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COMPILAÇÃO DA OBRA DE MARQUES PORTO ANEXO I – REVISTAS FONTES - Mário Nunes – 40 anos de Teatro – Volumes 2 e 3 – Serviço Nacional de Teatro - Lysias Enio & Luiz Fernando Vieira – Luiz Peixoto pelo buraco da fechadura – Ed. Vieira & Lent. Rio de Janeiro – 2002. - Salvyano Cavalcanti de Paiva – Viva o Rebolado! Vida e morte do teatro de revista brasileiro – Editora Nova Fronteira - 1991.

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COMPILAÇÃO DA OBRA DE MARQUES PORTO

ANEXO I – REVISTAS

FONTES

- Mário Nunes – 40 anos de Teatro – Volumes 2 e 3 – Serviço Nacional de Teatro- Lysias Enio & Luiz Fernando Vieira – Luiz Peixoto pelo buraco da fechadura – Ed. Vieira & Lent. Rio de Janeiro – 2002.- Salvyano Cavalcanti de Paiva – Viva o Rebolado! Vida e morte do teatro de revista brasileiro – Editora Nova Fronteira - 1991.- Outros autores

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1922

“Os autores novos foram Patrocínio Filho que, com Domingos Magarinos, escreveu Pau de goiaba, engraçada. Marques Porto e Ari Pavão, Canalhas nas Ruas, medíocre;”... (MN, volume 2, pag. 40)

Realiza-se, no Teatro Municipal de São Paulo, a Semana de Arte Moderna, reunindo a vanguarda da intelectualidade rebelde. Artur Bernardes é eleito e toma posse na Presidência da República. Comunistas fundam, em março, o seu partido brasileiro. Em julho, revolta na Vila Militar, na Escola Militar e no Forte Copacabana. Reportagem da Gazeta de Notícias cria o mito dos “Dezoito do Forte”. Morre o Marechal Hermes da Fonseca. Visita o Rio de Janeiro o Rei Alberto, da Bélgica. Em setembro, a Exposição Internacional, no Rio, comemora o primeiro Centenário da Independência... Francisco Serrador inicia a construção da Cinelândia nos terrenos do antigo Convento da Ajuda, na Capital da República...A época de ouro da revista ocorre entre 1922 e 1940. (SCP, pag. 216).

CANALHAS DAS RUAS (07/04/1922) Cia. De Burletas e Revistas do São José – Empresa Pascoal SegretoMarques Porto e Ari PavãoMúsica : Paulino do Sacramento Música: Paulino do Sacramento e Bernardino VivasMúsica: Paulino Sacramento e B. Vivas

Dois estreantes. Não foi brilhante a estréia. Pobres de idéias, falta-lhes espírito, de pouco valendo a montagem com relativo brilho e decência. Começa com um quadro que copia outro de Ai seu Melo! Cabral desce da estátua e vem palestrar com a canalha. Merecem destaques as apoteoses e que as explicam. Sobressaíram Cândida, Ítala, Nair, Asdrúbal e Figueiredo. (MN, volume 2, pag. 66).

A 7 de abril o Teatro São José começou a levar à cena, em dois atos, 10 quadros e duas apoteoses, Canalhas das Ruas, de uma nova dupla de autores que vinha com muita garra concorrer com os melhores do gênero, Marques Porto e Ari Pavão. A peça tinha música de Paulino

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Sacramento e Bernardino Vivas; o título repetia, de caçoada, uma frase irritada do presidente Bernardes a propósito do povo a quem não tolerava e a quem pouco ligava – segundo se propalava; o tema seguia os moldes tradicionais. Pedro Álvares Cabral, descobridor do Brasil, descia da estátua da qual descansava no largo da Glória, no Rio, e vinha conversar com o poviléu, a “canalha das ruas” no dizer da burguesia. Espantava-se com o estado de degradação a que chegara a Terra de Vera Cruz desde 1500. A crítica do Correio da Manhã considerou a revista “fraquinha”, mas o público prestigiou-a durante quatro semanas. Pelos padrões então vigentes, traduzia êxito moderado, despesas pagas, lucro. Brilhava o elenco da casa com Alfredo Silva, Asdrúbal Miranda, J. Figueiredo, Elisa Campos, Antonieta Olga, Irene do Nascimento, Emília de Sousa, Isaura Pereira, Henriqueta Brieba, Luísa Faria, João Matos, Ernesto Begonha, Pedro Dias, Franklin de Almeida, Tobias Rodrigues, Eduardo Viana, Cândida Leal, Ítala Ferreira, Nair Alves e seu irmão, Francisco Alves, cantando modinhas e representando dois papéis de malandro, nos quadros “Charada” e “Zuzu”. Direção de Isidoro Nunes, regência musical de Bento Mossurunga, cenários de Lazary e J. Silva, figurinos de Pautília de Azevedo. (SCP, pag. 222 - 223).

Revista em 2 atos, 6 quadros e 2 apoteoses de A. J. Marques Porto e Ari Pavão.Música dos maestros Paulino Sacramento e B. Vivas.Representada pela 1ª vez na noite de 7 de abril de 1922 no Teatro São José, Empresa Paschoal Segreto, no Rio de Janeiro em 1922. (O Percevejo, editado por Tânia Brandão, pag, 131)Nota: No livro O Percevejo, editado por Tânia Brandão, da página 131 a 163, iremos encontrar o texto da revista Canalhas das Ruas, que futuramente será trazido para cá em forma de anexo.

1923

... “A Otília Amorim entremeava burletas e revistas... Sucessos foram também...e Cabocla Bonita, Marques Porto e Ari Pavão, mais de 50 reapresentações.

Outras revistas assistidas com agrado: ...A Botica do Anacleto, Marques Porto, 28 dias;...e Minha Terra tem Palmeiras, Marques Porto e Afonso de

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Carvalho. Encerraram o ano com Penas de Pavão, revista, grande sucesso também, esses mesmos autores.” (MN, volume 2, pag. 74).

Nesse ano regressa da Europa, para onde fora em 1921, a serviço do Ministério de Viação e Obras Públicas, do qual era funcionário, o revistógrafo Luiz Peixoto. Volta cheio de idéias de renovação. Uma delas: eliminar, por obsoleto, o velho esquema de partir de um determinado incidente celestial para passar em revista os acontecimentos da cidade ou do país. Outra: abrir espaço para substituir o sublinhamento musical de ritmos ultrapassados pela utilização intensa de ritmos do dia, especialmente os das composições populares brasileiras. (SCP, pag. 226)

CABLOCA BONITA ( 11/05/1923)Cia. Otília Amorim – Teatro RecreioBurleta de Marques Porto e Ari PavãoMúsica: Assis Pacheco

Enredo interessante e bonita música. Deve demorar-se no cartaz. Passa-se em uma fazenda, em dia de festa pela chegada do dia do proprietário, que se faz acompanhar de um amigo. Tomam os rapazes, estudantes, parte em desafios ao violão, mas são derrotados por um caboclo que possui estro poético e amor à terra. Casa-se este com a disputada cabocla bonita e o rapaz amigo com a filha do fazendeiro. José Loureiro, no professor Terêncio, e João Martins, no moleque Zacarias, fizeram rir o público; e Otília foi aplaudidíssima, assim como os dois autores, chamados à cena.

Em 1 de junho: Festejando a 50ª apresentação, ofereceu a Empresa aos autores, aos artistas e à imprensa um chá, à tarde, no Revista. (NM, volume 2, pag. 99)

A BOTICA DO ANACLETO (12/07/1923)Cia Otília Amorim – Teatro RecreioBurleta de Marques PortoMúsica: Assis Pacheco

Estreou Augusto Aníbal; teatro cheio, grande animação. Série de episódios burlescos, explorados com graça que os intérpretes avivaram;

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principais, Aníbal, dono de botequim, e Otília, na filha, além de João Martins e José Loureiro. MN, volume 2, pag. 99).

MINHA TERRA TEM PALMEIRAS (13/11/1923)Cia Otília Amorim – Teatro RecreioBurleta de Marques Porto e Afonso de Carvalho

Foi reforçado o elenco com Júlia Martins, há muito ausente do palco, intérprete da trova nacional; J. Figueiredo; Ernesto Cardoso e J. Mafra; 8 dias. (MN, volume 2, pag. 99)

PENAS DE PAVÃO (20/12/1923) Cia Otília Amorim – Teatro Recreio Marques Porto e Afonso de CarvalhoMúsica: Sá Pereira

Como texto, encenação, e interpretação atestam o progresso que o gênero teatral atingiu entre nós. São inúmeros os quadros de agrado certo como a paródia ao Pretório do Mártir do Calvário charge política espirituosa, em verso, sendo principais figuras João Martins e J. Figueiredo. Otília, na melhor época de sua carreira, é atriz completa, representa, canta e dança, agradando plenamente. Muitos são os números de sucesso e a representação correu entre aplausos gerais. (MN, volume 2, pag. 99)

A renovação e a revolução continuaram o Recreio estreou, a 20 de dezembro, Penas de Pavão, de Marques Porto e Afonso de Carvalho, música de Sá Pereira. Em termos de texto, encenação e interpretação atesta o progresso que o gênero atingira, segundo a crítica abalizada. Otília Amorim, aos 29 anos, na melhor fase de sua carreira, representava, cantava e dançava como estrela absoluta e popular coadjuvada por J. Loureiro, J. Figueiredo, João Martins, Manoela Mateus, Cândida Palácios, J. Matos, Judith Vargas, Maria Matos, Júlia Martins, Adelaide Santos, Diola Silva, Maria Vidal, Cleontino Gonçalves, Júlia de Abreu, Irene Nascimento, César Marcondes, Agostinho de Souza, Ernesto Cardoso, Pascoal Américo, e Eduardo Ferreira. Penas de Pavão cumpriu mais de 100 representações. E seria reprisada em maio de 1924. (SCP, pag. 232 - 233).

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(...) Em 1923, Penas de pavão, de Marques Porto e Afonso de Carvalho, estreada no Recreio em 20 de dezembro, parodiava a Ba-ta-clan em uma cena em que o guarda do Passeio Público, que também é ensaiador de uma “tropa” teatral (como ele chama sua trupe), conversando com a personagem do autor, resolve apresentá-lo ao seu “Batacran nacioná” e não perde tempo em perguntar-lhe se, sendo um autor, não poderia escrever-lhe a peça de estréia. O Guarda faz entrar seus atores, que não usam galicismos, e apresenta Dargisa, “a Pistinguette nacioná” e Ophrasio, “tenô dramático e marítimo nas hora vaga”. Os dois, então, cantam, dando uma mostra de sua “beleza geográfica”:

DARGISA – Eis o Bata-cranQue não tem rivalCom a gente é ali no maxixeViva o Brasil e o carnavalOPHRASIO – Somos os artistasNão levem a malVejam a melhor companhiaDo bam-bam-bam que é nacionalTODOS – Quem quiser vencerNo meio teatralFaça revistas com chanchadaDe-lhe maxixe e carnaval (1923: 13)

E depois saem, cantando e dançando. A cena é significativa, pois mostra como a influência estrangeira foi, não apenas copiada, mas também usada para valorizar aspectos nacionais, incorporando o elemento estrangeiro através da brincadeira e da paródia. Ainda na mesma revista, faz-se uma referência à companhia espanhola, em um quadro em que o Autor e a Comére estão sendo apresentados às novidades para uma revista e Manuel, português, dono de uma loja de penhores, diz que, depois da Velasco, a novidade agora é “manton de manilha”, provavelmente uma referência à mantilha – um traje típico espanhol, trazido pela Velasco. O autor comenta que é um capricho da moda – “a saída do Municipal assemelha-se a uma praça de touros...” (Estudo – Pernas à Ba-ta-clan: A influência das companhias estrangeiras na cena revisteira dos anos 20 – Ana Bevilaqua – Livro: O Percevejo, editado por Tânia Brandão, UNIRIO, 2004, pag. 251-253)

1924

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“Na Companhia do São José... Secos e Molhados de Marques Porto e Luiz Peixoto ficou um mês e meio em cartaz.

O grande sucesso do ano foi A La Garçonne , no Recreio, de Marques Porto e Afonso de Carvalho, com Margarida Max, 4 meses, quase 300 reapresentações. ”(MN, volume 2, pag. 104 ).

Margarida Max

Foi no teatro de revista a interessante novidade do ano. Atriz já conhecida do público que a aplaudida nos últimos tempos, na comédia, a maneira por que se apresentou no gênero ligeiro, valeu por uma verdadeira revelação, de tal maneira se impôs aos aplausos gerais por sua graciosidade, seu ar risonho, elegância natural e picante malícia.

Motivo poderoso do sucesso alcançado pela revista de Afonso de Carvalho e Marques Porto, À La Garçonne, que conta mais de 200 representações, Margarida Max alcançou já o prêmio merecidíssimo e valioso da popularidade.

A festa teatral em sua homenagem, realizada no Recreio a 4 de setembro, teve o aspecto de definitiva consagração.” MN, volume 2, pag. 114).

Ao iniciar-se 1924 continuavam em cena Penas de Pavão e Sonho de Ópio... (SCP, pg.234)

À LA GARÇONNE (30/05/1924) (05/05/1924)

Empresa Rangel & CiaMarques Porto e Afonso de CarvalhoMúsica: Sá Pereira

Atordoantes as palmas e o riso do público, início auspicioso de nova fase da companhia organizada por Rangel & Cia e cuja direção foi, em boa hora, entregue a Francisco Marzulo. Urdida à moderna, aproveita assuntos em foco, através de comentários amáveis ou mordazes, fazendo rir ou deliciando. Faltou-lhe brilho de guarda-roupa e corpo de coros mais elegante e certo, em suas marcações e evoluções. Interessantes os quadros Antes do Tempo, Teatro por dentro, Cenas de

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bastidores; o Bombeiro feito por José Loureiro; Sol indiscreto, por Manoela Mateus, deliciosa banhista; Uso da sobrinha, Margarida Marques num galanteador e Maria Matos, graciosa; Bahia Futurista, Margarida, numa baiana também notável no número dos cabelos cortados; Família a prestação, Edmundo Maia, turco verdadeiro; Dentro da Noite, quadro apache; Jazz-band e Arlequinada, Margarida Max, se já não se impusera como tal teria, desde ontem, direito a ser nomeada como uma das nossas estrelas de revista. É graciosa, sua fisionomia risonha capta as simpatias da platéia, canta fazendo-se entender. Música toda muito bonita, sendo vários números bisados. Até 30 de setembro, quase 300 reapresentações! (MN, volume 2, pag. 136/7).

Aconteceram remontagens: Penas de Pavão, Sonho de Ópio (de 27 de maio a 5 de junho) e a 5 de maio estreou no Recreio À la Garçonne, de Marques Porto e Afonso de Carvalho, música de Pedro Sá Pereira. Foi a seqüência natural da revolução de forma e conteúdo que a revista estava sofrendo. Se Alô!... Quem Fala?, graças à direção de Luiz Peixoto e Isidro Nunes, ampliava o desfile de mulheres lindas (vestidas e bem despidas) em atitudes elegantes, movimentos certos e harmoniosos, À la Garçonne apresentava uma urdidura moderna aproveitando assuntos da atualidade através de comentários ora amáveis, complacentes, ora mordazes, implacáveis, deliciando e fazendo rir à socapa ou abertamente. O sucesso absoluto garantiu-lhe o apoio unânime de toda a crítica e de um público que lhe assegurou mais de 300 reapresentações ininterruptas, em quatro meses, o posto de maior revista do ano e de uma das 10 maiores de todos os tempos. Havia um elencaço a defendê-la: Margarida Max – que fizera, anos antes, pequena incursão no gênero – bonita, vistosa, cheia de talento, juventude, disposição e enorme força interior, e viria a ser a maior das vedetas do gênero -, bonita, vistosa, cheia de talento, juventude, disposição e enorme força interior, e viria a ser a maior das vedetas do gênero. Esta paulista de descendência italiana ganhara renome na comédia e, graças aos seus dotes vocais e uma estranha inclinação “elitista” equivocada, encerraria a carreira como soprano de operetas – como se a opereta, seu sonho de toda vida, fosse superior à revista. Em 1924, Margarida iniciava uma carreira de estrelíssima da revista, desbancando do trono sua colega Otília Amorim – a quem ajudaria, na decadência – e resistindo à concorrência de Antônia Denegri, Eva Stachino, Lia Binatti, Zaíra Cavalvanti e Aracy Cortes que, por fim, a desalojaria sem atingir o seu status de grande dama do gênero, sua classe de estrela autêntica, que jamais seria igualada...Em À la Garçonne Margarida iniciava um decênio de reinado glorioso e

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inimitável. A música da revista era de Sá Pereira; a direção, de Francisco Marzulo; a regência orquestral de Antônio Lago; a coreografia de Gus Brown; a cenografia de Lazary, Públio Marroig, Raul de Castro, Marco Tullio; os figurinos de Alberto Lima. E com Margarida representavam Ester Lutin, Luísa Fonseca, Diola Silva, Téo Dora, Antonieta Fonseca, Isaura Pereira, Henrique Chaves, Francisco Correia, J. Figueiredo, Balbina Milano, Agostinho de Souza, José Loureiro, Orlando Nogueira, Pascoal Américo, Edmundo Maia, Domingo Terras, Claudionor Passos, Manoela Mateus, Júlia de Abreu, Maria Matos, Judith Vargas, Renée Bell, João Martins, Lídia Reis e Lola Guiner.

Qual a gênese da revista de Marques Porto e Afonso de Carvalho?A melhor explicação histórica é a de Edigar de Alencar:

O aparecimento escandaloso do romance La garçonne (1922), de Victor Margueritte, que logo esgotou sucessivas edições na França e se espalhou por todo o mundo, repercutiu com intensidade no Brasil, no ano seguinte, quando foi lançada a edição brasileira sob o título A emancipada e como sub-título o título original. Começaram a surgir coisas com o nome la garçonne, inclusive os cabelos femininos aparados na altura da nuca – grande escândalo na época.

Aliás, à la garçonne ou à la homme, como ainda se dizia na infância do autor deste livro, nos anos 30, foi moda de corte de ida e volta: esteve em voga de novo nos anos 60 e nos anos 80. O compositor Pedro de Sá Pereira e o letrista Américo F. Guimarães comentaram o fato no carnaval de 1925 (lançado na revista de 1924), através da marchinha “Tudo à la garçonne”, que Margarida Max e todas as coristas submetidas aos cabeleireiros implacáveis, por ordem da produção, de tesoura e máquina zero à mão, cantavam com estrondosa repercussão, e que foi gravada pela cantora Zaíra de Oliveira, em 1924 mesmo, em disco Odeon 122.768:

Hoje no Rio o que está na moda,E o que se usa com perfeiçãoQualquer menina de alta rodaFaz um mocinho andar na contramão.

Cabelos curtos, bem aparadosLindos cangotes nos deixam ver, Tão sedutores e tão perfumados

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Que aos gabirus fazem padecer.

À la garçonneÉ a tal moda de sensaçãoÀ la garçonneLá na Avenida é a toda mão!

A revista “abafou a banca”, como se dizia na gíria da época.

Muitas e muitas moças haviam aderido com entusiasmo a essa moda, pondo abaixo enormes cabeleiras, arejando de todos os modos as cabecinhas, de acordo com os novos rumos do tempo e com a temperatura elevada do verão carioca. (R. Ruiz)

Além das 300 reapresentações originais, À la Garçonne, a revista, provocou um remonte a 14 de outubro que se estendeu a 5 de novembro – ou seja, mais 30 reapresentações, aproximadamente...

O que disse a crítica na ocasião do lançamento de À la Garçonne? Declarou-a “leve, engraçada, brejeira, sem quadros fatigantes”. Disse que a revista era “urdida à moderna, aproveitando assuntos em foco através de comentários ora amáveis ora mordazes”. Exaltava a classe e a elegância de Margarida Max, a vivacidade de Manoela Mateus, “estrelíssima” graças à sua natural simpatia. Mencionava as interpretações positivas de João Martins, José Loureiro e Edmundo Maia nos quadros de crítica de costumes, e chamava a atenção para o quadro apoteótico que traía a gritante influência da Ba-ta-clan francesa.

Em junho, a despeito do êxito insuperável de À la Garçonne, uma revista de Manoel White e Rubem Gill, Não te Esqueças de Mim, ocupou o palco do Teatro São José a partir do sai 6. Talvez pela música de Alfredo da Rocha Viana Jr., o Pixinguinha, ou dos esforços do ator Alfredo Silva mais o mesmo elenco que o teatro vinha mantendo em 1924 – inclusive, entre as coristas, Aracy Cortes, sem destaque (antes ou depois de adoecer, detalhe que escapou ao seu biógrafo, Roberto Ruiz) e o professor Duque, com as “sombras diabólicas”, o espetáculo ficou em cena até 3 de julho. Mas À la Garçonne é o que eletrizava a cidade e o país; o quadro “Sol indiscreto”, brincava com a distração de uma banhista de praia que despia o busto, e Manoela Mateus foi a heroína da proeza. A 30 de setembro, a revista arribou do Recreio para outras plagas (SCP, pag. 238-242)

Personagens Masculinos: 12   Feminino: 12 Sinopse: Música de Sá Pereira. O título parece ter vindo do livro "La

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Garçonne" , de Victor Marguerite, que causou escândalo inclusive no Brasil, traduzido com o título de "A Emancipada". A partir daí surgiram várias coisas com o nome "la garçonne" , inclusive os cabelos femininos cortados curtos, à maneira masculina. O que daria origem a complacentes ou mordazes comentários dos autores nos quadros de revista.(Catálogo da Dramaturgia Brasileira – Maria Helena Kühner)http://www.kuhner.com.br/catalogo/pecas_autor.php?autor=2193&f=999&m=999&g=0

SECOS E MOLHADOS (4/11/1924) (13/10/1924) (13/11/1924) 100 apresentações

Cia de Burletas e Revistas do São JoséLuiz Peixoto e Marques PortoMúsica: Assis Pacheco

Figuras novas no elenco, Manuela Mateus e Grijó Sobrinho; Ensaiador, Martins Veiga. A primeira qualidade é a vivacidade, sucedendo-se com presteza as cenas engraçadas, as bonitas fantasias; cenários, às vezes, extravagantes, pintados por mão de mestre. Entre os melhores estão Budhas, quadro oriental. Beijos de Rouge, delicadamente picante; Bicho sofredô Gran- guignol; Espelhos; Maravilhosas sobre fundo negro. Jazz-band, Modinha e o Fado; Botafogo, crítica à alta sociedade carioca e outras. Música com felicidade. Guarda-roupa, originais obras primas de Luiz Peixoto. Melhores intérpretes: Manoela Mateus, elegante, bonita, e afinada, voz quente; à cançoneta Parece que lhe falta qualquer coisa deu brejeira intenção, sendo em tudo muito aplaudida; Araci, Mulata, Sapateadora, etc; Grijó Sobrinho agradou e vencido o primeiro contato que teve com o público carioca, muito melhorará; Pepita, figura jovial, que tudo valoriza. Atuação eficiente de Alfredo Silva, Denegri, Nair, Célia, Luiza. (MN, volume 2, pag. 135).

Marques Porto e Luiz PeixotoEstréia: Teatro São José, 13 de outubro.A música Leão da noite é apresentada no primeiro ato, por Francisco Alves. Guarda-roupa do próprio Luiz. Alcançou mais de 100 representações.Música: Assis PachecoEnsaiador: Martins VeigaElenco: Alfredo Silva, Antônia Denegri, Aracy Cortes, Célia Zenatti, Grijó Sobrinho, Luiza Fonseca, Manoela Mateus, Nair Alves, Pepita Abreu. (LE&LFV, pag. 153).

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Em novembro mesmo, a 13, entrou em cartaz no São José o último êxito de 1924, a revista Secos e Molhados, de Luiz Peixoto e Marques Porto, música de Assis Pacheco (original e arranjada), o maestro que Roberto Ruiz chama, com propriedade, de “torrencial”. Martins Veiga ensaia o elenco da casa, com Grijó Sobrinho e Manoela Mateus, mais os donos habituais do espaço, Alfredo Silva, Pepita de Abreu, Antônia Denegri, Aracy Cortes, Nair Alves, Luísa Fonseca, Célia Zenatti etc. Aracy, em um dos bons momentos, sapateava, moda obrigatória em todos os números de atrações estrangeiras, principalmente após o advento dos filmes sonoros americanos (1927). (SCP, pag. 244)

1925

...“As que se impuseram: extraordinário o surto de Margarida Max que em A Mulata ascendeu definitivamente ao estrelato”...(MN, volume2, pag 142).

...O valor das revistas pode ser medido pelo tempo de sua permanência no cartaz, mas interfere soberanamente para o efeito, o préstimo do elenco e a popularidade das primeiras figuras.

...No teatro popular, Manoel Pinto toma a dianteira. São grandes sucessos, Comida Meu Santo... Marques Porto- Ari Pavão, três meses, com Margarida Max;...e a Mulata, Marques Porto, 47 dias.

As melhores do São José: A Mão na Roda, Marques Porto e Ari Pavão; e Verde e Amarelo, Patrocínio Filho e Ari Pavão,ambas quase 2 meses.” (MN, volume 2, pag. 142/3).

A temporada do teatro-revista de 1925 passa pelo crivo da crítica como a da consolidação das novas formas que vinham sendo experimentadas desde 1922. É a fase em que as mulheres, as grandes estrelas, superam em valor comercial, em objeto de marketing direto, os atores bufos, os astros da farsa. Não se vai mais às revistas principalmente para rir por causa do texto e da mímica, como acontecia no tempo de Correia Vasques, Machado Careca ou Brandão-o-Popularíssimo; vai-se ver a beleza, a sensualidade e o desembaraço corporal de Otília, Margarida, Manoela, Aracy, as duas Antônias, e ouvir-lhes as vozes, nem sempre

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maviosas, em cantigas brejeiras, melodias harmônicas e agradáveis, letras maliciosas. (SCP, pag. 245)

ENTRA NO CORDÃO - (01/02/1925) Cia. Rangel Júnior, da Empresa Pinto Neves - Teatro RecreioMarques Porto e Otávio QuintilianoMúsica: Júlio Cristóbal

Nem revista, nem burleta, uma moxinifada calcada na vida atribulada de duas sociedades carnavalescas, carnaval de bairro pobre que dói de tão falho de espírito, de roupa e de brilho. (MN, volume 2, pag. 181).

A MULATA (19/03/1925)Cia. Margarida Max (a companhia passa a chamar-se Margarida Max por haver essa atriz ingressado no seu elenco) – Empresa Manoel Pinto.Marques PortoMúsica: Júlio Cristóbal

Marques Porto impõe-se como o revistógrafo do momento. Há um pouco de tudo nesta: cenas sentimentais, típicas, pitorescas; críticas, cômicas e de fantasia; e belíssimas apoteoses, tudo de ritmo trepidante, avivado pela hilaridade que consegue o autor despertar, jogando com tipos clássicos desse gênero de teatro, a mulata, o português, o chauffeur, o mordedor, a saloia, o funcionário de ínfima categoria, todos, aliás, bem interpretados. A destacar: o espetáculo começou e terminou à hora e os papeis sabidos e ensaiados! Outros atrativos!, marcação original e viva, evoluções certas, prova da de eficiência de João de Deus e partitura alegre de Júlio Cristóbal.

Margarida apresentou tipo de mulata, algo diferente do clássico, alegre, simpática, dizendo com graça, maneiras insinuantes e atraentes, impondo-se cada vez mais. Bem, Adriana; Martinelli, graciosa, viva esperança; Brieba, uma das favoritas do público; Luiza Fonseca e Mara Ruiz. João de Deus, esplêndido tipo pernóstico. (MN, volume 2, pag. 181).

Margarida Max reinava. Ou a rainha era Otília Amorim? O confronto não tardaria. Antes de representar Gigolette, a trupe de Margarida ficara 47

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dias em cena no Recreio com a revista Mulata, de Marques Porto, peça trepidante contando com a partitura alegre de Júlio Cristóbal, que estreara a 19 de março e saíra a 6 de maio. (SCP, pag. 247)

COMIDAS, MEU SANTO! (04/06/1925)Cia Margarida Max – Empresa Manoel PintoMarques Porto e Ari Pavão Luiz Peixoto e Marques PortoMúsica: Júlio Cristóbal e Sá Pereira

Agrado certo e real, o texto e a brilhante e luxuosa montagem que recebeu: cortinas artísticas de Collomb, Manton de manilha e cenas de Bangalow e Reabilitação de Pierrot; e Pagode japonês, apoteose notável de Jaime Silva; guarda-roupa de Alberto Lima. Muito bom o prólogo, paródia do Pagliaci; Plumas e Rosa chá, delicadas fantasias. Tinturaria Relâmpago, ruidosa hilaridade; Rádio-mania, bem apresentado; Bangalow, cena lírica de amantes ao luar; e Gatos no telhado, fino humor, cantado com alma, como Reabilitação de Pierrot; terminando em sátira; Se não me agacho, novidade, grand-guignol; Praça dos caboclos, para rir, maquinada a estátua. Música viva e alegre. Margarida não se desagrada em um só dos seus seis papéis: sua voz se comporta bem e a fisionomia interpreta com malícia o sentido da letra. “Alexandrina, a mulata, está nas suas cordas o que não acontecerá com a Louca, em que evidencia qualidades de atriz dramática, dignas de aplausos. Pode vangloriar-se de haver subido mais um degrau da escada que vai levando a uma justa popularidade”. A parte cômica bem defendida por Henrique Chaves, João Martins, diferente, João de Deus que se varia e Luiza Del Vale ultracaricata. Encanto dos olhos e dos ouvidos, Wanda e Ivette, esta linda nas Plumas e Arlequim. Vilmar cantou magnificamente. Censura mais moderada; (dia) 26, 50ª apresentação; continuou em julho e agosto. (MN, volume2, pag. 181).

Luiz Peixoto e Marques PortoEstréia: Teatro Recreio, 4 de junho. Em Março de 1927, no Teatro República.Música: Júlio Cristóbal e Pedro Sá PereiraCenografia: Hipólito Collomb (LE&LFV, pag. 153)

A prova da popularidade e do talento [de Margarida Max] chegou – confirmando o que À la Garçonne, no ano anterior, desenhara – com a

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montagem de Comidas, Meu Santo!..., um prólogo, dois atos e 25 quadros de Marques Porto e Ari Pavão, música de Júlio Cristóbal e Sá Pereira. Tratava-se de uma prova de fogo: uma revista escrita por uma dupla de jovens atualizados, grande poder de observação, humorismo bem elaborado, malícia sem grosseria. O título da revista remetia a várias conotações: as de ordem sexual, uma de ordem litúrgica dos candomblés afro-brasileiros, outra de ordem gastronômica pura e simplesmente, enfim um verdadeiro achado. O elenco reunia o que de melhor existia no gênero, entre artistas experientes e coristas novas e de boa aparência. Lá estavam Margarida Max, Mesquitinha, J. Figueiredo, Henrique Chaves, João Martins, Luiza Del Valle, João de Deus, Henriqueta Brieba, Roberto Vilmar, Domingos Terras, Claudionor Passos, Ivete Rosolen, Edmundo Maia, Luísa Fonseca, J. Matos, Guy Martinelli, Clarisse Costa, Wanda Rooms e Rosa Sandrini. A revista estreou no Recreio a 4 de junho e seguiu, sem interrupções, até 2 de setembro, isto é, três meses batidos em cartaz, ultrapassando bem o centenário. E, coisa rara, foi elogiada unanimemente pela crítica militante nos jornais Correio da Manhã, Jornal do Brasil, O País, A Pátria, Jornal do Commercio, A Vanguarda, A Noite e O Imparcial. Acharam o texto ótimo e ótimas as interpretações, especial menção feita a Margarida em seis papéis nos quais a voz e a expressão facial se combinavam para exprimir com riqueza de matizes o sentido malicioso dos diálogos e das letras das canções. Destacavam-se-lhes essas qualidades em “Radiomania”, sátira aos ouvintes da radiofonia em seus primórdios, com os ruídos da estática que os primeiros receptores de rádio de válvula não conseguiam impedir, as programações precárias de quartos de hora musicais, as teatralizações primevas que permitiam interpretações dúbias, a voz alambicada dos locutores. Havia referências entusiásticas à maior parte dos quadros. Por exemplo: “Estrela e coronéis”, “Rosa-chá”, “Dueto de gatos”, “Escalando o éter”, “Chapéu de jornais”, “Monóculo”, “Licores”, “Comidas finas”. Consideravam “Tinturaria Relâmpago” de “ruidosa hilariante”; um quadro no qual a reabilitação de Pierrô termina ironicamente: o lirismo de “Bangalô”, com dois amantes ao luar; uma paródia de I Pagliacci. As coplas de “Radiomania” eram altamente maliciosas:

Suspira, nega, suspiraVai muito por meu conselhoSuspira, nega, suspiraAi!Suspira, bem na boca do aparelho

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Este número foi gravado pelo cantor Fernando com a Jazz-Band Sulamericana de Romeu Silva em disco Odeon 122.919, em 1926, figurando na etiqueta como “Suspira”, maxixe de Sá Pereira.

Porém, o número musical mais importante dessa revista extraordinária, por acaso também gravado pelo cantor Fernando, disco Odeon 122.944, era uma modinha do mesmo talentoso maestro Sá Pereira, intitulada “Chuá-chuá”, cantada no palco em dueto. Pelo lirismo, a brasilidade, a melodia bem elaborada e versos que encantaram duas ou três gerações, vale a pena transcrevê-la:

Deixa a cidade formosa morena,Linda pequena,E volta ao sertãoBeber a água da fonte que cantaQue se levantaNo meio do chão.Se tu nasceste, cabrocha cheirosaCheirando a rosa do peito da terra,Volta pra vida serena da roçaDaquela palhoçaDo alto da serra.

A lua branca de luz prateadaFaz a jornada,No alto dos céusComo se fosse uma sombra altaneiraDa cachoeira,Fazendo escarcéus.Quando a luz lá na altura distanteLoira ofeganteNo poente a cairDá-me essa trova que o pinho descerraQue eu volto pra serraQue eu quero partir.

E a fonte a cantáChuá, chuáE a água a corrêChuê, chuê.Parece que alguémQue cheio de mágoaDeixasse quem há-de

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Dizer a saudadeNo meio das águaRolando também.

E, diziam os jornais, a cenografia de Hipólito Collomb (como ele adotara) primava pelo luxo. (SCP, pag. 247- 250)

Personagens Masculinos: 11   Femininos: 8 Sinopse: Música de Sá Pereira e Júlio Cristóbal. O título abre a diferentes interpretações, de ordem sexual, de ordem gastronômica e de ordem litúrgica, ligada aos candomblés afro-brasileiros. Nos diálogos e canções uma bem-humorada crítica a fatos, situações e tipos do momento, como a radiomania, que colava ouvintes a um rádio ainda prejudicado pelos ruídos da estática, com programações precárias e locutores de voz artificialmente empostada. Na parte musical, uma modinha de Sá Pereira, "Chuá-chuá", tornar-se-ia sucesso perene na música popular: "E a fonte a cantar/ chuá,chuá/ e a água a correr/ chuê/ chuê/ parece alguém/ que cheio de mágoa/ deixasse quem há / de dizer a saudade/ no meio das águas/ rolando também..."(Catálogo da Dramaturgia Brasileira – Maria Helena Kühner)http://www.kuhner.com.br/catalogo/pecas_autor.php?autor=2193&f=999&m=999&g=0

Quando o crítico Mário Nunes, de grande prestígio entre os seus colegas, disse em sua coluna Palcos e Salões, no dia 15 de junho de 1925: “Não há quem se conserve sério na platéia do Recreio, estando em cena a Dona Chincha”, tal afirmativa importava num merecido elogio. Afirmativa que o crítico referendava ao concluir: “É ela a atriz Sra. Luiza Del Valle, uma das melhores caricatas de nosso teatro ligeiro”.Esse louvor que ele consignara à atriz por sua interpretação na revista Comidas, meu santo!, de Marques Porto e Ary Pavão, estreada dias antes no desaparecido teatro da rua Pedro I – cujos empresários eram Manoel Torregianni Pinto e Antonio Neves – teve plena confirmação, pois a personagem Dona Chincha resultou no apelido pelo qual a atriz Del Valle viria a ficar sem conhecida. (...)(...) Permanecendo em cena por muito tempo, o que lhe permitiu somar mais de “150 representações” e ter levado “700.000 pessoas” a assisti-la (no informe da publicidade), a revista Comidas, meu santo! confirmou, a par do triunfo da Del Valle, que, verdadeiramente, seus autores, Marques Porto e Ary Pavão, constituíam de fato uma “vitoriosa parceria”, tal como constava nos anúncios. (...)

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(‘Dona Chincha’ Assegurou a Popularidade da Atriz Del Valle, do livro Meninos, Eu Vi, de Jota Efegê, Ed. MEC/FUNARTE, 1985, pag. 127, 128)

MÃO NA RODA (25/09/1925) 50 apresentações

Cia de Burletas e Revistas do São José – Empresa Pascoal SegretoMarques Porto e Ari PavãoMúsica: Julio Cristóbal e Sá Pereira

Um pouco de tudo, movimento, luz e cor, feitio popular, desabalado emprego de termos da gíria e picantes insinuações. Montagem brilhante: o guarda-roupa de Alberto Lima, desenhado a capricho, encanta. Quadros de maior sucesso: Jardim Redondo, Pinto filho e José Loureiro; Assim é tão gostoso, cena de cinema, em que Mariska apresenta a moda do guizo; Flor da sarjeta, grand-guignol; Poste de parada, original cenário; Lavagem da honra, Maricota apaga a luz, o mais interessante pela novidade e malícia, Otília; Mlle. Roxura, Denegri; e final cinematográfico notável. (MN, Volume 2, pag.180).

Otília Amorim lança a 25 de setembro, no São José, Mão na Roda, de Marques Porto e Ari Pavão, música de Júlio Cristóbal e Sá Pereira. Lá estão no palco Pinto Filho, Antônia Denegri, J. Loureiro, Nair Alves, Marisca, a tribo inteira. Uma revista de feitio popular, cheia de movimento, luz, cor, bom humor. E um belo quadro de nu artístico. O comparecimento do público é maciço e a peça fica em cartaz até 17 de novembro, quase dois meses de lotações esgotadas. Um velho rábula da Justiça, negro velho sempre vestido de casaca e cartola, mesmo mos dias mais quentes do verão carioca, a figura popular nas ruas do Rio de Janeiro, por quase três décadas, o Doutor Jacarandá (Manoel Vicente Alves), virara burleta, convida e vai ao teatro, a 9 de outubro, lançar, em cena aberta, sua plataforma política. Esta é uma das atrações extras do espetáculo. Outra é a comemoração do centenário; e há mais uma sessão de gala, comemorativa das 150 apresentações. A realeza parece pender para Otília Amorim. (SCP, pag. 251)

1926

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...“A produção de revistas foi copiosa. Sucesso vário e relativo.

...Mais de cinqüenta (apresentações):

...Pirão de Areia, Marques Porto, (São José) remodelada.

Outras:

...Marques Porto: Chanchada, (São José) e com Luiz Peixoto, Prestes a Chegar (Recreio).”(MN, volume 3, pag. 3).

Egressa da comédia, Margarida Max triunfou rapidamente na revista. A vivacidade da nova estrela, sua beleza sedutora, sua voz de soprano, o desembaraço ante a platéia e a simpatia que logo obteve junto à crítica asseguraram-lhe um posto importante nos círculos teatrias. (SCP, pag. 255)

PIRÃO DE AREIA (07/04/1926)Cia de Burletas e Revistas do São JoséMarques PortoMúsica: Assis Pacheco e Júlio Cristóbal

Teve foros de verdadeiro acontecimento teatral de grande repercussão, a inauguração da nova fase do São José. Foi auspiciosa a estréia: registra belo e bem sucedido esforço. Elenco de primeiras figuras, feéricos efeitos de luz, guarda-roupa que se rivaliza com o da Velasco, original, rico e de bom gosto., e assim a mensagem suntuosa e artística de alta valia. Sucesso absoluto o da revista, aplausos incessantes. É muito interessante. Agradaram as artistas portuguesas. Dulce tem bonita figura; Maria de Lourdes Cabral, voz sonora e educada, dança com graça. Edith Falcão, a mais nova das nossas vedetas, sobressai cantando, articulando bem as palavras, bonita e graciosa: vai em rápida ascensão. Os compadres, Cesar Marcondes e Vitória Miranda, mantendo-se até o fim em linha de agrado. Antônia Denegri, provocante e flexível. Otília, o sucesso costumado. Alda Garrido faz sua primeira entrada em um número caipira, recebida com palmas e risadas durante vários minutos: merecidíssima sua popularidade. Artur de Oliveira, Luiza Del Valle, Grijó Sobrinho, Alfredo Silva, José Loureiro são os outros responsáveis pelas gostosas gargalhadas do público. Os melhores quadros são: Posto policial, Palácio da Câmara, Tragédia Árabe e No Hall... Fantasias deslumbrantes: a apoteose amarelo e ouro do primeiro

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ato, de Colomb, o cenário Crisântemo, com várias cortinas suas, a apoteose do segundo, feérica, Chave de ouro. O guarda-roupa, Manto da fantasia, Folha de Parra, Plumas (cores berrantes), afinal todo ele, é magnífico, deve-se a Alberto Lima. Digno de menção o belo fundo estilizado de Sertaneja, bela concepção e execução de Lazary. Números de grande êxito: Foxtrotada (Otília); Couplet (Cândida Rosa); Jazz-band (Alda); Java (Denegri); Ó Maria (Lourdes Cabral); Ascendinices, Rosa Negra e 8 black girls, o maior sucesso da noite por sua novidade. A música é toda viva e bonita; espetaculares o corpo de coros e o concurso coreográfico das bailarinas; 20, desligaram-se Alda e Américo Garrido. (MN, volume 3, pag. 44).

A revista [Café com Leite] atravessou março e, somente a 7 de abril, cedeu lugar a uma das campeãs do ano, Pirão de Areia, de Marques Porto, música de Assis Pacheco e Júlio Cristóbal. Embora na cabeça continuem Alfredo Silva e Otília Amorim, Pirão de Areia proporciona alterações substanciais no elenco do São José; entram Alda Garrido, uma jovem comediante extraordinária, e Rosa Negra para dançar com oito black-girls. O sucesso dos compadres César Marcondes e Vitória Miranda, da Denegri, do Silva, Luiza Del Valle, Loureiro e Grijó Sobrinho, é retumbante. O “pirão” fica em cena até 17 de maio. A crítica considerou feéricas as apoteoses, saídas dos croquis de H. Collomb, J. Silva, A. Lazary e Luís de Barros, que deixara a direção de cena da Tro-lo-lo e iria dirigir uma nova companhia, a Ra-ta-plan. (SCP, pag. 258)

CHANCHADA (08/07/1926)Cia Burletas e Revistas do São JoséMarques PortoMúsica: Assis Pacheco, Júlio Cristóbal e Sá Pereira

Nem é uma volta ao gênero popular antigo, como a reclame insiste em afirmar, nem é futurista, como pretende o autor, anunciando excentricidades: é igual às anteriores, até no prejuízo que causam os artistas ao seu êxito, por não se derem ao trabalho de decorarem seus papéis. A destacar Estrelices, crítica ironicamente entregue a três vedetas, Hortência, Maria de Lourdes e Edith; página de humorismo, Para Todos...dedicada a Álvaro Moreyra, Hortência e Denegri; Perfume, em que Maria de Lourdes canta a ária do 2º ato de Pagliacci e recebe grandes aplausos. Cristal, uma idéia nova, agradou; como os números Amor de estudante, Cavalgata e Pela fechadura. O maior sucesso é o

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das vedetas Hortência, que dá grande relevo a tudo que faz, seguida de perto por Denegri, que tem feitio próprio; Maria de Lurdes, que valoriza os papéis cantando e representando; e em outro plano, Edith. Aumenta o número de artistas cômico-excêntrico, pois muitos fazem rir, Luiza Del Valle, Arnaldo Coutinho, Grijó e Pascoal Américo, além de Alfredo Silva. (MN, volume 3, pag. 45).

... Chanchada, de Marques Porto, a 8 de julho (SCP, pag. 261)

PRESTES A CHEGAR (30/12/1926)Nacional de Revistas – Empresa Antônio Neves – Teatro Recreio (sem Margarida Max, que saiu por imposição das coristas após greve em 22, 23 e 24 de agosto).Marques Porto e Luiz PeixotoMúsica: Júlio Cristóbal e Sá Pereira

Elemento de êxito: a permissão de incluir quadros políticos, sistematicamente proibidos nos últimos tempos do governo Bernardes. Espírito e leveza; engraçados vários quadros, belos os de fantasia: A geladeira, Cai, cai, balão!, Bonecos, Pela culatra, Visão Oriental (este, Colomb); Presidente de paz, apoteose de luz e cor, Lazary; e vários outros. Lia agrada em tudo; Brieba se destaca sempre; Ivette Rosolen, linda e distinta; Luiza Fonseca, que imprime brilho ao que faz; Júlia de Abreu, commère; Lili Brenier, viva e ágil; J. Figueiredo, João Martins, mantêm da platéia; excelente a caracterização de João de Deus, no Homem-Ele. Figurinos e cenários de belo efeito. (MN, volume 3, pag.46)

Marques Porto e Luiz PeixotoEstréia: Teatro Recreio, de dezembro de 1926 até abril de 1927.Em dois atos e 28 quadros. Recebe aplauso da crítica, que elogiou o luxo e a pompa da revista. Crítica à nova moeda e ao governo, passando pelo candidato a presidente (Júlio Prestes), representante dos poderosos da época. O título, segundo alguns políticos liberais de esquerda, poderia muito bem fazer menção a outro Prestes, o Carlos, que fazia uma marcha pelos sertões e estava quase chegando ao Rio. Destaque para as canções “Paulista de Macaé e o quadro “O Cruzeiro”, fazendo chacota com a moeda nova prometida e não implantada por Washington Luís. Música: Júlio Cristóbal, Pedro Sá PereiraEnsaiador: João de Deus Elenco: Afonso Stuart, Albino Vidal, Álvaro Peres, Arthur Castro, Balbina Milano, Clarisse Costa, Claudionor Passos, Durvalina Duarte, Luísa Fonseca, J. Figueiredo, J. Matos, João de Deus, Júlia de Abreu, Lia Binatti,

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Maria Amélia, Oraíde Nogueira, tendo Henriqueta Brieba, João Martins e Ivete Rosolen como artistas principais. (LE&LFV, pag. 154)

Quase a se findar o ano, ela [Lia Binatti] – eleita estrela máxima da Empresa A. Neves, no Recreio – comandou o elenco de Prestes a Chegar... Esta revista de charges políticas em dois atos de 28 quadros, de Marques Porto e Luiz Peixoto, música de Júlio Cristóbal e Sá Pereira, foi recordista de permanência em cartaz, de dezembro de 1926 a abril de 1927, mais de 200 representações – e com o preço da poltrona aumentado para 5$000, cinco mil réis, uma fortuna! Registrou ainda a maior afluência do Recreio em trinta anos. Secundavam a Binatti as atrizes Luísa Fonseca, Júlia de Abreu, Maria Amélia, Henriqueta Brieba, Ivete Rosolen, Oraide Nogueira e Durvalina Duarte e os atores J. Matos, J. Figueiredo, João de Deus, Álvaro Peres, Albino Vidal, Oscar Cardona, Afonso Stuart e Artur de Castro. Duas composições do maestro Sá Pereira ampliaram a aceitação da revista de dois libretistas admiráveis. A primeira, “Paulista de Macaé”, era um samba amaxixado de elogio ao presidente Washington Luís, como, aliás, todo o espetáculo. O samba, pelos versos fáceis, conquistou o país e os carnavalescos de 1927:

Paulista de MacaéO homem de fato é, E no Palácio das ÁguiasCom o povo ele pôs o pé

Se a rua pisocom o sorrisoDemocrático‘Té me chamam de simpático,E chego a encabularIsso porque vivoTranqüilo e não me aflijo,E em vez da Ilha do RijoBusco o seio popular.

Na segunda, a bajulação cívica lembra a entronização recente do presidente José Sarney, quando do malfadado (e esperto) Plano de Estabilização Econômica ou Plano Cruzado, que apenas congelou e achatou salários e acelerou a recessão e o desemprego. O caso é que Washington prometera, ao tomar posse, lançar moeda nova, “moeda forte”, o Cruzeiro. Mas passou todo o quatriênio embromando a macacada até ser deposto por uma revolta de civis em aliança com a

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parte jovem das Forças Armadas, em 1930. A credulidade popular, naquela época como hoje, e sempre, funda-se no absurdo, é patética; o povo acredita(va) na mentira oficial da moeda que seria, literalmente, a salvação da lavoura e traria uma era de autonomia, riqueza e felicidade. Desembocou, é lógico, na dependência econômica do Brasil aos Estados Unidos, e nas ditaduras políticas de Vargas e dos militares. Mas em 1926 só havia fé, e ela está estampada nos versos cantados por Lia Binatti e coro no quadro “Cruzeiro”:

Agora, os estrangeirosNão encherão as sacasNa árvore da patacasE sim na dos cruzeiros!...

Dinheiro há em pencaNos cofres do Tesouro.Já não há mais encrencaAli abunda o ouro.E com tal abundânciaPode hoje o brasileiroMeter – que extravagância -O nariz no cruzeiro!...Com o nariz pra cimaNão é de admirarO povo vai viverDe ventas para o ar.E em tal posiçãoAlegre e prazenteiroEspia no canudoO ouro do Cruzeiro

A ironia dos versos de Luiz Peixoto passava despercebida; o Zé povinho levava a sério os propósitos do Governo com a mesma esperança beócia corrente no ano de 1986, quando da reinvenção do Cruzado...

Prestes a Chegar... parecia um título profético – não passava de erro de cálculo de autores e espectadores. O êxito, além da qualidade da revista, explicava-se por outras razões: referia-se, na ótica autoral, a Júlio Prestes, candidato oficial à Presidência, membro da oligarquia cafeeira que governava o Estado de São Paulo e era o herdeiro decidido de Washington Luís na suprema magistratura. Na ocasião, entretanto,

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políticos liberais da esquerda burguesa e boa parte da imprensa alardeavam os sucessos da marcha da Coluna de revoltosos militares, liderada por Luís Carlos Prestes, pelos sertões do Brasil, em busca de uma resposta para os problemas do latifúndio, da reforma agrária, da moralidade pública. Ou seja, todo o feixe “idealista” pequeno-burguês do qual “aquele“ Prestes representava o herói, o Cavaleiro da Esperança. O nobre Quixote longe estava de aderir ao marxismo, que nem conhecia (o que faria cinco anos depois); e sofria violento combate dos partidários oficiais do comunismo. Mas muita gente, insatisfeita com o situacionismo enganador, rezava preces e torcia pelo triunfo das forças rebeldes que lutavam no interior por objetivos mal traçados. E estes torcedores acreditavam que uma vitória daquela malta de guerrilheiros tão heterogênea e ideário insustentável, na qual repontavam do patridiota mais sincero até o mais velhaco dos patriarteiros, significaria a redenção nacional. Daí, a troca de sinalização: transformavam seus anseios na mensagem que a peça não continha. O próprio título nascera de uma manchete publicada na época pelo vespertino O Globo, anunciando, sensacionalisticamente, a aproximação da Coluna ao centro do Poder. Esta completa comédia de erros apenas comprava a criatividade dos autores faturando, na aparência do óbvio, e somente na aparência.

Ao contrário de como os fanáticos recebiam o recado, a revista revela-se legalista ao extremo e fechando, na apoteose final, seu compromisso chauvinista ao pôr em cena toda a companhia numa homenagem à Marinha, com as coristas trajando à maruja ao som das estrofes de “O cisne branco”, hino da preferência dos aspirantes:

Qual cisne branco Que em noite de luaVai deslizando num lago azul,O meu navio também flutuaNos verdes mares de Norte a Sul!Linda galera Em noite apagadaVai navegando no mar imenso,Sinto saudade da Pátria amadaDa minha terra em que tanto penso! 

Qual linda garçaQue aí vai cortando os aresVai deslizando sobre um belo céu anil.

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Minha galera também vai cortando os mares,Os mares verdes, Os verdes mares do Brasil!

Além da beleza melódica e lírica, Preste a Chegar... contava com músicas – não identificadas – de Lamartine Babo. Encerrou com chave de ouro 1926 e atravessou, gloriosa, os portais de 1927. Dei alguns motivos; há mais para explicar a preferência do público: o próprio conteúdo da revista. Um saca-rolhas abria o espetáculo nomeando políticos vítimas do arbítrio da Presidência Bernardes e que haviam comido cadeia. Sacava-se a rolha que asfixiara o país durante quatro anos. Seguia-se outro símbolo: o samba dos “congelados”; o termo de gíria para cárcere era “geladeira”. Ivete Rosolen cantava coplas definido a revista como um tipo singular de espetáculo popular. A apoteose do 1° ato mais uma vez predizia a felicidade pela troca de moeda cunhada; porém havia leve sarcasmo nos versos de Porto & Peixoto:

Nosso cruzeirocom o Cruzeiro vai subindoenquanto o câmbio vai caindoDando ao povo o que falar...E a OposiçãoQue não perde ocasiãode despeitoperde o jeitoE diz que a cousa vai quebrar...(...)E esta vidaEm que a comida é cousa raraQue custa os olhos da caraE traz o povo na desgraça.Com o CruzeiroVai haver muito dinheiroO feijão,Arroz, o pãoTudo agora é de graça

Prova concludente: os resvistógrafos não se mostravam alienados como pareciam. (SCP, pag. 266 - 270)

Personagens Masculinos: 8   Femininos: 7 Sinopse: Música de Júlio Cristóbal e Sá Pereira. Papéis múltiplos. Figurantes. Canções e quadros destacavam os acontecimentos da

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época, com destaque para dois deles: a promessa do Presidente Washington Luís, de dar ao país uma moeda forte - o cruzeiro - que traria para todos uma era de felicidade e fartura; o que o povo parecia levar a sério, mas os autores ironizavam dizendo que "com o nariz metido no cruzeiro.... o povo vai viver de pernas pro ar... alegre e prazenteiro..." O segundo fato, que dá origem ao título, faz trocadilho com uma manchete do jornal "O Globo" anunciando a chegada da Coluna do líder comunista Luís Carlos Prestes, vindo de sua longa caminhada pelos sertões do Brasil. A revista, legalista no tom, termina com uma apoteose à Marinha de Guerra do Brasil e cantando seu hino, o "Cisne Branco". (Catálogo da Dramaturgia Brasileira – Maria Helena Kühner)http://www.kuhner.com.br/catalogo/pecas_autor.php?autor=2193&f=999&m=999&g=0

1927

... “O sucesso das revistas depende de maneira decisiva do brilho das montagens; e favor público, às vezes, ocasional, das figuras principais do elenco.

Além das já citadas, de estreantes, mencionem-se com os dois únicos grandes sucessos do ano, Prestes a Chegar, três meses em cena, mais de duzentas representações e Paulista de Macaé, dois e meio, 150, ambas de Marques Porto e Luiz Peixoto, Recreio, Lia Binatti; Cangote Cheiroso, pela mesma companhia, obteve êxito medíocre.” (MN, volume 3, pag. 56)

Foi um ano agitado e pródigo o de 1927. Se morreram o ponto e o diretor Isidro Nunes, o maestro Abdon Milanez e o autor-ensaiador Asdrúbal Miranda, o clima de liberdade “relativa” do último governo da Primeira República instigou autores e empresários a audácias inconcebíveis, Entre estas, a sátira de costumes em ritmo desabrido, sem preservar deuses ou demônios; a formalização de um modelo definido de revista equilibrando salomonicamente cortinas cômicas e quadros musicais exuberantes; e o uso do nu como apêndice natural de cada espetáculo. (SCP, pg. 272)

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Paulista de Macaé, uma das campeãs do ano, foi censurada e cortada pelo chefe de Polícia, o arbitrário Coriolano de Góis – mas um dos autores, Marques Porto, esteve no Palácio do Catete, sede da Presidência ad República, conseguiu a revogação das medidas restritivas, e a revista seguiu, sem cortes, uma bela carreira de dois meses e meio. (SCP, pag. 272)

PAULISTA DE MACAÉ (20/05/1927)Nacional de Revistas – Empresa Antônio Neves – Teatro RecreioMarques Porto e Luiz PeixotoMúsica: Júlio Cristóbal e Sá Pereira

Explora com insistência excessiva a impopularidade do governo Artur Bernardes, mas é bem brasileira e o agrado é real. Não há sketches, há quadros satíricos ou críticas, muito felizes: Praia da Imbuca, Viva o Jaú!. Fantasia, a Exposição de Sevilha, lindíssima; como duas apoteoses em várias fases. Grande êxito de hilaridade, a Família Patativa. Sucessos pessoais: Lia, bem aquinhoada; Ivete, bela, máscara, corretas linhas corporais, porte gentil: Sevilhana, Poppéa, Flor do cardo, Salomé, canta satisfatoriamente.Além dos compadres, Oraide Nogueira e João Matos, duas personagens atravessam toda a revista, João Martins e Manuel Pera, este feliz estréia no elenco, fazem rir bastante. Merecem aplausos: Stuart, Luiza, picante, Brieba, Martineli, em números de passarela; Lili, encanto, Durvalina, muito real; Artur Castro, canto, Vidal, turco. Cenários bons; a notar dois telões de Luiz; e Paquetá, de Deodoro de Abreu. Girls de malha o que já é inadmissível. Junho e julho – Paulista de Macaé. (MN, volume3, pag. 87)

Marques Porto e Luiz PeixotoEstréia: Teatro Recreio; ficou em cartaz de 20 de maio a agosto e foi montada pela empresa A. Neves.Peça em dois atos, 41quadros e 36 números musicais, Lia Binatti explorando, principalmente, a impopularidade do ex-presidente Arthur Bernardes. Num deles, João de Deus faz o papel de Ribeiro de Barros, um dos heróis do histórico vôo do Jaú. Em 7 outros, Ivete Rosolen vive papéis diferentes. Ao completar 100 apresentações, foi feita uma homenagem aos heróis do Jaú, colocando-se no palco uma réplica do aeroplano. Marcou o lançamento da música “Não quero mais saber dela”, de Sinhô, depois gravada por Francisco Alves e Rosa Negra. Música: Júlio Cristóbal e Pedro Sá Pereira Elenco: Afonso Stuard, Balbina Milano, Black Botteli, Clarisse Costa, Claudionor Passos, Clotilde Brennier, Durvalina Duarte, Gomes da

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Cunha, Guy Martinelli, Henriqueta Brieba, Ivete Rosalen, João de Deus, José Fonseca, José Figueiredo, J. Matos, Lia Binatti, Luísa Fonseca, Manuel Pêra, Oraíde Nogueira, Ratinho. (LE&LFV, pag.154-155)

E então, com as clarinadas mais justas, entra em cena outra campeã de crítica e público, a revista Paulista de Macaé, de Marques Porto e Luiz Peixoto, música de Júlio Cristóbal e Sá Pereira, no Recreio a partir de 20 de maio. Paulista de Macaé é atração de maio, junho, julho e alguns dias de agosto. Seus dois atos, 41 quadros e 36 números musicais exploraram a impopularidade do ex-presidente Bernardes, mais uma vez, exaltando Washington Luís, carinhosamente chamado pelo povo, nos três primeiros atos, de Seu Lulu, Doutor Barbado, Braço Forte. Desta feita, levando à loucura os bobocratas cívicos e o povão, que encheram os cofres do empresário Antonio Neves. Afinal, Luiz Peixoto e Marques Porto andaram muito inspirados na escrita. Lia Binatti, soberba em sua forma física aos 25 anos de idade, de uma sensualidade que incendiava a platéia causando, no camarim, cenas de ciúme do seu marido, o ator Danilo de Oliveira, interpretava sete papéis: Paulista de Macaé, Ratinho, Sevilhana, Rolinha, Mãe, Mulata e Primavera. (SCP, pag. 272)

Secundavam Lia Binatti o ator João de Deus (fazendo, entre outros papéis, o do aviador Ribeiro de Barros, um dos heróis do histórico vôo do Jaú), João Martins, José Figueiredo, J. Matos (o compère), Oraide Nogueira (a commère), Afonso Stuart, Manuel Pêra, Luísa Fonseca, Ivete Rosolen, José Fonseca, Artur de Souza, Oscar Cardona, Lili Brennier, Clotilde Brennier, Guy Martinelli, Henriqueta Brieba, Artur de Castro, Claudionor Passos, Clarice Costa, Balbina Milano, Durvalina Duarte, Gomes da Cunha, Álvaro Peres e os circenses Les Loups. Elenco que sustentou as muitas representações da revista. Ivete Rosolen, por exemplo, no esplendor do seu corpo escultural e de sua graça, viveu sete papéis, e em quatro deles o público vibrava com a exposição de sua carnosidade enxuta: Popéia, Havaiana, Flor de Cardo e Salomé. Em um dos quadros de Paulista de Macaé, lançava-se o samba de J. B. Silva (Sinhô) “Não quero saber mais dela” – gravado depois em disco Odeon 10.100-A por Francisco Alves e Rosa Negra, com a Orquestra Panamericana do Cassino Copacabana. Em outro quadro, incluía-se uma composição de Lamartine Babo. E no quadro n° 6 do 1° ato, a atriz Guy Martinelli cantava a marchinha de Sá Pereira “Língua de Prata”, cujos versos, provavelmente de Marques Porto, exprimiam alegria pelo recesso da Censura:

A cousa já não vai malPara a revista nacional.

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Hoje, o direito de críticaAbrange tudo. Política, Senadores, deputados,Militares, magistrados,Já não há tanta roxuraNa rigorosa censura.

Desde o Prestes a Chegar...Que se pode criticarPois até o PresidenteÀs suas barbas consenteQue à cena venham entrar;Por isso de fato éO paulista de Macaé.

Ao completar a peça o primeiro centenário de representações, a 2 de julho, realizou-se no palco do Recreio uma homenagem aos “gloriosos pilotos do Jaú”. Além de um cenário apoteótico, uma réplica do aeroplano foi posta em cena, e compareceram, pessoalmente, os famosos participantes do vôo transatlântico, Ribeiro de Barros, Newton Braga, e os mecânicos Cinquini, Negrão e Mendonça. Nessa “festa da raça”, o público urrou de ardor nacionalista. Todos cantaram, vibrando de verde-amarelismo,

Salve Jaú,Glória altaneira,As tuas asasRepresentam a Bandeira Brasileira!

...

Paulista de Macaé permanece em cartaz até 31 de julho e é remontada em setembro, quebrando recordes. (SCP, pag. 284-286)

Personagens Masculinos: 14   Femininos: 10 Sinopse: Música de Júlio Cristóbal e Sá Pereira. Papéis múltiplos. Figurantes. A revista explorava a impopularidade do ex-presidente Artur Bernardes e celebrava Washington Luís, que, nos três primeiros anos de seu governo era carinhosamente chamado pelo povo de "Seu" Lulu, Doutor Barbado, Braço Forte, sendo também ele o Paulista de Macaé do título. Entre as composições musicais lançadas pela revista estavam uma de Sinhô ("Não quero mais saber dela") e uma de Lamartine Babo. A apoteose era dedicada aos participantes do histórico vôo transatlântico do Jaú, tendo sido trazida para a cena uma réplica do

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aeroplano.(Catálogo da Dramaturgia Brasileira – Maria Helena Kühner)http://www.kuhner.com.br/catalogo/pecas_autor.php?autor=2193&f=999&m=999&g=0

O BAGÉ (04/08/1927) Companhia Nacional de Revistas – Empresa Antônio Neves – Teatro RecreioAntônio Neves e João de Deus (com sketches de Marques Porto e Luiz Peixoto)Marques Porto, Luiz Peixoto, Antônio Neves e João de Deus Música: Júlio Cristóbal e Sá Pereira

Coisas bonitas, muita música, números alegres, sal grosso, cena e tipos populares em abundância, tudo certa tendência para baixo.Bons: Fumando espero, paródia grotesca, Pera e Balbina Milano; Amor selvagem, belo efeito decorativo, A. Castro, Brieba e Lili; Mimi Pinsonette, cortina finíssima, Gui: Rendas do Ceará, cenográfico; Gali-Kô-Pô, original, interessante sucesso de Durvalina e Albino. Lia interpreta sete papéis, sorridente, insinuante. Ivette, mal aquinhoada, agrada sempre, como Stuart e suas acrobacias. Cândida Rosa estreou com sucesso; 26, 50 apresentações (MN, volume 3, pag. 87).

Mas houve boas surpresas. Uma delas, O Bagé, 50 reapresentações, um mês em cartaz. Bagé foi o navio mercante no qual o ex-presidente Bernardes seguiu para Europa após passar o cargo a seu sucessor, eleito a bico-de-pena, que o poviléu analfabeto achava legal. A revista estreou a 4 de agosto, no Recreio. Quatro autores a assinavam: Marques Porto, Luiz Peixoto, Alfredo Neves e João de Deus. Música de Júlio Cristóbal e Sá Pereira. Lia Binatti continuava singrando os mares do triunfo, com profissionais como Manuel Pêra, J. Matos, Afonso Stuart, João Martins, Cândida Rosa, Oraide Nogueira e outros. A crítica achou O Bagé malfeita e pesada, mas ela navegou bem por quatro semanas. Heckel Tavares incluíra na peça algumas canções, infelizmente logo esquecidas. (SCP, pag. 288)

NINGUÉM NÃO VIU (1927)

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Marques Porto e Luiz PeixotoMúsica: Sinhô e José Francisco de Freitas. (LE&LFV, pag. 154).

MUITO ME CONTAS (1927)Marques Porto, Luiz Peixoto e Carlos BittencourtMúsica: Pedro Sá Pereira, Júlio Cristóbal e Assis Pacheco. (LE&LFV, pag. 154).

NÃO QUERO SABER MAIS DELA! (19/08/1927)Cia Ra-ta-plan - Teatro Carlos GomesMarques Porto, Luiz Peixoto e Carlos Bittencourt

Estréia: Teatro Carlos Gomes, 19 de agosto, pela companhia Ra-ta-plan.Sambas de Sinhô. “Não quero saber mais dela” era também o título de um samba de Ary Barroso, gravado por Francisco Alves e Rosa Negra. (LE&LFV, pag. 154).

Não Quero Saber Mais Dela, de Marques Porto, Luiz Peixoto e Carlos Bittencourt, levada ao Carlos Gomes a 19 de agosto pela Ra-ta-plan, com sambas de Sinhô, e que, estranhamente, ninguém quis ver ou ouvir. (SCP, pag. 287-288)

CANGOTE CHEIROSO (08/12/1927)Nacional de Revistas – Empresa Antônio Neves – Teatro RecreioMarques Porto e Luiz PeixotoMúsica: Júlio Cristóbal e Sá Pereira

Constitui magnífico passatempo. Duas lindas apoteoses, guarda-roupa de efeito. Predomina a crítica aos costumes políticos: idéias felizes Carnaval oficializado, Olhos que prendem, Serenata, político-cavatoral Para rir; e sketches: O cachorro da praia, Pescando em seco, Teatro de brinquedo, Biba o Basco, e Auto lotação, as duas últimas muito oportunas. Números chefiados por atrizes, secundadas por girls, alegram o espetáculo. Sucesso: Café com leite, seis brancas, seis negras. Dominam: Lia e seu cachet especial; Ivette, a que falta um pouco mais

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de vida; as eletrizantes Gui, Brieba, Luiza e Lili; Durvalina, encarnação da brasileira provocante; Balbina Milano, caricata de bom quilate. Fazem sucesso Figueiredo, Pera, que tira partido vincando cenas; Martins, nome feito; Stuart, querido do público;

Marques Porto e Luiz PeixotoEstréia: Teatro Recreio (São José), em cartaz de 8 a 26 de dezembro.Revista em dois atos e 40 quadros. Crítica política e de costumes. O juiz de menores, Melo Matos, viu no quadro “Nu artístico” um atentado ao pudor, e ordenou que todas as artistas e coristas usassem malhas. Um dos quadros intitula-se “teatro de brinquedo”. Música: Pedro Sá Pereira e Júlio Cristóbal Elenco: Afonso Stuart, Agostinho de Souza, Albino Vidal, Álvaro Peres, Antônio Rodrigues, Artur Castro, Balbina Milano, Clarisse Costa, Clotilde Brennier, J. Matos, Felício Olavo Dias, Guilherme Flores, Henriqueta Brieba, João de Deus, João Martins, Jose´Figueiredo, Lia Binatti, Luísa Fonseca, Manuel Pêra, Oraide Nogueira, Oscar Cardona, Ruy Martinelli, Waldemar Palmiere, Ivete Rosolen. (LE&LFV, pag. 155).

Cangote Cheiroso, de Marques Porto e Luiz Peixoto, música de Júlio Cristóbal e Sá Pereira, estreou no Recreio a 8 de dezembro e ali permaneceu até o dia 26, sempre com casas lotadas. Seus dois atos e 40 quadros faziam crítica política e de costumes e apresentavam belas apoteoses. J. Matos e Oraide Nogueira faziam as vezes de compadres. Lia Binatti resplendia entre os companheiros de sempre e mais os Black Boys, muitas girls (a palavra corista começava a ser banida) e os bailarinos Del Sol and Nata. Reveladores os títulos dos quadros: “Maluquices”, “censuradas”, “Quem me dera quatro comidas de sucesso!...”, “É chopo”, “Cartazes”, “Camarada porteiro”, “Voto feminino”, Sessões contínuas”, “O cachorro de prata”, “Sombrinhas”, “Cheirinho de Iaiá”, “1500”, “Corpo de guarda”, “Enfant terrible”, “Pescando em seco”, “Nu artístico”, “Carnaval oficializado”, “Os três... águias”, “Queixe-se ao Papa”, “O papa-jantares”, “Honra ao mérito”, “As portas do céu”, “Os coiós”, “Fogo de artifício, “Fruto proibido”, “Meninas dos olhos”, “Olhos que prendem”, “Teatro de brinquedo”, “Flauteando a situação”, “Café com leite”, Luminárias”, “Serenata político-cavatorial”, “Nome aos bois”, “Biba o Basco!”, “Chuva de dólares”, “Auto... locação”, “Foge... lá vem ele”, “Telefone expresso” e “Sonho de Aladim”. O número de nu artístico era posado pela sedutora Ivete Rosolen. E Henriqueta Brieba recitava “Voto feminino” com uma graça especial:

A mulher emancipadaVotandoSendo votada

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É um buraco.Não há mais razãoPara chamá-la, então,Sexo fraco.

No Senado a discutirNo Conselho a discursarE na Câmara a destruirProjetos fazer passar.

Com bastantes argumentosEla vai para o plenárioAumentar os vencimentosDo marido funcionário.

E ai daqueles que ao votarSeus projetos contrariar.Ninguém, amigos, se queixe.

Vai ser em praia de peixeNum bate-boca danadoO Congresso transformado.

O Juiz de Menores da ocasião no Rio, um certo Melo Matos, viu o nu artístico e a seminudez cândida das girls; não gostou. E ordenou: todas as atrizes e coristas só aparecerão em cena com malhas. O digníssimo estava atrasado no mínimo meio século... (SCP, pag. 291-292)

Personagens Masculinos: 11   Femininos: 10 Sinopse: Música de Júlio Cristóbal e Sá Pereira. A habitual crítica política e de costumes, sem destaque especial para nenhum acontecimento maior, entremeadas de canções e coreografias que ressaltavam as muitas "girls", compunham os 40 quadros variados e as belas apoteoses.(Catálogo da Dramaturgia Brasileira – Maria Helena Kühner)http://www.kuhner.com.br/catalogo/pecas_autor.php?autor=2193&f=999&m=999&g=0

1928

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... “Na revista, duas parcerias rivais quanto ao mérito de suas elucubrações, repartiram entre si o favor do público: a Marques Porto –

Luiz Peixoto e Carlos Bittencourt – Cardoso de Menezes.

Os maiores sucessos registrados: Cadê as Notas? Marques Porto – Luiz Peixoto, mais de 100 representações; É da fuzarca!, C. Bittencourt – C. de Menezes, cerca de 100, ambas no Recreio; Ouro à Beça! Djalma Nunes – Jerônimo de Castilhos, mais de 100, João Caetano, Margarida Max.

Seguiram-se, quanto ao tempo de permanência no cartaz, cerca de ...

Três semanas: Melo das Crianças, Porto - Peixoto;...

Fracassos: ...; Rabo de Saia, Porto – Peixoto e Afonso de Carvalho;...

Miss Brasil, Porto-Peixoto, encenada no Recreio, dia 20 de dezembro entrou vitoriosamente em 1929.” ... (MN, volume 3, pag. 98/99)

A onda pseudomoralista das autoridades e a crise política que se desenhava foram responsáveis por um ano tumultuado, de rendas baixas, multiplicidade de péssimas estréias, avalancha de reprises e recorrência à burleta como cano de escape para o súbito retrocesso do teatro musicado. (SCP, pag. 293)

MELO DAS CRIANÇAS (16/03/1928)

Cia. Nacional de Revista – Empresa Antônio Neves – Teatro RecreioMarques Porto e Luiz PeixotoMúsica: Diversos Música: Pedro Sá Pereira, Júlio Cristóbal, Mário Silva, Bernardinho Vivas e Henrique Vogeler. Música: Pedro Sá Pereira, Júlio Cristóbal, Mário Silva, Bernardinho Vivas e Henrique Vogeler. 

O agrado, já tradicional, da parceria. Compères engraçadíssimos, Olimpio Bastos e Manoel Pera. Êxitos marcantes: Polícia Moderna, Soror Angélica, patriótico; Evocação, Carmem Dora, Lídia Campos e Eugênio, prolongados aplausos; Macarronada, Adeli Negri, bisado; os tangos de Lídia, os números cantados por Carmem Dora e Eugênia Noronha; e o concurso de Palmira Silva, Maia, Oscar Soares, Durvalina e Lili, ambas graciosas, e Modesto de Souza. Bons cenários e guarda-roupa. (MN, volume3, pag. 127).

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Marques Porto e Luiz PeixotoEstréia: Teatro Recreio, 16 de março. Montada pela Cia. A. Neves, em dois atos, a peça satiriza o juiz de menores Melo Matos, que impunha rígida interpretação do código de menores ao teatro de revista, e não cuidava do menor abandonado. Música: Pedro Sá Pereira, Júlio Cristóbal, Mário Silva, Bernardinho Vivas e Henrique Vogeler. Elenco: Adélia Negri, Antônia Otelo, Carmen Dora, Delorges Caminha, Durvalina Duarte, Edmundo Maia, Eugênio Noronha, Júlia de Abreu, Celinda Costa, Lídia Campos, Lili Brennier, Manuel Pêra, Manoel Paradela, Maria Lisboa, Mesquitinha, Modesto de Souza, Olga Bastos, Oscar Cordona, Palmyra Silva, Rachel Moreira, Victor Martins.Bailado Sosof (com Maria Lisboa), Olga bastos, Olímpio Bastos, Aracy Cortes.  (LE&LFV, pag. 155-156).

O empresário Antônio Neves renovou o seu elenco e montou no Recreio Melo das crianças, de Marques Porto e Luiz Peixoto. Era uma criatura feroz do juiz de menores Melo Matos, magistrado de uma intolerância ridícula que, ao invés de cuidar do menor abandonado, queria impor sua estreita interpretação do Código de Menores ao teatro de revista. Inclusive após ter perdido o “direito” à sua legislação pessoal perante o Conselho Supremo da Corte de Apelação para o qual tinha recorrido os empresários e os autores teatrais, vitoriosos “pela ação brilhante do advogado Paulo Kelly”. Melo das Crianças reunia músicas de Sá Pereira, Júlio Cristóbal, Mário Silva, Bernardinho Vivas e Henrique Vogeler e no elenco estavam Mesquitinha, Manuel Pêra, Lídia Campos, Carmem Dora, Palmira Silva, Júlia Abreu, Lili Brennier, Modesto de Souza, Edmundo Maia, Oscar Cardona, Delorges Caminha (ator de comédias elegantes que interpretava o Melo), Olga Bastos, Oscar Soares, Eugênio Noronha, Raquel Moreira, Antônia Otelo, Adélia Negri, Durvalina Duarte, Manuel Paradela e a bailarina Maria Lisboa. (SCP, pag. 298-299)

Personagens Masculinos: 9   Femininos: 11 Sinopse: O tema central era uma caricatura feroz do Juiz de Menores Melo Matos, que, em vez de cuidar do menor abandonado, como lhe cabia, decidira impor sua interpretação do Código de Menores ao teatro de revista. E que, após ação impetrada na Justiça por empresários e autores, perdeu a questão e o direito que se atribuiu.(Catálogo da Dramaturgia Brasileira – Maria Helena Kühner)*http://www.kuhner.com.br/catalogo/pecas_autor.php?autor=2193&f=999&m=999&g=0

*Nota: no site, o nome da revista consta como “Medo das crianças”.

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CADÊ AS NOTAS? (05/07/1928) (09/07/1928) (09/07/1928)Nacional de Revista – Empresa Antônio Neves & Cia – Teatro RecreioMarques Porto e Luiz Peixoto Música: Assis Pacheco, Mário Silva e Bernardo Vivas

Estréia no elenco, Alda Garrido. Há o que ver e ouvir e há com que rir. Fraca quanto à encenação e corpo de girls, carregado de figuras bisonhas, apóia-se em críticas oportunas e é fértil em chanchadas. Interessantes os quadros Fornos de Conversão, O Expurgo, O que eu quero é pancada, Mais um Record. Despertam gargalhadas as cortinas de Alda e Pera. O samba de Sinhô. Cantado deliciosamente por Vicente, e a réplica de Olímpio, é êxito absoluto, como Trechos dos Palhaços, Vicente, Dora, Eugênio. Oscar Soares obtém sucesso, com o cachorro tenor, e outros números cômicos. Lili encanta; graciosas, Laís e Luiza Fonseca. (MN, volume 3, pag. 127).

Marques Porto e Luiz PeixotoEstréia: Teatro Recreio, 9 de julho.Revista em dois atos e vinte quatro quadros. O texto cobrava o aparecimento da nova moeda: o cruzeiro. Muito censurada pelo chefe de polícia, Coriolano de Góis, foi campeã de bilheteria. Música: Mário Silva, Assis Pacheco e Bernardo Vivas Elenco: Adélia Negri, Alda Garrido, Amadeu Celestino, Bernardino Vivas, Carmen  Dora, Celina Costa, Edmundo Maia, Eugênio Noronha, Félix Viana, J. Figueiredo, J. Viana, J. Carlos, João de Deus, Laís Areda, Lili Brennier, Luísa Fonseca, Manuel Pêra, Mesquitinha, Modesto de Souza, Olga Bastos, Olímpio Bastos, Oscar Cardona, Oscar Soares, Vicente Celestino. (LE&LFV, pag. 155) 

Os poucos sucessos da temporada de 1928 foram o aludido Ouro à Beça!, lançado em 1927 e, também, com mais de 100 apresentações, Cadê as Notas?, de Marques Porto e Luiz Peixoto cobrando o aparecimento do Cruzeiro, além da É da Fuzarca!, de Carlos Bittencourt e Cardoso de Menezes. (SCP, pag. 294)

Este mesmo samba [De que vale a nota sem o carinho da mulher], era cantado por Vicente Celestino, em estilo diferente, abaritonado, com réplica humorística de Mesquitinha (até então anunciado Olímpio Bastos) na revista Cadê as Notas?..., sátira ao não-lançamento do Cruzeiro. Semelhante à do Carlos Gomes [Eu Quero é Nota!], a peça do Recreio, estreada no mesmo dia [09/07/1928], questionava a fracassada política

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monetária do governo e a suspensão da cunhagem do badalado “cruzeiro”. Escrita por Marques Porto e Luiz Peixoto, com música de Assis Pacheco, Mário Silva e B. Vivas, Cadê as Notas?... foi uma das raras campeãs de bilheteria de 1928. Um elenco soberbo, com Alda Garrido, Manuel Pêra, Eugênio Noronha, Modesto de Souza, João de Deus, Amadeu Celestino, J. Viana, Félix Viana, Adele Negri, Olga Bastos, J. Figueiredo, Laís Areda, Carmen Dora, Lili Brennier, Luísa Fonseca, Edmundo Maia, quadros que fez a obra atingir 110 representações até sair de cartaz em setembro. Embora muito censurada pelo Chefe de Polícia, Coriolano de Góis – que revelava, por fim, o caráter plutocrático e antipopular do Governo Washington Luís -, a revista ainda conservava esquetes muito engraçados como um no qual Modesto de Souza interpretava o Dr. Jacarandá – com subentendidas alusões a outro doutor... O ponto alto era o samba de Sinhô, gravado logo por Mário Reis (disco Odeon 10.224-A) e regravado pelo mesmo em 1960 (Odeon MOFB 3.177-A,3 e BR-XLD 10.483), cujo estribilho é uma delícia de falso pieguismo, bem ao estilo do autor:

Amar...Amar...A uma só mulher.De que vale a nota, meu bemSem o puro carinho da mulherQuando ela quer...

Personagens Masculinos: 11   Femininos: 7 Sinopse: Música de Assis Pacheco e Mário Silva. No que se refere à crítica política, a revista questionava a fracassada política monetária do governo Washington Luís, que prometera uma moeda forte - o cruzeiro - que jamais fora lançado, tornando-se o governo, omisso, cada vez mais impopular. Na parte musical, destaque para o rei do samba, Sinhô, com "De que vale a nota sem o carinho da mulher", que teria grande popularidade.(Catálogo da Dramaturgia Brasileira – Maria Helena Kühner)http://www.kuhner.com.br/catalogo/pecas_autor.php?autor=2193&f=999&m=999&g=0

A reapresentação da revista musical Cadê as notas?, estrelada por Alda Garrido, no Teatro Recreio, “em atenção a reiterados pedidos”, despertara a cólera do Catete. A peça satirizava o desvio de cédulas da Caixa de Amortização promovido por uma quadrilha de funcionários da instituição. Washington Luís não suportara o tom da galhofa de Marques Porto e Luís Peixoto, a mais consagrada dupla de autores teatrais do Rio

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de Janeiro. O humor do presidente se avinagrara porque Porto e Peixoto sonegaram as providências que o governo tomara para punir os culpados.Lançada inicialmente em julho, um mês depois do escândalo ganhar a primeira página dos jornais, Cadê as notas? transformara-se em extraordinário sucesso de bilheteria. Chegara, inclusive, a inspirar duas outras “revistas de críticas” sobre o mesmo tema: Eu quero é nota, da Companhia Tró-ló-ló, no Teatro Carlos Gomes; e Atrás das notas, burleta-vaudevillesca da empresa Zig-Zag, no Teatro São José. A “comédia-caricatura” que mais irritara Washington Luís fora Cadê as notas?, que estava de volta à Praça Tiradentes, para curta temporada, com “cenas em que o público quase tem síncopes de tanto rir”. O retorno dessa “fábrica de gargalhadas” justificava-se diante da repercussão causada com a abertura do processo criminal contra os acusados, ma Justiça Federa. Nas esquinas e cafés, ouvia-se a todo instante: - Cadê as notas?A comédia transformara-se em bordão popular.(1930 – Os Órfãos da Revolução, de Domingos Meirelles, 2005, pag. 197-198)

MICROLÂNDIA (28/09/1928)Cia Norka Rousskaya – Teatro FênixMarques Porto, Luiz Peixoto e Afonso de CarvalhoMúsica: Serafim Rada e J. B. da Silva (Sinhô)

Bastante divertida: há nela de tudo e tudo muito rápido. Defeito: elenco fraco, só dois valores marcantes. Agrado certo: Microlândia, dança, por Yara e girls; Última praga, crítica à temporada lírica, grande êxito de hilaridade; Ramona, quadro sentimental; Quem paga é o pato, charge ao Pacto Kellog; Os Marimbondos, orquestra típica, ruidoso sucesso; Dia do pagamento, troça com a Câmara dos Deputados. Araci fez-se aplaudir, com entusiasmo, na canção Araci, coro de homens; modinha Ciúmes; samba, Jura, jura! , expressiva; e saxofonista dos Marimbondos, alvo de verdadeira ovação. Vitória Régia progride. Agrada cantando, Rubens Lorena. Grijó Sobrinho, muito faz rir. Wanda Duarte é estréia promissora. Bonitos bailados de Décio e Yara.Ficou em cena até o dia 15 de março. (MN, volume 3, pag. 129).

Marques Porto, Luiz Peixoto e Afonso de CarvalhoEstréia: Teatro Fênix, de 28 de setembro a 11 de outubro. A peça foi levada por Norka Rousskaya para o Pálace-Théâtre, mas foi

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representada ali sem a presença da bailarina Norka e de Paulo Magalhães. A empresa pertencia a M. Franciscus. Com bom libreto, Aracy Cortes cantou o sucesso “Jura”, de Sinhô.Música: Serafim Rada e Sinhô.  (LE&LFV, pag. 155)

A revista seguinte do Fênix, assinada por Marques Porto, Luiz Peixoto e Alfredo de Carvalho, tinha música de Serafim Rada e, de novo, Sinhô. O compositor vivia sua fase mais criativa. Microlândia durou de 28 de setembro a 11 de outubro e depois Norka Rousskaya leva a trupe e a peça para o Palace-Théâtre. Entrega-as ao marido, M. Francyscus – porém o êxito estava assegurado. Alguns fatores decisivos: o libreto, a canção “Ça c’est Paris”, vinda da Europa e dos Estados Unidos, e Aracy Cortes trisando, todas as noites, o maior dos sambas de Sinhô, “Jura”, gravado imediatamente por Mário Reis (Odeon 10.278-A). A letra é aquela maravilha

Jura, jura, juraPelo Senhor!Jura pela imagemda santa cruz do Redentorpra ter valor a tua jura,Jura, juraDe coração, Para que um diaeu possa dar-te o meu amorSem mais pensar na ilusão.

Daí então, dar-te eu ireiO beijo puro na catedral do amorDos sonhos meusBem junto aos teusPara fugir das aflições da dor.

(SCP, pag. 303-303)

Em 1928, no velho Teatro Phoenix, existente na Rua Almirante Barroso, e há pouco demolido, estreava na noite de 28 de setembro a revista Microlândia. Eram seus autores os mais famosos revistógrafos da época: Marques Porto, Luís Peixoto e Afonso de Carvalho, três nomes que ficaram ligados ao histórico de nosso teatro popularesco. (...)(O Samba “Jura” Nasceu com um Português e uma Mulata, do livro Figuras e Coisas da Música Popular Brasileira, Volume I, de Jota Efegê, Ed. MEC/FUNARTE, 1978, pag. 29)

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EVAS DE HOJE (1928)Montagem da Companhia Margarida Max, no Teatro Cassino, São Paulo.Marques Porto e Luiz PeixotoMúsica: Júlio Cristóbal.(LE&LFV, pag. 156).

RABO DE SAIA (20/10/1928)Cia Norka Rouskaya – Teatro PalácioMarques Porto, Luiz Peixoto e Afonso de CarvalhoMúsica: Serafin Rada e J. B. da Silva (Sinhô)

Não merece aplausos, é de uma sensaboria enervante, para o que concorrem a fraqueza do texto e a debilidade do elenco. Estão esgotados os autores há pouco elogiados de Micralândia. Cenários mal aproveitados e corpo de baile bisonho, desarticulado. Só Araci se salva. (MN, volume 3, pag. 129).

Marques Porto e Luiz PeixotoEstréia: Teatro Palácio, 20 de outubro Música: Serafim Rada e Sinhô. (LE&LFV, pag. 155)

MISS BRASIL (20/12/1928) Nacional de Revistas – Empresa Antônio Neves & Cia – Teatro RecreioMarques Porto e Luiz PeixotoMúsica: Júlio Cristóbal e Sá Pereira

Agrado pleno, confundidos os méritos da revista e dos artistas do elenco. Irá acém reapresentações. Itália Fausta chefia dois quadros patrióticos, ovacionados. Empenho dos autores em elevar o gênero. Independência ou morte desata o riso e, assim, fazem rir: Torcida roxa, Roushaya e boys, Rua da amargura, irreverente, Seu Basílio, Gigolô, Roupa Suja, etc. A censura desta vez permitiu alusões a individualidades. Olímpio, nosso melhor ator cômico de revista, e Palitos, que a Argentina nos mandou, muito fizeram rir, coadjuvados por Pera, J.

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Figueiredo, Maia e Oscar Soares. Araci, nossa primeira atriz, por sua vez, no gênero, representa, canta e dança, com legítimo sucesso. No canto destaque de Vicente e Lídia. Esfuziante, Brieba; endiabrada, Judith de Souza. Bonitas as evoluções e danças do corpo de girls. (MN, volume 3, pg. 128).

Marques Porto e Luiz PeixotoEstréia: Teatro Recreio, de 20 de dezembro a março de 1929, e reprisada em outubro.Em dois atos e 35 quadros, marcou o lançamento da música “Ai, Ioiô”, de Henrique Vogeler com letra de Luiz Peixoto. Êxito de público, com 130 apresentações. A peça foi interrompida entre 9 e 13 de fevereiro, por causa do carnaval, ficando até dia 14 de março, retornando por duas semanas em abril. Apresenta composições de Ary Barroso. Música: Pedro Sá Pereira e Júlio Cristóbal Cenários: Jaime Silva e Raul de Castro Elenco: Aracy Cortes, Domingos Guimarães, Domingos Terra, Edmundo Maia, Elda Peres, Henriqueta Brieba, Itália Fausta, Joaquim Coelho, José Figueiredo, Judith de Souza, Lídia Campos, Lili Brennier, Luísa Fonseca, Manuel Pêra, Mesquitinha, Norka Rousskaya, Olga Bastos, Oscar Cadona, Oscar Soares, Palitos, Vicente Celestino. (LE&LFV, pag. 155)

... Mas o grande lançamento, Miss Brasil, de Marques Porto e Luiz Peixoto, só ocorreria em fins de dezembro para ter carreira triunfal em 1929. (SCP, pag. 294)

O empresário Antônio Neves formou uma nova companhia com Aracy Cortes à frente. A Censura abrandou, permitindo alusões a personalidades do mundo político de modo franco. Marques Porto e Luiz Peixoto escrevem, Júlio Cristóbal e Sá Pereira preparam a música. Os dois atos e 35 quadros de Miss Brasil entram para a História a partir de 20 de dezembro de 1928. Os cenários de Jaime Silva e Raul de Castro, também. Os maestros incluem composições de gente nova e boa como Ary Barroso. No elenco estão Luísa Fonseca, Oscar Soares, Henriqueta Brieba, José Figueiredo, Norka Rousskaya, Manuel Pêra, Domingos Terras, Vicente Celestino, Paíta Palos, Oscar Cardona, Lídia Campos, Elda Peres, Edmundo Maia, Joaquim Coelho, Lili Brennier, Domingos Guimarães, Olga Bastos, Judith de Sousa e a trágica Itália Fausta. Os dois cômicos cabeças do elenco se chamam Mesquitinha e o argentino Palitos. Parecia constelação da Broadway ou Hollywood.Êxito absoluto. Miss Brasil fica em cartaz até março de 1929, registra 172 reapresentações consecutivas. A crítica vibra, aplaude as atuações

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de Aracy, palitos e Mesquitinha, o aspecto sadio da revista. E todo o repertório musical, especialmente as danças de Ayrosa com as 30 girls que garantem a féerie apoteótica. Somente um quadro menciona a Miss Brasil – “que vai causar surpresa com sua beleza em Galveston”. Aracy Cortes canta sambas bem brasileiros que se tornam clássicos: repete o “Jura”, de Sinhô; lança “Medida do Senhor do Bonfim”, do prórpio Sinhô, gravada por Mário Reis em 1929, em disco Odeon 10.459-A, faz a platéia delirar com “Linda flor” (Ai, Ioiô), de Henrique Vogeler e Luiz Peixoto; e dança um maxixe com Palitos. Itália Fausta, em dois quadros patrióticos, foi ovacionada. A Miss Brasil, no palco, encarnou-a Luísa Fonseca, de inegável beleza. Mesquitinha, entre outros papéis, vivia um impagável turco. Judith de Souza era a Baratinha Chrysler, e Aracy fazia a Mulata, a Sorte Grande, a Cidade e a Iaiá. Tudo começava (Ato I, n°1) com Olga Bastos recitando “pouca roupa”, indireta com a Censura:

O nu é tentação,O nu é sedução,O nu de uma mulherFoi feito pra se ver.

Por simples convençãoAnda a mulher vestidaPrivando da visãoO que há de bom na vida.

Não querer que ande a gente nuaAssim, ó, não nos querem ver.parece incrível que na ruaVestida ande uma mulher.

Em seguida entrava Lídia Campos falando em nome da Revista:

Maliciosa, Apimentada,Tão desejadaSou a revistaQue faz sorrir,Encanto a vista,Trago a piadaBem temperadaPra fazer rir.Com pés de lãFaço lançar

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O Double-sensTão popular.Minha torura,Ó, com a brecaÉ a CensuraQue me sapeca.

Depois da Pouca Roupa vinha Independência ou Morte de Sua Excelência, a Revista. E todo um desfile de costumes atualizados: Cento por Cento, Como elas olham, Família Caça-níqueis, Sorte Grande, Laranja da China, Chinelinhas, Onde a rosa respira, a Baratinha, o Brasília gigolô e o Altar da Pátria fechava o 1° ato. No 2°, Colombina é da fuzarca. O Roto enfrenta o Esfarrapado, há uma torcida roxa pela Miss Brasil, a Roupa Suja (que se lava em casa), um Natal político, Gente de Cabaré, perguntava-se onde estava o Gato, mencionava-se a Rua da Amargura, um desenferrujante, exaltava-se o Panteão Nacional, chegavam os “avoadores”, havia um choro de incompatibilidade, um desfile de danças e a última apoteose. E nesta, o que se patenteava irresistível era a força de Aracy Cortes cantando o imortal “Linda Flor”, mais popularizado como “Ai, Ioiô”. Um clássico na melodia inspiradíssima de Vogeler e nos versos imortais de Luiz Peixoto:

Ai, IoiôEu nasci pra sofrê,Fui oiá pra você,Meus oinho fecho!E, quando os óio eu abri,Quis gritá, quis fugiMas você Eu não sei por quêVocê me chamo!

Ai, IoiôTenha pena de mimMeu Sinhô do BonfimPode inté se zangáSe ele um dia soubeQue você é que éO ioiô de Iaiá.

Chorei toda a noite penseinos beijos de amo que te dei,Ioiô, meu benzinho, do meu coração,

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Me leva pra casa,Me deixa mais não

(SCP, pag. 304-307 )

... reprise de Miss Brasil, de 11 a 24 de abril. [1929, no Recreio] (SCP, pag. 310)

Personagens Masculinos: 11   Femininos: 10 Sinopse: Música de Júlio Cristóbal e Sá Pereira. Papéis múltiplos. Figurantes. Apesar do título, apenas um quadro é dedicado à Miss Brasil, mas os tipos, alegorias e a crítica dos costumes se sucedem, como dão a entender os títulos dos quadros: "Pouca roupa", provocando a Censura, que proibia os nus; "Independência ou Morte de Sua Excia, a Revista", maliciosa, apimentada e tão desejada; "Família Caça-Níqueis"; "Cento por Cento"; "Sorte Grande"; "Altar da Pátria"; "O Roto enfrenta o Esfarrapado";"Roupa Suja"; "Natal político"; "Gente de Cabaré"; "Rua da Amargura" etc. Na parte musical, o destaque seria o "Linda Flor", com melodia de Henrique Vogeler e letra de Luiz Peixoto: "Ai, Ioiô/ eu nasci pra sofrer/ fui oiá pra você/ meus oinho fechô..." - que se tornaria um clássico da música popular brasileira.(Catálogo da Dramaturgia Brasileira – Maria Helena Kühner)http://www.kuhner.com.br/catalogo/pecas_autor.php?autor=2193&f=999&m=999&g=0

OS SALTIMBANCOS (Tradução) (03/1928)Teatro GuaraniMarques Porto e Luiz Peixoto 

Opereta Les saltimbanques, de Louis Ganne, com libreto de Maurice Ordonneau. Reapresentada em 1933, no Teatro Alhambra, em janeiro.  

MADAME DE THEBAS (Tradução) (1928)Marques Porto e Luiz Peixoto 

Opereta de Carlos Lombardo. (LE&LFV, pag. ).

1929

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...“Foi o ano da parceria Marques Porto – Luiz Peixoto, imaginosa através de adaptações inteligentes, espirituosa no aproveitamento e comentário dos fatos da ocasião. Dominou os cartazes.

Dela foram levadas: no Recreio, Miss Brasil, mais de 100 representações; Banco do Brasil, quase 100; e Pátria Amada, que se achava no cartaz a partir de 14 de dezembro;

No Carlos Gomes, Guerra ao Mosquito, mais de 100; no República, Mineiro com Botas, mais de 50.” (MN, volume 3, pag. 134).

“A revista suportou galhardamente a crise econômica” [Mário Nunes]. A disputa, no Rio, pelo primeiro lugar entre os dois maiores produtores de revista aproveitou bem aos espectadores, O Teatro São José, da Empresa Pascoal Segreto, perdera definitivamente o bastão mantido por mais de duas décadas; a empresa do Teatro Recreio, A. Neves & Cia,. Sustentou-se durante todo o ano, a Empresa margarida Max – Manoel Pinto, ocupando primeiramente o Teatro Carlos Gomes, e depois o Teatro República (na Avenida Gomes Freire), viveu dois formidáveis períodos. (SCP, pag 308)

GUERRA AO MOSQUITO (31/05/1929)Nova Companhia Margarida Max – Empresa M. Pinto – Teatro Carlos GomesMarques Porto e Luiz Peixoto Música: diversosMúsica: Afonso Martinez, J. Tomaz, Jota Machado, Júlio Cristóbal, Pedro Sá Pereira e Pixinguinha. Música: Martinez Grau, J. Tomás, Pixinguinha, Luiz Peixoto, Júlio Cristóbal, Jota Machado, Sá Pereira e outros

Teatro repleto nas duas sessões. “Entusiasmo: aplaudia-se mais uma vez as audácias do empresário M. Pinto, a quem muito deve nosso teatro de revista. Não temendo gastar e sabendo gastar, tem na verdade, colocado o gênero teatral que explora em grande altura”. Vestiu lindamente a revista – cenários e guarda-roupa. Organizou bonito corpo de girls. Adotou passarela rasa para maior e mais íntimo contato do artista com o público. Substituiu a orquestra pela Jazz Brunswick. O elenco muito bom, afinado. A revista apresenta coisas belas, apoiadas

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por lindas músicas. São fracos os sketches e, assim, as cortinas dialogadas. Margarida Max fez sua estréia dentro de uma apoteose: êxitos, Gavião com girls e violões, Madame Criada. Despertou constantes gargalhadas Pinto Filho: Guerra ao Mosquito, Conferência, Vitrola, Palacete Cabloco; Flamengo X América sketche com Sarah Nobre, Elza Gui, Santarelli e Pedro dias. O quadro cômico Nosso Catette, divertido; e assim, Coros Ukranianos, chefiados por Danilo. Bom, Luiz Calazans na Caipirada. A parte bela são as cortinas e quadros simbólicos, com bailados: Jardim de Suplícios, Lou e Janot, Pedro Dias e girls; Rumba, Edith Falcão, aplaudida nas cortinas Bom soir e Meninas do Brasil; Como Gui Martinelli, no Charleston e Blue. Elza Gomes, picante e expressiva, valorizou versos maldosos. Dora Brasil canta com sabor brasileiro: Falsa jura, Politiquice. Finais esplendorosos e triunfais.

...Incendiado o Carlos Gomes passou-se a companhia para o República, onde ultimou os ensaios de Mineiro com Botas. (MN, volume 3, pag. 151).

Marques Porto e Luiz Peixoto Estréia: Teatro Carlos Gomes, de 31 de maio a 31 de julho, com montagem da Cia. Margarida Max.Constava de 2 atos e 35 quadros. No primeiro ato, uma conferência de Pinto Filho sobre a famosa guerra dos mosquitos que gravara em disco e foi campeã de vendas. No segundo ato, em quadro exaltando a paixão pelo futebol, uma cena de violões, uma cortina de blues, outra de samba. Destaque para O gavião, de Pixinguinha, depois gravada com o nome de Gavião calçudo. Esta peça apresentou uma novidade: lançou a passarela baixa, de onde os artistas podiam manter contato mais íntimo com o público. O destaque foi o J. Tomás, belo mulato que se apresentou nos Oito Batutas tocando ganzá na sala de espera do Cinema Central. O diretor musical da peça aparecia de casaca e luvas brancas, regendo a orquestra sem a batuta. Música: Afonso Martinez, J. Tomaz, Jota Machado, Júlio Cristóbal, Pedro Sá Pereira e Pixinguinha. Coreografia: Lou e Janot Cenografia: A. Lazary H. Collomb, J. Silva, R. de Castro, Avelino Pereira. Elenco: Edith, Eliza Gomes, Grijó Sobrinho, Jararaca, Margarida Max.  (LE&LFV, pag. 156)

A revista, intitulada Guerra ao Mosquito, original de Marques Porto e Luiz Peixoto, tinha música de Martinez Grau, J. Tomás, Pixinguinha, Luiz Peixoto, Júlio Cristóbal, Jota Machado, Sá Pereira e outros. A cenografia esteve a cargo de A. Lazary, H. Collomb, J. Silva, R. de Castro e Avelino Pereira; a coreografia, sob a responsabilidade de Lou e Janot. Uma estrutura rápida abonava a qualidade dos dois atos e 35 quadros. Do 1°

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ato de Guerra ao Mosquito constavam um sarambá (?!), a cortina “Bom soir”, outra sobre “Os turunas da zona”, uma prolixa, rebarbativa e impagável “conferência” de Pinto Filho sobre a “guerra aos mosquitos” empreendida, então, na cidade, pelos agentes da Saúde Pública chamados de “mosquiteiros” pela população, conferência, aliás que, gravada em disco, conseguiu ser campeã de vendas; uma cortina apresentando a volta de Margarida; o palacete de um caboclo; Miss Catete (quadro político-eleitoral); crítica à politiquice, “Onde cabe um”; uma cortina de Charleston e outra da vitrola; o elogio da rosa vermelha (ou crítica ao comunismo); “Roupa Suja”, charge de costumes; o quadro musical do “Gavião” e a apoteose. O 2° ato surgia com um telão do “Gavião”; o bailado “jardim dos Suplícios”; “Conversa fiada”; “Mosquito elétrico”; a cortina “Meninas do Brasil”; “Largo do Rocio”; “Dicha da pesada”; um quadro exaltando a paixão pelo futebol, “Flamengo x América”; uma cena de vilões; uma cortina de blues, outra de rumba; a imitação de Josephine Baker e o final apoteótico. Muitas foram as músicas cantadas, três se notabilizaram: “Guerra ao mosquito”, de João Machado; “Falsa Jura”, de Sá Pereira; e, lançada por Margarida Max e as coristas, “O Gavião”, de Pixinguinha, que é uma obra-prima de ironia:

Chorei!Por quê!Fiquei sem meu amôO gavião malvadoBateu asa e foi-se emboraE me deixou

Quem tivé muié bonitaÉ fugi do gavião.Ele tem unha comprida,Deixa os marido na mão.Só respeita que é sortêroQuem não é, respeita não!E vocês, que são casado,Cuidado com os gavião.

O culpado disso tudo É os marido d’agora.As muié anda na rua Com as canela de fora.O gavião toma o chêro Vem chegando e sem demora

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‘Garra elas pelo bicoBate asa e vão-se imbora!

Tenho medo desse bichoPelo jeito de avoáEle é audaciosoVê a gente e qué pegáInda me alembro do diaQue eu estava no portão:Ele me passou as unha...E o resto eu não conto, não.

O público aplaudia de pé. A crítica elogiava a “conferência” jucunda de Pinto Filho, o belo corpo de girls em evoluções bem marcadas, Dora Brasil cantando “Falsa jura”, os finais esplendorosos, os cenários, os textos dos autores e a interpretação apoteótica de Margarida Max. Esta mandara levantar uma passarela rasa para contato maior e mais íntimo contato com o público. Cada apresentação fazia a platéia ir ao delírio; a peça ultrapassou as 100 representações e permaneceu até 31 de julho em cena – dois meses gloriosos. (SCP, pag. 316-319)

Personagens Masculinos: 13   Femininos: 8 Sinopse: Papéis múltiplos. Figurantes. Um dos quadros, que dá título à revista, era "Os turunas da zona", uma impagável conferência sobre a guerra aos mosquitos então empreendida pelos agentes da Saúde Púbica, apelidados pelo povo de "mosquiteiros". Mas não faltavam as críticas à politicagem do momento, um quadro a Miss Catete, um elogio à Rosa Vermelha (enfocando o comunismo), ou os quadros voltados para os costumes, como "Roupa suja", "Meninas do Brasil", "Largo do Rocio", "Flamengo e América", etc. Entre as músicas lançadas na revista que se tornariam enormes sucessos, "O Gavião", de Pixinguinha e "Falsa jura", de Sá Pereira.(Catálogo da Dramaturgia Brasileira – Maria Helena Kühner)http://www.kuhner.com.br/catalogo/pecas_autor.php?autor=2193&f=999&m=999&g=0

DÁ NO COURO (03/07/1929)

Empresa Antônio NevesMarques Porto e Luiz PeixotoMúsica: Pedro Sá Pereira, Júlio Cristóbal, Ary Barroso, Augusto Vasseur e Luiz Peixoto

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Produzida por A. Neves, ficou em cartaz de 3 a 30 de julho. Em 26 de julho, Carmen Miranda homenageou os autores. Aconteceram mais de cem apresentações. Ensaiador: João de Deus Cenógrafo: Jaime Silva e Raul de Castro Coreógrafo: Nemanoff Regente: Júlio Cristóbal Elenco: Aracy Cortes, Augusta Guimarães, Carlos Medina, De Carambola, Edith Falcão, Edmundo Maia, Fortunay, Iolanda Ribeiro, J. Figueiredo, J. Thomaz, Lely Morel, Leni Morel, Lessy, Luísa Fonseca, Mesquitinha, Nemanoff, Olga Navarro, Oscar Soares e Palitos. (LE&LFV, pag. 156).

MINEIRO COM BOTAS (06/09/1929) (05/09/1929) (05/09/1929)Nova Companhia Margarida Max – Empresa M. Pinto – Teatro RepúblicaMarques Porto e Luiz PeixotoMúsica: diversosMúsica: Martinez Grau, José Aimberê, J. Tomaz e Vantuil de Carvalho. 

Teatro transbordando: quis o público significar seu apreço e confortar a empresa M. Pinto e seus contratados à vista do sinistro incêndio do Carlos Gomes. A revista agradou plenamente, espetáculo interessante, que diverte muito. Reparo: excessivo decalque do filme da Fox, Follies, de 1929. Encenação marca M. Pinto, com gosto e luxo. Artistas, bailarinos e coros um só esforço, máximo brilho. A destacar: Raios que t’a parta, Pinto Filho, Nêga, Edith Falcão.e três pares de namorados: Elza e Carlos Pais, Rubens e Martinelli, Odilon e Vilda; Ventriloquia, bonecos, caricaturas admiráveis de Luiz; Morro da Mangueira, caricato, interessantíssimo, Dora Brasil e Osvaldo Viana, Lou e Mesquitinha (preto); Alvorada, verso caipira, obra prima, Margarida e Odilon; Tártaros, bailado-fantasia, Lou-Janot; Tristeza das grandes cidades, Edith; Que noite! Sketche engraçado; Cinema Falado, espirituoso. Todo o elenco bem. Calazans de parceria com o saxofonista Ratinho, sucesso. Odilon estreou com êxito. Grande parte do sucesso do espetáculo é

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devido a Lou e Janot e seu corpo de baile: como à orquestra-jazz. (MN, volume 3, pag. 151-2).

Marques Porto e Luiz PeixotoEstréia: Teatro República, de 5 de setembro a 7 de outubro; produção de Manuel Pinto.Revista em 2 atos e 30 quadros. O título se refere a uma sobremesa de queijo com banana, açúcar e canela (“cartola”, no nordeste), mas glasava a aliança de Getúlio com o governo de Minas Gerais para vencer, pelo voto, o candidato Júlio Prestes. A peça apresenta algumas canções do filme da Fox Follies de 1929, ainda na parte musical, a marchinha de carnaval que fez sucesso em 1930, incluindo também o samba “Morro da Mangueira”. Elenco: Amadeu Santarelli, Carmen Dora, Danilo de Oliveira, Edith Falcão, Elza Gomes, Grijó Sobrinho, Guy Martinelli, Jararaca e Ratinho, João Martins, Lou e Janot, Margarida Max, Odilon de Azevedo, Olavo de Barros, Oswaldo Viana, Pedro Dias, Pinto Filho, Sara Nobre, Wilda Ribeiro. (LE&LFV, pag. 156).

Margarida Max recompôs a empresa, após o prejuízo tido com o incêndio do Carlos Gomes; enquanto a Empresa Pascoal Segreto construía o novo teatro, ela foi pousar no República. Ali, a 5 de setembro, estreou com uma revista de Marques Porto e Luiz Peixoto, de título político implícito: Mineiro com Botas. O perfeito duplo sentido: a gostosa sobremesa brasileira de queijo com banana, açúcar e canela, e o candidato gaúcho Getúlio Vargas aliado ao governo de Minas Gerais para vencer, pelo voto, o candidato oficial Júlio Prestes. Em dois atos e 30 quadros, Mineiro com Botas agradou muito a uma platéia já vivendo o clima da sucessão presidencial. Os colunistas mencionaram o luxo e o bom-gosto da montagem, características das produções de Manoel Pinto, mais tarde herdadas por seu filho Walter. Disseram que a peça ”decalcava” quadros do filme Fox Follies de 1929, uma revista “toda falada, cantada e dançada” bem típica de Hollywood, recém-exibida no Rio. A peça brasileira apresentava algumas canções americanas extraídas do filme, inclusive “Big City Blues”, que teve uma versão brasileira, “Tristezas das grandes cidades”, de Con Conrad, Sidney Mitchell e Archie Gottler. No palco, cantava a Edith Falcão. Mas o repertório musical brasileiro de Mineiro com Botas era bem maior, com composições de Martinez Grau, J. Tomás, J. Aimberê, Vantuil de Carvalho, jararaca & Ratinho e outros. O elenco mudara: Margarida Max, Pinto Filho, João Martins, Luís Calazans (Jararaca), Severino Rangel (Ratinho), Odilon de Azevedo, Danilo de Oliveira, Pedro Dias, Amadeu Santarelli, Edith Falcão, Carmen Dora,

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Oswaldo Viana, Sara Nobre, Grijó Sobrinho, Guy Martinelli, Olavo de Barros, Elsa Gomes, De Carambola, Wilda Ribeiro, Lou e Janot. E as girls, é claro: 30 delas e mais 10 boys... Para comprovar a brasilidade da peça – que o mau humor de Mário Nunes negou, dando oportunidade a que Tinhorão entrasse na canoa e cometesse o equívoco de acreditar numa americanalhação total da revista (logo de um superbrasileiro como Luiz Peixoto!), basta lembrar um fato: no quadro 10 do 1° ato Margarida Max lançou “Olha a pomba!”, a marchinha deliciosa de Vantuil de Carvalho que estourou no carnaval de 1930, após o sucesso da revista. Marcha gravada por Francisco Alves e a Orquestra Pan American, disco Odeon 10.535, cujo estribilho e primeira estrofe são de um sarcasmo a toda prova:

Olha a pomba!Olha a pomba!Mulher bonitaDe mim não zomba (bis)

Bonitinhas todas sãoCom a boquinha de coração.Eu não posso me casarCom a mulher que não se pintar!

Além dessa marca de sensualidade luso-tropical, Jararaca e Ratinho cantavam emboladas. E, antecipando um fato histórico que virou anedota, mas realmente ocorreu, no 19° quadro, “Obelisco”, os autores já falam em retirar a cavalhada gaúcha do marco erguido no extremo leste da Avenida Rio Branco... A revista ainda incluía o samba “Morro da Mangueira”, de Manuel Dias – o primeiro samba a cantar o célebre morro onde nasceria a primeira escola de samba a se tornar famosa e ganhar torcida tão apaixonada quanto a das antigas grandes sociedades carnavalescas ou dos grandes clubes de futebol. Eis a pitoresca letra deste clássico da música popular brasileira:

Eu fui a um sambaLá no morro da Mangueira,Uma cabrochaMe falou de tal maneira,Não vá fazerComo fez o ClaudionorQue pra sustentar famíliaFoi bancar o estivador.

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Ó cabrocha faladeira,Que tu tens com a minha vida?Vai procurar um trabalhoE corta esta língua comprida.

Cludionor tornou-se a primeira personagem masculina de renome por causa de um samba, muito antes do Laurindo, do Zé Marmita e outros “colegas”. Mineiro com Botas permaneceu até 7 de outubro em cartaz. (SCP, pag. 327-329)

Personagens Masculinos: 14   Femininos: 6 Sinopse: Papéis múltiplos. Figurantes. O título, malicioso em seu duplo sentido, alude tanto à famosa sobremesa de goiabada com queijo quanto à dobradinha que se formara, do gaúcho Getúlio Vargas com o governo de Minas, para vencer o candidato oficial à sucessão presidencial. Na parte musical, a marchinha de Vantuil de Carvalho que seria o sucesso do carnaval de 1930 e o samba "Morro da Mangueira", de Manuel Dias, o primeiro a cantar o morro onde surgiria a famosa Escola de Samba.(Catálogo da Dramaturgia Brasileira – Maria Helena Kühner)http://www.kuhner.com.br/catalogo/pecas_autor.php?autor=2193&f=999&m=999&g=0

BANCO DO BRASIL (01/11/1929) (01/09/1929) Nacional de Revistas – Empresa A. Neves & Cia.– Teatro RecreioMarques Porto e Luiz Peixoto Música: J. Cristóbal, Sá Pereira e Ary Barroso

Agradou plenamente, usaram os autores de recursos próprios, no que fizeram bem. Sketches, realmente engraçados; a suíte sobre o adultério; e o Juramento. Quadros bons: A dança é o diabo, Charleston; cortinas a que as girls emprestam vida e alegria. Estreiou Olga Navarro, boa aquisição, e assim, o folclorista Augusto Calheiros. Araci, aplaudida em muitos papeis, verdadeiras criações Baiana e Malandra. Rivalizam em comicidade, Olimpio e Palitos, tipos engraçadíssimos, situações valorizadas. Agradam, também, Lídia Campos, muito pessoal, Juvenal Fontes e outros. (MN, volume 3, pag. 150).

Marques Porto e Luiz PeixotoEstréia: Teatro Recreio, de 1º de setembro a 12 de dezembro.Em dois atos e 30 quadros, faz uma crítica a situação econômica e a nova moeda anunciada para entrar em circulação (o cruzeiro) o que só aconteceria dez anos mais tarde. 

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Música: Júlio Cristóbal, Pedro Sá Pereira e Ary Barroso. Cenários: Jaime Silva e Raul de Castro Guarda-roupa: J. Campos  Elenco: Aracy Cortes, Olímpio Bastos, Alta Vila, Augusto Calheiros, Balbina Milano, Carlos Medina, Domingos Terra, Edmundo Maia, Henriqueta Brieba, João Matos, Juvenal Fontes, Lídia Campos, Lili Brennier, Luísa Fonseca, Luísa Fontes, Carlos Medina, Mesquitinha, Nora Del Monte, Olga Navarro (estréia), Oscar Cardona e Palitos. (LE&LFV, pag. 157).

Vieram, então, os dois maiores sucessos de 1929, com mais de 100 apresentações cada. Banco do Brasil, de Marques Porto e Luiz Peixoto, música de Sá Pereira, Júlio Cristóbal e Ary Barroso, estreou a 1° de novembro no Recreio e só deixou a cena a 12 de dezembro. O mesmo elenco liderado por Aracy Cortes, Mesquitinha e Palitos ganhou reforço da bela e loquaz Olga Navarro, e do cantor regionalista Augusto Calheiros, alcunhado de A Patativa do Norte. Aracy já é anunciada como “a mais querida das estrelas”, e interpreta cinco papéis: Cruzeiro, Menina da Buzina, Satã, Baiana e Malandra. São dois atos de 30 quadros de alegria, muito chiste ao estilo dos libretistas. Para se ter uma idéia, logo na apresentação do primeiro ato, recita-se:

Minha terra é um o paraísoQue Deus fez pra se gozá,O que nos falta é juízo,O resto tudo dá lá.

Tem senado, deputado,Conselho MunicipáE até cinema faladoEm ingreis, pra arrepiá.

No peso ninguém engana.O pão cresce e não é mau,Só uma vez na semanaEm vez de pão ele é pau!

Os jornais faz escarcéuDa crise de habitação!Só não mora em arranha-céuQuem mora em arranha-chão.

Tem a Praça TiradentesCom jardim e com canteiro,

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Com banco pra muita genteMedi Dom Pedro Primeiro.

Meu Brasil não é sopa, não:‘Tando pronto e sem dinheiro,Se ele faz emissãoPede emprestado ao estrangeiro.

Este recitativo de Mesquitinha fazia vir a casa abaixo de gargalhadas e aplausos. Aracy cantava coisas sensacionais. Por exemplo, “Cor morena” ou “Cruzeiro”, de Ary Barroso – que o historiador Roberto Ruiz informa incorretamente serem sambas diferentes, atribuindo o lançamento de “Cor morena” na revista Pátria Amada. Mas lá está a letra de “Cor morena” na partitura de Banco do Brasil, elucidando tudo:

Eu sou cor de morena, cor de ouro,Sou brasileira, sou nacioná,Iaiá,A cor morena é um tesouro,è cor de jambo, é cheiroso manacá.Filha de Barbado,Com Getúlio eu não vou, não.Não sou baralho de rondaPara andar de mão em mão.Bam-bam-bam jurouPela sua devoçãoQue muito breve o CruzeiroVai fazer figuração

É um samba de equívocos políticos... Música de Ary Barroso, letra de Luiz Peixoto. Bem superior é “Meu Senhor do Bonfim”, samba de Sá Pereira, Marques Porto e Luiz Peixoto, também cantado na peça por Aracy:

Nas contas do meu rosárioTem conta que não tem fim,Ioiô.Cada conta é uma preceQue eu douPro meu Sinhô do Bonfim.

Bahia, minha Bahia,Terra de São Salvador,

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Foi na Bahia que um diaNasceu Nosso Senhor.

Uma revista musicalmente rica, como estava na moda, Banco do Brasil utilizava ao máximo o talento de Aracy. Ela dava o tom irônico-sentimental no samba-maxixe “Eu nasci pra você”, dos mesmos autores:

Eu nasci pra você,Ó meu pobre cantor,Não sei mesmo por quê.Meu amor,Minha flor,Tu me tratas assim.Tu me fazes penarSe fugires de mim,Mau...Deus do céu há-de te castigar...

Finalmente, a atriz cantava uma cortina na qual reponta a malícia bem ao gosto da platéia revisteira, música de Ary Barroso, letra de Marques Porto:

Eu não sei o que sinto em mimQue se um rapaz me tocarEmbora mesmo de leveEu começo a buzinar.E toda gente reparaNa buzina que não páraUm momento de tocar...Já disseram que é nervosoMas, meu Deus, é tão gostoso...buzinar!

(SCP, pag. 330-332)

Personagens Masculinos: 4   Femininos: 8 Sinopse: Músicas de Ary Barroso, Sá Pereira e Júlio Cristóbal. Papéis múltiplos. Figurantes. Nos 30 quadros, a crítica política e de costumes segue o habitual tom brincalhão dos autores, cujo enfoque se revela desde o início: "Minha terra é um paraíso/ que Deus fez pra se gozá/ o que nos falta é juízo/ o resto tudo dá lá...Meu Brasil não é sopa, não: ´tando pronto, sem dinheiro, se ele não faz emissão/ pede emprestado ao estrangeiro". Na parte musical, variada e rica, a malícia revisteira na letra de Marques

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Porto, musicada por Ary Barroso: "Eu não sei o que sinto em mim/ que se um rapaz me tocar/ embora mesmo de leve/ eu começo a buzinar..."(Catálogo da Dramaturgia Brasileira – Maria Helena Kühner)http://www.kuhner.com.br/catalogo/pecas_autor.php?autor=2193&f=999&m=999&g=0

O riso, o deboche e a crítica bem-humorada estão de volta à Praça Tiradentes, no mais novo e irreverente registro cômico da temporada, Banco do Brasil, estrelado por Aracy Cortes, com texto de Marques Porto e Luís Peixoto, a mais festejada dupla de autores de teatro de revista da capital da República. Banco do Brasil completava duas semanas de extraordinário sucesso no Theatro Recreio. Impiedosa sátira política, com apurado humor viperino, mesclava paródias, músicas de carnaval, dança, canto, e piadas ligeiras, inspiradas nas últimas patuscadas cometidas pela direção do banco, como diziam os jornais. (1930 – Os Órfãos da Revolução, de Domingos Meirelles, pag. 344)

PÁTRIA AMADA (14/12/1929) (13/12/1929) Nacional de Revistas – Empresa A. Neves & Cia – Teatro RecreioMarques Porto e Luiz PeixotoMúsica : DiversosMúsica: Ary Barroso, Pedro Sá Pereira e Júlio CristóbalMúsica: Ary Barroso, Augusto Vasseur e Júlio Cristóbal

Vasada em estilo cinematográfico, muda a todo instante de ambiente, 50% dois autores, 50% material alheio. Porto e Luiz, que têm talento, socorrem-se do menor esforço. Olimpio e palitos são as figuras máximas do elenco, acompanhadas de perto por Figueiredo, Juvenal, Oscar (ói ele aí! Hahaha), Maia; Olga tem um lugar à parte, por diferente dos demais. Estreou Zaira Cavalcante: é uma artista vitoriosa, tem tudo o que é necessário ao gênero e é, já, figura de destaque, sabendo cantar expressivamente, sublinhando tudo com meneios quentes. Elza Gomes estreou também no Recreio, é artista já predileta do público. Lelita Rosa fará carreira, mas é cedo ainda para cantar sambas, principalmente ao lado de Araci, cuja realeza no samba é indiscutível. O casal bailarino Brow é excelente aquisição: destaquem-se as marcações das girls, originais e vivas.

Estava em cena ao terminar o ano. (MN, volume 3, pag. 151).

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Marques Porto e Luiz PeixotoEstréia: Teatro Recreio, 14 de dezembroZaíra Cavalcanti estréia como atriz-cantora e Augusto Calheiros se lança como cantor. (LE&LFV, pag. 157).

A segunda maior bilheteria do ano, Pátria Amada, estreou no Teatro Recreio a 13 de dezembro e permaneceu em cartaz até 8 de janeiro de 1930. Assinaram a música Júlio Cristóbal, Ary Barroso e Augusto Vasseur. Vazada em estilo cinematográfico – e a dupla de libretistas já o havia tentado de outras vezes – Pátria Amada mudava de ambiente a todo instante, num ritmo veloz e bem cadenciado. O elenco “da casa”, com Aracy, Mesquitinha, Palitos, Juvenal Fontes, J. Figueiredo, Olga Navarro, Edmundo Maia, Oscar Soares e outros, via-se lançando não a atriz Elsa Gomes – que os leitores devem ter notado, atuava em revistas há algum tempo – mas Zaíra Cavalcanti, a mulata gaúcha de 16 anos que viera de uma temporada na Bahia cheia de fôlego e graça. Zaíra, no dizer do crítico Lafayette Silva, era “a mais séria ameaça do teatro popular” e iria ser um enorme sucesso pois “bisou seus números”. Para Mário Nunes, Zaíra “sublinhava tudo com meneios quentes”. Meneios que ela exporia com mais desembaraço a partir de 1930. A outra estréia na peça foi de Lelita Rosa, oriunda do cinema, onde aparecera em dois ou três filmes. A mania dos empresários da época de pôr nos anúncios a palavra “estréia”, desde que um ator ou atriz, mesmo tarimbado, ingressasse em determinada companhia no meio da temporada, é o que deve ter introduzido a erro alguns historiadores recentes. Fato concreto: o público riu e cantarolou com os dois atos e 40 quadros da revista, considerada pelo matutino Correio da Manhã maliciosa, feliz na variedade dos quadros, caprichosa na montagem. E, na cenografia, Pátria Amada introduzia uma novidade: uma galeria de cristal – isto, sim, imitação genuína do que mostravam os filmes. (SCP, pag. 333-334)

1930

...“Revistógrafos mais representados e queridos, Marques Porto e Luiz Peixoto. Insucesso, o de Vai dar o que Falar, vazia, ultra imoral; foi vaiada e, consertada, ficou dez dias em cartaz no João Caetano. Êxitos: Dá Nela, carnavalesca, e Pau Brasil, a melhor dos dois, até então, ambas

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mais de 100 representações no Recreio, onde foi à cena, também, Dá no Couro, quatro semanas.” (MN, volume 3, pag.158).

O último ano da década não alcançou o brilho do seu antecessor; mesmo assim, montaram-se revistas em excesso. A maioria, de péssima qualidade; mesmo algumas de reconhecido mérito foram por água abaixo na bilheteria. Choveram reprises. A crise econômica fazia o espectador pensar duas vezes antes de deixar seu dinheiro nos guichês do teatro. Os espetáculos de afluência forte e boas receitas não passaram de sete ou oito. Ultrapassaram as 100 representações Dá Nela!..., Pau Brasil, É do Outro Mundo e Dá no Couro, seguidas de perto por Na Pavuna, O Babado, Diz Isso Cantando e Brasil Maior. (SCP, pag. 335-336)

DÁ NELA (24/01/1930)Nacional de Revistas – Empresa A. Neves – Teatro Recreio Marques Porto e Luiz PeixotoMúsica: Júlio Cristóbal, Ary Barroso, Sá Pereira e Augusto Vasseur

Revista Carnavalesca, título tirado da marcha de Ary, premiada no concurso da Casa Edison. Satisfeito o público, no pré-carnaval, com a alegria foliona dos dois atos, ligeiros, de valor relativo. Há um sketche que define o estado de espírito imperante, nesta época, no Rio: moribundo abandonado pela família anima-se à passagem de um rancho e, entusiasmado, a ale se incorpora... A parte principal são sambas cantados por Araci Cortes, inexcedível de brasilidade, e Zaíra Cavalcante, que confirma seu triunfo no gênero. Olímpio (Mesquitinha) foi ovacionado no Palhaço, em que evidencia qualidades artísticas que o recomendam a mais alta posição no teatro. Duas estréias: Isabelita Ruiz, fina graciosa, interessantíssima e Tina de Jarque, muito constrangida. Olga Navarro e outros, bem. Montagem vistosa. Todo fevereiro e março, 13, 100 representações. (MN, volume 3, pag. 174).

Marques Porto e Luiz PeixotoEstréia: Teatro Recreio, de 24 de janeiro a 17 de março.Totalizou 150 apresentações. A marchinha Dá nela!, sucesso de Ary Barroso, vencedora do concurso promovido pela Casa Edson, foi cantada por Zaíra Cavalcanti, e depois gravada por Francisco Alves. Destaque, também, para Na Pavuna, cantada por Aracy Cortes. Esta peça, antes de

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estrear, chamava-se “Melhor de três”, e só teve o nome mudado no dia 22 de janeiro, dois dias antes da estréia, o que de certa forma atrapalhou a publicidade.  Música: Júlio Cristóbal, Pedro Sá Pereira, Augusto Vasseur e Ary Barroso. Ensaiador: João de Deus Elenco: Aracy Cortes, Carlos Medina, Edmundo Maia, Domingos Terra, Elsa Gomes, Isabelita Ruiz, J. Thomaz, José Figueiredo, Juvenal Fontes, Luísa Fonseca, Mesquitinha, Olga Bastos, Olga Navarro, Oscar Cardona, Oscar Soares, Palitos, Tina de Jarque, Zaíra Cavalcanti. (LE&LFV, pag. 157).

(...) Antônio Neves & Cia. apresentou, no dia 24 de janeiro [no Recreio], a revista carnavalesca Dá Nela!..., libreto de Marques Porto e Luiz Peixoto. Estavam no elenco Aracy Cortes, Olga Navarro, Zaíra Cavalcanti, Elsa Gomes, Mesquitinha, Palitos, Juvenal Fontes, José Figueiredo, Olga Bastos, Luísa Fonseca, Paíta Palos, Domingos Terras, Oscar Soares, Edmundo Maia, Carlos Medina, Oscar Cardona, Tina de Jarque, Isabelita Ruiz e, estreando como ator, o maestro J. Tomás. Quer dizer, a prata da casa. Partitura de Júlio Cristóbal, Sá Pereira, Ary Barroso e Augusto Vasseur. Ensaiada habilmente por João de Deus, a revista, do princípio ao fim, festejava o carnaval e obteve um êxito sem precedentes desde a primeira noite. Mesquitinha era ovacionado principalmente no monólogo “Palhaço”. A crítica da imprensa não poupou elogios ao bom-gosto da montagem. A marchinha “Dá nela...”, de Ary Barroso, recebera o primeiro prêmio no concurso promovido pela Casa Édison, notória loja de músicas do Rio, e

fez nascer uma estrela no tradicional teatro da Rua do Espírito Santo. Aos aplausos demorados e toda a platéia fazendo-a trisar a musiquinha que também cantava entusiasmada tornando o autor exultante, a crítica dava a sua homologação.

Quem escreveu isto foi o cronista Jotaefegê, testemunha ocular do episódio. A nova estrela, o leitor já adivinhou, era Zaíra Cavalcanti, que usava em cena calças compridas e blusa branca, lenço vermelho na cintura, chapéu de abas largas e leque, e cantou a marchinha de Ary no 15° quadro do 1° ato. A cor vermelha, convém esclarecer, era o símbolo da Aliança Liberal; esta significava oposição; Getúlio Vargas lançara há poucos dias sua plataforma política em comício reunindo 10 mil pessoas. Embora os autores não fossem oposicionistas, era-o a maioria da classe média decepcionada com a política econômico-financeira do governo.

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Mas a ideologia da marchinha irreverente visava apenas as mulheres faladeiras, e foi a mais cantada no carnaval, sem distinção de sexo, raça ou credo:

Essa mulher há muito tempo me provoca,Dá nela!Dá nela!É perigosa, fala que nem pata choca,Dá nela!Dá nela!

Fala, língua de trapoPois da tua boca eu não escapo.

Agira deu pra falar abertamente,Dá nela!Dá nela!É intrigante, tem veneno e mata a gente,Dá nela!Dá nela!

Gravada por Francisco Alves em disco Odeon 10.558-A, a marchinha ocupou o primeiro lugar nas paradas de sucesso. Contudo, uma revista não vive de uma só canção, especialmente uma revista momesca, e o carnaval de 1930 foi melodicamente rico. A Aracy Cortes coube defender o revolucionário samba de Henrique Foréis (Almirante) e Homero Dornelas (Candoca da Anunciação) chamado “Na Pavuna”. Como estava em moda, homenageava longínquo e popular subúrbio carioca. Pela primeira vez eram aproveitados instrumentos de percussão como a cuíca, o surdo, o tamborim, o pandeiro, o ganzá, o reco-reco e o triângulo. Um estilo que, no palco, só Aracy seria capaz de interpretar. E ela o fez a ponto de sentir-se obrigada a bisar e trisar o samba todas as noites, samba que também dominou as ruas:

Na Pavuna,Na Pavuna,Tem um samba que só dá gente reúna.

O malandro que só canta com harmonia,Quando está metido em samba de arrelia,Faz batuque assim,No seu tamborim,Com seu time enfezando o batedor.

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E grita a negrada,Vem pra batucada,Que de samba na Pavuna tem doutor.

Na Pavuna tem escola para o samba,Quem não passa pela escola não é bamba.Na Pavuna temCanjerê também,Tem macumba, tem mandinga e candomblé.Gente da PavunaSó nasce turuna,É por isso que lá não nasce mulhé.

Outro número musical no qual Aracy sobressaía: a apoteose final da revista. Então ela cantava em dueto com Olga Bastos o hino do Clube dos Democráticos, o mais popular dos desfiles alegóricos da terça-feira gorda, estendendo a homenagem aos Fenianos, Tenentes do Diabo e Pierrôs da Caverna. Não foi à toa que Dá Nela!... permaneceu em cartaz até 17 de março, quase chegando às 150 récitas... (SCP, pag. 336-338)

Personagens Masculinos: 10   Femininos: 9 Sinopse: Músicas de Ary Barroso, Sá Pereira, Julio Cristóbal e Augusto Vasseur. Papéis múltiplos. Figurantes. Revista carnavalesca por excelência, festeja o Carnaval do princípio ao fim. A marchinha maldosa que critica as mulheres faladeiras seria o sucesso do Carnaval: "Essa mulher há muito tempo me provoca/ Dá nela! / Dá nela!/ É perigosa, fala que nem pata choca/ Dá nela/ Dá nela!." Junto com ela, outro sucesso perene, de Almirante e Candoca: "Na Pavuna/ na Pavuna / tem um samba que só dá gente reúna". A apoteose final era o hino do Clube dos Democráticos, estendendo-se a homenagem aos Tenentes, Fenianos e Pierrôs da Caverna.(Catálogo da Dramaturgia Brasileira – Maria Helena Kühner)http://www.kuhner.com.br/catalogo/pecas_autor.php?autor=2193&f=999&m=999&g=0

O maestro J. Cristobal ergueu a batuta e a orquestra do Teatro Recreio onde naquela noite de 24 de janeiro de 1930, era estreada mais uma revista da parceria Marques Porto-Luiz Peixoto, atacou a marchinha. E Zaíra Cavalcante num jeitinho menineiro começou a cantar: “Essa mulher há muito tempo me provoca”. As coristas movimentando-se ao compasso da música fácil ajuntaram o refrão: “Dá nela! Dá nela!”. Prosseguiu então a atriz complementando a cópia brejeira: “É perigos,

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fala mais que pata choca”. Novamente o coral, bem vivo, sentindo o agrado do número, repetiu: “Dá nela! Dá nela!” (...)(...) A empresa A. Neves & Cia., explorando no tradicional Recreio da antiga Rua do Espírito Santo (hoje Rua Pedro I) o gênero das revistas populares, não dormiu no ponto. Assessorada por Marques Porto e Luiz Peixoto, autores de quase todas as peças ali apresentadas, e invariavelmente com excelente freqüência e conseqüente bilheteria, viu a marchinha como ótimo chamariz para o próximo cartaz. Estava anunciada a estréia de A melhor das três, mas, os dois dias antes da première (24 de janeiro), aparecia nos anúncios dos jornais e na fachada do teatro o novo título: Dá nela! (...) [a marcha havia sido vencedora de um concurso de sambas e marchas, promovido pela Casa Edson](Com a Marchinha do Ary Nasceu uma Estrela na Rua do Espírito Santo, do livro Figuras e Coisas da Música Popular Brasileira, Volume I, de Jota Efegê, Ed. MEC/FUNARTE, 1978, pag. 94, 95)

PAU BRASIL (30/04/1930) (04/04/1930) (04/04/1930)Nacional de Revistas – Empresa A. Neves – Teatro Recreio Marques Porto e Luiz PeixotoMúsica: Júlio Cristóbal e Ary Barroso

Foi proclamada a melhor música da parceria até hoje. Espetáculo sumariamente divertido, variado e leve, com excelentes papéis para o elenco e música escolhida com gosto. Prendem e agradam: a graça de tudo; a encenação moderníssima, cenários e guarda-roupa; o corpo de girls, honrando o esforço de Nemanoff; a interpretação, explorando os artistas também os papéis que parece ser essa a melhor companhia do gênero, que temos tido. Luiza Fonseca, abre com brilho, faz-se aplaudir depois em outros números. Olímpio em Filtro da mocidade, impagável Satanás, confirma o título de maior figura de nosso teatro popular. O ensaio, com Olga e Oscar Soares, excelente sketche. Joalheria é quadro de apoio da revista, Olímpio, Palitos, Augusta, Olga. Crítica oportuna: Como elas andam; e assim, a cortina Telegrama e o esfuziante Fox Mix-band, com Falcão. Outro vivíssimo sucesso Pau Brasil, por Olímpio; e também Primeiro adultério no Brasil e outros. Zaira é guindada a estrela merecidadmente: sem favor, por sua figura, expressão, voz, brasilidade, é a maior revelação dos últimos tempos.Muito bom, mais, Coros craneanos, para a veia cômica de Augusta; D. Alice, ruidoso êxito de hilaridade de Palitos; Amor a dedos, malícia envolvente, Olga; Bailados, Valery e Nemanoff. Lídia Campos chamada para substituir Araci, que se

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desentendera no ensaio geral e se recusou a trabalhar, ( e a lei Getúlio Vargas? E o contrato?) fez o que pode. No cartaz todo maio. (MN, volume 3, pag. 174-5).

Marques Porto e Luiz PeixotoEstréia: Teatro Recreio, de 4 de abril a 10 de junho.Apesar de falar da chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil, o tema da peça era o concurso de Miss Brasil. Naquele ano, Yolanda Pereira foi eleita Miss Universo. Aracy Cortes abandona o elenco e é substituída por Zaíra Cavalcanti. A música Jure (Oscar Cardona) é cantada na peça em homenagem a Mesquitinha. Cenário: Ângelo Lazary Elenco: Aracy Cortes, depois Zaíra Cavalcanti), Edith Falcão, João de Deus, Luísa Fonseca, Mesquitinha, Olga Navarro e os bailarinos Nemanoff et Valery. (LE&LFV, pag. 157).

No Teatro Recreio, a sorte sorria. A 4 de abril estreou Pau-Brasil, a melhor revista da parceria Marques Porto & Luiz Peixoto, com críticas oportunas que levaram os comentaristas a elegerem-na “a melhor dos últimos tempos”. A música juntava, de novo, Ary Barroso e Júlio Cristóbal. Na véspera da première, Aracy Cortes, temperamental, abandonou o elenco abrindo vaga para a merecida ascensão de Zaíra Cavalcanti ao posto de estrelíssima. O retorno de Mesquitinha enriqueceu a parte hilariante. Pau-Brasil registrou um triunfo marcante, permanecendo em cartaz até 10 de junho, com mais de uma centena de récitas. Justificava-se: a revista propunha-se apenas a divertir. No prólogo, Satã convida a platéia a gozar... um “diabo moderno, um Satanás a valer, que instalou seu inferno na cidade do prazer”. No 1° ato, quadro n° 5, um samba de arrelia:

Em Dona ClaraMalandro não é arara. (bis)Lá só nasce gente bambaNão tem escola de samba.Isso de escola é pra lêFoi feito só pra douto.Pra ensiná a mexêNão precisa professô.

O samba nasce com a genteSó o malandro é que sente...Cada quem vive em seu meioFazendo suas visage.

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No samba só não faz feioQuem nasce na malandrage.

Após saudar a Miss Jazz-Band, fazia-se o elogio do pau-brasil:

Pau-Brasil, símbolo baitaDeste Brasil brasileiro,Na paz bondoso e fagueiro,Na encrenca raivoso e mau

Deste Brasil, desta gaita,Do Brasil caboclo e bambaQue é a fuzarca do sambaE que não toca pro pau.

Do Brasil verde e amarelo,Brasil dos altos e baixos,Deste Brasil dos despachos,Macumbas e candomblés.

Do Brasil possante e beloDe tão bela naturezaMexidinho à milanesaDe índio e de português.

Deste Brasil puro e moçoQue arranca dos violõesEssas tão lindas cançõesQue as outras terras não têm.

Deste Brasil muito nosso Que tanta grandeza encerraSem nunca um palmo de terraTer conquistado a ninguém.

A peça segue num ininterrupto crescendo. Relata a chegada de Pedro Álvares Cabral. Registra um dueto entre duas aves nativas, o sabiá e a juriti. Cabral tenta a mulata, como bom português. Uma atriz exalta e “sonha” com o cigano Abdulah. Faz-se uma cena lúbrica sobre os modelos de inverno. E a apoteose do 1° ato saúda Miss Universo, isto é, a beleza mundial. No 2° ato, um mulato canta vaidades de conquistador e a rainha do samba, neste caso a sensual Zaíra Cavalcanti, afirma que “brasileira nunca foi de brincadeira” porque

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não olha besteira, Não liga bobagemMas quando se trata de homem da gente, então é que tem que ser dente por dente.

Canta-se um tango e Zaíra lança o samba-canção “Jurei”, de Oscar Cardona, logo gravado por Francisco Alves, Parlophon 13.213-B. À cortina “Vem pro meu cantinho”, segue-se o quadro “Sevilha dos meus amores”. Depois, “Como elas andam”, a cortina “Telefonema”, a “Havaiana”, o “Ukelele” e o final apoteótico com a “Canção do vagabundo”. Muitos aplausos para Mesquitinha, Zaíra, Olga Navarro, Luísa Fonseca, Edith Falcão, J. Figueiredo, João de Deus e os bailarinos Nemanoff e Valery, além de serem ovacionados os cenários de Ângelo Lazary. (SCP, pag. 341-343)

Personagens Masculinos: 8   Femininos: 7 Sinopse: Música de Ary Barroso e Júlio Cristóbal. Papéis múltiplos. Figurantes. Satã, diabo moderno, instala seu inferno na cidade do prazer, e saúda o samba, no qual só não faz feio quem nasce na malandragem. Fazendo uma bem-humorada apologia desse Brasil caboclo e bamba, que é da fuzarca e do samba, o Brasil dos despachos, macumbas e candomblés, "que encerra tanta grandeza/ ser nunca um palmo de terra/ ter conquistado a ninguém", os quadros vão desfilando a chegada de Pedro Álvares Cabral (que vai tentar a mulata), um dueto entre aves nativas, uma cena lúbrica entre os modelos de inverno, uma saudação à beleza mundial, Miss Universo, seguida de outra à rainha do samba etc. etc. A apoteose é com "A Canção do Vagabundo".(Catálogo da Dramaturgia Brasileira – Maria Helena Kühner)http://www.kuhner.com.br/catalogo/pecas_autor.php?autor=2193&f=999&m=999&g=0

DÁ NO COURO (03/07/1930)

Nacional de Revistas – Empresa A. Neves – Teatro Recreio Marques Porto e Luiz PeixotoMúsica: DiversosMúsica: Pedro Sá Pereira, Júlio Cristóbal, Ary Barroso, Augusto Vasseur e Luiz Peixoto. 

Sucesso igual às anteriores da dupla. Deve demorar no cartaz. Muita verve e também sal grosso, frases de duplo sentido. Sucessos: Chiquita,

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Palitos que a cantou três vezes; Bem que me haviam dito... sketche, grande comicidade; os números de Araci, bisados. Olímpio, aplaudidíssimo. Todas as figuras do elenco, muito bem. Bailados, Valery à frente, coros bem ensaiados, concorrem para o agrado pleno. Encenação razoável. (MN, volume 3, pag. 175).

Marques Porto e Luiz PeixotoProduzida por A. Neves, ficou em cartaz de 3 a 30 de julho. Em 26 de julho, Carmen Miranda homenageou os autores. Aconteceram mais de cem apresentações. Ensaiador: João de Deus Cenógrafo: Jaime Silva e Raul de Castro Coreógrafo: Nemanoff Regente: Júlio Cristóbal Elenco: Aracy Cortes, Augusta Guimarães, Carlos Medina, De Carambola, Edith Falcão, Edmundo Maia, Fortunay, Iolanda Ribeiro, J. Figueiredo, J. Thomaz, Lely Morel, Leni Morel, Lessy, Luísa Fonseca, Mesquitinha, Nemanoff, Olga Navarro, Oscar Soares e Palitos. (LE&LFV, pag. 157). 

(...) o Neves estreou no seu teatro [Recreio], a 3 de julho, Dá no Couro!, dos experientes Marques Porto e Luiz Peixoto, música de Ary Barroso, Sá Pereira, Júlio Cristóbal, Augusto Vasseur e outros. Ensaidor, João de Deus; coreógrafo, Nemanoff; cenógrafos, Jaime Silva e Raul de Castro; regente orquestral, J. Cristóbal. A revista trazia a “verve” dos libretistas, que Mesquitinha interpretava com o jeito chapliniano com o qual dotara a natureza. Aracy Cortes cantava “Brasil glorioso”, de Vasseur. Dessas surpresas: a peça superou as 100 reapresentações. O compositor J. Tomás brincava de ator; o inglês Fortunay integrava o elenco. Na noite de 24, houve uma festa homenageando os autores, com a presença de Carmen Miranda no palco cantando novos números do seu repertório. E Dá no Couro! Só saiu de cena a 2º do mês para ceder lugar, no dia 21, à estréia de Diz Isso Cantando. (SCP, pag. 343-344)

VAI DAR O QUE FALAR (13/09/1930) (12/09/1930)Grande Companhia de Revistas – Empresa Antônio Neves – Teatro João CaetanoMarques Porto e Luiz PeixotoMúsica: Augusto Vasseur e Ari Barroso

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Foi Antônio Neves o primeiro arrendatário do novo João Caetano. Organizou elenco em que se acumulavam figuras de proa.Silvio Vieira, Manoelino Teixeira, Paita Palos, Raul Neroni, Vicente Marchelli, Albino Vidal, J. Mafra; e - Carmem Miranda, Eva Stachino, Zaira Cavalcante, Lia Binatti, Olga Navarro, Sarah Nobre, Lely Morel, Tina de Jarque, Julieta Bastos.Diretores: Artístico, Luiz Peixoto; De cena, Otávio Rangel; Coreográfico, Lou e Janot; Musical, Augusto Vasseur.Maquinistas: Osório Zalut e Antônio Novelino.Cenógrafos: Ângelo Lazary, Raul de Castro, Luiz Aires.

- Dá mesmo que falar e muito: os autores foram além da licença reinante, já excessiva, atolaram-se na imoralidade, reproduzindo aspectos obscenos da zona do meretrício, e pilhérias de mau gosto, nos quadros Caso Urgente e Desfile de Misses, e o público interrompeu o espetáculo com tremenda pateada, coisa que não ocorria no Rio há muitos anos. A revista sobremodo fraca, vazia de idéias, não agradou. Somente Carmem Miranda, Zaira Cavalcanti e Raul Neroni, em suas especialidades, já aplaudida em outros teatros, conseguiram quebrar a algidez da platéia. Interessantes, todavia, os bailados: Kalatan, Piratas, Espectros, Lou, Janot e girls; o scketche Não é Meu Marido, Palitos e Sarah Nobre; Rainha Cubana, charge, Lely Morel, Palitos Lou e Janot. Encenação medíocre; 23 - foi nomeado diretor de cena, Joracy Camargo; e nesse dia Vai Dar o que Falar saiu do cartaz, entrando em ensaios nova revista; (MN, volume 3, pag.177)

Marques Porto e Luiz PeixotoEstréia: Teatro João Caetano, de 13 de setembro a 21 de dezembro.O texto reproduz a zona do baixo meretrício da Cidade Nova e do Mangue. Uma claque provavelmente colocada no teatro pelos inimigos do empresário ou dos atores, contagiou a platéia com uma vaia. A classe média não gostou do fato da chaga social ser desnudada com tanta clareza. O fato perturbou Carmen Miranda, que atuou apenas por uma noite. Eliminado o quadro “Mangue”, a peça voltou ao cartaz. A publicidade da peça dizia que seus efeitos de luz, só eram vistos nas revistas de Paris, Nova York e Londres. Elenco: Carmen Miranda, João Martins, Lia Binatti, Manoelino Teixeira, Olga Navarro, Raul Neroni, Sara Nobre, Zaíra Cavalcanti. (LE&LFV, pag. 157). 

O empresário Antônio Neves amava o show-business, tinha loucura pela revista. Enquanto o Recreio recebia reformas, Neves reorganizou o elenco colocando Lia Binatti à frente de várias estrelas como Zaíra Cavalcanti, Eva Stachino, Olga Navarro e mais Sara Nobre, Lely Morel,

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Paíta Palos, Julieta Bastos, Albino Vidal, J. Mafra, Raul Verona, Tina de Jarques, Manoelino Teixeira, João Martins, Vicente Marchelli e o barítono (ou tenor?) Sílvio Vieira; acrescentou 30 girls e 20 boys. Então, verdadeiro vidente, convidou – e ela aceitou! – Carmen Miranda, que o rádio e o disco faziam subir de cotação, a participar de Vai Dar que Falar, revista de Marques Porto e Luiz Peixoto. Estreando no João Caetano a 12 de setembro, estranhamente Vai Dar que Falar foi mal recebida. Açudada por inimigos dos autores ou do empresário, na noite da estréia uma malta de cidadãos desandou a vaiar estrepitosamente quadros realistas da peça, e a assuada contagiou toda a platéia. Tais quadros reproduziam aspectos da zona do baixo meretrício, a Cidade Nova ou Mangue; intitulavam-se “Caso urgente” e “Desfile de misses”. A classe média sabia e aceitava, fingindo ignorar, a chaga social do lenocínio segregado em determinadas ruas. A hipocrisia, porém, não queria admitir que o fato fosse denunciado com tal clareza como o fizeram Peixoto e Porto. O espetáculo foi interrompido pela vaia intempestiva. O fato perturbou enormemente Carmen Miranda, inexperiente, estreante, que só representou naquela noite. Eliminados os quadros “imorais”, a revista, com música de Ary Barroso e Vasseur, ficou em cena até 21 de setembro. (SCP, pag. 347-348)

Personagens Masculinos: 7   Femininos: 8 Sinopse: Música de Ary Barroso e A. Vasseur. Papéis múltiplos. Figurantes. A revista ficaria marcada por dois fatos: a reação do público a dois quadros realistas sobre a zona de baixo meretrício, ou Mangue, intitulados "Caso urgente" e "Desfile de misses". E a presença, no elenco, da estreante Carmen Miranda, que já estava adquirindo nome na rádio e em disco.(Catálogo da Dramaturgia Brasileira – Maria Helena Kühner)http://www.kuhner.com.br/catalogo/pecas_autor.php?autor=2193&f=999&m=999&g=0

(...) O lançamento de Vai dar o que falar, revista dos escritores Marques Porto e Luiz Peixoto, apresentada como “célebre parceria” (de fato era), fez acorrer ao Teatro João Caetano público numeroso. O desempenho estava confiado a um elenco de “azes” e, encabeçando-o, como atração, estava Carmen Miranda. Ela, embora cognominada a “rainha do disco”, pela primeira vez ia aparecer fazendo parte de um conjunto teatral. O empresário Antonio Neves confiava na versatilidade da mocinha e não hesitou em incluí-la entre suas estrelas. (...)

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(A Tumultuosa Estréia de Carmen Miranda no Teatro, do livro Meninos, Eu Vi, de Jotaefegê, Ed. MEC/FUNARTE, 1985, pag. 71)

PENSÃO MEIRA LIMA (1930)(Enciclopédia de literatura brasileira. São Paulo: Global; Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Academia Brasileira de Letras, 2001: 2v. Afrânio Coutinho e J. Galante de Sousa)http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/Consulta/Autor.php?autor=5467

1931

No Brasil, como no resto do mundo, 1931 foi também, financeiramente, um dos piores anos para o teatro de revista. A produção, quantitativamente, cresceu – louvável esforço dos revistógrafos. Mas, vivíamos tempos de vacas magras, e a criatividade não evitou os prejuízos decorrentes da crise. Aliás, a criação esteve a todo pano, e é possível pinçar uma dezena de excelentes idéias levadas ao palco resultando em sucessos... quinzenais. Aliado – e não concorrente – do rádio, o teatro de revista prosseguia como lançador de sucessos carnavalescos; e utilizava, com freqüência, compositores e cantores que se projetavam na música popular brasileira – como reforço dos espetáculos. (SCP, pag. 353)

SE VOCÊ JURAR (05/02/1931)Companhia Arco da Velha – RialtoMarques Porto, Luiz Peixoto e Nogueira PortoMarques Porto e Luiz PeixotoMarques Porto e Luiz Peixoto

Marques Porto e Luiz PeixotoEstréia: Teatro Rialto (Recreio), de 5 de fevereiro a 3 de marçoMontagem da Cia. Arco da Velha, a revista era porta-voz das canções carnavalescas, destacando-se: Se você jurar (de Newton Bastos e Ismael Silva),  É aquela água, e o grande sucesso de Noel Rosa Eu vou pra Vila.

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A peça foi depois apresentada no Teatro Apolo (SP), em abril de 1931, em maio no mesmo ano no Teatro Mafalda e, em julho, no Teatro Popular (SP) e, finalmente em agosto no Teatro Madureira. Elenco: Francisco Rangel, Hermínia Reis, João Fernandes, Juvenal Fontes, Lídia Campos, Norma Bruno, Olga Navarro, Paulo Ferraz, Salu de Carvalho, Violeta Ferraz. (LE&LFV, pag. 157). 

Vista e aplaudida foi Se Você Jurar, de Marques Porto e Luiz Peixoto, com motivos carnavalescos. Lançada no Rialto, lá ficou de 5 de fevereiro a 3 de março, suspendendo as sessões apenas durante os três dias de folia. A crítica considerou a idéia fraca, o texto vacilante, canhestras as interpretações dos atores Juvenal Fontes, Olga Navarro, Lídia Campos, Violeta Ferraz, Norma Bruno, Paulo Ferraz, a portuguesa Hermínia Reis, Salu de Carvalho, Francisco Rangel e João Fernandes. Eles constituíam a Companhia Arco da Velha, de vida curta. Mas o objetivo da peça era servir de porta-voz para as composições carnavalescas. Entre a dezena incluída, destacaram-se o “Se você jurar”, de Ismael Silva e Nilton Bastos, e mais duas cujo êxito, pequeno nos bailes e desfiles de rua, cresceu durante o meio do ano – uma delas virando clássico da música popular. A primeira, a marchinha de Ismael e Milton “É aquela água...”. E a frase constava do estribilho:

Você não gosta de mim,Amor você não me tem,Não posso viver assim,Vou procurar quem me queira bem.

Nos versos seguintes, a marchinha explicava não haver razões para mágoa entre casais separados, e aparecia o tom filosófico típico das letras do grande Ismael definindo que

casamento sem amizade,o resultado é aquela água...,

isto é, como denotava a gíria da época, não surtia efeito, não funcionava, não dava certo. A segunda composição, o samba de Noel Rosa exaltando os valores do bairro em que nasceu e morreu, Vila Isabel, no Rio de Janeiro, “Eu vou pra Vila”. Ele repetiria o tema outras vezes, mas esta foi a primeira e mais exuberante, tendo o samba sido escrito e entregue ao editor em fins de 1930 e gravado em disco Parlophon pelo autor, É um sambinha gostoso, repleto de termos de gíria, debochando dos compositores concorrentes:

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Não tenho medo de bamba,Na roda de sambaEu sou bacharel...Sou bacharel...Andando pela batucadaOnde eu vi gente levadaFoi lá em Vila Isabel!

Na Pavuna tem turuna,Na Gamboa, gente boa,Eu vou pra VilaOnde o samba é da coroa.Já mudei de PiedadeJá saí de Cascadura,Eu vou pra VilaPois quem é bom não se mistura.

Quando eu me formei no sambaRecebi uma medalha.Eu vou pra VilaPro samba do chapéu de palha.A Polícia em todo cantoProibiu a batucada,Eu vou pra VilaOnde a Polícia é camarada.

(SCP, pag. 357-358)

Personagens Masculinos: 5   Femininos: 5 Sinopse: Revista pré-carnavalesca, que visava apenas abrir espaço às novas composições. Entre elas: o "Se você jurar", de Ismael Silva e Nilton Bastos, que se tornaria um clássico da música popular, e o "Eu vou pra Vila", de Noel Rosa, exaltando seu bairro de origem e moradia. (Catálogo da Dramaturgia Brasileira – Maria Helena Kühner)http://www.kuhner.com.br/catalogo/pecas_autor.php?autor=2193&f=999&m=999&g=0

FEIRA DE AMOSTRAS (1931)(Enciclopédia de literatura brasileira. São Paulo: Global; Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Academia Brasileira de Letras, 2001: 2v. Afrânio Coutinho e J. Galante de Sousa)http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/Consulta/Autor.php?autor=5467

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O QUE O PRÍNCIPE NÃO VIU (1931)(Enciclopédia de literatura brasileira. São Paulo: Global; Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Academia Brasileira de Letras, 2001: 2v. Afrânio Coutinho e J. Galante de Sousa)http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/Consulta/Autor.php?autor=5467

MALANDRAGEM (27/02/1931)

Teatro RecreioMarques Porto, Ary Barroso e Sá Pereira

Naquele ano difícil, a cada êxito correspondiam quatro ou cinco malogros. Um deles, apesar de a companhia do Recreio estar completa, com Aracy Cortes, Mesquitinha, Augusto Aníbal e as 30 girls..., apesar de a peça vira assinada por Marques Porto, Ary Barroso, Sá Pereira, e estrear no fim do verão, 27 de fevereiro, não resistiu ao público e à crítica. Chamava-se Malandragem. A despeito de o malandro, como tipo exótico, vir sendo cantado no palco e nas gravações de modinhas há muitas décadas, a classe média emergente não admitia exaltar o malandro cuja conotação imediata era a de vagabundo, ocioso, morador de favelas, negro ou mulato ou índio. Aceitava, sim, a malandragem sinônimo de esperteza, de falta de caráter, e partindo daí quase santificou o Presidente Getúlio Vargas, pelas rasteiras que pregaria em correligionários e adversários enquanto no poder...(SCP, pag. 358-359)

BRASIL DO AMOR (14/05/1931)

Companhia Margarida Max – Manoel Pinto - Teatro RecreioMarques Porto e Ary Barroso

De súbito, um triunfo real; Aracy Cortes afastou-se, o empresário Antônio Neves fez uma parada, e o velho rival Manoel Pinto, ocupa o Teatro Recreio com a Companhia Margarida Max totalmente reorganizada. Os contratados para o primeiro espetáculo são Mesquitinha, Olga Navarro, Augusto Aníbal, Carmen Dora, Dulce de Almeida, Hermínia Reis, Cândida Rosa, Liana Alba, Joaquim Coelho, Olga Bastos, Afonso Stuart, José Figueiredo, Oscar Cardona, João de Deus, Oscar Soares, Domingos Terras, Adalardo Matos e o cantor Sílvio Vieira.

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Este espetáculo é Brasil do Amor, dois atos e 45 quadros, de Marques Porto e Ary Barroso, estreado a 14 de maio, sob a direção de João de Deus. E com um fio de enredo, uma linha temática coerente, o que parece “novidade” aos neófitos. Os comentaristas, em suas resenhas, vibraram. Mário Nunes rotulou-a de uma das melhores revistas em muitos anos e disse que Margarida Max retornava ao lugar que, de direito, lhe pertencia, ou seja, de rainha do gênero. Lafayette Silva, em sua coluna, chamou a première de “tempos saudosos de À la Garçonne”. E saudou o estreante Sílvio Caldas, que cantou os sambas “Gente bamba” e “Malandragem”. Este “Gente bamba” popularizou-se e foi gravado pelo próprio Sílvio Caldas com o título de “Faceira” na etiqueta Victor n° 33.446-A. Samba inspirado, melodia e versos de Ary Barroso, é quase um prefixo do cantor até meio século depois, e começa com aqueles versos que o Brasil inteiro sabe de cor:

Foi num sambade gente bamba,oi, gente bambaQue eu te conheci, faceira...

Margarida Max relançava a melodia de Ary Barroso que Aracy Cortes cantara, com letra de J. Carlos, no ano anterior na revista É do Outro Mundo: agora, com letra infinitamente superior, de Lamartine Babo, “Na Grota Funda” se transmutara em “No Rancho Fundo” – um dos dez maiores sambas de todos os tempos. Curioso é que o samba-canção iria para o disco, inicialmente, na voz de Elisinha Coelho (Victor 33.444-A), suplemento de agosto de 1931, e Sílvio Caldas viria a gravá-la em 1939 (Victor 34.496-B). “N Rancho Fundo” seria das músicas mais gravadas no Brasil, quase 40 edições por diferentes intérpretes como Isaurinha Garcia, Francisco Carlos, Elizeth Cardoso, Paulo Tapajós, inúmeros conjuntos instrumentais – menos Aracy Cortes. E Margarida, particularmente sua amiga, numa vingançazinha de ribalta, lançava, gloriosa, no palco, a versão definitiva da célebre composição. Observe-se a brasilidade e o romantismo da letra de Lamartine Babo:

No Rancho Fundo,Bem prá lá do fim do mundo,Onde a dor e a saudadeContam coisas da cidade...No Rancho Fundo,De olhar triste e profundo,

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Um moreno canta as mágoasTendo os olhos rasos d'água...

Pobre moreno,Que, de tarde, no sereno,Espera a lua no terreiroTendo um cigarro por companheiro.Sem um aceno,Ele pega da viola,E a lua, por esmola,Vem pro quintal desse moreno.

No Rancho Fundo,Bem prá lá do fim do mundo,Nunca mais houve alegria,Nem de noite, nem de dia!Os arvoredosJá não contam mais segredos,E a última palmeiraJá morreu na cordilheira!

Os passarinhosInternaram-se nos ninhosDe tão triste esta tristezaEnche de treva a natureza.Tudo por quê?Só por causa do morenoQue era grande, hoje é pequenoPara uma casa de sapê.

O grande, enorme Lamartine Babo era grande demais para a revista: a estrofe publicada é apenas a primeira parte da obra-prima. E Aracy não ficou magoada com Margarida, mas com Ary, por jamais ter-lhe dado a oportunidade de gravar o sambão.

Brasil do Amor conduzia outros valores. No 8° quadro do 1° ato, por exemplo, a Melindrosa Patriota, penso que Carmen Dora ou Olga Bastos, recitava uma patriotada carregada de humor:

Para ajudar o paísPagar a dívida externaMete a mulher o narizNa inovação mais moderna,

Indo ao Fênix apreciar,Sozinha, a sessão das dez,

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Fará gente assim pagarMultas de vinte mil réis...

Naqueles tempos, se uma mulher fosse a sós a uma sessão de teatro, significava apenas algo: mulher de vida livre... Não admira que, até 9 de junho, cumprisse a peça mais de 50 apresentações. (SCP, pag. 360-363)

Personagens Masculinos: 11   Femininos: 7 Sinopse: Tendo por fio condutor o tema-título, os quadros exaltam os valores brasileiros, inclusive alguns inusitados para a época, como o quadro "Melindrosa Patriota", em que se diz: "Para ajudar o país/a pagar a dívida externa/ mete a mulher o nariz/ na inovação mais moderna / indo ao Fénix apreciar/ sozinha, a sessão da dez..." Mas o ponto alto são as músicas, algumas das quais se eternizaram na MPB, como "Rancho Fundo", de Lamartine Babo: "No Rancho Fundo/ bem pra lá do fim do mundo/ onde a dor e a saudade/ contam coisas da cidade..." Ou o samba de Ary Barroso: "Foi num samba/ de gente bamba, oi, gente bamba/ que eu te conheci, faceira..."(Catálogo da Dramaturgia Brasileira – Maria Helena Kühner)http://www.kuhner.com.br/catalogo/pecas_autor.php?autor=2193&f=999&m=999&g=0

É DO BALACOBACO (25/06/1931)

Teatro RecreioMarques Porto e Vítor PujolMúsica: Ary Barroso

Para aliviar as preocupações, a 25 de junho o Teatro Recreio estreou É do Balacobaco, de Marques Porto e Vítor Pujol, música de Ary Barroso. Margarida Max, Mesquitinha, Augusto Aníbal, Theda Diamant e o resto da turma estavam lá (Olga Navarro, José Fugueiredo, a maravilhosa Luísa Fonseca, Cardona, Stuart, Hermínia...). A crítica do Correio da Manhã dizia que a peça não era a original, mas fazia rir. Fato concreto: Sílvio Caldas cantava “caboclo da cidade”, “Malandro”, de Freire Jr. E Francisco Alves, gravado pelo segundo em 1929 (Odeon 10.424-A) e um sensacional “Bam-Bam-Bam”, quarto número do 1° ato cujo estribilho rezava:

Uma vez fui à MangueiraNum samba de gente maneira,Conheci um cabra saradoNo samba condecorado.Vivi na malandragem,

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E nunca ninguém comigo levou vantagem.Eu já fui diplomadoEu sou bam-bam-bamSem medo, sem nada...

Em outro quadro de É do Balacobaco, os autores desfechavam suas setas contra a política cambial do Governo Provisório:

Diz todo mundoQue o tal câmbio vai a seis...Mas o ouro ‘tá sumindoNa algibeiraDo inglês...

Sou manhoso, não me ralo,Esse câmbio é cambalacho,Que nem rabo de cavaloQue só cresce para baixo...

O resto do repertório musical não obteve repercussão. E ao deixar o cartaz a peça, a 15 de julho, veio a apelação de remontagens... (SCP, pag. 364-365)

AI, TERESA! (19/09/1931)

Teatro RecreioMarques Porto, Vítor Pujol e Ary Barroso

Ai, Teresa!, de Marques Porto, Vítor Pujol e Ary Barroso, suportou nove dias, de 19 a 27 de setembro. (SCP, pag. 368)

1932

A crônica de 1932 registra outro ano péssimo de receitas, pela escassez de público; primeiro, pela situação econômica; em segundo lugar, a partir de julho, pela guerra civil em São Paulo. Contudo, numa temporada teatral fraquíssima, a tendência que se delineara nos últimos cinco anos, afirmou-se: cresceu a utilização de cantores e compositores populares, acompanhados de conjuntos de corda e de instrumentos de

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sopro, nas revistas carnavalescas e de meio de ano. Poucas peças atingiram três semanas em cartaz, e as que o fizeram foram saudadas como de ótimo retorno. (SCP, pag. 369)

A MELHOR DAS TRÊS (02/06/1932)Cia. A. Neves - Teatro RecreioMarques Porto e Ary BarrosoMúsica: Ary Barroso, Sá Pereira e Júlio Cristóbal

(...) A peça [Frente Única] permaneceu em cena no Recreio de 29 de abril a 17 de maio. Substituiu-a, de 20 a 29, Terra de Samba, de Olegário Mariano, fraquíssima. Foi seguida por A Melhor das Três, revista de Marques Porto e Ary Barroso com música do último, de Sá Pereira e Júlio Cristóbal. A crítica da imprensa achou a peça apenas passável, porém foi das mais bem aceitas pelo público, que lhe assegurou 17 dias em cartaz, de 2 a 18 de junho no Recreio. O elenco recebeu o reforço da atriz portuguesa Adelina Fernandes, e Sílvio Caldas cantou números de seu repertório. (SCP, pag. 377)

O programa da peça está na Biblioteca do Instituto Moreira Salles. (27 pag.). Coleção José Ramos Tinhorão

O ARMISTÍCIO (10/1932)Teatro RecreioMarques Porto, Ary Barroso e Carlos Cavaco

Em julho, o Recreio remontou a clássica revista de Sousa Bastos Tim-Tim por Tim-Tim... e, a partir daí, uma infinidade de peças de ínfima categoria, as únicas toleráveis sendo Vai com Fé, de Ary Barroso (em agosto), ... No Mundo da Lua, de Luiz Peixoto, Alfredo Breda e Ary Barroso (em setembro) e O Armistício, de Marques Porto, Ary Barroso e Carlos Cavaco (em outubro). (SCP, pag. 377)

PRATA DA CASA (1932)

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Teatro NictheroyMarques Porto, Luiz Peixoto e Júlio Iglésias

Seria uma seleção de peças dos autores. (LE&LFV, pag.158).

ALÔ, BOY (1932)(Enciclopédia de literatura brasileira. São Paulo: Global; Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Academia Brasileira de Letras, 2001: 2v. Afrânio Coutinho e J. Galante de Sousa)http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/Consulta/Autor.php?autor=5467

AMORZINHO (1932)(Enciclopédia de literatura brasileira. São Paulo: Global; Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Academia Brasileira de Letras, 2001: 2v. Afrânio Coutinho e J. Galante de Sousa)http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/Consulta/Autor.php?autor=5467

1933

Estranha temporada a de 1933 no teatro. A recuperação econômica se fazia com lentidão, e o teatro disto se ressentia. Registram-se poucos sucessos. Há mais interesse de crítica do que de afluência. Entre uns e outros, Traz a Nota! (28 dias) e Pra Mim, Chega!, de Jardel Jércolis, com 18 dias; Aí... Hein?!, Linda Morena, Mossoró, Minha Nega e Brasil da Gente despertam curiosidade. (SCP, pag. 384)

BRASIL DA GENTE (30/12/1932)*Companhia Brasileira de Revistas e Operetas - Teatro AlhambraMarques Porto, Ary Barroso Gastão Penalva e Velho SobrinhoMúsica: Ary Barroso, J. Tomás e Augusto Vasseur

Um dos raros campeões de bilheterias, Brasil da Gente, de Marques Porto, Ary Barroso, Gastão Penalva e Velho Sobrinho, começou a carreira ainda a 30 de dezembro de 1932, inaugurando o Alhambra, a mais bela

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casa de espetáculos que o Rio de Janeiro possuiu. Orgulhoso de seu proprietário, o empresário Francisco Serrador, idealizador da Cinelândia carioca, o Alhambra foi construído em 45 dias em parte do terreno ocupado pelo Convento da Ajuda. Bela construção de estilo mourisco, imitava, por dentro e por fora, parte do célebre conjunto de edificações situadas numa colina a cavaleiro da cidade de Granada, na Espanha. Serviu de teatro e cinema, na confluência das ruas Senador Dantas, Praça Mahatma Gandhi (então chamada de Getúlio Vargas) e Álvaro Alvim, onde desde 1943 existe o Edifício Serrador. Um incêndio destruiu o belo cineteatro em uma manhã de 1940: o Alhambra, de madeira e metal, existiu apenas por cerca de sete anos. A revista Brasil da Gente ficou em cena até 12 de janeiro. Duas semanas, naqueles idos de bolsos vazios, constituía proeza admirável. Em dois atos e 29 quadros, contava com música de Ary Barroso, J. Tomás e Augusto Vasseur. Foi representada pela Companhia Brasileira de Revistas e Operetas cujo elenco, formado por profissionais de largo tirocínio, reunia Mesquitinha, Ítala Ferreira, Manuel Pêra, Vera Jordão, Túlio Berti, Ari Viana, Delorges Caminha e o cantor popular Sílvio Caldas. Este, que vinha lançando composições de Ary no palco e no disco desde 1930, dele cantou as músicas mais recentes, inclusive a marchinha “Segura esta mulher”, de enorme sucesso no carnaval, que motivou o título da revista seguinte, no Alhambra, onde Fez parte do repertório musical, não mais na voz de Sílvio, mas na de outro colega. Melodia bem marcada e letra casual, firmou o conceito do compositor entre a massa consumista:

Segura esta mulherQue ela quer fugir,Roubou meu coração,Não pode escapulir.

Eu não sei o que vai ser,Meu amor, não sejas desmancha-prazer,Fui bem pesadinho, eu sei,Meu amor, de outra mulher não gostarei.

(SCP, pag. 385-386)*Nota: a revista foi incluída no tópico “1933”, por ter sido estreada dois dias antes de 1932.

MOSSORÓ, MINHA NEGA (15/09/1933)

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Teatro RialtoMarques Porto e Ary Barroso

O Teatro Rialto, remodelado e livre do “moinho”, abrigou mais uma tentativa do eclético e confuso Luís de Barros, a Companhia de Revistas Parisienses. Um bom elenco: Alda Garrido, Mesquitinha e Augusto Aníbal acompanhados de Antônia Denegri, La Belle Agnes, Alice Spletzer, Manoel Rocha, Ari Viana, Rita Ribeiro, Leonor Pinto e Paulo Gracindo. A estréia, a 15 de setembro, foi com a revista Mossoró, Minha Nega, de Marques Porto e Ary Barroso. Mero passatempo, partindo de um quadro sobre famoso cavalo de corrida, o primeiro a ganhar, precisamente nesse ano, o Grande Prêmio Brasil no Hipódromo da Gávea, a peça suportou 15 dias em cena. (SCP, pag. 392)

SEGURA ESSA MULHER (1933)(Enciclopédia de literatura brasileira. São Paulo: Global; Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Academia Brasileira de Letras, 2001: 2v. Afrânio Coutinho e J. Galante de Sousa)http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/Consulta/Autor.php?autor=5467

1934

Na terça-feira gorda, 13 de fevereiro, morre de parada cardíaca, na estação de águas de Caxambu, em Minas Gerais, o revistógrafo Marques Porto. (SCP, pag. 393)*Nota: Agostinho José Marques Porto morreu em São Lourenço, no dia 12 de fevereiro de 1934 - um domingo de carnaval.

RI... DE... PALHAÇO (26/01/1934)

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Teatro Carlos GomesMarques Porto e Paulo Orlando

De carreira bem mais curta foi Ri... de... Palhaço, lançada no Carlos Gomes a 26 de janeiro. Último libreto de Marques Porto, de parceria com Paulo Orlando, tinha todo um repertório musical de vários autores apropriado para excitar os foliões. O número principal era a marcha onomatopaica de Lamartine Babo “Ride palhaço”, de retumbante sucesso, gravada por Mário Reis em disco Victor, 33.887-A:

Ride... palhaçoLá-ra-ra-ra-lá-ra Lá-ra-ra-ra-lá-raLá-ra-ra-ra-lá-raQua-qua-qua-qua-qua-qua-quá (bis)

Eu souO teu Pierrô, Colombina, Colombina...Reparte esse amorMetade pra mimMetade pra teu Arlequim.

É óbvio: havia chiste por conta de um elenco no qual repontavam Mesquitinha, Barbosa Jr., Cordélia Ferreira, Plácido Ferreira, Conchita de Morais, Hortência Santos, Lígia Sarmento, Armando Louzada, Graça Morena, João Fernandes, A. Amaral e Restier Jr. O forte eram os números musicais cantados por Sílvio Caldas acompanhado do Pianista Nono. Entre eles, “Na aldeia”, samba de Carusinho, Sílvio e De Chocolat, gravação do próprio Sílvio em disco Victor 33.727-B:

Na aldeiaNa aldeiaôooQuero ver o teu vestidoArrastando, sim, na areia...

E a espetacular marchinha “Linda lourinha”, de João de Barro que, também em gravação de Sílvio e os Diabos do Céu, Victor 33.735-B, tomou conta do país:

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Lourinha, lourinha, Dos olhos claros de cristal, Desta vez, em vez da moreninha, Serás a rainhaDo meu carnaval.

Loura bonecaQue vens de outra terra,Que vens da Inglaterra,Que vem de Paris.Quero te darO meu amor mais quenteDe que o sol ardenteDeste meu país.

Linda lourinha,Tens o olhar tão claroDeste azul tão raroComo um céu de anil.Mas tuas facesVão ficar morenasComo as das pequenasDeste meu Brasil.

(SCP, pag. 396-397)

DATA DESCONHECIDA

CALMA NO BRASIL “... Aí fica o episódio, tal como é contado pelo autor de Comidas, meu santo!, Calma no Brasil, Mineiro de Botas, Guerra ao Mosquito e dezenas de outras revistas... ( trecho do livro Fabuloso Patrocínio Filho, de R. Magalhães Junior, pg 244 - Segunda edição ampliada e corrigida - 1971)”

FARRA

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(Enciclopédia de literatura brasileira. São Paulo: Global; Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Academia Brasileira de Letras, 2001: 2v. Afrânio Coutinho e J. Galante de Sousa)http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/Consulta/Autor.php?autor=5467