a Política de Desenvolvimento da Biotecnologia na área

de Saúde Humana;

e) priorizar a produção, no País, de reagentes para o diagnóstico de

doenças transmissíveis utilizados pelo SUS com recursos às novas

biotecnologias;

23

f) consolidar a produção pública de reagentes biológicos para

diagnóstico e estabelecer parcerias com o setor privado e instituições

científicas para o desenvolvimento e a comercialização de novos

produtos e insumos para diagnóstico;

g) internalizar, no País, a produção de hemoderivados, atendendo aos

preceitos constitucionais, associada com a capacitação tecnológica;

h) favorecer a consolidação do produtor estatal nacional (Hemobras)

como uma empresa pública eficiente, comprometida com resultados e

tecnologicamente qualificada; e

i) fomentar o desenvolvimento de hemoderivados produzidos por

tecnologia recombinante e outras rotas tecnológicas.

Esta alteração normativa reflete a mudança de atuação dos laboratórios

oficiais, que estão procurando migrar a sua fabricação de medicamento básicos para

medicamentos estratégicos, com maior densidade tecnológica. A absorção de novas

tecnologias e o aprimoramento da capacidade de inovação dos laboratórios oficiais e

fundamental para o Sistema Único de Saúde e do Brasil, porém, abandonar a

produção de medicamentos básico é um risco pois o sistema de saúde perde a

capacidade de regular mercado e garantir o fornecimento de medicamentos básicos

para população.

Como ensina Gadelha; Quental; Fialho, (2003) a produção de

medicamentos pelos laboratórios oficiais tem como objetivo dar suporte às políticas

nacionais de saúde de combate e controle de doenças, e de promoção do acesso a

medicamentos pela população. Assim, a produção dos laboratórios oficiais contribui

para minorar o problema de suprimento de determinados fármacos e reduzir os

custos dos programas públicos de saúde, seja pela oferta de medicamentos a

preços mais baixos ou pelo efeito indutor e regulatório que exercem sobre os preços

privados, como evidenciado nas recentes negociações do MS para a redução dos

preços dos medicamentos contra a AIDS vendidos por empresas líderes

internacionais da indústria farmacêutica.

24

Neste sentido, é recomendável que o Ministério da Saúde , além de

incentivar a absorção de novas tecnologias, por meio do Programa de

Desenvolvimento Produtivo10 – PDP, também viabilize a produção de medicamentos

básicos para garantida da oferta e o suprimento destes medicamentos evitando o

desabastecimento como ocorre agora.

Além da mudança de estratégia de fabricação de medicamentos por parte

dos laboratórios oficiais, outro problema que ocasiona a perda da capacidade

produtiva de medicamentos básicos é o fato de que, desde 2003, a Agência

Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) passou a exigir estudos de bioequivalência

e biodisponibilidade para a renovação do registro dos similares produzidos pelos

laboratórios oficiais, bem como, realizar inspeções para certificação e autorização de

produção conforme as boas práticas de fabricação, o que levou à interrupção de

atividades em vários deles e a perda de registro. Cerca de um terço dos laboratórios

oficiais, segundo diagnóstico do governo [Ministério da Saúde (2004)], estava inativo

em 2003 e apenas quatro deles obtiveram certificação de boas práticas de

fabricação. (Bastos, Valéria Delgado, 2006)

A FUNED, por exemplo, reduziu ao longo dos últimos anos sua

participação na produção dos medicamentos básicos e passou a investir em

produtos de maior valor agregado. Este processo de mudança iniciou-se com a

formalização da parceria com a Novartis para transferência de tecnologia de

produção da vacina meningocócica, no âmbito da Parceria de Desenvolvimento

Produtivo - PDP.

10

Portaria Nº 2.531, de 12 de novembro de 2014

25

CONCLUSÕES

Conforme observou neste artigo, alguns municípios e estados

encontrarão desafios na aquisição de medicamentos, especialmente os destinados à

atenção básica, causando o desabastecimento em virtude de licitações desertas;

aumento desproporcional de preços em relação às compras anteriormente

realizadas; descumprimento de exigências dos editais, como a apresentação de

Certificado de Boas Práticas de Fabricação e da Autorização de Funcioname nto,

dificuldades para a aplicação do CAP e desoneração tributária, o que leva ao não

cumprimento do PMVG estabelecido para os produtos a ele sujeitos.

Como oportunidades para enfrentamentos destes desafios foram

apresentadas duas propostas complementares.

A Primeira seria aumentar a capacidade de compra dos entes federados

por meio da formalização de consórcios pelos municípios ou municípios e estados,

ganhando escala e diminuindo as despesas administrativas, como realizado hoje

pelo Consórcio Paraná Saúde que obteve êxito na compra dos medicamentos

básicos, com uma economia de quase 30% em relação ao preço médio do Banco de

Preços do Ministério da Saúde, fora a economia administrativa.

A segunda oportunidade reside nos laboratórios oficiais, com a retomada

e de fato instituição da Rede Brasileira de Produção Pública de Medicamentos

(RBPPM), com a finalidade de desenvolver ações coordenadas e cooperadas que

visem ao suprimento de medicamentos demandados pelo Sistema Único de Saúde;

desenvolver ações que visem à garantia de fornecimento de medicamentos aos

programas públicos considerados estratégicos, principalmente daqueles destinados

às necessidade essenciais da população ou cuja produção envolve exclusivamente

a capacidade instalada do parque fabri l oficial; e desenvolver ações de

fortalecimento do desenvolvimento regional, nas áreas de abrangência dos

laboratórios farmacêuticos oficiais integrantes da Rede.

Neste sentido, é importante ainda, criar estratégias para manutenção dos

registros dos medicamentos similares produzidos pelos laboratórios oficiais e

alteração das normas legais visando agilizar os procedimentos licitatórios para

adequação dos laboratórios às normas de boas práticas de fabricação.

26

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AUTORIA

Ricardo Assis Alves Dutra – Graduado em Direito pela Universidade de Uberaba (Uniube), pós-graduado em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde pela Universidade Federal de Minas Gerais

(UFMG); em Economia da Saúde e Farmacoeconomia pela Universidad Pompeu Fabra de Barc elona, Espanha e em Gestão da Atenção à Saúde, pela Fundação Dom Cabral.

Endereço eletrônico: [email protected]

Francisco Antônio Tavares Junior – Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental

graduado na Fundação João Pinheiro, com pós graduação em Economia da Saúde pela Universidade Pompeu Fabra de Barcelona, em Planejamento em Saúde pelo Instituto de Saúde Coletiva da Bahia e em Gestão da Atenção a Saúde pela Fundação Dom Cabral. Foi Assessor de Gestão Estratégica,

de Governança e Secretário Adjunto na SESMG, e Presidente da FUNED.

Endereço eletrônico: [email protected]

Mariana Cristina Pereira Santos – Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, graduada em Administração Pública pela Fundação João Pinheiro e pós graduada em Gestão da

Atenção à Saúde pela Fundação Dom Cabral. Com atuação na Secretaria de Estado de Saúde, possui experiência em planejamento estrat égico, gerenciamento de projetos, gestão por processos, e canais de participação social.

Endereço eletrônico: [email protected]

Fernanda de Oliveira Esteves – Bacharel em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda pelo Centro Universitário de Belo Horizonte UNI-BH, MBA em Gestão de Projetos pela Faculdade Pitagoras, Especialização em Gestão de Atenç ão à Saúde pela Fundação Dom Cabral e cursa

Especialização em Gestão de Negócios pela Fundação Dom Cabral. Atualmente no cargo de Assessora-Chefe do Escritório de Gerenciamento de Projetos Estratégicos da FUNED.

Endereço eletrônico: [email protected]