companheirismo e organização: a experiência da família de seu eduardo e dona jeni

2
Companheirismo e organização: a experiência da família de seu Eduardo e dona Jeni Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 • nº 1400 janeiro/2014 Senador Pompeu - CE O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. Carlos Drummond de Andrade Seu Eduardo é agricultor “desde nascido” e vive com a sua família, a companheira Jeni, e os três filhos no sítio Passagem do Meio, a 30km de Senador Pompeu. Com muito companheirismo e organização a família trabalha junto e desenvolve as atividades do sítio. O filho mais velho é casado e vive com a família pertinho dos pais, o “do meio” tem a própria casa, também no sítio, e o mais “novo” estuda. Essa vontade de permanecer no lugar em que nasceram se deu graças ao Projeto Família, que como o próprio nome diz busca envolver toda a família no desenvolvimento do seu próprio negócio, como também visa a diminuição do êxodo rural, fortalecendo os laços familiares e oportunizando qualidade de vida. O projeto foi criado por uma cooperativa de Senador Pompeu - Cooperativa Rural de Gestão Inovadora (Corgil) e atualmente é gerido pela Cooperativa Agropecuária de Senador Pompeu Ltda. (Cosena). As oportunidades estão pertinho, basta abrir os olhos e arregaçar as mangas. E foi isso que a família Silva Lopes fez e ainda faz. Dona Jeni e seu Eduardo começaram a enxergar, através do projeto, potencialidades do seu próprio lugar e foi daí que surgiu o desenvolvimento das atividades de criação de suínos, ovinos e bovinos, além da apicultura e fruticultura. Com a plantação das fruteiras, goiaba e acerola, a família resolveu fabricar polpa e o produto é vendido para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). E as atividades não param por aí, a família unida e cheia de garra, também faz processamento de cera de abelha. “A gente pega a cera bruta, processa ela, faz lâminas pra colocar nas caixas pra elas fazerem os favos de mel”, explica seu Eduardo. Com tantas atividades é preciso ter um controle. De tudo que a família produz é feita a contabilidade. Essa parte é responsabilidade de dona Jeni, que tem as contas na ponta do lápis. “A gente tem a atividade, nós vamos trabalhar nela, plantamos banana, mas se a gente não tiver o controle, talvez a gente ainda estivesse insistindo em uma coisa que não tivesse dando resultado, sem saber, ela ia só comer o lucro das outras atividades”, explica a contadora Jeni.

Upload: articulacaosemiarido

Post on 23-Jul-2016

213 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Seu Eduardo é agricultor "desde nascido" e vive com a sua família, a companheira Jeni, e os três filhos no sítio Passagem do Meio, a 30km de Senador Pompeu. Com muito companheirismo e organização, a família trabalha junto e desenvolve as atividades do sítio.

TRANSCRIPT

Companheirismo e organização: a experiência da família de seu Eduardo e dona Jeni

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº 1400

janeiro/2014

Senador Pompeu - CE

O presente é tão grande, não nos afastemos.Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Carlos Drummond de Andrade

Seu Eduardo é agricultor “desde nascido” e vive com a sua família, a companheira Jeni, e os três filhos no sítio Passagem do Meio, a 30km de Senador Pompeu. Com muito companheirismo e organização a família trabalha junto e desenvolve as atividades do sítio. O filho mais velho é casado e vive com a família pertinho dos pais, o “do meio” tem a própria casa, também no sítio, e o mais “novo” estuda. Essa vontade de permanecer no lugar em que nasceram se deu graças ao Projeto Família, que como o próprio nome diz busca envolver toda a família no desenvolvimento do seu próprio negócio, como também visa a diminuição do êxodo rural, fortalecendo os laços familiares e oportunizando qualidade de vida. O projeto foi criado por uma cooperativa de Senador Pompeu - Cooperativa Rural de Gestão Inovadora (Corgil) e atualmente é gerido pela Cooperativa Agropecuária de Senador Pompeu Ltda. (Cosena). As oportunidades estão pertinho, basta abrir os olhos e arregaçar as mangas. E foi isso que a família Silva Lopes fez e ainda faz. Dona Jeni e seu Eduardo começaram a enxergar, através do projeto, potencialidades do seu próprio lugar e foi daí que surgiu o desenvolvimento das atividades de criação de suínos, ovinos e bovinos, além da apicultura e fruticultura. Com a plantação das fruteiras, goiaba e acerola, a família resolveu fabricar polpa e o produto é vendido para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

E as atividades não param por aí, a família unida e cheia de garra, também faz processamento de cera de abelha. “A gente pega a cera bruta, processa ela, faz lâminas pra colocar nas caixas pra elas fazerem os favos de mel”, explica seu Eduardo. Com tantas atividades é preciso ter um controle. De tudo que a família produz é feita a contabilidade. Essa parte é responsabilidade de dona Jeni, que tem as contas na ponta do lápis. “A gente tem a atividade, nós vamos trabalhar nela, plantamos banana, mas se a gente não tiver o controle, talvez a gente ainda estivesse insistindo em uma coisa que não tivesse dando resultado, sem saber, ela ia só comer o lucro das outras atividades”, explica a contadora Jeni.

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Ceará

Além das várias fichas de controle, a família possui um caderno de visitas que desde 2002 registra a assinatura de quem visita o sítio. Várias entidades como CDDH, CETRA, ESPLAR, EMATERCE, gente da Holanda, Itália, Hungria, caravanas de agricultores/as, sindicatos, gente de todo os lugares já viajou para conhecer a experiência do sítio Passagem do Meio. São várias planilhas que a dona Jeni tem que tomar de conta: cera violada, mel, caju, bovinos, aves, ovinos, polpas, etc. Mensalmente é feito o fluxo de caixa, “juntando todas as atividades e todos os gastos e já fechando o balanço final que a gente faz no fim do ano”, explica seu Eduardo. Até o que a família consome ou o que doa é anotado. Não para cobrar, como explicar dona Jeni, mas “para quando chegar no final do lote que você for fechar e somar aqui não ficar faltando”. Desde 2001 que o trabalho de contabilidade é feito. Apesar de a família ter computador em casa, dona Jeni não quer saber de Excel ou outro programa, tudo é feito no papel. Ao redor da cisterna-enxurrada, recentemente construída, seu Eduardo e os filhos já plantaram berinjela, coentro, cebola, alface, beterraba, cenoura, abobrinha, melão, tomate, pimenta de cheiro e a família ainda quer plantar muita coisa. O que não falta é coragem de ver a terra dando bons frutos. Pertinho da cisterna tem uma placa solar que ajuda na irrigação das fruteiras. “Ela capta a energia solar, passa por um transformadorzinho, carrega as baterias, as baterias passam por um transformador e transforma a energia da bateria em energia, tipo a de casa”, explica seu Eduardo.

“Veneno nem pensar”, diz seu Eduardo. A família se preocupa com a qualidade de seus produtos e com a própria qualidade de vida. Além de comprar produtos de uma empresa de São Paulo chamada Bio Orgânica Produtos Naturais, produzem as receitas que aprendem por aí. Urtiga, folha de nin, detergente neutro, sabão, fumo, tudo é usado. A família aproveita o esterco para adubar o solo e seu Eduardo já tem planos de começar a fazer compostagem. Vai fazer até um tanque perto da cisterna para isso.

Com a experiência de vida e a lida do dia-a-dia é possível desenvolver atividades o ano todo e ver o que pode ou não dar certo. A produção das fruteiras é feita através de escala para ter uma produção contínua e não haver desperdício. Esse conhecimento veio com o tempo, como também veio com o tempo que se pulverizar a goiabeira com veneno as abelhas morrerão, acabando com a apicultura. Sabedoria a gente alcança todo dia, observando o que está ao nosso redor, conversando com as pessoas, conscientizando-se, conhecendo histórias. Isso a família de seu Eduardo, dona Jeni e de Maria Eduarda, a neta querida, já sabe de cor (ou seja, de coração).

Realização Patrocínio