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COMPANHIA INDUSTRIAL DA MATOLA

Pode afirmar-se, sem receio de exagero, que o nome da Companhia Industrial da Mato la e hoje conhecido em todo o terr i tór io nacional. Os seus produtos, designadamente massas e bo­lachas, lançadas sob a marca «Polana» — que constitui já um símbolo de qualidade são conhe-dos e apreciados desde a Metrópole até Timor.

Esta empresa consti tui exemplo f lagrante do espírito de iniciat iva que empolga os nossos irmãos ultramarinos para quem os tão falados «novos ventos de história», por outros tão temi ­dos, implicam apenas uma actualização de processos, tanto quanto às realizações técnicas como sociais, mas sempre segundo as tradições bem características da nossa gente.

Integrada na zona industrial do Língamo, Matola, a cerca de 10 km de Lourenço Marques, as instalações da Companhia Industrial da Matola constituem um conjunto do mais elevado

interesse económico

A Companhia Industrial da Mato la é ainda uma empresa jovem pois há apenas 18 anos que iniciou a sua laboração ao inaugurar, precisamente em 28 de Ma io de 1952 a sua primeira unidade fabri l —a primeira e até agora única moagem de tr igo da Província que em conjunto com um silo, veio dar o apoio da indústria à cul tura do tr igo que então mal passava do estágio de ensaio e que já hoje produz mais de 10 000 toneladas anuais.

Estabelecida como sociedade anónima, desde logo reuniu grandes e pequenas economias de cerca de 700 accionistas, que só perante extremas dif iculdades abdicam das suas posições no capital da empresa, que, por florescente e sempre progressiva, é considerada como um dos mais seguros e promissores investimentos.

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Aspecto dos edifícios das fábricas de massas e bolachas. Em 1.° plano, o busto que recorda o Dr. António Félix Pitta Júnior, fundador da Companhia

Mercê de uma Administração cuidada e sempre atenta a todos os progressos que dia a dia se vão verif icando no campo da técnica, o que lhe consigna o espírito do verdadeiro indus­t r ia l , alcançou a Companhia Industrial da Mato la uma posição mui to lisonjeira no conjunto da indústria Moçambicana e que é motivo de orgulho não só para quantos ali t rabalham mas que igualmente se comunica a todos os que apreciam as suas modelares instalações, cujo valor quase alcança hoje 150 mil contos e cujo valor normalmente se inclui no roteiro de nacionais e estrangeiros de passagem por Lourenço Marques.

Vem a propósito referir que as instalações fabris da Companhia, situada nos arredores da capi tal , merecem já a honra de duas visitas presidenciais: em 1956, a do Marechal Craveiro Lopes que inaugurou os refeitórios do pessoal e em 1964 a do A lmi rante Américo Tomás que se dignou inaugurar a 2.a fase do fábrica de massas, constituída por duas linhas automáticas, que levam à capacidade de produção para 600 toneladas mensais, e o primeiro lote de 15 resi­dências do bairro do pessoal.

Como não podia deixar de ser, também nós visitámos as instalações da Companhia Indus­trial da Mato la . Impressionados ainda pela grandiosidade dos edifícios, cuja arqui tectura, embora sóbria e funcional , é harmónica e alegrada por fel iz combinação de cores, logo nos impressionou o ajardinamento e arranjo das largas avenidas que cruzam o recinto e que quase nos fez esquecer que de fábricas se t ratava.

Al iás, em todas as secções e oficinas constatámos sempre a mesma preocupação de arru­mação e l impeza, para o que concorrem as lindas madeiras moçambicanas trabalhadas na car­pintar ia, a que está anexa uma serração. Por outro lado, também nos impressionou o ar prazen-

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WMMB

Aspecto do imponente edifício de moagens a que está anexo o silo cuja capacidade de armazenegem, já ampliada, atinge 17 000 toneladas de cereais

teiro com que todos os empregados nos cumprimentavam ou prestavam ufanos esclarecimentos sobre o diverso equipamento a seu cargo. Logo compreendemos tão simpática at i tude ao veri­ficarmos a atenção que a «C.I.M.» tem dedicado à função social, inerente à administração de uma indústria que já ocupa hoje cerca de 1.000 indivíduos dos dois sexos e todas as raças.

A lém de inspecções periódicas, uma consulta médica diária é facul tada a todos os empre­gados e seus famil iares, a que igualmente são fornecidos medicamentos gratuitos ou com um subsídio, consoante o escalão de salário que recebem.

Éfacil i tado o pagamento de impostos competindo à Secção do Pessoal o processamento e liquidação dos mesmos.

Existe um refeitório que fornece refeições gratui tas e noutro, um almoço custa apenas 5$00. No armazém de abastecimento a que nestas terras se dá o nome de cant ina, pode o pessoal adquir i r a preços reduzidos além de géneros al imentícios, variados, outros artigos de consumo corrente, desde vestuário até bicicletas.

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No laboratório químico-tecnológico, que no género se pode considerar o mais bem equipado de todo o território nacional, procede-se à análise de todas as matérias-primas utilizadas na laboração e bem assim ao controlo dos produtos laborados, além de ensaios de panificação

análises de água e gás dos fornos, etc.

Encantou-nos visitar a Creche e ver dois garotos europeus brincarem com vários bebes negritos e passamos também pela escola onde alunos de todas as idade se preparavam para o exame de instrução pr imária, reparando que alguns dos atentos alunos emparceiravam com os próurios fi lhos.

Finalmente, pudemos apreciar as 15 residências agora inauguradas que quase invejamos por tão alegres e acolhedoras, primeira série com que se iniciou a construção do Bairro e em que as rendas são acessíveis, não excedendo 750$00 as que dispõem de maior número de divisões.

A Casa do Pessoal, dir igida exclusivamente pelos próprios empregados e que em breve terá capacidade jurídica sob a forma de sociedade cooperativa, compete administrar todas as fac i ­lidades de carácter social proporcionadas pela Administração da Companhia, de acordo com o esquema de orientação estabelecido pela mesma.

E porque «iniciat iva acompanha in ic iat iva», , montou a Casa do Pessoal uma pequena explo­ração pecuária com que se propõem abastecer os refeitórios e obter receitas que permitam alar­gar o âmbito das regalias a conceder ao pessoal.

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Aqui se inicia a produção de bolachas, vendo-se a entrada do forno em que a cozedura é efectuada por meio de ondas de alta frequência, sistema revolcionário e ainda recente—

esta instalação foi a terceira a ser montada em todo o mundo

A Companhia Industrial da Mato la dispõem presentemente de 4 unidades fabris a labo­rar com pleno rendimento: moagem de tr igo, moagem de mi lho, fábrica de massas e fábrica de bolachas. Em estágio experimental, iniciou agora a laboração de uma instalação-piloto de moagem de mandioca. Outras indústrias de carácter al imentar estão previstas e para estudo das mesmas e aperfeiçoamento das existentes em todos os sectores, tem a administração da Com­panhia Industrial da Mato la promovido a visita dos seus técnicos à Metrópole e Estrangeiro para que possam acompanhar a evolução técnica nos mais avançados centros de produção.

A lém do laboratório modelarmente apetrechado, este conjunto fabri l é apoiado por bem equipadas oficinas de carpintar ia, de serralharia e de manutenção de viaturas, tendo ainda sec­ções de reparações eléctricas e de construção civi l . Prevenindo eventuais falhas do forneci­mento de energia, existe uma central eléctrica com dois potentes geradores que, hoje de reserva, eram exigidos antes de ser estabelecida a ligação à rede geral. Existem também 3 unidades de destilação de hulha cujo gás é ut i l izado em várias caldeiras e também na cozedura final das bolachas.

No decurso das conversas que tivemos com vários dos empregados desta grande empresa, ouvimos algumas referências a minério de ferro, manganês, asbestos e outros artigos e, manifestada a nossa estranheza, soubemos então que a Companhia Industrial da Mato la , através dos seus Serviços de Navegação e Trânsito, criados inicialmente apenas para uso próprio, de­senvolve larga actividade como agente transitár io procedendo ao desembaraço portuário e

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Neste edifício e sob administração do próprio pessoal, situa-se o Refeitório principal, Salão

de Festas e Biblioteca

alfandegário de mercadorias importadas ou exportadas pela República da Áf r ica do Sul, Sua­zi lândia e Rodésia, através de Lourenço Marques. E deverá notar-se que se t rata de um ramo de actividade al tamente especializado que anteriormente constituía um quase monopólio de empresas estrangeiras. Pois, presentemente, a Mato la é considerada como uma das mais e f i ­cientes transitár ias, agenciando igualmente largo número de navios, e dispondo de um escritó­rio em Joanesburgo para mais ínt imo contacto com os seus clientes.

Para a comercialização dos seus produtos, que exporta em mui to larga escala, tem a Mato la agentes não só em todos os distritos de Moçambique, como em todas as Províncias Ul t ramarinas, tendo estabelecido uma delegação em Lisboa que superintende em todo o mer­cado metropol i tano e ilhas adjacentes.

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Uma das 15 residências recentemente construídas em terreno pouco distante da zona fabril

E ao terminar este apontamento, não podemos deixar de recordar o entusiasmo e dina­mismo patenteado por todos os colaboradores desta Companhia cuja Administração, com pro­funda confiança nos destinos da Província, adoptou o lema famoso:

«Estudar com dúvida e realizar com fé.»

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C A S A C O I M B R A

JOSSUB ABDOOL REHMAN VAKIL Socio-gereni-e da Casa Coimbra

A CASA COIMBRA é hoje um dos estabelecimentos de Modas da cidade de Lourenço Marques, que marca posição de relevo, tendo t ido início em recuados tempos. Fundaram a CASA COIMBRA quatro irmãos de origem paquistanesa, que emigraram para Moçambique.

Em 1887, ABDOOL LATIF AYOB V A K I L veio para Moçambique, onde permaneceu quinze meses, após o que regressou ao seu país, que nessa época era um protectorado britânico.

A lgum tempo depois, ABDOOL LATIF volta para Moçambique em companhia de seus irmãos mais velhos: ABDOOL SACOOR AYOB V A K I L e ABDOOL REHEMAN AYOB V A K I L . Vieram com o consentimento de seu pai , que lhes abr iu um crédito de 10 mi l rupias sobre a praça de Bombaim. Em 1909 veio juntar-se a seus irmãos, o mais jovem de todos, ABDOOL K A R I M AYOB V A K I L .

ABDOOL LATIF AYOB V A K I L ao iniciar a sua vida comercial em Lourenço Marques, na sua primeira fase, fê-lo como vendedor ambulante, pois conseguira por intermédio de alguns patrícios, artigos vendáveis aos indígenas.

Desenvolvendo grande act ividade, lá ia fazendo o seu negócio ambulante, na esperança de melhores dias, sonhando com a possibilidade de abrir um pequeno estabelecimento.

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Quando regressa a Moçambique, na companhia de seus irmãos, ABDOOL LATIF, é já um conhecedor da terra moçambicana, que mais o anima nos seus propósitos empreendedores de expansão comercial.

Foi então, que juntamente com eles, abriu no Bairro da Malanga o seu primeiro esta­belecimento, numa casa fe i ta de madeira e zinco, precursor do colosso que vir ia a ser a CASA COIMBRA!

Depois, abr i ram no mesmo Bairro da Malanga, mais três casas comerciais, pois o negócio prosperava.

Em 1895 os dois irmãos — ABDOOL LATIF e ABDOOL SACOOR — haviam ampliado tanto o seu ramo de negócio, que adquir i ram outro estabelecimento.

ABDOOL LATIF, homem de génio empreendedor, abriu mais tarde, uma casa no centro da cidade, na Travessa da Linha, a que se seguiu outra, na Travessa da Palmeira, também no centro da cidade. Foi, porém, em 1907, que abriram a primeira Casa de Modas, só para homens, e em 1910 tomaram de trespasse outro estabelecimento, no qual instalaram, pela pr i ­meira vez, secções de Modas para Senhora.

FACHADA DA CASA COIMBRA

No mesmo ano de 1910 trespassaram os Estabelecimentos da Malanga e o da Travessa da Palmeira, sendo em 1913, que tomarem de trespasse um grande Estabelecimento situado no centro da cidade, onde registaram o maior desenvolvimento comercial até então nunca a t i n ­gido! Este foi a Casa-Sede, onde nasceu o nome da CASA COIMBRA. Ainda t iveram, em 1915, data em que abr i ram, uma casa de Câmbios, e em 1924, uma outra só de artigos orientais, que fecharam em 1928. /

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Tem interesse explicar-se a razão por que foi dado a esta f i rma paquistanesa, um nome português. Nesses recuados tempos de f ins do século dezanove, os tecidos feitos na Metró­pole, nomeadamente, as fábricas ao redor da cidade de Coimbra, eram exportados para Mo­çambique, e t inham grande procura e preferência entre a clientela que se fornecia dos Estar belecimentos de Abdool Lat i f Ayob Vak i l e seus irmãos, começando a chamar ao fundador da Firma «COIMBRA», cuja alcunha se enraizou por tal modo, que muitos clientes só lhe chamavam «COIMBRA», daí nascendo o nome de CASA COIMBRA.

Adquir indo um grande terreno na Avenida da República — uma das mais belas artérias da Baixa de Lourenço Marques — aí construíram um grande edifício, a que foi dado o nome de CASA COIMBRA, inaugurado em meados de Dezembro de 1940, e onde todas as act ivida­des da f i rma se jun ta ram, continuando esta as suas tradições comerciais, engrandecendo o comércio moçambicano e embelezando, com o seu grande edifício de vários andares, a Baixa laurent ina.

O espírito progressivo dos sócios da CASA COIMBRA não ficou restrito só àquela f i rma, pois além de serem proprietários do PRÉDIO COIMBRA onde têm a f i rma comercial, possuem, também, o PRÉDIO T I V O L I — o n d e está instalado um dos melhores Hotéis da cidade — e o PRÉDIO LOURENÇO MARQUES.

Por morte dos fundadores principais — Abdool Lat i f Ayob Vak i l , Abdool Saccor Ayob Vaki l e Abdool Reheman Ayob Vak i l , tomou uma parte da Gerência da f i rma, o f i lho de Abdool Rehe-man Ayob Vak i l , Jossub Abdool Reheman Vak i l , actualmente gerindo os negócios da f i rma, juntamente com outros membros da famíl ia — fi lhos, sobrinhos e netos dos fundadores — três dos quais são já nascidos em Lourenço Marques e com nacionalidade portuguesa, e que são, também, sócios da f i rma. Todos os sócios da CASA COIMBRA aqui construíram as suas resi­dências, tendo a f i rma cento e dez empregados ao seu serviço, dos quais, noventa são portu­gueses.

A CASA COIMBRA, obra de uma famíl ia paquistanesa, que aqui criou raízes e se propa­gou, concorreu com o seu trabalho e in ic iat iva, para o progresso e desenvolvimento desta Pro­víncia portuguesg de Moçambique.

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FILIPE DICCA

FUNDADOR DA FIRMA F. DICCA LDA.

Filipe Dicca era de nacionalidade albaneza, tendo vindo para Áf r ica do Sul, por ocasião da guerra Anglo-Boyer, alistando-se para combaterão lado dos Boyers. Essa guerra acabou em 1898, data em que ele se refugiou em Moçambique, fixando-se em Lourenço Marques, com a idade de 24 anos.

Filipe Dicca começou a negociar, dedicando-se, em especial, à indústria de refrigerantes. Filipe Dicca t inha sido estudante de Química, na Áustr ia , até se alistar como voluntár io, para combater na Áf r ica do Sul.

Durante a primeira Grande Guerra, negociou, comprando as mercadorias aprezadas aos barcos alemães, na Província de Moçambique, tendo obtido grandes lucros, que empregou, em especial, na compra de prédios urbanos e rústicos, na Província, assim como na pesquisa de minérios.

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Mais tarde, em 1920, adquir iu uma fábrica de refrigerantes que t inha pertencido a um ital iano de apelido Caval lar i , situada na Av. Paiva Manso, onde mais tarde veio a montar a Indústria de Cerveja, de que foi pioneiro.

Para tal obteve uma Concessão de exclusividade de fabrico, durante dez anos, a qual lhe foi concedida pelo A l to Comissário Brito Camacho, que mui to contr ibuiu para que a indústria da Cerveja fosse uma realidade, pois aquele al to funcionário apreciava as grandes qualidades de trabalho e iniciativa de Filipe Dicca, que era um homem dotado de uma grande persistência, actividade, inteligência e espírito progressivo, e foram essas qualidades reunidas, que lhe permi­t i ram criar um pequeno empório comercial e industr ial , que f izeram dele um dos grandes pioneiros de Moçambique.

Possuía uma enorme clarividência comercial, que lhe fazia prever tudo aquilo que seria negócio, como por exemplo, guardar objectos velhos, que qualquer pessoa deitaria fora, e ele conservava, e mais tarde, esses objectos velhos eram vendidos por altos preços!

Para montar a sua Fábrica em Lourenço Marques, Filipe Dicca dirigiu-se ao Sudoeste afr icano, que t inha sido uma possessão alemã, onde existia uma Fábrica de Cerveja, que se encontrava encerrada, comprando-a e trazendo-a com toda a maquinaria para Moçambique, e ainda contratou os respectivos técnicos dessa Fábrica.

A té 1944 Filipe Dicca t inha negociado sempre em nome individual, só vindo a criar a Firma F. Dicca, Lda., naquele ano.

Anter iormente, em 1938, para reduzir os prejuízos existentes pela luta entre a fábrica de Cerveja Nacional , de Filipe Dicca e a Fábrica de Cerveja V i tór ia , fundiram as duas, dando origem à organização REUNIDAS. Metade do capital pertencia a Filipe Dicca. Com a formação da Firma F. Dicca, Lda., todas as propriedades e a quota nas REUNIDAS passaram a pertencer à Firma, que além da exploração destes bens, passou também, a dedicar-se ao Comércio de Importação.

Filipe Dicca faleceu em Janeiro de 1949, tendo sido herdeiros dos seus bens, seus irmãos, Pedro Dicca e Cundegunda Dicca. Hoje existe ainda seu irmão, Pedro Dicca, com 83 anos, tendo falecido sua irmã, deixando como herdeira da sua parte, uma f i lha, Paula Fekete.

Hoje, a Firma, é constituída por Pedro D :cca, Paula Fekete, Álvaro Augusto de Sousa, Manuel João Correia, Augusto Bazílio de Oliveira, Dr. Z la tko Azinovike e Savo Kadik.

A Gerência está normalmente confiada nos Sócios Manuel João Correia, Augusto Bazílio de Oliveira e Dr. Z la tko Azinovike.

Em 1960, a Firma F. Dicca cedeu a sua quota nas Fábricas Reunidas, a um grupo indus­tr ial formado pelas Fábricas de Cerveja da Metrópole.

Na actual idade, a Firma F. Dicca, além dos negócios já apontados, está ligada às seguintes Sociedades : Produtos Al imentares, Lda.; Cartonagens de Moçambique, Lda., para fabrico de Caixas de cartão canelado, ligada à organização sul-afr icana, " N O T I O N A L CONTAINERS" ; à Fonte dos Libombos, Lda., na exploração de água mineral , de mesa, explorando ainda a Cervejaria Nacional e Pedreiras de Goba.

Na parte Agro-Pecuária, dedica-se à exploração de gado leiteiro, sendo um dos principais abastecedores de leite para consumo da cidade de Lourenço Marques, e ainda, da União de Curtumes de Moçambique, Lda.

Este é o resumo da obra efectuada pelo pioneiro FILIPE DICCA, que sendo estrangeiro, dedicou quase toda a sua vida ao engrandecimento de uma terra, a quem queria como se fosse a sua, e tanto ajudou a progredir.

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SOCIEDADE AGRÍCOLA DE TABACOS, LDA.

A Sociedade Agrícola de Tabacos, Lda. foi fundada em 5 de Abr i l de 1935, no Distr i to de Inhambane, pelos cidadãos gregos: Panos Macropulos Manuel Macropulos e Telemachus Tshi-hlakis, que eram agricultores e produtores de Tabaco, naquela época, no Distr i to de Inhamba­ne. A Organização dedicava-se, em especial, àcultura do Tabaco, que é precisamente, a maior produção agrícola da Grécia.

Foram os pioneiros Panos Macropulos, Manuel Macropulos e Telemachus Tsihlakis, que ensinaram aos nossos indígenas o cult ivo do Tabaco. Além da cultura do Tabaco, dedica-vam-se a outras produções agrícolas: Mi lho , Amendoim, Algodão e Sisal, e ao mesmo tempo, dedicavam-se, também, ao Comércio Geral.

Projecto da nova unidade fabril

A primeira Fábrica de Tabaco foi instalada na propriedade agrícola do sócio Panos Macro­pulos, na Circunscrição de Zangamo, criada para manipular o Tabaco das suas colheitas. Por se tornar inconveniente a laboração da Fábrica junto da propriedade, pediram uma licença para instalar na cidade de Inhambane, que nessa época era ainda Vi la . Por f im , por conveniências de vária ordem, foi pedida nova transferência da Fábrica, em 1940, para Lourenço Marques. Como a Sociedade t inha adquir ido um terreno, na Capital da Província, aí construíram um edifício próprio, com instalações adequadas ao f im a que se destinava. Em 1950, a Sociedade decidiu ampl iar a Fábrica, construindo novas Salas, Dependências e Armazéns. Sempre em franco progresso, em 1954, a Sociedade adquir iu novos maquinismos, e em 1957, todas as Sec­ções da Fábrica estavam apetrechadas com as mais modernas máquinas.

A Fábrica possui a sua força motr iz própria,al imentada por dois Geradores de Cinquenta Kw., cada. Os Sócios desta Empresa, homens cheios de iniciat iva e de espírito progressivo, não se tem poupado a sacrifícios e esforços, para tornarem a sua Fábrica numa modelar unidade fabr i l , moderna e ef iciente, como hoje é. Os seus produtos tem apresentação e categoria, honrando a Indústria moçambicana de Tabacos.

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Actualmente a Fábrica tem doze empregados europeus e sessenta indígenas. Da matéria prima que emprega — Tabaco, por exemplo — oitenta e cinco por cento é adquirido da produ­ção da Província. Toda a sua embalagem é, igualmente, adquirida nas Tipografias da Província. A empresa importa papel prateado, celofane, e mais algumas matérias primas que não existem no mercado moçambicano.

A Empresa exporta para: Angola, Cabo Verde, S. Tomé, Guiné e Timor, produzindo, anual­mente, cerca de cem toneladas de Tabaco. Procurando alargar a sua exportação, espera que muito em breve, lhe seja permit ido exportar para a Metrópole.

Os sócios actuais da Sociedade Agrícola de Tabacos, são Manuel Macropulos, Telemachus Tshihlakis e Jorge Tshihlakis. O pioneiro Telemachus Tshihlakis chegou a Moçambique, vindo da Grécia, em 1928, constituindo famíl ia com uma Senhora da mesma nacionalidade. Seu f i lho Jcrge Tshihlakis, que é sócio da Empresa, nasceu em Lourenço Marques.

A Sociedade Agrícola de Tabacos, é uma af irmação de tenacidade e progresso, a enriquecer a Província de Moçambique.

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O Pioneiro do fabrico de Ladrilhos e Mosaicos, de ut i l ização doméstica e para construção civi l , na Província de Moçambique, foi o cidadão grego, originário do arquipélago do Dodecaneso, Vassilis Gianouris, que acompanhado de sua esposa, chegou a Moçambique no ano de 1912, com a idade de 41 anos.

Estabeleceu-se em Lourenço Marques, sem sócios, dedicou-se à construção Civil até ao ano de 1931, a l tura em que inaugurou a sua fábrica, dedicada exclusivamente, ao fabrico de Mosai­cos hidráulicos para pavimentos. Após alguns anos de laboração, a Fábrica passou a produzir, também, ladrilhos, e mosaicos de outros géneros, para aplicação doméstica, como Lava-loiças, Mesas, Banheiros, Lavatórios, Tanques, f iguras decorativas para jardins, Mausoléus, assim como mosaicos granuli tados e marmorizados.

Vassilis Gianouris, espírito construtivo e muitíssimo trabalhador, obreiro incansável da sua fábrica, viveu muitos anos na sua labuta e direcção, sem se ausentar, permanecendo longos anos sem visitar o seu País. Foi em Lourenço Marque que lhe nasceram os seus únicos f i lhos: Irene e John. Vassilis Gianouris faleceu com setenta e um anos, f icando seu f i lho John a dir igir a fábrica, de que hoje é proprietário, juntamenre com sua mãe D. Elefftheria Gianouris.

A Fábrica de Ladrilhos e Mosaicos emprega no seu serviço de Escritório, seis europeus, e mais de cem operários indígenas. A fábrica produz e exporta para toda a Província de Moçam­bique, mas actualmente, com o grande incremento dado à Construção Civ i l , sobretudo em Lou­renço Marques, a sua produção é prat icamente, absorvida pela capital da Província. Como tantas outras Organizaçõos industriais, a Fábrica de Ladrilhos e Mosaicos, desempenha im­portante papel na economia da Província. Emprega matéria prima local, como seja, cimento, areia e resíduos, no valor anual de duzentos contos, e importa, corantes, cimento branco e granulíticos, no valor anual de oitocentos contos. A produção anual de material produzido pela fábrica, eleva-se a dois mi l e quatrocentos contos.

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Trabalhos executados pela fábrica

De ati tudes simples e modestas, John Gianouris, procura honrar o nome de seu Pai, con­t inuando e aumentando a Obra deixada por ele. Fora da sua fábr ica, exerce, ainda, o cargo de Cônsul Honorário da Grécia, em Lourenço Marques. A Fábrica de Ladrilhos e Mosaicos, é uma das muitas organizações moçambicanas pioneiras, que contr ibuiu para o engrandecimento da Província de Moçambique.

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GARNET PENDRAY--O FUNDADOR DAS ORGANIZAÇÕES PENDRAY, SOUSA & CA., LDA.

GARNET PENDRAY GEORGE PENDRAY

Escritórios, Oficinas e Salão de Exposição em Lourenço Marques

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Garnet Pendray nasceu em Inglaterra, em Camborne, tendo vindo para Áfr ica — a então Áfr ica Oriental Inglesa — como combatente na Grande Guerra de 1 9 1 4 - 1 8 . Terminada a Guerra, Garnet Pendray veio a Lourenço Marques, onde t inha um amigo, também de nacionali­dade inglesa, de nome Hugo Lemay, que estava estabelecido na capital moçambicana, com a indústria de Automóveis e metalúrgica. Garnet Pendray t inha a profissão de Engenheiro Mecâ­nico, tencionando regressar à Inglaterra. Duas razões, no entanto, f izeram modif icar o seu des­t ino : ter gostado de Lourenço Marques, e o seu amigo ter-lhe oferecido um lugar na Firma. Garnet Pendray aceitou esse lugar, acabando por não regressar à sua pátr ia, e fixando-se em Moçambique.

A lgum tempo depois, estabelece-se com a sua primeira Firma, em Lourenço Marques, de Sociedade com um português — Joaquim de Sousa. Isto passa-se no ano de 1920. Joaquim de Sousa ainda é vivo, contando 88 anos de idade. Depois, sucessivamente, foram estabelecidas novas Firmas, também em Lourenço Marques: "Agências Modernas, Lda." , "A Predial de Mo­çambique, Lda. " , e sucursais na Beira, Tete, Quelimane, Nampula e Porto Amél ia. Todas as Firmas dispersas pela Província representam uma das maiores Organizações mundiais do ramo automóvel — a General Motors.

"A Predial de Moçambique, Lda. " , foi criada para a construção exclusiva das Organiza­ções Pendray, assim como para a compra e vendo de propriedades. "A Predial de Moçambique Lda. " , tem concorrido de forma apreciável para o desenvolvimento dos negócios das restantes f i rmas, construindo prédios para as instalações dos escritórios e das oficinas, não só em Louren­ço Marques, como também, noutros pontos da Província. Independentemente desta função, tem a seu cargo negócio de prédios, sua aquisição e venda. As Organizações Pendray têm em Lou­renço Marques cerca de trezentos empregados, e nas Firmas dispersas pela Província o mesmo número. As Organizações Pendray tem um médico privativo para prestar assistência a tcdo o seu pessoal.

O fundador das Organizações Pendray, que faleceu em 1963, na Suiça, durante uma estadia de t ratamento numa clínica de Montreux, foi um trabalhador incansável e de f ino t ra to, sendo mui to estimado por todos os seus colaboradores e amigos, deixando uma das maiores e mais prósperas Organizações comerciais de Moçambique, contr ibuindo, de forma notável, sob vários aspectos — e part icularmente no dos Transportes — para o seu progresso e engrandecimento.

Na actual idade, encontra-se à frente da Direcção das Organizações Pendray, o f i lho do fundador, George Pendray, seu digno representante e continuador da grandiosa obra de seu pai.

Oficinas da firma, na Beira

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GIUSEPPE BUFFA BUCCELATTO

Giuseppe Buffa Buccelatto chegou a Lourenço Marques em 2 de Dezembro de 1902, vindo da I tá l ia, onde vivia com sua famí l ia , contando então 20 anos de idade, e para se juntar a um irmão mais velho que viera para a cidade da Beira, Província de Moçambique. Esse irmão t inha o Curso da Escola de Belas Artes da I tál ia. Viera para o Egipto trabalhar em grandes obras que se efectuavam naquele país. A í , quando o seu trabalho f inal izara, leu num jornal egípcio uma notícia sobre obras que se ir iam realizar na Beira, Província de Moçambique, e resolveu ir à aventura.

GIUSEPPE BUFFÁ BUCCELATTO, a ser condecorado pelo Presidente da República quando da sua visita em 1964

Chegado à Beira não f icou decepcionado, iniciando aí o seu trabalho, e quando as obras mencionadas no anúncio terminaram, e verif icando que, tão cedo nada teria para fazer resol­veu ir para Lourenço Marques onde f icou. Foi por sugestão sua, que Giuseppe B. Buccelatto veio para Moçambique. Nessa época recuada eram navios alemães que faziam carreiras de pas­sageiros na costa de Moçambique, pois a Alemanha possuia colónias no Tanganica e mui to do seu tráfego fazia-se através do Índico.

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Nesse tempo os navios de guerra portugueses existentes, serviam para trazer os poucos portugueses que nessa época vinham para a Áf r ica. Giuseppe B. Buccelatto desembarcou de um desses navios alemães para uma bateira e desta para as costas dos indígenas, até a terra f i rme, pois nada existia então, senão as margens da baía que constituíam praias, com pequenas pontes de madeira e havendo um barracão que servia de Capitania. Giuseppe Buccelatto é oriundo de Castellamare dei Golfo — Trapani — na Sicília. Chegado a Lourenço Marques, o jo­vem sicil iano, iniciou a sua vida como Construtor Civi l , adoptando a mesma profissão de seu Pai, estabelecendo-se sem sócios. A 16 de Novembro de 1912 casa no seu país com uma i tal ia­na, Francesca Lipari , regressando com a esposa a Moçambique, à sua casa de Lourenço Mar­ques. Do seu casamento nasceram cinco f i lhos: Giuseppina, Gaspare, Antonino, Pierino e Ignázio Giuseppe B. Buccelatto, foi também, um grande at le ta, possuindo várias medalhas ganhas no Desporto. Foi um prat icante de Ginástica apl icada; fez Natação, Futebol, Esgrima e Hóquei em Patins, tendo sido Capitão da primeira equipa de Hóquei Patinado que existiu em Lourenço Marques.

Quando o jovem Príncipe D. Luís Filipe visitou a Província houve um Sarau Desportivo em honra do régio visi tante. Giuseppe B. Buccelatto exibiu-se nesse Sarau, tendo o Príncipe ido depois, cumprimentar o jovem ginasta i tal iano, at i tude essa que o emocionou profundamente, e que ainda hoje recorda com satisfação.

Na sua vida profissional, Giuseppe B. Buccelatto, vai progressivamente desenvolvendo a sua Empresa de Construção Civ i l , a que não f ica alheio o seu dinamismo de trabalhador incan­sável, que é! São obra da sua Empresa a primeira fase da Ponte Cais de Lourenço Marques, e Mura lha do que hoje é o Clube Naval , bem como a Mura lha da Doca seca, cabendo-lhe, parte na construção da Câmara Munic ipa l .

Foi em 1919 que formou a Sociedade que hoje tem o nome G. B. Buccelatto & Filhos, Lda., iniciada com dois sócios. Só em Maio de 1946 é que seus fi lhos entraram para a Sociedade, passando a ser os únicos sócios. Seguidamente foram-se criando; a sua f i l ia l da Beira, especiali­zada em materiais de construção; a Sociedade Metalúrgica Portuguesa, Lda., em 1929, cons­truída em terreno da Empresa; G. B. Buccelatto Construtores, Lda., e a Companhia Industrial de Fundição e Laminagem S. A. R. L. — está commais de duas centenas de accionistas.

Este, é hoje, o desdobramento fantást ico da pequena Empresa iniciada nos princípios deste século pelo pioneiro sicil iano, Giuseppe Buffa Buccelatto, cujos filhos se tornaram os seus melhores continuadores e colaboradores.

Dois formaram-se em Engenharia Civ i l , e Electromecânica; Pierino em Mecânica, e Igná­zio em Contabi l idade, sendo sua f i lha apenas sócia.

Em homenagem carinhosa à terra que o recebeu e acolheu, G. B. Buccelatto deu aos fi lhos a nacionalidade portuguesa.

São numerosas as obras executadas pela f i rma de G. B. Buccelatto & Filhos, Lda., além das já mencionadas, contando-se : PRÉDIOS : " A F R I C A N LIFE", MONTEPIO DE MOÇAMBIQUE, "PABLO PEREZ", CARDOSO E REIS, " H O DICK Y O N G " , "JOSÉ M A R I A " , " H O KA K U I " , "PARISOT" .

AMPLIAÇÕES : C O M P A N H I A DE CIMENTOS DE MOÇAMBIQUE, FÁBRICA DE CERVE­JA REUNIDAS, SHELL MOÇAMBIQUE, SOCIEDADE N A C I O N A L DE REFINARIA DE PETRÓ­LEOS, MOGÁS, CENTRAL TÉRMICA, CAJU INDUSTRIAL E SONEFE. CASAS : ALGODOEIRA DO SUL DO SAVE e BRIGADA DE FOMENTO e POVOAMENTO DO LIMPOPO — GUIJÁ.

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SILOS : C O M P A N H I A INDUSTRIAL DA MATOLA.

FÁBRICAS : C O M P A N H I A INDUSTRIAL DE FUNDIÇÃO E L A M I N A G E M , S. A. R. L.

OBRAS DO ESTADO : OFICINAS DOS CAMINHOS DE FERRO DE LOURENÇO MAR­QUES, NOVAS OFICINAS GERAIS DOS CAMINHOS DE FERRO DE MOÇAMBIQUE, MORGUE — l . a e 2.a FASES — C O N S E L H O DE CÂMBIOS;NOVO HOSPITAL CENTRAL DE LOURENÇO MARQUES.

DEPÓSITOS DE ÁGUA : DEPÓSITO DE ÁGUA DE MAXAQUENE, DEPÓSITO ELEVA­DO DOS CAMINHOS DE FERRO DE MOÇAMBIQUE — GUIJÁ, BARRAGEM, M A P A I , e PAFURI.

HOSPITAL : ORDEM HOSPITALEIRA DE S. JOÃO DE DEUS.

Giuseppe B. Buccelatto, que com seus fi lhos formou uma famíl ia unida, está certo por isso, da continuação da obra por ele iniciada. A sua acção relevante teve um justo prémio, quando da visita do Sr. Presidente da República a Moçambique, que condecorou Giuseppe B. Buccelatto com a ORDEM DE MÉRITO AGRÍCOLA^E INDUSTRIAL, CLASSE DE MÉRI­TO INDUSTRIAL, GRAU OFICIAL. Com esta condecoração dada pelo mais al to Magistrado da Nação, quis assim, o Governo premiar a Obra deste pioneiro de Moçambique, que embora estrangeiro, à terra portuguesa se dedicou como se fosse sua.

Por tudo quanto f ica d i to se conclui , que Giuseppe B. Bucelatto, foi um grande obreiro, desempenhando papel de relevo no engrandecimento e economia da Província de Moçambique, o seu labor intenso, a que veio juntar-se a energia jovem de seus fi lhos. Giuseppe Buffa Bucce­latto soube grangear amigos, e consideração em todos os sectores, pelo seu t ra to simples, a fá­vel, falando numa linguagem onde se adivinha um coração bondoso. Ele amou tanto a terra moçambicana como a sua terra natal . Faleceu quando esta obra se encontrava no prelo.

É interessante salientar, que seu f i lho Ignazio, é o Cônsul Honorário da Finlândia, em Moçambique.

Giuseppe B. Buccelatto fo i , por duas vezes, Cônsul da I tá l ia, em Lourenço Marques. Con­decorado como sócio mais ant igo dos Caminhos de Ferro de Moçambique, e agraciado pelo Go­verno de I tá l ia , com a Comenda de C O N S T A N T I N I A N O ORDINE MIL ITARE Dl SAN GIOR-GIO Dl A N T I O C H I A , e COMENDADORE DELLA STELLA AL MÉRITO.

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SORABJEE EDALJEE GINWALA

Do Pioneiro que nos vamos ocupar — exemplo perfeito de determinação, de sacrifício e de amor por esta boa terra moçambicana — também se pode sentir orgulhosa a Província. O seu trabalho e o seu esforço merecem ser destacados nesta publicação, destinada a pôr em merecido realce o que tem sido o esforço dos pioneiros que f izeram Moçambique.

SORABJEE ADALJEE G I N W A L A , nasceu na aldeia de ANKESWAR, na índia, em 1861, descendente de uma dist inta famíl ia de origem Persa, há muitos séculos f ixada naquele subcon-t inente, por motivo de perseguições regiliosas. Tinha no seu sangue, por ancestralidade de ariano puro, o amor pela aventura e uma intransigência absoluta pelos conceitos filosóficos contidos na Religião que professava e com a qual ZOROASTRO imprimira uma feição de moral pura e incor­ruptível para seus adeptos e que ele seguia com devoção absoluta.

Seus Pais haviam instalado na índia a primeira Fábrica de descaroçamento de algodão. Seus irmãos haviam estado em Moçambique de 1882 a 1885, e no regresso ao País onde a a famíl ia se f ixara, contavam maravilhas do continente onde haviam estado e da hospital i­dade portuguesa que tão generosamente haviam recebido em Moçambique. Isso levou o jovem Sorabjee a sonhar com Moçambique, e a embarcar um dia, num «Pangaio» árabe que deman­dava a Costa Oriental de Áfr ica. Deixaram-no em Durban. Os seus primeiros contactos com os ingleses que dominavam a Colónia do Na ta l , da qual Durban era então o principal porto de mar, não lhe agradou. O seu objectivo não era apenas comerciar, era principalmente, estabe­lecer contactos humanos com raças diferentes da sua, que lhe permitissem ser-lhe út i l em convívios como em produtividade.

Lembrando-se das conversas que seus irmãos t inham ao serão, pôs-se afoi tamente a cami­nho de Lourenço Marques, numa audaciosa jornada por terra, a corta-mato, desafiando as incle­mências do tempo e as incertezas dos caminhos.

Aqui conseguiu o seu primeiro emprego, como guarda-livros da f i rma DADA ABDULLA, instalada no pequeno burgo que era então Lourenço Marques, já há bastantes anos.

Cedo a sua dedicação e a sua inteligência começaram a revelar-se. Entretanto — já no f inal do s é c u l o — dá-se a grande conflagração entre ingleses e Boyers, que para a História f icou designada pela de Guerra Anglo-Boyer de 1899- 1902. Guerra cruel, que opôs contra o poderio da Inglaterra Imperial um pequeno povo cioso da sua liberdade, tendo por Chefe um homem de vontade de grani to — PAULO KRUGER. Por essa al tura Sorabjee, deixando a f i rma onde trabalhava, decidiu estabelecer-se em Lourenço Marques, por conta própria. Ao princípio, com uma pequena loja de artigos de mercearia, tendo anexa, uma pequena l ivraria.

Homem de contas limpas e negócios rectos, em breve prosperou. A sua larga visão enca-minhou-o para a Indústria e com vontade de ferro, não levou mui to tempo a instalar em Lou­renço Marques, em 1907, a primeira Fábrica de extracção de óleos vegetais, ut i l izando unica­mente, a disponibil idade da matér ia-pr ima que Moçambique possuía, não em Lourenço Marques, mas no interior do Distr i to, e ainda copra, que o seu espírito aventureiro levou a adquirir no Porto de Sofala e na histórica Ilha de Moçambique.

A Fábrica prosperou, pois além de satisfazer as necessidades de consumo de óleos no Dis­t r i t o de Lourenço Marques, passou a fornecer, também, desse produto, a Colónia Indiana de Durban, já então numerosa, devido a importação de mão-de-obra indiana para o cult ivo da cana sacarina e sua industrial ização. Isso tornou-se possível devido à conclusão dos trabalhos da Linha Férrea de Lourenço Marques a Pretória, que dir igida pelo General Joaquim José Machado havia sido inaugurada pelo Presidente Kruger, em 1895.

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Mas o pioneiro não descansa sob louros tão di f ic i lmente conquistados. Quando em 1923 se inicia, a sério, em Moçambique a campanha da cultura do Algodão, cujo monopólio dos mer­cados internacionais cabia, quase inteiramente, ao Egipto, Sorabjee, afo i tamente, monta em Lou­renço Marques, uma vez assegurada a matér ia--pr ima, a mais moderna e melhor apetrechada Fábrica de prensagem e descaroçamento do Algodão, dando desta forma continuidade ao espí­r i to aventureiro dos seus corajosos antepassados, cujo sangue irrequieto lhe corria nas veias.

Em Moçambique — pelo seu génio inventivo e espírito de audácia — criou e perdeu, várias vezes, grandes fortunas. Teimosamente não se importou em começar de novo, pelo princípio. Lutou denodadamente, e venceu!

Não admira, pois, que grande tenha sido o amor que votou por esta terra de adopção, que entranhadamente queria como sua e para cujo desenvolvimento tanto contr ibuiu. Foi, em toda a sua vida, um batalhador infat igável , até ao dia em que, no ano de 1937, a morte o veio buscar.

Em Moçambique f icaram seus fi lhos — GODREJ, KEKOBAD e NASSARWAN, este já nas­cido em Lourenço Marques — e seus netos, continuando a tradição respeitabilíssima que lhes legou. Tradição essa, que eles cul t ivam e se mantém bem expresa na Firma S. E. G INWALA, FILHOS, LDA., um dos pilares em que assenta a economia florescente de Moçambique, que mui to f icou devendo ao esforço de um homem notável, que em vida se chamou SORABJEE ADALJEE G I N W A L A e cuja biografia o «LIVRO DE OURO», de MOÇAMBIQUE se orgulha de arquivar nestas páginas.

A lém de pioneiro da Indústria de extracção de óleos, tais como de copra e amendoim, supõe-se que Sorabjee tenha sido, também, o pioneiro no aproveitamento industrial da moagem da semente da mafurra, industr ial ização essa, que era em época tão recuada totalmente des­conhecida fora do ambiente botânico e industr ial .

O seu espírito empreendedor, levou-o a mais esta aventura, conseguindo esse út i l pioneiro moçambicano, pela sua técnica original de industr ial ização, a colocação dos seus produtos nos grandes mercados mundiais, até então dominado pelo Porto de Marselha como seu escoadouro natura l .

Em 1909, já f ixado def in i t ivamente em Lourenço Marques, mandou vir seus fi lhos GODREJ e KEKOBAD. Carecia não só da sua colaboração como ainda desejava incutir neles o seu amor pela Indústria que realizara com esforço da sua inteligência e por esta boa terra portuguesa de Moçambique. E, com o concurso dos f i lhos, já no ano seguinte, pode modernizar, não só as suas instalações, como os métodos de trabalho, substi tuindo os obsoletos moinhos de t ipo indiano por prensas hidráulicas, que produziam maior rendimento na extracção de óleos.

Entretanto, surge a Grande Guerra, e para se defender da concorrência que se lhe depara no campo industrial a que se dedicou, associa-se a outro pioneiro, o português Paulino dos San­tos Gi l , e com ele funda a Fábria de óleos e sabões denominada «MOÇAMBIQUE SOAP A N D 01L COMPANY». Deste modo, a f i rma, com o concurso dos dois industriais pioneiros, conse­gue manter abastecido um mercado deficiente durante todo o período da Grande Guerra, e ainda renovar a Fábrica, adquir indo aparelhagem mais moderna, de recente inventiva americana, e com ela dar prosseguimento em bases mais sólidas à indústria que já vinha honrando a Província de Moçambique.

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A PRIMEIRA LIVRARIA DE MOÇAMBIQUE A "MINERVA CENTRAL"

JOÃO ANTÓNIO DE CARVALHO

A Indústria Gráfica de Moçambique, foi criada por um Decreto saído em 7 de Dezembro de 1836. Todavia o primeiro número da Gazeta Of ic ia l , só em 13 de Maio de 1854 é que foi publicado, iniciando-se assim a primeira publicação moçambicana de carácter of ic ial .

Para se apreender o que foi a acção desenvolvida em prol do livro português e da cul tura, de um modo geral , do pioneiro João Antón io de Carvalho, há que nos reportarmos aos seus pr i ­meiros anos de vida em Moçambique.

João Antón io de Carvalho nasceu na freguesia do Eixo, situada a poucos quilómetros da cidade de Aveiro, vindo da sua terra natal para Lourenço Marques com 16 anos, apenas, e para trabalhar num Estabelecimento de Comércio Geral, que era propriedade de um seu parente, o comerciante Clemente Nunes de Carvalho e Silva. Nesses recuados tempos — como ainda hoje acontece no mato, nas cidades e vilas do interior — os Estabelecimentos de Comércio Geral, como o nome indica, nele se vendiam e vendem, os mais variados art igos, incluindo os jornais desse tempo, em que a Política era uma das razões dominantes da vida afr icana, e se cria­vam pequenos jornais com o f im principal de servirem como arma de combate e defesa dos seus interesses económicos. Neste meio heterogénio formou ele a sua mentalidade.

As diversões, nessa época, eram mui to poucas, e livros não existiam à venda. Para aten­der alguns pedidos de fregueses que desejavam adquir ir livros, João António de Carvalho, come­çou a mandá-los vir da Metrópole, cult ivando cada vez mais o gosto pelo l i teratura e divulgan-do-a. Sempre aumentando os seus conhecimentos, adquiridos, em parte, através da leitura pro­veitosa que faz ia , mais se ia arreigando no seu espírito a ideia de criar um Estabelecimento dedicado exclusivamente ao ramo de l ivraria e papelaria, cujo sonho veio a concretizar, in i ­ciando a sua actividade com a abertura em 14 de Abr i l de 1908, da «MINERVA CENTRAL».

Deste modo, João Antón io de Carvalho iniciava a venda e divulgação do livro português no Província de Moçambique, a ele se f icando a dever esta iniciat iva de divulgar a cultura através do l ivro, dando primazia às obras portuguesas.

Nessa al tura era já casado, coincidindo a inauguração do seu Estabelecimento com o nas­cimento do seu primeiro f i lho. Referimos, a t í tu lo de curiosidade, que João António de Carva­lho, ligou-se pelo casamento, a uma famíl ia já enraizada na Província e de relevo social, que

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é a Família Furtado. Sua esposa era D. Margarida Furtado, f i lha do pioneiro António Furtado, que adquir iu posição de relevo no meio social dessa época. Quando abriu o seu pequeno Esta­belecimento de l ivraria e papelaria, situado na Rua D. Luís, hoje chamada Consiglieri Pedroso, contava 29 anos.

O Estabelecimento constava de um edifício de pedra e cal, de um só piso, coberto de telha, com colunas de ferro, como tantos outros construídos nessa época, a que se dá o nome de «tipo colonial». Ficava quase em frente à Rua Antón io Furtado, a cerca de cinquenta metros para a direi ta do Estabelecimento actual .

Não tardou mui to que, ao pequeno Estabelecimento se juntasse uma oficina de t ipografia que, com o decorrer dos anos, se transformou e cresceu melhorando o seu equipamento, o qua­dro do seu pessoal e os seus serviços.

A história de uma casa comercial é mais alguma coisa do que a narração dos seus traba­lhos, vicissitudes, for tuna e progresso; é um pouco mais que a resenha dos seus negócios e o inventário dos seus bens; ela é sobretudo, a vida dos seus próprios trabalhadores, que lhe con­sagram a sua actividade, a sua inteligência e dedicação!

Logo de começo, a modesta l ivraria da Rua D. Luís, chamou a si uma tarefa demasiado pesada para as suas possibilidades, que foi a difusão do livro português, por todo o terr i tór io de Moçambique.

As perspectivas não eram animadoras para tão delicado quão dif íc i l ramo comercial. Para nos cert i f icarmos disso, basta considerar que a população da cidade de Lourenço Marques, era, então, aproximadamente, de dez mil habitantes, incluindo europeus, asiáticos e africanos, e que as comunicações com os Distritos e territórios majestáticos de I^Aan\ca e Sofala e Niassa, eram difíceis e morosas.

Estas dif iculdades de comunicação levaram João Antón io de Carvalho a pensar com inte­resse e simpatia na situação do colono do interior, longe do mundo civi l izado, muitos sem convívio com europeus, sem revistas, sem jornais ou livros, outros vivendo em pequenas comuni­dades mal servidas pelo telégrafo e pela navegação.

Era preciso servi-los, e o jovem livreiro com optimismo, entusiasmo e vigor, lançou-se na grande aventura do que fez um verdadeiro ideal, a que se conservou fiel até aos seus derra­deiros dias: fazer chegar às mãos dos colonos as publicações que recebia, levar a toda a parte o livro português! Para muitos desses colonos do interior, os livros, jornais e revistas da Minerva Central eram o único elo que os mant inha ligados à Metrópole e à civi l ização!

Um dia v i r ia, em que a escritora Sarah Beirão, ao apreciar o seu labor de livreiro, diria com apreço, sinceridade e just iça: « . . . levou a terras de além-mar o nome dos que, sem a sua actividade, nunca aí seriam conhecidos.»

Foi, na verdade, para si , a parte mais simpática e querida da sua actividade. Conside-rou-se, sempre, acima de tudo, um livreiro, e quando falava da sua obra, referia-se à acção que t inha desenvolvido durante quarenta e cinco anos, que, sem exagero, pode dizer-se, foram devotados à divulgação do livro em Moçambique.

Seguindo a prát ica dos editores do Porto e Lisboa, mais com o f im de desenvolver na população o gosto pela leitura e facul tar- lhe a aquisição de livros, por preços mínimos, rele­gando para um plano secundário a ideia do lucro, inst i tu iu em 1936, a Feira do Livro, a qual se tem realizado todos os anos nos Salões do seu Estabelecimento da R. Consiglieri Pedroso. Esta iniciat iva teve entusiástico acolhimento por parte de todos os sectores da população da cidade.

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As Feiras do Livro const i tuem, hoje, uma tradição da Minerva Central , que procura manter no mais elevado nível. Para isso, sem olhar a despesas, são mandados vir da Metrópole e do Brasil, as últ imas edições dos melhores livros. Da mesma forma são importados livros em espa­nhol, francês, i tal iano e inglês.

O que levou João Antón io de Carvalho a escolher para seu negócio, o precário ramo de l ivraria, foi sem dúvida, o seu amor à instrução, que manteve sempre inalterável, e que o levou a atr ibuir a si mesmo a missão de levar a Cart iha de João de Deus e as jóias da nossa l i tera­tura a todos os pontos da Província, faci l i tando a sua aquisição, fornecendo livros de ensino, gratu i tamente, a estudantes sem recursos.

João Antón io de Carvalho fo i , também, jornal ista, e num art igo int i tu lado «AS M I N H A S RAZÕES», a f i rma : «. . . E é por sentir tudo isto que sofrendo com um tal estado de coisas, resolvi reeditar a «PROVÍNCIA DE MOÇAMBIQUE». E f i - lo para defender os meus haveres, a terra dos meus f i lhos, e mostrar que nem todos se afastam do caminho do dever com uma cobardia que enoja.» Estas duras e enérgicas palavras seguiam-se à análise da grave situação desse momento, em que Lourenço Marques viveu horas de ansiedade, desassossego e dificuldades económicas.

João António de Carvalho ocupou vários lugares de destaque, como por exemplo : Regedor, Jurado do Tr ibunal do Contencioso, Técnico Aduaneiro.

O Governador Freire de Andrade era seu amigo, dist inguindo-o com apreço. E tudo isto acontecia a um homem jovem, que era prestável, estimado e respeitado.

A sua casa comercial abriu sob os auspícios da sua já grande popularidade, apesar de ter, apenas, vinte e nove anos! Popularidade que conquistara com a lhaneza do seu espírito alegre, com a saudável disposição que o levava a ser út i l e o tornou prestável; com a sua bon­dade que o fazia atentar no que se passava à sua volta e a prestar a sua solidariedade, sim­patia e auxíl io, a todas as iniciativas altruístas! Era um jovem que todos conheciam, cha-mando-o afectuosamente pelo d iminui t ivo de «Carval inho», d iminui t ivo que o acompanhou até ao f im da sua existência.

Nestes cinquenta e oi to anos de existência, a «MINERVA CENTRAL» acompanhou a cidade no seu maravilhoso crescimento, part i lhando das suas alegrias e das suas horas de an­siedade, assistindo ao seu progresso e desenvolvimento, dando-lhe, com entusiasmo, a sua quota de trabalho, servindo a sua população.

Hoje, como sempre, a «MINERVA CENTRAL» encara o fu turo com o mesmo optimismo e com confiança. A sua Tipograf ia está, hoje, equipada com as mais modernas máquinas, e possuindo pessoal europeu especializado para todos os géneros de trabalhos, acompanhando o progresso industr ial .

O seu Estabelecimento está instalado num edifício de cinco andares, ocupando dois pavi­mentos de um edifício situado noutra rua paralela ao do Estabelecimento, numa demonstração de desenvolvimento e progresso notáveis.

Em 1943, João Antón io de Carvalho, deu nova ordem à sua casa, associando a si seus f i lhos, e alguns antigos colaboradores, entre eles, seu irmão, Sebastião de Carvalho e Constantino de Castro Lopo, que por morte do fundador, seguiram na mesma rota idealista e progressiva, traçada por ele.

Termina esta biograf ia sumária do pioneiro João Antón io de Carvalho, com as declara­ções de algumas personalidades que visitaram a «MINERVA CENTRAL», e registaram no seu «LIVRO DE OURO» as suas impressões.

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De Gilberto Freyre:

«Admirável f igura de bom português, este João Antón io de Caxvalho, que soube dar ao livro em Lourenço Marques, o prestígio, a dignidade, que o livro merece. A Minerva é, sob sua orientação, um centro de cul tura, em geral, e da cultura lusíada — inclusive a luso-brasileira — em part icular.»

Lourenço Marques, 18 de Janeiro de 1952

De Phil ipp Soupault, DELEGADO DA «U.N.E.S.C.O.» :

«Je suis heureux de pouvoir fel ici ter le fondateur et les Directeurs de Minerva Central car j 'est ime qu'i ls ont fa i t depuis 1908 une oeuvre qui merite toute 1'attention. lis ont aidé precisament a repandre la culture dans un pays qui commençait a penser a vivre. Je suis per­suade que tous ceux qui considerent que le livre est un des meilleurs moyens d eduquer les hommes et de les rendre meilleurs seraient d'accor avec moi pour leur dire notre admiration.»

Lourenço Marques, 24 de Maio de 1951

Do Doutor Mareei lo Caetano, quando Min is t ro das Colónias:

«Tive ocasião de verif icar o papel que a Minerva Central tem desempenhado na difusão do livro na Colónia — especialmente na expansão do livro português. O que mais aprecio nesta acção benemérita é o largo espírito que a anima, sem a mesquinha preocupação dos grandes lucros imediatos e com o respeito devido àqueles que querem aprender, precisam de se cult ivar ou de recrear e não são ricos. É assim que se trabalha.»

Lourenço Marques, 30 de Agosto de 1945

Aspecto do edifício da «MINERVA CENTRAL»

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'PROTAL"— PRODUTOS ALIMENTARES, LDA. COMO NASCEU A " P R O T A L "

Em 1963/ três dos mais importantes f irmas locais, com uma notável contribuição válida já prestada para o desenvolvimento industrial de Moçambique — F. DICCA, LDA, SIPAQ (COMERCIAL), LDA. e VITÓRIA, LDA. — resolveram associar-se para que, de esforços combina­dos, resultassem maiores perspectivas para uma indútsria de lacticínios à escala nacional.

Foi assim que, dessa associação de boa vontade, nasceu a PROTAL (Produtos A l imen­tares, Lda.) com probabilidades mais amplas e o objectivo f i rme de melhor servir e valorizar a economia de Moçambique.

Desenho do aspecto geral do complexo fabril da PROTAL

Uma vez estruturados os destinos da nova indústria de fabrico, preparação e transfor­mação de manteigas e queijos, no que respeita à produção própria, sua composição e valores de consumo, a PROTAL iniciou imediatamente a sua actividade de relevante interesse económico para a colectividade, sob os mais promissores auspícios.

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A PROTAL — unidade fabr i l , fei ta nos mais modernos moldes da técnica moderna, sem paralelo na Metrópole, e de elevado custo de instalação — é o produto de uma já longa experiência no meio da indústria manufactureira local, para a consecução da qual se contou, desde o início, com uma vasta gama de estudos e conhecimentos técnicos adquiridos à luz de princípios que se enunciaram e exempli f icaram, e que, cada f i rma associada trouxe para a nova unidade criada. E ninguém poderá negar — basta fazer uma visita à unidade fabri l para o confirmar — que se fez um esforço notável de industrial ização com a PROTAL em ocasião oportuna, em que os empreendimentos fabris deixaram de situar-se em Moçambique, nos limites do indiv idual, para entrarem nos domínios dos grandes trabalhos de conjunto.

A experiência combinada da especialização em indústria de fr io e de conservação de alimentos e de produtos químicos de base de aplicação al imentar, além de outras, contr ibuiu decisivamente para que a PROTAL se tornasse, bem cedo, numa nova unidade de alto mereci­mento no espaço nacional.

Laboratório da Fábrica

O planejamento desta importante unidade fabri l está, por sua vez, estudado por forma a acompanhar, intensamente, o programa económico de desenvolvimento, que se vem proces­sando aceleradamente, de há anos a esta parte, nesta Província, procurando realizar uma obra que nos tem orgulhado. O elevado grau de industrial ização at ingido já pela PROTAL, em curto espaço de tempo, permit iu a esta organização lançar-se a outra arrojada iniciativa — o fabrico em Lourenço Marques, de leite condensado. Para a inteira satisfação a padrão inter­nacional, a PROTAL foi buscar a técnica especializada que lhe fa l tava, recorrendo àquela que, mundialmente, é reconhecida como a mais perfeita — a técnica holandesa.

A COOPERATIVE CONDENSFABRIEK «FRIESLAND», de Leewarden, Holanda, que se asso­ciou à PROTAL, LDA., é um dos maiores fabricantes mundiais de lacticínios. Essa associação teve por objectivo principal e imediato o fabrico, em Lourenço Marques, de leite condensado da sua patente, que goza de just i f icado alto prestígio no campo da indústria mundial do género.

A poderosa organização industrial holandesa trouxe para Moçambique, deste modo, além do investimento de elevadas somas de capi ta l , a contribuição inestimável da sua técnica no fabrico de toda a l inha de lacticínios.

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A COOPERATIVE CONDENSFABRIEK «FRIESLAND» resultou, por sua vez, da associação livre de cerca de vinte mil criadores de gado das zonas mais ricas da produção do gado leiteiro do Mundo — a província de Friesland, na Ho'anda, que deu o seu nome à raça especial, assim denominada na pecuária internacional.

A organização mantém, além de Cooperativas associadas — de produção de queijo, manT

te iga, leite condensado, leite em pó, etc. — um Banco associado, de sólida garant ia f inanceira, para transacções e investimentos, e outras operações bancárias de rot ina.

Um aspecto 6a laboração

Da produção mundial de leite condensado, quarenta por cento cabe à Holanda, sendo a «C.C.F.» responsável por sessenta por cento da produção holandesa.

E é assim, com sólida confiança no fu turo e o apoio f i rme encontrado por parte do consu­midor, que tanto tem estimulado a iniciat iva, que a PROTAL caminha para a realização plena da sua obra, contr ibuindo para a valorização e progresso de Moçambique!

Uma organização pioneira, que ontem era uma promessa, e hoje é uma realidade!

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JÚLIO GOMES FERREIRA

Júlio Gomes Ferreira nasceu na Freguesia de Lama, Concelho de Barcelos, região de Por­tugal , onde o Artesanato e a Olaria estão rica e largamente difundidas.

De espírito empreendedor, emigrou mui to jovem para o Brasil, no no de 1920, onde pro­curou todas as oportunidades para adquir ir uma maior instrução, pois iniciara a sua vida tendo, apenas, a Instrução Primária. Na ânsia de adquir ir mais conhecimentos, dedicava todo o seu tempo disponível à le i tura, conseguindo assim, uma cultura que lhe abriu novos horizontes espirituais. Igualmente procurou aperfeiçoar-se na Ar te de Ceramista, que era a sua profissão. No Brasil const i tuiu famí l ia , casando com uma jovem de Belo Horizonte, D. Rosa Benvenuta, em 1926. Em fins desse ano regressa a Portugal, com o f im de vir f ixar-se em Moçambique onde t inha um irmão, José Avel ino Gomes Ferreira, que dir igia a Secção de Olaria na Missão Católica de São Jerónimo de Magude, no Sul do Save, que o convidara para vir trabalhar nessa Missão como seu auxi l iar.

O Governador-Geral, Comandante Gabriel Teixeira, durante uma visita à Fábrica, junto de Júlio Gomes Ferreira

Júlio Gomes Ferreira chegou a Moçambique em 8 de Fevereiro de 1927, com a idade de 24 anos. Manteve-se seis anos na Missão de São Jerónimo. A lgum tempo depois de ter saído da Missão, iniciava a sua actividade industr ial , começando por uma pequena Fábrica de Olaria — que teve início em Agosto de 1 9 3 3 — q u e foi sucessivamente aumentando, até ocupar hoje um lugar de relevo na Indústria Moçambicana.

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A sua Fábrica chegou a at ingir uma produção mui to grande, na parte de Olaria, expor­tando largamente para a Áf r ica do Sul e outros países vizinhos, onde as suas cerâmicas eram mui to apreciadas e se tornaram famosas. Esse apogeu foi at ingido no período da segunda Grande Guerra. Desde que se tornaram conhecidas as cerâmicas de Júlio Gomes Ferreira, que a Fábrica passou a ser mui to visitada por turistas, at ingindo essas visitas anuais, entre sete a oito mil pessoas. Por estes números se avalia do interesse despertado pelos trabalhos exe­cutados pelas mãos de Ar t is ta de Júlio Gomes Ferreira. Por sua vez, esses turistas também adquir iam objectos, que constituíam lembranças que serviam de ofertas. Os visitantes estrangei­ros cont inuam a af lu i r em grande número pois a Fábrica há mui to que se tornou conhecida e famosa pelas suas cerâmicas mui to apreciadas além-fronteiras.

Alguns anos após ter inaugurado a sua Fábrica, Júlio Gomes Ferreira, sempre no ânsia de progredir, enriquecendo a economia da Província, criou uma secção dedicada à Construção Civ i l , fabricando telha para cobertura de casas — que nesse tempo, normalmente, eram cober­tas de zinco — e mais tarde, lançou o fabrico de manilhas de grés, também para a Constru­ção Civ i l , que até então era importado da Áf r ica do Sul e da Bélgica. A Fábrica, na actua l i ­dade, produz outros géneros de cerâmicas para a Construção Civi l , a qual se dedica em grande escala, presentemente, pois a sua expansão estende-se até aos mercados dos países vizinhos de Moçambique.

A Fábrica de Cerâmica de Júlio Gomes Ferreira foi a pioneira desta indústr ia, at ingido a sua produção anual o valor de cerca de três mil contos. A Fábrica emprega matérias-primas nacionais no valor anual de setecentos e cinquenta contos. Importa, anualmente, matérias--primas, no valor de cento e t r in ta contos. Paga de mão-de-obra anualmente, mil setecentos e cinquenta contos. Emprega cento e dez indígenas e dezassete empregados europeus. Por estes números se avalia o que representa na economia da Província.

Para além da sua vida industr ial , Júlio Gomes Ferreira tem desempenhado papel relevante nas relações luso-brasileiras, devendo-se a ele a criação do Consulado do Brasil em Lourenço Marques, departamento diplomático que mui to fazia sentir a sua fa l ta . Em 1953, Júlio Gomes Ferreira quis deslocar-se ao Brasil com sua esposa para visitar seus famil iares e seus amigos, e para obter os «vistos» necessários a essa deslocação, por carência de entidades competentes em Moçambique, a sua obtenção demorou três longos meses, depois de várias «démarches» e trocas de correspondência feitas através do Consulado do Brasil na Áf r ica do Sul.

Já no Brasil, Júlio Gomes Ferreira queixou-se dessa fa l ta de uma entidade brasileira em terr i tór io moçambicano, ao Dr. Júlio Pinto Gualberto, Presidente da Academia Belo Horizontina de Letras, e falando da necessidade urgente da criação de um Consulado em Lourenço Marques. Este ilustre brasileiro providenciou sobre o assunto, e assim, a 3 de Outubro de 1953, é criado o Consulado do Brasil em Lourenço Marques, por decreto do Presidente Getúlio Vargas, sendo nomeado Cônsul Honorário do Brasil em Moçambique, Júlio Gomes Ferreira, que exerceu o cargo até 31 de Dezembro de 1961, al tura em que foi criado o Consulado-Geral, vindo ocupar o lugar um diplomata brasileiro, de carreira.

A Academia Belo-Horizonte de Letras, nomeou Júlio Gomes Ferreira Membro Correspon­dente, tendo sido, também, agraciado com a Medalha de Ouro daquela inst i tuição brasileira, pelos serviços prestados desinteressadamente ao Brasil para um maior intercâmbio cultural luso--brasileiro. É Correspondente em Moçambioue, do Jornal «A VOZ DE PORTUGAL», do Rio de Janeiro, bem como Sócio Correspondente do Inst i tuto Histórico e Geográfico de Belo-Horizonte, Minas Gerais.

Desenvolvendo sempre uma benéfica e progressiva actividade cul tura l , em prol do inter­câmbio luso-brasileiro, Júlio Gomes Ferreira, solicitou que fosse criada uma Secção de Estudos Brasileiros na Sociedade de Estudos de Moçambique, e que por sua iniciat iva se inaugurou em 2 de Novembro de 1956.

A lém de Sócio da Sociedade de Estudos, é o Presidente da Secção de Estudos Brasileiros, e desempenha, também o cargo de Tesoureiro da Direcção da Sociedade de Estudos de Moçam­bique. Quando Júlio Gomes Ferreira convidou o Cônsul-Geral do Brasil, em Lourenço Marques, Dr. Ayr ton Dinis, a visitar as novas instalações da Sociedade de Estudos de Moçambique, e espe­cialmente, a «SALA BRASIL», que foi cedida para a Secção de Estudos Brasileiros, usando da palavra, Júlio Gomes Ferreira, a i f rmou:

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— «A Sociedade de Estudos de Moçambique, fundada em 7 de Setembro de 1930, por um grupo de entusiastas em prol do progresso social e cultural de Moçambique, teve como pr i ­mordial obreiro, o Sr. Eng.° António Joaquim de Freitas que, persistente e conf iante, viu a sua ideia vingar e f ru t i f icar , embora houvesse de início certas dúvidas a tal respeito. Mas, fel iz­mente, a obra singrou e está à vista nesta grande realização. Entre as várias Secções exis­tentes no seu seio, conta-se a Secção de Estudos Brasileiros que foi criada por proposta minha, em 2 de Novembro de 1956. Pode-se af i rmar que foi desde então que se começou a desen­volver de forma saliente o intercâmbio cultural entre Moçambique e o Brasil. Neste estrei­tamento de mais íntimas relações é que foram nomeados sócios correspondentes da nossa Sociedade os Exmos. Srs. Drs. Salomão de Vasconcelos e Roberto Pereira de Vasconcelos, Copér­nico Pinto Coelho, membros do Inst i tuto Histórico e Geográfico de Minas Gerais e o Dr. Júlio Pinto Gualberto, Presidente da Academia Belo-Horizontina de Letras e ainda o muito conhecido homem de Letras, Prof. Dr. George Agostinho da Silva. E há bem pouco tempo outro ilustre brasileiro, o dist into jornalista Dr. Alves Pinheiro, foi igualmente nomeado e por unanimidade, Sócio Correspondente da nossa Sociedade.

E entre os de cá também foram nomeados Sócios Correspondentes do Inst i tuto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, os confrades Drs. António Esquivei, Cónego Jerónimo de Alcântara Guerreiro, Eng.° Manuel Pimentel dos Santos e a minha modesta pessoa, que ainda foi honrada com a nomeação de Sócio Correspondente da Academia Belo-Horizontina de Letras.

A nossa bibl ioteca, a part i r de então, viu-se enriquecida com variada e valiosa l i teratura brasileira. No entanto, é de toda a conveniência que este intercâmbio se avive e se for ta­leça cada vez mais.

Tanto eu como os demais membros desta Secção gostaríamos que a «Sala» fosse apetre­chada condignamente, na sua decoração e mobil iár io, de forma a traduzir um ambiente e estilo t ipicamente brasileiros. Para os nossos irmãos brasileiros que por aqui passassem e viessem visitar a «SALA DO BRASIL», sentir-se-iam como que em sua casa. Para nós, os de cá, ter-se-ia a ideia do progresso e grandeza do Brasil. Mas, para que tal desejo se mater ial ize, eu ouso d i r i ­gir a V. Exa. um apelo solicitando o seu valioso apoio para a dil igência já encetada nesse sen­tido, pois estou certo de que o Governo Brasileiro não deixará de dar o seu contr ibuto.

Estou certo de que não será em vão o desejo que nos anima e a confiança que nos alenta. Sabemos, Sr. Cônsul, que V. Exa., embora esteja há pouco menos de um mês em Lourenço Marques, já grangeou muitas simpatias, o que aliás outra coisa não era de esperar, visto que já em Lisboa criou um ambiente de muitas amizades e simpatias, pelo seu f ino t ra to e lhaneza de maneiras, predicados que V. Exa. reúne e com os quais, estou certo, conquistará entre nós a amizade e o carinho de que é merecedor.

Ao terminar esta singela e despretenciosa saudação, desejo mais uma vez, expressar a V. Exa. os votos que formulo pelo maior fortalecimento das relações luso-brasileiras em terras de Moçambique, onde o elo da língua e da religião mais nos estreitam. Para f inal izar desejo agradecer à actual Direcção desta Sociedade e às Direcções anteriores por todo o carinho que dispensaram às minhas diligências em prol do estreitamento dos laços fraternos luso-brasileiros, pois sempre me animaram, não esquecendo a Imprensa e a Rádio que igualmente me apoiaram nesta cruzada de aproximação.

Para todos vai o meu mui to obrigado.»

Continuando a dar o seu contr ibuto noutros sectores, Júlio Gomes Ferreira foi Membro directivo da Associação Comercial e é Vogal da Junta Distr i tal do Sul do Save.

Na sucessão das suas actividades industriais, Júlio Gomes Ferreira, tem em seu f i lho, Aurélio Gomes Ferreira, o seu melhor colaborador, que será o continuador da obra de pioneiro, de homem de acção, progressivo, patr iota e íntegro que é seu Pai.

Cremos que tudo quanto atrás f ica di to, é suficientemente elucidativo da obra pioneira de um português, que a juntar a tantos outros de ri ja têmpera, f izeram desta parcela de Portu­gal , a bela e florescente terra que é hoje, sem dúvida, a Província de Moçambique.

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EMPRESA DAS AGUAS DE MONTEMOR (NAMAACHA) S.A.R.L.

Vista geral da Fábrica CANADÁ DRY, na N A M A A C H A

A Empresa das Águas de Montemor foi fundada em 7 de Setembro de 1944, com a den< mi nação de «Fonte de Montemor Lda.», com o capital de quatrocentos e vinte e cinco conto dividido em quatro quotas pertencentes a Dr. Maurício Luís Neves, Eurico Mar inha de Can pos e Dr. Jaime Luís Neves e Luz da Aurora Neves.

Em 21 de Abr i l de 1948, o seu pacto social foi alterado, passando a denominar-se, «En presa das Águas de Montemor (Namaacha) Lda.», admit indo novos sócios, e aumentando o se capital para quatro mi l e quinhentos contos.

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Em 17 de Outubro de 1950, a Empresa elevou o seu capital para nove mil contos, e em 17-1-1952, por nova escritura, transformou-se em Sociedade Anónima, elevando o seu capital para doze mil quinhentos e dez contos, e em 20 de Fevereiro do mesmo ano, em t r in ta e cinco mil contos.

O Conselho de Administração, com exercício até 31 de Dezembro de 1966, era composto pelos seguintes administradores : Carlos Theodoro Mar t ins, Presidente; Eng.° Aníbal da Ascen­são Rodrigues Valente, em representação da f i rma P. Santos Gil Cr Ca., Lda.; Eurico Mar inha de Campos, em representação da Sociedade Civil da Quinta de Montemor; João Marques Negrão; D i . Inácio Bragança; José Diogo de Mascarenhas Gaivão e Manuel Nunes. Administrador-dele-gado : Eurico Mar inha de Campos.

Esta Empresa constituiu-se para explorar uma nascente de Água de Mesa, mui to boa e bacteriològicamente pura, situada na povoação da Namaacha, no local denominado «Monte­mor», propriedade do velho pioneiro, Amadeu Luís Neves.

A Empresa começou por explorar a água no estado natural e gazif icado, e mais tarde, enveredou pelo fabrico de refrigerantes de renome mundia l , a marca «Canada Dry» e também, do refrigerante de fama mundia l , «Pepsi Cola».

Esta Empresa foi a pioneira em todo o terr i tór io português, na modernização da indústria de refrigerantes. A Empresa tem o seu estabelecimento industrial na Namaacha e Sede em Lourenço Marques, sendo ainda associada de «A Distr ibuidora, Lda.», «Fábrica de Refrigeran­tes de Gaza, Lda.», «Fábrica de Cerveja da Beira, Lda.», e «União Fabril de Refrigerantes, Lda.», com fábricas em Quelimane e Nampula.

Para se avaliar da extensão e grandeza desta f i rma, refere-se que, os capitais investidos pelo Balanço de 1963 eram na importância de quarenta e quatro mil contos, todos de origem moçambicana, através de quatrocentos e setenta e um accionistas. A capacidade de produção da Fábrica da Namaacha, é de dois milhões e quinhentos mil litros anuais, de refrigerantes e sodas. O processo de fabrico é todo mecânico e do mais moderno, assim como a pasteuriza­ção dos xaropes, tratando-se de águas e esteril ização de vazi lhame.

A matér ia-pr ima importada é apenas as dos extractos, que representa cerca de dez por cento do custo do produto. As restantes matérias-primas são de origem nacional, e na sua maio­ria de produção moçambicana, (gás carbónico, açúcar, cápsulas, garrafas, caixas de madeira, etc.

A mão-de-obra ut i l izada é toda portuguesa e composta por dezassete empregados nos Ser­viços de Administração, Fabrico e Transporte, e ainda, cinquenta e dois auxiliares africanos.

A posição, perante o mercado interno, é bastante satisfatória e a sua produção é toda con­sumida no mercado da Província. A comercialização dos produtos é fei ta através de uma orga­nização comercial, denominada «A Distribuidora Lda.», sendo fe i ta por meio de venda directa, distribuidores e Agentes.

Eis a traços largos, a biografia de uma f i rma que mui to tem contribuído para o progresso da Indústria moçambicana.

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ANTÓNIO AUGUSTO GEMELGO

António Augusto Gemelgo, natural de Macedo de Cavaleiros, Província de Trás-os-Montes, de largas tradições espirituais, onde a sua gente é rude como as serranias, mas albergando no coração, as nobres tradições da gente lusa.

António Augusto Gemelgo, veio para Moçambique mui to jovem, com 25 anos, em busca de melhores condições de vida, chegando à Província em 1944. A sua intenção, era fixar-se e progredir, pois grandes eram os seus anseios e sonhos.

Iniciou a sua vida de trabalho, empregando-se em empresas dedicadas à mecânica, pres­tando a sua colaboração em mais que uma, durante os primeiros dos anos e meio de estada na Província.

Após esse tempo, estabeleceu-se sem sócios, no ramo automóvel, em 1948, mantendo-se nessa actividade até 1954. É nesse ano, que o seu sonho de expansão começa a concretizar-se.

Antón io Augusto Gemelgo estabelece-se,montando uma Fábrica para produzir material agrícola, carrocerias, atrelados, mobil iário de aço e embalagens metálicas. Neste género de indústr ia, foi ele o pioneiro.

A organização é, igualmente, por ele or ientada, e foi- lhe dado o nome da «MAQUINAG.

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A primeira Fábrica, teve início em Lourenço Marques, tendo sido transferida mais tarde, em 1960, para a M A C H A V A , povoação a 10 quilómetros da cidade, onde as várias dependên­cias da Fábrica poderiam ter as condições necessárias à sua constante expansão.

Actualmente, a «MAQUINAG» divide-se em quatro edifícios, tendo construído em terrenos próprios, a maior unidade fabr i l , com todos os requesitos modernos, de modo a bem servir o f im a que se destina.

Sempre em contínuo progresso e crescimento, a «MAQUINAG» exporta para a Província de Angola material agrícola e mobil iário metál ico, assim como para os mercados estrangeiros vizinhos, do M A L A W I e da S U A Z I L Â N D I A .

Em 1957, a «MAQUINAG» iniciou a sua produção com doze empregados, e hoje, tem mais de quinhentos, entre europeus e indígenas.

Para se avaliar do valor económico desta organização industr ial , basta dizer que foi des­pendido em compra de matérias-primas nacionais, só no ano de 1964, cinco mil seiscentos e setenta e três contos.

As vendas, no mesmo ano, a t ing i ram a ci fra de quase vinte mil contos, e os vencimentos, tGmbém em 1964, a t ing i ram cerca de quatro mil e quinhentos contos.

A Fábrica tem vindo sempre a aumentar, de ano para ano, a sua produção, numa demons­tração de progressiva vi ta l idade, a enriquecer a economia da Província.

À tenacidade e esforço de Antón io Augusto Gemelgo, fica-se a dever esta iniciat iva de vasto alcance económico.

Graças ao esforço dos seus pioneiros, Moçambique vai procurando criar as suas indústrias para prover às suas necessidades, e d iminuir as suas importações.

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Laboratório da Fábrica

MANUEL NUNES

M A N U E L NUNES nasceu na Metrópole, sendo natural da Freguesia de Fânzeres, próximo da cidade do Porto.

Com a idade de vinte e seis anos, chegou a Moçambique, em Fevereiro de 1922, trazendo consigo abundância de esperanças e o desejo de vencer !

Dinheiro pouco t razia. Porém, a sua maneira de ser inspirava confiança, e por isso, com a ajuda de alguns amigos, estabeleceu-se, fixando-se então na Vi la de Inhambane, aí permane­cendo durante t r in ta anos! Durante todos esses anos foi estendendo a sua actividade e associan-do-se a outros empreendimentos de vul to, na Província.

O seu estabelecimento de Inhambane dedicava-se ao Comércio Geral — que ainda hoje existe e continua no mesmo ramo de negócio — do qual são sócios sua esposa e alguns filhos. A Firma denomina-se, M A N U E L NUNES, LDA.

Na actual idade, o pioneiro Manuel Nunes, tem a Sede de todas as suas actividades em Lourenço Marques, para onde veio residir em 1951.

Entre as Indústrias e Organizações a que se l igou, contam-se a do CHÁ, estando associado a quatro PLANTAÇÕES DE CHÁ na Circunscrição do GÚRUÈ e do LUGELA.

M A N U E L NUNES, despendeu durante todos estes anos de permanência na Província — até ao presente, mais de quarenta anos — uma extraordinária act ividade, o que o tornou uma f igura de relevo no Comércio e na Indústria.

O seu nome está ligado a várias grandes Organizações moçambicanas, das quais desta­camos :

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"THE DELAGOA BAY LANDS SYNDICATE, LTD. — JOHANNESBURG EMPRESA MINEIRA DO ALTO LIGONHA — LOURENÇO MARQUES EMPRESA DAS ÁGUAS DE MONTEMOR—LOURENÇO MARQUES MANUEL NUNES, LDA. — INHAMBANE; MANUEL NUNES, LDA — M A X I X E MANUEL NUNES, LDA. — JOÃO BELO—; MANUEL NUNES, LDA. — QUELIMANE MANUEL NUNES, LDA .—VILA JUNQUEIRO —MANUEL NUNES, LDA. — L. MARQUES FARMÁCIA COLONIAL— LOURENÇO MARQUES

CARVALHO, COELHO & SOUSA, LDA. EMPRESA DE MADEIRAS DO ULTRAMAR, LDA. EMPRESA INDUSTRIAL DE CONTRAPLACADOS COMPANHIA GERAL DO FOMENTO, LDA. COMPANHIA INDUSTRIAL ALGODOEIRA, LDA. COMPANHIA DOS TRANSPORTES DE MOÇAMBIQUE —MATOLA SOCIEDADE CONSTRUTORA DE SERRALHARIA— MATOLA MECÂNICA, LDA.— (INDÚSTRIAS INÇAR) METI LI LE AGRÍCOLA, LDA. CHÁ METI LI LE, LDA. CHÁ MOÇAMBIQUE, LDA. CHÁ GÚRUÈ, LDA. CHÁ TACUANE, LDA.

Por esta breve resenha de Firmas, se avalia da enorme e vasta actividade que Manuel Nunes tem desenvolvido e continua a desenvolver, com a mesma eficiência de sempre, e já numa altura da vida, em que bem podia e devia, ter uma existência mais sossegada, menos activa, como tem sido sempre a sua vida de autêntico "BUSINESSMAN"!

Manuel Nunes possui a Comenda da Ordem de Santa Eulália, dada pelo Rei da Noruega. Da sua prodigiosa actividade, muito tem beneficiado a Província de Moçambique, que

hoje lhe é tão querida como a terra que o viu nascer!

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FÁBRICA NACIONAL DE MOAGEM E MASSAS ALIMENTÍCIAS, LDA.

A FÁBRICA N A C I O N A L DE MOAGEM E MASSAS AL IMENTÍC IAS , fundada em Lourenço Marques, em 1925, é uma organização pioneira.

Foram seus fundadores alguns pioneiros, cujos nomes estão desde há mui to ligados a Moçambique, pelo contr ibuto dado ao progresso da Província, e são: Paulino Santos Gi l , G. B. Buccelatto e Costa e Cordeiro, sendo constituída em regime de Sociedade Anónima.

Em 1927, a Fábrica foi tomada pelo Banco Nacional Ul t ramarino, que a alugou a uma Sociedade constituída por: Osman Abobakar, Dr. Justino de Abreu, o cidadão i tal iano, Giuseppe Giuste, Jorge Cadete, e ainda por um cidadão sul-afr icano. Com esta Sociedade, a Fábrica la­borou até fins de 1929. Nessa data passou, por compra ao Banco Nacional Ul t ramarino, para outra Sociedade, constituída por outros pioneiros: José Teixeira Catarino, Manuel Teixeira Ca­tar ino, Antón io Vicente Pinheiro e Manuel Ferreira dos Santos, já falecidos. As suas quotas t ransi taram para os respectivos herdeiros, que são os actuais proprietários e administradores da Fábrica.

Encontram-se à frente da Organização, e são seus principais Administradores, Alc ino V i ­cente Pinheiro e Hermes Petiz.

Na actual idade, a Fábrica produz Massas Al imentícias e várias qualidades de far inha de Mi lho para variados fins. A sua capacidade de produção anual pode at ingir as seiscentas tone­ladas de Massas Al imentícias e nove mil toneladas de Farinha de Mi lho.

Fachada da primeira fábrica de Massas Alimentícias de Lourenço Marques

A Fábrica abastece Moçambique e exporta para Angola, Timor, São Tomé, Madeira e Portugal Cont inental . Esta Organização industrial pioneira, honra a indústria moçambicana, e mui to tem contribuído para o progresso da Província.

A Fábrica Nacional de Moagem e Massas Al imentícias foi galardoada em várias exposi­ções, pela superior qualidade dos seus produtos e apresentação, possuindo as seguintes Meda­lhas: "Meda lha de Ouro" da Exposição Internacional de Paris, em 1931 ; "Meda lha de Ouro" p "Meda lha de P ra ta " da Grande Exposição Industrial Portuguesa de Lisboa, em 1932; e "Gran­de Prémio" na Exposição Colonial Portuguesa, efectuada no Porto, em 1933.

Eis a traços largos, a história desta Organização industrial moçambicana, que a enriquece e valoriza.

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"SIPAQ" — SOCIEDADE INDUSTRIAL DE PRODUTOS

ALIMENTÍCIOS QUÍMICOS LDA.

EDIFÍCIO DA «SIPAQ»

Esta importante Firma moçambicana, pioneira do fabrico de Fermentos, Lacticínios e seus derivados, foi iniciada pelo Pioneiro de nacionalidade grega, Manuel Macropulos, que veio da Grécia para a Província de Moçambique no ano de 1926, fixando-se de início, no Distr i to de Inhambane. Manuel Macropulos, estendendo e progredindo as suas actividades faz hoje parte de varias Organizações industriais moçambicanas. J

A "S ipaq " - denominação abreviada da Firma — é constituída por uma Fábrica que produz Fermentos para panif icaçao, cul inária e pastelaria, de que é abastecedora da Província Os seus Fermentos são frescos, prensados e secos, possuindo frigoríf icos para armazenar produtos frescos. Esta Fabrica foi inaugurada em 20 de Agosto de 1940. Os seus fundadores foram Manuel Macropulos, Joaquim Gouveia P i n t o — já falecido — e pelo Dr. Zacarias Falas formado em Quimica pela Universidade de Viena de Áustr ia. Com o falecimento de Joaquim Gouveia Pinto, f icaram como sócios únicos da Firma, Manuel Macropolus e o Dr. Zacarias Falas.

Em 1962, a "S ipaq " iniciou a Indústria do Queijo F u n d i d o — a ela se f icando a dever tombém mais uma iniciativa de a l to interesse e valor económico : a de produzir manteigas Leite Condensado e outros produtos lacticínios. A «Sipaq», é ainda exportadora em larga escala de produtos alimentares. Continuando a sua acção expansiva, a «Sipaq» pediu e obteve uma autorização para instalar na progressiva cidade do Lobito - na Província de A n g o l a - uma fabrica de fermentos secos, que servirá para abastecer aquela Província e para exportação.

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JUSTO MENEZES

Fachada do Edifício da Empresa

Justo Menezes é um metropol i tano ligado a grandes realizações efectuadas na Província de Moçambique. Justo Menezes iniciou a sua vida industr ial , há t r in ta anos, em Lisboa.

Dinâmico e persistente, aliado a uma inteligência viva, não lhe foi d i f íc i l , graças a essas qualidades, a sua vida ser sempre ascensional, guindando-o a pontos altos da sua indústria.

Justo Menezes, iniciou há 17 anos, as suas actividades industriais em Moçambique, fazen­do a electri f icação do Grande Hotel da Beira. A inda naquela cidade, fez a electrif icação do Banco Nacional Ul t ramarino e o Cinema S. Jorge. Mais tarde, em Lourenço Marques, foi a sua Organização que fez a instalação da Rede de Corrente A l te rna, com distr ibuição de Corrente A l t a e Baixa Tensão, em toda a cidade, cuja obra, pelo seu grande volume, foi até hoje, a maior obra eléctrica executada, tanto em Portugal Continental como Ul t ramar ino, no valor de 180 mil contos.

Também foram obra da Organização industrial de Justo Menezes, a electrif icação dos Campos de Aviação de Lourenço Marques e Beira, bem como do novo Edifício do Banco Nacio­nal Ul t ramar ino, em Lourenço Marques. A lém destas, muitas outras obras foram executadas, embora de menos vul to, pela sua Organização.

As instalações industriais de Justo Menezes, em Lourenço Marques, construídas dentro da cidade, ocupam uma área de 18 mil metros quadrados, sendo a área coberta, com a extensão de 12 mi l metros. A l i se concentram: a fábr ica, material eléctrico; a secção de anúncios Lumi­nosos; armazéns e escritórios, construídos nos moldes mais modernos.

A Organização Justo Menezes tem executado obras eléctricas em todas as Províncias U l ­t ramarinas, apenas com excepção de Timor e Macau. Igualmente tem executado obras em Portugal insular. Em Lisboa, na área da Pontinha, estão instaladas as suas organizações fabris.

Eis a traços largos, a biografia de Justo Menezes, que tem dado largo contr ibuto ao progresso de Moçambique.

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HOTEL POLANA

O PRIMEIRO DA CIDADE DE LOURENÇO MARQUES

O HOTEL POLANA — inconfundível marco de turismo da cidade — tem uma história interessante, a que estão ligados alguns nomes grandes dos que ajudaram a civi l izar esta parcela da terra portuguesa e, também, de alguns que a bem governaram. À realização desta obra estão ligados nomes ilustres de pessoas há mui to desaparecidas, e que, por sua vez, ocupam lugar de relevo na História de Lourenço Marques, e, portanto, da Província de Moçambique.

O primeiro nome a f igurar, vem o do Coronel de Engenharia, JOÃO ALEXANDRE LOPES GALVÃO — Membro Superior da Sociedade de Geografia de Lisboa.

O Engenheiro Lopes Galvão — que foi Inspector Superior das Obras Públicas — exercia em 1917, em Lourenço Marques, o cargo de Inspector Provincial de Obras Públicas e era Vogal do Conselho de Turismo, onde ponti f icava o COMANDANTE AUGUSTO CARDOSO, dono do HOTEL CARDOSO.

Vista aérea do Hotel Polana

De variadíssimas insistências para que o Conselho tratasse de arranjar para Lourenço Marques, um hotel decente, feitas pelo Coronel Engenheiro Lopes Galvão — ele cita o seguinte: «Cheguei à conclusão de que o assunto não interessava ao Conselho. Apareceu-me nessa al tura o A D R I A N O M A I A — comerciante categorizado dessa época — que me disse que os seus amigos do Transval estavam dispostos a fazer um grande hotel em Lourenço Marques, em determi­nadas condições. Ouvi-o, ouvi as condições, que me pareceram aceitáveis, e levei o caso ao conhecimento do General MASSANO DE A M O R I M . Este achou bem e autorizou-me a negociar.»

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Dos contactos estabelecidos entre o Engenheiro LOPES GALVÃO e o comerciante A D R I A N O M A I A , resultou que os capitalistas transvalianos interessados no assunto, se deslo­caram a Lourenço Marques, a apresentar directamente à entidade competente as suas propos­tas. Daí chegou a um acordo entre o Governo e a «DELAGOA BAY LANDS SINDICATE», em Julho de 1918, para a construção do Hotel Polana. Levantou-se, em seguida, enorme agi ta­ção por parte daqueles que se consideravam mais lesados pela construção do novo hotel. Estava neste caso o Comandante Cardoso — dono do Hotel que tem o seu nome — fazendo publicar um «manifesto patriótico» ao povo de Lourenço Marques, protestando veementemente contra a construção do Hotel. O General Massano de Amor im, encontrava-se nessa al tura no Norte da Província, quando lhe f izeram ciente da campanha movida, o que lhe fez ter uma frase brusca com a qual pôs termo a tcda essa trapalhada. E o hotel fez-se!

No contrato f icou estipulado um mínimo de 100 quartos. O Governo, por sua vez, garan­t ia o juro de seis por cento do capital a despender com a construção e mobil iário do Hotel e comprometia-se, ainda, a macadamizar a estrada que deveria servir o Hotel — hoje a Avenida Antón io E n e s — e «empregar os necessários esforços no sentido de conseguir da Companhia Concessionária a expansão da Linha dos «Tramways» eléctricos, até àquele local. Era estabele­cida a cláusula de não poder durante os primeiros dez anos construir-se qualauer outro hotel na área da Polana. Nessa al tura o custo do Hotel Polana estava avaliado em cinquenta mil libras.

A inauguração do Hotel Polana efectucu-se no dia 1 de Julho de 1922, tendo sido um acontecimento de grande relevo na vida da cidade. Esta grande iniciativa f icou a dever-se, em grande parte ao Coronel Lopes Galvão e ao Governador-Geral de Moçambique, Massano de Amor im. A assinalar data tão festiva, a «DELAGOA BAY LANDS SINCIDATE», ofereceu nesse dia um almoço a 131 convidados de honra, na Sala de Jantar do novo Hotel , a que assistiu o A l to Comissário Brito Camacho, entre outras individualidades. Aos brindes, Leão Cohen, que representava a f i rma construtora, disse em determinada al tura do seu discurso — onde o magno problerncrtlo Turismo já começava a aflorar — o seguinte:

«Sr. A l to Comissário, estou convencido que com outros diplomas por V. Ex.a já refe­rendados, e com a abertura deste Hotel , o aumento de forasteiros será sucessivo, o que virá a dar uma nova vida a esta cidade e ao seu comércio, assim como um aumento das receitas públicas, e trago a exemplo a cidade de Durban, cujas receitas municipais em 1906 se achavam bem precárias, quando o seu Mayor, tAr. Hollander, estabeleceu a comissão das praias, que fez af lu i r àquele porto o turismo do «Hinter Land» e com tanto êxito, que os hotéis e casas de hóspedes mult ip l icaram-se, e as suas receitas, que em 1906 eram de 391 000, foram cres­cendo de tal forma que em 1921 at ingiram a importante soma de 1 135 000 libras, e as adua­neiras, que em 1907 eram de 863 000 libras, passaram para 1 537 000 libras em 1920, isto é, t r ip l icaram, e o resultado foi a expansão do seu comércio, das suas indústrias e da riqueza públ ica, pois o tur ismo trouxe àquela colónia o mínimo de um milhão de libras anuais de receita para a sua população.

Sr. A l to Comissário e meus Senhores, não vejo razão para que a nossa cidade não venha a compart i lhar de fu turo , dos mesmos benefícios que aufer iu o Na ta l , dotada com as belezas naturais que possui, o melhor porto do Sul de Á f r i ca , cinco rios, qual deles o mais pitoresco e acessível, que desaguam na sua vasta baía, as suas esplêndidas estradas e arredores, e hoje dotado com este magníf ico Hotel , o melhor de toda a Áf r ica do Sul, com o fomento da Comissão de Turismo e outras medidas acertadas que decerto, V. Exa., Sr. A l to Comissário, e o Conselho Legislativo adoptarão, mui to em breve rival izará com qualquer cidade ao Sul do Equador. A construção deste Hotel , cujo custo anda mui to próximo de 300 000 libras, é das mais perfeitas e modernas e não tem rival nos portos do Sul havendo mui to poucos hotéis na Europa que o igualem nas condições em que está montado.

Tem ele vida própria para a sua laboração: máquinas geradoras de electricidade e aque­cimento, f r igorí f ico, lavandaria eléctrica, fábrica de sodas, telefones e água quente em todos os quartos — e para que tudo seja mais completo — vai fazer colocar o Hotel em comuni­cação directa com o Mundo inteiro, abrindo-lhe um serviço permanente de correio e telégrafos. Cabe-me, igualmente, fazer referência ao arqui tecto, Sr. WALTER REI D, e aos construtores, Senhores EAST COAST ENGINIERS, pela bela arquitectura e solidez da construção.»

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A f inal izar todos os discursos, levantou-se o A l t o Comissário Brito Camacho, que foi acolhido com uma vibrante e prolongada salva de palmas. A certa al tura ©f i rmou: «Tive ocasião de percorrer nos últ imos dias uma parte do país viz inho, a União Sul-Afr icana, e de, não direi invejar, que seria uma sentimento baixo, mas de admirar, que é um sentimento nobre, as improvisações inteligentes que se estão fazendo no País que temos à porta. Constatei especialmente, que o Governo previdente daquele País progressivo, cuida dê desenvolver o turismo. Espera-se a l i , que, de fu turo , quem no Europa tiver dinheiro, bom gosto e . . . não enjoar, tenha o prazer especial de visitar a Áf r ica do Sul». Brito Camacho frisou ainda, «que Lourenço Marques era uma cidade pequena mas com condições geográficas diferentes, clima, sociabil idade, características diferentes. Lourenço Marques sendo Lourenço Marques, era superior a qualquer das outras cidade, do que o seria se fosse uma caricatura do Cabo ou de Durban. Era uma cidade pequena, t inha características diferentes, mas . . . era Lourenço Marques»!

Um aspecto geral do Hotel, vendo-se a piscina e o jardim

Completaram-se já , para o Hotel Polana, quarenta e sete anos de existência, continuando a ser, o mais belo Hotel da Província, e grandioso em qualquer parte, rodeado de belos jardins, e tendo voltada para a baía a sua magníf ica piscina, delícia de quantos por lá passam.

O Hotel Polana criou fama em todas as regiões de Á f r i ca , mais próximas da nossa Província, e, também, na Europa, falando-se dele como de* um padrão de beleza hoteleira, em Moçambique.

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De 1922 para cá, os grandes acontecimentos citadinos a ele f icaram ligados, ajudando sobremaneira ao desenvolvimento do turismo na capital moçambicana.

Outro apontamento curioso, relacionado com o Hotel Polana, é que o arquitecto, autor do projecto da fachada, foi o celebrado «SIR» ARTHUR BAKER, que foi autor do grandioso Palá­cio dos Ministérios, em Pretória a «UNION B U I L D I N G S » — q u e tanto se orgulha a capital administrat iva da vizinha República da Áfr ica do Sul.

Sucessivamente, o Hotel Polana, tem vindo a sofrer beneficiações de forma a modernizar o que se tornava necessário, para bem continuar a servir e a receber, aqueles que aos seus tectos se acolhem. Deste modo, o Hotel Polana, continua a servir condignamente os fins para que foi criado.

Actua lmente, o Hotel Polana mudou de dono, mas a garant ir as tradições da sua f idalga hospitalidade, estará a pessoa do seu Gerente, Armando de Matos Ribeiro, técnico de hotela­ria e de turismo dos mais competentes, que dará continuidade às altas tradições daquele verda­deiro marco de tur ismo, de que a cidade, just i f icadamente, se orgulha.

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AIDA SORGENTINI

A pioneira Aida Sorgentini nasceu na Aldeia de TREIA, no Litoral Adr iát ico, próximo da cidade de A N C O N A , na ITÁLIA.

Foi seu marido, o cidadão ital iano GIUSEPPE SORGENTINI, o primeiro a pisar a terra moçambicana. Um seu irmão, mais velho, viera fixar-se em Lourenço Marques, e anos depois manda vir o irmão GIUSEPPE, que era, então, mui to jovem, pois nem sequer cumprira o ser­viço mi l i tar .

A sua chegada a Moçambique, pela primeira vez, verificou-se em 1905. Quando GIU­SEPPE SORGENTINI chegou à idade mi l i tar , teve de regressar à I tá l ia. Uma vez cumprido o serviço mi l i tar , regressou a Moçambique, onde permaneceu mais dois ou três anos, voltando nova­mente a I tá l ia.

Na sua terra natal é-lhe apresentada por uma sua i rmã, uma jovem amiga. Daquele conhecimento resultou uma forte simpatia, que levou Giuseppe e a jovem Aida, ao casamento. Ela f izera o Curso de Professora do Magistér io, t inha terminado o ano obrigatório de t iro­cínio — a que são sujeitos os novos Professores antes de iniciarem a sua vida profissional def in i t ivamente.

Pouco depois de se conhecerem, casaram, e a sua viagem de núpcias foi de Itál ia para Moçambique, onde se vinham f ixar. Isto passava-se no ano de 1919, tendo Aida 25 anos, e Giuseppe, 36. Fixaram-se em Lourenço Marques, onde seu marido t inha negócios, e para onde, mais tarde, vieram fixar-se, também outros dois irmãos mais novos de Giuseppe Sorgentini. Alguns anos depois, juntamente com esses dois irmãos, tomaram de trespasse um Hotel — chamado HOTEL CARDOSO — a que t inha sido dado o nome do seu primeiro proprietário, o C O M A N D A N T E CARDOSO.

Este, era um velho edifício e existia no mesmo local onde hoje se ergue uma bela e mo­derna unidade hoteleira, orgulho e prestígio da capital moçambicana!

Vista geral do Hotel Cardoso

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O HOTEL CARDOSO foi trespassado aos irmãos Sorgentini no ano de 1924. Porém, Giu-seppe Sorgentini sobreviveu apenas um ano, vindo a falecer em 3 de Outubro de 1925. '

A ida Sorgentino, era nessa época, uma jovem, com 27 anos. Em virtude disso, os cunha­dos pretenderam mandar para I tál ia a jovem viúva, fazendo parti lhas e alegando que era mui to nova para tomar a direcção do Hotel e seus encargos. A verdadeira razão era outra, pois dese­javam ficar eles senhores do Hotel.

A ida Sorgentini, no entanto, era uma mulher de ânimo for te, reagindo de forma contrár ia, pois sabia que se regressasse a I tá l ia teria de sofrer uma readaptação à sua vida de Professora' com evidentes inconvenientes, além de ter a seu cargo dois fi lhos pequeninos. Fácil lhe foi compreender que teria de lutar pela sua sobrevivência e de seus f i lhos, e para isso, ela teria de ficar com o Hotel.

Após grande luta com seus cunhados— durou mais de um ano, após a morte do marido — ela conseguiu vencer! Deu aos cunhados a parte que lhes cabia nas part i lhas, tomando ela conta do Hotel , par despacho do Tr ibunal , que se pronunciiou a seu favor. E a luta cont inuou, agora de uma outra forma, em que era necessário uma grande economia para solver os encargos!

Em 1932 terminava o prazo de arrendamento do Hotel fe i to aos Sorgentini. Novas d i f i ­culdades surgiram para a Senhora Sorgentini, pois o Hotel seria vendido e não mais arrendado.

Foi então que, pessoa amiga lhe emprestou uma avultada quant ia, necessária para poder adquir ir o Hotel. Quando a sua dívida foi saldada, ela compreendeu quanto era necessário modif icar aquele velho prédio, e corajosamente, em 1939, poucos meses antes de rebentar a Segunda Grande Guerra, foi começado a deitar abaixo uma das alas do Hotel , para ser fe i to em bases sólidas e modernas.

Outro pormenor do Hotel Cardoso

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Em Fevereiro de 1940 é inaugurada a parte nova, ou seja, metade do Hotel. Os hóspedes que existiam transi taram para a parte nova, e logo no dia seguinte, os martelos começaram a derrubar a outra metade velha.

No f im de 1941 a segunda parte do Hotel era concluída. Quem fez o projecto do novo Hotel foi um i tal iano, de nome G a d i n i — q u e estudara A r q u i t e c t u r a — e que f izera o projecto do Clube Naval de Lourenço Marques.

O novo Hotel levou fundações, de modo a poder levar vários andares. Na primeira fase da sua renovação, apenas f icou c o m u m piso — o rés-do-chão.

A terceira fase de construção foi iniciada em 1948, em que foram construídos quatro an­dares e um quinto andar, somente no vértice do edifício, onde foi construído o Restaurante e Boite, servindo as duas modalidades simultaneamente. Daí se disfruta um panorama maravi­lhoso sobre a cidade e a sua extensa baía. Esta ú l t ima fase foi inaugurada em Agosto de 1965.

A Senhora Sorgentino conservou o ant igo nome do HOTEL CARDOSO, pela simpatia e respeito que lhe merecia esse velho mi l i tar das Campanhas de pacif icação, que era o C O M A N ­DANTE CARDOSO.

O Hotel possui cento e dez quartos. Um Bar denominado «PÔR-DO-SOL», recentemente remodelado; um requintado «SNACK-BAR»; grande Sala de Estar; Piscina e Jardim, de onde se disfruta um belo panorama sobre a cidade e a Baía.

Hoje, A I D A SORGENTINI, tem em seus fi lhos os mais directos colaboradores: ítalo — o mais velho, com largas tendências artísticas para a Decoração — dedica-se a um sector, e Jorge — o mais novo — a outro sector.

Graças à força de vontade, tenacidade e espírito de sacrifício de A I D A SORGENTINI, a c i ­dade de Lourenço Marques possui um dos melhores Hotéis de requintado ambiente e cl ientela, a que os turistas dão grande preferência, servindo, assim, o turismo moçambicano e enri­quecendo a cidade com um belo imóvel!

Grande é o prestígio grangeado por esta Senhora, mercê da sua obra, luta e coragem! É pois, uma pioneira que bem merece o respeito e consideração de quantos a conhecem, e de f igurar nas páginas do «LIVRO DE OURO DO OURO DO M U N D O PORTUGUÊS» neste volume dedicado a MOÇAMBIQUE!

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COOPERATIVA DOS CRIADORES DE GADO

A Cooperativa dos Criadores de Gado teve o seu início em 1956, e foi fundada pelas seguintes entidades: "Sociedade Pecuária, A. Neves & Ca . " , Mar inho da Silva, Padre Vicente, Sousa Costa e Ismael Costa — criadores de gado do Sul do Save. A Cooperativa dos Criadores de Gado foi in t i tu ída com a f inal idade de valorizar, beneficiar e seleccionar o gado pertencente aos seus sócios, melhorar as raças, promover e organizar a exportação do gado.

Não foi necessário mui to tempo para que a Cooperativa consolidasse a sua reputação pe­rante o público, mercê da excelência dos seus produtos, todos eles preparados e presentados para o consumo nas melhores condições de higiene, idênticas às adoptadas nos países mais avançados. Merecem especial referência os talhos da Cooperativa, que possuem as melhores instalações que nos foi dado observar em terr i tór io nacional, onde as carnes estão expostas com apresentação esmeradíssima, igual a qualquer estabelecimento congénere de Paris, Londres ou Genebra.

Toda a gama de carnes — vaco, porco, cabri to, carneiro, gal inha, peru, pato, coelho, bor­racho, e t c . — s ã o expostas em condições de higiene e de arranjo agradável à vista. Aponta­remos alguns números elucidativos do seu movimento. Em 1963 a Cooperativa recebeu, vendeu e transformou 6.526.723 litros de lei te; em 1964, 7.055.304 l itros, sendo vendidos ao natural — em 1964 — 3.308.224 l itros, transformados, 3.743.035. Quanto ao bovino, no que respeita a carnes vendidas através da Cooperativa, traduzem-se pelos seguintes números: em 1963 foram abatidas 12 398 reses, num total de 2 131 401 Kg., e em 1964 12.013 reses, com o peso de 2.065.525 Kg. A seguir apresentamos ainda, alguns números reveladores da grande actividade da Cooperativa, em 1964: Pacotes de mante iga: 358.955; Natas: 17.850 ( l i tros); Queij inhos: 372.053; Iogurte: 43.924 ( l i tros); Masse: 437.081 ( l i tros); Chocolate: 297.165 ( l i tros); Sorve­t e : 109.070 (Mfros); Chupas: 390.000; Carne de vaca: 566.866 (quilos).

Fábrica de Lacticínios da Cooperativa, situada na Matola

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Por vezes, os criadores de gado têm atravessado tremendas dif iculdades, devido às contin­gências do cl ima. Todavia, cremos que essas contingências poderão vir a ser mui to atenuadas, ou até mesmo eliminadas, se forem tomadas medidas adequadas. Tal assunto certamente que não será descurado, por quem de direi to, pois a prosperidade da Pecuária mui to pesa na balan­ça da economia moçambicana e, portanto, da Província.

A Cooperativa executou um grandioso plano, construindo duas modernas e bem apetre­chadas Fábricas de lacticínios e salsicharia, que são das mais importantes de todo o terr i tório português, situadas na Marola.

A Cooperativa tem t ido a dupla missão de bem servir o público e amparar os criadores com a sua orientção e empréstimos, acção que é de louvar.

A Cooperativa dos Criadores de Gado pela acção que tem desenvolvido, foi reconhecida como sendo de ut i l idade pública, pois ela constitui a maior organização no seu género, do espaço português.

Todos esperam a continuação do desenvolvimento da Cooperativa, para bem da economia e prosperidade de Moçambique.

Fábrica de Salsicharia da Cooperativa, situada na Marola

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F A C O B O L FÁBRICA COLONIAL DE BORRACHA

FACHADA DO EDIFÍCIO DA FACOBOL

A FACOBOL — p i o n e i r a da sua i n d ú s t r i a — foi fundada em 1942, com o capital de seis­centos contos, que mais tarde se elevou para doze mil contos.

Na Facobol fabricam-se variados produtos, dos quais destacamos:

Calçado de lona vulcanizada e prensado; sapatos de cabedal com sola sintética- artigos para tarmacra, tais como sacos, tubos para irrigadores, tet inas, chupetas, etc ; bolas- pasta para recauchutagem; câmaras de ar para bicicletas; uma grande variedade de artigos para as mais diversas industrias, para aviões, caminhos de ferro, etc. A Facobol também tem uma secção de plásticos com variados artigos de pol iet i leno e em P.V.C.

Os produtos da Facobol, pela sua excelente qualidade e perfeito acabamento, têm grande preferencia, sendo os seus materiais largamente uti l izados em importantes construções feitas na Província, nao so em organizações particulares, como do Estado.

Alguns números que a Facobol nos forneceu, referentes ao ano de 1964 demonstram o seu vasto contr ibuto económico:

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Pasta de borracha — 790 toneladas.

Calçado de lona vulcanizado — pares produzidos: 133 mi l .

Calçado de lona prensado pares produzidos: 602 mil

Calçado de cabedal — pares produzidos : 103 mi l .

Botas para pescador — pares produzidos 8787.

Bolas — 69 mi l .

Câmaras de ar para bicicletas: 321 mi l .

Pasta para recauchutagem: 82 toneladas.

Vendas feitas em 1964: 42 mil contos.

Ordenados despendidos no mesmo ano : 5326 contos.

Na laboração dos seus produtos, a Facobol emprega algumas centenas de operários, aos quais presta toda a assistência médica, com médico, enfermagem e medicamentos, sendo exten­sivo a suas famílias o serviço clínico e de enfermagem.

Aos empregados são concedidas férias na Metrópole.

Por tudo quanto f ica exposto se avalia do lugar de relevo que a Facobol ocupa no campo industrial e económico da Província, mui to contr ibuindo para a sua valorização e progresso, do qual , mui to justamente, se poderá orgulhar.

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